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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 14 de dezembro, 2019
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«NOITE» RODRIGO LEÃO MANUEL COSTA ALVES ARTE SACRA EM TAVIRA ODELEITE FOI ALDEIA PRESÉPIO «PLASTIQUE SENSE(A)CTION» «OLÁ, EU SOU O PAI ALGARVENATAL!» INFORMATIVO #230
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58 - «A Life in Motion» em Lagos
44 - «Noite» no Cine-Teatro Louletano
90 - Rodrigo Leão no TEMPO
70 - Manuel Costa Alves ALGARVE INFORMATIVO #230
130 - Dia da Cidade de Portimão 10
28 - Arte Sacra em Tavira
18 - Nossa Senhora da Conceição em Quarteira
100 - Presépio Vivo em Odeleite
144 - «Plastique Sense(a)ction» de
Mateus Verde e Sara Mendes Vicente
OPINIÃO 110 - Paulo Cunha 112 - Mirian Tavares 114 - Ana Isabel Soares 116 - Paulo Bernardo 118 - Adília César 120 - David Martins 122 - Vera Casaca 124 - João Ministro
82 - «Olá, eu sou o Pai Natal!» no Cine-Teatro Louletano 11
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QUARTEIRA PRESTOU HOMENAGEM A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
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elebra-se, a 8 de dezembro, o Dia de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal e, no concelho de Loulé, é em Quarteira que decorrem habitualmente os principais festejos. As comemorações arrancaram no dia 7, à noite, com a procissão de velas com a imagem de Nossa Senhora em direção à Igreja S. Pedro do Mar. No dia 8, momento alto desta Festa, a manhã começou com uma alvorada logo pelas 9h. À tarde teve lugar uma Eucaristia na Igreja de S. Pedro do Mar, seguindo-se a ALGARVE INFORMATIVO #230
procissão solene com a imagem de Nossa Senhora, em direção ao Porto de Abrigo. O ponto mais emotivo desta festa é a viagem de barco da Padroeira, acompanhada pela crença de muitos fiéis que ali se deslocam, especialmente pelos pescadores que, com as suas embarcações engalanadas, demonstram toda a devoção e afeto pela sua Protetora. À bênção do mar e das embarcações seguiu-se o regresso à Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Entre as 18h e as 23h houve um espaço de gastronomia em frente à Igreja de 20
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Nossa Senhora da Conceição, bem como um momento musical com Rita Melo e Bruno Neves, venda de ramos e leilão de ofertas. A Festa em Honra de Nossa Senhora da Conceição em Quarteira é uma tradição com raízes culturais antigas, já que a imagem foi encontrada nas redes pelos pescadores há mais de 200 anos, e que está profundamente integrada na comunidade piscatória e em todos os quarteirenses. Para além das novenas e de outras celebrações religiosas, destaca-se o desfile das embarcações de pesca engalanadas que acompanham a procissão religiosa, seguido da Bênção do Mar que, desde o ano de 2000, é efetuada no novo ALGARVE INFORMATIVO #230
Porto de Pesca de Quarteira onde foi erigida uma pequena capela para acolher a Santa. Reza a curta história desta capela que recebe os pescadores no seu regresso do mar que, no mesmo ano em que foi erigida, protegeu as embarcações de um violento temporal que se abateu na costa do Algarve, apesar dos estragos materiais provocados. A Festa da Nossa Senhora da Conceição tornou-se, com o passar dos anos, não só uma importante manifestação religiosa, mas também uma atração para muitos visitantes nacionais e estrangeiros que marcam presença neste feriado nacional na cidade de Quarteira . 22
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PARÓQUIA DE TAVIRA INAUGUROU COLEÇÃO VISITÁVEL DE ARTE SACRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina 29 29
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O Bispo do Algarve, D. Manuel Neto Quintas
Paróquia de Tavira inaugurou, no dia 8 de dezembro, uma coleção visitável de Arte Sacra e que estará patente ao público no horário normal de funcionamento da Igreja de Santa Maria do Castelo. Intitulada «Assim na terra como no céu» (passagem do Evangelho de S. Mateus - 6,10 - e um dos excertos do Pai-Nosso), torna ainda mais clara a forte ligação da cidade de Tavira à Fé Católica. E, de facto, nas palavras dos seus curadores, Marco Lopes (Diretor do Museu Municipal de Faro) e Daniel Santana (Técnico de Património da Câmara Municipal de Tavira), “há uma forte carga religiosa e espiritual, que tem repercussão natural na história, na arquitetura e na arte em Tavira, na ALGARVE INFORMATIVO #230
conquista do território, na administração dos templos, na construção de novos edifícios religiosos e nos hábitos sociais da comunidade local, que participa nos ofícios litúrgicos ou nas procissões”. No momento da inauguração, o Padre Miguel Neto recordou como encontrou a Igreja de Santa Maria, em julho de 2016, quando foi desafiado pelo Bispo do Algarve para se colocar ao serviço da Paróquia de Tavira, assim como rentabilizar o seu património. “Depareime com uma entrada escura e fria, onde se entregavam os bilhetes como as antigas rifas, penso que no valor de 1,5 euros. O museu tinha importantes peças, mas que estavam deficientemente destacadas e, em alguns casos, acompanhadas de muito 30
31 Padre Miguel Neto
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João Pedro Rodrigues, Vereador da Câmara Municipal de Tavira
pouca informação. Abundavam as placas de proibição e as notas informativas encontravam-se escritas com fontes e tamanhos diferentes”, lembrou o pároco. “Não se podia entrar nos altares e a sacristia, onde habitam dos mais belos azulejos desta casa, estava inacessível ao visitante, assim como a torre de sinete, na minha opinião o mais belo miradouro desta linda cidade”. Perante esta realidade, o Padre Miguel Neto confessou ter-se assustado, mas não pretende, com este desabafo, desmerecer o trabalho dos seus antecessores. “Foi o esforço de quem aqui esteve antes de mim que permitiu a salvaguarda do que temos para mostrar. Cada época e cada pessoa tem as suas características específicas e tenho a maior das certezas que fizeram o possível e o melhor que ALGARVE INFORMATIVO #230
puderam para que tudo continuasse à guarda da paróquia e disponível para todos”, afirmou, acrescentando que o seu papel foi apenas o de encontrar uma forma mais contemporânea para a preservação e exposição de arte sacra, bem como de procurar os meios para que tal pudesse ser realizado. “Nesse esforço não estive sozinho, nem fui eu sozinho que criei a ARTGilão Tavira. Desde a primeira hora que este projeto teve o aval e a confiança do Bispo do Algarve e o logotipo nasceu da colaboração do designer tavirense Pedro Moutinho. Não fui só eu que criei o merchandising de qualidade que atualmente vendemos numa loja iluminada, arejada e decorada com a ajuda da minha colaboradora da Pastoral do Turismo, Sandra Moreira. Foi também ela que me incentivou 32
Jorge Botelho, Secretário de Estado da Descentralização e das Autarquias Locais
insistentemente para fazer a remodelação hoje concluída e para apostar naquilo que é da terra, a começar pelos artesãos, todos eles algarvios de coração”, prosseguiu o pároco. Miguel Neto não esqueceu igualmente as técnicas de restauro da ARTGilão Tavira, Marta Pereira e Maria Inês, assim como David Gonçalves, o grande responsável pela montagem e concretização prática do projeto, e os curadores Marco Lopes e Daniel Santana, todos eles essenciais para tornar uma realidade esta coleção visitável, que implicou um investimento de 25 mil euros provenientes, única e exclusivamente, da rentabilidade do próprio projeto. “Como juntos fazemos mais, o crescimento destes três anos da ARTGilão Tavira resulta, não apenas do 33
que se faz nesta igreja, mas daquilo que temos promovido e criado através do protocolo estabelecido com a Santa Casa da Misericórdia de Tavira. Sem essa união, tudo isto seria muito mais difícil, para não dizer impossível”, assegurou, adiantando ainda que a tarefa está longe de concluída. “Estamos no início de mais uma etapa desta caminhada. Consideramos da maior importância que a Câmara Municipal de Tavira nos continue a apoiar, como o tem feito até aqui, e agora de uma forma mais concreta, com a implementação do restauro e pintura interior desta igreja que é monumento nacional. Depois, poderemos propor à Direção Regional de Cultura do Algarve uma mudança digna e adequada do presbitério e do altar-mor desta igreja, que ficará mais ALGARVE INFORMATIVO #230
bem preparada para o culto e com a sua imponência restabelecida”. Mas o Padre Miguel Neto não pretende ficar-se apenas pela requalificação da Igreja de Santa Maria do Castelo, entendendo que há que adequar e normalizar também as igrejas de Santiago e de São Paulo para as visitas. “Não queremos ser a cidade das igrejas, quando elas estão de portas fechadas. ALGARVE INFORMATIVO #230
Primeiro, temos que criar hábito e rentabilidade. Depois, o nosso visitante quer qualidade da informação e da forma como o espaço é apresentado. Falta-nos apostar na criação de plataformas mais contemporâneas de mostrar a história cristã de Tavira, que possam incluir linguagens como a multimédia ou a realidade aumentada. Usar a Igreja de Nossa Senhora da Piedade como uma 34
das entradas na cidade velha para criar um centro multimédia sobre a história cristã de Tavira parece-me ideal”, referiu o pároco, apelando ainda à formação, com urgência, de uma equipa profissional de manutenção para as igrejas paroquiais, à construção de uma loja maior para a ARTGilão Tavira e à maior divulgação da Semana Santa de Tavira, “que não é nada inferior à de Braga”. “Falta-nos tanta coisa. Haja ideias, vontade e dinheiro 35
para as concretizar. Porém, confesso que estou cansado e que, por vezes, caio no desânimo humano, por sentir que nem todos os cristãos tavirenses valorizam e sentem como importante todas estas obras, todo este projeto para restaurar, conservar, manter e divulgar o património lindíssimo da nossa cidade. Nada se faz sozinho. As igrejas são vossas, eu estou de ALGARVE INFORMATIVO #230
passagem, e tudo aquilo que for criado fica as gerações seguintes”, sublinhou.
