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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 27 de abril, 2019

«COLLECTIVE LOSS OF MEMORY» NO CAPa FESTA DAS TOCHAS FLORIDAS | PROCISSÃO DO ENTERRO DO SENHOR | FITUALLE 1 ALGARVE INFORMATIVO #199 ACTA ESTREOU «IMPROVÁVEL» | LUÍS FRANCO-BASTOS | DINO D’SANTIAGO


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CONTEÚDOS #199 27 DE ABRIL, 2019 32

ARTIGOS 8 - Grande Bandeira da Liberdade 14 - Tribunal de Juízo do Comércio de Lagoa 20 - Festival MED 26 - Rota do Petisco 32 - Festa das Tochas Floridas de São Brás de Alportel 48 - Procissão do Enterro do Senhor em Faro 58 - «Improvável» da ACTA 70 - Dino d’Santiago 84 - «Collective Loss of Memory» 98 - Luís Franco-Bastos 108 - FITUALLE 136 - Atualidade

OPINIÃO

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118 - Paulo Cunha 120 - Ana Isabel Soares 122 - Carla Serol 124 - Fábio Jesuíno 126 - Fernando Cabrita 130 - Vera Casaca 132 - Fernando Esteves Pinto ALGARVE INFORMATIVO #199

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CRIANÇAS DE CASTRO MARIM REINTERPRETARAM O 25 DE ABRIL E DERAM ORIGEM À GRANDE BANDEIRA DA LIBERDADE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

m vésperas dos 45 anos sobre a Revolução dos Cravos, o Município de Castro Marim deu a conhecer, na manhã do dia 24 de abril, o simbólico e gratificante projeto ALGARVE INFORMATIVO #199

«Grande Bandeira da Liberdade», cerca de 40 metros de bandeira numa verdadeira homenagem à liberdade realizada pelas mãos dos alunos do préescolar e do 1.º Ciclo do Agrupamento de Escolas de Castro Marim e que está em exposição na Praça 1.º de Maio. Um 8


Francisco Amaral, Fátima Valentim, Filomena Sintra e Nuno Rufino

projeto que começou com a história «À Procura da Liberdade», de Fátima Valentim, um conto infantil que traduz a essência de um valor tão essencial a uma vida mais feliz, a liberdade. “O objetivo era explicar às crianças o que é o 25 de Abril, os motivos de ser feriado e uma festa para todas as pessoas que acreditam na liberdade. Uma tarefa que não é fácil porque eles têm de viver uma coisa para a compreender, e assim surgiu a ideia, há uns anos, de andarmos à procura da liberdade pelas ruas pacatas da vila de Castro Marim”, explicou a autora, de sorriso nos lábios. Uma terra que Fátima Valentim bem conhece, pois foi professora em Castro Marim durante 16 anos, e as respostas foram então surgindo pelas bocas das 9

pessoas com que os jovens se cruzavam no dia-a-dia. “Fui registando tudo o que era dito, palavras tão grandes e nobres que deram depois corpo à história, mas o livro nunca teria sido possível sem a intervenção de uma pessoa de uma sensibilidade infinita que acreditou nele e o meteu praticamente a caminhar”, salientou a escritora, referindo-se à vice-presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, Filomena Sintra. Tomada a decisão de ir para a frente com o livro, escolheu-se o ilustrador Nuno Rufino para dar imagem às palavras de Fátima Valentim. “A história é bastante interessante, o que me ajudou na parte da ilustração, para além de eu próprio conhecer bem ALGARVE INFORMATIVO #199


Castro Marim. A Fátima desenvolveu com as crianças um processo riquíssimo de procura da liberdade e acho que o livro ficou muito engraçado”, referiu Nuno Rufino, visivelmente mais à vontade de lápis na mão do que a dar entrevistas. “É difícil explicar a liberdade aos mais jovens, temos que lhes chamar a atenção para aquilo que eles não podem fazer. É fomentar uma educação pelos valores e no respeito pelos direitos e deveres de cada um. Foi isso que os mais idosos lhes foram dizendo naqueles encontros casuais nas ruas, que depois do 25 de Abril podiam rir, cantar, brincar, conversar sem ter medo das palavras. Eles foram percebendo que a liberdade é uma coisa imensa que tinha de ser respeitada para ser devidamente valorizada”, reforçou Fátima Valentim. ALGARVE INFORMATIVO #199

E tudo podia ter ficado por um livro, mas o Município de Castro Marim desejou ir mais além, porque, “quando as coisas têm alma, elas prevalecem e multiplicam-se”, justificou Filomena Sintra. Depois de uma primeira edição a cabo da autarquia castro-marinense, «À Procura da Liberdade» foi então lançado pela Chiado Editora e já foi, inclusive, traduzido para espanhol. “É maravilhoso como os nossos vizinhos do outro lado da fronteira quiseram explicar os valores da liberdade através de uma história tão portuguesa. Já tinha sido feita uma exposição com as ilustrações base do livro e, há cerca de um ano, a Fátima teve a ideia de se fazer uma grande bandeira sobre a liberdade e foi fantástico envolver perto de 500 10


crianças nesta aventura. A Fátima e o Nuno andaram por todas as turmas do concelho com o livro, a reinterpretar a história com os alunos, e cada uma fez o seu pedacinho da bandeira. É um tema importantíssimo que ainda tem que ser muito trabalhado. Estas gerações são as sementes de «Abril» e é nelas que temos que apostar para conseguirmos construir o sonho de um país livre, democrático e respeitador”, sublinhou Filomena Sintra .

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MINISTRA DA JUSTIÇA VISITOU O NOVO TRIBUNAL DE JUÍZO DO COMÉRCIO DE LAGOA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Ministra da Justiça Francisca Van Dunem visitou, na manhã do dia 23 de abril, o Tribunal de Juízo do Comércio de Lagoa, integrado no Tribunal Judicial da Comarca de Faro. O moderno espaço engloba duas salas de ALGARVE INFORMATIVO #199

audiência equipadas com vídeo conferência, seis gabinetes de magistrado, um Balcão+, uma unidade de processos, biblioteca e zona de arquivos, numa área total de mais de mil metros quadrados, e funciona no exCentro de Estudos e Formação de Lagoa – que antes disso tinha sido a antiga Escola EB2 Jacinto Correia – após ter 14


A Ministra da Justiça Francisca Van Dunem e Francisco Martins, presidente da Câmara de Lagoa

sofrido obras de remodelação que motivou um investimento camarário de 380 mil euros. Terá como competências assuntos relacionados com insolvências de empresas e particulares, bem como processos envolvendo relações comerciais e, apesar de já estar em funcionamento, os julgamentos só arrancam em setembro, com o início do novo ano judicial. “Para nós é uma grande honra termos a «pegada» da justiça no nosso concelho e estamos em conversações para darmos outros passos, com calma e tempo”, referiu na ocasião Francisco Martins, presidente da Câmara Municipal de Lagoa. “Estamos sempre disponíveis para esta verdadeira colaboração entre o poder central e local. Somos um país modesto, mas com muito boa-vontade, e isso é fundamental para conseguirmos andar para a frente”, acrescentou o edil. 15

Após o descerrar da placa que assinala a entrada em funcionamento do Tribunal do Juízo do Comércio de Lagoa, a Ministra da Justiça Francisca Van Dunem considerou este projeto como “um exemplo de cooperação virtuosa entre o poder local e central, que juntaram sinergias e capacidades no sentido de tornar possível melhorar o sistema de justiça e os espaços da justiça na Comarca de Faro”, reconhecendo ainda que a área da justiça económica tem merecido uma atenção particular da parte do governo. “A crise económica que Portugal atravessou acabou por gerar impulsos sobre o sistema judicial que ele não estava preparado para resolver, com inúmeras falências de pessoas singulares e empresas. Quando iniciámos funções existia uma ALGARVE INFORMATIVO #199


pendência da ordem do milhão e 300 mil processos, dos quais 70 por cento eram processos executivos. Foi sendo desenvolvido um trabalho com uma grande colaboração e empenhamento dos magistrados e oficiais de justiça e temos hoje uma pendência que não chega aos 900 mil processos”, destacou Francisca Van Dunem. A Ministra da Justiça acredita, entretanto, que o exemplo de Lagoa pode e deve ser replicado, sobretudo numa altura em que a legislação permite estabelecer protocolos e modos diferentes de trabalhar com as autarquias. “Elas

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conseguem identificar, melhor do que nós, os espaços disponíveis nas suas áreas territoriais para ajudar a solucionar os problemas que nós sinalizamos. Desde a primeira hora que a Câmara Municipal de Lagoa esteve disponível e apoiou este projeto de uma forma incondicional”, agradeceu a governante, confirmando a possibilidade do concelho de Lagoa acolher outros polos do sistema judicial. “Queremos melhorar aquilo que ainda está mal e a questão das instalações é crucial”, reforçou Francisca Van Dunem, antes de visitar o Tribunal do Juízo do Comércio de Lagoa .

