NA ROTA DO PEREGRINO 2018
Na Rota do Peregrino é um projecto artístico pioneiro em Portugal que procura impulsionar o tecido artístico regional em contraste com o tecido artístico transregional e transnacional, através da criação de um Ensemble que se dedique ao trabalho de reconstrução musical do repertório medieval de incidência ibérica, e em particular o património galaico-portugues, em território Português. Tem como duplo objectivo, a dinamização do património intangível constituído pelas fontes musicais medievais e do património tangível de raiz românica. O Projecto é constituído por 10 a 12 músicos e musicologistas profissionais, sob direcção artística de Dr. Maurício Molina (Curso Internacional de Interpretación de Música Medieval de Besalú) e sob direcção geral de Daniela Tomaz (Ensemble Med), que se dedicam ao estudo e reconstrução das canções e danças interpretadas pelos peregrinos no período medieval, com instrumentos do período e a afinação medieval apropriada, cantando em linha com as orientações da pronunciação deste período. O Programa da Primeira Edição, “O Peregrino Medieval” , associa-se à celebração das rotas de peregrinação europeias, que constituíam uma importante fonte de actividade musical entre os séculos XI e XIV, desde Jerusalem, Roma, Conques, Salas, Limoges, Montserrat, Canterbury e particularmente Santiago de Compostela, da qual Ponte de Lima fazia parte. Nasce a Julho de 2017. data da 6ª edição do prestigiado “Curso Internacional de Interpretación de Música Medieval” em Besalú, Barcelona, um dos cursos referenciais na Europa no âmbito da reconstrução e interpretação da música europeia de dos séculos XI, XII e XIII dirigidos pelo Prof. Dr. Maurício Molina (Colômbia) e que reuniu mais de 40 especialistas em música e musicologia medieval de todo o mundo. De Besalú para Ponte de Lima, com a inclusão de artistas nacionais residentes no Norte de Portugal que são já referência internacional, nasce “Na Rota do Peregrino”, inserido no I Encontro de Música Medieval de Ponte de Lima, e graças ao apoio do Município de Ponte de Lima e Fundação GDA. O Evento teve lugar entre 19 e 22 de Dezembro de 2017 em Ponte de Lima, graças ao acolhimento do Município, e foi de extraordinário sucesso, pretendendo repetir-se em Dezembro 2018. 2
O PEREGRINO MEDIEVAL PROGRAMA
I. COMEÇANDO O CAMINHO
Madre de Deus, ora (CSM 422) Alfonso X, Escorial J.b.2, fol. 325 Flavit auster flatu Codex Huelgas, fol. 45r Non sofre Santa Maria (CSM 159) Alfonso X, Escorial J.b.2, fol. 154
II. MONTSERRAT
Por razon tenno d’obedecer (CSM 113) Alfonso X, Escorial J.b.2, fol. 119 Cuncti simus concanetes Anonymous, Llibre vermell de Montserrat, fol. 24 A madre de Jhesu-Cristo (CSM 302) Alfonso X, Escorial J.b.2, fol. 269
III. NO CAMINHO A SANTIAGO
Nembresette, Madre de Deus (CSM 421) Alfonso X, Escorial J.b.2, fol. 325r Non é gran cousa se sabe (CSM 26) Alfonso X, Escorial J.b.2, fol. 59r
IV. COMPOSTELA
Dum pater familias Anonimo, Codex Calixtinus, fol. 222
3
na rota do peregrino
DANIELA TOMAZ | direcção geral Inicia os seus estudos musicais em 1990 no Conservatório Regional de Gaia, estudando com Pedro Castro, Pedro Couto Soares e Pedro Sousa Silva. Em 2008 prossegue com os estudos musicais no Departamento de Música Antiga da Hogeschool voor de Kunsten Utrecht (HKU), Países Baixos, sob orientação de Heiko ter Schegget em flauta de bisel e Wilbert Hazelzet, em traverso, graduando-se em Abril de 2012 Cum Laude. É directora do Ensemble Med, um laboratório de performance de música medieval europeia, com o qual participou em diversos festivais nos Países Baixos e em Portugal, destacando o Festival Percursos da Música, em Ponte de Lima, em Julho de 2017. Dirige o projecto Raízes e Revolução, que estreou em Tbilisi e Poti (Geórgia) e participa noutros ensembles, como Rosa Gallica (FR), Capella Duriensis (PT), Ensemble Ditirambo (MX), com concertos em Portugal, França, Países Baixos e México. É também licenciada em Arquitectura pela Universidade do Porto desde 2005, tendo escrito a tese final “Arquitectura e Acústica: