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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 12 de outubro, 2019
«LAVRAR O MAR»| FESTIVAL OUT-(IN)VERNO | «CATAMARû| CHOQUE FRONTAL AO VIVO 1 ALGARVE INFORMATIVO #222 FESTIVAL DE ESTÁTUAS VIVAS | «CIÊNCIACOMVIDA» | SARA NAVARRO | «JAZZ NAS ADEGAS»
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22 - «Lavrar o Mar» volta a Aljezur e Monchique
94 - FOMe levou «Histórias Suspensas» ao Teatro Lethes
152 - Estátuas Vivas em Albufeira
58 - Sara Navarro tem novo projeto ALGARVE INFORMATIVO #222
72 - Isa Mestre lança livro do «Ciênciacomvida» 10
36 - «Jazz nas Adegas» em Silves
118 - Filipe Raposo e Rita Maria à conversa no Cine-Teatro Louletano
110 - Festival Out-(in)Verno
46 - «Catamarã» em Loulé
82 - Vítor Bacalhau animou «Choque Frontal ao vivo» em Portimão 11
OPINIÃO 130 - Paulo Cunha 132 - Mirian Tavares 134 - Ana Isabel Soares 136 - Fábio Jesuíno 138 - Fernando Esteves Pinto 140 - Vera Casaca ALGARVE INFORMATIVO #222
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LAVRAR O MAR VOLTA A LEVAR AS ARTES AO ALTO DA SERRA DE MONCHIQUE E À COSTA VICENTINA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Cosa Nostra, Cooperativa Crl
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quarto capítulo do projeto «Lavrar o Mar – As Artes no Alto da Serra e na Costa Vicentina», parte integrante da quarta edição do programa «365 Algarve», é motivado pela terra, “um elemento físico que acolhe e propulsiona a vida, mas também um lugar nostálgico que nos chama quando nos afastamos e ao qual queremos regressar, lembrando-nos das cores, dos cheiros e das ligações de uma infância distante”, explicam os Diretores Artísticos e Programadores, Giacomo Scalisi e Madalena Victorino. De acordo com os responsáveis da COSANOSTRA, o programa promove um olhar atento sobre a terra e o que ela representa, “numa tentativa de ALGARVE INFORMATIVO #222
reconciliação e valorização deste elemento que nos foi próximo durante milhares de anos e do qual nos viemos a distanciar e a utilizar exaustivamente nos últimos tempos”. Assim, após uma edição inspirada pelo ar e repleta de espetáculos lotados, o quarto ciclo do «Lavrar o Mar» é caracterizado por uma programação mais vasta e arrojada. “Começamos com um espetáculo de novo circo aéreo e cantado, «Les Princesses», que humaniza e dessacraliza o mundo mágico dos contos de fadas infantis. Parte-se de uma abordagem atual e adaptada aos dias de hoje, repleta de humor, que mostra as características, os defeitos e vícios que uma princesa (ou um príncipe) teria na atualidade de um ponto de vista pouco correto aos olhos de outrora”, explica a dupla. 24
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Segue-se um novo capítulo da saga «Medronho» e, acompanhando o ciclo natural da terra e do fruto, optou-se por realizar este espetáculo durante a fase da apanha do medronho. E é precisamente isso que o público será convidado a fazer, apanhar medronho como as pessoas da Serra de Monchique já fazem há muitas gerações. “Será um dia de partilha, com momentos intercalados de representações teatrais e trabalho de (e no) campo”, adiantam Giacomo Scalisi e Madalena Victorino. Do medronho faz-se a passagem para o bacalhau, o mais português dos peixes que também fala norueguês, com o espetáculo «Presente de César», uma representação teatral que decorre em torno de um jantar de bordo com uma ementa especial que incluirá bacalhau e batata doce, já que ALGARVE INFORMATIVO #222
estará integrada no Festival da Batata Doce de Aljezur. O público ficará a conhecer um pouco sobre a realidade das campanhas de pesca do bacalhau, assim como os desafios, dinâmicas e vicissitudes que a atividade implicava. “Ouvimos a história dos homens que escolheram o frio, o nevoeiro e a solidão e que viviam numa dicotomia constante entre terra e mar”, desvendam. Para o final do ano de Monchique está preparada a proposta mais arrojada de novo circo alguma vez realizada no «Lavrar o Mar», tentando-se acompanhar uma procura cada vez mais expectante por este momento e trazendo-se um conjunto de espetáculos muito diferentes entre si, em vez de apenas um, como tem vindo a acontecer desde o início do projeto. «Novo Ano 26
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Novo Circo» é o nome escolhido para esta festa que terá um foco especial na noite da passagem de ano, onde se poderá contar com um concerto da recém-estreada Orquestra Vicentina, além de todas as comidas e bebidas que farão parte deste momento. «Les Princesses» vai a cena, em Aljezur e Monchique, de 17 a 27 de outubro, pelos franceses «Cheptel Aleïkoum». De acordo com a sinopse deste espetáculo de Novo Circo Aéreo e Cantado: “Os contos ajudam as crianças a aceitarem-se, a confortaremse e a ultrapassar os seus grandes medos. Os contos acompanham-nos para podermos afrontar as forças canibais, ultrapassar as turbulências da puberdade, ajudando a tornar-nos adultos. Abriram-se os cofres fortes da infância, à procura de uma recordação mágica, de onde pudessem emergir imagens dos contos ALGARVE INFORMATIVO #222
antigos: uma vida que se conta dentro do nosso castelo interior, construída como um cogumelo. Um pequeno espaço feito de feltro, como uma caixinha de iniciação, onde se murmuram segredos e medos, revelados pela força das lendas e onde as palavras são sussurradas e cantadas. Aqui, o gesto do circo conta, na sua intimidade, tanto a dor como a graça, evocando um sacrifício antepassado. O que é uma princesa hoje? Muitas coisas! Uma maneira de falar do amor”. De 1 a 3 de novembro vai-se apanhar então o medronho em Monchique. “Agora que o drama do fogo se sedimenta na nossa memória, como uma cicatriz com a qual vamos sempre viver, é possível voltarmos ao ciclo do medronho nos locais onde este não desapareceu. Regressamos assim aos 28
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nossos Romeu e Julieta Monchiquense, onde contaremos com a presença dos quatro intérpretes que compõem esta saga. Desta vez, o enredo debruça-se na apanha do medronho que é realizada em plena serra, entre medronheiros, e explora o trabalho duro da colheita, com as canções e as merendas que acompanham esta etapa”, revela Giacomo Scalisi. De 28 de novembro a 8 de dezembro acontece «O Presente de César», um teatro culinário idealizado igualmente por Giacomo Scalisi e que vai a cena em Aljezur e Monchique. A peça consiste na história de César Tróia e da sua família, fala do bacalhau, o mais português dos peixes que fala norueguês, das terras de Aljezur e dos bancos da Terra Nova ao largo do Canadá. “Nestas terras onde o peso da saudade faz parte do ser e da 31
alma, o reencontro tem o sabor acre, amargo, salgado. O sabor a bacalhau. O sabor que faz parte da nossa história. A nossa história de dureza além-mar onde os homens escolhem o frio, o nevoeiro, a solidão. E esta solidão fica para sempre dentro deles. Mesmo numa casa povoada de família, preferem estar sós e só pensam em voltar, marear, pescar. Pescar longe do mundo, pescar longe do ser. Nessas terras onde o peso da saudade faz parte de nós”, descreve Giacomo Scalisi. “O espetáculo está integrado no Festival da Batata Doce de Aljezur e é também um jantar de bordo com uma ementa especial, composta por sopa, prato e sobremesa e, claro, o vinho que o nosso chef gosta muito, mesmo muito”, acrescenta o diretor artístico. ALGARVE INFORMATIVO #222
De 27 de dezembro a 5 de janeiro, os franceses «Le P’Tit Cirk» trazem a Monchique o novo circo «Les Dodos». Dodos que são uma espécie de ave que se extinguiu por ser demasiado desajeitada para sobreviver, já que não sabiam voar, nem nadar e eram demasiado ingénuos para enfrentar a dureza da vida. “Este pássaro era fisicamente o oposto do acrobata e, no entanto, são ambos igualmente inconscientes. Viajam entre o medo e a ingenuidade, a vida e a sobrevivência. O espetáculo é composto por cinco músicos acrobatas que elaboram modelos de micro-sociedades expressas através de jogos de relações sensíveis de fragilidade, poder e benevolência. A hostilidade do mundo condena-os a inventar mecanismos de sobrevivência freneticamente irrisórios, como as tentativas improváveis de escapar à gravidade através de uma imaginação sem limites. E será um espetáculo cuja respiração será ritmada pela música das guitarras, do contrabaixo e do violino. ALGARVE INFORMATIVO #222
Também de 27 de dezembro a 5 de janeiro decorre em Monchique «Forever, Happily…, da companhia belga «Collectif Malunés». Diz a sinopse que os sete anões da Branca de Neve querem reunir todas as princesas na sua tenda de circo. Uma floresta encantada, a Pequena Sereia, Hänsel e Gretel (ou João e Maria), e todo o universo dos contos de fadas… desde maçãs envenenadas a chinelos mal colocados, os acrobatas tropeçam no seu capuz vermelho e contam-nos o que precede a história conhecida por todos. Mas aqui nem tudo é maravilhoso e as relações humanas são tão frágeis quanto cómicas. Aqui, as vestes sufocam as princesas, os lobos ficam aterrorizados e os príncipes morrem de exaustão, num espetáculo que esgota a superficialidade desse «mundo maravilhoso» deslocado da realidade, trazendo uma visão moderna, viva e atual, mas também ridícula . 32
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JAZZ NAS ADEGAS RECOMEÇOU COM SESSÃO ITINERANTE SOBRE O PATRIMÓNIO DE SILVES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Jazz nas Adegas está de regresso para a sua quarta edição e começou, no dia 5 de outubro, com uma sessão diferente e itinerante, que permitiu aos participantes conhecerem e desfrutarem do património ALGARVE INFORMATIVO #222
histórico e monumental da antiga capital do Algarve. «Feel Good Band» foi o convidado musical que, ao longo do percurso por diversos locais importantes da cidade, conduziu musicalmente uma viagem na qual o jazz visitou Silves. O público deslocou-se em três grupos organizados e guiados por trajetos 38
musicais, o que fez desta uma sessão especial e diferente. A «Feel Good Band», composta por Rui Silva (saxofone alto), Paulo Raminhos (saxofone alto), Pedro Sousa (saxofone tenor), Eveline Sakkers (saxofone barítono), Govert Sakkers (baixo elétrico), Paulo Franco (baterista) e Carlos «Shaka» Santos (guitarra e direção musical) apresenta um reportório constituído por temas que vão desde a «Pink Panther» até «Tequila», «I Feel Good» passando por «Stolen Moments» e «Sidewinder» ou «Misty» pautando as suas atuações por um ambiente descontraído e cheio de ritmo e groove. É formada por alunos da classe de combos da Associação Filarmónica de Faro – AFF.
