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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 20 de julho, 2019

VALE BOI | ATELIER DO MOVIMENTO | DANÇA EM CASTRO MARIM | «CENAS NA RUA» 1 ALGARVE INFORMATIVO #211 «MERCADO FORA D’HORAS» | FUTVOLEI EM ALBUFEIRA | GALA DA CRUZ VERMELHA


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CONTEÚDOS #211 20 DE JULHO, 2019

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HISTÓRIAS 12 - Feira da Serra de São Brás 20 - Futvolei em Albufeira 30 - Alterações climáticas 40 - Arqueologia em Vale Boi 50 - Um poema de Daniel Matos para Sophia 58 - «Cenas na Rua» em Tavira 68 - Dança em Castro Marim 84 - Atelier do Movimento 94 - Gala da Cruz Vermelha 106 - «A Night at the Ballet» 118 - «Mercado Fora d’Horas» 148 - Atualidade

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OPINIÃO 68

130 - Paulo Cunha 132 - Mirian Tavares 134 - Ana Isabel Soares 136 - Adília César 138 - Fábio Jesuíno 140 - Carla Serol 142 - Paulo Bernardo 144- Fernando Esteves Pinto ALGARVE INFORMATIVO #211

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O DOCE SABOR DA TRADIÇÃO ESTÁ DE VOLTA A SÃO BRÁS DE ALPORTEL COM MAIS UMA FEIRA DA SERRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

ealiza-se, de 25 a 28 de julho, mais uma edição da Feira da Serra de São Brás de Alportel, com muita gastronomia, artesanato e animação a catapultarem esta vila do coração da Serra do Caldeirão para os ALGARVE INFORMATIVO #211

holofotes do Verão algarvio, desta feita tendo o figo como convidado de honra. Mas não estamos na presença de um simples festival de artesanato e gastronomia com um cartaz de animação a piscar o olho a vários gostos e gerações, com Calema, Gipsy Kings, H.M.B. e o projeto «Cantar Amália». Isto porque a diversidade de espaços e 12


João Rosa, David Gonçalves, Marlene Guerreiro, Vítor Neto, Vítor Guerreiro, João Fernandes, Bruno Sousa Costa, Ricardo Silva e Acácio Martins

atividades – em que a novidade de 2019 é a possibilidade de se percorrer o recinto, num slide, a 30 metros de altura – convida a uma rota única de experiências para toda a família. “São mais de uma centena de artesãos, podem-se saborear os sabores da serra e do barrocal nos nove espaços gastronómicos, há inúmeros aliciantes que prometem surpreender os visitantes, um programa com mais de 40 horas de espetáculos, até se pode dançar nos bailes serranos”, revelou Marlene Guerreiro, presidente da Comissão Organizadora da Feira da Serra, ao final da tarde de 17 de julho. O Município de São Brás de Alportel levou a cabo uma conferência de imprensa nas Piscinas Descobertas, durante a qual se ficaram a conhecer os principais destaques da 28.ª edição da Feira da Serra. E, conforme referido, a grande novidade é o «Fly Serra Slide», em que, a bordo de uma cadeira de parapente, o visitante pode «voar» numa extensão de 250 metros 13

sobre a Feira da Serra e a uma altura de 30 metros, desfrutando de uma vista única sobre o recinto numa parceria com a Associação de Parapente do Algarve. Uma Feira da Serra que vai ser ainda mais ecológica mercê do uso de copos reutilizáveis exclusivos para o evento, de modo a incentivar à redução do plástico descartável. “E a Feira da Serra está este ano na Rota do Geocaching, movimento mundial que junta milhões de pessoas em todo o planeta numa aventura à descoberta das pequenas caixas misteriosas que ajudam miúdos e graúdos a conhecer o mundo à sua volta”, referiu Marlene Guerreiro, acrescentando que a feira está igualmente na Rota da Estrada Nacional 2, não fosse São Brás de Alportel o penúltimo ponto a sul da mais longa estrada da Europa. “Esta rota turística vai ser o destaque principal do espaço do município na Feira e vamos abrir brevemente um Núcleo Interpretativo ALGARVE INFORMATIVO #211


da EN2”, adiantou a Vice-Presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel. Dez anos depois, o figo volta a ser o convidado de honra da Feira da Serra, numa edição inspirada por um fruto seco que é uma das maiores riquezas do Algarve, com excelentes potencialidades e uma importância extraordinária na história da região, conforme sublinhou, durante a conferência de imprensa, Vítor Neto, empresário, presidente do NERA e antigo Secretário de Estado do Turismo. E, por isso, o figo vai inspirar o Palco Sabores, onde não vão faltar os doces, as compotas, os licores, manteigas, sabonetes e muitas outras propostas saborosas. Mas a Feira da Serra já mostrou ser também um palco de excelência para promover projetos que inovam a tradição na região e, assim, vai ser apresentada ao público a nova cerveja produzida em São Brás de Alportel, assim como um novo leite de alfarroba e a nova Confraria Gastronómica da Serra do Caldeirão, sediada em São Brás de Alportel, que nasceu em novembro para ALGARVE INFORMATIVO #211

defender os valores deste território que tem na gastronomia uma das suas maiores riquezas. A funcionar no coração do Centro Histórico de São Brás de Alportel desde 2018, a Casa do Artesão volta a marcar presença na Feira da Serra e outro dos destaques será a apresentação do Portal Comércio e Serviços de São Brás de Alportel, “uma ferramenta digital para divulgarmos as empresas sediadas no concelho, nas mais diversas áreas, num projeto da responsabilidade do Gabinete do Empreendedor, que se assume como um eixo muito importante na dinamização da economia local”, frisou Marlene Guerreiro. Já Vítor Guerreiro chamou a atenção para a continuidade do esforço que tem vindo a ser levado a cabo para que o certame seja 100 por cento acessível para todos, independentemente de quaisquer limitações ao nível da mobilidade, num recinto que ocupa mais de 20 mil metros 14


quadrados. “Após o sucesso da última edição, renovamos a parceria com a Casa de Repouso e Saúde de São Brás de Alportel e a Fisio São Brás para colocar em marcha a iniciativa «Feira da Serra – evento acessível», que integra circuitos acessíveis, espaço acessível reservado junto ao Palco Principal, espaços de estacionamento específicos e todo um apoio personalizado”, declarou o presidente da autarquia. Criada em 2018, a Estação da Feira «Street Área» será o ponto de partida para uma viagem à descoberta de novos projetos na área da agricultura, do ambiente e do turismo, com grande destaque para os petiscos sobre rodas, numa mostra de street food. Este ano haverá um setor dedicado aos veículos elétricos e, claro, não faltará também o Sítio do Vinho, que foi o tema principal em 2017 e assentou arraiais na Feira da Serra, devido ao sucesso que tem junto dos

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milhares de visitantes. Mas, como em todos os certames desta natureza, boa parte das atenções está focada no palco principal, de modo que a Câmara Municipal de São Brás de Alportel não descura a vertente musical. Por isso, em 2019, a Feira da Serra abre as portas ao mundo com um concerto de Gipsy Kings by Diego Baliardo, no dia 26 de julho, que promete bater todos os recordes de visitantes. A estes juntam-se Calema (25), H.M.B. (27) e «Cantar Amália» (28). Animação não vai faltar igualmente no Picadeiro, que dará a conhecer a «princesa lusitana são-brasense». “Teremos demonstrações equestres que revelam todo o esplendor destes majestosos animais em espetáculos de grande proximidade com o público. De quinta a domingo, das 19h30 às 21h15, os mais novos também poderão fazer o seu batismo de equitação num divertido «volteio»”, indicou Marlene

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Guerreiro. O Carrossel do Clube Hípico de Loulé vai passar pelo Picadeiro nos dias 25 e 26, às 21h30. A apresentação da Puro Sangue Lusitano São-Brasense «Núbia» pelo cavaleiro Daniel Pires e o espetáculo «Sentimento Equestre» por Lusitanus Miranda estão marcados para as 22h dos dias 26 e 27 e, no sábado, o Picadeiro recebe, às 21h, o espetáculo «El Capote – Sevilhanas de Sobral de Monte Agraço». O Picadeiro da Feira da Serra encerra a sua programação de 2019, no domingo, dia 28, com o espetáculo «Fado Volteio Artístico» por AcroHorse Team, às 21h30. Está visto que os incentivos são imensos para se visitar a Feira da Serra, um certame que, ao longo destes 28 anos de promoção e valorização das riquezas da Serra do Caldeirão, continua a reinventar-se e a surpreender a cada edição com novos espaços e iniciativas, direcionados para todas as idades e mantendo todos aqueles que são os seus ingredientes essenciais –

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diversidade, qualidade e genuinidade. “É um evento importantíssimo para valorizar, proteger e promover as tradições e costumes da Serra do Caldeirão, do barrocal e da região, mas também para promover e preservar os saberes ancestrais associados ao artesanato local e à confeção de produtos agroalimentares, enquanto impulsionadores da atividade económica da serra e barrocal”, assumiu Vítor Guerreiro. “Queremos proporcionar um contacto direto com a fauna e flora, no sentido de sensibilizar para a biodiversidade local e respetiva importância; divulgar apostas inovadoras de empreendedorismo local e regional; promover a gastronomia tradicional assente nos valores da Dieta Mediterrânica; valorizar o comércio local; e apresentar a oferta turística do território são-brasense nas suas mais diversas áreas”, enfatizou o presidente

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da Câmara Municipal. E tudo isto pela módica quantia de quatro euros para o bilhete diário individual, sendo que o bilhete para quatro dias custa 12 euros, o mesmo valor que custa o ingresso diário para família (4 entradas pelo preço de 3). Palavras não faltaram, entretanto, durante a conferência de imprensa, para elogiar e enaltecer o envolvimento e sentimento de orgulho da comunidade são-brasense e dos funcionários da autarquia na Feira da Serra, uma iniciativa promovida pela Câmara Municipal de São Brás de Alportel, sob coordenação da Comissão Organizadora do certame, e na qual estão envolvidas cerca de duas mil pessoas. “É um conjunto de sentimentos bastante positivos e felizes, de emoções. Não é um evento de música, gastronomia e artesanato, é muito mais 17

do que isso, e o que desejamos é que as pessoas saiam da feira felizes e com vontade de voltar”, afirmou Vítor Guerreiro. “A nossa vontade é mostrar o que de bom temos no concelho e na região, sejam produtos tradicionais ou inovadores, acima de tudo produtos diferenciadores e endógenos, como é o caso da doçaria, dos enchidos e queijos, do artesanato, da palma e da empreita. Ainda não fizemos um estudo científico sobre o impacto económico da Feira da Serra, mas sabemos que existe um retorno enorme, porque há imensas pessoas que regressam ao concelho noutras alturas do ano para desfrutar de experiências que conheceram durante o evento”, finalizou Vítor Guerreiro .

