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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 28 de setembro, 2019

PEDRO INOCÊNCIO TEM NOVO LIVRO| VIAGEM AO PASSADO NA BOCA DO RIO | TIM BERNARDES 1 ALGARVE INFORMATIVO #220 FESTIVAL DE GUITARRA E MICKAEL CARREIRA ANIMARAM LAGOA |«CANÇÕES DE RODA» | FOME


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76 - Festival de Flamenco de Lagos 100 - Tim Bernardes em Loulé

14 - Viagem ao passado na Boca do Rio

50 - Pedro Inocêncio tem novo livro ALGARVE INFORMATIVO #220

90 - Orquestra Clássica do Sul desvenda programação 6


26 - FOMe em Albufeira e Faro

110 - Mickael Carreira em Lagoa 40 - Semana da Juventude de Tavira

62 - Canções de Roda, Lenga Lengas e Outras que Tais em Loulé

146 - Algarve Nature Fest em Olhão 7

122 - Festival Internacional de Guitarra de Lagoa OPINIÃO 130 - Paulo Cunha 132 - Mirian Tavares 134 - Ana Isabel Soares 136 - Fábio Jesuíno 138 - Alexandra Rodrigues Gonçalves 140 - Vera Casaca 142- Fernando Esteves Pinto ALGARVE INFORMATIVO #220


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PASSEIO DEU A CONHECER DOIS MIL ANOS DE HISTÓRIA DA BOCA DO RIO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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iniciativa «Passeio 2 mil anos a 2 km hora – Natureza e Arqueologia da Boca do Rio» levou algumas dezenas de entusiastas, na manhã do dia 14 de setembro, ao complexo paisagístico da Boca do Rio, na freguesia de Budens, para um percurso pedestre interpretativo desenvolvido em duas horas e ao longo de quatro quilómetros que recuperaram dois milénios de presença humana neste local. A ação foi promovida pelo Município de Vila do Bispo, em colaboração com a Universidade do Algarve e a universidade alemã de Marburg, e integrou o programa «Ciência Viva no Verão 2019». Ao longo do roteiro interpretativo foi dada particular atenção ao próprio ALGARVE INFORMATIVO #220

contexto natural, à sua geologia, biodiversidade e respetivos habitats. “Em termos culturais, abordaram-se realidades arqueológicas, históricas e etnográficas que bem ilustram a evolutiva sequência de presença humana de gentes que forjaram o território com uma combinação de recursos da terra e do mar”, descreveu Ricardo Soares, arqueólogo da autarquia vila-bispense, num passeio que incluiu a visita aos trabalhos arqueológicos em curso na villa lusitanoromana da Boca do Rio, no âmbito da 6.ª Campanha Arqueológica LusoAlemã, projeto de investigação encetado em março de 2017, sob direção científica de João Pedro Bernardes, professor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, em colaboração com a equipa da academia 16


alemã de Marburg, coordenada pelo professor Felix Teichner, e com o apoio do Município de Vila do Bispo.

João Pedro Bernardes

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O percurso foi então guiado por Ricardo Soares e João Pedro Bernardes, mas contou igualmente com o precioso contributo, de forma informal e inesperada, de vários habitantes de Budens, que enriqueceram a narrativa com histórias da sua vivência naquelas paisagens. Realce também para a participação e contributo de Margarida Cristo, professora da Universidade do Algarve, que na qualidade de Bióloga partilhou informações relativas à biodiversidade e habitats disponíveis na área da Boca do Rio. “Na época romana existia aqui

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Ricardo Soares

uma grande lagoa. O mar entrava por aqui adentro, temos que imaginar este vale todo cheio de água, o que atraia as populações para este local de abundantes recursos. Os romanos implantaram-se nas margens desta lagoa a partir de meados do Século I, no Século V desapareceram, e as populações como que recuaram. Finalmente, nos séculos XVI e XVII, cria-se aqui uma grande armação de atum e, como a zona estava constantemente a ser fustigada pela pirataria, construiu-se o Forte de São Luís de Almádena”, relatou João Pedro Bernardes. O tsunami de 1755 arrasa, entretanto, toda a área da Boca do Rio, nascendo, em 1773, a Companhia Geral das Reais Pescarias do Reino do Algarve, que aproveita as ruínas romanas colocadas à 19

vista para criar armazéns de apoio à atividade piscatória. “Este vale já foi bastante esburacado por geólogos de todo o mundo, porque aqui encontrase o melhor testemunho de um tsunami histórico, o de 1755, a certa de 1,20m de profundidade. Na época romana, o nível do terreno seria sensivelmente três metros inferior ao atual”, indicou o docente da Universidade do Algarve, logo no início da caminhada. “Os barcos entravam e acostavam num porto, com um cais de 40 metros, que foi identificado em 2018. Esta equipa luso-alemã já realiza escavações neste local há vários anos, nós mais dedicados à parte residencial e das termas, e eles à vertente industrial e artesanal. Detetamos ali um forno do século I/II, tombado, em virtude de um evento marinho de alta ALGARVE INFORMATIVO #220


energia em que o mar entrou por aqui adentro, como se constata nos sedimentos marinhos encontrados. Depois desse evento foi construído um forno um pouco mais acima, e que também foi descoberto na campanha de 2018”, acrescenta João Pedro Bernardes. “Este forno é muito semelhante a alguns fornos de ânforas da Andaluzia Romana, que se chamava Bética. Os fornos da Lusitânia são diferentes, têm um pilar central de onde saem arcos que vão até à extremidade. Só que, normalmente, encontram-se sempre entulheiras, restos de produção, em redor dos fornos, e aqui não encontramos nada”. Uns metros mais acima, com uma vista soberba para o mar e o Cabo de São Vicente lá ao longe, Ricardo Soares explicou que a Boca do Rio é a convergência de três linhas de águas, as ribeiras de Almádena, Nave Barão e ALGARVE INFORMATIVO #220

Budens, assim se formando o paul da Boca do Rio. “A geografia e geologia deste território foram determinante para todos os fenómenos naturais e culturais que se foram desenvolvendo ao longo dos séculos, com questões únicas, sem paralelo, que se refletem, inclusive, no modo de vida das populações locais. Pesca-se de forma diferente, o «ir à maré» faz parte do quotidiano”, exemplifica o arqueólogo do Município de Vila do Bispo. “Neste território foram também erguidos, possivelmente, os mais antigos menires megalíticos da Península Ibérica, de onde este fenómeno se expandiu depois pelo resto da Europa. Sabemos que, há 34 mil anos, existiam pessoas em Vale de Boi”, sublinha Ricardo Soares. “O nomadismo aqui era relativo, tinham acampamentos dispersos junto dos recursos, mas todos muito próximos uns dos outros. 20


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Eram grupos pequenos que se dedicavam sobretudo à caça, recoleção, pesca e marisqueiro e nota-se uma identidade bastante própria nas inscrições dos menires desta região, uma gramática decorativa simbólica diferente de outros contextos. Acredito que foram cozidos por pessoas daqui, eventualmente em reação a qualquer coisa que veio de fora ou a um hedonismo cultural aqui do Algarve”. Sagres, a Finisterra, onde a terra civilizada acabava e o mar começava, sempre foi um local mítico, referiu, entretanto, João Pedro Bernardes, de olhos postos nas enseadas de onde partiram os Descobrimentos Portugueses. “Confluíam aqui tradições marítimas e culturais de navegadores que vinham do Atlântico e do Mediterrânico, e que, por vezes, eram forçados a estar aqui algum tempo antes de atravessar aquele ALGARVE INFORMATIVO #220

promontório sagrado que, ainda hoje, é uma carga de trabalhos para dominar. É desse encontro de povos e culturas, desse mesclar de tradições de navegações, que nasce a «Escola de Sagres», embora a sua sede fosse em Lagos”, conta o docente e investigador, antes de se avançar para o forno que está a ser escavado pela equipa da Universidade de Marburg. E dali regressou-se ao ponto de partida, junto aos antigos armazéns da Companhia Geral das Reais Pescarias do Reino do Algarve. “Antes de se cavar foi efetuada uma prospeção geofísica com um magnetómetro, que mede o magnetismo dos solos em busca de anomalias, e um resistivímetro, que mede a resistência dos solos à passagem de uma corrente elétrica. Isto é areia, portanto, se houver um muro enterrado, a resistência é diferente”, esclarece. 22


Essas anomalias são registadas em números e posteriormente convertidas em imagens por via de programas informáticos, e assim se descobriu uma linha com cerca de 40 metros de comprimento. “Abrimos uma sondagem com 10 metros de comprido e lá estava um porto romano, um grande cais com uma rampa que descia até à água. Este porto, a certa altura, deixou de funcionar, porque o cais foi entulhado, provavelmente porque a água deixou de chegar aqui e os barcos ficavam mais afastados”, desvendou João Pedro Bernardes, acrescentando que foi igualmente encontrada uma fábrica com os maiores tanques de peixe – salgas – que existem em Portugal. “Um tinha capacidade para 27 mil litros. Noutro, no fundo, como ainda lá se encontrava água das chuvas, o teto de madeira estava preservado. Por baixo dessas madeiras estava uma camada de restos de 23

preparados de peixe”, declarou o investigador, para surpresa dos participantes na caminhada. “Imaginem o porto aqui, as salgas por trás, os fornos estavam no limite, afastados das casas. Lá em cima ficava a necrópole, o cemitério, e a parte residencial do proprietário estava voltada ao mar, com uma longa varanda virada para o mar para observar os barcos a pescar. Dessa varanda imaginamos que saia um corredor revestido a mosaicos – um dos quais foi encontrado há uns anos – até à zona dos barracões onde estavam situadas as termas, umas de águas frias, outras de águas mornas, outras de águas aquecidas. Estamos agora a escavar uma zona cheia de cinzas que dá a ideia de ser a fornalha que fornecia o calor ao caldário e tepidário e que aquecia o pavimento”, concluiu João Pedro Bernardes em final de passeio . ALGARVE INFORMATIVO #220


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FOME LEVOU JANET A ALBUFEIRA E MEN IN COATS A FARO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Irina Kuptsova

