A VOZ DA RESISTÊNCIA NA POESIA DE FERREIRA GULLAR E LUBI PRATES: POEMAS “AGOSTO 1964” E “ATÉ SÓ REST

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UCAM – UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DALIANE MARINHO FERNANDES

A VOZ DA RESISTÊNCIA NA POESIA DE FERREIRA GULLAR E LUBI PRATES: POEMAS “AGOSTO 1964” E “ATÉ SÓ RESTAR O DEPOIS (SOBRE O DIA 29 DE ABRIL DE 2015, EM CURITIBA)”

BELO HORIZONTE - MG 2020


UCAM – UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DALIANE MARINHO FERNANDES

A VOZ DA RESISTÊNCIA NA POESIA DE FERREIRA GULLAR E LUBI PRATES: POEMAS “AGOSTO 1964” E “ATÉ SÓ RESTAR O DEPOIS (SOBRE O DIA 29 DE ABRIL DE 2015, EM CURITIBA)”

Artigo Científico Apresentado à Universidade Candido Mendes - UCAM, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em (Literatura Brasileira).

BELO HORIZONTE - MG 2020


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A VOZ DA RESISTÊNCIA NA POESIA DE FERREIRA GULLAR E LUBI PRATES: POEMAS “AGOSTO 1964” E “ATÉ SÓ RESTAR O DEPOIS (SOBRE O DIA 29 DE ABRIL DE 2015, EM CURITIBA)”

Daliane Marinho Fernandes1 RESUMO Este artigo tem como objetivo analisar a importância da poesia como forma de resistência em determinado contexto sociopolítico, histórico e cultural. A preocupação básica deste estudo é refletir sobre o papel da poesia contemporânea de resistência brasileira e sua função como voz da coletividade diante de regimes autoritários ou em livre expansão. Além de identificar sua força diante da memória coletiva, reflexos desta poesia para a sociedade e cânone literário. Os poemas, “Agosto 1964” e “até só restar o depois (sobre o dia 29 de abril de 2015, em Curitiba)”, de Ferreira Gullar e Lubi Prates, respectivamente, serão objetos deste estudo. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica e uma análise de conteúdo considerando as contribuições de autores como BOSI (1977), COUTINHO (2004), JUTGLA (2013), BAKHTIN (2003), ELIOT (1991), SALGUEIRO (2010,2013) e outros. Procurou-se ressaltar a importância de mais estudos e debates nesta área. Concluiu-se que a poesia de resistência testemunhal contemporânea brasileira é de grande importância para a memória nacional. Sendo um patrimônio mnemônico brasileiro que dá voz a uma coletividade em tempos de regimes autoritários.

Palavras-chave: Poesia Contemporânea. Resistência. Ferreira Gullar. Memória coletiva.

Introdução

Este trabalho tem como tema a voz da resistência na poesia contemporânea de Ferreira Gullar com recorte na poesia social, testemunhal e poesia de resistência e suas características. Também teremos como referência o poema “até só restar o depois (sobre o dia 29 de abril de 2015, em Curitiba)” de Lubi Prates e o poema “Agosto 1964” de Ferreira Gullar. Nesta perspectiva, construiu-se as questões que nortearam este trabalho: A poesia de resistência é um instrumento que dá voz a coletividade em determinado contexto sociopolítico, histórico e cultural, como em regimes autoritários e em livre expansão?

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Professora de Língua Portuguesa da Rede Municipal de Belo Horizonte desde 2000. Graduada em Letras Língua Portuguesa e Inglesa e suas Literaturas- FACIC-1995.