o Espaço Sinestético”, na qual obteve 19 valores. É consultora da Association Européenne des Conservatoires (Utrecht/Bruxelas), desde 2011 e Directora Artística na Academia de Música de Lagos desde 2012. Membro fundador do Corvo e a Raposa Associação Cultural. MAURICIO MOLINA | direccão artística É musicólogo e intérprete dedicado à reconstrução e interpretação da música dos séculos XI, XII e XIII. É Mestre em Interpretação Histórica no Mannes College of Music (Nova Iorque) e Doutor em Musicologia Histórica na City University of New York Graduate Center. É professor convidado no entre International de Musiques Médiévales – Université Paul Valéry de Montpellier e professor de Cultura Medieval Islâmica e Antropologia Musical e Iconografia Medieval no consórcio universitário norte-americano IES Abroad Barcelona. Em 2010 publicou “Frame Drum in the Medieval Iberian Peninsula” (Reichenberger), livro galardoado com o prémio Nicholas Besseraboff da American Musical Instrument Society como o mais distinto em organologia de 2010. O seu próximo livro, “La canción monofónica secular y religiosa en el Occidente medieval (850-1200)”, será publicado pela editora Dairea em 2018. Mauricio Molina é também director dos grupos de música medieval Magister Petrus, Ars Memorie e do Curso de Música Medieval de Besalú (Catalunha). CARLOS MEIRELES | canto Iniciou seus estudos em canto com Pedro Telles na escola Maiorff. É Licenciado e Mestre em Música (Canto) pela Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo (ESMAE), tendo sido aluno de José de Oliveira Lopes, Margarida Reis e Rui Taveira. 4
No âmbito do Mestrado em Interpretação Artística redigiu a dissertação A Voz Absoluta, ser cada vez mais humano, na qual explorou a técnica do Fio de Voz derivada de mantras hindus e aplicada ao canto lírico. Neste momento é aluno do Mestrado em Ensino da Música ESMAE/ESE. É diretor artístico do Absolute Vocem Ensemble, que se apresenta regularmente na Igreja de São José das Taipas, no Porto. É membro da Capella Sactae Crucis dirigido por Tiago Simas Freire, tendo participado na gravação do primeiro CD deste grupo e que será lançado este ano pela Harmonia Mundi; do Bando de Surunyo dirigido por Hugo Sanches, e foi recentemente admitido em audição no Huelgas Ensemble dirigido por Paul Van Nevel. É professor assistente convidado na cadeira Voz e Música no Departamento de Teatro da ESMAE. É professor de Canto na Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos, Porto. Destacam-se na sua larga e diversificada experiência: papel principal (Mac the Knife) na Ópera dos Três Vinténs de Kurt Weill com encenação de António Durães; Patriarca em Ordo Virtutum de Hildegard Von Bingen; solista na obra Dona Nobis Pacem de Vaughan Williams; solista e coralista na Kantate Freue dich und sei fröhlich de Christoph Graupner sob a direcção de Ana Mafalda Castro; Evangelista na estreia absoluta da Paixão segundo S. João de Osvaldo Fernandes, sob a direcção de José Eduardo Gomes; Evangelista e coralista na Weihnachts Oratorium de J. S. Bach sob a direcção de Barbara Francke; Exerceu também funções de assistência de encenação no domínio musical no espectáculo “Os Ultimos dias da Humanidade” de Karl Kraus com encenação de Nuno Carinhas e Nuno M. Cardoso, 2016. Apoiado no conceito de esculturas vestíveis explorado pela Escola Artística Soares dos Reis, Porto, encenou a Ópera Barroca Dido e Eneias de Henry Purcell levada a cena no passado dia 3 de Março de 2017, no Auditório Municipal de Lagoa. LUCÍA MARTÍN-MAESTRO VERBO | canto EN] Lucía é musicologista e cantora especializada em música antiga. Ela tem diploma superior em canto, um diploma em piano e um bacharel em musicologia do Real Conservatório Superior de Música de Madrid. Além disso, teve um diploma de pósgraduação em herança musical ibero-americana da Real Academia de Bellas Artes de San Fernando, Mestrado em artes, literatura e cultura e Mestrado em educação musical, ambos da Universidade Autónoma de Madrid. Teve também a oportunidade de receber masterclasses de alguns dos mais importantes músicos da música antiga, como David Skinner, Peter Phillips, Paul Phoenix, e membros de Alamire, Gothic voices, Ensemble Plus Ultra e The King’s Singers. Participou na última edição da Medieval Music Besalú, onde estudou com José Pizarro e Mauricio Molina. Como intérprete, ela dirige artisticamente o Ensemble Egeria, um conjunto de música medieval que se concentra no 5
