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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 19 de outubro, 2019
SARA MARTINS | AL-MOURARIA E CIDÁLIA MOREIRA EM OLHÃO | MORPHOSIS EM DISCO 1 ALGARVE INFORMATIVO #223 PLASTICINE E RÃO KYAO EM LOULÉ | TEATRO DO SÓTÃO |CRAQUES DO SKATE EM PORTIMÃO
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30 - Sara Martins publica livro de poesia «No Avesso das Horas»
16 - Zona Marítima do Sul tem novo Comandante
78 - Morphosis em disco
40 - «Casal da Treta» em Lagos ALGARVE INFORMATIVO #223
110 - Teatro do Sótão da ASMAL apresentou nova peça em Faro 8
52 - Plasticine em Loulé
66 - Cidália Moreira e Al-Mouraria no Auditório Municipal de Olhão
120 - Nelson Conceição e Ensemble da Banda Artistas de Minerva em Loulé
88 - Rão Kyao participou na Bienal Ibérica do Património Cultural
98 - Craques do skate deram show em Portimão 9
OPINIÃO 132 - Paulo Cunha 134 - Adília César 136 - Ana Isabel Soares 138 - Paulo Bernardo ALGARVE INFORMATIVO #223
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CAPITÃO DE MAR-E-GUERRA FERNANDO CARLOS ROCHA PACHECO É O NOVO COMANDANTE DA ZONA MARÍTIMA DO SUL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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ealizou-se, no dia 10 de outubro, em Faro, a cerimónia de entrega do comando da Zona Marítima do Sul e tomada de posse dos cargos de Chefe do Departamento Marítimo do Sul, Capitão do Porto de Faro, Comandante Regional do Sul da Polícia Marítima, Comandante Local da Polícia Marítima de ALGARVE INFORMATIVO #223
Faro e Diretor do Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão, do Capitão-de-Mar-e-Guerra Nuno Filipe Cortes Lopes para o Capitão-de-Mar-eGuerra Fernando Carlos Rocha Pacheco. A cerimónia foi presidida pelo DiretorGeral da Autoridade Marítima e Comandante Geral da Polícia Marítima, Vice-Almirante Sousa Pereira, e pelo Comando Naval, Vice-Almirante Gouveia e Melo, e contou com a 18
Marítima Nacional, o Instituto Português do Desporto e Juventude e as Câmaras Municipais de Faro e de Lagoa, no âmbito do Programa de Voluntariado Jovem, que permitiu abrir diariamente ao público durante o Verão os Faróis de Santa Maria e Alfanzina; o protocolo de cooperação relativo à embarcação ambulância «Ria Solidária», que envolveu também o Município de Olhão e o INEM; a visita a Faro do Navio Escola Sagres em 2018; os festejos do Dia da Marinha que acontecerão pela primeira em Faro em 2020; a futura Estação Salva-Vidas e Posto da Polícia Marítima de Quarteira; e as comemorações do Centenário da Polícia Marítima que terão lugar, a 10 de novembro, em Quarteira. “Foi uma honra privar e trabalhar com todos os presidentes de câmara do Algarve e faço votos que o relacionamento e a confiança mútua entre as autarquias, a Marinha e a Autoridade Marítima Nacional sejam cada vez mais fortalecidas, nomeadamente num período de várias alterações decorrente da transferência de competências para as Câmaras Municipais, designadamente no caso das praias”, referiu o Capitão-de-Mar-eGuerra Nuno Filipe Cortes Lopes. presença de diversos autarcas e representantes das autoridades civis e militares regionais. Na hora da despedida ao fim de três anos de serviço, Nuno Filipe Cortes Lopes recordou a reabertura, em julho de 2018, do Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão, que em pouco mais de um ano conta já com cerca de três mil visitantes; a assinatura do protocolo entre a Autoridade 19
Prosseguindo com uma breve análise do que foram estes três anos à frente da Zona Marítima do Sul, Nuno Cortes Lopes lembrou as melhorias implementadas nos procedimentos operacionais das Lanchas de Fiscalização Rápida, bem como nas infraestruturas da Marinha no Sul na dependência do Comando Naval, como o Ponto de Apoio Naval de Portimão, que foi alvo de diversas beneficiações na ALGARVE INFORMATIVO #223
área da segurança e bem-estar. Recordou ainda o processo em curso de reabilitação operacional de uma instalação da Marinha junto ao Cais nos Hangares e as benfeitorias em curso nas infraestruturas na ex-ERN de Sagres. “Foram atribuídas ao Comando da Zona Marítima do Sul nove lanchas de fiscalização rápida, num total de 33 missões de cerca de três meses cada, tendo realizado 2.600 ações de fiscalização e vigilância, de que resultou, além da óbvia dissuasão devido a sua presença, 221 processos de contraordenação e o contributo para se salvarem várias vidas humanas”, destacou. O Comando da Zona Marítima do Sul implicou o desempenho de cinco cargos no âmbito da Autoridade Marítima Nacional e Nuno Cortes Lopes assume que “dificilmente teria conseguido cumprir a
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sua missão sem a cooperação das diferentes autoridades, entidades e organismos com competências convergentes e complementares de exercício da autoridade do estado no Domínio Público Marítimo”. “As pessoas são sem dúvida o ativo mais precioso e importante das organizações e a cooperação e o bom relacionamento com todas as entidades foram sempre prioridades para mim. Foram três anos extremamente intensos, com operações reais todos os dias e decisões que afetam a vida de muitas famílias”, frisou, realçando ainda que neste período ocorreram diversas alterações legislativas com bastante impacto para a Autoridade Marítima Nacional, casos da transferência de competências para as autarquias no que toca à gestão das praias, o novo regime
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jurídico da náutica de recreio, as alterações nos procedimentos de registo patrimonial marítimo ou o novo Regulamento de Serviços Prestados pelos Órgãos e Serviços da Autoridade Marítima Nacional, que já não era alterado há 10 anos. O Capitão-de-Mar-e-Guerra Nuno Filipe Cortes Lopes sublinhou ainda o gradual aumento da atividade marítimo-turística e de lazer no mar e na Ria formosa, de que resulta, “além do trabalho acrescido nas Capitanias – especialmente enquanto o Sistema Nacional de Embarcações e Marítimos e o Balcão Eletrónico do Mar não estiverem 100 por cento operacionais – também uma crescente preocupação em termos de segurança da navegação e das pessoas, e igualmente em termos ambientais, especialmente nas áreas de parque natural e nas zonas costeiras com grutas”. E mencionou 21
igualmente os cerca de 120 concursos públicos que diversas Capitanias lançaram no Algarve para a atribuição de concessões de apoios balneares e apoios recreativos, 56 dos quais na área de jurisdição da Capitania de Faro. “Um exemplo do excelente nível de cooperação entre as entidades e associações locais foi o acidente de poluição ocorrido, em janeiro de 2017, nas Ilhas Barreira, que requereu a ativação do Grau 2 do Plano Mar Limpo, em que durante duas semanas se recolheram 90 toneladas de óleo de palma ao longo de 22 quilómetros de costa nas Ilhas Deserta, da Culatra e da Armona”. Nuno Filipe Cortes Lopes deu mais exemplos do “excelente nível de cooperação e bom relacionamento” entre diferentes entidades e associações ALGARVE INFORMATIVO #223
e a Autoridade Marítima, como as missões de implementação do Plano de Requalificação e Valorização da Ria Formosa, que decorreram em 2017 e 2018, assim como a vigilância, fiscalização e segurança na Ria Formosa a partir de Faro. “Compreendendo a situação da Doca de Recreio de Faro em termos de limitações de maré, bem como da ponte da CP, para a entrada e saída de embarcações da Autoridade Marítima, nomeadamente em emergência ou socorro, e considerando ainda a conclusão o ano passado do processo de autorização, em especial por parte do ICNF, para a realização de uma dragagem junto às Oficinas da Autoridade Marítima Nacional planeada para janeiro, gostaria de destacar a cooperação com o Aeroporto de Faro, que proporcionou a instalação de um cais flutuante nestas nossas instalações, de modo a que a
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maioria das embarcações da Autoridade Marítima Nacional em Faro não estejam dependentes da maré para sair da Doca de Recreio”, salientou em final de alocução.