diferentes, que passaram pela Praça AlMuthamid, Castelo de Silves e Museu Municipal de Arqueologia de Silves, culminando no Teatro Mascarenhas Gregório, onde se assistiu ao concerto final. Em todos os pontos de paragem houve degustação de vinhos de produtores do concelho de Silves e momentos 39
O «Jazz nas Adegas» é organizado pela Câmara Municipal de Silves e integra, mais uma vez, a programação cultural do «365 Algarve», contando com produção artística do Ginásio Clube de Faro. A iniciativa pretende dinamizar culturalmente os locais onde se produzem os «Vinhos de Silves», numa simbiose entre o vinho, o seu produtor e a música, proporcionando uma experiência única ao público, em locais pouco usuais para a apresentação de um concerto de Jazz. Procura ainda valorizar todo o património material e imaterial do concelho, dando-o a conhecer através de uma experiência e um contacto diferente com o mesmo . ALGARVE INFORMATIVO #222
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«CATAMARû DE RICARDO NEVES-NEVES E ANA LÁZARO FOI A CENA NO CINE-TEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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ATAMARÃ, a peça do Teatro do Eléctrico criada por Ana Lázaro e encenada por Ricardo Neves-Neves, subiu ao palco do Cine-Teatro Louletano, de 1 a 10 de outubro, com interpretação dos atores Susana Madeira e Vítor Oliveira. Ao longo de 13 sessões destinadas às escolas do 1.º Ciclo do concelho de Loulé e mais três para as famílias e público em geral, tentou-se perceber o que fazia uma menina chamada «Catamarã» com um menino chamado «Peixe Bolha», no cimo de um terraço, durante horas infindáveis, daquelas que não cabem numa máquina de calcular? E a resposta é que as duas crianças davam voltas ao mundo, à cidade, distanciavam-se e tornavam a encontrar-se com a maior das certezas: a de terem construído uma amizade. Nesta peça divertida, alegre e cheia de magia aborda-se a relação entre um rapaz – o Peixe-Bolha, que está muito zangado com as palavras, e uma rapariga – a Catamarã, que sonha um dia viajar de barco até ao Pacífico. A peça fala também de erros ortográficos, de significado e significante, de letras e palavras fora do lugar e de como esta desarrumação pode mudar o sentido de tudo. E a reação dos mais jovens à nova criação da dupla Ana Lázaro e Ricardo Neves-Neves, que já assinara a peça «Soberana, Mãe Soberana de Loulé», foi muito gratificante, demonstrando a pertinência da aposta estratégica do CineTeatro Louletano na área da Arte para a Infância, em que se pretende um envolvimento regular de escolas, educadores e crianças na sua programação artística . 49
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“A ARTE POR VEZES TEM QUE SER INCÓMODA E LEVANTAR QUESTÕES”, ENTENDE SARA NAVARRO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #222
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novo projeto da escultora Sara Navarro levou-me por duas vezes às instalações da «Terracota do Algarve», um telheiro situado em Vale Mealhas, no concelho de São Brás de Alportel, primeiro para mais uma cozedura, depois para o desenfornar final das suas peças. Melhor dizendo, fragmentos, quiçá centenas deles, porque aqui o processo artístico como que se inverteu. O produto final será apresentado na exposição «Creative (un)making: disruptions in art/archaeology», que estará patente no Museu Internacional de Escultura Contemporânea de Santo Tirso, de 6 de março a 21 de junho de 2020, com curadoria de Doug Bailey. E o contributo de Sara Navarro será «Beyond ALGARVE INFORMATIVO #222
Reconstruction», uma instalação que faz parte da investigação de pósdoutoramento, na área das Ciências da Arte e do Património, que está a desenvolver na Faculdade de BelasArtes da Universidade de Lisboa e que conta com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. “Parti da investigação de uma figura préhistórica da Europa de Leste, uma figura antropomórfica, que depois realizei num trabalho prático de escultura numa escala completamente oposta à original, que é uma miniatura, mais ou menos do tamanho de uma mão. A minha tinha dois metros, passou-se da miniatura para o gigante, para algo que é maior que nós e que colocava a figura numa posição totalmente diferente em relação ao observador”, começou por explicar Sara Navarro. 60
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Numa segunda fase a figura foi cortada, à mão, com uma faca, em largas centenas de fragmentos que foram posteriormente cozidos na «Terracota do Algarve», para depois serem então expostos no Museu Internacional de Escultura Contemporânea de Santo Tirso. Portanto, inverteu-se o processo normal da escultura no âmbito de um projeto coletivo que aborda precisamente uma ideia disruptiva, a desconstrução de peças. “Aquilo que nos chega do passado por via da arqueologia vem muitas vezes desconstruído, seja porque assim aconteceu, efetivamente, no seu contexto original, ou pelo tempo e pelas sucessivas ações a que as peças foram sendo sujeitas. Aqui houve uma aceleração propositada desse processo de desconstrução, apesar de existirem dois níveis de fracturação da peça. Há uma parte controlada por mim nos ALGARVE INFORMATIVO #222
cortes que eu dou, outra que resulta da explosão das peças durante a cozedura”, esclarece a entrevistada, antes de iniciar a tarefa de tirar as peças do forno. Podia-se quase dizer que estamos perante um puzzle, se bem que impossível de montar, porque, ao cortar as peças com a argila em cru, Sara Navarro já está a deformar os fragmentos. E mesmo sabendo que, na exposição, eles irão aparecer de forma organizada, essa organização é forçada, esclarece a escultora. “Tenho todos os fragmentos da peça, mas houve alterações e é impossível obter a figura original. Do mesmo modo que nós podemos tentar construir o passado, mas há sempre limitações e nem sempre conseguimos chegar às coisas como elas eram na realidade. 62
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Tentamos também estabelecer algum pensamento sobre o património arqueológico, se podemos encarar tudo de outra maneira através da ligação da arte e da arqueologia. A arte, em vez de tentar construir o passado, poderá criar novas interpretações contemporâneas de artefactos ligados ao passado”, entende a artista. Arte e Arqueologia que, segundo Sara Navarro, não chocam, antes pelo contrário, podem complementar-se e foi isso que a juntou a Doug Bailey, arqueólogo e professor da Universidade de São Francisco, nos Estados Unidos da América. “Tem sido uma interessante colaboração que nos está a permitir chegar a ideias muito originais e que esperamos conseguir transmitir aos observadores desta exposição. Se calhar muitas pessoas vão-se questionar sobre 65
aquilo que vão ver, porquê destruir uma peça para se observar apenas os seus fragmentos. Mas, se fosse só a peça, diziam que estava bonita, ou não, e acabava-se aí a discussão. Assim, vão continuar a pensar e esse é o papel da arte”. Sara Navarro acredita, assim, que ao desconstruir a sua peça irá dar azo a múltiplos pensamentos, mas o projeto até surgiu de modo não propositado, nesta colaboração com Doug Bailey, especificamente para a exposição de Santo Tirso. “A ideia inicial era aumentar a escala das figuras e tentar perceber o que isso iria provocar junto do observador. A questão do cortar apareceu de uma forma natural e encaixou-se muito bem no projeto”, admite. “Na escultura existe uma estrutura de metal onde vamos ALGARVE INFORMATIVO #222
colocando a argila e modelando. Se, num desenho, temos um esquiço que podemos amarrotar e deitar fora, na escultura, se não estamos satisfeitos, tiramos o molde e aproveitamos a argila para outra peça. Eu já tinha feito a minha primeira experiência de modelação, com 80 a 90 centímetros, mas decidi recomeçar o processo e, ao retirar a argila, a peça começou a ganhar novos contornos que me pareciam mais ALGARVE INFORMATIVO #222
interessantes do que a figura toda modelada e representativa do pensamento original”, descreve.