UM PATRIMÓNIO RICO, UMA IDENTIDADE PRÓPRIA Foi com satisfação e orgulho que João Pedro Rodrigues, vereador da Câmara Municipal de Tavira, assistiu à inauguração desta coleção visitável de arte sacra que permite conhecer um pouco mais da história de Tavira. “Desde que chegou a Tavira, o Padre Miguel revolucionou esta paróquia, sobretudo no que diz respeito ao seu património religioso. O Município de Tavira será sempre um parceiro da Paróquia e temos dado passos que ALGARVE INFORMATIVO #230
julgamos serem importantes para a requalificação do património edificado. Reabilitámos edifícios que estavam totalmente degradados, como é o caso da Igreja de São Roque; apoiamos as diversas irmandades para que possam criar condições para que as igrejas fiquem mais bonitas e agradáveis; e a questão cultural imaterial é para nós de grande relevo, até porque Tavira comemora, em 2020, os 500 anos de elevação a cidade”, salientou o autarca, recordando ainda a Semana Santa de Tavira, que atrai todos os anos milhares de turistas, mas que é, acima de tudo, muito relevante para os tavirenses em termos espirituais. “O Padre Miguel 36
presente. As igrejas devem ser uma fonte de orgulho e estamos num tempo em que se tornou relevante contar histórias com o nosso património, organizá-lo e permitir que outros o conheçam. E existe no Algarve um potencial enorme de satisfação das pessoas por via da nossa cultura, ao invés de passarem apenas uns dias de férias na praia ou no campo”, frisou o governante.
pode estar mais descansado porque o Município de Tavira será sempre um apoio em todas as iniciativas que a Paróquia quiser realizar, para que possamos mostrar, cada vez mais, este património riquíssimo que é nosso, que é vosso, que é de todos nós”. À inauguração não faltou Jorge Botelho, Secretário de Estado da Descentralização e das Autarquias Locais, conhecedor profundo do assunto em causa, não fosse ele presidente da Câmara Municipal de Tavira até há poucos meses. “Tavira tem um património rico, uma identidade própria e nós, cristão, católicos, que acreditam, que têm fé, devemos dizer «presente» quando é necessário estar 37
Jorge Botelho lembrou a chegada do Padre Miguel Neto a Tavira e a sua vontade de colocar em prática as preocupações da Diocese do Algarve em termos de aproveitamento do seu património. “A ARTGilão é uma excelente ideia que conseguiu tornar realidade. O museu existia, mas havia necessidade de uma sistematização ou leitura diferente, que agora foi concretizada. Fez um acordo com a Misericórdia de Tavira para que o património fosse visitável com entradas pagas, uma receita que depois foi reinvestida nesse mesmo património”, contou o Secretário de Estado. “Há coisas que estão feitas, mas continua a haver um trabalho imenso pela frente, que será mais fácil se todos colaborarem. O governo está disponível para ajudar sempre que existam ideias transformadoras e a Câmara Municipal de Tavira será também uma peça chave neste processo. Queremos ter templos requalificados e uma comunidade paroquial viva e orgulhosa do seu património. Daqui a uns tempos teremos os cinco altares desta igreja recuperados, uma despesa inteiramente suportada pelo Município ALGARVE INFORMATIVO #230
de Tavira, depois será a pintura interior”, relevou ainda o ex-edil tavirense. Antes de se visitar a coleção de arte sacra usou da palavra o Bispo do Algarve “num dia de alegria para toda a Diocese”. “Estou muito feliz por poder partilhar com todos vós este momento e a minha principal palavra é de gratidão e reconhecimento para o Padre Miguel e a equipa que ele conseguiu reunir e unir. Pensei que ele tinha capacidade para iniciar este caminho e os resultados estão à vista”, elogiou. “Somos uma comunidade e uma família que será tanto mais rica quanto mais souber reunir e unir capacidades pessoais e colocá-las ao serviço da comunidade. Apostar na cultura, no património, é aproveitar a riqueza que veio do passado, que nos caracteriza e identifica, para também olharmos para o futuro de uma maneira diferente. E gostava que ALGARVE INFORMATIVO #230
aquilo que está a ser feito em Tavira pudesse ser replicado noutras cidades e paróquias da região, para que todos possam desfrutar de um património religioso que é de todos. A igreja é apenas o seu depositário”, considerou D. Manuel Neto Quintas.
RESPEITAR E DIGNIFICAR O PATRIMÓNIO «Assim na terra, como no céu», significa que a Igreja, enquanto intérprete da vontade divina, estabelece as regras e os comportamentos da sociedade e dos ministros da Fé, traduzindo-os depois numa série de objetos artísticos que devem respeitados e adorados. Este local esteve fechado ao público durante algum tempo, tendo sido feito um trabalho de renovação do espaço 38
Marco Lopes e Daniel Santana, curadores da exposição
expositivo, “utilizando as mesmas salas e mantendo alguns dos objetos”, explicam Marco Lopes e Daniel Santana. “Além de um novo mobiliário, que destaca e valoriza as peças, sem esquecer as questões de conservação, este núcleo expositivo tem textos explicativos, que desenham um fio condutor entre a história de Tavira e a vida religiosa local, durante os séculos XV e XVIII”. Do mesmo modo, houve o cuidado de que as peças não se limitassem a ter “uma legenda lacónica, com data e títulos, mas uma descrição breve do seu significado histórico e artístico”. Os visitantes encontrarão “essencialmente peças de caráter religioso, com funções devocionais, usadas em contexto de cerimónia litúrgica ou como elementos de culto”, 39
descrevem Marco Lopes e Daniel Santana. Desde pinturas, a imagens religiosas de vulto, passando por extraordinárias peças de arte nanbam, paramentaria, livros e ourivesaria, muitos deles originais de Santa Maria, outros de Santiago e alguns de São Paulo, todos estarão acessíveis e com informação que explicará a sua origem e função. “A razão da escolha destas peças obedece a dois critérios, um cronológico e outro temático, que andam lado a lado”, referem os dois especialistas em património e museologia. “A história da cidade de Tavira é indissociável da vida religiosa, desde logo da igreja de Santa Maria. Quisemos dar testemunho, no início da exposição, à entrada dos cavaleiros santiaguistas e ao culto dos mártires, mas também ao contacto ALGARVE INFORMATIVO #230
internacional desta localidade, patente em obras ou artistas que têm origem longínqua. Depois, entramos no barroco, com peças dos séculos XVII e XVIII, que nos situam numa época de luxo artístico, de muitas construções religiosas em Tavira e no aparecimento de várias confrarias, em que a encenação e o espetáculo dominam no interior dos templos”. A seleção das peças foi, na perspetiva dos curadores, o maior desafio, já que houve que atentar ao número e ALGARVE INFORMATIVO #230
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dignificação do património e da memória histórica, quer da cidade, quer da paróquia, bem como um sinal dos novos tempos, em que estes tesouros começam a ser valorizados do ponto de vista expositivo, mas também da sua conservação e da sua divulgação turística. Se, hoje em dia, as igrejas valem por si enquanto espaços de interesse cultural e turístico, esta exposição vem ampliar a oferta do roteiro de visitas nos espaços religiosos e no centro histórico de Tavira”, enaltecem Marco Lopes e Daniel Santana.
qualidade das mesmas, de forma a escolher as que pudessem caber nas salas reservadas a esta mostra. “Existia uma ideia bem definida dos temas, que tinha de se adaptar a um espaço pequeno”, esclarecem, mas consideram que “por ser um núcleo de peças relativamente bem conhecido, quer por ter entrado em exposições anteriores, quer pela investigação feita à sua volta, a preparação não teve grandes dificuldades”. “Este trabalho que agora se torna público é, acima de tudo, um ato de respeito e 41
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«NOITE» RECORDOU POETA AL BERTO NO CINE-TEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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OITE é o espetáculo de dança / performance da autoria de André Braga e Cláudia Figueiredo, e da Companhia Circolando, inspirado na poesia de Al Berto, que subiu ao palco do Cine-Teatro Louletano, nos dias 6 e 7 de dezembro, e que certamente não terá deixado ninguém indiferente. Sobre «Noite», a companhia do Porto diz que "vem na linha dos projetos mais ALGARVE INFORMATIVO #230
inimistas, que favorecem a reflexão sobre a linguagem que vimos desenvolvendo e a experimentação de novos caminhos". Focado numa ideia inicial em Al Berto, que encontrou na noite a verdade da escrita, «Noite» explora os subúrbios das cidades e o elogio de uma luz e claridade especiais, dimensões do universo do poeta que sobressaem. "Depois, sentimos absoluta necessidade de nos libertarmos dele e de seguir o nosso próprio mapa de áreas de pesquisa", acrescentam os autores . 46
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Criação: André Braga, Cláudia Figueiredo, Paulo Mota e Ricardo Machado / Direção: André Braga / Dramaturgia: Cláudia Figueiredo / Interpretação: André Braga, Ricardo Machado e Ana Isabel Castro/ Dj e sonoplastia: André Pires / Conceção plástica: André Braga, Nuno Brandão e Sandra Neves / Desenho de luz: Francisco Tavares Teles / Direção de produção e direção de cena: Ana Carvalhosa / Produção executiva: Cláudia Santos / Coordenação técnica e luz: Pedro Vilela / Palco e montagem: Pedro Coutinho / Coprodução: Circolando, Teatro Municipal do Porto, São Luiz Teatro Municipal, Centro Cultural de Ílhavo / Residência de criação: Centro Cultural Gafanha da Nazaré e Teatro Municipal Campo Alegre.
