O HOMEM DE SUA FANTASIA There’s Something About a Rebel...
Anne Oliver
Por que o belo e inquietante melhor amigo do irmão de Lissa Sanderson tem que reaparecer em sua vida justamente quando ela está na pior? Como se isso não bastasse, a paixonite que ela sentia por Blake Everett quando adolescente volta com força total, apesar da má fama dele. Blake quer ser deixado em paz, mas Lissa agora é uma mulher, e ele não é tão imune ao seu charme como tenta demonstrar. Esse rebelde tem alguma coisa especial, e ela vai adorar descobrir o que é!
Digitalização: Simone R. Revisão: Andréa M.
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver
Querida leitora, Algumas paixões de adolescência nunca morrem... E Lissa descobre isso quando Blake, o amigo de seu irmão por quem tinha uma queda, volta à cidade. Contudo, ela não é mais uma menininha, é uma mulher (com problemas de adulto!) e Blake percebe isso rapidamente. Agora é a vez de Lissa deixá-lo babando por ela. Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books
Tradução Joana Souza HARLEQUIN 2013 PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: THERE’S SOMETHING ABOUT A REBEL... Copyright © 2011 by Anne Oliver Originalmente publicado em 2011 por Mills & Boon Modern Heat Título original: ONE NIGHT WITH THE REBEL BILLIONAIRE Copyright © 2009 by Trish Wylie Originalmente publicado em 2009 por Mills & Boon Modern Heat Arte-final de capa: Nucleo i designers associados Editoração eletrônica: EDITORIARTE Impressão: RR DONNELLEY www.rrdonnelley.com.br Distribuição para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: FC Comercial Distribuidora S.A. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4o andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br 2
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver
CAPÍTULO UM
Não foi o rugir do trovão após a meia-noite que acordou Lissa Sanderson. Também não foi o calor tropical de Mooloolaba que a fez deixar as janelas do barco abertas para que a brisa vinda do rio entrasse. Não era tampouco sua situação financeira que a fizera perder o sono durante as últimas semanas. Foi, porém, o som de passos em seu pequeno píer. Passos não familiares. Não eram de seu irmão, pois Jared estava no exterior, e de ninguém que ela conhecia. Um tremor a percorreu. Levantando a cabeça do travesseiro, ela ouviu as folhas de palmeira em torno da piscina estalarem e o tilintar delicado de seu sino dos ventos conforme os passos se aproximavam, pesados e vagarosos. Seus pensamentos se voltaram para nove meses antes e seu sangue gelou. Todd não seria louco de aparecer nessa parte do mundo novamente. Ou seria? Não. Ele não seria. Com as pernas para fora da cama, ela procurou o brilho familiar de sua lanterna potente, mas se lembrou de que a usara para checar o novo vazamento no teto e a deixara na cozinha. Droga! O píer pertencia aos proprietários da casa na beira do rio que era alugada para temporada, mas seu aluguel da doca particular estava válido pelos próximos dois anos. Fevereiro era baixa temporada e a casa estivera vaga por algumas semanas. Talvez novos inquilinos houvessem chegado e não estivessem cientes de que o píer não estava incluído no aluguel. Tinha que ser isso. — Por favor, seja isso ― murmurou ela. A garagem que ela usava para ter acesso através do quintal e de lá a seu barco possuía senha. Quem mais poderia ser? Disse a si mesma para não se desesperar. Não ceder à agitação que a assolara nos últimos meses. As duas portas eram seguras e as janelas estavam trancadas, afinal. Os passos pararam. Alguém estava em seu convés. Bem do lado de fora de sua porta. Certo, agora podia ficar realmente assustada. Lissa se levantou e agarrou o telefone, discando. Então encarou a tela preta. Sem bateria. Ótimo. Com o coração saltando, ela foi até a porta do quarto. Dali tinha uma vista clara do barco até a porta de vidro onde uma leve garoa caía no convés... E o estranho. Homem. Alto. Sua silhueta brilhava com a umidade. Ombros largos demais para ser Todd, graças a Deus. Mas quem seria? O homem tirou algo dos ombros e ela percebeu que era um tipo de sacola. Lissa pressionou uma 3
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver das mãos contra a boca para suprimir a histeria subindo por sua garganta. Ele deixou a sacola no chão e se endireitou, adquirindo uma altura e largura que rivalizava com seu irmão. Ela, então, recuou instintivamente e engoliu em seco. Mesmo enquanto dizia a si mesma que era provavelmente um recém-chegado verificando o terreno, vestiu seu roupão e apertou a faixa. Por fim, colocou o celular inútil no bolso. Ela podia sair pela porta dos fundos. Mas, para deixar o barco, teria que passar a alguns passos dele, atravessar a piscina para chegar ao portão, esperar que se elevasse... O mais seguro era, sem dúvida, ficar onde estava. E se não fosse um recém-chegado... Como havia conseguido passar pelo portão? Provavelmente sabia a senha, certo? Certo. O pensamento era reconfortante. Ainda assim, tinha que forçar um pé na frente do outro, até que escorregou em uma poça que não estava ali algumas horas antes. Balançando os braços e praguejando para si, ela conseguiu se equilibrar em sua pequena cozinha, segurando a borda de sua mesa igualmente pequena e olhando para fora. Seu tamanho maciço inundava o convés. Um relâmpago revelou as roupas negras, antebraços nus e traços intransigentes. Preocupantemente belo para um ladrão em potencial. Vagamente familiar. Cabelo preto curto, queixo quadrado com barba por fazer, mãos grandes que apalpavam seu peito e desciam até a frente de suas coxas como se houvesse perdido alguma coisa. Perigoso. O pensamento vago daquelas mãos apalpando seus seios arrepiou sua espinha. Algo brilhou no limite de suas memórias de adolescência. Um cara. Tão inalcançável e perigoso e sombriamente sedutor quanto esse homem. Ela afastou as velhas imagens. Havia sido enganada por homens altos e bonitos para deixar-se enganar novamente. Deveria estar ligando para a polícia, com seu telefone sem bateria. Seus membros ficaram imóveis enquanto seu cérebro lento tentava planejar o próximo movimento, mas falhava. Ela podia sentir o cheiro das velas calmantes de jasmim que havia usado mais cedo, o manjericão fresco que havia colhido e posto em um jarro sobre a pia, o sempre presente rio. Aquelas seriam suas últimas memórias antes de morrer? Ela observou, congelada, enquanto ele vasculhava um bolso de suas calças, sacava algo e se dirigia até a porta. A adrenalina jorrou em suas veias, levando-a a agir. Alcançando o objeto mais próximo, uma concha do tamanho de seu punho, ela entrelaçou os dedos nos espinhos, posicionando-se o mais alto que seus 1,60m permitiam. — Vá embora. Esta é uma propriedade par... Sua exigência murchou quando ela ouviu o clique de uma chave sendo girada na fechadura. A porta se abriu e o desconhecido entrou, batendo em seu sino de vento de bronze no caminho e trazendo a fragrância de chuva com ele. Lissa tirou o telefone do bolso. — Não se aproxime. Sua silhueta apareceu sombriamente conforme ele se movia e suas narinas se 4
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver dilataram com o cheiro forte de macho molhado. — Eu chamei a polícia. Ele parou abruptamente. E ela percebeu surpresa naqueles olhos, mas não medo. Uma mulher completamente sozinha. Ela pulou para a frente, a arma improvisada na outra mão buscando a garganta. Antes que ela pudesse respirar, o braço dele a bloqueou. — Calma. Eu não vou machucar você. — Não posso afirmar. E não lhe daria a chance. — Você está no meu barco. Saia. Agora. Ela atacou novamente, mas ele a bloqueou com o antebraço. Ele fez um som, como um suspiro quase entediado. — Você não quer fazer isso, docinho ― murmurou, e a desarmou, como se estivesse acostumado a lutar com mulheres. Em seguida, sua mão afrouxou, deslizando por seu braço levantado do pulso ao cotovelo. Ela, então, não teve dúvidas de que era exatamente o que ele fazia... Diariamente. O membro que parecia já não pertencer a ela permaneceu no calor da mão por vontade própria, enquanto arrepios quentes e frios se espalhavam por sua pele. — Você está no meu barco ― repetiu, mas saiu como um sussurro. — No entanto, eu tenho a chave. Antes que ela pudesse analisar o fato ou pensar em uma resposta, ele a soltou, deu um passo para o lado e ligou o interruptor de luz. Depois levantou as duas mãos para mostrar a ela que não queria fazer-lhe mal. Ela piscou enquanto seus olhos se ajustavam à claridade repentina. Enquanto seu cérebro entendia o fato de que, sim, ele tinha uma chave e ele estendeu a mão para o interruptor de luz com tanta familiaridade... Blake Everett. Ela caiu contra a mesa, mas seu alívio parcial foi rapidamente afugentado por um tipo diferente de tensão. Ele usava calça jeans preta desbotada e um suéter preto quase transparente com o desgaste. As mangas encolhidas terminavam no meio dos grossos e musculosos antebraços polvilhados com pelos escuros. O colega de Jared. Sua primeira paixão inocente quando tinha 9 anos e ele, 18, recém-ingressado na Marinha. Mais tarde, quando, de licença, ele voltou para casa após a morte de sua mãe, Lissa tinha 13 e ele, 22. Mas ela olhava para ele como uma mulher olharia, sonhava com ele como só uma mulher poderia e manteve em segredo o prazer culpado. Duvidava que ele já houvesse olhado para ela algum dia, a não ser quando ela caíra de skate tentando impressioná-lo e sujara o nariz, a camiseta branca dele e, acima de tudo, seu orgulho jovem. Boatos quanto à sua fama de bad boy haviam circulado. Nada mudara, contudo, a imagem que criara dele, até que finalmente ouviu os rumores de que Blake engravidara Janine Baker e, em seguida, saíra da cidade para se juntar à Marinha. Estranhamente, ela se sentiu traída. 5
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ele possuía olhos que podiam mudar de azul-turquesa para gelo em um instante e que atraíram seu lado feminino, mesmo tão cedo. Havia passado muito tempo imaginando como seria ser o foco de toda essa intensidade. E agora... Talvez agora ele estivesse olhando para Lissa do jeito que ela sempre quis, com um brilho de calor naqueles olhos de verão. Mas, em se tratando de homens, não era mais tão ingênua. Já não tinha apenas 13 anos, e havia um grande problema ali. — Meu nome é Blake Everett ― disse ele, parado com o quadril encostado na bancada, seu olhar deslizando sobre seu fino roupão, fazendo-a formigar da cabeça aos pés antes de encontrar seus olhos novamente. ― Eu... — Eu sei quem você é. Postura rígida, Lissa resistiu ao impulso de colocar os braços sobre os seios sem sutiã para esconder os mamilos traidores, repentinamente eretos. Ela se concentrou em relaxar os músculos tensos. Ombros, pescoço, mãos. Respire. Seu olhar se tornou avaliador, depois, austero, atraindo a atenção para a palidez sob a pele bronzeada, as linhas pesadas de fadiga em torno dos olhos e da boca. Mas seus lábios... Eles ainda eram os lábios mais sensuais em que ela já tinha posto os olhos... Cheios, firmes, suculentos... — Ponto para você, então. Em sua resposta cortada, ela arrastou os olhos rebeldes até os dele, que não a reconhecia. Ótimo. — Portanto, agora estamos quites. Ele franziu o cenho. — Como você sabe disso? Ela o conhecia? Ignorando os músculos contraídos pela chuva e a dor de cabeça latejando dentro de seu crânio, Blake vasculhou sua memória enquanto a estudava. Nada. Há um bom tempo que não estava tão perto de uma mulher, muito menos uma tão atraente quanto aquela pequena ruiva. Depois do ambiente cheio de testosterona da Marinha, o cheiro dela era o paraíso. Sob a luz amarela, seu cabelo reluzia e seus olhos eram de um verde translúcido como uma lagoa tropical. Contudo, assim como as praias de aparência imaculada que encobriam perigos possivelmente letais, havia uma tempestade atrás daquele olhar. E não era de se admirar que o velho obviamente não a houvesse informado que o barco dele não era para alugar. Dez anos antes, quando sua mãe morreu, Blake comprara-o para ajudar o pai a sair da dívida e garantir que teria um lugar tranquilo e solitário para ficar quando estivesse de férias na Austrália. Desde então não havia voltado. — Entendo se você estiver alugando. Estive no exterior e meu pai... — Não estou alugando. Meu irmão comprou este barco de seu pai há três anos. Ele agora pertence à nossa família. Esta é a minha casa. Então você precisa encontrar outro lugar. — Seu irmão comprou o barco... 6
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Um pressentimento sinistro desceu por sua espinha. Deveria ter pensado duas vezes antes de confiar em um viciado em jogos de azar. — Jared Sanderson. Jared? O nome familiar falado com aquela voz afiada cortou seus pensamentos e ele a olhou mais profundamente. O cabelo despenteado, os olhos verdes, aqueles lábios exuberantes. Ele havia perdido contato com seu amigo de surfe de longa data, mas lembrava-se da irmã mais nova... — Você é Melissa. Ainda pequena em estatura, mas toda crescida e curvilínea, diferente da menina que lembrava. De forma preocupante, o sangue bombeou um pouco mais rápido em suas veias. Não chegue perto. Ele olhou novamente em seus olhos, conseguindo um vislumbre dos generosos seios e suave decote marfim no caminho, antes que ela colocasse os braços na frente. — Peço desculpas por assustar você, Melissa. Eu deveria ter batido. — É Lissa agora. E, sim, deveria. Sua boca fez um beicinho emburrado, exatamente como ele ainda lembrava. Mas, agora, em vez de divertir-se, ele estranhamente encontrou-se cativado. — Lissa. Ela pareceu se livrar do mau humor. — Certo, você acaba de retirar cinco anos da minha vida, mas desculpas aceitas. E eu não chamei a polícia. – Ela levantou o ombro delicado e fez uma careta. — O telefone está sem bateria. Ela piscou para ele, ainda cautelosa. — Então, o que você está fazendo aqui? — Um homem não pode voltar para casa depois de 14 anos? Ela balançou a cabeça. — Quero dizer o que você está fazendo aqui, no barco? — Pensei que eu fosse o dono do barco. Enganado pelo próprio pai. Ele apertou a mandíbula. Deveria ter feito um esforço para ver seu velho mais cedo antes de se dirigir para ali, mas não precisava da angústia inevitável que isso teria implicado. — Não. Você não pode... Ela franziu o cenho confusa. — Eu não entendo. — É uma história longa e complicada. Ele esfregou distraidamente o pequeno arranhão sob o queixo. — Sinto muito por isso. Ela olhou para o pescoço dele e suas bochechas adquiriram um tom rosado. — Vou pegar alguma... — Não se preocupe. Estou bem. Mas ele não insistiu enquanto a observava ir até um armário e se esticar... Esticar... Seu roupão rosa roçou o topo de suas coxas. Coxas elegantes, firmes, macias, que pareciam ter sido beijadas pelo sol. 7
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Beijadas. A palavra conjurou um cenário que era melhor que ele não explorasse, mas seus lábios formigaram. Blake encarou o traseiro espetacular, sem culpa, enquanto ela levava para fora uma caixa com medicamentos variados, da qual tirou um tubo. — Isso deve... Lissa se virou, enquanto ele a olhava. Blake não desviou o olhar. Era a melhor visão que tinha em muito tempo. A cor em suas bochechas se intensificou. Ela empurrou o tubo para ele. Então, como se temesse mortalmente contato físico, colocou-o sobre a mesa ao lado deles. — Aí está. — Obrigado. Ela hesitou, como se tivesse achado o último minuto desconfortável ao extremo e determinada a eliminá-lo de sua mente. Então disse: — Sua história é longa e complicada... Estou ouvindo. Ele suspirou lentamente. — Amanhã vou voltar para Surfers, resolver algumas questões com meu pai e então conversar sobre isso com Jared. Vai ficar tudo bem ― assegurou. Reembolsaria seu velho amigo pelo dinheiro que pagara e ajudaria Melissa, ou melhor, Lissa a encontrar outro alojamento. — Vai ficar tudo bem como? Jared comprou o barco quando seu pai vendeu a casa em Surfers e se mudou para o sul. New South Wales, acho. Na verdade, ninguém sabe exatamente... Ele não se surpreendeu. Absorveu, com um encolher de ombros, o fato de descobrir as novidades sobre o aparente desaparecimento de seu pai por intermédio de terceiros. — Acho que já sabia disso. Pagara em dinheiro pelo barco no dia em que deixou a Austrália, mas não assinara nada... A documentação não havia seguido como prometido. Quando Blake ligou para consultar, descobriu que os telefones haviam sido desligados e os e-mails começaram a voltar... Novamente, nenhuma surpresa. — Então, devo supor que você também é dona da casa? Ela acenou com a mão em direção à janela. Lá fora, a tempestade havia chegado como previsto. A chuva se transformara em um temporal, obscurecendo parcialmente a visão e golpeando o telhado e o convés. Ele balançou a cabeça. Ao comprar o barco, comprara o que antes era a luxuosa casa de férias da família. Pedira um empréstimo para a realização do negócio e possuía a escritura, pelo menos, trancada em segurança. — Então, por que optar pelo barco quando tem uma alternativa mais adequada? ― perguntou com uma careta. Apesar de haver contratado uma pessoa para encher a geladeira e trocar a roupa de cama, era incapaz de encontrar o relaxamento de que precisava para se recuperar na casa. Muito espaço, muitos quartos. Muitas lembranças. Ele carregava um velho saco de dormir do exército que havia encontrado no armazém, perto da margem do rio, esperando que o ambiente marinho familiar e a 8
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver solidão ajudassem com as dores de cabeça infernais que tinha desde o acidente que o trouxe de volta para a Austrália. Também não tinha dado sorte com isso. — Queria dormir um pouco. O que não esperava era encontrar companhia para seu sono. Ela arregalou os olhos. — Mas já que estou aqui, você vai voltar para casa, certo? Era sua intenção inicial. Agora, porém, que seus planos imediatos para a noite foram frustrados, ele descobriu que não estava tão cansado quanto pensava e não tinha pressa para se despedir da bela Lissa Sanderson. Não, não era correto, decidiu. Seu corpo estava lhe dizendo para ficar e se reaproximar, absorver aquele perfume feminino até que seus poros estivessem saturados, tocar seu braço novamente e sentir a pele macia contra a dele. Seu corpo tinha ideias muito definidas acerca de onde queria que a noite terminasse. Sua cabeça estava dizendo algo completamente diferente. Sua cabeça não o levava ao erro. Sua equipe de mergulho conhecia sua reputação de permanecer calmo sob pressão, mesmo nas situações mais perigosas. As mulheres geralmente o descreviam como emocionalmente indiferente antes de baterem a porta em sua cara. De qualquer maneira, era por isso que ele era bom em seu trabalho e sabia que Lissa Sanderson, com suas curvas femininas e olhar claro que parecia saber exatamente aonde seus pensamentos iam, devia ser evitada. Preparando-se para uma noite agitada, concentrou-se naquele olhar. — Certo, vou deixá-la em paz. Por enquanto. — Por enquanto? Ela olhou para ele, os olhos enormes e incrédulos. — Esta é a minha casa. Sua voz beirava o desespero. — Você não entende... Eu preciso deste lugar. — Acalme-se, pelo amor de Deus! Mulheres, sempre exageradas. — Vamos dar um jeito. Ele olhou ao redor pela primeira vez, lembrando como o barco era antes, quando seu pai era o dono. Quando Blake vivia nele. Agora um sofá azul, cedendo sob o peso de um amontoado de caixas, ficava onde havia um sofá de couro em L. Exceto pela adição de um micro-ondas, a cozinha permanecia inalterada. Seu olhar encontrou o aviso final para o pagamento de uma conta, anexada à porta da geladeira com um ímã. Não era da sua conta. Cada centímetro quadrado do barco estava cheio de coisas. Telas contra a parede ao lado de uma velha lata de pincéis, outra de carvões e lápis. Os beliches estavam cobertos de amostras de tecido, paletas de cores, revistas, livros de papel de parede. Como alguém poderia viver em meio a tanto caos? Mas, apesar de tudo, em algum lugar em meio à desordem ainda havia certo aconchego ali. Ele não experimentava nada parecido desde quando era jovem e vivia 9
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver com sua mãe. Perguntou-se, então, se conseguiria dormir ali. Devia sair dali e encontrar outro lugar ao longo da costa enquanto estava em Oz e esquecer que havia visto Melissa Sanderson. Solidão era o que queria. Desejava sentir-se meio são de novo. O gotejamento constante nas proximidades desviou sua atenção, uma lágrima de prata seguida rapidamente por outra contra a luz, e ele olhou para cima. Obviamente, o vazamento já estava lá há algum tempo, a julgar pelo recipiente um pouco cheio por baixo. Ele estivera preocupado demais com tudo para notar. E agora percebia outras manchas de umidade. — Há quanto tempo isso está acontecendo? — Não muito. Eu consigo controlar, não é nada. Interessante. Se ele se lembrava corretamente, a jovem Melissa era tudo, menos independente. Ou assim parecia. — Nada? Olhe para cima, docinho. Se a água entrar naquela tomada, teremos um problema. Blake a viu olhar para cima e franzir o cenho. Evidentemente, ela não havia notado a extensão dos danos. Ele olhou para a poça ao redor da base da geladeira, que se aproximava dos pés dela. — Não sabe que eletricidade e água não se misturam? — É claro que sei ― retrucou. — Quanto a isso, eu terei um problema, e não nós. Ele balançou a cabeça. — No momento não me importa de quem é o problema, mas sim que o barco não é seguro. Agora ele havia visto o desastre em potencial e não poderia, em sã consciência, deixá-la cuidar de si mesma e voltar para a cama, poderia? — É isso aí. Ele tamborilou os dedos impacientemente sobre a mesa. — Dois minutos para pegar o que você precisa. Você vai dormir na casa.
