EXPRESSIONISMO FIGURATIVO
MAIS QUE UM ROSTO BONITINHO
Em reação contra a tendência dominante da abstração completa, alguns pintores do pós-guerra mantiveram viva a pintura figurativa. Começaram, porém, com o princípio modernista de que a arte deve expressar uma verdade além da aparência e conservaram a figura apenas para dobrá-Ia à sua vontade.
DUBUFFET: FORÇA BRUTA
DUBUFFET: FORÇA BRUTA • Enquanto a liderança da arte se mudava de Paris para Nova York, Jean Dubuffet (1901-85) deixava sua marca de artista continental mais original ao descartar completamente a tradição européia. • Ele descrevia sua arte como "substituição da arte ocidental pela da floresta, dos lavatórios, da instituição mental" e inventou um novo termo para defini-Ia: I´Art Brut, a arte em estado bruto.
vaca com nariz sutil
• Dubuffet acreditava que a arte, tal como era praticada há séculos, tinha perdido a força e mostrava-se seca e sem vida se comparada às imagens arrebatadoras que ele descobria rabiscadas nos muros ou produzidas por pessoas à margem da sociedade, como os criminosos e os doentes mentais. "Minha intenção era revelar", ele disse, "que é exatamente o que [outros] acham feio, aquilo que se esquecem de olhar, que é de fato o mais maravilhoso."
• Para Dubuffet, somente amadores podiam despertar a imaginação sem autocensura. • A arte profissional, para ele, era "miserável e muito deprimente". A arte dos marginalizados pela sociedade era a "arte mais pura e crua, brotando unicamente do jeito para a invenção de quem a produz e não, como na arte culta, da habilidade de macaquear outros".
Face
Family Life, August 10, c.1963
Tissu d'Episode, 1976
Beyeler
Sites aux Figurines Psycho-Sites
Festival D'Automne a Paris
Hourloupe, 1963
Fundação DUBUFFET
ARTE MARGINAL
Assim como L'Art Brut de Dubuffet, a arte marrginal, ou trabalho à margem da corrente principal da arte profissional, é produzida pela orientação interna de artistas autodidatas. Esses trabalhos incluem não só ambientes inteiros, como a Watts Towers, de Simon Rodia, em Los Angeles, mas pinturas e esculturas de implacável criatividade.
Watts Tower constructed by Simon Rodia
Watts Tower constructed by Simon Rodia
A arte marginal abrange obras de insanos e criminosos, bem como de artistas sem formação técnica. Em geral, quem a pratica tem um compromisso obsessivo com o trabalho e usa todo e qualquer material que lhe caia nas mãos, desde aparas de metal a pedaços de troncos de árvores. O doente mental suíço Adolf Wolfli, por exemplo, enchia irrefreavelmente de desenhos densos qualquer superfície a seu alcance.
Adolf Wolfli
O artista Jimmie Lee Sudduth, da Carolina do Norte, pinta com terra misturada com água açucarada, esguichada de sacos plásticos, em 36 cores de barro. Quando não encontra na terra a cor exata que deseja, Sudduth mistura um monte de pétalas de rosa para obter o vermelho ou nabiças silvestres verdes para obter - que mais seria? - o verde. "Não gosto muito de usar tinta", ele diz.
Jimmie Lee Sudduth
Jimmie Lee Sudduth
JARDIM DO PARAÍSO: SANTUÁRI DA ARTE MARGINAL
HOWARD FINSTER
• "Um homem de visões" é como o pintor Howard Finster (nasc. 1916) assina seus trabalhos. Sua primeira visão aconteceu aos três anos de idade, num canteiro de tomates, quando uma aparição de sua irmã, recentemente falecida, anunciou que ele seria um homem de visões. Desde então ele tem tido milhares de visões, algumas bíblicas, como bandos de anjos, outras mais futuristas, como naves espaciais. Na qualidade de ministro fundamentalista, Finster fez pregações durante 45 anos, até o dia que caiu tinta em seu dedo e um rosto lhe disse para pintar arte sacra.
Finster aterrou dez quilômetros quadrados de pântano em Summerville, Georgia, para criar um ambiente evangélico que e, chama Jardim do Paraíso. Pavimentou caminhos com vidro colorido, imitações de diamantes, fragmentos de espelho, mármore e ferramentas enferrujadas. Construiu uma estrutura de sete metros que ele batizou de Torre Bicicleta, feita com sucata de armações de bicicletas, cortadores de grama e rodas. O que outros consideram lixo são jóias para Finster. "Muita gente diz que sou louco", ele admite. "Noé não conseguiu ajuda para fazer a arca porque achavam que ele era louco."
Paradise Garden constructed by Howard Finster
BACON: O Papa da Pintura.
