3 minute read

apresentação

Next Article
introdução

introdução

“Minha maloca, a mais linda que eu já vi Hoje está legalizada ninguém pode demolir Minha maloca a mais linda deste mundo Ofereço aos vagabundos Que não têm onde dormir” (Abrigo de Vagabundos - Adoniran Barbosa)

Por ser nascida em Nazaré Paulista e criada em Bom Jesus dos Perdões, cidades pequenas do interior de São Paulo, sempre sonhei em poder viajar e entender as dinâmicas das cidades grandes. Mas não imaginava que nas metrópoles os problemas e questões são mais radicais e drásticos quando comparados às cidades menores. Sempre morei em residências unifamiliares, inicialmente em uma cedida pela minha avó e, posteriormente, em outra casa cedida pela minha tia, na qual minha mãe vive até hoje. A construção desta casa foi realizada por meio de um empréstimo feito da Caixa Econômica Federal, mas até o momento ainda não foi finalizada. E, ao longo dos anos fomos cedendo cômodos para outros familiares que também não tinham onde viver. Esse processo todo não fazia muito sentido na minha cabeça, pois não entendia o porquê disso tudo.

Advertisement

Por isso sempre me dediquei aos estudos, pois meus pais sempre me diziam: “sem estudo, a gente que é pobre, não consegue nada. Vai estudar”. E, desde criança, a cada ano que passava, me incomodava cada vez mais com essas questões relacionadas à desigualdade social. Depois, na graduação de Arquitetura e Urbanismo fui entender que as desigualdades perpetuadas pelo sistema econômico vigente dificultam muito a caminhada da grande massa da população. E, nesse sentido, passei a me identificar e sentir muita afinidade à

luta por direitos dos movimentos sociais, à produção coletiva e aos processos participativos. As disciplinas de Moradia Estudantil e Habitação de Interesse Social foram as que eu mais me interessei, no que tange às leituras e debates para as elaborações projetuais. Inclusive, em 2017, realizei uma pesquisa de iniciação científica relacionada à Formas Associativas na produção de Habitação Social, trabalhando com um estudo de caso do único projeto do PMCMV Entidades de Campinas.

Deste modo, a minha proposta de trabalho para o TFG tem como foco principal a temática da Habitação de Interesse Social e o direito à cidade a pessoas que se encontram envolvidas em movimentos de luta por moradia. Isso se deve a basicamente três motivos: 1. o primeiro se relaciona à afinidade pessoal supracitada; 2. O segundo à carência habitacional do país, que inclui não apenas o número de déficit habitacional em si, mas também o número de moradias precárias e improvisadas. E eu, enquanto estudante de arquitetura e urbanismo, me vejo na responsabilidade de entender a fundo essa problemática e tentar pensar em soluções projetuais de arquitetura e urbanismo que possam servir para mitigar esse problema; 3. E por fim, o terceiro se deve ao fato da necessidade de trazer à tona a discussão da relação entre a Reforma urbana e a reforma agrária. Visto que enquanto uma aluna de graduação em vias de me formar, é importante compreender a importância dessas duas reformas e de como caminham juntas. Para os arquitetos, é essencial entender que existe uma dimensão urbana na reforma agrária, sendo necessário, portanto, pensar na relação efetiva do campo com a cidade.

E é em meio a essas discussões todas que se manifesta o Marielle. Na busca por um tema que conseguisse englobar todas essas questões me deparei com a luta dos acampados do Marielle Vive e, com o auxílio de minha orientadora, me aproximei do movimento e propusemos a elaboração de um projeto participativo. Assim, pretendo desenvolver um projeto para o grupo de famílias que se encontra acampado no acampamento denominado Marielle Vive. A ocupação teve início em 2018, um mês após o assassinato de Marielle Franco, sendo esse o principal motivo para a sua designação. Hoje, com a pandemia, as 200 famílias estão acampadas há mais de dois anos em um terreno de uma fazenda, em Valinhos (SP), que estava improdutiva. Desta forma, as famílias estão lutando pela reforma agrária e pela consolidação da comunidade e é sob este cenário que meu TFG foi desenvolvido e no qual me dispus a compartilhar meus aprendizados e vivências que obtive durante a minha graduação em Arquitetura e Urbanismo na UNICAMP.

This article is from: