LINDA FEITICEIRA Série Tremaine/Shaw nº03 Desejo nº39 Copyright: Barbara Boswell (Betsy Osborne) Título original: "Triple treat" Publicado originalmente em 1993 Capa: Elaynne Camilla Alves Costa Digitalização/ Revisão: m_nolasco73
Ela não conhecia o poder de sua extraordinária beleza... Resumo: Quando o milionário Tyler Tremaine soube que uma viúva com três filhos se mudura para a casinha ao lado de sua mansão, imaginou uma senhora idosa, de cabelos brancos e rosto marcado por rugas. Mas ao conhecer a nova vizinha, ele ficou extasiado: Carrie Wilcox era jovem, maravilhosa e fantasticamente sexy! Tyler sempre conquistara as mulheres que queria, sem jamais entregar seu coração... Que feitiço, então, usou Carrie para transformar o convicto solteirão num escravo de seus lindos olhos azuis?
Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos. Sua distribuição é livre e sua comercialização estritamente proibida.
Série Tremaine/Shaw: 1. 2. 3. 4.
Noiva fugitiva (Another Whirlwind Courtship) - MIE 108 (Ebook) – [Cole Tremaine x Chelsea Kincaid] Falso marido (The Baby Track) - MIE 127 – [Connor McKay (Tremaine) x Courtney Carey] Linda feiticeira (Triple treat) - Desejo 39 (Ebook) – [Tyler Tremaine x Carrie Shaw Wilcox] The Best Revenge – [Ryan Cassidy x Alexa Shaw]
Obs1: Oficialmente Falso marido não faz parte da série Tremaine/Shaw, mas Connor McKay é um Tremaine, por isso inclui o livro da história dele na série. Obs2: Falso marido (The Baby Track) também faz parte da série Saraceni/Carey, que por sua vez, está interligada à série Irmãos Paradise. Obs3: Linda feiticeira (Triple treat) também faz parte da série Man of the Month Obs4: Da série Tremaine/Shaw falta a história de Nathaniel Tremaine e Ben Shaw, e ao que tudo indica não foram escritas pela autora.
Série Saraceni/Carey: 1. 2. 3. 4.
Louco por você (Rule Breaker) - Desejo homem do mês 15 – [Rand Marshall X Laura (Jamie) Saraceni] Falso marido (The Baby Track) - MIE 127 – [Connor McKay x Courtney Carey] Licença para seduzir (License to Love) - MIE 123 – [Steve Saraceni x Michelle Carey] Forever Flint – [Flint Paradise x Ashlinn Carey]
Obs1: No livro Licença para seduzir, Laura Saraceni é Jamie Saraceni. Obs2: Louco por você (Rule Breaker) também faz parte da série Man of the Month. Obs3: Oficialmente Forever Flint faz parte da série Irmãos Paradise, mas inclui este livro na série Saraceni/Carey porque conta a história de Ashinn Carey.
Série Irmãos Paradise:
1. That Marriageable Man! – [Rafe Paradise x Holly Casale] 2. Forever Flint – [Flint Paradise x Ashlinn Carey] Obs1: That Marriageable Man! também faz parte da série Man of the Month. Obs2: Forever Flint também faz parte da série Man of the Month.
Sites de pesquisa: http://www.universoromance.com.ar/harlequineras/seriesporautor/indices/serautorb.htm http://www.fictiondb.com/author/barbara-boswell~series~related-books~6340~c.htm http://www.fantasticfiction.co.uk/b/barbara-boswell/
BARBARA BOSWELL adora escrever sobre famílias. "Acho que a família teve muita influência para eu começar a escrever", diz ela. "Gosto, principalmente, de escrever sobre como as características das pessoas de uma família afetam o relacionamento entre elas. Quando Barbara não está escrevendo ou lendo, passa o tempo com sua verdadeira família, à qual permite que mande na casa! Ela morou na Europa, mas atualmente vive na Pensilvânia. Coleciona miniaturas e lembranças de férias, evita exercícios sempre que pode e de algum modo consegue idéias para escrever mais de vinte tipos de romances.
