Mulheres no Papel- Jornada literária PBH 2015- EMSHA -prof Daliane

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Mulheres no Papel

Autores e ilustradores: Alunos do Ensino Fundamental da Escola Municipal Secretรกrio Humberto Almeida


Prefeitura de Belo Horizonte Secretaria Municipal de Educação Gerência de Coordenação da Política de Formação – GCPF/EF Escola Municipal Secretário Humberto Almeida Triênio 2015 a 2017 Direção: Geraldo Teixeira de Andrade Christiane de Paula Dâmaso Colla 5ª Jornada Literária da RME-Histórias de Mulheres Coordenadora de edição e arte: Professora Daliane Marinho Fernandes Coordenadora do Projeto 5º Jornada Literária PBH- Histórias de Mulheres: Daliane Marinho Fernandes Professoras de Língua Portuguesa: Ângela Maria Marques do Nascimento Aparecida das Graças Ramos Mendes Daliane Marinho Fernandes Helenice de Jesus Lília Virgínia Dias Praes Colaboração: Sheila Castro Queiroz (monitora da Escola Integrada) Autores e Ilustradores: Alunos do 3º Ciclo do Ensino Fundamental da Escola Municipal Secretário Humberto Almeida Revisão: Professora Helenice de Jesus E-mail: emsha@pbh.gov.br blog://emshaescola. blogspot.com Direitos autorais: Escola Municipal Secretário Humberto Almeida (31)3277-6667 /3277-6666 Rua Areia Branca, 3 – Bairro Ribeiro de Abreu. Belo Horizonte-MG


Prefácio O projeto iniciou-se no mês de março de 2015, quando os alunos receberam uma proposta: fazer um livro a partir de textos que eles construíssem sobre o tema “Histórias de Mulheres”, abordando relações de gênero. As oficinas de textos foram muito produtivas. Com apoio de livros da biblioteca, de vários sites e de material disponibilizado pela PBH, foram feitas pesquisas e discussões sobre o que foi imposto a mulheres e homens e repetido por gerações. Todos compreenderam a proposta de criar textos em primeira pessoa, com histórias de heroínas, baseadas em mulheres reais ou fictícias que tinham como ideal a superação em todas as instâncias. Mulheres que lutaram e ainda lutam por direitos básicos: nascer, estudar, ter opinião, fugir do padrão de beleza ou de comportamento. O resultado ultrapassou as expectativas. Meninos e meninas tiveram o objetivo desafiador de escrever sobre o ponto de vista feminino, em 1ª pessoa, memórias que não eram suas. O ponto em comum entre todos os relatos foi a luta para mudar o “papel” imposto a essas. O nome inspirador do livro “Mulheres no papel” vem deste pressuposto, inclusive como crítica e protesto, mas com um segundo sentido, pois o projeto gráfico é inspirado na técnica de Quilling , arte com papel. Foi usada também a técnica do bordado. O que seria algo “feminino” foi executado sem preconceito por eles e elas. O resultado: a empolgação, o cuidado, a paciência é mérito de quem fez, indiferente se foi ele ou ela. Foi usada ainda a técnica do desenho à mão livre. Impecável por sinal. Todas as heroínas, famosas ou anônimas provaram ser fortes e destemidas. Lutaram por direitos básicos. Direito de nascer, de estudar, ter opinião, não serem rotuladas, escravizadas ou fugirem do padrão, em épocas antigas ou modernas. A jornada viajou por vários continentes: Ásia África, Europa e América. Não há fronteiras para estas meninas e meninos. Não há limites para a imaginação. Todos podem se entregar a essa constatação nesta incrível JORNADA LITERÁRIA 2015. Daliane Marinho Fernandes


Apresentação Acompanho os trabalhos desenvolvidos pela professora Daliane desde a 1ª Jornada Literária ocorrida na Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte. Percebo que este trabalho exige dos participantes muito envolvimento, dedicação e sensibilidade para a obtenção de um resultado significativo e satisfatório. Envolver os estudantes do 3º ciclo em atividades assim, que põem em prática a criatividade, o contato com a arte, o confronto com os sentimentos ocultos e com a reflexão sobre suas vidas e experiências, exige dos autores uma entrega que transcende os muros da escola. Forma-se um universo de cumplicidade entre professora e alunos, cujo processo demonstra ser tão rico e grandioso quanto o produto final - o livro. Carolina Saldanha da Fonseca


Por dias, observei, as discussões apaixonadas, as defesas de personagens que pareciam velhas conhecidas e me apaixonei pelos escritores-sonhadores, personagens criadas e recriadas e a professora extasiada de sonhos e projetos. De repente, o convite para participar. Surpreendi-me. Entretanto, o convite me deixou extremamente honrada por já ter sido conquistada pelo trabalho. Mas escrever o quê? Como me meter num trabalho já tão bem costurado? Aliás... costurado, bordado, pintado, colorido, desenhado, redesenhado... Recorri ao meu arquivo mental bagunçado. Revi conversas, devaneios. Acabei por voltar a me deliciar com as histórias e mais uma vez me apaixonei! Senti-me amiga daquelas mulheres, comparsa em seus pequenos sonhos, confidente em suas grandes escolhas e decisões. Fui um ouvido para uma mãe que perdeu a filha que o coração escolheu, para uma estudiosa que se entregou às ciências, para tantas guerreiras, brasileiras ou não, protegidas ou não, que descobriram a paz e a felicidade já adultas, na marra ou foram para o front de batalha e ainda estão conquistando-as. Mulheres dedicadas, delicadas, esperançosas, caprichosas, às vezes, mas, acima de tudo, mulheres de pulso, corpo, alma e sonhos! E a cada leitura me fortaleci um pouco como mulher, ser humano e professora. Como um livro constituído de estórias e histórias fez isso? Simples! Reparando como pequenos seres fizeram e fazem em escritas, rascunhos e falas seus projetos de grandes futuros. Acabei percebendo que, às vezes, um olhar diferenciado sobre um mesmo ponto abre e reabre velhas dúvidas, traz à tona novos pensamentos e apresenta novos seres humanos. Curioso, né?!? Que bom! Deliciem-se também com esse trabalho, norteado com amor pela professora Daliane e se permitam apaixonar-se por mulheres imaginárias ou que permeiam imaginários e que são capazes de coisas inimagináveis. Emanuela de Abreu Silva