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FESTIVAL MED VAI TER UM PALCO CASTELO TODO EM PORTUGUÊS E NUM FORMATO MAIS INTIMISTA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Município de Loulé vai desvendando pouco a pouco o alinhamento e as novidades da 16.ª edição do Festival MED e, no final de ALGARVE INFORMATIVO #199

tarde do dia 23 de abril, no emblemático Café Calcinha, em jeito de tertúlia com público, organizadores, artistas e produtores, anunciou novos nomes e algumas surpresas. “A palavra de ordem continua a ser inovar, não só em termos da escolha musical, que 20


continua a ser o mais variada possível, mas também em termos de organização e do conceito do recinto”, explicou o diretor do Festival e vereador da Câmara de Loulé, Carlos Carmo. Nesse sentido, o Palco Castelo, um dos mais carismáticos do Festival MED, vai reger-se em 2019 por um novo conceito. “Este espaço encerra uma forte carga histórica e irá transformar-se num auditório dedicado exclusivamente à música portuguesa, onde irão acontecer concertos mais intimistas que, à partida, estariam confinados a auditórios, mas aos quais os visitantes do Festival terão agora acesso”, revelou Carlos Carmo. O objetivo da organização é, então, que o Palco Castelo seja uma montra da música de qualidade feita em Portugal junto aos turistas que visitam a cidade e que poderão também apreciar toda a riqueza patrimonial da Zona Histórica de Loulé, em particular da 21

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Alcaidaria e Muralhas do Castelo de origem medieval. “Este Palco estava num espaço confinado em que por vezes existia um congestionamento em termos da circulação de pessoas. Por outro lado, temos aqui o Museu Municipal de Loulé e o impacto da trepidação no local, sobretudo durante alguns concertos, poderia afetar as peças. Por isso, decidimos mudar a sonoridade deste espaço”, justificou o diretor do evento. Ao todo serão seis nomes a pisar este palco, com sonoridades tão diversas como o Fado, Jazz, Música Tradicional Portuguesa, entre outras. Márcia, Ricardo Ribeiro, Júlio Pereira, Ruben Monteiro e Luís Galrito com João Afonso são os artistas que irão «estrear» esta nova faceta do Palco Castelo, sendo que o encontro

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desta tarde no Café Calcinha contou com a presença da cantora Márcia, que brindou a «plateia» com uma curta atuação para abrir o apetite para o seu concerto no MED. “A primeira vez que atuei no Festival MED foi há oito anos. Loulé é uma terra que me é muito querida e gosto bastante desta iniciativa do Festival MED, porque é um festival único para anunciar novos projetos e muito eclético e variado. Para mim é uma honra e um prazer estar neste cartaz”, assegurou a artista. Para o público que prefere experienciar espetáculos direcionados para propostas inovadoras e arrojadas dos quatro cantos do mundo existirá um novo espaço, o Palco Chafariz, no Largo D. Afonso III, para concertos dedicados à

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World Music, à semelhança do que já acontece com o Palco Matriz e o Palco Cerca. “Vamos testar uma nova área onde, de resto, já acontecem espetáculos noutras alturas do ano. Isto será importante também em termos da melhoria da circulação de pessoas no recinto”, considerou Carlos Carmo, antes de anunciar mais uma novidade. De facto, para além da Música, Poesia, Cinema e Artes Plásticas, vai ser introduzida uma nova valência cultural na edição de 2019, o Teatro. “A Casa da Cultura de Loulé, responsável pela programação do Palco da Bica, levará também a este espaço, diariamente, uma peça de teatro que irá anteceder os concertos. Esta associação é, de resto, uma das principais representantes desta arte cénica no Concelho de Loulé”, apontou o Vereador da Câmara Municipal de Loulé. 23

O Festival MED terá lugar na Zona Histórica de Loulé, nos dias 27, 28, 29 e 30 de junho, estando já confirmados nomes como Marcelo D2 (Brasil), Mellow Mood (Itália), Marinah (Espanha), o projeto multicultural e transnacional The Turbans (Bulgária/Israel/Irão/Grécia/Turquia/Rei no Unido), Kel Assouf (Níger/Bélgica), Selma Uamusse (Moçambique/Portugal), Orkesta Mendoza (Estados Unidos/México), Anthony Joseph (Trindade e Tobago), Moonlight Benjamin (Haiti/França), Dino D’Santiago (Portugal/Cabo Verde) Tshegue (Congo/França), Gato Preto (Gana/Moçambique/Portugal) ou os portugueses Gisela João, Dead Combo, Diabo na Cruz, Cais do Sodré Funk Connection, Omiri e Camané e Mário Laginha . ALGARVE INFORMATIVO #199


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303 RESTAURANTES DE 12 CONCELHOS CELEBRAM GASTRONOMIA ALGARVIA EM MAIS UMA ROTA DO PETISCO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Teresa Mendes, João Fernandes e Maria Nobre de Carvalho

omeçou no dia 24 de abril e prolonga-se até 26 de maio a nona edição da Rota do Petisco, uma organização da Associação Teia ALGARVE INFORMATIVO #199

d’Impulsos que reúne 303 restaurantes de toda a região nos quais se podem degustar petiscos e doces regionais por valores entre os dois e os três euros. Contemplada está igualmente uma ementa alternativa com opções para os foodies mais novos, na Rota dos 26


Pequeninos, e uma ementa de autor, a Rota dos Chefs, com degustação de pratos confecionados por alguns dos mais conceituados chefs da região e pelos mesmos preços da rota tradicional. Para embarcar nesta viagem do barlavento ao sotavento é necessário adquirir um Passaporte, cujo custo é de 1,5 euros, valor que reverte na totalidade para apoiar projetos sociais dos vários concelhos aderentes e rigorosamente selecionados por um júri constituído para esse efeito. Por cada 12 carimbos somados no Passaporte, ou seja, por cada 12 restaurantes visitados, os participantes habilitam-se ainda a diversos prémios a sortear no final do evento. “A Teia d’Impulsos é uma associação social,

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cultural e desportiva sedeada em Portimão e que atualmente desenvolve 28 projetos. A Rota do Petisco foi a nossa primeira iniciativa, nascida em 2011 com o objetivo de promover a restauração local e dar um pouco de vida aos centros da cidade fora da época alta. O evento foi crescendo ao longo dos anos e chegamos hoje a 12 concelhos do Algarve”, referiu Maria Nobre de Carvalho, do conselho consultivo da associação, durante a apresentação que teve lugar, no dia 23 de abril, no Museu de Portimão. De acordo com a empresária, em oito anos participaram na Rota do Petisco mil e 600 restaurantes e foram vendidas

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mais de um milhão e 600 mil rotas, o que gerou cerca de três milhões e 500 mil euros de impacto económico direto. “A última edição decorreu em outubro e novembro de 2018 e foi a primeira vez que assumiu um carater verdadeiramente regional, de Aljezur até Tavira, sempre com muito convívio e levando as pessoas aos restaurantes aderentes para conhecerem novos pratos”, frisou Maria Nobre de Carvalho, lembrando que este ano volta a estar disponível uma opção vegetariana. “A Rota do Petisco já é um evento muito importante para a região e é também ele que sustenta a Teia d’Impulsos e que nos permite levar por adiante os outros 27 projetos, o último dos quais o HOPE, que ajuda doentes oncológicos no Algarve.

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Em oito anos angariamos 107 mil euros e apoiamos 51 projetos sociais na região”, evidenciou ainda a representante da associação. Esta faceta solidária da Rota dos Petiscos foi exaltada por Teresa Mendes, Vereadora da Câmara Municipal de Portimão, recordando que foi em Portimão que nasceu o evento, motivo pelo qual é aquele com maior número de restaurantes aderentes. “Ainda bem que cresceu e se tornou um projeto regional, porque o Algarve é pequeno e devemos colaborar todos uns com os outros. E esta é uma oportunidade única de conhecer o Algarve sentados à mesa com os

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amigos”, salientou a autarca, antes de passar a palavra para João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve. “O que começou com um grupo de amigos gerou já um impacto económico muito significativo ao longo destes anos e chegar a 303 restaurantes de 12 concelhos durante um mês é um feito notável. E em todas as edições introduzem novidades para gerar mais valor, como a Rota dos Pequeninos. Sabemos que o Algarve é um destino de férias para famílias e muitas vezes faltam ofertas concretas para o bem-estar destes «pequenos ditadores» e que frequentemente são fatores decisivos para se visitar novamente uma região”, avisou, com um sorriso, o responsável máximo do Turismo do Algarve, 29

enaltecendo igualmente a vertente solidária da Rota do Petisco. “O Turismo não deve ser um fim em si mesmo, devendo contribuir para o desenvolvimento do território e para o bem-estar de quem cá vive, e a Teia d’Impulsos tem essa preocupação desde o início. E este casamento entre a gastronomia e a cultura – pois o passaporte concede descontos para a entrada em equipamentos culturais da região – está alinhado com a estratégia de promoção turística que definimos há alguns anos. Os petiscos algarvios engrandecem a estadia dos nossos visitantes e distinguem-nos dos nossos concorrentes”, rematou João Fernandes . ALGARVE INFORMATIVO #199


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FESTA DAS TOCHAS FLORIDAS ENCHEU SÃO BRÁS DE ALPORTEL DE COR, ALEGRIA E MUITA FÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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festa rainha de São Brás de Alportel regressou no Domingo de Páscoa, 21 de abril, com os seus tradicionais e sempre originais tapetes de flores com um quilómetro de extensão a cobrir o chão por onde passa a singular Procissão de Aleluia da Festa das Tochas Floridas. E, por isso, logo se tornam no centro das atenções dos milhares de turistas que acorrem a esta vila da Serra do Caldeirão para assistir a uma das principais manifestações religiosas da época do sul do país. É impossível contabilizar as fotos que são tiradas ao longo do trajeto a atestar a beleza e simbolismo do cenário, uma merecida recompensa para as centenas de voluntários que, numa longa maratona ALGARVE INFORMATIVO #199

pela noite fora, se lançam na árdua tarefa de preparar os tapetes floridos. O epicentro dos festejos é o Adro da Igreja Matriz, onde é celebrada a Eucaristia da Ressurreição às 10h, a mesma hora em que arranca a Mostra de Artesanato e, no Largo de São Sebastião, mais um Encontro de Sabores da Páscoa. Depois do soar do sino da igreja, enche-se o Adro da Igreja com centenas de participantes na procissão, todos de tocha florida em punho – umas mais trabalhadas do que outras, conforme a habilidade e o tempo disponível para a tarefa – e muitos com a habitual garrafa de medronho no bolso do casaco ou das calças. Porque é preciso afinar a garganta para, ao longo da Procissão de Aleluia em honra de Jesus Ressuscitado, os homens sãobrasenses entoarem, a plenos pulmões, 34


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o tradicional refrão «Ressuscitou como disse! Aleluia! Aleluia! Aleluia!». Em todo o percurso concentram-se turistas chegados de vários pontos do globo, cada ano são mais, seduzidos pelo fervor das gentes da Serra do Caldeirão e ALGARVE INFORMATIVO #199

pelo amor com que se entregam à Festa das Tochas Floridas, mas também pela beleza inigualável das tochas floridas, do tapete de flores, das colchas que enfeitam as janelas dos prédios do centro histórico de São Brás de Alportel. Uma festa que se prolonga até ao pôr36


do-sol, porque, à tarde, a festa religiosa é complementada com animação cultural e sabores tradicionais no Adro da Igreja. Deste modo, depois da apresentação dos premiados em mais uma edição dos Jogos Florais e do concurso das mais belas tochas floridas, assistiu-se à atuação dos 37

grupos Fole’Percussion, Grupo Folclórico da Velha Guarda e Claudisabel, numa festa ímpar organizada em parceria pela Associação Cultural Sambrasense, Paróquia de São Brás e Câmara Municipal de São Brás de Alportel . ALGARVE INFORMATIVO #199