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etembro é sinónimo de Festival de Objectos e Marionetas & Outros Comeres, uma organização da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, que passou, na tarde de 14 de outubro, pela Biblioteca Municipal Lídia Jorge, em Albufeira. A cena foi «Janet», um espetáculo de teatro criado e interpretado por Helen Ainsworth que mistura o drama da mesa da cozinha com o terror dos filmes B, um reflexo despreocupado dos nossos sonhos e medos. O espetáculo segue a vida de uma jovem mulher desde a sua conceção até ao fim tragicómico. Janet tenta constantemente 29

fugir do seu destino e seguir os seus sonhos contra todas as probabilidades, um adorável anti-herói com uma vida tragicamente cómica. O evento cultural e gastronómico terminou com o jantar preparado pelo Restaurante Tertúlia Algarvia. No dia 19 de setembro foi a vez do Teatro Lethes, em Faro, abrir as suas portas para receber «Men In Coats», um duplo ato de comédia visual concebido por Michael Dow que combina as artes da comédia, clown e ilusão. A sua mistura de truques visuais conquistou audiências e o espetáculo foi apresentado em alguns dos maiores e mais prestigiados locais do mundo . ALGARVE INFORMATIVO #220


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JIMMY P E BÁRBARA BANDEIRA ABRILHANTARAM SEMANA DA JUVENTUDE DE TAVIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Município de Tavira

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avira foi palco, de 16 a 22 de setembro, de mais uma edição da Semana da Juventude, Qualificação e Inclusão, sendo os destaques os concertos de Jimmy P, no dia 20, e de Bárbara Bandeira, no dia 21, que esgotaram a Praça da República. O programa incluiu ações de sensibilização, workshops, formações, demonstrações de suporte básico de vida, técnicas de salvamento e desencarceramento, controlo de incêndios na cozinha, aulas abertas de hip hop, zumba, ioga, projeto de gaming, youtubers, bandas locais, dj’s, atividades desportivas e a já habitual Feira da Juventude, Qualificação e Inclusão, que

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teve lugar, de 20 a 22 de setembro, nos Jardins do Coreto e Palmeiras, Praça da República, Rua José Pires Padinha, Mercado da Ribeira e na área da antiga Docapesca. A mostra de projetos desenvolvidos por várias entidades com trabalho na área da juventude, formação/qualificação, inclusão social e intergeracionalidade contemplou igualmente animação infantojuvenil com insuflável, parede de escalada, air bungie, e diversas atividades destinadas às crianças e aos jovens. O Mercado da Ribeira recebeu uma área dedicada ao gaming e às tecnologias com o projeto game day, uma mostra de projetos

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artísticos de diversas IPSS’s, no âmbito do Encontro Nacional Incluir pela Arte, dinamizado pela Fundação Irene Rolo, e a exposição «Chover Inclusão». No mesmo local inaugurou, no dia 20, a exposição da Universidade do Algarve «40 anos a criar futuro». Nos dias 21 e 22, integrado na programação do FOMe – Festival de Objetos e Marionetas e outros Comeres, houve teatro, mas também houve espaço, no dia 21, para a sessão informativa «Na Europa estás Safe» sobre voluntariado e mobilidade, dinamizada pela Europdirect - CCDR Algarve. O palco do Jardim do Coreto acolheu, no dia 20, a atuação da Real Tuna Infantina da Universidade do Algarve, do grupo Rush do Lavagante, do DJ Di Angello e do grupo Infante. ALGARVE INFORMATIVO #220

No dia 21, foi a vez do Grupo Muzenza fazer uma demonstração de capoeira, a que se seguiram as atuações da banda Last Heaven e as conversas dos youtubers Daiser, Ferp, Arganaça, Dant e Alvini com os mais novos. A tarde terminou com o concerto Beatrice’s Music e dança contemporânea (21h15). À noite, o palco do Jardim do Coreto recebeu o Dj Karussa e o artista Possessivo, com projeção de imagem a cargo do VJ Draft. No dia 22 prosseguiu a animação com o Rancho Folclórico de Tavira, a dança contemporânea da Academia de Música de Tavira, o hip hop pela Academia de Dança o Algarve, e os estilos da Companhia de Dança Idade de Ouro e da Companhia de Dança Splash . 44


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PEDRO INOCÊNCIO LANÇA «A PRINCESA DO ÍNDICO» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina 51

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escrever ao milímetro, com economia de palavras. “É uma história que anda na minha cabeça há cerca de 16 anos, quando fiz uma viagem às Maldivas, aquele arquipélago magnífico, fantástico, maravilhoso, de águas tão transparentes que parecem o céu. Na altura constatei que, numa ilha, existia um mamarracho enorme, a fábrica da Coca-Cola, porque ali todas as bebidas não alcoólicas eram produzidas por ela. Até a própria água engarrafada é feita pela Coca-Cola”, recorda o entrevistado.

epois de «Tudo acontece por uma razão» e «A Herança Nazi», Pedro Inocêncio está de regresso com «A Princesa do Índico», o livro que há muito sonhava escrever, começa logo por confessar o autor numa conversa de café na Vila Adentro de Faro. Uma obra mais volumosa do que as suas antecessoras, porque o professor alentejano, mas radicado na capital algarvia há vários anos, não gosta de ALGARVE INFORMATIVO #220

A imagem ficou-lhe registada na cabeça e, quando enveredou pela atividade de escritor, há coisa de cinco anos, logo imaginou o enredo para «A Princesa do Índico», que envolve um magnata português, um empreendedor e visionário que inventou a bebida mais vendida do mundo, a «Su-Cola». “O António Tomás da Costa alia a sua capacidade empresarial com uma implacável forma de estar em termos humanos, destrata os empregados, tenta arranjar todas as situações possíveis para maximizar os lucros, sem olhar minimamente às condições em que as pessoas vivem. Já o filho, o Pedro Tomás da Costa, é o oposto completo, um idealista e sonhador que não quer ter nada a ver com os 52


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negócios do pai e que sempre condenou a forma como este tratou a sua mãe”, relata Pedro Inocêncio. O empresário, porém, não está contente com a opção do filho em ser jornalista e convida-o para uma viagem às Maldivas, onde este conhece um elemento chave do romance, a Bahira Kadeen, cujos dois irmãos, Nasim e Abdul, também estarão ALGARVE INFORMATIVO #220

bastante envolvidos na trama de «A Princesa do Índico». E a história começa em polvorosa, com um atentado bombista na Assembleia da República, em que os três irmãos são apontados como os principais suspeitos. “Deu-me um gozo tremendo escrever este livro porque há uma série de vidas que se interligam”, afirma, sorridente, revelando, entretanto, que não tem por 54


artísticos, depois de ter deixado a música quando a minha filha mais velha nasceu. Depois, a Sónia Pinto e outras pessoas amigas foram-me desafiando para ir em frente com a escrita, mas nunca fiz nada de forma planeada”, justifica.

hábito criar um guião formal para as suas obras. “Eu parto de uma ideia principal, atiro meia-dúzia de ideias para duas ou três páginas do Word e nunca sei como é que a história vai acabar. Tenho uma postura um bocado romântica, quiçá louca, em que as personagens vão ganhando vida à medida que as coisas vão acontecendo. Eu comecei a escrever porque sentia um vazio em termos 55

Deixar as personagens respirar, ao invés de criar logo várias ideias prédefinidas, é o modo de criar de Pedro Inocêncio e a fórmula tem tido sucesso, um capítulo a seguir ao outro, o que mantém o interesse dos leitores sempre no nível mais alto. E, depois de ter lido «A Herança Nazi», a verdade é eu próprio me vejo surpreendido pelos constantes volte-faces que as histórias deste simpático alentejano dão, algo difícil num estilo como os policiais, thrillers e livros de suspense onde todos os dias são lançados novos títulos mais ou menos sob a mesma bitola. “Se chegamos à página 100 e ainda não identificamos as personagens e não estamos presos à história, é porque alguma coisa não bate certo. Eu detesto aquela ideia de que um escritor não é para qualquer pessoa, quero ser mais um entre os meus leitores, alguém que também iria comprar este livro. Não tenho a certeza se alguma vez compraria os discos que compus enquanto músico, mas de certeza absoluta que comprava os meus livros”, assume, sem rodeios. Misturar a ficção com a realidade é o que dá mais prazer a Pedro Inocêncio, lançar dúvidas aos leitores, deixá-los a remoer se aquilo que estão a ler poderia ter, de facto, acontecido. Mas o «cozinhado» não é fácil de fazer, ALGARVE INFORMATIVO #220


reconhece, uma vez que, como não tem o esqueleto todo construído antes de começar a escrever, pode correr o risco de divagar, de «voar» para sítios. “Se todas as pessoas gostam ou não daquilo que escrevo, não sei, mas todas dizem que sou original naquilo que faço. Dou o que sou, sem estar minimamente preocupado em copiar o estilo de alguém ou seguir esta ou aquela tendência. Gosto muito da mudança de personagens, de uma ação constante que mantém as pessoas no suspense, mas sempre com fortes elementos românticos”, refere, sem esconder que é, ele próprio, um homem romântico. “Quanto mais depressa um leitor se contextualiza com o enredo, maior é a necessidade de tentar perceber o que vai acontecer a seguir. Se estamos fora da história, num instante largamos o livro, porque o tempo é curto e as alternativas são imensas”, avisa.