Autores e Ilustradores da 5ª Jornada Literária Histórias de Mulheres: Turma 74 Ana Flávia Marcelina dos Santos Ana Júlia Gomes Cardoso Bruna Peixoto de Souza Hellen Milena Alves Gomes Isabella Júlia Silva dos Santos Izabella Pereira Gonçalves Lucas Kelven Oliveira de Pinho Millena Hadassa Alves Coelho Turma 75 Lucas Phillipe Freitas Dias Marcos Vinícius de Souza Rodrigues Turma 76 Pedro Henrique Freitas Dias Sâmela Raffaela de Souza Turma 81 Camila Rodrigues Pereira Cristiely Carvalho da Silva Emanuelly Bárbara de Jesus Guilhermy de Souza Rodrigues Luís Henrique Medeiros Samyra Lauanda Costa da Silva Turma 91 Audrey Geralda Augusta Maximiliano Salomão Bianca Ferreira Silva Clariane Evangelista Gusmão Giovane Vitor Emerick Freitas


Sumário O sumário deste livro será no mínimo curioso e instigador. Pensando que as histórias são em 1ª pessoa, todas escritas por adolescentes entre 12 e 15 anos. Convido a todos a viajarem pelas histórias sem se preocuparem e, ao final de cada uma, se perguntarem: Quem escreveu? Menino ou menina? Realidade ou Ficção? Então deixaremos para o fim o nome dos autores de cada história. Isto vai ser uma delícia! 01 - Marie Curie..............................................................................11 02 - Marisa........................................................................................13 03 - Malala........................................................................................15 04 - Dandara....................................................................................17 05 - Maria José.................................................................................19 06 - Monalisa....................................................................................21 07 - Maria Tereza.............................................................................23 08 - Maria da Penha........................................................................25 09 - Amélia.......................................................................................27 10 - Marta.........................................................................................29 11 - Helena.......................................................................................31 12 - Aisha..........................................................................................33 13 - Heloísa.......................................................................................35 14 - Gabriela.....................................................................................37 15 - Ivone..........................................................................................39 16 - Marizete....................................................................................41 17 - Márcia.......................................................................................43 18 - Regiane......................................................................................45 19 - Tarsila........................................................................................47 20 - Nathália.....................................................................................49 21 - Xaylan........................................................................................51


Agradecimentos Agradeço à direção, coordenação, aos professores e funcionários da EMSHA, que foram cúmplices deste delito perdoável : instigar, empolgar e encher de ideias as mentes destes jovens, pequenos grandes escritores da 5ª Jornada Literária 2015. Daliane Marinho Fernandes Professora e coordenadora da 5ª Jornada literária 2015

Agradeço aos meus professores que me deram a oportunidade de participar e aprender mais sobre a condição de vida de muitas mulheres e a maneira como foram tratadas durante décadas. Acredito que o exemplo de vida das personagens e suas vitórias serão sempre minha inspiração. Luís Henrique Medeiros Autor e Ilustrador da 5ª Jornada Literária


Curiosidades Todos os textos tiveram inspirações diversas. Algumas curiosidades: •

O texto Monalisa foi escrito observando a figura do famoso quadro de Leonardo Da Vinci.

Malala é personagem real e ganhou o Prêmio Nobel da Paz, em 2015.

Dandara pode ter sido a companheira de Zumbi dos Palmares.

A história de Maria da Penha foi baseada em fatos reais.

Amélia realmente atravessou o Oceano e foi a 1ª mulher a fazer isso.

O texto Marta foi inspirado na jogadora Marta, eleita a melhor do mundo.

Helena foi inspirada em Helena Schurmann.

Gabriela foi inspirada em Coco Chanel.

Marizete foi inspirada em uma imagem estranha da Branca de Neve carregando dois filhos e descalça.

Márcia foi inspirada em uma pessoa real. Ela é brasileira e trabalhou para NASA.

Tarsila é a Dama da Arte Brasileira.

Regiane foi inspirada em uma imagem de uma mulher sem uma perna.

Heloisa foi inspirada na proprietária do Beleza Natural, nacionalmente conhecida.

As outras personagens foram inspiradas em textos, imagens e nas discussões da oficina de texto.



1. Marie Curie Há 80 anos eu dava meu último suspiro. Meu nome é Marie Curie e minha história começa na cidade de Varsóvia, na Polônia. Eu era uma criança magra e desprotegida. Cresci sem a minha mãe e a minha irmã mais velha. Meu pai era professor, mas não era bem remunerado. Passávamos muitas dificuldades e tinha ainda a guerra. A ocupação russa impedia que ele desse as suas aulas de Ciências, e então ele trouxe o seu laboratório para casa. Eu adorava fazer experiências com ele e ganhei vários prêmios e medalhas. Aos dezesseis anos, comecei a trabalhar como governanta para ajudar a minha família e minha irmã nos estudos. Foram tempos difíceis. Tinha vinte e quatro anos quando meu pai conseguiu um emprego melhor e pude me matricular no curso de Ciências da Universidade de Sorbonne, onde fiquei trabalhando, aprendendo e economizando. Fui para a França. Então comecei a minha pesquisa. Um dia, encontrei o amor da minha vida. O nome dele era Pierre. Nós nos casamos. Éramos apaixonados pela ciência. Ele tinha um eletrônomo, que foi muito útil para a minha pesquisa. Fiz experiências com várias pedras pretas e uma delas emitia raios. Essa foi minha conclusão, um novo elemento químico, desconhecido pelos cientistas. Uma fábrica de vidro na Austrália nos enviou toneladas de resíduos de pechblenda, que conseguimos separar em dois lados: um sólido radioativo e um líquido não radioativo. Foram meses trabalhando. Três anos e nove meses depois, surgiu o esperado: a vitória. Nós mostramos para o mundo o novo elemento químico : o rádio. Anos depois, esse mesmo elemento foi muito utilizado pelos cientistas, inclusive para tratar o câncer. Alguns anos depois fiquei doente. Eu ouvi o médico falar que não resistiria. Mas tinha a consciência de que tinha vivido minha glória, feito minha parte, sido tudo que poderia ser e ainda mudado o mundo.