CONSTRUIR PARA DEPOIS DESCONSTRUIR O tempo ia passando e Sara Navarro ia tendo mais interesse pelo que estava a 66
Atividades Criativas de Lagos, que me voltou a acolher neste projeto. Como não tenho um atelier próprio, é fundamental este tipo de apoio da parte das associações culturais, mas também de empresas como a «Terracota do Algarve», caso contrário, precisava de uma quinta com um espaço ao ar livre onde pudesse fazer uma fogueira para cozer os fragmentos, o que era impossível por estarmos em plena época de fogos”.
tirar ao modelo do que ao próprio modelo em si, porque a parceria com a arqueologia levou-a a dar mais valor aos fragmentos. “Normalmente, na escultura, o que tiramos ao modelo é o excesso, aquilo que não queremos e deitamos fora. O mais importante é o que fica agarrado à estrutura. Aqui funcionou ao contrário”, frisa a entrevistada, confirmando que o processo foi moroso e também doloroso. “A peça foi feita no LAC – Laboratório de 67
A residência artística de Sara Navarro no LAC começou em março, fez-se a estrutura, a argila veio de um telheiro em Montemor-o-Novo, que também tem experiência em proporcionar residências artísticas e vender as suas pastas para produção artística. Modelar a figura demorou mais de um mês, com alguns percalços pelo meio, pois chegaram a cair 200 quilos de argila no chão. “Estava habituada a utilizar uma técnica a rolo, em que fazia as paredes e o interior era oco, neste caso tudo era compacto. Antigamente, quando via rachas, tapava-as, agora, ia ver o que se passava e, às vezes, existiam grutas onde quase podia colocar o meu braço. Notava que a peça era pesada, estável, mas, ao mesmo tempo, havia ligeiros movimentos que provocaram algumas derrocadas e tinha que começar tudo de novo”, lembra. Mais fácil dizer do que fazer porque, numa peça com quase 400 quilos, tudo é gigantesco, doloroso, exige imensa paciência, até se chegar ao produto final. Final que, como já se percebeu, foi ALGARVE INFORMATIVO #222
apenas um recomeço, porque depois foi necessário cortar a peça. “Fiz tudo num dia, foi uma maratona de loucos, gestos repetidos centenas de vezes e, à meianoite, tive que ir para o hospital tratar da mão, estava toda esfacelada. Ia cortando a peça, algumas pessoas iam levando os fragmentos para o hangar central do LAC e, quando terminei, estava o chão todo ocupado. Vai ser uma instalação com cerca de 50 metros quadrados”, antevê. Depois, os fragmentos ficaram perto de um mês a secar, seguindo-se o processo de empacotamento para levar para a «Terracota do Algarve», onde a cozedura foi dividida em quatro momentos distintos. O que obrigava a regressar uns dias depois para recolher os fragmentos, levá-los para casa, lavá-los, identificá-los, empacotá-los e começar tudo de novo. “Houve alturas em que pensava que estava louca, foram meses passados a ALGARVE INFORMATIVO #222
evitar que esses fragmentos se voltassem a fragmentar durante os transportes, feitos no meu próprio carro, que tem uma capacidade limitada”, reconhece, com uma risada. Crucial em tudo isto foi, sem dúvida, a colaboração da «Terracota do Algarve», que depressa se disponibilizou para ajudar a escultora no que fosse necessário. “Arranjaram uma maneira de eu fazer aquilo que sabia fazer, ou seja, cozer na fogueira, ao invés de eu ter que adaptar-me ao que eles tinham. Reativaram um forno antigo de propósito para mim e, em vez de estar a fazer uma fogueira ao ar livre, quase uma queimada, o fogo aqui está condicionado num poço entre quatro paredes e não há qualquer perigo de incêndio”, enaltece Sara Navarro, não poupando elogios a esta empresa de 68
São Brás de Alportel. E, embora ainda faltem alguns meses para a inauguração da exposição, as peças têm que estar finalizadas com bastante antecedência. “A Autarquia de Santo Tirso tem que disponibilizar orçamento para o transporte, o que significa que precisam saber com exatidão o número de peças e de caixas, quanto pesa cada uma. Estou a limpar as peças, depois é identificá-las, ainda tenho que organizar tudo aquilo que tirei da fogueira. Porque há peças carimbadas e que estão exatamente iguais aos fragmentos que recortei da figura, outras explodiram no forno e dividiram-se em duas, há umas maiores, outras são quase lascas de cerâmica. Quando tiro as peças do forno acabo por estar numa situação parecida à arqueologia, há que decidir o que tem valor ou não, o que tem informação ou interesse cultural”, compara a entrevistada.
Navarro. “O meu trabalho tem as dinâmicas de prática artística e de investigação artística. O que estará exposto no museu será mais ligado à arte, no catálogo da exposição estarão as minhas bases da investigação”, acrescenta, referindo ainda que este projeto de pós-doutoramento tem um horizonte temporal de seis anos, estando-se sensivelmente a meio do percurso. “Estão previstas pelo menos mais três exposições, mas agora as baterias estão apontadas para Santo Tirso” .
Resta saber qual será a reação do público a este dissecar da escultura, se irão perceber o que se pretende atingir com esta desconstrução, até porque não existirão painéis explicativos na exposição. “O interessante da arte é que não explique coisas, que ela não se encerre em si mesma. É um museu de escultura contemporânea e pretendemos levar as pessoas a questionar-se, algumas vão perceber umas coisas, outras vão perceber outras coisas, e não há um certo ou errado. O importante é que haja abertura a diferentes interpretações”, considera Sara 69
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«CIÊNCIACOMVIDA» DE ISA MESTRE DÁ A CONHECER O LADO HUMANO DOS INVESTIGADORES E CIENTISTAS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Dulcineia Dias ALGARVE ALGARVE INFORMATIVO INFORMATIVO #222 #222
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iênciacomvida» é um apanhado de histórias com gente dentro, porque Isa Mestre é uma apaixonada por histórias, por contálas na primeira pessoa, e ainda melhor se forem experiências de vida com ciência e investigação à mistura. Por isso, conforme explica a responsável pela comunicação do CBMR – Centro de Investigação em Biomedicina da Universidade do Algarve, convidaram-se investigadores para partilharem um pouco dos seus percursos pessoais e profissionais e assim se deu a conhecer ao grande público os rostos e as vozes de alguns portugueses que vão fazendo ciência, em Portugal e por esse mundo fora. O projeto começou com um sítio da internet, uma carolice de Isa Mestre para dar resposta à paixão de contar histórias, aliada às suas tarefas profissionais do diaa-dia. “À medida que ia entrando nesta área das ciências «mais duras», fui constatando que estava a aprender tantas coisas com estas pessoas que até seria um crime não as partilhar com o público. Por isso, a ideia foi transformar a minha vivência quotidiana com os cientistas em algo que pudesse transmitir conhecimentos e ensinar qualquer coisa às outras pessoas”, explica, no seu gabinete no polo das Gambelas da Universidade do Algarve. As histórias foram sendo partilhadas no site http://cienciacomvida.pt/ e nas redes sociais e o feedback foi logo bastante positivo, porque, de facto, a sociedade civil não tinha ideia do que estava a ser feito ALGARVE INFORMATIVO #222
nos gabinetes destes cientistas. “Tentamos abordar a ciência e a investigação realizada a partir da história de vida dos seus protagonistas. Interessava-me particularmente humanizar a figura dos cientistas, porque há aquela ideia generalizada de que são figuras muito fechadas no seu trabalho, o que não corresponde de todo à verdade. Há pessoas com imensas histórias para contar, com experiências de vida 74
riquíssimas, passaram por vários países, com amplos trajetos profissionais”, esclarece Isa Mestre, confessando que, inicialmente, os próprios entrevistados não achavam que as suas vidas teriam algum interesse para o cidadão comum. “O certo é que, enquanto íamos conversando, as histórias iam surgindo, coisas fantásticas a que eles não davam o devido valor. Na maior parte das vezes aconteceu tudo de forma natural e, depois de verem a peça montada, ficavam bastante contentes 75
com o resultado. Conjugar a sua dimensão mais humana com o trabalho que realizam diariamente é o que dá vida e gozo a este projeto. Foi difícil ao princípio exporem-se, contudo, depois de verem o produto final, a forma como a sua vida era «cosida» com a sua investigação, ficavam satisfeitos”. Histórias de vida conjugadas com uma forte componente visual, com ALGARVE INFORMATIVO #222
fotografias que ajudam o leitor a compreender o que estes investigadores fazem, por onde andaram, por aquilo que passaram. “Uma das nossas investigadoras foi a primeira bióloga a estar em Moçambique e, enquanto ela me ia relatando as suas histórias, eu já estava a imaginar tudo na minha cabeça. Depois, quando me deu as fotografias, consegui visualizar na perfeição tudo o que me tinha dito. A imagem é fundamental para se captar públicos e estas pessoas foram extremamente generosas quando me abriram, a mim e ao público, as portas dos seus gabinetes”, destaca a autora, cujo primeiro pedido que fazia aos entrevistados era que lhe explicassem as coisas como se fosse uma simples miúda, alguém que não percebesse nada de ciência. “Se eu não compreendesse o que ALGARVE INFORMATIVO #222
eles me estavam a contar e explicar, o mesmo iria suceder com os leitores, pelo que tentavam usar metáforas, uma linguagem em que se percebesse o que estava ali em jogo. Claro que, ao longo do processo, também houve um grande cuidado da minha parte para não escrever asneiras”, admite, com um sorriso. “Tentei sempre confirmar com eles, depois das reportagens estarem escritas, se cientificamente estava tudo correto e de uma forma que o público conseguisse apreender. O fundamental é que as pessoas verificassem qual o impacto real destes 11 cientistas nas suas vidas”, enfatiza. Porque, efetivamente, um dos principais problemas com que se debatem os investigadores é a falta de 76
reconhecimento público que a maior parte do seu trabalho acaba por ter, já que fazer ciência é um processo rigoroso e que demora muitos anos até entrar pela vida das pessoas adentro. “A nossa missão é precisamente contrariar essa realidade. As descobertas não se fazem de um dia para o outro, mas é preciso ir dando conta daquilo que está a ser feito, sem, no entanto, se darem esperanças infundadas às pessoas. Um investigador pode estar a trabalhar num indicador tumoral que, daqui a uns anos, poderá vir a ser usado numa clínica, ou que já está em fase de testes, mas não podemos com isso dizer que descobriu a cura para o cancro. O importante é que as pessoas saibam que não estamos a partir do zero e que certos dados que temos hoje como adquiridos foram
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possíveis graças ao trabalho daquele cientista”, refere Isa Mestre. É disso exemplo Teresa Dinis, que os espanhóis dizem ter escrito a «Bíblia do Mar». Ou Pedro Oliveira, que escreveu o seu nome na página dourada do genoma humano. Ou tantos outros que estão a trabalhar diariamente, longe das atenções do grande público, e que demonstram que Portugal também é rico em craques da ciência. “Neste livro estão 11 cientistas de áreas e ramos completamente diferentes, das humanidades às ciências, uns são investigadores seniores com provas dadas, outros são mais jovens, e alguns tiveram que ir para o estrangeiro para finalmente obterem o reconhecimento que mereciam dentro do seu próprio país”, admite Isa Mestre.