CAPÍTULO DOIS
— Perdoe-me! Lissa olhou para ele. Era difícil encarar, quando confrontada com tamanha beleza, mas não receberia ordens. De ninguém. Nunca mais. Não vou... — Você quem sabe, Lissa. Você pode ir como está, se preferir. É irrelevante 10
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver para mim Seu olhar frio avaliou seu corpo, deixando-a arder nos lugares mais inapropriados. Apenas pensei que você pudesse querer uma muda de roupa. Então ele se aproximou e ela se encolheu involuntariamente quando lembranças de um outro homem a dominaram. Grande, intimidador. Abusivo. Pensou que o amava certa vez. Afastando as lembranças para longe, ela empurrou o peito dele. — Espaço, se não se importa. Ele era quente, rígido. Tentava-a a esquecer os medos do passado e deixar sua mão vagar... Sentir seu coração contra a palma da mão. Um calor subiu por seu braço e seu coração pulou. Ela retirou a mão imediatamente e ergueu o queixo. — Eu vou ficar bem aqui. Neste barco ― esclareceu rapidamente, pois ainda estavam muito próximos. — Devo estar aqui, caso aconteça algo. — Algo vai acontecer se você não se mexer. Lissa se irritou com o tom autoritário de Blake, mas ele recuou. Ainda assim, ela sabia, sem dúvida, que ele quis dizer o que disse. Odiava admitir que ele estava certo. O que ela faria, afinal, se a água começasse a vazar pela tomada? Ou pior. O temporal estava mais forte. A situação era muito mais perigosa do que quando ela foi dormir. — Tudo bem, então ― disse ela secamente por cima do ombro enquanto se virava e ia para seu quarto. Fique aqui e mantenha os olhos abertos. — É o que pretendo. Ah. Sério? Obviamente, aquele super-herói era imune aos perigos que tão amavelmente apontou. Bem, isso lhe convinha muito bem. Lissa tinha problemas suficientes sem acrescentar um homem lindo à lista. Ela pegou os jeans e a camiseta e pensou em se trocar, mas decidiu que era melhor não. Despir-se agora com ele a apenas alguns passos de distância poderia colocá-la em uma situação vulnerável e ela sabia bastante sobre situações vulneráveis. — Então, você é imune a tempestades? ― disse ela, agarrando produtos básicos de higiene e empurrando-os em uma bolsa. Nenhuma resposta do outro lado do barco, mas Lissa quase podia ouvi-lo: eu posso cuidar de mim mesmo. E ela não podia? Ela correu de volta para a cozinha com suas coisas. — Eu não sou mais aquela menina indefesa. Suas bochechas arderam de vergonha. Ela não tinha a intenção de lembrá-lo. Um músculo se apertou na mandíbula dele e seu olhar cintilou sobre ela, um pequeno brilho de calor no frio. — Fico melhor sozinho. Assim, não tenho que me preocupar com você escorregar e quebrar uma perna e se afogar no processo. — Eu sei nadar. Lissa pensou vagamente que gostaria de desenhá-lo agora, com as linhas de 11
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver maturidade ao redor da boca, ao redor dos olhos. Esses planos e ângulos agudos de maçãs do rosto e queixo... Ele balançou a cabeça. — Você pode não ser mais indefesa, mas aposto que continua teimosa ― murmurou. Teimosa? — Como você sabe como eu era? Eu não existia para você. Ela se afastou. Virou-se para os beliches contra a parede. — Mas, sim, sou muito teimosa quando meu trabalho está em jogo. Tenho mercadorias aqui que preciso proteger do tempo... — Eu vou cuidar delas. — Ótima oferta, mas não quero que se molhem. Ela puxou um par de recipientes plástico de debaixo da cama de baixo. — Se você realmente insiste nesta evacuação, tudo isso tem que ser embalado e levado para casa. — Tudo? Ele parecia duvidoso. — Você realmente precisa de tudo isso? — Cada amostra de tecido. Meu trabalho depende disso. Sou designer de interiores. No momento, era uma designer de interiores desempregada. Mas ele não precisa saber disso. — Então, deixe-me ajudá-la. — Tudo bem ― disse, embalando rapidamente, ansiosa para não tê-lo tão perto. Sua proximidade era irritante e seu cheiro quente almiscarado estava deixando-a incomodada. — Se você puder pegar os blocos de desenho, há sacos plásticos... Levaram alguns minutos para arrumar tudo. — Vou levar o resto até a casa depois que deixarmos você confortável. Ele teve que levantar a voz acima da chuva. Confortável? Dificilmente. Lissa se endireitou, um recipiente sob um braço, sua bolsa sobre um ombro. Se ele queria bancar o senhor protetor, desde que suas coisas estivessem a salvo da chuva, ela entraria no jogo. — Obrigada ― disse a contragosto. Lissa realmente não queria sua ajuda. Ela abriu a porta de vidro e saiu para o convés. Uma torrente de água a acertou onde devia estar seco e ela olhou para a lona se debatendo. Podia não querer ajuda, mas foi forçada a admitir que precisava. Lissa saiu para o cais com Blake atrás dela carregando seus trabalhos protegidos em plástico. Ao longo dos últimos anos, havia visto a bela casa e seu desfile de pessoas belas indo e vindo. Agora era a vez de ela dar uma boa olhada no interior. Não seria tão ruim dormir em tamanho luxo para variar, não é? E do ponto de vista de um designer, mal podia esperar para ver a decoração. 12
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Não significava que tinha que gostar do arranjo, mas pelo menos estaria seca. Lissa esperou que Blake destrancasse a porta e seguiu para dentro. Ele apertou o interruptor e a luz inundou a magnífica casa. Lissa olhou para a fonte da iluminação. Uma miríade de pequenas esferas de cristal explodia de uma esfera central, salpicando arco-íris por toda a sala. A sala extensa dava à casa uma atmosfera arejada. O teto com painéis de madeira mel se inclinava ao longo de dois andares, com uma escada contra uma parede nos mesmos tons, levando aos quartos superiores. O mobiliário mínimo era de teca e vidro. Impressionante, mas impessoal e talvez um pouco ultrapassada. Havia sido alugada durante anos e não possuía um ambiente acolhedor. Um arrepio de excitação a levantou. Talvez perguntasse se ele queria redecorar... Eles depositaram o material em um canto. — Vou voltar para pegar o resto em um momento ― disse ele, já caminhando em direção às escadas. Conforme a levava para o mezanino, ela admirava uma parede de ricos retalhos de madeira. Ela não admirava a forma de sua parte traseira esticada envolta naquele jeans baixo preto... Imaginou uma pintura ou um traço de algum tipo em azul suave na parede em seu lugar. Pensou em todas as vezes em que olhou para a casa sem saber que Blake era o dono. Na verdade, não havia pensado nele por muito tempo. Mas agora... Agora era como se os anos nunca houvessem passado. Seus sentimentos eram tão brilhantes e fortes quanto antes. Bem como fúteis. Mas eles correram através de seu corpo e se concentraram em seu abdômen com a possibilidade de sonhar com ele de novo. Sempre foram sonhos tão interessantes. Ele indicou uma sala ampla com tapete grosso cor de creme, listrado de verde e preto. O mobiliário preto brilhante era desprovido das habituais bugigangas. A janela dava para a casa ao lado e tinha vista para o rio. Mas não para o barco. Talvez Blake houvesse escolhido intencionalmente, pensou ao passar por ele e colocar sua bolsa e roupas em uma cadeira luxuosa coberta de seda ao lado de uma cômoda. Sem chance de espioná-lo. Sem chance de babar em cima dele e ter pensamentos lascivos enquanto o observava trabalhar. Com o peito nu, a pele reluzente, os músculos ondulando... — O banheiro é por ali ― falou atrás dela. Não olhei ainda, mas fui informado de que a despensa foi abastecida hoje. Então fique à vontade no café da manhã. Café da manhã. Uma súbita tensão tomou conta dela. Esperava que Blake não decidisse olhar em sua despensa ou sua geladeira porque havia uma semana que ela não fazia compras. Estava economizando na alimentação, contando seus últimos dólares. Café da manhã era um luxo que Lissa podia dispensar, apesar de ela adorar café da manhã. Blake parecia um homem de muito apetite. Na verdade, do jeito que ele estava olhando para ela, com os olhos meio sonolentos, os lábios entreabertos, parecia com 13
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver fome agora. Com fome suficiente para dar uma mordida nela... Não. Pensamento ruim. Seu estômago se revirou, e ela lambeu os lábios repentinamente secos antes de perceber que havia atraído a atenção de Blake para eles. — Normalmente não tomo café da manhã ― mentiu. ― Meus armários estão um pouco vazios no momento. Portanto, não precisa olhar. ― Por que não se juntar a mim aqui de manhã? ― Por que você não para de encarar e diz alguma coisa? — Eu estava planejando ir até a cidade e arranjar alguma coisa lá. Certo, então ele não queria ficar perto dela. Humilhação rivalizava com vergonha e ela era novamente aquela menina de 13 anos. — Fique à vontade ― bufou ela. Agora, Lissa até soava como uma garota de 13 anos com o orgulho ferido. Ela sempre agiu de maneira diferente perto dele. Por que não havia mudado? Para seu desgosto, depois de todos aqueles anos, ainda permitia que Blake a deixasse mexida, incapaz de parar todas aquelas emoções adolescentes que a tomavam. Como se ele nunca houvesse partido. Enojada consigo mesma, Lissa já estava se afastando quando Blake tocou seu ombro. Tão gentil. Tão sensual. Imaginou de repente como se sentiria se estivesse com o ombro nu e fossem seus lábios, em vez de sua mão. Um calor floresceu onde a palma da mão descansava e ela parou abruptamente. — Mas já que temos alguns assuntos para discutir, o café da manhã pode ser um bom começo ― disse em um tom neutro que desmentia o fato de que seu polegar criava pequenos círculos de atrito na parte de trás do pescoço dela. E por alguns segundos de descuido, ela se deixou relaxar nas sensações que ele estava criando. O aroma fresco do sabão que ele usou para lavar as mãos. O calor em suas costas... Não. Ela se afastou. — Tudo bem ― disse friamente, virando-se para encará-lo. Sua mão escorregou de seu ombro e ela quase suspirou com a perda. — Como você gosta dos ovos? — Você vai cozinhar? Ele parecia tão surpreso, ela teve que sorrir. — Hoje em dia eu já sei. E Lissa tinha a intenção de estar de pé, vestida e preparada antes de ele chegar. Ele acenou com a cabeça, sem um vislumbre de humor. — Às 6h, então? — Sete. Ela precisava de tempo para se familiarizar com a cozinha. — Às 7h, então. Vou resgatar o resto das suas coisas e dar uma olhada no barco. Você tem algo que eu possa usar para os reparos? — Tente no convés perto da porta. Sob a lona. 14
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ele assentiu. — Boa noite, então. — Boa noite. E tome cuidado. — Sou sempre cuidadoso. Ela o observou se virar e ir embora. Era? E Janine Baker? Janine havia deixado a cidade também, e Lissa nunca ouviu falar, tampouco perguntou, o que havia acontecido com ela ou com o bebê. Ela ainda estava olhando quando ele voltou. — E quanto aos ovos... Prefiro duros. — Assim é mais fácil, porque eu também. Teve a nítida sensação de que nenhum dos dois estava falando sobre ovos. Assim que ouviu a porta da frente fechar, buscou uma melhor vista do rio. E de Blake. Ela encontrou no quarto principal. Com a sala de estar iluminando o pátio, ela o observou percorrer o caminho a passos largos. Passando pela piscina. Pelo cais. Uma figura masculina alta e impressionante, uma imagem não menos poderosa do que quando ele estava ao lado de fora de sua porta como um possível invasor. E não menos inquietante. Quando Blake desapareceu no convés, Lissa se virou e olhou para o quarto. A luz do corredor se derramava sobre a amarrotada cama king size, os lençóis embrulhados e caindo de um lado. A marca de sua cabeça no travesseiro fez seu estômago vibrar com o tipo de excitação que ele causava sempre que ela pensava nele. Lissa repousou a mão sobre a barriga e ordenou a si mesma que se acalmasse. Ele esteve dormindo ali. Ou tentando. O que o fez se levantar e sair de tal conforto e buscar o barco no meio da noite? Pesadelos? Ou dor física... Havia visto por trás de seus olhos, como se a estivesse combatendo por um tempo. Ou ele estava sentindo falta de uma mulher especial que havia deixado para trás em algum país estrangeiro? Olhou à sua volta em busca de alguma pista. Sua bolsa aberta estava no chão, contra a parede, com roupas bem empilhadas dentro. Uma pilha de folhetos de barco estava no armário, juntamente com o seu passaporte e alguns trocados. Ela estava muito tentada a olhar seu passaporte e ver onde ele esteve, mas não foi corajosa o suficiente para invadir sua privacidade. Em vez disso, pouco consciente do que estava fazendo, foi até a cama, pegou seu travesseiro, fechou os olhos e inspirou. — Tudo bem aqui? Oh, Deus! O coração dela saltou na boca. Oh, não. Seus joelhos quase se dobraram e seus olhos se arregalaram, apesar de ela preferir que houvessem continuado fechados. Assim poderia ter se imaginado invisível em vez de ver Blake de pé na soleira da porta, com um braço no batente da porta, a cabeça inclinada para o lado. Sua figura escura bloqueava a luz do corredor. Ela não tinha ideia de sua expressão ou o que ele devia estar pensando, mas não podia ser bom. — Sim. Tudo bem. Forçando um sorriso, afastou-se da cama. 15
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Eu... Ah... Queria ver se o barco ainda estava flutuando. Ela riu, alto. — Bobagem, eu sei... — Mas você já tem essa opinião sobre mim. — Eu vou... Apenas pegar um travesseiro extra se não se importa. Você quer alguma coisa? E como era imbecil e imprudente, parada ao lado de sua cama na escuridão com uma camisola minúscula e perguntando aquilo? Não que ele tenha percebido... Ou percebeu? Ele estava com uma expressão confusa e ela fechou os lábios antes que se metesse em ainda mais problemas. — Meu telefone. Blake acendeu a luz, olhou para Lissa um momento mais e, então, para a mesa de cabeceira vazia, e franziu a testa. — Você ainda não viu, não é? Tenho certeza de que deixei aqui em algum lugar. Ela balançou a cabeça. — Talvez tenha deixado cair no chão. — Ou talvez você tenha ― apontou ele levemente acusador. Ansiosa para sair dessa situação embaraçosa e ir embora, Lissa deixou cair o travesseiro na cama e mergulhou de joelhos para esconder o rosto em chamas. — Está aí? — Hum... — Você precisa de ajuda? Ah, sim, por favor. O impacto dessas palavras um tanto ambíguas faladas naquela voz baixa sexy invocou uma imagem que era melhor ela não pensar. — Ah... Seus dedos se fecharam sobre o plástico liso. — Encontrei. Blake ouviu a resposta abafada enquanto via suas nádegas envoltas em seda se contorcendo para trás. Lissa tinha um bumbum perfeito. Ele tentou, realmente tentou, mas não conseguiu tirar os olhos. Havia se passado um longo tempo desde que havia visto algo tão... espetacular. A última vez que a viu, ela era uma menina de 13 anos, magra e tímida. Aparentemente a timidez ainda a deixa corada. Seus cabelos ruivos escondiam seu rosto, mas ele sabia que suas bochechas estavam ruborizadas. Ela poderia estar dizendo a verdade sobre o travesseiro e o barco, mas ele duvidava seriamente. Lissa tinha atração por ele. A irmãzinha de Jared. A irmãzinha muito atraente e sexy de Jared. Ela se levantou, segurando o telefone como se estivesse quente. — Obrigado. — De nada. Se ela sentiu aquela vibração quando seus dedos se tocaram, não demonstrou. Ela colocou o cabelo atrás das orelhas, endireitou-se e o encarou quase desafiadora. Rosada e bela. 16
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Palavras que normalmente não lhe vinham à mente, mas se adequavam a Lissa. Seu peito se contraiu de uma forma estranha. Uma carranca apertou seus músculos faciais e ele estudou seu telefone, apertando alguns botões. Ela não era para homens como ele, sempre em movimento. A associação que ele fazia dela com flores e corações era complicada demais. Ele não precisava daquilo. Quente, rápido e descomplicado, era o que precisava. E, caramba, pensou ele, com a parte inferior do seu corpo de repente rígida, ele precisava logo. — Alguém especial esperando por sua ligação? Ele ergueu a cabeça. — Você sempre foi direto ao ponto, não é? Eu preciso fazer algumas chamadas. Um encanador e um eletricista para começar. Mas podia esperar até de manhã. — Suas ferramentas são inúteis. Prendi a lona sobre o vazamento principal por agora. Você está ciente do estado do teto? Ela desviou o olhar. — Eu ia dar um jeito nisso. —É? Quando? — Eu vou organizar algo para amanhã. Ele se virou e caminhou até a porta. Um pensamento lhe ocorreu e ele voltou... E sua mente ficou em branco. Ela estava segurando seu travesseiro por um canto e olhando para ele. Imaginou-se andando até lá, tirando-o de suas mãos, inclinando-se e respirando o cheiro de seu pescoço. Sentindo o calor sedoso de sua pele contra os nós dos dedos enquanto desatava a faixa e deslizava o roupão dos ombros antes de deitá-la e deixála ajudá-lo a esquecer por que havia voltado para casa. Mas ela não merecia ser usada daquela maneira. Ela arqueou uma sobrancelha, esperando, e ele percebeu que estava prestes a fazer uma pergunta. — Você vai trabalhar amanhã? Ela hesitou, parecendo incerta. — Não. Amanhã, não. Ela também soou vaga. — Tem certeza? Porque... — Porque você está aqui para cuidar de tudo e não deixar que eu preocupe minha linda cabecinha? Certo. Ele não teria dito exatamente dessa maneira, mas, sim, era praticamente isso. Ela fez um grunhido desdenhoso e não parecia nem um pouco impressionada. Blake não viu problema. Proteção era natural para ele. Outras mulheres ficariam gratas por sua ajuda. E dispostas a demonstrar sua gratidão de um grande número de maneiras. Não Melissa Sanderson, aparentemente. — Certo. Tudo bem. Mas havia algo que Lissa não estava dizendo, ele podia ver pela maneira que ela evitava seus olhos. Ele também se lembrou do olhar de mais cedo e da maneira como 17
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver ela o empurrou. — Boa noite, então ― disse ele. Ah, e se você está procurando por um travesseiro extra, existem três outros quartos para pegar. Enquanto saía para a noite de tempestade, perguntou-se se ela havia, na verdade, planejado dormir em sua cama. O pensamento daquela pele acetinada em seus lençóis e aquele perfume feminino sedutor em seu travesseiro ardeu por sua corrente sanguínea. Alargando seu passo, distanciou-se o mais rápido possível.
CAPÍTULO TRÊS
Blake levou o resto de seu equipamento de decoração para a casa, depois voltou para ver o que poderia fazer com a bagunça. Ele trocou o pequeno recipiente sob o gotejamento, agora de fluxo livre, por um balde e pegou um jornal ao lado do sofá para absorver a água no chão. Ao espalhá-lo, notou um anúncio para assistente de varejo em uma loja de moda circulado em um vermelho e rabiscado com “TARDE DEMAIS” e um rosto triste. Lissa não disse que era designer de interiores? Por isso não trabalharia amanhã? Por não ter emprego? Ele olhou para o aviso final sobre a porta da geladeira. Obviamente, ela estava em dificuldades financeiras e evidentemente não havia contado a Jared, porque, se ele conhecia seu velho amigo, de jeito nenhum ele teria deixado essa situação surgir. Desempregada e em uma acomodação inadequada. Acomodação perigosamente inadequada. Maldição! Blake havia herdado um dever de cuidado. Não apenas porque era natural para ele, mas porque Jared fora seu amigo mais próximo, o irmão que nunca teve. Na adolescência, quando seus pais não se importavam se ele sequer voltava para casa à noite, Jared estava lá. Até que seu amigo assumira a pesada responsabilidade de ser pai. Não era de se admirar que houvesse feito um trabalho tão bom com suas irmãs. A chuva continuou forte enquanto ele observava o convés mais uma vez. Era inútil tentar fazer qualquer coisa até que a tempestade cedesse. Ele entrou para assegurar que todas as janelas estavam fechadas, localizar a caixa de fusíveis e desligar a energia. Então, ficou no convés por um momento, olhando para a casa enquanto a água escorria pelo rosto e encharcava sua pele. Ele precisava do resfriamento. O fogo em seu corpo, que estava latente desde que ele colocou os olhos em Lissa, havia se transformado em um incêndio violento no instante em que a viu como nariz enterrado 18
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver em seu travesseiro. Deus, ele precisava de mais do que vento e água para apagar o fogo. Precisava de uma mulher. E agora ele ia ter que tentar dormir lá em cima, sabendo que uma mulher muito atraente e sexy estava a poucos passos. A faixa de areia dourada estava repleta de conchas, troncos e folhas de palmeiras mortas, onde a floresta encontrava o mar. Um céu azul, o ar carregado com o cheiro pungente de vegetação exuberante e vida marinha em decomposição. Deveria ter sido um paraíso turístico. Mesmo durante o sono, Blake sabia que não era. Porque o martelar na parte de trás de seu crânio era o som de tiros. Ele havia sido um dos cinco mergulhadores na praia naquele dia. Era um exercício de treinamento de rotina. Até a selva explodir. Expostos e pegos despreparados, eles devolveram o fogo e saíram em disparada. Contudo, o mais novo membro da unidade, Torque, havia congelado. Sem tempo para pensar, Blake saiu esquivando balas, agarrando e arrastando o garoto trêmulo de volta pela praia com ele. Em seguida, mais tiros, chamuscando o ar e zumbindo sobre sua cabeça. O último grito agonizante de Torque quando caiu contra Blake, deixando-o sem equilíbrio. Blake caiu sobre as rochas. Então, escuridão... Blake acordou com a boca seca, tremores e coração acelerado. Estava gelado até os ossos, encharcado de suor, seu crânio reverberando. Levou um momento para respirar, lutar contra o lençol, que estava enrolado em suas pernas. Ele buscou os analgésicos fortes em cima da mesa de cabeceira, engoliu-os secos. O médico do hospital havia ordenado que Blake os tomasse por pelo menos mais uma semana. Mas ele recusou as pílulas para dormir, embora nunca dormisse mais do que algumas horas de cada vez. Se ao menos o médico pudesse lhe prescrever alguma poção mágica para acabar com os pesadelos. Ele se colocou de pé e olhou para fora da janela, onde o pré-amanhecer revelava um céu negro cravejado de estrelas livre da tempestade. Torque era apenas um garoto cheio de ideais e jovem demais para morrer. Blake havia sido aquele jovem idealista também, um dia. Recusando-se a se submeter a novos horrores noturnos, levantou-se e vestiu um par de shorts. Quase se esqueceu do barco... Olhou para fora da janela novamente para ter certeza de que a coisa ainda estava flutuando, então foi lá embaixo. Passando pelo quarto onde Lissa tinha sonhos tranquilos. Parando em frente à porta de vidro da sala de estar, abriu-a para deixar a brisa úmida esfriar seu rosto. Quase podia sentir o cheiro de praia do pesadelo e da vida marinha em decomposição. O cheiro quente de sangue recém derramado. Ele ouviu um barulho atrás de si. Com seus afiados sentidos militares sempre alertas, ele se virou com um punho parcialmente levantado. Lissa. Nas sombras. Com os olhos arregalados. Parecendo frágil como vidro em sua minúscula camisola. E encolhendo-se para longe dele. Perfeito. Havia aterrorizado19
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver a duas vezes em uma noite. Uma onda de autoaversão tomou conta dele. Cerrando os dentes, ele se voltou para a janela. — O que você está fazendo aqui? — Ouvi um... Ouvi um barulho. Ele podia ouvir o som suave de pés descalços enquanto ela atravessava a sala e imaginou os pés entrelaçados com os dele. — O que você está fazendo aqui? Ele não respondeu. Apenas fechou os olhos enquanto o aroma dela flutuava até ele. Fresco, perfumado e imaculado. Ela não sabia nada das atrocidades cometidas fora de seu pequeno mundo protegido. E ele queria mantê-la dessa forma. Segura. A salvo dele. — Você está bem? Preocupação silenciosa, com uma pontinha de ansiedade. — Sim. Volte para a cama. — Mas você... Seu cabelo roçou o queixo dele quando ela entrou em sua frente. O toque leve de uma pequena mão em seu braço nu. — Eu pensei ter ouvido... Você tem certeza de que está bem? Seus olhos se abriram. Os olhos arregalados piscaram para ele na penumbra. E aqueles lábios deliciosos... Ela mal chegava a seus ombros. Tão pequena. Suas mãos subiram para abraçá-la. Para mantê-la segura. Podia sentir os músculos firmes de seus braços se movendo sob a carne quente. Depois, ele foi deslizando as mãos sobre seus ombros. Havia esquecido como a pele de uma mulher era suave e sedosa. Todo o seu corpo se flexionou e latejou. Era tão fácil se inclinar, colar os lábios nos dela, até se esquecer. Mas ele nunca esqueceria. Ele nunca poderia ser o rapaz descontraído que ela se lembrava. Os restos de seu sonho ainda se agarravam a ele como uma mortalha. Contaminando-a. Soltando suas mãos, ele se afastou daqueles olhos sedutores. — Vá embora, Lissa, eu não quero você aqui. Ele mal a ouviu partir e, quando olhou por cima do ombro um momento depois, ela não estava. Sem nenhuma palavra. O alívio se misturava com uma frustração amarga. Droga, ele não quis ofendê-la. Esperou alguns instantes e voltou para seu quarto, colocando suas calças. Duas horas de corrida poderiam livrá-lo de algumas de suas tensões. Lissa se revirou pelas horas seguintes, conforme o quarto se iluminava lentamente. Deixou o travesseiro de Blake e pegou um em outro quarto como ele havia sugerido. Para provar que sua história de que precisava de mais um não era mentira, para tirá-la de uma situação embaraçosa. Não que ele acreditasse nela. Por que diabos ela se importava? Suas preocupações com travesseiro sequer seriam notadas... Não depois de vê-lo lá embaixo na escuridão. 20
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Sofrendo, sozinho e determinado a permanecer assim Ela o ouviu gritar. E por um momento pensou que talvez ajudasse um pouco até que ele deixou cair as mãos de seus ombros, como se o toque de sua pele o tivesse queimado. Sua despedida breve havia doído, especialmente quando por um momento ela pensou que ele fosse beijá-la. O que só provava que ela ainda possuía zero de compreensão sobre homens. Não levaria para o lado pessoal. Se ela se lembrava de alguma coisa sobre Blake, teria recusado a ajuda de qualquer um. Só que ela odiava ver alguém sofrendo. Assim que o barco fosse reparado, ela poderia sair de sua casa. Ficar longe dele. Longe da tentação. Só que ele afirmava ser o dono do barco... Não era um problema que ela poderia resolver sozinha, então era inútil pensar agora. Jogou o lençol para trás e se levantou. A tempestade havia passado, deixando o céu violeta. Ela abriu a janela para apreciar o coro matinal de aves. Inclinando-se sobre o peitoril, ela olhou para as casas apalaçadas e seus iates de milhões de dólares. Um helicóptero particular circulou mais acima do rio e pousou em seu heliporto. Lissa era provavelmente a única pessoa em um raio de cem quilômetros sem um trabalho bem-sucedido e uma conta bancária volumosa. Um fato que Blake Everett não precisava saber. Ninguém sabia sobre sua situação financeira. Nem mesmo a família dela, especialmente Jared. Ela não queria ou precisava de sua ajuda. Ela não havia gastado um ano e meio para provar que conseguia se sair muito bem em Mooloolaba sozinha? Quase. Só que a loja de design de interiores onde trabalhava havia falido devido a um contador desonesto, deixando-a sem renda, além de uma casual limpeza de um par de escritórios locais. Ela precisou adiar os reparos por necessidade financeira. Ela teve um acidente de percurso, nada mais. Recolheu as roupas que trouxe com ela. Determinada a não ver Blake até ter tomado banho e domado seu cabelo, não importa que circunstâncias terríveis e humilhações estava prestes a enfrentar, ela se dirigiu para o banheiro. E que banheiro. Era tão grande quanto toda sua casa flutuante. Azulejos brancos, torneiras de ouro, toalhas felpudas grossas. Ela respirou seu perfume recémlavado e ligou o chuveiro. Depois do mero gotejamento do barco, a pressão da água era um luxo absoluto e ela se demorou, ponderando sobre seu acidente de percurso. Lissa ainda queria começar o seu negócio. Havia sido uma fonte amarga de tensão entre ela e Jared, que a levou a se mudar para lá. Ela queria tanto provar que era capaz. Mooloolaba era uma cidade de homens ricos em Sunshine Coast, no sudeste de Queensland. Muita gente ali não se incomodaria de pagar preços exorbitantes por uma reforma em casa. Ela só precisava encontrá-los e convencê-los de que precisavam de seus serviços. De algum modo. Durante meses, vinha arrumando trabalhos de limpeza enquanto vasculhava jornais e pesquisava na internet o tipo de trabalho que queria. Nada. Ela não tinha 21
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver resposta para seus anúncios no jornal e na internet. Os moradores procuravam os serviços de grandes nomes. Lissa precisava criar algo diferente, algo único, tornar-se conhecida. Sim, ela poderia usar o nome de Jared. Sua reputação em restauração de construções era bem conhecida pelas redondezas. Ela fechou as torneiras e pegou a toalha. De jeito nenhum. Absolutamente fora de questão. Porque isso seria admitir a Jared que ele tinha razão, que ela não poderia conseguir por conta própria. E depois de sair do jeito que havia saído, ela ficaria muito envergonhada. Então ela tem que se contentar com a segunda classe por mais algum tempo. O que significava encontrar um emprego de tempo integral... De qualquer tipo. Que eram poucos. De volta à estaca zero. E agora Lissa tinha que enfrentar um café da manhã com aquele homem.
CAPÍTULO QUATRO
Lissa tinha torradas com manteiga e café fresco quando Blake apareceu na cozinha às 7h em ponto. Simplesmente sabia que ele seria uma daquelas pessoas pontuais. Impiedosamente organizado. Como ele vivia consigo mesmo? A única razão pela qual estava adiantada era porque depois de seu encontro recente na sala de estar ela estava inquieta demais para relaxar. Passou o tempo se familiarizando com a espetacular cozinha e todos os equipamentos modernos possíveis. Havia se preparado para vê-lo, mas o primeiro vislumbre ainda foi como um soco enquanto ele caminhava para a mesa da cozinha, deixando-a sem fôlego. Ele vestia uma camiseta cáqui e ainda usava o mesmo tipo de calça jeans confortável com que estava na noite anterior. Ele parecia mais relaxado. Seus olhos não eram os mal-assombrados que havia vislumbrado na noite anterior, mesmo que ainda estivessem um pouco distantes, mas era Blake Everett, e distância era sua marca registrada. Ele havia tomado banho e seu aroma era fresco como o novo dia. Sim, um novo dia, pensou. Melhor fingir que a noite anterior nunca aconteceu... — Bom dia. Seu sorriso foi automático, ao contrário da expressão severa dele, enquanto erguia a prensa francesa e concentrava-se em encher uma caneca sem derramar por todo lado. — Café? Ele colocou alguns daqueles folhetos de navegação que ela havia visto sobre a mesa. 22
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Nunca. Mas obrigado — acrescentou. A voz rouca matinal fez coisas estranhas com suas entranhas enquanto ele ia até o armário, retirava uma caixa fechada de chá Earl Grey. Folhas de verdade, nada de saquinho. — A chaleira acaba de ferver — disse ela, querendo ser útil e desesperada para quebrar o silêncio constrangedor. Ela deveria ter ficado distante na noite anterior. Enfiado a cabeça embaixo do travesseiro ou algo assim. — Não é muito chegado à manhã? — disse rapidamente. Ele lhe atirou um olhar enquanto derramava água na panela. — Tudo bem, eu sou. Então, meio que equilibra, não concorda? Ele levantou uma sobrancelha. — Acordo às 5h, chova ou faça sol, e você? Ela olhou para ele por um momento. — Sou conhecida por caminhar pela casa por volta dessa hora. Isso lhe garantiu um olhar e ela desejou ter mantido a boca fechada. — Nos fins de semana. Alguns fins de semana. Na verdade, se estiver livre, há uma festa hoje à noite na praia... Sua voz sumiu quando a mandíbula dele se apertou. Talvez não. Ela o estudou enquanto tomava um gole de café. Não, ele não se encaixaria no ambiente da festa. Lissa precisava esquecer sua paixão adolescente, recompor-se e lembrar-se de que ele queria seu barco. — Como estão os danos esta manhã? — Ainda não verifiquei. Ele serviu seu chá, já espesso e negro como melaço, e acrescentou duas colheres de açúcar, em seguida, sentou-se à sua frente na mesa. — Depois de uma inspeção mais próxima noite passada, desliguei a eletricidade, tranquei-o e voltei para cá. — Ah — murmurou ela. — Fiquei me perguntando o que você estava fazendo na... Então mordeu o lábio, desejando não ter dito nada. — Precisa de grandes reparos — disse ele sem olhar para cima enquanto folheava seus folhetos. — Pode demorar um pouco. Ela sufocou uma resposta. Não era tão ruim assim, com certeza. Era apenas um truque para mantê-la longe e não iria funcionar. Depois do café da manhã, ela daria uma olhada. Não havia ido mais cedo porque pensou que ele estava lá e não queria o constrangimento de pegá-lo dormindo. Afinal, e se ele dormisse nu? Reprimiu o calor que sentia em seu ventre e juntou-se a ele na mesa, empurrando o prato de torradas para o centro. — Você deve ter deixado os ovos de fora de sua lista de compras. — Torrada está bom. Ele pegou uma fatia. 23
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Planeja velejar enquanto estiver aqui? — perguntou olhando o que ele estava lendo.