AS PESSOAS PRECISAM DE QUALQUER COISA QUE AS INSPIRE «Tudo acontece por uma razão» arranca de uma forma inesperada que prende de imediato o leitor. Assaltaram o stand de automóveis da personagem, aparece-lhe uma prostituta em casa, é apanhado pela mulher, um desenrolar tão intenso de situações extremas que o leva a colocar uma pistola na cabeça e a pensar em dar um término violento a tudo. Porque Pedro Inocêncio compreende a importância de se agarrar o leitor desde as primeiras páginas, assim se justificando o êxito que esse thriller romântico continua a ter em termos de vendas. Seguiu-se «A Herança ALGARVE INFORMATIVO #220

Nazi», misturando ficção com factos reais não muito consensuais ou politicamente corretos. Agora é a vez de «A Princesa do Índico», que aborda o amor entre pessoas de culturas e meios sociais diferentes, os extremismos religiosos, o capitalismo puro e duro de enriquecer à custa dos outros. Mas um quarto livro está já na forja, sobre outro tema completamente diferente, o que leva o professor a iniciar o processo do zero sempre que embarca numa nova aventura, quando até seria mais fácil fazer sequelas com as mesmas personagens. “Escrever para mim é um escape. Não consigo estar muito tempo sem o fazer, entro naquele mundo e as personagens ganham vida em mim. Foram três livros editados em cinco anos e, realmente, podia ter ficado pelo Francisco Andrade de «Tudo acontece por uma razão», mas estou sempre a ter ideias engraçadas para escrever sobre outras coisas”, explica. Pedro Inocêncio não descura, porém, a possibilidade de fazer uma sequela, seja para «Tudo acontece por uma razão» ou para «A Herança Nazi», cujas personagens fortes já mostraram terem a capacidade para prender o leitor, algo cada vez mais complicado num mundo em que andamos sempre a correr de um lado para o outro e sem tempo para nada. “O mundo atual é demasiadas vezes pintado de cores negras e cinzentas e as pessoas precisam de qualquer coisa que as inspire. Nos meus livros coloco situações dramáticas, terrorismo, política, mortes, mas existe também elementos positivos que levam os 56


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leitores a sonhar. Infelizmente, leio hoje menos do que o fazia no passado, a maior parte do tempo é consumido a escrever, no entanto, quando pego num livro, é com a intenção de encontrar algo que me transporte para outros mundos”, garante. O sucesso crescente que Pedro Inocêncio vai tendo não lhe permite, todavia, pensar em viver apenas da escrita, pois tal é possível apenas para um punhado de privilegiados em Portugal. “Nesta minha caminhada vão-me convidando para aqui e para acolá com figuras conhecidas do panorama literário e verifico que não foi fácil para eles atingirem esse patamar. Se chegaram lá é porque têm mérito, porque conseguiram cativar um sem número de leitores que os acompanham, lhes compram os livros e permitem que a máquina continue a rolar. Mas há sempre uma pontinha de sorte que tem a ver com a promoção”, observa o entrevistado, adiantando que, no seu caso, funciona muito o «boca-a-boca», o leitor que o aconselha a outro, as muitas partilhas de comentários nas redes sociais. “Os meus livros têm avançado de uma forma gradual, mas cada vez tenho mais leitores, o que faz com que até já seja reconhecido, às vezes, na rua. É uma situação bastante engraçada porque, antigamente, só os meus amigos e alunos é que me conheciam. Agora, deparo-me regularmente com esse grato reconhecimento do meu trabalho. Uma senhora, nas Beiras, até quis tirar uma foto comigo porque eu era o seu autor preferido. Pensei que me estava a confundir com alguém, mas depois meteu a nossa foto no Facebook e vi que, afinal, lia mesmo os meus livros. E tento ALGARVE INFORMATIVO #220

sempre ser simpático com todas essas pessoas que dão corpo ao meu sonho de escrever”, declara o entrevistado. Com uma legião crescente de fãs e uma criatividade e capacidade produtiva que não parecem abrandar, até onde aspira chegar Pedro Inocêncio, questionamos. Poderá o professor/escritor ter uma história sua numa série televisiva ou filme de cinema? “Já houve uma ou outra abordagem informal nesse sentido e seria um orgulho enorme se tal se concretizasse. Ainda por cima o meu filho está sempre a dizer-me que as minhas histórias davam um grande filme. Há leitores que comentam inclusive que os realizadores andam a dormir. Não me vejo com capacidade para fazer eu próprio o argumento, mas os livros estão aí e não haveria grandes entraves da minha parte em se avançar com um projeto dessa natureza. Mas, como deves imaginar, há uns anos nunca me passou pela cabeça escrever algo que pudesse dar lugar a um filme ou uma série”, confessa, de olhar pensador. “Noto que há um interesse cada vez maior em fazer filmes ou séries com base em livros já existentes, mesmo em Portugal, mas agora penso apenas em promover «A Princesa do Índico». Não gosto de acelerar as coisas, mas já vou com mais de 100 páginas escritas do próximo livro”, adianta, em final de conversa. «A Princesa do Índico» vai ser apresentado, a 25 de outubro, no Club Farense; a 2 de novembro, no Café Literário Chiado, em Lisboa; e a 16 de novembro, na Biblioteca Municipal de Elvas . 58


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SÉRGIO GODINHO, ANA BACALHAU, VITORINO E JORGE BENVINDA ENCONTRARAM-SE COM O GRUPO CORAL INFANTIL DE LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

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anções de Roda, Lenga Lengas e Outras que Tais» estreou em Loulé, no palco do Cine-Teatro Louletano, no dia 22 de setembro, pelas 17h, num encontro inédito entre o coletivo de luxo formado por Sérgio Godinho, Ana Bacalhau, Vitorino e Jorge Benvinda e o Grupo Coral Infantil de Loulé dirigido pelo Professor Ricardo Silva. Entre canções de roda, histórias e lengalengas, o público foi levado a viajar à sua infância, em momentos capazes de despertar as mais longínquas recordações e sentir as emoções de então. ALGARVE INFORMATIVO #220

Mais do que isso, tratou-se de um veículo para fazer os mais pequenos (que hoje são filhos, sobrinhos ou netos) reviver com os mais velhos essas histórias e canções dançadas, puladas, esgrimidas, que criavam sonhos incríveis. A estes intérpretes juntou-se Filipe Raposo, que criou belíssimos arranjos e dirigiu um valoroso naipe de músicos que tocou de uma forma maravilhosa o repertório por todos escolhido, e ainda Cláudia Guerreiro, autora das maravilhosas ilustrações que ampliaram este belo universo tão rico e inesgotável . 64


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CENTRO CULTURAL DE LAGOS ESGOTOU TRÊS NOITES COM O MAIS ANTIGO FESTIVAL FLAMENCO DE PORTUGAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Centro Cultural de Lagos voltou a acolher, de 12 a 14 de setembro, o festival de flamenco mais antigo que se realiza em Portugal, celebrando este ano a sua 18.ª edição. Guitarras mágicas com identidade própria, baile de beleza e paixão, e, sobretudo, vozes carregadas de emoção e festa foram os ingredientes deste evento que esgotou por completo as três noites. 79

Com um elenco notável, o Festival Flamenco de Lagos trouxe alguns dos melhores intérpretes deste género universal até à Cidade dos Descobrimentos, com os espetáculos «Flamenco Vostrum», a que tivemos o prazer de assistir, «Típicos» (Flamenco Vintage) e Victor Bravo Companhia, numa organização da responsabilidade da IBéRICA Eventos & Espectáculos e do Município de Lagos.

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ORQUESTRA CLÁSSICA DO SUL MANTÉM APOSTA NO QUE FAZ DE MELHOR, MAS CONTINUA A EXPLORAR OUTROS ESTILOS E SONORIDADES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova

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Rui Pinheiro e Rui Baeta

Orquestra Clássica do Sul deu a conhecer, no dia 25 de setembro, na Casa das Figuras, em Faro, parte da sua programação para a temporada 2019/2020, que ainda não está fechada, porque as autarquias, na sua generalidade, “continuam a encomendar e comprar concertos quase de um mês para o outro”, explicou o Diretor Executivo José Carlos Ferreira. Temporada que arranca oficialmente a 1 de outubro, no Teatro das Figuras, com um concerto alusivo ao Dia Mundial da Música, com a Orquestra Clássica do Sul sempre atenta àquilo que resulta com o público algarvio e, claro, que corresponde igualmente às próprias expetativas da estrutura, frisou o Maestro Titular Rui Pinheiro. ALGARVE INFORMATIVO #220

O concerto do Dia Mundial da Música contará com a participação do Coro da Orquestra Clássica do Sul, coordenado pelo barítono farense Rui Baeta, que será uma presença bastante regular nesta nova temporada. “Vamos dar a volta ao mundo em 80 compassos com uma seleção de grandes obras da ópera e da música clássica, de compositores como Bizet, Puccini ou Verdi, cujas histórias decorrem em diferentes locais do mundo. É nossa vontade que os espetáculos tenham uma unidade e coerência, e que sejam representativos da boa música que temos ao nosso dispor, mas também que tracem uma narrativa”, aponta Rui Pinheiro. Quanto ao coro, o projeto nasceu em fevereiro do corrente ano, com cerca de 60 pessoas, umas com mais experiência do que outras, o que 92


aumenta o desafio para o seu líder. “Está a dar os primeiros passos e há uma componente de provas que têm de ser dadas em cada ensaio e concerto, até porque queremos apresentar um repertório de grande exigência musical e vocal. São peças que normalmente são interpretadas por coros profissionais ou de grande maturidade, o que não é o nosso caso, mas as coisas têm estado a correr bastante bem”, destaca Rui Baeta, com um sorriso. “Não percebo como é que há pessoas que não gostam de ópera, é algo que nos entra pelos poros adentro, é uma emoção à flor da pele. Vai ser um concerto festivo, com apresentação da minha irmã Lurdes Baeta, porque muito simpaticamente a Orquestra Clássica do Sul permitiu que se assinalassem igualmente os 25 anos da minha atividade artística”.