CAPÍTULO I Tem algum programa para o fim de semana? - perguntou Cole Tremaine ao irmão, Tyler, quando ele emergiu da temperatura fria do ar-condicionado para o calor do ensolarado dia de maio. De imediato, Tyler colocou óculos escuros, para proteger os olhos da intensa claridade. - O Dia do Soldado Desconhecido cai neste fim de semana - disse, armando-se de paciência. - Oh! - exagerou Cole, com uma careta. - Como pude esquecer? Sempre no final de semana seguinte ao Dia do Soldado Desconhecido acontece a bacanal de abertura da estação social do verão de Tyler Tremaine. O que começou com um simples jantar há dez anos transformou-se em... - Chega - Tyler ergueu a mão e todo o cansaço do mundo refletiu-se em seu rosto. - Acabo de ouvir esse sermão do papai e não dá para agüentar você também, meu irmão. - E qual seria esse sermão? - brincou Cole. - O mesmo que ouço nos últimos três anos, que tenta me convencer a escolher uma moça linda, simpática, boazinha e me tornar um homem sério, pai de família. - Moça linda, simpática e boazinha, é? - riu Cole. - Acha que papai tem alguém especial em mente? Alguma filha ou sobrinha de um cavalheiro bem-nascido e bem colocado na vida? - Pode ser, mas ele não mencionou nomes. Apenas disse que essa maravilha bem pode estar entre as minhas conhecidas. Papai acha que todas as mulheres que namoro são idiotas, vigaristas ou as duas coisas juntas. - Não diga! De onde será que ele tirou isso? - Cole riu mais ainda. - Não pegue no meu pé, você também! Acontece que não estou interessado em nenhuma moça linda, simpática e boazinha! Para que tanta pressa? Até os cinqüenta anos os homens estão aptos a casar, ter filhos e... - Opa! Sua defesa de solteiro está cada vez mais perfeita! O que papai achou dela? - Disse que não se importa com o que os outros fazem; que eu sou filho dele e não suporta me ver perdendo os melhores anos da minha vida com mulheres e atividades que nada significam... - Tyler suspirou, arrasado. - Ele deve ter caído em cima de você com essa conversa até que se casou com Chelsea. - Não, não caiu. Papai mudou muito nos últimos anos, Tyler. - Cole tornou-se sério e pensativo. Desde que se casou com Nina, ele... - Quer que todo mundo se amarre! - completou Tyler, mal-humorado. - Acho que os sofredores gostam de ter companhia! - Papai não é um "sofredor". Vive nas nuvens desde que se casou com Nina, quer que os filhos sejam tão felizes quanto ele e não se conforma por você andar atrás de coisas que não vão lhe dar a verdadeira felicidade. Papai amou Nina durante... quanto tempo foi mesmo? Ah, sim, por quase trinta e cinco anos, até que... - Não estou a fim de falar na melosa história de amor de papai e Nina - cortou Tyler. - Nada tenho a ver com isso, sou feliz com a vida que levo e estou cheio de me dizerem que perco o meu tempo por não me amarrar a uma moça linda, simpática e boazinha que providenciaria um herdeiro para mim e me tornaria mais um exemplo da caretice doméstica. - Acho que é preciso bem mais do que uma moça linda, simpática e boazinha para "endireitar" você - disse Cole, jovial. - Vai precisar de uma feiticeira para conseguir essa espantosa transformação. - Muito engraçadinho, Cole! - o sorriso de Tyler mais parecia o arreganhar de dentes de um lobo. Guarde essas piadinhas para você. Não dá para agüentar mais nada depois de um sermão do papai sobre as alegrias do matrimônio. - Desculpe... - Cole não parecia nada arrependido. - Então, passemos para um terreno mais seguro. Que tal conversarmos sobre bens imobiliários? - Terreno seguro, bens imobiliários - gemeu Tyler. - Você está mesmo com um senso de humor de morte, hoje! - Calma... Olhe, eu só queria saber se deu certo aquela sua compra do terreno de esquina vizinho à sua casa. Na ocasião, você disse que o velhinho que morava lá estava morrendo e que iria fazer uma oferta pela propriedade que ele não poderia recusar, de tão boa. O que aconteceu? - Nada. - Tyler franziu atesta. - Meu advogado conseguiu falar com o velho ermitão e ele recusou. Morreu algum tempo depois e a casa foi para um sobrinho dele. - E o sobrinho pediu milhões ao saber que um Tremaine estava interessado na propriedade que herdou. - Cole balançou a cabeça. - Azar, Tyler.
