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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 16 de novembro, 2019
«EM CASA TAMBÉM NÃO FAZEMOS A CAMA» | «IBN QASI» | LAT66 |MOÇOILAS E MARIA JOÃO 1 ALGARVE INFORMATIVO #226 FEIRA DA PERDIZ |CONFRARIAS RUMARAM A ALBUFEIRA | LOULÉ FOI CAPITAL DO ACORDEÃO
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16 - Algarve Classic Festival no Autódromo Internacional do Algarve
80 - 69.º Troféu Mundial de Acordeão em Loulé
36 - 100 anos de Polícia Marítima festejados em Quarteira
94 - «Ibn Qasi» da ACTA ALGARVE INFORMATIVO #226
122 - Moçoilas e Maria João juntas em Lagoa 8
50 - Albufeira recebeu Congresso de Confrarias do CEUCO
106 - Projeto LAT66 de Carlos Norton
152 - Feira da Perdiz de Martim Longo
66 - «Em casa também não fazemos a cama» de Rui António
146 - Lagoa Wine Show 9
OPINIÃO 134 - Paulo Cunha 136 - Adília César 138 - Ana Isabel Soares 140 - Paulo Bernardo 142 - David Martins ALGARVE INFORMATIVO #226
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AUTÓDROMO INTERNACIONAL DO ALGARVE VIAJOU NO TEMPO COM O ALGARVE CLASSIC FESTIVAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Autódromo Internacional do Algarve organiza, desde 2009, um evento totalmente vocacionado para automóveis clássicos, com a edição de 2019 a disputar-se de 1 a 3 de novembro. Com a reestruturação ocorrida em 2014, o Algarve Classic Festival passou, entretanto, a ser coorganizado pela Race Ready e ganhou uma importância capital no circuito europeu de eventos de clássicos, crescendo de tal forma que é já um dos maiores da Península Ibérica e um marco indissociável da agenda desportiva e social do Algarve. “Após 10 anos sucessivos, o resultado da adesão registada ao evento, quer de concorrentes, quer de espetadores, é cada vez maior. Aliás, é considerado por muitos dos 500 pilotos que todos os anos desfilam pelo AIA como um dos seus ALGARVE INFORMATIVO #226
eventos preferidos”, afirma Paulo Pinheiro, CEO da Parkalgar. Também Diogo Ferrão, CEO da Race Ready, fala de “uma década de prazer e orgulho”. “Numa época do ano onde a região oferece um clima único na Europa para corridas, é sempre gratificante recebermos mais de 500 pilotos de todo o mundo para desfrutarem deste fantástico circuito e conduzirem verdadeiras pérolas, para satisfação do público especialista”. E aliciantes não faltaram, de facto, ao longo do fim-de-semana. Logo a começar pela Formula Junior Historic Racing Association (FJHRA), criada em 1993. Dois anos depois, o Trofeu FIA Lurani tornou-se no primeiro Campeonato FIA a ser realizado pela sua própria organização. Em 1997, os Formula Juniores fizeram a sua primeira corrida no Mónaco, tendo sido uma das mais renhidas do dia. Desde 1998, tem 18
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corrido anualmente no reconhecido evento «Goodwood Circuit Revival Meeting» e, desde 2014, participa também em conjunto com a F3 na «Goodwood Members Meeting». As corridas de Sports Cars sempre foram das favoritas do público durante o Algarve Classic Festival, devido ao peso da herança que têm em Portugal, mas também nas antigas colónias de Angola e Moçambique. Por isso, em conjunto com os organizadores do GT & Sport Car Cup e do U2TC, presentes também no ACF, houve lugar ao «Algarve Sports Cars Pre-1975» no circuito algarvio. Já na sua terceira edição e tendo como foco os Sports Cars do final da década de 1960 e início de 1970, a 21
competição também aceita carros como o Porsche 911 RSR, que competiam conjuntamente com os GT’s na altura do mundial de resistência. A Pre-'63 GT by DK Engineering foi anunciada, em 2009, como uma corrida especial para GTs pré-63 na Silverstone Classic e rapidamente se tornou numa competição de enorme popularidade, com inscrições vindas de todo o mundo. Já o GT & Sports Car Cup é vocacionada para genuínos Pre-1966 GT e Pre-1963 Sports-Cars que tenham competido no Campeonato do Mundo de Resistência. Organizadas pelo 10.º ano consecutivo, estas provas de resistência apenas participam nos ALGARVE INFORMATIVO #226
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melhores «Historic Festivals» da Europa, com as grelhas de partida recheadas de fantásticos e originais automóveis como o Jaguar E-Type Lightweight, Ferrari 250 GT Berlinettas, Alfa Romeo Giulia TZ2s, AC Cobra 289, Morgan Plus 4 SLR, entre outros. A Motor Racing Legends 50's Sports Cars é uma das mais elegantes competições do Algarve Classic Festival, convidando verdadeiros Pre-61 Sport Cars a participarem numa corrida de resistência a 23
um final de tarde de sábado. De luzes ligadas e com o sol a desaparecer, os Jaguar C e D-Type, os Lister Knobbly, os Cooper-Monaco e os Lotus 11 e 15 remetem os espetadores para o imaginário das «24 Horas de Le Mans». Quanto ao Historic Touring Car Challenge, é para carros de Grupo 5 até 1969, Grupo 2 até 1981 e Grupo A pós1981. Desde 2016, as inscrições foram também alargadas para incluir carros de Grupo A até dezembro de 1990 e carros turbo até 1600cc. ALGARVE INFORMATIVO #226
A U2TC é reservada a carros de turismo anteriores a 1966 e com cilindrada até 2.000cc. Esta competição é sempre uma das mais populares entre o público, com dezenas de Ford Cortina Lotus, Alfa Romeo Giulia GTA, BMW 1800 TISA e os sempre inquietos Mini Cooper S, a disputar cada centímetro da pista. E ao volante podem estar grandes pilotos do passado que fazem maravilhas a conduzir estes carros com pneus radiais. ALGARVE INFORMATIVO #226
A Iberian Historic Endurance foi criada por Diogo Ferrão e, com uma média de 37 inscritos por fim-de-semana, aceita Turismos e GTs, dividindo-se em três classes: Viaturas até 1965, Viaturas até 1971 e até 1976. Criada em 2012, o Group1 Portugal para clássicos com especificações Grupo 1 Pré-1981 nasceu da necessidade que as equipas tinham de competir num campeonato onde os custos de participação fossem 24
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controlados ao máximo, indo ao encontro do espírito «Club Racing» inglês. Esta competição é sempre disputada à classe, recompensando o grande esforço das equipas e pilotos, que assim fazem o seu campeonato dentro dos campeonatos. O Troféu Mini destina-se aos modelos MK4 SPI e MPI, de acordo com as regras «Mighty Mini» inglesas, ou seja, com motor e caixa de série. Esta configuração torna a aquisição de uma viatura muito acessível com uma manutenção ainda mais baixa, pois todas as peças são basicamente standard. ALGARVE INFORMATIVO #226
A Fórmula Ford Portugal surgiu em 2011, na sequência da antiga «Single Seater Series», sendo uma competição onde podem correr os fantásticos fórmulas que estavam parados nas garagens e que apenas podiam rodar em esporádicos track days. A prova do Algarve Classic Festival é sempre a mais emocionante do ano, pois juntam-se aos participantes portugueses dezenas de Fórmulas estrangeiros que vêm dar um ar da sua graça. 26
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O «Super 7 by Toyo Tires» é reservado a viaturas da marca «Caterham», propulsionadas com motor da Marca Rover, série «K» 1600cc, com chassis métrico ou imperial De Dion, dos anos de fabricação compreendidos entre 2001 e 2007, e as viaturas da marca «Caterham» propulsionadas com motor da Marca Ford Duratec 2000cc (modelo 420R), produção desde 2009 até ao corrente ano. No Campeonato de Portugal de Velocidade Clássicos (CPVC) alinham máquinas construídas entre 1965 e 1981, cujo regulamento obedece aos anexos K e J dos respetivos anos. Na grelha podem-se ver modelos emblemáticos como o Porsche
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911, Ford Escort, Volkswagen Scirocco, Lotus Elan ou o Alfa Romeo GT Am, entre outros. Há também um campeonato destinado a carros até 1300cc (CPVC 1300), onde competem máquinas carismáticas como o Datsun 1200, o MG Midget ou o Mini Cooper. Finalmente, o Campeonato de Portugal de Velocidade Legends tem uma das mais variadas e «coloridas» grelhas do automobilismo português, com carros construídos entre 1982 a 1999, divididos em diferentes categorias, fazendo reviver os momentos áureos da velocidade no nosso país .
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POLÍCIA MARÍTIMA ESCOLHEU QUARTEIRA PARA FESTEJAR O SEU CENTENÁRIO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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cidade de Quarteira foi a escolhida para receber as comemorações dos 100 anos de existência da Polícia Marítima, com um programa repleto de iniciativas que decorreram, de 7 a 10 de novembro, com o propósito de dar a conhecer as suas competências, trabalho e área de ação, bem como as iniciativas que promove e a sua proximidade com a comunidade. Pretendeu-se igualmente divulgar os valores inerentes ao Programa Cidadania Marítima, nomeadamente a temática da preservação ambiental ou as questões da segurança marítima, como o respeito pelas bandeiras e outro tipo de sinalética. ALGARVE INFORMATIVO #226
Para a manhã de domingo, 10 de novembro, ficou reservada a cerimónia comemorativa dos 100 anos da Polícia Marítima, que contou com a presença do Ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, e dos Secretários de Estado Adjunto da Defesa Nacional e da Saúde, respetivamente Jorge Seguro Sanches e Jamila Madeira. E, na ocasião, o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, lembrou que “a ligação de Quarteira e dos seus habitantes ao mar é tão antiga quanto esta própria terra”. “Desde os tempos da invasão romana que comunidades piscatórias aqui se instalaram e prosperaram, tirando partido da abundância do mar e da fertilidade dos terrenos agrícolas, num território marcado pela especificidade 38
Vítor Aleixo, Presidente da Câmara Municipal de Loulé
peninsular. Quarteira, à semelhança do próprio país, tem uma ligação muito estreita com o mar. A História ensina-nos que as características e o posicionamento geográfico de Portugal foram decisivos na formação do Estado soberano. Esta cidade vive desde há muitos séculos do/e para o mar. A comunidade de pescadores que aqui reside, assim como as suas famílias, são o espelho desta tradição que tem vindo a resistir ao passar dos anos, a adaptar-se às novas tecnologias e a honrar uma das atividades económicas mais genuínas desta região do Sul, a pesca”, destacou o edil louletano. Para Vítor Aleixo, a Polícia Marítima e a própria Marinha são parte integrante da memória coletiva deste território, aliás, no 39
mês de maio foram assinalados os 100 anos da Delegação da Polícia Marítima de Quarteira. “A Câmara Municipal de Loulé e a Junta de Freguesia de Quarteira têm plena consciência da importância do exercício da autoridade do Estado no Mar, através da presença da Polícia Marítima, numa cidade costeira como esta. Cabe a esta força de segurança a fiscalização e a garantia do cumprimento das leis e regulamentos no mar, áreas portuárias e espaços balneários sob jurisdição nacional e assim garantir a segurança e os direitos das populações”, afirmou, mostrando-se honrado por poder receber as celebrações do centenário da Polícia Marítima em Quarteira. ALGARVE INFORMATIVO #226
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O Vice-Almirante Luís Sousa Pereira, Diretor-Geral da Autoridade Marítima e Comandante Geral da Polícia Marítima
O autarca aproveitou a ocasião festiva para falar do protocolo de cooperação institucional assinado, em março, com a Autoridade Marítima Nacional para a abertura de um novo Posto Marítimo e para a construção de uma Estação SalvaVidas. O acordo visa proporcionar aos residentes, pescadores e a todos os que visitam o Concelho de Loulé de mais segurança no que respeita ao salvamento e socorro a náufragos, assim como mais fiscalização e policiamento, com o objetivo de prestar um melhor serviço público na área de Quarteira. “Este equipamento já existia no Algarve, mas era necessário criar uma estação salva-vidas para cobrir um espaço de 30 milhas. Assim, decidimos apoiar esta obra que ainda não tinha avançado por razões financeiras e facultar, não só a Quarteira, mas também ao Algarve, um equipamento que irá suprir necessidades 41
existentes há anos nesta região. A importância da Estação Salva-Vidas em Quarteira é tanto mais valorizada porquanto todos nós guardamos bem na memória vários trágicos naufrágios que ao longo dos anos têm enlutado as famílias dos nossos pescadores. Não queremos que, por falta de meios, morram no mar aqueles que tão arduamente lutam pelo seu sustento”, declarou Vítor Aleixo, adiantando que será igualmente conservada e promovida a antiga Torre de Farolim de Quarteira, enquanto património deste Município, “pelo seu valor histórico, mas também enquanto símbolo desta tradição marítima”. O presidente da Câmara Municipal de Loulé deu outros exemplos dos esforços da equipa que lidera para reforçar a segurança em todo o concelho, casos da ALGARVE INFORMATIVO #226
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construção dos postos da GNR de Quarteira e de Almancil, num investimento que ronda os dois milhões de euros; do edifício do Comando Distrital de Operações de Socorro, que irá brevemente ser inaugurado em Loulé; e da Base de Apoio Logístico, em Quarteira, que juntos representam um investimento de perto de três milhões de euros. “Todo o apoio prestado por esta autarquia para as celebrações desta efeméride demonstra publicamente a nossa disponibilidade para dar continuidade ao trabalho realizado até aqui e a nossa vontade de reforçar as relações existentes com a Autoridade Marítima Nacional. Mas, sobretudo, esta é a nossa homenagem aos homens e mulheres que serviram, e que servem o nosso país, com total entrega e dedicação, para que esta nossa zona costeira seja um território mais seguro e atrativo”, finalizou Vítor Aleixo. 43
Também o Diretor-Geral da Autoridade Marítima e Comandante Geral da Polícia Marítima enalteceu o espírito de colaboração, amizade e entreajuda existente com a edilidade louletana no passado recente. “A edificação do futuro Posto Marítimo de Quarteira só será possível porque o presidente da Câmara Municipal de Loulé se empenhou pessoalmente num projeto que está profundamente ancorado no desejo de ver a Polícia Marítima na cidade de Quarteira. Muito obrigado por reconhecer e apreciar o nosso trabalho”, agradeceu o Vice-Almirante Luís Sousa Pereira. “A Polícia Marítima tem um passado, um presente e, se tomarmos hoje as decisões acertadas, terá certamente um futuro, em que continuará a ser útil e relevante, como foi nos últimos 100 anos e o é na atualidade. Para tanto, é ALGARVE INFORMATIVO #226
preciso respeitar a sua génese, pois nela encontramos os seus elementos identitários; perceber como se foi adaptando, razão porque manteve a sua validade estrutural e funcional ao longo de diferentes regimes e modelos de organização do Estado, desde a Primeira República até à Democracia; e projetar o seu futuro, para que continue a responder aos desafios que vão colocar as transformações na sociedade e as novas perspetivas e contextos que condicionarão o exercício da autoridade do Estado no Mar”, alertou o Comandante Geral da Polícia Marítima.