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Fazer com que a música chegue a um público o mais vasto possível continua a ser um dos propósitos da Orquestra Clássica do Sul, que nos dias 5 e 19 de outubro dará os tradicionais concertos de abertura do Ano Académico da Universidade do Algarve, no Claustro do Museu Municipal de Faro e na Igreja Matriz de Portimão, respetivamente. A 10 de outubro acontece novo capítulo dos «Diálogos Musicais», com um Quinteto de Cordas e um Quinteto de Sopros a fazerem uma desgarrada clássica sobre a temática de «Árias e Danças», no Foyer do Teatro das Figuras. “Haverá um dialogar e um intercalar de linguagens, influências e sonoridades num concerto bastante descontraído e informal”, indica Rui Pinheiro, antes de abordar o «Eva Classical Experience», um evento que

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alia arte, música e vinhos, num final de tarde singular com o belíssimo cenário da Ria Formosa, no dia 24 de outubro. A 26 de outubro, a Orquestra Clássica do Sul viaja até São Brás de Alportel com um programa baseado em compositores que se radicaram em Inglaterra, e o concelho ALGARVE INFORMATIVO #220

de Silves será contemplado com um ciclo de três concertos de música de câmara, o primeiro dos quais a 31 de outubro, em Tunes, com «Sons do Novo Mundo», nomeadamente da América do Norte e do Sul. Música de câmara que também será levada a Évora, “porque queremos mostrar a sonoridade 94


imponente que a orquestra, no seu conjunto, tem, mas também aquilo que é produzido por formações mais reduzidas, como trios de cordas, quintetos de sopros, octetos com cordas e sopros”, refere o Maestro Titular Rui Pinheiro. 95

Fruto do grande sucesso que tem registado vai manter-se o «Lethes Clássico», no maravilhoso Teatro Lethes, em Faro. “Não gostaria de deixar passar em branco os 250 anos do nascimento de Beethoven, uma efeméride absolutamente incontornável que se assinalará em 2020, portanto, dois dos concertos do Teatro Lethes serão dedicados a esse compositor e à sua grande produção para quarteto de cordas e de sopro. Chegou mesmo a escrever algumas canções em português, é algo que vamos tentar incluir no «Lethes Clássico»”, adiantou Rui Pinheiro. Já dezembro será mês dos habituais concertos de Natal, desta feita com a novidade de contarem com a participação do Coro da Orquestra Clássica do Sul. “É provavelmente a altura do ano em que mais apetece ouvir música clássica e iremos interpretar temas incontornáveis desta época festiva, mas também alguns menos comummente tocados”, desvenda Rui Baeta. Logo ao virar da esquina estão os típicos concertos de ano novo, com a matemática vienense, num janeiro em que a Orquestra Clássica do Sul e o seu Coro atuarão também na Culturgest, em Lisboa. “É importante podermos ir à ALGARVE INFORMATIVO #220


capital para apresentar o trabalho que vimos desenvolvendo no sul do país. Depois, acontecem os ciclos de Concertos Promenade e Concertos Pedagógicos, que fogem um pouco à programação pura e dura, mas que têm uma intenção muito específica de formar novos públicos. Os Concertos Pedagógicos serão organizados pelo recentemente criado Departamento Educativo da Orquestra Clássica do Sul, constituído por especialistas na vertente pedagógica e educacional”, salienta Rui Pinheiro. Quanto aos Concertos Promenade, realizam-se normalmente aos domingos de manhã, para as famílias, num ambiente mais ligeiro, mas muito apelativo. ALGARVE INFORMATIVO #220

Outra novidade da temporada 2019/2020 da Orquestra Clássica do Sul é um Baile Vienense, “porque todo o repertório de Strauss de valsas era para ser dançado”. “Vamos trazer as pessoas, não para ouvir música, mas para dançar connosco”, explicou o Maestro Titular, que aproveitou a presença da comunicação social para assumir a tristeza pelo Festival Internacional de Música do Algarve não se realizar este ano. “Fizemos a candidatura nos mesmos moldes dos outros três anos, sempre com o pretexto de trazer muita qualidade ao Algarve, com grandes artistas e duas obras em estreia mundial, mas, infelizmente, isso não irá tornar-se 96


uma realidade”, lamentou Rui Pinheiro. “Acho que o público algarvio é tão merecedor de eventos desta natureza como qualquer outro público e a nossa experiência diz-nos que as pessoas aderem à nossa programação com imenso gozo e prazer. Cultura, pura e dura, tem o seu cabimento, portanto, é com um misto de tristeza, estupefação e choque que informo que o FIMA não se vai concretizar em 2019/2020”, desabafou. Não há Festival Internacional de Música do Algarve, mas propostas não faltam, de imensa qualidade e para todos os gostos, garante Rui Pinheiro. “Mas a música e este tipo de eventos não podem ser subservientes a um certo tipo de animação que é pretendido. Temos muito mais do que isso para oferecer,

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algumas coisas vão avançar já, outras ficarão em stand-by à espera do melhor momento para se concretizarem”, declarou o Maestro Titular da Orquestra Clássica do Sul. Por seu lado, Rui Baeta admite que não é fácil conciliar uma estrutura profissional como a orquestra, composta por elementos que vivem e respiram música 24 horas por dia, com um coro que é formado por músicos amadores. “Mas a energia do amor que sentem pela música é tão forte que, com uma gestão metódica e cirúrgica, as coisas conseguem equilibrar-se. Fazemos apenas um ensaio por semana, mas estes coralistas estudam imenso em casa e fazemos uma calendarização de atuações que lhes permite conjugar a música com as suas vidas profissionais e familiares”, salienta o barítono .

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TIM BERNARDES TRANSPORTOU O SEU QUARTO PARA O CINE-TEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina 101

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uma aposta forte na internacionalização da sua programação, o Cine-Teatro Louletano apresentou, no dia 18 de setembro, um concerto de Tim Bernardes, músico considerado pelo público e pela crítica como uma das novas revelações da nova música brasileira. E o músico, compositor, produtor musical e multi-instrumentista recriou, no palco, o quarto de sua casa, ALGARVE INFORMATIVO #220

onde se deixa voar pela sua criatividade, ao piano ou na guitarra, para compor temas belíssimos que a ninguém deixam indiferentes. Tim Bernardes já trabalhou com nomes como Tom Zé e David Byrne e, com a sua banda, «O Terno», gravou três discos e um EP, todos com composições da sua autoria. Em 2017 decide estrear-se a solo com 2017 com «Recomeçar», que esteve nas principais listas de melhores álbuns desse ano, 102


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consolidando-o como um dos grandes compositores brasileiros de sua geração. Fora do Brasil, o seu trabalho também recebeu reconhecimento com a nomeação para o Grammy Latino de 2018 como Melhor Álbum de Música Alternativa em Língua Portuguesa. Um talento que merece, igualmente, rasgados elogios de imortal Caetano Veloso. "Uma maravilha de afinação, controle da dinâmica, refinamento, execução instrumental e liberdade na 105

elegância do uso do palco e da luz - além das composições personalíssimas de caminhos fascinantemente desviantes. Tive certeza de que a música brasileira é forte sempre. Quem vê um show de Tim Bernardes não pode acompanhar o movimento mental de quem diz que nossa canção hoje não tem valor", diz Caetano Veloso do seu compatriota. E o público algarvio teve oportunidade para constatar isso mesmo, no Cine-Teatro Louletano . ALGARVE INFORMATIVO #220


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MICKAEL CARREIRA ENCANTOU LAGOA NO DIA DO MUNICÍPIO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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agoa assinalou, em setembro, o seu Dia do Município e, por entre o programa de manifestações religiosas e acontecimentos culturais e desportivos, mereceu particular destaque, como era previsível, o concerto que Mickael Carreira deu no exterior do Auditório Carlos do Carmo. O recinto cedo começou a animar-se mercê das tendas de comes e bebes e dos feirantes, mas, à medida que se ia aproximando a hora do espetáculo, afluiu uma verdadeira multidão ao local para dar 113

as boas-vindas ao filho mais velho do popular cantor Tony Carreira, que respondeu com uma atuação elétrica que deixou fãs de todas as idades em completo delírio. Mickael Carreira tem vindo a afirmarse como um dos artistas portugueses de maior notoriedade e influência e a sua música ultrapassa, inclusive, as fronteiras de Portugal, com uma popularidade crescente na América Latina. E para isso muito contribui o seu estilo pop-urbano, com as sonoridades latinas a fazerem parte das suas ALGARVE INFORMATIVO #220


composições desde o início da carreira, o que lhe confere um espaço único no panorama artístico nacional. Um êxito que se começou a antever logo em 2006, quando lançou um disco homónimo. Desde então, Mickael Carreira editou sete álbuns, o último dos quais em 2016, «Instinto» e vários singles em português e espanhol, conquistou nove galardões de platina, seis discos de ouro e continua a surpreender o público a cada novo trabalho. Por isso, é presença assídua nas mais prestigiadas salas em Portugal, desde os Coliseus de Lisboa e Porto ao próprio Altice Arena. Em 2014, foi convidado para integrar o júri do «The Voice Portugal», o programa de talentos líder de audiências da televisão nacional portuguesa. E, com o seu carisma, imagem e simpatia inconfundíveis, assim como a forma empenhada como assume o seu papel de mentor, é um dos jurados fixos há cinco temporadas, sendo, igualmente, o mentor com mais vitórias acumuladas . ALGARVE INFORMATIVO #220

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FESTIVAL INTERNACIONAL DE GUITARRA DE LAGOA COM MOMENTOS DE RARA BELEZA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Município de Lagoa

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ecorre, até dia 1 de outubro, o 6.º Festival Internacional de Guitarra de Lagoa, com direção artística de Eudoro Grade e o objetivo de oferecer ao público momentos excecionais de qualidade artística e que espelhem a diversidade de formas musicais que existem em todo o mundo, às quais compositores e intérpretes emprestam o seu saber, criatividade e virtuosismo. “No programa temos um pouco de tudo, sempre com a preocupação de uma oferta de qualidade artística e, paralelamente, apresentada nos mais emblemáticos locais, monumentos e infraestruturas que, por sua vez, representam a excelência dos espaços culturais da cidade de Lagoa, proporcionando assim ao público, em cada fim-de-semana, a possibilidade de poder fazer as suas escolhas”, explica Eudoro Grade. ALGARVE INFORMATIVO #220

Da programação sobressaiu o convite a excelentes intérpretes de guitarra para 14 concertos, na procura das mais diversificadas influências musicais, que vão da guitarra na ópera – uma novidade desta sexta edição – à guitarra Manouche, ao Flamenco ou ao Fado. Inclui igualmente dois masterclasses, um focado na guitarra clássica (Salvatore Seminara) e outro de guitarra Manouche (H2R), mas também houve a preocupação de se criar um momento dedicado às escolas e aos mais jovens, como reflexo do espírito que, em 2019, o município dedica ao tema «Lagoa, Cidade Inclusiva». Pelos palcos do 6.º Festival Internacional de Guitarra de Lagoa já passaram nomes como «Os Bardos», «The Last Train», «Fado Violado», «Manzano & Garcia Duo», «Guitare à l’Ópera», «Twelve Strings Enrique Munoz», «Duo Aldaluz Cuenca & 124


Garcia», João Mendes, Salvatore Seminara e o «Siempre Nuevo Trio». No dia 28 de setembro atuam o «Cuarteto El Tango» e H2R, seguindo-se, a 29, «Srdjan Bulatovic & Darko Nikcevic Duo» e Muriel Anderson. 125

O derradeiro espetáculo acontece a 1 de outubro, Dia Mundial da Música, no Auditório Carlos do Carmo, com Paul Morocco «Ole» & «Lost Locos» . ALGARVE INFORMATIVO #220