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PROCISSร O DO ENTERRO DO SENHOR EM FARO CONTOU COM MILHARES DE PARTICIPANTES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Samuel Mendonรงa/Folha de Domingo

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Bispo do Algarve D. Manuel Quintas presidiu, na noite de 19 de abril, à Procissão do Enterro do Senhor em Faro, na qual participaram igualmente o cónego Carlos César Chantre, Vigário Geral da Diocese do Algarve e pároco da paróquia de São Pedro, e o padre Rui Barros Guerreiro, pároco das paróquias de São Luís, da Sé e capelão da Santa Casa da Misericórdia de Faro. Milhares de pessoas acorreram uma vez mais à Igreja da Misericórdia, em plena baixa de Faro, onde o prelado lembrou que a celebração do mistério da Páscoa de Cristo não termina com a sua morte, porque a ela se seguiu a sua ressurreição, uma garantia também da ressurreição de cada cristão. ALGARVE INFORMATIVO #199

A Procissão do Enterro do Senhor percorreu as principais artérias da baixa farense, a cheirar ao rosmaninho que lhe serviu de tapete, ao mesmo tempo que se escutava o Coro de Câmara da Sé, sob a direção do maestro Rui Jerónimo, que interpretou alguns trechos de música sacra alusivos à morte de Jesus. O secular préstito procura anualmente reviver, com densidade orante silenciosa, o episódio protagonizado por José de Arimateia. Pilatos, depois da confirmação da morte de Jesus, entregou o corpo de Cristo a este membro do conselho do Sinédrio para que fosse sepultado. Esta procissão é a terceira de maior expressão realizada no Algarve, apenas atrás da Procissão de Nossa Senhora da 50


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Piedade, a Mãe Soberana de Loulé, e da Procissão das Tochas Floridas, em São Brás de Alportel, e sai aberta por uma representação a cavalo da GNR e um friso de tochas. Segue-se a matraca, cujo som áspero simboliza as ondas de ódio amontoadas à volta de Cristo. A certa distância vem o guião ladeado por duas lanternas. Alguns metros desviada, a iniciar as alas os balandraus com tochas, segue a cruz com o lençol pendurado. Entre as alas, o «tumbinho» carregando o corpo de Cristo, debaixo do pálio e, no meio, seguem os andores comportando as imagens de Nossa Senhora, o apóstolo João e Maria Madalena, os três que permaneceram junto à cruz. O préstito contou ainda com o acompanhamento da Banda da Sociedade Filarmónica Lacobrigense 1.º de Maio, autoridades civis e militares, as Ordens Terceiras de Nossa Senhora do Monte do Carmo e Franciscana Secular, a Irmandade da Misericórdia, os Bombeiros Sapadores de Faro, o Moto Clube de Faro, os grupos de jovens católicos de Faro, os agrupamentos do Corpo Nacional de Escutas, os grupos dos Escoteiros de Portugal e a companhia da Associação de Guias de Portugal, entre outras entidades e instituições . ALGARVE INFORMATIVO #199

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UM ENCONTRO IMPROVÁVEL ENTRE TORTURADOR E TORTURADO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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streou, no dia 25 de abril, precisamente 45 anos depois da Revolução dos Cravos, no Teatro Lethes, em Faro, a 76.ª produção da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, de seu nome «Improvável», que coloca pela primeira vez juntos em palco Luís Vicente e Pedro Monteiro, o primeiro um torturador da PIDE, o segundo um torturado pela PIDE. A peça descreve o reencontro improvável de dois homens que antes se haviam cruzado num momento e numa circunstância bastante particulares das suas vidas, em lados opostos de uma mesa de ferro durante os interrogatórios, e de uma cela escura em que um prisioneiro era observado diligentemente pelo seu carcereiro. Eram na época dois jovens e conheceram-se na tristemente célebre Rua António Maria Cardoso, a sede da famigerada PIDE/DGS. Pedro Monteiro interpreta um prisioneiro político, uma estrela na faculdade pelos seus discursos inflamatórios de contestação ao Estado Novo que depressa ficou sob o radar da PIDE. Luís Vicente é o seu algoz, curiosamente filho de um agente do poder instalado que até tinha algumas tendências comunistas. Pedro foi torturado, Luís torturou e, numa primeira parte, a peça é marcada por dois monólogos interiores em que as personagens, quase às escuras no palco, falam de si, da sua vida passada e presente. Depois, num novo cenário proporciona-se o reencontro entre extorturador e ex-torturado, entre ex-PIDE e ex-preso político, e dá-se o embate das ALGARVE INFORMATIVO #199

suas distintas realidades atuais, com a ação a decorrer poucos dias antes dos 45 anos do 25 de Abril de 1974. O extorturado padece de cancro e caminha para o final da sua vida. O ex-torturador anda à procura de redenção, de expiação para os pecados cometidos ao serviço do Estado Novo. E assim fica a assistência presa à cadeira, à espera de saber qual o desenlace de «Improvável», 60


que vai estar em cena até 12 de maio, no Teatro Lethes. Na génese de «Improvável» está um texto original de José Martins que deverá ser publicado em breve, com Dramaturgia e Encenação a cargo de Luís Vicente, numa peça que incorpora ainda testemunhos em vídeo de antigos agentes da PIDE e antigos presos políticos. Em comum, 61

curiosamente, traços semelhantes. Os antigos torturados parecem não guardar rancor a quem lhes infligiu tamanho sofrimento, preferiram passar por cima desse episódio marcante e seguir em frente com as suas vidas. Já para os antigos torturadores, seguir em frente não se afigurou tão fácil, pesa-lhes a consciência. Para pensar… . ALGARVE INFORMATIVO #199


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DINO D’SANTIAGO PÔS TODA A GENTE A DANÇAR NO TEATRO DAS FIGURAS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova

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, sem dúvida, uma das estrelas mais cintilantes do panorama musical português do momento e se dúvidas existissem sobre esse facto, teriam sido dissipadas logo ao fim dos primeiros minutos do concerto estrondoso que deu, na noite de 20 de abril, num Teatro das Figuras completamente esgotado. O quarteirense

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Dino D'Santiago lançou, em 2018, o álbum «Mundu Nôbu» e alcançou, finalmente, um estatuto que já vinha merecendo há vários anos, mas a música cabo-verdiana não é mainstream, pelo que o caminho para se chegar ao topo é mais duro e demorado. Mas, quando lá se chega acima, também a posição é mais forte e sustentável. 72


começou a plantar as sementes do sucesso que viria a alcançar com «Mundu Nôbu», com produção de Kalaf Epalanga e produção executiva do britânico Seiji. Estreado ao vivo em novembro de 2018, no Festival Super Bock em Stock, o disco confirmou o talento que há muito se reconhecia a Claudino Pereira, ou Dino d’Santiago. E em 2019 vários prémios atestam essa realidade, tendo sido a figura principal da primeira edição dos Play – Prémios da Música Portuguesa, realizada a 9 de abril, ao conquistar os galardões de Melhor Artista Solo, Melhor Álbum e Prémio da Crítica, este último atribuído por um painel de cerca de uma dezena de críticos de música portugueses. Antes disso, já tinha sido um dos finalistas dos prémios entregues pela Sociedade Portuguesa de Autores e foi um dos vencedores dos Prémios Choque Frontal ao Vivo, da Rádio Alvor FM.

Dino D'Santiago podia ter optado por um trajeto mais fácil e até andou por sonoridades bem mais comerciais no início da sua carreira, com passagens de grande sucesso pelos Expensive Soul e Nu Soul Family, mas foi em Cabo Verde que encontrou a sua voz, criando uma sonoridade entre o funaná e o afro-house. Em 2015 lançou «Kanta Cabo Verde» e 73

Perante tudo isto, as expetativas eram muitas para o concerto de dia 20 de abril, no Teatro das Figuras, em Faro, e foram plenamente correspondidas, com Dino d’Santiago a «jogar em casa», a cantar perante os seus, e depressa disse que não queria ninguém sentado. A noite era para desfrutar ao máximo e, de facto, nem toda a música deve ser escutada no conforto de uma cadeira ou sofá. Assim, de um concerto que seria supostamente mais formal, num instante se passou para uma experiência inesquecível para todos os que estiveram naquela que é uma das principais salas de espetáculo do sul do país . ALGARVE INFORMATIVO #199


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CHECOS DOT504 APRESENTARAM «COLLECTIVE LOSS OF MEMORY» NO CAPa Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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quarta edição dos Encontros do DeVIR continua a surpreender o público algarvio com propostas internacionais de dança contemporânea que a todos colocam a pensar e debater o ponto a que chegou o mundo em que vivemos e disso foi um perfeito exemplo o espetáculo a que se assistiu no CAPa - Centro de Artes Performativas do Algarve, em Faro, no dia 20 de abril. «Collective Loss of Memory» é uma obra tremendamente impactante e perturbadora, mas também divertida, proveniente da República Checa. Em palco encontramos Tom - o judeu; Eduard ALGARVE INFORMATIVO #199

altamente adaptável; Jacob - o ajudante; Knut - puro e original; e o chefe, Joona - cinquenta por cento melhor que qualquer um dos outros. Pela arte destes cinco engraçados e exímios bailarinos o público, que esgotou por completo a sala do CAPa, mergulhou de cabeça no poderoso fenómeno social do grande prazer que os seres humanos têm em matar e participar na violência. De acordo com os criadores e coreógrafos Jozef Fruček e Linda Kapetanea, da DOT504: “O prazer de matar dá ao agressor uma estranha experiência de poder e liberdade absolutos. Mas para as vítimas é o inferno. O que fazem observadores aleatórios de cenas violentas? Nada. 86


Sofrendo de perda coletiva de memória, eles observam apenas”. E assim foi observando de olhos atentos a assistência, sem saber muito bem o contexto real de «Collective Loss of Memory», a terceira criação desta companhia de dança proveniente da República Checa e que lhe valeu o prémio Czech Dance Platform Dance Piece of the Year Award e Audience Award em 2015. No final, e conforme todos tinham sido avisados previamente, porque o 87

espetáculo era para maiores de 18, assistiu-se às imagens de vídeo que registaram um caso de extrema violência ocorrido em 2008, em que um grupo de cidadãos agride brutalmente um jovem indefeso, enquanto outras pessoas observavam e nada faziam. Um fenómeno que, como bem sabemos, não foi isolado e a que Portugal também não está imune. Mas os agressores continuam a existir, as vítimas indefesas também… assim como os observadores passivos . ALGARVE INFORMATIVO #199