Ele não olhou para cima. — Talvez eu compre um. — Mas você não é... da Marinha? — Não mais. Ele olhou para cima por um momento. — O que você acha... Velejar sozinho ao longo da costa, parando onde quiser. Sem horários, sem exigências. Só você, flutuando com as marés. — Parece... — Solitário. — Mágico. É isso que você está pensando? — Pode ser. — Você desistiu da vida da Marinha, então? — Presumo que sim. Ele dobrou o canto de uma página para marcá-la, em seguida, fechou o folheto, pegou sua caneca e se recostou. — Vou ligar para um encanador. E um eletricista. Você conhece alguém em particular? Obviamente, ele não queria falar sobre a Marinha ou suas razões para sair. — Até agora, não precisei de ninguém. Jared conheceria alguém, mas ele está longe. À menção do nome de seu irmão, Blake se alegrou. — Então, o que Jared está fazendo hoje em dia? — Ele tem o próprio negócio de restauração em Surfers. Ele está de férias no exterior, no momento, com sua família. — Jared é casado agora? — Sim. Ele e Sophie têm um filho de 3 anos. Isaac. — Bom para ele. Seus lábios se curvaram em um daqueles raros sorrisos que ela não tinha tido o prazer de ver em dez anos. — Você os vê com frequência? Ela assentiu. — Algumas vezes por mês. Isso sem contar aniversários e celebrações. Vou até Surfers, porém um barco não é lugar para crianças, é muito apertado e muito perigoso e Crystal tem 2 anos. Ela não lhe disse que depois que ela saiu de sua casa, Jared fez questão de não vir a Mooloolaba para vê-la, a menos que especificamente convidado. Ele olhou para ela um momento, enquanto soprava seu chá. — Quando ele volta? — Em algumas semanas. — Vou precisar de seu telefone. Gostaria de encontrá-lo depois de todo esse tempo e preciso falar com ele sobre o barco. 24
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver O barco. A maneira como ele disse. Como se já houvesse retomado a posse. — Não. Seus dedos se apertaram em torno de sua caneca. — Você não pode dizer a Jared sobre o barco. Ele ergueu as sobrancelhas. — Por que não? Você paga o aluguel. Ele a estudou friamente com aqueles olhos azuis. — Não é? — Claro. Só que ela não pagara o último mês. Havia assegurado a Jared que o faria até o final da semana. Protelando. Esperando por outro trabalho. — Lissa. Ele fez com que Lissa prestasse atenção no que falava, colocou sua caneca sobre a mesa e a encarou. Ela sentiu que começava a tremer. A maneira suave com que ele havia acabado de dizer o nome dela... Ele a deixava fraca. Sempre a deixou fraca. Fraca e estúpida. — O quê? — perguntou, sabendo que ele não diria algo que ela queria ouvir e determinada a não se apaixonar por sua voz baixa e rouca. — Esqueça o barco e Jared por um momento. Conte-me sobre você. Seu local de trabalho, por exemplo. Ela se encolheu. — Eu já disse. Sou designer de interiores. — Mas você não tem um emprego no momento, não é? Seu estômago se apertou. Ela queria desviar o olhar. Não adiantava negar. Ela colocou as mãos firmemente sobre a mesa. — Olha, estou tendo alguns problemas no momento. Não que isso seja da sua conta. — Torne-os da minha conta, então — disse ele, sem se ofender. — Eu poderia ajudar. Ajudar? De todas as pessoas no mundo, não queria a ajuda de Blake. Queria que ele fosse embora e não fizesse perguntas difíceis e embaraçosas. Mas isso não aconteceria. Ela sorriu com força. — Sabe de alguma empresa de design de interiores precisando de empregados? — É isso o que você realmente quer? Será que achava que ela era preguiçosa? — Com certeza é. Estudei muito, tenho meu diploma para mostrar que fiz e não quero fazer mais nada. Ele observou sua caneca enquanto a girava sobre a mesa, em seguida, olhou para ela mais uma vez. — Então você está procurando emprego ou quer abrir um negócio próprio? Ela respirou fundo, resignada. De certa forma, era um alívio falar com alguém sobre isso e saber que ele não ia ficar ali por muito tempo. Ele não era nada para ela, disse a si mesma. Nada. 25
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Certo. Não consigo arranjar emprego em qualquer uma das lojas de design de interiores daqui desde que a empresa que trabalhava faliu. Então, trabalho fazendo limpeza ocasionalmente, o que não me permite poupar o dinheiro que precisaria para começar meu próprio negócio. — Jared não pode emprestar o dinheiro? — Não quero a ajuda de Jared. Jared e eu tivemos um desentendimento. Eu me mudei para cá porque precisava de espaço. — Espaço? — Espaço. Independência. Ela levantou um ombro. — Depois que me formei, trabalhei em uma loja de design em Surfers por dois anos, mas sei que posso fazer melhor do que trabalhar para outra pessoa. Jared me disse para não me apressar. Nós discutimos. Eu fui embora. Ele não aceitou muito bem. Blake a estudou por um momento. A intensidade era enervante. — Sinto muito em ouvir isso. Ela ouviu o lamento genuíno em sua voz e não deu muita atenção. — Nós nos damos bem. No geral. Só que agora ela percebia que Jared estava certo. Ela teve pressa demais. — Então, eu quero, quem sabe, trabalhar como freelancer por um tempo ― continuou. Mas as pessoas por aqui não querem dar uma chance a uma pessoa qualquer. — Você não é uma pessoa qualquer a menos que pense assim. Confie em mim, eu sei. Confiar nele? Ela o encarou. Ele então não era apenas eficiente e um herói protetor, mas também uma daquelas figuras inspiradoras. Mas foi a chama no fundo daqueles olhos frios que a fizeram se agarrar à borda da mesa e lembrou-lhe de que ela não estava nem perto de pronta para confiar em um homem novamente. Nem mesmo Blake Everett. Ter outro homem em sua vida, até mesmo como amigo, era um salto que ela não tinha certeza de que poderia dar. — Eu vou ficar bem. Algo vai aparecer. Será que ela realmente acreditava nisso? Ou será que simplesmente não queria que aquele homem em particular a visse falhar? — Por quanto tempo você ficará aqui? — Ainda não decidi. Algumas semanas, alguns meses... Ao observá-la enquanto ela falava, ficou óbvio para Blake que ela queria que ele fosse embora e o mais rápido possível. Mas ao mesmo tempo ele via a atração brilhar naqueles olhos e a sentia queimar por todo seu corpo. Então, ele não era o único confuso. Agarre-se ao que você sabe e deixe o campo minado emocional de lado. Mas desconsiderando emoção e atração, era óbvio que ela precisava de assistência financeira para colocá-la no caminho certo. Também era óbvio que ela não queria o apoio de seu irmão. Restava Blake. E ele devia aquilo a Jared. 26
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ele achou que ele não iria a lugar nenhum até que algo fosse resolvido. — Você tem alguma visão para esse negócio, Lissa? — Pode apostar. Ela se inclinou para a frente, os olhos vivos com entusiasmo. — Resumindo: beleza, funcionalidade e inovação através de experiência e conhecimento. Ela sorriu com tanta satisfação que ele podia apostar que ela estava ansiosa para dar seu discurso para quem quisesse ouvir. Diversos pensamentos passaram por sua cabeça, nenhum deles sobre negócios, mas ele eliminou todas as distrações e se focou naquele momento. A morte de sua mãe socialite o havia tornado um homem rico. Agora ele estava cansado e desiludido. Precisava de um desafio, uma distração. Algo novo para acender um fogo em sua barriga. A visão de Lissa Sanderson prometia todas essas coisas. Ele queria ajudá-la, não só porque ela era irmã de Jared, mas porque ela era jovem e cheia de vida e alimentada com a mesma energia que ele possuía na idade dela. Aos 32 anos, em forma e saudável, ele não era um homem velho, mas queria a energia e entusiasmo que lhe faltava ultimamente de volta em sua vida. — Ah, e deve ser ecologicamente correto — continuou. — Trabalhar a favor e não contra o meio ambiente. E cor. Muita cor. Arrojado... Sua voz sumiu e ela corou. — Estou divagando. Ele também estava. Com as ideias dela, a forma como sua voz e paixão pelo trabalho fluíam até ele. Seus olhos. Suas emoções claramente visíveis. Seu cabelo, sua vibrante tonalidade castanha pegando o sol da manhã, sua pele macia. Ele fechou as mãos e esfregou os dedos para tentar conter o impulso de tocá-los. Mentalmente balançou a cabeça, garantiu a si mesmo que era puramente sexual. Era a resposta perfeitamente natural de um homem excitado com a sexualidade feminina. Mas ela o atraía de maneiras que ele não podia explicar. E ele não havia sentido aquele puxão intrigante de desejo por uma mulher há muito tempo. Ele não queria a alternativa. Não queria as complicações que vinham com ela. Não queria machucá-la por causa disso. Então precisava se certificar de que essa atração sexual não conflitasse com uma possível relação de trabalho. — Estou procurando um lugar para investir algum dinheiro — disse ele cuidadosamente. — Um negócio, talvez. Ela ficou muito quieta. Ele viu um pequeno sulco aparecer em sua testa enquanto ela absorvia sua sugestão. Seus olhos ganharam um tom diferente. — Se você está pensando o que eu acho que está pensando, esqueça. Seu tom era frio. Muito frio. Em seguida, levantou-se e afastou-se alguns passos. 27
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Eu não quero ou preciso de sua caridade. — Eu não estou sugerindo uma esmola — disse ele suavemente. — Caridade era o forte da minha mãe. Estou sugerindo uma parceria. Vou fornecer o capital inicial, mas você suará a camisa e ficará responsável pelo dia a dia do negócio. Ela se virou e hesitou antes de dizer lentamente: — Quer dizer que você seria... Como um parceiro? — Exatamente. — Por quê? — Porque todo mundo merece uma chance e eu gostei do que vi até agora. Franzindo o cenho, ela cruzou os braços, chamando sua atenção para o profundo decote no topo de sua camiseta esmeralda. — O que quer dizer com o que você viu? Epa. Escolha certa de palavras, lugar errado para olhar ao dizer isso. Ele levantou os olhos. — Confesso que folheei alguns de seus trabalhos ontem à noite antes de trazêlos para dentro. Lissa o observava do outro lado da sala, sua exuberância súbita rapidamente se dissipando. O que ele sabia sobre design de interiores? Ele havia acabado de olhar para o decote dela, o que aquilo lhe dizia? Que ele financiaria seu negócio em troca de sexo? Não. Ela nunca aceitaria isso. Não para sair das dificuldades, não por uma chance de sucesso. Nem mesmo pela chance de dormir com Blake Everett. Esfregando os braços, Lissa desviou o olhar. — Vou encontrar meu parceiro de negócios, obrigada. — Pode levar algum tempo para encontrar a pessoa certa. Enquanto isso, você não tem uma renda confiável e está vivendo naquele barco patético. Droga, ele estava certo. — Então, que tal me aceitar até encontrar outra pessoa? — sugeriu. Aquela pessoa especial com o suporte financeiro e um gosto por design de interiores que quer ter um papel mais ativo. Quando você encontrar a pessoa adequada, renegociamos. Pequenas bolhas de entusiasmo cauteloso vibraram conforme ela se inclinava contra a pia e estudava o piso de ardósia preta. Ele resolveria seus problemas imediatos. Ela seria capaz de pagar os reparos do barco, pagar suas dívidas e, talvez, apenas talvez, poderia conseguir uma chance real na carreira que ela queria tão desesperadamente. — Tenho uma condição — disse ele lentamente. Blake estudou seus olhos desconfiados, a ligeira elevação de seu lábio superior, suas narinas dilatadas. — Quero ver como você trabalha. Eu gostaria, então, que você redecorasse a sala de estar daqui. Já faz mais de dez anos desde a última reforma e está parecendo obsoleta. Pagarei, é claro. 28
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ela se endireitou e uma faísca renovada acendeu seus olhos. — Você me deixaria ter liberdade total? — Absoluta. E se nós dois estivermos felizes com a forma como as coisas progredirem... — Mas, espere, você disse que está aqui temporariamente. — Não é um problema hoje em dia, com e-mail e internet. — Então, exceto pelo suporte financeiro, você se manterá afastado? — A menos que peça minha ajuda, o que estarei mais do que feliz em dar. Ah, uma ressalva, garota festeira. Negócios em primeiro lugar. — Só porque eu era fã número um de festas da Gold Coast, não significa que a lenda continua aqui. Eu não tenho mais 18 anos, tenho coisas mais importantes na cabeça. Então vou a festas ocasionalmente... Quem não vai? Ainda olhando para ele, balançou a cabeça. — Acho que algumas pessoas não. Correto, não iam. — Diga a palavra e eu posso disponibilizar o dinheiro em uma conta esta tarde. Ela se encostou à pia, dedos tensos na beirada e assentiu lentamente. Com cautela. — Certo. Mas eu não quero que Jared saiba. Ainda não. — Então, vamos manter entre nós dois. — Uma desconfiança súbita brotou em seu olhar e ele sabia que ela estava pensando no jeito que ele os havia conectado. — É apenas um acordo de negócios, Lissa. Temporário, até você encontrar alguém. Ela assentiu e suspirou. — Certo, temos um acordo.
CAPÍTULO CINCO
— Uau! Todo o ser de Lissa pareceu se acender. — Vamos precisar disso por escrito ― disse Blake, mais ríspido do que pretendia, lembrando-se do fiasco do barco, que ainda precisava ser discutido. Após a traição de seu pai, nunca mais confiaria tão facilmente. Não importava quem fosse. — É claro. Cruzando os dedos acima da cabeça, ela riu com naturalidade surpreendente — Vou providenciar. 29
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Lissa quase saiu dançando pela cozinha. Ficou na ponta dos pés e jogou os braços ao redor do pescoço dele. — Obrigada. Seus seios, firmes e cheios e sem sutiã, roçaram seu torso, o que enviou uma onda de excitação diretamente para sua virilha. Antes que ele pudesse responder de alguma forma, parou abruptamente. Arregalou os olhos, as bochechas coraram e ela se afastou rapidamente. — Eu... Eu vou dar uma olhada na sala agora e colocar no papel algumas ideias antes que você mude de opinião. Virou-se e saiu correndo. Lissa apertou seu pescoço com ambas as mãos enquanto corria para seu quarto. Havia se empolgado e praticamente escalado o peito de Blake. Oh, Deus. E ele pareceu nitidamente chocado. Ela foi direto para o banheiro e jogou água fria no rosto. Controlando a respiração, sentou-se na cama e demorou alguns minutos fazendo um balanço e absorvendo a conversa, a oferta generosa que acabara de receber. A oferta que era condicionada a ele gostar ou não de seu trabalho. Quando conseguiu respirar normalmente de novo, desceu as escadas até a sala e foi direto até suas coisas empilhadas. Para seu alívio, Blake não estava por perto. Abriu o bloco de desenho e esboçou o layout da sala. Aquela era uma cidade costeira, portanto, um tema aquático. Elegância. Simplicidade. A mobília tinha que ser substituída. Olhou para cima. A esfera explosiva de cristal permaneceria. — Ideias? Ela ouviu Blake atrás dela, mas não se virou. Sem distrações. — Azuis. Tema de oceano. Estou pensando em turquesa opaco. Possui tons quentes e frios, portanto é compatível com praticamente qualquer cor. Funciona bem com carvão... Aquela parede de ardósia é ideal. Ela puxou suas amostras de tinta azul, escolheu duas e olhou para ele. — Consegue visualizar suas paredes neste tom ou é muito escuro para você? — Vou deixar para seu julgamento profissional. — Mas você consegue viver com essa cor? Ela caminhou até a parede e ergueu ambas as amostras para o alto. — Eu não vou estar aqui. Blake não estava olhando para as amostras. Ele estava olhando para a provocante amostra do corpo de Lissa entre os jeans e a camiseta dela. E tudo o que conseguia pensar era nela pressionada contra ele por aqueles poucos segundos. Tudo o que sabia era que queria aquela sensação novamente. Encontrou-se de pé atrás dela, respirando o perfume de seus cabelos. Seu pulso retumbava em seus ouvidos. — O mais escuro. Ele ouviu seu suspiro surpreso. Como Lissa não se afastou, suas mãos se fecharam em torno da cintura dela, repousando sobre a pele quente e suave. Ela pousou as mãos na parede, as amostras de cor caíram no chão. Ele a virou lentamente. — Vou beijar você. Deus sabe que eu não deveria. Você é irmã mais nova de 30
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Jared. Os olhos dela ficaram enormes e vidrados, as pupilas dilatadas. — Não vou contar a ele se você não contar — sussurrou ela. Ele se inclinou, sentiu sua respiração contra o rosto. Sentiu o calor de seu corpo contra o peito. Puxou-a mais para perto. — Ah, mas eu não vou mentir. Ele é meu amigo. É uma questão de honra. Mas não estou me sentindo particularmente honrado neste momento. Ele baixou a cabeça. — Depois de todo esse tempo... — murmurou ela. — Depois de todo esse tempo... O quê? — Não importa. O som ofegante saindo daqueles lábios suculentos, a sensação de dois mamilos rígidos contra o peito... Não, concordou silenciosamente, não importava. Sua ereção cresceu quente contra seu jeans. Mal sufocando um gemido involuntário, ele deslizou uma das mãos pelas costas dela e trouxe seu corpo mais próximo para aliviar a pressão lá embaixo. Não funcionou. Só o deixou mais excitado. Ela parou momentaneamente quando a frente dos jeans dele entrou em contato com sua barriga. Seus olhos se fixaram nos de Blake. Em seguida, arrastou os dedos pelo peito dele, deslizando braços em torno de seu pescoço. — Inacreditável — murmurou ela. — Acredite. Lissa olhou para aqueles olhos azuis enquadrados por grossos cílios escuros e quis se afogar neles. Ela deslizou os dedos por seu corte de cabelo militar e soltou um suspiro que parecia vir das profundezas da sua alma. Então, em um piscar de olhos, como um raio da tempestade da noite anterior, Lissa hesitou. Será que Blake sabia o que ela sempre sentiu por ele? Sua ereção a pressionou como se respondendo. Há quanto tempo não queria isso? Mas... — Espere... Ela empurrou seu peito, relutante, mas com firmeza. Seu olhar se voltou confuso, mas ele não chegou a deixá-la ir. Suas mãos ainda repousavam em sua cintura. — Você está bem? — Eu... Sim É claro que ele não sabia. Mas o quanto ela realmente conhecia Blake? Ela acreditava nas velhas fofocas sobre ele? Ela não sabia... Nunca teve qualquer contato pessoal com ele, além do casual “oi e tchau”. Lissa pensou que conhecia Todd. Ela confiou nele com o coração e com o corpo e ele abusou dessa confiança. De muitas maneiras. O incômodo se tornou pânico e queimou brilhante e urgente dentro dela. Ela começou a se livrar de seu abraço. — Espere aí, aonde você está indo? 31
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ele puxou suas costas, seus braços deslizaram ao redor dela como barras de aço segurando seu prisioneiro. Ela lutou contra uma súbita sensação de claustrofobia. — Acabei de me lembrar de que eu preciso... Estar em um lugar. — Não. Blake soltou um braço para levantar o queixo de Lissa com um dedo de modo que ela estivesse olhando para cima, em seus olhos. — Não — disse novamente, dessa vez mais suave, mas não menos exigente enquanto segurava seu queixo e abaixava a boca até a dela. Era inútil lutar. O velho pensamento passou por sua mente e o pânico subiu por sua garganta. Mas conforme seus lábios se moviam sobre os dela o mal foi embora tão rápido quanto veio. Lissa lutou contra Todd quando ele fez o mesmo com ela diversas vezes, enquanto se debatia e morria por dentro. Mas, ali, sob o calor da boca de Blake, mesmo sob seu domínio intransigente, havia um mundo de diferença. Porque ela sabia instintivamente que poderia se afastar a qualquer momento. Dominação masculina. Força. Controle. Havia aprendido a temê-los, mas com Blake, ali, aquilo desapareceu. Ela não sentiu aquela trepidação familiar, apenas uma vontade de correspondê-lo. Sua barba roçou o queixo dela. As pernas tremiam e ela se agarrou à camiseta dele para evitar virar uma poça a seus pés. Podia sentir seu peito rígido, o baque pesado de seu coração contra os punhos. Isso não era um simples encontro de bocas. Não era como havia sido com qualquer outro homem. Ali, conforme seus lábios se moviam sobre os dela, havia fogo. O mesmo fogo, o mesmo desejo quente que ardia intensamente dentro dela. Até Todd deixá-la sentindo-se inadequada como amante, ela nunca havia sido uma mulher de fugir de seus próprios desejos, de tomar o que precisava de um homem e dar em troca. Celebrando sua sexualidade, absorvendo seu próprio prazer, assegurando-se de retribuir na mesma medida. Mas nunca sentiu a conexão emocional avassaladora que impregnava todo o seu ser agora. Suas bocas se separaram enquanto ele solicitava entrada, sua língua dançando levemente sobre a dela primeiramente, em seguida, aprofundando-se, mais ousada, explorando o interior de suas bochechas, seus dentes. Era tão fácil deixar a emoção comandar seu corpo enquanto absorvia os ricos sabores que ele trazia. Blake não sabia que a paixão podia ser combinada com tamanha delicadeza. Suas mãos estavam instáveis quando ele inclinou a cabeça para ter melhor acesso a sua doçura, erguendo-as para poder deslizar os dedos pelos cabelos sedosos e abraçá-la. Algo a havia assustado um momento atrás, mas agora... Agora ela se agarrava a Blake com membros ágeis e suas suaves curvas femininas. Seu corpo se derretia contra o dele, ajustava-se como se feita expressamente para esse fim. Um estrondo subiu por sua garganta quando ele cruzou as mãos sobre seus ombros, indo devagar, testando sua resposta. Mas, quando ela soltou um gemido sensual, toda sua razão fugiu, deixando apenas o enorme desejo de tê-la. Suas mãos ávidas subiram até roçar as bordas dos 32
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver seios. Tomando-os em suas mãos, ele acariciou suas formas femininas. Fome. Uma fome insaciável que demandava ser aplacada. E necessidade. Uma necessidade ardente e aguda que corria com força para preencher o vazio com que ele havia aprendido a viver. Mergulhando a cabeça, ele acariciou um seio com o rosto até encontrar seu mamilo enrijecido. — Isso... Assim.. Ele o trouxe em sua boca e chupou através da camisa macia, enquanto suas mãos deslizavam sob a bainha da camiseta para sentir a barriga suave e sedosa dela. Quando ele mordeu o pequeno bico ereto com os dentes, ela arfou e se arqueou. Ouviu um soluço abafado, enquanto ela gritava seu nome, enviando fragmentos incandescentes direto para suas regiões mais íntimas. Ele voltou sua atenção para o outro seio e subiu a camiseta até sua caixa torácica, os polegares já roçando a parte inferior daqueles globos perfeitos. Então, ela empurrou seu peito. — Blake... Pare... Parar? Foi o suficiente para dissipar a névoa sexual que os envolvia. Blake olhou para aqueles olhos grandes e apaixonados e sabia que ela queria tanto quanto ele. — Certo, vamos para um lugar mais confortável — murmurou. Mas quando ele passou o dedo sobre a borda da camiseta de Lissa, contornando a curva de seu peito, ela o parou. — Nada de favores sexuais... Ele franziu a testa. — É isso que você acha que é? Pagamento pela minha ajuda? — Não sei, eu... Ela pensava isso a respeito de Blake? E de repente ele soube o porquê. Ela acreditava nos boatos. Sentiu um gosto amargo na garganta. — Isso se chama selar o pacto com um beijo — murmurou ele, asperamente. — E você estava gostando tanto quanto eu. — Não foi apenas um beijo. Então seu cérebro se iluminou. Sua hesitação. Seu comentário incrédulo “Depois de todo esse tempo”. Sua relutância em explicar. Ah, droga. Ela era virgem. E ali estava ele, pronto para separar aquelas pernas bronzeadas e jogá-la contra a parede. Pelo amor de Deus. Ela devia pensar aquilo dele. Rangendo os dentes contra sua ereção latejante, ele recuou, cuidadosamente. Seus sonhos virginais sem dúvida incluíam amor e compromisso. Não ser jogada contra uma parede. De jeito nenhum... Lissa inspirou. Sentiu-se como estivesse acordando de um sonho quando estava chegando à parte interessante. Seus mamilos sensibilizados imploravam por mais atenção. Por que ela o rechaçou? Por que parou a maior experiência sexual de sua vida e com o homem que ela mais desejava? 33
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Porque, naquele momento, precisava de algo mais. Ela não conhecia Blake bem o suficiente para essa intensidade. Mas sabia de sua reputação... — Isso está indo rápido demais — disse ela, ainda lutando para recuperar o fôlego. Nesse momento estou mais interessada em uma fonte de renda do que em qualquer outra coisa. Não posso deixar que qualquer distração venha a me atrapalhar. Então, prioridade número um: Preciso me concentrar na reforma desta sala. Certo? Blake não devolveu o sorriso de Lissa, possivelmente porque ela não tinha sequer certeza de que havia sorrido. — Entendido. Ele enfiou as mãos nos bolsos das calças. — Vou organizar para que os arranjos sejam detalhados por escrito imediatamente. Seus olhos estavam cuidadosamente desprovidos de toda aquela emoção de apenas alguns segundos atrás. Ele se afastou, como se mal pudesse esperar para ir embora. — Ótimo. Quanto mais cedo, melhor. Sua mão coçava para tocar seu queixo e dizer-lhe que havia mudado de ideia, que queria que ele terminasse o que havia começado e deixasse o resto de lado. — Conheço uma advogada. Seu tom era áspero. — Vou verificar se ela ainda está atuando e ligar para ela agora. Mordendo os lábios ainda latejantes, ela desviou o olhar rapidamente para as próprias mãos. — Certo. Ele se virou e saiu da sala. Lissa o observou indo, seu pulso ainda galopando. Tocou sua boca ainda úmida. Com Blake, ela ainda era aquela garota ingênua que não sabia de nada e que não havia aprendido que ela não escolhia sabiamente quando se tratava de homens. Agora, o futuro de sua carreira era mais importante do que ficar intimamente envolvida. Caso desse errado entre eles, poderia perder aquela chance. E ainda... Ele não fora cuidadoso. Havia parado quando ela pediu. Considerou Jared e falou sobre honra. Quantos homens falavam sobre honra? Ele era um cara decente. Esses rumores deviam ser mentirosos. Todd era a razão pela qual ela não confiava nas motivações dos homens. Sua beleza sombria escondia um lado ainda mais sombrio. Ele havia mentido para ela sobre seu passado e manipulado seus sentimentos. Um homem desonesto e amoral. O oposto de Blake. Ela pegou suas amostras de tinta caídas. Estava contando com Blake não contar a Jared sobre os problemas do barco ou sua parceria até que ela desse o aval. Iria se concentrar em sua generosa oferta, pagar os reparos com a renda do trabalho, trabalhar incansavelmente para mostrar que era digna e que poderia ser a mulher 34
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver bem-sucedida que queria. Primeiro, iria impressioná-lo com a transformação de sua sala de estar. Com entusiasmo renovado, deslizou em direção à parede com suas amostras de tinta e uma amostra de tecidos dourados. Blake enfiou a cabeça pela porta. — Consegue estar pronta para sair em 30 minutos? Seu olhar foi dos quadris dela para os seios, onde a camiseta ainda carregava os círculos úmidos de sua boca. Um rubor subiu pelo pescoço de Lissa. — Estarei pronta. A resposta finalmente atraiu sua atenção para o rosto dela. — Ótimo — disse ele desaparecendo novamente. Blake voltou satisfeito com a facilidade com que foi capaz de arranjar um advogado. Deanna Mayfield era uma velha amiga de escola que advogava em Mooloolaba. Ela havia se divorciado duas vezes e ficou feliz de ouvir notícias dele. Até reagendou alguns compromissos para atendê-los. Em seguida, marcou com um encanador e um eletricista para virem na parte da tarde, então procurou por lojas de roupas masculinas na área em seu notebook. Manteve sua mente ocupada e, portanto, longe de Lissa e do que havia acontecido na sala. Era sua intenção, porém ele ainda podia sentir o gosto dela, ainda podia sentir o cheiro dela em suas roupas. Havia feito-lhe uma oferta de negócios em um instante e a beijado no seguinte. Só que ele não havia parado em um beijo. Ele estivera tão cego que não havia pensado que ela poderia ser virgem. Quantas virgens de 23 anos existiam? Ela estava se guardando para o homem certo? Ou era porque não havia encontrado um cara com poder e vigor suficiente para acender seu fogo? Ele preferia o último. Ele não era o homem certo de nenhuma mulher e já havia vislumbrado a prova latente em seus olhos. Tamborilou os dedos inquietos sobre a mesa. O problema com virgens era que atribuíam muita emoção ao ato sexual e a última coisa que ele precisava era uma mulher emotiva que esperasse mais. Tinha um pressentimento de que Lissa seria uma mulher que esperaria esse “mais”. Ela era irmã de Jared. Aliás, envolver-se com a irmã de uma amigo era aceitável, mas e se ela fosse virgem? De jeito nenhum. Precisava se lembrar de seu acordo e manter o foco nos objetivos que haviam estabelecido e as mãos longe do corpo dela. Seu corpo vivaz, voluptuoso e virginal. Seu olhar moveu-se para o nu em uma pintura original pré-rafaelita, intitulada “Castidade”, na parede, e ele se perguntou por que seu pai não havia tentado vendê-lo. Tinha que valer alguma coisa. Perturbado pela beleza virginal e sua semelhança com certa ruiva, Blake desviou o olhar para a tela do computador. Talvez ele e Deanna pudessem tomar alguma coisa depois, pelos velhos tempos. 35
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Pensou sobre a loira de 1,80m que havia vencido o concurso de Miss Sunshine aos 17 anos, quando ele era só um garoto desengonçado e deslumbrado de 16 anos. Talvez ele pudesse sugerir que... O quê? O problema, o mistério, era que ele tinha a sensação de que nenhuma mulher iria saciar sua necessidade, a menos que fosse Lissa. Quanto mais cedo elaborasse seus planos de negócio e reparasse o barco, melhor... O grito estridente de Lissa o fez saltar em direção à porta. Lissa olhou estarrecida para o espaço vazio onde o barco estivera momentos antes.
— Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! Havia gritado até suas cordas vocais não aguentarem mais e agora não conseguia elevar a voz acima de um murmúrio. Sentia as pernas bambearem e seus órgãos revirarem. Só podia ser um sonho... Um pesadelo. Ouviu a porta corrediça se abrir e uma série de palavrões sussurrados. Em seguida, os passos pesados de Blake. Ele parou atrás dela, que não se virou. Seus olhos estavam fixos na água rodando e na forma retangular desaparecendo sob a superfície. — Não! — Lissa. Mãos firmes agarraram seus ombros. — Vai ficar tudo bem. Ela assistiu enquanto sua casa afundava e sentiu-se começar a tremer incontrolavelmente. — Vai ficar tudo bem? Vai ficar tudo bem? Meu barco, minha casa, minha vida inteira se foi. E você está me dizendo que está tudo bem? Suas mãos voaram para seu rosto. — Por que não me disse o quão ruim estava? Por que não insistiu para que eu arrumasse tudo na noite passada? Lissa odiava que mandassem nela. Por que então estava culpando outra pessoa por seus erros? — Nós salvamos suas amostras, isso é... — Minhas roupas! — gritou, novamente. — Perdi todas as minhas roupas! Então os dois olharam em silêncio enquanto algo disforme e sem cor erguia-se das profundezas escuras. Dois pequenos montes apareceram na superfície. — Bem, nem tudo — murmurou ele, inclinando-se e recolhendo seu sutiã. — Ah... Cale a boca! Eu odeio você! Lissa arrancou o sutiã da mão de Blake. Não conseguia olhar para ele. Seus olhos estavam ardendo e no fundo ela estava com muito medo de estar desmoronando. Na verdade, sentia-se enojada consigo mesma por essa fraqueza. Por que, de todas as pessoas, tinha que ser esse homem a testemunhar sua derrota? — Ei, eu não deveria ter dito isso. 36
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ele a virou em seus braços e a abraçou firme. — A Lissa que conheço é forte e resistente. Ela vai superar isso. — Como você sabe quem eu sou? Eu era apenas uma criança e não me conhecia. — Ah, mas eu conhecia você. Você era uma criança muito determinada, muito obstinada. — Certo. Ele quis dizer teimosa e mimada. Não estava provado? Era seu dever cuidar do barco de Jared e agora... Mas a sua confiança era rouca em seu ouvido quando ele disse: — A coisa mais importante é que você está a salvo. A salvo? Como ela estava a salvo quando não tinha onde morar? Ela havia deixado ele lhe dizer o que fazer e agora... Agora Lissa havia se metido em uma enrascada. — São apenas coisas, Lissa. Tudo pode ser substituído. — Mas eram as minhas coisas — disse ela, derramando uma única lágrima. — Cada peça de mobília, cada bugiganga. O broche do pássaro azul da felicidade da minha mãe. Podem não significar nada para ninguém, mas significavam algo para mim. Eu trabalhei duro por tudo aquilo, até a última vela perfumada. Sentiu-o respirar fundo, mas ele não a importunou. Em vez disso, Blake a segurou contra si e murmurou ruídos calmantes. — Sabe de uma coisa — disse ele, um momento depois. Eu poderia colocar tudo o que tenho na parte traseira de uma caminhonete e estaria tudo bem. Lissa olhou para cima para ver se ele estava brincando. Como é que uma pessoa poderia amontoar sua vida na parte de trás de um carro? Inacreditável. Não era normal. Ela, então, recostou novamente no peito dele. — Você tem esta mansão. — Verdade. Fechando os olhos úmidos, Lissa desistiu de lutar e se inclinou em seu calor almiscarado. E tudo o que conseguia pensar era que, se Blake não estivesse ali, se não houvesse insistido que ela dormisse na casa, apesar de suas objeções vigorosas, poderia estar no fundo do rio agora. Ele se afastou, ainda segurando os braços de Lissa. — Acho que não vamos precisar do encanador, afinal. Ela abriu os olhos e viu uma mancha escura em sua camisa onde o sutiã encharcado havia ficado preso. Lissa levantou o olhar na direção de Blake e, só por uma vez, permitiu-se o conforto de ter alguém para se apoiar. — O que acontece agora?