“NÃO TENCIONO PERGUNTAR O QUE FAZER, MAS SIM APRESENTAR SOLUÇÕES PARA O QUE DEVE SER FEITO” O novo Comandante da Zona Marítima do Sul é o Capitão-de-Mar-eGuerra Fernando Carlos Rocha Pacheco, que prontamente manifestou o seu empenho e firmeza “em cumprir com lealdade as responsabilidades que me são conferidas, designadamente de assegurar a realização e condução das operações navais, sob as ordens e diretivas emanadas do Comando
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Naval, bem como garantir a fiscalização nos espaços marítimos sob soberania ou jurisdição nacional, tendo em vista o exercício da autoridade do Estado, nos termos da lei e do direito internacional e colaborar nas atividades de busca e salvamento na área de responsabilidade deste Comando”. “O nível de cooperação das diversas entidades que compõem o Sistema de Autoridade Marítima na execução das respetivas competências, quer em razão da matéria, quer de espaço, bem como das diversas autoridades públicas e representantes das populações locais, onde o papel dos autarcas é de especial relevância, traduzir-se-á no nível de benefício transmitido às populações locais, nacionais e internacionais, em resultado dos nossos esforços e ações coordenadas. Dificilmente cumprirei a 23
missão que me está confiada, a de servir a causa pública, minha vocação de sempre, sem a necessária articulação com as diversas autoridades e entidades com competências convergentes e complementares”, afirmou. Fernando Carlos Rocha Pacheco mostrou-se ciente do enquadramento jurídico-legal das funções e tarefas da Marinha e da Autoridade Marítima Nacional, de cariz militar no primeiro caso e não militar no segundo, “que não se confundem, mas antes se articulam sinergicamente numa lógica funcional de alinhamento e complementaridade entre capacidades e competências”, no exercício do emprego operacional no mar, seja da Marinha no quadro próprio das suas missões, seja das reguladas por ALGARVE INFORMATIVO #223
legislação própria ou decorrentes das missões de natureza operacional das Forças Armadas, quer da Autoridade Marítima Nacional no quadro de atribuições do Sistema de Autoridade Marítima, “e é exatamente esta maisvalia sinérgica que pretendo potenciar em benefício da utilização eficiente e eficaz dos recursos que me foram confiados”. O Capitão-de-Mar-e-Guerra lembrou que a Autoridade Marítima está alicerçada num modelo cujo centro de gravidade assenta no acervo de competências próprias do Capitão de Porto, figura-chave nas relações interdepartamentais para a exequibilidade das atribuições do Estado, ao nível local, bem como garante do exercício da segurança nos espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacional, e cujas competências diversas vão desde o ALGARVE INFORMATIVO #223
exercício da Autoridade do Estado, o Salvamento e Socorro Marítimo, a Segurança da Navegação, funções de caracter técnico-administrativo, o registo patrimonial de embarcações, a proteção e conservação do domínio público marítimo, a defesa do património cultural subaquático e a fiscalização de pesca e aquicultura, entre outros. “Sendo certo que a região algarvia apresenta como marca distintiva o valor da segurança, de pessoas e bens, cuja preservação é vital, não só para a comunidade residente, mas também para todos aqueles que não sendo residentes a escolhem como espaço de desenvolvimento de atividade profissional e de lazer, importa relevar o papel crucial que a Polícia Marítima desempenha para a sua garantia, 24
sendo um dos instrumentos fundamentais do exercício da Autoridade Marítima, assumindo-se como uma força de polícia especializada, a que acrescem as competências decorrentes das leis específicas, designadamente da Segurança Interna e da Organização da Investigação Criminal”. O Capitão-de-Mar-e-Guerra Fernando Carlos Rocha Pacheco reconheceu que as competências que lhe foram conferidas como Comandante Militar, Autoridade Administrativa e Autoridade de Polícia Criminal exigem um elevado sentido de responsabilidade e dedicação, bem como sólidos padrões de rigor, transparência, isenção e justiça, “que naturalmente me comprometo a abraçar”. “Terei sob o meu comando, direção ou chefia, na dependência do Comando da Zona Marítima do Sul, Departamento
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Marítimo do Sul e Comando Regional da Polícia Marítima do Sul, 218 Militares, Polícias Marítimos, demais Militarizados e Civis, o que representa efetivamente milhares de anos de acumulação de conhecimento. Compete-me a mim, sob o lema da «Responsabilização Total», potenciar este riquíssimo capital de experiência em benefício da missão que me foi atribuída. Se algum dos meus subordinados falhar, a responsabilidade é minha; se algum parceiro não me apoiar o suficiente, a responsabilidade é minha; se não dispuser de orientação e apoio superior adequado, a responsabilidade é minha. Serei eu o responsável pela liderança descendente, transversal e ascendente, prestando toda a informação que habilite a melhor orientação e que potencie o
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desempenho mais eficiente e eficaz”, declarou, acrescentando que “não tenciono perguntar o que fazer, mas sim apresentar soluções para o que deve ser feito”. Defendendo ser fundamental o sentimento de partilha dos objetivos, compreender a intenção do Comandante, Diretor ou Chefe e perceber o porquê do que tem que ser feito, bem como a coesão, o espírito de cooperação e a entreajuda entre todos os que contribuem para o resultado final, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Fernando Carlos Rocha Pacheco está convicto de que, “se a nossa ação for ancorada em valores como o rigor, a organização, o profissionalismo, a dedicação, a vontade de bem servir e de ALGARVE INFORMATIVO #223
encontrar formas melhores de fazer, as missões e as tarefas serão certamente bem sucedidas e, consequentemente, os objetivos atingidos”. E, dirigindo-se ao Capitãode-Mar-e-Guerra Nuno Filipe Cortes Lopes, frisou ainda que a sua missão está facilitada pelo “excelente trabalho que me apercebi que desenvolveste, quer em termos organizativos, quer de exemplo de rigor e de competência, quer em termos de relacionamento interno e externo”. “Senhor Almirante Diretor-Geral da Autoridade Marítima e Comandante-Geral da Polícia Marítima, Senhor Almirante Comandante Naval, reconheço a minha missão, conheço o propósito e o resultado final desejado. Missão 26
recebida e compreendida, estou pronto a executar”, concluiu o Capitão-de-Mar-eGuerra Fernando Carlos Rocha Pacheco. Fernando Carlos da Rocha Pacheco nasceu em Penafiel, a 18 de fevereiro de 1968, e entrou para a Escola Naval em novembro de 1986, tendo concluído o curso de Marinha no final de 1991. Especializou-se em Comunicações em 1993 e possui o Curso Geral Naval de Guerra, de entre diversos outros cursos e estágios completados na Marinha e no estrangeiro. Nas suas funções a bordo de unidades navais, no mar, participou em vários exercícios e operações reais. Como oficial subalterno desempenhou as funções de Chefe de Serviço de Comunicações, Oficial de Operações e Oficial Imediato em numerosos navios de guerra portugueses. Os navios em que prestou serviço incluem os patrulhas «Geba» e «Cuanza», as corvetas «João Coutinho» e «Oliveira e Carmo» e a fragata «Comandante João Belo». Já como oficial superior, no período de janeiro a junho de 2003, embarcou no navio destroyer italiano «ITS Francesco Mimbelli», onde assumiu as funções de Chefe da Divisão de Comunicações e Sistemas de Informação do Estado-Maior do Comandante do Grupo-tarefa da EUROMARFOR e da Força Tarefa 150, participando nas operações reais «Resolute Behaviour» e «Enduring Freedom», nas áreas do Mar Vermelho, Golfo de Adem e vizinhança da Somália, em apoio à Guerra Global contra o Terrorismo. No período de dezembro de 2010 a agosto de 2012, foi Chefe do Estado-Maior da Força Naval Portuguesa onde, para além de diversos exercícios, 27
participou na operação real Manatim, na vizinhança da Guiné-Bissau. Em terra prestou serviço como Chefe do Gabinete de Tecnologia Educativa, na Escola de Comunicações, Oficial de Estado-Maior nas Divisões de «Plans & Policy», CIMIC – Civil Military Cooperation e na Divisão de Comunicações e Sistemas de Informação, no comando NATO Joint Command Lisbon e na Divisão «Joint Capability Planning Division - Strategic Management Section» no NATO Supreme Headquarters for Allied Powers in Europe (SHAPE), na Bélgica. Foi Capitão do Porto e Comandante Local da Polícia Marítima, de Tavira e de Vila Real de Santo António, onde foi membro da Comissão Internacional de Limites entre Portugal e Espanha; Segundo Comandante da Esquadrilha de Navios Patrulhas; Oficial de EstadoMaior na Divisão de Planos do Comando Conjunto para as Operações Militares; Adjunto Militar (Marinha) no Gabinete do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA); e Adjunto para a Coordenação do Comando-Geral da Polícia Marítima. Na sua folha de serviço constam vários louvores e medalhas que incluem três de Serviços Distintos Prata, de Mérito Militar de 2.ª e 3.ª classe, de Cruz Naval de 2.ª e 3.ª classe, de Comportamento Exemplar – Ouro e Prata, de Comissão Especial com a legenda Somália 2003 e de Cruz Comemorativa – Pela Segurança (Itália), com a legenda Afeganistão 2003 .
