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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 2 de fevereiro, 2019

PEDRO ABRUNHOSA ARRASOU EM LOULÉ FILIPA SOUSA LANÇOU «ACREDITAR» | «ZÉ MANEL TAXISTA» ESGOTOU TEATRO DAS FIGURAS 1«DO ALTO DA PONTE» | «CHOQUE FRONTAL AO VIVO» |TIAGO BATISTA EXPÕE EM FARO ALGARVE INFORMATIVO #188


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CONTEÚDOS #188 2 DE FEVEREIRO 2019 50

ARTIGOS 10 - «Faro Positivo» 20 - 91.º Aniversário Ginásio Clube Naval de Faro 30 - São Brás debateu Saúde Mental 42 - Pedro Oliveira 50 - Filipa Sousa 58 - «Zé Manel Taxista» 68 - Pedro Abrunhosa 80 - «Do Alto da Ponte» 90 - «Choque Frontal ao Vivo» 100 - Tiago Batista 124 - Atualidade

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OPINIÃO 112 - Paulo Cunha 114 - Mirian Tavares 116 - Adília César 118 - Ana Isabel Soares 120 - Carla Serol ALGARVE INFORMATIVO #188

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ERMIDA DE SANTO ANTÓNIO DO ALTO E CREMATÓRIO EM DESTAQUE EM MAIS UM «FARO POSITIVO» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Algarve Informativo®

Câmara Municipal de Faro dinamizou, no dia 25 de janeiro, mais uma visita de trabalho ao concelho para dar a conhecer à ALGARVE INFORMATIVO #188

comunicação social algumas das intervenções em curso, bem como projetos que deverão avançar no curto prazo, com um dos destaques deste «Faro Positivo» a ser a reabilitação da Ermida de Santo António do Alto, conjunto arquitetónico em vias de 10


Marco Lopes, Diretor do Museu Municipal de Faro e Rogério Bacalhau, Presidente da Câmara Municipal de Faro

classificação. Na ermida e quintal, a intervenção consiste na selagem de fissuras nas alvenarias; colmatação de lacunas em rebocos; caiação, reparação e pintura de serralharias; reparação e pintura de carpintarias, escadarias e canteiros; reparação do forro de teto da sacristia; e reparação do telhado. No miradouro vai-se proceder às reparações da guarda da zona de estar e do reboco das faces exteriores, bem como à caiação de todo o miradouro. Está igualmente a ser desenvolvido um projeto de revitalização dos edifícios contíguos à ermida, com vista à reabertura do espaço museológico do Museu Antonino, sendo ainda facultado o acesso à torre. Para que tal seja possível é necessária uma intervenção a nível de pavimentos, 11

paredes, tetos e vãos de acesso e iluminação, serão criadas rampas de acesso ao pátio de distribuição e um módulo sanitário para ambos os sexos e com uma casa-de-banho para pessoas com mobilidade reduzida. De modo a garantir uma visita à torre em segurança são ainda propostos guarda-corpos em material transparente para impossibilitar o acesso a zonas de risco, sendo restaurada igualmente a escada em caracol. A intervenção envolve um investimento na ordem dos 36 mil euros + IVA e será complementada, numa fase posterior, pelo projeto de duas cidadãs farenses que concorreram ao Orçamento Participativo de Portugal para que a Ermida de Santo António do Alto reabra ao público e ganhe um novo dinamismo, conforme revelou o ALGARVE INFORMATIVO #188


presidente da Câmara Municipal de Faro. “Até final do ano esperamos que o projeto esteja concluído para termos mais uma belíssima igreja acessível ao público e inserida no nosso roteiro turístico. Em 2020 começa a intervenção da Mata do Liceu, o que permitirá a requalificação de todo o espaço exterior envolvente à Ermida”, adiantou Rogério Bacalhau. Marco Lopes, diretor do Museu Municipal de Faro, não tem dúvidas ao afirmar estarmos na presença de “uma ermida absolutamente extraordinária, não só pela sua beleza arquitetónica, mas pelo seu passado”, um equipamento que pertence à autarquia e que, ao longo da sua existência, desempenhou várias funções. “Desde logo uma função militar, porque foi uma atalaia, um ponto de vigia para descortinar os inimigos que se aproximavam da vila, mais tarde cidade de Faro, mas também foi um espaço ALGARVE INFORMATIVO #188

religioso. A cereja no topo do bolo é que ainda existem vestígios da antiga ermida de finais do século XV, inícios do século XVI, e que se podem visitar através da sacristia”, sublinhou Marco Lopes, falando de uma abóboda manuelina muito bem conservada e que fará parte do roteiro da visita. “O barroco veio dar outra projeção à nave altíssima da Ermida e temos aqui um retábulo feito por um dos mais conceituados entalhadores farenses e por um mestre pedreiro que era dos mais importantes do Algarve. A Ermida é uma obra de arte total, com a talha, a pintura, os azulejos e a abóboda, foi ela que deu nome à Rua de Santo António e, em tempos, foi mais visitada que o próprio Museu Municipal de Faro”. No final da visita, Rogério Bacalhau voltou a enaltecer a iniciativa das duas munícipes farenses cuja proposta foi 12


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uma das vencedoras do Orçamento Participativo Portugal do ano transato, com vista à dinamização da Ermida de Santo António do Alto. “Esse projeto veio acelerar aquilo que já queríamos fazer e a intenção é que a Ermida seja visitável ainda no decorrer de 2019”, frisou, com Marco Lopes a adiantar ainda que o recheio que pertencia ao Museu Antonino e que foi para as reservas do Museu Municipal de Faro nos anos 90 do século passado, por questões de segurança e por falta de visitantes, será devolvido ao mesmo espaço, com outro enquadramento e novos conteúdos. Durante mais este ciclo de visitas «Faro Positivo», Rogério Bacalhau comunicou a decisão tomada pela Câmara Municipal de Faro, no dia 21 de janeiro, em adjudicar à

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«Servilusa – Agências Funerárias SA» e à «FPC Construções Lda.» a concessão, construção e exploração do Crematório de Faro. Recorde-se que em 2010 começou a ser desenvolvido um projeto de arquitetura específico para este equipamento, dotado de dois fornos crematórios e de acabamentos, que deu origem a um concurso com vista à conceção das especialidades e execução da obra, adjudicada em 2011 à Servilusa. A obra acabou, porém, por nunca ir para a frente, dai resultando um problema jurídico que só foi resolvido em novembro de 2018, depois do Tribunal Central Administrativo do Sul ter dado por encerrado o diferendo que opunha os diversos concorrentes ao procedimento lançado, entretanto, no Verão de 2016.

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O novo projeto do equipamento compreende apenas um forno crematório e todas as valências conexas e ficará localizado no Cemitério Novo. Como é sabido, o Cemitério da Esperança encontra-se lotado, o que levou a autarquia farense a adjudicar a construção de cerca de 500 novos gavetões no Cemitério Novo, 176 dos quais já estão concluídos. No contrato agora firmado ficou estabelecido que a Câmara Municipal de Faro vai receber uma renda mensal de mil e 700 euros pela ocupação do terreno, bem como 1 por cento do valor de cada cremação, que se cifra em 258 euros + IVA para residentes e 309 euros + IVA para não residentes, com a cremação das ossadas a implicar uma despesa de 180 euros + IVA. “Espero que o processo decorra com a maior brevidade possível para que o crematório esteja a funcionar no final de ALGARVE INFORMATIVO #188

2019, início de 2020, com a certeza de que vai servir todo o Algarve e possivelmente até o Alentejo”, referiu Rogério Bacalhau. No mesmo dia foi ainda inaugurada a Estrada dos Gorjões após completa requalificação, pelo montante de 157 mil e 451,81 euros + IVA, e deu-se a conhecer a repavimentação da Estrada Patacão / Mar e Guerra, cujos trabalhos acabam de arrancar e implicam um investimento da autarquia farense de 106 mil e 351,30 euros + IVA. A manhã do dia 25 de janeiro contemplou igualmente uma visita à EB1 do Bom João, onde deverá entrar em funcionamento um novo infantário no ano letivo 2019/2020, constituído por três salas de ensino pré-escolar, num investimento municipal de 317 mil euros + IVA . 16


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DRAGAGEM DA DOCA DE RECREIO DE FARO E PROJETO PARA UMA NOVA PONTE PEDONAL AJUDARAM À FESTA NO 91.º ANIVERSÁRIO DO GINÁSIO CLUBE NAVAL DE FARO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Algarve Informativo® Ginásio Clube Naval de Faro (GCNF) comemorou os 91 anos de existência com um jantar de confraternização entre sócios, atletas, treinadores e dirigentes, no dia 25 de janeiro, no Hotel ALGARVE INFORMATIVO #188

Faro, ao qual não faltaram António Roquete, Presidente da Federação Portuguesa de Vela, Custódio Moreno, Diretor Regional do Algarve do Instituto Português do Desporto e Juventude, Rogério Bacalhau, Presidente da Câmara Municipal de Faro, e José Apolinário, Secretário de Estado das Pescas. E António Roquete fez logo 20


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João Marques, presidente do Ginásio Clube Naval de Faro

questão de lembrar a medalha de bronze que Portugal conquistou nos Jogos Olímpicos de Atlanta, nos Estados Unidos da América, em 1996, precisamente por Hugo Rocha e Nuno Barreto, velejadores do GCNF. Regressado à direção da Federação Portuguesa de Vela em outubro de 2016, António Roquete admitiu ter recebido uma herança pesada e lamentou que, durante oito anos, os clubes tenham estado afastados deste organismo, “o que é extremamente preocupante”. “Tenho reunido com todos os clubes de Portugal – os seis existentes no Algarve felizmente funcionam bastante bem – porque preciso de voltar a ter as pessoas do nosso lado. Vamos organizar um congresso em outubro e queremos definir um plano estratégico para a federação para os próximos 10 anos”, ALGARVE INFORMATIVO #188

referiu durante a sua intervenção. No uso da palavra, Custódio Moreno, confirmou o bom ciclo que o GCNF está a atravessar sob a liderança de João Marques, “com muito trabalho e gente empenhada”. “É um clube que serve a sociedade e a comunidade, que se abre a todos, mesmo sabendo-se que a vela não é uma modalidade fácil. É preciso ter mar e equipamento específico e meter mais de centena e meia de jovens a praticar é algo de enaltecer. E mais recentemente começaram a dinamizar também a natação”, destacou o Diretor Regional do IPDJ de Faro. “Queremos ser parceiros em projetos de formação, de integração dos jovens, de apoio social, sempre ouvindo os clubes”, reforçou. João Marques, presidente do GCNF, voltou a lembrar a concessão, em 2018, 22


da exploração da Doca de Recreio de Faro ao Naval por mais 30 anos, uma doca que, ao contrário de todas as outras, é solidária. “Temos uma marina em que cada pessoa paga pelo seu lugar e, com isso, contribui para a utilidade pública do Naval. Os nossos atletas promovem práticas desportivas saudáveis e trazem-nos reconhecimento a nível nacional e internacional. Agora temos uma vertente ainda mais reforçada, a natação, por via da parceria encetada com o Clube de Natação de Faro, com cerca de 160 atletas”, sublinhou, uma parceria que valeu recentemente um recorde europeu na classe 40-44. “A vela requer uma grande dedicação, tanto da parte dos técnicos como dos atletas que participam nas competições. Aos sábados e domingos, faça vento, chuva ou sol, estão todos dentro de água e é

assim que conseguem os seus títulos”, elogiou. Olhando para uma sala repleta de entidades oficiais, praticantes, patrocinadores e sócios – muitos atletas não compareceram precisamente por estarem em competições internacionais neste fim-de-semana – João Marques falou igualmente do núcleo de vela da Ilha da Culatra, inserido no programa escolar de ocupação de tempos livres. “Alguns daqueles jovens nem sequer sabiam nadar, mesmo estando a falarse de uma ilha. E a razão é simples: na Culatra convive-se com o mar o ano inteiro, com as correntes e as tempestades, e há pais que protegem os seus filhos desse perigo que têm sempre ao seu redor. Neste projeto participam 26 jovens, quatro deles já com potencial para virem treinar aos

Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro 23

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José Apolinário, Secretário de Estado das Pescas

fins-de-semana ao GCNF para competirem em provas, assim os pais o desejem. E a Federação Portuguesa de Vela já nos prometeu mais quatro optimists para eles treinarem”, indicou o dirigente, aproveitando para agradecer o trabalho realizado pelos seus antecessores. “De certeza que deram o seu melhor e estarão sempre convidados para estarem ao nosso lado nos desafios que temos pela frente”. Desafios que serão muitos em 2019, confessou João Marques, para mexer com a própria vivência da cidade de Faro. “Vamos ter um Campeonato do Mundo de Platu 25 antecedido de um Campeonato Nacional, essenciais para se dar uma nova vida à zona ribeirinha. ALGARVE INFORMATIVO #188

Temos um projeto para uma ponte pedonal com dois metros de largura e com mais 1,4 metros de altura do que a atual ponte de comboio, que não impede qualquer navegabilidade no plano de água e que permitirá que toda a zona possa ser visitada”, revelou. “Sendo a obra realizável, as pessoas poderão circular à vontade em redor da Doca e da Marina, um espaço que deve ser requalificado também nas suas infraestruturas”. Outra boa notícia para o Naval e para Faro é a dragagem da zona interior da Doca de Recreio, cujo procedimento foi lançado pela Docapesca em agosto de 2018 e implicará um investimento de 375 mil euros. “Encontram-se ali 500 24


Custódio Moreno, Diretor Regional do Algarve do IPDJ

embarcações, quando a maré está alta têm o problema de sair da Doca por causa da ponte do comboio, quando a maré está baixa, ficam em seco. Há mais de 20 anos que esperávamos por esta dragagem”, apontou João Marques, lembrando ainda que o GCNF conseguiu acertar o passivo que tinha com a Docapesca no valor de 348 mil euros, mediante um plano de reequilíbrio financeiro e acordo de pagamento da dívida. “E a direção decidiu investir na dragagem restante que não compete à Docapesca, bem como na remodelação dos pontões, na iluminação, na água e na eletricidade. É uma intervenção que vai dar outra dignidade à Doca de Recreio e qual seria a cidade que não gostaria de ter uma pequena marina a entrar pela cidade na sua zona histórica”, questionou o presidente. 25

LITERACIA DO MAR É FUNDAMENTAL PARA O FUTURO Mais atletas, sócios, amigos e parceiros, tudo isso marca o quotidiano do Ginásio Clube Naval de Faro, o que deixa muito satisfeito e orgulhoso Rogério Bacalhau, que aproveitou para anunciar o regresso da Gala dos Campeões a 29 de março do corrente ano. “Temos muitos clubes no concelho, muita gente com resultados excelentes em diversas modalidades, que merece ser homenageada. São atletas, dirigentes, treinadores, juntos numa grande festa no Teatro Municipal, para reconhecer o seu trabalho e esforço. Quanto ao GCNF, desejo que continue com esta ALGARVE INFORMATIVO #188