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TEATRO EXPERIMENTAL DE LAGOS APRESENTOU «A LIFE IN MOTION» DE JENNY O JACOBSSON Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Teatro Experimental de Lagos apresentou, de 29 de novembro a 1 de dezembro, em estreia absoluta, «A Life In Motion», um espetáculo de dança da autoria de Jenny O Jacobsson que é um livro de memórias coreográficas sobre a luta interna entre confiança e dúvida vistas de diferentes idades. Seis capítulos curtos de movimento que olham para as memórias da juventude e perguntam o que acontece com o amor depois de «felizes para sempre», contemplando o que significa deixar ir e como mover-se graciosamente em frente. Jenny O Jacobsson é bailarina, coreógrafa, professora de dança e yoga. Durante uma década deixou completamente o mundo da dança, mas, depois de se mudar para Lagos, foi convidada para lecionar no Estúdio de Ballet Gwen Morris. “Ao conhecer a dança a partir dessa perspetiva, percebi que ainda é uma das minhas maiores fontes de alegria”, refere Jenny, que em 2019 decidiu finalmente “tirar o pó da antiga ideia e criar uma performance com os meus amigos e alunos, porque agora, pela sabedoria de uma mente mais velha, entendo que a nossa luta interna, embora pareça tão pessoal, é familiar a todos nós, independentemente do estágio da vida em que nos encontramos”. “E eu, estando naquele estágio da vida em que sou constantemente lembrada de que estou realmente envelhecendo, pensei: bem, é agora ou nunca ...”, acrescenta. Com ideia e coreografia de Jenny O Jacobsson, «A Life In Motion» foi interpretada pela própria e pelos bailarinos Zainab Oluwakemi Sander Bakare, Tessa Sander, Amalia Santos, Maria Faria, Igor Odriozola Cuesta, Iomi Li Jacobsson Odriozola e Gwen Morris Franco e a resposta do público foi três noites de casa cheia . ALGARVE INFORMATIVO #230
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MANUEL COSTA ALVES: CABELEIREIRO DE PROFISSÃO, CAVALEIRO POR PAIXÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Manuel Costa Alves ALGARVE INFORMATIVO #230
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anuel Costa Alves veio há algumas décadas de Vila Real de Trás-os-Montes para se fixar em São Brás de Alportel, vila do interior algarvio onde tem um salão de cabeleireiro há 27 anos e, ALGARVE INFORMATIVO #230
acima de tudo, onde desenvolveu o seu amor pelos cavalos, nomeadamente pelas modalidades da dressage e equitação de trabalho. Mas não é fácil conciliar as facetas de cabeleireiro profissional com cavaleiro «amador», garante logo em início de conversa. “É do salão que retiro o meu ordenado para poder manter-me na equitação, 72
também clientes estrangeiros, até porque, como tirei o curso na Alemanha, sou fluente no alemão”, recorda o entrevistado.
um hobby a que dedico bastante do meu tempo para conseguir trabalhar os cavalos”, explica. “Independentemente da atividade que desenvolvemos, o mais importante é saber fazê-la bem e não tanto o local onde nos instalamos. Na época, São Brás já tinha perto de oito ou nove mil habitantes, tem uma boa localização e sempre consegui atrair 73
Mas ganhar nome nesta arte levou o seu tempo, reconhece Manuel Costa Alves, que fez várias formações e apresentações por via das marcas que representava. Aliás, foi dos primeiros a dar formação de cabeleireiro no Areal Gordo, e o boca-a-boca foi a melhor publicidade do trabalho que ia realizando no coração da Serra do Caldeirão. “Hoje está na moda o conceito de barbeiro, mas não existem grandes diferenças entre as técnicas de corte para homem ou mulher. Os homens, de há uns anos para cá, até estão mais aplicados no que toca ao seu visual, à forma como se apresentam em público, do que muitas mulheres”, observa o especialista, acreditando que este novo fervor em torno da profissão de barbeiro se deveu ao elevado desemprego decorrente da crise que o país viveu há uma década. Mas não basta tirar um curso para ir logo abrir um salão, avisa. “Esse é o erro de grande parte das pessoas que tira formações bastante curtas, onde aprendem as noções básicas, mas falta-lhes toda a experiência de profissionais mais batidos. Os formandos apresentam-se como cabeleireiros/as, mas não o são, e este mercado é muito difícil. Como é óbvio, não se pode pagar a uma pessoa que tirou um curso de poucos meses o mesmo que a um profissional com provas dadas, com vários anos de experiência”, entende Manuel Costa Alves. ALGARVE INFORMATIVO #230
Manuel Costa Alves e a esposa Gisela Alves, no seu salão de cabeleireiro junto ao Mercado Municipal de São Brás de Alportel
Descontente com esta nova fórmula de ensino, onde o mais importante são os números, cumprir objetivos e metas, disponibilizando-se cursos técnicoprofissionais a torto e direito a todos os jovens que não pretendem seguir a tradicional via académica, Manuel Costa Alves optou por colocar de lado a sua vertente de formador. “Isto é um trabalho manual bastante técnico, aprende-se ao longo dos anos, não é algo que se domina em três, quatro ou mesmo nove meses”, justifica. E esta decisão acabou por lhe deixar mais tempo livre para a sua outra paixão, a equitação, uma «loucura» que vem desde que era miúdo. Contudo, só quando se tornou trintão é que começou a montar mais a sério, como um desporto. “É uma atividade que requer equilíbrio, sensibilidade, saber ler bem as ALGARVE INFORMATIVO #230
atitudes dos cavalos, enfim, ter uma série de aptidões físicas e mentais que acho que possuo. Pratico a dressage e a equitação de trabalho, esta última muito portuguesa, mas da qual existem competições europeias e mundiais. Já competi contra grandes cavaleiros e só não obtenho melhores resultados porque, entretanto, vendo os cavalos que estão mais evoluídos tecnicamente para conseguir suportar o hobby”, lamenta. A opção é boa, e necessária, em termos financeiros, mas má no plano desportivo, daí que Manuel Costa Alves não tenha ainda sido chamado à seleção nacional para representar Portugal nas provas internacionais de equitação de trabalho. “Recentemente vendi para a Finlândia o cavalo com o qual fui 74
campeão regional de dressage e estava entre os quatro primeiros lugares no campeonato nacional. Para além da questão financeira, o problema é que também sou muito exigente comigo próprio e estou sempre a sonhar em encontrar o suprassumo dos cavalos. Como não é possível ficar com todos, vou vendendo cavalos para comprar poldros que penso ter as características necessárias para ir ainda mais além”, declara o entrevistado. E Manuel Costa Alves parece ter, de facto, olho para estas escolhas, porque já vendeu um cavalo para o conhecido toureiro Tito Semedo, outro para Filipe Gonçalves e um outro rumou a Espanha e esteve quase a ir aos Jogos Olímpicos. “Quando isto acontece, é algo que nos deixa bastante satisfeitos. Não sou criador, antes um treinador, um ofício
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que comecei a aprender com o Fernando Vilamoura, que tinha um picadeiro na Estalagem da Cegonha. Convidava-me regularmente para ir aos picadeiros com ele para escolher cavalos e sempre fui muito observador no que toca aos seus ângulos morfológicos, à forma como se moviam livremente no campo. Atualmente, os criadores já apresentam os cavalos à mão, nos picadeiros, é diferente”, compara.
O FASCÍNIO PELA DRESSAGE E EQUITAÇÃO DE TRABALHO Nesta paixão pelos cavalos, assim como no salão de cabeleireiro, Manuel Costa Alves tem a seu lado a esposa,
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Gisela Alves, e assim se torna mais fácil conciliar as duas atividades e rentabilizar os investimentos. Investimentos que têm de ser feitos com conta, peso e medida, por isso, nunca tiveram mais do que quatro cavalos em simultâneo. E, embora já lhe tenha passado pela cabeça dedicar-se a 100 por cento à equitação, sabe que ser cavaleiro ou monitor de equitação a tempo inteiro não é fácil. “As pessoas conhecemme e sabem que os cavalos que temos em nossa casa são bons espécimes, já recusei até propostas para alugar as boxes para acolher os cavalos de outros, mas, com os preços que se praticam no Algarve, é complicado dar esse passo”. Dinheiro e mediatismo que são mais fáceis de obter nos saltos de obstáculo do que propriamente na dressage e equitação ALGARVE INFORMATIVO #230
de trabalho, mas é uma modalidade que não fascina tanto o entrevistado. “Encanta-me mais a equitação de trabalho porque tem a ver com as nossas raízes, é o nosso traje e maneira de montar, com tarefas que se executavam antigamente no campo, nomeadamente no Alentejo e Ribatejo, o apertar gado, abrir vedações, saltar velados”, descreve Manuel Costa Alves. “Do trabalho do campo fez-se uma modalidade que, atualmente, tem bastante técnica. São três provas – dressage, maneabilidade e velocidade – que me dão imensa adrenalina. A dressage, a equitação de ensino, tem a sua beleza, mas só quem percebe do assunto é que compreende o que está a acontecer no recinto. E há sempre três 76
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juízes a avaliar os concorrentes e as avaliações acabam por ser subjetivas. Nos obstáculos, saltou-se, está feito”, compara o cavaleiro. Um bom cavaleiro, com um bom cavalo, dá nas vistas nos saltos de obstáculos e tem direito a prémios monetários, que chegam a ser bastante aliciantes nas principais provas internacionais. As boas prestações inflacionam igualmente os preços dos cavalos, para deleite dos seus proprietários. Na dressage e equitação de trabalho, tudo é diferente, existem prémios monetários apenas na segunda modalidade, a primeira fica-se pelas rosetas e taças. “Naturalmente que todos os cavaleiros anseiam por ser campeões no final da época, porque esse feito é reconhecido no mundo equestre, cria-se nome, abrem-se outras portas. Se eu conseguisse manter o mesmo cavalo durante três ou quatro anos, o que me permitiria, eventualmente, ser chamado à seleção nacional, isso traduzia-se em mais prestígio e novas oportunidades”, comenta o nortenho, embora saiba que esse prestígio está circunscrito a um meio mais reduzido, por não estarmos a falar de modalidades de massas e muito mediáticas. ALGARVE INFORMATIVO #230