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FILIPE SANTOS E MIGUEL PINHEIRO VENCERAM 3.ª ETAPA DO EUROPEAN FOOTVOLLEY LEAGUE 2019 Texto: Daniel Pina | Fotografia: Vítor Pina

s equipas Portugal 1, composta por Filipe Santos e Miguel Pinheiro, na competição masculina, e Noruega, constituída por Henriette Ingvaldsen e Pernille Ingvaldsen Smith, na competição ALGARVE INFORMATIVO #211

feminina, foram as grandes vencedoras da terceira etapa do European Footvolley League 2019, que teve lugar na Praia dos Pescadores, em Albufeira, de 12 a 14 de julho. A derradeira etapa pontuável contou com 16 equipas masculinas em representação de 13 países, 20


nomeadamente Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Israel, Itália, Noruega, Portugal, Suécia e Suíça. Na vertente feminina 21

foram seis as equipas, de seis países, designadamente Áustria, Alemanha, Itália, Noruega, Portugal e Suíça, que evoluíram ao longo dos dois dias de ALGARVE INFORMATIVO #211


prova, com as equipas a mostrarem um nível técnico cada vez maior. No jogo de todas as decisões da competição feminina, as norueguesas tiveram de suar bastante para vencer as italianas e somar mais uma vitória para juntar às das duas primeiras etapas. De facto, foi necessário um terceiro set para se encontrar as grandes vencedoras da etapa de Portugal, com o marcador a fechar com os parciais de 13x18 18x12 e 15x17. No jogo que fechou a tarde e a competição, neste caso a masculina, Portugal 1 já está habituado a este grande palco e, contando com forte apoio do público, mostrou-se a grande nível. Assim, com um maior equilíbrio nas suas ações e maior eficácia, fechou o primeiro set na frente com o marcador 18x13. Sem margem para novo deslize, a dupla da Alemanha não conseguiu reentrar no jogo e Portugal acabou por vencer alguns

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pontos de extrema importância que acabariam por ser suficientes para gerir com maior tranquilidade e encerrar como nova vitória no segundo set, com o parcial de 18x8 e consequente vitória na terceira etapa do European Footvolley League 2019, repetindo o triunfo da etapa anterior realizada na Alemanha. Durante os três dias de prova, um numeroso público foi marcando presença no estádio edificado em plena Praia dos Pescadores, em Albufeira, desfrutando dum grande espetáculo desportivo e fazendo parte de uma festa cheia de momentos de grande emoção e animação constante. A organização foi da responsabilidade da European Footvolley League com a Federação Nacional de Futevólei - Portugal. O momento decisivo da competição está agendado para agosto, em Lucerna, na Suíça .

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VERÃO ENCHE O ALGARVE DE TURISTAS, MAS TUDO PODE MUDAR SE NADA FOR FEITO PARA PROTEGER ESTE PARAÍSO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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m pleno Verão, os turistas afluem à região algarvia às centenas de milhares, em busca das suas paisagens paradisíacas, nomeadamente das praias que conquistam todos os anos galardões internacionais, mas também da traça genuína dos centros históricos e zonas ribeirinhas das cidades do litoral, assim como da pacatez e tranquilidade do interior. Um cenário idílico que, contudo, corre riscos de desaparecer em certa medida, daí que a AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve tenha encomendado um rigoroso estudo realizado por um consórcio liderado pela FCiências.ID – Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e do qual constava também a Universidade do Algarve e a Bentley Systems. Os resultados do Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas da Comunidade Intermunicipal do Algarve (PIAAC-AMAL) foi apresentado a 4 de junho e, face ao cenário previsto para 2100, depressa se concluiu da necessidade de mudança de paradigma, deixando para trás apenas a abordagem a alterações climáticas, substituídas agora por «urgência climática». E o PIAAC terá que funcionar como “um elemento estratégico para a região, capaz de alavancar as prioridades de investimento no próximo quadro comunitário 2030, bem como servir de diretriz à agenda política para a resiliência do território regional”, sublinha Jorge Botelho, presidente da AMAL e da Câmara Municipal de Tavira. “Se não se fizer ALGARVE INFORMATIVO #211

nada, vamos ter seríssimos problemas porque o Algarve é uma região particularmente exposta às alterações climáticas, conforme se comprovou por este estudo coordenado pelo Filipe Duarte Santos e Luís Silva. São 10 itens principais de análise, entre os quais se contam a subida do nível da água do mar, os fenómenos extremos, a seca, a agricultura e florestas, as vias de comunicação e os impactos sobre a saúde das pessoas”, indica o entrevistado. Questões concretas sobre as quais há que olhar com a devida atenção e 32


responsabilidade, porque as alterações climáticas há muito que deixaram de ser um enredo de filmes de ficção científica. “Cada vez temos períodos maiores de falta de água, todos sentimos que alguma coisa está a mudar no tempo, e isso é particularmente importante numa região que, durante o Verão, depende das suas praias. Isso exige um caderno de encargos de ação política e de investimento para que, juntamente com o governo – seja ele qual for –, com a AMAL e com os fundos comunitários que possam existir, consigamos atacar um conjunto de problemas identificados, como as captações de água, a 33

dessalinização ou a rede de distribuição. Há cenários nada famosos para zonas como Quarteira, Portimão, Faro ou Tavira, onde poderá haver um alagamento das frentes ribeirinhas”, alerta Jorge Botelho. O plano oferece, assim, fundamentos científicos e devidamente sistematizados para medidas a tomar pelos autarcas locais, mas, sobretudo, pelo governo central, numa iniciativa pioneira, uma vez que a AMAL foi a primeira Comunidade Intermunicipal de Portugal a apresentar um plano de adaptação às alterações climáticas. E ALGARVE INFORMATIVO #211


isso foi possível porque os 16 presidentes de câmara reconhecem que este problema afeta todos os concelhos, cada um à sua maneira. “Nem sempre o consenso é fácil no início das conversas, mas depois, com as várias trocas de impressões, tornamse claros os benefícios de existirem planos conjuntos. Houve um forte trabalho técnico de entreajuda entre todas as autarquias e a equipa redatora do plano e todos os presidentes estiveram particularmente envolvidos no apoio político para que ele fosse aprovado”, garante o edil tavirense. E se é verdade que Loulé até já tem um plano de adaptação às alterações climáticas por estar inserido numa rede de cidades do Programa AdaPT, Jorge Botelho declara que todos os 16 municípios algarvios vão precisar do seu próprio plano que, na prática, será a concretização de um trabalho de maior proximidade daquilo com que já contribuíram para a realização ALGARVE INFORMATIVO #211

do PIAAC-AMAL. “Não digo que as agendas locais vão ser transformadas, mas terão que ser incrementadas com as preocupações sobre as alterações climáticas”, frisa. Seguir o plano é, portanto, fundamental, porque é um fio condutor para os investimentos que devem ser realizados para proteger a costa, acautelar os períodos de seca, prevenir os efeitos sobre a qualidade de vida e a saúde das pessoas, sejam elas residentes ou visitantes. “O caminho pode ter muitas voltas, mas a direção está identificada e há 10 situações prioritárias que devem ser concretizadas em medidas nacionais, regionais e locais”, confirma Jorge Botelho, acrescentando que o PIAACAMAL não pode ser mais um estudo para ficar na prateleira ou na gaveta… mesmo que isso vá influenciar planos e 34


investimentos já aprovados. “Não há como fugir desta questão e, no Algarve em concreto, qualquer político ou técnico pega no plano e sabe direcionar as suas agendas em conformidade. Ora, se sabem os políticos e os técnicos, também sabem os investidores. Os PDM estão em revisão e os empresários deverão estar particularmente atentos, se têm direitos adquiridos de construção, ao impacto que as alterações poderão ter sobre os seus investimentos, que não se querem por meia dúzia de anos, mas por uma maior durabilidade”, salienta o entrevistado.

ESTUDO NÃO PODE FICAR NUMA PRATELEIRA COM UMA LOMBADA GIRA Se nada se fizer até lá, em 2100 poderemos ter um Algarve bem diferente do atual, mas o PIAAC-AMAL preconiza

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várias medidas concretas para evitar ou atenuar os efeitos das alterações climáticas. E, como não há dinheiro para avançar em todas as frentes em simultâneo, há que estabelecer prioridades. “A questão das reservas de água é essencial e está alinhada com o plano de investimento do Grupo Águas de Portugal e da Águas do Algarve para a captação de água em alta. Acho que não podemos depender apenas da chuva, nem das reservas de superfície, porque essas evaporam mais depressa face ao intensificar do calor. Teremos que acelerar os estudos para a dessalinização, entrar em planos vitais de ciclos de água, no reaproveitamento da água não tratada para outras funções que não o consumo humano, como o caso da agricultura, que cada vez mais é intensiva na região”, entende Jorge Botelho.

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A subida do nível das águas é outra forte preocupação num Algarve bastante dependente da qualidade das suas praias, o que implica uma estratégia concertada de defesa de costa, uma vez que há areia em demasia em certos locais e em escassez noutros. “De acordo com o estudo, a costa ocidental não terá grandes problemas de vulnerabilidade sobre a subida da água porque é rochosa, do lado oriental temos os areais que todos os anos têm que ser recarregados. Os fenómenos extremos não se conseguem evitar, mas temos que preparar as estruturas para eles. E nas vias de comunicação, com a subida da temperatura, o alcatrão que temos hoje nas estradas deixa de ser o mais adequado. Não podemos ficar de braços cruzados a pensar que nada se passa”, avisa o presidente da AMAL, crente que o poder central está sensibilizado para todos estes problemas. “Em Portugal fazem-se muitos estudos que ficam numa prateleira com uma lombada gira, este vai ser muito utilizado para fundamentar o plano dos investimentos que são absolutamente essenciais para a região a 10 anos, no mínimo. É bom que estejamos todos envolvidos e que falemos com o governo com a determinação de quem está preparado para essa conversa”. Resta saber se o cidadão comum está também verdadeiramente consciente para esta problemática, de que deve dar o seu contributo, de que terá que alterar os seus comportamentos no dia-a-dia, de que irá sofrer com os inconvenientes das necessárias obras. “Infelizmente, ainda não estamos todos alinhados pela ALGARVE INFORMATIVO #211

mesma bitola, apesar de considerar que cada vez os temas do ambiente preenchem um espaço maior na vida das pessoas. O eco, as bicicletas, os automóveis que, se calhar daqui a 10 anos, terão outra forma qualquer de propulsão, vão entrar definitivamente na vida das pessoas. Sobre a tolerância às obras, sabemos bem como são os portugueses. Quando não há obra, lamentam-se porque não se faz nada. Quando há obra, queixam-se dos incómodos. Quando a obra está concluída e melhoraram-se as coisas substancialmente, dizem que já devia ter sido feita há muito tempo”, descreve, com um sorriso. Já não há, portanto, desculpas para se não fazer nada, para se assobiar para o lado, a adaptação às alterações climáticas deixou de ser uma preocupação e passou a ser uma questão de emergência. De qualquer modo, Jorge Botelho esclarece que “o PIAAC-AMAL não é nenhuma Bíblia, é um documento dinâmico, uma conduta orientadora que nos diz os riscos que corremos”. “Acredito que nenhum autarca deixará de ter este assunto na sua agenda e que ele vai ter um peso maior a nível nacional e europeu”, antevê. “As emissões têm que ser fortemente reduzidas, os transportes têm que ser mais sustentáveis, o transporte coletivo tem que ser uma realidade, as pessoas vão ter que alterar hábitos e os líderes mundiais um dia vão ter que perceber aquilo que já é óbvio para muitos de nós, só que, em função dos interesses financeiros, alguns olham para o lado como se nada fosse. Pensam que os 36


seus mandatos são curtos e que não precisam preocupar-se com estes temas, pelo que a pressão da população sobre a qualidade do mundo, da sua casa comum, vai ter que ser maior. No Algarve, não queremos «navegar à vista» 37

no que toca aos investimentos a fazer no futuro próximo, mas com um documento condutor e um caderno de encargos que possamos apresentar a qualquer governo” . ALGARVE INFORMATIVO #211