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SARA MARTINS ESTREIA-SE NA POESIA COM «NO AVESSO DAS HORAS» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #223 ALGARVE INFORMATIVO #223
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oi apresentado, no dia 27 de setembro, no IPDJ de Faro, o livro de estreia de Sara Martins, «No Avesso das Horas», editado pela Epopeia Records. A coletânea poética expõe intimamente os pensamentos que tomaram a vida da jovem designer natural de Monchique após deparar-se com a antítese: o momento em que as experiências transformaram o desabafo com a caneta e o papel numa dinâmica indispensável para se viver. Mas ser uma poetisa com livro publicado aos 23 anos ainda lhe parece uma utopia que, de repente, se tornou realidade. “Desde pequenina, ainda antes de entrar para a escola primária, que gosto de escrever, enchia os cadernos com aquelas histórias típicas de criança. No terceiro ano, a minha professora disse-me logo que eu iria escrever um livro, mas só comecei a produzir textos de uma forma mais pensada a partir de 2012”, conta Sara Martins, à conversa num final de tarde no Jardim Manuel Bívar, em Faro. Cedo começou a escrever, contudo, maioritariamente para a gaveta, para si própria, eram poucos os que conheciam esta sua faceta. Na secundária, a sua apetência e gosto para jogar com as palavras iam chamando a atenção dos docentes, mas a jovem mantinha a sua paixão escondida. E acabou por ser um episódio infeliz da vida, a morte do irmão de uma amiga, que gerou um volte-face no meio do caos que se instalou naquela altura. “Sou uma pessoa que fala pouco e a escrita foi o meu escape. Tinha 16, 17 anos, andava num turbilhão de pensamentos e emoções, precisava 33
exprimir-me de qualquer forma e a escrita ganhou uma maior intensidade”, recorda o momento em que fez a transição da prosa para a poesia, a altura em que passou a registar pensamentos e reflexões sobre os mais diversos temas. A escrita dava resposta a uma necessidade de expressão, era encarada apenas como um hobby, de modo que Sara Martins rumou à Universidade do Algarve para se licenciar em Design. Porque, de facto, a escrita nunca se afigurou como uma possibilidade de carreira a tempo inteiro, apresta-se a esclarecer. “Nasci no meio da Serra de Monchique, num local completamente isolado, sem acesso à internet, bibliotecas ou livros. Acabava por ir buscar os livros da secundária da minha irmã mais velha e as minhas referências, na altura, eram Fernando Pessoa, Cesário Verde e outros tantos que faziam parte do plano curricular. A minha amiga, a Ana Rita Rodrigues, também escrevia, às vezes sobre os mesmos temas que eu, mas de uma forma completamente diferente porque seguiu jornalismo”, lembra a entrevistada. O ingresso no ensino superior coincidiu com a criação de um blogue para partilhar os seus poemas e assim saltou para a luz do dia este lado de Sara Martins. Uma faceta de que poucos sabiam em Monchique, nem mesmo os pais, confessa, com um sorriso. “Antes de entrar para a universidade estive um ano a trabalhar em Monchique e o meu patrão apercebeu-se que eu lia muitos livros do Fernando Pessoa e ALGARVE INFORMATIVO #223
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que também escrevia algumas coisas. Aliás, os primeiros poemas meus que a minha mãe leu até foi ele que lhe mostrou e ficou toda contente quando soube que eu ia editar um livro”, indica. Já o pai ficou a saber de tudo mais tarde, daí não ter escondido o encanto e orgulho na altura do lançamento de «No Avesso das Horas». Um livro que, Sara Martins reforça, sempre lhe pareceu uma utopia, limitavase a escrever o que lhe ia no pensamento, publicava os poemas no seu blogue, partilhava no Facebook e nem se preocupava se eles depois eram lidos por muitas ou poucas pessoas. “Não é um diário, mas tem histórias que são verdadeiras, que mexem comigo, com a minha família e amigos, e nunca me passou pela cabeça juntá-las num livro. Entretanto, fiz o estágio curricular na Epopeia Records, o Luís Caracinha soube que eu escrevia e, na brincadeira, disseme que tínhamos que editar um livro meu. Eu achava que ainda não estava preparada, que os textos não tinham qualidade suficiente, pelo que o processo se foi arrastando mais um pouco”, refere a designer de profissão. Uma insegurança que era compreensível, porque a poesia é um estilo de escrita nobre e muitas vezes associado a pessoas com mais experiência, quer profissional como literária. E Sara Martins, com os seus 23 anos de idade, pensava que não estava preparada para dar o salto. Até que compreendeu que fazia sentido que os seus primeiros textos fossem mais «crus», menos «estéticos», pois foram feitos ainda ela era uma adolescente à procura do rumo que queria dar à vida. “No livro 35
nota-se o meu amadurecimento enquanto mulher e escritora. No início, quando disse que escrevia, as pessoas pensavam logo que eram histórias de fantasia do género do Harry Potter, é um estilo onde há mais autores jovens”. Com uma poesia profunda e sensível, surpreendente até para a idade e experiência da autora, houve depois que criar um conceito para o livro, uma matéria em que Sara Martins está mais à vontade, porque o Design é isso mesmo, pegar em ideias e criar conceitos, argumentos, formas de chegar facilmente ao público. “Os textos não estão datados, mas vão de 2012 até abril/maio de 2019, e imaginei um círculo que simboliza o passar do tempo e no qual existem vários pontos que correspondem a situações banais que nos acontecem diariamente. Todos nós passamos pelo mesmo, arranjar emprego, apaixonarse por alguém, perder alguém. No entanto, com o amadurecimento das pessoas, a forma como elas encaram esses episódios torna-se completamente diferente”, explica. “Fiz uma analogia com um relógio, que são as pessoas que vivem durante o passar do tempo, em que o avesso são as nossas emoções e sentimentos e as horas, que são sempre as mesmas, todos os dias assinalam coisas diferentes. Quis demonstrar que, no decurso do tempo, os episódios repetem-se, mas a nossa perspetiva vai-se modificando”.
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«No Avesso das Horas» conta com layout da própria Sara Martins, em parceria com Luís Caracinha, portanto, conhecia-o de ALGARVE INFORMATIVO #223
uma ponta à outra melhor do que ninguém. Apesar disso, só depois de ter o livro físico nas mãos é que tomou consciência de que ele era, de facto, real. “A sessão de lançamento foi um momento «estranho», quase um sonho, estava lá, mas não estava”, confessa. Agora, começa a parte mais dura, a da promoção, admite. “Os 36
imensos estímulos visuais, pelas redes sociais, pelas novas tecnologias, e acabam por se esquecer um pouco de ler. A poesia pode ser mais rápida de ler porque são textos menores, mas é provavelmente de compreensão mais difícil, o que afasta alguns leitores”, analisa. Certo é que, depois de publicada esta coletânea de poemas que foi produzindo ao longo dos anos, o peso no momento da escrita tornou-se maior, pois as pessoas já vão perguntando quando é que chega o segundo livro. “Neste existe um conceito a ligar os poemas todos, o próximo terá que ser mais pensado e estruturado. Porque escrever deixou de ser uma necessidade e passou a ser também um gosto encarado com maior seriedade e responsabilidade”, justifica. “Adoro fazer analogias em relação a sentimentos e acontecimentos, a poesia permite-nos pegar em qualquer coisa e transformála em algo maior. O simples cair de uma folha pode inspirar-me para escrever”, comenta, de olhar pensativo. “A minha poesia foi rumando para um lado mais «dark» e gostei do resultado, mas quero explorar outros estilos, o que implica um trabalho de pesquisa, ler coisas diferentes”. leitores normalmente compram livros de autores que já têm um certo reconhecimento e isso é difícil de alcançar. É algo que não me apoquenta enquanto estou a escrever, mas é verdade que não existe um público muito vasto para a literatura, seja qual for o estilo”, lamenta a entrevistada. “As pessoas, hoje, são bombardeadas por 37
O receio de escrever e de partilhar pertence ao passado, Sara Martins já vai matutando no que se segue e até se pode aventurar por outros caminhos, porque também gosta bastante de animação e ilustração. Ficamos a aguardar… . ALGARVE INFORMATIVO #223
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Lagos delirou com o Casal da treta Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #223
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pós o êxito de «Conversa da Treta» com o malogrado António Feio e de «Filho da Treta» com António Pacheco, José Pedro Gomes volta a vestir a personagem de Zezé, desta feita ao lado de Ana Bola, em «Casal da Treta», que esgotou por completo o Auditório Duval Pestana do Centro Cultural de Lagos, na noite de 16 de outubro. Zezé e Détinha são, sem dúvida, um casal muito especial e as conversas da dupla, entre os momentos reais e os momentos dos «supúnhamos», são hilariantes e falam de tudo um pouco, a tal ponto que, por vezes, não é difícil perder-se o fio à meada. Mas os mestres da comédia nacional num instante voltam a situar a assistência, ALGARVE INFORMATIVO #223
rendida às piadas previstas na narrativa, mas também aos sucessivos improvisos que vão acontecendo, tal a química evidenciada entre José Pedro Gomes e Ana Bola. Uma conversa da treta entre um casal da treta onde se fala muito da igualdade de género, ou de gémeos, ou de genros, os dois não se conseguem decidir. Mas também se abordam novas formas de alojamento local como os hostel e o airbnb, porque Zezé alugou o apartamento e o casal agora não tem onde viver. A não ser que Zezé se candidate a presidente da junta de freguesia e depois o assunto resolve-se num instante, apesar das exigências estapafúrdias de Détinha. Détinha que também quer que o marido faça o famigerado exame à próstata, que ele recusa terminantemente fazer, embora 42
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reconheça que, pasme-se, à medida que os anos vão passando, vai ficando mais velho. Uma idade que não lhe afeta a sua virilidade masculina, opinião não partilhada pela esposa, que se derrete de cada vez que fala do amigo Toni. Os filhos do casal também são tema de conversa, assim como os muitos vizinhos de um bairro que não escapou aos efeitos do progresso, para tristeza de Zezé e Détinha. Mais felizes são as memórias dos
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três dias que durou o casamento de ambos… ou será que não se chegaram a casar? Enfim, é sensivelmente hora e meia de mil e uma conversas da treta de um casal com décadas de vida em comum aqui recordadas e com um linguajar tão trocado e peculiar que é impossível as pessoas não se desmancharem em risadas. Uma noite inesquecível graças a um espetáculo recomendado a 200 por cento .
