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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 17 de agosto, 2019

FESTIVAIS DO MARISCO E DA SARDINHA | IN LOCO LANÇA 100% LOCAL | «CALÇADAS» EM S. BRÁS 1 ALGARVE INFORMATIVO #215 SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE VILA DO BISPO E STARTUP PORTIMÃO SOPRARAM VELAS


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CONTEÚDOS #215 17 DE AGOSTO, 2019 30

HISTÓRIAS 18 - Festival da Sardinha de Portimão 30 - Festival do Marisco de Olhão 52 - Feira Medieval de Silves 74 - Artes e Sabores na Mexilhoeira Grande 84 - «Calçadas» em São Brás de Alportel 102 - In Loco lança 100% Local 114 - Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo 130 - Dia Internacional da Juventude no IPDJ 142 - StartUp Portimão

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OPINIÃO 102

152 - Mirian Tavares 154 - Ana Isabel Soares 156 - Adília César 158 - Carla Serol 160 - Fábio Jesuíno 162 - Alexandra Rodrigues Gonçalves 166 - Fernando Esteves Pinto 168 - Paulo Bernardo ALGARVE INFORMATIVO #215

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FESTIVAL DA SARDINHA DE PORTIMÃO BATEU RECORDES COM 100 MIL VISITANTES EM CINCO DIAS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Ricardo Coelho

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erca de cem mil pessoas passaram pela 25.ª edição do Festival da Sardinha, que encheu de animação a zona ribeirinha de Portimão entre 7 e 11 de agosto. Um resultado que se começou logo a perspetivar na primeira noite, com mais de 25 mil visitantes, entre os quais o próprio Primeiro-Ministro António Costa, que, de férias no Algarve, não quis perder a oportunidade para saborear as sardinhas assadas na brasa, acompanhadas de batata cozida e salada à algarvia, um exlibris gastronómico de Portimão. Quanto à inauguração oficial propriamente dita, contou com a presença da Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, do Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, do Secretário de Estado das Pescas, José Apolinário, e dos deputados João Vasconcelos, Jamila Madeira, Ana Passos e Luís Graça, entre outras figuras. O momento alto do dia inaugural foi a atuação dos Amor Electro no palco principal, tendo os largos milhares de fãs presentes homenageado o baterista da banda, Rui Rechena, falecido horas antes. A sardinha continuou a ser a rainha da festa até 11 de agosto, degustada nos restaurantes parceiros do festival – À Ravessa, Casa Bica, Dona Barca, Forte e Feio, O Meco, Peixarada, Retiro do Peixe Assado, Ú Venâncio e Zizá – que ofereciam mais de dois mil lugares sentados. Entretanto, o amplo recinto transitou este ano para uma zona próxima do Clube Naval de Portimão, com os grelhadores a perfumarem os ares com o característico aroma das sardinhas assadas na brasa, que ALGARVE INFORMATIVO #215

também podiam ser apreciadas, no prato ou numa fatia de pão, nos pontos de venda a cargo das coletividades Boa Esperança, Clube União, Gejupce e Alvorense. Pelo Palco Principal, montado junto ao Clube Naval, passaram ainda, para além dos Amor Electro, Bárbara Bandeira, Marco Rodrigues, C4 Pedro e Expensive Soul, mas toda a zona ribeirinha da cidade, entre o Museu de Portimão e a área entre pontes, esteve repleta de motivos de interesse, com muito artesanato e doçaria e constante 20


animação de rua e música a cargo de bandas e artistas da terra, que atuaram no Jardim 1.º de Dezembro, no Coreto da Praça Manuel Teixeira Gomes e no Palco Sardinha, situado na zona de restauração. Junto à antiga Lota de Portimão, o Petinga Park proporcionou um espaço inteiramente dedicado às famílias, com insufláveis e atividades diversas totalmente gratuitas, sem esquecer a roda gigante, com 38 metros de altura, que continua a dominar toda a paisagem. E até foi possível efetuar uma visita ao Museu de Portimão, que adaptou o seu horário de funcionamento durante o festival, abrindo portas de quarta-feira a domingo, entre as 15h e as 23h. 21

Em jeito de balanço, a presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, considerou que foram “cinco dias extraordinários, com uma participação do público fora do comum”, confessando: “Nunca esperei ter tanta gente a visitar o Festival, o que esgotou em várias ocasiões a quantidade de sardinha disponível”. Isilda Gomes entende que o evento “foi um enorme sucesso, para mais se nos lembrarmos que, no ano passado, tivemos 50 mil visitantes, um número mais que duplicado nesta edição”. “Essa dimensão, só por si, já atesta o ALGARVE INFORMATIVO #215


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sucesso do festival, que ultrapassou as nossas melhores expetativas”, sublinha a autarca, considerando que o novo formato adotado e o local onde decorreu, num regresso às origens, explicam em boa medida a quantidade de pessoas que visitaram o certame. “Nestas noites encontrei inúmeros portimonenses bastante orgulhosos, elogiando a decisão de mudarmos de espaço, muito mais amplo e seguro, onde as famílias podem passear tranquilamente. Acredito que foi uma aposta ganha, para o que muito concorreu o cartaz musical e o empenho do movimento associativo, cujas coletividades a assar sardinha tiveram as mesas sempre preenchidas”, explica a presidente, que também destaca as pastelarias locais a concorrer às 7 Maravilhas Doces de Portugal, entre outros motivos de interesse, como os palcos secundários, o Petinga Park e o artesanato. Do seu ponto de vista, o Festival da Sardinha 2019 constituiu uma mostra 23

magnífica do melhor que Portimão tem para oferecer a quem nos visita, “o que nos obriga a elevar a fasquia na próxima edição”. Levantando um pouco o véu, Isilda Gomes adianta que o certame gastronómico se vai manter no mesmo espaço, “que melhorou exponencialmente as condições de visitantes e de expositores”. “Vamos querer trazer mais gente, sobretudo artesãos, e promover novos pontos de atração para o público, com músicos e grupos de referência, tornando o local mais atrativo e aprazível, sempre com a boa sardinha assada como ponto de referência”, defende a presidente, fazendo ainda questão de dirigir “uma palavra de carinho para a fantástica equipa que, nos bastidores, não se poupou a esforços para levantar e manter o Festival da Sardinha nos mais altos padrões de qualidade, ao longo de cinco dias que, seguramente, marcaram de forma muito positiva o início de agosto na região algarvia” . ALGARVE INFORMATIVO #215


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FESTIVAL DO MARISCO DE OLHÃO ESTEVE DESLUMBRANTE… COMO SEMPRE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina, Irina Kuptsova e David Pereira (D+ Photos)

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lhão acolheu, de 9 a 14 de agosto, o 34.º Festival do Marisco, uma grande festa gastronómica que voltou a apresentar um cartaz musical de luxo que atraiu milhares de visitantes à cidade cubista. Pelo palco do Jardim Pescador Olhanense, na zona ribeirinha, passaram Matias Damásio e Aurea, HMB, Killer Queen, Paula Fernandes, Ludmilla e Resistência, que levaram ao delírio espetadores de várias gerações. Antes dos concertos, momentos muito especiais tomaram conta do céu, com polvos e barcos piratas gigantes a encantarem a assistência. No recinto, por entre a multidão, houve animação circense e música para acompanhar as refeições. Refeições, claro, porque, a par dos artistas que pisaram o palco, houve outros que estiveram em permanente destaque, os frutos do mar que chegam da Ria Formosa. Não faltaram, de facto, os melhores mariscos confecionados como só os olhanenses sabem, mas também deliciosos showcookings no Coreto a cargo de conceituados chefs. E, depois da agitação no palco, a primeira e a última noites do Festival do Marisco prosseguiram até de madrugada ao sabor dos ritmos dançantes dos DJ’s Christian F e Wilson Honrado. No recinto do Festival existiu, tal como vem acontecendo nos últimos anos, um Kids Club, onde os mais novos podiam brincar e divertir-se enquanto os pais apreciavam os melhores mariscos e ALGARVE INFORMATIVO #215

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bivalves disponíveis nos diversos restaurantes existentes ou os concertos. O Jardim Pescador Olhanense recebeu também um stand de promoção do Folar de Olhão, no ano em que este doce típico era um dos finalistas algarvios às 7 Maravilhas Doces de Portugal. E também ALGARVE INFORMATIVO #215

as associações e clubes do concelho tiveram oportunidade de mostrar um pouco do trabalho que realizam ao longo do ano nos stands instalados no recinto. E assim, num ápice, chegou ao fim mais um estonteante Festival do Marisco de Olhão. Até para o ano… . 34