António Roquete, presidente da Federação Portuguesa de Vea

dinâmica, sobretudo no plano da formação de jovens, a parte mais importante da atividade dos nossos clubes”. Antes de se soprar as velas e partir o bolo de aniversário, houve ainda tempo para umas breves palavras de José Apolinário, para quem a importância do GCNF para a cidade e para a vela não oferece qualquer discussão. “O projeto de uma ponte pedonal e a dragagem da Doca de Recreio só são possíveis por existir diálogo e cooperação entre o Governo, a Docapesca, a Câmara Municipal de Faro e o Ginásio Clube Naval de Faro. Não estamos a falar de uma obra de milhões de euros, mas representa uma confluência de vontades para uma intervenção estruturante”, entende o Secretário Estado das Pescas. “É muito ALGARVE INFORMATIVO #188

importante trabalhar para a literacia do mar, ou seja, procurar desde tenra idade canalizar a formação e a educação para o mar. Isso passa, por exemplo, por ensinar as crianças a nadar e por atribuir a Carta de Marinheiro Júnior às crianças com mais de oito anos, entre outras medidas. Portugal pediu para aumentar a área da extensão da plataforma continental, o mar é fundamental para o seu futuro e a ação de literacia do mar é crucial”, defendeu José Apolinário. “Estas ações são mais um passo para a lógica de Faro Cidade Náutica e para a revitalização da frente ribeirinha. Todos estamos aqui para fazer de Faro uma cidade melhor e para dar mais qualidade de vida à sua população e visitantes” . 26


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SÃO BRÁS DE ALPORTEL DEBATEU SAÚDE MENTAL NO DIA INTERNACIONAL DO RISO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Algarve Informativo®

Salão Nobre da Câmara Municipal de São Brás de Alportel encheu-se, a 18 de janeiro, Dia Internacional do Riso, para a conferência «Saúde Mental, Educação e Sociedade», que deu início ao ciclo de ALGARVE INFORMATIVO #188

conferências «Trilhos» dinamizado, ao longo de 2019, pela Associação Ser Contigo - Associação de Intervenção Socioeducativa na Saúde. E existem, atualmente, dados estatísticos que comprovam o aumento das perturbações da ansiedade, depressão, demência, entre outras patologias associadas à saúde e doença mental e 30


que a todos podem afetar. Resta saber que respostas tem a sociedade para estes problemas, problemas sobre os quais, por vergonha, preconceito ou tabu, se teima em falar pouco. A questão da Saúde Mental é, no entanto, encarada com muita seriedade pelo Município de São Brás de Alportel, por ser fundamental para o bemestar de qualquer cidadão. E isso mesmo se constatou com a apresentação de Marlene Guerreiro, VicePresidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel. “A nossa ação incide principalmente na promoção da saúde mental. Não temos condições para tratar a doença em si, mas acreditamos que podemos, em conjunto, fazer com que a nossa comunidade seja mais saudável. Infelizmente, a doença mental está-se a tornar numa presença constante, seja nas crianças e jovens, seja, sobretudo, nos seniores”, observa a Marlene autarca, um cenário que é comum a todo o território nacional e não somente aos concelhos do interior como é São Brás de Alportel. “É uma realidade que nos deixa muitas vezes com um sentimento de impotência, porque as respostas de saúde mental que existem no concelho, 31

Guerreiro, Vice-Presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel

na região e no país são bastante parcas. Temos poucos psiquiatras nos hospitais e poucas unidades de acolhimento na rede pública e os fatores de risco são maiores nos tempos modernos”. ALGARVE INFORMATIVO #188


MARLENE GUERREIRO: (...) “A DOENÇA MENTAL É UM PARENTE POBRE E HÁ MENOS TEMPO CONHECIDO E DIGNIFICADO, HÁ UM CAMINHO LONGO A PERCORRER, MAS AS PESSOAS ESTÃO A FICAR MAIS DESPERTAS PARA ESTA REALIDADE. TODAVIA, TEMOS QUE SENSIBILIZAR AS PESSOAS DE QUE IR AO PSICÓLOGO NÃO TEM NADA DE MAL, DE QUE A SAÚDE MENTAL É ALGO MUITO IMPORTANTE E QUE DEVEMOS PRESERVAR, TAL COMO A SAÚDE FÍSICA”.

Neste contexto, o melhor caminho é o da prevenção, o que a autarquia são-brasense tem feito na medida do possível e naquilo que está ao seu alcance. Exemplo disso foi a criação do Serviço Municipal de Psicologia, com o Gabinete Municipal de Psicologia do Idoso e o Gabinete Municipal de Psicologia da Criança e do Adolescente, a que se juntou, mais recentemente, o Gabinete Municipal de Psicologia de Apoio ao Desempregado. “São gabinetes ALGARVE INFORMATIVO #188

gratuitos, pensados para as pessoas que não têm possibilidades financeiras para acederem a uma clínica privada, embora não lhes queiramos fazer qualquer tipo de concorrência”, esclareceu Marlene Guerreiro, adiantando que o Gabinete Municipal de Psicologia da Criança e do Adolescente funciona essencialmente em ambiente escolar, onde os problemas se manifestam com maior frequência e mais precocemente. “A doença mental é um parente pobre e há menos tempo conhecido e dignificado, há um caminho longo a percorrer, mas as pessoas estão a ficar mais despertas para esta realidade. Todavia, temos que sensibilizar as pessoas de que ir ao psicólogo não tem nada de mal, de que a saúde mental é algo muito importante e que devemos preservar, tal como a saúde física”, defendeu Marlene Guerreiro. Respostas foram sendo criadas pela autarquia para os seniores que se encontram em situações de fragilidade e vulnerabilidade, como é exemplo o Grupo de Intervenção Sénior que, à semelhança da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, junta várias entidades do concelho. Em paralelo a este apoio psicossocial, a Câmara Municipal de São Brás de Alportel tem vindo a implementar, progressivamente, projetos de intervenção comunitária, a «Rede Envolve», que chega a praticamente todos os lugares e sítios deste concelho da Serra do Caldeirão. “É um trabalho bastante importante, principalmente para aqueles idosos que vivem isolados e sozinhos. Queremos dar 32


mais vida aos anos, com mais convívio e partilha, com maior atenção da parte de todos nós”, sublinhou Marlene Guerreiro, antes de falar de um projeto que tem mudado a vida de muitos seniores, o Centro de Convívio de Parises, na área serrana do concelho, onde o isolamento se faz sentir de forma mais intensa. “Este ano conseguimos concretizar um casamento feliz entre os setores de intervenção comunitária e do desporto da Câmara Municipal e tem sido extraordinária a adesão das pessoas às atividades físicas que levamos a cabo”, assegura a vice-presidente da autarquia. Mas a própria comunidade promove eventos que envolvem de perto os mais idosos, com o apoio da autarquia local. “Sinto que, em São Brás de Alportel, a idade já não é uma limitação, mas sim

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uma forma de mostrar sabedoria e não impede as pessoas de conviver, dançar, brincar, de serem cidadãos de corpo inteiro”, declarou Marlene Guerreiro, para quem a emancipação do sénior são-brasense é uma conquista de toda a comunidade. “A Universidade Sénior é uma feliz iniciativa da Junta de Freguesia de São Brás de Alportel que conta com a colaboração do Município e que tem 270 alunos em 27 disciplinas. É um projeto que nos faz transbordar o coração de alegria. Há unos tempos, se calhar, não se pensava que, com 70 ou 80 anos, ainda se podia aprender coisas novas, e numa universidade, mas é este o caminho que devemos continuar a trilhar, porque as pessoas juntam-se, partilham conhecimentos e são mais felizes”.

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ANTÓNIO BRANCO: (…) “A DEPRESSÃO PÕE OS INDIVÍDUOS POR ELA ATINGIDOS EM CONTATO COM O NEGRUME QUE PODE LEVAR ATÉ À PERDA DE IDENTIDADE CONSTRUÍDA AO LONGO DE MUITO TEMPO. A PRIMEIRA TENTAÇÃO É A DE QUERERMOS CONTINUAR A CONTROLAR OS ACONTECIMENTOS, MAS JULGO SER NECESSÁRIO PERCORRER O CAMINHO OPOSTO, OU SEJA, ENTREGAR PROVISORIAMENTE O CONTROLO AO TERAPEUTA, AOS AMIGOS, AOS FAMILIARES EM QUEM SE CONFIE MUITO”.

Marlene Guerreiro lembrou ainda que a antiga sede da Junta de Freguesia de São Brás de Alportel foi reconvertida num espaço recreativo multifuncional que acolhe, entre outras iniciativas, o Grupo Folclórico Velha Guarda, composto apenas por seniores. E o ciclo de tertúlias «Aqui Entre Nós», criado em 2011, acontece ALGARVE INFORMATIVO #188

mensalmente com temas atuais de interesse para toda a comunidade. “Muitos assuntos são da área da psicologia, mas as conversas não têm fronteiras”, assegurou, antes de falar da «Casa do Artesão», que procura promover as tradições e os conhecimentos antigos dos artesãos são-brasenses, verdadeiros guardiões de um saber que pode desaparecer. “Outra conquista de São Brás de Alportel foi a abertura do «Espaço Jovem» e a dinamização do projeto «Jovens Seguros, Famílias Felizes», porque acreditamos que só podemos ajudar os jovens se ajudarmos também as suas famílias. E organizamos também um ciclo quinzenal de formação para a família, onde se discute desde o desafio da chegada de um bebé até à sua adolescência, entre outros assuntos. Ser família é uma aventura em que todos precisamos de ajuda para sermos mais felizes, harmoniosos, equilibrados e responsáveis. Promover a saúde mental é promover o bemestar e esse é um dos objetivos naturais da Câmara Municipal de São Brás de Alportel”.

DEPRESSÃO CONTINUA A SER OLHADA COM PRECONCEITO E DESCONFIANÇA António Branco, antigo reitor da Universidade do Algarve, veio falar de Depressão na conferência «Saúde Mental, Educação e Sociedade» a convite da Associação Ser Contigo Associação de Intervenção 34


Socioeducativa na Saúde sedeada em São Brás de Alportel, por entender que os problemas de saúde mental continuam muito silenciados e estigmatizados. E começou por recordar uma das obras mais célebres do século XV, o «Leal Conselheiro» de D. Duarte, filho mais velho de D. João I, que inclui um capítulo sobre as várias formas que a tristeza pode assumir. “A um desses modos de tristeza, que na Idade Média se chamava Doença do Humor Melancólico, D. Duarte atribui o seguinte conjunto de sintomas: o medo e a tristeza obsessivos, para os quais as pessoas mais próximas do doente não encontram explicação; a oscilação imprevisível entre o riso e o choro; uma intensa angústia; insónias; cefaleias; vontade de isolamento; falta de apetite; e, finalmente, tendências suicidas. O que é mais impressionante neste texto é que o próprio Rei admite que conhece essa doença por experiência própria, ou seja, assume que sofreu de uma profunda depressão que durou três anos”. Uma atitude considerada muito corajosa por parte de António Branco, por estarmos num tempo em que as doenças de foro psíquico tinham conotações religiosas bastante negativas. “Até muito tarde a 35

tristeza profunda e patológica foi considera um pecado. São Tomás de Aquino, uma das maiores autoridades do catolicismo medieval, considerava que, se é verdade que a tristeza moderada pode contribuir para o equilíbrio da alma, já a melancolia excessiva – ou a depressão, como lhe chamamos hoje – é uma doença perigosa porque, quando o indivíduo, segundo Tomás de Aquino, perde totalmente a alegria, também esquece o sentido de Deus”, referiu, perante uma plateia atenta às suas palavras. ALGARVE INFORMATIVO #188


Será que, seis séculos passados, as doenças do foro psicológico, entre elas a depressão, já são naturalmente encaradas, tanto por quem sofre delas, como pelos seus familiares, amigos, patrões, sociedade em geral? António Branco entende que, infelizmente, tal não é verdade, antes pelo contrário. “Embora a perspetiva e os recursos terapêuticos tenham evoluído muito positivamente, a atitude geral talvez não tenha mudado assim tanto. É verdade que já não haverá quem considere a depressão como um pecado, mas ainda existe um número demasiado elevado de cidadãos que olham para ela com desconfiança

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condenatória, fundada no preconceito”, afirmou o docente da Universidade do Algarve. “O que se passa, como sucede em muitos outros aspetos desta nossa sociedade profundamente desigual, é que, quem tem uma situação económica folgada e uma situação profissional totalmente estável, pode dar-se ao luxo de parar e entregar-se ao melhor tratamento possível. Quem é pobre ou precário, não só não encontra os melhores recursos terapêuticos imediatamente, como não se pode dar ao luxo de parar”. António Branco considera, portanto, que o modo como são socialmente abordadas as doenças do foro psíquico é um importante indicador do grau de desenvolvimento da justiça social e, por isso também, uma questão civilizacional. “Esse conjunto de doenças indicia sempre uma extrema vulnerabilidade humana, contudo, e contraditoriamente, não gera na sociedade o mesmo empenho habitualmente colocado na proteção dos indivíduos fragilizados por doenças graves do foro fisiológico”, observa o orador. “Glorificamos sempre os mais fortes em detrimento dos mais fracos e quanto mais competitiva é a cultura social e económica em que vivemos, mais pronunciada será essa diferença abismal entre os 36


considerados mais fortes ou mais fracos. Basta recordar esse terrível dito popular «dos fracos não reza a história». No entanto, a nossa história universal está cheia de episódios em que os mais fracos sofreram as maiores sevícias às mãos dos mais fracos”.