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2. Marisa Muitos anos se passaram. Nosso casamento não deu certo e tivemos que nos separar. Fiquei sozinha com as crianças. Para sustentá-las, tive que ir à luta. Eu saía bem cedo de casa para enfrentar o trabalho de serviços de limpeza urbana. Quase não tinha tempo para eles. Um dos meus filhos, o Davi, tinha muita vergonha de mim por causa da minha profissão, por eu trabalhava de varrer ruas, e principalmente por causa dos seus amigos. Sofri muito, mas não podia deixar de trabalhar, já que era a única forma que tinha para sustentá-los. Hoje eu posso me considerar uma vencedora, pois os meus filhos entenderam que tudo o que aconteceu foi para o nosso próprio bem e crescimento. Mesmo com todas as dificuldades, somos uma família feliz. O meu filho Davi acabou aceitando minha profissão. Consegui voltar para a escola e terminar os meus estudos. Hoje eu já trabalho em um emprego melhor e meus filhos já estão formados. Somos uma família unida, que continua lutando por uma vida com dignidade.

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3. Malala Meu nome é Malala Yousafzai. Tenho 17 anos. Quando tinha 11 anos, morava no Paquistão, no Vale de Swat. Sempre gostei de estudar, mas meu lar era cenário de uma guerra. Na rua, ouviamse tiroteios e bombas. Meu pai, Ziauddin, é ativista e dono de uma escola em Swat. Quer dizer, era. Ele sempre me incentivou a estudar. Eu adorava, mas em Swat isso era bem difícil. Os talibãs, em tese aqueles que estudam o Alcorão, são contrários à educação das mulheres. O Vale de Swat é seu território. Quando fiz 12 anos, não pude comemorar. Na minha terra, só os homens podem fazer aniversário.Nessa época,o líder dos talibãs exigiu que as escolas interrompessem as aulas dadas para as meninas. Meu pai fez de tudo para impedir que isso acontecesse. Até pediu ajuda dos militares para que pudéssemos continuar estudando. Mas a situação era tensa.Passou-se um ano e nada havia mudado. Para eu poder continuar indo para a escola, desafiei a ordem. Quando fiz 15 anos, me arrumei para ir para a escola. Fui pegar o ônibus, fanáticos do talibã atiraram em mim. Levei um tiro na cabeça. Fui levada de helicóptero para o hospital. Passei por cirurgias. Tempos depois me recuperei. Hoje sou porta-voz mundial e concorri ao Prêmio Nobel da Paz 2014. Até ganhei. O líder dos talibãs disse que fingi que fui baleada. Nunca faria isto.Acredito que a melhor maneira de superar os problemas é através do diálogo. Não moro mais em Swat. Gostaria de um dia voltar para lá. Entrarei na política. Por que seria diferente? Quero lutar pelo direito de todos estudarem, principalmente as meninas que desejam conhecimento e paz, como eu.

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4. Dandara Meu nome é Dandara. Nasci na terra mãe África. Minha família era muito pobre. Não tínhamos dinheiro. Sofríamos com a inóspita natureza, mas era meu lar. Fui forçada a sair de lá. Pessoas brancas com uma língua estranha jogaram-me na lama e me arrancaram do berço da mãe África e de meus pais. Minha família se foi nas inúmeras caravelas. Levaram-me para uma terra de sofrimento. Foi pura solidão. Fui escrava, fugitiva e mulher, em uma época em que mulheres eram menosprezadas. Quase morri, mas conheci alguém que me mudou e me fez acreditar que a dignidade não se compra. O que vale é o que se tem por dentro, um coração, uma alma. Meu amor tem um nome que amedronta uma nação. Minha paixão. Seu nome é Zumbi dos Palmares. Ele nos deixou uma lição: não julgar as pessoas pela cor da pele e sim pelo caráter. Junto a ele segui em suas batalhas, também minhas. Mas sua morte e o meu exílio foram o meu final. Por que este povo mata o seu semelhante? Por que arranca a cultura do outro? Por que acha que não sou digna de respeito por ter essa cor? Hoje estou aqui nesse abismo onde me jogarei de cabeça.



5. Maria José Meu nome é Maria José. Superei todos os obstáculos que alguém pode imaginar. Sou uma mulher que prestou o vestibular aos 60 anos. Minha filha foi presa porque a Justiça estava procurando uma mulher que falsificava identidades para não ser encontrada. Ela falsificou a identidade da minha filha e cometeu um crime de assassinato. Eu não queria que a minha filha fosse julgada por um crime que não tinha cometido. Mas ela foi julgada e condenada. Então pensei em fazer um vestibular de Direito. E foi o que eu fiz. Fui muito criticada. Mas segui em frente.Depois de uns quatro anos, me formei. As pessoas continuaram a me criticar, mas ficaram impressionadas. Eu era muito boa no que fazia. Procurei e achei provas do crime ocorrido. Continuei a investigar o caso da minha filha e cheguei à conclusão de que a criminosa era uma pessoa do meu bairro. Com isso, levei-a ao tribunal , entreguei-a ao juiz e minha filha foi libertada. E, com esse ganho, vi minha capacidade e fiz mais: estudei e me tornei juíza. E agora faço o melhor para os injustiçados de nosso país.