PROGRAMA DO GOVERNO É AMBICIOSO EM RELAÇÃO AO MAR Em início de nova legislatura, João Gomes Cravinho aproveitou os festejos ALGARVE INFORMATIVO #226
dos 100 anos da Polícia Marítima para renovar “o compromisso do Governo com a contínua valorização, consolidação e modernização desta vital estrutura para o exercício da soberania do Estado no Mar e nas áreas sob jurisdição marítima”, considerando ainda que a escolha de Quarteira como anfitriã das comemorações é simbólica dos esforços para ampliar a presença da Polícia Marítima em todo o território nacional. “Mas é particularmente ilustrativa do apoio e da importância que os municípios e as gentes desta região conferem às atividades da Autoridade Marítima Nacional e da Polícia Marítima. Exemplo disso mesmo é a colaboração em curso para a edificação, aqui em Quarteira, do Posto Marítimo da Polícia Marítima e da Delegação Marítima de Quarteira, bem como para a criação da Estação 44
Salva-Vidas. No seu conjunto, estas infraestruturas contribuem para tornar Portugal um espaço mais seguro para todos os que dele usufruem e beneficiam”, apontou o Ministro da Defesa Nacional. O governante entende que muito foi feito ao longo da última legislatura para que a Polícia Marítima fosse dotada dos meios necessários ao cumprimento da sua missão centenária. “Apostou-se no reforço da sua identidade e das condições para a realização do seu trabalho, com a inauguração de um novo comando-geral, com a aprovação do regulamento de medalhas e estandartes próprios, com a criação do Dia da Polícia Marítima e com a uniformização de regras de organização e funcionamento. Saliento ainda a abertura do Posto Marítimo das Ilhas Selvagens, na região Autónoma da Madeira, com a criação de 45
todas as condições de habitabilidade e segurança e prevendo-se a atribuição do suplemento de serviço de penosidade a todos os elementos da Autoridade Marítima Nacional que prestam serviço naquele território longínquo e inóspito, que, embora esquecido por muitos, também faz parte do território de Portugal”, indicou João Gomes Cravinho. “Apostámos na modernização tecnológica, por exemplo no âmbito do «Sistema Costa Segura», projeto emblemático da Defesa Nacional que permite ampliar significativamente a segurança marítima. Mas incluem-se também, e mais essencialmente, os meios humanos à sua disposição. Após vários concursos que permitiram a incorporação de 39 novos agentes desde 2018, o que não acontecia há mais de década, foi recentemente autorizada a abertura de mais um ALGARVE INFORMATIVO #226
O Ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho
concurso de admissão, desta vez de 25 agentes para a Polícia Marítima. Estamos, assim, a trabalhar para completar o quadro de pessoal requerido e para garantir a qualificação permanente deste corpo de agentes”, realçou o Ministro da Defesa Nacional. De acordo com João Gomes Cravinho, a visão do Governo passa por uma polícia de especialidade, unida, intrínseca e materialmente agregada à Marinha, em cujo âmbito funcional desenvolve a sua atividade e exerce as suas competências. “É uma visão de uma polícia direcionada para as atividades de vigilância, fiscalização e policiamento, mas sempre de apoio às gentes do mar, às comunidades marítimas e náuticas, e cuja ação visa garantir o uso legal e sustentado do nosso mar, das zonas portuárias, costeiras e litorais, assim ALGARVE INFORMATIVO #226
como das zonas fluviais sob sua jurisdição. A Polícia Marítima é absolutamente essencial ao exercício da autoridade pública do Estado nestes espaços e esta é, no passado e no presente, uma verdade irrefutável. A proteção dos nossos recursos marinhos, a deteção e investigação de crimes contra a biodiversidade, de poluição ou de tráficos ilegais, estão entre as muitas atividades que carecem de uma atenção redobrada do Governo e dos cidadãos, e é com esse propósito que o reforço da Polícia Marítima se afigura imprescindível”, defendeu. E o programa do governo, no que toca ao mar, é ambicioso, assegurou o Ministro da Defesa Nacional, lembrando que Portugal tem sob sua jurisdição cerca de 50 por cento das águas 46
marinhas do Mar Pan-Europeu e cerca de 50 por cento dos respetivos solos e subsolos marinhos. “A gestão destes vastos espaços e dos seus recursos exigenos um reforço dos meios à nossa disposição, incluindo aqueles que a Polícia Marítima oferece. Por outro lado, a garantia de que a atividade económica que venha a ser desenvolvida ao longo da nossa costa cumpre os requisitos de sustentabilidade e de proteção de ecossistemas marinhos sensíveis é uma responsabilidade de todos”, acrescentou, não esquecendo que Portugal continua “profundamente comprometido com a segurança europeia e com o resgate de vidas humanas no Mediterrâneo”. “A presença da Polícia Marítima nos portos e capitanias ao longo dos cerca de 2.500 quilómetros da nossa costa, e incluindo nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores, está essencialmente
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vocacionada para a sua ação operacional. A presença do Estado, através destas estruturas, pode e deve ser vista pelos cidadãos como fonte de apoio constante, como garante da segurança das populações e do país, através de uma ação, por vezes discreta, mas sempre eficiente. A nossa exposição como uma porta de entrada na Europa e como uma ponte avançada no Atlântico exige-nos os meios e a estratégia para cumprir estes papéis históricos de forma responsável e atualizada. O Governo conta com a Polícia Marítima, hoje, como há 100 anos, e trabalhará de forma determinada no reforço da sua implantação no ordenamento jurídico nacional e no reforço das suas capacidades operacionais”, garantiu João Gomes Cravinho .