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LUÍS FRANCOBASTOS FEZ RIR TEATRO DAS FIGURAS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova

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epois do sucesso de «Roubo de Identidade» e «Voz da Razão», Luís Franco-Bastos anda em digressão de norte a sul do país com o seu novo solo «Consciente», tendo atuado, no Teatro das Figuras, no dia 18 de abril. A principal sala de espetáculos da capital algarvia registou uma excelente assistência para vibrar com um artista de stand-up comedy que realmente dispensa quaisquer apresentações. Famoso pelas suas imitações de figuras conhecidas do panorama nacional, Luís ALGARVE INFORMATIVO #199

Franco-Bastos apresenta-se agora em «Consciente» para, nas suas palavras, “dizer o que me apetece, mas consciente de que nos podemos rir das coisas para pensarmos melhor nelas”. “Todos os temas abordados no espetáculo são distorcidos para serem, na verdade, melhor compreendidos”, explica o humorista. O resultado foi um serão muito animado e que contou com um convidado especial, Dário Guerreiro, melhor dizendo, Môce dum Cabréste, num excelente hino à stand-up comedy. 100


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FESTIVAL INTERNACIONAL DA TUNA UNIVERSITÁRIA AFONSINA DE LOULÉ REGRESSOU AO CINE-TEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

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Festival Internacional da Tuna Universitária Afonsina de Loulé (FITUALLE) regressou ao CineTeatro Louletano, no dia 20 de abril, para a sua nona edição e, fazendo jus à tradição, assistiu-se a um espetáculo bastante animado, pautado por muita música, boa disposição e espírito académico. Uma noite em que estiveram quatro tunas a concurso, designadamente a Trovantina – Tuna Masculina do Instituto Politécnico de Leiria, a TAFDUP – Tuna Académica da Faculdade de Direito da ALGARVE INFORMATIVO #199

Universidade do Porto, a FAN – Farra Académica de Coimbra e a Feminis Ferventis – Tuna Académica Feminina da Universidade do Algarve. Recorde-se que a TUALLE – Tuna Académica Afonsina de Loulé, organizadora do festival, teve o primeiro ensaio a 19 de março de 2000 e a sua primeira atuação oficial em Vilamoura nesse mesmo ano. Desde então, tem apresentado espetáculos em reputados festivais nas mais diversas regiões de Portugal, desde o Algarve ao Alentejo, Estremadura, Beiras, Açores e Madeira. 110


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A liberdade de usar a liberdade Paulo Cunha (Professor) á depois do feriado do «25 de abril» ter decorrido, resolvi questionar uma turma de jovens alunos sobre o motivo que terá levado a que se celebre esta efeméride todos os anos: - Então sabem qual foi a razão para ontem ter sido feriado? - Foi o dia da liberdade! - E hoje é o dia de quê, já que, afinal de contas, parece haver apenas um dia da liberdade? - Olhe que boa pergunta, Sr. professor. Nunca tinha pensado nisso... Este foi um comentário de alguém que, felizmente, nunca sentiu a privação da liberdade. Outro comentário que também registei foi o seguinte: - E como é que comemoraram o «25 de abril»? - (Decidido, com o dedo no ar) Eu fui com os meus pais fazer compras para o «Mar Shopping»! Face a estas respostas, é fácil perceber que as mesmas constituem sinais da passagem do tempo, onde o «25 de abril» se vai transformando em mais um ícone, destinado a interpretações e a usos variados. Desde que leciono, incluo no Plano Anual de Atividades a interpretação das canções que nos fizeram sonhar com a Liberdade. Quarenta e cinco anos depois, são os alunos que me pedem para cantar, só mais uma vez, a «Grândola, Vila Morena». Um destes dias, por sua iniciativa, vi-os levantarem-se e cantarem em voz bem forte para que, depois de eu ter aberto a porta da sala de aula, toda a escola os escutasse. E assim, à minha/nossa

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maneira, se vai cumprindo abril na «minha» Escola! Tendo a toda a liberdade para lutar e defender a sua liberdade, não deixa de provocar alguma revolta e repulsa observar a forma displicente, apática e desinteressada como certos «maduros» das gerações perto da minha encaram certos atropelos aos seus direitos, liberdades e garantias. Volta e meia oiço e leio brilhantes tiradas, do género: "Como isto está, devia haver outro «25 de abril»!". Faço algum esforço para me conter, pois, normalmente, quem tal deseja são todos aqueles que, na altura de votar ou manifestar-se, quedam-se em casa ou, se o tempo estiver bom, vão para a praia curtir. Isto de ter quem faça as revoluções por nós não custa nada: depois de feitas, é só aproveitar... e festejar! Mesmo não concordando com algumas das suas escolhas partidárias, sempre admirei a postura e atitude com que o meu pai assumiu as suas opções políticas após o 25 de abril. Foi um daqueles que adquiriu os programas e estatutos dos partidos que lhe mereciam maior confiança e admiração e só depois de os ler decidiu em quem votar. Lembro-me de me dizer que não votava em pessoas, mas sim em programas ideológicos. Se fosse vivo, imagino que agora deveria estar desiludido com o rumo divergente que os seus princípios tomaram. Nunca tendo sido filiado, deveria saber muito mais sobre o partido em que votava do que muitos ilustres filiados, que do seu partido apenas conhecem a quem devem obediência. Dele herdei os programas e estatutos que os partidos, há já muito, colocaram na gaveta do esquecimento. Por isso: “Agradecido, pai Duarte. Obrigado? Jamais!” 118


Terminadas as comemorações e os festejos dos 45 anos que marcam a revolução dos cravos, fica-se com a sensação de que as efemérides duram um curto período (a altura da sua celebração), passando ao esquecimento coletivo até que perfaçam mais um ano. Qualquer cravo vermelho de 119

plástico (comprado numa «loja dos chineses») servirá para certas pessoas que deixam murchar a liberdade logo no dia 26 de abril. E são tantas! Por isso, cada vez mais respeito quem - fora de época - vive, respeita, pratica e defende a liberdade que o «25 de abril» nos legou . ALGARVE INFORMATIVO #199


OPINIÃO

Do Reboliço #35 Ana Isabel Soares (Professora) atal a soalhar, Páscoa à roda do lar”, não foi assim, Reboliço? Tem sido assim, pensa o canito, desde que se lembra. O Natal passado, nada muito frio, chuvinha nenhuma, sol a convidar à rua. Acendeu-se o lume, pois, se era Inverno. Mas só na noite de Ano Bom veio algum ar mais fresco. Já se esperava, então, que fosse a Páscoa à roda do lar, à roda do lume a olhar lá para fora, do lado de lá da porta de vidro da cozinha a ver os trovões primeiro, depois uma chuvinha pouco persistente, intervalo de sol, mais um granizo que chegou a cair, frio que vinha e abalava, inverninhos de amostra – tirando o Domingo, que esse foi soalheiro. O tempo que faz. Fica nisso a pensar, apercebese do muito que pensa no tempo que faz. O tempo que passa e o tempo que faz enquanto passa o tempo. Como fica o dia se, saindo o sol, dá em secar a lama que a terra fez com água da chuva, se a terra molhada amolece e se espalha, distribuída pelo chão de calçada da rua e cobrindo as juntas onde as ervinhas começavam a crescer e de onde, mais umas semanas, Reboliço, mais umas semanas e as formigas começarão a sair à procura de pecinhas com que hão de forrar as despensas dos túneis tantos que deve haver debaixo daquele chão.

Vêm com a Primavera as tempestades: sentado do lado de dentro do moinho, agora, o corpo pequeno do Reboliço tremelica à luz do trovão, ruído longe e seco, rasgão de céu, rasgão de luz, ruído seco e longe – esconde, bicho, o focinho de borracha debaixo das patas, afugenta o susto. Curto, o pelo denuncia nele a tremura, a curta cauda escondida entre as pernas – agachadinho. Ainda era dia (que os dias se alongaram), o ALGARVE INFORMATIVO #199

cão percebeu as nuvens de trovoada que desafiavam o moinho e se afastavam de cada vez que as velas se abriam à frente dele; a luz do sol veio pôr-se no velame, amarelando o branco do cotão e ajudando o moinho a manter ao largo a negridão das nuvens. Estala o céu no segundo preciso em que a luz de um relâmpago o fende, o Reboliço marcha para longe da porta, ainda de sobressalto no coração, mas deixa-se ficar de focinho virado para lá. Olhos muito abertos, é como se tivessem desaparecido velas, varas, o mastro, todo o cilindro do moinho, no clarão aberto. Então a chuva vem, molha cada pedra do chão calçado, cada folha lisa de erva, cada casca de caracol, as férreas argolas à volta do moinho. O bicho recua, baixo, patinha atrás de patinha, amalha-se numa alcofa rasa, o focinho húmido escondido e tremente. Dentro do moinho é lugar que o protege – as paredes grossas sem arestas, a lisura da cal, a madeira do chão: tudo o resguarda do seco longínquo da trovoada. Caída a noite, o Reboliço espreita pela gateira, redondo buraco ao fundo da porta vermelha: lá em cima, onde há pouco estiveram os cortes iluminados do céu, dentro da moldura perfeita do círculo, o disco cheio da lua mostra o halo à volta, as nuvens depois dele, o lugar todo onde as estrelas se escondem. Abrindo o dia, vem do rádio que toca na cozinha da casa uma voz quente: “É de manhã – mas os pingos da chuva que ontem caiu ainda estão a brilhar, ainda estão a dançar ao vento alegre que me traz essa canção” . *Reboliço é o nome de um cão que o avô teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo.