repertório hispânico, sendo também a sua principal investigadora. Além disso, Lucia canta em outros grupos de música, como Ars Combinatoria, tendo participado no seu último disco monográfico sobre o Códice de las Huelgas, Ensamble Thesavrvs ou Zenobia Scholars, com quem ela cantou em alguns dos festivais mais importantes da Europa. Como musicologista, faz parte da equipe editorial de Melómano, uma revista de música na qual escreve mensalmente, e em que também faz revisões de estreias de CDs de música. Facebook: www.facebook.com/egeriavoices / Instagram: @egeriavoices / Twitter: @egeriavoices MARIA DE MINGO CARRANZA | cítola medieval [ES] Licenciada em “Interpretación de Instrumentos de púa” pelo Conservatório Superior de Música de Aragón (CSMA) com Jorge Casanova. Completa a sua formação, participando em diferentes cursos de “El compositor y la creación para la cuerda pulsada”, com os compositores Pere Soto, Fabián Forero, Antonio Salanova e Víctor Rebullida. Como solista, actuou com a “Orquesta de Cámara de Siero” em diversas ocasiões: concerto “Asturias Sinfónica” no “Teatro de la Laboral de Gijón” com a colaboração de Rafa Kas e Alfredo Morán (2012), em “Vínculos”, Marrocos (2012) , e no programa de televisão “Pizzicato” com Ara Malikian (2013). Em 2014 intervém como solista na ópera “Don Giovanni” de Mozart con Oviedo Filarmonía no Teatro Campoamor (Oviedo) e participa na primeira ópera composta e estreada em Zaragoza no séc. XXI “Resucita Loto”, sob direcção de Nacho de Paz. Em 2016 toca com a Orquesta Sinfónica Goya e Nacho del Río na Sala Mozart do Auditorio de Zaragoza. Também realizou múltiplos concertos com a Orquesta Aragonia, o grupo de música de cámara PúlsAr e a Orquestra de Cordas do Conservatório de Aragon (OCPCA), também como solista. É membro activo do Coro Musicaire, duo Hármose com a cravista Sara Johnson Huidobro y trio Chordarum Musae, tendo actuado com eles no Palacio de Eguarás de Tarazona (2015), nas Grutas de Cristal a propósito do XIV ciclo de concertos Música y Palabra celebrado em Molinos (Espanha). ISABELLA SHAW | canto e harpa medieval Originalmente de Denver, Colorado, é mezzosoprano. Ela actuou como solista em festivais internacionais, incluindo o American Spring (Americké Jaro) e o Festival internacional de Música Haydn (Haydnovy hudební slavnosti) e Musica Figurata. Em 2013, foi premiada com a bolsa de estudos de música antiga Memorial Barbara Thornton, da Early Music America, que financiou o percurso educativo posterior de Isabella em performance de música medieval. Actuou como cantora de ópera em Dido e Aeneas 6
de Purcell (Segunda Mulher) e The Fairy Queen, de H. Purcell, como Spring (Cambridge). Isabella estudou no Trinity College of Music e na Universidade de Cambridge, onde realizou um Coral Award (Clare College). Isabella ganhou formação adicional em canto e harpa com artistas como Benjamin Bagby, Wolodymyr Smishkewych, Norbert Rodenkirchen de Sequentia, Maurício Molina, Claire Piganiol, José Pizarro, Joel Fredericksen, Julie Hassler, Lorenzo Charoy e Corina Marti. Além de co-dirigir Motus Harmonicus, actuou com Ensemble Inégal, Musica Florea e Philokallia. Ela atualmente estuda canto com Vitomir Marof e Markéta Cukrová. Isabella entrou em 2017/2018, na Academia Sibelius da Finlândia para exercer um Mestrado em Estudos de Ópera. CARME JUNCADELLA | organetto (órgão portativo) Carme Mampel Juncadella é uma artista de música antiga, maestro de coro e professora de Alexander Technique. Estudou piano e acompanhamento nos Conservatórios de Sabadell e Barcelona e coro direção com Gaby Baltes em Palma de Maiorca. Em Paris, obteve o diploma pedagógico na Willems Muisc