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ALBUFEIRA PROMOVEU A SUA GASTRONOMIA E VINHOS NO CONGRESSO EUROPEU DO CEUCO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Município de Albufeira/Rui Gregório ALGARVE INFORMATIVO #226
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onga vita a Portugal!”, exclamou o presidente do CEUCO, manifestando o seu contentamento pelo êxito do XVII Congresso Europeu de Confrarias Vínicas e Gastronómicas, que decorreu, de 8 a 10 de novembro, em Albufeira. O Presidente da Câmara de Albufeira e o Grão-Mestre da Confraria dos Gastrónomos do Algarve também não poderiam estar mais satisfeitos, uma vez que foram ultrapassadas as mil dormidas e não houve quem não expressasse a sua alegria. Um dos momentos altos deste congresso do CEUCO – Conselho Europeu de Confrarias Enogastronómicas foi a entrega dos Prémios AURUM, naquela que foi a sua 14.ª edição, tendo José Carlos Rolo sido distinguido com o Prémio AURUM de ALGARVE INFORMATIVO #226
Honra, “por ser um magnífico político, uma boa pessoa e por estar sempre presente em todas as ações do CEUCO”, justificou o Presidente deste Conselho, o espanhol Carlos Martín Cosme. De Albufeira, também o Restaurante Mato à Vista foi distinguido com o Prémio AURUM de Melhor Restaurante Europeu 2019, o mesmo acontecendo ao Zoomarine, na categoria de Prémio AURUM de Melhor Empreendimento Turístico da Europa. Ao receber a distinção, José Carlos Rolo dedicou o prémio “a todos aqueles que trabalharam para que este congresso fosse um sucesso e para que Albufeira seja uma memória inesquecível de todos aqui presentes”. Quanto ao jovem Tiago Cordeiro, à frente do «Mato à Vista» conjuntamente com a irmã, aberto pelos pais há 38 anos 52
José Manuel Alves e José Carlos Rolo
em Paderne, salientou que cada vez mais aposta nos bons produtos locais, sendo de salientar a caça, o javali, o borrego, o galo e outros, bem como os vinhos e os produtos hortícolas. Com seis elementos numa cozinha liderada pelo chef Luís Santos, conta ainda com Natércia Dolores como responsável de Mesa e Nuno Santos à frente dos vinhos. 53
Na sessão de abertura do congresso, José Apolinário, Secretário de Estado das Pescas, acentuou que Portugal é o maior consumidor de peixe per capita do mundo, salientando a importância do consumo de peixe para a saúde, nomeadamente quanto aos ácidos gordos e ómega 3 e 6 que se encontram abundantemente na cavala e no ALGARVE INFORMATIVO #226
carapau, evitando o consumo de comprimidos para o efeito. O governante apontou não só o pescado português como também as algas, existentes na zona sul da foz do Rio Mondego, nos Açores e na zona sul da Foz do Arelho até ao Norte do Cabo da Roca, como “alimentos de futuro”, bem como a salicórnia, chamada de «sal verde» que cresce em ambientes salinos, como é o caso da Ria de Aveiro, substituindo os habituais temperos. Enfatizou ainda a necessidade de se trabalhar em três eixos no que concerne ao pescado português: haver uma pesca responsável, nomeadamente quanto ao tamanho do pescado, bem como um consumo responsável; alinhar os comportamentos com as prioridades globais para a Agenda 2030 definidas pelas Nações Unidas no que se refere à gestão dos recursos naturais; e promover a ALGARVE INFORMATIVO #226
«ligação umbilical» entre os produtos do mar e o Turismo, “como muito bem faz o Algarve e Albufeira, chamada capital do Turismo”. O governante acrescentou que “uma das melhores memórias que os turistas levam de Portugal é a gastronomia, o tradicional bacalhau, os peixes frescos e o marisco”. Outra questão apontada pelo Secretário de Estado como contributo para o sucesso da gastronomia portuguesa prende-se com “a profissionalização, com o aparecimento de chefs que se tornam figuras públicas, pela televisão e pela edição, e que constituem motivos de atração”, pelo que “a formação que tem havido na área da restauração é um dos fatores preponderantes para a qualidade da mesa portuguesa”. 54
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Depois da entrega dos prémios, seguiuse um dos momentos mais esperados: saber onde se realiza o próximo congresso do CEUCO, em 2021, e será na cidade de Verona, em Itália, tendo por isso sido passado o bastão do congresso das mãos do Grão-Mestre da Confraria dos Gastrónomos do Algarve, José Manuel Alves, do Secretário de Estado das Pescas e do Presidente da Câmara Municipal de Albufeira, para as mãos de Nicolo Zabarice, vereador na Câmara de Verona com o pelouro do Comércio, Cultura e Turismo. Este congresso teve por imagem oficial o Infante D. Henrique, lembrado na «Lição de História Gastronómica» por Filipe Silva como um dos responsáveis pela atual “gastronomia de miscigenação”, mercê das trocas entre Portugal e os povos do «mundo novo». José Carlos Rolo
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designou o referido Infante como «padrinho» do congresso e Carlos Martín Cosme lembrou do quanto se deve aos portugueses, nomeadamente ao Infante e a Fernão de Magalhães, por haver atualmente uma gastronomia tão rica na Europa. “Portugal foi quem nos levou a conhecer a civilização”, referiu o gastrónomo espanhol, rematando que hoje “Portugal, si lo ves te enamoras”. No último dia do evento, de bênção de estandartes, desfile de mais de 600 confrades e almoço com música tradicional portuguesa, também houve tempo para se ouvir um hino dedicado ao camarão. “O balanço é extremamente positivo, não só pelo elevado número de confrarias aqui presentes de diversas regiões da Europa e de Macau, como também
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pela promoção que fazemos de Albufeira. Mais de 600 pessoas tiveram a ocasião de apreciar as nossas paisagens, a nossa gastronomia, tradições e cultura, e são muitos os que dizem que vão regressar. É uma prova de que Albufeira continua ativa também na chamada época baixa. Creio que o resultado não poderia ser melhor, estão todos muito satisfeitos”, disse o presidente da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo, no almoço de despedida que teve lugar no EMA – Espaço Multiusos de Albufeira, perante centenas de confrades e confreiras oriundos de 207 confrarias vínicas e gastronómicas de Espanha, Itália, França, Grécia, Bélgica, Hungria, Macau e Portugal. O almoço ofereceu diversas especialidades algarvias, como carapau
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alimado, cenoura algarvia e outros acepipes por entrada, seguidos pelo tradicional grão com batata doce e carnes, fazendo a delícia dos comensais, e terminando com miniaturas demonstrativas dos doces da região, e tudo acompanhado com vinho Barrocal. O Rancho Folclórico de Albufeira animou o momento e explicou os trajes e modos de vida de antigamente. Os aplausos que se seguiram foram para o cante alentejano, a cargo do coro da Casa do Alentejo em Albufeira, assim como para os andaluzes da Cofradia Gastrónomica «Los Esteros», que cantaram o hino ao prato que domina a confraria, «tortilhitas de camaronês» e ofereceram à organização do congresso uma réplica em miniatura da porta de San Fernando, município de Cádis, onde está sedeada a confraria.
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Se São Fernando foi lembrado, São Bartolomeu dos Mártires foi por todos aclamado na missa da manhã, na Igreja Matriz de Albufeira, dado ter acontecido, no dia 10 de novembro, a canonização do português Frei Bartolomeu dos Mártires, decidida pelo Papa Francisco. Com eucaristia celebrada pelo Pároco de Albufeira, Padre Flávio Martins, houve também um momento de bênção dos estandartes e de seguida, após a fotografia de conjunto, todos desfilaram pelas ruas de Albufeira, acenando e sorrindo aos turistas e residentes que os surpreendiam com fotografias. “Longa vita a Portugal!”, foram as palavras do Presidente do CEUCO, Carlos Martín Cosme, demonstrando a sua gratidão pela colaboração e cordialidade da Confraria dos Gastrónomos do Algarve, na pessoa de José Manuel Alves, do Secretário de Estado das Pescas, José Apolinário e do presidente do Município de Albufeira, José Carlos Rolo. Com a promessa, “sem dúvida”, de regressar, este responsável avançou ainda que “a seriedade com que Portugal trabalha as questões que dizem respeito aos seus interesses históricos é demonstrativa do espírito português, que é o do Império”. “E se Portugal é considerado por ter uma das melhores cozinhas do mundo, deve-se à qualidade intrínseca dos portugueses serem exímios na navegação e no bom contacto com outros povos”, ALGARVE INFORMATIVO #226
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acrescentou o espanhol. Por seu lado, José Manuel Alves, mostrou-se “muito satisfeito”. “É o terceiro Congresso Europeu que faço no Algarve, desde 2009, e este foi o que teve uma maior expansão. Nesta edição, tivemos o dobro das dormidas que em 2011”, avançou o Grão-Mestre, presidente do comité organizador e autor do mais antigo sítio online de gastronomia, o «Gastronomias» de Portugal, desde 1996. “Foi bastante gratificante este desafio, porque era um objetivo ultrapassarmos as mil dormidas e assim foi. Só não vieram mais confrarias porque tínhamos um limite de lugares de sala para o Jantar de Gala. De resto, muitos dos aqui estão presentes vieram para Albufeira há mais de uma semana e 38 deles, todos italianos, só vão embora no dia 13”, disse José Manuel Alves.
disposição que Albufeira se despediu de três dias de homenagem à tradição da mesa europeia, ficando na memória de todos os queijos azuis das Astúrias, os peixes portugueses, as tortilhas de camarão de Cádis, a cozinha tradicional grega com os seus peixes secos e iogurtes, a cozinha dita de «fusão» de Macau, os vinhos de «alta expressão» franceses, a cerveja mais notável da Bélgica, com a receita de 1850 feita pelos monges, bem como as diversas iguarias portuguesas, doces e salgadas e os «magníficos» vinhos de Portugal. Para além disso, ficou também o sabor dos rebuçados de violetas de Toulouse, cuja proprietária da única fábrica, Madame Claudine Couderc, nascida na passada década de 30, nunca faltou a um dos congressos do CEUCO, tendo sido uma das presenças mais acarinhada neste congresso em Albufeira.
E foi em ambiente de amizade e boa ALGARVE INFORMATIVO #226
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«EM CASA TAMBÉM NÃO FAZEMOS A CAMA» DE RUI ANTÓNIO VAI DEIXAR OS ESPETADORES DE OLHAR PREGADO À TELA Texto: Daniel Pina Fotografia: Daniel Pina, Rui António e Diana Bernedo ALGARVE INFORMATIVO #226
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ui António, professor de fotografia e multimédia na Escola Secundária João de Deus, em Faro, e investigador do CIAC – Centro de Investigação em Artes e Comunicação da Universidade do Algarve, com mestrado e doutoramento nestas áreas, está envolvido numa aventura criativa que promete dar que falar - «Em casa também não fazemos a cama» - a sua primeira longa-metragem enquanto realizador, depois de, no passado, já ter concebido várias curtas-metragens e de ter sido argumentista para outros filmes. “Mas este projeto é diferente, colaborativo, faz a ligação entre o cinema, a literatura e a música e o processo criativo é o inverso do habitual. Eu escrevi a última cena do filme, depois passei para outro escritor para ele fazer a sequência anterior e por aí adiante. O argumento
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levou 18 meses a ser escrito porque envolve 25 escritores, entre os quais três brasileiros”, explica, à conversa nos Mercados de Olhão. A história foi idealizada do fim para o princípio, é assim que o filme será passado para o público, mas tem outra particularidade, cada sequência possui uma banda sonora concebida especialmente para ela, ou seja, estão envolvidos 25 músicos. A todas estas pessoas somam-se mais de 50 atores, portanto, já se percebeu, é uma grande produção, mas sem um grande orçamento, por não estar conotada a um estúdio ou produtora de cinema. “A minha vontade nunca foi criar um projeto demasiado complexo. As coisas aconteceram de modo natural porque o meu gosto pelo cinema, atualmente, é sobretudo numa perspetiva de experimentar novas formas de se fazer e de se usufruir do
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cinema. Com as novas tecnologias tornou-se possível criar filmes interativos e visualizá-los de uma forma mais pessoal, em que o espetador decide o ritmo da ação e aquilo que vê”, indica o entrevistado. Escrever o argumento e a banda sonora foi demorado, mas relativamente fácil, devido às facilidades do online, de tal modo que há participantes que Rui António nem sequer conhece
pessoalmente. Já filmar as cenas é um caso completamente diferente, é preciso ir para o terreno, juntar atores e equipa técnica naquele sítio e àquela hora, pelo que os intérpretes são todos algarvios ou residentes no Algarve. E todos participam de forma gratuita, porque não existe um orçamento para criar «Em casa também não fazemos a cama», sublinha o realizador. “Escolhi escritores conceituados, de preferência com obras premiadas. É verdade que recebi algumas negas, mas considero-me um sortudo, porque a esmagadora maioria dos escritores, atores e músicos abraçaram logo esta aventura com bastante entusiasmo, mesmo não havendo qualquer retribuição financeira. Aliás, quase ninguém questionou o porquê de não haver dinheiro ou como é que iriamos tornar o projeto uma realidade. Gostaram da ideia e disseram logo que podia contar com eles”, destaca Rui António. Mais de duas dezenas de argumentistas a escrever uma história do fim para o princípio, em que a bota tem que bater com a perdigota, ou seja, o enredo tem que fazer sentido, está
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visto que não foi nada fácil. “A seleção do escritor e da ordem em que ia escrever foi um pouco aleatória, porque nunca sabíamos o que cada um ia fazer, que rumo ia dar à história. Há vários estilos diferentes no projeto, o que me deixava, inclusive, com uma grande curiosidade para saber que texto ia receber de cada um. Cada escritor teve acesso à história toda que já estava feita para a frente no momento em que ia dar o seu contributo, pelo que os últimos tiveram bem mais trabalho do que os primeiros”, reconhece, acrescentando que cerca de 60 por cento da longa-metragem já está filmada. “Neste momento temos já seis músicos a trabalhar em simultâneo nas respetivas sequências”.