- O sobrinho já havia morrido, então a casa ficou para a viúva e filhos dele - explicou Tyler, aborrecido. - Parece que ela pretende morar lá. - Espero que não tenha nenhum plano criminoso para obrigá-la a lhe vender a propriedade ironizou Cole. - Intimidar viúvas e órfãos é... - Eu nunca intimidei viúvas - interrompeu-o Tyler, ofendido. - Na verdade, fui até muito civilizado com ela. Por telefone, quero dizer, ainda não a vi. - Telefonou para ela? - Ela me telefonou antes de eu ir para o Japão, participar do congresso de marketing. Encontrou aquele miserável gato listrado no porão da casa e pensou que fosse meu. É um gato vira-lata e eu o chamo de Biruta... Passei a dar comida a ele depois que o velho morreu e garanti a ela que não é meu! Então, a viúva resolveu ficar com o bichano. - Tyler fez uma pausa, pensativo, depois riu: - Ela disse que iria chamá-lo de Sombra, porque consegue entrar e sair da casa sem que ninguém perceba. Sombra! Eu lhe disse que é o nome de gato mais idiota que já ouvi e que estava maluca por aceitá-lo em casa. - Quer dizer, você a chamou de idiota e de louca. - Cole ergueu as sobrancelhas. - Você considera essa atitude civilizada? Ou estava usando seu encanto? - Estava mais é fazendo um favor a ela! Não é à toa que chamo aquele gato de Biruta: ele é um verdadeiro louco varrido! E não me interessa "encantar" Carrie. O nome dela é Carrie Wilcox. Quero mais é que vá embora e me venda a casa; não vou conseguir isso com boas palavras, agrados e gentilezas. - Bom, suas comemorações do fim de semana vão dar uma boa ajuda - ironizou Cole. - A pobre viúva, que é sua vizinha apenas há três meses, vai ter a primeira demonstração de como você diverte seus muitos, muitos e muitos amigos. - Pretendo convidá-la para a festa. - Tyler sorriu, maldoso, e por trás das lentes espelhadas, os olhos verdes brilharam. - Vou à casa dela agora... Sempre convido os vizinhos para as minhas festas. Os que moram em casas, porque os que vivem em apartamento não me interessam. - E aposto que os vizinhos nunca vão, mas convidá-los é uma segurança. Assim eles não têm cara de chamar a polícia por causa da bagunça, não é? . Tyler assentiu: - Eles iriam sentir-se muito canalhas se chamassem a polícia para acabar com uma festa para a qual foram convidados. - Quer apostar o que a viúva vai fazer? - provocou Cole. - Você disse que ela tem filhos... Quantos? De que idade? - Sei lá! - resmungou Tyler. - Me acha com cara de comitê de recepção? Não falei com ela desde que está morando lá e não a vi ainda. Hoje é que vou procurá-la para expressar meus últimos respeitos para o velho sr. Wilcox. - E fazer uma oferta final para comprar a propriedade! - Pode até ser... - riu Tyler. - E espero que depois da minha "festinha" a sra. Wilcox pense na minha proposta. - Tenha certeza! - Cole olhou o relógio. - É melhor eu ir andando. Chelsea, as crianças e eu vamos passar o fim de semana no chalé de montanha, em Catoctin. Quero sair logo depois do jantar, assim os "anjinhos" dormem na viagem. - Viagem de carro com duas crianças: o máximo do pesadelo! - Tyler estremeceu. - Não entendo por que vocês saem com os filhos: é um prolongamento da rotina, só que fora de casa. Têm que ficar de olho neles o tempo todo. Seria melhor ficar em casa; é mais cômodo e evitariam de levar toda aquela parafernália! - Será que está querendo que eu desfie o rosário das alegrias da paternidade, Tyler? Quer saber? Garanto que um dia você vai dar valor à presença de um filho em sua vida. - Isso é uma ameaça! - gritou Tyler e deu uma risada gostosa. - Hoje é dia de me ameaçarem. Primeiro papai, com sua "moça linda, simpática e boazinha"; agora você, agourando para eu ter filhos. Muito bem: na festa, garanto que vou comemorar para valer a ausência desses dois fatores na minha vida. Os irmãos se despediram rindo e desejando-se um bom fim de semana, apesar da diferença de gostos. Cole foi para a sua casa no tranqüilo subúrbio de Maryland, onde Chelsea, sua esposa, Daniel, de três anos, e Kylie-Ann, de dez meses, o esperavam.