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“O livro é um apanhado de histórias e rostos que se escondem por detrás da ciência em Portugal, porque muitas vezes estão a trabalhar na sombra e há que trazê-los a público, mostrar o que estão a produzir para bem de todos nós”.
SEGUNDO LIVRO NA CALHA O projeto do «Ciênciacomvida» cresceu de tal forma que Isa Mestre chegou à conclusão que merecia mais do que um simples sítio na internet, algo até mais nobre. “A web é fantástica em termos de difusão, mas um livro é um objeto físico, mais íntimo e sentimental. Como estamos a falar de histórias pessoais, achei que fazia todo o sentido, que seria uma forma de honrar estes cientistas”, justifica a autora, aproveitando para dedicar o livro a Vítor Reia, “meu mestre e meu amigo, por me ter aberto as portas deste admirável mundo novo”. Depressa se apercebeu, todavia, que conceber um livro é bem mais complicado do que publicar textos e fotografias num sítio da internet, mas o produto final é, sem dúvida, extraordinário, aliando-se uma paginação simples, minimalista, mas extremamente atrativa e dinâmica, às histórias destes 11 investigadores. “O livro acaba por ter mais conteúdos do que o site, o que implicou, de facto, muito trabalho, para mim e para todos os envolvidos no projeto. Os próprios investigadores tiveram que me arranjar mais fotos ou informações e o prefácio foi escrito pela professora Mirian Tavares, por quem tenho muita estima e que se movimenta há bastantes anos neste universo dos investigadores. ALGARVE INFORMATIVO #222
Foram, pelo menos, seis meses a construir o livro, mas foi um prazer enorme, deu-me uma grande satisfação”, garante. E a constatação do mérito da obra é que contou com inúmeros apoios de importantes entidades e instituições, com Isa Mestre a enfatizar o contributo do «Ciência Viva», em cujos canais de distribuição vai circular o «Ciênciacomvida». “Começou tudo num plano mais local, no seio do CBMR e da Universidade do Algarve, mas está a ganhar asas e vamos conseguir distribuir além-fronteiras. A ideia é fazer um segundo livro, provavelmente com uma abordagem diferente, ou seja, não iremos disponibilizar os conteúdos todos no site, servirá apenas para abrir o apetite. A próxima convidada é uma das principais médicas do «Médicos do Mundo», pois queremos alargar o projeto a outros campos, contar outro tipo de histórias”, desvenda a entrevistada, não negando que a responsabilidade, agora, é maior. “O molde das conversas será o mesmo, mas já existir um livro publicado aumenta, sem dúvida, a responsabilidade, mas também a credibilidade do projeto. Não sei se iremos conseguir manter a espontaneidade das conversas porque já se sabe que, no futuro, elas irão fazer parte de um livro, mas a passagem para o papel dá mais nobreza a tudo”, analisa. “Uma das minhas grandes preocupações é que estas pessoas não são vistas, mesmo estando a realizar um trabalho fundamental”, conclui . 78
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VÍTOR BACALHAU DESLUMBRANTE EM MAIS UM FANTÁSTICO «CHOQUE FRONTAL AO VIVO» Texto: Júlio Ferreira | Fotografia: Vera Lisa
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6 de setembro de 2019 foi uma noite especial, por muitos motivos. Estávamos nervosos, ansiosos, mas o ambiente foi (como sempre) espetacular, a equipa junta e a remar toda para o mesmo lado, o músico ultra generoso e talentoso, ali ao nosso lado, a ajudar-nos em cada momento. Amigos e desconhecidos na primeira linha do nosso olhar, ligação direta aos afetos, em todas as músicas, nos olhares que se cruzaram, nos nossos gestos, nos gestos generosos de gente amiga, e daqueles que pela primeira vez entraram na nossa «sala de estar». Como principal convidado Vítor Bacalhau. O Bluesman algarvio escolheu este programa para lançar, em primeira mão, em estreia mundial, o seu mais ALGARVE INFORMATIVO #222
recente trabalho, o EP «I am Living». Nasceu em Faro, como podia ter nascido no Mississipi ou mesmo em Chicago, mas foi em Londres que despertou para esse gênero e forma musical originado por afro-americanos no extremo sul dos Estados Unidos em torno do fim do século XIX. Uma semana antes, os mais de 120 lugares esgotaram em apenas seis horas e Vítor Bacalhau não desiludiu. Visionário, contra corrente tantas vezes, fiel a si próprio e em tudo o que foi acreditando ao longo da sua (ainda curta) vida, é um artista superior, um virtuoso músico, e deixa canções incríveis. O cântico do imenso talento deste Bluesman (orgulhosamente) algarvio, sempre pessoal, íntimo e dorido, mas sempre atento à evolução das plataformas e conhecedor da 84
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posição da sua música e do respeito que tem conseguido através da sua arte, profissionalismo e humildade, surpreendeu com este novo trabalho recheado de criatividade, emoção, com desconcertantes doses de profissionalismo e pormenor. Vítor Bacalhau brindou todos os presentes com uma pequena amostra do grande talento que a nossa região produz e que nós esperamos continuar a promover. Vítor Bacalhau acabou por desvendar um pouco dos sonhos e pesadelos dessa enorme partilha que se chama música, deixou espectativa de um EP recheado de coisas boas e surpreendentes que pode ser ouvido em vinil, numa edição limitada de 100 cópias. No seu mais recente EP «I am Living» há aqui Albert, B.B. and Freddie King, Hozier, James Bay. Há laivos de cowboyadas dos anos 70. Um cocktail ALGARVE INFORMATIVO #222
explosivo gravado no Algarve, finalizado por Vítor e Budda Guedes nos estúdios da Mobydick Records, em Braga, onde também foram gravadas as participações de dois convidados especiais: João Andresen, um emergente talento da harmónica em Portugal, que com o seu contributo enalteceu bastante as raízes do Blues presentes neste disco; e Rita Sampaio nas backing vocals, vocalista da banda «Grandfather’s House», dona de uma voz cheia de alma que deu um toque Soul à sonoridade do disco. Podemos encontrar em «I am Living» um som que faz com que, de repente, pareça existir esperança para Blues e roots music, que virá. Vítor Bacalhau demonstrou 86
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no «Choque Frontal ao vivo» que é um caso único de um performer capaz de fazer música muito boa e ser unânime, mesmo entre aqueles que não apreciam: têm de respeitar o trabalho deste grande e humilde geniozinho. As letras têm dentro todo o mundo em que nos movemos e um ambiente descomprometido de festa que transformam este EP em algo muito especial. Foi bonita a festa. Orgulho e gratidão em partes iguais para o Nuno, a Teresa, o pessoal do TEMPO, para a Vera e Figueiras, com as fotografias que só eles conseguem que fiquem assim, para Luís Rocha, esse amigo e excelente profissional (a suportar tecnicamente tal aventura), para a estreia (também ela mundial) da tela pintada em exclusivo para o nosso programa do João Sena, esse terceiro ALGARVE INFORMATIVO #222
mosqueteiro que de pincel em punho nos surpreende a cada dia e a cada hora. Porque o «Choque Frontal ao Vivo» associa à música, outras formas de arte! Orgulho e gratidão em partes iguais, aos generosos músicos, à incrível generosidade do público que nos comove com a sua alegria, o seu carinho, a imensa consideração por nós e pelo nosso trabalho. O «Choque Frontal ao Vivo» é um sonho que se cumpre, todos os meses. Com convidados que foram e serão sempre a parte principal da magia, companheiros nesta aventura. Com ouvintes que gostam de nós e não vacilam nesse gostar. Conhecem-nos. Sabem do que somos feitos. Estão connosco. Sempre. 88
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«HISTÓRIAS SUSPENSAS» E «GINODRAMA» DELICIARAM OS ESPETADORES DO FOME Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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FOMe – Festival de Objetos e Marionetas & Outros Comeres, organizado pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve durante o mês de setembro, levou ao rubro as largas centenas de algarvios que assistiram a cerca de cinco dezenas de espetáculos realizados em seis concelhos do Algarve Central e um dos momentos mais impactantes foi proporcionado por «Histórias Suspensas», da Radar 360º de Matosinhos, que praticamente esgotou o Teatro Lethes, em Faro, no dia 21 de setembro. O espetáculo de teatro físico e novo circo colocou em palco três narradores de histórias, cujos corpos e vozes saltavam para dentro das histórias, agindo e reagindo através de voos, voltas e reviravoltas. Criaram-se desvios que levaram a assistência a outras pequenas histórias e a ideia de suspensão aconteceu na ação e no enredo, que surpreendeu a cada momento, sempre numa toada muito bem-disposta. De acordo com a companhia de Matosinhos, ALGARVE INFORMATIVO #222
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“o tempo nas histórias, ou pára ou passa muito rápido, mas aqui suspende-se no olhar de quem assiste e partilha esta aventura”. E, de facto, a história da Branca de Neve e dos 7 Anões, apesar de ser sobejamente conhecida por miúdos e graúdos, cativou o público do princípio ao fim. O projeto «Histórias Suspensas» da Radar 360º criou um volume, que às vezes se confunde com uma casa ou com um armário. Ali se guardam segredos, com as portas a abrirem-se e a fecharem-se e a exporem e ocultarem, desse modo, personagens e situações. “Neste armário de fabricar sonhos as possibilidades são infinitas, e o limite é a própria imaginação”, garante a coreógrafa e Diretora Artística Joana Providência, sobre uma peça em que os intérpretes e cocriadores são António Franco Oliveira, Filipe Caldeira e Julieta Rodrigues e Rui Paixão. E o final foi, sem dúvida, inesperado, numa noite hilariante e surpreendente. ALGARVE INFORMATIVO #222