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Como tudo acontece ao contrário neste projeto, Rui António foi o primeiro a conhecer o final da história, mas o último a saber como ela começava, numa narrativa que, de facto, não é nada convencional. “Cada argumentista «disparou» para seu lado e isso fez com nascessem imensos personagens que não estavam pensados inicialmente. Normalmente há dois ou três personagens principais num filme, mas aqui quase que cada argumentista quis criar um protagonista novo. Acabam por ser quadros separados que, todos juntos, formam um bolo, mas até é possível ver cada segmento de forma separada, como se fossem pequenas curtas-
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estranheza. Há pequenas histórias que não têm causaefeito, coisas isoladas, porque foi assim que o escritor decidiu e foi assim que foi filmado”, justifica.
metragens. O filme é feito de pequenas histórias, mas com um fio condutor que liga vários segmentos chaves”, descreve, pensativo. “Espero que os espetadores consigam perceber a história do princípio até ao fim, mas reconheço que há aqui alguns aspetos diferentes de um filme tradicional que podem causar alguma ALGARVE INFORMATIVO #226
Muita diversidade, mas com coerência em termos de géneros, vai-se encontrar também na banda sonora, devido ao elevado número de músicos envolvidos. “Não vamos ter uma cacofonia ao longo do filme porque a maioria são da onda do jazz. Mas esta componente foi mais complicada de gerir porque, apesar dos músicos terem oferecido o seu trabalho de forma gratuita, normalmente é necessário um estúdio para se gravar o som e isso é pago. Vamos tentar fazer o melhor possível sem gastar dinheiro”, confessa, com um encolher de ombros. 72
UM FILME PARA RODAR EM FESTIVAIS «Em casa também não fazemos a cama» está a ser, garante Rui António, um agradável e entusiasmante desafio, repleto de surpresas com que o realizador tem que lidar no terreno, como foi o elevado número de personagens, mais de 50 atores. “Primeiro apanhamos um susto, depois vemos o lado bom do que poderia ser um problema. Ao serem muitos, cada um tem que gravar menos tempo e, como o projeto não é pago, é mais fácil para um ator oferecer dois dias do seu trabalho do que se estivesse três meses envolvidos, de forma continuada, num filme”, esclarece, apontando que as filmagens têm sito todas realizadas nos concelhos de Faro e Olhão. “Temos usado o meu equipamento, que, não sendo o melhor do mundo, é o que é. Mas tenho tido uma grande ajuda da Maria Adelaide 73
Fonseca, sobretudo para arranjar atores e espaços, é quase como se fosse a produtora do filme, também sem receber cachet”, agradece o entrevistado. Conforme referido, não há orçamento para «Em casa também não fazemos a cama», mas Rui António acredita que a situação não seria muito diferente caso estivéssemos na presença de um filme convencional, daqueles que assistimos, todas as semanas, nas salas de cinema ou nos ecrãs da televisão lá em casa. “Pedi apoios a algumas câmaras municipais, mas fiquei com a ideia de que é mais fácil arranjar dinheiro quando são grandes produções, por darem uma maior visibilidade aos patrocinadores. Se for para telenovelas, acho que nem hesitam, o que é frustrante, porque assim ajudase quem, na hora da verdade, até nem precisa. As grandes produções têm muito dinheiro, mas é esta a nossa ALGARVE INFORMATIVO #226
realidade”, desabafa o realizador, um sentimento que o leva a pensar sobretudo em festivais e não no circuito comercial para dar a conhecer a sua criação. “No meio de tantos filmes que se candidatam aos festivais, sermos selecionados já é um reconhecimento da valia do projeto”, entende. Entretanto, o processo vai sendo longo, mais longo do que o normal, apesar de não ter havido grandes paragens durante a conceção do argumento. Simplesmente houve que receber o texto de cada escritor, enviar o material todo para o seguinte e aguardar pelo seu contributo. “Foi moroso, mas sem quebras, 18 meses de criação continuada. As filmagens foram bastante intensivas em maio, junho e julho e paramos em agosto por dificuldades de conciliação de agendas, mas também para fazer um balanço do que já estava feito e para tentar não repetir alguns erros no
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futuro. Vamos andando à medida que cada participante tem tempo disponível para tratar da sua parte e não sinto uma grande ansiedade, antes curiosidade para ver o produto final”, observa Rui António, declarando que não está já a pensar no projeto seguinte. “Ainda falta fazer muito neste, nas filmagens, edição e música, portanto, não há tempo para outras ideias. Estou convencido que, se
«Em casa também não fazemos a cama» já aguçou bastante o apetite de quem viu algumas filmagens, jornalista incluído, com Rui António a enfatizar que, apesar das dificuldades, tudo se consegue quando há empenho e dedicação. “Se não fazemos de uma maneira, fazemos de outra, o importante é nunca desistirmos. No
tudo correr como até agora, o filme estará concluído até final de 2020. Depois de ter os elementos todos na minha posse, empenho-me a 100 por cento na edição e as coisas avançarão mais depressa. O único lado bom de não estar dinheiro envolvido é não termos a pressão de cumprir com datas, de fazer as coisas à pressa por causa de deadlines”.
cinema normalmente é preciso uma grande equipa e orçamento, mas não é por falta de dinheiro que vamos deixar de fazer o filme. E tem sido uma agradável surpresa a forma como todos os envolvidos se ofereceram para participar, sem imporem nada. Nem sabia que havia tanta qualidade numa região tão pequena como o Algarve”, finaliza o realizador .
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«Em casa também não fazemos a cama» Argumento: Cláudia Lucas Chéu, Luís Nogueira, Sandro William Junqueira, Luís Campião, Fernando Dinis, Cristina Valente, Francisco Ribeiro Rosa, Paulo Moreira, Marco Mackaaij, Filipa Martins, José Carlos Barros, Ana Lázaro, Fernando Guerreiro, Natália Borges Polesso, João Rebocho Pais, Fernando Évora, Jorge Serafim, Marcelino Freire, Lúcia Bettencourt, Carlos Campaniço, Fernando Cabrita, João Paulo Esteves da Silva, Joaquim Paulo Nogueira, Alexandre Staut, Tiago Salazar, Jaime Rocha e Tiago Mateus. Banda Sonora: Hernani Faustino, Filipe Lopes, Rodrigo Amado, Marcelo dos Reis, Travassos, Pedro Sousa, João Madeira, Gonçalo Almeida, Rodrigo Pinheiro, João Paulo Esteves da Silva, Carlos Bica, Helena Espvall, Manuel Mota, Carlos Barreto, Carlos Zingaro, Júlio Resende, João Hasselberg, Dennis Gonzalez, Hugo Antunes, Abdul Moimême, João Lobo, Desidério Lázaro, Nelson Cascais, Filipe Raposo, Daniel Neto, Carlos Santos, Hugo Alves, Luís Fernandes, Simão Costa, Luís Lopes. Elenco: Diana Bernedo, Miguel Pessoa, Luís Vicente, Luís Miranda, João Jonas, Luís Campião, Nuno Murta, Paulo Moreira, João Machado, Ricardo Mendonça, Tiago Sousa, Gabriel Antunes, Rosa Guedes, Bruno Martins, Elisabete Martins, Isabel Bento, Fúlvia Almeida, Sónia Esteves, André Canário, Glória Fernandes, Tânia Silva, Pedro Ramos, Jorge Oliveira, Sara Vicente, Maria Adelaide Fonseca, Gil Silva, João Nuvem, Vitas Meekey, João Evaristo, entre outros .
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Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Jorge Gomes
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oulé foi palco, de 3 a 9 de novembro, do 69.º Troféu Mundial de Acordeão, uma organização conjunta da Associação de Acordeão do Algarve e da Confederação Mundial do Acordeão, com o apoio da Câmara Municipal de Loulé. Durante estes dias, o Cine-Teatro Louletano foi palco de grande azáfama, com a presença de alunos, professores, pais, acompanhantes e membros do júri deste prestigiado Troféu, cujas provas decorreram desde as 9h da manhã até às 18h. Pelas 21h de cada um dos dias da semana (à exceção do dia 6 de novembro) realizaram-se concertos com prestigiados intérpretes de todos os cantos do mundo com demonstrações ao mais alto nível. ALGARVE INFORMATIVO #226
Em paralelo, nas ruas e noutros espaços da cidade, nomeadamente nos equipamentos culturais da Câmara Municipal de Loulé, a presença das 26 delegações internacionais também não passou despercebida. De facto, quer o Auditório do Solar da Música Nova, como a Sala Polivalente do Palácio Gama Lobo, foram palco de importantes iniciativas no âmbito deste Troféu Mundial de Acordeão, casos das conferências «O acordeão na música clássica/música ligeira», proferida pelo campeão mundial de acordeão, Radu Ratoi; «O acordeão na música de câmara», dinamizada por Charm Trio; e «O acordeão na música brasileira», proferida por Douglas Borsatti. Na Biblioteca Municipal Sophia de Mello 82
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Breyner Andersen decorreu, no dia 7 de novembro, a conferência «O acordeão na música jazz» e, no dia 8, teve lugar «O acordeão nas novas tecnologias», da responsabilidade de Petar Maric. Tratando-se do concurso de acordeão de maior prestígio a nível mundial, este ano a Confederação Mundial do Acordeão registou um record no número de inscrições: 164 no total. Destes, 15 participantes foram portugueses, dos quais sete eram do Algarve e dois da cidade de Loulé. Relativamente aos resultados, em 2019, os grandes vencedores foram Artem Malkhasyan, da Rússia, e Dantong Wang, da China, ao triunfarem respetivamente em Sénior Clássico e Sénior Varieté. Os restantes prémios foram para Stefan Dimitrijevic (Sérvia) - Júnior Clássico; Manuel Marchegiani (Itália) - Júnior Varieté; Akko Quartet (Ucrânia) - Música de Câmara Sénior; AccorDuo (Rússia) Música de Câmara Júnior; Manuel Marchegiani (Itália) - Acordeão Digital; Sound Eternal (Ucrânia) - World Music. Nas categorias por faixas etárias surgiram como principais vencedores: Zenaida Ottich (Rússia) - Categoria até aos 10 anos; Solange Coelho (Portugal) Categoria até aos 12 anos Varieté; Xiyan Cui (China) - Categoria até aos 12 anos Clássico; João Custódio (Portugal) Categoria até aos 14 anos Varieté; Vlajko Jovanovic (Croácia) - Categoria até aos 14 anos Clássico; Mathias Rugsveen (Noruega) - Categoria até aos 16 Varieté; Rafael Nunes (Portugal) - Categoria até ALGARVE INFORMATIVO #226
aos 16 Clássico; Yige Zhao (China) Categoria até aos 18 anos Clássico; Anton Trufanov (Rússia) - Categoria 18 aos 35 Varieté; Georgi Ivanov (Rússia) Categoria s/ limite de idade; Diane Guffin (Estados Unidos da América) Categoria Amadores; Clelland Shand (Reino Unido) - Categoria Musette dos 13 aos 35; Azmir Halilovic (Bósnia e Herzegovina) - Categoria Acordeonista Cantor; Solange Coelho (Portugal) Categoria Corridinho até aos 12 anos; Joana Raquel Trepeças (Portugal) Categoria Corridinho até aos 15 anos; David Mendonça (Portugal) - Categoria Corridinho até aos 18 anos . 84
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IBN QASI TRANSPORTA O PÚBLICO DO SÉCULO XII ATÉ AOS TEMPOS MODERNOS Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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streou, no dia 8 de novembro, no Teatro Lethes, em Faro, a 77.ª produção da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, intitulada «Ibn Qasi – O Rei Iniciado no Algarve», uma peça com uma expressiva carga poética que tem como figura central o muçulmano Ibn Qasi, profeta, rei místico e poeta Sufi que partilhou amizade com o Rei D. Afonso Henriques. E a sombra luminosa de Ibn Qasi habita, de facto, as pregas do tempo nas planícies do Algarve e do Alentejo, dos castelos de Mértola e ALGARVE INFORMATIVO #226
Silves e do ribat do Castelo de Arrifana, em Aljezur. Na narrativa, dos seus transversais aspetos políticos e militares, sobressaem valores como os da amizade, da tolerância, do entendimento do outro, da busca de transcendência nas ações terrenas, com a companhia liderada por Luís Vicente a voltar a pegar num texto de matriz histórica, mas de grande alcance político e social pela contemporaneidade do seu tema. Desta feita, o texto original é do 96
autor espanhol José Carlos Fernández e chamou a atenção do responsável da ACTA “pelas dinâmicas de esclarecimento e de conflitualidade que encerra”. “Estas, se por um lado exprimem aspetos de um olhar histórico que finalmente se desvenda depois de tanto tempo obscurecido, alineado, diremos mesmo desprezado, pela própria história, por outro lado tornouse-nos inspirador de uma reflexão acerca de fenómenos com que, lamentavelmente, nos confrontamos na atualidade, em vários países de África e do Médio Oriente, nos Estados Unidos e, mais proximamente, no Mediterrâneo”, descreve Luís Vicente. Deste modo, com este espetáculo, a ACTA “procura trazer à luz aspetos históricos relevantes da nossa matriz