Apesar disso, Manuel Costa Alves foi recentemente homenageado pela Câmara Municipal de São Brás de Alportel e, no dia 8 de dezembro, foi também distinguido na Gala do Desporto de Loulé, uma vez que representa o Clube Hípico de Loulé. “Hoje existe uma maior preocupação da parte do poder local em homenagear os atletas que têm no seu território, contudo, no atletismo, mais ou menos sabemos o nome dos nossos campeões, no futebol, toda a gente é 78
conhecida, na equitação, ninguém sabe os nossos nomes. A comunicação social continua a não dar grande visibilidade a estas modalidades e muitas pessoas ainda pensam que são desportos de elite, o que não é verdade”, assegura. “O desporto equestre é acessível a todas as pessoas, não é só para os ricos. Comprar um cavalo e todos os utensílios é, de facto, caro, mas qualquer desporto, quando levado a sério, tem as suas despesas”. Neste contexto, como é que se consegue cativar as novas gerações para a equitação, questionamos o experiente cavaleiro. “O Clube Hípico de Loulé, por exemplo, tem vários cavalos para emprestar aos miúdos que desejem participar em provas. Por incrível que pareça, o Algarve é dos campeonatos regionais que mais pessoas tem a competir, e grande parte 79
deles são jovens. Já tivemos entre 80 a 100 participantes em dressage”, destaca Manuel Costa Alves, que já tem planos bem definidos para o futuro. “O Daniel Pires começou a montar comigo e tenho agora o Diogo Mira, de Faro, que também vai ser um excelente cavaleiro. Os mais jovens veem em mim uma fonte de inspiração para continuarem nesta modalidade e isso é gratificante. Em termos desportivos, tenho dois cavalos novos para começarem a participar em provas, a ver se, desta vez, os consigo conservar alguns anos para atingir outro patamar e, quiçá, ser chamado à seleção nacional. Na equitação, a idade não é importante. Interessa sim estarmos fisicamente aptos, porque nunca sabemos tudo, estamos a aprender todos os dias” . ALGARVE INFORMATIVO #230
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TIAGO BARBOSA DEU A CONHECER UM LADO DIFERENTE DO PAI NATAL NO CINE-TEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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Cine-Teatro Louletano estreou, no dia 3 de dezembro, uma nova rúbrica, o «Terças Improváveis», com o espetáculo «Olá, eu sou o Pai Natal», de Tiago Barbosa, trabalho que se distingue pela generosidade e despojamento do ator. De acordo com o autor, “a capacidade de gerar e manipular estados de emoção inquietantes coloca-nos perante a experiência teatral na sua essência”. Nesse sentido, o monólogo “parte de um retrato individual - que nos comove através da partilha de angústias e preocupações privadas - para alcançar uma ALGARVE INFORMATIVO #230
reflexão sobre questões mais globais, como a dádiva e a economia na sociedade, e o comércio em jogo no ato performativo”. Com esta nova proposta, o CineTeatro Louletano propõe-se trazer periodicamente a Loulé propostas performativas dotadas de elevada singularidade artística, sempre a uma terça-feira à noite. Neste caso concreto, ao espetáculo de terça à noite para o público geral sucedeu-se, na quartafeira de manhã, uma sessão especial para crianças, dando assim continuidade à estratégia do Município de Loulé de colocar os seus cidadãos em contato com a cultura desde tenra idade . 84
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RODRIGO LEÃO MOSTROU «OS PORTUGUESES» NO TEATRO MUNICIPAL DE PORTIMÃO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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ntegrado nas comemorações oficiais do Dia da Cidade 2019, o compositor Rodrigo Leão, apresentou, no dia 10 de dezembro, no Teatro Municipal de Portimão, «Os Portugueses», um concerto que reflete uma escolha das suas composições cantadas em português que se tornaram em alguns dos seus temas mais amados, a par de clássicos instrumentais que sublinham a indefinível portugalidade da sua inspiração melódica. Em palco, Rodrigo Leão fez-se acompanhar pela cantora Ana Vieira e por uma formação ancorada num naipe de cordas (violino, violoncelo e viola), bem como por um multi-instrumentista que lhe permitiu reproduzir em palco os vários ambientes sonoros das gravações originais. Esta nova versão do concerto «Os Portugueses» continua a contar com temas instrumentais escritos por Rodrigo Leão para a série televisiva de Joana Pontes e António Barreto «Portugal, um Retrato Social», e foi igualmente acompanhada em palco com projeções de imagens da série. «Os Portugueses» deram igualmente origem a uma edição discográfica que, com este mesmo nome, inclui novas gravações dos temas que fazem parte do alinhamento de palco, com a participação de algumas das vozes convidadas com que o compositor trabalhou ao longo da sua carreira. Este lançamento inclui igualmente a bandasonora restaurada de «Portugal, um Retrato Social», que tem uma edição especial (CD/DVD) com imagens da série . ALGARVE INFORMATIVO #230
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ODELEITE VOLTOU A SER ALDEIA PRESÉPIO Texto: Daniel Pina | Fotografia: João Conceição e Município de Castro Marim ALGARVE INFORMATIVO #230
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ecorreu, nos dias 7 e 8 de dezembro, uma das mais fiéis e belas recriações do nascimento do Menino Jesus «Odeleite, Aldeia Presépio» - que contou com mais de 50 figurantes, artesãos e produtores do concelho de Castro Marim, diferentes performances artísticas e a célebre gastronomia da época. Além da recriação, esta é uma iniciativa que se destaca pelo enfoque que traz à identidade cultural da serra algarvia, sendo um lugar de destaque para os produtos locais, como o pão caseiro, o mel, os frutos secos ou o sal de Castro Marim. A animação de rua contou este ano com a especial participação do Grupo de Teatro Amador do Centro de Cultura e Desporto da Câmara Municipal de Castro Marim e do Grupo de Cantares de Odeleite, um projeto muito especial liderado pelo músico, professor e presidente da junta, João Pereira. Nesta quadra, o Grupo de Cantares percorre as povoações mais isoladas da freguesia interior, procurando aquecer o Inverno e o Natal de quem ali vive muitas vezes sozinho. Centenas de pessoas visitaram esta aldeia que, com a sua simplicidade e autenticidade, permite escapar ao reboliço comercial em que a época natalícia se transformou, promovendo um encontro com o verdadeiro espírito natalício. Com cada vez maior adesão, o evento promete crescer nos próximos anos, sendo uma das iniciativas desenvolvidas no âmbito da promoção e desenvolvimento do interior do concelho de Castro Marim que, apesar ALGARVE INFORMATIVO #230
do problema de despovoamento, prima por ser um território com grande identidade, originalidade e dinamismo cultural. Outras desenvolvidas neste sentido são o «Mercadinho na Aldeia», que dinamiza a Casa de Odeleite no primeiro domingo de cada mês, e o 102
«Sabores & Saberes de Odeleite», uma agenda de workshops criada com o objetivo de preservar e dinamizar a herança imaterial deste território.
Odeleite em colaboração com os artesãos e produtores do concelho e o apoio da Junta de Freguesia de Odeleite e da Câmara Municipal de Castro Marim.
A «Aldeia Presépio» foi uma organização da Associação Social da Freguesia de 103
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Maria vai com as outras Paulo Cunha (Professor) or certo, já ouviram, proferiram ou adjetivaram alguém com a expressão «Maria vai com as outras», referindo-se ao comportamento que muitos têm relativamente à imitação e ao «seguidismo» dos pensamentos e atitudes dos seus pares. Sabendo disso, numa época natalícia que dilata de ano para ano, os especialistas em marketing usam e abusam de todos e mais alguns estratagemas para influenciarem os mais incautos e manipuláveis consumidores. Assim sendo, nesta época, criada à medida, tudo vale para dar vazão aos stocks das últimas estações do ano. Os especialistas em comportamento humano referem que poucas sensações são tão prazenteiras como a de uma compra por impulso. Segundo um estudo publicado na revista científica Psychology and Marketing, comprar pode melhorar o humor, gerando assim no nosso cérebro um efeito semelhante ao sentido pelos consumidores de drogas. Em 2016, novecentos e sessenta dos mil americanos adultos que participaram num inquérito revelaram ter comprado algo para fazê-los sentir melhor, mesmo sem necessitarem. As emoções negativas podem levar à perda de autoestima, conduzindo, por isso, as pessoas a comprar mais quando se sentem deprimidas. Mas os efeitos da «terapia da compra» geralmente duram pouco e podem gerar efeitos colaterais negativos e perniciosos a longo prazo. ALGARVE INFORMATIVO #230
Quando nos sentimos deprimidos, a nossa capacidade de autocontrole diminui, aumentando a probabilidade de tomarmos decisões erradas. Mas se podemos compreender o porquê de querermos comprar indiscriminadamente quando estamos deprimidos, e sabemos que comprar nos faz sentir bem, poderemos enganar os nossos cérebros de modo a desencadear sentimentos positivos sem ter de gastar dinheiro? Penso que sim, bastando - recorrendo ao autocontrole - tentar acalmar a ansiedade latente que nos aflige, por forma a que não precisemos de procurar esses pequenos estímulos de prazer de curta duração em compras impulsivas e desnecessárias. Tal como na célebre e muito referida experiência de Pavlov, em que quando um cão é alimentado é associado um estímulo sonoro, e, mais tarde, confrontado com esse mesmo estímulo sonoro, mesmo que não lhe deem comida, o cão começa logo a salivar, também muitos especialistas em neuromarketing hoje o fazem, condicionando os nossos estímulos, alguns deles subliminares, para induzir os comportamentos aguardados. Em ambientes estrategicamente planificados para levar o maior número possível de pessoas a fazer o maior número possível de compras no mais curto intervalo de tempo, o cérebro dos consumidores pode ser assim o seu pior inimigo. 110
É verdade, quando alguém vê muita gente a fazer uma determinada coisa é impelido a fazer o mesmo. É um comportamento social básico e, por defeito, o nosso cérebro está preparado para o fazer também, pois, tal como num movimento coletivo, as pessoas sentem-se mais empáticas, imitando-se assim umas às outras. Existem também outras estratégias de marketing, tais como os (pseudo) mega descontos que só duram até a uma certa altura, etiquetar os preços com determinadas cores e formas, colocar os preços com menos um cêntimo do que a unidade, colocar os produtos mais caros à altura dos nossos olhos, colocar a iluminação com focos estrategicamente direcionados, colocar música adaptada a determinadas faixas etárias, etc. Claro que este comportamento do cérebro está profundamente estudado e este conhecimento foi posto ao serviço do marketing. Num ambiente em que os estímulos visuais, sonoros e sensoriais se dispõem para convencerem as pessoas a comprar, o que acontece é que quando os neurotransmissores ligados à razão entram finalmente em ação, o saldo bancário está muito mais próximo do zero do que o desejável. Segundo alguns 111