A DEPRESSÃO PODE SER UMA GRANDE MESTRA De forma honesta e sem complexos, António Branco seguiu o exemplo de D. Duarte e reconheceu que, há uns anos, também ele sofreu de uma depressão que, não sendo tão longa como a do rei – durou pouco mais de um ano e meio – marcou um dos períodos mais difíceis e complexos da sua vida. “Até esse momento sempre tinha feito parte do grupo dos fortes. Fui 37

muito bom aluno nos vários níveis de ensino, fui agraciado com grandes sucessos pessoais e profissionais, por isso, não estava preparado para o que aí vinha. Quando temos o privilégio de encontrar rapidamente os recursos que nos ajudam a curar, a minimizar, a depressão, temos também a oportunidade de aprender coisas muito importantes e desde essa altura que digo para mim que a depressão pode ser uma grande mestra”. Uma mestra que lhe deu três fortes lições, explicou no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, sendo a primeira que, quanto mais fortes nos sentimos, menos preparados estamos para identificar a chegada de uma depressão e para lidar com ela. “A sensação de força ALGARVE INFORMATIVO #188


decorrente da robustez anímica que experimentamos e do vigor visível do nosso contexto pessoal e profissional não só não é garantia da sua continuidade, como pode provocar o desinvestimento em bons sistemas de vigilância pessoal. Isso é tão verdade que só fui procurar ajuda, só reconheci a possibilidade de estar a sofrer de uma depressão, muito tempo depois de ela me atingir, o que constitui um risco bastante elevado que não gostaria que mais ninguém corresse”, confessou António Branco. “Imaginem uma pessoa que, durante um tempo muito longo, vai minorando e desvalorizando os sintomas de uma pneumonia. No momento em que o corpo finalmente cede, pode já ser tarde demais para se salvar a pessoa. O mesmo ocorre com a depressão e outras doenças do foro mental. Não esqueçamos que a depressão pode ser uma doença mental, na medida em que um dos seus sintomas mais assustadores é o aparecimento de fortes tendências suicidas que podem dar azo a atos desesperados e irreversíveis”. Não há força sem vulnerabilidade foi a segunda lição que António Branco aprendeu durante a sua fase depressiva e, “quanto mais fortes nos vemos no espelho, mais desprotegidos e mais propensos ficamos à fragilidade externa”. “Não sabendo que a fragilidade pode sequer existir com aquele nível de profundidade, é ela que nos passa a controlar. Passamos, num instante, e sem mediação nenhuma, do poder que a força nos dá até uma insuspeita escravidão”, avisa, reforçando que a depressão é uma doença cruel por sonegar a liberdade que julgamos possuir. ALGARVE INFORMATIVO #188

E a terceira lição que o antigo reitor da Universidade do Algarve transmitiu à plateia é a importância vital de se estabelecerem laços com os outros. “A depressão põe os indivíduos por ela atingidos em contato com o negrume que pode levar até à perda de identidade construída ao longo de muito tempo. A primeira tentação é a de querermos continuar a controlar os acontecimentos, mas julgo ser necessário percorrer o caminho oposto, ou seja, entregar provisoriamente o controlo ao terapeuta, aos amigos, aos familiares em quem se confie muito”, defende. António Branco lembrou a célebre frase «há uma luz ao fundo do túnel», mas a pessoa deprimida não a vê, nem acredita na sua existência. “O que a pode salvar, afinal, é confiar nos amigos, nos familiares, nos terapeutas. Se eles veem a luz, então ela deve existir. Por isso, o recurso mais precioso que dá chão fértil às ferramentas terapêuticas, é o amor”, salienta, ao mesmo tempo que apela à normalização das doenças de foro psiquiátrico, tal como já acontece com quase todas as doenças do foro físico ou fisiológico. “A condenação social explícita ou implícita de alguém que foi atingido por uma doença do foro mental é demasiada injusta e pode, aliás, ajudar a agravar o seu estado, já de si muito frágil. Já bem bastam as suas próprias vergonha e autoculpabilização, a sua total perda de autoestima, a sua impotência e improdutividade, a sua impressão de que deixou de ter lugar à mesa da dignidade humana. A pessoa com 38


depressão é como um náufrago no mar com a praia à vista, a esbracejar e a perder forças nesse combate, e demasiada envolta na feroz tempestade que a circunda para saber sequer como se chega à praia”, compara, deixando um apelo para se caminhar para uma sociedade civil generosa e diligente disposta a colocar a sua energia criadora 39

ao serviço de todos quanto sofrem. “É mentira o individualismo em que nos querem fazer acreditar, é mentira o «cada um por si». Somos como cogumelos unidos por uma rede subterrânea de ligações que importa tornar visíveis e exercer afincadamente” . ALGARVE INFORMATIVO #188


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PEDRO OLIVEIRA, O DOUTOR GENOMA Conheça a história do investigador que escapou, por pouco, à morte nos atentados de Londres, assistiu, de perto, à eleição de Barack Obama como primeiro presidente negro dos Estados Unidos, e trabalha hoje com grandes sequências de ADN para tentar controlar perigosas bactérias em ambiente hospitalar. Eis Pedro Oliveira, o português que descobriu um gene que, se eliminado, retira à bactéria Clostridium difficile a sua capacidade de infetar o Ser Humano.

Texto: Isa Mestre | Um contributo http://cienciacomvida.pt/

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a janela do Mount Sinai Hospital, em Nova Iorque, Pedro Oliveira regressa, todos os dias, a Portugal. Na memória, confessanos, «essa imagem da Ponte 25 de Abril, aquele pôr do sol…». Após sete anos de resiliência para manter-se como investigador em terras lusas, o cientista, que hoje trabalha num hospital americano e se afirma como uma referência na investigação em genómica a nível internacional, conta-nos que chegou o dia em que, simplesmente, percebeu que o país que o formara e que o vira crescer não seria capaz de oferecer-lhe a realização pessoal e profissional que tanto ambicionara. “Costumo dizer que comecei a aprender as coisas más da vida um pouco tarde demais, tinha de ter aberto os olhos mais cedo”. Hoje, de Portugal guarda sobretudo a saudade, mas não esquece o amargo sabor da desilusão: “Via pessoas que tinham menos curriculum do que eu, que tinham menos experiência, que se esforçavam menos, que tinham menos amor à camisola, ascenderem a posições permanentes…foi aí que pensei ‘este sítio não é para mim, vou-me embora’”. Assim fez. Licenciado em Engenharia Biológica e Doutorado em Biotecnologia, pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa, Pedro Oliveira fez as malas e seguiu as pisadas de milhares de outros jovens que, respondendo ao apelo de um Governo que os incentivou a emigrar e a sair da sua zona de conforto, decidiram procurar no estrangeiro a aprovação e o reconhecimento para construir uma 43

carreira de futuro. Depois de ter passado um ano em Londres, no University College London, surgiu a oportunidade de ir para Boston, onde, no MIT - Massachusetts Institute of Technology, deu seguimento à sua investigação em alterações genéticas do ADN e começou a trabalhar numa área que, atualmente, “está muito na moda, e que se chama edição genética”. Se na bagagem de ida levara o peso da deceção, para Portugal, Pedro Oliveira tencionava transportar muito mais do que isso. “Queria aprender o máximo possível e trazer para o meu país um pouco do know-how destas técnicas de edição de genomas”. Voltou em 2010 para, em 2013, abandonar, definitivamente, o país. Hoje, trilha, em território de Donald Trump, uma carreira de sucesso que já lhe permitiu, inclusivamente, chegar a algumas conclusões de extrema importância para a área clínica e da saúde humana. A trabalhar, como explica, com “computadores superpotentes, mais potentes do que aqueles que normalmente utilizamos no dia-a-dia”, o desafio deste cientista passa por “analisar grandes sequências de ADN, chamadas genomas, para, com o auxílio destas máquinas, compará-los, em paralelo, tentando ver semelhanças e diferenças, e, dessas semelhanças e diferenças, tentar inferir alguma coisa que seja útil para a área médica”. O seu mais recente projeto é revelador do potencial do uso da computação ao serviço da saúde humana. A trabalhar com uma bactéria - chamada ALGARVE INFORMATIVO #188


Clostridium difficile - que ataca o Ser Humano, predominantemente, em ambiente hospitalar, estando associada a alterações na flora intestinal dos pacientes e conduzindo, em casos mais críticos, a infeções graves no cólon, Pedro Oliveira perseguiu, ao longo dos últimos anos, um único objetivo: descobrir, a partir do genoma, como debelar esta bactéria ou como atuar mais facilmente sobre ela, evitando este tipo de infeção hospitalar. Para isso teve acesso a centenas de isolados clínicos de pacientes infetados e sequenciou, um a um, cada um destes genomas para perceber, através da técnica de SMRT Sequencing, todas as modificações que o ADN sofreu. A conclusão, essa, chegou muitos meses depois: “O que verificámos, sequenciando estas várias centenas de genomas, foi que havia um gene cuja

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função era, precisamente, a de provocar estas modificações no ADN. Verificámos que, se eliminarmos este gene, a bactéria perde, praticamente, a sua capacidade de se transmitir ao Ser Humano”. A descoberta ecoa já por toda a comunidade científica prometendo, em breve, ter implicações e aplicações na própria área médica. Como nos confessa o cientista português, “trabalhamos 365 dias por ano…um ano, dois anos, três anos…até conseguir ter aquele artigo publicado, aquele que tanto queremos. Desses anos todos, 99 por cento é frustração, desânimo, desilusão, tristeza, raiva…e, depois, temos dois ou três dias durante o ano em que temos aquela alegria, aquele êxtase de estar a ver pela primeira vez uma coisa que percebemos, naquele

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momento, que ainda mais ninguém viu, e que pode ter um impacto grande na sociedade”. “E são esses dois, três dias de felicidade que valem a pena. É por eles que me levanto todos os dias”, garante. Foi por eles que deixou Portugal, foi por eles que, em 2013, rumou a França, ao Institut Pasteur, para decidir investir «a sério» na área da computação. Para trás ficava a família, o país onde sonhara construir futuro. À frente, mesmo que sem saber, esperavam-no três anos repletos de novas conquistas. Numa Paris cosmopolita, mas «teimosa», Pedro enfrentou o desafio de aprender a língua, conheceu a sua futura esposa e, em apenas 36 meses, assistiu ao nascimento da sua filha. “Quando ela tinha dois meses, 45

mudámo-nos para Nova Iorque, onde continuei a trabalhar em computação, desta feita, aplicada à epigenética e a tudo aquilo que faço hoje”. Quando lhe perguntamos qual a sua maior conquista, Pedro, reservado e humilde, deixa de lado a Ciência para confessar que talvez a maior conquista tenha sido “a ausência da família, a capacidade de estar longe, a perseverança por não ter desistido”. “Ter abandonado o meu país e aprender a viver, em permanência, com essa distância que me continua a doer. O estar permanentemente longe”, confessa. Nos Estados Unidos, e a milhares de quilómetros de casa, Pedro Oliveira conta-nos que sentiu, pela primeira vez, o embate com uma ALGARVE INFORMATIVO #188


realidade completamente diferente. “Quando estive em Boston, no MIT, a primeira pergunta que me fizeram quando cheguei – ao invés de me perguntarem de onde era, o que fazia… foi em que revistas tinha publicado. Quando respondi, a pessoa virou-me costas e foi-se embora. Nesse momento percebi que não era uma pessoa interessante para eles e que não trazia nada verdadeiramente exclusivo para obter a sua atenção. Passei um mau bocado até conseguir convencer algumas pessoas à minha volta de que tinha uma boa ideia e de que, apesar de ainda não ter publicado na «Nature», a minha investigação tinha pernas para andar…”. ALGARVE INFORMATIVO #188

Hoje, com uma equipa de oito pessoas, todos eles a trabalhar em território americano, o investigador português não tem dúvidas de que conseguiu quebrar algumas barreiras. “Sempre vivi de corpo e alma tudo aquilo que estava a investigar, mas com este projeto é diferente, consigo ver-lhe uma aplicabilidade mais rápida e mais imediata”. O próximo passo, esse, está para breve e passa pela transferência deste conhecimento e desta investigação para as farmacêuticas. Filho de um técnico de artes gráficas e de uma cabeleireira, Pedro Oliveira, cedo percebeu que o futuro se 46


escreveria pelas páginas da ciência. Embora o pai quisesse que fosse médico, e Pedro, durante anos, tivesse alinhado com a ideia, dentro de si crescia, como nos conta, outra vontade. “À medida que fui crescendo, na minha infância e préadolescência, fui percebendo que, na verdade, não queria ser médico…não porque achasse que, eventualmente, não teria capacidade para isso, mas porque não gostava de ver as pessoas sofrer e sofria imenso com isso. Portanto, uma pessoa que não pode ver as outras pessoas sofrer não pode ser médico. Embora tivesse média suficiente para isso, não quis ir porque não conseguia, nunca seria um bom médico e seria profundamente infeliz”, justifica. Não andaria longe da medicina, nem dos hospitais, mas trabalharia do outro lado da trincheira. Do laboratório para o mundo, Pedro Oliveira concretizaria o sonho da criança que ia para a cozinha e “desatava a misturar tudo o que por lá havia”. Do sol de Lisboa para o frenesim de Manhattan foram necessários apenas quatro anos para consolidar-se como cientista sénior numa das escolas de medicina mais prestigiadas do mundo. Para trás ficaram centenas de horas no laboratório, momentos que Pedro, garante, nunca vai esquecer. Na memória, bem marcado, guarda também aquele 7 de julho de 2005, dia em que escapou à morte apenas por alguns minutos. Na altura a trabalhar como assistente de investigação no University College of London, Pedro Oliveira lembrase bem da primeira vaga de atentados que, em solo britânico, tirou a vida a mais de 50 pessoas. “O autocarro que explodiu era o 47

autocarro que eu apanhava todos os dias, à mesma hora, e para o mesmo local. E naquele dia, atrasei-me. Quando vi a notícia fiquei em choque. Acordei, no dia seguinte, num novo cenário. Era uma Londres completamente mudada”. Sobreviveria para contar a história, para nos assegurar que “quando se está fora, se sente um pouco mais as coisas que vão acontecendo nas sociedades que nos rodeiam”. Se em Londres viveu um dos momentos mais dramáticos da sua vida, em Boston, em contrapartida, teve o privilégio de sentir, em 2009, em primeira mão, “toda aquela emoção de se eleger o primeiro Presidente negro na história dos Estados Unidos”. Em França, sete anos mais tarde, veria Portugal sagrar-se campeão europeu, e finalmente, nos Estados Unidos, assistiria, perplexo, à eleição de Donald Trump, perguntando-se como iria explicar à filha “como é possível eleger uma pessoa daquelas”. Garante que, por todos os locais por onde passou, aconteceram «coisas boas e coisas menos boas», mas, no seu íntimo traz uma certeza: “Acredito que temos muito boa matéria-prima em Portugal, temos uma excelente «escola», temos professores muito bons e altamente qualificados, desde as primárias às universidades. Não senti, em momento nenhum do meu percurso, que estivesse num patamar inferior, em instituições de topo, quando comparado a outras pessoas que tinham sido formadas por essas instituições”. Pelo caminho, Pedro Oliveira lamenta apenas que o país não ALGARVE INFORMATIVO #188


tenha conseguido dar-lhe as oportunidades, a valorização e a estabilidade necessárias para desenvolver a sua carreira científica em solo português. “Temos de ter uma verdadeira carreira de investigador científico. Porque, até agora, encaram o investigador como mão-de-obra barata, descartável, subalterna e inferior”. Para que Portugal possa equiparar-se a outros países da Europa, como a França, a Alemanha e a Holanda, Pedro Oliveira, assegura que “há coisas que têm de mudar” e que, para isso, não se pode deixar passar o comboio da inovação. “Grande parte das profissões que temos ALGARVE INFORMATIVO #188

hoje vão deixar de existir e outras novas vão surgir. Essas vão basear-se muito na computação, na inteligência artificial em conceitos que, em Portugal, estão ainda muito pouco desenvolvidos. É preciso que o país se adapte às novas realidades”, conclui. E com a imagem da Ponte 25 de abril, despedimo-nos. O Pedro está longe. Nós estamos mais perto. Mas a liberdade de ter ganho asas e construir futuro, essa, ninguém lha tira. Só assim é possível que, mesmo a milhares de quilómetros de distância, da janela do Mount Sinai Hospital, seja possível regressar, todos os dias, ao país que o viu nascer . 48


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FILIPA SOUSA LANÇOU UM MUITO AGRADÁVEL «ACREDITAR» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Rita Carmo