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XILB E OS VIKINGS

DERAM O MOTE À XVI FEIRA MEDIEVAL DE SILVES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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décima sexta edição da Feira Medieval de Silves aconteceu, de 9 a 18 de agosto, no centro histórico da antiga capital do Reino do Algarve, recordando Xilb e os Vikings e envolvendo milhares de visitantes no ambiente político e bélico que se viveu no ano de 844, quando de Silves saiu em missão diplomática um embaixador que de barco chegou ao território dos Majus (Vikings) para negociar a paz com o rei dos normandos. Ao longo do evento assistiram-se a jogos de guerra entre muçulmanos e vikings, ao espetáculo «A Viagem» no Castelo de Silves, a manjares medievais e experiências memoráveis como a recriação de diversos rituais vikings, com particular ALGARVE INFORMATIVO #215

destaque para o ritual do casamento, os sacrifícios humanos aos deuses, o ritual da águia de sangue e o ritual fúnebre. Num ambiente e cenário únicos, constituídos pelo traçado peculiar do tecido urbano e pela imponência dos monumentos de Silves, recuou-se ao longínquo ano de 844, quando, vinda dos seus estaleiros de construção naval, foi lançada ao rio da bela cidade de Xilb uma embarcação que ali foi construída pelo mais ilustre dos mestres, com recurso a avançadas técnicas de marear. Conforme sabido, os Majus (Vikings) não largavam a costa algarvia e em Córdova o emir estava preocupado. Aliás, ainda há bem pouco tempo 80 potentes embarcações se tinham aproximado da cidade de Lisboa e colocado em pânico as populações. Mais 54


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para oriente, cidades como Sevilha e Cádis já tinham sido atacadas e saqueadas, tendo a primeira permanecido sob o domínio normando por cerca de um mês, findo o qual foi recuperada e os do Norte rechaçados. A instabilidade vivida e a ameaça constante tornaram-se insustentáveis, o que levou o rei dos normandos a propor e negociar a paz com Abd al-Rahman II. Para o desenlace de tão importante missão foi escolhido Yahya b. akam al‐Bakrī, poeta e hábil diplomata, mais conhecido por AlGazalī (A Gazela), não só pela sua reconhecida formosura, mas também por ser dotado de subtileza, audácia, coragem, perseverança, habilidade para a réplica clara e contundente e facilidade em entrar e sair por qualquer porta. Acompanhado por Yahya b. Habīb, a dupla levou uma resposta à petição do rei normando e um 57

presente para retribuir o que havia sido ofertado por aquele monarca. Uma viagem que foi retratada de forma esplendorosa no Castelo de Silves. E assim o público, português e estrangeiro, ficou a saber que Xilb, por possuir arsenais que trabalham com o melhor madeirame, e um porto de águas calmas com ligação direta ao mar não muito distante, foi escolhida pelo emir para embarque de Al-Gazalī. Içadas as velas quadradas dos barcos e apanhando o vento de feição, em pouco tempo passaram Zawayya (Lagos?) e avistaram o promontório de Sagres. Ali foram surpreendidos por uma forte tempestade que a custo foi vencida, ainda que com dano sobre uma das embarcações, pois as vagas eram tão altas quanto as montanhas circundantes. Passado este perigo, a comitiva chegou à primeira das ilhas ALGARVE INFORMATIVO #215


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normandas, onde aportaram para reparar o barco e descansar da fadiga causada pela tormenta. Dali até ao palácio do rei percorreram 300 milhas sem sobressaltos. Passados dois meses na corte normanda, Al‐Gazalī regressou com a paz conquistada, parando antes em Santiago de Compostela e no belo reino de Castela. Apesar disso, década e meia depois os Vikings voltaram a assolar a costa andaluza, mas já tinham passado mais de cem anos quando volveram à cidade de Silves onde, no Rio Arade, travaram dura batalha que não lograram vencer. Estava-se em 966, e foi a última vez que os Vikings foram vistos por estas bandas. A partida do porto de Silves de Al‐Gazalī, em missão diplomática à terra dos normandos no ano de 844, 59

representa a mais antiga fonte escrita relativa a esta que foi uma das mais distintas cidades do Gharb al-Andalus. Momentos altos da XVI Feira Medieval de Silves foram também os jogos de guerra entre muçulmanos e vikings, numa liça construída de forma a fazer jus à época. Conforme referido, no alAndalus viviam-se tempos conturbados, com os vikings a assolarem a costa, pilhando, roubando, queimando as terras costeiras e aprisionando os seus habitantes. Depois do célebre poeta e diplomata al-Gahzali ter rumado às cortes normandas e, após largo tempo de negociações, ter alcançado a paz, regressou a Silves, onde a boa nova foi recebida com júbilo. No espírito ALGARVE INFORMATIVO #215


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dos festejos, o vizir da cidade ordenou que se fizessem uns jogos entre os Majus e os filhos de Alá. Entusiasmado com o desafio, o rei normando enviou os seus melhores guerreiros, assim como um baú com 100 moedas de ouro para o vencedor dos jogos. O vizir de Xilb, não querendo ficar atrás, escolheu também os seus melhores homens e cavaleiros e igualou a oferta com outras tantas moedas de ouro. Ao lado, uma aldeia viking instalou-se na Praça Al-Mut’amid, com tendas vikings, um barco e uma carroça viking e uma pira funerária, onde se retrataram as vivências de ferreiros, tecelões, carpinteiros, curtidores de peles e construtores de redes e se recriaram o ritual de casamento, os sacrifícios aos deuses, o ritual da águia de sangue e o ritual fúnebre. 61

Com grande rigor histórico foi recriado este período, para deslumbre dos muitos visitantes, e da própria Presidente da Câmara Municipal de Silves, que não hesita em considerar este um “evento forte e com uma dinâmica única na região”. “Em 2019 revelamos algo que se calhar poucos conhecem, mas que faz parte desta história tão rica do nosso concelho: a relação que Silves teve com os Vikings (a quem os muçulmanos chamavam majus), que ameaçaram o Gharb no século IX. Contar toda esta história foi já uma novidade, mas tivemos mais pontos de animação e surpresas no fantástico cenário natural da cidade, que é perfeito para a realização deste evento e que contribui para o prestígio que o certame granjeou ao ALGARVE INFORMATIVO #215


longo destes anos no Algarve, no país e até mesmo na Europa”, frisa Rosa Palma. A edil sublinhou que Silves tem ocupação humana desde a pré-história, por ali passando povos, religiões, culturas e modos de ser bastante diversos e que deixaram saberes e modos de estar e ser que são muito peculiares. “A cultura é uma marca desta cidade e está profundamente ligada a essa herança de que muito nos orgulhamos, porque Silves é um lugar especial no que toca à cultura e à história. Mas a Feira Medieval de Silves é também um espaço para que as associações locais possam estar presentes e consigam, ao longo dos 10 dias do evento, estimular os seus associados à realização de trabalho voluntário e angariar fundos, para que tenham a possibilidade de pôr de pé, no decorrer do ano, os seus projetos com recurso a fundos próprios. O sucesso

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deste evento deve-se bastante a um ambiente que motiva à participação da comunidade”, considera Rosa Palma, acrescentando que foram introduzidos alguns suportes tecnológicos que ajudaram na experiência dos visitantes e lhes permitiram consultar o programa do evento, aceder ao site da autarquia na área da Feira Medieval e até dar a sua opinião sobre o evento. “Tivemos também mais pontos de animação e surpresas no fantástico cenário natural da cidade e o rio Arade foi usado igualmente na recriação do desembarque viking. E também existiram novos elementos cenográficos, criados pelo nosso sector de carpintaria e desenhados pelos nossos técnicos de desenho, que deram um ar ainda mais medievo à cidade”, destacou a presidente da Câmara Municipal de Silves.

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XVIII MOSTRA DE ARTES E SABORES DA NOSSA TERRA DEDICOU TRÊS DIAS ÀS ARTES, OFÍCIOS, GASTRONOMIA E DOÇARIA LOCAIS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Filipe da Palma

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os dias 9, 10 e 11 de agosto realizou-se, no Adro da Igreja Matriz da Mexilhoeira Grande, mais uma Mostra de Artes e Sabores da Nossa Terra. A 18.ª edição do certame reuniu e exibiu o melhor que a doçaria e petiscos regionais têm para oferecer, a par das artes e os ofícios tradicionais, e a adesão dos visitantes foi maciça. Doces regionais, bolos, mel e derivados, petiscos, artes ornamentais e trabalhos manuais foram algumas das propostas que residentes e turistas encontraram ao longo destes três dias, pautados também por muita diversão e música para todos os gostos, com atuações de Ricardo Alves, do Grupo de Cantares do CIRM, dos «Giletes ALGARVE INFORMATIVO #215

d`Aço», das classes do Clube de Instrução e Recreio Mexilhoeirense (Classe de Ginástica Rítmica, Ballet, Classe «em Movimento» e Zumba do CIRM), do IJKA-Portugal (Internacional Japan Karate Associação), da ADKP (Academia de Desportos de Combate de Portimão), das Marchas Populares do CIRM e outras convidadas que tanto brilharam na época dos Santos Populares no concelho, da cantora Mokika, Marco António e do Canto Alentejano com o Grupo Brasa Doirada. A XVIII Mostra de Artes e Sabores da Nossa Terra foi organizada pelo CIRM – Clube de Instrução e Recreio Mexilhoeirense, com o apoio da Câmara Municipal de Portimão, da Junta de Freguesia da Mexilhoeira Grande e da Cerveja Sagres . 76


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ARTE TOMOU CONTA DO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL EM MAIS UM FANTÁSTICO «CALÇADAS» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina 85