neurocientistas, os melhores conselhos a dar são: conseguir parar a tempo, refletir e trazer a razão à equação onde se deseja que o resultado não seja negativo, pagar em dinheiro e, finalmente, pensar nas horas que é preciso trabalhar para pagar determinadas compras e no que se poderia comprar no seu lugar. Tal como diz um amigo meu, como o Natal acontece quando um homem quer, mesmo sob pena de já não encontrar o pretendido, faça do período dos saldos Natal, oferecendo as prendas no dia de Reis (tal como fazem os «nuestros hermanos») e, quase de certeza, verá o Natal também na sua carteira. E se ele o diz, ele lá sabe! . ALGARVE INFORMATIVO #230
OPINIÃO
Do Belo ou sugestões para recuperarmos o sentido da beleza Mirian Tavares (Professora) Quando eu me encontrava preso Na cela de uma cadeia Foi que vi pela primeira vez As tais fotografias Em que apareces inteira Porém lá não estavas nua E sim coberta de nuvens... Terra! Terra! Por mais distante O errante navegante Quem jamais te esqueceria?... Caetano Veloso
cordei com a música Terra, do Caetano Veloso, na cabeça. Pensava na beleza dos seus versos e na múltipla possibilidade de sentidos que cada frase indicia. E pensei no sentido mesmo da palavra Beleza, quase expurgada do universo da crítica de arte. Quando Arnold Hauser definiu a arte dos movimentos de vanguarda disse que era: “essencialmente feia”. Os jovens artistas buscavam, conscientemente, a fealdade como reação ao cânon. Na Academia ainda se ensinavam os preceitos da arte grecoromana, e a sua reafirmação ao longo da História. A nova arte não podia reproduzir um modelo que contestava, pois buscava construir novos sentidos e dar um novo rumo ao conceito de Arte, pondo em causa mesmo a sua existência. Queriam promover uma revolução nos e para os sentidos. A fuga consciente do Belo está, sem dúvida, impregnada pela ideia de belo que perdura na Cultura Ocidental, uma ALGARVE INFORMATIVO #230
ideia mais aristotélica que platônica (ou socrática). Aristóteles, tão bem representado no quadro de Rafael como aquele que aponta para o chão, tentou traduzir, com conta, peso e medida, a ideia do Belo em Si - a beleza encontrava-se no equilíbrio das formas, na maneira certa de arranjá-las, na organização perfeita dos materiais e suportes. Num cânon, enfim. O conceito de Aristóteles entranhou-se no campo das artes - parecia feito sob medida para criar, como o fez, um Modus Operandi que continua presente no imaginário, e no vocabulário correntes. Na Idade Média, os filósofos cristãos recuperam a ideia do Belo em Si platônica - o Belo como o vestíbulo do Bem, como um caminho para se alcançar Deus. Gosto da ideia do Belo que remete à capacidade de sentir a beleza, de percebêla nas coisas que, no fundo, fazem parte de nós. Somos todos originários do mesmo magma e a beleza surge desse encontro de partículas que se reconhecem, vejo a beleza porque ela está também dentro de mim. Porque ela traduz a nossa capacidade de maravilhamento. André Breton, pai do Surrealismo, acreditava que a arte deveria ser capaz de recuperar em nós a crença na vida, no mundo que nos rodeia e que pode, e deve, maravilhar-nos. Numa viagem de comboio que durava 12 horas, num comboio que hoje é memória, 112
que ligava, naquela altura, minhas duas terras, a que eu vivia e a que me viu nascer, olhava a paisagem passar pela janela e exclamava a cada momento: que casinha tão bonita! O primo, que viajava ao meu lado, em certo momento retruca: se disseres isso uma vez mais, atiro-te pela janela! Tinha eu 18 anos e uma enorme capacidade de maravilhar-me. Ontem ouvia os discursos proferidos na universidade que comemorava o seu dia, e 113
quase todos falavam de dificuldades, de incertezas, de um mundo que não está/é fácil e no que resta aos nossos jovens. Nenhum falou da beleza que é estarmos vivos e por isso de sermos capaz de mudar e de promover mudanças, de nos maravilharmos com o que nos rodeia e de construirmos, com sonhos, um mundo melhor. Se a beleza saiu do vocabulário das artes, talvez esteja na hora de recuperá-la para o vocabulário da nossa vida .
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OPINIÃO
Do Reboliço #66 Ana Isabel Soares (Professora) entes o chão, Reboliço? É nas patas que o mundo se revela ao animal, almofadinhas. Um dia destes, dormente enroscado como gosta de estar ao lume (o lombo virado para o resto da cozinha, focinho e patas, no rolo, de frente para o quente), fez subir um nada a persiana da pálpebra quando ouviu o resmalhar de papeis. Alguém guardava entre a parede da lareira e o cesto dos tanganhos um jornal já lido, folhas secas para acendalha dos dias depois. Um canto do papel ficara de fora, visível para o cão que não se preocupa grandemente com o que se noticia fora do círculo de terra que rodeia o socalco do Moinho Grande, o quintal da casa da mercearia, o pequeno Largo dos Bairros Alegres, ou o centro de uma pacata cidade. Mas ficou de fora daquele papel o canto que o canito viu – o canto em que o canito se viu a si mesmo noutro lugar, noutro tempo já muito passado, na vida interrompida de um Vesúvio longe: um tronco que fora tição, morrera e esfriara, duro, empedernira e se eternizara em cinza sólida, deitado num chão queimado de lombo para baixo, a cabeça pendida para o lado, coleira larga no pescoço tenso, mandíbulas entreabertas no gesto quebrado de um ganir, a cauda (que longa, pensou o bicho) metida geométrica e eretamente entre as patas de trás – e as patas da frente levantadas na direção oposta à da cabeça, uma quase quase a tocar na outra. Era como, via o Reboliço, se aquele cão na agonia quisesse fazer o que via aos donos fazer se a aflição os importunava: erguer as mãos ao céu; ALGARVE INFORMATIVO #230
mas recusasse, na danação da morte, olhar de frente o que o céu lhe respondia (seriam ali cinza, chama, pedras em chuva, o fumo que cega), e por isso virava a cara para o lado contrário. O que via no canto daquela folha descartada de jornal, coisa que, de novo arderia, era a imagem de um padecer que ultrapassava o entendimento do bicho pequeno. De qualquer bicho, de qualquer tamanho. Mas havia nela um pormenor que o punha a pensar e lhe dava a dimensão da desgraça: as patas para cima, como via nos escaravelhos, nalguma barata, num pássaro que aparecesse morto no quintal, não lhe eram de imediato o sinal de morte. Imaginava como seria não sentir os ladrilhos da cozinha frescos a ficar mais quentes chegando-se ao lume; como saberia que pisava a mesma tijoleira que o moleiro tocava quando de manhã se sentava na cama, tronco em suspiro largo, antes de começar a jorna. Queria conhecer – mas não queria conhecer jamais – a sensação de patinhar o quintal depois da chuva, escavar buracos na terra para se acoitar da calma, as almofadinhas a darem-lhe todas as dimensões do mundo. Não, aquelas patas levantadas no que o bicho via do estertor animal não lhe eram logo um sinal de fim. Antes disso, eram a interrogação sobre que mundo poderia existir se elas não tocassem o chão . *Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. 114
Foto: Vasco Célio 115
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Boris Ventura Paulo Bernardo (Empresário) oje acordei com duas notícias muito interessantes e que ambas demostram a falta de conhecimento da realidade da velha política. Começando pelas eleições no Reino Unido, em que o «louco» Boris Johnson ganhou com grande maioria, ao contrário do que o senso comum da maioria poderia indicar. Durante a campanha, a velha política não desmontou ideias, apenas se preocupou em ridicularizar o «louco» do Boris, pelo cabelo, pelas afirmações, pela forma de estar, não se preocupou em mostrar que ideias tinha para tornar o Reino Unido «Grande Outra Vez». Os povos têm que ser alimentados com planos de futuro, hoje isso é difícil, por isso, fácil é dizer que o Reino Unido voltará a «ser grande outra vez» com o isolamento da Europa, voltando-se para dentro e pensando que o mundo à sua volta não mudou. A «velha política» vive ainda em 1900, pensa que o mundo ainda é apenas o que ela avista com o seu olhar. Por Portugal, também a coisa esteve interessante ontem. André Ventura foi repreendido por Ferro Rodrigues no Parlamento por ter dito a palavra vergonha várias vezes. Por aqui, a «velha política» também não entendeu que está a ficar ultrapassada neste discurso de atacar o André Ventura, não pelas ideias, e sim pela forma. ALGARVE INFORMATIVO #230
Goste-se ou não, é um deputado eleito que, em conjunto com a Joacine Moreira, tem tido um tempo de antena louco, apenas porque os seus adversários entram num jogo de comunicação onde estão ultrapassados. Estes dois deputados sabem usar as novas armas a seu favor. Hoje, por mero acaso, passei por vários locais onde o tema de fundo era a censura que Ferro Rodrigues fez a André Ventura. Passando Ventura a ser uma vítima da «velha política». E a «velha política» considera a boa democracia quando ela ganha ou a má democracia quando os desconhecidos são eleitos. Mas como o povo é soberano, assim o povo decidiu eleger Boris, como elegeu Ventura, Joacine, Trump ou Bolsonaro. Já são eleitos a mais para a «velha política» não olhar para este grupo de desconhecidos que quase de um dia para o outro surgem eleitos. Quando André Ventura, disse que o «Chega» “vai ser o maior partido de Portugal daqui a oito anos” todos riram, mas não se esqueçam que também riram de Boris, Trump e Bolsonaro. Se queremos ser sérios na política, não podemos tratar os nossos adversários rindo, temos sim que elevar o discurso e entrar nas ideias que temos para o país. Não podemos julgar que o povo é estúpido e, mesmo que seja, cada voto vale igual, por isso, temos que ter um discurso para todos e com todos. Não 116
podemos ter políticas desgarradas, onde se gere pelo momento e não em função das necessidades.