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Plasticine deram a conhecer o seu primeiro disco num eletrizante concerto em LoulĂŠ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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s Plasticine apresentaram recentemente o seu primeiro álbum no Auditório do Solar da Música Nova, em Loulé, num concerto realizado no âmbito do ciclo programático «Ilustres Desconhecidos» dinamizado pelo CineTeatro Louletano, que pretende valorizar e promover projetos musicais emergentes e/ou pouco conhecidos do grande público (oriundos ou não do Algarve). E os Plasticine inserem-se, que nem uma luva, nesse conceito, existindo há cerca de ano e meio, mas contando com a participação de diversos músicos algarvios de qualidade muito acima da média. Com uma sonoridade que denota as várias influências dos seus intervenientes, ALGARVE INFORMATIVO #223
no repertório encontram-se elementos de jazz, funk, soul, rock, afro-beat, entre outros estilos, que depois se combinam numa diversidade rítmica e harmónica com melodias que num instante contagiaram o público. Porque foi, sem dúvida, uma atuação que levou a assistência numa viagem por diferentes ambientes musicais, com dinâmicas bem marcadas, e conduzidas magistralmente pelos mentores do projeto, Pedro Barroso e João Faísca. Ao vivo, a formação é vasta e, como o próprio nome indica, muito maleável e onde a rotatividade dos músicos é uma constante, tendo em conta as suas agitadas agendas profissionais. Mas, em palco, numa funciona na perfeição, em uníssono, ainda que cada integrante contribua com o seu cunho pessoal à interpretação dos temas. Não são raros, 54
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por isso, os improvisos, como facilmente se verificou em Loulé, com os músicos a «viajarem» por momentos para outras paragens e depois, com um simples trocar de olhares entre colegas, a regressarem à pauta. Já se percebeu, portanto, que os concertos dos Plasticine nunca são iguais, seja porque a sua formação vai variando, mas sobretudo por causa dos improvisos que acontecem de acordo com o estado de espírito de cada um naquela noite e consoante a reação do público ao que vai escutando.
acrescentar sempre algo mais. Decidi marcar um concerto e, quando existe um prazo para cumprir, tudo flui de maneira mais rápida”, recorda Pedro Barroso. “O nome acabou por surgir precisamente por causa da rotatividade dos músicos, mas também por causa das nossas muitas influências. A maior parte do repertório que tocamos nas nossas bandas são covers de múltiplos estilos e o produto final dos Plasticine é uma mistura disso tudo”, acrescenta.
No final de uma noite de fortes emoções e após o convívio com amigos e familiares, os dois guitarristas revelaram que já tinham várias músicas feitas em conjunto, faltava-lhes era uma banda para as executar ao vivo. “Estávamos naquela fase em que era difícil fechas os temas, pensávamos que faltava sempre qualquer coisinha, queríamos
Para João Faísca, o espetáculo no Auditório do Solar da Música Nova correu acima das expetativas, até porque, admite, nem todas as músicas apelam a uma grande interação com o público, devido à ausência de líricas e refrões que possam ser cantados pelas pessoas. “Mas, sempre que puxamos por elas, manifestaram-se de uma
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forma bastante satisfatória. Penso que, no final, estavam muito agradadas com aquilo que escutaram”, acredita o guitarrista. E a sala praticamente esgotou, para alguma surpresa de Pedro Barroso, por se tratar de um projeto novo. “Quem veio sabia àquilo que vinha, que ia encontrar uma coisa diferente”, sublinha. “Quando fazes música instrumental é natural que o público se sinta convidado a viajar para outras paisagens. Temos temas que lembram o norte de África, outros o típico jazz norte-americano, andamos por vários pontos do planisfério”, descreve Pedro Barroso. “Não compusemos músicas para nos identificarmos com esta ou aquela banda, com este ou aquele estilo, mas sim que faziam sentido para a nossa estética musical, sem qualquer barreiras”, reforça João Faísca. 59
Os Plasticine não são, por isso, uma banda de jazz, reggae, funk ou pop, são uma amálgama de sonoridades que, na prática, resulta muito bem e que motiva os próprios intérpretes a explorar novos caminhos de cada vez que se encontram, seja para ensaiar, seja para uma atuação ao vivo. “No fundo, é um espetáculo que acaba por agradar a todos os gostos, devido à sua variedade”, indica Pedro Barroso, com João Faísca a assegurar que, apesar da formação ser numerosa, devido aos muitos instrumentos em palco, nunca faltam executantes. “Como tocamos em bares há tantos anos, conhecemos imensos músicos e, quando um não pode vir, há sempre alguém para o substituir, sem nunca diminuir a qualidade do coletivo” . ALGARVE INFORMATIVO #223
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AL MOURARIA E CIDÁLIA MOREIRA PROPORCIONARAM UMA NOITE DE GRANDES EMOÇÕES NO AUDITÓRIO MUNICIPAL DE OLHÃO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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o dia 11 de outubro, precisamente o dia em que comemorou os 75 anos de vida, a olhanense Cidália Moreira, mais conhecida como a «fadista cigana», subiu ao palco do Auditório Municipal de Olhão e, com a garra habitual que lhe é reconhecida a cantar o fado, maravilhou a assistência que esgotou a principal sala de espetáculos da Cidade da Restauração. Antes disso, porém, foi o grupo algarvio Al Mouraria que contribuiu também para uma noite memorável de homenagem à canção lusitana. Os Al Mouraria, cujo mentor é o músico algarvio Valentim Filipe, têm por hábito convidar para as suas atuações artistas de projeção nacional e desta vez foi a fadista natural de Olhão a estrela do concerto. Mas a primeira parte da noite foi totalmente da responsabilidade do agrupamento formado por Valentim Filipe (guitarra portuguesa), Nuno Martins (guitarra clássica), Paulo Ribeiro (acordeão) e Bruno Vítor (contrabaixo), a que se juntaram as vozes de Teresa Viola e Argentina Freire. No espetáculo, os Al Mouraria divulgaram o seu último trabalho, «Fado Tango», mas também revisitaram alguns dos seus clássicos que mais sucesso fazem junto do público . 69
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DEPOIS DA REFRESCANTE SURPRESA NA PRIMEIRA EDIÇÃO DO «365 ALGARVE», HUGO ALVES E JOÃO FRADE LANÇAM FINALMENTE O DISCO «MORPHOSIS» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina 79
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orria o ano de 2015 quando Hugo Alves desafiou João Frade para criar um projeto musical diferente, original, «fora da caixa», para fazer parte do elenco da primeira edição do programa cultural «365 Algarve». E mesmo sem se saber muito bem o que dali sairia, havia uma certeza absoluta: ia ter qualidade, muita qualidade. Porque Hugo Alves é um maestro, compositor e trompetista de classe mundial. E porque João Frade é um compositor, acordeonista e diretor musical também de classe mundial. E, ainda por cima, são os dois algarvios. «Morphosis» foi, sem dúvida, uma das grandes sensações do primeiro capítulo do «365 Algarve», percorrendo praticamente todos os concelhos do Algarve. E num instante os dois virtuosos das pautas e do improviso ficaram com o apetite para fazer algo mais, só que faltava o tempo, porque Hugo Alves é também o mentor e responsável da Orquestra de Jazz do Algarve e João Frade, para além dos seus projetos a solo, toca com inúmeros artistas de craveira internacional. “Começámos por experimentar com temas que já tínhamos, coisas que já estavam feitas, para perceber como poderia funcionar melhor a nova sonoridade, mas depressa levantamos voo, para o que contribuiu o impulso do «365 Algarve». Demorou pouco tempo para criarmos música específica para este projeto”, recorda Hugo Alves. O desafio lançado por Hugo Alves foi prontamente aceite por João Frade, ALGARVE INFORMATIVO #223
porque o albufeirense gosta de desbravar novos caminhos com os seus acordeões. Por isso, misturar um instrumento como o trompete, mais associado ao jazz, com o acordeão, comummente relacionado com a música tradicional portuguesa, não lhe fez qualquer confusão. “Fiquei logo bastante entusiasmado, porque são 80
dois instrumentos pouco habituais de se encontrar na mesma formação. Mas o aliciante foi precisamente esse, juntar a abordagem de duas pessoas que vêm de linguagens diferentes, pegar nos pontos comuns e criar música onde não existia uma base rítmica. Não tendo instrumentos rítmicos como a bateria ou o baixo a acompanhar, foi fantástico 81
conceber estes temas, mas deu muito trabalho”, confessa, com um sorriso, João Frade. Um trabalho que passou, inclusivamente, por escolher qual o trompete e o acordeão que melhor casavam com o «Morphosis». E o disco agora lançado com o apoio da Direção ALGARVE INFORMATIVO #223