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Foto: Vasco Célio 121

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OPINIÃO - Tudo em Particular e Nada em Geral

Eu não vejo Game of Thrones, terei um problema?! Carla Serol (Uma Loira Qualquer) omo Loira Qualquer que sou, começo a ficar verdadeiramente preocupada com a minha sanidade mental. Pondero seriamente contactar o Diário de Maria para expor este grande dilema pelo qual estou a passar, na esperança de obter uma resposta credível quanto a esta sensível e pertinente questão. É que eu, até tenho algum receio e vergonha de assumir, não vejo Game of Thrones! Parece que Game of Thrones é uma série fantástica, que dura desde o ano dois mil e onze, envolvendo reis, dragões, dinastias, um único trono de ferro para sete reinos e muito poder disputado entre eles. Desenrola-se nos continentes de Westeros e Essos, que devem ficar para lá de onde o diabo deixou as botas, e que foram inventados por esse grande aldrabão de países fictícios, David Benioff. Contaram-me os entendidos, que retrata um enredo de alianças e conflitos entre dinastias de nobres famílias, para sentar os seus nobres rabos no dito trono, que convenhamos deva ser muitíssimo confortável, enquanto outros lutam pela independência do mesmo, mas sempre com o olho... vá, não sejam maldosos que isto é um assunto sério, com o olho atento para lá também assentarem o rabiosque. Até fiquei cansada só com o resumo, imagine-se assistir a tudo isto! Qual Dallas qual quê! ALGARVE INFORMATIVO #199

Em Dallas era só o petróleo, os cavalos, o Bobby, a Pamela, a bêbada da Sue Ellen e o JR! Pronto, foram uns simples treze anos de série à volta disto! Para além de não serem necessários dragões para ser uma série fantástica, tínhamos as bebedeiras da Sue Ellen, que inscreviam um glamour inigualável à série, a cidade de Dallas existe mesmo, num país real, ainda que presidido por um alienado ao estilo da carismática Sue Ellen. Diz que Game of Thrones já vai na oitava temporada, que as personagens estão cada vez mais exigentes e o enredo mais envolvente. Pois eu, não sei quanto a vocês, mas guerra de tronos é coisa para a qual tenho pouca aptidão. Não percebo nada de estratégias de ataque e a coisinha mais audaz que sei fazer é esticar a perna para pregar uma rasteira, com o intuito de me rebolar a rir, e o jogo de damas e xadrez sempre serviram para guardar pó. Não sei falar com dragões, e já aqui vos falei sobre a minha apreensão quanto a cobras, portanto, tudo o que seja da espécie reptílica tenho algum receio, não tendo o dom exímio que outros detêm para lidar com estas espécies. Entretanto, vou-me entretendo com outras guerras de tronos. Estão em toda a parte, basta estar um pouco atento, e as personagens são de estilos e géneros diversos, mas a natureza pela luta e sede 122


de poder estão lá fortemente presentes em todas. Nesta guerra de tronos também existem várias dinastias, dragões, cobras, rabos e rabiosques prontos a tomar qualquer trono que apareça. Os tronos são muitos, ao contrário da afamada série que apenas tem um para sete reinos, por isso o enredo é muito mais rico e intenso. É vêlos intensamente envolvidos em histórias e enredos, sempre atentos a todo e qualquer movimento em falso do adversário, que por vezes nem sabe que o é. As estratégias também são variadas, umas mais inusitadas que outras, pois como em todas as guerras, há quem não 123

tenha vergonha de mostrar que sonha um dia assentar o rabo num trono qualquer. A mim loira, e a alguns de vós, que acredito que também nunca tenham ficado até altas horas da madrugada para devorar a temporada completa, resta-nos ir assistindo a estas séries da vida real. Portanto, quem precisa de uma série com personagens e lugares inventados se podemos assistir e de graça, a divertidas guerras de poder ao nosso redor, a todo o momento e em tempo real, detendo como único trono, e por sinal bem valioso, o que está lá nas nossas casas ao lado de alguns livros e revistas . ALGARVE INFORMATIVO #199


OPINIÃO

Liberdade de expressão na era digital Fábio Jesuíno (Empresário) mundo digital transformou a forma como comunicamos e trouxe uma série de desafios para as democracias de todo o mundo, onde a liberdade é muitas vezes ameaçada. A liberdade de expressão é um dos valores mais importantes e vitais de qualquer democracia, é o garante de qualquer indivíduo de se expressar, da possibilidade de se manifestar e de procurar e receber informação livremente, estando protegida pelo Artigo 19 da Declaração Universal do Direitos Humanos das Nações Unidas. Atualmente, os meios digitais tornaramse o principal palco onde a liberdade de expressão é exercida, mas é cada vez mais condicionada pelas mais diversas plataformas e governos, onde a censura está cada vez mais presente de uma forma quase oculta e anónima, muitas das vezes difícil de identificar. Os meios digitais contribuíram, essencialmente através das redes sociais, para dar voz a qualquer indivíduo, mas ao mesmo tempo para dar voz a campanhas de desinformação através das «Fake News», notícias falsas que proliferam livremente na internet, graves ameaças às democracias e muitas vezes utilizadas como meios de interferência nos processos eleitorais. O jornalismo e os meios de comunicação social independentes ganham atualmente ALGARVE INFORMATIVO #199

maior importância e relevo na nossa sociedade, mesmo passando por dificuldades, são uma plataforma de confiança e de liberdade, principalmente neste mundo cada vez mais digital. Uma confiança que deve ser preservada e ampliada pelos governos como mecanismos de ajudas adaptados às novas realidades. Uma das maiores convicções do pensamento contemporâneo é que a internet, que deu origem às plataformas digitais, como o Facebook, YouTube e Twitter, está a transferir o poder dos governos para a sociedade civil. Fazendo com que alguns países ataquem a liberdade da internet, como acontece na Rússia, China, Cuba e Turquia, que censuram claramente informações críticas. A limitação de uma opinião deve ser sempre uma exceção à regra, justificada pela lesão de outros direitos fundamentais, como a propriedade de autor e a imagem. É necessário haver critérios claros, para que a limitação não se torne numa verdadeira censura. A preservação da liberdade de expressão nos meios digitais é fundamental para uma democracia saudável, mas é preciso haver uma maior proteção contra conteúdos e formas de expressão ilícitas, mesmo sabendo que seja uma tarefa difícil, é cada vez mais possível utilizando a inteligência artificial como uma filtragem positiva . 124


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OPINIÃO - A ISTO CHEGÁMOS…

Literatura à pressa Fernando Cabrita (Advogado e Poeta) literatura não pode depender dos mercados, sob pena de se transformar numa coisa insonsa e perigosamente suicida. Num mundo que cedeu o poder a monopólios sem rosto e onde quem dita regras são os economistas de serviço, permitir que o acto editorial e a divulgação do facto supostamente literário deixe de estar no âmbito da crítica, da estilística, da filosofia e da ética; e passe a estar no absoluto domínio da lista de vendas, do sucesso comercial e do suposto êxito partilhado entre amigos nas redes sociais (que divulgam o facto, o louvam e enaltecem, mas jamais lêem o livro) é a mais bem sucedida modalidade de extinção acelerada da literatura. Nem a edição, nem o número de exemplares vendidos, nem a permanente exposição mediática, o corrupio por festivais e eventos, o auto-proclamado êxito ou o oportunismo temático (escrever sempre sobre o que estiver na moda naquele momento), se podem confundir com Literatura. Mais ainda quando nessas situações existe um claro controlo de monopólios editoriais, que têm por exclusivo critério o lucro imediato, a venda rápida e programada; ainda que aquilo que exibam, vendam e produzam sejam coisas destinadas à mera transitoriedade (tantas vezes exactamente desejada, porque nada melhor para os mercados do que essa efemeridade do que se vende e logo se substitui por outra novidade). E isto cria falsamente nos que querem escrever e editar essa necessidade, mimetizada, de publicar em urgência, sem exame consciente, sem auto-disciplina, ALGARVE INFORMATIVO #199

seja em blogues, nas redes sociais, na primeira editora que apareça. E fazem-no sem dar ao texto espaço para que repouse e se avalie pelo decurso do tempo. Há meses atrás, em setembro de 2018, defendi esta mesma visão das coisas em Aracena, numa das sessões do «Verso Adentro». Não sei se me fiz então compreender. Se acaso não, o defeito é, claro, meu. Mas penso que posso aqui aprofundar a ideia, esperando que ninguém se choque com ela, ou pense que pretendo atacar alguém ou negar a alguém o direito de escrever e de publicar. O que quero e quis então publicamente significar – falando naquele caso de poesia, mas valendo o exemplo para a literatura em geral – é que o excesso de edição poética e a avalanche de poesia que se serve dos temas «da moda» ( refugiados, a paz, o género, a crise, o feminismo desregrado, etc), vai necessariamente alimentar essa tendência economicista de colocar a arte e a literatura ao nível dos objectos de consumo diário, destinados por isso mesmo a serem absorvidos e a exaurir-se rapidamente e a, logo, serem substituídos por outros, num turbilhão por onde se escoa – e se confunde – tudo: o bom e o mau, o correcto e o incorrectamente escrito, as banalidades e as peças de arte, a grandeza e a miséria. Tudo no mesmo saco. Tudo à vez. E assim se mata, assim se destrói a Literatura. Assim se impede, pela urgência, que os livros e os seus conteúdos respirem. Assim se equivoca os leitores, passando-lhes tudo, tudo e mais tudo com um atestado de «qualidade literária», que tantas vezes – pela rapidez posta no consumo, pela urgência de 126