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AO FIM DE DUAS DÉCADAS, ESCAVAÇÕES ARQUEOLÓGICAS NO «TERRAÇO» DE VALE BOI APROXIMAM-SE DO FIM, MAS HÁ MATERIAL PARA ESTUDAR DURANTE MAIS 20 ANOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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o dia 20 de julho, o Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB) da Universidade do Algarve dinamizou, em colaboração com a Câmara Municipal de Vila do Bispo, mais um Dia Aberto na Jazida Arqueológica Paleolítica de Vale Boi. O sítio arqueológico foi descoberto, em 1998, como resultado dos trabalhos de ALGARVE INFORMATIVO #211

prospeção nos vales fluviais da Costa Vicentina. Situada a leste da Ribeira de Vale Boi (concelho de Vila do Bispo), em frente da pequena localidade com o mesmo nome, a jazida paleolítica localiza-se a cerca de dois quilómetros da atual linha de costa. Os vestígios arqueológicos apresentam uma dispersão superior a 10 mil metros quadrados, ocupando toda a vertente, que é limitada a Este por um afloramento calcário com 10 metros de altura e a Oeste pelo aluvião da Ribeira. 42


Os arqueólogos Nuno Bicho e João Cascalheira, da Universidade do Algarve

Os trabalhos arqueológicos tiveram início em 2000 e têm-se pautado pela intervenção em três áreas distintas da jazida, que revelaram uma longa sequência cronológica, iniciada há mais de 30 mil anos com os mais antigos elementos da nossa espécie em Portugal. Para além de inúmeros artefactos de caça e de atividades diárias, foram também exumados milhares de ossos de animais caçados, incluindo veado, auroque, cavalo, javali e coelho, que terão servido para a alimentação desses caçadores-recolectores, bem como leão, lobo, raposa e lince, provavelmente caçados devido às suas peles. O marisqueiro fazia também parte da vida diária dessas primeiras comunidades humanas no Algarve. De realçar ainda, no sítio arqueológico de Vale Boi, a presença de elementos de arte móvel, característica 43

do período paleolítico na Península Ibérica, conforme explicaram Nuno Bicho e João Cascalheira, professores da Universidade do Algarve e os responsáveis científicos pela escavação, durante a visita do Algarve Informativo. “É um dos locais mais importantes de Portugal em termos do Paleolítico, e talvez de todo o sul da Península Ibérica, devido à grande duração de ocupações e sua extensão. Começam há 33 ou 34 mil anos e vêm até perto dos sete mil anos, com as últimas ocupações a serem do Neolítico”, referiu Nuno Bicho. A aventura com mais de duas décadas começou, de facto, com um projeto de prospeção para sítios arqueológicos da pré-história desenvolvido em toda a região, mas que incidiu particularmente nesta parte do barlavento, e que ALGARVE INFORMATIVO #211


consiste, segundo João Cascalheira, “em percorrer a paisagem à procura de indícios na superfície”. “Em Vale Boi depressa se encontraram vários materiais à superfície que indicavam uma cronologia do Paleolítico, de uma préhistória antiga. Naturalmente que este local foi escolhido, no passado, por essas comunidades porque existia uma linha de água doce e porque a escarpa de calcário servia como forma de proteção. Estamos relativamente perto da costa, portanto, os recursos aquáticos foram sendo utilizados ao longo do tempo, e esta região é bastante rica em recursos minerais, nas rochas que eram usadas para se fazerem os utensílios da época”, esclarece o arqueólogo. E as descobertas foram imediatas, logo no primeiro ano de sondagens e escavações, o que originou vários ALGARVE INFORMATIVO #211

financiamentos da FCT – Fundação para a Ciência e para a Tecnologia, da Wenner-Gren Foundation e da National Geographic Society, entre outras entidades. As primeiras sondagens foram realizadas a meio da vertente, seguindo-se outras na base e no topo, algumas delas depois ampliadas para áreas de escavação, como aquela em que nos encontrávamos, comummente designado por «Terraço», ou o «Abrigo», situado no topo da vertente. “Era efetivamente um abrigo sobre rocha que colapsou há cerca de 20 mil anos, pelo que as ocupações que estavam por baixo se encontravam completamente seladas e conseguimos obter toda a informação que precisávamos. O «Terraço» é a que tem a sequência cronológica mais longa de todo o sítio arqueológico, com uma grande diversidade de 44


materiais e de ocupações”, refere João Cascalheira.

arqueológicos, mas há sempre esperança que apareça alguma coisa”.

«Terraço» que começou a ser escavado em 2004 e que, 15 anos depois, para o cidadão comum, se assemelha a um simples buraco no chão, descrição que gera um sorriso em Nuno Bicho. “Há sempre uma equipa de campo que ronda as 10 pessoas, mas a quantidade e fragilidade dos materiais implica que o trabalho seja muito lento, preciso e minucioso”, justifica, com João Cascalheira a confirmar tratar-se de um trabalho de imensa paciência, “por causa dos métodos que aplicamos e porque o contexto arqueológico pode ser muito rico ou bastante pobre”. “Neste momento, como estamos já muito próximos da base do «Terraço», não há uma grande riqueza de materiais

A maioria dos artefactos encontrados ao longo destes 20 anos são, segundo Nuno Bicho, utensílios em pedra lascada e osso, muitos restos de fauna e conchas, conchas perfuradas que poderão ter sido usadas como adornos corporais e pessoais, materiais de arte, pequenas pedras gravadas com simbologia abstrata ou figuras de animais. “Na fauna, encontramos animais que conhecemos bem como o veado, o javali, o cavalo ou o coelho, mas outros que já estão extintos na Península Ibérica, como o rinoceronte ou o leão. Foram encontrados elementos que indicavam que, há 20 ou 25 mil anos, a paisagem seria ligeiramente diferente”, assume o entrevistado.

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PACIÊNCIA, MINÚCIA E MUITO ESTUDO Encontrados os vestígios, a primeira preocupação é, claro, não danificar os materiais ao retirá-los da terra. Depois, há que obter o máximo de informação possível do contexto onde o material está, daí utilizar-se uma estação total para gravar coordenadas tridimensionais de tudo o que é descoberto. Após isso, os materiais são etiquetados, seguem para o laboratório, onde são lavados e estudados. “Com o apoio da Câmara Municipal de Vila do Bispo temos um espaço em Budens que utilizamos como laboratório de campo, onde é realizado o processamento dos materiais. Só depois é que vão para a Universidade do Algarve para mais análises. Algumas amostras de ALGARVE INFORMATIVO #211

carvões ou de faunas são enviadas para datação por radiocarbono, que nos dá informação cronológica precisa de cada uma das ocupações que aqui ocorreram”, conta João Cascalheira. A arqueologia não se compadece com ritmos acelerados nem pressas, e exige, acima de tudo, um conhecimento amplo e especializado, numa atividade que raramente está sob a luz dos holofotes. Isso não significa, felizmente, que não existam profissionais bastante competentes, garante Nuno Bicho. “A Universidade do Algarve tem uma licenciatura, um mestrado e um doutoramento nesta área, pelo que há recursos humanos em permanente formação, o que permite avançar-se para as análises dos materiais provenientes dos sítios arqueológicos que temos escavado. É um processo 46


que nunca termina, porque a quantidade de artefactos é imensa e muito variada, e há várias teses de mestrado e doutoramento que incidem precisamente sobre achados de Vale Boi”, declara, adiantando que, normalmente, as escavações acontecem ao longo de quatro a oito semanas por ano, durante o Verão e Páscoa, até com estudantes que chegam de universidades dos Estados Unidos, Brasil, Inglaterra e Canadá. “Nos últimos dois anos implementamos um projeto que traz alunos estrangeiros, em parceria com o Institute for Field Research, dos Estados Unidos. Funciona como uma escola de campo em que têm oportunidade de aprender novas técnicas e métodos e, para além disso, recebem créditos que podem utilizar nas universidades norteamericanas”, esclarece João Cascalheira. 47

Quanto ao Dia Aberto, confere à comunidade local, e a todos os interessados, a possibilidade de se conhecer uma jazida arqueológica e perceber o porquê de se conduzir este género de investigação. “Temos sempre, não só pessoas locais, mas muitos estrangeiros que estão cá de férias, dos 7 aos 77 anos, algumas até vêm todos os anos para ficar a par das novidades”, comenta Nuno Bicho. “Os Dias Abertos não são muito comuns e a verdade é que as pessoas depressa ficam seduzidas por aquilo que fazemos. Às vezes dão-nos ideias para resolvermos problemas práticos que encontramos no terreno e até nos convidam para comer e ficar em casa delas”, acrescenta. ALGARVE INFORMATIVO #211


A finalizar a conversa, que decorreu num dia de trabalho normal, questionamos qual o destino das peças depois de terem sido realizados todos os estudos e análises. “Há um projeto museológico em desenvolvimento no concelho de Vila do Bispo e parte dos achados de Vale Boi irão para lá. Os restantes materiais ficarão em reserva, por enquanto, na Universidade do Algarve, o que dará oportunidade a outros investigadores para os estudar. O ano passado veio uma jovem do Canadá que estava a fazer o seu mestrado para estudar os achados de Vale Boi. Uma colega alemã também fez parte do seu doutoramento com estes materiais”, indica Nuno Bicho. Quanto a Vale Boi, há muito ainda por fazer, mas o ciclo de escavações desta dupla de arqueólogos da Universidade do Algarve ALGARVE INFORMATIVO #211

deve conhecer este ano o seu término. “Acho que já deixámos a nossa marca e temos material suficiente para estudar durante mais 20 anos. O nosso objetivo para 2019 é concluir esta área do «Terraço» e dedicarmo-nos exclusivamente ao trabalho de laboratório. Claro que outra zona de escavação é possível, se os objetivos científicos forem bons, porque a vantagem da arqueologia é que, daqui a 10 anos, podem haver métodos e técnicas mais avançadas e que permitam extrair mais informações daquele que conseguimos obter neste momento”, rematou João Cascalheira, antes de regressarem ao «buraco» do «Terraço» onde se encontravam vários estudantes norte-americanos .

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DANIEL MATOS CRIOU UM POEMA PARA SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN COM A AJUDA DA COMUNIDADE LACOBRIGENSE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Fรกtima Vargas ALGARVE INFORMATIVO #211

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A LUZ TORNAR-SE-Á LÍQUIDA - UM POEMA PARA SOPHIA é a nova criação de Daniel Matos, tendo ido a cena, no dia 13 de julho, em Lagos. Um espetáculo que foi itinerante pelas ruas do Centro Histórico, com o percurso a começar no Parque da Cidade, junto à teia, nas traseiras do Banco Montepio, culminando no Forte Ponta da Bandeira. De acordo com Daniel Matos, “desenhamos um caminho da manhã nas ruas caiadas de Lagos, mas desta vez debaixo de um sol noturno quase cheio”. “Não são os pés de Sophia que o percorrem, mas sim os pés de um grupo que desconhece o andar sozinho. Estamos perante um silêncio que descobre a cidade pelos olhos de quem a olha, mas não a vê, redesenhando uma ALGARVE INFORMATIVO #211

fuga de luz compacta em quadrados ambulantes fechados”, indica o coreógrafo, que concebeu o espetáculo em colaboração com a comunidade lacobrigense, no âmbito da celebração do centenário da poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen. Conforme explica Daniel Matos, “a leitura dos corpos naturalizados, que nos chegaram da comunidade lacobrigense para dar forma a palavras escritas, dá origem a um percurso performativo de 16 performers locais, realizado ao longo de três semanas de trabalho intensivo com base na questão: E ao fim do dia, a luz poderá tornar-se líquida?”. “Guiar uma luz fechada como voz e manifesto impera sobre a vontade de um coletivo uno, na descoberta da propagação luminosa como ato poético e afirmação de individualidades 52


encontradas na obra de Sophia de Mello Breyner Andresen. Há uma procura pela liberdade do poema sem que este apareça, sem que este marque uma posição para além da vontade do eu no agora”, descreve, adiantando que “os corpos têm sede de ser libertos, de sair da sombra e de perceber o que é entrar na água ligados à corrente, na procura de ser uma gota de luz que escorre nas faces dos nãoouvintes”. Por isso, Daniel Matos questiona até que ponto o corpo é oásis e sede em simultâneo? “Os ossos quebram nos intervalos da língua, uma árvore nasce a partir do sítio de onde fomos gerados, respirar é difícil debaixo de água e o pássaro que tenta voar afinal é um peixe preso num ecrã. O poema precisa de andar até à madrugada seguinte para que seja ouvido”, afirma o criador e diretor artístico . 53