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No dia 25 de setembro foi a vez da sede do Instituto Português do Desporto e Juventude de Faro acolher «Ginodrama» da companhia italiana Crochet Puppet Theatre. Gino é um homem de meia idade que fantasia sobre outras vidas possíveis, que o cativam a ponto de começar a acreditar nas suas próprias mentiras. Nunca assumiu um risco na sua ALGARVE INFORMATIVO #222
vida e agora tem que soprar a poeira dos velhos sonhos que manteve escondidos por muito tempo. Fantasmas do passado, disfarces estranhos, músicas estridentes e danças pungentes, tudo isso faz parte da estranha fábula de um homem excêntrico e sua solidão, num conto tragicómico de uma marioneta solitária magistralmente concebido e manipulado por Carolina Khoury . 104
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FESTIVAL OUT-(IN)VERNO PROMOVE AS ARTES, A ASTRONOMIA E O PATRIMÓNIO Texto: Daniel Pina| Fotografia: David Santos
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Festival Out(in)Verno pretende colocar em perspetiva paisagens que revelam um enorme charme sob diversos ângulos e que merecem ser partilhados com quem visita o Algarve. Por isso, os diversos programas propostos foram concebidos para explorar o património material e imaterial de São Marcos da Serra, Vila do Bispo e Lagoa e, a partir disso, convidar a celebrar o passado e o presente da população local. O Festival apresenta um tríptico que assenta em três eixos – Arte, Astronomia e Património – concentrando diversas propostas que trabalham em três dias, três lugares e três estações e que, ao mesmo tempo, são pensadas na globalidade, tais como exposições (Chaminés Algarvias e Algarve-Bipolaridade), caminhadas (diurna e noturna com elementos surpresa), concertos temáticos (Elementos II e Pulsar Marítimo), Oficinas (Culturais e Astronomia), Visitas (pelas ruas de São Marcos e a uma destilaria tradicional de licor e medronho), Baile de Danças Tradicionais Europeias (concerto-baile e oficina) e Astronomia (Observação do Sol com animação de rua e Observação noturna do céu). É oferecida também a possibilidade aos participantes de acamparem gratuitamente em São Marcos da Serra, o que permite uma usufruição total de toda a programação proposta. A empresa de animação turística «Céus do Sul» é o promotor principal deste evento que faz parte da quarta edição do «365 Algarve», mas irá coproduzir o ALGARVE INFORMATIVO #222
Festival Out-(in)Verno em parceria com a Questão Repetida - Associação Cultural. «Céus do Sul» é um observatório de Astronomia Móvel que opera em diversas localidades do Algarve e que tem o seu foco no astroturismo, mas sentiu necessidade de dinamizar a sua atividade criando um conceito que, para além de enriquecer a divulgação da Astronomia, permite fazê-la interagir com outras atividades lúdico-culturais. Já a «Questão Repetida», enquanto associação cultural que se dedica às artes do espetáculo, assume a parte da programação no que toca a música, teatro e artes de rua. David Santos, Ana Falé e Elsa Mathei são os rostos por detrás do Festival Out(in)Verno e querem provocar as três localidades propostas com esta programação. Assim, a Arte, Ciência e Património assumem dinâmicas opostas, mas entrelaçam-se permanentemente, e é sobre esse desafio que a programação foi pensada, promovendo um diálogo mais poético do que empírico. “Explorar esta tricotomia através de diversos cruzamentos itinerantes permite mergulhar numa dimensão onde se propicia uma relação de colaboração, de inter-percepção das diferentes dimensões e da capacidade de insinuar-se ao público. Trabalhamos o mistério entre os opostos, tanto olhamos para o que está para além do mundo, como os receios que nos traz o micromundo. Pelo meio estão as pessoas, as suas rotinas, a necessidade e o conforto assente no passado e o desconforto do futuro, da incógnita que representa, e do ritmo que dita 112
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uma adaptação constante”, explicam os mentores do projeto, adiantando que estes opostos são trabalhados: “Quando colocamos em perspetiva a exploração do céu e dos seus mistérios, revelando receios e um espanto com a sua beleza. Quando projetamos a Memória Coletiva, fortalecida e torneada pela música e quando o presente serve a memória futura. Quando usamos Arte para descrever Ciência e reforçamos a sua interdependência na história. Quando se cria Arte utilizando e divulgando Ciência. Quando o Património se torna num laboratório de Arte e Ciência. E quando o legado musical consegue fundir-se com o património arquitetónico e projetar o património popular”, descrevem. O Festival pretende atuar como uma chamada de atenção para a atual poluição da luz, porque, no entender da organização, “a escuridão da noite sempre foi uma fonte de inspiração para muitos artistas, representando o medo e os perigos, em completa oposição ao dia”. “Há muitas ligações surpreendentes entre Astronomia e Música, nomeadamente Johannes Kleper descobriu a verdadeira natureza planetária quando tentou aplicar princípios matemáticos da harmonia musical às suas órbitas, pelo que ele «estará» connosco. Há muitos diálogos a estabelecer entre os três eixos e o programa ambiciona caminhar por eles ao longo de intensos três dias, cheios de cruzamentos. Todo o espaço irá ser trabalhado e adequado criando ambientes e atmosfera envolvente, com recurso a iluminação, cenografia, multimédia e/ou outros elementos que destaquem o património, a música e o ALGARVE INFORMATIVO #222
lugar em si”, revelam David Santos, Ana Falé e Elsa Mathei. Ainda de acordo com os criadores do Festival Out-(in)Verno, a população de São Marcos da Serra, Lagoa e Vila do Bispo concentra uma enorme diversidade de pessoas, tanto locais como visitantes, e permite que a sociedade seja detentora de uma multiculturalidade humana única e de referência no país. “Pretendemos aproveitar este panorama favorável e 114
trabalhá-lo numa dimensão cultural, como ponto de partida para a promoção da integração e a defesa da identidade local, que só enriquecem e permitem a compreensão dos processos de coexistência. Os turistas atuais procuram dinâmicas diferentes, conhecer e integrar a comunidade local perfila esse ponto, pelo que iremos partir da utilização do património material e imaterial para alicerçar essa convivência global e, ao mesmo tempo, incentivar os públicos locais a desenvolver uma rotina 115
de consumo cultural. Outro ponto central são o acolhimento às famílias, com diversas propostas para todos os públicos, quebrando a formalidade que alguns formatos poderão assumir”. O evento terá lugar, em São Marcos da Serra, nos dias 1, 2 e 3 de novembro; em Vila do Bispo, nos dias 28 e 29 de fevereiro e 1 de março de 2020; e em Lagoa, nos dias 8,9 e 10 de maio de 2020 . ALGARVE INFORMATIVO #222
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RITA MARIA E FILIPE RAPOSO DERAM CONCERTO-TERTÚLIA NO AUDITÓRIO DO SOLAR DA MÚSICA NOVA Texto: Daniel Pina Fotografia: Jorge Gomes
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prestigiada cantora Rita Maria e o reconhecido pianista Filipe Raposo foram os convidados de mais uma sessão da rubrica «Conversas à Quinta», uma iniciativa regular do Cine-Teatro Louletano que aconteceu, no dia 3 de outubro, no Auditório do Solar da Música Nova, em Loulé, em torno das comemorações do Dia Mundial da Música. A vertente do Pensamento associado às artes performativas, num estímulo constante do espírito crítico, do debate e 121
da partilha de ideias e experiências, é fundamental na estratégia de programação do Cine-Teatro Louletano. Nesse sentido, foi endereçado um convite a Rita Maria (voz) e Filipe Raposo (piano) para darem a conhecer os seus percursos, cumplicidades e visões, numa tertúlia em que a conversa e a música ao vivo deram o mote para uma noite muito especial na companhia de duas grandes figuras do panorama musical português. Filipe Raposo e Rita Maria, “amantes artísticos que se reconheceram à distância pelas afinidades que possuem”, gravaram um disco juntos, lançado em agosto de 2018, intitulado «Live in Oslo» e já ALGARVE INFORMATIVO #222
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aclamado pelo público e pela crítica. Nesse álbum sente-se uma confluência de géneros que vai do cancioneiro popular português ao norte-americano e ao jazz, passando por temas de José Afonso ou Zeca Medeiros, até canções de Gabriel Fauré ou Henry Purcell. Distinguida com o prémio «Artista do Ano» pela Festa do Jazz, Rita Maria está ligada ao jazz desde a adolescência. Integra os projetos «Stockholm Lisboa Project» e «Saga Cega» e já colaborou com artistas como Afonso Pais, Mário Laginha e Sara Serpa. Filipe Raposo, pianista, compositor e orquestrador, tem formação em piano e composição, compôs para teatro e cinema, trabalha recorrentemente com nomes como Sérgio Godinho, Amélia Muge e José Mário Branco, e editou três álbuns em nome próprio .