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6. Monalisa Meu nome é Madonna, mas todos me chamam de Monalisa. Nasci em Veneza, na Itália. Sou de uma família pobre e humilde. Em minha cidade os casamentos são arranjados pelos pais e foi o que aconteceu comigo. Tinha 15 anos e ele 42. Era um rico comerciante chamado Francesco Giocondo. Mas meu dilema era que ,em Veneza, no meu bairro, morava um jovem camponês, Pietro, o amor da minha vida. Dezessete anos, trabalhador e estudioso. Nós nos amávamos. Decidimos fugir. Eu não acreditei quando descobriram nosso plano no dia da fuga. Levaram Pietro preso e ele acabou sendo enforcado pelos capangas de Francesco. Eu não dormia. Só sabia chorar e pensar que dali a três dias me casaria. Depois de casada, resolvi que realizaria o sonho de Pietro: fundar uma escola para as crianças do campo e dar a elas a melhor educação. Mas, como eu faria isso? Certo dia, fui à feira. Ao voltar, vi um jovem de uns 20 anos que fazia quadros belíssimos. Contei ao meu marido e ele chamou o pintor , o Sr. Leonardo da Vinci, para fazer meu retrato. Depois, conversamos um pouco. Tive uma ideia: pedi a ele que fosse meu professor e me ajudasse a realizar o sonho de Pietro. Sendo assim, começamos as aulas. À noite, trancava-me em meu quarto e ficava estudando. Acabei não dando atenção a Francesco que, desconfiado, decidiu por um capanga para me espionar. Descobriu minhas aulas e, como era machista, disse que mulher era burra e não podia estudar. Expulsou Da Vinci da cidade . Mas eu não desisti. Após três anos, Francesco ficou doente e acabou morrendo. Só então consegui fundar a escola que sonhei: Colégio Pietro Gherandini de Veneza.

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7. Maria Tereza Meu nome é Maria Tereza. Tenho 35 anos. Sou mãe de três filhos. Há alguns anos, fazia serviços que diziam ser de homem para sustentar a mim e aos meus filhos. Um dos meus filhos, o Pablo, tinha muita vergonha de mim por eu fazer aquilo. Sofria discriminação social por causa da minha profissão e por ser negra e mulher. No meu cotidiano, passava por dificuldades e desprezo. Levantava cedo, às 05h30 da manhã para trabalhar como operária em uma obra. Trabalhava até as 14h30 e depois pegava três ônibus para trabalhar, por seis horas, como doméstica em uma casa de família. Chegava em casa à meia- noite. Jantava, tomava banho e ia dormir a uma hora da madrugada. Todos os dias pensava: isso nunca vai acabar? Sempre terei esse sofrimento? Até que anos depois muitas coisas mudaram. Um dia, meu filho Pablo sofreu um grave acidente. Eu o ajudei pagando suas despesas médicas. Doei sangue para ele e muitas outras pessoas. Meu outro filho Diego se formou em Engenharia Mecânica e conseguiu construir uma boa casa para nossa família. Minha filha Débora formou-se em Direito e é uma ótima advogada. Encontrei um homem chamado Victor, que me deu valor e me ajudou nas despesas. Lutei muito para que meus filhos estudassem e fossem pessoas de bem. Hoje, merecedora do que tenho por trabalhar bastante e ajudar o próximo, sou uma pessoa rica, que se deu bem e que batalhou para chegar a este nível e ter uma vida sem correria. Sei que sou uma vencedora. Acredito que sou.

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8. Maria da Penha Meu nome é Maria da Penha e eu quero contar minha história. Tudo começou quando eu estava fazendo o meu curso de pósgraduação. Já tinha me formado em Farmácia e Bioquímica. Conheci um rapaz muito interessante, simpático e gentil. Sempre que estava ao seu lado, o sorriso e a expressão alegre não saíam do meu rosto. Colombiano, isso lhe dava um charme a mais. Eu achava que ele “era para casar”. Comecei a namorá-lo. Seu nome era Marco. Casamos e éramos felizes. Nós nos amávamos e não tinha como haver problemas. Um tempo depois de casados, eu engravidei e tivemos uma filha. É uma coisa extraordinária ser mãe. Engravidei outra vez e nasceu nossa segunda filha, juntamente com a naturalização e o êxito profissional do Marcos. Estava tudo dando certo até que um dia ele começou a me agredir fisicamente. Falava horrores e fazia uma tortura psicológica comigo. Simplesmente toda a magia e tudo que me fazia amá-lo desapareceram. Marco, marido perfeito, não existia mais. E isso só acabou quando acordei, numa noite de 1983, com um barulho terrível e uma sensação de formigamento nas costas. Ele atirara em mim enquanto eu dormia. Marco me deixou em uma cadeira de rodas. Decidi não aceitar aquilo. Procurei a Justiça brasileira. Não tive sucesso. A lei era: “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. Inconformada, procurei todos os meus direitos. Não havia nenhum. Resolvi escrever um livro. Fui ajudada pela CEJIL-Brasil e a CLADEM_Brasil. No inquérito, culparam o Brasil por negligência. Em 2002, Marco foi preso. Cumpriu apenas um terço de sua pena e hoje está livre. Em 2006, uma lei foi aprovada. Conhecida como “Lei Maria da Penha”. É a famosa lei nº 11.340. Esta é a minha história. Nenhuma mulher deve sofrer agressão de homem algum. Todas devem procurar seus direitos.

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9. Amélia Meu nome é Amélia Mary Earhart. Morava em Atchison, Kansas. Meu sonho sempre foi ser aviadora, gostava de aviões. Ver aquela linda máquina no céu era magnífico. Tudo começou em 1904, quando um ex-aviador, amigo do meu pai, foi nos visitar. Ele tinha um belo Mikoyan-Gurevich, MIG-29, um avião militar de caça. Encantei-me assim que vi aquele belo avião e pedi ao Sr. Jorge que me ensinasse mais sobre aviões. Meu pai não gostou da ideia disse que mulher só servia para “cuidar da família”. Eu fui contra a decisão de meu pai e pedi para o Sr. Jorge que me ensinasse escondido. No começo, ele não gostou, mas depois aceitou. E começou minhas aulas. Papai descobriu tudo após dois meses e pediu para que o amigo fosse embora. Antes, porém, ele me deu um livro sobre aviões e falou “Você mudará o mundo, pequenina”, e se foi. Meu pai arranjou-me um casamento, mas, no dia do casamento, eu fui para Los Angeles. Estudei, me dediquei. Riram de mim, falaram que uma mulher nunca conseguiria ser uma aeronauta, mas eu consegui. Sentime tão feliz com meu modelo nove Merrill, que ,quando o coloquei no ar pela primeira vez, senti-me livre e ali uma ideia passou em minha mente: iria chegar aonde ninguém tinha chegado e iria primeiro voar sobre o imenso Oceano Atlântico. Então consegui. Resolvi também dar uma volta em torno da terra. Estava tudo certo, verifiquei cada parafuso do meu Merrill, mas, quando sobrevoava perto da ilha Howland, houve uma falha no motor. Os controles não respondiam, comecei a perder altitude, tentei fazer um pouso de emergência, mas era tarde. A única coisa que fiz foi encostar-me ao banco de meu Merrill e me lembrar de cada momento bom que com ele tinha tido. Aí simplesmente senti-me leve. Sabia que ia falecer, mas sabia também que sempre estaria com meu Merrill e que o mundo se lembraria de mim. No dia 7 de julho de 1937, fui a primeira aviadora a sobrevoar o Oceano Atlântico.