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«SINERGIA 3.0» LEVOU PERÍCIA DOS MALABARES AO «CENAS NA RUA» DE TAVIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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hegou ao fim a 15.ª edição do Festival Internacional de Teatro e Artes na Rua – «Cenas na Rua», dinamizado pela Câmara Municipal de Tavira no âmbito programa cultural «Verão em Tavira», que contou com alguns dos melhores grupos e projetos portugueses e internacionais do género, todos eles proporcionando espetáculos intimistas e visuais pautados por uma enorme interação com o público. E que deixaram também muitas sementes junto de miúdos e graúdos para o desenvolvimento de hábitos culturais saudáveis e regulares, graças a uma estratégia com objetivos bastante concretos da parte da edilidade tavirense. E, de facto, no dia 12 de julho, a Praça da República voltou a encher-se de residentes e turistas para assistir a «Sinergia 3.0» da Companhia Nueveuno, que trouxe de Espanha as peripécias dos malabares. Em 2019 comemoram-se os 500 anos da morte de Leonardo Da Vinci e o espetáculo é baseado numa reinterpretação deste mestre renascentista, onde se gera uma reflexão e interpretação livre do público. A dramaturgia constrói-se sobre dois eixos – um visual e outro emocional – através dos quais as personagens evoluem no processo de integração e interação com o grupo. A cenografia é manipulada, criando diferentes estruturas com coreografias precisas de movimento. Tudo isto com uma banda sonora composta, expressamente, para o espetáculo em sintonia com a transformação de objetos, personagens, situações e estados. E a reação do público, como seria de esperar, foi bastante entusiástica . ALGARVE INFORMATIVO #211

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JUVENTUDE, BELEZA E ALEGRIA TOMARAM CONTA DO REVELIM DE SANTO ANTÓNIO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Revelim de Santo António, em Castro Marim, voltou a ser palco de mais um grandioso espetáculo de dança, na noite de 14 de julho, com a sétima edição da Gala de Dança que reúne cinco escolas de dança do território, designadamente a Academia de Ballet Contemporâneo de Vila Real de Santo António, o Grupo de Dança Arutla, a Escola de Dança Splash, o Conservatório Regional de Vila Real de Santo António e a Academia de Música de Tavira. O evento ALGARVE INFORMATIVO #211

juntou em palco mais de uma centena de crianças e jovens, com coreografias que iam desde as influências do hip-hop até à música clássica e contemporânea, numa combinação única de música, luz e movimento. O grupo de dança Arutla do Clube Recreativo Alturense celebra este ano duas décadas de existência. É composto por meninas com idades compreendidas entre os 5 e os 19 anos, que aprendem uma variedade de estilos de dança, desde ballet ao teatro musical, sendo a dança jazz a principal influência. Participam todos os anos em diversos 70


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espetáculos e festivais de dança em Portugal e Espanha. Em 2014, o grupo médio registou o terceiro lugar no Festival de Artes em Albufeira e, dois anos depois, no mesmo festival, o grupo infantil ganhou o terceiro prémio na categoria dos 6 aos 11 anos. Em 2017, também em Albufeira, conquistaram o primeiro lugar com a coreografia «It’s a hard knock life». O Conservatório Regional de Vila Real de Santo António é um Estabelecimento de Ensino Particular e Cooperativo do Ensino Artístico Especializado, fundada a 26 de ALGARVE INFORMATIVO #211

julho de 2001, tendo iniciado a sua atividade a setembro do mesmo ano, tutelado pelo Ministério da Educação. Nesse mesmo ano iniciou a formação em Dança com diversos professores, incluindo Simone Marçal, que dirige as classes de dança de 2007 até aos dias de hoje. A partir de 2019 conta igualmente com Josué Oliveira como professor de hip hop. A Escola de Dança Splash existe há 14 anos e conta com aproximadamente 100 alunos que praticam dança 72


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contemporânea, ballet clássico, hip-hop e danças de caráter. É uma escola de referência, não só a nível nacional, mas internacional, com os seus pupilos a trazerem muitos prémios de prestigiados concursos, casos do 1.º prémio do «Paris 2017»; seis prémios do «Porto 2018», entre os quais o primeiro lugar com passe direto para «Orlando 2018»; o 1.º prémio no «Roma 2018»; 1.º e 2.º prémios em «Praga 2018» com passe para Grécia; dois primeiros prémios em «Viena 2019», para além de mais um segundo e um terceiro lugares. Em outubro deste ano vão participar na competição «Rimini», em Itália. A Academia de Ballet Contemporâneo de Vila Real de Santo António é um projeto inovador na área do ensino artístico da Dança. Tem Como Diretora Artística Ana Dias, ex-bailarina profissional, Licenciada ALGARVE INFORMATIVO #211

pela Escola Superior de Dança e pela Tilburg dance University (Holanda), e como Diretor Pedagógico Gabriel Fratian, Professor da Escola de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa. Para além do Conservatório Nacional de Dança de Lisboa, a ABC tem parceria com uma escola de Londres e outra de Nova York, dando assim aos seus alunos o melhor ensino artístico do sotavento algarvio. Com apenas três anos de existência, conta com cerca de 180 alunos e arrecadou mais de 50 prémios internacionais e nacionais, sendo prestigiada pelo júri do Tanzolymp (Berlim) como «Escola Revelação Mundial». Finalmente, a Academia de Música de Tavira é uma escola do ensino especializado que tem como principais objetivos a formação de música, bem 74


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como a participação e promoção em eventos de carater artístico. Conta com mais de 200 alunos, distribuídos pelas várias classes, com uma orquestra instrumental de vários instrumentos e um coro juvenil. Desde 2007 conta com a professora Simone Marçal, que desenvolve aulas de Ballet Clássico e Dança Contemporânea, atuando também nos mais variados eventos culturais. ALGARVE INFORMATIVO #211

A Gala de Dança foi organizada pela Câmara Municipal de Castro Marim e teve como intuito principal a valorização e reconhecimento do trabalho que estas escolas desenvolvem com os jovens do território, para além de promover o gosto pela expressão artística, ao demonstrar os benefícios, físicos e mentais, associados à prática . 76


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ANO LETIVO DO ATELIER DO MOVIMENTO CHEGOU AO FIM NO TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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Teatro Lethes, em Faro, foi o local escolhido pelo Atelier do Movimento, escola de dança sediada na capital algarvia, para dar por concluído o seu ano letivo 2018/2019, com um espetáculo, no dia 13 de julho, que permitiu demonstrar às famílias e público em geral as aptidões artísticas dos seus alunos. Numa dupla sessão à tarde e à noite puderam-se ALGARVE INFORMATIVO #211

assistir a coreografias de ballet clássico das diferentes faixas etárias, desde os três anos até aos adultos, mas também de dança oriental, sapateado, sevilhanas, dança contemporânea, entre outras modalidades. A apresentação pretendeu celebrar todo o empenho e dedicação destes alunos e, a julgar pelos fortes aplausos no final de cada atuação, passaram todos com distinção . 86


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GALA DA CRUZ VERMELHA NO TEATRO LETHES COMPROVOU QUE OS MAIS SENIORES AINDA TÊM MUITO PARA DAR Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova

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Academia Sénior «Monet Oblectando» da Delegação Faro/Loulé da Cruz Vermelha Portuguesa levou a cabo, pelo sexto ano consecutivo, a festa de encerramento do ano letivo 2018/2019 numa grandiosa gala que teve lugar, no Teatro Lethes, na noite de 6 de julho. O evento serviu para se fazer um breve

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balanço das atividades desenvolvidas ao longo do ano, de uma forma descontraída e com a presença dos amigos, familiares e muitos outros que desejaram assistir a um espetáculo envolvente repleto de teatro, dança, poesia e, acima de tudo, imensa alegria. E num instante se constatou que, apesar da idade avançada, estes cidadãos ainda têm muita genica e um forte contributo para dar à sociedade .

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«A NIGHT AT THE BALLET» DESLUMBROU TEATRO MUNICIPAL DE PORTIMÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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oi uma tarde verdadeiramente sensacional aquela que as alunas das classes de ballet e dança contemporânea da Escola de Dança do Município de Portimão proporcionaram a uma plateia completamente esgotada no Teatro Municipal de Portimão, no dia 13 de julho. O bailado foi coreografado sob as premissas das técnicas de dança clássica e ALGARVE INFORMATIVO #211

contemporânea e ao som do repertório musical de uma das bandas mais emblemáticas de todos os tempos, os Queen. Ao longo de mais de uma hora, jovens de todas as idades, mas também os bailarinos profissionais convidados Thora Nadeshkka, Tiffanie Millenka e Gustavo Horus Figueiredo, fizeram as delícias da assistência, com uma série de atuações que demonstraram bem a qualidade do ensino ministrado pela coreógrafa e professora Jorge Nilsen . 108


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«MERCADO FORA D’HORAS» ENCERROU EDIÇÃO DE 2019 SOB O MOTE DO PALADAR Texto: Daniel Pina | Fotografia: Manuel Cardoso (Vítor Pina Photography) ALGARVE INFORMATIVO #211

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«Mercado Fora d'Horas», evento gastronómico sobre cultura local, chegou ao fim, no dia 12 de julho, com uma edição dedicada ao Paladar e às experiências gustativas com os alimentos. O cenário foi, como de costume, o Mercado Municipal de Silves, que se voltou a transfigurar numa noite promovida pela criatividade onde se misturaram valores tradicionais com contemporaneidade. Organizado pela Junta de Freguesia de Silves, com o apoio do Município de Silves, o evento está associado ao projeto de Design Social «Consumirlocal», da responsabilidade de Alexandra dos Santos, e contou com mercado noturno, showcooking, apresentação de produtores, workshops, animação musical e de rua e diversas atividades para famílias. Acima de tudo, os visitantes tiveram oportunidade para adquirir produtos de proximidade e vivenciar uma noite diferente em torno da gastronomia e cultura local. ALGARVE INFORMATIVO #211

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Outro grande objetivo do «Mercado Fora d’Horas» é precisamente apresentar o Mercado Municipal de Silves em dias e horários diferentes do habitual, funcionando entre as 19h e as 24h. E, por entre as bancas dos vendedores e no exterior do edifício, vislumbravam-se exposições de desenho botânico, dos Urban Sketchers, da relação entre o corpo e a comida e da biodiversidade agrícola e insetos; aconteceram oficinas para as famílias e para os mais novos; a animação de rua esteve a cargo de Catarina Bernardino e Marta La Piedad; assistiu-se a um showcooking por Telmo Jacinto; escutou-se o violino de João Feliz, o fado de Helena Silva, e os fados de Coimbra dos In Versus; Otília Eusébio promoveu um atelier de comida mediterrânica; houve espetáculo de fogo de Ana Sofia Brito e muito mais. Ficamos agora à espera da edição de 2020 do Mercado Fora d’Horas . 123