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O gap geracional na cultura pop Paulo Cunha (Professor) uando a nossa filha nos desafiou para, aos doze anos, se estrear numa ida à Comic Con Portugal, e nós lhe respondemos afirmativamente, confesso que não fazia a mínima ideia onde é que me ia meter. Desde que entrei até que saí, doze horas depois, aprendi mais do que tendo lido muitos artigos sobre os atuais gostos que se tornaram pop(ulares). Por definição corrente, o termo «cultura pop» define manifestações artísticas e culturais, nas quais grande parte da população tem participação ativa. Talvez por isso, possa ser definida como a antítese da «cultura erudita», acessível apenas a uma parcela da população. Pela sua simplicidade, rápida assimilação e abrangência etária, étnica, cultural e de género não tem um público definido. Esta forma de criar cultura contemporânea, acessível a todos os que a queiram abraçar, tem assim a capacidade de, encantando multidões, perpetuar-se no tempo. Na fila de entrada, deparei-me com o frenesim, bulício, empenho e encantamento com que milhares de jovens viviam aquele momento em que, finalmente, podiam encarnar e vivenciar o papel dos seus personagens, heróis e ídolos preferidos num mundo «cosplay» natural e perfeitamente assumido, vivenciado e exibido. Cosplay pode ser considerado um hobby onde os «cosplayer» mascaram-se das personagens fictícias da cultura pop, não se limitando a fantasiar-se, mas também a interpretar a personalidade dos seus personagens preferidos. Por isso não ALGARVE INFORMATIVO #220

estranhei entrar num espaço físico onde interagi com personagens de filmes, de séries, de banda desenhada, de livros de ficção e de jogos de mesa e de computador. De repente, parecia que tinha entrado num universo onde a ilusão e a diversão eram as palavras de ordem. Gostei também de ver tantas crianças e jovens acompanhados pelos seus familiares adultos, fantasiados, entrando no «espírito da coisa». Na senda das célebres convenções/congressos/exposições que se realizam há muitos anos nos EUA, onde os temas das mesmas assentam no lucrativo showbiz e na indústria cinematográfica, a Europa está, cada vez mais, a importar o conceito para os seus países. Não é assim de estranhar ver e assistir ao aumento da quantidade de jovens que tentam abstrairse do mundo real, mergulhando na irrealidade dum mundo imaginário criado por e para uma crescente indústria audiovisual. Não estranhei, por isso, observar imensos jovens, enquanto estavam nas filas ou enquanto almoçavam, a falar dos seus personagens preferidos, como todos tivessem incorporado a ficção como a sua realidade quotidiana. Perante tais evidências, obviamente, questionei-me se a maioria dos seus pais, que todos as manhãs se levantam da cama para irem trabalhar e assim colocar comida na mesa, estarão preparados para esta progressiva evasão e afastamento da realidade por parte dos filhos? Obviamente, é mais fácil tentar incorporar os heróis que habitam as histórias 130


ficcionadas que nos acompanham desde tenra idade, do que viver um quotidiano em que a realidade não augura, proporciona e traz qualquer tipo de conquista, ganho e vitória. Não é de estranhar, assim, que oiçamos tantos pais a queixarem-se que os filhos preferem ficar a viver em casa dos pais até tarde, do que enfrentarem a vida tal como ela é. É esta lacuna/desfasamento (gap) geracional que faz com que muitos pais não entendam o enorme desejo dos seus filhos em encarnar o manancial de personagens de ficção que hoje integra o universo da cultura pop. Sendo a diversidade e a inclusão temas suprageracionais, o conceito de gap geracional é demasiado redutor para conter em si mesmo todas as dúvidas e dificuldades de relacionamento entre pessoas que integram diversas estruturas. Encontramo-nos, assim, perante uma diversidade mais alargada e que passa por ser cultural, social, tecnológica, étnica, de género e, claro está, etária ou geracional. É fundamental para a orgânica interpessoal desenvolver um espírito de tolerância perante a diferença e perceber que esta poderá beneficiar todos. Estando o mundo 131

a ficar cada vez mais camaleónico, quem possuir uma maior predisposição para a experimentação e aprendizagem, tirará, por certo, grande partido desta diversidade de conhecimentos. Num tempo em que o imediatismo e o efémero convivem com os velhos cânones sociais e comportamentais, saibamos aprender com os mais novos. Porque, como eles dizem, a cultura pop é de todos e para todos! .

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OPINIÃO

Sabotage Exposição de Patrícia Serrão + Rodrigo Rosa Mirian Tavares (Professora) The end is in the beginning and yet you go on. Samuel Beckett, Endgame

artista italiano, com raízes na Argentina, Lucio Fontana, traduziu com suas obras uma ideia que se generalizou pela Europa logo a seguir ao fim da II Guerra Mundial – o choque, provocado pela violência pela qual passaram todos, não era representável, pelo menos não da mesma forma como fora antes, após a I grande Guerra. Se havia possibilidade de representação, ela estava noutro espaço, era preciso expandir a ideia de arte, e de objeto artístico, até ao limite do absurdo para que ela pudesse conter o sentimento do mundo e o gesto necessário do artista. Stefano Amoretti, ao falar da obra de Fontana, diz que ela é, ao mesmo tempo, uma meditação e uma performance. E esta ideia de performance meditativa, ou de gesto pensativo, leva-me diretamente ao trabalho de Rodrigo Rosa. As obras que apresenta nesta exposição fazem-me recordar o gesto meditativo-performático de Fontana e também a escuridão iluminada da obra de Pierre Soulages. Da mesma forma que as peças de Patrícia Serrão fazem-me pensar em Giacometti, desde a sua fase surrealista, ao seu período mais conhecido, que desponta exatamente no final da II Guerra. Ao relacionar a obra destes artistas com outros, que lhes antecederam, não ALGARVE INFORMATIVO #220

pretendo, de modo algum, fazer comparações. Mas pretendo, isso sim, falar de sensibilidades. Há uma sensibilidade comum que os une, um sentimento de desespero otimista: mesmo sem acreditar em mais nada, ainda acreditam na arte como portadora de uma mensagem, como meio capaz de falar ao mundo, como um meta-texto que se reinventa a cada instante. Cada peça de Patrícia Serrão é composta de material diverso e dissonante, criando um jogo entre o efémero e a memória, que perdura. As obras são constituídas pelo que vemos, mas, sobretudo, pelo que lá não está. Samuel Beckett, cujos textos influenciaram artistas plásticos e foram por eles influenciados, diz sobre o artista holandês Bram Van Velde que a sua pintura era “a pintura da coisa em suspenso, ou melhor, da coisa morta. A coisa isolada. O objecto puro”. O que Beckett diz sobre Van Velde, pode ser dito, por exemplo, sobre a obra de Antoni Tàpies ou Antonio Saura – são artistas que ultrapassaram a ideia de representação sem, no entanto, abrir mão da arte de representar uma memória, uma marca, uma ideia, um gesto. E vejo, passados tantos anos, estes gestos replicados, consciente ou inconscientemente, na obra de dois jovens artistas que criam objetos puros, sejam eles escultóricos ou pictóricos, instalados no espaço ou fixados na parede. São objetos 132


que valem por si mesmo e que dialogam, nesta exposição, com as outras obras, com o processo de criação de cada um dos artistas e com uma genealogia que lhes escapa, mas que tem origem nesta arte atormentada, mas nunca desistente. Patrícia Serrão traz-nos um conjunto de peças, de dimensões variáveis, marcadas pelo binómio delicadeza-inacabamento. A aparente fragilidade, ou mesmo a pequena dimensão de alguns trabalhos, dá-nos a sensação enganosa de ocultação e de 133

silêncio. As peças desta exposição, que existem em si mesmas, foram pensadas para funcionar em relação. As obras de Rodrigo Rosa – de grande dimensão, criam uma continuidade de significados, expandindo o espaço da sala e conduzindonos ao espaço da arte. Uma arte lúcida a pari passu com seu próprio tempo, um tempo que revive, vezes sem conta, os seus erros e as suas tragédias. Por isso a arte é tão necessária. Por isso esta exposição é tão urgente e vital . ALGARVE INFORMATIVO #220


OPINIÃO

Do Reboliço #56 Ana Isabel Soares (Professora) Caiado, como tantos outros homens bons da aldeia, chamava-se Manuel. E, como ali a todos os Manuéis, chamavam-lhe Manel. Manel Inácio. Era alto, encorpado e tinha a competente barriga de taberneiro. O calçado que calçava fizera-o ele mesmo, na oficina onde trabalhou com o Tio Manuel Pardal, que, além de sapateiro, era correeiro e vendia esquilas e chocalhos para o gado maior e para menores bichos, e piões de madeira, e mercava em gás, e em gasóleo para as motoretas, e tinha ainda uma barbearia na divisão contígua àquela onde fazia os sapatos, os cintos e as correias. De Inverno, o Manel Inácio punha botas altas, coisa bonita de se ver, e que faziam chiar o cabedal com os pesados passos que dava; no Verão, seriam as sandálias de tiras, com o bico reforçado, também saídas das suas mãos, muito parecidas às que a mãe, a Ti’ Bia, uma das irmãs do Tio Pardal, calçava o ano todo, sempre com meias pretas por baixo, que o luto do marido, morto quando o filho estava para nascer, era completo. O Reboliço gostava de andar por aquelas casas que sempre tinham portas abertas: entrava e saía à vontade, para se recolher do calor ou acoitar da chuva, na mercearia, na barbearia, na sapataria ou na adega. Do chão fresco da adega do Caiado, betão corado da mesma cor das talhas, vermelho entre o sangue e o tinto do vinho, via metade da figura do Manel Inácio: o tronco de que o balcão ocultava as pernas, a inclinar-se um pouco mais do que seria de esperar, quando falava a algum freguês, por ser assim alto e porque atrás do balcão havia um estrado de madeira, para poupar à erosão dos passos o cimento do piso, que o subia. O estrado fazia-o também crescer para agarrar com mais facilidade ALGARVE INFORMATIVO #220

alguma botelha que houvesse nas altas estantes de vidro suspensas da parede, nos espaços deixados livres pelos muitos recortes de uma revista de sátiros desenhos e caricaturas obscenas, canário que, já não enjaulado, se escapou pela gaiola aberta. Num daqueles dias antigos, estava o Reboliço no remanso a gozar a fresquidão, ouviu ao taberneiro uma risada boa. Abriu os olhos, cabeça para cima, e viu subido o bigode pequenino e de persiana baixa o olhar da gargalhada. De uma das mesas ao lado do lombo, ouvindo com uma orelha que levantou, alguém disse: “Andam preparando alguma”. “Em ele chegando”, dizia ao taberneiro um homem do lado de cá do balcão, “pões-lhe o vinagre no copo, a ver o que é que o gajo diz”. “Ehehehehe”, fez o taberneiro, enquanto verteu para uma garrafa de vinho vazia um tanto do acerbo líquido. “Coitado do homem, vocês são tramados”, ouviu-se um terceiro. “Oh, vê lá se já alguém morreu a beber vinagre. Até ele se há de rir, queres ver?”. Falavam do Zairinha, uma alma igual às que por ali pairavam, mas de paladar um tanto mais rude; bom de trabalho e de convívio, só tinha desacertado o nível de bolha de ar do azedume nas papilas lá da língua: emborcava tudo quanto era zurrapa, e apreciava com estalinhos: vinho bom, assim-assim, ruim que só ele, marchavam todos com igual aquática macieza. Os figurões gozavam de antecipação, vá de rir, imaginando o homem a chegar, aproximarse do balcão depois de, tirada a boina, cumprimentar as duas ou três mesas com parentes, coçar a cabeça, que onde a sede dá primeiro é na moleira, e dizer ao Caiado, “Vá lá a ver um copinho”. Foi tal qual. Chegou o Zairinha, vinha já de 134