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10. Marta Meu nome é Marta, tenho 17 anos. Nasci e cresci em uma comunidade muito carente do Rio de Janeiro. Moravam eu, minha mãe e meu irmão de seis anos. Meu pai morreu quando eu tinha um ano. Meu sonho sempre foi ser jogadora de futebol profissional, mas eu não tinha tempo para investir no meu sonho. Tinha que estudar e trabalhar para ajudar minha mãe. Eu acordava às 5h30 da manhã para começar a luta. Saía da escola, ia direto para casa e ainda tinha que fazer almoço e levar meu irmão na escola e trabalhar. Meu trabalho era longe da escola do meu irmão. Demorava uma hora para chegar até lá. Trabalhava a tarde toda e chegava à noite em casa. Fazia meus deveres de escola, ajudava minha mãe fazer o jantar para depois dormir. A rotina era cansativa. Trabalhava de segunda a sexta e, aos sábados, arrumava a casa, lavava roupas e olhava meu irmão, porque minha mãe tinha que trabalhar. Eu só tinha o domingo para jogar futebol, mas os meninos não gostavam que eu jogasse. Falavam que isso não era coisa de menina. Todos me chamavam “Maria Macho”. Nem minha mãe gostava. Eu jogava mais quando estava na escola, mas só com as meninas. Os meninos não deixavam. Um dia, fizeram um campeonato na escola. Eu participei. Pude mostrar o que fazia de melhor. Meu time foi campeão. Dias depois, ligaram para minha mãe. Era uma ONG que queria investir em mim. Mesmo minha mãe não gostando, resolvi investir no meu sonho. Comecei a treinar aos sábados. Não desisti dos meus estudos. Era meu sonho também fazer faculdade. Minha mãe começou a me apoiar. Um ano depois, iniciei minha profissão e pude ajudar em casa. Acho que vou ser a melhor jogadora profissional do mundo. Quer apostar?

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11. Helena - Diário de Bordo 12 de outubro de 2003 Meu nome é Helena. Viajo pelo mundo em um veleiro. O mar é minha casa. Hoje acordei com Cecília tossindo e me lembrei de quando ela chegou a nossa casa , com apenas dois meses. Eu fiquei muito preocupada. A saúde dela era muito frágil, ela tinha AIDS. Apaixonei-me por aquele bebê que precisava de mim. Eu estava sempre ali, torcendo e à espera de um milagre. 22 de maio de 2014 Hoje, quarta-feira, fomos fazer uma viagem de veleiro. Fomos para Portugal. Cecília estava tão feliz que parecia uma menina sem problemas. Brincamos e cantamos. Depois de tanta alegria fomos para o hotel. Partiríamos para uma longa viagem rumo ao Japão. 20 de junho de 2014 Estamos na Grécia. Cecília acordou cedo. Ela estava tão agitada, correndo e rindo. Deu-me um beijo, abraçou-me e disse: _ Mãe, vamos brincar mais e mais e mais. Olhei para ela e apenas sorri. Velejaríamos para Austrália no dia seguinte. Cecília era meu rumo. Ela adorava ver o pôr do sol comigo. Mas lindo mesmo era aquele sorriso. 29 de agosto de 2014 Cecília não está bem. Está tão fraca. Estou preocupada. Eu não quero perder minha filha. Mas sua guerra contra a doença é travada todos os dias. No hospital, levaram para a sala de cirurgia. Seu coração estava parando. Depois foi para o CTI. O médico disse que ela não se recuperaria. Eu a amo tanto. Ela acordou e sorriu, ela voltaria para casa. Depois de alguns dias ela não resistiu. Eu chorei. Pensei que iria voltar com a Cecília. Voltei com todas as lembranças e um grande aprendizado: Viver plenamente. Viver sorrindo. Viver e amar. Foi um privilégio ter sido a mãe de Cecília. Ela dizia que o choro pode durar uma noite, mas a alegria deve ser para sempre.

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12. Aisha Eu sou Aisha. Tenho 20 anos. Sou brasileira. Um dos meus maiores sonhos é escrever um livro. Gosto muito de ouvir música e de ajudar as pessoas. Ainda sonho com um príncipe encantado e atualmente não estou apaixonada por ninguém. Essa sou eu, uma garota cheia de sonhos, romântica e esperançosa. Apesar de nesses últimos anos terem acontecido muitas decepções, tenho resolvido tudo de cabeça erguida. No ano passado, estive em uma viagem com familiares para o Paquistão,onde vi coisas de que jamais vou me esquecer. Chegando lá, achei o lugar bem estranho. As pessoas eram muito tristes, quase nunca sorriam. Fiquei na casa de familiares. Eles tinham dois filhos. Eu estudava de manhã e era voluntária à tarde em uma embaixada do governo, trabalhando com crianças que tinham sido mutiladas pela violência da guerra. Às vezes, tínhamos que sair correndo para outra cidade por causa dos ataques, das enormes bombas dos talibãs. O que vivi lá foi uma experiência única e isso me tornou uma pessoa melhor. Cada sorriso que tirei do rosto daquelas crianças sofridas já foi uma realização para mim. Voltei para o Brasil pensando nas mulheres do Paquistão. Como elas sofrem com o preconceito e a violência extrema, com a incrível falta de liberdade, por não poderem estudar, escolher o que vestir, ter liberdade de expressão e o direito de ir e vir. Pensando ainda não ter concluído minha história no Paquistão, me juntei a outras mulheres que conhecia, à minha mãe e minha irmã e fundamos uma ONG para ajudar crianças mutiladas pelas terríveis guerras que não só causam destruição no corpo, mas também na alma.