CAPÍTULO SEIS 37
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Blake insistiu em fazer as chamadas necessárias e organizou para ter o barco rebocado. Lissa era grata a Blake por sua condução calma e sensível da situação. Deulhe tempo para se reajustar. A maioria de suas obras se foi. Fotos, joias, livros. Ela se sentou na cama e olhou em volta. Também precisava de tempo para absorver o fato de que, enquanto não conseguisse uma renda, aquele seria o seu quarto. Precisava, assim, se recompor e decidir que ainda poderia ser aquela mulher independente que queria ser e não havia nada de errado em aceitar ajuda de vez em quando. Mas tinha que ser a ajuda de Blake? Ela se olhou no espelho da parede do quarto. O desastre do barco havia feito-a esquecer, ao menos por alguns instantes, a emoção do novo acordo comercial... E daquele beijo. Ah, aquele beijo... E muito mais. Concentrou-se em aplicar maquiagem para disfarçar sua aflição. E aceitar a insistência de Blake para que permanecesse em sua casa. — Aqui? Olhava para Blake com os olhos apertados. Sem chance. Não depois daquele beijo e meio. — Você tem algum outro lugar em mente? Ele esperou por uma resposta, mas ela não tinha uma pronta. Retornar a Surfers e encarar Jared com seus fracassos não era uma opção depois da maneira lamentavelmente imatura como ela havia partido há 18 meses. E em uma hora ela estaria assinando documentos e tornando Blake seu parceiro de negócios. Tinha que permanecer em Mooloolaba, ainda que fosse lhe sair caro. Morar com outro homem era algo que havia jurado nunca mais fazer novamente. Viver com Todd foi o momento mais angustiante de sua vida. Não só pela violência física, mas também pelas mentiras e pela degradação. — Do que você tem medo, Lissa? Ela olhou para os belos olhos azuis de Blake. Blake não era Todd, não era nada parecido com Todd, mas ela não confiava mais em si mesma quando se tratava de escolher o homem certo. — Nada. Por que teria medo? Certamente não tenho medo de você — disse ela, quando ele examinou seu rosto mais de perto. Como se soubesse o seu segredo... Ele não podia saber. — Obrigada. Eu aceito. Havia marcado de encontrar Blake na sala antes de sair para seu encontro reagendado com o advogado. Em seus jeans e camiseta desbotada. A camiseta com os dois círculos levemente enrugados sobre o peito. Agora teria que haver uma cláusula adicional com as despesas para substituir seus pertences. 38
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ela desceu as escadas no momento combinado. Blake vestia agora roupas casuais e seus pensamentos se dispersaram. A camisa branca de botão, aberta no pescoço, realçava sua pele bronzeada e acentuava seus ombros largos, as calças justas mostravam suas coxas definidas e... Ela virou seu olhar para a parede, envergonhada por ser pega examinando sua forma masculina. Disse, então, a primeira coisa que veio à mente: — Definitivamente turquesa. E uma pintura moderna aqui que encapsule a essência de Mooloolaba. — Você é a especialista. Seus olhos brilharam Lissa tinha certeza de que Blake sabia o que ela estava realmente pensando, seu corpo quente e tonificado contra o dela. — Vamos resolver a documentação primeiro — disse ele. — Vamos fazer uma visita ao banco e, então, você poderá ir às compras. O que ela poderia dizer? Ela precisava de roupas. — Eu... Eu vou pagar você de volta. Cada centavo. Você pode descontar do meu pagamento quando a sala estiver pronta. — Não se preocupe com isso. Como agora tenho algumas questões a serem resolvidas, me encontre neste endereço mais tarde. Ele lhe entregou um cartão e uma chave. — É um edifício que possuo. Eu ia vendê-lo, mas pode ser um bom local para uma empresa de design de interiores. Talvez você possa dar uma olhada, ter algumas ideias e me dizer o que acha. Não se esqueça de digitar o código de segurança. O painel fica à direita da porta. Ela se animou um pouco. — Obrigada. — E Jared? Ele fez uma pausa. — Suponho que tenham contato enquanto ele está no exterior. Você não deveria avisá-lo sobre o que está acontecendo? Sim, mas ela já havia tido estresse o suficiente por um dia. Além do mais... — Não quero estragar as férias dele. — Ele é seu irmão. Lissa não olhou para Blake enquanto pendurava a bolsa no ombro. O que acontecia entre ela e Jared não era da conta dele. — Vou dar um jeito nisso, certo? À noite. Seria manhã em Milão. Ela ficaria sozinha e ligaria para ele. Talvez em algumas horas não estivesse tão propensa a se dissolver em lágrimas repassando o dia. — O que você quer fazer com seus pertences? Ele parecia estar caminhando descalço sobre vidros quebrados. — Claro que quero salvar o que puder. Mas provavelmente já está arruinado com o sal e a sujeira de rio e Deus sabe mais o quê. Ela mordeu o lábio para abafar o soluço. Quis se atirar nos braços dele e chorar. 39
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver E, talvez, pensou ela, enquanto se movia diretamente para a porta, sem esperar, essa fosse a intenção dele. Deanna Mayfield era exatamente o tipo de mulher que Lissa imaginava que Blake acharia atraente. Na verdade, qualquer homem a acharia atraente. Tão alta quanto ele, cabelo loiro, aparência elegante. Mesmo em seu terno cinza, exalava sensualidade. — Blake! Seu sorriso era como propaganda de creme dental. Ela os conduziu para dentro de seu escritório. — Que surpresa agradável receber sua ligação. Sra. Mayfield e Blake pareciam o pai ideal enquanto falavam sobre um passado do qual Lissa não era parte. Eles haviam sido amantes? Ela não podia deixar de pensar na reputação de bad boy. Sim, pensou, a Sra. Mayfiela definitivamente gostava dos meninos maus. Mesmo quando finalmente começaram a tratar de negócios, estava lá. Aquela... Coisa. Enquanto Lissa se sentou sentindo-se insignificante. — Vamos precisar de uma assinatura aqui. Inclinando-se sobre a mesa, Deanna jogou o cabelo e indicou com um dedo, passando, em seguida, uma caneta para Blake. Ele assinou e devolveu a caneta sorrindo. Céus, ela não podia imaginar com quantas mulheres Blake se envolvera ao longo dos anos, sem dúvida todas tão glamorosas quanto a Miss Sunshine ali. Então Deanna sorriu para Lissa como se repentinamente lembrasse que ela estava lá e entregou-lhe a caneta. — Melissa. Sua vez, querida. Lissa esticou os lábios em um sorriso enquanto pegava a caneta e assinava. Blake a deixou na Sunshine Plaza com seu novo cartão de débito. O acordo era que, assim que terminasse, ela deveria pegar um táxi em direção ao endereço que ele havia lhe dado, e eles se encontrariam às 17h30. A fim de se distrair, Lissa se dirigiu até o shopping. Porém, recusou-se a se empolgar muito, afinal, sabia que precisaria pagar no futuro o que ela comprasse. Atendo-se ao básico, comprou roupas íntimas, produtos de higiene pessoal, roupas casuais, um par de ternos e saias e um casaco creme... E, é claro, vestidinho preto obrigatório. Não pôde resistir a um pequeno frasco de seu perfume preferido e alguns CDs, por razões terapêuticas. Em uma loja de arte, comprou um novo bloco de desenhos e lápis para que, caso chegasse ao local antes de Blake, pudesse manter-se ocupada. Se estivesse ocupada, não pensaria no barco. Lutando contra a dor surda pulsando na parte de trás de seu crânio pelas últimas horas, Blake caminhou em direção à loja. Do outro lado da estrada, viu o sol poente pintar a parte superior do edifício único de laranja. Quando o comprou, havia ficado impressionado com sua localização central, perto de outras empresas e as 40
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver janelas inclinadas na frente. Esquivando-se de um fluxo constante de tráfego lento, comprou uma refeição para viagem, bebidas e talheres em uma caixa de papelão. O interior vazio ainda o impressionava. A extensão reluzente de chão polido fluía como um lago de ouro até as paredes creme de todos os lados. Mas a característica que realmente chamou sua atenção era a fonte principal de iluminação. Duas estruturas metálicas, como rodas, de alguns metros de diâmetro, cravejadas com luzes e suspensas em um ângulo oblíquo em relação à outra. O edifício possuía um teto abobadado de madeira e janelas de forma estranha. Suas vidraças lançavam uma rica paleta de cores, brilhando no trilho de bronze da escada em espiral para um lado, que levava a um mezanino, que, por sua vez, flutuava acima da parte dos fundos do espaço cavernoso. Poderia tê-lo lembrado uma igreja, exceto pelo som de um tocador de CD com a voz inconfundível de Robbie Williams em algum lugar naquelas escadas. Com sua caixa debaixo do braço, ele cruzou o espaço, apreciando o ambiente acolhedor. Haveria local melhor para lançar um negócio de design de interiores? Com os contatos de sua mãe e a óbvia perícia de Lissa, eles não poderiam perder a oportunidade. Mas quando Blake chegou ao topo da escada, parou silenciosamente. Lissa estava dançando com os pés descalços, movendo-se levemente no tempo da música. Um bloco estava aberto no chão ao lado dela. Ela estava desenhando alguma coisa. Não importava, porque ele sequer olhou na direção do bloco. Queria olhar para aquela mulher. Os últimos raios vermelhos atravessavam a única janela do segundo andar acima deles, deixando seus cabelos em chamas, pintando seus membros de ouro e deixando os espaços sombreados roxo-escuro. Ele ficou paralisado na penumbra da escada. Ela vestia uma blusa branca com um decote fundo e um short curto branco, deixando suas pernas nuas. Seus pés se moviam rápidos e leves, como se estivesse dançando no ar. Seus braços se moviam acima dela em um arco gracioso, seu olhar focado em algum ponto a meia distância, seus lábios torcidos um pouco nos cantos, como se deliciando o momento. Era como assistir a um anjo. Será que Lissa teria a mesma expressão se ele estivesse deitado embaixo dela? Será que ela faria amor com aquele olhar focado? Ele balançou a cabeça para clarear os pensamentos luxuriosos. Anjos deveriam ser seres assexuados, puros, não é? E, até onde sabia, eles não faziam amor. Virginais. Mas ele poderia ficar assistindo por uma eternidade, absorto na beleza do momento, e dela, mas se virou e o viu. Aquele momento dourado, então, se foi. Por um segundo ela o observou com aqueles olhos claros arregalados. Então ela piscou como se estivesse saindo de um transe e lentamente baixou os braços. Transpiração umedecia sua pele e sua respiração era forte, chamando a atenção dele para seus seios enquanto eles subiam e desciam. Ele não conseguia desviar o olhar. — Oi. Ele manteve a voz em tom casual, quebrando a tensão. 41
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ela ergueu um ombro tímido e corou. — Oi. Inclinando-se para que seu cabelo cobrisse o rosto, ela fechou o bloco e ele sentiu a fragrância de um perfume exótico que ela não estava usando mais cedo. — Eu encontrei um velho CD player que alguém deixou para trás. Ela foi até ele e abaixou o volume. — Está aí há muito tempo? — Não muito. Não por tempo o bastante. — A dança é minha forma preferida de aliviar o estresse. E chocolate, claro. Ela serviu-se de quatro quadrados da barra ao lado do CD player. — Acho que me empolguei. — Você não divide? — Claro, me desculpe. Ela estendeu barra. — Sirva-se. — Não o chocolate. Ele fez um gesto em direção ao bloco. — Sua arte ou o que quer que estivesse desenhando lá. — Ideias para sua sala. Mas você não poderá vê-las até que eu termine. Com a ponta da língua, ela lambeu uma pequena mancha de chocolate do canto de sua boca. Ele observou, desejando poder provar aquele gosto doce de sua boca. — O que você tem aí? Ele havia se esquecido completamente da caixa. Ele retirou a sacola aromática. — Pensei que pudesse estar com fome, mas vejo que já está bem suprida. Ela balançou a cabeça. — Chocolate não conta. Estou morrendo de fome. E isso, seja o que for, tem um cheiro delicioso. Deixe-me adivinhar. Fechando os olhos, ela inalou lentamente. — Hmm... Comida indiana. — Espero que goste de frango na manteiga. É cheio de calorias e vem com arroz com jasmim e iguarias variadas. — Ah, sim. Passe para cá. Ela estendeu a mão, mas ele ergueu a sacola mais alto. — Ainda não. Ela fez um beicinho, com as mãos nos quadris, mas um vislumbre de um sorriso brotou nas bordas de sua boca. — Ei, que maldade. — Primeiro, responda a uma pergunta. Hoje cedo você disse que me odiava. Isso ainda é verdade? — Eu... Não. O sorriso desapareceu e ela franziu o cenho. — Eu disse isso? Não me lembro. Claro que não odeio você. 42
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Ótimo. Eu também não odeio você. — Mesmo que eu tenha sido uma idiota? — Você n... — Mas eu sou. Sou responsável pela bagunça em que estou e pelos problemas que causei a você. — E agora vamos seguir em frente. — Isso é um alívio, já que acabamos de assinar um acordo para trabalharmos juntos. Mas podemos ter o resto da conversa depois que comermos? Ele se aproximou para sentir melhor o cheiro dela. — Estive pensando em você. — Você quer dizer no beijo. Ela deu de ombros e se virou. Mas ele viu seus dedos tremerem levemente ao colocar o último pedaço de chocolate na boca. — Ah... Aquele beijo — disse ele, devagar, e notou seu rosto corar. Já que você tocou no assunto... — Eu não, foi você. Ela caiu de joelhos e ocupou as mãos empilhando suas compras. — Eu tinha assuntos mais importantes na cabeça, na verdade. — Eu também. — O fato é que você está certa sobre todas as outras coisas que estão acontecendo. Ela colocou os recipientes no tapete e começou a remover as tampas. — Sinto muito se isso incomoda você. Incomodava. Mais do que ela poderia saber. Ele observou como o cabelo ruivo dela descia em um arco, escondendo o rosto de vista. — Vou superar. — Claro que vai, você é muito capaz. O que é mesmo que você faz? Estavam carregados de perguntas que ele não responderia a ninguém. A dor em seus olhos se intensificou. — Eu era mergulhador da Marinha. Como disse, já me demiti. Fim da história. Ela piscou. — Certo... Já que ele não entrou em detalhes, ela olhou para a janela. — Vai escurecer em breve. A iluminação aqui não parece estar funcionando. — Sorte que eu trouxe isto, então — disse ele, puxando uma caixa de velas decorativas. Ele colocou meia dúzia ao longo da balaustrada. — Você pensa em tudo, não é? — É a minha veia prática. Blake lançou um olhar rápido na direção de Lissa enquanto as acendia. Não tinha certeza se a companhia de energia elétrica chegaria aqui a tempo para ligar a eletricidade. Ele se sentou em um canto do tapete do outro lado do banquete e passou a ela alguns talheres de plástico e um prato retirados da caixa. Ela encheu o prato como se 43
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver não comesse uma refeição completa há uma semana. — Então, o que você achou do prédio? — É lindo — disse ela, com a boca cheia de frango. — Absolutamente lindo. Exatamente o que precisamos. Blake tirou a rolha da garrafa de champanhe e serviu. — Decidiu como você deseja arrumá-lo? — Sim. Vou mostrá-lo depois. Ele lhe entregou um copo e levantou o seu. — Um brinde à nossa nova parceria. — Ao sucesso. Ela tocou o copo no dele. A nós, quis dizer, Lissa. Mas, apesar do suave brilho das velas acariciando o rosto dele com dedos de bronze e a canção de amor tocando, aquele não deveria ser um jantar romântico. E ela havia falado do beijo. Com certeza, Blake não estava pensando nisso. Só porque ele disse que havia pensado nela, não queria dizer que era um romântico. Ele provavelmente tinha várias mulheres que estavam há dez anos esperando uma ligação. Naturalmente, ele pensaria nela, o que não era bom. Lissa acabava de perder todos os seus pertences e o barco que Blake dizia ser dele. Ele herdara uma companheira de casa pela qual não havia pedido. E isso não era tudo. Ele não tinha intenção de ser envolvido em um negócio, muito menos um sobre design de interiores. Ele preferia ter seu luxuoso barco a vela. Era de se admirar que ele pensara nela? — Não gostou da bebida? Sua voz a trouxe de volta ao presente. — Sim, é muito boa. Obrigada. E assim que devia ser, pelo preço que ela sabia que era vendido. Francês, também, sempre o seu favorito. Ela tomou um gole. — Então, a Marinha deve pagar muito bem. Ele deu de ombros. — Ganho razoavelmente bem. — Razoavelmente bem? Era evidente que ele não queria falar sobre qualquer aspecto de sua vida profissional e como estavam bebendo um dos mais caros champanhes comemorativos disponíveis. — Moro em alojamento militar, quando não estou no mar. Eu nunca tive uma hipoteca, então invisto meu dinheiro na compra de propriedades, como este edifício. Ele cortou um pedaço de carne, mas não colocou na boca. — Se você está se perguntando se eu sou, na verdade, um traficante internacional, talvez eu devesse contar que minha mãe também me deixou uma herança considerável. Sua expressão não se modificou ao falar sobre a perda de sua mãe. 44
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Lissa se lembrou do acidente de carro que havia tirado a vida de Rochelle Everett e trazido Blake para casa da última vez. Ela era uma socialite famosa por seu trabalho de caridade de Surfers até Sunshine Coast. — Fiquei triste ao ouvir sobre a sua mãe, Blake. Ela fez tanto pela comunidade. Ele olhou para a carne em seu garfo. — É inegável. Blake, então, enfiou-a na boca, mastigou um momento e empurrou com um longo e lento gole de champanhe. Lissa sentiu a parede subir tão rápido, que sua cabeça girou. Impenetrável. Intransponível. O que deixava um homem tão sem vontade de falar de si mesmo? Cada aspecto, cada tópico abordado por ela, toda vez que tentava fazê-lo se abrir, ele a impedia. E não era só dor que ela via em seus olhos, havia amargura também. Ela não conhecera sua mãe, que morreu quando Lissa nasceu. Ela descobriu há alguns anos que era resultado do caso de sua mãe com um artista itinerante. O homem que Lissa tinha conhecido como o pai estava morto. Mas ela não podia imaginar a dor de perder Jared, que havia sido uma mãe e um pai para ela em seus anos de formação, ou Crystal, sua irmã mais velha. Mas a mãe de Blake fora uma boa pessoa, uma mulher carinhosa que havia trabalhado incansavelmente para a caridade e para a comunidade. O que havia de errado com ele? Lissa passou o resto da refeição procurando falar sobre assuntos neutros e seguros, como a família dela. Disse a Blake como Jared havia conhecido Sophie quando ela enviou por e-mail seu diário não tão secreto para ele em seu primeiro dia como sua secretária. Depois, contou histórias divertidas sobre seus sobrinhos. Ele se abriu o suficiente para relembrar seus dias de surfe com seu irmão. Lissa não lhe perguntou sobre seu trabalho ou o que pretendia fazer agora ou novamente sobre sua família. Quando eles terminaram a refeição, Lissa desligou o CD player, empilhou os pratos e Blake embalou tudo novamente. Finalmente sem tópicos de conversação seguros, Lissa esperou que Blake falasse ou preenchesse o vazio com... Nada. Ele olhou para ela por um longo e silencioso momento cheio de tensão, com os olhos refletindo o brilho sedutor das velas. Lissa se encheu de ansiedade, seu pulso se acelerou e sua respiração ficou mais forte. Ela jurou que podia ver as faíscas sexuais dançando entre eles à luz das velas. Mas Blake não a beijou. Ele não foi seduzido ou persuadido por aquelas faíscas. Em vez disso, levantou-se, caminhou até a balaustrada e apagou as velas, restando apenas luz que subia do andar de baixo iluminando-o por trás. Quem realmente é você, Blake Everett? O que deixou você assim? Então ele se abaixou, pegou a caixa e disse: — Acho que é hora de você me contar seus planos para este lugar.
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CAPÍTULO SETE
Blake soltou um suspiro estrangulado enquanto descia as escadas. Uma mulher bonita, champanhe e velas. Ele poderia ter cedido à tentação. Poderia ter arrancado suas roupas e observado seu corpo florescer sob suas mãos. Poderia ter deslizado dentro dela, visto seus olhos se escurecerem de surpresa e então prazer. Mas estava indo embora. Ele balançou a cabeça. Outro homem teria que introduzir Lissa às alegrias do sexo, porque ela era proibida para ele. E a dor em seu crânio estava se intensificando a cada minuto. Ele afastou o desconforto. Nunca permita que alguém testemunhe suas fraquezas. Debaixo dos círculos gêmeos de luz, ele parou para permitir que ela o alcançasse. O prédio vazio ecoava o som dos passos. Um espaço grande oco, esperando para ser preenchido. Como sua vida neste momento. Passou uma das mãos frustrada sobre seu cabelo. O dia havia sido um inferno e ele não ia terminá-lo cometendo um erro ainda maior com Lissa. Um erro que poderia custar-lhes aquela parceria. — Certo, por onde começamos? Blake gostou das ideias de Lissa e fez algumas sugestões. A visão dela para o local era bem elaborada considerando que ela o havia visto apenas uma vez. Ela apontou uma área para o escritório, outro espaço onde os clientes poderiam esperar confortavelmente e folhear catálogos. Áreas para exposição de mobília e amostras de cores, papéis de parede, prateleiras para exibir vidros ou cerâmicas interessantes. Outra, com computadores touchscreen, caso os clientes quisessem jogar. Lissa disse tudo o que havia para dizer. Olhou para Blake esperando a resposta à sua sugestão de pendurar alguns de seus próprios trabalhos artísticos nas paredes, afinal, havia salvado algumas de suas peças favoritas e poderia criar mais. Ele apenas assentiu e ela não conseguiu descobrir o que estava pensando. — Se você concordar, posso ficar em um dos quartos vagos. Assim não atrapalharei você — disse ela. — Sem problemas. Não tenho quaisquer planos para me entreter. Além disso, nunca vi um artista trabalhando. O pensamento de ele a observando a inquietou. — Ah, não sei quanto a isso. Nunca trabalhei em público — disse, com um meio sorriso. Mas quando ela olhou para ele, seu sorriso desapareceu. Seus olhos. Assustadores. Sofridos. Famintos. Um poço de emoções conflitantes por trás daquele olhar cuidadosamente neutro. 46
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Lissa queria ver a dor desaparecer. Ela apoiou as mãos sobre os braços cruzados dele e o encarou. Erguendo-se na ponta dos pés, o puxou pela nuca em sua direção, desejando seu gosto novamente. Sentiu os braços firmemente cruzados se afrouxarem, seu corpo ceder conforme ele se aproximava. Tão perto. O cheiro de sua pele a cercou. E então seus lábios roçaram os dela e seu pulso enlouqueceu. Quanto tempo havia se passado desde que ela fora corajosa o suficiente para dar oportunidade a qualquer tipo de contato sexual, quanto mais iniciá-lo? Ela arrastou os dedos entre os braços dele de modo que pudesse abri-los e confortar-se em seu peito largo... Blake murmurou alguma coisa contra sua boca que parecia algo que um marinheiro diria. Lissa sentiu a rigidez no pescoço dele, resistindo a ela. Afastando-se. Ele descruzou os braços. Não para envolvê-la, mas para deixá-los cair ao seu lado, deixando as mãos dela à deriva, inúteis. — Lissa. Blake olhou para ela, o calor que ela sentia emanando dele reprimido por trás daquele olhar. — Eu telefonei para Jared esta tarde. O quê? — Você ligou para Jared? O sentimento de traição deslizou frio e escorregadio entre suas costelas. Eles não haviam combinado que manteriam aquilo entre eles? Nosso segredinho. — Tínhamos um acordo. — Eu procurei pelo número de Crystal e Ian. Ian se lembrou de mim. Eu... — Não. Ela não conseguia olhar para ele. — Você não tinha o direito. — Errado. Fiz a coisa certa. — Não. O que eu digo ou não para Jared é da minha conta. — Que ele apareceria para uma visita na volta das férias e não encontraria nenhum barco? Nenhuma Lissa? Nenhuma maneira de saber onde você estava? — Ele nunca aparece sem me telefonar. Chama-se comunicação. — Você não estava fazendo um bom trabalho em se comunicar com ele, então, não é? — E você? Você se comunicou comigo antes? — Você estava fazendo compras. — E daí? — Eu não queria ter essa conversa por telefone. — Eu disse que ia falar com ele. — Quando? Ele ama você e você o deixou por fora. Ela sabia. — Isso ainda não lhe dá o direito de passar por cima de mim ou mexer nas 47
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver minhas coisas. O que exatamente ele havia dito a Jared? Será que falaram sobre Lissa como se ela não tivesse voz... Ou cérebro? — Então você falou sobre o seguro expirado também? Sobre o estado de abandono do barco? Disse que era o dono dele? Ela parou sem fôlego. Ele não estava tentando negar suas acusações. Estava esperando que ela terminasse seu pequeno discurso. Calmo. Racionalmente. Apenas uma contração em sua mandíbula o traía. — O barco se foi — disse ele, friamente. — Decidi que não faz sentido lhe dizer que meu pai vendeu duas vezes. Presumo que Jared tenha seguro para cobri-lo. Ele pode tomar suas próprias decisões sobre se deve ou não substituí-lo. — Isso é muito... — Disse a ele o que aconteceu — continuou ele, com a mesma voz calma. — E que você estava sã e salva e comigo. Comigo. Ela apertou os músculos do estômago contra a sensação estranha e disse: — Nada sobre o nosso acordo de negócios? Uma sobrancelha se levantou. — Temos um acordo. Ela assentiu. Sentia-se pequena. Muito pequena. Ele continuou: — Mas não significa que você possa esconder isso por muito tempo. E aquele beijo? Será que ele pretendia manter segredo sobre isso também? Ela certamente não queria pensar nele conversando com Jared sobre isso. Consolou-se em saber que eram amigos... E pensar que ela quis beijá-lo novamente. Só para fazê-lo se sentir melhor. E ele queria beijá-la, era evidente. Porém, no último segundo, ele de repente lembrou que havia telefonado para Jared? Blake sabia que ela reagiria a isso. Era quase como se ele estivesse procurando uma razão, qualquer razão, para não ceder à tensão sexual entre eles. Lissa esfregou os braços para afastar um súbito arrepio. Devia estar aliviada por ele colocar um fim nisso. Afinal de contas, havia dito há apenas algumas horas que estavam indo rápido demais. — Certo. Mas gostaria que houvesse me dito antes de falar com ele. Pretendia telefonar para ele esta noite. — Você ainda pode. Ele se afastou, cortando a conversa. — Já é tarde. Onde estão seus equipamentos? Ficaram em silêncio enquanto empilhavam tudo em seu utilitário alugado e faziam a curta viagem para casa. Quando ele estacionou no meio-fio do lado de fora da casa, ela olhou para a frente. 48
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Mudei de ideia — murmurou ela. — Acho que odeio você, afinal. — Vou aceitar isso como um desvio de percurso. Eles descarregaram o carro, evitando um ao outro. — Espere. Como Blake não parou, ela correu, plantou-se na frente dele e esperou até que ele olhasse para baixo. — Se você não quer me beijar, não precisa inventar uma desculpa para me afastar. Já sou grandinha, posso suportar. Ele ficou imóvel por alguns instantes. — Tenha muito cuidado com o que me disser agora, Lissa. Sua advertência rouca soou mais como uma promessa do que uma ameaça. Mas sua expressão indiferente a enervou. Será que ele tinha que ser tão... lobo solitário? Ficou com vontade de sacudi-lo até obter uma reação. Qualquer reação. Queria entender os demônios que havia visto em seus olhos em um momento de descuido. Ela queria entender o porquê. Ela pressionou mais. — Posso lidar com a rejeição, posso lidar com decepções. Eu posso lidar com v... Ela parou com o olhar implacável dele, percebendo que havia deixado a boca passar por cima de seus pensamentos e deu um passo para trás, afastando-se da intensidade que a golpeou. Suas narinas se dilataram, sua mandíbula se contraiu e algo brilhou nas profundezas dos olhos dele. Ele deu um passo à frente, assomando-se sobre ela. Agora ela via manchas douradas entre o azul em seu olhar. Vivo como uma chama. Bruto e intenso e primitivo. Instintivamente, ela deu outro passo para trás. — Você acha que pode lidar comigo? Suas mãos dispararam e seus dedos se enroscaram em torno de seus braços, levando-a para trás até que suas costas ficassem contra a parede. Seu olhar implacável se manteve nela. Ele a puxou e a beijou. Forte. Sem tempo para reagir conforme seu corpo se flexionava contra o dela, implacável, enquanto suas mãos agarravam firmemente o cabelo dela. Então, antes que Lissa percebesse, Blake levantou a cabeça para murmurar contra seus lábios chocados. — Você não está pronta para o que eu gostaria de fazer com você. As imagens que suas palavras ríspidas invocaram a arrepiaram. Pulsava forte entre suas pernas. Ele desembaraçou as mãos do seu cabelo e recuou. Sem o apoio de seu corpo, ela caiu contra a parede, atordoada e tonta. Ela sabia que seus olhos estavam arregalados demais, a respiração agitada demais, seus membros trêmulos demais. Havia estragado tudo. Sentiu-o se distanciar enquanto a olhava com os olhos semicerrados. — E o que seria isso que você gostaria de fazer? Seu pomo de Adão balançou, as mãos fechadas ao seu lado, e ela podia jurar que 49
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver o ar vibrava com imagens compartilhadas... Blake empurrando suas costas contra a parede, rasgando suas roupas com dedos impacientes, até que ela ficasse nua e tremendo de desejo. Usando as mãos, boca e língua para lhe dar prazer a cada centímetro de carne trêmula... — Isso seria um erro. Ela lambeu os lábios. — Como você sabe? Ele balançou a cabeça, mas ela podia ver que havia achado uma fenda em sua compostura. — Sugiro que suba e durma um pouco. Ficando de costas, ele se afastou. — A noite é uma criança — disse enquanto ele se retirava. Observou-o caminhar até sua caverna a passos largos e rápidos. — Acho que vou àquela festa, afinal — disse alto o bastante para que Blake pudesse ouvir enquanto abria a porta. Ela hesitou antes de fechá-la com um clique firme. Lissa suspirou, um coquetel estranho de frustração e satisfação fervendo por ela. Não tinha a intenção de ir a lugar algum, mas ele não precisava saber disso. Ela o afetou. Sacudiu sua jaula. Acordou o homem primitivo sob o exterior civilizado. Um tremor de excitação desceu por sua espinha. Ela estava realmente pronta para isso? Mas ela não era a única com algo a temer, algo a esconder. E o que pararia um homem como Blake de agir sobre sua atração óbvia? Seu próprio código de honra. Sua integridade. Havia visto mais de uma vez. Seus dedos se fechando. Aquele homem claramente não se permitia emoções. Nunca. Ela nunca entendeu como ele e Jared se davam tão bem. Antigamente ela era jovem demais para questionar. Havia dor demais, recente e bruta, em seus olhos sombreados. E ele estava sozinho ali sem nenhum apoio. Ela não conseguia entender como alguém lidava com isso. Alguém tocava gaita. Blake apertou as mãos contra os olhos enquanto o som familiar da infância flutuava através da janela aberta. Inclinando a cadeira para trás o máximo que podia, deitou-se na escuridão do escritório enquanto um monte de martelos golpeavam a parte traseira de seu crânio. A náusea ainda era forte. Lissa havia ido à festa? Provavelmente, depois daquela cena na parede. Ele tinha que se livrar dela. Era isso ou perder seu orgulho. Jogar-se aos pés de uma mulher jamais cairia bem. A música mudou para uma balada country que ele se lembrava de ouvir quando criança. Era uma antiga distração. Blake aprendera sozinho a tocar gaita enquanto esperava, também sozinho, sua mãe voltar de uma de suas reuniões intermináveis. Um lar adotivo teria oferecido mais. A menção de Lissa a ela essa noite havia revivido as 50
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver memórias e lhe lembrado por que ele não permitia que as emoções tumultuassem sua vida. Seu pai não havia sido melhor no jogo da paternidade. Previsivelmente ele havia cansado do casamento e vivido uma vida à parte sob o mesmo teto. Mas, por algum milagre, eles haviam concebido Blake. Quanta ironia! Ele aprendeu desde cedo a não depender, emocionalmente ou não, dos outros. Janine havia reforçado aquela aprendizagem no final de sua adolescência. Amor é igual a vulnerabilidade. Mulheres buscando mais do que encontros casuais logo descobriam que ele não era esse tipo de cara. Enquanto estavam em sintonia, ficava feliz em entrar em qualquer jogo que quisessem jogar, mas, no momento em que tivesse um vislumbre daquelas estrelas em seus olhos, ele pulava fora. E agora havia Lissa. Muito jovem muito inexperiente e muito delicada. Ele percebeu o brilho de medo verdadeiro em seus olhos quando ele a jogou contra a parede e sentiu-se culpado. A faixa de areia dourada estava repleta de conchas, troncos e folhas de palmeiras mortas, onde a floresta encontrava o mar. O martelar pesado na parte de trás de seu crânio era o som de tiros e de suas botas na areia compacta. Blake olhou por cima do ombro. Torque agachado na areia congelado. Blake esquivando de balas. Arrastando-o pela praia. Torque gritando ao cair, deixando-o sem equilíbrio. Ele caindo sobre as rochas... — Blake. Blake, acorde. Ele acordou como um mergulhador em pânico sem oxigênio. A voz de Lissa, seu tom calmo, mas firme. Uma onda de alívio inundou-o quando seus olhos se abriram. A luz fantasmagórica da TV muda iluminava a sala de estar. Ele estava no sofá e ela, empoleirada no descanso de braço, observando-o com preocupação naqueles belos olhos. Lembrou-se de ir até ali, incapaz de dormir no escritório. O alívio logo se transformou em uma tempestade de humilhação, e ele começou a se levantar. Há quanto tempo ela o observava? — Você está bem? Seus dedos leves e frios sobre sua testa tanto acalmavam quanto envergonhavam. Uma sangrenta reprise da noite anterior. Ele afastou o braço dela. — Sim Sua boca estava seca. Ele não sabia se era o resultado de ser pego cochilando ou a visão dela naquela minúscula camisola branca. Podia ver o contorno de seus mamilos contra o tecido fino. Fechou os olhos e imaginou voltar a mergulhar no oceano escuro e frio. — Você ainda está com dor? Seus olhos se abriram de novo. Ela estava olhando para o seu pacote de analgésicos na mesa de centro. 51
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Não. — Não é o tipo de dor a que você está se referindo. — Estou bem. — Você não parece bem. Blake xingou silenciosamente. Será que ele havia gritado? Ignorando a tontura residual, ele se sentou. — Como foi a festa? Não ouvi você entrando. Não havia percebido como se sentia quanto a ela se divertir até que ouviu o tom sarcástico em sua própria voz. — Se você não foi, nunca vai saber. Ela lhe passou um copo de água. — Parece que você precisa disso mais do que eu. Ele bebeu metade e devolveu o copo para ela. — Obrigado. Obviamente sem a menor pressa de subir, Lissa tomou um gole de água. — Algo horrível aconteceu para trazê-lo de volta a Oz depois de todo esse tempo. Fiquei me perguntando o quê. Nesse momento ele se perguntava a mesma coisa sobre a sua escolha de local para se recuperar. Blake poderia ter ido a Acapulco ou ao Havaí e encontrado algumas garotas locais para ajudá-lo a se recuperar. Mas por alguma razão ainda misteriosa ele decidiu voltar para a Austrália. Coisas ruins aconteceram, mas ele não queria falar. Não com a garota festeira que via o mundo através de um prisma do arco-íris. Que diabos ela poderia saber sobre a vida real? Como poderia entender o que ele fez ou por que fez? Também não queria que ela soubesse. Queria protegê-la de tudo aquilo. No entanto, ele nunca havia tido alguém como Lissa interessado o suficiente em sua vida para perguntar. Talvez porque ele nunca esteve junto de uma mulher por tempo o bastante. Uma estranha sensação de calor se estabeleceu em algum lugar na região de seu coração. — Não vou fingir que não ouvi você dormindo. Estresse pós-traumático não é algo para se envergonhar. Talvez eu possa ajudar. — Estresse pós-traumático? Uma risada áspera saiu de sua garganta. — Você não sabe do que está falando. Tenho uma enxaqueca ocasional e daí? Levantou-se do sofá e se dirigiu para as escadas. — Talvez você devesse deixar que outros cuidem de você para variar — disse ela atrás dele. Ele alcançou o primeiro degrau. — Com você por perto, por que precisaria?