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Vampiros sociais Paulo Cunha (Professor) omando como exemplo o principal personagem do romance de ficção gótica «Drácula», o vampiro conde Drácula, que nos variados enredos se alimentava sugando o sangue das suas vítimas, facilmente se constata que também nós vivemos rodeados de gente que nos suga a alma e o espírito, até quando estamos a dormir, tal a sua influência nefasta. Sem darmos conta, vemo-nos presos em teias, de tal forma bem urdidas, que fariam inveja a muitas aranhas. Tal como num bom restaurante, onde no cardápio constam uma multiplicidade de atraentes, bem confecionados e saborosos pratos, também a vida nos serve, de bandeja, uma lista de determinadas figuras, todas elas detentoras de uma numerosa lista de atraentes características, que o passar do tempo se encarregará de nos mostrar que, mais do que feitio, eram defeitos ardilosamente camuflados. Ter a capacidade de reconhecer, avaliar e saber destrinçar o trigo do joio, no que às companhias que nos rodeiam diz respeito, é uma das características que nos define enquanto seres viventes ou dormentes. Como sabeis, existem vários tipos de manipulação, que variam em conformidade com o grau e a forma como os nossos congéneres se deixam manietar. Mas não vos enganeis: todos nós somos, de uma forma ou de outra, passíveis de ser manipulados. E quando descobrimos as artimanhas que determinados (ditos) amigos usaram para nos «levar à certa» é ALGARVE INFORMATIVO #211

que, finalmente, temos a estranha sensação de ter sido sugados por seres que junto a nós gravitavam, unicamente com o intuito de nos absorver o melhor que tínhamos para dar. Somos vampirizados todos dias e a toda a hora, mas o que nos livra de andarmos, todos os dias e a toda a hora, a maldizer esta triste vida é o facto de não sabermos que o fomos. E quando sabemos, entramos numa espiral depressiva ou, tal como as vítimas do conde Drácula, transformamonos, através da contagiosa vingança, noutros vampiros. É interessante perceber onde, em 1897, o escritor Bram Stoker foi buscar a inspiração para o seu, mundialmente, aclamado livro. Basta atentarmos nas analogias entre a cruz, a luz e a estaca no coração, como forma de afastar quem, pretensamente, nos poderá querer aniquilar através de uma mordida eficaz, sugando-nos a vida em pouco tempo. Se estivermos atentos, veremos que, nesta curta passagem temporal, sobre nós pairam certos morcegos que só nos «amorcegam» a vida. Entidades que só poderão vir a ser afastadas através da luz que a sapiência e a clarividência nos trazem, permitindo-nos assim - finalmente - sair das trevas em que muitos andam mergulhados. Da mesma forma que a efetiva prática cristã, simbolizada pela cruz, antagoniza com certas práticas demoníacas perpetradas por certos indivíduos que nos cercam, também determinadas pessoas, que todos os dias nos sorvem a energia e a paciência, necessitam ser banidas das nossas vidas 130


através de um ponto final espetado nos seus corações. Chamem-lhes o que quiserem, mas eles andam por aí e não param de aumentar! O segredo é reconhecê-los e não lhes dar trela. Como? Lendo-lhes os sinais expressos nas atitudes que nada têm a ver 131

com o que apregoam. Já o professor José Afonso lhes tinha reconhecido o cheiro e as manhas quando compôs a música «Os Vampiros» (Eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada). Mesmo sem rimar, eu atrevo-me a completar: … eles comem tudo porque nós deixamos! . ALGARVE INFORMATIVO #211


OPINIÃO

Low Cost - Hard Lives Mirian Tavares (Professora) primeira vez que viajei de avião tinha sete anos recém completados. Lembro-me da festa surpresa, que a minha avó preparou, com as personagens do Mágico de Oz – tudo feito por ela, inclusive o bolo branco que trazia, na cobertura, a famosa estrada de tijolos amarelos. Vivia, nesta altura, em Juazeiro do Norte, com os avós maternos, e ia ao encontro dos meus pais que estavam a morar perto de Brasília. Viajar de avião era ainda algo caro e as aeromoças, ou hospedeiras, tinham de obedecer a um padrão de beleza e ter cuidados com os cabelos, maquilhagem e acessórios – nada podia estar fora do sítio. Viajei, acompanhada de um tio, de Juazeiro a Brasília, num avião da VARIG que tinha ainda talheres como devem ser e uma malinha muito gira que era distribuída aos passageiros. O voo teve problemas técnicos e fomos obrigados a pernoitar em Petrolina, onde me foi oferecido um quarto de hotel só para mim. A primeira viagem de avião não se esquece. Ou, pelo menos, não se esquecia, quando eram raras. Hoje, com a democratização dos preços das passagens, todo mundo voa o tempo

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todo. O acesso, no entanto, paga-se caro – os voos são cada vez piores, temos a cada dia menos direitos e paga-se até pelo ar que se respira a bordo. Filas gigantescas, esperas intermináveis, gente mal-educada, inclusive o pessoal de bordo, aviões apertados, comida péssima e talheres de plástico, a maioria das vezes. O último voo que fiz, da Inglaterra ao Algarve, fez-me pensar em produzir umas t-shirts com o slogan: Herodes – meu herói! Todas as criancinhas chatas do planeta reuniram-se naquele voo, foram as 2h30 mais longas que já passei entre as nuvens, ou sobre elas. Crianças a gritar, a cantar, a chorar, a brigar, a correr pelos corredores. Pais stressados, a gritar, a berrar, a brigar e a correr pelos corredores atrás dos seus petizes. Eu pensava: isso é só o começo das férias!! Imaginava os coitados que terão de aturar aquelas criaturas por uns dias – o pessoal dos hotéis ou os vizinhos da praia. Atrás de nós estava sentado um sujeito que deve ter lido o Génesis ao pé da letra: “Sede férteis e multiplicai-vos! Povoai e sujeitai toda a terra(..)”. Acho que tinha uns 11 filhos e estavam todos naquele avião! .

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Do Reboliço #47 Ana Isabel Soares (Professora) abias, Reboliço, o que é uma genciana? Sem ver a planta, anda o bicho com o nome no ouvido, e lembra-se das saudades – da mulher do tempo da «primitiva», como ouvira ler. A D. Genciana, afinal, é uma flor: tem a cor azul como imagina o nome do cobalto, azul absoluto e amarelado para um centro de pétalas que afundam. Deve ser um sonho o que está a construir o Reboliço: terá adormecido à sombra do limoeiro do Moinho Grande? (Se alguém procurar conhecer qual o canto mais fresco do quintal, é ver onde se deita o cão num dia de calor. A calma está sempre na sombra, mas umas sombras são mais recortadas do que outras, umas mais completas, tantas falsas sombras, outras, de inesperado, verdadeiras). Ou pensará naquela cidade do conto, que foi horta e é agora avenida, nomes de flores que não há – não tanto por lhes terem desaparecido as raízes, os caules, folhas, botões, mas porque não se ouve a ninguém designá-las. Quando desaparece um nome, o que ficará do que se nomeou, pergunta-se o Reboliço. Já terá ouvido um noitibó, se não for mais do que uma sequência de risquinhos sobre a página, sons desarticulados e lindos, a soar à noite, mas sem o piar? Para se subir até ele, o Moinho Grande tem três escadinhas pequenas que levam desde o piso da casa, do poço, do caminho, nos três lados que não dão para a estrada, à torre do engenho. Junto à escada que fica em frente da porta do ALGARVE INFORMATIVO #211

moinho, encostada cá em baixo, às pedras do socalco, está a buganvília. As flores de papel fino da buganvília são de um violeta pálido: cada pétala é como um punhal que levam os pescadores para apanhar ostras, a lâmina larga e curta: a cada três, amparam outras tantas, às vezes mais florzinhas amareladas, mínimas e quase invisíveis no meio da floresta buganvilínia e roxa – assim em trio, há quem chame às plantas «três Marias». Protegem as espadas as flores pequeninas do ataque verde das folhas, porque são a elas idênticas na forma. A folha da buganvília é como as pétalas que lhe encobrem a flor: impetuoso punhal pequeno, de tecido mais forte porque sabe que, mesmo se as pétalas caírem, as folhas se mantêm todo o ano, e densas tapam tudo quanto seja aonde se encostem. Tanto disso vê o bicho, e conhece que são tantos os pés de buganvílias quantas as paredes, de cal ou de rocha de socalco, que as segurem. Sabe – que já as viu – que vêm em cores muito diferentes, neste violeta a empalidecer, num alaranjado ocre, até em branco. Mas não deixa de se espantar, de pasmo mesmo, cada vez que ouve o nome: buganvília soa-lhe a um vinho raro, uma casta que nascesse preciosa só no lado ensombrecido de uma serra, ou na boca da caverna mais escondida. O que deixará primeiro de conhecer: a flor, ou o nome da flor? . *Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. 134


Foto: Vasco Célio 135

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O pouco e o muito de Minou Drouet Adília César (Poeta) “Na verdade, você não pode encontrar um livro de Minou Drouet em qualquer livraria de Paris, nem mesmo o seu sucesso fenomenal Arbre, Mon Ami, que foi publicado há pouco mais de cinquenta anos - no começo de 1956 - pelo agressivo René Julliard, que no ano anterior havia conseguido um triunfo internacional com Bonjour Tristesse, de Françoise Sagan. Mas Sagan tinha dezoito anos; Minou tinha oito anos”. Robert Gottlied in «A Lost Child» (2006)

inou nasceu em julho de 1947 e foi adoptada por Claude Drouet, professora particular e aspirante a poetisa. A menina evidenciava problemas sérios de saúde: era quase cega e comportava-se de modo muito alheado, tendo dificuldade em relacionar-se com as outras crianças. Diz-se que até aos seis anos de idade nunca pronunciou uma palavra. Talvez por estes motivos de recolhimento interior, as suas emoções eram dedicadas quase inteiramente à natureza – os pássaros e outros animais, a grande árvore do jardim. Claude Drouet amou aquela criança para além do esperado, acreditando que através desse amor seria possível transformar um bebé doentio e fechado numa menina saudável, feliz e criativa. Não se sabe bem como começou esse milagre do desabrochar, do despertar para o mundo. Toda a infância de Minou foi cercada de mistérios e ambiguidades, e vários médicos afirmaram que ela nunca seria uma criança normal. Em 1954 teve início um processo extraordinário de desenvolvimento do caso Minou: por volta dos oito anos de idade a criança começou as suas lições de piano com Ninette Ellia, a quem escreveu ALGARVE INFORMATIVO #211

cartas e poemas; por sua vez, a tutora mostrou-as ao Professor Vallery-Radot da Academia Francesa, que ficou fascinado e dela falou ao editor René Julliard; este veio a conhecer Minou pouco tempo depois. Entretanto, a menina fez uma cirurgia e recuperou a visão. Julliard fez uma edição privada de um livreto com uma selecção de poemas e de cartas de Minou e a controvérsia instalou-se. Os textos, de grande qualidade literária, implicavam indiscutivelmente a questão da sua autoria: seria a criança ou a mãe, uma poetisa considerada de segunda categoria? Um sem número de acções de diversos quadrantes da sociedade francesa e até internacional moveram todas as estratégias ao alcance numa tentativa de decifrar a personalidade poética de Minou Drouet: entrevistas à família, artigos de opinião, testes de competência. A 14 de janeiro de 1956, René Juillard publicou o primeiro livro de Minou – Arbre, Mon Ami – com 21 poemas e algumas cartas que ela escreveu para diversas pessoas: uma imaginação extravagante, metáforas poderosas, neologismos, uma enorme sensibilidade. E nada disto se sintonizava com uma menina daquela idade. Seria Minou Drouet uma criança prodígio ou uma farsa? O livro teve sucesso imediato, 136


vendendo quarenta e cinco mil cópias em poucos meses. A batalha literária continuou por mais algum tempo, a par dos filmes, canções, entrevistas, programas de televisão. Um boom mediático e avassalador que explorou o caso Minou Drouet até à exaustão, com posições altamente contrárias evidenciadas por personalidades relevantes do meio cultural da época – escritores, jornalistas, críticos de arte. Nunca se chegou a uma conclusão válida. “Eu era uma criança perdida, eu era apenas um animal patético, que crime 137

cometi para ser perseguida desta maneira?”, perguntou ela. Mas não houve resposta. Depois de ter publicado um segundo livro de poesia em 1959 – Le Pêcheur de Lune – ela começou a desistir. Tentou escrever fábulas, romances, e também seguir carreira como cantora, estudou enfermagem, casou com o artista e cronista de rádio Patrick Font e divorciou-se de seguida. O impulso irresistível para escrever tinha-a abandonado aos 14 anos e pouco a pouco remeteu-se ao silêncio. Mas ela encontrou uma forma de sobreviver: deixou cair a Minou da infância e tornou-se Madame Le Canou, instalando-se na localidade de La Guerche-de-Bretagne – onde poucos habitantes conhecem o seu passado. Era o preço que estava disposta a pagar. É possível encontrar a bela mulher loira de 72 anos a fazer compras no mercado; já não escreve e recusa-se a dar entrevistas. Apetecia-me perguntar-lhe: “Minou Drouet, és um génio ou uma fraude?”, mas sei que não obteria resposta. Há machados de guerra que devem ficar enterrados. O caso Minou Drouet foi considerado o maior enigma literário do século XX .