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história voltou a repetir-se na véspera do feriado que assinala o meio do mês mais quente do Verão algarvio, com a sexta edição do «Calçadas, a Arte sai À Rua» a «invadir», no dia 14 de agosto, as ruas e ruelas do Centro Histórico de São Brás de Alportel com muita cultura e animação. A partir das 20h, os milhares de residentes e visitantes foram surpreendido por criações artísticas, design, escultura, fotografia, momentos de música e dança, poesia e até contos de arrepiar, numa noite calorosa e magica em que se conseguiu sentir o pulsar do coração desta vila da Serra do Caldeirão. E, como é costume, não faltaram os petiscos, os produtos locais e o artesanato para quem quisesse levar para casa peças originais ALGARVE INFORMATIVO #215

que transportam consigo as artes e saberes de outros tempos. O vasto programa de animação integrou 14 momentos distintos, distribuídos por sete espaços diferentes. Os animados Al-Fanfare iniciaram a sua atuação no Largo de São Sebastião, em jeito de boas-vindas ao Centro Histórico. O Palco do Adro da Igreja Matriz voltou a ser o ponto de encontro da dança, com atuações da Escola de Dança Municipal de São Brás de Alportel e da Companhia de Dança do Algarve. No alternativo espaço «À do Calçadas», no pátio do antigo Palácio Episcopal, ouviram-se «Rattle N Strum», Beatrice e DJ Solitaire, e no Palco da Praça Velha atuaram a fadista Argentina Freire, o grupo tradicional «Campaniças do Mira» e o humorista Jorge Serafim. Para o Palco Vila Adentro estiveram reservados 86


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outros momentos muito especiais, com o rock dos «Big Six», o blues/rock dos «The Wax Flamingos» e o reggae de «Quem é o Bob?», numa contagiante homenagem a Bob Marley. Os mais pequenos tiveram na Biblioteca Municipal o seu recanto especial com duas sessões de contos com as «Trovadoras Itinerantes», para além de muitas pinturas faciais. E, para manter viva a tradição, ao bater das 12 badaladas foi altura de escutar, na Calçadinha, as «Histórias de Arrepiar» de Maria José Carocinho e Fernando Guerreiro. No Centro de Artes e Ofícios foi também possível visitar as exposições «Os Começos», de Jolita Yamuna, e «Subnigrum: Fronteira», de Ana Vieira Ribeiro, fruto de uma parceria estabelecida com o MUSEU ZERO. Mas, a par destas exposições, a arte tomou ALGARVE INFORMATIVO #215

igualmente conta das residências particulares em mais um capítulo do concurso «A Janela mais Bonita». À semelhança do que tinha acontecido na recente Feira da Serra, e na senda da luta pela redução da poluição causada pelo excessivo uso de plástico, a edição deste ano do Calçadas foi mais ecológica, pois não foram usados copos de plástico descartável. No final da noite, o evento promovido pela autarquia local, em parceria com a «Comissão Organizadora Calçadas», um grupo informal da comunidade sãobrasense, saldou-se em mais um tremendo êxito, convidando miúdos e graúdos a desfrutar da arte nas calçadas do Centro Histórico de São Brás de Alportel . 88


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100% LOCAL É A NOVA APOSTA DA IN LOCO PARA VALORIZAR OS RECURSOS ENDÓGENOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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100% Local é o mais recente projeto da Associação In Loco, tendo tido a primeira sessão no dia 1 de agosto, inserido no «Comércio nas 7 Quintas» da Câmara Municipal de Loulé, e prontamente foi agarrado pela autarquia louletana, mas o objetivo é dinamizá-lo nos diversos concelhos que constituem o Algarve Central. “A valorização dos recursos locais faz parte de uma estratégia de desenvolvimento local sustentável que sempre esteve no cerne da atuação da In Loco, e que nos fez apoiar os agricultores, os artesãos, os produtores locais, assim como criar as feiras da serra há 30 anos”, explica Artur Filipe Gregório, presidente da direção da In Loco. ALGARVE INFORMATIVO #215

Na génese de eventos como a Feira da Serra de São Brás de Alportel ou da Feira da Dieta Mediterrânica de Tavira, mas também do mais recente «Prato Certo», a associação sedeada em São Brás de Alportel não trabalha de forma isolada, segue uma estratégia perfeitamente definida e tem aproveitado, de forma exemplar, os apoios e programas comunitários que foram surgindo ao longo dos seus 31 anos de existência. Por isso, o 100% Local reúne financiamentos da «No Planet B by Ami» da União Europeia e do Instituto Camões e começou a ser desenhado, em 2018, “como um projeto de animação territorial para estimular o consumo local, concretizado em vários mercados locais”, explica Vânia Martins. “No fundo, quisemos criar um conjunto de 104


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ações para sensibilizar a sociedade civil para a problemática das suas opções de consumo, nomeadamente para a importância de se consumirem produtos locais, porque isso depois influencia a economia da região, o fomento do emprego, o desenvolvimento das cidades onde vivemos e que nos são próximas. Em simultâneo, pretendemos desafiar os Municípios do Algarve Central para realizar um conjunto de ações mais direcionadas para os produtores dos seus concelhos”, reforça a gestora do projeto. Organizar mercados com produtores locais é algo que a In Loco está habituada a fazer, pelo que os protagonistas deste 100% Local são, na sua maioria, atores com que a associação já trabalha há muitos anos. Mas outros são novos, garante Artur Filipe Gregório, ALGARVE INFORMATIVO #215

nomeadamente na vertente da produção biológica. “Sabem que aproveitamos todas as ferramentas disponíveis para apoiar a valorização dos recursos endógenos, da produção local e sazonal”, justifica, com Vânia Martins a confirmar a existência de uma ampla base de dados de produtores, que está em constante atualização, o que facilita depois a execução dos projetos. “O 100% Local tem a mais-valia de podermos englobar as novas tecnologias, com uma aplicação que estará disponível para telemóveis e internet e onde iremos mapear estes produtores e criar pontos de ligação com os consumidores. Alguns produtores já têm os seus próprios circuitos de distribuição e não estão disponíveis para participar nos mercados, mas estão interessados na 106


Vânia Martins e Artur Filipe Gregório

aplicação. Queremos tentar caracterizálos, perceber como produzem, onde vendem, que quantidades vendem, compreender as suas expetativas em relação ao projeto, porque a ideia principal é sermos úteis”, salienta Vânia Martins. Produtores locais que estão espalhados pelo território, do litoral à serra, passando pelo barrocal, uns mais novos, outros mais idosos, uns perfeitamente confortáveis com o manuseio das novas tecnologias, outros nem tanto. O problema maior, contudo, é o da escala, da própria estrutura produtiva do Algarve, reconhece Artur Filipe Gregório. “Lembro-me das primeiras edições da Feira da Serra em que nós íamos buscar e levar os produtores às suas próprias casas, não se conseguiam organizar sozinhos. E era naquele evento que escoavam metade 107

da sua produção anual. A esse canal fomos somando outros, há cada vez mais lojas que vendem produtos locais, assim como lojas online, porque é fundamental aproximar a produção do consumo. Há que evitar os circuitos de retalho, que aumentam o preço dos produtos e remuneram de uma forma menos justa os produtores”, defende o presidente da In Loco. Apesar da vasta experiência na matéria, organizar os Mercados 100% Local continua a ser um forte desafio porque cada evento deverá adaptar-se às características dos sete concelhos aderentes, aos seus tecidos produtores, aos intuitos particulares dos Municípios. “A Câmara Municipal trata da parte logística, nós lidamos com os produtores, e a prioridade é sempre ALGARVE INFORMATIVO #215


selecionar produtores dos respetivos concelhos. Quando não houver suficientes, alargamos o leque para os territórios adjacentes”, diz Vânia Martins, acrescentando que o enfoque principal é dado aos produtos frescos agroalimentares e aos produtos transformados típicos da região, como o mel ou o medronho. “Queremos que exista uma identidade regional facilmente identificável e que se consiga rastrear o modo de produção, o percurso dos produtos. E quanto mais curto for o circuito de distribuição, mais fácil é para as pessoas falarem com os produtores”, considera a gestora do projeto. “O 100% Local também pretende ser um selo de qualidade, de distinção dos produtos regionais, de reconhecimento de quem realmente aposta em modos de ALGARVE INFORMATIVO #215

produção sustentáveis”, aponta ainda Artur Filipe Gregório.