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São observadas as características e funções da poesia social, testemunhal, de resistência nos poemas “Agosto 1964”, Ferreira Gullar e “até só restar o depois (sobre o dia 29 de abril de 2015, em Curitiba)”, Lubi Prates dentro de seus respectivos contextos no tempo-espaço? Neste âmbito, o objetivo basilar deste estudo é investigar a poesia de resistência testemunhal em determinado contexto sociopolítico, histórico e cultural com enfoque nos regimes autoritários ou em franca expansão. São objetivos também identificar a função desta poesia como voz da coletividade, sua força diante da memória coletiva e reflexos desta poesia para a sociedade e cânone literário. Esta poesia faz-se documento pungente da luta pelos direitos humanos. Para tanto, utilizou-se da hipótese que em regimes autoritários ou em livre expansão a sociedade tende a esquecer o sofrimento imposto por estes regimes e a poesia de resistência, testemunhal coloca sua voz a serviço da coletividade. Quando se fala em poesia contemporânea de resistência, testemunhal brasileira entramos em um terreno que não é muito elucidado em estudos literários na atualidade. Entretanto é de suma importância que esta poesia contemporânea seja cada vez mais investigada e debatida. Esta poesia então, se transforma em documento de uma época e uma invocação a memória coletiva. Conforme Bosi (1977), é necessário atestar a importância da poesia de resistência, sem esquecer seu aspecto mais importante que é aprender com o passado para que as próximas gerações não apaguem a necessidade de lutar pelos direitos humanos. Bakhtin (2003) confirma que o poeta é um agente também nas coisas da vida e não apenas mero espectador e o torna responsável em realizar algo, seja culpa ou responsabilidade, a vida e a arte estão juntas. Ele também afirma como é importante o papel da memória para se perceber o passado e adquirir o conhecimento que este resguarda. Estas falas coincidem com objetivos já elencados. Para alcançar os objetivos propostos, utilizou-se como recursos metodológicos, a abordagem qualitativa a partir de pesquisa bibliográfica, realizada a partir da análise detalhada de materiais já publicados na literatura e artigos científicos divulgados no meio eletrônico. Posteriormente, realizou-se a


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análise de conteúdo, que conforme Bardin (2011), consiste na sistematização e análise das ideias apresentadas nos documentos que serão estudados. O texto final foi respaldado nas ideias e concepções de Bosi (1977), Coutinho (2004), Jutgla (2013), Bakhtin (2003), Eliot (1991), Salgueiro (2010, 2013) e outros. Desenvolvimento

O que é poesia brasileira contemporânea? Salgueiro (2002, p.13) apud Jutgla (2013, p.80) afirma que “definir a poesia brasileira contemporânea é um trabalho inalcançável, pois o contemporâneo está sempre em movimento”. Contudo, há recortes como poesia de resistência, poesia de testemunho, poesia engajada, produção poética de combate que são os corpus de nosso interesse e plenamente encaixadas dentro da poesia contemporânea em ampla expansão. A poesia social a qual se propõe discutir é a poética social, tida como política, em tempos de repressão. Em síntese é uma poesia de engajamento, que segundo Sartre (1993 apud Costa 2004, p. 86), “supõe um ato de responsabilidade diante da sociedade e da liberdade”. A partir do período de engajamento, alguns poetas passaram por um processo de aprimoramento e possuem uma compreensão da literatura como ação sobre o mundo, como ato de luta contra o autoritarismo, vontade de denúncia e inconformismo, como pontua Alves (2013). Ferreira Gullar (2015) é um dos poetas que amadureceram no período de engajamento, de vontade de denúncia contra o regime autoritário instalado no Brasil de 1964 a 1985, o autor afirma que: Não havia, portanto, um rumo definido um objetivo a alcançar. O objetivo se definia na medida mesma em que surgia e passava a guiarme porque tentava concretizá-lo. [...] Deve-se entender, porém, que essa é a visão que tenho hoje do que ocorreu então; naquele momento, apenas vivia a experiência sem me preocupar em entendê-la. (GULLAR, 2015, p. 25).

Assim, a poesia está correlacionada com fatos e é atrelada a uma forte ligação com a memória e o passado como observa Bosi (1977). Houve uma tendência de se praticar o esquecimento de fatos sociais que foi instaurado principalmente no fim de alguns regimes autoritários, como o que ocorreu no


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Brasil no período de 1964 a 1985. Sobre o controle da memória social neste período, pode ser observado que: [...] com o fim da ditadura militar, é a presença de uma espécie de amnésia social que implica o apagamento de experiências que, ao serem mantidas nos bastidores, tornam possível um certo controle sobre a forma como se interpreta esse período, permitindo a supressão de facetas da ditadura consideradas mais comprometedoras. (BEZERRA, 2004, apud JUTGLA, 2013, p.82).