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Para que a escola seja a segunda casa, a casa deve ser a primeira escola Paulo Cunha (Professor) empre que escrevo ou comento algum artigo sobre ensino/aprendizagem, invariavelmente, alguém o complementa com uma frase carregada de indiscutível sentido: Para que a escola seja a segunda casa, a casa deve ser a primeira escola. Sendo este um dos princípios essenciais do Movimento Pais Sem Pressa (Slow Parenting Movement), é difícil tentá-lo passar à prática quando grande parte dos alunos chega à escola com aprendizagens de base pouco consistentes. Já por mais de uma vez referi que a educação é uma chave mestra que abre imensas portas, dando a quem a possuir o poder de se sentir em casa onde quer que esteja. Mas, para que assim seja, é preciso que os pais se apercebam da importância da sua presença efetiva e qualitativa na formação e educação dos seus filhos. Não se assumindo como professores (que não o são), os pais, sem se darem conta, fazem da sua casa uma escola, ensinando sobretudo através do exemplo. Ao longo da minha carreira docente, sempre consegui observar no comportamento dos meus alunos a forma de estar e de atuar do agregado familiar. Tal como uma janela para os seus lares, a forma como interagem entre pares e com os restantes funcionários escolares indicia a postura e o acompanhamento dos seus encarregados de educação em ALGARVE INFORMATIVO #222
casa. Nas reuniões gerais de encarregados de educação é possível a qualquer diretor de turma mais atento observar características comportamentais similares entre pais e filhos, corroborando assim a tese que o contacto, a observação e a partilha constituem também uma importante e insubstituível escola. Como será possível querer tornar a Escola uma enorme casa partilhada, quando parte dos seus membros não conhece, não respeita, nem cumpre as mais elementares regras de vivência e convívio social? A título de exemplo, basta observar os jovens que se juntam nas greves globais pelo clima, mas que, em contexto escolar, contribuem para diversos tipos de poluição do seu/nosso pequeno meio ambiente. Viverão assim em casa? Não há, efetivamente, pano que disfarce a nódoa em que consiste a falta de princípios básicos de civismo e de respeito democrático. A forma como nos tratamos uns aos outros talvez seja a lição de vida mais importante que aprendemos em casa. Respeitamo-nos? Somos corteses? Demonstramos emoções? Honramos a privacidade? Assumimos e partilhamos as tarefas domésticas? Conciliamos o nosso tempo com o tempo dos outros? As respostas a estas perguntas indicar-nosão o tipo de educação que os nossos 130
filhos levam de casa para a escola. A educação, o respeito, a ética, o amorpróprio e o saber viver em comunidade são lições de vida adquiridas no meio familiar. Se tivermos a capacidade de encarar e lidar positivamente com situações adversas, também os nossos filhos terão a resiliência como uma característica comportamental que os diferenciará dos demais. Muitos professores queixam-se que os alunos vão para a escola só para brincar e curtir. Infelizmente, nalguns casos, assim é. Sem tempo para conviver e brincar fora da escola, a escola passou a ser um enorme espaço de convívio, onde há tempo para o tempo sonegado à sua vida enquanto jovens. Penso que uma parentalidade consciente e assumida pressupõe que se façam escolhas com base no que consideramos ser o melhor para os nossos filhos, mantendo-nos íntegros e fiéis aos nossos valores, mas concedendo-lhes, ao mesmo tempo, a possibilidade de viver – plenamente – a sua juventude. Para que a Escola possa ser a desejável extensão do lar, é importante que os nossos filhos passem mais tempo com a família, afastem-se por determinados períodos dos meios tecnológicos ao seu 131
dispor, comecem novas amizades, privilegiem o uso dos sentidos de forma fruitiva, beneficiem do nosso apoio nas suas atividades extracurriculares, brinquem e convivam entre si e desfrutem a sua fase etária sem o peso e a obrigatoriedade dos compromissos e dos limites impostos pelo «mundo dos adultos». Sejamos, simplesmente, pais que, sem pressa, respeitam o crescimento dos filhos, dando-lhes, através do nosso exemplo, bases e estruturas sólidas para que possam fazer da Escola a sua segunda casa. Enquanto pai e professor, eu gostaria! . ALGARVE INFORMATIVO #222
OPINIÃO
Um milhão de dólares Mirian Tavares (Professora) “...all these things were part of the business of dreams. He had learned not to laugh at the advertisements offering to teach writing, cartooning, engineering, to add inches to the biceps and to develop the bust”. Nathanael West
o final da aula, a aluna vem ter comigo. Queria saber qualquer coisa sobre o trabalho e percebi que tinha os olhos marejados. Sempre tive imensa dificuldade em entrar na vida das pessoas que não conheço bem, tenho um enorme respeito pela intimidade alheia e o meu primeiro impulso foi o de ignorar suas quase lágrimas. Mas o meu lado maternal, que viu diante de mim uma miúda de 19, 20 anos, no primeiro ano da universidade, quiçá longe de casa, fez com que eu guardasse as minhas reservas e lhe apertasse, carinhosamente o ombro e perguntasse se podia ajudar, se ela tinha amigas com quem falar. Ela, muito tímida, disse que estava tudo bem e que as amigas a esperavam lá fora. E saiu. São tantos os alunos e alunas a quem olho nos olhos e vejo que ocultam alguma dor ou um grande desassossego e eu me sinto tão impotente. Mesmo que eles se abrissem e falassem comigo sobre o que os aflige, eu não os poderia ajudar. Porque são muitos e porque não sou capaz sequer de ajudar os que estão mais próximos. E são muitos os jovens que andam por aí perdidos e de olhos marejados, não apenas porque é normal, nestas idades, sentirem-se assim – o ritual de passagem da adolescência para ALGARVE INFORMATIVO #222
a idade adulta é duro e quase ninguém passa por ele incólume. Mas o desassossego que os aflige é de outra ordem. Ouso dizer que é um mal du siècle: uma doença dos nossos tempos em que temos tanto e tão pouco. Tanta informação e tão pouca formação para lidar com o volume de imagens, textos, áudios e vídeos que são consumidos aos milhares diariamente. Tantos exemplos de gente que obteve sucesso instantâneo, e tão poucos os que conseguem repetir este feito. Tanta coisa para comprar; para usar; para vestir; tantas causas por que lutar ou assinar petições e, ao mesmo tempo, tão pouco tempo para ouvi-los, a cada um, nas suas pequenas dores, muitas vezes insignificantes diante de causas mundiais, mas profundas e marcantes para quem as sente e que teme partilhar. Li, há anos, o livro de Nathanel West, «A Cool Million: The Dismantling of Lemuel Pitkin», publicado pela primeira vez em 1934. É uma sátira brutal a autores otimistas que acreditavam num país em crescimento e nos jovens empreendedores que teriam todos direito, se trabalhassem para isso, ao seu milhão de dólares no final. E é o que andamos a prometer aos nossos jovens: 132
se eles trabalharem bem, se forem empreendedores, alcançarão a Terra Prometida. E cabe a eles, sozinhos, chegarem lá. É uma missão individual e individualista. Não são os pais, a família, o Estado que podem criar condições razoáveis para que as pessoas possam todas competir em pé de igualdade, é um trabalho solitário. E claro que, nestas 133
idades, a solidão é um bicho de sete cabeças e o medo de falhar e a dificuldade em enfrentar as falhas, que nos fazem humanos, vão entristecendo os nossos jovens que não querem ser empreendedores, mas que não sabem bem como poderão, cada um a sua maneira, ser felizes . ALGARVE INFORMATIVO #222
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Do Reboliço #58 Ana Isabel Soares (Professora) Reboliço passou a maior parte da vida naquele moinho. As voltas que já deu ao socalco, à parede redonda, à copa do limoeiro, ao poço, às mós e às rodas dentro do cilindro, os círculos que as velas fazem nas varas, tudo em redondo, recordam-no que o mais certo é ter-lhe o moleiro dado aquele nome para não destoar do que compõe o ambiente circular do Moinho Grande. Se alguém ali aparecia, era certo que regressava, como volta ao mesmo ponto uma roda, outra vez, a tocar o mesmo lugar do chão, quando se move. Não voltando, era que se detivera o andar das rodas, que cessara o movimento, finara-se alguém. De igual modo os trabalhos eram circulares, levavam o tempo que teria de correr o globo do mundo – o poço, por exemplo. Quem o pensou para ali já se lembrou disso teria o moinho para cima de seis décadas. Feito o poço, furada a terra até onde se achou água (para aqueles lados tem de ser fundo, que é escasso o bem), teve de se engendrar modo de fazer com que a água andasse ao contrário do que é devido pelas leis do planeta: que, em vez de descer, subisse. Dos muitos companheiros de trabalho do moleiro, houve um, o Manuel da Fábrica, que teve a ideia de instalar no poço uma bomba de água. Ora, estas obras eram coisa que se ia fazendo quando o permitia o trabalho dos dias. Era aos fins de semana, juntava-se um grupo de homens e, está bem de ver, onde se juntam homens para trabalhar há que haver comida que comer e bebida que beber, saía a obra, mas lenta, enquanto o convívio parecia que passava depressa demais. Galinha ou duas, ou um galo, sendo pombos teriam de ser mais, aviava-se um ou dois bichos, e na pinga – da venda do Ti’ Passinhas, casa da cidade – iam ALGARVE INFORMATIVO #222
outros tantos garrafões. Havendo pinga, havendo bucha, saíam mais refinadas as artes dos homens. Um destes convivas era um tio do moleiro, espirituoso espírito, além de comedora carne. E assim foi que, de tal alma e de voz tal, surgiram as rimas que, desde então, o Reboliço ouve quando no Moinho Grande se junta um punhado de gente. E não deixa de se espantar quando repara que, assim como giram as velas, as mós, as voltas que ele dá ao socalco, a parede do Moinho Grande, a copa do limoeiro, lançados os versos, voltam e tornam a voltar. «Décimas à bomba de água», da autoria de Manuel Fernandes (Beja, 1956-57) MOTE Manuel da Fábrica fez uma bomba Que até trabalha sozinha. Não tira é água nenhuma, Mas tira carne de galinha. GLOSAS I É um dos melhores artistas Que temos nesta cidade. Eu confesso a verdade: Faz tudo às primeiras vistas, Tem por isso muito valor; Trabalha que é um primor, A sua ideia não tomba. Vai êxitos alcançando, Para a frente trabalhando – Manuel da Fábrica fez uma bomba. II Levantara o seu nome assim, Fazendo estas obras de arte. 134