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OPINIÃO

A moda perigosa de envelhecer que contagiou as redes sociais Fábio Jesuíno (Empresário) aplicação FaceApp tornou-se um sucesso global, contagiando a maioria dos utilizadores das redes sociais de uma forma muito perigosa. A FaceApp é uma aplicação de filtros faciais que utiliza inteligência artificial para apresentar grandes resultados, principalmente com o seu filtro de envelhecimento, que se tornou uma tendência em todo o mundo com mais de 100 milhões de transferências nas principais lojas de aplicações, Google Play Store e Apple App Store. A aplicação foi desenvolvida pela empresa russa Wireless Lab, e permite, para além de envelhecer, também maquilhar, mudar a cor do cabelo e diversos aspetos faciais, tudo de uma forma gratuita e rápida. Mas quando não pagamos por algo, é porque nós próprios somos o produto. É comum quando utilizamos aplicações gratuitas, haver sempre uma recolha de dados para que o negócio dessa aplicação seja rentável, como acontece com as aplicações das redes sociais, mas neste caso isso acontece de uma forma muito abusiva. Se acedermos aos termos e condições desta aplicação, podemos verificar que não estamos a enviar só as informações da fotografia, mas também outros tipos de informações, como a

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atividades online, informações do telemóvel, o IP e metadados. Pode-se ler na Política de Privacidade da FaceApp: “Usamos ferramentas de análise de terceiros para ajudar a medir o tráfego e as tendências de uso do serviço. Estas ferramentas reúnem informação enviada pelo seu dispositivo ou pelo nosso serviço, incluindo as páginas web que visita, add-ons, e outra informação que nos ajude a melhorar o serviço. Usamos esta informação analítica juntamente com informação analítica de outros utilizadores, para que não possa ser usada para identificar qualquer utilizador individual em particular”. O mais grave é que ainda prevê “ao registar-se e usar o serviço está a concordar com a transferência (…), o uso e divulgação de informações sobre si conforme descrito nesta Política de Privacidade”. O que mostra a massiva recolha de informações que é efetuada, desde fotografias que podem ser usadas livremente sem o nosso conhecimento. É claramente uma aplicação que não recomendo. Pode ser divertida, mas tem uma série de riscos muito graves em termos de privacidade que nos podem prejudicar. Devemos ter sempre cuidado com tudo o que seja grátis, porque, como se costuma dizer, não há almoços grátis. 138


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OPINIÃO - Tudo em Particular e Nada em Geral

Narcizinhos Carla Serol (Uma Loira Qualquer) iz a lenda, que houve em tempos lá para Beócia, um diebe de um moce, filho de umas famílias remediadas, que tinha a mania que era mais bonito e iluminado que todos os moces lá da aldeia. O moce, Narciso de seu nome, era orgulhoso e arrogante e só por isso, amigos de verdade tinha poucos. No entanto, era incompreensivelmente bastante desejado pelas malucas das Ninfas enlameadas, que por sua vez ele menosprezava, pois, considerava ele, nenhuma estaria ao nível do seu esplendor. Ora, uma destas ninfas, já depois de ter bebido uns copos para afogar as mágoas do desprezo, lançoulhe uma praga à moda de Alvor, “ai amaldoçade, hás-de ficar tão apaixonado, mas tão apaixonado por ti, que hás de te afogar ali na ria que nem um charroque despelado!”. E assim foi, num bucólico dia lá na santa terrinha do Narciso, este, irremediavelmente sozinho e entediado por observar que ninguém era tão especial quanto ele, decide ir até ao rio contemplar-se nas suas translúcidas águas. Narciso acerca-se da margem, e enquanto se observava embevecido e apaixonado por si mesmo, e preso à sua imagem refletida na água, deixa-se cair na corrente, sendo inevitavelmente arrastado para a mesma pela sua traiçoeira vaidade. Narciso era benite, mas era moce do campo e não sabia nadar, yo, e tal como a praga da doida da ALGARVE INFORMATIVO #211

Ninfa previra, este afogou-se em si próprio, jazendo nas águas frias do rio que nem um nenúfar murcho. Ora, como havia praguejado a enlameada Ninfa, deixou-se o moce mais jeitose lá da terra, levar pelos encantos da sua vaidade, essa malandra e traiçoeira, sempre à espera que os pobres de espírito nela caiam que nem tordos, fazendo justiça a essa velha máxima algarvia, “Qeres ver um pobre soberbe, dá-lhe a chave d’um palhere!”. Narciso perdeu a cabeça, encantou-se por si, e apaixonou-se perdidamente por todos os encantos que julgava ser o único a deter. Menosprezou e destratou todos com quem privava, acabando sozinho e sem vida nas águas frias do rio, e eternamente preso em todo o seu desmesurado orgulho. Conclusão, Narciso tinha a mania que era esperto, mas, para além de ser serrenho e não saber nadar, a Ninfa tramou-o! Não fosse a sua soberba, teria o Narcizinho percebido e naturalmente previsto, que com as pragas de uma mulher despeitada jamais se deve brincar. Só por isso, estudasses Narciso! Ainda hoje, vagueiam entre nós, voláteis que nem as águas de um rio, Narcisos e Narcizinhos. Uns mais dissimulados de que outros, dependendo do tamanho do palheiro do qual tão vaidosamente possuem a chave! São uma espécie quase tão resistente quanto as baratas, mas incomparavelmente mais estúpidos, pois são desmesuradamente 140


embevecidos e deslumbrados em si próprios. Não refreiam o seu orgulho e vaidade e desconsideram todos com quem se relacionam. Vivem na crença de que são seres superiores e indubitavelmente mais dotados do que os outros, e que, tal facto lhes permite avançar em todas as direções no tabuleiro de jogo, menosprezando os movimentos dos demais e por vezes até logrando privá-los dos mesmos. 141

Esquecem-se, porém, que a única peça que no tabuleiro de jogo detém o poder de avançar em todas as direções é a rainha, e que, a vaidade e o orgulho caminham de mãos dadas, guiados pela soberba e arrogância, e que estes, mais tarde ou mais cedo os guiarão ao ridículo e ao escárnio dos demais, pois tudo nesta vida é efémero e até as resistentes máscaras de Carnaval caem durante a folia . ALGARVE INFORMATIVO #211


OPINIÃO

Ratada no Algarve Paulo Bernardo (Empresário) ste mês, mês que já cheira a Verão um pouco tímido até, deixo-me algum tempo livre e entre alguma leitura atrasada encontrei duas bonitas iniciativas que aconteceram esta semana em Portugal, iniciativas de louvar, quer pela sua grandeza, quer pelos presentes nas suas inaugurações. Uma delas é o NEST – Centro de Inovação do Turismo, projeto âncora da iniciativa Turismo 4.0, que tem como objetivo posicionar ainda mais Portugal como líder global de inovação no setor que, segunda a página do Turismo de Portugal, tem por missão promover a inovação e o uso da tecnologia na cadeia de valor do turismo, nomeadamente a experiência dos turistas, big data & analytics, soluções em sustentabilidade e competências digitais. O NEST – Centro de Inovação do Turismo é uma associação de direito privado sem fins lucrativos, constituída em fevereiro de 2019 por oito entidades fundadoras: ANA Aeroportos, Brisa, Google, Microsoft, Millennium BCP, NOS, BPI e Turismo de Portugal. A outra iniciativa também encontrada na página do Turismo de Portugal foi a criação da TIA – Tourism International Academy (a sigla aplica-se bem, pois situa-se em Cascais), um ambicioso projeto de formação internacional que inclui a primeira Escola Internacional de Turismo no âmbito da Academia da OMT. Fruto de uma parceria entre o Turismo ALGARVE INFORMATIVO #211

de Portugal, a Organização Mundial do Turismo (OMT) e a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESTHE). Para além do Centro de Formação da OMT e das duas escolas ali já em funcionamento (Escola do Turismo de Portugal e ESTHE), a TIA integra um polo do Centro de Inovação do Turismo, espaços para incubação de empresas do setor, o Instituto de Formação Turística de Macau (IFT), um hotel de aplicação e uma residência com capacidade para receber 150 estudantes. Vamos lá ver isto. O Algarve é a principal região turística de Portugal, quem gera mais receita, que tem uma Escola de Turismo e Hotelaria do Algarve, que tem um Aeroporto, que tem uma Universidade, que tem dos melhores campos de golfe do mundo, praias mais que premiadas. Onde vamos colocar o Centro de Inovação? Como é óbvio, na Covilhã. Eu entendo em especial pela questão da big data & analytics, pois com a quantidade de turistas que passam pela Covilhã, o que não falta é dados para serem geridos. Em relação à TIA – Tourism International Academy, não posso estar mais de acordo com a sua localização no Estoril, berço de todas as tias deste país. Resumindo, pois, estamos no Verão, o Algarve, para além de ser comido em todas as frentes esta semana esteve muito bem, levamos duas ratadas do 142


tamanho do mundo e nem uma boca se abriu, dos que dizem que o Algarve está primeiro. O Algarve, se não acorda, qualquer dia já nem os políticos cá vêm em agosto. Que raio de geração a minha, cresci a ver o Algarve ser respeitado, o Algarve era o farol para tudo o que era Turismo. Hoje estamos mesmo a bater no fundo, o Turismo de Portugal olha para nós como a Volta a Portugal, ou seja, já não passa por cá. 143

Só a título de curiosidade, Lagos recebeu no passado mês o Campeonato Europeu de Moth. Foi a primeira vez que esta prova de monocascos voadores de alto desempenho da classe Moth foi disputada em Portugal, numa organização do Clube de Vela de Lagos com o apoio do município, da Marina de Lagos e da Sopromar. Vejam se o Turismo de Portugal colocou algum patrocínio. Se fosse em Cascais, era notícia durante três semanas no antes, durante e depois . ALGARVE INFORMATIVO #211