Nesta perspectiva, nota-se que a política de esquecimento se faz tão comum à cultura brasileira e vai na contramão da poesia de resistência. A poesia de resistência se torna testemunhal, recupera uma função social e política. Jutgla (2013) aponta que a possibilidade de divulgação dos poemas de resistência para as atuais e futuras gerações auxilia o conhecimento de outras faces da literatura. Jutgla (2013) ressalta que a incidência de um poema de resistência pode ser relativa e não é restrita apenas a uma escola literária ou tendência. Há uma significação maior a ser considerada como suporte, construção e ou divulgação. Podemos ainda acrescentar função, contexto sociopolítico, histórico e cultural. Eliot (1991, p. 29) fala que “se a poesia não teve função social no passado, dificilmente a terá no futuro”, ele ainda completa que a função social da poesia tem o papel de influenciar a linguagem e a sensibilidade de toda a nação. O poeta, ao expressar o que os outros sentem, torna o sentimento mais consciente, melhora a sua percepção, ensinando-lhes algo a respeito de si mesmos. Preservando assim uma memória coletiva construída ou em construção. A poesia de resistência se constitui em um testemunho histórico, como um todo. Porém esta não tem recebido atenção como deveria. Seja pela política de esquecimento instaurada, seja pelo pouco apelo comercial indicados pelas editoras, porém a poesia de engajamento constitui um patrimônio mnemônico, ou seja, da memória do país (SELIGMANN-SILVA, 2003, apud JUTGLA, 2013). Em se tratando sobre a memória coletiva, face aos períodos históricos da ditadura e os traumas sociais, Jutgla (2013) aponta que ao reavaliar os fatos, a poesia de resistência configura-se memória, e a poesia de combate é utilizada no auxílio da compreensão da história:


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A produção poética de combate merece ser objeto de estudo tanto pela problematização estética que coloca, uma vez que sua configuração instaura uma revisão dos critérios de avaliação, justamente porque diversos textos de combate apresentam sintomaticamente um caráter testemunhal, por conseguinte, ético com os sobreviventes e, principalmente, com os mortos pelo regime militar. (JUTGLA, 2013, p. 81).

Jutgla (2013) destaca termos como poesia de resistência, literatura de testemunho, poesia de combate, poesia política. Seja qual for o termo, o fato é que esta poesia brasileira não deve ser apagada, nem os traumas coletivos a que elas remetem, pois configuram memória.

Por conseguinte, sua

problematização estética merece ser objeto de estudo, pois instaura uma revisão de critérios de avaliação principalmente por seu caráter testemunhal. É difícil para a literatura colocar a poesia de resistência testemunhal em uma escola ou tendência literária. Para Jutgla (2013) as características de um poema de resistência são únicas, necessitando cada vez mais estudos para que seu estilo se torne um costume nos discursos sociais. Sobre a inserção da poesia nos discursos sociais, Bosi (1977, p. 142) reflete, “A poesia há muito que não consegue integrar-se, feliz, nos discursos correntes da sociedade. [...] O canto deve ser “um grito de alarme...”. Assim, a poesia deve estar presente no cumprimento de sua função social, testemunhal sem estar presa a linhas, tendências ou movimentos. O caráter testemunhal da poesia não é constante em estudos acadêmicos, mas cada vez mais aparecem com enfoques de qualidade. Paula (2017) afirma que com frequência, nas obras de caráter testemunhal são encontradas uma perspectiva individual, mas ao mesmo tempo ligada a um pacto ético diante da coletividade: Narra-se também para registrar a barbárie e, assim, contribuir para que a memória do horror permaneça viva e que o mal não se repita. Narrase, por fim, em respeito àqueles que não puderam sobreviver e precisam ser lembrados. Por isso, no testemunho, a memória pessoal, a memória coletiva e a história oficial cruzam-se vertiginosamente, ora completando-se, ora rasurando-se, gerando uma dialética em que o relato “pessoal” da dor é, ao mesmo tempo, “real” e absurdamente inverossímil, social e subjetivo, enfim, uma urgência e uma trágica impossibilidade. (PAULA, 2017, p. 91).


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A literatura produzida em momentos históricos de violência institucional generalizada no país, ou em obras que revelam o seu cotidiano autoritário a partir do ponto de vista de representantes de grupos sociais oprimidos é fonte de pesquisa de Paula (2017) e consiste numa poesia de resistência testemunhal. Para Salgueiro (2013, p. 48) em períodos visivelmente terríveis como “guerras, genocídios, ditaduras”, ou em “situações também terríveis”, arraigadas, naturalizadas e diluídas no dia a dia como miséria, opressão e violência de várias formas, a arte, a literatura e a poesia, especificamente, podem servir para a reflexão. O poema de Lubi Prates configura esta necessidade de dar seu testemunho diante da barbárie vivida em um dia de extrema violência originados no dia 29 de abril de 2015 em Curitiba. A Polícia Militar do Paraná agiu com violência contra professores da rede estadual de ensino, sob ordens do governador do Estado. Balas de borracha, bombas de gás, cavalaria. Era um protesto, porém as cenas de violência contra os professores chocaram grande parte do país. A poesia se torna voz da coletividade, cumpre sua função social, resiste, não deixa esquecer neste poema de Lubi Prates (2015, s.p.): até só restar o depois (sobre o dia 29 de abril de 2015, em Curitiba.) pudesse, recordaria se havia sol antes daquela tarde quando tudo se resumiu a cinza: fumaça, um quase aquele estado de consciência frágil entre estar acordado & desmaiar. pudesse, recordaria o cheiro antes daquela tarde quando tudo se confundiu a gás pólvora sangue. recordaria quais eram minhas atividades inúteis antes de acessar a internet&