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CAPÍTULO OITO
Lissa mal parou para respirar os aromas tropicais do jardim da frente ao sair. A manhã quente de Mooloolaba a envolvia, mas ela mal notou. Um turbilhão de pensamentos atravessava sua cabeça... Porém ela havia refletido bastante sobre seus pesadelos. Mas, até que Blake estivesse disposto a falar, o que Lissa poderia fazer? Ela balançou a cabeça. E ele lhe dizia que era teimosa. Por hora a sala de Blake era prioridade. Tinha que selecionar os móveis, definir a decoração, escolher a pintura... — Lissa. Ela ouviu seu nome ser chamado e viu Blake entrando pela porta da frente. Nenhum sinal dos terrores da noite anterior naqueles olhos azuis. Sua mente se esvaziou ao vê-lo correr pelo gramado na direção dela. A pele bronzeada de seus braços brilhava com o suor, sua camiseta azulmarinho estava escura e úmida. Shorts curtos revelavam musculosas coxas bronzeadas. Ela esqueceu que estava em uma missão. Esqueceu-se de que não tinha tempo a perder com distrações. Mesmo que a distração fosse Blake Everett, com seu cheiro almiscarado flutuando em sua direção. Parecia algum tipo de divindade. — Espere, eu vou com você. — Não há tempo — disse ela. Lissa não o queria por perto, lembrando-a de qualquer prazer e distraindo-a do que ela precisava comprar. Digitou no controle remoto para abrir o portão, abriu seu carro e jogou a bolsa no banco do passageiro. — Tem certeza que é só isso? — O que mais poderia... — Blake? Lissa se virou com a interrupção, vendo Gilda, a vizinha, deslizando através da porta da frente. — Blake? — chamou ela, novamente. — É você! — Gilda Matilda! Seu rosto se abriu em um sorriso largo e descontraído, algo que não havia concedido a Lissa, que notou com uma sensação estranha no estômago quando ele mudou de direção e correu até a mulher. Blake se inclinou e deu um beijo em sua bochecha. — Vejo que ainda está morando aqui. — Sim. E já estava na hora de você voltar para casa, seu marinheiro perdido. A mulher devolveu o beijo e lhe deu um abraço sincero. Ela se virou e sorriu 53
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver para Lissa. — Olá, Lissa. Como você está? Não sabia que vocês se conheciam. — Oi, Gilda. Sim, nós nos conhecemos em Surfers. Foi há muito tempo. Ela olhou para Blake e viu algo cintilar em seu olhar antes de ele voltar sua atenção para a vizinha. Lissa foi na direção deles. Queria ver sua interação e ver se era apenas dela que Blake escondia os detalhes de sua vida. Gilda sorriu para ele. — Bem, quais atividades extraordinárias que você tem feito esse tempo todo? — Eu posso ver o que você andou fazendo. Nitidamente desviando a atenção de si mesmo. Novamente. Ele olhou para a barriga suavemente arredondada da mulher. — Parabéns. — É um milagre. Quinze anos tentando e agora estou de seis meses. Ainda não consigo acreditar. — Você esperou um longo tempo, Gil. Aproveite. — Ah, estou aproveitando. Cada minuto. Estou preparando o quarto. É uma menina e eu não consigo escolher entre o tradicional rosa ou algo completamente inesperado. De qualquer forma, tem que ser algo espetacular. — Talvez sua vizinha possa ajudá-la. Lissa é designer de interiores e, acredite, você vai querer ver suas ideias. Ele lançou um sorriso conspiratório para Lissa. Ela está trabalhando na minha sala no momento, mas tenho certeza de que ela vai encontrar tempo para encaixar você em sua agenda. — Sério? Os olhos de Gilda se iluminaram — Eu não fazia ideia, Lissa. Que oportuna surpresa. E eu adoraria sua opinião. Lissa lançou um olhar agradecido a Blake. Que oportunidade melhor do que a chance de impressionar aquela rica socialite com sua perícia? — Ficaria feliz em lhe dar algumas opções a considerar, Gilda. Será que esta tarde seria um momento conveniente para que eu desse uma olhada no quarto? — Ah, seria maravilhoso. Que tal às 14h? — Está ótimo. Gilda fez uma pausa, correndo os olhos entre ambos. — Vocês vão fazer alguma coisa amanhã à noite? Vou dar uma pequena festa e adoraria se vocês pudessem vir. — Ficaríamos encantados — respondeu Blake por ambos. — Podemos levar algo? — ofereceu Lissa, e imediatamente desejou ter ficado calada. Gilda não faria jantares simples que precisassem da colaboração dos outros. — Apenas suas carteiras — disse ela com um sorriso. — É uma festa beneficente para crianças portadoras de câncer. Então é gravata dourada para você, Blake, e um vestido dourado, Lissa. Obviamente Gilda presumia que todo mundo tinha um vestido dourado pendurado no armário. Suas amigas da alta sociedade provavelmente tinham. Lissa 54
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver queria ir. Era uma ótima oportunidade, mas quem olharia para ela em um vestidinho preto sem grife? Mas Blake... Ele não era do tipo festeiro. Ele aceitou porque sabia que era a chance de ela fazer alguns contatos. — Sobre amanhã à noite... — começou ela, quando deram adeus a Gilda e caminharam em direção ao carro. — Eu... — Suspeito que este tipo de festa não seja exatamente o seu lugar, mas... — Não era isso que eu ia dizer. Na porta do carro, ela se virou para olhar para Blake. — Se você achar melhor não ir, posso ir sozinha. Ele a encarou. — Sem chance. Agora entre. Você tem compras a fazer. Lissa queria agradecer-lhe, mas ela sabia que iria deixá-lo desconfortável. — Por que não podia ser um simples jantar formal? — lamentou ela, entrando no carro. — Não tenho um vestido adequado e estou tão ocupada hoje. Ela enfiou a chave na ignição. — Tenho um compromisso em meia hora. Vou ver uns móveis de escritório. — Não faz muito sentido pensar em equipar a loja, se não tem clientes. Você tem dois dias, tempo suficiente para procurar vestidos. — E a sua sala? É uma prioridade. — Você pode fazer as duas coisas. Tenho total confiança em você. — Dourado, pelo amor de Deus. Onde vou encontrar um vestido dourado? Na verdade, onde encontraria um que não custasse uma fortuna? — Você é mulher, vai encontrar um. Use a conta nova. Nós vamos colocá-lo como uma despesa de negócios. — Podemos fazer isso? Ele balançou a cabeça. — Deixe as finanças por minha conta, por enquanto, Lissa. E veja se você consegue encontrar uma gravata dourada também — disse ele, e fechou a porta. Lissa estacionou na garagem faltando dois minutos para as 14h. Deixando seu material no carro, correu para dentro. Como não encontrou Blake, pegou seu portfólio e correu para a casa de Gilda. — Olá de novo, Lissa. Que bom você ter vindo. Gilda segurou a porta aberta. — Estou muito ansiosa para ouvir suas ideias. Lissa sorriu. — Fico feliz em ajudar. Gilda guiou Lissa através da espaçosa sala de estar com vista para a piscina. Cada superfície do mobiliário polido até os pisos de mármore e acessórios de ouro brilhavam. Vasos de flores enchiam o ar com uma fragrância fresca. Um serviço de limpeza estava em plena atividade no pátio. 55
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Preparativos para amanhã à noite — explicou Gilda, indicando um assento em um sofá estofado de seda. — Estou surpresa que você tenha tempo, mesmo grávida. —Ter um serviço de limpeza, sem dúvida, ajudava. Ela colocou seu portfólio sobre a mesa de centro. — Antes de começarmos, gostaria de dar a minha contribuição, doando parte dos meus serviços para a reforma do berçário. — É um gesto a se pensar, Lissa. Você tem certeza? — Claro. — Muito obrigada! Você é muito generosa. Café? — Sim, por favor. — É ótimo ver Blake de volta em casa depois de tanto tempo. Vocês dois parecem próximos. Ela não devia ter perguntado. Estava ali apenas a trabalho. — Sim. Nós somos. Gilda observou Lissa com uma compreensão feminina em seus olhos enquanto servia-se de um copo de suco. — Você provavelmente não sabe, porque Blake não é o tipo de homem que fala. Mas ele salvou a minha vida. — Sério? O que aconteceu? — Blake estava vivendo no barco na época. Eu escorreguei na borda da piscina, quebrei a perna e caí lá dentro. Era o dia de folga da governanta. Se ele não ouvisse os meus chamados e viesse me socorrer, eu teria me afogado. — Ah, meu Deus. Você teve sorte. — Com certeza. Poderia ter parado por aí, mas não. Ele me ajudou durante os dois meses que fiquei de muletas em casa. A governanta vinha diariamente, é claro, e eu tive uma enfermeira por um tempo, mas Blake me fez companhia. Ambos éramos ávidos jogadores de xadrez e adorávamos ver filmes de aventura para passar o tempo, mas, mais do que isso, éramos dois solitários. Stefan estava viajando a negócios por semanas na época e o pai de Blake... E sua mãe estava ocupada demais para perceber. A boca de Gilda se apertou como se houvesse mordido algo azedo. — Por mais que eu respeitasse o trabalho de caridade de Rochelle, não entendia a forma como ela negligenciava seu único filho. Lá estava Rochelle com um filho que nunca se dispôs a conhecer e eu teria dado qualquer coisa por um bebê, mas eu não conseguia engravidar. Blake havia sido um filho negligenciado? Não era à toa que ele se fechara quando ela elogiou o trabalho de caridade incansável de sua mãe. No entanto, ele nunca falou mal da mãe. E Lissa com um irmão que havia aberto mão de sua adolescência para lhe dar um lar amoroso, para mantê-la segura. Blake não teve essa segurança, nem, obviamente, havia conhecido a sensação de ser amado enquanto crescia. — Então, lá estávamos nós — continuou Gilda. Um par de estranhos para o resto do mundo. Mas existia honestidade e eu 56
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver gosto de pensar que havia uma relação de confiança entre nós, apesar da diferença de idade. Stefan o estima muito. Lissa sentiu uma pontada estranha em torno de seu coração. Parecia que ele não era uma ilha. Blake confiava em alguém, afinal. Só que não em Lissa. E por que deveria? Da última vez que a havia visto, Lissa tinha 13 anos. E na verdade, qual era o sentido? Ele partiria em breve. — Então ele foi para a Marinha. — Foi uma decisão repentina? — Ele falava sobre isso frequentemente, mas, no final, sim, foi. Gilda observou Lissa sobre os óculos e ambos sabiam o que não estava sendo dito. — Pode ter certeza que se ele houvesse cometido algum erro, teria ficado para corrigi-lo. Lissa olhou para seu copo. Talvez ele tenha ficado. Alguns dias, uma viagem rápida a uma clínica particular, problema resolvido. Mas ela sabia que não podia ser verdade. Lissa havia aprendido muito sobre Blake nos últimos dois dias. Não estava na natureza dele fugir de seus problemas. — É claro que teria. Ela não estava ali para uma aula de história e ela não ia falar com Gilda sobre seu relacionamento com Blake. Isso seria pouco profissional. Ela pegou, então, o portfólio. — Por que não dá uma olhada? Depois você pode me mostrar o berçário e podemos começar a colocar as coisas em andamento. Quando Blake chegou à casa no início da noite, encontrou Lissa sentada no chão da sala de estar, com as pernas cruzadas e rodeada por um labirinto de esboços, desenhos e notas rabiscadas. Ela olhou para cima quando ele se aproximou, percebendo suas pernas cobertas de areia. — Oi. Vejo que foi à praia. — Pensei em dar uma olhada nas ondas... Ventou bem hoje. Blake se sentou diante dela, apoiado na parede, colocando sua toalha úmida e duas caixas no chão. Agora que havia decidido que Lissa era proibida, concentrou-se em pensar nela como amiga, uma parceira de negócios. Mais fácil dizer do que fazer quando o seu perfume encheu-lhe as narinas e os olhos pareciam não conseguir se concentrar em nada além de seus joelhos bronzeados. — Como foi com Gilda? — Muito bem. Seus olhos brilhavam com entusiasmo. Escolheu o tema de conto de fadas. Tons pastel. Eu vi esse berço lindo em forma de abóbora hoje... Mal posso esperar para começar. — Se quiser adiar esta sala... — Posso cuidar dos dois. Você disse isso e é uma boa prática. Eu já marquei os pintores para a próxima semana e o mobiliário já foi encomendado. 57
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de...
Pela primeira vez desde que havia voltado, ele deu uma boa olhada na sala. — Mal posso esperar para ver isso tudo transformado. Sempre me faz lembrar
Ela olhou para cima. — O quê? — perguntou em voz baixa. — Meu pai costumava organizar sua jogatina de poker aqui, normalmente durante quatro noites por semana. Lembro-me da primeira noite em que vim morar com ele. Eu tinha 14 anos e minha mãe havia ido para o exterior. Ele encostou a cabeça contra a parede. Ele havia se esquecido de me buscar no ponto de ônibus, então eu andei. Com a minha bagagem Ele fechou os olhos, sentiu a velha garra de tensão na base do crânio. — Continue — insistiu ela. Sua voz era suave e estranhamente relaxante. — O lugar estava um lixo. Garrafas de cerveja, caixas de pizza, cinzas de cigarro... Pensei que depois que seus amigos fossem embora, ele limparia, mas não. Ainda estava lá uma semana depois. O resto da casa estava tão ruim quanto. No final, eu não aguentei e perguntei se eu poderia viver no barco. Ele ficou mais do que feliz com o acordo. Tive que aprender a cozinhar, mas pelo menos eu podia estudar em paz... Um longo silêncio se seguiu. — Nunca conheci meu pai — disse Lissa. Ele abriu os olhos. — O quê? — Aquele homem que conheceu não era meu pai. Meu pai biológico, na verdade, foi um homem que apenas esteve de passagem pela cidade um verão e com quem minha mãe se envolveu. Eu devia parecer com ele, porque meu pai me odiava. Eu era um lembrete da infidelidade da minha mãe. Ela sorriu de repente. Ele sorriu de volta, sentindo como se uma carga houvesse sido retirada de seus ombros. Sentindo algo como companheirismo. Ele nunca falou com ninguém sobre suas angústias. De alguma forma, Lissa o havia feito falar. Sentiu-se bem. Livre. Conectado. — Que tal comermos uma pizza? Vi uma banda em um café ao ar livre na rua da praia. Ah, espere. Ele pegou as caixas e as colocou na frente dela. — Primeiro... Lissa pegou a maior. — O que é isso? Ele não respondeu e ela, então, abriu as abas. Sua caixa de joias estava em cima de tudo. — Ah... Com os olhos cheios de lágrimas, ela puxou-a para fora e abriu- a. Ainda estava úmida, mas ela levantou o broche de passarinho. — Isso era da minha mãe. Você resgatou as minhas coisas. 58
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ela mal conseguia vê-lo através das lágrimas. — Removi o barco ontem enquanto você estava fazendo compras. Não peguei tudo, a maioria estava em péssimas condições, mas as coisas na caixa eram recuperáveis. E o que eu achei que você ia gostar. Ela passou as mãos sobre uma tigela de porcelana branca com golfinhos azuis na borda. Havia sido um presente de Crystal. — Muito obrigada. Ela abriu a outra caixa. Estava cheia de lingeries novas, todas de cores diferentes e extremamente sensuais. Lissa vasculhou os sutiãs e calcinhas de seda, suas bochechas ficando quentes. Ela achou duas camisolas. Uma azul esverdeada e outra dourada. — Percebi que você não comprou coisas o suficiente ontem — disse ele, sua voz estranhamente rouca. O calor se intensificou. — Como você sabia o meu tamanho? — Dei uma olhada nas que você comprou. — São lindos. Ela mordeu o lábio. — Eu não sei o que dizer. — Seu sorriso é o suficiente. Ele estendeu a mão. — Você devia sorrir mais vezes. Por um breve momento o olhar se tornou quase reverente. E ela sentiu seu coração derreter. Então ele se levantou, como se desconfortável com o momento. — Vamos comer.
CAPÍTULO NOVE
Ao menos por essa noite, compartilhar uma pizza e um desfrutar da companhia do outro enquanto as ondas batiam na praia era o suficiente. E, para Lissa, ver Blake finalmente relaxar enquanto ouviam o quarteto de jazz. Lissa teve tempo para pensar sobre o que Blake havia lhe contado acerca de seu pai. Não era à toa que ele estava obcecado com ordem e arrumação, de modo que resolveu fazer um esforço extra enquanto estivesse hospedada em sua casa. Quando a banda terminou, eles voltaram para casa e seguiram caminhos separados para a cama. Lissa passou o dia seguinte trabalhando na sala de estar e fazendo planos para o quarto de Gilda. Blake se ofereceu para estar na loja pela manhã para receber o 59
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver material de escritório que ela havia encomendado. Ele recusou sua sugestão de acompanhá-la nas compras à tarde e foi surfar. O último item em sua lista era o que vestir para a festa de Gilda. Ele deveria ter insistido em ir às compras com ela, decidiu Blake naquela noite enquanto estava na parte inferior da escada olhando para cima. Ele resistiu à tentação de afrouxar a gravata borboleta que ameaçava estrangulá-lo enquanto olhava para a mulher descendo as escadas. De jeito nenhum ele teria concordado com o vestido colado dourado e suas fileiras de moedas brilhantes que tilintavam e piscavam na luz conforme ela se movia. Não possuía alças e cobria muito pouco daquelas coxas bronzeadas nas quais ele havia pensado constantemente desde aquela primeira noite no barco. Ele franziu o cenho. Agora ela estava se aproximando, ele pôde ver que aquelas coxas pareciam estar polvilhadas com algo parecido com glitter. Ela havia enfiado fitas douradas no cabelo e o amontoado em cima de sua cabeça e ele notou que seus ombros brilhavam como suas coxas. Saltos com tiras douradas completavam o visual. Um calor desconfortável explodiu em chamas abaixo da superfície de sua pele e se espalhou por todo o corpo, como uma erupção cutânea. Como é que ele ia passar a noite sem pensar em que outros tesouros inestimáveis ela havia escondido debaixo daquele pedaço de tecido? — O que achou? — disse ela, chegando ao pé da escada. — É... Certamente chamativo. — Essa é a ideia. Ela dançou como uma dançarina do ventre e tudo brilhou. — Nada mal para alguns momentos de trabalho e algumas costuras rápidas, não é? Costuras rápidas? Ele engoliu em seco. Aquilo era preso por alguns fios? — Você... fez sozinha? — Não vou gastar dinheiro quando não preciso. E não, ele não vai se soltar. Pelo menos eu espero que não. Por Deus, ele também! — Mas em todo caso... Ela mostrou uma série de pequenos alfinetes de ouro escondidos discretamente. Música, vozes e um tilintar de riso feminino vinham da porta ao lado. — Ainda assim, acredito que não vá ser notada entre as socialites. Pelo que se lembrava desses eventos de caridade, a maioria dos participantes tinha geralmente mais de 50 anos. Ela, portanto, causaria um ataque cardíaco em algum velhote. — Belo visual. Ela deslizou o olhar sobre seu terno escuro de forma demasiadamente lenta para seu conforto. — Você costuma usar muito esses trajes na Marinha? Muitas cerimônias 60
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver militares para participar, almirantes para saudar? Esposas e filhas para encantar? Mas é claro... — continuou ela, antes que ele pudesse dizer alguma coisa. Ela balançou a cabeça e uma mecha de cabelo ruivo caiu ao lado de sua orelha — ... que você usaria um daqueles lindos uniformes de gala da Marinha, não é? Todo branco com botões dourados. Se eles não fossem logo, ele ia ter de estender a mão e colocar aquela mecha atrás da orelha dela... E então eles teriam graves problemas. Ele se virou, em direção à porta. — Vamos? Lissa tentou não parecer impressionada, mas a magnífica mansão de Gilda e Stefan havia sido transformada em um paraíso grego. Lanternas multicoloridas pendiam em cima de suas cabeças, enquanto convidados bem vestidos se banqueteavam em uma infinidade de delícias e bebiam champanhe. As portas do pátio foram escancaradas e, no interior, orquídeas brotavam de vasos de borda dourada colocados em mogno polido ornamentado ou pedestais de mármore, seus aromas exóticos se misturavam com perfume francês caro. Em algum lugar um cantor de blues acompanhava um clarinete, cantando sedutoras canções da Segunda Guerra Mundial. Ela não teve tempo de absorver tudo porque assim que eles chegaram, foram entregues bebidas e Lissa foi levada por sua anfitriã para conhecer um trio de mulheres que havia conhecido a mãe de Blake, todas ricas matronas de meia-idade encharcadas de diamantes. Blake ainda estava olhando para ela quando se virou. Ele ergueu a taça. Aproveite a noite, parecia dizer. Eu pretendo. Pelo canto do olho, viu o porquê: alta, loira e com seios volumosos vindo em sua direção. Então, lá estava Lissa, ouvindo tudo sobre o mais recente desastre fashion de Muriel “qualquer coisa” enquanto esperava por uma brecha na conversa para falar sobre o seu negócio, o negócio deles, enquanto ele... Fazia o que quer que ele estivesse fazendo. — Ah, e você ouviu que os padeiros de Surfers ouviram que o filho de Rochelle vinha e cancelaram no último minuto? Lissa apurou os ouvidos. Mas, com olhares afiados de seus amigos, a mulher que dera a notícia encontrou um súbito interesse no fundo de sua taça de cristal. — Opa. Sinto muito. As palavras, obviamente destinadas a Lissa e ditas com uma diversão maliciosa, a surpreenderam. Em seguida, a encheram de raiva. Era Blake quem estavam difamando. Quem arriscou sua vida por 14 anos e sofreu incontáveis horrores para manter seu país seguro. Um homem que tinha descoberto ser muito mais do que ela jamais havia imaginado. E ela confiava nele. A percepção repentina a surpreendeu. Nunca imaginara que fosse possível se sentir assim por um homem novamente. Armada com esse conhecimento, ela tomou um 61
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver gole de seu copo antes de aproveitar a oportunidade para perguntar: — Você está falando de Janine? Houve um sobressalto. — Ela era sua amiga? — Não. Ela olhou nos olhos da outra mulher. — Mas Blake é. Mais trocas de olhares. Uma conspiração de silêncio, um momento constrangedor. — Eu odeio insinuações e fofocas, vocês não odeiam? Ela inclinou a taça de champanhe para as mulheres, olhando para cada uma de uma vez. Especialmente quando todos nós sabemos que são baseadas em mentiras e boatos e espalhadas por ignorância. Por alguns segundos tensos não houve um murmúrio. Não houve sequer um lampejo de movimento vindo de qualquer uma delas. Era como se houvessem sido transformadas em pedra. Então, a mais velha das três sorriu lentamente. — Bem dito, minha querida. Gosto de uma garota que não tem medo de defender o que pensa. Olhando Lissa de cima a baixo, ela balançou a cabeça em aprovação. — Meu nome é Jocelyn. Rochelle Everett era uma das minhas amigas mais próximos. Então diga-nos como conheceu Blake e depois nós adoraríamos saber tudo sobre seu novo negócio. Não é, senhoras? Lissa se misturou com a multidão, sentindo-se extremamente satisfeita. Jocelyn tinha lhe dado um cartão e dito para marcarem um encontro para planejar a renovação de sua cozinha. Na hora seguinte, ela marcou dois outros encontros com clientes potenciais. Finalmente, saindo do ambiente confinado, ela foi até o pátio, onde estavam os mais jovens. Algumas mulheres de biquíni dourado brincavam e riam na piscina. E como qualquer outro homem não comprometido, onde mais estaria Blake que não assistindo a tudo do convés? Lançando sua grande bola de plástico de volta para elas com um sorriso? Ele deve ter sentido seu olhar, porque olhou para cima e seus olhos se encontraram sobre as sereias saltitantes. Ele havia tirado o paletó e sua camisa branca agarrava-se a seu corpo como uma segunda pele, fazendo sua pele parecer ainda mais bronzeada. Ela se recusou a notar. Virando-se, ela se dirigiu para o garçom mais próximo. — O quê? — murmurou Blake, olhando para ela. Tarde demais. Ela já estava desaparecendo entre a multidão. Ele movimentou os ombros repentinamente tensos. Manteve-se fora do caminho porque sabia que era importante para ela que obtivesse sucesso sozinha. Ela queria independência, e ele estava dando-lhe isso, embora ele não pretendesse conversar com amigos de sua mãe, a menos que o encontrassem. Para seu desgosto, alguns deles o 62
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver encontraram, mas foi agradável, pelo bem de Lissa. E tudo o que ele conseguiu foi um olhar desaprovador. Franzindo o cenho, ele contornou a piscina atrás dela. O que ele havia feito para irritá-la? Avistou-a perto de uma brilhante mesa de jantar, sua expressão animada enquanto falava com uma mulher idosa e parou. Para observá-la, apenas observá-la. A Lissa crescida não era o que ele esperava. E era diferente das outras mulheres. Tinha dignidade, coragem, orgulho. Quando perdeu o barco e quase tudo o que possuía, recompôs-se e seguiu em frente. E pelo amor de Deus... Quando se tratava de pura sexualidade, ela o atraía como nenhuma outra. Sentiu o desejo se acumulando e sua visão ficou turva. Ele pegou uma cerveja da bandeja de um garçom quando se dirigia a ela. Quando olhou para Lissa novamente, um cara em um terno brilhante havia iniciado uma conversa com ela. Blake fez uma careta. Pele pálida e mãos bem cuidadas, suaves. Corte de cabelo errado. Aparentemente, ela não se incomodou, porque seus olhos brilhavam e ela riu de alguma coisa que ele disse. Então, ela virou a cabeça ligeiramente e seus olhos se encontraram Um arco de calor se formou no espaço entre eles. Mas então o Midas se moveu, inclinou-se, bloqueando a visão de Blake. Fervendo com impaciência, ele virou a cerveja e se aproximou. Circulou-a para que pudesse colocar a mão no meio de suas costas e se inclinar para absorver o calor de sua pele e inalar o cheiro dela. Para reivindicar a posse. Sentiu-a tensa sob seu toque. Então ele deu a volta e aqueles olhos deslumbrantes piscaram. Apenas uma vez. — Blake. Ela parecia surpresa. Como se não esperasse para vê-lo ali. Droga. É claro que o olhar que eles trocaram menos de 30 segundos antes não significou o que ele havia pensado que significava. Ignorando seu parceiro de conversa, Blake se inclinou ainda mais, de modo que seus lábios roçaram a ponta da orelha dela, e murmurou: — Precisamos ir embora. — Agora? Mas... — Apareceu uma coisa. — Ah? O quê? O pequeno espaço entre eles crepitava. Ele não tinha dúvidas de que ela sabia, apenas pela centelha de compreensão em seus olhos, que estavam concentrados cuidadosamente sobre os dele. — Ah. — E precisa de atenção imediata. Ela se virou para o Midas. — Desculpe-me... 63
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Sua voz foi sumindo enquanto Blake agarrava sua mão e a levava para longe. — O que você está fazendo? — murmurou ela sem fôlego. — Salvando você do tédio terminal. Ela lançou um olhar rápido para trás. — Que maldade, ele era muito doce... Sem contar que era muito rico, com uma mansão para renovar. E nós estamos aqui profissionalmente... — Não mude de assunto — retrucou ele. Seu pulso martelava em seus ouvidos. Estamos aqui como amigos de Gilda. — Que assunto? Ignorando sua pergunta, ele continuou a puxando para longe da multidão em direção a um grande corredor, até chegarem a uma passagem estreita. Ele encontrou a porta mais próxima fechada, puxou-a para dentro e fechou a porta atrás deles. O barulho da festa sumiu. Uma vela de ouro solitária brilhava no banheiro e ele teve um vislumbre de seu reflexo e os olhos arregalados de Lissa, antes de se virar. O som da fechadura sendo trancada soou extraordinariamente alto no silêncio repentino e ele ouviu a respiração dela enquanto apertava a mão em seu peito. — O que há de errado? — Eu... Você me assustou por um momento. — Você se assusta facilmente, garota festeira — murmurou ele. — O que foi tudo aquilo que você disse anteriormente sobre angariar clientes? Na penumbra, viu seus olhos se acenderem enquanto olhava para ele e sua voz assumiu um tom afiado. — Percebi que você não estava... — Cale a boca e me beije — disse ele e colocou seus lábios sobre aquela boca deliciosa.