APLICAÇÃO E CARTÃO DE PRODUTOR LOCAL A CAMINHO A primeira ação do Mercado 100% Local aconteceu, a 1 de agosto, em Loulé, e vai continuar a repetir-se nas quintas-feiras do mês de agosto, na Praça da República, junto ao edifício da Câmara Municipal e perto do Mercado Municipal. A 21 de setembro realiza-se em São Bartolomeu de Messines, numa parceria com a Junta de Freguesia de Messines e o Município de Silves, e o local e o horário deverão variar consoante os desejos dos parceiros. “Para nós não é um requisito que tenha que se realizar junto a um 108


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Mercado Municipal, a ideia é criar um espaço de experimentação que possa depois ser agarrado pelas autarquias”, indica Vânia Martins. “O consumo evoluiu bastante nos últimos anos, pelo que é necessário pensar em novas formas de levar as pessoas aos mercados tradicionais e aos produtores locais. Não podemos fazer mais do mesmo e esperar que a coisa resulte. Há que apostar em abordagens criativas, intermediadas pela tecnologia, com aproximação dos artistas, é esse o ADN do 100% Local”, avisa, entretanto, Artur Filipe Gregório. Isso mesmo se assistiu nas ações de Loulé, com o mercado a ser complementado por animação de rua dinamizada por grupos de teatro locais, ALGARVE INFORMATIVO #215

mas a In Loco tem consciência de que isso nem sempre será possível e que será preciso recorrer a artistas de outros pontos da região. “A ideia é que os artistas interajam com as pessoas e provoquem a reflexão sobre estas temáticas através da animação ou do teatro que estão a levar a cabo, ligando o consumo local à sustentabilidade e à vertente ambiental. O cenógrafo Tó Quintas criou também ume peça escultória, inspirada nas antigas balanças de mercado, que pretende, com os seus dois pratos, mostrar o desequilíbrio que existe entre tudo aquilo que consumimos e o mundo em que vivemos. A «Balança» vai ser itinerante, andar pelos sete municípios 110


parceiros, uma imagem gráfica do impacto das nossas opções de consumo no planeta Terra”, descreve Vânia Martins. Quanto à aplicação de georreferenciação dos produtores locais, o «https://casefazem.pt/», ainda está em fase de desenvolvimento, mas promete ser mais uma importante ferramenta da In Loco para levar por adiante a sua missão de valorização dos recursos endógenos. “Estamos a fazer a caracterização e mapeamento dos produtores à medida que se vão realizando os Mercados 100% Local e vamos entregar-lhes também um cartão de produtor local para os distinguir dos distribuidores, para que seja mais fácil para o consumidor perceber que aquela pessoa produz 111

efetivamente”, revela Vânia Martins. Quanto ao horizonte temporal do projeto, Artur Filipe Gregório assegura que o 100% Local é para continuar. “Este trabalho que desenvolvemos com as pessoas é de continuidade, de diferenciação positiva, de afirmação, de distinção da qualidade destes produtores, algo que já fazemos há muitos anos e que vamos manter no futuro. Não queremos entrar em competição ou conflito com outros canais de distribuição, apenas desejamos que existam outras alternativas para que os consumidores possam fazer escolhas informadas, para que saibam quais são os produtos da época, onde estão os seus produtores e como é que os podem contactar”, salienta o dirigente . ALGARVE INFORMATIVO #215


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MISERICร RDIA DE VILA DO BISPO FESTEJOU 65 ANOS DE VIDA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Misericรณrdia de Vila do Bispo

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Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo celebrou, no dia 28 de julho, 65 anos de existência com um programa festivo que teve início com a celebração da eucaristia presidida pelo Bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, na Igreja de Sagres. Seguiu-se a festa do aniversário no Pavilhão Multiusos de Sagres, com as atuações do Grupo Coral da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo e do grupo Brasa Doirada, diversas apresentações feitas pelos utentes da instituição, culminando com um arraial musical com Geninha. Na festa marcaram presença Adelino Soares e Rute Silva, respetivamente o Presidente e a Vice-Presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, os presidentes ALGARVE INFORMATIVO #215

das Juntas de Freguesia de Sagres, Luís Paixão, e de Budens, Fábio Mateus, a Diretora do Centro Distrital de Faro da Segurança Social, Margarida Flores, e o Presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, Jorge Botelho, entre outras individualidades. E foi perante uma plateia cheia de convidados e familiares dos utentes que o Provedor Armindo Vicente agradeceu e homenageou algumas pessoas, empresas e entidades que têm ajudado a instituição no seu dia-a-dia. Uma instituição fundada a 28 de julho de 1954 e cujo compromisso sempre foi e continua a ser servir a comunidade do concelho de Vila do Bispo, cumprindo as Obras de Misericórdia. Presentemente, são centenas as pessoas que beneficiam da ação da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo .

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IPDJ DO ALGARVE COMEMOROU DIA INTERNACIONAL DA JUVENTUDE Texto: Daniel Pina| Fotografia: Irina Kuptsova

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Direção Regional do Algarve do IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude preparou, em parceria com o movimento associativo juvenil, um programa de atividades para assinalar, a 12 de agosto, o Dia Internacional da Juventude, abrindo as suas portas em Faro e dando ênfase à ideia de que este é um espaço onde os jovens e as suas organizações podem desenvolver os seus projetos e iniciativas, promovendo a troca de ideias e experiências e contribuindo para uma sociedade mais ALGARVE INFORMATIVO #215

participativa, justa e solidária. O Dia Internacional da Juventude é comemorado, por resolução da Organização das Nações Unidas, desde 1999, e conta em particular com o IPDJ para o dinamizar institucionalmente em Portugal, sendo este ano o tema «Educação Transformadora». O dia 12 de agosto começou, logo pela manhã, com diversas oficinas e workshops, como «A Minha Rádio no Ar», Expressão Dramática, Oficina de Xadrez e Encontro de Criativos Juniores, numa estreita colaboração com a Rádio Universitária do Algarve, Pamela Bender, Academia de Xadrez do Algarve 132


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e Associação de Designers do Sul. As atividades no período da tarde incluíram o laboratório «70JA – Direitos da Juventude», dinamizado pela Associação Juvenil Sê Mais Sê Melhor, e a inauguração das exposições de fotografia «Um Olhar Sobre a Cidade», da Associação Designers do Sul, e «Festival T», da JuvAlbuhera – Associação Juvenil de Albufeira, animada por momentos de dança pela Urban Xpress. ALGARVE INFORMATIVO #215

Antecipando a inauguração da exposição «ACA 2.0» de Guilherme Gonçalves, Hélder de Sousa, Margarida Soares e Vilma Correia, houve oportunidade para ouvir Margarida Lucas, Charlie Trestini e Rita Ramos. A noite prosseguiu com muita música em concertos com os «Heavy Angles» e «Fuza Flowz». A encerrar a noite estiveram os «sons da juventude» com o DJ Danny . 134


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STARTUP PORTIMÃO CUMPRIU DOIS ANOS DE SUCESSO E FALOU DO FUTURO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Luís Matos Martins, CEO da Territórios Criativos

StartUp Portimão celebrou, no dia 12 de agosto, o seu segundo aniversário, reunindo empreendedores, parceiros e amigos para comemorar a data e fazer um balanço da atividade. Volvidos dois anos de ter aberto portas, tem 99 por cento de ocupação e conta com 19 projetos, 16 de incubação física e três de incubação virtual, em áreas como o desenvolvimento de aplicações, turismo, smart cities, marketing digital e alimentar, num total de 24 postos de trabalho. O diaa-dia da StartUp Portimão é marcado pela realização de atividades e workshops, nomeadamente na área do marketing digital, frameworks e outras áreas de interesse e apoio aos empreendedores, ALGARVE INFORMATIVO #215

para além da dinamização de bootcamps com vista à aceleração de projetos incubados e abertos também à comunidade. A StartUp Portimão é também ponto de encontro para as «Geek Sessions», um evento de networking dedicado à partilha de conhecimento e experiência da comunidade tecnológica do Algarve, bem como para as reuniões semanais do «FreeCodeCamp Portimão», onde qualquer interessado poderá aprender código de forma gratuita. A incubadora de negócios do Município de Portimão foi neste último ano certificada no âmbito do Startup Visa, um programa de acolhimento de empreendedores estrangeiros que pretendam desenvolver um projeto de empreendedorismo e/ou inovação em 144


António Cordeiro

Portugal, com vista à concessão de visto de residência ou autorização de residência para imigrantes. Integra igualmente a Rede Nacional de Incubadoras, acreditada pela StartUp Portugal, uma estratégia do Governo Português para o Empreendedorismo que visa dinamizar a capacidade empreendedora e fomentar as condições para a aceleração e o sucesso de novas empresas. O momento de convívio começou com a apresentação de «9 Formas de Empreender com Personalidade», de António Cordeiro e Luís Matos Martins, “um livro que nos convida a passear pelo nosso interior, para que compreendamos melhor o potencial empreendedor de cada um de nós”, indicou António Cordeiro. “O empreendedor é alguém inconformado com o mundo, alguém que 145

se foca nas soluções e não nos problemas. Há quem seja empreendedor por criar empresas, cooperativas ou associações, mas também existem os empreendedores institucionais, os que estão nas organizações, empresas, no poder local ou central, que têm essa forma informada de encarar o mundo. E esses têm mais dificuldades em atuar porque existem vários níveis hierárquicos e muita burocracia a afetar a tomada de decisão”, referiu Luís Matos Martins, da Territórios Criativos. A obra fala, então, das características e condicionantes do empreendedor, no contexto do eneagrama, uma figura geométrica de nove pontas, composta por um círculo, um triângulo e uma ALGARVE INFORMATIVO #215