Regional de Cultura do Algarve e de alguns municípios algarvios é quase um conjunto de ensaios gravados, momentos em que as duas mentes partilhavam ideias e davam origem a algo verdadeiramente especial. “Há um ou outro tema que se ouviu nos concertos do «365 Algarve», mas a maioria deles são músicas novas, que foram nascendo nos ensaios para ALGARVE INFORMATIVO #223
atuações”, explica Hugo Alves. “Sendo este um trabalho essencialmente de música criativa e autoral, sermos só dois elementos acabou por nos dar mais espaço para produzirmos temas totalmente originais. Acho que nem se ponderou usar músicas de terceiros no disco”, acrescenta João Frade. 82
tínhamos definidas para os temas e depressa chegávamos ao produto final. Ao mesmo tempo que íamos ensaiando os espetáculos, estávamos a gravar temas originais, que depois deram corpo ao disco”, declara o trompetista. E se o desafio foi enorme para os dois músicos, também o foi para o próprio público, por se tratar de uma nova sonoridade, de algo que não estavam habituados a ouvir. No entanto, raro foi o concerto em que, no final, toda a gente quis falar com os artistas, dar-lhes os parabéns, até para surpresa da dupla, admite João Frade. “O feedback foi muito positivo, mesmo de pessoas de idade mais avançada que, por vezes, podem ser mais conservadoras”, garante, com Hugo Alves a lembrar que os 10 concertos inseridos no «365 Algarve» acontecerem em palcos bastante distintos uns dos outros, desde os tradicionais auditórios a igrejas, o que fazia com que a própria sonoridade do projeto variasse. “Houve espetáculos com instrumentos amplificados, noutros com zero amplificação, o que também altera a perceção do que se está a escutar. Num concerto o público estava mesmo em cima do palco, sentado num círculo, connosco no meio”, descreve João Frade. Mais de três anos demorou o disco a chegar ao mercado porque, conforme referido, as agendas de Hugo Alves e João Frade são verdadeiramente «infernais», pelo que se foi gravando aos poucos. “Temos em comum a característica de produzirmos com alguma rapidez, pelo que bastava juntar as ideias que 83
DEMASIADO INTERESSANTE PARA DESAPARECER Cativar novos públicos ou menos tradicionais era um dos objetivos do «365 Algarve» e o «Morphosis» cumpriu com isso na perfeição, pois muitos eram ALGARVE INFORMATIVO #223
os apreciadores de trompete e de acordeão que iam aos concertos sem terem a certeza do que encontrariam em palco. E, assegura, Hugo Alves, ninguém se mostrou desagradado com os espetáculos. “Experimentaram algo diferente, outra roupagem e estilo de música, mesmo nós temos dificuldade em dizer se isto é jazz, world music ou outra coisa qualquer. Cada tema tem características distintas e o projeto quase ALGARVE INFORMATIVO #223
que mudava de som em cada sítio onde tocámos”, conta o responsável da Orquestra de Jazz do Algarve. “É natural que, em alguns locais, os concertos tenham «voado» um bocadinho mais para outras paragens e, noutros, tenham sido mais contidos ou resguardados. Uma das virtudes do «Morphosis» é que sai sempre diferente em cada atuação, devido à improvisação nos solos”, reconhece. 84
Trompete e acordeão que são, realmente, dois instrumentos muito dados ao improviso, ainda para mais quando nas mãos de dois mestres como Hugo Alves e João Frade, daí perguntarmos se, após os tais «voos», era fácil regressar ao alinhamento, à terra. “Sempre tivemos em consideração que estávamos a dar um concerto e, ao mesmo tempo, a experimentar e houve ocasiões em que nos permitimos voar sem rede, com a certeza de que nunca nos «perdemos». Existe aqui uma coisa que é fundamental quando se faz música com outras pessoas, que é a confiança mútua. Um tinha a perceção de que o outro quis subir uns degraus e foi por ali afora, mas sabia que ele depois voltava à base”, frisa João Frade. Se tal funcionaria tão bem ou não com outros elementos, dependeria de que pessoas seriam essas, entende Hugo Alves, mas isso faz parte da magia do improviso. “Às vezes, o estar fora das regras também é uma regra. Temos um imenso respeito um pelo outro em termos pessoais e musicais e vamos deixando a coisa fluir, no entanto, há sempre aspetos inerentes à condução de um concerto e à criação de uma música. Mas há discos de jazz que têm dois temas, um de cada lado, o que dá sensivelmente 22 minutos por cada música”, indica Hugo Alves. Como é óbvio, estes «voos» ao sabor do improviso aconteciam porque os dois músicos sentiam que o público estava virado para esse lado, mesmo quando não se manifestava, pois não se tratavam propriamente de concertos de pop/rock em que as pessoas cantam de braços levantados no ar. “Houve situações em 85
que estavam hirtas demais para o que estava a acontecer simplesmente porque o deslumbre e a admiração eram enormes. Às vezes as pessoas não conseguem reagir durante a atuação e depois, no final, não se querem ir embora”, sublinha Hugo Alves, ideia rapidamente confirmada por João Frade, também ele habituado a esses episódios. Entretanto, terminou a primeira edição do «365 Algarve», mas Hugo Alves e João Frade já tinham decidido que o «Morphosis» não se ficaria por ali, que gravar um disco era algo inevitável. E só não aconteceu mais cedo por causa das vidas atribuladas da dupla. “Fomos gravando na medida do possível, o que também permitiu que alguns temas ganhassem outra maturidade. Quando fazemos algo de que gostamos, e que é interessante, é normal que queiramos registá-lo em disco”, aponta Hugo Alves, com João Frade a mostrar-se bastante motivado para prosseguir com as apresentações ao vivo do projeto, mas também com o seu próprio desenvolvimento artístico. “Queremos prosseguir com este trabalho de busca em termos estéticos, compor novas ideias, eventualmente incluir outro elemento. E levar esta música ao maior número de pessoas possível”, declara o acordeonista. “O «Morphosis» é um projeto, como o próprio nome indica, de transformação, por isso, de certeza que a música vai evoluir e que vamos escrever temas novos, vamos decidir quem vamos incluir, ou não, numa próxima fase e vamos andando por aí em concerto”, conclui Hugo Alves . ALGARVE INFORMATIVO #223
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RÃO KYAO REUNIU MÚSICOS PORTUGUESES, ESPANHÓIS E MARROQUINOS PARA UM ESPETÁCULO NO ÂMBITO DA BIENAL IBÉRICA DE PATRIMÓNIO CULTURAL Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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Cine-Teatro Louletano recebeu, no dia 12 de outubro, Rão Kyao, um dos mais carismáticos músicos portugueses, no seguimento de um desafio artístico lançado por este equipamento cultural para que se juntasse com músicos espanhóis e marroquinos num concerto inédito no âmbito da Bienal Ibérica de Património Cultural que aconteceu em Loulé, de 11 a 13 de outubro. Nesta estreia nacional, o público foi convidado a vivenciar tudo aquilo que une Portugal, Espanha e Marrocos, numa triangulação musical mediterrânica feita de múltiplas pontes e influências civilizacionais.
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Os convidados de Rão Kyao (flautas de bambu e voz) foram Toni Lago Pinto (guitarra clássica e viola braguesa) e Renato Silva Júnior (acordeão e teclados), de Portugal; Miri Abdellah (violino e rebab) e Barmaki Mohamed (percussões tradicionais árabes), de Marrocos; e Miguel Angel Ramos Ortiz (guitarra clássica), de Espanha. Recordese que Loulé acolheu este ano, pela primeira vez, a Bienal Ibérica de Património Cultural, um evento de referência a nível europeu que constitui um ponto de encontro e fórum de debate para profissionais e instituições dedicadas ao Património Cultural. A sua área expositiva, a diversidade de atividades científicas e profissionais e a sua programação social resultam num evento único que tem por objetivo a 90
promoção, valorização e visibilidade do setor do Património Cultural através da agregação dos diversos agentes e stakeholders que atuam no mesmo. Rão Kyao tem participado por várias ocasiões em colaborações e gravações imbuídas deste espírito multicultural, de que são exemplos o CD «Delírios Ibéricos» com um grupo de músicos, os Ketama, ligados ao Flamenco, e com músicos marroquinos no CD «Fado Virado a Nascente», ambos de sua autoria. No mesmo registo inseriu-se o espetáculo «O meu coração é árabe», apresentado em Silves, em 2015, em parceria com os músicos Custódio Castelo, Paulo Ribeiro,
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Eduardo Ramos e Baltazar Molina. Tendo-se deslocado recentemente a Marrocos, Rão Kyao convidou dois músicos de Casablanca que lhe parecem, pela sua grande qualidade e apetência para este tipo de colaboração, ser indicativos de uma prestação que se baseia, por um lado, em temas bem estruturados do português e de músicas associadas à tradição dos três países e que, ao mesmo tempo, apela para o sentido espontâneo e criativo de todos os músicos envolvidos através de vários momentos de improvisação individual e coletiva .