CAPÍTULO DEZ
Quando seus lábios se tocaram, Lissa conseguiu apenas pensar que aquele era Blake a beijando e que ela o estava beijando de volta. As mãos dele em seus ombros, cintura, quadris. No calor de seu corpo. No cheiro almiscarado do suor masculino limpo. Mas, principalmente, no jeito com que ele a beijou. Impaciente, cheio de desejo. Sua língua mergulhou entre os lábios dela, em seguida, retirou-se e de novo, deixando suas pernas bambas. Ele levantou a cabeça e a encarou enquanto deslizava uma das mãos entre suas coxas. O calor cintilava em sua pele e ela estremeceu toda. — Sim... 64
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ele continuou a encará-la enquanto sua mão subia mais. Enquanto seus longos dedos encontravam a borda da calcinha e rastejavam por baixo. Enquanto seu polegar acariciava o sexo inchado dela, apenas uma vez. Calor líquido correu para seu núcleo e ela arfou enquanto sua carne íntima estremecia. — Ah, isso. Sua cabeça caiu para trás contra a porta e seus olhos se fecharam. — Gosta disso? — Conhece... Alguma mulher... Que não? Ele a acariciou novamente, depois mergulhou um dedo dentro dela. Tirou-o lentamente. Ele deslizou mais uma vez. Dois dedos. Mais fundo, mais insistente. Ela sentiu a familiar sensação ondulante aumentando, aumentando... Então em breve... Um simples toque e ela já estava no limite... — Olhe para mim — exigiu ele, sua voz áspera. Quando a onda caiu sobre Lissa e seus músculos internos se contraíram em torno dos dedos dele, ela abriu os olhos. — Sim, sim, sim. Sentiu-se começar a deslizar pela parede e agarrou-se ao pescoço dele. — Peguei você. Com as mãos sob suas nádegas, ele a levantou de modo que ela ficasse presa contra a porta. Ela começou a envolver as pernas ao redor da cintura dele quando o som áspero de tecido rasgando encheu a sala. — Opa. Sua risada ligeiramente histérica pareceu ricochetear nas paredes de azulejo. Ambos ouviram a batida à porta e congelaram. — Com licença... A voz era de uma mulher idosa. — Agora estamos em apuros — sussurrou Lissa. Outra batida, mais alto. — Está tudo bem aí? — Está tudo bem — respondeu Blake suavemente. Ele começou a tatear em busca dos alfinetes do vestido. Colocou os alfinetes em sua mão e deu um passo atrás para dar-lhe espaço para prender as pontas desfiadas, mas seus dedos tremiam tanto que ela quase não conseguiu. — Não sei se vai segurar por muito tempo. — Não vai precisar. Ele destrancou a porta. — Você primeiro. — Por quê? — sussurrou Lissa de volta, e abriu a porta. Gilda estava esperando com uma senhora preocupada atrás dela. — Ah, Lissa. Blake? Margaret ouviu barulhos... Lissa abafou uma risadinha nervosa. Blake se colocou atrás dela, com as mãos em seus ombros e ela sentiu um constrangimento imediato. Sabia que seu rosto proclamava ao mundo o que ela havia acabado de desfrutar. O calor subiu por suas 65
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver bochechas. Ela não se atreveu a olhar para a bainha de seu vestido. Mas Blake, calmo e sob controle, disse: — Problemas de vestuário, vou levar Lissa para casa. — Ah... Realmente é melhor. Obrigada por terem vindo e obrigada, Blake, por seu generoso cheque. — Não foi nada. Espero que faça algum bem. Ele conduziu Lissa com a palma da mão firme em suas costas, obviamente, consciente da fragilidade dos alfinetes. — Obrigado por nos convidar... — Hmm — concordou Lissa, vagamente. Sua capacidade de falar parecia ter sumido. No momento em que estavam longe de olhares indiscretos ele a tomou nos braços e a levou pelo caminho pavimentado. Sob a luz da rua, seu queixo estava rígido, seus olhos, focados. Ela podia ouvir o coração dele batendo contra seu ouvido enquanto caminhava até a porta da frente, digitava o código de segurança e a abria. Blake acendeu a luz e eles chegaram até a segunda escada, não muito longe, antes que ele inclinasse a cabeça e tocasse a testa dela. — Lissa — disse, com a voz estrangulada. Ele a soltou de tal forma que seu corpo deslizou lentamente na frente dele. Seus lábios estavam apertados, os olhos brilhando com uma paixão ardente. Mas, então, ele disse: — Vá para a cama. O coração dela parou com um solavanco terrível antes de retomar seu ritmo louco. Ele não queria dizer isso. Ele não podia querer dizer isso. Não depois daquela viagem alucinante para a lua que ele lhe dera. Não com aqueles olhos. —Você não está pronta para o que eu gostaria de fazer com você. Talvez ela devesse ir embora enquanto podia. Fugir pelas escadas e trancar a porta. — Eu não estou cansada. — Vá, Lissa. Antes que eu faça algo de que vamos nos arrepender pela manhã — rosnou, com os dentes cerrados. — Não vou a lugar nenhum. Você me quer. E eu quero você. Se eles fizessem amor, iria certamente se apaixonar. Ela estava arriscando seu coração. Mas o coração dela não foi dele o tempo todo? — Eu sempre quis você. Ela sentiu o corpo dele inteiro se transformando em pedra. Isso mesmo, Blake, pense nesta pequena confissão. — Por Deus — gemeu ele, baixinho, fechando os olhos. — Você tinha apenas 13 anos da última vez que a vi. Pelo amor de Deus, vá. Agora. Percebe o que teria acontecido naquele banheiro se Nanna Margaret não batesse à porta e me desse um momento para recuperar algum bom senso? Lava jorrou por suas veias. — E sem um maldito pensamento de proteção — terminou ele. 66
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Sua mente voltou aos rumores que Lissa se recusava a acreditar. Os rumores que ela condenou há apenas algumas horas. Mas, mesmo assim, seu sangue esfriou, porque havia um fato indiscutível, ele havia namorado Janine. Ele perdera o controle? Imagens nítidas de suas mãos, sua boca na carne da moça, aquela parte masculina dura desprotegida dele mergulhando nela. — E agora? Sua voz estava embargada. — Você de repente desenvolveu uma consciência nos últimos minutos? — Não. Seus olhos brilhavam — Esse é o problema, Lissa. Quando eu estou com você, não tenho uma consciência. Não sou capaz de ser racional. — E você precisa estar no controle em todos os momentos. Sua ausência de resposta e a chama azul em seus olhos diziam tudo o que ela precisava saber. — Você vem tentando não se perguntar como despir este vestido a noite toda, não é? Blake não mexeu um músculo. — É uma longa tira de tecido disse ela. — Como um lenço. Você começa na parte inferior ou superior e desembrulha. Como um presente de aniversário. — Estou avisando, não permito emoções, Lissa. — Tudo bem Sem emoções. Vamos apenas fazer sexo. Ela tirou seus sapatos e deu um passo escada acima. Lentamente, hipnoticamente, fazendo as pequenas moedas em seu vestido tilintarem e trazendo seu perfume doce e tentador até ele. A mão dele se ergueu na frente dele como se pertencesse a outra pessoa. Mas não foram os dedos de outra pessoa que formigaram ao tocarem aquela carne quente mais uma vez. Necessidade. Uma necessidade feroz, urgente e profunda... Ele nunca havia experimentado nada remotamente parecido. Um puxão e ele poderia tê-la nua. Esparramada na escada enquanto ele mergulhava dentro dela, sua preciosa inocência desaparecendo em poucos segundos. Lissa merecia mais. Muito mais. Blake fechou os olhos por alguns instantes e, em seguida, olhou para ela. — Eu não quero machucar você. Um lampejo acendeu seus olhos e ela franziu ligeiramente a testa. — O que você quer dizer? — Você é virgem... E isso...Isso ... Não é... Seus olhos se arregalaram. — Virgem? — Quer dizer que você não é? – Blake olhou para Lissa, enquanto sua mente 67
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver girava e todo o corpo se apertava. — O que lhe deu essa ideia? — Você disse... Não importa. — Blake. Ela sorriu. — Eu não sou virgem há algum tempo. Tive alguns amantes, apenas não diga a Jared. Você realmente precisa parar de pensar em mim como aquela garotinha. — Não penso — murmurou. — Acredite, não penso. Ele enrolou o tecido em torno da mão, apertou os dedos e puxou. — Venha aqui. Mas ela balançou a cabeça. — Quero dar um mergulho. Seu sorriso era perverso e ela passou por ele girando, a tira se desenrolando como uma serpentina dourada atrás dela. Lissa continuou girando pela sala em direção ao pátio, despindo, junto com seu vestido, quaisquer inibições que ele pensou que ela possuía. Blake viu que ela estava usando um pequeno triângulo de renda dourada, seus seios deliciosos derramando-se em um sutiã sem alças. O tecido terminou de se desenrolar e ela parou. Blake rosnou baixo e caminhou na direção dela. Antes que ele chegasse perto, porém, Lissa abriu a porta e saiu para o quintal. Na beirada da piscina, ela se virou e encontrou seu olhar. Retirou o sutiã e jogou por cima do ombro. Deslizou as mãos pelos quadris, despindo a calcinha. Que visão. Ele suspirou. Perfeição. — Fique onde... — ela sorriu para ele, depois deu um passo para trás na água — está — terminou ele. Ela apareceu na superfície quase imediatamente. — Está muito boa. Você não quer se sentir bem, Blake? —Oh, sim — Saia para que eu possa vê-la. — Não quer se juntar a mim? — Talvez mais tarde. Ele acenou para ela. — Fora. Agora. Ela deu de ombros e saiu. Ele não tirou os olhos da visão gloriosa enquanto rapidamente se despia. Ele viu os olhos dela se arregalaram com a visão de sua ereção latejante. Sua boca se encheu de água com a visão de seus mamilos brilhantes enrugados com o frio da piscina. Urgência chicoteava por seu corpo, mas ele se recusou a se apressar. Ela era o bolo de aniversário que ele nunca teve e ele ia aproveitar o momento. Antes de terminarem, provaria cada centímetro quadrado. 68
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ele pisou na grama macia. — Venha aqui. Ela foi até ele com a mesma graça que ele havia visto enquanto ela dançava. — Você é uma mulher tentadora, sabia disso? — Sabia. Ela estava respirando rápido, os seios subindo e descendo. — Eu tentei você? — Oh, sim Ele passou as mãos sobre seus ombros úmidos. Lissa suspirou baixinho e acariciou o cabelo dele. Seu almiscarado perfume feminino com uma pitada de cloro o envolveu. Blake baixou os lábios até o pescoço dela. Passou as mãos sobre os seios firmes. Sob as palmas das mãos, ele sentiu seus mamilos endurecidos e rolou-os entre os dedos. — Toque-me novamente, Blake. Ela soou seriamente excitada. — Venha para dentro de mim. Mas ele não seria apressado. Deslizou as mãos sobre os quadris dela e deixou seu olhar vagar. Nunca havia visto nudez tão perfeita. Podia sentir a necessidade irradiando dela. Seus olhos estavam encharcados de desejo. Ela era a perfeição feminina, mas ainda era pequena. E parecia ainda menor e frágil nua, como se pudesse quebrar ao toque. Lissa se inclinou e colocou os lábios em seu peito, circulando seus mamilos masculinos rígidos, saboreando seu gosto... Salgado e doce e... Blake. Ele gemeu com um som que era parte prazer, parte dor. — Você é extraordinária — murmurou ele, com um rosnado quase selvagem — E, meu Deus... O que eu quero fazer com você... — Fico feliz em saber que você ainda se sente assim. Ele a deitou na grama macia. O luar prateado se derramava sobre seu rosto. Sua boca cobriu a de Lissa com um beijo profundo. Ela se deleitou com seu sabor rico, sua língua deslizando contra a dele enquanto delineava seus ombros com as pontas dos dedos. O comprimento quente e duro de sua masculinidade subiu contra o quadril de Lissa, mas ele não fez nenhum movimento para usá-lo. Sua mão desceu acariciando o pescoço dela, descendo até o umbigo. Ela prendeu a respiração... — Ah, isso... Finalmente, finalmente, suas coxas se abriram e ela gemeu, fechou os olhos e se preparou. — Tão quente — murmurou ele, enquanto ele a abria e empurrava um dedo dentro dela. — Tão preparada para mim. Suas últimas palavras possessivas e sua verdade simples lhe apertaram o coração. 69
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Sim — murmurou de volta. — Só para você. Gentil. Ela nunca havia experimentado tal gentileza. Ela podia sentir a força e a tensão em seu corpo e sabia que ele estava se segurando. Ao contrário de Todd, que nunca pensava em suas necessidades. E, ao contrário do homem que a traiu, ela confiava em Blake, queria que ele perdesse o controle, queria aquele calor e força dentro dela. — Blake... Agora. Olhos ainda fechados, ela tremeu, equilibrada entre ansiedade e algo parecido com medo. Medo de que ele parasse. E ele parou. Ele xingou, um som estrangulado que a fez abrir os olhos. Sua expressão estava congelada. — O preservativo. — Tomo pílula — suspirou ela. — Cuido de mim mesma. — Meu tipo de garota — murmurou ele, e se abaixou lentamente sobre ela. Ele deslizou para dentro dela em um movimento longo e suave e todo o seu ser tremeu com a nova intimidade. A pressão a invadiu, expandindo e irradiando para todas as partes de seu corpo e empurrando-a para o clímax. O choque da velocidade a desconcertou e ela abriu os olhos para vê-lo, para saber que era ele dentro dela enquanto ela alcançava aquele esplêndido auge. Sua mandíbula estava apertada, seu rosto quase sombrio enquanto ele a observava voar para longe. — Blake — sussurrou ela. A tensão espiralou, depois estourou e então ela sentiu seus membros amolecerem, saciados. Lissa esperou a vida inteira por esse momento. Bem-vindo à casa. Mas, oh... Não... Ela não podia se permitir pensar dessa forma. Havia dito que era apenas sexo. A casa dele e sua vida sem emoção estavam no oceano. Ainda assim... Os olhos dele brilhavam como fogo na escuridão enquanto se movia dentro dela. Ela era a mulher cujas mãos deslizavam por aquela pele quente, cujas pernas estavam enroladas em torno de suas coxas poderosas enquanto ele mergulhava mais fundo, mais rápido. Ela era a mulher que se arqueou contra ele enquanto atingia o próprio clímax. Blake caiu ao lado de Lissa, que segurou a cabeça dele contra o peito. — Lissa... — murmurou ele com aquela voz profunda. Para poder apreciar a textura masculina de queixo contra o peito um pouco mais, ela tocou o lado de seu rosto e sorriu para si mesma. Podia sentir o cheiro do perfume da grama recém-cortada, sentir a aspereza suave contra sua pele. O céu estava cheio de estrelas e a lua minguante se elevava. Sua vida, com todas as suas reviravoltas, de repente, e pelo menos por um momento, estava perfeita. Ele olhou para ela. — Sem arrependimentos? — Nenhum. E você? Ele acariciou um dedo sobre seu mamilo, observando-o se contrair. 70
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Você foi incrível. O que não respondia à sua pergunta, mas ele era o mestre da evasão e ela não ia estragar tudo, especialmente quando o sentiu endurecer novamente contra seu quadril. — Foi incrível, não foi? — Então... Ele se inclinou sobre um cotovelo com sorriu um sorriso perverso. O que você acha de fazermos de novo? Em uma cama dessa vez? — Ou na piscina. — Gosto da maneira que você pensa. Levantou-se, erguendo-a com ele e indo para a água. — Temos a noite toda. Podemos fazer ambos.
CAPÍTULO ONZE
Já passava do meio-dia quando ele levou o café da manhã para ela na cama. — Então, o que fez você pensar que eu era virgem? Ele sorriu para ela. — Poderia ser porque você mencionou “depois de todo esse tempo” na primeira vez que beijei você. — Porque eu estava esperando anos e não podia acreditar que estava atraído por mim. — Acredite. Ela sorriu satisfeita. — Você tem os olhos mais bonitos que eu já vi. Ele hesitou. — Mas às vezes... Há algo... Como ontem, quando arrastei você para o banheiro de Gilda. O sorriso dela desapareceu. — Fiquei surpresa, só isso. Ele balançou a cabeça. — Não só. Algo não se encaixava com seu estilo normalmente tranquilo. Um homem, ele tinha certeza disso. — O que aconteceu, Lissa? Quem machucou você? — Ninguém importante. Ele sentiu um nó apertando em seu peito. Ele lhe tocou o queixo levemente e 71
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver virou a cabeça para que ela não tivesse escolha, senão encará-lo. — O que ele fez? Diga-me. — Eu não quero falar sobre isso. — Prefere que eu pergunte a seu irmão? Ela endureceu, arregalando os olhos. — Você não faria isso. — Se ajudasse, sim, faria tranquilamente. — Jared não sabe nada sobre ele e eu quero manter assim. Não sou uma criança e não preciso que ele ou qualquer outra pessoa lute minhas batalhas. Ele era um cara que conheci há um ano. Todd. Tivemos um relacionamento. Um relacionamento conturbado. Ele realmente gostava de me ver com medo. Raiva mal começava a descrever o que ferveu dentro dele quando ele olhou para Lissa. Tão pequena e delicada. Tão vulnerável. Lissa o havia chamado de conturbado. O que o infeliz havia feito? Blake não precisava que ela lhe dissesse. Sua imaginação preencheu o resto. — Filho da mãe. — Foi o que eu disse à polícia. Houve uma ordem de restrição. Não o vejo há meses. — Você deveria ter dito a Jared. Ela balançou a cabeça. — Não. — Sim. Ele segurou seu rosto com as mãos. — Por que não? — Eu disse. Tivemos um desentendimento. Sua voz estava embargada. Zangada. Doída. Ele fez questão de não vir aqui, a menos que especificamente convidado desde então. Seus olhos se encheram de água. E há uma distância entre nós que nunca houve antes. — Ah, Lissa. Ele é seu irmão e ama você. Isso nunca vai mudar. — Eu sei — sussurrou, as lágrimas transbordando. Lissa queria acabar a conversa antes que perdesse o que lhe restava de compostura. Mas o mal está no passado e eu só quero seguir em frente. De muitas maneiras que você me ajudou a fazer isso. E a melhor coisa que você pode fazer por mim agora é não mencionar isso novamente. Você me fez feliz ontem à noite, Blake, e espero ter feito o mesmo por você. Eu não me sentia tão bem há muito tempo. E não é apenas sexo. É você. — Lissa... Ela quase podia ouvir seu alarme disparando. — Tudo bem. Você tem sido um verdadeiro amigo na minha hora de necessidade e você já é um grande parceiro de negócios, mas o sexo tem uma maneira de complicar as coisas e nós vamos lidar com isso. A primeira coisa a lembrar é que você não está 72
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver procurando por um relacionamento contínuo e nem eu. Só que aquele era Blake. O homem que ela nunca esqueceu completamente. Ela pegou o café, olhou para suas profundezas. Queria o que eles tinham durante o tempo que durasse e seu coração pagaria por isso mais tarde. Ele ficou em silêncio por um momento, depois balançou a cabeça lentamente. — Vamos dar um passo de cada vez, então. Negócios primeiro. Devemos ter uma festa de lançamento. Tornar seu nome conhecido. — Uma festa. Que ideia brilhante! Pensei em um nome. Lissa’s Interior Designs. Gilda... Ah, meu Deus!... Ela pegou o celular, viu a hora e saltou para fora da cama. Marquei de estar lá em 20 minutos para ver as cortinas com ela. É melhor eu tomar banho. Obrigada por tudo, Blake. Blake estivera tão relaxado na noite anterior que acordou sem dor de um sono sem sonhos. Em uma cama que cheirava a mulher saciada. Uma mulher que havia sido usada por um homem da pior forma possível. Seus punhos se apertaram contra o colchão. Canalha. Lissa queria esquecer e seguir em frente. Então, ele não mencionaria novamente. Mas ele não iria esquecer. E Blake Everett? Ele era mais digno de alguém como ela? Ele era um andarilho. Um solitário. Um relacionamento duradouro entre ele e alguém como Lissa ou qualquer outra pessoa nunca ia acontecer. Casa e família não estavam em seu destino. Lissa, por outro lado, precisava de segurança, do vínculo da família. Se havia uma coisa que ele podia fazer por Lissa antes de partir, era conseguir alguma conversa aberta e honesta entre ela e Jared novamente. Ela lhe disse que não estava à procura de um relacionamento e ele conseguia entender por que ela se sentia assim Mas com o tempo, isso podia mudar. Quanto a eles... Eles haviam feito um ótimo sexo. Mutuamente satisfatório. E era apenas sexo mutuamente satisfatório. Era o que poderia ser. Ele estava viajando pela vida muito bem por conta própria. Até o mês passado. Seus dedos descalços toparam na base da cama de bronze e a dor ricocheteou até sua canela e ele xingou, como o marinheiro que era. Lissa, com sua infância protegida, não sabia nada das profundezas abaixo da superfície de sua capa de civilidade. Ela nunca compreenderia o trauma de ver alguém morrer diante de seus olhos e acordar e saber que não havia nada que pudesse ter feito para impedir. E ainda assim ela lhe ofereceu conforto quando ele acordou na outra noite. Havia comentado de forma sensata, com maturidade e sensibilidade, sobre o estresse pós-traumático. Foi ele quem cortou a comunicação, porque ainda se recusava a acreditar que era o que ele sofria. Nunca revele suas fraquezas. Ele olhou para o lugar onde eles fizeram amor. Na noite anterior, deitado ao lado dela, ele sentiu algo que nunca havia experimentado. Confiança? Não. Seu pai não queria nada com ele. Sua mãe queria saber apenas de seus 73
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver shows de caridade. Aquela confiança inata no amor e no conforto da família havia desaparecido cedo. Pensou em Janine. Ele havia arrancado seu coração cheio de cicatrizes e depositado aos pés dela, que o esmagou com suas mentiras e sua traição. Ele nunca iria se expor novamente, nunca mais. Ele caminhou até o banheiro. Assim que havia acabado de ligar o chuveiro, seu celular tocou. Ele fechou a água novamente e foi atender. A voz familiar de Jared o pegou desprevenido. — Oi. O que você está fazendo acordado tão cedo? Que horas são aí? — Pouco depois do amanhecer. Isaac é um madrugador. Blake ouviu um som abafado, em seguida, um distante. — Ei amigo, abaixe isso, mamãe vai me... Isaac... Um estrondo. — Deixa pra lá, eu compro outro. Então, falou ao telefone novamente. — Ainda está aí? — Sim. Crianças, hein? — Exato. Mas Blake ouviu uma exuberância de amor na voz de seu amigo. — Aposto que ele é um pestinha. — Pode apostar. Houve uma hesitação no telefone, então a voz de Jared ficou séria. — Antes de eu falar com Lissa, estive conversando com Soph e estamos querendo saber se devemos encurtar a nossa viagem e voltar para casa. Nenhuma menção aos negócios, observou Blake, e limpou a garganta. Droga. Lissa, obviamente, não havia falado com ele ainda. — Ela não ligou? — Não. E seu telefone está desligado há horas. — Nós estávamos em uma festa até tarde... — Você e Lissa...? Ele ouviu a surpresa na voz de seu velho companheiro. — Sim. Ela está na vizinha, no momento, fazendo um orçamento para um quarto de bebê. Vou falar para ela ligar para você quando voltar. — Então ela está recebendo trabalho. Isso é ótimo. Como ela está lidando com o desastre do barco? — Ela está indo bem. Ainda um pouco chocada, mas... — Não é o suficiente para impedi-la de festejar, obviamente. — Foi um evento de caridade. Blake se sentiu obrigado a defendê-la. — Ela quer começar o próprio negócio. Preocupa-me muito. Não acho que ela esteja pronta. Ela não mencionou nada? Eu acho que ela tem o suficiente para pensar agora. Blake andou pelo quarto, sentindo-se como se estivesse afundando ainda mais na 74
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver areia movediça com cada passo que dava. Mas essa era uma oportunidade de levá-los a falar. — Vou deixá-la falar sobre isso. — Esperava ouvir sua opinião. — Melhor vindo dela, amigo — disse ele esfregando a mão pelo rosto. Ela vai ligar assim que chegar. — Blake... Somos amigos há muito tempo. Há algo que eu deveria saber? Droga! Ele apertou o telefone. Não podia falar sobre seu acordo de negócios, porque dera sua palavra a Lissa, embora soubesse que não era o que seu amigo estava perguntando. — Ela é adulta, Jared. Ela toma as próprias decisões. Silêncio. — O que diabos isso quer dizer? — Como eu disse, ela vai lhe dizer. — Então, há algo acontecendo. — Calma, amigo, não precisa se alarmar. — Ela é minha irmã. Eu não quero vê-la machucada. — Nem eu. — Diga a ela para me ligar via webcam. Quero ver como ela está lidando com isso e qualquer outra coisa, com meus olhos. — Não se preocupe. Assim que ela voltar. Jared desligou sem outra palavra. — Foi bom — murmurou Blake. Pensou sobre a preocupação de Jared enquanto arrumava seu quarto. Apesar de seu orgulho por sua independência, Lissa era uma menina de família. Ela provavelmente se cansaria de festas e, eventualmente, se estabeleceria. Iria se casar com um marido tranquilo e teria dois filhos incríveis, um cachorro e uma confortável casa com quatro quartos com vista para a praia. Não era para ele. Era hora de comprar seu barco. Hora de seguir em frente, explorar todos os mergulhos ao longo da costa, usar as estrelas como bússola e viver o sonho antes que fosse tarde demais. Ele recolheu fitas e grampos de cabelo de Lissa e os levou ao fundo do corredor, mas parou na porta do quarto dela. Havia cama sob as bolsas de compras? Como é que alguém que havia acabado de perder tudo conseguia acumular tamanho caos em um único dia? O banheiro não estava melhor. Loções de todos os tipos e garrafas com tampas. Outra razão pela qual nunca dariam certo. Gostava de sua vida ordenada. Ela iria deixá-lo louco. O que eles tinham era apenas algo temporário, assegurou-se novamente enquanto se afastava. Uma aventura. Ela enlouqueceria outra pessoa algum dia.