Foto: Vasco Célio

boina na mão. Chegou-se às mesas, falou aos parentes, risada ou outra – e do balcão olhavam-no, mas sem denunciar os secretos preparativos. Juntou-se a estes, falou-lhes, e para o lado de lá pediu o copo. O taberneiro fez soar sobre a pedra o vidro, desarrolhou a garrafa onde antes vertera o vinagre e encheuo, enquanto o Zairinha sacava do bolso as poucas moedas exatas e as passava das mãos para o mármore. Com a mão direita nas moedas, usou a esquerda para levar o copo à boca, tragou de um gole o que continha, deu o estalinho da praxe e fez ouvir-se outra vez o som do vidro. Franzida um pouco a cara – “Vá outro”. Ao lado dele, os homens tiveram de se virar para não mostrarem as tais lágrimas do riso. O taberneiro repetiu a dose: vidro, pedra, cortiça, vidro, vinagre. O Zairinha repetiu a dose: mão, metal, pedra, vidro, estalinho, 135

franzir de cara. Ainda olhou para o copo vazio, pondo-o bem à frente dos olhos. Depois, devolveu-o ao balcão e chamou com um gesto da cabeça o taberneiro, que inclinou, como fazia, o tronco, para aproximar as orelhas do que o inocente e bom freguês lhe ia dizer. “Manel”. “Hum”. “Ainda tens aí muito deste?”. “Ainda tenho para ali uma gota – então porquê?”. “Não é por nada, mas olha, Manel, estrapassa-o. Estrapassa-o, que ele já vai tendo um piquezinho”. *A oficina de sapateiro e a barbearia anexa ainda estão, e a laborar, na aldeia de Cabeça Gorda. Quem lá faz hoje as maravilhas é o Miguel Isidro, que foi aprendiz do Tio Pardal. A adega do Caiado, essa, já só tem paredes de memória. **Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #220


OPINIÃO

Inteligência Artificial é o futuro! Fábio Jesuíno (Empresário) intervalo de tempo que começa depois do presente vai ser sempre com inteligência artificial em grande destaque e a dominar as nossas vidas. A Inteligência Artificial, também mencionada por AI, sigla em inglês de «artificial intelligence», é um conceito relacionado com a capacidade dada aos algoritmos de pensarem como seres humanos com a possibilidade de aprender com as experiências, sendo o seu principal objetivo simular as capacidades humanas, capazes de executar tarefas, tomar decisões, compreender e resolver problemas de uma forma rápida. O conceito sobre a inteligência artificial é muito discutido pelo impacto que poderá ter na nossa sociedade, principalmente o medo que é criado quando os algoritmos tiverem uma inteligência idêntica ou superior aos dos humanos. Seja qual for o futuro da inteligência artificial, hoje vivemos num mundo cheio desta tecnologia, como, por exemplo, as redes sociais como o Facebook ou Instagram que definem as recomendações, os conteúdos que cada utilizador vê e a publicidade que é apresentada são definidos de uma forma automatizada por algoritmos que analisam o perfil de cada utilizador.

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Uma das áreas onde a inteligência artificial tem tido mais desenvolvimentos é nos assistentes digitais, como o Google Assistant, Siri, Cortana ou Alexa, ferramentas que permitem ajudar em tarefas como a marcação de atividades no calendário, realização de telefonemas, colocar música a tocar ou simplesmente saber o estado do tempo, uma tecnologia em constante evolução e presente nos mais diversos dispositivos eletrónicos, desde os smartphones até às colunas de som. A evolução da inteligência artificial traz capacidades únicas, que permitem analisar grandes volumes de informações em nanosegundos, apresentando soluções a problemas ou realizando tarefas completamente autónomas, sem receber instruções de humanos. Os novos desenvolvimentos tecnológicos vão permitir que cada vez mais a inteligência artificial tenha um maior impacto na nossa sociedade, onde a saúde irá ser uma das áreas com maior repercussão na melhoria dos diagnósticos e tratamentos, com consequência num aumento grande da esperança média de vida. É um novo paradigma que está a nascer, uma nova era onde as máquinas vão ser mais inteligentes do que os humanos .

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OPINIÃO

CREATOUR.PT Alexandra Rodrigues Gonçalves (Professora e Investigadora) esde 1999 floresceu o interesse sobre a economia da experiência e sobre a questão da produção da experiência e da introdução de padrões que possam resultar numa estandardização dos parâmetros que determinam a sua qualidade. O turismo chamado tradicional – baseado em pacotes uniformizados - está «em apuros», assistindo-se a uma flexibilização do produto turístico (veja-se o caso da recente falência do operador Thomas Cook). A emergência da experiência turística obedece a características que a tornam particular, entre as quais: a experiência é intangível e fragmentada; diz respeito sobretudo a actividades; a sua produção e o consumo ocorrem quase em simultâneo; e pressupõe a presença da pessoa e, regra geral, a sua participação. O conceito de «experiência» surge associado a uma nova forma de perspectivar a sociedade e a economia. Joseph Pine e James Gilmore, dois consultores norteamericanos, têm-se dedicado ao estudo da experiência e constituem-se como os autores da proposta do novo estádio de desenvolvimento económico – o da «Economia da Experiência». Um dos seus exemplos mais reproduzidos é o da transformação do bolo de aniversário como mercadoria, em festa de aniversário como experiência (Pine e Gilmore, 19991). Pine e Gilmore propõem a venda de «experiências», afastando-se do conceito tradicional de serviço, visto que a «experiência» produz uma memória e tem ALGARVE INFORMATIVO #220

associada a criação de sensações junto do «convidado». Essas sensações, segundo os autores, só ocorrem quando existe uma participação activa do indivíduo, o que requer uma personalização da oferta. Quando se fala em serviços, significa que o fornecedor tem que integrar uma atitude dinâmica, capaz de responder em cada momento às necessidades e comportamentos dos seus «convidados». Aqueles que querem «oferecer experiências» têm assim que se perspetivar como «encenadores/actores», o que pressupõe criar interação, pois a influência do indivíduo sobre a experiência pode ser tão elevada, como a participação dos fornecedores. Em Outubro de 2008 foi publicada mais uma edição, que procurava contribuir como facilitadora para a criação de experiências nas organizações: Per Darmer e Jon Sundbo (eds.) (2008). Creating experiences in the experience economy. Cheltenham: Edward Elgar Publishing. A obra consiste numa coletânea de artigos sobre a perspetiva da experiência como negócio e o seu processo de criação. Todavia, os participantes na coletânea salientam que a construção de experiências não é uma tarefa com uma única fórmula, mas avançam alguns modelos com base em casos específicos, para o desenho, a produção e a distribuição de experiências. Os parques temáticos foram dos primeiros a propor os serviços como experiências memoráveis, pelo que, em regra, quando se refere a necessidade de promover e introduzir princípios de marketing associados aos equipamentos culturais na sua atuação, emergem discursos cépticos e 138


de censura a uma «comercialização» destes espaços como «parque de atracções». Contrapondo-se a esta visão, Pine e Gilmore referem que a experiência não é superficial e é mesmo responsável por transformações, através das sensações e memórias que geram junto do consumidor.

A conferência final de um projeto que se quer com futuro É aqui que entra o CREATOUR que é um projeto nacional de três anos (2016-2019) que tem procurado promover uma abordagem integrada para o turismo criativo em pequenas cidades e áreas rurais de Portugal, combinando uma pesquisa multidisciplinar com o desenvolvimento de uma rede de pilotos de turismo criativo. O CREATOUR promove atividades de turismo criativas, interativas e em escala humana, construindo a partir de tradições culturais locais, aptidões, conhecimentos e práticas artísticas emergentes. Visa contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades locais em Portugal e está no território nacional com cerca de 40 projetos piloto em curso (10 no Algarve). Como resultados espera-se: constituição de uma rede de turismo criativo a nível nacional; desenvolvimento de novos valores culturais (reforço da identidade local); aumento da qualidade e valor da oferta; aumento da procura e permanência turística fora de época alta; oportunidades de negócio/emprego/fixação de população; aumento do sentido de pertença e da identidade das comunidades; maior envolvimento na preservação, salvaguarda e transmissão dos valores culturais; mais receitas geradas localmente; mais oportunidade de inovação, diversificação e qualificação da oferta de turismo na região. 139

As experiências de turismo criativo conhecerão nos próximos dias 23 a 25 de Outubro na Universidade do Algarve, no Campus da Penha2 a sua apresentação final, pois terá lugar no âmbito do Projeto, a Conferência de encerramento com o tema: «Creative Tourism Dynamics: Connecting Travellers, Communities, Cultures, and Places», sintam-se desafiados3. Viva o Dia Mundial do Turismo . 1 Pine, J. B., & Gilmore, J. H. (1999). The experience economy. Boston: Harvard Business School Press 2 Conheça os parceiros e os projetos na webpage www.creatour.pt e página na rede social Facebook. 3