hexade, que funciona como símbolo processual e que pode ser usado na compreensão e estudo de qualquer processo contínuo, uma vez que, pela sua lógica, o fim é sempre o início de um novo ciclo. E, de acordo com este eneagrama, existem nove traços de personalidade. “No tipo 1, a motivação profunda é ter a necessidade de ser perfeito e de aperfeiçoar os outros; no 2, é esforçar-se para conectar com as outras pessoas; no 3, é ter sucesso, performance, ser o primeiro; no 4, é ser único, diferente, original em relação aos outros; no 5, é obter todo o conhecimento, energia e tempo; no 6, tem a ver com antecipação, ser precavido; no 7 tem a ver com o ser feliz e divertir-se, afastar-se de uma certa dor mental e inconsciente que tem; ALGARVE INFORMATIVO #215

no 8 é ser forte, ter poder, impactar com a sua energia; no tipo 9 tem a ver com harmonia e paz. É claro que vamos mudando os nossos comportamentos durante a vida, mas há algo que está por trás desses comportamentos, as motivações, que são profundas, inconscientes, e é aí que está a chave para compreendermos qual é o nosso tipo de personalidade”, explicou António Cordeiro. “O que o eneagrama pretende é que tomemos consciência das nossas zonas de conforto para que mais facilmente possamos sair delas”, acrescentou o especialista. «9 Formas de Empreender com Personalidade» inclui alguns casos de 146


sucesso, mas também de insucesso, porque, segundo Luís Matos Martins, “continua a existir muita intolerância em relação ao fracasso”, embora isso faça parte do trajeto de qualquer empreendedor. “Nunca vamos acertar sempre, precisamos é ter capacidade, resiliência, para passar por cima dos fracassos”, complementou António Cordeiro. “E é importante ter cuidado com os mitos. Por exemplo, diz-se que o empreendedorismo é um traço hereditário, que um empreendedor não se faz, o que é falso. Do mesmo modo, diz-se que os empreendedores têm necessidade de protagonismo. Alguns têm, por causa dos seus traços de personalidade, outros, pelo contrário, têm alguma dificuldade em aceitar elogios”. No livro são realçados ainda os traços mais importantes de cada tipo de personalidade num contexto de empreendedorismo, casos da liderança, comunicação, tomada de decisão e trabalho em equipa; e falam-se das «asas», os tipos de personalidade que nos vão ajudar na nossa evolução, dos caminhos mais fáceis para o desenvolvimento pessoal. “Qualquer líder de uma organização quer ter empreendedores institucionais, pessoas que se foquem nas soluções, que construam projetos em conjunto, que arrisquem”, entende Luís 147

Matos Martins, enquanto António Cordeiro admite existirem tipos de personalidade menos propensos ao empreendedorismo. “O perfecionista e o precavido não gostam muito do empreendedorismo por causa do risco que lhe está associado. O perfecionista quer que esteja sempre tudo muito rigoroso e certinho, o que dificilmente acontece numa startup. Já o precavido, por natureza, receia a mudança”, sublinha o consultor e mind coaching.

MAIS ESPAÇO FÍSICO E MAIOR ENVOLVIMENTO COM PARCEIROS Após o lançamento do livro «9 Formas de Empreender com Personalidade», Luís Matos Martins fez um breve balanço do que têm sido estes dois anos da StartUp Portimão, um sonho da atual presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, que se tornou realidade por via de uma parceria com o Autódromo Internacional do Algarve e a Territórios Criativos. “Na altura criámos duas marcas – o Centro de Negócios de Portimão e a StartUp Portimão – a primeira para colocar empresas mais maduras, a segunda para projetos que estivessem a surgir. Como havia tanta carência de uma estrutura de apoio a empreendedores com estas características, é a StartUp Portimão que tem tido maior protagonismo nestes dois anos”, confirmou o CEO da Territórios Criativos. A incubadora virada para as smart cities assenta em quatro vetores ALGARVE INFORMATIVO #215


Paulo Pinheiro, CEO da Parkalgar, S.A.

definidos pela União Europeia – energia, mobilidade, turismo e governança – e possui 16 projetos com presença física no Autódromo Internacional de Portimão que representam 20 postos de trabalho. “Dinamizamos 106 iniciativas nestes dois anos, fomos visitados por 415 pessoas e demos 149 horas de formação formal. 50 por cento dos projetos dizem respeito a desenvolvimento e software, 38 por cento são de turismo, o marketing digital é responsável por 6 por cento, os mesmos 6 por cento que a área alimentar”, revelou Luís Matos Martins. Quanto ao futuro, está para breve o lançamento do Guia do Empreendedor e do Investidor de Portimão, será dada formação em empreendedorismo aos técnicos do Município de Portimão e pretende-se ir às escolas do concelho com ALGARVE INFORMATIVO #215

a metodologia StartIUPI. Outros anseios da StartUp Portimão passam pela sua consolidação e expansão física e pelo fortalecimento da relação com players, “não só para colocar os empreendedores a comunicar e a dialogar entre si, mas também para conceber projetos que possam dar mais visibilidade e que criem mais redes com a StartUp Portimão”. “Os três parceiros começaram há dois anos a criar aqui um epicentro de empreendedorismo, mas um concelho empreendedor não se afirma apenas com uma incubadora, precisa de ter várias valências. Os objetivos são ajudar as empresas a acelerar os seus negócios e as pessoas a projetarem o seu futuro”, manifestou Luís Matos Martins. 148


Dora Pereira, da Câmara Municipal de Portimão

Paulo Pinheiro, CEO da Parkalgar SA, não escondeu a satisfação com a dimensão e a dinâmica que a StartUp Portimão conheceu em tão curto espaço de tempo e destacou a diversidade de empresas que ali estão alojadas. “A economia algarvia está cada vez mais afunilada para o turismo, é o pai e a mãe, o avô e a avó de tudo o resto que fazemos na região. Aqui temos negócios e pessoas diferentes, novas e menos novas, com ideias mais ou menos maduras, mais ou menos preparadas para ir para o mercado. O sonho tornou-se em algo muito palpável e gostaríamos de contribuir mais para quem aqui está. Falem mais connosco, peçam-nos ajuda, porque, às vezes, estamos tão envolvidos com a gestão diária do Autódromo, que o resto nos passa um pouco ao lado”, confessou 149

Paulo Pinheiro. “Temos bastante experiência a lidar com empresas internacionais, com problemas muito grandes, e outros muito pequeninos. O importante é fazermos aquilo em que acreditamos, independentemente do que os outros dizem. Se batermos contra a parede, paciência, começamos de novo, porque toda a gente comete erros, ninguém é infalível e todos aprendemos uns com os outros”, garantiu. O terceiro vértice deste caso de sucesso é a Câmara Municipal de Portimão, representada por Dora Pereira, que agradeceu aos empreendedores “que resistem, persistem e insistem” e que dinamizam diversas atividades ao longo do ano nesta incubadora de negócios . ALGARVE INFORMATIVO #215


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Zona de (des)conforto Mirian Tavares (Professora) “Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada”. Clarice Lispector uando era pequena, meu tio deu-me um livrinho que guardo até hoje. Era uma compilação de frases da filosofia oriental. Nenhuma delas dizia o que temos de fazer, ou nos dava respostas prontas. No melhor estilo de Confúcio, as frases eram metáforas que só faziam sentido quando nos debruçávamos sobre elas com tempo. “Fui comprar pão e deram-me rosas vermelhas. Como estou feliz por ter ambos nas mãos”. O livrinho frequentou minha cabeceira muitos anos, ao lado de «Os Dragões não conhecem o paraíso», do Caio Fernando Abreu, todo riscado com marcadores coloridos - frases que me impressionaram, que faziam sentido para mim, naquela altura, naquela fase da minha vida. Voltei a reencontrar algumas daquelas frases quando entrei no mundo das redes sociais. Muitas delas fora de contexto, revestidas de um novo sentido que em nada devia ao primeiro – distorcidas, mal lidas ou treslidas. Depois começaram a aparecer outras frases, de efeito, com a assinatura do Caio Fernando Abreu, da Clarice Lispector, do Shakespeare e até do Einstein. Milhares de pessoas a reproduzirem, e consagrarem, engodos pseudoliterários que, aparentemente, servem para encorajar e/ou inspirar. Muitas destas frases dizem quase sempre ALGARVE INFORMATIVO #215

o mesmo, ainda que de maneira diversa: saia do seu lugar de conforto. Não sei de onde surgiu esta ideia, (provavelmente de um coach qualquer, ou das novas correntes da psicologia, apoiadas numa espécie de behaviorismo delirante) que todos temos de «sair do nosso lugar de conforto» se queremos ser ou fazer algo com a nossa vida. Queres ser criativo? Saia da sua zona de conforto! Queres ter uma vida mais interessante? Um emprego melhor? Uma nova relação? A resposta é sempre a mesma. E eu ponho-me a pensar nos anos que levei até encontrar esta tal zona. Alguns anos de terapia, e uma grande dose de amadurecimento depois, levaramme, finalmente, a encontrar aquilo a que posso chamar de zona de conforto: sintome bem comigo mesma, consigo lidar melhor com coisas que antes me apavoravam, aceito-me a mim, e aos outros, com defeitos e virtudes, não crio demasiada expectativa em relação às coisas e aprendi quais são os meus limites e a lidar com os mesmos. Claro que queremos sempre ser melhores, ninguém está completo ou inteiramente feliz. A vida põe-nos à prova a cada amanhecer. Mas nada disso me faz querer abrir mão da minha grande conquista - um lugar, metafórico e/ou real, onde me sinto confortável e de onde não me apetece sair. Não se chega a este lugar aos 20 anos. Mas estamos, com frases feitas, repetidas 152