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identitária, mas também correlacionálos com aspetos candentes da nossa contemporaneidade numa feição abrangente”. “Para a sua criação, foi nas virtudes e no lodaçal da alma humana que penetrámos”, entende o ator e encenador de «Ibn Qasi», que estará em cena até dia 30 de novembro, podendo ser visto, às sextas-feiras, às 15h, aos sábados às 21h30 e, aos domingos, às 16h. Com autoria de José Carlos Fernández e Dramaturgia e Encenação de Luís Vicente, a peça tem como intérpretes André Canário, Bruno Martins, Luís Manhita, Luís Vicente, Miguel Martins Pessoa, Nuno Murta, Paulo Moreira, Pedro Monteiro, Ricardo Correia e Simon Mendes, assim como os alunos/estagiários Afonso Jerónimo,
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Bruno Batista, Gonçalo Pedrosa, Dylan Matias, Hélio Justino, Hugo Borreicho, Osvaldo Fortunato, Tiago Leal e Valter Costa e as bailarinas Débora Gonçalves, Denise de Carvalho e Vera Benedito. A música é da responsabilidade de José Alegre, Cátia Alhandra e Tiago Rego. Espaço Cénico: Luís Vicente; Figurinos e Adereços: Luís Vicente, Sara Mendes 99
Vicente e Tó Quintas; Assistência de Encenação: Sara Mendes Vicente e Daniela Lopes (estagiária); Multimédia: João Franck; Luz, Espaço Cénico e Som: Octávio Oliveira e Diogo Aleixo; Costureira: Rosa Fardas; Fotografia e Grafismo: Rita Merlin; Produção: Elisabete Martins; Administração: Ana Anastácio . ALGARVE INFORMATIVO #226
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SONS DE UMA LAPÓNIA DISTANTE Texto: Carlos Norton | Fotografia: Carlos Norton
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Comboio da Lapónia
o ritmo dos carris, às conversas multilingues, aos avisos sonoros das estações. Os sons da quietude da tundra ártica gelada ou os ambientes sonoros da azáfama de uma estação de comboios. No fundo, a banda sonora de quem viaja de comboio por uma Europa fora. É a viagem de comboio mais longa que se pode fazer no continente europeu. Da extremidade sudoeste ao extremo norte. Do Algarve à Lapónia. De Lagos a ALGARVE INFORMATIVO #226
Narvik.Da Latitude 37 para lá da Latitude 68. Tudo começou uns dias antes na modesta estação de comboios de Lagos, extremidade ferroviária do sudoeste europeu. Na fila estão sobretudo turistas estrangeiros para irem a Faro, Portimão ou Lisboa. Quando chega a vez, sai em tom de brincadeira: - Bom-dia, queria um bilhete para a Finlândia, por favor. - Sim senhor, mas tem que mudar em Tunes. 108
Carlos Norton à partida da Estação de Lagos 109
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Centro Histórico de Estocolmo
Encontrar alguém do outro lado do balcão com sentido de humor é cada vez mais raro nos tempos cinzentos que correm. O Sr. José vendeu o passe de interrail, entregando cada papel, cada documento, cada explicação com um brilho nos olhos que revelam um saudosismo de quem certamente já passou pela experiência. Quem fez interrail, Europa fora, mudando de comboios de mochila às costas, nunca esquecerá a ALGARVE INFORMATIVO #226
alegria do sentimento de liberdade e de descoberta. O melhor são as histórias acumuladas ao longo do caminho-de-ferro. É isso que torna cada viagem de comboio num momento único. Não são meras deslocações entre dois pontos geográficos, mas partilhas sociais e humanas com os restantes passageiros. Lagos-Tunes, Tunes-Lisboa. Uma 110
Estação de Hamburgo
pequena espera para o comboio internacional, noturno, que leva de Lisboa à fronteira com França, atravessando toda a Espanha. O comboio tem as janelas grafitadas. Felizmente a minha escapou, não preciso de tentar adivinhar a paisagem. A bordo, na carruagem seguem muitos portugueses, vários espanhóis e uns quantos turistas de outras nacionalidades. Todos têm histórias. Todos têm sorrisos, temores, ansiedades, desalentos, espectativas, sonhos. Três 111
O Interrail é um passe que permite viajar livremente pelos comboios da maior parte dos países europeus, de forma livre. Apenas alguns comboios rápidos, noturnos ou de longa distância, nomeadamente os internacionais, requerem o pagamento de um suplemento ou de reserva de lugar. Há várias modalidades de passe, consoante a idade ou a duração da viagem. ALGARVE INFORMATIVO #226
Carris no Círculo Polar Ártico
freiras vão a um encontro religioso em Victoria, no País Basco. Uma família portuguesa, de ar penoso e em permanentes lamúrias e confissões, vai a um funeral em Biarritz. Uma rapariga espanhola conversa ruidosamente ao telefone relatando as compras que fez em Lisboa. Em cada paragem, em cada estação saem três pessoas para a plataforma. Fumam tantos cigarros quanto o tempo de paragem permite, sempre sob o olhar vigilante do revisor. Nunca há duas viagens de comboio iguais, como testemunha o comboio dos Pirinéus para Paris, que em dia de protesto dos maquinistas causa o pânico na estação de Hendaye. Após algumas horas de ALGARVE INFORMATIVO #226
indecisão, lá parte o TGV para Paris, acumulando passageiros de três composições, o que origina uma caricata viagem de cinco horas em pé, qual sardinhas em lata, espalhadas por corredores, escadas (é de dois andares), portas de casa-de-banho ou no bar. As histórias multiplicam-se, sempre únicas, ao longo dos milhares de quilómetros percorridos, de Lagos à Escandinávia, mas serão idênticas à maior parte das viagens, cada qual repleta dos seus próprios detalhes deliciosos e pormenores íntimos. As histórias mais importantes são, no entanto, contadas na janela. Histórias 112
Narvik, Noruega
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Lago gelado na Lapรณnia Sueca
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Lapรณnia Norueguesa
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Tundra Ártica
de milhões de anos de formações geológicas, de conquistas biológicas e povoamentos vegetais, de culturas antropológicas milenares. De uma paisagem esculpida pelo tempo. Nada que nos surpreenda muito a nós, portugueses, o país europeu mais antigo (com fronteiras definidas), o segundo mais antigo do mundo (a seguir ao Japão), recheado de história, passado, património. A verdadeira surpresa, porém, mais do que para portugueses, é para algarvios, para quem a neve é uma forma exótica - a imensidão gelada do círculo polar ártico. Bem diferente das pequenas manchas brancas na Fóia, de 10 em 10 anos, ou daqueles Invernos mais rigorosos que pintam esporadicamente a serra algarvia, de 40 em 40 anos. 115
A tundra ártica estende-se gelada, calada e estupidamente branca por centenas de quilómetros percorridos de comboio. Tudo é branco em redor, desde as janelas do comboio ao longínquo horizonte gelado. Tudo é imenso. O comboio faz paragem em Gallivare, uma estação da Lapónia Sueca, durante vários minutos. Saio para a plataforma de gravador de som na mão, auscultadores postos. O som é fascinante. Um silêncio cortante, rodeado de uma presença quase esmagadora de uma realidade tão distante. Os flocos de neve tapam o visor do gravador. A partir daqui a ALGARVE INFORMATIVO #226
Círculo Polar Ártico
viagem é sempre feita em temperaturas negativas. Nestas viagens perde-se de forma incrível a noção espaço/temporal. Desde que cruzei a linha do círculo polar ártico, só faltam cinco horas para chegar a Narvik. Só cinco horas, ou ainda cinco horas de viagem? Tudo é tão relativo quando o comboio onde sigo partiu de Estocolmo há 18 horas. A Lapónia é a região norte da Noruega, da Suécia e da Finlândia, habitada pelo povo Sami, também conhecido em Portugal por Lapões, povo oprimido pelos escandinavos desde há vários séculos. Os Sami seguem estilos de vida bem ALGARVE INFORMATIVO #226
primordiais, criando renas, habituados a suportar as adversidades geladas polares. Mas a Lapónia é também rica em minérios. A rota entre Boden (Suécia) e Narvik (Noruega) é chamada Rota do Minério. A ferrovia foi construída para escoar os produtos das minas de Gallivare e de Kiruna para o porto de Narvik, onde a partir de um calmo fjord norueguês, embarcam para viajar para o resto do mundo. Daqui para norte não há mais comboio. Uma placa em Narvik diz-me que estou a 2.400 quilómetros do Pólo Norte. Mesmo aqui ao lado. Talvez um 116
Lapรณnia Sueca
117 Kiruna, na Lapรณnia Sueca
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Catedral de Tampere
dia, não hoje. Daqui sigo de volta para a Suécia, atravessando para a Finlândia, descendo até à cidade de Tampere para participar no Womex. Para trás ficam oito mil quilómetros de comboio, seis dias de viagem, uma experiência incrível, memórias para muito recordar. E vários sons fascinantes e emblemáticos gravados para o projeto LAT66, paralelo ao ASPA – ALGARVE INFORMATIVO #226
Arquivo Sonoro e Paisagístico do Algarve, desenvolvido pela Fungo Azul para a região algarvia, agora expandido para uma vertente bem internacional de um continente europeu atravessado de comboio. Para trás fica o branco, o frio, a memória . 118
Carlos Norton na Womex com duas cantoras lapãs, Elin Kaven e Sara Ajnnak
O Womex - World Music Expo, a maior feira mundial dedicada às músicas do mundo, decorreu em Tampere, Finlândia, de 23 a 27 de outubro. Dois mil e quinhentos participantes representaram as várias áreas da música - artistas, bandas, agências, gabinetes de exportação, festivais, comunicação social. Carlos Norton foi o único jornalista português presente, representando a RUA FM, com reportagens em direto para a antena universitária algarvia. Em nome da Fungo Azul, enquanto diretor artístico, deu a conhecer à comunidade internacional o trabalho desenvolvido pela associação cultural algarvia, criando parcerias e pontes para projetos internacionais futuros. 119
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MARIA JOÃO E MOÇOILAS VOLTARAM A ENCONTRAR-SE, DESTA VEZ EM LAGOA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Município de Lagoa/Kátia Viola
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conhecida cantora Maria João e o carismático trio «Moçoilas» subiram ao palco do Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, no dia 9 de novembro, depois de já o terem feito, em 2018, no Cine-Teatro Louletano, em Loulé, e o êxito voltou a repetir-se. Um concerto improvável, surpreendente e ousado, que juntou a diva do jazz e da música improvisada às singulares e irreverentes Moçoilas, melhor dizendo, Margarida Guerreiro, Inês Rosa e Teresa Silva, que interpretam à capella canções tradicionais do Sul, de matriz mediterrânica. O mote para o espetáculo é o cruzamento de diversas latitudes musicais (Portugal, Brasil, África e outras) em que tradição e contemporaneidade se interpenetram para originar novas e criativas abordagens, num formato de grande cumplicidade artística e proximidade com o público. De um lado temos Maria João, cuja carreira tem sido pautada pela participação nos mais conceituados festivais de música do mundo, depois de ter iniciado a sua caminhada na Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal. O reconhecimento oficial da divulgação da cultura portuguesa alémfronteiras valeu-lhe a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique pelas mãos do presidente Jorge Sampaio e é também a única artista portuguesa a ter sido nomeada para o European Jazz Prize, juntamente com Jamie Cullum e Bobo Stenson. Do outro lado, escutam-se os cantos do ALGARVE INFORMATIVO #226
Sul, nas vozes das mulheres que regressam com a Primavera, com o Inverno à volta do braseiro ou com o estio do Verão, como descrevem elas próprias. São mulheres e dão vozes a uma serra onde o canto sempre foi muito mais feminino e com elas contínua, agora de uma forma ainda mais meticulosa, a enorme necessidade de recuperar o canto do Algarve, esquecido ou escondido no tempo. Margarida Guerreiro, Inês Rosa e Teresa 124
Silva transportam consigo a alma dos cantos da serra, dos cantos da terra, e de muitos outros temas inspirados nos seus tons, sons e cheiros. Moçoilas é uma atitude, uma alma sentida de dentro, manifestamente afirmativa, alegre e feminina. É um canto solto com harmonias doces, duras e simples. A responsabilidade de assegurar este espaço/tempo musical e cultural, que tem sido manuseado e cuidado ao longo 125
do tempo por mulheres que se assumiram Moçoilas e nele deixaram um pouco de si para a continuidade deste projeto, é agora de Inês Rosa, Margarida Guerreiro e Teresa Silva, num terceiro ciclo elíptico que reequaciona, reconstrói e faz evoluir este grupo para uma outra dimensão que é simultaneamente uma mesma e diferente sonoridade .