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substituir o título de hoje pelo título de amanhã, pela necessidade imposta de manter o mercado a circular – os leitores recebem acriticamente. Pois que o fazem sem sequer procurar destrinçar, pelo exercício da comparação, da hermenêutica, da ponderação, o que lhes está a ser servido. Este excesso traz consigo quantidade, mas pouca qualidade. Servem-se tantas vezes nados-mortos. Tantas e tantas vezes má estética, má escrita, erros gritantes na expressão. A gramática é mal tratada, por gente que escreve, mas não lê; e para lá da estética assim violentada, falha quase sempre a ética. Refiro-me à ética que deve presidir a toda a actividade humana. A esse conjunto de valores eternos, não dependentes de conjunturas ocasionais (valores quais a amizade, a honestidade, o respeito, a verdade; e não os transitórios valores do sucesso financeiro, do lucro, da ascensão social, meros valores perfunctórios). Mas, na verdade, são estes «valores» meramente temporários, trazidos à agenda pelas redes sociais ou pelas notícias de televisão, que os anunciados escritores e poetas agarram avidamente para beneficiar dessa visibilidade que o assunto da moda dá; e assim os projectam também os mercados editoriais, nas ocasiões certas, sabendo que o assunto renderá num público habituando a consumir tudo que lhes digam estar no pico da actualidade (amanhã logo substituídos por outros, para que a máquina não pare). É que se a estética é essencial à Literatura, a ética é essencial à vida. E a literatura é vida. Falo dessa ética a que aludia Abu Abdallah Mu ammad ibn Mūsā Al ‐ Khawarizmi, que na História ficou mais conhecido como AlJuarismi; e reporto aqui o seu ensinamento como transmitido perlo poeta malagueño José Sarria: sendo um dos mais distintos ALGARVE INFORMATIVO #199

matemáticos, historiadores e humanistas da sua época, foi-lhe pedido que falasse do valor da ética. Como bom matemático, respondeu: "se um homem se conduz com ética, então seu valor é igual a 1. Se para lá de se conduzir eticamente, for inteligente, podemos adicionar um zero; e seu valor aumenta: será então de 10. Se as riquezas da vida lhe sorriem e tem fortuna, adicionemos mais um zero e seu valor será igual a 100. Se, para além disso tudo, for uma pessoa estimada pelos demais, podemos adicionar um outro zero, e o seu valor é excelente, equivalerá a 1.000. Mas se tendo todas essas características e virtudes, esse homem não tiver ética na sua vida, retiremos-lhe o 1 que a ética vale: e ele perderá desse modo o seu valor, esse 1 matricial que corresponde à ética; e só restarão zeros”. Se no e vero e bene trovato, mesmo sendo uma falácia matemática. Mas o exemplo vale para o que hoje se passa na literatura, dominada pela pressa, pela urgência e pela velocidade economicista. Caiem-nos nos escaparates a toda a hora peças escritas onde jazem mortas a ética e a estética. Como chamar-lhes literatura? Recomendo a leitura de um artigo excelente do asturiano Pedro Luis Menéndez, titulado «La banalización del hecho poético» e publicado em novembro passado em «Por El Cuaderno». Creio que o poderão encontrar buscando na Internet. É uma análise lúcida e completíssima a este fenómeno da vulgarização e quase pré-morte da literatura Vale-nos, sempre nos vale, o Tempo, esse grande mestre que com o correr dos anos separará trigo e joio, moda e intemporalidade, literatura e banalidade. É deixá-lo correr .

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Ser ator ou ser famoso? Vera Casaca (Argumentista e Realizadora de Cinema) o you want to be an actor or do you want to be famous?”, esta foi uma das questões lançadas pelo ator Samuel L. Jackson durante a Masterclass que fiz recentemente. Obviamente uma retórica que lança fogo à palha seca que se tornou parte da nossa sociedade: a informação circula à velocidade da luz, tudo se sabe, todos se «conhecem» e se tornam «famosos» ao simples som de um click.

Curiosamente, este tema foi abordado no filme «Birdman» – vencedor do merecido Oscar para melhor filme, melhor argumento, melhor fotografia e o Alejandro G. Iñárritu ainda levou a estatueta para melhor realizador. A história esventra a tortura sofrida por uma celebridade na casa dos 60 anos (interpretado por Michael Keaton) que tenta reafirmar-se como ator na Broadway. Mas os seus tempos gloriosos vividos enquanto era novo (e enchia as bilheteiras com remessas de dólares) são uma maldição – já foi adorado, agora é irrelevante, já teve fios de cabelos, agora usa capachinho, já teve posters com a sua cara, agora paga para promover o seu espetáculo enquanto ator «sério» da Broadway. Estrelato. Ilusões. Frivolidade. E com a recente reportagem da jornalista Alexandra Borges – «Vendem-se sonhos, compram-se ilusões»: toca-se neste dente sensível na boca portuguesa. Para além de outros aspetos, a reportagem deixou a descoberto a confusão que existe entre uma profissão e o «aparecer» na televisão. Gente de coração negro e com um excelente sentido de negócio cria «agências» ou «empresas de ALGARVE INFORMATIVO #199

casting» que vendem sonhos de fama fácil. Aliciam os jovens e levam os pais a pagar centenas de euros em «books» fotográficos, supostos castings e formações de representação com as promessas vazias de que irão participar como protagonistas em séries e novelas. O esquema milionário jura lançar estes jovens iludidos para o estrelato. Ser-se famoso ou reconhecido deveria ser (ou é) o resultado ou um by-product de se ser uma autoridade numa área, de se prestar um trabalho de excelência e um serviço irrepreensível. E isso é fruto de trabalho árduo, horas e horas de formação e/ou experiência em teatros em que só aparecem os pais. Mas é assim que se começa, no duro e num vazio onde não há rede de segurança. Não há promessas, mas para compensar há quedas que sobejam. O amor à profissão pode trazer insegurança pessoal, com insegurança financeira – onde as pessoas podem passar meses sem verem um tostão. E no meio desta balbúrdia, atores, realizadores e formadores também são enganados com convites para mais tarde descobrirem a falta de honestidade e o uso indevido do seu nome e da sua imagem. Parece que as linhas do bom senso andam distorcidas, mas existem jovens em que o empenho e a compreensão sobre «o que é ser-se ator» é genuína, o que lhes permite reconhecer que a fama por si só não é nem nunca será o objetivo. A esses, desejo-lhes uma jornada repleta de sucesso .

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OPINIÃO

Loucura Fernando Esteves Pinto (Escritor) Se eu quisesse, enlouquecia. Sei uma quantidade de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio... Enfim, às vezes já não consigo arrumar tudo isso. Herberto Helder

louco aquele que teme a sua própria loucura. As experiências infernais atingem também os outros, os equilibrados; os seres limpos de raios e tempestades; porque ninguém quer viver cercado por loucos: cabeças iluminadas autenticamente; sobretudo poetas que ganham força com a loucura da escrita.

linguagem; é a conspiração de um verso louco contra o tempo morto dos poetas entregues ao refrão da normalidade. No laço da palavra poesia só cabe a cabeça dos loucos; o que sentiria António Gancho se percorresse as boas estradas da escrita e recolhesse os dias da sua vida como se se tratasse de frutos reais, estados de arte sem conflito?

António Gancho dividiu a cabeça em poemas; trabalhou a loucura para poder absorver todo aquele perigo que desafia as proporções da vida; as cenas mais tumultuosas e fechadas à chave do mundo. Atrás de uma porta fechada um louco escreve poesia. E as noites são claras se houver algum verso a espreitar pela fechadura da cabeça. É a loucura insaciável a dar murros muito fortes na lucidez; murros angulosos que transformam tudo em ruínas. A beleza equilibrada da loucura é a maior esperança do poeta: partilhar uma comunhão tão profunda com a poesia.

António Gancho impressionou porque era uma complicada metáfora da sua consciência. A instabilidade do seu espírito fazia tremer a língua; os seus sentidos domésticos eram uma civilização sob um emaranhado de sonhos dementes. Os seus sistemas poéticos foram desenterrados com tortura: delirante beleza que salva qualquer estado de loucura.

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Durante toda a viagem de um verso, António Gancho saltou de tecto em tecto; sentou-se nos degraus das nuvens altas; enevoou-se por completo para dar a forma exacta ao poema. Versos espessos e incoerentes; espasmos e transtornos deram um efeito de correcção do ser humano: só Deus sente a loucura que há num poeta. Mas há loucuras insípidas, de céu limpo e sensatez. À luz do poema alguns poetas sofrem as vicissitudes da angústia, e quando sentem os alicerces de uma emoção mais forte, indomável, tiram a cabeça da forca da ALGARVE INFORMATIVO #199

Os pobres poetas dos nossos dias não suportam o ritmo estranho de um verso sinuoso, sobretudo se a poesia se quebra e deixa o veneno exposto. Mas a poesia de António Gancho é remédio iluminado e servese com as palavras mais humanas e afectuosas. Compare-se-lhe a porta que se fecha a quem a tenta abrir; poemas de hesitação e reserva, por exemplo, põem o poeta a tomar chá numa inevitável solidão cerimoniosa. Do outro lado da história dos poetas loucos, coisa que todos nós tememos, a sensação de liberdade é um engano à felicidade; o peso da ilusão de quem deseja enlouquecer todo admirável e amadurecido na sua vaidade, desfigurado do papel mais importante da arte poética, é a maior doença que atinge indecentemente a poesia . 132


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OBRA DO PARQUE VERDE DA RIBEIRA DE ALJEZUR DE NOVO EM ANDAMENTO obra do Parque Verde da Ribeira de Aljezur foi retomada, tendo sido iniciados os trabalhos de montagem e preparação do terreno. A intervenção foi adjudicada à empresa «Joaquim Sequeira Vieira Urbanização e Construções Unipessoal Lda.», pelo valor de 323 mil e 516,34 euros acrescidos de IVA, sendo o prazo de execução de 120 dias. Recorde-se que a obra tinha sido interrompida após o abandono da empresa que ganhou o primeiro concurso e o objetivo é que tudo esteja concluído antes do início do Verão. A obra insere-se na Rua 25 de Abril, que tem uma função prioritária ALGARVE INFORMATIVO #199

na organização funcional da vila. A concentração de usos é justificada pela coexistência do eixo de mobilidade regional (Estrada Nacional 120), com o centro urbano. A requalificação desenvolve-se numa área de aproximadamente dois mil e 700 metros quadrados e numa extensão de 220 metros de passeio ribeirinho, na continuidade do passeio pedonal existente, em espaço resultante de demolições de edificações que configuravam a frente nascente da rua. A intervenção vai incidir ao nível das superfícies pavimentadas, delimitação da margem construída com inclusão de acessos à margem natural e de 136


elementos construídos que estimulem a permanência e o usufruto da paisagem natural das margens e a circulação longitudinal da frente urbana. O perfil da faixa viária também vai ser melhorado com um pequeno alargamento e inclusão de

lugares de estacionamento. Esta obra foi objeto de formalização de candidatura ao programa CRESC Algarve 2020 e conta com uma comparticipação de 70 por cento de financiamento .