Carneiro, Álvaro Cunhal e Mário Soares. Onde andam hoje pessoas que entendiam o país como estes homens entendiam?
Gostava que a «velha política» acordasse e olhasse para a visão que os «políticos antigos» tinham, quando a Europa tinha homens de estado, sem sair de Portugal, e por ordem de partida podemos falar de Sá
Com políticos a sério, o populismo não surgiria, não existiria espaço, as ideias eram discutidas e não se falaria sobre o futuro rindo dos adversários .
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Os teus olhos, Isabel* Adília César (Escritora) “Ler os livros de Isabel da Nóbrega é a única forma de lhe fazer justiça. É vê-la como ela se contou, e não como outros, por amor, por desejo de renascimento, por mágoa ou por leviandade a contaram. Esses outros sobre os quais ela escreveu: “Oh, esta alegria de não estarmos sós”. Joana Emídio Marques (Observador, 30 de maio de 2015)
s musas da literatura portuguesa têm sido raras na vida dos escritores e poetas. E são, provavelmente, uma espécie em vias de extinção. Hoje, mais do que nunca, as estrelas sedutoras que suscitam inveja e fascínio são outras: jogadores de futebol, personagens das telenovelas e pouco mais. Mas os teus olhos no teu belo rosto Isabel, tão admirados por João Gaspar Simões e José Saramago. Serão os teus olhos como os de Medusa, a górgona mitológica que petrifica quem os olha, na sugestão deixada por João Gaspar Simões? E como esquecer os teus olhos mágicos que parecem perscrutar as almas por dentro dos corpos, recordando Blimunda no romance Memorial do Convento, escrito por José Saramago? Eis aqui apresentados dois homens de peso na literatura portuguesa, dois companheiros entrelaçados na tua vida: João Gaspar Simões, entre 1954 e 1968; e José Saramago, entre 1970 e 1986. E queria dizer-te, Isabel, mas que homens portentosos eles foram no cenário literário e no teatro tua vida… João Gaspar Simões (1903-1987) possui uma obra imensa nos campos do romance, teatro, biografia e história literária, ensaio e crítica literária, edição e estudos introdutórios, tradução. É inegável a sua importância, por exemplo, enquanto primeiro biógrafo e primeiro editor (com Luís de Montalvor) de ALGARVE INFORMATIVO #230
Fernando Pessoa. José Saramago (19222010), escritor galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1998, entre outros prémios, e escreveu romances, crónicas, peças teatrais, contos, poesia, diários e memórias, literatura para a infância e literatura de viagens. E escreve João Gaspar Simões, implicitamente, no romance As Mãos e as Luvas publicado em 1975, pouco depois de tu, Isabel, o teres abandonado (na altura, já vivias com o ainda desconhecido jornalista e tradutor José Saramago): “Sim, essa arma, digo bem, que ela sabia constituir, no arsenal das suas seduções, a mais mortífera das suas armas: os olhos, precisamente”. Neste livro, surge a personagem Tininha, uma mulher promíscua, colecionadora de amores fugazes. O moralismo expresso no romance, alegadamente pleno de referências maldosas contra José Saramago e Isabel da Nóbrega, evidencia o quanto João Gaspar Simões estaria incomodado com a situação. Tu sabias, Isabel, mas nunca falaste em público sobre estas referências à tua pessoa. E escreve José Saramago, explicitamente, na dedicatória da primeira edição do romance Memorial do Convento, publicado em 1982: “À Isabel, porque nada se perde ou repete, porque tudo cria e renova”. Palavras densas, sentidas e consentidas. Também a personagem principal Blimunda tem os teus lindos olhos, Isabel, e o nome que escolheste 118
para ela. Mas mais tarde, José Saramago apagará o teu nome da dedicatória, dedicando o mesmo romance a outra mulher. Tu sabias, Isabel, mas nunca falaste em público sobre esta tentativa injusta de obliteração, apesar de ele ter expressado publicamente a importância que tiveste no desenvolvimento de José Saramago enquanto escritor: “Esta mulher pareceu-me mais do que minha mãe”. A tua vida é um almofariz perpétuo que pisa, mói, reduz. Assim é o culto do amor aos mortos, ao amor negro, aos mortos negros num desprezado eco, como uma abstracção simples da luz, uma ausência. Não permitas que eles se vão embora dessa incompreensão escura, do negrume. A mortalha embebida no perfume das especiarias faz de conta que conhece a decoração do lugar e uiva. Energia dos vivos, mais aguda do que a mágoa. Parece um lamento nas frestas das nuvens, um caminho doce para carruagens douradas. Ecos de outros tempos e outras vidas. Canela e anis estrelado, memória e sonho, cânfora. Imagem nítida de todas as partículas fúnebres que bebem o rio de especiarias dos corações deles ao teu pensamento. Já morreram os teus homens, Isabel. As infâmias plantadas nos seus escritos não deram fruto, eram sementes de desilusão, finitas e arrogantes. O tempo dessas sementes voltou de novo à casca do passado e por lá secaram. Pois a tua maior arma é um misto de amor-próprio e inteligência, uma liquidez verde derramada ao fundo dos teus olhos, uma marca d’água, uma aguarela. Ah, mas os teus olhos, Isabel, os teus olhos ainda vivos cravados nos nossos. Fica tranquila, 119
ainda não foste esquecida. Estamos aqui, dispostos a ler-te . *Isabel da Nóbrega (pseudónimo de Maria Teresa Guerra Bastos Gonçalves) é uma escritora portuguesa. Nasceu em Lisboa a 26 de junho de 1925 (tem 94 anos). Trabalhou em teatro, rádio e televisão, escreveu milhares de crónicas. Ganhou vários prémios, entre os quais o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores (2008) e o Prémio Femina por Mérito na Literatura (2011). Foi ainda condecorada com a Grande-Oficial da Ordem do Mérito (2000) e a Grande-Oficial da Ordem da Liberdade (2011). ALGARVE INFORMATIVO #230
OPINIÃO
«AL» no Algarve David Martins (Diretor de Alojamento e Marketing) stávamos no ano de 2008 quando participei pela primeira vez num debate alusivo ao tema das «camas paralelas», atualmente mais conhecido como «Alojamento Local». O debate, que reuniu em Vilamoura vários protagonistas políticos, associativos e empresários do sector, serviu para discutir os potenciais impactos que a nova legislação publicada (decreto-lei n.º 39/2008, de 7 de março) teria no futuro deste tipo de alojamento e nos empresários que já efetuavam a sua comercialização para fins de arrendamento turístico. Com uma Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (super) ativa à data, e após o estabelecimento de pesadas coimas nas novas regras, estavam todos, com muita razão, inquietos e preocupados… A minha intervenção nessa conferência tocou alguns pontos que me pareciam cruciais, nomeadamente o facto de não podermos descurar de critérios como a segurança, a higiene, a imagem do destino e a justiça fiscal. E dava como exemplo o potencial impacto que um qualquer acidente num desses quartos ou apartamentos não classificados poderia ter na imagem do Algarve e na nossa principal atividade económica. Seria, sem dúvida, uma situação com repercussões dramáticas para todos os algarvios e investidores na região. Passado mais de uma década, e depois de muito empenho de várias entidades nacionais, regionais e locais, de onde se destacam os municípios, por terem sido ALGARVE INFORMATIVO #230
capazes de harmonizar as regras e estimular a sua integração, o Alojamento Local faz hoje parte de uma realidade valiosa, contribuindo para o crescimento de fluxos turísticos registados e também para que as famílias que alugam as unidades de alojamento angariem uma receita adicional à sua atividade profissional. Segundo resultados de um estudo promovido pela Associação de Hotelaria, Restauração e Similares (AHRESP), e que foi recentemente divulgado, os valores são expressivos e merecem registo: temos 32.405 unidades de alojamento registadas - entre apartamentos (77%), moradias (32,3%), estabelecimentos de hospedagem (1,3%), hostels (0,3%) e quartos 0,1%), que geram um volume de negócio de 981,5 milhões de euros anuais, tendo o Estado arrecadado cerca de 160 milhões de euros, e empregam mais de 20 mil pessoas. É, de facto, uma realidade valiosa e que importa apoiar, promover e qualificar. Para que isso seja possível, falta agora ajustar as regras de financiamento das Regiões de Turismo, designadamente no que se refere aos critérios inerentes à distribuição das dotações afetas aos contratos-programa estabelecidos com o Turismo de Portugal, reforçando a capacidade da Região de Turismo do Algarve na sua missão. Só com mais recursos é possível mais e melhor promoção! Uma nota final para desejar a todos(as) os(as) meus(minhas) amigos(as) um Santo Natal e um Próspero Ano Novo, cheio de saúde e felicidade! . 120
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Artistas: Talento, Perseverança ou Obsessão? Vera Casaca (Argumentista e Realizadora de Cinema) longo prazo, pai, ter garra pode ser mais importante do que ter talento”. Ainda vou no início do livro e esta frase marcoume como um ferro em brasa. Angela Duckworth lançou um livro que tem criado muito «hype» nas redes sociais, youtube e pôs todos os «gurus» de autoestima, melhoramento e crescimento pessoal a recomendarem este livro: «Grit: O Poder da Paixão e da Perseverança».