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esde pequena que Filipa Sousa anda de volta das cantigas, desde o fado à música pop, passando pelos êxitos internacionais para animar turistas durante as suas férias no Algarve, numa constante correria que pouco ou nenhum tempo deixou para o tão desejado projeto de originais. Um disco que surgiu agora, quase a atingir os 34 anos de idade, com o título «Acreditar» que comprova que a albufeirense nunca deixou de acreditar no seu talento e na sua capacidade para vencer no difícil mundo da música. “É preciso acreditar muito num sonho para se continuar a lutar por ele e sempre disse que um dia iria gravar um álbum. Em 2017 acordei numa bela manhã, disse que tinha chegado a hora e aqui está ele”, declara, com um sorriso. Do seu percurso fazem parte participações em projetos de várias sonoridades, uma versatilidade que se nota em «Acreditar», com temas mais alegres e a puxar para a dança, outros mais introspetivos a fazerem-nos pensar na vida. “Tanto estou num hotel a cantar os clássicos para estrangeiros, como a seguir vou para uma casa de fados. Se cantasse apenas um estilo estaria mais limitada e dificilmente conseguia viver exclusivamente da música”, analisa a entrevistada. Para o disco muito contribuiu, entretanto, o produtor Valter Rolo, que há uns anos tinha conhecido Filipa Sousa e a desafiou de imediato para gravar um disco. “Quando decidi finalmente avançar voltei a falar com ele, enviou-me umas maquetes, preparamos quatro ou cinco temas para afinar ideias e depois passamos para a parte das letras. Foi um processo gradual sempre a ALGARVE INFORMATIVO #188

pensar em acrescentar mais-valias ao álbum e que aconteceu de modo bastante fluído”. Uma decisão que poderia ter acontecido em 2012, quando Filipa Sousa foi à final do Festival da Canção, até faria mais lógica aproveitar o mediatismo da altura para ir logo para estúdio. Mas a artista não queria gravar uma coisa em cima do joelho, aliás, tem um disco desses com fados que lhe serve apenas de cartão-de-visita para fins promocionais. “Quando as coisas têm que acontecer, acontecem naturalmente, não as devemos forçar. Em 2017 sentia-me saturada com o que andava a fazer, precisava ter algo meu”, explica, embora «Acreditar» tenha apenas um tema da sua própria autoria. “Gosto de escrever quando as ideias fluem livremente, se fico bloqueada com uma palavra começo logo a estressar e ponho a escrita de lado”, justifica, daí que apenas o seu «Nossa Senhora da Orada» faça parte do elenco do disco. “Há dois ou três anos, quando cantei nas Festas de Homenagem à Nossa Senhora da Orada, acordei na véspera do ensaio geral com a ideia e a melodia na cabeça. Saiu simplesmente”, recorda, não escondendo a paixão que sente pela sua terra. Filipa Sousa admite que viver em Lisboa facilita, em certos aspetos, a carreira de um artista, devido à proximidade aos centros de decisão, aos estúdios de gravação, às televisões, mas a concorrência também é muito maior e mais feroz. “Estou tão bem em Albufeira, consigo ter uma vida 52


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descontraída, longe da confusão. Quando é necessário vou cantar a Lisboa e ao Porto, até ao estrangeiro, temos o aeroporto mesmo aqui ao lado”, afirma, garantindo que a sua principal preocupação foi gravar um disco com que se identificasse, que lhe tocasse fundo na alma, que sentisse que era seu. “Claro que há uma preocupação em ter um álbum heterogéneo, com músicas mais calmas e outras mais mexidas, o que depois se torna uma mais-valia nos concertos. Mas o meu objetivo era gostar dos temas, só assim é que depois os consigo cantar realmente com paixão, com alma”, assegura. Deixadas as hesitações para trás, Filipa Sousa investiu forte, emocional e financeiramente, o que a tornou também mais exigente, mas encontrou uma equipa fantástica à sua espera nos estúdios do Montijo. “Senti que podia confiar plenamente no Valter e confiei nos seus conselhos em termos de músicos e letristas. E com os nomes que ele me disse, nem sequer pensei duas vezes. Tinham a partitura na frente com a estrutura base das melodias e criaram no momento, sempre tendo em conta as minhas opiniões”, recorda. E assim nasceu «Acreditar», denotando-se uma preocupação em que as letras não falassem de assuntos demasiadamente óbvios, do amor como o encontramos retratado em milhares de discos. “Queria uma abordagem diferente ao amor e foi isso que tentei transmitir ao Paulo Abreu Lima, que assinou o «Acreditar», «Há lá coisa bem melhor» e o «Diz que Diz». O Pedro da Silva Martins, dos Deolinda, também escreveu dois temas, o 55

«Miradouro, o Filme» e o «Depois», uma das canções mais profundas do disco”. Nomes conceituados, tanto a escrever as letras como a compor as músicas, o que traz mais responsabilidade para Filipa, reconhece, com um sorriso tímido. “Fiquei muito contente por aceitarem tocar no meu disco, por acreditarem neste trabalho. Os letristas escrevem para Mariza, Ana Moura, Raquel Tavares, Cristina Branco, os músicos acompanham alguns dos melhores artistas do país, foi uma grande satisfação tê-los ao meu lado. Já sou muito perfecionista por natureza, mas ainda fiquei mais exigente comigo próprio”, admite, enquanto bebericava um chá de frutos vermelhos numa manhã ensolarada de Albufeira.

“SE DER PARA IR, VOU, MAS COM OS PÉS FIRMES NO CHÃO” Com o disco na mão, Filipa Sousa não nega o orgulho, a emoção, o sentimento de ter concretizado um sonho, num processo em que as expetativas foram sempre sendo superadas à medida que as diferentes fases iam evoluindo. “Queria gravar um disco da melhor maneira possível, mas nunca tinha imaginado ter comigo estes nomes, ser algo desta dimensão. A certa altura o Valter disse-me que um tema pedia uma orquestra de cordas, eu só pensava que o orçamento já estava a ultrapassar o limite que tinha estabelecido, mas depois de ouvir como ia ficar a canção, desatei a ALGARVE INFORMATIVO #188


agora, um concerto completo, vai ser uma experiência nova que me vai desafiar os nervos. Mas vender espetáculos é bastante difícil, até porque os managers só querem pegar em produtos já feitos, em nomes conceituados”, lamenta Filipa Sousa.

chorar. Independentemente do que venha a acontecer daqui para a frente, estou tremendamente orgulhosa deste disco, valeu a pena esperar por este momento”, garante a albufeirense. «Acreditar» já está disponível nas várias plataformas digitais e nas lojas físicas, agora começa a fase da promoção, de marcar concertos, uma verdadeira luta num mercado onde não param de aparecer novos artistas e onde os «dinossauros» continuam a recolher as preferências dos agentes, produtores e organizadores de eventos. “Estava focada no espetáculo de apresentação, no dia 23 de fevereiro, no Auditório Municipal de Albufeira e, de repente, a Antena 1 quis-me para um concerto ao vivo, com os músicos todos, no dia 31 de janeiro, que depois passa também na televisão. Já cantei um ou dois temas em direto para a televisão, ALGARVE INFORMATIVO #188

Independentemen te dessa dificuldade porque passam a grande maioria dos músicos, ficou o bichinho para continuar a produzir coisas novas, mas não para já, porque gravar um disco é um investimento avultado e há que recuperar primeiro o dinheiro aplicado em «Acreditar». “Espero que isso aconteça, e o mais rápido possível, mas irei lançar um single ou outro com regularidade. Gosto muito de sonhar, mas continuo a ter os pés bem firmes na terra. Gosto imenso do disco, tenho tido um bom feedback das pessoas que o ouviram antes de ele ser lançado, mas não sei como o grande público vai reagir”, declara. “Se der para ir, vou, se o caminho se abrir, não hesito, mas degrau a degrau e sem perder o contato com o chão”, acrescenta, em final de conversa, até porque tinha outra entrevista agendada e ensaios para o concerto da Antena 1. 56


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MARIA RUEFF TROUXE ZÉ MANEL TAXISTA AO TEATRO DAS FIGURAS E O PÚBLICO VIBROU EM DOSE DUPLA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Algarve Informativo® e Irina Kuptsova

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é Manel Taxista viajou pela primeira vez de Lisboa até Faro, no dia 26 de janeiro, e a loucura instalou-se no Teatro das Figuras com esta comédia com brilhantina que assinala os 20 anos de existência da conhecida personagem criada por Maria Rueff. Uma comédia em jeito de espetáculo musical onde, para além da protagonista, brilham FF, Rafael Barreto, Ruben Madureira, Sissi Martins, Filipe Rico, Marta Mota, Sara Martins, Tiago Coelho e João Maria Pinto, com a música ao vivo a cargo de André Galvão (baixo/guitarra), Artur Guimarães (teclado) e Tom Neiva (bateria/percussão).

Fonseca, Mário Botequilha e Rui Cardoso Martins, «Zé Manel Taxista, Uma Comédia com Brilhantina» retrata as aventuras de uma das figuras mais emblemáticas da comédia portuguesa das últimas décadas, com Maria Rueff a mostrar-nos o que vai acontecendo no dia-a-dia deste taxista, pai de família e ferrenho adepto do Benfica. Um taxista que, devido ao boom turístico que tem acometido a capital portuguesa no passado recente, já não reconhece os cantos-à-casa da «sua» cidade, o que o deixa tremendamente arreliado. E pior fica quando descobre que o filho se tornou condutor da Uber aos fins-desemana e anda a passear com as amigas estrangeiras por Lisboa… num tuktuk.

Com encenação de António Pires e textos de Maria João Cruz, Filipe Homem ALGARVE INFORMATIVO #188

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CINE-TEATRO LOULETANO DEIXOU-SE ENCANTAR COM O NOVO ESPIRITUAL DE PEDRO ABRUNHOSA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Algarve Informativo® ALGARVE INFORMATIVO #188 ALGARVE INFORMATIVO #188

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epois do fantástico concerto protagonizado em maio de 2017, na altura com o Trio de Jazz de Loulé, Pedro Abrunhosa regressou ao Cine-Teatro Louletano, no dia 31 de janeiro, no âmbito do 31.º aniversário da elevação de Loulé a cidade, para apresentar o seu mais recente álbum, «Espiritual», que nos remete para a ideia nuclear do indivíduo que se questiona, mas é também uma sugestão sobre o momento atual do mundo. “Vivemos um período de profunda agonia espiritual. A palavra espírito, na sua génese, quer dizer força vital. Uma palavra que está associada ao início do pensamento não mitológico, que faz uma clivagem entre ALGARVE INFORMATIVO #188

o pensamento reflexivo e o nãoreflexivo. Portanto, espírito não é apenas uma coisa religiosa. Para mim, é a atitude perante a profundidade, a diferença entre o ser e o parecer”, explica o autor, compositor e músico. Produzido por João Bessa e Pedro Abrunhosa, «Espiritual» conta com várias parcerias de luxo, casos da mexicana Lila Downs, da norteamericana Lucinda Williams, da francesa Carla Bruni, das portuguesas Ana Moura e Elisa Rodrigues e do brasileiro Ney Matogrosso. Também o percussionista inglês Karl Van Den Bosche e o guitarrista norte-americano Greg Leisz emprestam o seu talento a este disco. No entanto, tais colaborações não subiram ao palco do 70


Cine-Teatro, nem marcarão presença nos concertos que se seguirão, uma situação perfeitamente natural para o músico. “Se começamos a pensar no disco em função dos concertos, hipotecamos muita coisa. O processo deixa de ser genuíno e vais-te reprimir nas letras, na extensão ou na forma, o que não faz qualquer sentido. As canções já existiam antes da Carla Bruni ou da Lucinda Williams e agora é lidar com essa realidade, ensaiando diariamente”, argumenta Pedro Abrunhosa. E foi precisamente o resultado desse trabalho apurado de quase dois anos e das gravações quase diárias com os «Comité

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Caviar» que Abrunhosa trouxe a Loulé em absoluta estreia a sul do novo álbum. 15 canções que ganharam vida plena no palco do Cine-Teatro Louletano, a que se juntaram, como é óbvio, os eternos êxitos da longa carreira do artista portuense. Como já é costume, Pedro Abrunhosa «partiu a louça toda», com a sua conhecida irreverência e boa-disposição, colocando o público de pé a cantar os refrões dos seus eternos sucessos, mas também dos novos temas. E nem a recente polémica em torno da Caixa Geral de Depósitos escapou à língua afiada do nortenho .

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«ARTISTAS UNIDOS» RECRIARAM EM FARO UM DRAMA ITALIANO VIVIDO NA NOVA IORQUE DOS ANOS 50 DO SÉCULO XX Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Algarve Informativo®

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ciclo «No Teatro às Quintas» do Teatro das Figuras iniciou a temporada de 2019, no dia 31 de janeiro, com a fantástica peça «Do Alto da Ponte», uma produção dos «Artistas Unidos» protagonizada por Américo Silva, Joana Bárcia, Vânia Rodrigues, António Simão, Bruno Vicente, André Loubet, Tiago ALGARVE INFORMATIVO #188

Matias, Hugo Tourita, Gonçalo Carvalho, João Estima, Hélder Braz, Inês Pereira, Romeu Vala e Miguel Galamba. Encenada por Jorge Silva Melo, «Do Alto da Ponte» de Arthur Miller conta a história de um estivador de Nova Iorque confiante do seu lugar na classe trabalhadora do bairro de Brooklyn. Eddie Carbone vive pacatamente com a mulher Beatrice e a sobrinha desta, a órfã Catherine. Um tranquilo quotidiano 82


que muda quando concorda em receber os primos Marco e Rodolpho, emigrantes vindos de Itália que entram nos Estados Unidos clandestinamente à procura de um futuro melhor. Se Marco se relaciona bem com Eddie, por ambos serem típicos machistas, Rodolpho, que canta, dança e costura, tem um convívio mais turbulento com Eddie e tudo se complica ainda mais quando se apaixona por Catherine. Eddie, à boa 83

moda dos sicilianos, entende que precisa defender a honra da família e denuncia os sobrinhos às autoridades. O enredo avança e expõe um negro segredo desta família, com a suspeição, o ciúme e a traição a instalarem-se rapidamente neste drama passional de um Arthur Miller visivelmente desiludido com a política norte-americana, numa época em que a caça às bruxas do MacCarthismo percorria com uma força redobrada os Estados Unidos da ALGARVE INFORMATIVO #188


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«CHOQUE FRONTAL AO VIVO» É MUITO MAIS DO QUE UM SIMPLES PROGRAMA DE MÚSICA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Algarve Informativo® e Vera Lisa ALGARVE INFORMATIVO #188

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programa de rádio «Choque Frontal ao Vivo» comemorou, no dia 25 de janeiro, o seu segundo aniversário com um convidado de peso, António Manuel Ribeiro, carismático líder dos UHF, motivo mais que suficiente para o espaço do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão esgotar, uma situação, aliás, que já vem acontecendo com bastante regularidade, de acordo com Ricardo Coelho e Júlio Ferreiro. Uma dupla que se juntou, em 2017, porque ambos são apaixonados por rock e pela rádio. “Tudo surgiu da simples vontade de fazermos qualquer coisa diferente e ao vivo”, diz-nos Ricardo Coelho, que há largos anos é o responsável pelo programa «Choque Frontal» da Rádio Alvor FM. “Eu tinha acabado de fazer uma gala para os bombeiros, em