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13. Heloisa Desde pequena eu gostava de meus cabelos volumosos, cacheados e minha cor linda. Eu era muito tímida na escola. Então uma professora chamada Maria viu como eu ficava sozinha decidiu perguntar às crianças se eu poderia brincar com elas. As meninas deixaram. Tocou-me o fato de uma professora se preocupar com a diversão de uma aluna que ela nem conhecia e comecei a admirá-la. Era negra, bonita e tinha os cabelos muito volumosos e cacheados. Possuía uma “beleza natural”. Comecei a gostar cada vez mais de cabelos cacheados. Tinha um sonho: quando crescesse iria criar uma rede de salões de beleza e me tornar uma grande empresária. Minha mãe falou: _Quando você crescer mudará de sonho, pois ainda é criança. Em 1993, fui ao salão do bairro à procura de trabalho. A dona do salão me perguntou o que eu sabia fazer e se as minhas notas eram boas. Respondi que sabia cuidar de cabelos e que as minhas notas eram muito boas. Ela me contratou. As clientes estavam bem satisfeitas e um dia a dona do salão me promoveu. O salário era melhor e o meu sonho começou a se realizar. Estudei muito e consegui progredir. Fiz muitas pesquisas para melhorar os produtos. Consegui montar meu 1º salão. Trabalhei também como doméstica por dois anos para pagar o aluguel. Depois de muita luta, uma moça chamada Zica me ligou e perguntou se poderíamos ser sócias e começou nossa sociedade. Eu tinha revolucionado a forma de cuidar de cabelos crespos e cacheados. Inauguramos um salão especializado. Fomos progredindo, já tínhamos várias unidades em todo o Brasil e estávamos concorrendo a um prêmio da revista “Cláudia”, para mulheres empreendedoras. Ganhamos. Tenho orgulho de dizer: sou negra, determinada, amo o que faço, sou empresária de sucesso. Sou feliz.

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14. Gabriela Eu me lembro de quando precisei ir para o orfanato, eu tinha meus 10 anos de idade e 14 irmãs. Minha mãe estava muito doente, meu pai não tinha dinheiro suficiente para pagar a comida, o aluguel e os remédios. Quando minha mãe morreu, meu pai, que já estava com o aluguel atrasado, resolveu nos abandonar,nos deixando em um orfanato,onde havia duas classes de crianças: a de meninas ricas e as de meninas pobres, como eu e minhas irmãs. Eu tinha que fazer minha roupa e das minhas irmãs. As meninas ricas riam da gente e jogavam coisas de comer no chão pra gente pegar. Minhas irmãs e eu passávamos fome, mas não deixamos de estudar nunca. Estudei até os 20 anos. O ano era 1960. Como eu sabia costurar e era muito inteligente, tudo mudou. Virei a maior estilista de minha época. Coco Chanel era a minha marca no mundo. Anos depois, aquelas mesmas meninas que me maltratavam no orfanato, ficavam na fila para entrar no meu ateliê e poderem fazer um vestido. Eu venci e você também pode vencer.

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15. Ivone Meu nome é Ivone, conhecida também como Dona Ivone. Tenho 58 anos, sou aposentada , tenho filhos e já fui casada. Vou contar a minha história para vocês. Interrompi meus estudos na segunda série do Ensino Fundamental e, pouco tempo depois ,me casei e ,como já disse ,tive filhos. Para dar um pouco de sentido à minha vida, decidi voltar a estudar. Matriculei-me no turno da noite e estudava, super feliz, até começarem as desavenças entre mim e meu marido. Ele me dizia que eu estava correndo atrás “de homem”, mas, na verdade, eu só queria estudar e dar um pouco de sentido à minha vida. Então ele começou a ficar agressivo, mas, mesmo assim, continuei indo à escola. Comentei com minha professora o que estava acontecendo. Ela me aconselhou a conversar com ele e, se não surtisse efeito, talvez me separar. Mas como uma senhora de 58 anos, sem renda, sobreviveria sozinha? Essa era a pergunta que eu me fazia. O tempo passou e ele ficou mais agressivo. Conversei com ele, que não aceitou minhas ideias. Então decidi me separar e ir morar com os meus filhos. Foi difícil no início, mas cada dia que passava, me sentia melhor. O ano acabou e me formei. Logo depois, fiz faculdade de Administração e arrumei um emprego. Estava muito feliz e independente. Comprei um apartamento para mim e tinha conquistado tudo aquilo de que precisava para ser feliz. O meu marido acabou morrendo velho e sozinho. Hoje estou realizada. Quero, por fim, deixar o meu recado. Mulheres têm os mesmos direitos que os homens. Ninguém deve se esquecer disso nunca. Essa é a minha história.

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16. Marizete, um conto de fadas moderno Meu nome é Marizete, tenho 38 anos. Quando eu era mais jovem, com uns 15 para 16 anos, como muitas garotas da minha idade, tinha o sonho de me casar com o homem de minha vida, o cara perfeito, o príncipe de meus sonhos . Eu só queria curtir, e, em uma festa, acabei conhecendo um garoto,que, para mim, era a pessoa ideal. Passaram- se dois meses que eu e ele estávamos namorando. Todos os dias, ele mandava mensagens, cartas, flores. Depois de um tempo, ele me chamou para sair com ele e com os amigos dele. E, cada vez mais, eu fui ficando apaixonada por ele e acabei engravidando de gêmeos. Logo após nasceram as crianças , ele começou a me tratar mal e me agredir. Era um conto de fadas que passou a ser um pesadelo. Ele passou a dormir fora de casa, só ia em casa tomar banho e saia de novo, até que um dia ele não voltou mais. Acabei me tornando mãe solteira, fui despejada e tive que morar de favor na casa da minha mãe, quer dizer, no fundos,onde só tinha um cômodo muito apertado para mim e meus filhos. Era muito difícil arranjar um emprego, pois tinha abandonado os estudos para ficar com ele. Tinha que escolher:ou começava a estudar ou morava na rua, pois minha família não queria saber de mim. Comecei a estudar, consegui concluir a faculdade de Engenharia Civil e hoje sou engenheira, possuo um ótimo emprego. Pude dar uma vida melhor para meus filhos. Eu aconselho a nunca pensar que a vida é um conto de fadas. Estudar é importante para conseguir as coisas e manter nossa dignidade. Hoje tenho a minha casa própria e estou feliz.