Foto: Vasco Célio
Tem encomendas para toda a parte: Isto não mais terá fim. Faz tudo muito bem feito, Pois é em tudo perfeito. Na marcha principal caminha, Trabalha à sua vontade. Eu confesso a verdade: Que até trabalha sozinha. III O homem já se aborrece De tanta encomenda que tem! Pois vejam lá isto bem, O que esta ideia merece: Merece ser bem puxada Para ver se não esquece. Dou a minha opinião, em suma, Que se faça a propaganda. 135
Tem fama em toda a banda, Não tira é água nenhuma. IV Vou dar-lhes uma novidade Que faço eu muito bem, Que não se descubra a ninguém. É esta toda a verdade: A bomba faz uma fineza, Digo isto com vaidade, E pela verdade caminha. Não tira água na certeza, Trabalha que é uma beleza, Mas tira carne de galinha . *Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #222
OPINIÃO
O poder das notícias falsas na era digital Fábio Jesuíno (Empresário) mundo digital revolucionou a forma como comunicamos, permitiu dar voz a qualquer indivíduo, mas, ao mesmo tempo, deu voz a campanhas de desinformação através das «fake news». O termo «fake news», ou notícias falsas, ficou popular em 2016, durante as eleições dos EUA, devido às polémicas que foram criadas nas redes sociais envolvendo vários políticos e até governos externos. Foi um momento que ficou marcado pela confusão que gerou na sociedade norte-americana e pela influência que teve nos resultados nas eleições, que ainda está a ser investigado. As notícias falsas são graves ameaças às democracias e muitas vezes utilizadas como meios de interferência nos processos eleitorais, que se veio a verificar depois nas eleições presidenciais brasileiras de 2018, onde recentemente a plataforma WhatsApp confirmou o envio de propaganda e informação falsa na sua rede. A importância do jornalismo e os meios de comunicação social independentes ganham atualmente maior relevância na
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nossa sociedade, mesmo passando por dificuldades, são uma plataforma de confiança e de liberdade, principalmente neste mundo cada vez mais digital. Uma confiança que deve ser preservada e ampliada pelos governos com mecanismos de ajudas adaptados às novas realidades. Atualmente é muito importante ter uma sociedade que saiba identificar notícias falsas, situação que ainda não acontece na maioria da população dos países da união europeia, onde só 48 por cento dos portugueses admitiu, num estudo realizado recentemente pela Comissão Europeia, conseguir identificar notícias falsas, um valor que está abaixo da média da União Europeia. Uma das maiores convicções do pensamento contemporâneo é que a internet, que deu origem às plataformas digitais, como o Facebook, YouTube e Twitter, está a transferir o poder dos governos para a sociedade civil. Fazendo com que alguns países ataquem a liberdade da internet, como acontece na Rússia, China, Cuba e Turquia, que censuram claramente informações críticas .
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OPINIÃO
Saga (3) Fernando Esteves Pinto (Escritor) senhora Rosa lembra-se de a mãe a meter num comboio em Monção com destino ao Porto. Depois um comboio mais rápido numa viagem até Lisboa. Tinha dez anos. A mãe da senhora Rosa sofria de uma doença nos pulmões. Hoje é um daqueles dias em que a senhora Rosa só lhe apetece falar sozinha. A viagem é longa e desconfortável. Falar consigo mesma como se escutasse as palavras altas no seu pensamento. A beleza do pensamento quando não está ninguém por perto a ouvi-la. A mãe da senhora Rosa vendeu tudo o que tinha e ia tentar a cura e a sorte em Cascais. Tudo pela doença e pelos filhos. Dez filhos entregues a dez famílias abastadas. Um rapaz bêbado andava aos tropeções contra os bancos na coxia da carruagem do comboio, incomodando as pessoas que estavam sentadas a dormitar. O pensamento da senhora Rosa é inteligente quando não tem de abrir a boca para tentar explicar o que sente. Tem buracos no cérebro onde as palavras se escondem. Em casa da patroa a senhora Rosa tinha dez anos. Ajudava a governanta na cozinha e nos quartos. Lavava o chão de joelhos e levava pontapés nas pernas quando se cruzava com o filho da patroa. O menino era da idade dela e um dia talvez fosse um político famoso ou um canalha. A senhora Rosa escondia as lágrimas como agora esconde as palavras que não sabe pronunciar correctamente. Se fosse a correr para a senhora patroa a queixar-se, era posta na rua. Esfregar o chão daquela casa tão grande como a sua aldeia era mais ALGARVE INFORMATIVO #222
penoso do que subir os montes de pedras com as cabras. A mãe da senhora Rosa ficou internada num hospital, mas antes deu um destino aos filhos. Os pobres têm esta preocupação de morrerem descansados. Não querem levar tristeza na alma. A senhora Rosa era mal alimentada e desfalecia durante a prática dos serviços domésticos. A governanta encontrava-a estendida no chão sem forças e a soluçar. O corpo magro numa poça de água e uma barra de sabão junto ao balde de zinco tombado. O filho da patroa puxava-lhe os cabelos e se calhar hoje é um velho crápula reformado. A senhora Rosa perguntava-lhe muito a medo por que razão o menino lhe batia. É a brincadeira dos opulentos que encontram na maldade o prazer da felicidade. A senhora Rosa pensou fugir daquela casa, mas a fuga era um caminho sem saída. O mesmo se pode dizer das suas palavras como um pensamento que só ela ouve. Há uma lista de comportamentos que lhe passara pela cabeça quando era miúda. Esteve para ingerir veneno, para evitar que o sacana do miúdo nunca mais lhe fizesse mal. Hoje deve ser doutor e boa pessoa. Pensava na mãe doente e nos irmãos espalhados pela cidade de Lisboa. A bondade é uma máscara que esconde os interesses de quem providencia o bem. A escrava Rosa teve uma educação absolutamente dedicada ao trabalho. O comboio circulava lento como nesse tempo de joelhos com um pano à frente a esfregar agoniada da fraqueza da infância. A governanta comia escondida na copa os 138
restos da satisfação dos patrões. O prazer de uns é uma questão de sobras de outros. O pensamento da senhora Rosa é mais belo e inteligente que as suas palavras. Nunca fora estimulada a exteriorizar as suas emoções. As ferramentas da obrigação nunca lhe permitiram comunicar em voz alta o que o seu pensamento segregava dentro de si. A mãe da senhora Rosa piorou dos pulmões e fez uma última viagem com 139
destino à aldeia, Parada do Monte. Foi a governanta que lhe deu a notícia. O comboio voltava para trás no tempo. A governanta disse ainda: há uma senhora benemérita que te quer levar para um colégio de freiras. Aí serás alguém como Deus gosta. A senhora Rosa lembra-se de pensar que Deus se enganava muitas vezes.
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Na Índia não é só Bollywood – Mira Nair Vera Casaca (Argumentista e Realizadora de Cinema) Mira Nair entrou-me na vida de uma forma inesperada. Confesso que não «a conhecia», ou melhor, não conhecia o seu trabalho enquanto realizadora. Gosto de continuar a aprender e tenho feito vários cursos online através do programa Masterclass. Na secção do menu dos cursos de «cinema e interpretação» encontrei o nome Mira Nair. Vi um excerto e fui atraída imediatamente pela sua presença e forma de falar. Esta realizadora já foi nomeada para um Óscar da Academia e tem sido pioneira em trabalhar com orçamentos relativamente baixos, mas não descurando a sua ambição artística. Mira Nair nasceu em Bhubaneshwar na Índia, uma cidade a sul de Calcutá. Na Universidade de Nova Deli estudou Sociologia e Teatro, posteriormente frequentou a Universidade de Harvard, onde se formou em Sociologia e também estudou Cinema. Para a sua tese de mestrado realizou um documentário. Ainda hoje reconhece-se a si mesma como uma «filmmaker» independente, aliás, pelas suas palavras: “ferozmente independente”. Para quem está fora do mundo do cinema normalmente refere-se a «independente» os projetos que não são produzidos pelos grandes estúdios, abordam narrativas menos comerciais, e a maior parte não tem nomes famosos associados ao filme. Nos filmes de «estúdio», os produtores podem restringir mais a liberdade artística devido ao risco associado ao investimento. Se acham que o filme não vai ser um sucesso de bilheteira, não se acanham em despedir o realizador, pedir para modificar o guião ou seja o que for. As histórias de Mira são fascinantes. NotaALGARVE INFORMATIVO #222
se uma necessidade de contar histórias muito direcionadas para sua cultura. Mira não se dissipou, nem se impressionou com o cinema americano «mais superficial». E como forma de explorar as suas raízes e temas de interesse, a realizadora criou a sua própria produtora, «Mirabai Films». A produtora é sem dúvida uma extensão de si mesma. Os filmes centram-se na sociedade indiana e nos seus aspetos culturais, económicos e sociais. Quando fala dos seus filmes os seus olhos brilham, mesmo quando estes abordam temas tão delicados como pobreza extrema, trabalho infantil e violação/incesto no contexto cultural indiano. Que se quebre já o mito que na Índia só se faz cinema «à Bollywood». Mira é um sopro de ar fresco que os novos realizadores precisam de inspirar. Relata muitas das experiências que teve ao tentar fazer filmes com pouco orçamento. “Nunca tive tempo nem dinheiro extra, mas tenho uma ambição visual… Nunca ficarei satisfeita em apenas, como eu chamo, unir os pontos de um filme: tenho este plano coberto, tenho aquele plano, e está feito”. Chama aos diretores/diretoras de fotografia «poetas da luz» e reconhece a importância de todos os departamentos como peças de um puzzle. Para além de realizadora e de professora (Columbia University), Mira ajudou a fundar uma escola de cinema no Uganda, Maisha Film Lab, onde os alunos, ao contrário de outras escolas, não pagam para estudar. Nesta escola são-lhes atribuídas bolsas de estudo. O objetivo da Maisha Film Lab é fornecer ferramentas a artistas visionários, 140
reforçando a missão de enriquecer o panorama de diversidade e estabelecer uma indústria mais sólida nos países no este de África. É importante reconhecer este tipo de esforços, pois quando são contadas histórias 141
de outros mundos, em línguas distintas, com pontos de vista pessoais e culturalmente diversos, quem ganha somos nós, os apaixonados pelo cinema. Parabéns Mira! .