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navegar entre as notícias para descobrir o alvo dos helicópteros que sobrevoavam a cidade destruindo destruindo destruindo qualquer segundo de silêncio inibindo os gritos

pudesse, eu recordaria o antes: quando não havia escombros.

Lubi Prates (2015), situa-se na Nova Literatura Brasileira, numa era digital, onde o suporte veloz traz a poesia para perto do leitor. Assim como também o debate e a crítica ao fato histórico descrito. Coutinho (2004, p. 265) afirma que “a Nova Literatura Brasileira não parou. Continua com autores consagrados pelo público e pela crítica, e com novos talentos.” A autora talentosamente escreve seu poema colocando sua visão do fato histórico em 2015. O eu lírico cadentemente descreve a cena de destruição como um espectador num estado de trauma. O título “até só restar o depois”, remete a uma ideia temporal. Algo aconteceu, é recente, mas é passado. Como em um flash back a cena se fragmenta na memória. A memória falha, se confunde. O eu lírico tenta descrever o cheiro, como estava o dia, mas a consciência está frágil, quase desmaiando. Ao final do poema o eu lírico em choque quer saber quem é o alvo dos helicópteros que destroem e machucam pessoas. Precisa da internet para isto. Neste ponto o eu lírico demonstra que metaforicamente ou não que a ação dos helicópteros quer destruir qualquer segundo de silêncio e inibir os gritos. “Silêncio” nos remente a reflexão, pausa, medo. Os “gritos” seriam dos manifestantes ou gritos de medo? A cena está finalizada, há apenas escombros, mas o eu lírico ainda quer se lembrar apesar do trauma sofrido. A característica testemunhal deste poema é clara. A partir da cena o eu lírico denuncia a violência do Estado contra um grupo que reivindica seus direitos. Eis então o engajamento e resistência por conseguinte. O sentimento


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do eu lírico é o sentimento de muitos. E ao mesmo tempo memória para outros. A validação da luta pelos direitos humanos, inclusive o direito de reivindicar direitos. A opressão do Estado, o autoritarismo, a violência podem ser comparados a outra época, especificamente em “Agosto 1964”, como aponta o poema de Ferreira Gullar (1991, p.164): Agosto 1964 Entre lojas de flores e de sapatos, bares, mercados, butiques, viajo num ônibus Estrada de Ferro-Leblon. Volto do trabalho, a noite em meio, fatigado de mentiras. O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud, relógio de lilases, concretismo, neoconcretismo, ficções da juventude, adeus, que a vida eu compro à vista aos donos do mundo. Ao peso dos impostos, o verso sufoca, a poesia agora responde a inquérito policial-militar. Digo adeus à ilusão mas não ao mundo. Mas não à vida, meu reduto e meu reino. Do salário injusto, da punição injusta, da humilhação, da tortura, do horror, retiramos algo e com ele construímos um artefato um poema uma bandeira

A poesia de Gullar (2015, p.16) reflete-se no momento e molda-se diante do mundo como destaca o autor, o poema nasce da pretensão do poeta de externalizar constatações sobre os mistérios do mundo. A literatura o situa no Pós-Modernismo, também chamada Nova Literatura Brasileira como aponta Coutinho (2004). Ferreira Gullar (1991) em seu poema, quer marcar o tempo e o espaço. Sentimo-nos transportados para a cena. O eu lírico usa a memória e o saudosismo, mas sem deixar de criticar o Estado, sua violência sua censura. Ao final deixa um recado intencional, depois de tudo haverá memória de algo


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(artefato), haverá um poema e uma bandeira para se lutar. Ele não deixará que se esqueçam do ocorrido. Em ambos poemas o eu lírico marca especificamente o tempo, mês, ano. Ambos querem guardar como em uma fotografia os detalhes de uma cena, apelam para os sentidos e descrevem o espaço físico. Além do tempo psicológico e pensamentos profundos. A crítica está intrínseca ao autoritarismo e violência dos regimes impostos naquele dado momento no tempo-espaço. A voz da resistência dada a uma coletividade, aos que sofreram, as vítimas, aos sobreviventes e não sobreviventes. Seja em 1964 ou 2015, o eu lírico não se conforma, sente a necessidade de denunciar, se torna a voz de muitos. Apela para a memória, para a denúncia. Assim, conforme apontado por Bosi (1997), cumpre então seu papel social, testemunhal, de poesia resistência.