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17. Márcia Meu nome é Marcia Henriques Mantelli. Hoje é o meu grande dia. Vão instalar a minha invenção, que são tubos de calor para um satélite. Se eu fosse olhar para o meu passado, não estaria aqui hoje, conquistando o meu sonho. Sempre possuí muitos sonhos. Gostava de Física, Química, Matemática e Mecânica. Diziam “Mulher gosta de Mecânica?”. Meu sonho era impossível? Só um homem conseguiria? Era o que me falavam. Mas não desisti. Fui atrás do meu sonho para conquistá-lo. Batalhei para trabalhar na NASA com foguetes espaciais. E eu consegui. Hoje tenho 52 anos e sou engenheira mecânica. Desenvolvi os tubos de calor que controlam a temperatura de satélites em órbita para evitar o superaquecimento. Tenho o objetivo de atender o mercado espacial do país com tubos de calor nacionais eficientes e de baixo custo, fazendo com que não seja necessário importá-los. Sou mestre e doutora pela University of Waterloo, no Canadá. Fui convidada, no fim de 1990, a montar um laboratório de tubos de calor no Departamento de Engenharia Mecânica, na Universidade Federal de Santa Catarina, onde sou professora, pesquisadora e auxilio os ex-alunos. Posso dizer que poucos acreditaram em mim. Muitas me criticaram e tentaram fazer com que eu desistisse. Mas não desisti. Temos que acreditar no conhecimento e nas instituições de ensino. Isso é fundamental para o crescimento da nação. Posso dizer que sou uma vencedora.

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18. Regiane Há 12 anos, uma nova Regiane nasceu. No dia 14 de setembro de 2003, meu celular tocou. Era Larissa, minha amiga. Ela me convidava para sair. Não recusei. Íamos para uma balada, e, como toda mãe, a minha ficou falando para eu não ir, pois ela estava sentindo uma coisa estranha. Falei que isso era coisa de mãe, mas eu estava enganada. Quando nós estávamos voltando da balada, percebi uma coisa: Larissa, que iria dirigir, estava embriagada, mas eu não quis falar nada, pois achei que iria ofendê-la. Pensei ,mas preferi ficar calada. Entramos no carro, e quando tínhamos andado 2 km, Larissa avançou o sinal vermelho e, àquela hora, aconteceu um terrível acidente. Infelizmente, Larissa, que estava dirigindo, e Fernanda, que estava na frente, morreram. As outras duas meninas tiveram ferimentos leves. Eu tive a perna esmagada pelas ferragens. Depois de muito tempo, os bombeiros retiraram a minha perna das ferragens e fomos para o hospital. Tinha duas opções: continuar com a minha perna esmagada, ficar em uma cadeira de rodas ou amputá-la e andar de muletas. Eu escolhi a segunda opção, pois com as muletas poderia fazer qualquer tipo de coisa. O tempo foi passando e eu já estava bem melhor. Quem mais sofreu com a amputação da minha perna foi minha mãe e meu pai. Mas, com o tempo, eles foram adaptando-se com o fato. Preconceito? Sofri bastante, mas, com pensamento positivo e vontade de ser feliz, consegui superar. Hoje vivo muito bem. Não preciso de nenhuma ajuda para andar e nem para fazer qualquer outra coisa. Passeio por vários lugares, praia, shopping, entre outros.Hoje posso dizer, por experiência própria: “Se beber, não dirija.”

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19. Tarsila Estou a ponto de dar meu último suspiro. Minha vida é uma tela que estou terminando de pintar. Durante minha vida, fiz coisas que poucas mulheres fariam. Nasci com opinião própria. Não aceitava a ideia de que as mulheres eram objetos e decidi mudar essa realidade a qualquer preço. Meu nome é uma homenagem à minha tia avó. Ela era uma pintora. Eu queria aprender a pintar como ela, mas meu pai e meus irmãos não gostaram da ideia. Já mais velha, entrei em um concurso de pintura. O ganhador iria ter aulas de pintura em Paris. Mas sabia que se entrasse com o nome de mulher não me deixariam participar, então entrei com o nome de Alfredo Alonso. Mandei um quadro que ganhou o nome de Sagrado Coração de Jesus. Por incrível que pareça, ganhei o prêmio mas, quando descobriram que Alfredo Alonso era uma mulher, não deixaram que eu fosse premiada. Ouvi naquele dia: “Como pode uma mulher se atrever a pintar? Isso não é sua função, mulher.” Chorei. Aquilo ficou marcado em mim para sempre. Mas eu não aceitei. Estava saindo quando ouvi um grito de alguém chamando por mim. Frederico era um “caça talentos”. Ele me disse que eu era a pessoa certa e me perguntou se estava interessada em ir para Paris. E lógico que sim, era a chance da minha vida. Meus irmãos e meus pais não gostaram da ideia, mas, mesmo assim fui. Fiz belos trabalhos. Lá me apaixonei e me casei com André Teixeira Pinto e tive Dulce, minha primeira e única filha. Separei-me dele, estudei artes plásticas. Voltei para o Brasil e ingressei no “Grupo dos Cinco”, já livre e reconhecida. Pintei O Abaporu, para meu querido Oswald e outras obras que ficaram famosas. Deixo a todas as mulheres o conselho de serem fortes, não serem objetos de ninguém e ter vida e opinião própria. Meu nome é Tarsila do Amaral, Dama da Arte Brasileira.