O projeto CREATOUR (projeto n.º 16437) é financiado pelo Programa de Actividades Conjuntas (PAC) do Portugal 2020, através do COMPETE 2020, POR Lisboa, POR Algarve e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

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Escrevam em Modo de Despejo! Vera Casaca (Argumentista e Realizadora de Cinema) quem nunca foi preguiçoso que atire a primeira pedra! Tem sido uma batalha escrever. Propusme a escrever um livro sobre um tema que me é próximo e sei que é relevante para a comunidade da sétima arte, mas tem sido uma luta. Admito que neste momento ser Verāo não ajuda, pois os quentes e longos dias resultam numa coisa tão fatal como a morte: a moleza do veraneana. Também admito que, quando quero terminar um bloco de trabalho, dá-me sede e vou fazer um sumo de melancia, o que resulta numa ida à cozinha. Mas passados 30 minutos parece que estou com fome. Vou só buscar qualquer coisa para trincar. Sento-me novamente para escrever o tal parágrafo. Parece que senti o telemóvel vibrar, deixame espreitar. Nada. Mas olha! Tenho aqui uma notificação, deixa espreitar. Ai, tenho xixi porque fiz o tal sumo de melancia. E levo o telemóvel para a casa-de-banho, e quando dou por mim já cai no precipício das redes sociais, e fiquei lá uma boa meia hora, nas redes e na casa-de-banho. Mas volto para escrever e agora vou só fazer uma pequena pausa e com as pernas para cima porque tenho varizes e no Verāo dói-me. E se fechar os olhos só um pouquinho porque estive muitas horas no computador (5 minutos)? E quando dou por mim abro os olhos, passaram duas horas e tenho a almofada com baba. E acordo transpirada porque está calor e vou tomar um duche. E assim se passa um belo dia produtivo.

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Gosto do Verão, mas, pessoalmente, nada se compara com uma boa chuvada lá fora, um chá ou um cappuccino a ferver, boa música e teclar sem parar das 6 da manhã até às 11 horas. Sou muito mais produtiva nos tempos frios. Se calhar devia emigrar para a Gronelândia, antes de ser comprada pelo Trump. Decidi partilhar um pouco desta minha frustração nas redes sociais. Onde sugeri que, se entrarem em modo de escrita, escrevam sem parar! Porque esse rasgo de inspiração é de aproveitar. Não olhem a vírgulas, regras linguísticas, erros ortográficos. Refiro-me obviamente ao primeiro rascunho. É que rever, editar, corrigir torna-se mais fácil quando se tem uma base. Olhar para uma página totalmente branca pode ser aterrador. Tenho a certeza de que quem está desse lado a ler, já passou por coisas semelhantes. Porque é difícil continuar a caminhar atrás da cortina, onde ninguém aplaude. No outro dia li que, quando queremos atingir os nossos objetivos/sucesso pessoal, temos de estar dispostos a sacrifícios. Tinha-me decidido a ter o primeiro rascunho do livro sobre 25 mulheres realizadoras até ao final de mês de agosto. Não atingi o objetivo. Cheguei a escrever 15 capítulos mal amanhados. Fiquei um pouco desapontada, porque sei que podia ter trabalhado mais, ter visto menos Netflix e ter dormido menos. Mas o passado já passou e o que me resta agora é tentar avançar mais um pouco, e ficar feliz por ter algo feito, ter conseguido escrever 90 páginas. Mas 140


melhor que nada! Sacrifiquei idas à praia e dias de lazer. Mas foi a minha própria mente que me atraiçoou, com uma procrastinação paralisante.

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Por isso, reforço, se forem iluminados por um rasgo: prego a fundo! Não deixem que a preguiça mascarada de perfeição vos pare. Boa escrita! . ALGARVE INFORMATIVO #220


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Saga (2) Fernando Esteves Pinto (Escritor) pancada fez-lhe estremecer o corpo. A comida que tinha na boca saiu esmagada como um vómito. Não é a primeira vez, estejam descansados. A senhora Rosa não se admira, sabe quando vai ser agredida. Tem a face esquerda do rosto vermelha, ainda com as marcas da mão do marido. Tem vinte e oito anos. A filha viu tudo e começa a chorar, sentada na frente dos pais. Um choro reprimido. Um soluço a apertar tudo o que se sente. Recorda-se. Um peso a comprimir tudo o que queremos sentir. O garfo foi parar debaixo duma cadeira. Silêncio. Silêncio fotográfico. O marido da senhora Rosa não dizia nada. Estava paralisado no acto que acabara de cometer. Um homem a retirar a mão da imagem que representava a agressão. A senhora Rosa sentia o seu passado a disparar imagens: uma pedrada na cabeça num caminho de cabras; um pontapé no joelho a escorrer sangue; bofetadas das irmãs superiores num colégio de freiras. Sempre o mesmo silêncio que desarmava o agressor. A culpa. Tinha esta qualidade, a vida devia-lhe isso. Limpou a boca e o peito com uma rodilha. Tudo passa. A mecânica dos actos humanos não fica suspensa no tempo. Esta dor a repetir o ataque no ouvido esquerdo, como se a vida nesse lado deixasse de fazer sentido. A filha sai da mesa. Os lábios inchados da senhora Rosa escondidos na rodilha. Os olhos, tudo o que temos para vermos como se sente. Um olhar que aflige a própria comoção, ali sentada ao lado do marido, talvez à espera de outra agressão. O tempo dirá, se for contra as boas práticas humanas. Se houver palavras para alimentar os maus ALGARVE INFORMATIVO #220

instintos, palavras mal calculadas que ponham em causa a justa interpretação das relações. O que pensa a filha. Está agora sentada no sofá na direcção dos olhos da mãe. Estão a comunicar em silêncio neste fio de medo que as une. Um dia a filha sentir-se-á enleada nesse fio, já crescida e revoltada e tão asfixiada, está-se mesmo a ver. O tempo a trocar as imagens à vida, e depois os filhos são as provas indisfarçáveis dos pais. A pior prova do que aconteceu. É um jogo, é preciso. Assim de repente, o corpo a abanar, a comida mastigada expulsa da boca. A senhora Rosa não se lembra de ter dito alguma coisa. Algum pensamento que se ouvisse. A língua mordida, a baba, tantos fios de socorro a sair-lhe dos olhos. A filha presa no soluço, a garganta fechada. Um risco de fogo, um cigarro aceso. Talvez um pesadelo de vozes na cabeça do marido. A mão treme-lhe, a linha do fumo sobe no ar. A vida é esta reprodução de imagens, nunca se sabe quem começou. Sabe-se quem vai continuar a reproduzir. A filha da senhora Rosa estava sempre presente, mas depois levantou-se da mesa e já se sabe. Tudo se vai repetir com ela. Damos vida ao tempo para que nada se esqueça. Doze anos depois, o passado volta a colocar-nos quase tudo à nossa frente. É obrigatório viver com este património. A senhora Rosa levanta-se e desaparece na cozinha. Ouve-se a água a correr. Mesmo sem vontade, o marido recomeça a comer. Se víssemos agora a senhora Rosa, não queiram saber. É desumano. A filha espeta o garfo na cabeça da boneca .

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OLHÃO FOI CAPITAL DO TURISMO DE NATUREZA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

zona ribeirinha de Olhão acolheu, de 20 a 22 de setembro, a primeira edição do Algarve Nature Fest, uma iniciativa da Região de Turismo do Algarve que contou com o apoio do Município de Olhão e que colocou ao dispor dos interessados ALGARVE INFORMATIVO #220

dezenas de atividades gratuitas. Na inauguração participaram os presidentes do Município de Olhão, António Miguel Pina, e da Região de Turismo do Algarve, João Fernandes, bem como representantes de outras entidades oficiais, que puderam assistir, junto à Ria Formosa, às muitas sugestões para praticar ao ar livre, na água ou em terra, como passeios de BTT 146


Fátima Catarino e António Miguel Pina

e bicicletas elétricas, caminhadas, passeios de segway, tiro com arco, parede de escalada, slide, surf mecânico, caiaque, air bungee, batismos de vela e de mergulho, birdwatching, zumba ou step. Na manhã de sexta-feira, cerca de 300 alunos das escolas do concelho de Olhão usufruíram das várias ofertas disponíveis no recinto, local onde também decorreu um mercado de produtores locais. E, na ocasião, o presidente da Câmara Municipal de Olhão destacou o facto do concelho ter sido escolhido para receber a primeira edição do Algarve Nature Fest, que veio substituir a Algarve Nature Week, iniciativa com a mesma génese, mas que decorria ao longo de uma semana. “Olhão tem-se afirmado nos últimos anos num turismo muito ligado à Natureza, daí a nossa prontidão em colaborarmos na 147

organização deste evento, que tenta promover o Algarve por via de novos produtos. Olhão quer assumir-se como Capital da Ria Formosa e produzir um conjunto de novas ofertas para um turista que tem vindo a mudar o seu perfil. A Ria Formosa, as Ilhas, a visitação a algumas espécies como o cavalo-marinho e, mais a norte, produtos como a Rota das Igrejas ou a Rota das Lendas, tudo se encaixa num Algarve que tem que se diversificar para se reinventar sistematicamente”, defendeu António Miguel Pina. Com mais de meio milhar de participantes inscritos nas diversas atividades dinamizadas, Fátima Catarino, vice-presidente da Região de Turismo do Algarve, aproveitou a oportunidade para elogiar o espaço ALGARVE INFORMATIVO #220


onde decorria a primeira edição do Algarve Nature Fest, assim como para agradecer à DGEstE – Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares pela organização do primeiro dia do evento junto das escolas do concelho de Olhão. Os dias 21 e 22 de setembro estiveram mais vocacionados para as pessoas que se inscreveram nas 32 atividades que foram lançadas antecipadamente, e cujas reservas esgotaram rapidamente. A estas somavam-se mais 16 atividades sem reservas que podiam ser desfrutadas por todos aqueles que visitassem o recinto, durante o fim-de-semana. “Houve igualmente ações B2B entre as empresas da região deste setor e os operadores turísticos, de forma a dinamizar ainda mais estes produtos. A Região de Turismo do Algarve tem vindo a apostar ALGARVE INFORMATIVO #220

cada vez mais no Turismo de Natureza e noutros produtos que atenuam a sazonalidade da procura turística, porque o Algarve é muito mais do que sol, mar e golfe”, salientou Fátima Catarino. Segundo a Vice-Presidente da RTA, em 2020 prevê-se que se façam 26 milhões de viagens, em toda a Europa, de Turismo de Natureza, sabendo-se ainda que os principais mercados que procuram este produto são também aqueles que mais buscam o Algarve, casos do inglês, holandês, francês e alemão. “É importante que lhe ofereçamos condições para praticar turismo de natureza, que normalmente ocorre fora da época alta”, reforçou Fátima Catarino . 148