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OPINIÃO
Os filhos não são nossos, são deles! Paulo Cunha (Professor) empre que passo pelo ecrã do meu computador e observo o «screen saver» (ligado ao meu álbum de fotos) a funcionar, fico parado a deliciar-me com as fotografias dos meus filhos num outro estar e num outro ser que não o de hoje. Para além do natural deleite, quedo-me, recordando com alguma melancolia, nostalgia e muita saudade, de um tempo que mora na minha memória e que, enquanto eu por cá estiver, continuará a regar os sentimentos que plantou no meu coração. Imagino que o mesmo se deve passar convosco! O passado está tão presente na memória e, ao mesmo tempo, tão longínquo no tempo, que, não raras vezes, nos faz arrepender e lamentar não ter aproveitado ainda mais um tempo que, por tantos motivos, acabou por ser curto para acompanhar, em toda a sua plenitude, o crescimento das nossas maiores obras de arte - os nossos filhos. Foi um tempo em que, pela sua dependência dos progenitores, nos habituámos a considerá-los nossos, dando assim um especial destaque e enfoque ao pronome possessivo «meu». E assim, em menos de nada, os filhos que um dia gerámos, pouco a pouco saíramnos do regaço, tornando-se cada vez menos nossos e mais deles. Do ponto de vista biológico e ALGARVE INFORMATIVO #226
psicológico, os nossos filhos são seres humanos em desenvolvimento, mas são espíritos livres, independentes e, por isso mesmo, não nos pertencem, não são nossos nem de ninguém. Devemos respeitar a individualidade dos nossos filhos e não tentar moldá-los à nossa forma de pensar e viver; devemos cuidar dos nossos filhos e orientá-los; devemos deixar que os nossos filhos sejam autónomos nas sua decisões e resolução dos seus problemas; devemos estar disponíveis para aprender com os nossos filhos; devemos respeitar as escolhas dos nossos filhos, tentando evitar projetar neles as nossas aspirações e frustrações; devemos educar os nossos filhos através do exemplo. É difícil para muitos pais assumirem e conformarem-se com o facto de que a vida dos filhos só aos filhos pertence, da mesma forma que os sonhos e, inevitavelmente, os erros também. Filhos que carregam as verdades que construíram de acordo com o que sentem, com a forma como encaram e lidam com o mundo à sua volta, não sendo, necessariamente, verdades iguais às nossas ou àquilo que desejámos ou projetámos para eles. Lançar-se-ão ao mundo, desfrutarão as alegrias, enfrentarão os dissabores, entregar-seão às paixões, munidos de toda a bagagem emocional acumulada no seu percurso individual e, por mais que não se perceba, não pareça ou não queiram mostrar, haverá nas suas atitudes muito 134
dos seus pais. Não fomos assim também, filhos de pais e agora pais de filhos? “(…) Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar os nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é expor-se a todo o tipo de dor, principalmente da incerteza de estar procedendo corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo. (…)”, é um excerto de um texto, de autor desconhecido, que reflete, de uma forma terna e poética, a nossa retribuição em vida dos vários empréstimos que a vida todos os dias nos concede. Não podendo fazer nada em relação ao passado, resta-nos poder, com as nossas 135
palavras e ações, alertar e aconselhar os futuros pais para que não cometam os mesmos erros de tantos outros. Os tais que, já demasiado tarde, acabaram por se dar conta do que perderam ao projetar o futuro dos filhos em vez de, no devido tempo, viver com eles o seu presente. E porque o presente é hoje, é chegada a altura de, afagando, beijando e abraçando, partilhar um bem precioso - o amor entre pais e filhos. Despachai-vos, antes que seja tarde! . ALGARVE INFORMATIVO #226
OPINIÃO
Encontros úteis Adília César (Escritora) “A última sessão de Conversas Úteis ficará na memória como mais um dos grandes acontecimentos literários na nossa cidade. Muito obrigado também pela partilha e reconhecimento de todos estes movimentos literários e culturais, tantas vezes encaminhados para a obscuridade do esquecimento, de fora por não acontecerem nos dois grandes centros cosmopolitas do país, de dentro porque se achará sempre a literatura de uma grande inutilidade. Mas não estamos perdidos, nem nada está perdido”. Carlos Nuno Granja, 13-11-2019, Ovar
arlos Nuno Granja é professor de 1.º Ciclo há mais de vinte anos. Desde que iniciou a sua actividade literária publicou dezassete livros (contos, poesia e literatura para a infância) e colaborou em várias colectâneas de poesia. É o coordenador do FLO (Festival Literário de Ovar). Idealiza e apresenta actualmente dois programas de rádio (AVFM) sobre literatura: A ler é que a gente se ouve e Sobre tudo e sobre nada. Tem também a sua assinatura o projecto literário Conversas Úteis no Museu de Ovar, com a participação de uma centena de autores (realizaram-se oitenta e oito edições ao longo de seis anos, tendo Adília César e Fernando Esteves Pinto participado na 88.ª Tertúlia). Tertúlias há muitas, espalhadas pelo território nacional, mais ou menos elaboradas, com muito, pouco ou nenhum apoio. Portugal é um bom exemplo do esforço de um número significativo de promotores culturais que tentam sensibilizar o público em geral para a importância da literatura. Mas nem todos esses eventos são cultura. Ora Carlos Nuno Granja, pela sua persistência na dinamização de diversificados projectos culturais é um bom exemplo de que a responsabilidade e o entusiasmo que imprime a cada um dos seus projectos pessoais e profissionais faz sobressair o que a cultura tem de melhor: a cultura pode e deve preencher o nosso quotidiano, independentemente do nível etário das ALGARVE INFORMATIVO #226
pessoas. Ele insiste e persiste, apesar das dificuldades que possam eventualmente surgir. Nas suas andanças como mediador de leitura, chamam frequentemente a Carlos Nuno Granja – escritor. E ele reflecte: elevado, por excessiva gentileza, à condição maior, ao patamar superior dos predestinados, sem que com isso esteja minimamente preocupado, e consciente também de não ter as capacidades para altos feitos. Mas nestas andanças como mediador de leitura nada mais importa que a promoção do livro como elemento fundamental para o progresso de uma sociedade. O foco deve estar na conquista de mais um leitor. E, na verdade, é isso que preenche a alma. Na 88.ª Tertúlia Conversas Úteis realizada no Museu de Ovar a 9 de Novembro, teve também lugar o lançamento do livro de poesia de Fernando Esteves Pinto – Arte Humana – publicado pela Editora Urutau (Galiza, Brasil e Portugal), com a presença do editor Wladimir Vaz, perante um público participativo. Valeu a pena esta viagem literária, pois percebeu-se que o anfitrião Carlos Nuno Granja partilha connosco o mesmo entusiasmo pela cultura, aperfeiçoando estratégias de promoção da literatura, do livro e do escritor. Insistir e persistir . 136
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OPINIÃO
Do Reboliço #62 Ana Isabel Soares (Professora) s sonhos do Reboliço têm multidões de memórias. Ele conhece bem os lugares onde se passam – conhece-os porque os percorreu umas quantas de vezes, fora dos sonhos, patas no chão. Não lhe faz grande diferença vê-los, aos lugares, em sonho ou fora do sonho, mas percebe quando está lá e quando está aqui. Regressa ao quintal da mercearia. A grande porta vermelha do corredor da casa abre-se devagar, que se arrasta, e, mal a nesga permite que caiba por ela o corpo estreito do canito, focinho primeiro, comprimido tudo o resto, lá vai ele patear até ao fundo. É um quintal mais comprido do que largo, o chão quase todo na lisura do cimento, mas, passada a nogueira – a imponente árvore baixa os troncos, faz de propósito para que não se passe por ela com indiferença, lança as nozes e a espécie de flores, pendentes castanho escuros –, há agora um ninho de terra onde assentam duas laranjeiras novas, laranja da Baía e laranja verde-Espanha, folhas vivas, frutos gordos, e uma roseira encostada ao muro final. E um monte de ramos velhos, tanganhitos, folhas secas, cinza da lareira, cascas das nozes, das laranjas, dos marmelos, o que possa voltar à terra é ali que fica. Foi ali, há muitos anos, a estrumeira. Separada do resto do quintal por uma rede, tinha uma portinha ao meio – ou melhor, quatro tábuas a emoldurar a vedação, num ponto articulado, para impedir que dali saíssem o galo, as galinhas e os pintos que ALGARVE INFORMATIVO #226
bicavam o dia inteiro, ou a cabra, que vivia debaixo de um telhadinho de taipa, ao canto do canto do quintal. Lembra-se agora o Reboliço, no sonho dele, adormeceu à sombra ténue da nogueira: vê sair da casa o avô com a primeira neta pela mão, que não há nada de tempo começou a andar. Ouve avançar com vagar as rangidas botas de couro ao lado do passo quieto da menina, seguirem os dois até à vedação de rede. Ali, o homem levanta a pequena, que senta sobre o braço direito (na outra mão segura, vazia de nada, uma tigela de esmalte) e abre a portinhola. Entram ambos, entra o Reboliço, ouve-se a esquila, mas não o ladrar às aves: essas sim, um alvorocinho de crista, penas e bicos. Os olhos grandes da neta acompanham o que podem do estremecimento das galinhas, daquela esquina mínima que fede com cheiro forte, do telhado castanho da casinha para onde o avô entra, agachando o corpo, agarrando-a com mais segurança, não lhe caia do braço a moça pequena. Atrás, o Reboliço leva as narinas escancaradas ao cheiro da estrumeira, ao cheiro das galinhas, ao cheiro da cabra (que dá por eles, mas que não se assusta). “Deixa-te estar aí um bocadinho”, ouve dizer o avô à neta, que pousou sobre o chão de terra. Está como o Reboliço, a pequena: para quê mexer-se dali, se o mundo inteiro é naquele bocadinho que está, e nada há que se veja ou seja preciso conhecer além da casinha onde mora a cabra do fundo do quintal da casa da mercearia dos avós? O velho, sempre gachadinho, puxa para o lado do bicho 138
Foto: Vasco Célio
branco um banco baixo, uma tripeça, onde se senta: pousa numa lousa do chão a tigela de esmalte, ajeita o animal para perto de si e começa a puxar dela um fio branquinho, que menos se vê do que se ouve: ouve o Reboliço o que ouvirá a neta, um decrescendo sobre o esmalte, som metálico do líquido, som fresco do leite, fio de leite e fio de som, escorrido da cabra para a tigela por força da palma da mão do avô. No sonho, o Reboliço sorri: foi, então, por isso que a menina quis vir 139
com o avô, que se deixou ficar quieta naquele canto do quintal, que fez abrir os olhos para o escuro da casinha de taipa onde a cabra mora: não tarda mais do que o refazer dos passos, do regresso à casa e à cozinha, que daquele leite se verta para um copo e lho deem a beber . *Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo.