INVESTIGADORES DA UALG DESCOBREM PROTEÍNA QUE AJUDA A REGULAR O DESENVOLVIMENTO DE DIVERSOS TIPOS DE CANCRO ma equipa do Centro de Investigação em Biomedicina (CBMR) da Universidade do Algarve, liderada pela investigadora Patrícia Madureira, acaba de publicar na Revista «Cancers» o resultado de uma investigação na área do cancro segundo a qual a proteína anexina A2 (ANXA2) desempenha um papel importante na regulação de uma das principais vias de sinalização celular - a via PI3K/AKT envolvida no desenvolvimento e promoção de diversos tipos de tumores. Sabendo-se de antemão que a via PI3K/AKT se encontra hiperativa numa grande variedade de cancros, como, por exemplo, o cancro da mama, do pulmão, do cólon, o melanoma, e o glioblastoma (principal e mais mortífero tumor cerebral), esta investigação permite agora desvendar novos mecanismos moleculares e celulares que regulam as células cancerígenas. Este trabalho assume-se, assim, como um importante passo para a identificação de novos alvos terapêuticos e pode conduzir, no futuro, ao desenvolvimento de novas terapias contra o cancro. Através desta investigação, que se foca nos 137

mecanismos celulares e moleculares envolvidos no desenvolvimento do cancro, a equipa estudou a expressão, ou seja, os níveis de genes e proteínas em células cancerígenas, a sua proliferação e os níveis de espécies reativas de oxigénio que conduzem ao stress oxidativo que, em humanos, se encontra ligado ao desenvolvimento de diversas doenças. Os investigadores descobriram que a interação entre duas proteínas - a ANXA2 e a proteína PTEN - funciona como inibidor da via PI3K/AKT. Demonstraram ainda que a proteína ANXA2 regula, de forma inversa, a proteína peroxiredoxina 2 (PRDX2) e permite, assim, evitar o stress oxidativo, que pode levar à morte celular ou provocar mutações a nível do ADN, causando a formação e desenvolvimento/progressão de tumores. O trabalho, dado a conhecer ao público no início de abril, foi escolhido como capa da revista científica «Cancers», uma das principais publicações internacionais na área da investigação em cancro, com um fator de impacto de 5.326 . ALGARVE INFORMATIVO #199


MARCA ALGARVIA LANÇA «TXIRTE ART COLLECTION» tornaram-se num meio de comunicação de grande impacto, onde a arte também pode ter um lugar muito especial, podendo ser, não só apreciada, como ganhar vida através do movimento dos corpos”. E, à semelhança das outras t-shirts da marca, esta é produzida em algodão orgânico de grande qualidade e vem acompanhada de uma embalagem reutilizável.

marca algarvia TXIRTE acaba de lançar online a primeira t-shirt da sua nova coleção «Art by Txirte», em parceria com o artista plástico João Sena. O portimonense com mais de 20 anos de carreira foi convidado a dar início à nova linha de tshirts da marca, que pretende convidar artistas de várias áreas e formações para criarem trabalhos exclusivos e de edição limitada que tornarão uma t-shirt, para além de uma peça de vestuário, num instrumento de divulgação artística. De acordo com o fundador e gestor da TXIRTE, Filipe Pimenta, “as t-shirts ALGARVE INFORMATIVO #199

TXIRTE é uma marca com uma linha de t-shirts temáticas geográficas «T-World» (cidades, regiões e países) e edições limitadas de autor comercializadas online através do seu site. Nasceu de um desejo muito especial de Filipe Pimenta que, como qualquer apaixonado por viagens, gosta de trazer uma recordação dos locais por onde passa, mas que há alguns anos se apercebeu que não só não existia uma oferta de qualidade em t-shirts do Algarve, como há outros lugares no mundo onde é difícil encontrar este tipo de recordações para o turista comprar. Decidiu, por isso, em 2018, lançar a TXIRTE com o propósito de ser uma referência na área das recordações de viagens e na divulgação de artistas. “Estão previstos novos lançamentos para breve na linha de divulgação de trabalhos de artistas, bem como uma nova coleção «T-World» referente a Portugal”, revela o empresário . 138


EMOÇÕES FORTES DO MOTOCROSS REGRESSAM À CORTELHA Circuito de Motocross da Cortelha, no interior do concelho de Loulé, recebe, no dia 5 de maio, a adrenalina e as emoções do motocross nacional, com cerca de 120 pilotos de diversas classes em prova. A competição disputa-se no agora denominado Circuito de Motocross Algar, na Cortelha, fruto do protocolo de patrocínio estabelecido entre a Associação dos Amigos da Cortelha e a Algar, empresa de recolha, valorização e tratamento de resíduos urbanos do Algarve. O circuito apresenta um traçado com cerca de 1.500 metros e vai ser palco da segunda etapa do Nacional de Motocross de Infantis e a quarta etapa do Campeonato de Motocross Centro/Sul de Portugal, nas classes MX1, MX2, Juniores, Femininas, Clássicas e MXPRO. Cortelha volta a ser, assim, sinónimo de festa e de

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muita emoção, numa pista que oferece condições inigualáveis para os amantes da modalidade assistirem, a partir das 9h, aos treinos das diversas classes e, por volta das 13h, às provas oficiais. Neste regresso do motocross ao Algarve, a organização preparou algumas novidades no circuito, mais zonas de estacionamento para o público, melhores condições de acolhimento no parque de pilotos e novos saltos para aumentar a adrenalina e o espetáculo da modalidade. A organização do Motocross da Cortelha está a cargo da Associação dos Amigos da Cortelha, com a chancela da Federação de Motociclismo de Portugal, e conta com o patrocínio da Algar e o apoio da Câmara Municipal de Loulé e da Junta de Freguesia de Salir, entre outras entidades .

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CÂMARA MUNICIPAL DE LAGOS QUER ADQUIRIR TERRENOS PARA CONSTRUÇÃO DE HABITAÇÃO A CUSTOS CONTROLADOS oi aprovada, na última reunião do executivo municipal lacobrigense, uma proposta que visa a aquisição de três lotes de terreno, pelo valor de um milhão e 225 mil euros, destinados à construção de habitação a custos controlados. A merecer agora autorização da Assembleia Municipal de Lagos, este investimento representa um marco determinante na concretização do Programa de Habitação para o Município 2018-2021 aprovado recentemente, no qual se prevê, entre outras ações, a construção de 195 novos fogos de iniciativa municipal, a maior parte dos quais a edificar na sede do concelho, onde as necessidades são mais sentidas. Os três lotes de terreno objeto desta ALGARVE INFORMATIVO #199

proposta ficam localizados na freguesia de São Gonçalo, mais concretamente na zona urbana a poente da Escola Secundária Júlio Dantas, e são atualmente propriedade da Cooperativa CHESGAL. As suas áreas generosas (3.260, 5.560 e 462 metros quadrados) permitem antever uma capacidade edificatória de cerca de 100 fogos. A proposta foi o resultado de conversações e negociações, estabelecidas entre o Município de Lagos e a entidade proprietária, através das quais foi possível chegar a um entendimento que é considerado vantajoso para as partes envolvidas. Recorde-se que, para fazer face ao agravamento do problema habitacional do concelho, o Programa de Habitação 140


reúne uma série de eixos e medidas que visam, para além da construção de novos fogos de iniciativa pública, dinamizar o mercado de arrendamento privado, incentivar a reabilitação, promover a disponibilização de lotes para autoconstrução, assim como implementar outros modelos de gestão, que, conjugados, permitam repor o equilíbrio entre a procura e a oferta imobiliária e ajudar a dar resposta às necessidades de fixação da população. No eixo da

ampliação do parque habitacional municipal, a autarquia lacobrigense tem também já em curso a elaboração dos projetos para a construção de 29 fogos (em Bensafrim, no Sargaçal e em Lagos), cuja construção está prevista iniciar-se no final de 2019 /início de 2020. Em matéria de arrendamento, outro dos eixos do Plano Municipal de Habitação, destaca-se a elaboração, em curso, do Regulamento Municipal de Apoio ao Arrendamento Privado .

LOULÉ ASSINALA 1.º DE MAIO COM ENCONTRO DE CABO-VERDIANOS E SEUS AMIGOS E INAUGURAÇÃO DE ESCULTURA o dia 1 de maio, Dia do Trabalhador, realiza-se na cidade de Loulé mais um Encontro de CaboVerdianos e seus amigos, um momento de reunião e convívio entre os migrantes residentes neste concelho, mas também de exaltação da cultura de África. E no ano em que este evento celebra 25 anos de existência, o Município de Loulé associa-se mais uma vez às comemorações para homenagear, não só os africanos, mas também a meia centena de comunidades migrantes residentes no maior concelho algarvio e que, no seu diaa-dia, contribuem para o desenvolvimento deste território. A festa arranca pelas 11h, com a tradicional missa no Santuário da Mãe Soberana, onde estarão representadas as várias comunidades que fazem questão de prestar homenagem à Nossa Senhora da Piedade, Padroeira de Loulé. Às 12h30 141

acontece um dos momentos altos do dia: a inauguração da escultura «Ponto de Encontro», na rotunda junto à Urbanização das Romeirinhas, Avenida Laginha Serafim. Da autoria do artista Paulo Neves, este trabalho escultórico pretende transmitir precisamente a diversidade de povos e culturas que o Concelho de Loulé acolhe e que refletem uma sociedade humanista e integradora, marcada pelos valores da tolerância e do respeito pelo outro, independentemente da etnia, cor, credo ou religião. A partir das 13h, a festa faz-se no Salão de Festas de Loulé, com muita música e artes que expressam bem toda a riqueza cultural africana. Em destaque vai estar também a típica gastronomia, como a cachupa ou os doces cabo-verdianos. A animação musical estará a cargo do artista Zé Espanhol, que trará as sonoridades quentes de Cabo Verde . ALGARVE INFORMATIVO #199


OLHÃO FOI DISTINGUIDO NO BRASIL, REFORÇOU LAÇOS COM DOIS SÉCULOS E PROMOVEU PARCERIAS presidente da Câmara Municipal de Olhão, António Miguel Pina, deslocou-se a Brasília, Capital Federal do Brasil, no dia 17 de abril, a convite do presidente do Instituto Guararapes, Coronel Ubiratan Guedes, onde, em nome de todos os olhanenses, foi agraciado com a medalha Sérgio Vieira de Melo, recebendo igualmente a faixa e título Grau Chanceler Honorário da Soberana Ordem da Fraterna Integração Brasil-Portugal. Esta condecoração, que visa o reconhecimento das ações e serviços com a comunidade luso-brasileira, méritos de honra, ALGARVE INFORMATIVO #199

dignidade, caráter e espírito empreendedor, contou com o apoio do Soberano Grão-Mestre das H.O. Comendador Regio Barros e do deputado da República Federativa do Brasil, Ruy Pinato, sendo aprovada pelo Conselho Internacional de Honraria e Mérito. A cerimónia de tributo ao empreendedorismo, denominada Tributo a Juscelino Kubischec, em que o autarca de Olhão esteve em evidência, integrou-se nas celebrações do 59.º aniversário da capital brasileira. Neste ato solene, presidido por Stavros 142