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20. Nathália Meu nome é Nathália, tenho 35 anos e dois filhos; um de 14 anos e outro de seis anos. Nasci em 1980. Sempre tive uma vida difícil, não tive infância direito. Meu pai sempre foi muito machista e dizia que mulher só servia para ir para cozinha. Minha mãe sempre trabalhou muito, é uma guerreira. Com 13 anos, eu ajudava minha mãe a arrumar a casa da sua patroa. Com 15 anos de idade, tive um namoro e, por descuido, acabei engravidando. Depois que ganhei meu primeiro filho, sai de casa e fui morar sozinha. O pai do bebê não assumiu a paternidade, tive que conquistar minhas coisas sozinha. Com 16 anos, arrumei um emprego como doméstica. Hoje moro de aluguel e pago uma pessoa para olhar meu filho para eu ir trabalhar. Trabalho de segunda a sábado para nos sustentar. Tive outro namoro muito rápido que durou um ano e acabei engravidando de novo. Ele também não assumiu a paternidade. Fui mandada embora do meu emprego. Agora estou procurando um emprego, porque estou correndo o risco de ser despejada. Fui atrás de emprego e consegui como doméstica de novo. Só que dessa vez ganho o dobro que eu ganhava no meu antigo trabalho. Pago a creche do meu filho de seis anos e comecei a estudar para fazer o vestibular para o curso de Direito. Acredito que não podemos perder a esperança nunca. Sou uma mulher que deseja um futuro melhor e vou alcançar meus sonhos, custe o que custar.

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21. Xaylan Meu nome é Xaylan Panctan. Moro na China, onde as mulheres têm poucos direitos e sofrem preconceitos. Com os meus 16 anos, comecei a trabalhar em um programa da radio noturno. Eu procurava histórias de mulheres incríveis. Fui atrás de histórias de bebês, que eram maltratados por serem meninas. Viajei de ônibus para uma cidade vizinha, onde fui roubada e humilhada. Não me queriam lá para xeretar . Pensei em voltar, mas não tinha como. Não tinha dinheiro. No caminho, achei uma casinha bem humilde. Bati à porta e a uma senhora que atendeu pedi um copo d’água e algo para comer. Enquanto eu me alimentava, essa senhora me contou histórias tristes sobre sua vida. Como qualquer mulher da China, a luta é diária para viver e sobreviver. Somente depois de muito pesquisar, consegui algo para minha história na rádio. Algum tempo depois eu voltei a estudar . Comecei a fazer faculdade. Corria atrás de histórias sobre a vida de mulheres na China,que, com o tempo virou um livro de muita importância. Espero que a violência contra mulheres acabe um dia. Vou escrever até que as autoridades façam alguma coisa. E foi o que fiz. Mudei minha história, usando a força da palavra e mais. Tenho certeza de que, depois de 10 livros publicados sobre as chinesas, mudei a história de muitas mulheres também. Não desisto nunca. Sempre lutarei por vocês, mulheres da China e do mundo.

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Sumário 01 - Marie Curie- Lucas Kelven Oliveira de Pinho......................................11 02 - Marisa- Pedro Henrique Freitas Dias....................................................13 03 - Malala- Giovane Vitor Emerick..............................................................15 04 - Dandara- Luís Henrique Medeiros........................................................17 05 - Maria José- Pedro Henrique Freitas Dias..............................................19 06 - Monalisa- Emanuely Bárbara de Jesus..................................................21 07 - Maria Tereza- Marcos Vinícius de Souza Rodrigues...........................23 08 - Maria da Penha- Clariane Evangelista Gusmão...................................25 09 - Amélia- Bianca Ferreira Silva..................................................................27 10 - Marta- Cristiely Carvalho da Silva ........................................................29 11 - Helena- Hellen Milena Alves Gomes.....................................................31 12 - Aisha- Camila Rodrigues Pereira...........................................................33 13 - Heloísa- Izabella Pereira Gonçalves.......................................................35 14 - Gabriela- Isabella Júlia Silva dos Santos................................................37 15 - Ivone- Samyra Lauanda Costa da Silva..................................................39 16 - Marizete- Bruna Peixoto de Souza.........................................................41 17 - Márcia- Lucas Phillipe Freitas Dias........................................................43 18 - Regiane- Sâmela Raffaela de Souza........................................................45 19 - Tarsila- Audrey Geralda Augusta Maximiliano Salomão....................47 20 - Nathália- Ana Júlia Gomes Cardoso......................................................49 21 - Xaylan- Millena Hadassa Alves Coelho.................................................51







Referências Bibliográficas • Diretrizes da Educação para as Relações de Gênero na Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte 2015 • STANISIERE, Inês. A Agenda de Carol. • MURARO, Rose Marie, A mulher na construção do futuro –Editora Jet • MACEDO, José Rivair. A mulher na idade media. Editora Contexto. • TEIXEIRA, Inês Assunção de Castro. LOPES, José de Sousa Miguel. A mulher vai ao cinema. • CARROLL, Lewis. Alice no país das maravilhas. • Almanaque histórico Nísia Floresta – A mulher a frente do seu tempo. Projeto memoria 2006 – Nísia Floresta- Reder – Petrobrás + fundação Banco do Brasil • XINRAM, As boas mulheres da China. • ALMADA, Sandra. Damas Negras. Editora Mauad. • PAIVA, Marcelo Rubens. Feliz Ano Velho. • MURARO, Rose Marie. BOFF, Leonardo. Feminino e Masculino. Editora Record. • NASCIMENTO, Elisa Larkim. Guerreiras da natureza. Mulher negra, religiosidade. Editora Selo Negro. • MURARO, Rose Marie. História do masculino e do feminino. Editora Jet. • STANISIERE, Inês. Ligadas e Antenadas. Editora Galera Record. • MAZZA, Vivian. Malala. A menina mais corajosa do mundo. • BIRCH, Beverly. Marie Curie e a busca pelo radio. • Leilão, Eliane Vasconcellos. Mulher na língua do povo. Editora Itatiaia limitada. • LOGAN, Harriet. Mulheres de Cabul. Geração Editora. Ediouro. • CHALIRA, Gabriel. Mulheres que mudaram o mundo. Companhia Editoria Nacional. • O diário de Anne Frank. • TOWNSEND, Sue. O diário secreto de um adolescente. Editora Bertrand Brasil. • Ideologia de Aquino Azevedo. Tarsila do Amaral. A primeira- Dama da Arte Brasileira. • BRAGA, Ângela. Lígia Rego. Tarsila do Amaral. Editora Moderna.



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