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CAPÍTULO DOZE
Ela enlouqueceria outra pessoa algum dia. Blake precisava de algo para tirar de sua cabeça o pensamento persistente e perturbador. Precisava de uma distração. Comida. Faria o jantar. Verificou a despensa, começou a compilar uma lista, depois parou. Não tinha ideia do que Lissa gostava. Ainda assim, quem não gostaria de um bom e velho cordeiro assado australiano? Poderia ficar assando enquanto ele... O quê? Esperava Lissa voltar para casa? A cena se desenrolou diante de seus olhos: Havia acabado de dar os toques finais em um prato complicado que levou toda a tarde para se preparar. A salada de folhas com um novo molho esfriava na geladeira junto com uma garrafa de chardonnay. Ele está pensando em queijo para depois, com um pouco de patê, algumas uvas... E depois um banho de espuma... Lissa corre pela porta, blusa torta, o cabelo desgrenhado de dirigir o conversível com a capota abaixada. Reunião de jantar... Desculpe, ela se esqueceu de dizer a ele? Ela pesca alguns tomates cereja da tigela de salada na geladeira, depois, um beijo em sua bochecha enquanto passava. Não espere, vai ser uma reunião longa... Ah, será que ele poderia recolher a roupa na lavanderia antes de a loja fechar? Blake deu um passo atrás, franzindo o cenho. Que diabos havia acontecido com aquele banho de espuma? O que... — Estou de volta. Lissa entrou dançando na cozinha. — Você devia ver como o quarto vai ficar incrível. Gilda se ofereceu para divulgá-lo para todos os seus amigos ricos, enquanto Stefan ficará responsável pelas fotos que serão usadas na minha apresentação na inauguração... E... Oi. Ela exalou enormemente a palavra final e sorriu. Blake piscou, sentindo como houvesse sido atropelado por um cortador de grama. — Oi. Ele amassou sua lista de compras, atirou-a sobre a pia. Dane-se o assado, ele queria levá-la para a superfície mais próxima e alimentar-se dela. Mas a cena da inversão de papéis domésticos continuava a brilhar perigosamente diante de seus olhos. O sorriso dela se desvaneceu um pouco. — Você poderia soar mais entusiasmado, é o seu negócio também. — Você está entusiasmada o suficiente por nós dois. Com esforço, ele voltou ao presente. Ela estava ali e era toda dele. 76
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Venha aqui. Ela entrou sem hesitar em seu abraço, entrelaçou os braços ao redor de seu pescoço e inclinou a cabeça para cima. — Você faz alguma ideia de como me sinto agora? — Sim Ele acariciou seus ombros e apertou a boca contra seu pescoço. — Ah, sim. Você está ótima. Abaixou os lábios e esfregou-os levemente sobre os dela provando o amargo do café. Gilda alimentou você. — Hmm Ela se aproximou e esfregou seus seios contra o peito dele. — Mas eu ainda estou com fome. Ela abriu a boca, pegou o lábio inferior dele entre os dentes e mordeu. — Com tanta fome... Ele a levantou do chão e ela apertou as coxas em torno de sua cintura, separando os lábios. Seu sangue trovejava em seus ouvidos e martelava em sua virilha. — É. Quem precisa de um cordeiro assado? — murmurou contra sua boca, trazendo seu calor íntimo em contato com sua barriga. Seus olhares permaneceram ligados enquanto ele a levava à ilha da cozinha, colocava-a na borda do mármore liso e abria suas coxas. Então ele apoiou as mãos sobre o balcão e inclinou-se enquanto ela apertava sua camiseta. A fina faixa de renda branca não representou empecilho, um movimento de seu pulso, um puxão rápido e ela desapareceu. Libertando-se, ele mergulhou dentro dela. Ouviu-a suspirar, seus olhos estavam arregalados quando ele se retirou lentamente. Mergulhou novamente. Mais forte, mais profundo. Mais rápido. Ele se deleitava em seu doce sabor, engolia seus suspiros conforme ela o encontrava a cada movimento com um entusiasmo que rivalizava com o dele. Eles se devoravam com boca, língua e dentes. Ela o rodeava, o calor liso e úmido, o aperto líquido puxando-o para um desfecho rápido demais. Não havia palavras ou tempo ou pensamento, apenas um coito rápido e feroz. Lissa não conhecia tal frenesi de vontades e desejos, necessidades e demandas. Entregou-se ao turbilhão de sensações pulsando dentro dela. E como era libertador permitir-se ser arrastada, sabendo que estava segura, que havia encontrado um refúgio em Blake. E em algum lugar no meio do turbilhão, ela encontrou o olho da tempestade, a calma. Segurou-se firme a ele enquanto eles correram juntos para o final. Momentos depois, suas coxas tremiam, todo o seu corpo estava mole e pequenos tremores ainda corriam através de seu corpo. — Lissa. Respirando pesadamente, ele a olhou nos olhos e viu um lampejo de 77
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver preocupação. Ela abriu a boca para responder e descobriu que sua garganta estava seca. Essa nova faceta física de seu relacionamento estava se movendo em grande velocidade e ela ainda estava tentando se recuperar. Mas, emocionalmente, Lissa sabia que estava anos-luz à frente. Ele não gostaria de saber que estava se apaixonando por ele. — Lissa? Ele levantou seu queixo com um dedo, vasculhando seus olhos. Ela sabia que ele estava se lembrando de sua conversa anterior. Nada de relacionamento contínuo. Ela se inclinou para a frente, deu um beijo rápido em seus lábios. — Eu ouvi cordeiro assado? — Tarde demais para começar agora, mas eu posso fazer bolos de atum com salada. — E ele cozinha também — murmurou ela. — Eu vou fazer a salada. — Não. Ele a colocou no chão. — Você vai ligar para Jared. Ele ligou enquanto você estava fora. — Certo. Ela ouviu a mensagem na voz de Blake. Deveria ter ligado antes. — Você não lhe contou sobre os negócios? — Essa é a sua tarefa. Ele pediu para você ligar via webcam Ele quer ver com os próprios olhos como você está. Com o brilho de satisfação de fazer amor em seus olhos? Pouco provável. — Ah, o computador já era, certo? — Acho que sim. Levando o telefone para fora, ela se acomodou numa espreguiçadeira à beira da piscina e ligou para Jared. Começou com um pedido de desculpas, resumiu o que havia acontecido com o barco, então conversou com o pequeno Isaac por um momento, o que lhe deu tempo de se preparar para a próxima rodada de informações. — Blake e eu entramos em um negócio juntos. Rápido assim, pensou. — Entendi. Claramente não entendia. — Ele não disse nada porque lhe pedi que não. Queria fazer isso eu mesma. Apenas escute primeiro, certo? Ela apressou uma rápida visão geral, em seguida, apresentou os detalhes de sua nova parceria com Blake, a cláusula da reforma da sala de estar, os novos clientes que ela tem e como estava feliz de ter o próprio negócio... — Então, faz sentido ficar com Blake, por agora — concluiu ela. Silêncio. Calma, calma, calma. — Tem certeza, Lissa? A calma desapareceu e a irritação subiu entre suas omoplatas, mas ela manteve a voz firme. 78
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — O que você está insinuando? Você conhece Blake. Ele não é um estranho. — Eu sei que você tinha uma queda por ele quando adolescente, mas ele esteve na Marinha por 14 anos. Ele é um marinheiro, pelo amor de Deus. — Um mergulhador, para ser mais precisa. —Jared sabia sobre sua paixão? — Foi o que ele me informou — respondeu Jared friamente. — Eu estou ciente do que eles fazem, Lissa. — Pelo menos você sabe que ele não é um cara qualquer que eu arranjei em uma festa. — Como Todd. — Você está dormindo com ele? Ela pulou na cadeira. Esqueça a calma, esqueça a irritação, naquele momento ela estava com raiva. — E isso é da sua conta? — Meu Deus, você está. Passaram o que... dias? Houve uma longa pausa. — Ele não vai ficar por muito tempo, querida. Está comprando um barco. Você está preparada para isso? Ela sabia. E ela nunca estaria preparada. A mágoa a apunhalou. — Sei de tudo isso. Não sou uma criança. — Blake não é tipo de cara que fica em um único lugar. Ele... — Ah, pelo amor de Deus, você nunca teve uma aventura em sua vida? Um caso sem compromissos, selvagem e louco, sem expectativas? Então, ela franziu a testa, lembrando-se que ele estivera muito ocupado sendo um pai para ela e disse calmamente. — Acho que não. — Então é isso? — O que mais seria? O que mais poderia ser? Ela deu uma risada histérica. — Você me conhece. Sempre ocupada. Ocupada demais para qualquer outra coisa e isso não vai mudar tão cedo. A pior mentirosa do mundo. — Não se preocupe, porque ele vai embora e vai estar tudo acabado logo. — E os negócios? Espero que você... — Claro. Prioridade número um. — Apenas cuide-se. — Sempre. — Nós amamos você. Áspero e severo. Nem um pouco feliz. — Eu também amo vocês. Adeus, por enquanto. Ela desligou, recostou-se e fechou os olhos, com os cílios úmidos. Deixe-o se acostumar com a ideia. Sem surpresas, quando ele chegasse. Blake já poderia ter ido embora até lá. 79
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Relaxe. Respire. Não deixe Blake vê-la assim. Então, enquanto ela controlava suas emoções, lembrou-se da conversa e do porquê precisava ouvir a sua cabeça e não o coração. Não era necessário que Jared lhe dissesse que Blake não era o homem certo para ela. Um relacionamento contínuo com um homem que vivia em um barco a um milhão de quilômetros de distância não funcionaria. Era vital para o seu próprio bem-estar que ela aceitasse o que era seu relacionamento e vivesse as próximas semanas de acordo. Um caso de curto prazo. Blake inclinou um ombro contra a porta aberta e viu Lissa com os olhos apertados. Ele não podia ver o rosto dela por esse ângulo. Ele estava prestes a sair quando a ouviu cuspir o status de sua relação para seu irmão. Ele vai embora e vai estar tudo acabado logo. Lissa havia descrito como era um caso sem compromissos, selvagem e louco. Ele a ouviu dizer a Jared. Isso era o que Blake também queria, disse a si mesmo. E que maneira melhor de aliviar o estresse do que um caso com uma mulher linda, divertida, carinhosa, que entendia sua relação? Sempre funcionou. Então, por que ele se sentia como se houvesse sido amarrado com arame farpado e jogado no mar durante uma tempestade? Ele sabia nadar. — A comida está pronta — disse Blake. — E você? Ela se levantou. — Claro que estou. Desviando o olhar deliberadamente, ela observou o céu tangerina. — Não me canso dessa vista. — Nem eu — concordou ele. Então, ela se virou e estava sorrindo. — Eu vou sentir quando partir — disse ele. O sorriso dela permaneceu, mas algo mudou em seus olhos. Suas palavras haviam atingido seu alvo, e ele desejou ter ficado calado. Esfregando os braços, ela desviou o olhar. — Aqui fora é lindo. Por que não comemos à beira da piscina? Dividiram uma garrafa de vinho com a refeição enquanto o crepúsculo violeta se transformava em noite. Ele não prestou muita atenção à sua conversa. Estava distraído demais com o som de sua voz até que ela disse: — Gilda contou como você salvou a vida dela. Ela disse coisas boas sobre você também. Muito obrigado, Gil. O que ele não precisava agora era ter a sua vida dissecada, por mais bem intencionado que fosse. Quanto menos Lissa soubesse, menos envolvida estaria quando ele partisse. 80
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Fiz apenas o que qualquer pessoa teria feito. — Acho que você já salvou muitas vidas na Marinha. Ele se mexeu, desconfortável com a conversa, e se serviu de outra taça de vinho, bebendo metade de uma vez. — Ossos do ofício. — E você gosta, ou melhor, gostava do seu trabalho? — Há momentos. Ele havia pensado muito sobre isso ao longo das últimas semanas. Era hora de sair da Marinha e traçar um novo rumo para sua vida. — Então por que você entrou para a Marinha? — Sempre amei o mar. Sua vastidão. A solidão. Ela sorriu. — Solidão? Em um navio da Marinha? — Certo, bem, você me pegou. — Eu ainda me lembro de quando você partiu de um dia para o outro. Ele balançou a cabeça. — Não foi bem assim. — Partiu meu coração. Chorei por uma semana. Blake olhou para ela, lembrando-se da adolescente e se sentindo estranho. — Não chorou nada. Ela levantou um ombro. — Certo, talvez tenham sido apenas alguns dias, mas eu poderia ter se eu... Não depois... Não importa. E como se Lissa a houvesse evocado, uma imagem de Janine brilhou na frente de seus olhos. O fantasma de erros do passado. — Não pare agora, está começando a ficar interessante. Ele esvaziou o copo, recostou-se e fez um gesto para que ela continuasse. — Tudo bem Não vou fingir que não ouvi os rumores. — Por que fingiria? — Para poupá-lo da dor ou do constrangimento, talvez? Blake balançou a cabeça. Não dor, não mais. Ele aprendeu sozinho a não reagir cada vez que pensava em Janine. Não constrangimento porque ele não dava a mínima para o que os outros acreditavam saber. — Não poupe meus sentimentos, Lissa. Ou você acredita nas fofocas ou não. — Eu não conhecia você na época. Você não era real. Era mais uma fantasia. Mas estou começando a conhecer o homem que é agora. Você é gentil e generoso, você é um bom ouvinte, se preocupa com os outros... — Mas você não sabe se deve acreditar nos rumores ou não. Ela ergueu o copo e tomou um gole. — É claro que não acredito neles. Lissa estava dizendo a verdade sobre como se sentia? Ele percebeu que o que ela pensava importava para ele muito mais do que gostaria. — Você não consegue decidir — disse ele, olhando para ela. 81
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Você quer acreditar que são mentiras, mas, no fundo, sempre houve essa dúvida. Quem é Blake Everett? Não o homem que queria ver, mas o homem real? Ele poderia deixar uma menina grávida e depois ir embora? Ele poderia abandonar o próprio filho? — Pare, Blake! — E agora que fizemos sexo, você acha que um pouco mais... E você quer saber o que aconteceria se, apenas uma vez, suas pílulas não funcionassem? Você se pergunta: “Será que ele me abandonaria? Será que ele me deixaria criar nosso filho sozinha?” Ela balançou a cabeça, fechou os olhos. — Pare! — Talvez eu pudesse ir embora. Talvez minha criação me convencesse de que sozinho era melhor, que a responsabilidade não importava. Ou, talvez, naquela época, eu simplesmente tenha feito o problema desaparecer. Não me diga que isso nunca passou pela sua cabeça. Ele olhou em seus olhos, lendo a resposta. — Blake, por favor, eu conheço você melhor agora. Ele pegou o copo de Lissa, bebeu o resto do seu vinho em um gole e disse: — Deixe-me contar sobre Janine.
CAPÍTULO TREZE
— Não precisa. Eu sei que você nunca faria o que eles dizem. — Talvez eu queira deixar claro. Para você, pelo menos. Blake se preocupava mais do que queria com o que Lissa pensava sobre ele. — Conheci Janine na praia quando me perguntou sobre salva-vidas. Disse que estava interessada em aderir. Ela morava em um pequeno apartamento na periferia da cidade, estudava Direito e trabalhava à noite em uma boate próxima para pagar a faculdade. Seu corpo era a fantasia de qualquer adolescente, mas Janine parecia não estar ciente. Possuía um frescor e uma mente afiada e eu achei a combinação irresistível. Começamos a namorar. Eu a vi todos os dias no almoço e à noite antes de ela ir para o trabalho. Estávamos juntos há dois meses. Disse a ela que pretendia conseguir um lugar para nós e apoiá-la para que não precisasse trabalhar à noite. Eu já havia comprado e vendido meu primeiro imóvel e tinha uma renda razoável na loja de mergulho. Mas antes de nos conhecermos eu havia arranjado para navegar de Perth a 82
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Port Lincoln, — Queria testar minhas habilidades marinhas e a Grande Baía Australiana tem um dos mares mais difíceis do mundo. Estava combinado de ficar cinco semanas fora. Janine chorou muito no dia antes de eu partir e me disse o quanto me amava e que não podia suportar ficar sem mim. Encurtei minha viagem em dez dias. Então, uma semana depois, ela me disse que estava grávida e que precisávamos nos casar rápido. Eu não sabia quem eram seus pais até então. Janine havia mantido em segredo sua criação privilegiada. Lissa franziu a testa, fazendo os cálculos. — Como grávida? Exatamente. — Ela não disse e não me ocorreu perguntar. Ela disse que não havia importância, já que nos amávamos e eu esqueceria a Marinha agora que tínhamos um bebê a caminho. Quer saber, ela quase me enrolou. Então eu vi a data do parto em um relatório que ela descuidadamente deixou dentro de um livro em sua mesa de cabeceira. Eu não poderia ter sido o pai. Ele havia ficado devastado. Seria a última vez que ele se abriria. — Então eu fiz algumas rápidas investigações. Acabou que seus turnos noturnos não eram como garçonete. Eu fui para Sydney e ingressei na Marinha uma semana depois. — Como alguém poderia fazer isso? A voz de Lissa parecia vir de muito longe. — Muito facilmente, ao que parece. — Blake, eu... Lissa engoliu em seco. Ele não iria querer sua piedade. — Deve ter sido difícil. —Antes que Lissa pudesse pensar em como dizer que entendia sua angústia, ela parou. Porque não entendia. Ela não fazia ideia de como ele se sentia. Ele puxou a mão e se levantou abruptamente. — Vou dar uma corrida. Havia uma frieza no ar e não era só brisa da noite. A traição de Janine havia partido algo dentro de Blake e falar sobre isso havia aberto as velhas feridas. Ela sabia que ele precisava desse tempo sozinho. Lissa limpou os pratos, esperando que Blake voltasse em breve e ela pudesse ver como ele estava. Como ele não voltou, ela foi para o quarto e montou seu estúdio. Abriu a janela para deixar a noite entrar. Ouviu o som dos passos de Blake na calçada. Deixou seu olhar vagar pelo rio com o luar brilhando como pérolas sobre veludo preto. A cena a lembrou que ela adorava trabalhar com preto e branco. Abriu seu bloco de desenho, escolheu um lápis preto e o passou ao acaso sobre a página em branco. Não esteve ciente do tempo ou do arco lento da lua no céu. Nada tirou sua atenção de seu trabalho. Até que ela sentiu os cabelos de seu pescoço se eriçarem. 83
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Por alguns segundos, ela congelou, lembrando-se de como Todd costumava se aproximar dela, achando engraçado vê-la saltar. Ela olhou por cima do ombro. E seu coração começou a bater de novo... Blake. — Assustei você. — Só um pouquinho. Estou bem. Você está bem? Blake apenas assentiu. Nenhuma palavra podia descrever o momento. A maneira como ele olhava para Lissa. A forma como ela se sentia. Ele atravessou a sala e se colocou atrás dela. Despiram-se um ao outro com apenas os sons de sua respiração e o roçar das roupas quebrando o silêncio. Pele deslizou contra a pele. Coração bateu contra coração. Dedos entrelaçados. Bocas se unindo. E Lissa sabia, com cada toque, cada murmúrio, cada olhar, que esse entendimento só poderia ser forjado a partir do amor. Se ao menos ele também soubesse. Durante as próximas semanas, Lissa mal teve tempo de respirar. Terminou o quarto de Gilda, fotografou e guardou para futura referência. Blake elogiou a sala de estar com novo visual, com suas profundas paredes azul-turquesa e o mobiliário de ouro escuro. Outro quarto foi feito para um cliente que ela conheceu na festa de Gilda. O resto do mobiliário da loja chegou. Espaçosos sofás, luminárias exclusivas, tapeçarias de parede para os clientes escolherem e material de escritório. Trabalharam como uma equipe. Blake cuidava das finanças, de todas as compras necessárias e trabalhava com um técnico em TI para fazer um website. Lissa visitava clientes, esboçava ideias, fazia orçamentos e trabalhava na divulgação. Mas à noite eles dormiam juntos. Havia alguns dias em que aquelas poucas horas preciosas eram as únicas em que se viam e Lissa se acostumou a acordar com alguém ao lado novamente. Ela aprendeu a ler a dor de Blake. Ficou feliz por notar que ele só havia tido uma dor de cabeça nesse tempo. Ele precisava da pausa para se recuperar. Havia feito o seu dever por seu país e era hora de tentar algo mais, mesmo que o levasse para longe dela. Lissa sabia que não ia ficar para sempre. O negócio era o sonho dela, não dele. Assustou-se quando Blake chegou em casa com entusiasmo renovado após um dia em Surfers vendo barcos... Os pedidos chegavam graças aos amigos ricos de Gilda. Blake sugeriu contratar um empregado. — Você não quer perder trabalho porque não consegue acompanhar o ritmo. Porque ele não estaria ali para ajudá-la, pensou, e outro pedaço de seu coração se partiu. A realidade era que ele nunca disse que estaria. A noite antes do grande evento, eles comemoraram suas conquistas com ostras, 84
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver bolinhos de peixe tailandeses e champanhe francês sob o toldo de um restaurante ao ar livre na rua da praia. Quando chegaram em casa, Blake beijou Lissa no momento em que desligou a ignição do carro. Um longo e profundo beijo. — Eu queria fazer isso a noite toda — murmurou Blake quando finalmente levantou a cabeça. — Esperei por isso a noite toda também. — Não posso esperar muito mais tempo... Sentindo-se mais ousada, ela estendeu a mão e esfregou sua virilha. Observouo endurecer contra seus dedos e sentiu seu calor refletido em seu rosto quando ela olhou para ele. — Obviamente você também não. Ela puxou a chave de casa da bolsa. — Corrida até o quarto. Lissa abriu a porta e saiu do carro como um coelho. Ela riu quando ouviu Blake xingar, tirou os sapatos e continuou correndo. Ele ganhou terreno quando ela abriu a porta e entrou. Ela gritou quando sentiu seus dedos tocarem seu cabelo e se jogou sobre a cama. — Ganhei. — Eu estava em desvantagem. — Não. Sem ar, ela olhou para ele e mordeu o lábio para impedir o sorriso. — Você tem pernas mais longas. Ela o viu tirar o cinto, deslizá-lo por entre os dedos. Seus olhos se tornaram sombrios, o humor desapareceu, substituído por uma intensidade que ela nunca havia visto antes e uma lasca de incerteza deslizou por sua espinha. Seu pulso gaguejou, mas não de uma forma boa. — Certo, empatamos, então. Acabou. — Estamos apenas começando. Em um movimento relâmpago, ele segurou seus dois pulsos, os prendeu acima da cabeça dela, enquanto sua boca a atacava violentamente. O peso de seu corpo prendendo-a no colchão, abrindo suas pernas com a coxa. O coração dela martelava. Ela não conseguia respirar. Mas, no instante em que ela tentou liberar as mãos, ele afrouxou o aperto. — Lissa? Ela respirou com dificuldade. — Está tudo bem. Estou bem Blake se sentiu culpado. Que diabos ele estava pensando, indo para cima de Lissa dessa maneira depois do que ela disse a ele? Ele sabia que ela não queria falar sobre isso, então, sem uma palavra, ele se inclinou e a beijou. Então rolou, trazendo-a para cima dele. Ele a acalmou com carícias leves por alguns instantes, em seguida, beijou-lhe o ombro e disse: 85
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Que tal você fazer todo o trabalho dessa vez? — Eu? — Não vejo mais ninguém aqui. Ela lhe beijou o peito. — Hmm. Se você insiste. Mas tem que ser do meu jeito. Ele estremeceu quando ela arranhou seus mamilos com as pontas das unhas. — Do seu jeito, docinho. Estou esperando... Ela se sentou, suas coxas apertando os quadris dele, a bainha de seu vestido folgado correndo até a cintura. Sem dizer nada, ela começou a desfazer os botões da camisa. Empurrou o tecido de lado e alisou as mãos sobre o peito de Blake, que suspirou. Lissa olhou em seus olhos e desejou poder dizer-lhe o que ele havia feito por ela com sua sugestão simples que mostrava que ele entendia. Aquele homem havia lhe dado sua alma de volta. Aquele homem que ela amava. Lissa havia sido tão estúpida. Havia caído na própria armadilha. E Blake a avisou. Ele era um marinheiro, tinha uma vida e não queria compartilhá-la. Portanto, nada de lágrimas. E acima de tudo, sem arrependimentos. — Nossa, mulher, você está me matando aqui. Sua voz a trouxe de volta ao presente. — Paciência. Ele estendeu a mão para sua bainha, mas ela bateu na mão dele. — Não. Ele olhou para seus seios nus com um olhar faminto. — Nada de tocar. Ainda não. Ela lhe ordenou que tirasse a camisa. Blake a colocou atrás da cabeça e se deitou para aguardar novas instruções. Que liberdade. Que alegria. O prazer de ter esse homem à sua mercê. — Sabe de uma coisa, eu costumava fantasiar sobre isso. — Não acho que eu precisava saber isso. — Então não vou dizer o que mais eu imaginava... Ela desmontou dele e fez um gesto para sua virilha. — Agora as calças. Depois, mãos atrás da cabeça. Quando a roupa havia desaparecido e ele retomou sua posição quase relaxada, ela voltou para cima dele, deslizando-se por seu comprimento. — Ah, isso é tão bom... Ela se levantou, afundou novamente e ele impulsionou seus quadris para encontrá-la, empurrando mais para dentro. Lento, liso e escorregadio. Ela passou as mãos pelos cabelos, saboreando o momento enquanto se moviam juntos. Glorificandose na corrida final para a satisfação. Momentos depois, ela deslizou para um lado e se espreguiçou, aninhando-se ao lado dele. — Então... Amanhã é o grande dia — disse ele. 86
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Queria que Jared pudesse vir, mas ele ficou preso em Cingapura com o trabalho. Ele deveria estar de férias. — Crystal e Ian vêm. — Sim. Mas ele sabia que era Jared que ela queria ver. — Ele vai estar lá em espírito. — Eu sei. — Você ainda não me disse para qual fundo de caridade está arrecadando dinheiro. — É uma surpresa. Apenas Gilda sabe. — Não sou um fã de surpresas. — Então vira homem, meninão, porque eu não vou dizer. Agora vá dormir. Ele estava na praia que assombrava seus sonhos. Mas, dessa vez, encontrava-se suspenso no ar, olhando para baixo. Lissa estava em pé na areia. A brisa balançava o cabelo dela sobre seu belo rosto, que estava voltado para o sol. Ela olhou para cima, sorriu, acenou, em seguida, partiu pela faixa de areia. Seu coração gaguejou. Ele queria acenar de volta, dizer a ela que estava vindo e pedir que esperasse, mas não conseguia mover o braço. E então ela estava afundando na areia, com o rosto contorcido de horror enquanto gritava seu nome, mais e mais. Ele caiu na praia e começou a correr, mas suas pernas eram colunas de concreto. Então, o mundo ficou escuro conforme ele ia na direção a um afloramento rochoso na beira da água... — Blake. Blake, você está tendo um pesadelo. Lissa. Sem gritar. Sua voz suave tomou conta dele. Ele sentiu a mão em seu peito e abriu os olhos para vê-la inclinando-se sobre ele, sua silhueta recortada contra a luz cinzenta da janela. Os olhos arregalados e cheios de algo parecido com o medo que ainda rasgava seu corpo. Ele não havia tido um pesadelo durante semanas. Pensou que haviam ido embora. Mas esse sonho foi diferente. Seu subconsciente estava lhe advertindo para ficar longe dela, para mantê-la segura. — Você não vai mais me manter afastada — disse ela, com firmeza. — E você não é o único que lê olhos. Ele virou a cabeça no travesseiro. Nas sombras, ainda podia vê-la na praia e era como se garras afiadas houvessem picado o que restava de seu coração. — Ligue o abajur. Ele piscou, desesperado para não vê-la cair naquele buraco do inferno. Então, as palavras, a dor, as memórias foram sumindo. — Fomos atacados por um inimigo invisível em uma praia. Meu mais novo recruta foi morto. Eu estava no comando, eu era o responsável. Era eu quem deveria ter morrido naquele dia. — Ah, Blake. Por que você diz isso sobre si mesmo? Não deveria ter sido 87
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver ninguém. Ele se virou e olhou para Lissa. — Você é uma boa ouvinte, Lissa. A única que já ouviu. A única mulher que se importou com o que estava dentro dele. Ela olhou para ele, os olhos arregalados e cheios de compaixão. — Comece pelo começo e não pare até terminar. Ele respirou fundo. — Nós estávamos em um exercício de treinamento de rotina... O coração de Lissa lamentou por Blake enquanto ele falava com o olhar fixo em horrores que ela não podia ver. — Eu acordei em um hospital militar — disse ele, por fim. — Graças a Deus — sussurrou ela. — Eles me chamavam de herói. Se eu tivesse feito o meu trabalho direito, teria visto os sinais mais cedo e Torque ainda poderia estar vivo. — Não. Você fez o que podia. Ninguém poderia ter feito mais. Você é um bom homem, Blake. O melhor. Você não pode salvar Torque, mas você já fez tanto por outros. Você passou anos protegendo nosso país. Protegendo-nos. Pense em Gilda. E eu... Pense em tudo que você fez por mim. O barco. Seu barco. Você nunca comentou com Jared a história por trás disso, disse? O negócio que você me ajudou a construir. Todd. Perdoe-se, Blake. Deixe-me ajudá-lo. Ela fechou as pálpebras dele suavemente com as pontas dos dedos. — Durma agora. Estarei aqui.