OPINIÃO

Uma nova luz Fernando Esteves Pinto (Escritor) “Há livros que são no mundo como almas penadas. Andam, andam, tropeçam através de séculos pela obscuridade e pelo sofrimento, até que um dia apareça alguém que os tire do limbo do esquecimento. E isto, parecendo que não, dá esperança...” Miguel Torga

verdade é que deixei de ter prazer de entrar numa livraria. Há demasiada luz, os livros são focos de fantasia e o espaço em si interfere com o espírito de leitura. Há muito relevo e muita cor, e as capas dos livros apelam ao triunfo absoluto dos autores; ilustram com sofisticada sensibilidade e entusiasmo publicitário a sua grandeza. Não há espaço para o recolhimento, para a intimidade com um livro entre as mãos; os títulos gritam em coro, fazem eco, mentem, atacam o leitor incauto. Já lá vai o tempo em que os livros estavam à mercê dos leitores; agora são os leitores que se deixam apanhar pelos livros. O cenário das bibliotecas públicas também mudou: parecem laboratórios de leitura; o ambiente soturno das velhas bibliotecas extinguiu-se para dar lugar à incandescência. Hoje é de facto difícil encontrar uma luz dentro de um livro. Parece que os leitores dão-se bem com artificialidades. A vigarice literária é um prazer puramente embriagador; e por trás da glória dos autores, coniventes com a sofreguidão do mercado editorial, a obra literária, iluminada por examinadores estéreis, só é rica em sombras; superficialidade e distracções triviais. O leitor já não alinha em intensidades, nem está disposto a sentir o que lê. Se um livro é para pensar, então mais vale sentir o que os olhos vêem. Ver com o pensamento emitido na leitura não é para todos os espíritos. A história da leitura foi perdendo o sentido à ALGARVE INFORMATIVO #211

medida que o acto de meditar deixou de estar associado ao silêncio. A concentração e a reflexão foram interrompidas pelo ruído. Um apontamento de quietude na vida de um leitor aplicado, envolvido e em êxtase com um livro, pode ser entendido como uma fraqueza; uma doença de viver fora do mundo. Este tipo de leitor é visto como uma espécie flutuante, estranha: procura nos livros o apaziguamento para fechar a sua própria vida ao tumulto; reserva para si a sua necessidade de silêncio. As bibliotecas empoeiradas dos alfarrabistas são o lugar de encontro das almas que se saciam sobretudo de raridades literárias: obras resgatadas do abandono e do esquecimento, e que revelam as marcas de outras leituras. Autores e leitores dialogam sob o mesmo tecto do tempo. Aqui a história é sentimental; sentimos o isolamento e a contemplação de quem dedicou uma vida à escrita. Não somos apenas leitores, somos também prospectores de angústias, de estados depressivos, de paixões dramáticas, de infinitas alegrias e frustrações. Uma nova luz acolhe todas estas obras de igual modo. Sentimo-nos impressionados com a dimensão do tempo e da eternidade nelas inscritas. Que significa escrever, então? Condensar na escrita a própria vida? Escrever é esculpir a linguagem; dar-lhe forma de matéria de leitura. Um escritor sustentando o leitor. Sempre as palavras a dar sentido à vida: as palavras são o barro que só o pensamento pode moldar . 144


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MARCA REAL CONSERVEIRA PROMETE REPOR A MUXAMA E ESTUPETA NAS MESAS PORTUGUESAS marca «Real Conserveira» foi oficialmente apresentada durante as Festas em Honra do Imaculado Coração de Maria, em Altura. O projeto foi criado por dois alturenses, Miguel Guerreiro e Sandra Guerreiro, e combina a história da Indústria Conserveira de Vila Real de Santo António e o património de sabores do concelho de Castro Marim. O registo da marca e a decisão da venda de Muxama e Estupeta de Atum aconteceu no âmbito do mestrado que Miguel Guerreiro frequenta na Universidade do Algarve, de Design de Comunicação para o Turismo e Cultura. No desenvolvimento de um plano de comunicação para a marca, juntou-se ao projeto a sua esposa, Sandra Guerreiro, que é empresária na área de Digital Communication e cuja experiência ALGARVE INFORMATIVO #211

lhe permitiu abraçar esta ideia e transportá-la para um portal de venda online. O lançamento será agora reforçado com uma estratégia de promoção da marca, que passa pela sua presença nas noites dos Mercadinhos de Verão, em Altura, onde realizarão show cookings com receitas que aliam a muxama e a estupeta de atum aos produtos castro-marinenses, como o Queijo Fresco do Azinhal e a Flor de Sal de Castro Marim. Sandra Guerreiro adianta já a utilização de diferentes produtos de Castro Marim nas futuras receitas, que vai também distribuindo em flyers promocionais. A ideia passa por proporcionar experiências culinárias exclusivas e momentos de partilha entre as pessoas, aliadas ao consumo dos produtos. “Com mais de um século de 148


história, a indústria conserveira de Vila Real de Santo António é uma referência na tradição da Muxama e Estupeta de Atum, chegando a ser mesmo, em meados do século XX, o seu principal setor de atividade económica. Infelizmente, hoje não existe uma fábrica em funcionamento, não só aqui, mas em Portugal, pelo que temos de adquirir os produtos em Espanha”, sublinha Sandra Guerreiro. A empresária lamenta ainda que só o sotavento algarvio continue a preservar a tradição do consumo de atum, sendo um produto quase esquecido na restante região. Também por essa razão a Real Conserveira prima por se apresentar numa embalagem elegante e sofisticada que, ao

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mesmo tempo, valoriza os produtos e os torna mais facilmente transportáveis, relançando no mercado a venda de muxama e de estupeta. O projeto está numa fase inicial, que serve para perceber a reação do consumidor e poder melhorar a abordagem e apresentação do produto, mas em 2020 a Real Conserveira prevê avançar com uma estratégia mais consertada e de longo prazo e avançar o projeto alémfronteiras. A Câmara Municipal de Castro Marim mantém e promove uma política de apoio ao empreendedorismo, facilitando também todos os seus canais de comunicação, na persecução de uma maior sustentabilidade do território .

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ALUNOS COM MÉDIA SUPERIOR A 17 VALORES NÃO PAGAM PROPINAS NA UNIVERSIDADE DO ALGARVE odos os alunos que tenham terminado o ensino secundário com a classificação igual ou superior a 17 valores e que se candidatem à Universidade do Algarve em primeira opção, passam a ter bolsa de excelência garantida. Com esta iniciativa, que pagará integralmente a propina do 1.º ano, fixada em 871,52 euros, a UAlg, com o apoio de mais de 40 empresas, pretende motivar os melhores alunos para que prossigam a sua formação nesta Academia, facultando-lhes um ensino de qualidade, ao mesmo tempo que premeia o mérito escolar. Além dos alunos com a classificação igual ou superior a 17 valores, que se candidatem à UAlg em primeira opção, continuarão a ser atribuídas Bolsas de Excelência aos alunos com a melhor nota de candidatura em cada um dos cursos da

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UAlg, desde que igual ou superior a 15 valores. Considerando o sucesso alcançado com a atribuição de bolsas de excelência desde 2013, para o reitor da UAlg, Paulo Águas, “esta iniciativa, inserida num quadro de responsabilidade social por parte do tecido empresarial, representa um importante sinal de reconhecimento do mérito pelo trabalho desenvolvido por estes alunos, para além de constituir uma significativa ajuda para as famílias suportarem os encargos com os seus educandos”. Recorde-se que nas sete edições já realizadas, a Universidade do Algarve, conjuntamente com mais de 40 empresas, já premiou quase 300 alunos que ingressaram nos seus cursos de formação inicial, totalizando um apoio de cerca de 280 mil euros .

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UALG TEM NOVA LICENCIATURA EM BIOENGENHARIA om o objetivo de preparar profissionais com competências técnicas e científicas para resolverem problemas multidisciplinares da Bioengenharia, a Universidade do Algarve vai reforçar a sua oferta formativa para o próximo ano letivo (2019/20) com uma licenciatura em Bioengenharia. A Bioengenharia combina a biologia, a biotecnologia e a engenharia. Este campo único e interdisciplinar abrange uma gama ampla de temas, onde o entendimento aprofundado da engenharia possibilita resolver desafios no âmbito da engenharia biomédica e das tecnologias biológicas. Com uma duração de três anos, esta nova licenciatura exige como provas de ingresso um dos seguintes conjuntos de exames: Biologia e Geologia e Matemática A ou Física e Química e Matemática A. Sendo a bioengenharia uma área em crescente procura, o plano curricular deste 151

curso permite a realização de estágio em ambiente empresarial ou em ambiente científico, promovendo a inserção nas múltiplas vertentes profissionais. Relativamente às saídas profissionais, os licenciados em Bioengenharia pela UAlg poderão exercer funções em hospitais, laboratórios ou indústrias, com atividade nas áreas de Engenharia Biológica e Engenharia Biomédica. Os profissionais poderão desenvolver atividades relacionadas com processos químico-biológicos, materiais naturais e produtos de origem marinha, novos produtos com base em biologia molecular, instrumentação biomédica, sistemas de apoio ao diagnóstico e terapia, entre outras. Esta nova licenciatura da UAlg será lecionada pela Faculdade de Ciências e Tecnologia, contando com o apoio do Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina e da Escola Superior de Saúde. ALGARVE INFORMATIVO #211


IAGO BEBIANO CONQUISTOU MEDALHA DE BRONZE NO CAMPEONATO DA EUROPA DE JUNIORES E SUB23 Atkins da GrãBretanha, que triunfou com 37,195 segundos. O segundo classificado foi o representante da Rússia, Nikita Baranniko, com 37,505 segundos.

ago Bebiano, do Kayak Clube Castores do Arade, conquistou, no dia 14 de julho, a Medalha de Bronze, em K1 200m, no Campeonato da Europa de Juniores e Sub 23 de Canoagem de Velocidade. O jovem algarvio, em representação da equipa nacional, registou o tempo de 37,856 segundos, terminado a apenas seis décimos de segundo do vencedor, Daniel ALGARVE INFORMATIVO #211

Iago Bebiano, de 18 anos, é orientado pelo pai, Nuno Silva, treinador principal dos Castores do Arade, e filho da grande atleta Ana Bebiano, campeã do mundo de 200m masters em título. Iago é o segundo atleta dos Castores a vencer uma medalha do 200m num Campeonato da Europa de Juniores, demonstrando a grande apetência dos atletas algarvios para as provas mais rápidas da canoagem. Depois da proeza, Iago vai iniciar a preparação para o Mundial da categoria que decorrerá na Roménia, de 1 a 4 de agosto. O atleta participou igualmente neste campeonato no K4 da equipa nacional, finalizando a formação no 8.º lugar .

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FLORESTA DE LOULÉ VAI CONTINUAR A SER VIGIADA PELO EXÉRCITO PORTUGUÊS elo quarto ano consecutivo, a Câmara Municipal de Loulé e o Exército Português assinaram, no dia 15 de julho, o protocolo que visa o patrulhamento e vigilância no âmbito da Estratégia Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios, uma vez que esta parceria se tem revelado como uma excelente prática no que concerne à proteção civil preventiva. O ato foi formalizado nas instalações da Proteção Civil Municipal, pelo vice-presidente da edilidade, Pedro Pimpão, e pelo coronel de infantaria Paulo Jorge Varela Curro, em representação do Exército Português Regimento de Engenharia N.º 1. A presença dos militares será notada essencialmente nas freguesias do interior do Concelho de Loulé, tendo em conta que 40 por cento do total dessas áreas corresponde a classes de perigo florestal muito elevado, nas quais se inserem as áreas de Paisagem Protegida da Rocha da Pena e Fonte Benémola, sendo que cerca de 54 por cento do território municipal é abrangido pela Rede Natura 2000. De acordo com o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, no Algarve, Loulé é o município que conta com o maior número de aldeias e aglomerados (141) integrados nas quatro freguesias rurais do interior, consideradas com o primeiro grau de prioridade no âmbito da Defesa da Floresta Contra Incêndios: Alte (33), Ameixial (16), Salir (54) e União de Freguesias Querença, Tôr e Benafim (38). 153

O patrulhamento militar será efetuado diariamente através de uma viatura 4x4 com três elementos, realizando em média 140 quilómetros por dia, e decorrerá durante o período crítico de incêndio florestal, por forma a diminuir a probabilidade da sua ocorrência, reforçando, assim, a segurança das populações e dissuadindo comportamentos negligentes. Além do Exército Português, constituem ainda o Dispositivo de Patrulhamento e Vigilância no Concelho, as Equipas Municipais de Intervenção Florestal do Serviço Municipal de Proteção Civil, as Brigadas de Jovens Voluntários, a Guarda Nacional Republicana, a Equipa de Sapadores Florestais da Associação de Produtores Florestais da Serra do Caldeirão e os Vigilantes da Natureza do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas que operam na zona da Ria Formosa, existindo ainda no Município de Loulé duas torres de vigia (Zebro e Malhão), ambas na freguesia de Salir . ALGARVE INFORMATIVO #211