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os dias 12 e 13 de outubro, a Marina de Portimão foi palco do Tricks4Five, evento inteiramente dedicado ao skate e que atraiu mais de meia centena de praticantes oriundos de todo o país, no âmbito da Cidade Europeia do Desporto 2019. Num street course instalado propositadamente para o evento, os skaters, divididos pelas categorias Sub-16 para quem nasceu depois de 2002 e Open, disputaram um prize money de mil euros e muitos outros prémios. Depois das eliminatórias de sábado, a grande final disputou-se numa solarenga tarde de domingo e foi Patrick Costa, de Oeiras, o mais pontuado pelo júri devido aos seus toques e consistência, levando para casa 400 euros. Com uma diferença mínima ficou logo atrás o brasileiro Matheus Sousa (250 euros), com Manel Santos a obter o terceiro lugar (150 euros). Guilherme Durand e Duarte Pires completaram o lote dos cinco melhores na categoria Open, com prémios monetários de 100 e 50 euros, respetivamente. Na categoria dos mais novos, os Sub-16, notaram-se bastante participantes do Algarve e o nível da nova geração de skaters augura um futuro risonho para a modalidade. Marcus Lima, de Loures, foi o vencedor, ficando Jawed Diot, de Lagos, em segundo e Nimrod Toledo, da Ericeira, em terceiro. Bernardo Monteiro quedou-se pelo quarto posto e Leon Heimark, de Portimão, ficou com a quinta posição, sendo também o melhor skater local em prova. O Tricks4Five foi uma organização conjunta do Radical Skate Clube e do Portimão Surf Clube e contou com o apoio do Município de Portimão, Independent, Santa Cruz e Spitfire . ALGARVE INFORMATIVO #223
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TEATRO DO SÓTÃO AP PEÇA NO 7.º FESTIVAL DE CINEMA E SAÚDE M
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PRESENTOU NOVA L INTERNACIONAL MENTAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Grande Auditório da Universidade do Algarve, no Campus de Gambelas, em Faro, foi palco, nos dias 3 e 4 de outubro, da sétima edição do Festival Internacional de Cinema e Saúde Mental (FICSAM), organizado pela Associação Inconsciente Coletivo. O evento teve como objetivos informar e sensibilizar a comunidade para as questões relacionadas com a saúde mental através da exibição de obras cinematográficas produzidas por realizadores de todo o mundo, contribuindo desta forma para a ALGARVE INFORMATIVO #223
diversidade de olhares sobre as diferentes problemáticas. Para além do cinema, outras áreas artísticas estiveram em foco no festival, casos da pintura, fotografia e teatro, sempre com o intuito de fomentar a reflexão e consciencialização da comunidade para o tema da saúde mental. Disso foi exemplo a apresentação da nova peça do Teatro do Sótão da ASMAL – Associação de Saúde Mental do Algarve, intitulada «Ir, é Ser» e protagonizada pelos utentes da associação, que recolheu efusivos aplausos da assistência . 112
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NELSON CONCEIÇÃO E ENSEMBLE DA BANDA ARTISTAS DE MINERVA ATUARAM NA BIENAL IBÉRICA DO PATRIMÓNIO CULTURAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
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oulé recebeu pela primeira vez a Bienal Ibérica de Património Cultural, um evento de referência a nível europeu que constitui um ponto de encontro e fórum de debate para profissionais e instituições dedicadas ao património cultural. A sua área expositiva, a diversidade de atividades científicas e profissionais e a sua programação social resultaram num evento único que teve por objetivo a agregação dos diversos agentes e stakeholders que atuam ao nível do património cultural. Nelson Conceição, que apresentou, em março do corrente ano, o seu último trabalho «Descobrindo-me» no palco do Cine-Teatro Louletano, regressou a Loulé, ALGARVE INFORMATIVO #223
no dia 11 de outubro, com um grande espetáculo no Auditório do Solar da Música Nova, para encerrar o primeiro dia da Bienal num concerto juntamente com o Ensemble da Banda Filarmónica Artistas de Minerva, a que se juntaram mais alguns convidados. A direção musical, arranjos e acordeão estiveram a cargo de Nelson Conceição; no clarinete e saxofones esteve Petru Moroi; nas percussões, Pedro Branco; Paulo Machado no baixo; Todd Sheldrick na trompa; e na voz Cristina Paulo. A qualidade do trabalho de Nelson Conceição garante uma contagiante fusão que revisita a portugalidade musical, percorrendo diferentes territórios que vão do fado ao cante alentejano, do jazz à música tradicional, 122
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sempre com uma roupagem contemporânea. Natural de Bordeira, uma localidade pródiga em grandes acordeonistas, Nelson Conceição tem desenvolvido um trabalho de reconhecida qualidade e mérito na área do ensino, com mais de 100 prémios obtidos através dos seus alunos, a que se junta a recolha e recuperação do património imaterial relacionado com os seus antepassados. O prestigiado intérprete é coordenador do projeto «Terra de Acordeão» e tem ALGARVE INFORMATIVO #223
gravado inclusivamente a maioria dos grandes nomes nacionais do acordeão no seu estúdio, sem esquecer a sua colaboração profunda em tradições como as Charolas. Tem sido elemento integrante de projetos de diferentes campos e contextos musicais, quer na área mais popular, como as «Moças Nagragadas», quer numa vertente mais vanguardista, como o «Mito Algarvio Ensemble – Cyneticum», sob a direção de João Frade . 124
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OPINIÃO
Valerá a pena editar um livro? Paulo Cunha (Professor) uando se faz o que se gosta, o tempo tem o condão de parecer que passa rapidamente. Tem sido o caso com várias vertentes profissionais e lúdicas a que dediquei parte da minha vida. Aliás, só assim é possível continuar a festejar os vários projetos em que me envolvi, celebrando os muitos anos de mútua entrega, envolvência e recompensa. Volvidas duzentas semanas, cerca de cinquenta meses depois, constato que valeu a pena ter aceitado o desafio do proprietário da revista «Algarve Informativo», Daniel Pina, para, escrevendo, partilhar com o mundo a minha forma de ver e estar na vida. Sendo apenas um simples e provinciano professor de Educação Musical, que ousou partilhar o que pensa sobre assuntos, para alguns, comezinhos e simples evidências, tentei «tocar» quem os achou bons motivos de reflexão. Com a edição do livro «CEM desabafos… SEM espinhas», vi - sem esperar - recompensada a minha entrega à escrita regular e persistente. Usando esta primeira edição fora da área científica, as proprietárias da AlgarCongress, Catarina Oliveira e Cláudia Aragão, arriscaram e «atiraram-se às feras», editando quinhentos exemplares do citado livro. Tal como o que já tinha aprendido com as edições discográficas, grande parte dos meus amigos ligados à escrita e à edição literária vaticinaram-nos um futuro negro: “Já ninguém compra livros!”, “Ninguém vai aos lançamentos, local onde ainda se vendiam alguns livros!”, “Sem patrocínios nem apoio, foi dinheiro que deitaram à rua. Vão ficar com os livros todos em casa!”, “Só as grandes editoras é que distribuem os seus livros em Portugal, e os grandes espaços comerciais, para os lá ter, ficam-vos com o couro e o cabelo!”, “Hoje, são os escritores que fazem edições de autor para se dar a conhecer, ALGARVE INFORMATIVO #223
acabando por, no final, vir a oferecê-las aos amigos e à família”. Passados dois anos, sinto que chegou a altura de fazer o balanço sobre a estratégia que gizámos para a divulgação, promoção e venda do livro. Confesso: foi minha a ideia de privilegiar e escolher as Bibliotecas Municipais para a apresentação do livro no Algarve. Parecia-me lógico escolher espaços onde o prazer da leitura estivesse em consonância com o prazer que senti em escrever. Em todos os espaços que acolheram a apresentação da obra, as apresentações estiveram a cargo de gente amiga ligada à cultura e às artes que, com a sua visão atenta, conhecedora e livre, enobreceu os inesquecíveis momentos que nos foram dados a desfrutar. De igual forma, todas as apresentações terminaram com a oferta de música a quem se dignou presentear-nos com a sua presença e atenção, interpretada por excelentes músicos, com os quais tive o prazer de trabalhar ao longo da vida. A maioria das Bibliotecas contactadas respondeu afirmativamente ao desafio, bem como as personalidades convidadas para apresentar a obra e enriquecer as apresentações com os momentos musicais que integraram este périplo algarvio em forma de minidigressão. Todas elas, de uma forma altruísta, generosa e benemérita, mostraram-me, na prática, do que é feita a amizade. À medida que as apresentações se sucediam, o que mais desejávamos (a editora e eu) não era vender o livro, era ter gente que aceitasse o convite para usufruir e fruir o que lhes tínhamos para oferecer. Deixando apenas na nossa memória os vários sentimentos e sensações a que fomos sujeitos nestas casas de cultura (Bibliotecas), lançámonos na senda das apresentações nalguns pequenos e grandes espaços comerciais ligados à cultura e à arte. Também esses foram 132
momentos dignos de ficarem na história, tantas e distintas foram as estórias. Enfim… feitas as contas, o cenário não foi tão negro como mo pintaram, mas não deixou de ter algumas nuances acinzentadas. Em altura de balanço, e com mais cem novos «desabafos» escritos, o meu primeiro ensaio nas lides literárias continua ao vosso dispor para encomenda nos sítios virtuais da AlgarCongress. Tal como qualquer livro, só cumprirá o seu objetivo quando for lido! Não perdi horas da minha vida a refletir e a escrever, gastei-as num propósito comum: a partilha de ideias e ideais. Publicamente, agradeço às autarquias algarvias (Albufeira, Faro, Loulé, Olhão, Portimão, S. Brás de Alportel, Silves e Tavira), que, através dos seus responsáveis, disponibilizaram as suas Bibliotecas Municipais, espaços culturais e a participação nalgumas feiras do livro. Agradecido, saúdo os programadores culturais dos espaços comerciais/culturais Fnac-Faro, Fnac-AlgarveShopping e galeria VTerra, bem como as escolas Conservatório de Música de Olhão e a Escola Secundária João de Deus - Faro pelos honrosos e prestigiantes convites. Jamais esquecerei o que descobri sobre mim, nas palavras refletidas, maturadas e eloquentes de gente boa, que me agraciou com a sua disponibilidade em partilhar o seu olhar crítico e analítico sobre o que leu nas páginas do meu livro. Para sempre grato, Ana Isabel Soares, Adriana Nogueira, Afonso Dias, Alexandra Rodrigues Gonçalves, António Pereira, Célia Jacinto, Dália Paulo, Daniel Pina, Dora Barradas, Eduardo Ramos, Luís Barriga, Maria de Lourdes Cêa, Pedro Jubilot, Rogério Bacalhau e Sandra Boto. Querendo acabar em grande as apresentações, tive a enorme felicidade e privilégio de ter ao meu lado grandes músicos algarvios. Solidários, criativos e participativos, enobreceram com as notas musicais as palavras escritas e ditas. De pé - efusivamente - vos bato 133
palmas, Albano Neto, Anabela Silva, Carla Pontes, Coral Feminino Outras Vozes (Ana Côrte-Real, Carla Lúcio, Cláudia Cabanita, Elsa Gonçalves, Isabel Trindade, Joana Cunha, Marisa Mendes, Patrícia Martins e Vera Rocha), Coro Juvenil do Grupo Coral Adágio, Eduardo Ramos, Fernando Ponte, Filipe Correia, Gonçalo Pescada, Grupo F3 (Carlos Borges, Eva Costa, Patrícia Neto Martins e Marta Rijo), João Pedro Cunha, José Alegre, Rui Mourinho e Vá de Viró (Adriano St. Aubyn, André Lopes, Aníbal Madeira, Cláudia Matias, Gonçalo Pescada, Igor Arrais, Jorge Semião, Patrícia Martins e Paulo Girão). Finalmente, aqui deixo uma palavra de apreço e de gratidão a todos que, para além das palavras, me honraram com os atos, tendo estado presentes e levando-me, na forma de um livro, para as suas casas. Têm-me e guardar-meão sempre consigo… e só por isso já valeu a aventura! .