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novembro de 2016, decidimos explorar esta ideia e começamos logo a falar com o TEMPO para utilizarmos a Black Box, uma sala com capacidade para 30, 40 pessoas. Fomos juntando isto e aquilo e chegamos a um formato que, para além da música, dá lugar a outras artes”, prossegue Júlio Ferreira, que dinamiza o programa «Roquivários». Às artes somaram-se também os vinhos e os doces regionais para um convívio no final da gravação ao vivo do programa, de modo a que o público pudesse conviver, de uma forma intimista, com os artistas, num ambiente quase de tertúlia. A primeira sessão aconteceu, então, a 25 de janeiro de 2017, com a participação desde o início do artista plástico João Sena, numa experiência radiofónica, gastronómica e vinícola que a todos agrada. “O objetivo era convidar uns

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amigos, passarmos um bocado engraçado e fazermos um programa de rádio ao vivo diferente do que existia. Contudo, do pensar à prática, a ideia avançou uns passos largos, mesmo sem sabermos se iria funcionar”, recorda Ricardo Coelho, confessando que sair do estúdio da Alvor FM para o Teatro Municipal de Portimão foi uma sensação estranha. “Uma coisa é estarmos fechados dentro de quatro paredes, outra é apresentarmos um programa com o público pela frente. Esta rádio, por acaso, já teve um estúdio virado para o exterior de um centro comercial e também era esquisito ter as pessoas na rua com o rosto colado ao vidro a verem o que estávamos a fazer. A rádio, normalmente, é algo fechado, falamos para muitos sem termos a noção de 93

quem está do outro lado. Ao vivo é completamente diferente”, confessa Ricardo Coelho. Outra diferença evidente é que, ao vivo, não há espaço para corrigir enganos, embora o programa seja gravado, normalmente, à sexta-feira e vai para o ar ao sábado. “Há a possibilidade de se editar e cortar algumas coisas, mas não é isso que fazemos, vai para o ar praticamente como acontece em tempo real”, assegura Júlio Ferreira. E a adesão imediata dos portimonenses ao formato implicou a mudança da Black Box para o pequeno auditório do TEMPO, com capacidade para 125 pessoas. “Os convites estão sempre esgotados e apenas ficamos um pouco tristes ALGARVE INFORMATIVO #188


Júlio Ferreira, António Manuel Ribeiro e Ricardo Coelho (Foto: João Figueiras)

quando algumas pessoas depois não aparecem à última hora, o que deixa de fora outras que queriam assistir e não o puderam fazer. São aspetos que temos que gerir e, com o José Cid no primeiro aniversário e o António Manuel Ribeiro no segundo, a procura foi imensa, praticamente podíamos encher o grande auditório. Mas só o faremos, no dia 16 de fevereiro, com o projeto «O Sul de José Afonso», e na gala de entrega dos Prémios «Choque Frontal ao Vivo», a 9 de março”, adianta Júlio Ferreira. E se os programas gravados ao vivo para a televisão implicam uma logística tremenda, com mil e um técnicos a correr de um lado para o outro, entre os quais uns a sentarem as pessoas e outros a dizerem quando se deve bater palmas ou estar em completo silêncio, no «Choque Frontal ao Vivo» tudo acontece de forma informal e ALGARVE INFORMATIVO #188

simplista. Mas os primeiros programas foram esquisitos, lembra Ricardo Coelho. “Ninguém se mexia ou batia palmas, os músicos tocavam e as pessoas não reagiam, era algo novo para todos. Tivemos que dizer às pessoas que podiam estar à vontade, relaxadas, não convinha era gritarem. É tudo feito de uma maneira bastante descontraída”, descreve o locutor. “Queremos que as pessoas tenham uma experiência diferente e que participem, não se limitem a ser espetadores”. Músicos convidados que, na sua maioria, são do Algarve, e com projetos de originais, mas à medida que o programa foi crescendo em termos de notoriedade, começaram a chegar convites e propostas de outros pontos do país. “Já temos o «Choque Frontal 94


ao Vivo» marcado até outubro e não queremos fechar já novembro e dezembro para dar espaço a alguma ideia que, entretanto, possa surgir”, indica Júlio Ferreira, revelando ainda que haverá, em 2019, duas saídas do TEMPO, no seguimento das agradáveis experiências que já fizeram nestes dois anos. “Numa delas, em Armação de Pêra, com a Kihmera, tivemos cerca de duas mil pessoas a assistir ao programa ao vivo. Não estávamos à espera daquilo”, confessa. “Outra saída será no Mercado Municipal de Portimão, à noite, uma forma de levarmos o programa a pessoas diferentes”.

“É COMO CONVIDAR UM AMIGO PARA IR A NOSSA CASA” Projetos de originais, com qualidade, que mereçam a pena ser mostrados ao grande público, dando-se primazia a quem está no Algarve, mas o programa há muito ultrapassou as fronteiras geográficas da 95

região, para satisfação da dupla. “Gostamos de proporcionar ao nosso público de Portimão uma noite diferente com artistas que eles veem todos os dias na televisão. Assim foi com o José Cid, o António Manuel Ribeiro, o Jorge Serafim ou o Fernando Mendes. Aliás, com o Fernando Mendes fomos recuperar uma entrevista que o pai deu em 1972, quando veio fazer uma peça de teatro no Boa Esperança, e ele ficou extremamente emocionado. Neste aniversário lançamos o desafio a uma turma de Filosofia, miúdos de 15 e 16 anos, para escolherem músicas dos UHF que lhes diziam alguma coisa e que depois colocaram questões ao António Manuel Ribeiro. Tentamos sempre introduzir aspetos novos e chamar a comunidade para participar no «Choque Frontal ao Vivo», que é muito mais do que um simples programa de música”, distingue Júlio Ferreira. ALGARVE INFORMATIVO #188


Assim vai ganhando nome e popularidade o «Choque Frontal ao Vivo», numa época em que as novas gerações ouvem menos rádio e preferem escutar música nas plataformas digitais, mas Ricardo Coelho acredita que a rádio continua a ter o seu espaço. “Há programas que acabam por levar as rádios atrás, que são mais conhecidos que as próprias estações. Há mais de 20 anos lançava CD’s do «Choque Frontal» em revistas que agora já nem existem, a Blitz e a Música & Som, os suplementos dos jornais nacionais, até as publicações para os mais novos como a Bravo e Ragazza, e lá estava um disco vindo do Algarve”, conta Ricardo Coelho. Enquanto isso, Júlio Ferreira admite a vontade de todas as semanas acontecer um «Choque Frontal ao Vivo», ao invés do programa ser mensal, mas isso implicaria outra logística e também poderia cansar o público. “Convém dizer que fazemos tudo isto a

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zero euros. Não ganhamos nada, não pagamos nada, a única coisa que conseguimos oferecer aos nossos convidados é o jantar em troca de publicidade de alguns restaurantes, e a estadia para quem vem de fora, numa parceria com a Junta de Freguesia de Portimão”, esclarece o responsável pelo «Roquivários». “Fazer uma vez por mês já não é muito fácil e se houvesse condições financeiras, nem que fosse para pagar portagens e combustível, tínhamos outros nomes da música nacional no programa”, assegura. Constrangimentos existem, claro está, mas nada disso belisca a magia que o «Choque Frontal ao Vivo» tem, frisa a dupla. “É como convidar um amigo de fora para vir a nossa casa, num ambiente familiar, é uma sala de estar onde toda a gente se diverte”, comparam. Mais formal será, porém, a

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gala de entrega dos Prémios «Choque Frontal ao Vivo», que pretende ser um agradecimento a todos quanto têm colaborado com o programa. “No Algarve existe tanta qualidade que merece ser reconhecida e desafiamos o João Sena para criar duas telas que vão funcionar como base para o troféu. Para dar maior projeção aos prémios vamos distinguir também o Melhor Álbum Nacional e a Melhor Revelação Nacional, a que se juntam o Melhor Álbum, Melhor Música e Revelação do Algarve. Mas, como o «Choque Frontal ao Vivo» não é só música, vamos entregar também o Prémio «Artes, Ciências, Cultura e Desporto» e um Prémio de Mérito e Excelência a um algarvio que se tenha destacado pela sua carreira, a nível singular ou empresa/instituição”, explica Júlio Ferreira. Definidos os nomeados em cada categoria, a decisão esteve depois a cargo 97

de jornalistas, dirigentes e profissionais ligados às várias áreas artísticas e, no início de fevereiro, serão divulgados os três mais votados, com a entrega de prémios a acontecer a 9 de março. Resta-nos então esperar pela grande noite de consagração, que deverá realizar-se no Grande Auditório do TEMPO, para conhecer os vencedores. “Este é um projeto, no mínimo, a três anos. Agora as pessoas vão estranhar um pouco o prémio, no segundo ano já haverá mais gente a votar e a aceitar com naturalidade as escolhas, no terceiro ano acredito que teremos pessoas realmente a querer conquistar o prémio, porque lhes dá visibilidade e reconhecimento pelo seu trabalho”, manifesta Júlio Ferreira. “Mas tem gerado muita curiosidade, espero que vá para a frente e que se torne num evento regional grandioso, feita por algarvios para os algarvios e com dois prémios a nível nacional”, concluem . ALGARVE INFORMATIVO #188


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TIAGO BATISTA EXPÕE «TORRE, MURO E O MUNDO» NA GALERIA TREM Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Algarve Informativo® e Irina Kuptsova

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stá patente, até 28 de março, na Galeria Trem, em Faro, a exposição «Torre, Muro e Mundo» de Tiago Batista, professor na Licenciatura em Artes Visuais da Universidade do Algarve. O artista, docente e investigador é também um dos responsáveis pela criação e dinamização da Associação 289 e nesta mostra reflete sobre as questões do desenho que têm vindo a manifestar-se no seu percurso artístico.

intrometem-se e reforçam o discurso do artista, nomeadamente na indagação e no questionamento dos limites expressivos, mas também as implicações autorais das obras, das imagens. Sabemos que esta aventura, que não é nova, e está povoada de imensos acontecimentos artísticos e também de literatura sobre o assunto, foi, portanto, sendo pensada durante parte significativa do séc. XX, e continua assim a ser parte do problema, que no caso não é só do

De acordo com Pedro Cabral Santo, diretor da Licenciatura em Artes Visuais e orientador do projeto de doutoramento em Comunicação, Cultura e Artes de Tiago Batista, esta é uma exposição inequivocamente associada à sua tese de Doutoramento «Uma Máquina, Mil Desenhos». “As questões do Desenho, e há muito que elas estão presentes no trabalho do artista, representam e alimentam/alinham o seu território artístico. Questões que se dispersam por entre «a necessidade expressiva» e «o meio adequado», ou melhor, como se pensam e realizam as imagens artísticas? E, no caso, Tiago Batista vai mais longe, pois nesta equação estabelece ainda um limite de cumplicidade – associa a todo o processo, já de si muito complexo, uma máquina que «ajuda a desenhar»”. Não se trata, porém, de uma máquina que ajuda a realizar desenhos do ponto de vista técnico, como é caso do pantógrafo, da câmara clara ou das redes perspéticas, esclareceu Pedro Cabral Santo. “É uma máquina capaz de tomar decisões, e de estabelecer novidade. Estes desenhos ALGARVE INFORMATIVO #188

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Desenho, mas de toda a produção artística em geral. Mas é o Desenho que parece ser a força motriz, o alimento da veracidade do problema”, analisa o orientador do projeto de doutoramento em Comunicação, Cultura e Artes de Tiago Batista que, com «Torre, Muro e Mundo», “põe-nos então entre duas latitudes: por um lado, um imenso desenho realizado através de fita colorida, que impõe uma ordem do fazer oficinal, um compromisso com a tradição – desenhos que obedecem à vulgata laboral; por

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outro, nas paredes laterais, dois conjuntos de desenhos, os tais que são cúmplices de uma atividade realizada entre o corpóreo e o maquínico”. A exposição insere-se na programação do Curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve para a Galeria Trem, com o apoio do CIAC, da FCT e da Câmara Municipal/Museu Municipal de Faro .

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OPINIÃO

Não ligues… é artista! Paulo Cunha (Professor) o longo da minha vida, já perdi a conta das inúmeras vezes que ouvi frases do género: “Não ligues… é artista!”, “Olha… aquele tem a mania que é artista!?”, “Saíste-me um belo artista!”, “Dá-lhe o desconto, pois é artista!”, “Não bate bem, deve ser artista!”, etc. Enfim… frases proferidas «da boca para fora» e que denotam que quem as profere, como em tantos outros assuntos, toma o todo pela parte, generalizando o que não devia e dando azo à criação de novos mitos urbanos. Estando a história pejada de situações deste género, tornou-se natural referenciar determinados comportamentos como normais, aceitáveis e até desculpáveis para determinados estratos socioculturais e socioprofissionais. Um artista é geralmente definido como uma pessoa envolvida na produção e criação artísticas. No entanto, essa definição tem-se alterado ao longo dos séculos e nas diversas culturas, uma vez que está diretamente ligada ao conceito de arte, igualmente controverso e mutável. Assim sendo, será fácil enquadrar o que se entende por artista dentro de parâmetros fixos e de valor universal? Depois de ouvir tantas opiniões díspares sobre o que é a arte e os seus mentores, criadores e executantes (artistas), resolvi pesquisar nos vários dicionários que se encontram hoje ao dispor na internet qual é a definição de artista. Tal procura, mais uma vez, ALGARVE INFORMATIVO #188

reforçou a descoberta das possíveis causas que estarão na génese dos variados tipos de discriminação e estigmatização que a sociedade tem face aos artistas. Se não vejamos: - (substantivos de dois géneros) Pessoa que se dedica à criação estética ou a uma atividade artística. Pessoa que cultiva alguma das belas-artes. Pessoa que participa em espetáculo ou que exibe talentos ou habilidades perante um público (em circo, feira, etc.). Pessoa que interpreta uma obra musical, teatral, cinematográfica ou coreográfica. Pessoa que, dedicando-se a uma arte, se liberta das pressões burguesas. - (adjetivos de dois géneros) Que tem sensibilidade estética apurada ou que revela o gosto pela arte. (figurados) Talentoso. Manhoso. Finório. Impostor. Habilidoso. Astuto. Se para alguns lhes dá jeito a etiqueta «Artista» que certos setores da sociedade lhes carimbam na testa, dando-lhes uma certa aura de loucura consentida, permitindo-lhes assim uma maior condescendência e aceitação perante certos devaneios e excentricidades, para outros esses rótulos acabam por ser discriminadores, inibidores, redutores e até castradores perante as suas reais e potenciais capacidades. Jamais me esquecerei das divergências e desacordos que mantive com Pedro 112


que fui ouvindo durante a juventude que me deram alento para mostrar - na prática - que ele estava errado. Quem me dera tê-lo agora entre nós para, com agrado, lhe mostrar o que quatro músicos/professores conseguiram fazer na área da gestão cultural e artística. Seria com grande prazer e orgulho que o receberíamos no Conservatório de Música de Olhão, uma casa com o mesmo espírito que ele e a sua esposa, Maria Campina, imprimiram nos primeiros anos do Conservatório Regional do Algarve - Faro. Mais uma vez o tempo ensinou-me que não adianta ripostar palavras vãs quando é nas ações que reside a verdade!