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OPINIÃO
As mulheres Paulo Bernardo (Empresário) resci num mundo feminino, mãe, avó, tias, tudo mulheres à minha volta. Ouvia histórias das mais idosas, sempre envolvendo muita fantasia e, obviamente, factos reais mais ou menos fabulados. Contudo, o que eu gostava mesmo era de ser quase invisível e ouvir as conversas à lareira no Inverno, ou enquanto se descascavam amêndoas no Verão, ou se partiam as mesmas no início do Outono. Ai, sim, as histórias eram mais interessantes. Muitas delas não entendia, pois falavam de coisas de adultos e aprendi que pedir por uma explicação mais infantil levava normalmente com a resposta “isto não são coisas de moços pequenos, vai mas é brincar”. Aprendi a respeitá-las, mas, acima de tudo, a olhar para elas como um símbolo de carinho e doçura. Tive a sorte de ser criança quando já não havia crianças. Os jovens emigravam ainda adolescentes para não ir para a guerra, eu, como menino, era mimado, mas de certeza também olhado como um futuro emigrante ou militar. Qualquer das duas opções originava afastamento e dor. Felizmente isso não aconteceu e continuei a ser mimado e acarinhado. Esta relação fez-me ser um admirador e respeitar as mulheres. Para aumentar essa admiração, ainda tive a sorte de ser pai de uma menina, e então fiquei ainda ALGARVE INFORMATIVO #226
mais fã. O respeito e admiração que sinto pelas mulheres fazem-me andar muito atento quando algo não está bem no seu mundo, assassinatos quase diários em Portugal à mão de loucos, violações em grupo em Espanha. Para falar apenas da Península Ibérica. Na semana passada aconteceu o triste caso da criança abandonada num caixote do lixo e salva por um sem-abrigo. Quando todos olhavam para a criança que parece estar bem, eu, não sei bem porquê, olhei para a mãe que abandonou o recém-nascido. Tentei perceber a história. Pelo que vi era uma sem-abrigo, emigrante de Cabo Verde, com vinte e dois anos, primeiro filho e sem as mínimas condições para o criar. Isso não a desculpa de nada, mas também não me desculpa a mim de não ter feito nada para ajudar. Nós todos somos bons a julgar, mas maus a ajudar. Digamos que julgar é mais fácil. Tomei uma posição publica, não em defesa, mas não em julgamento, antes saber o porquê e como recuperar aquela mulher. A polícia e a justiça atuaram rapidamente, talvez porque o nosso presidente Marcelo esteve lá a fazer uma grande reportagem televisiva com o Manuel, o sem-abrigo, que hoje tem uma casa graças à sociedade civil. E a mãe, a mãe, o melhor mesmo é queimar, tipo inquisição e de preferência numa praça
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pública para o povo em gáudio ver e aplaudir. Gostava de ver a justiça que prendeu a mulher que abandonou o filho, a prender preventivamente os homens que abandonam os filhos, não lhes pagando pensões de alimentos. Gostava de ver a mesma justiça a prender preventivamente os homens que 141
maltratam mulheres, quantas estariam hoje vivas. Queria ver a justiça a prender preventivamente os patrões que pagam menos às mulheres. Gostava de ver a justiça funcionar junto de quem abandona os familiares nos hospitais, que maltrata idosos. Assim, espero que, de hoje em diante, se use a mesma medida para quem trata mal alguém . ALGARVE INFORMATIVO #226
OPINIÃO
A ponte da desunião David Martins (Diretor de Marketing e Alojamento) com enorme surpresa, ou talvez não, que assisto a uma enorme contestação à construção de uma nova ponte sobre o rio Gilão, em Tavira, e que visa substituir a ponte «provisória» aí existente há mais de vinte anos.
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Nas últimas semanas testemunhei à criação de um «Movimento Cívico – Tavira Sempre», que promove a contestação da ponte, sob o lema «Salvar Tavira», tendo feito chegar a casa de todos os tavirenses um folheto onde se pode ler, entre outras questões: “ausência de concurso de ideias?”, “ausência de um debate alargado à população”, “mais trânsito para o centro da cidade?”, “ponte em betão sem preocupação estética?”, etc., etc., e que até já teve tempo de antena televisivo no principal canal público de televisão. Sobre esta matéria, e desde o primeiro minuto em que tive conhecimento dos planos para a construção da nova ponte, levantei as minhas interrogações sobre esta necessidade e da forma como a pretendiam desenvolver. É verdade que não sou fã da sua arquitetura moderna, que, como informam os responsáveis autárquicos, “corresponde a uma reinterpretação contemporânea das construções formais existentes no local” – como também não gosto, e aproveito para referir, da arquitetura moderna que definiram para o Teatro António Pinheiro; pois considero que é imperativo manter a ALGARVE INFORMATIVO #226
traça dos centros históricos, o mais originalmente possíveis e manter a harmonia. Teria preferido uma solução mais «romântica», talvez com a utilização de metais, que estivessem equilibrados com os já existentes na Ponte Romana e Jardim do Coreto, ou mesmo reproduzindo ligações com o Mercado da Ribeira, mas essa não foi a opção escolhida. Talvez eu seja um saudosista romântico, até porque reconheço que os centros históricos de hoje são, em parte, a prova viva da aplicação de várias soluções e estilos arquitetónicos ao longo dos anos. É a evolução! Mal estaríamos se todos gostássemos do mesmo, o que seria do amarelo? Não obstante esta preferência estética, e enquanto tavirense por adoção, sou a favor da construção de uma nova ponte e da melhoria das condições de acessibilidade para peões e transportes, pois acredito que é preciso evitar que os centros históricos das vilas e cidades fiquem, ainda mais, desérticos. Veja-se, no caso da nossa cidade, o que já acontece nesta área central. Só com vilas e cidades vivas e dinâmicas comercialmente conseguimos ter territórios sustentáveis e onde apeteça viver. Este assunto traz, porém, um outro elemento que gostaria de destacar nesta minha crónica. Será que somente agora, com a obra adjudicada e em curso, que, como bem deram nota pública os órgãos 142
do município, foi um processo transparente, é que alguns tavirenses se lembraram de defender as suas ideias e «Salvar Tavira»? Por que razão é que, quando os factos estão consumados, é que os cidadãos participam ou manifestam a sua posição? Não saberão todos que as reuniões da câmara municipal são públicas, assim como as reuniões das assembleias municipais, ou mesmo que houve vários momentos eleitorais onde estas e outras ideias e projetos poderiam ser debatidos e, digo eu, se calhar ganhar outro relevo e permitido mais debate e clarificação? Será que somente nos lembramos de S. Bárbara quando está a trovejar? Sou absolutamente favorável à criação de movimentos cívicos, grupos de cidadãos informais, grupos de pressão, partidos políticos, etc.. É da discussão e debate de ideias que nasce uma democracia mais saudável e profícua para todos, porém, é pena que alguns só surjam em determinados momentos. Não querendo ser má língua, interrogo-me: será que isto não é uma preparação para 2021, ano de eleições autárquicas? Já vi isso acontecer muitas vezes e em vários locais. Há que aproveitar as medidas fraturantes para promover potenciais candidatos, o que por si só também não é mau. Se esta ponte, como nos é apresentada, é a melhor solução ou não, também tenho as minhas dúvidas, estéticas. Há, no entanto, algo que me parece claro e evidente neste processo: o executivo 143
municipal e demais atores legitimamente eleitos por nós (pelo menos a parte dos que votaram nas últimas eleições autárquicas em Tavira – 53,7 por cento dos inscritos), sempre estiveram disponíveis para ouvir e melhorar, pelo que merecem o meu respeitoso cumprimento. Por outro lado, há que tirar uma lição, para este e outros assuntos da nossa vida em sociedade, que é a importância de participarmos mais ativamente nas decisões para que os grandes projetos que nos afetam no diaa-dia, e afetarão no futuro os nossos filhos e descendentes, sejam os melhores possíveis. Por que É BOM VIVER EM TAVIRA! . ALGARVE INFORMATIVO #226
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Os vinhos e o clima seduziram o alemão Horst Lieberwirth a radicar-se no Algarve
NOVOS VINHOS ENCERRAM PRIMEIRA EDIÇÃO DO LAGOA WINE SHOW Texto: Vico Ughetto | Fotografia: Vico Ughetto om a oitava sessão do Lagoa Wine Sessions (LWS), realizada em noite de Halloween, chegou ao fim a iniciativa da Câmara Municipal de Lagoa de proporcionar aos empresários hoteleiros e profissionais do setor, um contacto direto com os produtores e os ALGARVE INFORMATIVO #226
vinhos vinificados no Concelho de Lagoa. Luís Encarnação, presidente da autarquia lagoense, em declarações ao Algarve Informativo, indicou que esta primeira edição do Lagoa Wine Sessions, surgiu como uma “extensão do já conhecido Lagoa Wine Show”, que habitualmente em junho anima as ruas de Lagoa com gastronomia e 146
Para já está disponível no mercado este quarteto, a que se irá juntar em breve um Reserva (tinto) e um rosé. O camaleão foi a mascote escolhida para todos os rótulos, também ele um símbolo do Algarve.
música, “só que aqui numa vertente focada na promoção junto da hotelaria com o intuito de alargar a presença de vinhos de Lagoa nas cartas dos restaurantes”. “Obviamente esta promoção acaba por extravasar os vinhos exclusivamente de Lagoa, sendo benéfica para toda a produção regional. Nesse sentido, até temos intenção de propor na AMAL a realização de algo semelhante para outros concelhos produtores”, adiantou Luís Encarnação. No fecho da primeira edição curiosamente temos um produtor que está a abrir portas e a iniciar a divulgação e distribuição dos seus vinhos. Um bom prenúncio, não só para o evento, como 147
para o Algarve, que mostra ser atrativo para o setor. A Quinta das Capinhas é uma nova adição para os cerca de 40 produtores algarvios registados na CVA – Comissão Vitivinícola do Algarve. Horst Lieberwirth é o proprietário, sendo o típico imigrante desta nova vaga globalizante do séc. XXI. Já reformado, de origem alemã, mas sentindo ainda o vigor da jovem velhice, começa por ir para a África do Sul, zona também com bom clima e bom terroir para os vinhos. Só que para Lieberwirth o Algarve falou mais alto, com os argumentos que já estamos habituados a ouvir, mas que sabe sempre bem recordar: bom clima, boas condições naturais para produzir vinho (o tal ALGARVE INFORMATIVO #226
terroir) e a segurança e estabilidade que faltava no outro continente, a que se juntou a proximidade à Europa, facilitando as viagens. Depois de cá estar radicado, Lieberwirth conhece a filha do vizinho, de origem brasileira, e dá-se o casamento, do qual já têm uma filha. Se dizem que os vinhos precisam de uma história por detrás, pode-se dizer que a Quinta dos Capinhas, designação que resulta do nome de família da esposa, tem bastante para Lieberwirth com a sua esposa Inês Capinha, que conheceu no contar. E se, para além das Algarve, com a sua filha Maria histórias, é preciso paixão, bem, essa também existe, hectares, a Quinta dos Capinhas tem até pois Lieberwirth profissionalmente não bastante diversidade, com uma dezena tem nada a ver com o setor dos vinhos, é de variedades, seis brancas e quatro apenas um entusiasta e enófilo que veio tintas. Em prova estiveram os desenvolver esta sua faceta pessoal na monocastas Antão Vaz (branco) e Quinta dos Capinhas, uma propriedade Touriga Nacional (tinto) e os blends perto de Porches, onde alia a vinha, à Antão Vaz e Arinto (branco) e um tinto produção de azeite e ao turismo rural, com quatro castas – duas portuguesas e dispondo de moradias típicas para alugar. duas francesas. O proprietário considera serem curtos, para uma abordagem mais comercial, os Todos os vinhos estão bem atuais cinco hectares de vinha e tem conseguidos e são um ótimo cartão de planos para crescer pelo menos até aos 10 num horizonte próximo. visita da casa e da região, destacando-se do conjunto o Touriga Nacional. Apesar dos seus 14,5% de volume alcoólico, Entretanto, foram quatro os vinhos está muito bem casado e arredondado dados no conhecer nesta sessão de provas. pelos 12 meses de barrica de carvalho Dois brancos e dois tintos, todos com francês onde estagiou, apresentando castas nacionais, pois para Lieberwirth boa acidez e adstringência com um lado “não fazia sentido estar em Portugal e vegetal e resinoso e notas de não apostar principalmente nas castas especiarias, que lhe confere uma autóctones”. E para apenas cinco ALGARVE INFORMATIVO #226
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A equipa da Algarve Views esteve a cargo do serviço de vinhos, sempre com a habitual simpatia e disponibilidade
personalidade muito própria e um lado gastronómico muito vincado, sobretudo com carnes vermelhas, caça e charcutaria. Um bom arranque sem dúvida da Quinta dos Capinhas que vinifica o vinho na adega da Cooperativa Única com o enólogo João do Ó, um bom conhecedor dos vinhos algarvios, onde a experiência na Cooperativa e a colaboração com outros produtores, tem-lhe permitido criar vinhos de muita qualidade, a que se junta mais estes agora. Na forja está também um rosé para o próximo ano, uma tendência de mercado à qual Lieberwirth também quer aderir e assim ficar com o portfólio base todo completo com branco, tinto e rosé. Termina, portanto, em grande esta primeira edição do Lagoa Wine Sessions, não estando certo ainda se haverá uma segunda edição e em que moldes, mas 149
prevê-se que sim, pois Lagoa, afirmando-se como Capital dos Vinhos do Algarve e disputando as atenções vinícolas da região com o Concelho vizinho de Silves, tem necessariamente que desenvolver iniciativas (esta e outras) em prol de uma atividade importante para o Concelho e que engloba outras vertentes como o enoturismo, ao qual a autarquia também pisca o olho com bastante interesse, conforme salienta igualmente Luís Encarnação. “É importante também para o turista que nos visita ter acesso não só a uma gastronomia local genuína, mas igualmente aos vinhos locais, pois só assim se completa toda a relação entre património cultural, paisagístico e gastronómico” .