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OPINIÃO
Da futilidade dos poetas Adília César (Escritora) Muitos dias de silêncio são necessários para recuperar da futilidade das palavras. Wu Hsin
osto do silêncio e sei que é difícil escutar o silêncio em mim. O escritor e explorador Erling Kagge também o aprecia e sugere que o silêncio é o verdadeiro luxo da contemporaneidade: um tesouro a descobrir. Também gosto das palavras e sei que temos todas as palavras pensadas, ditas e escritas em nós. Comunicamos através de um discurso que reflecte o ensimesmamento da nossa racionalidade, ou seja, o idioma do nosso pensamento, a necessidade de comunicar algo aos outros, esse mundo interior e privado. Comuniquemos, pois, em liberdade, através dos diferentes modos de expressão que temos ao dispor. Ora, a mente ocupa-se do processamento contínuo dos pensamentos, não sendo possível não pensar. Com os pensamentos e pelos pensamentos, a nossa mente aceita que o mundo onde vivemos é criado por nós: os desejos íntimos, a satisfação desses desejos, o medo de sucumbir, a vergonha de sermos julgados pelos outros, ou, pelo contrário, a cegueira face a todo este processo de escrutínio vital. No caso do escritor, a paisagem mental alterna entre planos paralelos de verdade ALGARVE INFORMATIVO #223
e mentira, ou melhor dizendo e de uma forma mais justa, a versão discursiva que chega ao leitor é a vida ficcionada do escritor: o romance, o conto, o poema. Saberá o escritor que é escritor? Conseguirá ele ver e escrever algo que os outros não tenham ainda visto nem escrito? E qual é a percepção dos leitores em relação às mesmas assumpções de valor intrínseco do criador? Muitos escritores reflectem sobre a escrita, tentando esclarecer as suas próprias perplexidades. Por exemplo, Hjalmar Söderberg (1869-1941) citava os poetas como instrumentos com que a época toca a sua melodia, as harpas eólicas com que o vento canta (in O Doutor Glas). Também Agustina Bessa-Luís (1922-2019) alude à poesia e aos poetas: a poesia, não acredito que seja esse estado nervoso tão doente e agitado. Alguns poetas parece que lhes arrancam os dentes ou deliram numa meditação tão assombrosa com coisas que nos descrevem o amor e a morte, mas não sabemos se se lhes parecem (in Dicionário Imperfeito). Não sei a que poetas ambos se referiam, mas é bem verdade que estes seres criativos – os poetas – parecem pessoas estranhas, distanciadas da sua época e aniquiladas pela boçalidade dos dias, pela incompreensão e pela indiferença dos 134
outros que não os entendem nem admiram. Acredito que pelo menos alguns deles sejam poetas genuínos. Também existe outro tipo de criaturas: as que se definem como poetas, de ego superlativo, maiores, melhores, excelentes, indigestos, fúteis. São tantos os poetas, tantos os poemas, tantos os adereços, são tantas as festas, tantas as gratulações, tantas as quimeras. Tantos os vazios: esses intervalos entre as palavras são o que eles escrevem melhor. Sim, disseram-te que escreveste um poema bonito. Mas repara: essa beleza não é fundamental, não vem de dentro nem se vê por fora. A beleza é um estado e não uma característica, é uma condição do ser, da expressão de qualquer coisa estética muito ampla. A imagem do belo, essa misteriosa matriz. Não sou eu, não és tu, é a sintonia peculiar da abstracção dessa palavra, uma imagem com múltiplos sentidos visíveis e invisíveis, uma oração quase sagrada. Que belo é alcançar o inalcançável... A melancolia do papel riscado por cada verso. Mas apesar de tudo o que te é dado ver e sentir, por favor entende de uma vez por todas que um poema bonito não faz um grande poeta. Escrever um poema não é bordar uma toalha de mesa. E dar um título à minha tragédia apenas evidenciará o óbvio. Na verdade, ninguém quer saber do escuro ou dos esqueletos que dançam nos cantos da casa. O melhor será varrer os despojos para debaixo do tapete: alfinetes, vozes de crianças, flores de 135
compaixão que sabem a chamas. Ninguém os verá, mas eu sei que os fantasmas estão ali, cobertos com fatiotas de ironia. E no apogeu da festa, tocar pequenos clarins de dor para anotar na consciência uma doce tristeza na medida justa. Amanhã é um outro dia que poderá não chegar. É preciso preservar o manuscrito ainda inédito: isso é o poema, mesmo que eu ou tu lhe chamemos outro nome. E se eu não for capaz de o escrever, recolher-me-ei a pensamentos mais profundos, porque a futilidade é uma doença e muitos dias de silêncio serão necessários para recuperar da futilidade das minhas e das tuas palavras ALGARVE INFORMATIVO #223
OPINIÃO
Do Reboliço #59 Ana Isabel Soares (Professora) uando se aproxima o Outono, as terras por onde anda o Reboliço ficam como tudo à volta, porque são elas o tudo que à volta há: não é tanto o caírem as folhas das árvores (ali, as figueiras despemse num zut!, quando se dá por elas, só têm para exibir as longas e elegantes garras cinzentas, parecem orgulhar-se da nudez; às árvores boloteiras que são os sobreiros sobra-lhes a folha miúda e grossa; as oliveiras não abandonam as pontas esverdeadas, verde seco, verde bom, agora as bolinhas do candeio inchadas no fruto que há de sofrer, de que se conta morte e vida, “verde foi meu nascimento...”), ou que lhes mude a cor para vermelhos e ocres – será isso para as distantes terras húmidas, os lugares onde, porque há água, o pincel do mundo pode espalhar, misturar, confundir aguarelas. É mais o céu a projetar as sombras do que, ora sim, ora não, se vai mostrando. Voam altas as nuvens, de passeio, e sombreiam, mas ao longe, lá em cima, vaidosas no mostrarem-se inteiras, arredondadas nos extremos, desenho puro, pegazinhas algodoadas ou fiapos em corrida. Enfeitam o azul, mas é de iniciativa dele que escureça ou embranqueça, conforme seja mais ou pouca a água que lhe pede para cair. (Pedir, ela pede. Cair...) Como é esse tudo à volta que fica? Como fica, no Outono? O Reboliço observa. Não é bicho para se pôr a inventar. Olha, fareja, aponta as orelhas, toca com a almofada das patinhas a terra. Parece o moleiro, que não se ficava de lhe dizerem o porquê de haver as coisas. ALGARVE INFORMATIVO #223
Tinha de ser ele a chegar lá: “Sabes, filho da minh’alma, porque é que a chuva cai?”, e discorria, como as gotas que queria ver cair no solo seco, sobre o vapor que se eleva ou que se evola, o enchimento do céu, a carga menos e menos suportável, tudo isso aprendido no banco de escola em que se sentava encostado à ombreira do moinho, replicando o gesto do canito, a boina como orelha em riste, os olhos no focinho subido, a farejar, a farejar, oxigenando o pensamento e acolhendo as ideias que eram nele novas. As terras que desde ali via eram longas, estendidas como os lençóis quando se alisa a cama feita de lavado. Nem uma ruga – em dias limpos, já se sabe, mostram-se, e via o moleiro, os topos do Monchique alto. A lonjura deve ser o que repugna as gotas de água: caindo, aonde nos acolheremos?, e o queimar da terra – em certos dias, ainda Verão, se toca o chão um nada de água, é vapor que desaparece no mesmo instante, torrões como pedras, lisura em vez de colo. Mas é a terra que se tem e, por ser tida, se quer. É a terra devedora, a terra a quem se deve, e nisso sabem andar as gentes das terras por onde anda o Reboliço – sorriso pronto, “Não tem dúvida, vai-se andando”. Mas há bocadinhos onde o lençol, insubmisso, se enrugou por baixo da colcha, mal o mundo saiu do quarto a pensar que estava ajeitado mais aquele leito: em vez do terreno liso, quase impercetível, subiu um monte, nem isso, um cabeço, penedo breve que o mundo só de longe percebe e, quando volta atrás para alisar, deixa de ver. Nem rugas da terra são, serão sorrires: monta uma encosta, encosta-se-lhe a 136
Foto: Vasco Célio
outra, as duas atrás de uma primeira, zum, zum, zum, a terra a fazer trejeitos, mas baixinho, que o mundo não dê por elas. Não dará o mundo, mas vê-as, de dentro dele, o Reboliço: vê estradinhas finas, vê macias curvas, as sombras das nuvens duplicar em formas nesse chão moldado, sopé que sobe ou falda que desce, um valezinho ao fundo, cinco pares de casas, dois fornos de pão, as galinhas à roda das migalhas, bandos, atrás delas, de pintos, e três homens a uma mesa, na rua – do lado de fora da casa do forno, conversando e sorrindo ao dia. Nas mãos de cada um, uma navalhinha. À frente de cada um, uma borda de pão, naco de toucinho, uma mini fresca. A conversa passa, a conversa segue, o Reboliço entretém-se a olhar para as galinhas mais 137
os seus redondos, amarelos seguidores, e a cheirar o céu. “Não... Isto hoje já não chove, por mor do vento”. De dentro da casinha baixa, trazendo numa mão um cesto com reforço de côdeas e na outra o que o Reboliço vê como fundo de louça branca, a mulher avança até à mesa dos homens. “Ora, não era preciso estar com mais isso – temos aqui avondo, Dona Rogélia”. “É só um tomatinho ali da horta”, que pousa na mesa, pousado no prato: encarnado sangue, redondas fatias vermelhas a mostrar as estrelas que, noutras paragens, seriam o coração de um floco de neve . *Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #223