Ruivo, um dos fundadores do Conservatório Regional do Algarve. Sempre mantivemos um grande respeito e educação um pelo outro, mas tal não nos impedia de vincar a nossa posição. Na altura tinha idade para ser seu neto e, como tal, a deferência que por ele nutria era notória. Entre muitas outras coisas, não se cansava de proferir «aos quatro ventos» que jamais seria possível ver num músico um gestor de sucesso. Dizia que os músicos são artistas e por isso são sonhadores, «cabeças no ar», despistados, enfim: ausentes da realidade. Foram essas e outras palavras 113

Não, os artistas não são os «tolinhos criadores» que vivem num mundo à parte! Muito menos precisam que certos (pseudo) tutores os ajudem a arrumar a suposta desordem associada à criação artística. Escreveu F. Scott Fitzgerald: “Cuidado com o artista que também é um intelectual: é o artista que está a mais”. Ele, escritor, sabia o que escrevia e do que escrevia! Há muito que me confrange ver estes profissionais da arte serem tratados como meros bobos da corte, para utilização e usufruto de quem deles, através de várias formas e por vários meios, se apropria. E a vós, artistas e consumidores de arte? . ALGARVE INFORMATIVO #188


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Deus já não faz questão de ser brasileiro Mirian Tavares (Professora) “Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chamas-lhe sal da terra, porque quer que façam na terra, o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela, que tem ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar”. Pe. António Vieira

antava com um amigo suíço, homem muito viajado, artista e psicanalista, conhecedor de gente de todas as espécies e feitios, e ele dizia que durante algum tempo ouviu, sem se manifestar, as pessoas a apregoarem suas religiões. Até que um dia em que estava num táxi, numa cidade da Ásia, e o motorista não parava de falar em inferno e em desgraças por causa das pessoas que não eram da sua religião. Ele pediu para o motorista deixá-lo ali mesmo e disse que as desgraças, se ele acreditava num Deus, eram provenientes dele e do ódio que algumas religiões incitam quando deviam conclamar o amor. Eu sou menos radical, até porque, como me disse um outro amigo, odeio conflitos. E acredito, de uma forma muito particular, em Deus, ou num Deus, e fui criada dentro de um pensamento cristão. No entanto, a cada dia mais apetece-me ser como este amigo e mandar todos os que nos jogam com seus preconceitos religiosos à cara irem passear no quinto dos infernos. O Brasil vive um momento particularmente complexo, dominado por um pensamento maniqueísta, do isso ou aquilo, que não tem permitido o diálogo ou, algo mais cristão, a tolerância. Tem-se conclamado o ódio em todas as instâncias e o presidente, como forma de resolver o problema da violência, decide que é através da maior permissividade em relação ao porte de armas que tudo se vai resolver. E temos uma ministra do Estado que nunca deixou de ser ALGARVE INFORMATIVO #188

o que ela verdadeiramente é, uma ministra pentecostal, que continua a pregar para sua igreja e para o seu povo, numa espécie de neocolonialismo tropical, tomando a si o papel que outrora foi dos jesuítas – o de cristianização dos índios, querendo obrigar todos a seguirem as suas ideias e desígnios que, segundo ela, advêm do Cristo mesmo, que a visitou, de acordo com as suas próprias palavras, num pé de goiaba. Seria risível se não fosse patético e profundamente perigoso. Pe. António Vieira, que no séc. XVII esteve no Brasil e tentou pregar a palavra de Deus aos nativos, era um homem muito culto e com uma visão crítica acurada. Nos seus diversos escritos, entre cartas e sermões, deixou-nos lições que vão além do cristianismo que estava na base daquilo que ele redigiu. “O que dá e tira os reinos do mundo é o direito das armas”, escreveu Vieira que disse ainda, sobre aqueles que queriam ascender ao reino dos céus: “Queremos ir ao Céu, mas não queremos ir por onde se vai para o Céu”. E este é o grande problema daqueles que apregoam a dita palavra de Cristo, ou de Deus ou de Alá ou de Jeová e afins: acham que estão na estrada que os levará direitinho aos céus e que os outros devem segui-los, mas desconfio que eles andam a saltar etapas e a percorrer desvios. Não é possível que alguém que acredita verdadeiramente num Deus, aja como eles agem, enviando os outros para o inferno na terra com suas atitudes e preconceitos, com seus desvarios e crenças duvidosas. 114


No Sermão de Santo António aos peixes, Vieira falava dos pregadores que não estão a cumprir a sua missão e do ciclo vicioso da ganância que faz com que cada um queira engolir o outro até que não reste nada, nem 115

ninguém, para contar a história. O problema é que estes falsos pregadores ocupam, de momento, lugares decisórios e dificilmente podemos fazer como o meu amigo fez com o seu taxista: pedirmos para descer do carro, pois não nos agrada a companhia . ALGARVE INFORMATIVO #188


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Quem disse que a UP-LIT é a nova tendência literária? Adília César (Escritora) “Quis escrever um livro que fizesse as pessoas chorarem de alegria, não de tristeza. Senti que precisávamos de uma catarse”. Beth Morrey

er ou não ser UP-LIT, eis a questão desta crónica. Como cada início de ano traz algumas novidades, apresento-vos a UP-LIT, um novo género literário inaugurado pela necessidade de catarse da humanidade leitora, mas de positivismo, nas palavras de Beth Morrey, autora do aclamado livro «The Love Story of Miss Carmichael». A este respeito, Martha Ashby, da editora Harper Collins, diz: “Os leitores estão a gravitar em direcção a histórias que os façam sentir esperançosos e tranquilos em relação ao mundo. Livros que nos relembrem que nem tudo é mau”. Então, vejamos “o que nos dizem os grandes grupos editoriais”, no que respeita à crescente procura dos leitores e aos fenómenos de vendas, de acordo com uma notícia publicada na revista ESTANTE (Fnac). Ora, estando o mundo a passar por crises sucessivas, propagadas até à exaustão pelas estações de televisão e de rádio, jornais e redes sociais, a toda a hora deparamo-nos com notícias que relatam tensões: políticas, económicas, sociais. O negativismo é moeda corrente nas relações e na comunicação humanas. Numa pessoa mais ou menos equilibrada, de um modo geral, a psicologia faz o seu trabalho e instiga à procura de contrapesos para suportar todo esse negativismo. Assim, as pessoas procuram os seus paraísos interiores, os tais refúgios por vezes encontrados nos territórios da dita «sociedade do espectáculo» - a música comercial, o filme cómico, o teatro de revista, a literatura de cordel. Até aqui, nada a opor: cada um procura o que lhe falta em determinado momento catártico da sua vida. Analisando agora o que acontece na cena ALGARVE INFORMATIVO #188

literária, verificamos que é nesta fronteira do entretenimento que aparece a «nova ordem» (?) de oferta-procura dos títulos em destaque nas grandes superfícies, a UP-LIT. O conceito é uma apropriação literária de «uplifting», termo em inglês que significa «inspiradora» ou «edificante», e diz respeito a narrativas que exploram temas sombrios, mas num tom optimista pautado pela esperança, do tipo «corre tudo mal mas vai acabar tudo bem sabe-se lá como»; os protagonistas lutam para superar as suas adversidades e «inspiram» os leitores a seguirem o exemplo: uma espécie de conto de fadas dos tempos modernos com intenções aforísticas de conteúdo duvidoso à mistura. Estes romances de auto-ajuda e de crescimento pessoal, para terem muito êxito, precisam de uma premissa que estará ao alcance da maioria dos escritores: a história deve ser contada através de frases simples e fáceis de entender pelos leitores que apenas querem divertir-se com a leitura, não pretendendo, de modo algum e por oposição, entregar-se à obra difícil, de ideias e conceitos, que os obrigue a pensar. Porque para pensar, estão aí os «outros» – os intelectuais, os filósofos, os escritores chatos, que terão, espero eu, os seus próprios leitores. A ideia dos romances «feel good» não é nova. Um dos grandes êxitos a nível mundial, geralmente consagrados pela versão cinematográfica da obra, foi «Um Homem Chamado Ove», de Fredrik Bachman, publicado em 2012. Seguiram-se outros exemplos: «A Improvável Viagem de Harold Fry», de Rachel Joyce; «A Educação de Eleanor», de Gail Honeyman; «Lincoln no Bardo», de George Saunders; «A Tua Segunda Vida Começa Quando Percebes Que Não 116


Terás Outra», de Raphaëlle Giordano; «O Homem que Foi para Marte Porque Queria Estar Sozinho», de David M. Barnett; «Como Parar o Tempo», de Matt Haig. E muitos, muitos outros já traduzidos para português, facilmente encontrados numa Fnac perto de si. Mas agora eis a questão: ser ou não ser UPLIT? Queremos realmente ler esses livros que contam histórias tão extraordinárias e que foram publicados para serem sucessos de vendas? Os que se lêem de um fôlego, os que são tão bonitos e comoventes, os que são cor117

de-rosa, os que são de fácil leitura até para um adolescente, os que distraem, os que são arrebatadores, os que são hilariantes e encantadores, os que servem de divã terapêutico? Já se percebeu o tom destas obras, não é necessário ir mais além. Aliás, basta ler as críticas pejadas de adjectivos da imprensa de referência e as badanas dos próprios livros – marketing de vendas falacioso - para ficarmos «convencidos» da sua relevância na montra literária: assombroso, original, comovente, inspirador, envolvente. E sobre quem escreve, a informação ainda é mais exuberante, pois o leitor poderá ler na badana de cada livro um veredicto definitivo sobre o lugar que aquele autor ocupa na hierarquia literária, geralmente algo como «um dos mais promissores escritores da actualidade», «um escritor incontornável», etecetera. Cada livro é «o livro» que o leitor tem de comprar compulsivamente, através da instrumentalização psicológica do conteúdo da respectiva badana. Os leitores querem ser informados sobre os livros em que vão gastar o seu dinheiro, mas não querem ser enganados. Então porque nos contam tantas mentiras? Em resumo: se alguém falar de um livro ou de um autor é para sugerir que é «o melhor livro» escrito pelo «melhor escritor» (a sério que é?...). Ser UP-LIT? Não, muito obrigada . ALGARVE INFORMATIVO #188


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Do Reboliço #24 Ana Isabel Soares (Professora) “Entretanto lembro-me de exemplos, lembro-me de histórias. Tantas e variadas, todas afinal imprescindíveis. Não apenas pela circunstância de terem acontecido, o que já revela uma necessidade qualquer, mas também por essa qualquer coisa, ainda que pouca, que possam ter trazido ou acrescentado. Esse indispensável pouco, esse não desdenhável quase nada”. Rui Caeiro, Acabamentos de Primeira (2014)

uando em janeiro vem, no Sul, a parte do Inverno que é mais fria e seca, em que o sol brilha a enganar a pele e arrefece – em vez de aquecer; quando no céu há um farrapo de nuvem, se tanto, e o mais é azul, e são poucos os pássaros a acoitar-se nas árvores, de despidas, rebentam, nas pontas dos ramos fininhos das amendoeiras, que a tal na seiva as incita a natureza, as flores. Algumas carregam mais as árvores, saem aos cachos, atropelando-se e amachucando as pétalas que engrandecem. Mas noutras amendoeiras percebe-se o cinza do esqueleto ramal, dedos, como se fossem, de uma mão muito magra e ressequida que pedisse a abertura de uma flor, pétala a pétala, daquele nó que, do assento embolado, se atira para o extremo em ponta e se rasga, tão lentamente, até desdobrar o branco, o pálido, o rosa, a pequena roupagem verde, e estoirar, ao centro, em estame e pólen. Não existe história nenhuma numa amendoeira em flor. A floração vai repetirse, iguala os dias e nega, por essa iteração, a surpresa. And yet – pensa o Reboliço, nessa estranha língua: and yet, e apesar disso... Apesar disso, não há ano, não há florescência que não seja como a primeira, a irrepetível, aquela em que a árvore se pesa a si mesma e, em pasmo, se descobre tombada, caída de tanta flor. São um festim nas tardes de janeiro. O Reboliço sai da casa, ALGARVE INFORMATIVO #188

vai pelas estradas (que agora são ruas largas) de déu-em-déu, caminha na berma para não se ser apanhado por carro nenhum, e olha para dentro, para os campos. É ali que estão as amendoeiras mais carregadas, as que ganharam mais flor de ontem para hoje, porque o sol enganador foi mais feroz, sobre as mais brancas ou as mais rosadas, ou a água da noite ali pousou com mais mansidão, nuvem rarefeita. Lembras-te, Reboliço, quando saíste com uma turma de moços da escola, há muitos anos, era um dia assim frio, e os viste patear o caminho entre os valados de pedra, velhas estradas romanas onde já ninguém passa (que eram ruas estreitas), chegar a um campo iluminado de amendoeiras em flor e vê-los desenhar? Lembras-te, Reboliço, da voz da Dona Antónia a explicar-lhes porque era importante que as desenhassem à vista – que olhassem para onde elas estavam, nos troncos, sem as arrancarem aos ramos, que cada flor viria a dar uma fruta, ficar só com folhas, cinza e verde, e acabar por arredondar, alongar, pontear, brotar, amendoando? (Lembras-te, depois, de cada um destes frutos ainda nos ramos, finada a beleza do branco e do rosa, na vingança do cinza esverdeado de casca dura e continente.?) História nenhuma. Não se manifestam em bloco estas árvores: esparsamente, florescem à bruta ou ruborescem entre outras de ramos vazios. O Reboliço deita-se por cima da terra humedecida, cor escura de 118


Foto: Vasco Célio

tijolo, e olha para cima. Vira o focinho para o lado e alcança outra árvore, espampanante, em que as folhas verdes substituíram pétalas: metade dos troncos têm joias verde escuras, metade brincos de flores. Uns dias mais e todas ficarão da mesma cor. Conseguirá alguém recordar o que sentiu a princesa nórdica quando olhou para a terra pintada do branco rosado? Pela lembrança do canito passam, isso sim, nomes de terras 119

– pouca terra – onde hoje se consegue ver mais do que só uma ou outra árvore desgarrada: Quartos. Poço Novo. Alfarrobeira. Campina. Alto do Relógio. Vale de Rãs. Palhagueira. Goncinha. Agostos. Como se fosse Verão no Inverno cheio . *Reboliço é o nome de um cão que o avô teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #188