Education, estudou piano com Desiré N’Kaou e Jacques Chapuis e participou como cantora do Choeur de Maîtrise de Notre-Dame de Paris. Ela realizou uma série de Masterclass em música de teclado com Edith Picht-Axenfeld em Lyon e Freibourg. Carme actuou como baixo continuista em recitais de música e dança espanhola em Paris e para coros em Málaga e São Paulo (Brasil). Ela também é licenciada em Filosofia pela Universidade Autónoma de Barcelona. O seu interesse na coordenação psicofísica dos artistas leva-a a obter um Mestrado em Estudos de Psicoterapia no Universidade de Sheffield. Em Portugal fundou o Coro do Barlavento e estudou cravo com Elsa Santos, Ana Mafalda Castro e Joana Bagulho na Escola Superior de Música de Lisboa e tem Masterclasses de Clavicórdio com Suzana Mendes e Baixo Continuo com Therese de Goede. Ela estuda o órgão portativo com Cristina Alís e Guillermo Pérez e agora é directora do Coro Internacional de Aljezur. JAKUB MICHL | fídula medieval [CZ] Jakub Mich é um instrumentista de música antiga, especializado no repertório do Barroco inicial da viola da gamba e música medieval em fídula medieval. Com sede em Praga, República Checa, ele co-dirige o conjunto Motus Harmonicus. Ele trabalhou com conjuntos de música antiga, como Musica Florea, Czech Ensemble Baroque, Solamente Naturali, In Cordis Ensemble, Les Traversées Baroques, Collegium 419, Hypochondria Ensemble, Trinity College Consort of Viols, Greenwich Baroque entre outros. Jacub estudou violoncello no Conservatório de Praga com Tomáš Strašil, musicologia na Faculdade Filosófica da Universidade Charles de Praga, viola da gamba no Trinity College de Londres com Alison Crum e recentemente no Mozarteum Salzburg 7
com Vittorio Ghielmi. Jakub é galardoado com o concurso do Festival de Música de Znojmo em 2013, tocando Telemann Concerto para viola da gamba com orquestra. Estudou aulas particulares, cursos e masterclasses com gambistas conceituados como Wieland Kuijken, Jordi Savall, Hille Perl, Richard Boothby, Michael Brüssing, Marianne Muller, Petr Wagner, Reiko Ichise e com violoncelo barroco com Marek Štryncl, Bruno Cocset, Irmtraud Hubatschek e Susan Sheppard. Jakub também frequentou cursos de música medieval em Besalú, estudando fídula medieval com Alejandro Hernández, performance de música medieval com Mauricio Molina e frequentou o Curso Medieval em Vancouver freqüentando aulas com Sequentia Ensemble, incluindo Benjamin Bagby, Norbert Rodenkirchen e Wolodymyr Smishkewych. Além de realizar atividades, Jakub é membro do Departamento de História da Música na Academia de Ciências da República Checa, pesquisando diferentes temas da cultura da música checa entre 1650 e 1850.
JOSAFATH LARIOS VITELA | percussão Licenciado em Percussão Clássica pela Escuela Superior de Música Centro Nacional de las Artes (México), na classe de Antonio Fuentes e Raúl Tudón. Em 2002 estuda percussão histórica com Pedro Esteban na Escuela Superior de Música de Catalunya (ESMUC), tendo formação com diversos maestros da percussão étnica e medieval, nomeadamente Mauricio Molina, Massud Naderi (Irão), Kodari Aziz (Marrocos), Pierre Hamon (França), Kevin Bobo (EUA), Nebojsa Zivkovic (Sérbia), Jarrod Cagwin (EUA) e Antonio Sánchez (México). Partilhou palco com músicos como Pedro Estevan, Eloy Cruz, Paulina Victoriana van Laarhoven, Josep Borràs, Grupo Tembembe, Son de Madera e Mono Blanco. Colaborou também com Aires Virreynales (Francia), Prímula (Galicia), Ensamble Gâh (Iran, Catalunya), Opus 5 (Catalunya), Huey-‐Mecatl (México), Orquesta barroca de la ENM-UNAM (México), Orquestra Barroca Oliver Briand-‐La Parténope (França‐México), Ensamble Bona Fe (Cuba, Venezuela, Guatemala, México), Duo El juego de la sesquiáltera (México), Ensamble Didar Mehdi, Moshtangh (México‐Irão), La Violetta (Holanda). Participou em vários festivais nacionais e internacionais, tais como Festival Porta Ferrada (Catalunya), Festival Centro Histórico (Ciudad de México), Festival Zacatecas (México), Festival il illo Tempore (Ciudad de México), Festival de Música Antigua CNA (Ciudad de México), XXV Festival Internacional de Música Antigua de Daroca (Zaragoza), Festival Cervantino (México), etc. 8