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João Fernandes e Osvaldo Gonçalves
TURISMO E MUNDO RURAL UNIDOS EM MAIS UMA FEIRA DA PERDIZ DE MARTIM LONGO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina om o objetivo de promover as extraordinárias condições cinegéticas do concelho de Alcoutim, a Câmara Municipal de Alcoutim e a Associação ADECMAR ALGARVE INFORMATIVO #226
organizaram, nos dias 9 e 10 de novembro, no Pavilhão José Rosa Pereira, em Martim Longo, a 12.ª Feira da Perdiz. No recinto estiveram presentes empresas e associações do setor e os visitantes puderam disfrutar de atividades como falcoaria, convívio de folclore, exposições de espécies 152
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cinegéticas, concursos, corrida de galgos, apresentação de cocktail «Mata-Bicho» do Contrabandista, entre outros aliciantes. Nas tasquinhas foi igualmente possível degustar diversos pratos típicos da gastronomia da região nesta época do ano, com realce para os pratos à base de caça. Do programa do certame destacou-se também a animação musical, que no sábado esteve a cargo de Rui Bandeira e, no domingo, dos «Somos do Alentejo». No evento houve ainda espaço para o debate com a realização, no sábado, do colóquio «Vida Selvagem e Caça». E o programa englobou ainda duas provas desportivas, ambas no dia 10, designadamente o 2.º ALGARVE INFORMATIVO #226
Trail «Na rota da perdiz» e a prova de Marcha Corrida, sendo que este ano a organização, por motivos ambientais, eliminou a entrega de garrafas de plástico, apostando no reforço com enchimento de recipientes. A abertura oficial da Feira da Perdiz contou com a presença de João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve, que conhece bem um evento que “está amplamente ancorado na estratégia de diversificação de oferta que definimos, em 2014, para o turismo da região”. “O Algarve tem os problemas que conhecemos da sazonalidade e da litoralização e é fundamental criar 154
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novas motivações de visita, que aconteçam, não só fora da época alta, mas também no interior. Obviamente que esta feira celebra o que é genuíno deste território, assim como o turismo cinegético, que é um contribuinte líquido para a oferta turística do Algarve”, evidenciou, enfatizando a importância de se diferenciar destinos por via das suas identidades próprias. “Vivemos um contexto muito agressivo do ponto de vista da concorrência, aliás, estamos na zona mais competitiva do mundo em termos turísticos, o Mediterrâneo, e temos que fazer valer os nossos traços diferenciadores e identitários. Por isso, o Algarve tem de trabalhar sobre as suas tradições, a história, as memórias”, defendeu João Fernandes. A par da diferenciação pela identidade, o responsável pelo Turismo do Algarve ALGARVE INFORMATIVO #226
destacou igualmente a importância da sustentabilidade, da dinamização das espécies autóctones e da simbiose entre a caça organizada e a proteção da natureza. “Há que preservar os recursos endógenos, proporcionar aos residentes e turistas boas experiências, sejam aos atuais como às futura gerações. O turismo é muitas vezes conhecido como a «indústria da paz», que prospera quando há ausência de conflitos, de guerras, de calamidades. E essa paz pode também ser algo que se encontra facilmente em Alcoutim, a paz de espírito”, frisou João Fernandes, acrescentando que “aqui como 156
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que o tempo para, no bom sentido”. “Hoje somos completamente ultrapassados pelos desafios diários em relação àquilo que seria o nosso ciclo natural. Portanto, esta paz de espírito é um grande ativo nos tempos modernos”, acredita. Antes da tradicional visita aos stands instalados no Pavilhão José Rosa Pereira, Osvaldo Gonçalves, presidente da Câmara Municipal de Alcoutim, lembrou que a Feira da Perdiz está assente na vertente promocional dos recursos endógenos locais e alinhada numa estratégia integrada de valorização deste território como um todo. “O tema específico do ALGARVE INFORMATIVO #226
certame conecta com a importância cinegética que todo o concelho de Alcoutim possui, com a perdiz a ser a rainha da caça menor, mas a Feira encontra também espaço para integrar outras ações como as caçadas, as exibições de voo, as demonstrações de falcoaria, os concursos caninos ou as corridas de galgos. É um programa que satisfaz os aficionados da caça e do mundo animal”, enaltece o edil alcoutenejo, não esquecendo igualmente as provas desportivas que tiram proveito das excelentes condições naturais do concelho. 158
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Mas a Feira da Perdiz é também um espaço de eleição para a discussão e aprendizagem conjunta sobre o mundo rural, com Osvaldo Gonçalves a frisar o contributo destas atividades para o bolo total do produto turístico algarvio. “Temos plena consciência das dificuldades com que o Mundo Rural tem de lidar no dia-adia e mantemos uma tenacidade feroz na luta contra elas, tentando por todos os meios combater as assimetrias, a desertificação e o despovoamento, ao mesmo tempo que precisamos adaptarmo-nos às alterações climáticas e ao encerramento de serviços”, afirmou, antes de abordar algumas das suas preocupações enquanto autarca e alcoutenejo. “Temos visto, nos últimos anos, uma preocupação da administração central com a criação de ALGARVE INFORMATIVO #226
programas de valorização do interior. Mas, infelizmente, também temos visto crescer a onda de apoio a ideias que conflituam com a cultura do Mundo Rural. Face a esse novo problema, apelo a que, se não nos podem ajudar, por favor, não nos empatem. Aos que vêm por bem, àqueles que tem o dever e a responsabilidade de nos apoiar, apelo ao reforço da vossa colaboração, para que eventos como a Feira da Perdiz assumam cada vez mais um passo em frente naquilo que é a festa do Mundo Rural e um hino a uma identidade cultural que pretendemos que seja transmitida aos nossos filhos e netos com o orgulho de quem gosta do interior, de quem ama o Mundo Rural”, concluiu o presidente da Câmara Municipal de Alcoutim . 160
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Mário Guerreiro, Anabela Simão, Luís Encarnação, Ana Martins, Mário Vieira e Jorge Pardal
REABILITAÇÃO URBANA E APOIO ÀS EMPRESAS TÊM NOVOS GABINETES DE APOIO EM LAGOA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Câmara Municipal de Lagoa inaugurou, no dia 4 de novembro, dois novos gabinetes para reforçar a sua capacidade de resposta nas áreas da reabilitação urbana e mobilidade, e do apoio ao investimento empresarial. Situadas no n.º 67 na Rua Mouzinho de Albuquerque, bem no coração da cidade de Lagoa, as novas instalações passam a acolher os dois gabinetes especializados reconhecidos pelos acrónimos GRUM e GAE. ALGARVE INFORMATIVO #226
Reabilitar e reconverter o património degradado nos territórios correspondentes às Áreas de Reabilitação Urbana (ARU) do concelho de Lagoa, gerir programas de incentivo à reabilitação, apostar nas atividades económicas como fator determinante para a revitalização destas áreas, dinamizar o turismo, a cultura e o lazer nas mesmas zonas, ou qualificar o espaço público enquanto suporte de convivências, são algumas das incumbências do novo Gabinete de Reabilitação Urbana e Mobilidade 162
(GRUM). Já o Gabinete de Apoio ao Empreendedor (GAE) nasce com a missão de trabalhar em articulação com outras instituições, de forma a dar apoio às empresas locais, promovendo um espírito empreendedor junto dos vários setores da comunidade, potenciando a empregabilidade, a captação de investimentos e o desenvolvimento do concelho. Ou seja, é objetivo do GAE promover o Concelho de Lagoa como destino preferencial de investimento. Conforme referiu na ocasião Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, o GRUM vem dar resposta a uma promessa do seu antecessor, Francisco Martins, depois de estarem devidamente aprovadas as Áreas de Reabilitação Urbana de Lagoa. “Estamos perante matérias que não são facilmente entendíveis para o comum cidadão, envolvem muitas questões
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técnicas, jurídicas e legais, e queremos dar um apoio fundamental para que os proprietários e os investidores tenham a possibilidade de usufruir de todos os benefícios e ferramentas disponíveis para estes processos”, explicou o autarca, adiantando que também o GAE é uma «velha» ambição deste executivo camarário, para servir de ponte entre o Município e os potenciais investidores. “No fundo, desejamos que a autarquia seja um facilitador e catalisador para quem pretenda investir em Lagoa, naturalmente com maior incidência naquele que é o nosso core business, a mola da nossa atividade económica, o turismo”. Para o presidente da Câmara Municipal de Lagoa, estamos perante duas áreas que se interligam e que, de certa forma, se relacionam com o mesmo problema, a falta de mão-de-
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obra qualificada. “Ainda recentemente abrimos vários procedimentos concursais e muitos ficaram desertos. Para as empresas hoteleiras também é cada vez mais difícil angariar colaboradores como empregados de mesa, cozinheiros, ajudantes de cozinha, empregadas de quartos ou rececionistas. Sabemos que Lagoa vive essencialmente do turismo e esta é uma carência que está perfeitamente identificada e que se prende com a falta de atratividade do concelho, porque é difícil encontrar casas para arrendar. E a mobilidade é outra questão que influencia a escolha dos locais para se viver”, frisou Luís Encarnação, defendendo a necessidade de se recuperarem os centros urbanos, não só numa perspetiva de promoção e desenvolvimento imobiliário vocacionado para o turismo, mas também para ir de encontro à necessidade de casas para arrendamento. “Temos que captar mais famílias para Lagoa para que sejam a ALGARVE INFORMATIVO #226
mão-de-obra que as nossas empresas precisam”, justifica. Com os dois novos gabinetes em funcionamento, a ideia é auscultar mais de perto as necessidades e carências dos investidores e depois encaminhá-los na direção correta para que concretizem os seus objetivos. E o GRUM e o GAE acabam por aliviar igualmente a afluência do Balcão Único localizado no edifício da Câmara Municipal e que está mais vocacionado para lidar com outros assuntos. “Cumprimos, assim, várias missões dos municípios: estarmos próximos das nossas populações, darmos resposta aos seus anseios, apoiarmos os nossos investidores. Estamos perto do pleno emprego, em Lagoa, no Algarve, em todo o país, um cenário bem diferente do que vivíamos há uns anos, portanto, temos que criar mecanismos para atrair mão-de-obra”, salientou Luís Encarnação . 164
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