OPINIÃO - Tudo em Particular e Nada em Geral

Roupa bem amada, roupa bem educada Carla Serol (Uma Loira Qualquer) os últimos dias, fomos tomados pela história de uma inspiradora senhora, que nos ensina a amar a nossa roupa como se do próximo se tratasse. Marie Kondo, de seu nome, é responsável por toda uma nova doutrina que consiste em amar as nossas peças de vestuário e delas retirar amor e energias positivas. Defende que as nossas peças de vestuário devem ser amadas, para que possam elas retribuir esse amor e essa energia quando as usamos. Basicamente, devemos pegar com carinho nas nossas camisolas, dizer-lhes de forma fofinha que estamos tremendamente apaixonados por elas. Ao fazer isto, as camisolas falarão connosco, transmitindo de volta boas energias, fazendo-nos sentir bem com a vida. Se isto não acontecer, nem pestanejem, fora com essa maldita camisola mal educada e ingrata! Começo assim a imaginar o reboliço que deve haver dentro dos roupeiros por este mundo fora, com as peças mal amadas carregadas de inveja das peças felizes e preenchidas de luz e energia. Já estou a vê-las a falar entre si: “Oh Parka amarela, já viste a irritante da camisola de gola alta azul petróleo com a mania que assenta melhor do que nós, no corpo da nossa humana?! Coitada, tem a mania que é boa!”. Ou então: “Olha bem para aquele par de calças de ganga rasgados, a julgar-se mais do que nós Corsários?! Se não fossem os tratamentos durante as lavagens que a humana lhes dá, queria ver se tinha aquela mania toda?!”. E até mesmo: “Aquela t-shirt de folhos anda sempre toda bandeada! Não achas Top de Alças?! Sempre com os folhos no ar e com ar de feliz! Pensa que é gira coitada!”. Deve ser terrível viver dentro de um roupeiro carregado de peças de roupa com défice de atenção, sem brilho próprio, alegria e que nada transmitem de positivo a quem as usa. São peças apagadas, que nada fazem por si para brilhar e saltar à vista, por forma a serem mais ALGARVE INFORMATIVO #188

apelativas, mais usadas e consequentemente mais amadas. Ali ficam, escondidas na mais recôndita e escura prateleira do roupeiro, amargas e sem chama, mas sempre prontas para criticar o brilho incomparável e feliz das peças preferidas! Estas, por sua vez são gratas pelo amor que recebem, pela oportunidade de sair do roupeiro com maior frequência, por serem opção com maior regularidade. Rejubilam brilho e alegria aos humanos que as usam. São leves e de bem com a vida, mesmo que já tenham sido centrifugadas na lavagem a três mil e novecentas rotações e de lá terem saído feitas num trapo! Depois de terem sido esquecidas durante meses na gaveta sem que ninguém se lembrasse que existiam. Depois de terem sido engomadas a alta temperatura e ficado com uma marca quase impercetível a olho nu. Ou até mesmo depois de terem sido mordidas vezes sem conta, pelas demoníacas traças, sempre prontas a ferrar! As peças amadas têm sempre essa capacidade ímpar de se regenerarem. De recuperarem o brilho tão próprio que têm, para o dar de volta como se de um espelho se tratassem! Consigo assim entender a apatia, falta de brilho, educação, atitude e caráter de muitas pessoas com quem nos cruzamos durante o dia. A culpa é do pouco amor que transmitem aos outros e da roupa mal amada que vestem! Uma peça de roupa carente é uma peça de roupa mal educada e pouco feliz. Da mesma forma que, por sua vez, uma pessoa vestida de roupa desadorada nunca será uma pessoa com encanto! Portanto, está na hora de reverem o interior do vosso roupeiro, retirem de lá as peças amargas e umbrosas que em nada cativam! Rebusquem lá bem no fundo, e tenham a coragem e a atitude de as retirar das vossas vidas… pois verão que vestidos de amor não haverá amargura sombria que entre e nem luz alheia que vos incomode! .

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ARTE URBANA DÁ COR ÀS CAIXAS DE DISTRIBUIÇÃO ELÉTRICA DO CENTRO HISTÓRICO DE ALBUFEIRA Largo do Rossio, a Rua e o Beco Latino Coelho, bem como a área junto ao elevador da Praia do Peneco, foram as primeiras zonas de intervenção do projeto «ALBU.ST.ART», que consiste na pintura e embelezamento das caixas de distribuição de energia elétrica do centro histórico de Albufeira. Ao todo, serão 32 caixas a ganhar uma nova vida pela mão do artista Flávio Pontes, conhecido por Fly, que integra a «100 Pavor», uma associação de artistas plásticos parceira do Município de Albufeira nesta iniciativa. Na segunda fase do projeto serão contempladas as caixas localizadas na Esplanada Frutuoso da Silva, Rua José Bernardo de Sousa (sobre o túnel), Praça ALGARVE INFORMATIVO #188

da República, Rua do Correio Velho (largo), Rua do Cemitério Velho, Rua da Bateria, Porta da Cidade, Praça dos Pescadores (à entrada do Pontão e junto às escadas rolantes); em frente ao restaurante «A Tasca»; e nas diversas casas de banho públicas. As caixas contam com pinturas que representam imagens e ícones alusivos aos costumes e tradições da antiga vila piscatória e incluem ainda referências ao multiculturalismo e à inclusão social que se vive no concelho. O projeto, orçado em cerca de cinco mil euros, tem como objetivo embelezar o espaço público da cidade, divulgando a história de Albufeira a residentes e turistas . 124


MUNICÍPIO E BOMBEIROS DE ALCOUTIM RENOVAM ACORDOS DE COOPERAÇÃO doentes, bem como no socorro a náufragos e apoio a outras atividades fluviais. A Associação assegura também, no âmbito do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF), e no período da Fase Charlie, o pré-posicionamento de uma equipa de combate a incêndios florestais em Vaqueiros. Câmara Municipal de Alcoutim aprovou a renovação de dois protocolos de colaboração com a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alcoutim nos termos dos quais se compromete a transferir para a instituição uma verba global no valor de 180 mil euros. Este encargo financeiro resulta da necessidade de salvaguarda dos interesses da população, garantindo a continuidade na prestação de cuidados sociais e de socorro no concelho de Alcoutim. Um dos acordos de cooperação assegura a manutenção de diversos serviços prestados pelos bombeiros, nomeadamente no combate a incêndios, proteção civil, socorrismo e transporte de 125

O segundo protocolo tem como objetivo o apoio à população nas áreas da fisioterapia, enfermagem, terapia da fala, nutrição e apoio psicossocial, bem como apoio à infância através do infantário «A Joaninha». Para Osvaldo dos Santos Gonçalves, presidente da Câmara Municipal da Alcoutim, os protocolos "constituem uma forma relevante de apoiar a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntário, estreitando relações de cooperação, ao mesmo tempo que desempenham um papel crucial na procura de garantir a qualidade e variedade dos serviços prestados pela instituição e a necessidade de salvaguarda dos interesses da população" .

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ATUALIDADE

CASA DE ODELEITE JÁ REABRIU epois do Castelo e do Posto de Informação Turística, agora na Casa do Sal, foi a vez da Casa de Odeleite reabrir, no dia 25 de janeiro. O equipamento cultural passa a estar disponível ao público todos os dias, das 10h às 13h e das 14h às 17h30. O encerramento temporário da Casa de Odeleite, bem como de outros equipamentos culturais, aconteceu na sequência do procedimento respeitante ao processo de liquidação da empresa municipal Novbaesuris (31 de dezembro de 2018), mas a Câmara Municipal de Castro Marim pretende que reabram todos brevemente, com os recursos que lhe forem disponibilizados. A Casa de Odeleite foi, nas primeiras décadas do século XX,

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um importante entreposto comercial e a casa mais rica da freguesia. Comercializava maioritariamente frutos de sequeiro, como a alfarroba, a amêndoa e o figo, mas também a azeitona e os cestos de cana, oriundos dos montes em redor da aldeia. É um edifício particular no contexto da arquitetura da Serra, ao articular uma série de casas de matriz serrenha com um edifício de dois andares e motivos Arte Nova. O equipamento está agora dividido entre um espaço expositivo e outro de restauração e centro de documentação com arquivo gastronómico, testemunhando e promovendo a gastronomia e os saberes serranos. Está também equipado com cafetaria e loja .

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«TROFÉU DIOGO LOPES» É MAIS UM PASSO NA AFIRMAÇÃO DA CANOAGEM E DAS ATIVIDADES NÁUTICAS EM LAGOA rovas de canoagem, corrida e natação integraram a sexta edição do Troféu Diogo Lopes, disputada a 26 e 27 de janeiro, em Lagoa, por cerca de 140 atletas em representação de sete clubes. A prova de triatlo permitiu compreender o nível de treino de Inverno dos atletas e foi organizada pelo sexto ano consecutivo pelo Município de Lagoa, em parceria com o KCCA – Kayak Clube Castores do Arade. A vertente de natação decorreu na tarde de sábado, dia 26, nas Piscinas Municipais de Lagoa. A prova de canoagem aconteceu no Rio Arade, com partida e chegada ao Hotel Riverside, a que se seguiu o percurso de corrida na Quinta dos Vales. O KCCA venceu a competição por clubes e o grande vencedor individual foi do Clube de Canoagem da Amora, o Júnior Tiago Henriques, que superou o também júnior Iago Bebiano do KCCA. O Troféu Diogo Lopes presta uma justa homenagem ao atleta lagoense com o mesmo nome, que em 2013 se sagrou campeão europeu e vice-campeão mundial em K1 Júnior 200 metros e que em 2015 representou Portugal, na mesma distância da modalidade, na primeira edição dos Jogos Europeus que se realizaram em Baku, Azerbeijão. Trata-se de um evento que o Município de Lagoa ajudou a 127

«nascer» em 2014, e que vem ajudando a «crescer», com o duplo objetivo de diversificar a prática desportiva no concelho e apostar na Canoagem enquanto modalidade estratégica em Lagoa. O Troféu Diogo Lopes é uma oportunidade para promover junto de clubes e atletas de todo o país as excelentes condições naturais que o Rio Arade e o concelho de Lagoa oferecem à prática da Canoagem e insere-se no terceiro eixo estratégico para o desenvolvimento do Desporto: «Lagoa Acolhe Grandes Eventos». Lagoa prepara-se ainda para receber em 2019 mais duas competições do calendário nacional de canoagem: o Campeonato Nacional de Mar, a 7 de abril; e o Campeonato Nacional de Esperanças I, a 12 de maio. No ano em que Lagoa adota a Inclusão como causa, continua também a ser reconhecida, desta forma, como Cidade Ativa e Saudável . ALGARVE INFORMATIVO #188


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PARQUE ZOOLÓGICO DE LAGOS E CÂMARA MUNICIPAL DE LAGOS QUEREM PROMOVER A LITERACIA AMBIENTAL romover a educação ambiental através da aquisição de valores sociais, conhecimentos, atitudes e competências relacionados com a conservação e sustentabilidade do meio ambiente e das espécies, é o objetivo do protocolo de colaboração que o Município de Lagos e o Parque Zoológico de Lagos vão celebrar, depois do documento ter sido aprovado na última reunião do executivo lacobrigense de 23 de janeiro. O protocolo prevê a aquisição de até mil e 700 bilhetes por ano, com um valor unitário simbólico de quatro euros, a utilizar em visitas escolares e nas atividades de projetos da autarquia, designadamente no âmbito do «Viver o

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Verão», do «Saúde em Movimento», do Gabinete de Apoio à Pessoa Idosa (GAPI) e do Conselho Municipal Sénior. Prevista fica ainda a continuidade, por parte do Município, do apadrinhamento da Ilha dos Gibões (espécie rara de primatas das Florestas da Malásia), traduzido num subsídio anual de sete mil euros, a que se soma um apoio financeiro de 10 mil e 950,90 euros para comparticipação de ações de promoção do Zoo. A aplicação da categoria «NãoDomésticos Especiais – Social» do tarifário de água e resíduos sólidos é outra das vertentes de apoio acordada, condição que permitirá ao Zoo dar

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resposta às expressivas necessidades de consumo de água do equipamento, atenuando o valor da fatura mensal a pagar. No protocolo ficou igualmente prevista a colaboração do Zoo de Lagos nas comemorações do Dia do Município, através da atribuição de um desconto de 50 por cento no valor da entrada a praticar aos munícipes residentes na área do concelho. O Parque Zoológico de Lagos, vulgarmente identificado com ZOO de Lagos, foi inaugurado a 16 de novembro de 2000, tendo vindo a afirmar-se, ao longo dos anos, como um espaço de lazer, de educação, de conservação e de proteção da fauna, de modo exemplar a nível nacional e internacional. Ocupando uma área de três hectares, é o lar de mais de 140 espécies, provenientes dos cinco continentes. Como qualquer zoo moderno, tem tido um papel ativo na conservação da

natureza, participando em vários programas de reprodução em cativeiro para espécies em perigo de extinção. Paralelamente, tem promovido ações de sensibilização dos visitantes, de modo a fomentar o conhecimento do planeta, da sua biodiversidade e urgente proteção e conservação. Pelo trabalho desenvolvido ao longo destes quase 20 anos, o Município reconhece a importante função de interesse público desempenhada pelo Zoo de Lagos nas áreas da educação, da conservação e proteção da natureza, considerando este equipamento uma mais-valia para a diversificação e qualificação da oferta turística e, consequentemente, para o desenvolvimento turístico da povoação de Barão de São João e para o equilíbrio territorial do concelho de Lagos .

SERVIÇO DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS DE LAGOS JÁ FOI ADJUDICADO rês milhões, 348 mil e 106,41 euros, acrescido de IVA, é quanto vai custar à autarquia lacobrigense a aquisição de serviços de transporte de passageiros necessária para garantir, por um período máximo de 36 meses, o funcionamento d’ A ONDA, a rede de transportes urbanos do Município de Lagos. A prestação de serviços será feita pela «Translagos -Transportes Públicos, Lda.» nos termos do caderno de encargos previamente definido, da proposta apresentada e do contrato a celebrar, o qual estipula um preço de 1,394 euros por 129

quilómetro a pagar por parte do Município, cabendo ao operador privado assegurar os 10 circuitos do serviço regular d’ A ONDA atualmente existentes, respetivos horários e itinerários, afetando para o efeito autocarros com a lotação definida (20 lugares nos circuitos com menor utilização e 53 lugares nos que têm mais procura) e condições para o acesso de passageiros com mobilidade reduzida, assim como assumindo todos os encargos inerentes (combustível, pessoal, bilhética e faturação, manutenção e limpeza, entre outros) . ALGARVE INFORMATIVO #188


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ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE LAGOS QUER CONSTITUIR UMA EQUIPA PROFISSIONAL DE BOMBEIROS er em prevenção e alerta permanente uma força mínima de intervenção operacional composta por 14 bombeiros profissionais – de modo a cumprir as novas competências emergentes da Lei e das Diretivas Operacionais da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) e dar resposta cabal às ocorrências relacionadas com a prevenção e combate a incêndios, inundações e desabamentos, outras catástrofes naturais, bem como com a proteção da vida humana, incluindo a urgência pré-hospitalar e o transporte de doentes – é o objetivo da reformulação do Acordo de Colaboração aprovada na

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última reunião da Câmara Municipal de Lagos, realizada a 23 de janeiro. O crescimento da população residente no concelho, o aumento do parque edificado e o crescente número de visitantes, com o consequente aumento do número de ocorrências, são razões igualmente apontadas pela Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lagos na fundamentação da sua nova estratégia e que pretende aumentar para 48 elementos a unidade profissional de bombeiros, ou seja, o efetivo de bombeiros operacionais. Atendendo às atribuições e responsabilidades dos municípios em

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matéria de proteção civil e ao dever de cooperação dos corpos de bombeiros enquanto agentes de proteção civil, a Câmara Municipal e a Associação Humanitária consideraram então oportuno rever os termos do Acordo de Colaboração firmado em 2007, adaptando o articulado à realidade atual e reforçando o valor anual de comparticipação financeira, a fixar em 800 mil euros, podendo ser acrescido de subsídios excecionais no montante máximo de 80 mil euros para a aquisição de viaturas, de equipamentos de socorro e de combate a incêndios que se revelem necessários. Na apresentação da proposta foi recordada a importância do

contingente de voluntários, que atualmente atingem os 90 elementos, mas que, ainda assim, não são suficientes para garantir a unidade mínima de intervenção 24 horas por dia e as exigências acrescidas colocadas, por exemplo, pelos alertas da ANPC. O novo Acordo de Colaboração apresentado pela Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lagos será ainda apreciado pela Assembleia Municipal, uma vez que cabe a este órgão municipal a competência de emissão de autorização para a sua celebração .