PERCURSOS PEDESTRES DA FONTE DA BENÉMOLA E ROCHA DA PENA HOMOLOGADOS Câmara Municipal de Loulé obteve, da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), as Cartas de Homologação dos Percursos Pedestres PR18LLE Rocha da Pena e PR16LLE Fonte Benémola, inseridos, respetivamente, nas Paisagens Protegidas Locais da Rocha da Pena e da Fonte Benémola, áreas protegidas sob gestão do Município de Loulé. Neste âmbito, o vereador do Ambiente e presidente da Comissão Diretiva das Paisagens Protegidas Locais da Rocha da Pena e da Fonte Benémola, Carlos Carmo, e o presidente da Junta Freguesia de Salir, ALGARVE INFORMATIVO #211

Deodato João, juntamente com a equipa técnica da Divisão do Ambiente, realizaram uma visita aos trabalhos de requalificação e manutenção da sinalética nestes locais. As principais fases do processo de homologação consistiram na elaboração do projeto e preenchimento das fichas de registo do percurso pelo promotor; no registo dos percursos pedestres; na implementação do projeto segundo o regulamento de homologação dos percursos pedestres; na homologação dos percursos pela Federação; e na manutenção, que deverá ser assegurada pelo promotor, durante cinco anos. 154


O pedestrianismo em Portugal tem sofrido um aumento significativo, fruto do empenho da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal e das autarquias, bem como das regiões de turismo, entre outras entidades, igualmente comprometidas na promoção da prática desta modalidade desportiva e, em particular, como atividade de Turismo da Natureza. O pedestrianismo pratica-se, regra geral, em caminhos rurais, tradicionais e antigos, que merecem ser preservados, por constituírem um meio privilegiado de contato com a natureza e de interpretação do meio ambiente, promovendo o desenvolvimento sustentável e a conservação da natureza. A regulamentação da prática do pedestrianismo tem subjacente a marcação dos percursos pedestres. Os percursos pedestres devidamente marcados, em áreas de interesse para a conservação da natureza (como é o caso das áreas protegidas), promovidos e monitorizados com vista à sua manutenção, tornam-se imprescindíveis como forma de reduzir o impacto na vegetação de elevado valor para a conservação da natureza, e constituem um produto de turismo ativo e responsável e dignificam os promotores e contribuem para o desenvolvimento socioeconómico das regiões onde se encontram implantados. Com a homologação de Percursos Pedestres Paisagens Protegidas Locais da Rocha da Pena e da Fonte Benémola pretende-se garantir a qualidade de instalações para a prática do pedestrianismo, bem como a segurança 155

dos praticantes e a proteção do meio onde a modalidade se realiza. Um Percurso Pedestre Homologado é definido como uma instalação desportiva identificada pelas marcas GR (Grande Rota), PR (Pequena Rota) ou PL (Percurso Local), com o respetivo número de registo, e que possui a marca de homologação atribuída pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal. Obedece a exigências relativas ao traçado, marcação e manutenção, nomeadamente no que respeita à segurança dos praticantes e à preservação do ambiente. É um itinerário sinalizado no terreno através de marcas de caminho certo, mudança de direção à esquerda e à direita, caminho errado, painéis informativos gerais, ao longo dos caminhos rurais. A Câmara Municipal de Loulé possui os sítios http://www.cmloule.pt/pt/menu/759/paisagemprotegida-local-da-fontebenemola.aspx e http://www.cmloule.pt/pt/menu/758/paisagemprotegida-local-da-rocha-da-pena.aspx, nos quais disponibiliza os folhetos das Paisagens Protegidas Locais da Rocha da Pena e Fonte Benémola relativos a cada um dos percursos em cinco idiomas, nomeadamente português, espanhol, francês, inglês e alemão. À Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal compete proceder à divulgação destes percursos, a nível nacional e internacional, através de edições (próprias e em parceria) e no sítio www.fcmportugal.com .

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CONCURSO PÚBLICO PARA A MUSEALIZAÇÃO DOS BANHOS ISLÂMICOS DE LOULÉ JÁ FOI LANÇADO oi publicado em Diário da República, no dia 12 de julho, o concurso público para a realização da obra de Musealização dos Banhos Islâmicos de Loulé. Trata-se de um projeto de valorização deste complexo balnear, quer a nível patrimonial, quer a nível turístico, que pretende dar a conhecer à comunidade e a todos os que visitam a cidade um dos edifícios de banhos islâmicos mais completos no panorama da arqueologia da Península Ibérica e que é único no contexto nacional. Localizados em pleno Centro Histórico, no Largo D. Pedro I, no interior da «Casa ALGARVE INFORMATIVO #211

das Bicas», representam um complexo público de banhos do final do período da ocupação islâmica do Algarve (terão funcionado entre os séculos XII e XIII), tendo sido ocupados no século XV como habitação. Descobertos em 2006, após as primeiras intervenções arqueológicas, viram a sua importância reconhecida ao nível da comunidade científica e do público em geral. Já em 2013, na sequência das obras de reabilitação do Centro Histórico de Loulé, foram descobertas novas divisões destes banhos islâmicos, observando-se atualmente estruturas referentes a tanques frios, latrinas e vestíbulos. 156


A intervenção será realizada dentro da «Casa das Bicas» e o projeto pretende levar a cabo a valorização dos vestígios arqueológicos dos banhos islâmicos, da casa nobre do final do século XV e da muralha medieval e moderna, tornando, inclusive, o torreão aí existente visível do lado das Bicas Velhas. A organização funcional dos espaços contempla receção/átrio, espaço expositivo, espaço para serviços educativos e área exterior de lazer, para além da área musealizada que terá informação complementar no percurso da visita. Organizado no piso térreo, o espaço dos banhos deverá manter-se delimitado pelas estruturas que permanecem da casa nobre do século XV. O projeto vai integrar quatro áreas distintas: a zona de entrada, marcada por uma estrutura grelhada com banco onde os visitantes poderão ter um momento de pausa antes ou após a visita ao núcleo; a entrada interior que articula a receção com três áreas específicas, respetivamente os espaços museológicos, a sala dos serviços educativos e o núcleo de sanitários; uma terceira zona, composta pela sala de exposição complementada com um conjunto de informações sobre os banhos islâmicos, a casa senhorial e o 157

conjunto muralha-torreão; uma quarta zona complementar, constituída pelo quintalão, ou seja, uma zona exterior que valoriza o seu usufruto diurno e noturno, incluindo projeção de cinema. A musealização do espaço dos Banhos Islâmicos permitirá (re)conhecer neste local uma diacronia de ocupação da cidade de Loulé, uma vez que ali irão observar estruturas arquitetónicas de valor patrimonial de dois relevantes períodos num só espaço. O projeto conta com a colaboração do Campo Arqueológico de Mértola, que realizou as escavações arqueológicas do complexo desde 2016, assim como da Universidade do Algarve que estudou o paço quatrocentista. A empreitada terá um custo de 1 milhão, 306 mil e 711,15 euros e um prazo de execução de 730 dias.

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ESCAVAÇÕES ARQUEOLÓGICAS EM CACELA VELHA TÊM PROJETO DE MUSEALIZAÇÃO NO HORIZONTE campanha de escavações arqueológicas em Cacela Velha caminha para a reta final e recebeu, no dia 11 de julho, a visita da presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Conceição Cabrita, da Diretora Regional de Cultura do Algarve, Adriana Freire Nogueira, e da Vice-Reitora da Universidade do Algarve, Ana Freitas. Denominado «Muçulmanos e cristãos em Cacela medieval: território e identidades em mudança», o projeto de investigação resulta de um protocolo de colaboração entre as três entidades. Tem um horizonte de quatro anos e encontra-se a estudar o

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bairro medieval islâmico (séculos XIIXIII) e a necrópole da Ermida de N. S. dos Mártires (séculos XIII-XVI). “Na campanha deste ano já chegámos aos níveis islâmicos, pelo que, do ponto de vista científico, foi um sucesso. Em 2020, vamos abrir novas áreas em busca da famosa ermida de Nossa Senhora dos Mártires que, muito provavelmente, estaria a acompanhar a necrópole cristã. Vamos também tentar encontrar a necrópole paleocristã ou a necrópole islâmica”, descreve Maria João Valente (Universidade do Algarve) que, juntamente com Cristina Tété Garcia (DRCAlg), coordenou os trabalhos arqueológicos.

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“Este ano, a maior novidade foi o elevado número de sepulturas humanas encontradas, muitas delas difíceis de escavar porque pertenceriam a bebés e crianças, o que revela que teríamos, à data, uma elevada prevalência de mortalidade infantil. Por outro lado, encontrámos restos cerâmicos com uma elevada qualidade, o que foi muito proveitoso do ponto de vista científico”, prossegue Maria João Valente. E, de acordo com a presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Conceição Cabrita, “o projeto continuará nos próximos dois anos e permitirá aprofundar o conhecimento sobre o passado de Cacela Velha e contribuir para a musealização deste território”. Para a Diretora Regional de Cultura, Adriana Freire Nogueira, “esta campanha é sinónimo da defesa e da salvaguarda do património, pelo que a instituição não poderia ficar fora deste protocolo e 159

contribuir para a preservação deste importante sítio arqueológico”. Ao longo de quatro semanas, o Campo-Escola de Arqueologia de Cacela acolheu investigadores e alunos universitários, envolvendo cerca de 30 participantes nacionais e estrangeiros. Os trabalhos incluíram a escavação, registo e análise das diferentes camadas, recolha de sedimentos, bem como a identificação de materiais como cerâmicas, restos alimentares, peças de metal, entre outras. Através destas medidas, pretende-se não só consolidar a informação histórico-arqueológica já adquirida, mas também obter novos dados que permitam alargar e detalhar o conhecimento sobre o território onde a povoação de Cacela se estabeleceu e sobre as comunidades humanas que o habitaram ao longo da Idade Média (séculos X-XV) . ALGARVE INFORMATIVO #211


MUNICÍPIO DE SILVES LIMPOU LEITO DO RIO ARADE JUNTO À CIDADE neus de grandes dimensõ es, grelhas, caixas, tubos de rega e até papeleiras foram alguns dos objetos retirados do leito do Rio Arade, junto à cidade de Silves, numa limpeza realizada pela autarquia no dia 13 de julho. Esta ação, que decorreu entre as 5h e as 10h e envolveu os funcionários do sector de Limpeza da autarquia, integra a campanha da autarquia «Lixo Zero – Ambiente 100», que visa sensibilizar as pessoas para a necessidade de reduzirem resíduos, sobretudo os que são de maior longevidade e que contribuem fortemente para a poluição que hoje é visível no planeta. Esta campanha começou em maio, no Silves Tour, com a substituição de garrafas de plástico por cantis de água, de modo a evitar esses resíduos, e prosseguirá com ações de educação ambiental em Armação de Pêra, durante o Verão, e com as obras que em breve começarão nas Piscinas Municipais de Silves e que permitirão a ALGARVE INFORMATIVO #211

redução de consumos energéticos e de água, tornando este espaço mais amigo do ambiente. A Autarquia de Silves quis esta ação, que não é da sua responsabilidade, dar um contributo importante para a melhoria do estado do rio, por onde diariamente navegam várias embarcações, nomeadamente turísticas, e que é um dos locais mais importantes para o turismo da região . 160


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #211

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