SINOPSE Fazer música era uma das principais actividades dos peregrinos medievais. Músicas e
danças eram interpretadas durante as rotas de peregrinação como forma de reafirmação da Fé; como entretenimento durante as tediosas horas de estrada; como adoração de cada santuário e também como forma de construção de um senso de comunidade. Entre as canções dos peregrinos, eram particularmente populares as que descreviam os milagres realizados na estrada, bem como as aventuras de outros peregrinos. Essas composições ajudavam os viajantes a antecipar – através da narrativa e do canto de comunidade – os perigos da jornada. Essas peças de repertório também serviam para dissipar o medo e promover a imaginação religiosa. O programa desta noite explora esse tipo de músicas de forma vocal e instrumental. Durante o concerto, o conjunto de composições seleccionadas levará os ouvintes a uma viagem a Compostela que começa a partir do momento em que a estrada é iniciada, continua com a visita a santuários importantes, e que levará o ouvinte para o final triunfante na derradeira visita do túmulo de São Tiago. As Cantigas de Santa Maria de Alfonso X (século XIII) hoje interpretadas, focalizamse nas desventuras dos peregrinos e na resolução do conflito físico-espiritual após a chegada a um santuário. Em CSM 159 “Non sofre Santa Maria”, é explicado como um pedaço de carne roubado de peregrinos foi devolvido pela Virgem no seu Santuário de Rocamadour; similarmente, em CSM 302, “A Madre de Jesu Cristo”, informa-nos de como um ladrão que roubou dinheiro de peregrinos foi punido por Santa Maria no seu Santuário de Montserrat. Em CSM 113 “Por razon tenno”, descobrimos que a Igreja desse mesmo Santuário de Montserrat, na Catalunha, foi milagrosamente salva da destruição (queda de rochas da montanha); e em CSM 26 “Non è gran cousa”, ouvimos sobre como o diabo enganou um peregrino para cortar um dos seus órgãos vitais e também de como, com a ajuda de São Tiago e o julgamento da Virgem, o diabo teve que renunciar à alma desse viajante. As formas poético-musicais da maioria das cantigas sugerem que foram cantadas e dançadas de maneira responsiva por solistas e por um grupo de pessoas: o solista cantaria as secções narrativas da peça enquanto o grupo responderia com refrões que enfatizariam a moral da história. A composição “Cuncti simus concanetes” é uma música de dança com solista e coro, encontrada no “Llibre vermell” de Montserrat, onde é indicado que seja cantada e dançada por clérigos e peregrinos fora do santuário catalão. Como todas as peças mencionadas acima (excepto para CSM 113) são canções de dança, optamos por acompanhá-las com instrumentos musicais, tal como prescrito em tratados musicais medievais e descritos na literatura da época. 9
na rota do peregrino
O concerto de hoje mostra também música instrumental que é organizada a partir de composições vocais na forma de “sequência” (versos emparelhados com a forma AA’, BB’, CC’...). Os instrumentos utilizados pelo ensemble incluem a vielle (fídula medieval), a harpa, o órgão portativo, a citola (um tipo de guitarra medieval) e diferentes instrumentos de percussão, como sinos, pandeiros e nakara. A última peça do concerto é o famoso hino dos peregrinos “Dum pater famílias”, que se encontra no Codex Calixtinus, uma composição que descreve como a chegada a Santiago é celebrada por peregrinos em diferentes idiomas. A peça é principalmente em latim com expressões de fervor religioso no que se pensa ser uma língua germânica e latim (corruptio): “Erru Santiagu, grot Santiagu, e suseia e ultreia, Deus aia nos”. Maurício Molina
Com *: DR. MAURICIO MOLINA | director artístico e percussão DANIELA TOMAZ | direcção geral, traverso e percussão CARLOS MEIRELES, LUCIA WALDORFF | canto CARME JUNCADELLA | organetto MARIA CARRANZA | cítola ISABELLA SHAW | canto e harpa JACUB MICHL | fídula JOSAFAT LARIOS | percussão * músicos podem variar 10
11
NA ROTA DO PEREGRINO
12