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Artur Filipe Gregório e Vítor Guerreiro
IN LOCO INAUGUROU NEXTIN EM SÃO BRÁS DE ALPORTEL PARA APOIAR OS EMPREENDEDORES LOCAIS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Associação In Loco apoia, desde 1988, as pessoas no esforço de conjugação de recursos locais e capacidades, criando novas oportunidades de negócio que concretizem sonhos e utopias. E o ALGARVE INFORMATIVO #222
novo espaço NEXTIN, que foi inaugurado na manhã do dia 8 de outubro, na sede localizada na Avenida da Liberdade, em São Brás de Alportel, vem dar resposta a novas necessidades de espaço e serviços, disponibilizados de acordo com as características das ideias de atividade, ou negócio, e evoluindo de forma flexível com ela. “É um passo que 144
segue a linha daquilo que andamos a fazer há mais de 30 anos, apoiar as iniciativas de base local, os empresários, empreendedores e organizações que fazem do território e de si próprios recursos para o desenvolvimento sustentável”, frisou Artur Filipe Gregório, presidente da In Loco, lembrando que este trabalho tem sido realizado nas mais variadas vertentes, da agrícola à social, da económica à florestal ou aos processos participativos. Criar ainda melhores condições para a prossecução desta missão, bem como partilhar experiências e recursos com a nova geração de empreendedores, são algumas das intenções que levaram ao nascimento do NEXTIN. “São pessoas que têm necessidades flexíveis de espaço, porque as coisas mudaram muito nas últimas duas décadas. Mas são também
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novas dinâmicas em que as dificuldades de mobilidade devem ser enquadradas e em que esteja previsto o trabalho em rede e colaboração”, entende o dirigente. “Procuramos criar alguma diferenciação, uma forte ligação à metodologia de desenvolvimento local e um espaço distinto, em que podemos, por exemplo, se estivermos cansados da atividade que estamos a realizar, abrir a porta do gabinete e ir relaxar e recarregar baterias debaixo de uma oliveira ou nespereira. Ou até pegar numa enxada e ir cavar um talhão onde cultivamos os legumes para a nossa casa”, acrescentou Artur Filipe Gregório com um sorriso. Apoiar empresas locais ou que se pretendam deslocalizar para São Brás de Alportel é outro objetivo do NEXTIN,
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de acordo com Sandra Rosário. “Temos um ambiente descontraído e propício para o co-working, com várias hipóteses de aluguer do espaço, permanente ou temporário, todas as salas e serviços comuns vão estar disponíveis para os empreendedores. O que pretendemos é que, quem venha para cá, se sinta integrado na equipa da In Loco”, reforçou a tesoureira da associação. E para que estes propósitos sejam possíveis foi celebrado um protocolo de colaboração com o Município de São Brás de Alportel e outro está a ser desenhado com a Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, porque algumas das atividades incubadas no NEXTIN podem ser na área da cultura alimentar e da gastronomia, o que implicará espaços de maior envergadura. Por tudo isto, Vítor Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de São Brás de ALGARVE INFORMATIVO #222
Alportel, não hesitou em considerar o 8 de outubro como “um dia feliz para o concelho e para a região”. “Há que, por vezes, reinventar aquilo que existe e adaptarmo-nos aos momentos atuais, aos novos desafios e realidades, e é isso que a In Loco está aqui a fazer. Fala-se atualmente muito em nómadas virtuais, porque podemos estar a fazer o mesmo trabalho em qualquer parte do mundo e para qualquer parte do mundo. O Algarve é um local único para se viver, trabalhar e criar e este executivo tem vindo a apostar, de há alguns anos a esta parte, em tornar São Brás de Alportel num concelho apetecível para tudo isso”, destacou o edil. Vítor Guerreiro recordou ainda a centralidade de São Brás de Alportel, a 146
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escassos 20 minutos de distância do Aeroporto Internacional de Faro e a poucas horas de viagem das principais cidades do Centro da Europa. “A autarquia está disponível para colaborar naquilo que for possível com a In Loco e temos a certeza de que aqui vão trabalhar muitas pessoas com bastante sucesso e que vão fazer desta casa a sua casa”, afirmou, antes de passar a palavra a Alberto Melo, precisamente o fundador da Associação In Loco, corria o ano de 1988. “Acho que foi um bom momento quando arrancamos com esta ideia, ainda que não imaginássemos que gerasse tantos frutos e que durasse tantos anos. Mas isso aconteceu porque houve pessoas com energia, imaginação e criatividade para ir ajustando a In Loco aos contextos que se foram vivendo. Por via das sucessivas direções e equipas soube adaptar-se aos diferentes tempos, sem ALGARVE INFORMATIVO #222
renegar o que foi feito no passado, mas encontrando novas vias para singrar no futuro”, enalteceu Alberto Melo. Presente na inauguração esteve Mário Dias, Diretor Regional Adjunto da Agricultura e Pescas do Algarve, entidade parceira de longa data da In Loco, “em cuja filosofia se encaixa perfeitamente este novo espaço para acolher os empreendedores que serão o motor da nossa economia do futuro”. Por sua vez, Aquiles Marreiros, Diretor de Serviços da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, acredita que o Enterprise Europe Network poderá dar um impulso a algumas das iniciativas nascidas no seio do NEXTIN, assim como a CCDR Algarve poderá auxiliar os encubados para encontrar as melhores 148
oportunidades de financiamento disponíveis no âmbito dos fundos europeus. E porque a In Loco valoriza o espírito de comunidade e de cooperação e leva muito a sério a preocupação com a sustentabilidade e o desenvolvimento mais equilibrado, implementou o aquecimento solar das instalações, a produção de energia fotovoltaica e a redução e separação de resíduos. As instalações NEXTIN estão preparadas para empreendedores e empreendedoras com mobilidade reduzida, bem como para os seus clientes e, para além de gabinetes completamente equipados com secretárias, adequados a uma pequena empresa de serviços, estão disponíveis gabinetes de utilização modular e flexível, adaptados a utilizações pontuais,
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temporárias ou com necessidade variável de recursos e serviços de apoio. A par do Gabinete Coletivo/Cooperativo, da Sala Executiva, da Sala VIP – Exclusiva, da Sala comum de uso livre/pontual, de salas de atendimentos/reuniões para quatro a oito pessoas, de salas de formação/reuniões para 16 a 30 pessoas e de uma copa/cozinha completamente equipada para atividades gastronómicas, o NEXTIN disponibiliza ainda acesso 24 horas, sete dias por semana, atendimento, espaço de arquivo, receção de correspondência, linha telefónica fixa, internet de banda larga/wifi, centro de documentação, coffee lounge/espaço de convívio e serviços de micropágina/logotipo no site e placa informativa na parede exterior.
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I FESTIVAL DE ESTÁTUAS VIVAS DE ALBUFEIRA ANIMOU BAIXA DA CIDADE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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e 27 a 29 de setembro, a baixa de Albufeira foi palco do I Festival de Estátuas Vivas, que contou com a participação de personalidades como Arquimedes, Galileu, Pitágoras de Samos, Hildegard de Bingen, Leonardo Da Vinci, Fernão de Magalhães, Isaac Newton, Benjamin Franklin, Maria ALGARVE INFORMATIVO #222
Gaetana Agnesi, Ada Lovelace, Dmitri Mendeleiev, Thomas Edison, Madame Curie, Albert Einstein, Arthur Eddington e Neil Armstrong. “Dedicámos esta primeira edição do Festival aos Grandes Mestres da Ciência e do Conhecimento. Para o ano escolheremos outro tema, sempre com o intuito de valorizar e embelezar esta parte da cidade”, referiu o presidente da Câmara Municipal de 154
Albufeira, José Carlos Rolo, afirmando que “este é um dos eventos anuais que temos preparados para animar as ruas do centro de Albufeira e atrair pessoas a esta zona nobre do concelho durante a época média/baixa”. Na inauguração do Festival de Estátuas Vivas, o autarca e membros do seu executivo realizaram uma visita guiada, conduzida pela diretora do Centro de 155
Ciência Viva do Algarve, Cristina Veiga Pires. A visita despertou o interesse de muitos turistas, que quiseram conhecer a história de cada uma das personalidades. “Com este evento quisemos trazer para a rua o legado que todas estas figuras representadas pelas estátuas vivas nos deixaram. É importante fazer chegar à população informação acerca dos nossos antepassados ligados à ciência e ao ALGARVE INFORMATIVO #222
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conhecimento, que tanto contribuíram para o desenvolvimento atual”, explicou o presidente da autarquia. A Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Albufeira e a Orquestra de Percussão «Percutunes» animaram os fins de 157
tarde dos três dias de Festival com arruadas pelas ruas onde as estátuas vivas pousavam para o público. Quem por lá passou teve a oportunidade de participar em visitas guiadas e tirar fotografias polaroid com as suas estátuas preferidas .
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #222
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