ao infinito, a empurrar os nossos jovens, frequentemente, para uma zona de desconforto, acreditando que serão todos fortes e sábios o suficiente para lidar com os desequilíbrios e a experiência constante de olhar para o abismo. Não defendo a criação de jovens acomodados, incapazes de sair em busca dos seus sonhos. Mas há que tentar encontrar uma solução de compromisso. Pois se eles estão a entrar e a sair, continuamente, da sua zona de conforto, não terão tempo para refletir 153

sobre o que querem verdadeiramente ou para onde querem ir. Precisamos dar-lhes mais incentivos e exemplos que frases de autoajuda. Antes de sair da zona de conforto, é preciso entrar nela, sentirmo-nos confortáveis nas nossas peles, pois só assim percebemos a dádiva que é a vida. E talvez possamos dizer, como Confúcio - fui comprar pão e deram-me rosas vermelhas. Como estou feliz por ter ambos nas mãos . ALGARVE INFORMATIVO #215


OPINIÃO

Do Reboliço #51 Ana Isabel Soares (Professora) uando, há mais de uma década, houve grandes obras no Moinho Grande, foram dois meses completos de muita mexida, vindas e idas, pores e tirares, muito desmontar. O Reboliço, é a natureza dele, tentava equilibrar-se entre a curiosidade que o consumia, de saber o que era que se fazia lá dentro, como ficava o moinho sem as peças que via saírem de lá e com as que via lá levarem, e a vontade de que regressassem a paz e a quietude ao quieto monte dele. Chegavam quase todos os dias quatro homens, vindos de uma terra perto do mar: dois moleiros (um pai, já entradote, e um filho), um carpinteiro e um ajudante que, uns dias por outros, ficava lá pela costa. Era cedo quando apareciam, apesar de já manhã aberta – era o mês de agosto. Instalavam uma mesa de campismo, pratos sobre ela com pão e presunto, um barrilzinho caixotim de onde tiravam vinho por uma torneira engraçada, e as navalhinhas petisqueiras que lhes saíam dos bolsos para cortar desiguais fatias de pão. Feito o dejejum, metiam-se ao trabalho e era até desamparar a natureza – paravam à hora de almoçarem, e isto porque os chamavam para o comer, de outra forma era pegado. Um entusiasmo. Os dois moleiros, que tinham cada qual o seu moinho lá na terra litoral, experientes em moendas e em restaurálas, não havia ocasião de conversa em que não dissessem, esfregando a cabeça que descansava do suor dos bonés, que nunca antes haviam visto moinho daquelas dimensões. Cá de fora, olhar para cima, era um espanto o que os homens viam. O ALGARVE INFORMATIVO #215

carpinteiro, homem pequenino com que o Reboliço simpatizou, sabe-se lá se pela familiaridade da estatura, pouco dizia: vermelhusco, era comer pouco, beber um bocadinho mais, e trabalhar tudo quanto era de madeira, e se havia naquele moinho madeira para trabalhar. Entre as peças de madeira que foram substituídas havia duas vigas gigantescas; suportavam o sobrado do piso intermédio (também todo renovado), sobre ele os dois casais de mós e mais o vaivém que fosse carregar os grãos e retirar para baixo sacas de farinha, homens do moinho e freguesia, as balanças decimais e ainda a escada de madeira que levava ao piso do topo. Vieram de Monchique as peças novas, de pinhais árvores crescidas, feitas para serem suporte como agora são. Cada uma destas jeitosas vigas novas media mais de cinco metros, pesava para cima de uma tonelada: teve de vir um transporte especial, atrelado comprido, mais uma grua que as levantou e fez entrar no moinho por uma das janelas do piso do meio. Uma excitação, um desassossego, de gente a dar instruções de movimento e posicionamento, e o Reboliço imaginando, pelo meio do bulício, que estava no meio da mata de Monchique a correr atrás de algum coelho, entre os fetos e os castanheiros. Outras peças que tiveram de ser novas foram as varas – as peças onde se agarram as velas de cotão que acolhem o vento e fazem passar dele a energia para a maquinaria do gigante. As velhas, é natural, foram todas retiradas (uma delas 154


Foto: Vasco Célio

estava quebrada havia anos, era o que mais entristecia moinho, moleiro, a paisagem). Perguntou-se algumas vezes o Reboliço onde as teriam metido, que deixou de as ver – queimadas não teriam sido, que era o fogo coisa proibida pelo calor dos meses. Esqueciam-no e lembravam-no, as varas velhas. No último dia de trabalho, o sorridente carpinteiro entrou na casa, chamou o dono do Moinho Grande, “Senhor Soares, onde é que quer estas 155

mesas?”. O homem saiu da cozinha, o ar atarantado no olhar, que não sabia de mesas nenhumas, passou para a rua da casa e deixou que lhe corressem as lágrimas quando viu duas, duas mesas novazinhas, feitas com os paus das varas reformadas . *Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #215


OPINIÃO

Desagosto Adília César (Poeta) Num mundo realmente às avessas, o verdadeiro é um momento do falso. (Guy Debord, in «A Sociedade do Espectáculo», 1967) gosto é o mês menos importante das nossas vidas, nele perdemos o ensimesmamento rotineiro, a circunstância confortável de outros meses de calendário. O sol arde no fogo, nos olhos, nas serras, nas cidades. Apesar das paredes altas que seguram o mundo, os pés arrastam a gravidade emocional da expectativa de descanso forçado. Tantos modos de acontecer, tanto ruído, tanta febre, tantas celebridades, tantas feiras e festivais, tanta gente concentrada no mesmo desejo de felicidade efémera: a antevisão dos eventos, as pequenas tragédias que se transformam num ápice em grandes desastres. Agosto é o espaço emocional de desconforto, é um tempo para sobreviver e depois esquecer. Estamos todos juntos, estamos todos de costas voltadas para não nos vermos, mas envergamos, gulosos, as máscaras de quem queríamos ser. Agosto congestiona as estradas, as esplanadas, as expectativas, a filosofia do quotidiano; contudo, se todos os desejos são precários, não é menos verdadeira a certeza de que as férias chegarão rapidamente ao seu fim. Existe uma circularidade nos elementos que compõem os nossos dias e noites, as horas reconduzidas ao seu lado excessivo e… inútil. Olhamos em volta e percebe-se ALGARVE INFORMATIVO #215

que os sentidos lato e específico da produção de bens e serviços (não só em agosto, mas durante todo o ano), é a procura obrigatória de horizontes substituíveis. E nós obedecemos. A substância das relações sociais que ligam as pessoas umas às outras modificou-se, passando a ser menos autêntica, especulativa e ficcional: simulada. Temos prova desta premissa na encenação do teatro da vida – a irrealidade virtual – como uma representação dessa mesma vida da qual fomos expropriados na omnipresença da cultura do estrelato, onde as celebridades se pavoneiam perante os nossos olhares de cobiça. E nós, os pobres espectadores, somos meros figurantes nos cenários de agosto e vivemos as nossas vidas em segunda mão. A cultura do excesso, do espectáculo, conduz a um grande vazio na ruptura com a nossa essência humana: a emoção, o pensamento e a acção enfiados no buraco sem fim da lógica do consumo, a disciplina do parecer a qualquer preço. O «ser pessoa» é agora o processo quantificador na busca da uma miragem, o «parecer ser outra pessoa» que acumula. O «ser» é «ter»: mais coisas, mais experiências, a um ritmo avassalador e à imagem de um deus qualquer com os pés enfiados nuns chinelos.