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Como referi, só li algumas páginas do livro – estou em pulgas para devorá-lo – mas o conceito é que nem sempre o talento por si só é selo de garantia de sucesso. Angela Duckworth, doutorada em psicologia, investigou como a nutrição da própria paixão e a perseverança têm um maior peso na determinação do sucesso do que o QI ou as circunstâncias de vida. Vou voltar atrás, lembrei-me de escrever este artigo com o título «Artistas: Talento, Perseverança ou Obsessão?», quando vi pela vigésima vez o filme «Whiplash» do realizador Damien Chazelle (La la land), onde seguimos a história de um jovem que estuda música em Nova York e quer ser o melhor baterista do mundo. Mas o jovem é imaturo e por vezes ingénuo. Eis que entra o professor Fletcher (interpretado pelo J. K. Simmons que arrecadou o ALGARVE INFORMATIVO #230
Oscar para este papel). Fletcher é uma personagem extremamente opressora, manipuladora e tirana. Defende que os verdadeiros artistas só descobrem o seu potencial quando são levados ao extremo mental e físico. E ele leva o aluno a esses extremos. Mas o aluno questiona: será que se perderam artistas porque não aguentaram essa pressão/desafio dos mentores? Numa visão pouco ortodoxa, Fletcher afirma que os verdadeiros artistas não são dissuadidos facilmente. Até podem afundar, mas voltam à tona, e voltam mais fortes. E no filme, com uma manipulação quase demoníaca onde humilha o aluno, Fletcher consegue desta forma catapultá-lo para um solo de bateria inesquecível. Pessoalmente, não concordo com todos os truques utilizados pelo maníaco do Fletcher, mas compreendo o raciocínio. Os seres humanos necessitam de ser motivados, ou motivarem-se a eles mesmos. Nesta linha de pensamento, no brilhante filme biográfico «I, Tonya», vemos um padrão semelhante: Tonya, a patinadora artística, oferecia as suas melhores performances quando era atiçada e provocada. Era como se a raiva fosse convertida numa concentração e ambição absolutas e inabaláveis. Seja por motivação externa ou interna, vemos o mesmo padrão transversal em diversos artistas. Nas raras entrevistas e 122
documentários disponíveis sobre a cantora, performer, atriz, empresária, produtora, mulher maravilha, Beyoncé, encontramos um discurso que revela também uma auto ambição. Desde ensaiar desde criança, trabalhar durante 24 horas sem pausa, ser a primeira a chegar e a sair do estúdio, o «querer mais», e assumir destemidamente “quero ser um dos maiores ícones”. Beyoncé revela que nada é deixado ao acaso nas suas performances – controla a altura do palco, as cores das luzes, a ordem das músicas, captação da imagem, e a edição. Ensaia as coreografias a ponto de exaustão. É loucura? É obsessão? Afinal, o que é que diferencia as pessoas extremamente bem-sucedidas? Bem, provavelmente uma vontade descomedida de se auto-superarem constantemente. E isto tudo para dizer que um mês depois cá estou eu a passear na Fnac de 123
Faro, na secção dos livros e salta-me à vista o «Grit». Tive de comprá-lo. Talvez já saiba a mensagem que vai passar, mas nunca é demais gravá-la no cérebro. Em particular para os artistas que tanto se debatem com inseguranças, relembre-se: a força de vontade é o ingrediente secreto. Lutem. Levantem-se. Caiam. Levantem-se. Don’t stop . ALGARVE INFORMATIVO #230
OPINIÃO
2019, o ano da (des)Ilusão João Ministro (Empresário e Engenheiro do Ambiente) final de cada ano é tradicionalmente acompanhado por uma habitual análise dos principais momentos vividos nesse período. Uma apreciação daqueles que foram os momentos mais marcantes e consequentes numa região e os principais feitos que induziram a mudanças na realidade territorial. A este exercício está também associado uma
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selecção de palavras que mais estiveram em voga no decorrer do ano e que representam, de uma forma geral, a assumpção pelas pessoas de determinados fenómenos que tiveram particular impacto nas suas vidas. A lista de palavras identificadas em 2019 testemunham vários desses acontecimentos: jerricã, lítio, trotinete, entre outras. Uma em particular transpõe a escala nacional e reflete o que foi uma das grandes preocupações da humanidade: «Sustentabilidade». 2019 foi certamente marcado pelo debate em torno das questões ambientais e da sustentabilidade do planeta. Temas como as alterações climáticas, a desflorestação da Amazónia ou a perda de biodiversidade foram assuntos amplamente abordados, quase numa regularidade diária pelos órgãos de comunicação social. Este foi o ano em que se falou pela primeira vez em «emergência climática» e em que várias nações o declararam estar a viver. Diversos estudos e relatórios científicos internacionais, redigidos por algumas das mais reputadas instituições (ex. 124
Nações Unidas), foram divulgados, alertando para o caminho insustentável que a humanidade está a trilhar. Este foi também o ano em que pela primeira vez na história – incluindo em Portugal – a juventude se juntou à escala global e saiu à rua para exigir políticas ambientais urgentes. Porém, ao contrário do que seria de esperar, 2019 foi também um ano marcado pela manutenção do status quo da inacção, em que a riqueza das vontades (políticas) não se traduziu em efeitos práticos. Continuámos a assistir a uma farta publicidade de intenções e anúncios que não passaram disso. 2019 foi mesmo o ano do marketing ambiental. E o Algarve não passou ao lado. Basta navegar pela internet e contar a miríade de eventos e acções que se realizaram ao longo deste ano... A região que em Portugal mais irá sentir os efeitos das alterações climáticas, nomeadamente ao nível da redução da pluviosidade, continua a confrontar-se com uma realidade de pacificidade atordoante. A seca – ainda hoje em grau de máxima severidade – anunciada há muitos meses atrás, é um assunto vazio e 125
regularmente «suavizado» pelas entidades regionais, com as consequências que já hoje se conhecem e que tendencialmente se irão agravar. A agricultura, hoje dominada pela produção intensiva ou super intensiva – com destaque para os extensos campos de abacates, mas também de laranjeiras – alastra impavidamente, aparentemente sem qualquer objecção ou preocupação por parte das entidades responsáveis. A ALGARVE INFORMATIVO #230
delapidação dos espaços verdes, em particular das árvores em jardins, avenidas, praças ou estradas nacionais (ex. Estrada Nacional 2), é acto continuo, sob a desculpa técnica de doenças, insegurança e muitas outras razões (há sempre uma razão!), destruindo a qualidade paisagística da região e de vida das cidades. A floresta, essa, mesmo após os catastróficos incêndios dos últimos anos, continua a não ter medidas reais e corajosas que a valorize, proteja e lhe compense pelas múltiplas funções que possui, muito além da mera componente industrial de produção de madeira ou cortiça. As zonas húmidas de importância internacional continuam ao abandono, desprotegidas e sujeitas à degradação, mesmo após validação científica da necessidade de sua protecção (ex. Lagoa dos Salgados). O interior despovoa-se a um ritmo diário. As cidades crescem para fora, os seus centros esvaziam-se, com todas as consequências que daí advém ao nível da necessidade de habitação e da mobilidade... Pouco mudou, infelizmente, na forma como estamos a encarar o tema da sustentabilidade. Excepto na estratégia de comunicação, que nunca foi tão ALGARVE INFORMATIVO #230
intensa a iludir para algo que está assente em pés-de-barro. Esperamos, pois, que 2020 seja de mudança e, sobretudo, de concretização. É isso que ambicionamos e exigimos. Votos de um excelente ano 2020! . Fontes: https://www.un.org/sustainabledevelopmen t/blog/2019/05/nature-declineunprecedented-report/ Palavra do ano: https://www.palavradoano.pt https://www.un.org/en/climatechange/repor ts.html 126
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PAVILHÃO DESPORTIVO DA BOAVISTA INAUGURADO NO DIA DA CIDADE DE PORTIMÃO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Dia da Cidade de Portimão foi este ano inspirado pela CED - Cidade Europeia do Desporto 2019, destacando-se do extenso programa de atividades e iniciativas a inauguração do Pavilhão Desportivo da Boavista, no dia 11 de dezembro, tendo sido precisamente escolhido para acolher a Sessão Solene ALGARVE INFORMATIVO #230
que acontece tradicionalmente nesta data. O equipamento desportivo dispõe de capacidade para 484 pessoas e a sua construção iniciou-se há mais de uma década, num terreno do Clube de Futebol Boavista, ficando os trabalhos inacabados porque, entretanto, a empresa que ganhara o concurso abriu falência. A conclusão do pavilhão foi uma das bandeiras da presidente da 130
Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, e da programação de Portimão Cidade Europeia do Desporto 2019 e as obras de requalificação custaram 1 milhão, 385 mil e 37,57 euros, possuindo uma nave desportiva com área de 1.075 metros quadrados. 131
Entre outras valências, o novo equipamento desportivo disponibiliza uma sala especializada para a prática da ginástica rítmica, com uma área de 225 metros quadrados e pensada de raiz para a modalidade, assim como três ALGARVE INFORMATIVO #230
salas destinadas ao fitness. Será igualmente a casa da equipa de futsal do Portimonense. E, num dia muito especial para o concelho, a população local não perdeu a oportunidade para ficar logo a conhecer o novo Pavilhão Desportivo da Boavista. Após a visita ao equipamento desportivo, a Autarquia de Portimão prestou homenagem a Maria Fernanda Rosa, ALGARVE INFORMATIVO #230
professora e dirigente escolar, e a José João Cercas Vicente, chefe regional do Corpo Nacional de Escutas, pelos relevantes serviços prestados ao município. Seguiram-se os testemunhos de vários agentes desportivos sobre a sua experiência ao longo deste intenso ano e a entrega da Medalha de Honra da CED aos clubes, associações, patrocinadores, parceiros, embaixadores, padrinhos, 132
representantes dos voluntários e a alguns portimonenses que personificaram a candidatura, como reconhecimento pelo seu valioso contributo para a distinção de Portimão como a Melhor Cidade Europeia do Desporto 2019. A encerrar a Sessão Solene, usou da palavra Isilda Gomes, que não escondeu a satisfação por ter sido possível finalizar a construção do Pavilhão Desportivo da 133
Boavista ainda no decorrer do ano em que Portimão é Cidade Europeia do Desporto. E lembrou que fazia precisamente 95 anos que o filho mais ilustre desta terra, o então Presidente da República Manuel Teixeira Gomes, assinou um decreto que elevava a Vila Nova de Portimão à categoria de Cidade. “Celebrar o dia mais importante da nossa comunidade, tendo presente a figura do Manuel ALGARVE INFORMATIVO #230
Teixeira Gomes, impõe-nos a nós, agentes políticos locais, o dever de diariamente exercer a atividade política de maneira tolerante e consensual, combatendo com responsabilidade o populismo fácil e elevando o sentido de serviço público, em favor do progresso, da solidariedade e da coesão social. Honrar o legado de Manuel Teixeira Gomes é também prestar a justa homenagem a uma figura ímpar do nosso património cultural”, frisou a edil, adiantando estar-se a projetar uma grande requalificação da Casa Manuel Teixeira Gomes, assim como a preparar um programa cultural variado para celebrar, em 2020, os 160 anos do nascimento de Manuel Teixeira Gomes.