OPINIÃO
Carros abandonados Paulo Bernardo (Empresário) sta semana tive a oportunidade de entrar num organismo do estado e ver como os nossos impostos são destruídos sem qualquer cuidado, nenhuma empresa privada, a não ser que esteja falida, chega àquele estado. Andei pelo meio de casas semiabandonadas, carros desmantelados, onde uns vão dando peças para outros até o último ter parado, muito triste, parecia um cenário de guerra. Não é obviamente culpa de quem administra localmente e sim culpa de uma centralização do Estado e de um desinvestimento nas regiões fora de Lisboa. Tenho consciência que aquilo é apenas a pontinha de um grande iceberg, nem quero imaginar o que se perde em dinheiro com este tipo de gestão. Não entendo como aqueles carros não foram vendidos em tempo útil e substituídos por outros, não entendo como espaços com alguma dignidade não servem para alojar outros serviços que acabam por alugar espaços pagos a peso de ouro. Como eu digo, não temos falta de dinheiro, temos é falta de fazer uma gestão correta. Acredito que vamos continuar nesta degradação, pois não noto qualquer mudança na estratégia. Como exemplo também temos hospitais com equipamentos parados por falta de manutenção e depois vamos contratar ao privado. Isto leva-me a pensar que a ALGARVE INFORMATIVO #223
gestão privada é bem mais cautelosa que a pública, pois na pública é o dinheiro de todos nós que está em causa. Em simultâneo, também vejo bastantes melhorias nas questões de acesso aos serviços públicos via internet. Há pouco tempo pedi a renovação da carta de condução e foi bem fácil, 26 euros e recebi a carta em casa, sem filas. Também uma entidade em que há algum tempo isto seria impensável, a PSP, tem um sítio na internet muito interessante e bastante útil para tratar uma quantidade de coisas. Sendo mais otimista diria que os carros abandonados podem ser fruto de uma transição entre um estado analógico para um estado digital. Pois esta coabitação não é fácil, mas também nada justifica este abandono do estado regional. Talvez este abandono do país pelo Estado faça com que a população abandone o Estado, ou seja, não vote, se abstenha. Esta abstenção, como tenho vindo a dizer, não vai trazer nada de bom, pois cada vez mais o Estado não representa a população. Assim, caminhamos para que os partidos populistas de qualquer espaço político, e chamo populista àqueles que dizem o que o povo quer ouvir, vão ganhando força no nosso espaço parlamentar. Nada contra, agora, a culpa não é desses partidos, é sim da classe política que só olha para o povo de quatro em quatro anos. Quando André Ventura 138
disse que, daqui a oito anos, o «Chega» seria a maior força política, se nada mudar até lhe dou razão, mais o «Livre» e o «PAN». Os outros é colocar os olhos no que aconteceu ao CDS e PCP e ver para onde os outros caminham. Sei que estão a dizer que isso não é possível, que ao PS e PSD não lhes acontece isso. O PSD é já a seguir e o PS é deixar de ser governo. 139
Ainda aceito que digam que em Portugal não é assim e tal, mas o que acontece pela Europa fora só deve servir de alerta. Olhem para quem paga impostos, não os tratem como carros abandonados .
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“LOULÉ É UMA TERRA QUE SE ORGULHA DO SEU PASSADO, CONTEMPLA O SEU PRESENTE E AMBICIONA COM ESPERANÇA O SEU FUTURO”, AFIRMA VÍTOR ALEIXO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina oulé acolheu, de 11 a 13 de outubro, a Bienal Ibérica de Património Cultural, com um programa diversificado e ambicioso que «tomou conta» de vários equipamentos culturais da cidade durante o fim-desemana, enquanto que o Largo Eng.º ALGARVE INFORMATIVO #223
Duarte Pacheco foi o centro nevrálgico do evento, com uma tenda gigantesca onde dezenas de entidades e empresas do setor deram a conhecer o que fazem no seu dia-a-dia. A edição de 2019 da Bienal teve como país convidado o Reino de Marrocos e foi com pompa e circunstância que a inauguração decorreu no final da manhã de sexta142
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feira, após vários meses de planeamento e preparação. E Vítor Aleixo, autarca que nutre um imenso respeito e uma enorme paixão pelo património cultural da sua terra, não escondeu a satisfação por poder abrir as portas da cidade de Loulé, mas também de todo o Algarve, a um evento que promove o património cultural como um motor de desenvolvimento social, cultural e económico dos territórios, “mas também educacional e para a paz e entendimento entre as pessoas”. Foram três dias dedicados ao património cultural nas suas diversas formas e que permitiram conhecer vários locais da cidade e do concelho de Loulé, mas também das entidades e empresas presentes na tenda institucional da Bienal
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Ibérica. O evento marcou a diferença por uma programação variada e de grande qualidade e, mercê da sua forte vertente educacional, convidou dos mais jovens aos mais idosos para participarem nas múltiplas iniciativas agendadas, mas também para contribuírem com os seus conhecimentos e experiências. “Nesta tenda podemos viajar por Portugal, Espanha, Itália, Áustria e Marrocos, o país convidado que se representa com o seu artesanato, a sua música e a sua riquíssima e contagiante cultura. Porque somos todos diferentes, mas todos ligados por um robusto laço do tempo e da história, esta é uma excelente oportunidade para fortalecermos as ligações entre países
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e culturas, para redescobrir as nossas raízes e festejar as nossas identidades”, considerou Vítor Aleixo. O presidente da Câmara Municipal de Loulé sublinhou o papel que a cultura no seu sentido mais lato desempenha no diaa-dia deste concelho, com apostas que abraçam diversas áreas, desde a museologia à literatura, da música às tradições. “Loulé é uma terra que se orgulha do seu passado, contempla o seu presente e ambiciona com esperança o seu futuro”, sublinhou o edil, considerando que a bienal “é de todos os louletanos, de todos os que amam o património cultural e de todos aqueles que podemos conquistar com esta mostra”. “Este encontro de gerações e culturas, de pensamentos e experiências, não teria sido possível sem o trabalho e o ALGARVE INFORMATIVO #223
apoio de uma longa lista de intervenientes, de entidades, associações e pessoas singulares”, enalteceu ainda Vítor Aleixo, endereçando um agradecimento especial à Embaixada de Marrocos em Portugal pelo papel decisivo para a participação do Reino de Marrocos no evento enquanto país convidado. “Temos um sentimento profundo de partilha, de uma cultura e raízes comuns, que tem atravessado ao longo da história períodos de apagamento e períodos de ressurgimento de interesse e nós queremos filiarmo-nos na tradição daqueles que têm interesse em cultivar uma relação amistosa e de aprofundamento de conhecimento com Marrocos”, garantiu Vítor Aleixo . 146
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BLIP – BETTER LIVING IN PORTUGAL REGRESSOU AO PORTIMÃO ARENA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina feira empresarial BLIP – Better Living in Portugal voltou ao Portimão Arena, nos dias 12 e 13 de outubro, para promover algumas das principais empresas de produtos e serviços a operar no país e, em especial, na região algarvia. O certame, cuja designação se poderá traduzir por «Viver Melhor em Portugal», tem periodicidade anual e destina-se a residentes e visitantes ALGARVE INFORMATIVO #223
nacionais e estrangeiros, constituindo uma excelente oportunidade para se conhecer uma ampla oferta de produtos e serviços, em áreas tão distintas como a saúde, bricolage e jardim, serviços financeiros e seguradoras, artesanato, gastronomia, tecnologia ou o turismo. A edição deste ano da BLIP apresentou um novo horário, abrindo portas no dia 12 de outubro das 10h às 18h e, no dia 13, entre as 10h e as 16h, mas manteve o formato dedicado à realização de 150
negócios, complementado por atrações focadas nos melhores produtos e empresas. O evento contou com o apoio do Município de Portimão e é organizado desde 2001 pela AFPOP - Associação de Proprietários Estrangeiros em Portugal, entidade com uma vasta variedade de
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serviços e atividades e vocacionada para possibilitar aos seus membros o acesso a informação atualizada sobre a lei portuguesa, assistência em diversas áreas e negociação financeira benéfica para a compra de casa, carro e seguros de saúde, entre outros .
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #223
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