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As personagens construídas com vista ao engodo global e com as quais somos levados a identificar-nos, não são, elas próprias, um fragmento dessa enorme miragem que é a escalada social da vida moderna? Até as nossas crianças sonham com a fama, identificam-se diariamente com as personagens célebres das séries que visualizam nos écrans. Exigem ser como elas, querem possuir os adereços que compõem a personagem que admiram. Imitam, apropriam-se, iludem-se. E depois substituem por outra qualquer, mais apelativa ou mais presente, por via do espectáculo que lhes é oferecido através da publicidade, da nova série produzida precisamente para esse efeito: assim se educa para a omnipresença de um novo mundo virtual e infinitamente descartável, para sermos dependentes de uma imagem criada não à nossa própria imagem, mas de acordo com a lógica da disciplina económica e a-politizada, tão perigosa porque não a compreendemos. Agosto até pode ser um mês de calendário como outro qualquer, mas também é o «desagosto» da vida, o tempo dito livre que acaba por não nos dar nenhuma liberdade de pensamentoacção, pois andamos distraídos, queremos andar entretidos. Pelo contrário, é um 157

sujeito colaborador e pactuante no enorme cinismo da manipulação colectiva num mundo saturado de imagens: “Tudo o que aparece é bom e tudo o que é bom aparece”, disse Guy Debord, preconizando que nós, os espectadores, ao não encontrarmos o que desejamos, desejamos o que encontramos. Cuidado, muito cuidado, o perigo apenas espreitava, mas agora vive entre nós, é o elo servil e invisível que nos liga e aprisiona . ALGARVE INFORMATIVO #215


OPINIÃO - Tudo em Particular e Nada em Geral

O Sexo e a Vila Carla Serol (Uma Loira Qualquer) m encontro de amigas, ainda que anual, daquelas que não te lembras sequer do dia, nem onde as conheceste, e que receias que chegue o momento em que a tua cabecinha te troque as voltas e as faça esquecer por completo, que esperemos só chegar lá para os cento e vinte e cinco anos de idade, é bem capaz de ser mais rejuvenescedor, inspirador, motivador ou portador da mais variada informação e sapiência, do que qualquer revista, programa ou série especialista em tudo o que envolva o universo feminino, que como devem calcular é imensamente restrito. Qual Vogue, Máxima, Women’s Wealth, TvGuia ou a intemporal Maria! O Sexo e a Vila ultrapassa todas elas, em riqueza temática, em rigor científico, e na capacidade de reposição dos níveis de dopamina então, não há igual! O Sexo e a Vila reúne anualmente sete amigas, entre elas Loira Qualquer, todas diferentes entre si, mas todas igualmente doutoradas nas mais variadas especialidades que envolvem tão simples campo que é o da vivência feminina. Nestes encontros, os temas variam desde a desgraçada que ousou faltar ao encontro, sendo esta o tema de conversa introdutória do mesmo. Mas como nenhuma quer correr o risco de deter tão pesado papel, quase nunca existem baixas, e as sete lá estão à hora marcada, salvo algumas exceções, que ao chegarem atrasadas tornar-se-ão então nesse alvo tão apetecível até à sua demorada chegada! Não chegar atrasada é, portanto, fundamental. ALGARVE INFORMATIVO #215

Como o nome indica, as temáticas vão desde os prazeres da carne, sim, as mulheres também falam de sexo… e muito, mas sempre tudo cheio de requinte, até aos acontecimentos mais significativos decorridos na vila de onde todas somos orgulhosamente naturais. Sim vila, à data de tão grandes e marcantes acontecimentos, Lagoa era uma vila! Dado que uma delas, por causa do amor, preteriu a sua santa terrinha, por uma cidade no centro do país, sem mar, pronto, mas com rio (as asneiras que uma pessoa faz quando está apaixonada), há que pô-la ao corrente de todas as novidades. Quem morreu, quem está a morrer, quem gostaríamos que morresse, quem jamais queríamos que tivesse morrido, quem casou, quem vai casar, quem descasou, quem anda a descasar, quem está descasado mas não sabe, que vai descasar, quem anda a descasar quem, quem descasou quem, quem pariu, quem vai parir, quem está a pensar parir, quem ainda não esqueceu que pariu e continua como se estivesse para parir, quem está gorda, quem acha que está gorda mas não está, quem está gorda e não sabe que está, quem está gorda e gosta de estar, quem está magra (maldita seja), quem pensa que está magra mas não cabe no sofá, quem pulou em cima de quem, quem queria pular em cima de outrem, quem acha que anda a pular mas não tem pernas para isso… enfim, o diário da revista Maria ao pé disto, é um conto infantil! Isto tudo por entre muitas gargalhadas, muitos parêntesis para falar, muito dedo no 158


ar para o puder fazer, muita sangria, muitas histórias por acabar, porque por entre estas há outras que surgem e irrompem pela mesa adentro, parecendo cerejas, umas atrás das outras! E nunca, mas nunca, passamos despercebidas, pois somos bastante discretas no meio de tudo isto! Mas o mais importante de tudo, e agora lá vou ser lamechas porque uma Loira insensível não tem piada nenhuma, são os laços que se apertam, aqueles que, dada a 159

vida de cada uma, parecem por vezes afrouxar, mas depois de mais uma edição do Sexo e a Vila, sentimos que esse laço jamais se afrouxará, que a distância ou o tempo que dedicamos umas às outras não abala em nada todo este sentimento que nos move, que é a amizade verdadeira… e os temas, e mais temas que temos sempre para debater. O Sexo e a Vila continuará, estou convicta, nas salas de um lar perto de si! . ALGARVE INFORMATIVO #215


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O futuro é elétrico, renovável e inovador Fábio Jesuíno (Empresário) azer futurologia é sempre uma tarefa muito complexa e desafiante, principalmente numa sociedade em plena e rápida transformação tecnológica. Em Portugal vive-se uma crise energética devido à greve dos motoristas de matérias perigosas e de mercadorias que está a paralisar o país e a ter consequências graves para a nossa economia e a gerar um alarmismo crescente, muito por causa da dependência atual da nossa sociedade por combustíveis fósseis. Dessa forma, é o momento ideal para falar sobre energias inovadoras renováveis elétricas, uma temática cada vez mais abordada que faz parte da nossa evolução tecnológica. Atualmente, a nossa dependência por combustíveis fósseis é muito elevada, sinal disso são as consequências geradas por greves deste tipo de profissionais em toda a economia, principalmente na mobilidade das pessoas e bens. No futuro, este panorama vai mudar devido às soluções elétricas que estão a ganhar notoriedade no mercado e a serem competitivas. A mobilidade das pessoas e bens está perante uma mudança de paradigma, desde a eletrificação à partilha de veículos, automação e coletividade. Faz parte da evolução da sociedade e é ALGARVE INFORMATIVO #215

resultado daquilo que a atual tecnologia permite. Exemplos desta transformação são as trotinetes elétricas partilhadas, que são uma realidade em várias cidades por todo o mundo, e os automóveis autónomos que são usados em diversas cidades como meio de transporte coletivo. O futuro passa por a eletrificação dos vários meios de mobilidade atuais, para além dos automóveis e motas, o transporte coletivo vai talvez ser o mais destacado devido à crescente tendência de partilha existente da sociedade, onde, em vez de se possuir um veículo, escolhese partilhar, de forma a vivenciar várias experiências. A eletrificação da mobilidade será parte fundamental na diminuição das emissões do parque automóvel atual. A par da eletrificação, tudo o que sejam alternativas aos combustíveis fósseis, deverá merecer grande destaque no futuro. Até 2030, as emissões de CO2 dos automóveis ligeiros de passageiros terão que ser reduzidas em 37,5 por cento a partir das metas impostas para 2021 (95 g/km). Um forte motivo para que a indústria se adapte às soluções elétricas. O futuro é elétrico e cada vez mais sustentável e com soluções inovadoras de mobilidade e partilha, onde se vai dar mais importância à experiência do que à propriedade .

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Geração Eu, fora da «bolha» Alexandra Rodrigues Gonçalves (Professora e Investigadora) ivemos dentro de uma «bolha», a «bolha» dos novos media sociais. Queremos o reconhecimento instantâneo (não me refiro só às instagram stories, e ao número de «gostos» do facebook, mas a tudo o que nos carateriza na geração Y ou millenials1) somos usados como palco para o instante e facilmente descartados, somos a «Geração Eu»2. O mundo virtual e algorítmico que nos lidera, manipula e condiciona todo o nosso pensamento e comportamento, com o nosso consentimento. Activistas q.b., baixa participação política, narcisistas, materialistas, obcecados pela fama e viciados nas tecnologias é o retrato comprovado por Joel Stein em 2013, num artigo da revista Times3, onde traça um retrato poderoso desta geração, que soma 95 milhões de pessoas e é excelente a conseguir prémios e distinções, mas má nos valores de Humanidade e de Solidariedade, e sobretudo muito preocupante pelo excesso de auto-estima e confiança, e pela falta de capacidade para lidar com a frustração das expectativas. São dados de uma realidade que não queremos. O sucesso é avaliado também o do momento, o da conquista do 1.º emprego, do 1.º carro, da 1.ª habitação, do 1.º aumento, da classificação no ranking da avaliação…O insucesso resulta na dificuldade de manter relações de estabilidade profissionais, pessoais…

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Há diferenças entre países que resultam fundamentalmente das diferenças culturais, mas, mesmo nesta questão, os estudos revelam que há mais semelhanças nesta descrição do que em qualquer outra categorização geracional efetuada. A socióloga americana Kathleen Shaputis faz uma proposta diferente de designação e introduz a geração Boomerang ou Peter Pan, pelo retardamento de saída de casa e pelo prolongamento dos ciclos de estudos, resultados das mudanças económicas do mercado mundial em que vivemos, das crises do sistema financeiro, das alterações do sistema educativo e das mudanças de práticas e valores que daí resultaram, no seio da nossa sociedade global. Nada acontece por acaso, ainda que a análise e a explicação pós facto sejam sempre mais fáceis. As generalizações são sempre questionáveis, mas as gerações são de facto marcadas por momentos históricos, por catástrofes, por lideranças, por experiências culturais. É importante continuar a aprender e a acreditar no esforço individual e na capacidade de trabalho, e também não podemos esperar que tudo nos seja proporcionado por direito e dever de alguém, ou de alguma instituição. Temos a nossa legislação e a salvaguarda dos direitos e deveres fundamentais, mas também temos as instituições públicas e privadas que devem assumir as suas obrigações para com os seus colaboradores e funcionários. Cada um de nós tem 162