Xanthopoylos, figura maior da investigação em matéria de Educação, e assessor do Presidente Jair Bolsonaro na mesma área, foram premiadas diversas figuras ligadas ao empreendedorismo, como empresários dedicados à investigação nas mais variadas áreas a personalidades que desenvolveram projetos de integração de refugiados. Para além dos laureados estiveram presentes, entre outros, o Secretário Especial dos Assuntos Estratégicos, General Maynard Santa Rosa, o presidente do Instituto Sócio Cultural Brasil - China (IBRACHINA) Thomas Law, o presidente do Instituto Guararapes Coronel Ubiratan Guedes e o presidente da Frente Parlamentar do Congresso Nacional - Brasil China, Regino Barros. “A ligação da cidade de Olhão ao Brasil iniciou-se em 1808. Passados 211 anos voltámos a relembrar o passando e criámos alicerces, de modo a estabelecer novas pontes e parcerias. Gostaria que a cidade de Olhão se tornasse um ponto de referência para investidores ligados a estas comunidades”, referiu António Miguel Pina na cerimónia de condecoração.

empresários e investidores e também com os responsáveis de várias entidades públicas brasileiras, como a Autoridade Nacional de Transportes Aquaviários. “Promover em Olhão o lançamento de um projeto de agência de investimento e empreendedorismo que complemente os nossos projetos de startup e o projeto Altice Lab, já em desenvolvimento, é uma das nossas prioridades. O Município de Olhão pretende afirmar-se como um polo de desenvolvimento e empreendedorismo, captação de investimentos e criação de emprego”, afirmou o presidente da Autarquia, acrescentando: “Pretendemos ser uma das principais «portas de entrada» de investidores, associações empresariais e câmaras de comércio. Urge captar para o concelho, para a região e para o País, parte desses investimentos” .

A par dos contatos com os representantes das Câmaras de Comércio Ibrachina e Brics, António Miguel Pina participou em diversas reuniões de trabalho com 143

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PROJETO PIONEIRO ANIMOU FÉRIAS DA PÁSCOA DA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE PORTIMÃO o âmbito do Programa das Férias da Páscoa da Biblioteca Municipal Manuel Teixeira Gomes, a Câmara Municipal de Portimão estabeleceu uma parceria com a Happy Code Algarve, tendo oferecido um Bootcamp de Programação em Roblox às crianças, com mais de sete anos, residentes no concelho, de 9 a 13 de abril. A Happy Code é uma escola de programação, tendo como missão formar pensadores e criadores do século XXI. Com uma metodologia de ensino baseada no conceito STEAM (Science, Technology, ALGARVE INFORMATIVO #199

Engineering, Arts and Math), os cursos lecionados incidem sobre a programação de computadores, desenvolvimento de jogos e aplicações, robótica com drones, bem como produção e edição de vídeos para o YouTube. Durante cinco dias, as crianças e os jovens na Biblioteca Municipal tiveram acesso ao «Roblox», uma plataforma digital de jogos, que lhes permitiu criarem os seus próprios mundos virtuais (Places) e projetar os seus próprios jogos dentro da plataforma. 144


Neste curso, as crianças e jovens foram iniciados no mundo do Roblox Studio, com a criação de cenários e itens. Para além de jogarem no «Roblox», aprenderem a programar e criar jogos dentro do Roblox, que poderão ser utilizados inclusive por outros jogadores. As inscrições para o Bootcamp de Programação esgotaram rapidamente, comprovando a existência de um grande entusiasmo nas crianças do concelho pelo efeito de novidade e de inovação trazida pelo projeto. No dia 13 de abril teve lugar um momento especial de partilha entre pais e filhos, em que os Encarregados de Educação tiveram a oportunidade de conhecer e acompanhar os trabalhos finais desenvolvidos pelos seus educandos, e

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também tomaram conhecimento das vantagens da programação para o desenvolvimento das competências do século XXI. O Bootcamp de Programação em Roblox da Happy Code é um projeto pioneiro, tratando-se de uma resposta aos sonhos dos mais novos e irá ensinarlhes as competências de futuro, quer a nível técnico, quer criativo, que lhes permitirão desenvolver aptidões necessárias no mundo de amanhã. O projeto criou verdadeiras pontes para o futuro ao promover nos mais pequenos a introdução de pensamento no que respeita ao uso das ferramentas tecnológicas .

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ALCALAR REGRESSA À PRÉ-HISTÓRIA A 4 DE MAIO o âmbito das comemorações do 11.º aniversário do Museu de Portimão, o Município de Portimão e a Direção Regional de Cultura do Algarve, em colaboração com o Município de Monchique e as Juntas de Freguesia de Portimão, Alvor, Mexilhoeira Grande e o Grupo de Amigos do Museu de Portimão, realiza, no dia 4 de maio, entre as 10h e as 17h30, uma recriação pré-histórica nos Monumentos Megalíticos de Alcalar, com entrada livre.

conjunto diversificado de ateliês práticos e didáticos representativos das atividades de caça, olaria, gravura, tecelagem, fabrico de ferramentas, processos de talhe, preparação e cozedura de alimentos, fabrico de cerveja pré-histórica, fabrico de instrumentos agrícolas e adornos, transporte de grandes monolíticos e moagem. Este ano, o dia será animado com a presença da Escola da Bemposta e do seu grupo de teatro, que vão recriar cenas do quotidiano daqueles tempos milenares.

Os participantes poderão conhecer de uma forma interativa o quotidiano das populações pré-históricas através de um

A arqueologia experimental volta a marcar a oferta desta iniciativa com um conjunto de propostas que permitirão

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ao visitante participar e assistir à preparação dos alimentos até à sua confeção. Os mariscos, berbigão, ameijoa e o peixe fazem igualmente parte da ementa que os mais curiosos poderão provar. Sem fósforos nem facas, a equipa, especializada neste tipo de experimentação, vai fazer o fogo e preparar os alimentos como se recuássemos cinco mil anos, utilizando os instrumentos de pedra. O visitante fica a conhecer fabrico de ferramentas, processos de talhe, preparação e cozedura de alimentos, fabrico de cerveja préhistórica, fabrico de instrumentos agrícolas e adornos, transporte de grandes monolíticos, moagem e também, outra novidade, a oficina de gravura com base nos padrões gráficos das placas de xisto. A recriação histórica, que permite a centenas de famílias participarem nas atividades realizadas na pré-história de

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forma divertida e pedagógica, integra o conjunto de iniciativas que têm vindo a ser desenvolvidas desde 2006, pelo Museu de Portimão, nos Monumentos Megalíticos de Alcalar (Monumento Nacional) e constitui um dia de experiências fundamentadas pelos estudos já realizados sobre o território Alcalarense e os trabalhos desenvolvidos por parte de investigadores das universidades de Estugarda, Córdoba e pelo Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa. A recriação conta com um apoio financeiro proveniente da candidatura realizada pelo Grupo de Amigos do Museu de Portimão ao Programa DiVaM da Direção Regional da Cultura do Algarve e com a ajuda de várias entidades e de um grupo de voluntários que habitualmente colaboram com a equipa do museu na dinamização destas atividades .

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SÃO BRÁS DE ALPORTEL HOMENAGEOU CONSTRUTORES DA LIBERDADE E DA PAZ NOS 45 ANOS DA REVOLUÇÃO Município de São Brás de Alportel assinalou, no dia 25 de abril, o 45.º aniversário da Revolução dos Cravos com a apresentação da escultura «Liberdade», uma homenagem aos construtores da Liberdade e da Paz, da autoria de Carlos de Oliveira Correia, que foi instalada na nova rotunda construída na Avenida da Liberdade, na sua interseção com as Ruas Machado dos Santos e Matos Proença. Após a cerimónia de hastear da Bandeira Nacional decorrida nos Paços do Concelho ao som do Hino Nacional interpretado pela Banda Filarmónica de São Brás de ALGARVE INFORMATIVO #199

Alportel, com a participação da Corporação de Bombeiros Voluntários, as comemorações dos 45 anos da Revolução de Abril de 1974 prosseguiram rumo ao Parque das Amendoeiras, onde decorreu uma emotiva Sessão de Apresentação Pública da Escultura «Liberdade», durante a qual usaram da palavra o Presidente da Assembleia Municipal, Ulisses de Brito; e o Presidente da Junta de Freguesia de São Brás de Alportel, João Rosa. Seguiu-se a mensagem do Presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro, que enalteceu a importância de celebrar as conquistas da Revolução de abril de 148


1974, os seus ideais e valores pilares da nossa sociedade: Liberdade, Democracia, Igualdade, Solidariedade e Justiça. “Conquistas que não ficaram no passado, mantêm-se vivas nas gerações do presente e é nosso dever fortalecer este legado junto das novas gerações, para que no futuro estes valores seja um farol de cidadania ativa e responsável na construção de uma sociedade igualitária e feliz”, sublinhou. A cidadania ativa, essencial à democracia, é um desafio vivido intensamente em São Brás de Alportel ao longo dos anos, com a implementação de processos como o Orçamento Participativo. “O Parque das Amendoeiras e, mais recentemente, a concretização do circuito pedociclável nas Ruas Machado dos Santos e Dr. Matos Proença, que alargam a rede de passeios acessíveis, são ambos projetos escolhidos pela comunidade e por isso é tão significativa a instalação justamente neste local, desta obra de arte que evoca a liberdade, a paz e a democracia, construções humanas que estão diariamente nas mãos dos cidadãos das famílias, da comunidade”, enfatizou o edil. Carlos Correia, autor da escultura, teve ocasião de partilhar, de viva voz, o espírito que o animou na criação desta obra que convida a refletir sobre a liberdade, a paz e a esperança, revelando o significado de cada pequeno detalhe. “Cinco figuras humanas representam a família, a paz, a união, a igualdade, segurando nas suas mãos as pombas que encorajam a voar. O voo não se aprende, apenas pode ser encorajado. E sem liberdade, não podemos ter paz”, afirmou Carlos Correia, 149

que no final da sua mensagem convidou Paula Laranjo a ler um poema, da autora, que evocou a liberdade . ALGARVE INFORMATIVO #199


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #199

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