MOVIMENTO ASSOCIATIVO, CULTURAL E RECREATIVO DO CONCELHO DE LOULÉ JÁ SE PODE CANDIDATAR A APOIOS CAMARÁRIOS ando seguimento a uma política de promoção do desenvolvimento cultural e do aumento da participação dos cidadãos na dinâmica concelhia, estão abertas, até 31 de março, as candidaturas para o Apoio ao Movimento Associativo, Cultural e Recreativo da Câmara Municipal de Loulé referente a 2019. A autarquia louletana pretende atribuir subsídios às associações que contribuam para o desenvolvimento de um plano anual de atividades, nomeadamente nas áreas da criação, produção e divulgação, considerando ser fundamental que “esta distribuição de verbas seja feita de forma transparente, rigorosa e imparcial”. Torna-se assim necessária a utilização de critérios como o estatuto de utilidade 131

pública, historial, equilíbrio financeiro, desenvolvimento de atividade regular, valorização do património cultural do Concelho, contributo para a criação artística e formação, contributo para a promoção do concelho a nível nacional e internacional, fomento de eventos com relevância turística, contribuição das atividades para o empreendedorismo, entre outros, na escolha das entidades a apoiar. As candidaturas deverão ser apresentadas mediante o preenchimento da ficha de candidatura disponível em www.cm-loule.pt e entregues, em mão ou por correio, na Divisão de Cultura, Museu e Património, Rua Vice-Almirante Cândido dos Reis, N.º 36 – 8100 Loulé, ou por email dcmp@cm-loule.pt. ALGARVE INFORMATIVO #188


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SALAS DO PRÉ-ESCOLAR E 1.º CICLO DE OLHÃO EQUIPADAS COM MATERIAL MULTIMÉDIA Município de Olhão terminou de equipar todas as 118 salas de aula do pré-escolar e 1.º Ciclo da rede pública do concelho com sistemas de projeção, computadores, vídeo-projetores e respetivas telas ou quadros de porcelana. O investimento ascende a cerca de 89 mil euros e potencializa a integração em contexto de sala de aula de práticas educativas mais integradoras e motivadoras para os alunos. O investimento contemplou a aquisição de 100 vídeo-projetores, 30 telas e 33 quadros de porcelana, ficando assim completa uma etapa que o Município se propôs alcançar, apetrechando todas as 27 salas do pré-escolar e 89 do 1.º Ciclo com

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estes equipamentos. “Este é mais um passo que se dá no sentido de motivar os nossos alunos para uma aprendizagem mais dinâmica, interativa e motivadora, indo ao encontro dos seus interesses. Por outro lado, é uma forma de tentarmos dar resposta às necessidades que atualmente se encontram intrínsecas no desenvolvimento das práticas educativas, levadas a cabo pelos nossos professores, que diariamente têm de dar resposta a um variadíssimo número de exigências, tendo de superar dificuldades pedagógicas, organizativas, mas também sociais”, refere o presidente da autarquia, António Miguel Pina .

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NAU HOTELS & RESORTS TEM TRÊS UNIDADES NO TOP 25 DOS MELHORES HOTÉIS PARA FAMÍLIAS EM PORTUGAL

om base nas avaliações feitas pelos seus utilizadores, o Tripadvisor, o maior site de viagens do mundo, acaba de conceder à NAU Hotels & Resorts várias distinções de satisfação e qualidade, atribuindo o Certificado de Excelência 2018 a seis unidades do grupo e reconhecendo outras três unidades como dos melhores hotéis para famílias em Portugal. As unidades Salgados Palm Village, Salema Beach Village e Salgados Palace foram reconhecidas com o Prémio Travellers Choice 2019, integrando o Top 25 melhores hotéis para Famílias em Portugal. Localizadas na região do Algarve, os três hotéis reúnem as melhores condições para uma escapada ou férias em família. Na Herdade dos Salgados, o Salgados Palm 133

Village e o Salgados Palace disponibilizam uma oferta completa para responder às necessidades de todas as famílias, quer ao nível de condições de alojamento, restauração, entretenimento e lazer, mas também do ambiente envolvente e do serviço dedicado e personalizado. Por seu lado, o Lago Montargil, Palácio do Governador, Salgados Dunas Suites, Salgados Vila das Lagoas, São Rafael Atlântico e uma vez mais o Salema Beach Village conquistaram o Certificado de Excelência do Tripadvisor 2018. Calculado através de um algoritmo que leva em conta a qualidade, quantidade e atualidade das críticas e opiniões dadas pelos viajantes durante 12 meses, o Certificado de Excelência da TripAdvisor é apenas atribuído aos estabelecimentos que mantenham uma pontuação geral mínima de quatro círculos (no total de cinco), sendo que as unidades têm ainda de ter um número mínimo de avaliações e estar registadas no TripAdvisor pelo período mínimo de um ano . ALGARVE INFORMATIVO #188


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SÃO BRÁS DE ALPORTEL TEM NOVA UNIDADE MÓVEL DE SAÚDE DE PROXIMIDADE Município de São Brás de Alportel apresentou à comunidade, no dia 26 de janeiro, junto ao Mercado Municipal, a nova Unidade Móvel de Saúde de Proximidade, que vai prestar serviço direto à população naquela que é mais uma importante conquista na promoção da saúde. São Brás de Alportel dispõe de serviço de Unidade Móvel de Saúde desde 2003, em resultado de uma parceria estabelecida entre a Câmara Municipal e a Administração Regional de Saúde, que é agora reforçado com esta nova viatura equipada com sofisticados equipamentos e tecnologia adequada que permitem um acompanhamento mais amplo aos utentes. A aquisição desta viatura contou com um

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investimento municipal de 75 mil euros, tendo sido cofinanciada em 85 por cento pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, ao abrigo do Programa Operacional CRESC Algarve 2020, e no âmbito de uma candidatura intermunicipal para a aquisição de novas Unidades Móveis de Saúde, adaptadas aos desafios da atualidade, apresentada pela AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve e que envolveu 10 municípios algarvios, sob coordenação da Administração Regional de Saúde do Algarve. Durante a apresentação da nova Unidade Móvel de Saúde, o presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro, evidenciou que se trata de um serviço de excelência, promotor de proximidade e prevenção que

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representa um investimento na qualidade de vida dos são-brasenses, tornado possível graças às parcerias existentes entre as várias entidades e à dedicação aos profissionais envolvidos. O momento de apresentação da nova viatura ao público contou com a presença do presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, Paulo Morgado; da Diretora Executivo do Agrupamento de Centros de Saúde ACES Central, Sílvia Cabrita; do presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve, Jorge Botelho; da Diretora do Centro Distrital da Segurança Social, Margarida Flores; de autarcas e entidades locais, assim como da coordenadora da Unidade de Cuidados de Saúde na Comunidade, UCC Al-Portellus, Cidália Palma e dos demais profissionais do Centro de Saúde de São Brás de Alportel que garantem estes cuidados de saúde junto dos munícipes com maior dificuldade de locomoção e residentes em zonas mais afastadas do núcleo urbano do concelho. “É um passo muito importante para quem vive em zonas mais isoladas”, 135

confirmou o presidente da ARS Algarve, Paulo Morgado, observando que estas novas viaturas permitem levar a essas populações um conjunto de serviço que até agora não se conseguia. “Um serviço que faz toda a diferença, principalmente para as pessoas que vão perdendo a sua mobilidade”, acrescentou o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve, Jorge Botelho. E porque a qualidade de vida e bemestar dos munícipes depende em muito da qualidade e acesso aos cuidados de saúde, o Município de São Brás de Alportel continua a investir nesta área e a estar atento às necessidades da população e às oportunidades de desenvolvimento de projeto e de financiamento. Assim, em resultado de uma outra parceria estabelecida pelo Município com o Ministério da Saúde, pretende-se que o Centro de Saúde venha a disponibilizar à população consultas de saúde oral .

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ADELINO SOARES RECEBEU PRÉMIO «PERSONALIDADE DO ANO» DA CONFEDERAÇÃO DO DESPORTO DE PORTUGAL presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, Adelino Soares, foi distinguido com o prémio «Personalidade do Ano», atribuído pela Confederação do Desporto de Portugal, durante a 23.ª Gala do Desporto, que se realizou, no dia 30 de janeiro, no Casino do Estoril. O prémio, que este ano teve como tema «Desporto para Todos», foi atribuído sob proposta da Federação Portuguesa de Atividades Subaquáticas como reconhecimento pela ALGARVE INFORMATIVO #188

prestação do município algarvio na organização do XXXI Campeonato do Mundo Pesca Submarina e na I Taça do Mundo de Pesca Submarina Feminina, que decorreu em Sagres em 2018. O evento representou um marco importante para Portugal na área das atividades subaquáticas e foi organizado pela Confederação Mundial das Atividades Subaquáticas com a colaboração da Federação Portuguesa de Atividades Subaquáticas e a Câmara 136


Municipal de Vila do Bispo. Todos os anos a Confederação de Desporto de Portugal organiza este evento, considerado como os «Óscares do Desporto Português», para comemorar com os atletas e dirigentes desportivos as suas conquistas, distinguindo, para além da personalidade do ano, os melhores desportistas da época passada nas categorias de atleta masculino, atleta feminino, equipa, treinador e jovem promessa. No decurso da cerimónia, que foi presidida pelo Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e que contou também com a presença do Secretário de Estado da

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Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, a atleta do concelho Teresa Duarte foi homenageada pela conquista do título de Campeã do Mundo de Pesca Submarina. Também Joana Schenker recebeu o prémio CNID da Associação dos Jornalistas de Desporto .

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UNIVERSIDADE DO ALGARVE ORGANIZOU TABELA PERIÓDICA HUMANA EM FARO nserida nas comemorações do Ano Internacional da Tabela Periódica, resolução da ONU e da UNESCO, realizou-se, no dia 29 de janeiro, no Parque de Lazer das Figuras, junto ao Fórum Algarve, em Faro, uma iniciativa de âmbito nacional de encenação de uma Tabela Periódica Humana. As comemorações, que também assinalaram os 150 anos da primeira Tabela Periódica dos Elementos Químicos de Mendeleiev, contaram com a participação de mais de uma centena de alunos, do 3.º Ciclo do Ensino Básico e do ALGARVE INFORMATIVO #188

Secundário, oriundos de várias escolas do distrito de Faro. Cada aluno representou um elemento químico e encontrou a sua posição na Tabela Periódica dos Elementos. Os alunos tiveram ainda a oportunidade de assistir a uma palestra sobre «Dmitri Mendeleiev e a Tabela Periódica dos Elementos no século XIX». Em Faro, o evento foi organizado pela Universidade do Algarve, com o apoio da Câmara Municipal de Faro . 138


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PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE LAGOS VISITOU CABO VERDE convite do Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago – Cidade Velha, Maria Joaquina Matos, presidente da Câmara Municipal de Lagos, e o seu Chefe de Gabinete, Manuel Martins, participaram, no dia 29 de janeiro, na Conferência Internacional «Cabo Verde e Atlântico – encruzilhada de pessoas, mercadorias e investimentos de capital (1460-1610)», integrada nas festividades do Nhu Santo Nomi de Jesus que decorrem na antiga Cidade Velha. O evento, promovido pela Câmara Municipal da Ribeira Grande, pela Associação de ALGARVE INFORMATIVO #188

Amizade Itália- Cabo Verde - KRIOL-ITÀ e pela Universidade de Cabo Verde, esta última através da Cátedra UNESCO de História e Património, contou, na sessão de abertura, com a presença do Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca. No dia 31 de janeiro, a comitiva participou na sessão solene do Dia do Município anfitrião, oportunidade para a entrega simbólica, por parte da édil de Lagos, de um cheque de 10 mil euros, correspondente ao subsídio atribuído para apoio a projetos nas áreas da cultura e da educação a implementar naquele município cabo-verdiano. 140


A visita e o apoio agora atribuído resultam do Acordo de Geminação estabelecido, em 2010, entre os Municípios de Lagos e da Ribeira Grande, através do qual ambas as edilidades se comprometeram a desenvolver vínculos permanentes para aprofundar o conhecimento das identidades culturais locais, promover o intercâmbio em atividades culturais, patrimoniais e artísticas e participar em projetos de interesse comum. Maria Joaquina Matos retribuiu, assim, a cortesia da visita que o seu homólogo Manuel de Pina, Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, fez a Lagos em outubro passado, por ocasião das Comemorações do Dia do Município lacobrigense. Pela proximidade geográfica, a comitiva lacobrigense aproveitou a ocasião para visitar também o Município de S. Miguel, igualmente situado na Ilha de Santiago, com quem existe, desde 2006, um Acordo

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de Cooperação que prevê o aprofundamento de conhecimentos relacionados com os costumes e tradições, o turismo, o planeamento paisagístico e urbanístico, manutenção e gestão dos centros históricos e promoção do desporto, áreas de interesse comum às duas realidades de gestão autárquica. Recebida pelos membros do Executivo Municipal, Joaquina Matos visitou as obras de asfaltagem em curso na cidade e no centro histórico de Porto de Calheta, assim como outros locais do concelho. Foi a oportunidade para entregar pessoalmente, a este outro município cabo-verdiano, na pessoa do seu presidente, um subsídio de 10 mil euros para apoio a projetos de renovação urbana e ambiental, infraestruturas viárias e de saneamento, que visam a elevação das condições de vida da população local .

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UNIVERSIDADE DO TEMPO LIVRE DE CASTRO MARIM PARTICIPOU EM WORKSHOP SOBRE FELICIDADE E BEM-ESTAR UTL - Universidade do Tempo Livre de Castro Marim participou, no dia 30 de janeiro, num workshop intitulado «Ser Feliz na Idade de Ouro», na Biblioteca Municipal, numa iniciativa promovida pela Câmara Municipal de Castro Marim. Cerca de 80 formandos da UTL tiveram a oportunidade de participar nesta atividade que, de uma forma prática, promoveu o desenvolvimento de um estilo de vida mais feliz e gratificante, tendo em conta as mais-valias e características da terceira idade. O workshop deu a conhecer, de uma forma simples, divertida e muito descontraída, o contributo da Psicologia

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Positiva para uma vida mais feliz. Os participantes puderam apreender novas ideias e treinar as competências num storytelling inspirador, repleto de momentos de partilha e dinâmicas de grupo. Outras ações do género serão dinamizadas para continuar a alargar o leque formativo dos alunos da UTL e a máxima interação com a comunidade, bem como aproveitar também a UTL como plataforma de promoção do potencial do território e património castro-marinense. A Universidade do Tempo Livre de Castro Marim é um projeto desenvolvido em colaboração com a Associação Odiana, num investimento estimado em cerca de 30 mil euros .

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #188

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