DESESPERO HILARIANTE • Embora o curadores de museus admirassem sua obra, o artista sabia que deixava estupefatos os colecionadores. Ao ser apresentado às pessoas, ele as imaginava pensando: "Ah! Matadouros!". Bacon nunca amenizou seu estilo, admitindo: • "Quem já ouviu falar que alguém comprou um quadro meu porque gostou ?...
O artista londrino Francis Bacon (1909-92), descendente do Sir Francis Bacon elizabetano, ficou famoso por suas horríveis figuras distorcidas, que paarecem monstros se derretendo. Apresentada a um grande público em 1945, as imagens eram tão "inatenuadamente horrendas", segundo o crítico John Russell, "que a mente se fecha com um estalo à visão delas". Bacon pintava figuras humanas como monstruosos embriões meio humanos e meio animais, com focinho em lugar do nariz, cavidade ocular sanguinolenta, bocas sem cabeça, pés se dissolvendo em poças. Ao mesmo tempo em que o olho do espectador foge das imagens de Bacon, seu manejo da pintura é tão sedutoramente belo que é difícil desviar o olhar.
Pintor autodidata, Bacon procurava conscientemente formas que tivessem um impacto visceral na emoção do espectador. Ele acreditava que a fotografia eliminava a necessidade de o artista registrar a realidade e esperava que seus retratos deformados deixassem, em suas palavras, "um rastro de presença humana, como a lesma deixa a gosma". Para sugerir a verdade, ele a distorcia. "O fato deixa seu fantasma", dizia Bacon. É característica sua a colocação das figuras, torcidas e borradas, num ambiente realista e em luz forte. ''Ao me afastar", disse ele, "chego mais perto."
• LINGUAGEM CORPORAL. Bacon nunca trabalhou com modelos vivos, apesar de ter feito muitos retratos de amigos, baseando-se na memória ou em fotos. "Quem eu posso fazer em pedaços", ele perguntava, "senão os amigos?" Frequentemente encontrava inspiração em ilustrações de ferimentos horríveis ou de desfigurações causadas por doenças, o que explica a impressão de corpos em decomposição transmitida por suas imagens. Temas de guerra, ditadores e carne são constantes em suas obras, bem como imagens de móveis tubulares, tapete vermelho, persianas com as cordas pendentes, guarda-chuva, cão raivoso e figura humana ensanguentada no leito.
Figures in a Garden, circa 1936
Painting, 1946
Untitled, 1945-46
Head VI, 1949
Portrait of Lucian Freud, 1951
Study for Crouching Nude, 1952
Study After Velazquez's Portrait of Pope Innocent X, 1953
Study for Portrait II (after the Life Mask of William Blake), 1955
Crucifixion - 1
Crucifixion - 2
Crucifixion - 3
Portrait of Isabel Rawsthorne, 1966
Self-Portrait, 1971
Three Figures and Portrait, 1975
Study for self-portrait, 1976
Triptych 1944 - 3
Study for a Portrait March 1991, 1991
Frida Kahlo
A VIDA DE UMA MULHER
O trabalho da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-54) era escandaloso em sua espontaneidade. O cerne de seus duzentos quadros são auto-retratos vestindo fantasias, abordando temas raramente presentes na arte ocidental: nascimento, aborto e menstruação. Baseando seu estilo de pintura na arte popular e nas imagens católicas, ela gostava de ter o papel principal como modelo em seus quadros, sempre usando coloridos trajes mexicanos. inválida, submeteu-se a 32 operaç6es num período de 26 anos e depois que sua perna foi amputada, usava uma bota de couro vermelho com incrustações de galões e sininhos chineses, cobrindo a prótese em madeira: para "dançar sua alegria ". Na ocasião de sua primeira exposição individual, o médico disse que ela não poderia comparecer, pois estava muito doente, Kahlo se tez transportar numa maca e se apresentou como parte da obra exposta. Morreu pouco depois. Quando colocaram seu corpo no forno crematório. o calor intenso pôs seu cadáver sentado, Seu cabelo ardia, formando um anel de logo em torno da cabeça, e o pintor David Siqueiros disse que ela parecia estar sorrindo no centro de um girassol,
Self-Portrait - 1926
Henry Ford Hospital - 1932
Self-Portrait on the Bordeline Between Mexico and the United States, 1932
My Dress Hangs There, 1933
A Few Small Nips - 1935
Self-Portrait (Dedicated to Leon Trotsky) - 1937
Mi nana y yo (My Nanny and I), 1937
Self-Portrait with Monkey - 1938
What the Water Gave Me - 1938
The Two Fridas - 1939
The Dream, 1940
Sin esperanza, 1945
Self-Portrait with Loose Hair - 1947 Tree of Hope - 1946
Self-Portrait with the Portrait of Doctor Farill 1951