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SEIVA DINAMIZA CERCA DE 60 INICIATIVAS EM TODO O ALGARVE EM PROL DO DESENVOLVIMENTO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina SUSTENTÁVEL

Aquiles Marreiros, Francisco Serra, Paula Vaz, Ana Paula Lopes, Catarina Cruz e Vera Conceição

terceira edição da SEIVA – Semana de Educação e Iniciativas de Voluntariado Ambiental desenrola-se de 25 de setembro a 4 de outubro, chegando pela primeira vez aos 16 concelhos do ALGARVE INFORMATIVO #220

Algarve com cerca de 60 iniciativas que pretendem mobilizar as comunidades escolares e a população em geral para a reflexão dos principais desafios do desenvolvimento sustentável e da importância da sua participação nos processos de tomada de decisão, de modo a contribuir para a gestão participada dos recursos e para o 156


aprofundamento de conhecimentos científicos e didáticos dos docentes e de outros agentes de educação para a sustentabilidade. O evento é promovido pela Agência Portuguesa do Ambiente, através da Administração da Região Hidrográfica do Algarve, em parceria com várias entidades regionais e nacionais, e decorre ao longo de 10 dias, numa alusão aos 10 anos de existência do projeto «Voluntariado Ambiental para a Água». Ao todo serão 11 seminários/ações de formação/workshops, um acampamento de Voluntariado Ambiental para a Água (3 dias), 19 atividades de voluntariado ambiental, 24 visitas a infraestruturas e equipamentos de educação ambiental, uma sessão de Curtas-Metragens e três exposições sobre temáticas ambientais. Realce para a realização, no dia 1 de 157

outubro, Dia Nacional da Água, de dois seminários em Olhão promovidos pela APA-ARH Algarve, subordinados ao tema «Ciência Cidadã e Voluntariado». Durante a manhã, dedicada aos mais jovens, serão divulgadas Boas Práticas e, no seminário da tarde, vocacionado para agentes de educação para a sustentabilidade, serão apresentadas comunicações da Universidade do Algarve e da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve sobre Comunidades e Cidades Sustentáveis. Estes seminários culminarão com a cerimónia de entrega de Certificados de Mérito «Voluntariado Ambiental para a Água 2019», que tem como intuito distinguir pessoas e entidades pelo seu empenho e trabalho de excelência desenvolvido, no último ano, em atividades de educação e ALGARVE INFORMATIVO #220


voluntariado ambiental, de entre os vários parceiros envolvidos - Escolas Ensino Básico e Secundário, Universidade do Algarve, Centros de Ciência Viva, Associações, entre outros -, sendo reconhecido a alguns o seu papel decisivo na operacionalização deste projeto desde o seu início, na qualidade de «Embaixadores do Voluntariado Ambiental para a Água». O programa foi dado a conhecer na tarde do dia 23 de setembro, na sede da CCDR Algarve, cuja participação na SEIVA2019, assim como da Europe Direct Algarve, tem como objetivo a divulgação do trabalho desenvolvido em torno da Economia Circular, dando a conhecer o esforço da União Europeia na senda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. “É um programa importante do ponto de vista da cidadania e da divulgação dos grandes temas societais do presente, mas também para se saber o que as entidades ALGARVE INFORMATIVO #220

públicas estão a fazer para os colocar nas suas agendas. O mais importante, contudo, é que as pessoas mudem efetivamente os seus comportamentos no dia-a-dia com vista a um consumo mais sustentável dos nossos recursos”, defendeu Francisco Serra, presidente da CCDR Algarve. “Nos países desenvolvidos do Ocidente temos um olhar sobre as questões da sustentabilidade ambiental típico de quem já está no patamar de conforto e qualidade de vida que sempre ambicionou, e mudar comportamentos não é fácil. Ninguém está disponível para usar menos água para lavar o jardim ou tomar banho, o que se traduz numa pressão cada vez maior sobre esse recurso”, observa o dirigente. Para Francisco Serra, é fulcral olhar-se seriamente para a capacidade de renovação dos recursos ditos, salve a 158


redundância, renováveis, até porque os povos de continentes que ainda não atingiram o mesmo patamar de desenvolvimento do Ocidente têm esse objetivo em mente, o que, por sua vez, causa maior pressão sobre o consumo dos recursos. “Enquanto nós estamos aqui a falar de reutilizar materiais, de preservarmos a qualidade da água, de racionalizar o seu consumo, temos que perceber que a nossa ação, por si só, não vai diminuir em absoluto esse consumo. Não podemos pensar apenas no nosso bem-estar, mas também no daqueles que estão em patamares de desenvolvimento inferiores ao nosso e que almejam ter a mesma qualidade de vida que nós felizmente temos. Quem tem mais deve estar disponível para partilhar e, neste caso, isso significa consumir menos para que os outros possam consumir mais”, entende o presidente da CCDR Algarve. Um «sacrifício» que traz consigo também oportunidades na chamada «economia circular», com Francisco Serra a abordar o Plano da Energia 2030 desenvolvido no âmbito do Conselho de Inovação Regional do Algarve, em que um dos objetivos é produzir-se, na região, hidrogénio verde. “A ideia é produzir-se células de combustível que são muito mais eficientes e duradouras que as baterias atuais de armazenagem de energia, e a partir de energias limpas”, revela, antes de realçar, novamente, o contributo de iniciativas como a SEIVA para a educação e divulgação de princípios que ajudem a alterar comportamentos menos corretos. “Costumo utilizar uma frase que normalmente deixa as pessoas um pouco baralhadas, mas, neste tipo de coisas, 159

temos que dar uma certa liberdade ao caos. Quando tentamos controlar o caos, concentramos todas as atenções num pequeno número de unidades. Se, por outro lado, permitirmos que cada um faça a sua parte, tendo como elementos centrais uma gestão comum e visão partilhada, o resultado final é mais satisfatório e sem tanto desperdício de tempo e energia”, acredita.

SUSTENTABILIDADE É UMA RESPONSABILIDADE DE TODOS A iniciativa da APA-ARH Algarve é coordenada por Paula Vaz, que sublinhou a importância das parcerias para a concretização da SEIVA, cujas sementes brotaram do encontro regional realizado em torno do projeto «Voluntariado Ambiental para a Água» até se transformar numa Semana de Educação e Iniciativas de Voluntariado Ambiental. “As nossas atenções estão concentradas na gestão dos recursos hídricos da região, mas também nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Temos uma qualidade de vida da qual não nos queremos desapegar, e quem a não tem faz de tudo para a ter. O que temos feito ao longo destes 10 anos é alertar que a felicidade não está no «ter», mas no «ser». Parece um chavão, mas é a pura realidade”, frisou a técnica da ARH Algarve. A SEIVA 2019 chega, na sua terceira edição, a todo o território do Algarve, para satisfação de Paula Vaz, que ALGARVE INFORMATIVO #220


lembra que o evento é apenas uma pequena mostra daquilo que é feito pelos vários parceiros ao longo do ano. “Precisamos mobilizar a sociedade no seu global, que os cidadãos sintam que isto é uma responsabilidade de todos nós, e não de uma instituição qualquer que tem que fazer tudo. As pessoas normalmente acordam por períodos, ficam todas muitas agitadas com esta ou aquela temática, mas depois não se passa nada. A atitude mais correta é percebermos o que realmente é importante para as nossas vidas e eventos como a SEIVA são um excelente contributo. É um trabalho de anos, de muitas parcerias, e de continuidade, a que, felizmente, as escolas estão a aderir cada vez mais, e de uma forma mais séria”, enalteceu Paula Vaz. O Europe Direct Algarve dá uma ajuda substancial à SEIVA 2019 na ligação das várias atividades, um esforço grande que deixa entusiasmada Ana Paula Lopes, que chamou a atenção para o documento «Rumo a uma Europa Sustentável». “Fala daquilo que os 28 membros da União Europeia têm feito para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e vai ser dado a conhecer na Fortaleza de Sagres. Este ano, na SEIVA, estamos a incidir sobre o ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, que também já divulgamos na Feira da Dieta Mediterrânica de Tavira e vamos voltar a fazê-lo noutros eventos”, indicou Ana Paula Lopes. “E a CCDR Algarve e a ALGARVE INFORMATIVO #220

Europe Direct Algarve assumiram o desafio da cobertura territorial e de diferentes públicos, lançando atividades próprias nos concelhos que ainda não estavam contemplados pelo programa da SEIVA”, acrescentou Aquiles Marreiros. “A consciencialização para a sustentabilidade ambiental não se deve limitar ao público escolar, mas a toda a população”, justificou o Diretor de Serviços da CCDR Algarve. O programa da SEIVA2019 pode ser consultado em https://www.facebook.com/seiva.algar ve/ . 160


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FC PORTO VENCEU AZEMAD ELITE CUP DE HÓQUEI EM PATINS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Sigmastars

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s oito melhores equipas do hóquei em patins português mediram forças no Portimão Arena, entre 20 e 22 de setembro, para decidir quem levantaria o troféu relativo à 4.ª Elite Cup. FC Porto, campeão nacional em título, Sporting, campeão europeu e detentor da última Elite Cup, Oliveirense, vencedor da última Taça de Portugal, Benfica, triunfador do troféu em 2017, Óquei de Barcelos, HC Braga, Paço de Arcos e Juventude de Viana foram as equipas em prova.

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A final do torneio nacional de préépoca mais importante, sob a chancela da Associação Nacional de Clubes de Patinagem, seria vencida pelo FC Porto, depois de bater, no dia 22 de setembro, o Sporting nos livres direto por 2-1 (após o 2-2 no tempo regulamentar). O portista Tiago Rodrigues foi também eleito o MVP do torneio. A última posição do pódio foi ocupada pelo Benfica, que que levou a melhor sobre o Juventude de Viana no jogo de atribuição do 3.º e 4.º lugares .

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #220

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