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também deveres, espaço e voz nestes lugares. Somos constantemente colocados em confronto na sociedade atual, mas isso não quer dizer que tenhamos de fazê-lo de forma conflituosa ou beligerante. Pensemos mais na geração seguinte, esquecendo a efemeridade e o protagonismo do momento. Utilizar perfis falsos na «bolha dos media sociais» para criar notícias e influenciar opiniões, fazer comentários despropositados no facebook e no twitter só porque sim, seguir youtubbers porque têm milhões de seguidores, colocar fotografias pouco adequadas no Instagram à espera do encontro imediato para satisfação pessoal, não são de todo o meio para o fim desejado. As perceções e interpretações que nos são proporcionadas, nem sempre correspondem à realidade, são construções. Os nossos comportamentos estão estudados e são hoje traduzidos em algoritmos que introduzidos em softwares resultam em hipóteses de resposta individualizadas quase fechadas. A geração Y tem um papel fundamental dentro e fora desta bolha, pois histórias, textos, filmes, narrativas, podem dar corpo a «novas viagens imaginárias» como elementos principais e potenciadores de novas foras de estar e de ser. Este artigo é um exercício de auto reflexão sobre o nosso papel na sociedade, na nossa comunidade, na instituição onde nos encontramos e na família a que pertencemos. Podemos querer ver ou não. Estas são as ténues fronteiras entre o «eu», o «nós» e os «outros».

vivemos neste Verão «quente» de maus eventos. O Algarve é uma área geográfica do nosso país em que o lazer é a sua grande vantagem competitiva e que muito contribui para o equilíbrio da balança de pagamentos nacional. Mas mais do que isso envolve muitas famílias, muitos postos de trabalho e interfere diretamente com a qualidade de vida regional e nacional. As quebras de resposta e de confiança nos serviços públicos na saúde, os problemas de circulação e segurança rodoviária, o sub abastecimento de combustíveis nos postos da região, os tumultos laborais no turismo e na hotelaria em curso, e anunciados, necessitam de coordenação e liderança regional que não estão a acontecer. Temos todos responsabilidades de cidadania nesta matéria, não fiquemos na «bolha» dos media sociais. Todos somos Algarve . 1Estas

classificações demográficas geracionais não são unânimes e baseiam-se muito na análise da realidade americana, mas podemos dizer que correspondem aos nascidos entre 1978 e 2000 que se caracterizam como indivíduos criativos, empreendedores, orientados para objetivos, tecnológicos, flexíveis. A anterior geração ficou conhecida pelos «Baby Boomers» e é muito associada às lutas em torno do sexo, das drogas e do rock & roll. A geração Z que é a seguinte diferencia-se pela procura de segurança e estabilidade, pelos empregos em part-time e multifacetados, e por serem «technoholics», com preocupações ecológicas fortes associadas aos processos de globalização. 2«Generation

Me» é uma descrição da psicóloga Jean Twenge que em 2006 identificava os jovens americanos como mais confiantes, assertivos, mas mais miseráveis do que nunca. 3

P.S. Uma breve nota pós escrita sobre a região e os momentos atribulados que ALGARVE INFORMATIVO #215

Stein, Joel (2013) «Millenials: The Me Me Me Generation». Time, 20 de maio de 2013, consultado em 15 de agosto de 2019. 164


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Observação do pensamento Fernando Esteves Pinto (Escritor) O pensamento puro deve começar por uma recusa da vida. O primeiro pensamento claro, é o pensamento do nada. Gaston Bachelard ivo os meus dias e nem sequer faço uma leitura do que está a ser escrito. A capacidade de escrever surge da intuição que me conduz a essa matéria que é o escrito. Se não percebo isso, se a escrita se perder naquilo que penso, a minha vida armazena-se na interioridade como se fosse uma estrutura mal construída. É um perigo não saber o que fazer com as palavras. Sei que as palavras existem em tudo o que sou, mas ignoro o que as palavras destroem no espaço vazio que represento. Uma ruína de palavras, isto a que chamamos escrita. E depois temos o pensamento – essa espécie de tempo. É uma condição para quem escreve: sentir que o tempo é o pensamento da escrita. Não é nada agradável sentir que existe um tempo imóvel sobre aquele que escreve. É como se a escrita nos obrigasse a pensar sobre a destruição do que está a ser construído. Por vezes sinto-me afastado da escrita. Ou a escrita afastou-se de mim? A verdade é que interiorizo tanto o que pretendo escrever, que a escrita não tem acontecido. Talvez seja uma viragem. É

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seguramente uma viragem na minha forma de escrever. Dá a ideia que a vida se esgotou, e no entanto ela continua. É uma paragem, só isso. Não posso ficar perturbado. Mas se ficar perturbado, a perturbação também se escreve. Talvez este vazio se deva à minha imobilidade do momento que atravesso. Algo se está a construir à margem da minha própria vontade. Alguma coisa se escreve por dentro do que vivo. Não é ainda escrita do que possa escrever. O pior é não compreender a construção da obra que se ergue dentro de mim. Volto sempre a esta ideia: escreve-se como forma de abandonarmos o nosso próprio tempo. Se o tempo é em ti uma consciência incómoda, se sentires no tempo as manobras indecisas da tua memória, então tudo o que escreves é ainda um esboço do que desejas realmente escrever. Tens o pensamento como um filtro pouco exigente. Também podes pensar que o pensamento anda à volta do tempo, como a terra à volta do sol. A escrita é a observação do teu pensamento . Texto escrito em 1986.

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Um país de Pardais Paulo Bernardo (Empresário) uando António Costa formou governo, sempre defendi a dita geringonça, pois a democracia não pode ser aquilo que nós queremos, mas sim aquilo que a maioria dos votos diz. Nessa altura começou aquela questão da minha democracia ser melhor que a tua, quando os meus ganham, é valida, quando não ganham, é porque foi manipulada. Podemos criticar Costa, como criticar Trump, Bolsonaro ou Macron, mas todos eles ganharam usando as regras da democracia. Vamos falar do tema do dia, a greve de quem nos leva o combustível para as bombas. Óbvio que é uma greve chata, feita numa má altura, que incomoda, que chatice poder fazer-se greve, era tão bom quando isso não era possível. Contudo, a chata da Constituição da República Portuguesa diz que a greve é um direito de todos os trabalhadores, independentemente da natureza do vínculo laboral que detenham, do sector de atividade a que pertençam e do facto de serem ou não sindicalizados. Diz também que é absolutamente proibido coagir, prejudicar e discriminar o trabalhador que tenha aderido a uma greve. Os atos do empregador que impliquem coação do trabalhador no sentido de não aderir a uma greve e/ou prejuízo ou discriminação pelo facto de a ela ter ALGARVE INFORMATIVO #215

aderido, constituem contraordenação muito grave e são ainda punidos com pena de multa até 120 dias (art.ºs 540.º e 543.º do CT, respetivamente). Ou seja, a greve dos camionistas de matérias perigosas é legítima e não temos nada que contestar. É chata, pois, é esse o efeito da greve, como é chato quando os médicos fazem greve, os auxiliares das escolas, os professores, os enfermeiros, os padeiros, etc. A greve é um incómodo, sim, mas é um direito. O governo, com a requisição civil, fez também o que lhe competia, para garantir o acesso a um bem de primeira necessidade para a economia e que eu me aperceba ainda ninguém deixou de fazer algo importante por falta de combustível. Agora, vamos lá pensar um pouco. Os motoristas têm que fazer um curso devido às especificidades de transportar matérias perigosas, contudo, são os mesmos motoristas a quem se «pede» que trabalhem 60 horas por semana. Para mim é um conta-censo, ter concentração com 60 horas de trabalho. Não esquecer que hoje a função pública trabalha 35 horas semana. Outro tema que esta greve trouxe e bem foi o trabalho dos nossos militares, no apoio a toda a logística de transporte. Bem-haja, gente válida e preparada, contudo, levanta-me uma dúvida. São estes os mesmo militares que não podem tomar um papel também relevante no

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combate aos incêndios, com a formação que a força aérea tem. Hoje em política tudo o que não seja a favor de quem manda tem sempre uma teoria da conspiração por trás, seja em Portugal ou na China. Deixem-se menos de se guiar pelos ruídos e falem com quem está no terreno, pois tudo o mais é ruido. São estes 169

pequenos jogos de Pardais que levam as pessoas a não votar, são estes jogos de Pardais que fazem que os fundamentalismos cresçam, são estes jogos de Pardais que fazem com que as empresas desacreditem. Sentimos que o objetivo não é melhorar as condições dos portugueses, mas sim preservar os benefícios Salazarentos que se perpetuaram muito para além do 25 de Abril . ALGARVE INFORMATIVO #215


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #215

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