CAPÍTULO CATORZE
— Eu devia ter comprado um vestido novo. Lissa olhou insatisfeita para seu reflexo. Seu vestido preto era curto e simples, mas ela não tinha tido tempo de passear pelas butiques. Blake estava abotoando a camisa. Estava incrível. — Não é como me imaginei esta noite. Pareço tediosa. Talvez um brilho labial mais... — Talvez isso ajude. O reflexo de Blake apareceu atrás dela com um único fio de pérolas. — Oh... Ela perdeu o fôlego. — Levante o cabelo. Ele fixou o colar em torno de seu pescoço. Brilhava como fogo à luz do quarto. 88
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Oh, meu... Não sei o que dizer. Ela tocou as esferas lisas, frias contra a sua pele repentinamente corada. Devem ter custado uma fortuna. — É absolutamente perfeito. — Combina com a sua pele. Ele se virou para encará-la e deu um beijo em sua testa. — Boa sorte para esta noite. Você merece. — Obrigada, Blake. Ela beijou seu pescoço. — Por tudo. Mas enquanto caminhava para a noite com ele, algo estremeceu sua espinha. Não havia lido em algum lugar que, quando um homem dava pérolas a uma mulher, as lágrimas viriam logo? Por volta das 20h30, a sala onde a Lissa’s Interior Designs abriria na segundafeira estava uma colmeia sensorial. Conversa animada. Roupas e fragrâncias variadas. Orquídeas de Cingapura entre as folhagens tropicais. Canapés coloridos, champanhe rosa. E sobre tudo isso, Vivaldi tocado por um quarteto no mezanino. Lissa se misturou com os convidados. Alguns ela conhecia, outros encontrava pela primeira vez. Gilda a apresentava. De repente, ela foi envolvida em um abraço apertado e ouviu uma voz familiar. — Olá, linda. — Jared! Ela virou-se e o abraçou. — Não sabia que você havia voltado. — Queríamos fazer uma surpresa. Por um momento, ela queria agarrá-lo e dizer-lhe que o amava. — Senti sua falta. — Eu também, irmã. Ele a soltou e deu um passo para trás. — Sophie. Você cortou seu cabelo. Está lindo. Sophie exibiu seu novo penteado com um sorriso. — É mais fácil de cuidar viajando. — Crystal. Lissa abraçou os dois. — Obrigada por ter vindo. E Ian também Sua família a amava e sempre estaria lá para apoiá-la. Tentou não pensar em Blake. Ele nunca seria parte de seu círculo íntimo. Ele não estaria ali quando a empresa desse lucro pela primeira vez nem para compartilhar suas metas, porque ele navegava sozinho. — Está tudo bem, Lissa? — perguntou Sophie. — Você está brincando? Com tudo isso acontecendo? Onde estão as crianças? — Vão dormir com os pais de Ian — disse Crystal sorrindo. — Então, todos nós estamos hospedados no Blue Oceans. 89
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ela olhou para Jared enquanto falava. — Esperamos que você e Blake se juntem a nós para o café da manhã amanhã, antes de voltarmos. — Adoraria. Vou falar com Blake. Ela olhou em volta. Mal havia visto seu parceiro desde que chegaram. Ela o viu no meio da multidão, conversando com um casal de idosos. Seu coração pulou com aquele primeiro vislumbre. Sempre pulava. Sempre pularia. Não só por sua beleza física. Ela via o homem por trás da perfeição masculina. Um homem de paciência, compreensão e integridade. Mas ela guardava o conhecimento e seus sentimentos enterrados. Ela sabia que ele iria embora, que era apenas uma questão de tempo. Será que ele mudaria de ideia e ficaria se ele soubesse que ela o amava? Seria justo com ele? Não. Porque com a bagagem emocional que ele carregava, para ele seriam palavras vazias. E qual seria o sentido? Ele não queria ser amarrado a um lugar. Eles nunca poderiam estar juntos a longo prazo. A voz de Jared soou pelo microfone instalado no meio da sala. Os convidados se aquietaram e se reuniram ao redor. — Senhoras e senhores, bem-vindos à Lissa’s Interior Designs. Seu irmão sorriu para ela enquanto os espectadores aplaudiam. Ela levantou uma das mãos em reconhecimento, emocionada. Quando os aplausos se acalmaram, Jared continuou. — Gilda me pediu para dizer algumas palavras e eu vou começar falando sobre a minha irmãzinha... Alguns momentos depois, ele terminou dizendo: — E agora, com grande prazer e imenso orgulho, quero apresentar a mulher talentosa que vai transformar suas casas em obras-primas. Lissa Sanderson, senhoras e senhores. Ele lhe entregou o microfone, com um murmúrio. — Parabéns, irmã. Ela apertou uma das mãos ao redor do microfone. — Obrigada, Jared. Ótimo discurso. Ela olhou para o pedaço de papel na mão. — Primeiro, gostaria de agradecer a todos por terem vindo e tornado esta noite um sucesso tão grande... Cruzando os braços, Blake ficou bem para trás da multidão, longe dos holofotes, e assistiu à troca de sorrisos entre os irmãos. Sentiu uma sensação estranha. Sentiuse como se estivesse no convés de um navio naufragando assistindo ao resto da tripulação subir no único bote salva-vidas e zarpar. Ela continuou seu discurso, mas ele não estava ouvindo as palavras, ouvia apenas sua voz encantadora. — Como a maioria de vocês já sabe, esta noite não é apenas sobre a Lissa’s 90
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Interior Designs. É também sobre caridade. Hoje eu quero prestar uma homenagem aos homens e mulheres das Forças Armadas. Então aqueles olhos claros olharam diretamente para ele. Como se ela soubesse exatamente onde ele estava. Em algum canto ainda em funcionamento de seu cérebro, ele registrou seu reconhecimento ao seu trabalho, mesmo que ele mal houvesse tocado naquele aspecto de sua vida com ela. Com qualquer mulher. — Para aqueles de vocês que não tenham ouvido falar dele, o Apoie Nossos Soldados presta cuidados de saúde, aconselhamento e apoio legal para nossas tropas no exterior e veteranos. Cada um deles faz um enorme sacrifício pessoal para nos proteger aqui na Austrália. Eles deixam suas famílias e entes queridos e suportam situações de risco de vida diariamente. Alguns pagam o preço derradeiro. Outros retornam, mudados para sempre. Mudados para sempre. As palavras reverberaram em seu crânio. Lissa o havia mudado para melhor. Ela havia lhe mostrado uma visão diferente do mundo. Uma que ele gostava. — Por isso, queremos defender o digno e valioso fundo de caridade Apoie Nossos Soldados. Certifique-se de falar com nossa diva da caridade, Gilda, e doar o máximo que puder. Há alguém especial que quero reconhecer. Blake Everett. A maioria de vocês se lembrará da mãe de Blake, Rochelle, que trabalhou incansavelmente para a caridade de Surfers a Sunshine Coast Blake é o homem responsável por fazer meu sonho acontecer. Blake mal ouviu o aplauso retumbante sobre o rugido em seus ouvidos. Esperei por você minha vida toda. Ele não sabia o que fazer com seus sentimentos. Ouvira ela dizer a Jared que o que eles tinham era uma aventura. Um caso sem compromissos selvagem e louco, sem expectativas irreais. Ele precisava sair, respirar um pouco de ar fresco e pensar, porque talvez aquela fosse a pergunta mais importante que fosse fazer a si mesmo na vida. Mas, antes que pudesse fugir, sentiu alguém bater em seu ombro. — Quanto tempo, amigo. Blake se virou e reprimiu a impaciência. — Jared. Que bom vê-lo. Jared assentiu. — Obrigado pelo seu telefonema. Foi reconfortante saber que Lissa realmente me queria tanto aqui. — Você significa muito para ela. Mesmo que ela nem sempre demonstre. — O mesmo vale para mim. Jared pigarreou. — Quero agradecê-lo por ajudá-la com o barco. — Sem problemas. — E com o negócio. Eu teria ajudado, mas ela é tão teimosa. Blake sorriu. — Acredite, já vi. Olhou em volta, para o trabalho incrível que ela havia feito em transformar o 91
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver prédio em um tempo tão curto. — Ela tem talento e uma boa oportunidade aqui. Vai se sair bem. Quando ele olhou para trás, o Big Brother ainda estava olhando para ele. — Então, quais são seus planos agora? Blake ouviu a pergunta por trás do tom casual. E as palavras de Lissa a Jared: ele vai embora antes que você perceba. — Comprei um iate. Pensei em navegar para o norte primeiro e conferir a Grande Barreira de Corais e as ilhas lá em cima. Mergulhar um pouco. Ouviu- se a recitar as palavras como se lidas de um papel. Por que não parecia mais entusiasmado? Havia pensado sobre isso por mais de um ano, planejando por semanas. — E os negócios? Lissa sempre soube como seria. — Se ela precisar de alguns conselhos e eu estiver fora de contato... — Ela vai ficar bem — observou Jared. — Ela tem o apoio da família. Família. Sim, Lissa precisava de família. Uma casa e um marido comprometido. Para se estabelecer, criar os filhos. — Blake... Uma mulher se desculpou por interromper, mas ela havia conhecido sua mãe... Jared deixou-os e Blake ficou preso com os convidados, em seguida, Gilda pegou o microfone e propôs um brinde. E todo mundo olhou para a escada em espiral, onde Lissa estava com uma enorme tesoura de ouro. Ela cortou uma fita e um arco-íris de balões e confetes caíram do teto. Flashes de câmeras, copos tilintando. Todo mundo gritou e aplaudiu. Exceto Blake. Ela fixou os olhos nele e era como ser sugado por um redemoinho de desejo e esperanças, dele ou dela, ele não sabia... Apenas que o puxava em uma direção para a qual ele nunca teve qualquer intenção de ir. E tudo o que Blake sabia era que queria seguir aonde quer que levasse. Quando Lissa desceu os degraus, ele caminhou em sua direção, com o coração acelerado. Ele não queria ser um parceiro silencioso. Queria uma parceria completa. Não sabia muito sobre decoração de interiores, mas podia aprender, não podia? Poderiam aprender juntos. Ela poderia ser o gênio criativo e ele... Eles descobririam alguma coisa. Mas primeiro ele tinha que saber como ela se sentia. Como é que ela realmente se sentia sobre os dois. Juntos. Ela acenou e foi até ele sorrindo. — Tenho ótimas notícias. Eu vou contar no caminho... Há uma festa na casa de Brandy e... Ela parou de falar. Você não está com dor de cabeça, não é? Está pálido... — Eu estou bem. Na verdade, eu... — Então, você vem? Por favor, Blake, eu quero você lá comigo. 92
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Eu preciso falar com você primeiro. — Sobre o quê? — Não aqui. Lá fora. Sem esperar por uma resposta, ele pegou seu cotovelo e a levou para fora através da multidão. — Lissa, eu... — Não pode esperar? A festa é para... — É importante. Ele agarrou seus braços, repentinamente desesperado. — Minha carreira também. Você não disse para me concentrar em minha carreira primeiro? Certo, não consigo esperar, vou ter falar agora... Seus olhos faiscaram. — Maddie Jenkins quer entrar na empresa como uma sócia plena! Ela tem lojas de design de interiores de Cairns a Brisbane e ela quer que Lissa’s também seja parte. Blake virou pedra. Diminuiu seu aperto. Quem era Maddie Jenkins? — Você não discutiu isso comigo. É educado discutir quaisquer alterações com seu atual sócio primeiro, não acha? Ela se acalmou. — Ah, Blake. Eu deveria ter dito, sinto muito. Mas acabou de acontecer. Seu sorriso desapareceu e as faíscas em seus olhos sumiram e ele se odiou por ser a causa, mas não conseguia aceitar seu pedido de desculpas. Como ele não respondeu, ela continuou: — Você e eu... Concordamos que era um arranjo temporário, até que eu encontrasse outro interessado. Maddie tem anos de experiência e contatos em todo o país. Ainda será Lissa’s Interior Designs, mas esse arranjo é simplesmente... perfeito. Para mim... E para você. Os olhos dela se escureceram. — Você nunca quis ser envolvido em um negócio de design de interiores. Você só fez isso para me ajudar, nós dois sabemos disso. Porque sabia que eu não aceitaria caridade. Mas você acreditou em mim e eu nunca vou me esquecer disso. Ele apertou sua mandíbula. Ela estava certa. — Você tem tudo planejado. — Faz sentido... Para nós dois. Você está livre agora. Você pode fazer o que quiser, onde quiser. Se for o que você quer... — Se eu lhe pedisse, você viria comigo? — O quê? Onde? Quando? — Para qualquer lugar. Para sempre. — Por quê? — perguntou em voz baixa. E ele soube que não daria certo, mesmo que seus olhos dissessem algo diferente. Seu novo negócio era onde ela deveria estar. Ela se arrependeria pelo resto da vida. Então, ele deu de ombros. — Só queria ter certeza de que você estava realmente comprometida com esse empreendimento. 93
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ela balançou a cabeça, cruzou os braços sobre o peito. — E agora você sabe. Não posso acreditar que você tenha achado que eu iria desistir da minha carreira por um capricho. Você tornou essa oportunidade possível e eu trabalhei por ela por tanto tempo. Eu vou aceitar a oferta de Maddie. Ele ficou vagamente consciente de que um grupo de jovens festeiros foi para a calçada, que alguém chamou o nome dela. Ainda observando-o, Lissa se afastou em direção a eles. — Tem certeza de que você não virá com a gente? Ele balançou a cabeça, mal conseguiu sorrir. — Vá fazer suas coisas, garota festeira. Tenho alguns negócios para cuidar. — Vou pegar uma carona, vejo você em casa, então. Casa? Um calor brilhou dentro dele apenas para resfriar imediatamente ao vê-la partir. Então, ela pareceu mudar de ideia. Virou-se e correu, agarrou a camisa dele e piscou para ele. E por um segundo um novo amanhecer acenou. — Obrigada, Blake, você é o melhor sócio que eu já tive. Ela estendeu a mão, puxou sua cabeça para baixo e apertou seus lábios quentes nos dele. Ele a puxou para mais perto, de uma forma que estranhamente beirava o pânico. Enfrentara fogo inimigo, minas não detonadas e estivera ameaçadoramente perto de ficar sem oxigênio no fundo do oceano e sempre manteve a calma. Não havia nenhuma calma ou lógica ali. Quando ela parou o beijo, o sentimento não foi embora. Ele se aprofundou. Ela sorriu e deu um passo atrás. — O pessoal de limpeza vai fechar a loja quando estiver tudo terminado. Ele projetou o queixo em direção ao grupo. — Seus amigos estão esperando. Ela assentiu. — Boa noite. Não me espere. Ele jurou ter ouvido aquelas palavras.
CAPÍTULO QUINZE
Blake deveria ter gostado de voltar para casa sozinho. Era o que queria, certo? Parou do lado de fora do quarto de Lissa. A fragrância sutil que ela usava permaneceu no ar. A área estava como o desastre habitual. Um amontoado de roupas, caixas, sacos de compras. Sua presença se estendia para os outros cômodos. 94
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Droga. Ele havia se acostumado com Lissa. Era... Confortável. Muito confortável. Seu olhar se voltou para uma foto que ele tirou dos dois em um lugar com vista para a esplanada. Lissa colocou em um porta-retrato para ele levar quando fosse embora. O relacionamento sempre fora temporário. Estendendo-se sobre a cama, ele colocou os travesseiros atrás da cabeça. A espera de Lissa voltar para casa. E se... ? Lissa calmamente deixou-se entrar como o primeiro raio escarlate do horizonte do mar. Não queria chegar tão tarde, mas ela e Maddie tinham muito que discutir. Se eu lhe pedisse, você viria comigo? E por um momento, na festa, olhando em seus olhos, ela vacilou. Navegar com ele no pôr do sol. Viver, amar e envelhecer juntos. Reunindo os sapatos, ela subiu as escadas. A porta do quarto de Blake estava aberta. — Bom dia, menina festeira. Havia manchas escuras sob seus olhos. Olhando para a cama, viu que ele fazia as malas. Uma dor devastadora a inundou. — Então, você e Maddie resolveram tudo? Ela mal ouviu. — Você está indo embora. — Está na hora. O cérebro dela se virou com o choque. — Seu empréstimo. Temos que organizar... — Eu não preciso do dinheiro, Lissa. Aceite-o como um presente. Vou providenciar a papelada. — Eu não posso fazer isso, não é certo. — Então pode doar para a caridade. — E a casa? — Não há reservas para o próximo par de meses. Acabei de enviar um e-mail para o agente imobiliário e lhe informei que você estará aqui pelo tempo que precisar. — Eu não posso ficar aqui. — Então me faça o favor de cuidar da casa por um tempo. É sempre mais seguro quando alguém está morando. E pare de me dizer que você não pode. Eu sei que pode. Eu preciso ir embora. E tem que ser agora. Sua voz era áspera e crua. — Você entendeu? — Não. Não entendi. Eu entendi que você precisa de tempo para curar as feridas. Mas eu posso ajudar com isso. — Sempre foi temporário, Lissa. Nós sabíamos disso. — Então é isso. Sem lágrimas. Seus olhos estavam secos como poeira. — Por que você não vai preparar o café da manhã? Lissa não conseguia arrastar os olhos de seu rosto. Era o que ele queria e ela 95
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver queria que ele fosse feliz. Mas por que tinha que doer tanto? — Então você está indo embora. Depois de tudo que passamos, você consegue arrumar as malas e seguir em frente desse jeito? Ela pensou ter visto as mesmas emoções rasgarem seu olhar, mas talvez ela... estivesse tendo alucinações. — Pensando bem, esqueça o café da manhã, é melhor eu ir. Você sempre teve esse dom para ser dramática. Não é o fim do mundo, Lissa, é apenas o começo. Você vai me agradecer depois. Nós queremos coisas diferentes. Você precisa de estabilidade. Casa, família. Eu quero sentir a maresia no meu rosto e liberdade. Tivemos alguns bons momentos, mas sempre soube que era apenas uma aventura. Ela se encolheu. — Sabe de uma coisa? Eu não preciso de homem na minha vida. Por que vocês, homens, sempre acham que são tão indispensáveis? — Acho que já dissemos tudo, então. — Acho que sim. Ele pegou uma de suas malas e a pendurou no ombro. Maldito seja, a conversa tinha esgotado sua última gota de energia e ela não sabia quanto tempo mais conseguiria permanecer de pé. — Espero que você aproveite sua liberdade. E sempre serei grata por sua ajuda. Acho que vou ter que dormir. Você provavelmente terá ido embora quando eu acordar, então... Vou me despedir agora. Ele acenou com a cabeça uma vez e partiu o que restava de seu coração quando beijou sua bochecha levemente e disse: — Nos vemos por aí. Não naquela vida. E para ela sobrou explicar por que ele não iria para o café da manhã com a família. Ela fechou os olhos para conter as lágrimas. Em uma noite, ela havia conquistado a carreira de seus sonhos, sua independência, sua nova vida. E perdido o homem que amava. A loja abriu na segunda-feira. Jill, uma das funcionárias de Maddie, estava lá para ajudar por algumas semanas. Mais velha do que Lissa e com a experiência de alguns anos, Jill foi brilhante e entusiasta e Lissa esperava que ela ficasse. Ela não pensava em Blake. De jeito nenhum. Nem por um minuto. Ela não imaginava que ele compartilhasse a emoção de seu primeiro dia. No meio da manhã, um arranjo floral enorme chegou. Três dúzias de rosas amarelas perfumadas. — Alguém ama você. Jill sorriu. — Meu irmão. Lissa sorriu de volta. — Ele sempre... Sua voz foi sumindo, seu sorriso esmaecendo enquanto lia o cartão. 96
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver —Parabéns! Pensando em você hoje. Blake. A surpresa a pegou desprevenida. — São do meu... São de Blake. — Você quer dizer do cara da Marinha de sábado à noite? — Ele saiu da Marinha. Comprou um iate. E não vai voltar tão cedo. Mas ela dormiu em sua cama naquela noite. Na noite seguinte ela mudou as coisas dela de lá. Apenas pelo curto período de tempo até que encontrasse seu lugar. À noite, depois de fazer hora extra, ela desenhou e terminou a peça que estava trabalhando. Afinal, sabia todos os planos e ângulos de seu rosto. Um retrato de Blake. Ela lhe daria quando ele estivesse de passagem. Ela colocou uma música e dançou na sala até estar fisicamente exausta, incapaz de dormir. Citando o trabalho como motivo, não visitou sua família. Trabalhar, trabalhar, trabalhar. Aquilo lhe deu um motivo para se levantar pela manhã. Para sua surpresa, ao longo das semanas seguintes, ela descobriu que podia viver sem Blake. Blake embalou sua caneca de chá, enquanto observava o sol sair da água. Ele nadou no horizonte, uma bola de fogo brilhando na névoa da manhã. O ar estava pesado com a umidade e o cheiro do mar, do jeito que ele gostava. Ali era o paraíso. Quem não daria tudo para estar no lugar dele? Ele respirou fundo quando viu um bando de aves marinhas mergulhando e deu uma mordida em seu sanduíche de bacon frito. A água batia no casco, as velas se agitavam preguiçosamente. Aquilo era liberdade. Ele poderia ter o tempo que quisesse para apreciar o vento em seus cabelos e o sol em suas costas. Ninguém para lhe dizer o que fazer e como fazê-lo. Ninguém para lhe dizer quando se levantar, aonde ir. Ninguém. Blake não estava sozinho. Poderia ancorar na marina mais próxima a qualquer momento e conversar com os moradores no iate clube. Ele não precisava de companhia. Por que desperdiçar tempo construindo relacionamentos que sempre terminam? Por que construir uma casa, estabelecer-se em um lugar, quando ele poderia ter sua casa marítima em qualquer lugar que quisesse? Ele estava vivendo um sonho. Tudo o que ele precisava era de um barco em boas condições, comida em seu prato e uma cama confortável. Tudo o que ele queria era a paz e a solidão e um horizonte azul. Em uma noite, depois de fechar a loja, Lissa olhou para um pequeno apartamento que estaria disponível no final do mês seguinte. Não tinha vista para o mar, mas ela não podia se dar ao luxo de ser exigente. Ela voltou para casa se sentindo mais feliz do que o habitual. Quando ela parou na calçada, viu uma limusine na frente da casa de Gilda. Para um de seus eventos de caridade, sem dúvida. Ao longo do caminho para a porta da frente, ela ouviu passos atrás dela. — Srta. Sanderson? 97
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Sim? Ela se virou quando o motorista uniformizado se aproximou. — Boa noite. Ele tirou o chapéu de motorista. — Meu nome é Max Fitzgerald e pediram que lhe entregasse este pacote e esperasse você estar pronta para a reunião do jantar. — Eu não tenho compromisso no jantar — disse ela. — Você não recebeu uma mensagem de texto explicando? — Eu não vi, eu estive... Ocupada... Ela pegou em sua bolsa o telefone. A tela se iluminou com o seu toque e ela abriu a mensagem de texto: Lissa, pode confiar em Max. É hora de discutirmos o resto de nossas vidas. Ela reconheceu o número de Blake. Por alguns segundos atordoados ela não conseguia se mexer. Naquele momento ele queria falar? Justamente quando ela estava se acostumando a não tê-lo por perto? Ele provavelmente tinha inquilinos esperando para alugar a casa e queria que ela desocupasse. Ele queria resolver o resto de sua vida. Ou será que ele pensava que poderia aparecer do nada e ela iria correndo? Outras mulheres poderiam, mas não Lissa Sanderson. Ele não podia sequer ter se incomodado em convidá-la pessoalmente? — Eu não estou livre esta noite — disse a Max. Eu vou enviar uma mensagem para ele. Obrigada, pode ir. — Ele me disse que você poderia dizer isso. Ele pediu que reconsiderasse. — Eu não... — Por favor, srta. Sanderson. Ele me pediu para ficar de joelhos, se precisasse, e estou ficando velho demais para isso. Seus olhos brilharam com humor. — Minhas articulações não são mais as mesmas. Lissa olhou para ele. Blake implorou? Um vislumbre de algo como esperança brilhou dentro dela, mas ela o suprimiu. — Não há necessidade. Por que você não vem para dentro e eu vejo o que há neste pacote? — Vou esperar no veículo. Fique à vontade, estarei aqui até o amanhecer. — Amanhecer? — Sr. Everett explicou que a senhorita gosta de festa. — Foi? Ela não sabia se devia se divertir ou ficar ofendida. — Certo, Max. Em breve você saberá minha decisão. Lissa entrou em casa e, em seguida, abriu a caixa. Seu coração disparou. Um vestido fino em um pálido azul-marinho. Ele brilhava na luz. Ou talvez fossem as lágrimas que brotavam de seus olhos. — Ai, meu Deus... Ela nunca viu nada tão requintado. 98
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Quando correu para experimentá-lo, ela não se atreveu a ter esperança.
CAPÍTULO DEZESSEIS
Max estava fora da limusine quando ela saiu depois de 20 minutos de tensão. — Você está linda. — Obrigada. Ela passou a mão no tecido escorregadio. Parecia um sonho. Ela se perguntava se não se passava disso. Apenas um sonho. Como os que tinha há tantos anos. Ela deslizou para dentro do veículo e viu as flores ao seu lado no assento de couro macio. Através dos alto-falantes, Robbie estava cantando sobre anjos. Uma garrafa de champanhe gelada em um balde de gelo ao lado de uma taça de cristal. — Posso servir-lhe uma taça de champanhe antes de sairmos? — perguntou Max. — Não. Ela comprimiu o estômago trêmulo com a mão. — Realmente não dá. Enquanto saíam, tentou se lembrar da última vez que recusou champanhe. Mas naquele momento seu interior simplesmente não toleraria. E ela precisava estar com a mente clara para enfrentar Blake. Poderia parecer um sonho, mas ela não sabia se queria mesmo um sonho. Não se permitiria pensar além do próximo passo. De acordo com a mensagem, ele esperava que conversassem durante o jantar. Talvez ele gostasse de mulheres sofisticadas enquanto jantava. Ou talvez... Ela balançou a cabeça e olhou para o céu tropical escurecendo. Ela se recusava a sonhar. A viagem durou apenas alguns minutos. Na Marina de Mooloolaba, com suas flores e sua bolsa, Max a acompanhou até o portão de segurança e para um iate de luxo. Aquele não era o simples barco à vela que ela havia visto na brochura de Blake. Aquele era um palácio flutuante. E então ela o viu. No convés. Com calças escuras bem ajustadas e uma camisa branca aberta no pescoço. Seu coração parou, batendo acelerado em seguida. Seus olhares se encontraram — Boa noite, Lissa. Seu tom era acolhedor, embora um pouco formal. — Olá. — Obrigado, Max. Por enquanto, pode ir. Ele estendeu a mão. Ela teve tempo para respirar seu cheiro almiscarado, antes que ele se afastasse. 99
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver — Obrigada pelo vestido. É lindo. — Você o torna lindo. Ele se inclinou e tocou os lábios em sua bochecha. — Espero que você não tenha comido — disse ele, colocando a mão na parte baixa de suas costas nuas para guiá-la para o barco. Ela quase suspirou. — Este iate é magnífico. — Eu vendi a maior parte de meus investimentos para comprá-lo. Através de uma ampla porta aberta podia ver uma espaçosa sala de estar. — Tudo é muito grande. Você se foi há um mês e agora... — Vinte e seis dias, na verdade. Ela sabia. Vinte e seis dias e 13 horas. Um garçom uniformizado apareceu com uma bandeja de prata. — Você gostaria de camarão com wasabi e molho de limão? Seu estômago se contorceu. Ela colocou as flores sobre a mesa. — Eu não vou jantar com você. Eu vim porque você insistiu e senti um pouco de pena de Max, mas eu preciso saber o que você quer. E eu preciso saber agora. Depois, vou embora. Não nos veremos mais. O comportamento de Blake mudou. Sua mandíbula se apertou e ela o viu flexionar os dedos. Então, sua noite não ia de acordo com o planejado? Nem a dela. Ele olhou para o garçom, acenou para ele. — Faça uma pausa, Nathan. Lissa aproveitou a oportunidade para passar para o parapeito. — Em sua mensagem você sugeriu seguir em frente com nossas vidas. Eu pensei que era o que estávamos fazendo. — Eu também pensava assim. Até uma semana atrás. Ele deu um passo na direção de Lissa, mas ela levantou a mão. — Não se aproxime. Por favor, Blake. Você encontrou alguém para alugar a casa e você quer que eu a desocupe, certo? Ele pareceu considerar por um momento. — É verdade, eu quero que você desocupe a casa. Seus olhos eram escuros e firmes nos dela. — Porque eu quero que você viva aqui neste barco. Comigo. Lissa agarrou o corrimão para se apoiar. Blake queria que eles morassem juntos. Ele estava sugerindo que era essencialmente conveniente. Ninguém a usaria por conveniência novamente. — Nós já falamos sobre isso. Eu pensei que já tivesse deixado claro para você que estou comprometida com a minha carreira. — Eu amo você, Lissa. — Que eu... — Eu não quero passar mais um dia ou uma noite sem você. Ele deu outro passo e dessa vez ela não tentou afastá-lo. Estava, afinal, muito ocupada tentando respirar. — E você acha que por estar me dizendo que me ama... — respirou fundo — ... eu 100
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver vou desistir de tudo em que tenho trabalhado? — Não. Seu olhar a mantinha cativa enquanto ele caminhava em sua direção. — Eu vou ficar aqui, em Mooloolaba, porque aqui é onde você está. O pouco fôlego que lhe restava foi embora. — O que aconteceu com “sentir a brisa do mar em seu rosto e ancorar onde você quiser”? — Eu pensei que era isso que eu queria. Mas agora eu sei que quero você mais do que tudo. Ele passou a mão pelo cabelo. — Pelo amor de Deus, Lissa, me tire desse inferno em que estou vivendo e diga sim. Diga que você me ama também Diga que o que tínhamos não era apenas uma aventura. Lissa o fitou, com o rosto tenso. Ela nunca tinha visto tamanha vulnerabilidade em seu rosto. — Eu amo você — disse ela suavemente. — Eu sempre amei e sempre amarei. Foi você que sempre falou sobre ir embora. E foi você que chamou de aventura. — Eu ouvi você falar com Jared. — Ah... Ela sentiu um pequeno sorriso tocar seus lábios momentaneamente. — Você não sabe que não pode espionar conversas alheias? — Lissa... — Nunca foi uma aventura para mim. Não, não me toque. Ainda não. Eu quero saber o que fez você voltar. O olhar assombrado que tinha visto tantas vezes brilhou por trás de seus olhos. — Percebi que queria viver antes de morrer. — Torque... Ele acenou com a cabeça. Então, Blake não lhe deu tempo para se mover. Enrolou-a em seus braços e a abraçou para que ela pudesse ouvir seu coração batendo. E ela queria ficar em seu abraço seguro para sempre. — Eu senti sua alma deixando seu corpo, Lissa, enquanto o arrastava pela areia. Eu ainda ouço os tiros, às vezes. — Os pesadelos... — sussurrou Lissa. — Você ainda os tem. — Não com tanta frequência. — Ele tinha apenas 18 anos. Milhares de quilômetros de casa. Ele mal começou a viver e já estava morto. — Eu sei. Você precisa aprender a perdoar a si mesmo. — Eu estou trabalhando nisso. Eu fui visitar os pais de Torque. Eles estavam tão gratos por haver alguém com ele quando morreu. Ajudou. Tanto para eles quanto para mim. Ela assentiu com a cabeça. — Estou contente. 101
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver Ele ficou em silêncio por um momento, enquanto a brisa soprava sobre o convés. — Eu vim para casa me recuperar. Nunca esperei encontrá-la. A mulher que eu poderia amar. Um amor em que eu possa confiar, um amor a quem eu possa me dar inteiramente. Lágrimas brotaram nos olhos dela e se espalharam em sua camisa. — Um amor que vai durar a vida inteira. — Blake... — Sei que você tem o seu negócio, mas isso não significa que eu não possa estar envolvido de alguma maneira, não é? — Claro que você p... — A marina está a poucos minutos de carro da loja. Este barco tem mais conforto e luxo do que você já viu. Você tem Maddie e sua equipe para ajudar e quando quisermos em um fim de semana podemos apenas ir até a costa ou até Surfers para visitar sua família. O melhor de dois mundos. O mar e, o mais importante, você. Seus pensamentos estavam desordenados, girando com as imagens que ele foi criando com o ilusionismo com suas palavras. Mas Blake não tinha terminado. Ele deu um passo para trás e tirou algo do bolso. Abriu a caixa de veludo. — Você está preparada para assumir este marinheiro com cicatrizes que provavelmente vai acordar com pesadelos algumas noites? — Ai... Eu... — Case-se comigo, Lissa. More comigo pelo resto de nossas vidas. Seja o conforto da minha vida e eu serei o da sua. Através das lágrimas, ela viu um anel com uma água-marinha solitária ladeada por um diamante em cada lado. — Você sabe quanto tempo eu esperei ouvir você fazer essa pergunta? — sussurrou ela. E a resposta é sim. Mil vezes sim — Você é única pra mim, Lissa. Ele deslizou o anel no dedo de sua mão esquerda. A pedra que capta o mar e a cor de seus olhos. Há algo de nós dois nela. — É lindo — disse ela em voz baixa. — E agora... Você selará este acordo com um beijo? Ele sorriu de volta e dessa vez seus olhos azuis estavam cheios de luz. — Tente me impedir. E ele perdeu sua boca na de Lissa. Seu gosto, seu cheiro enquanto a puxava para mais perto. Só pararam quando o ar acabou. — Agora eu quero lhe mostrar seu novo lar. Então ele a pegou em seus braços e a levou através da sala de estar. — O passeio mais detalhado será mais tarde — disse ele. Blake a colocou no chão em frente a uma enorme cama de casal. Finalmente. — Tenho um esboço muito bom que serviria neste ambiente... — Agora não, docinho. Tire a noite de folga. Seus lábios percorriam seu rosto, enquanto suas mãos se moviam sobre a seda 102
Modern Sexy n. 74.1 – O homem de sua fantasia – Anne Oliver delicada que cobria seu corpo. Sua fragrância. Seu calor. — Eu senti falta de você — murmurou ele. Ele sentiu seu sorriso. — Então, do que você sentiu falta em mim? Ele a beijou de novo, então segurou seu rosto e olhou para aqueles olhos cor de mar. — Eu senti falta das suas cores, da sua resiliência. Sua independência. Ele pontuou cada item com um beijo. Da maneira como você escuta quando eu falo, como se importa. Senti falta até da bagunça, acredite ou não. — Estou tentando mudar — sussurrou ela. — Não mude nunca. Eu amo você do jeito que você é, com produtos de higiene feminina na minha prateleira do banheiro e tudo mais. Você me fez perceber que eu estou existindo, mas não vivendo. Venho me escondendo atrás da minha carreira, com muito medo de ter uma nova chance no amor. — Eu estava com medo também Você me ensinou a confiar novamente. — Eu acho que nós nos fazemos muito bem — Acho que sim Só que você se esqueceu de uma coisa. — É? — Você se esqueceu do quanto você sentiu falta de fazer amor comigo. — Eu não esqueci. E ele a jogou na cama. Ele estava, finalmente, em casa.
FIM
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