“ACREDITÁMOS E VENCEMOS” Mas porque a palavra chave de 2019, em Portimão, foi «desporto», decidiu-se ALGARVE INFORMATIVO #230
descentralizar a Sessão Solene do Dia da Cidade para o novo pavilhão municipal. “Ao sairmos do Salão Nobre da Câmara Municipal perdemos um pouco do caráter institucional desta cerimónia, mas a verdade é que ganhamos a dobrar em significado, e isso vale muito. No ano em que somos a melhor Cidade Europeia do Desporto, haverá melhor local para esta Sessão do que num novo equipamento que abre as suas portas à atividade desportiva regular e de competição?”, questionou Isilda Gomes, sublinhando que o esqueleto de um enorme barracão fechado deu lugar a um recinto desportivo ao serviço da comunidade. “Tudo estava por fazer. No interior havia mato, os tijolos estavam à vista e a cobertura não garantia isolamento térmico e acústico. Um cenário bem diferente do que hoje encontramos nesta nave 134
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desportiva, cuja bancada, com cerca de meio milhar de espetadores, bastante falta nos fazia. Conseguimos igualmente dar uma «casa» a uma modalidade pela qual os portimonenses nutrem um especial carinho, a ginástica rítmica”, enalteceu a presidente da Câmara Municipal de Portimão, endereçando ainda umas palavras de agradecimento ao Clube de Futebol Boavista, por ter viabilizado a cedência de um terreno para o pavilhão. Isilda Gomes admitiu, porém, que não acreditava que o Pavilhão Desportivo da Boavista estivesse finalizado em 2019, pelo que agradeceu ao Vice-Presidente Filipe Vital por ter acompanhado, permanentemente, a obra no terreno. “Estamos a viver um ano extraordinário para a cidade a todos os títulos, com um conjunto de atividades intensíssimo. Foram mais de 700 eventos, que reuniram mais de 100 mil praticantes, e dinamizamos uma centena de ações de formação e sensibilização, com audiência nos diversos palcos da cidade superior a 400 mil espetadores. Promovemos mais de 20 atividades desportivas inclusivas, tudo isto com um impacto mediático que, até ao final do ano, irá superar os cinco milhões de euros”, salientou, lembrando que o investimento camarário na Cidade Europeia do Desporto foi de 3 milhões e 800 mil euros, incluindo o custo da construção do Pavilhão Desportivo da Boavista. “São números impressionantes e que, no contexto europeu, nos permitiu ser eleita a Melhor Cidade Europeia do Desporto em 2019. Somos um exemplo a seguir no fomento do desporto e no desenvolvimento de programas municipais de incentivo à prática desportiva, junto de toda a 137
população, com benefícios ao nível da promoção da saúde, integração e educação. Subimos ao pódio do melhor que se faz na Europa, acreditámos e vencemos”, afirmou, para uma sonora salva de palmas da plateia. Uma vitória que, esclareceu Isilda Gomes, não se deve apenas a um responsável político, a um atleta, dirigente ou clube, mas que é pertença de todos os portimonenses. “Não éramos a cidade mais provável para ser escolhida, não tínhamos muito dinheiro, nem prometemos grandes obras. Não contratamos empresas especializadas para organizar a maioria dos nossos eventos. Soubemos erguer uma Cidade Europeia do Desporto que foi crescendo com o trabalho de homens e mulheres que contribuíram com o melhor que tinham, nos seus clubes e associações. Uma CED que ganhou força com o profissionalismo que souberam imprimir nas competições e eventos que todos vocês organizaram. Uma CED que ganhou alento e força com o reconhecimento que surgia por parte de dezenas de entidades que acolhemos em Portimão e que destacaram a qualidade dos nossos técnicos municipais e dos profissionais de saúde, segurança, educação, administração pública deste concelho”, declarou Isilda Gomes. “Uma CED que ganhou com o exemplo dos nossos embaixadores, padrinhos e parceiros, com a visão e altruísmo dos nossos patrocinadores, com a postura construtiva e responsável de todas as forças políticas que compõem os ALGARVE INFORMATIVO #230
órgãos autárquicos da cidade, com as centenas de voluntários. Foi toda esta força que nos deu esta vitória”, reforçou a edil. Os feitos desportivos de 2019 dão, entretanto, mais esperança a Isilda Gomes em relação ao que se poderá fazer em termos de economia local, responsabilidade social, dinamismo cultural, valorização do ambiente, apoio à educação e aos mais desfavorecidos, salvaguarda do património, políticas da ALGARVE INFORMATIVO #230
juventude, proteção civil, ordenamento urbano e na capacidade de resposta dos serviços municipais. “Uma esperança consciente das dificuldades, porque continuamos confrontados com múltiplos obstáculos e onerados com encargos e contingências difíceis de contornar. Mesmo assim, estamos a honrar os compromissos e a construir boas esperanças”, apontou a autarca. “Nestes últimos seis anos conseguimos pagar mais de 30 milhões de euros de dívida, reduzimos o prazo 138
médio de pagamento a fornecedores em mais de quatro mil dias, atingimos os melhores resultados económicos e financeiros da história de Portimão. Há mais de uma década que não tínhamos um orçamento tão próximo das receitas reais. Somos a sexta cidade com maior número de dormidas do país, o que coloca Portimão como um dos principais destinos turísticos de Portugal, e continuaremos a assumir as responsabilidades que daí advém. Não só através de um programa 139
sustentável de animação turística e de eventos, como também de um cuidado extremo e exemplar com o meio ambiente e as nossas praias. Irei manter e reforçar os compromissos que assumi, os principais investimentos que perspetivamos para estes quatro anos são para se tornarem uma realidade”, garantiu Isilda Gomes . ALGARVE INFORMATIVO #230
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MATEUS VERDE E SARA MENDES VICENTE APRESENTAM «PLASTIQUE SENSE(A)CTION» Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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naugurou, na tarde de 2 de dezembro, na sede da Folha de Medronho, em Loulé, a mostra de trabalhos conceptuais «Plastique Sense(a)tion», da responsabilidade de Sara Mendes Vicente e Mateus Verde. A maioria dos objetos e artefactos de plástico que estão expostos na sala de ALGARVE INFORMATIVO #230
ensaios desta associação cultural louletana não estão intrinsecamente relacionados com as necessidades humanas essenciais, no entanto, o plástico é a esmagadora maioria do lixo produzido pela espécie humana. De acordo com os autores, os materiais usados na exposição foram 146
vez. As futuras gerações vão ser influenciadas por tudo aquilo que estamos a fazer no presente, assim como os animais, que são vítimas absolutamente inocentes de algumas «pegadas» que deixamos neste mundo”, afirmou Sara Mendes Vicente. A atriz revelou que o objetivo inicial desta exposição era que todas as peças fossem o resultado do trabalho conjunto dos dois autores, mas as complexas agendas de ambos não permitiram que assim acontecesse na totalidade. “Há peças que concebemos em conjunto, outras que criámos em separado, umas claramente têm dedo de artista plástico (Mateus), outras claramente não (Sara), mas funcionam como uma luva nesta sala”, descreveu. “Acima de tudo, tinha que ser um projeto que estivesse próximo do coração, e acho que isso se nota”, reforça.
extraídos da vasta costa pertencente à Ria Formosa, livrando assim este território, que é uma das 7 Maravilhas de Portugal, de bastante lixo. “O plástico representa uma grande parte do lixo que geramos e não faz sentido que se produzam estas embalagens e objetos para durarem o máximo de tempo possível, quando, em certos casos, os utilizamos apenas uma 147
Uma exposição que tem como intuito, segundo Mateus Verde, encorajar as pessoas a participar ativamente na recolha de lixo do meio ambiente. “Está aqui também muito plástico relacionado com a faina marítima, cordas, boias, caixas de esferovite. No fundo, é um chamar de atenção para que cada um de nós dê o seu contributo e para que haja uma mudança de mentalidade. O real problema são as grandes corporações que produzem tanto plástico, mas nós, individualmente, também podemos fazer a diferença”, assume o artista, adiantando ainda que está pensada uma grande ação de recolha de lixo aquando do encerramento da mostra «Plastique Sense(a)tion». ALGARVE INFORMATIVO #230
A exposição esteve patente na sede da Folha de Medronho, em Loulé, de 4 a 14 de dezembro, faz agora uma pequena interrupção durante a época natalícia e regressa, de 4 a 18 de janeiro, podendo ser visitada, às segundas e quartas-feiras, das 14h às 19h30 e, aos sábados, das 10h às 14h. À saída, o público poderá deixar um donativo mínimo de dois euros e as verbas ALGARVE INFORMATIVO #230
resultantes serão na sua totalidade direcionadas para o RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens Ria Formosa, “que se responsabiliza diariamente pela sobrevivência das espécies que habitam o espaço que o ser humano vai sujando”, enaltece a dupla de artistas . 148
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