Conclusão

Diante do exposto, concluiu-se foram identificadas as características e funções da poesia social, testemunhal, de resistência nos poemas “Agosto 1964”, Ferreira Gullar e “até só restar o depois (sobre o dia 29 de abril de 2015, em Curitiba)”, Lubi Prates dentro de seus respectivos contextos no tempoespaço. O poeta enquanto sujeito não fica inerte perante seu mundo em conflito, age do seu jeito, em forma de poesia combate, luta, modifica este mundo com o poder da palavra, deixa seu testemunho para a história e próximas gerações. Dessa forma constatou-se, com base nas referências elucidadas, que a poesia de resistência testemunhal contemporânea brasileira é de grande importância para a memória nacional. Sendo um patrimônio mnemônico do nosso país e dando voz a uma coletividade em tempos de regimes autoritários. Não há pretensão de esgotar todas as inquirições sobre a poesia de resistência e suas implicações e desdobramentos, uma vez que o grau de complexidade é enorme e foi apenas arranhado nesse estudo, porém esta precisa ser mais elucidada em estudos acadêmicos e também ser divulgada para o grande público pelos meios editoriais e outros suportes. A função social da poesia de resistência testemunhal não pode ser ignorada. Deve sim ser elucidada e confirmada em sua importância tanto para os meios acadêmicos


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quanto para o grande público. Sendo necessário uma revisão de critérios de avaliação relacionada a literatura testemunhal brasileira, por conseguinte poesia de resistência testemunhal brasileira e seu merecimento e lugar de direito na literatura cânone.

REFERÊNCIAS ALVES, Ida. Sobre respostas de poetas resistentes. eLyra: Revista da Rede Internacional Lyracompoetics, n. 2, 2 dez. 2013. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra; prefácio à edição francesa Tzvetan Todorov, 4. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2003. BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Editora Cultrix & Editora da Universidade de São Paulo,1977. COSTA, Maria do Carmo Soares. Manuel Bandeira e a política do engajamento. Revista Investigações, v.17, n.1. 2004. COUTINHO, Afrânio (dir.); COUTINHO, Eduardo de Faria (co-dir.). A Literatura no Brasil: v.6: pt. III: Relações e perspectivas/ Conclusão. 7. ed., São Paulo: Global, 2004. ELIOT, Thomas Stearns. A função social da poesia. In: De poesia e poetas. Trad. e prólogo Ivan Junqueira. São Paulo: Editora Brasiliense,1991. GULLAR, Ferreira. Autobiografia poética e outros Textos. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015. _____________. Toda poesia. 5.ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1991. _____________. Vanguarda e subdesenvolvimento. Ensaios sobre arte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984. JUTGLA, Cristiano. A poesia de resistência à Ditadura Militar (1964-1985): Algumas Reflexões. eLyra: Revista da Rede Internacional Lyracompoetics, n. 2, 2 dez. 2013. Disponível em:<https://www.elyra.org/index.php/elyra/article/view/27>. Acesso em nov. 2019. PAULA, Marcelo Ferraz de. O testemunho na poesia lírica: inflexões e reflexões a partir do poema de Thiago de Mello. Revista Eletrônica Literatura e Autoritarismo: Dossiê nº 18, 2017. Disponível em:


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< https://periodicos.ufsm.br/LA/article/view/25575/14938> . Acesso: 23 nov. 2019. PRATES, Lubi. Até só restar o depois (sobre o dia 29 de abril de 2015, em Curitiba). Mallarmargens: revista de poesia e arte contemporânea. Disponível em:<http://www.mallarmargens.com/2015/09/5-poemas-de-lubi-prates.html>. Acesso em 01 fev. 2019. SALGUEIRO, Wilberth. Poesia de testemunho (com doses de humor): Alex Polari, Glauco Mattoso, Leila Míccolis e Jocenir. Signótica, v. 25, n. 1, p. 35-50, 14 out. 2013. SALGUEIRO, Wilberth. A poesia brasileira como testemunho da história (rastros de dor, traços de humor): a exemplo de Chacal. Texto poético, v. 9, 2010. Disponível em: <http://textopoetico.emnuvens.com.br/rtp/article/view/42>. Acesso em: 18 nov. 2019.


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