Tyler foi para o bairro antigo, residencial, na zona norte de Washington, onde havia grandes espaços arborizados ao redor das casas, muitas das quais estavam precisando de uma boa reforma para recuperar a antiga glória. A maioria dos moradores daquela rua costumava viajar no verão e no inverno, deixando as propriedades irem se deteriorando. Depois da morte de alguns dos proprietários mais antigos, suas casas foram vendidas e reformadas, de modo a conter vários apartamentos: negócio lucrativo para os herdeiros, que moravam em outros bairros. Por isso, nos casarões viviam entrando e saindo jovens, muitos deles novos na capital, solteiros ou recém-divorciados. Se algum dia houvera qualquer ligação entre os moradores, ela já não existia quando Tyler fora morar lá, havia dez anos. Ele não se importava, porque preferia a sensação de transitoriedade que isso conferia à sua vida. Não tinha a menor necessidade de festas-de-amigos-do-bairro, nem do ar protetor de programas desse tipo. Era dono de uma mansão de tijolos aparentes, com três andares, que se erguia no meio de um jardim com altas árvores. Ao lado havia uma pequena casa de esquina, que ele ambicionava havia tempo. Desde que mudara para lá, planejava comprar aquele pedaço de terra, derrubar a casa horrorosa e ampliar seu espaço. Até o momento não conseguira, mas tinha certeza de que acabaria conseguindo: os Tremaine sempre alcançavam o que se propunham. Parou o Thunderbird 1957, conversível, que era a peça principal de sua coleção de carros clássicos, diante da pequena casa vizinha à dele. Precisava convidar a viúva para a festa do fim de semana. Ainda no visual de executivo, com elegantíssimo terno cinza, camisa imaculadamente branca e gravata vermelho-escuro, ele chegou à porta com largos passos e bateu a aldrava de bronze. Um rapaz alto, loiro e magro, de jeans e camiseta, com cerca de vinte e cinco anos, atendeu. Com certeza, filho da viúva, concluiu Tyler; imaginava que ela devia ter uns cinqüenta anos e um filho universitário completava a idéia. - Sou o vizinho, Tyler Tremaine - disse, abrindo seu mais simpático sorriso. Para mostrar-se menos impressionante, mais acessível, tirou o paletó, afrouxou a gravata e desabotoou o colarinho, enquanto falava. - Vim convidar você e sua família para a minha tradicional festa do Dia do Soldado Desconhecido, amanhã. Costumo convidar toda a vizinhança... Servimos um jantar às nove, mas podem chegar antes, se quiserem tomar um aperitivo. Os mais aflitos costumam chegar às sete. O jovem ficou olhando para ele, surpreso. Afinal, estendeu a mão para um aperto amigável. - Entre, por favor. Sou Ben Shaw, irmão de Carrie. Obrigado pelo convite... Tyler deu um rápido olhar ao redor, assim que entrou. O hall e as duas salas que via dali tinham nas paredes um papel antigo, desbotado, móveis velhíssimos, soalho desgastado e janelas decadentes. A casa estava ruim e custaria uma fortuna restaurá-la. A viúva e família poderiam morar em lugar bem melhor com o dinheiro que recebessem pela venda, concluiu ele. Ben Shaw respirou fundo, como se criasse coragem, e disse num só fôlego: - Um dos Tremaine? Quero dizer, os Tremaine que têm uma cadeia de lojas de departamentos e de livrarias? O sorriso de Tyler foi um assombro de modéstia: - Confesso-me culpado! - brincou. Pegou um dos cartões que o identificavam como Tyler Tremaine, Diretor-Geral Executivo e Chefe do Departamento de Marketing da Tremaine e Co. O rapaz olhou o cartão com o maior respeito e enfiou-o num dos bolsos de trás do jeans surrado. - É um prazer conhecê-lo, senhor - disse, em tom solene. "Senhor"? , pensou Tyler. Afinal, não era muito mais velho do que o garoto! Mas sentiu-se como um senhor respeitável, de meia-idade ou algo parecido, diante do ar cerimonioso de Ben. Não gostou da sensação. - Minha irmã vai perguntar à sra. Tremaine o que deverá levar para a festa - acrescentou Ben, multo educado. - Ela faz uma torta incrível, com marshmallow, e pode... Tyler arregalou os olhos: torta com marshmallow? Na sua verdadeira orgia romana? - Não precisa - esclareceu, rápido. - E não existe sra. Tremaine. Aliás, as duas existentes pertencem a meu pai e a um dos meus irmãos. - Quer dizer que ainda não quer saber de coleira! Como eu - comentou Ben, jovial. - E juro que não tenho pressa... Não querendo trocar confidências com o jovem desconhecido, Tyler mudou de conversa: - Você disse que é irmão de Carrie? Quero dizer, da viúva que herdou a casa do sr. Wilcox? Alguma coisa estava errada: uma viúva com mais de cinqüenta anos podia ter um irmão universitário?
- Sim, ela é minha irmã e... - Ben voltou-se e berrou: - Ei, Carrie! Tem visita! A voz chegou antes da pessoa: - Pssiiuu, Benjamin! Assim você acorda o nenê! Era a mesma voz, um pouquinho rouca mas juvenil, que Tyler ouvira ao telefone. Com ar de quem pede desculpa, Ben sacudiu os ombros: - É o seu vizinho, Carrie, Ty... - Oh, sr. Tyler! - Carrie Wilcox entrou no pequeno hall. - É um prazer conhecê-lo, afinal. - Foi direto a ele e apertou-lhe a mão com firmeza, sorrindo, os grandes olhos azuis cheios de calor. - Veio ver como vai o Sombra? Já se acostumou à vida caseira. A voz alegre ressoava na cabeça de Tyler, ele ouvia as palavras mas não as entendia. Atrapalharase todo ao ver que Carrie Wilcox nada tinha a ver com a viúva cinqüentona que imaginara; aliás, parecia mais nova do que o irmão e era linda, com rosto delicado em forma de coração. Os cabelos loiros desciam, brilhantes e fartos, até os ombros. Tinha cerca de um metro e sessenta e parecia muito pequena entre ele e o irmão. Os olhos eram de um azul-escuro profundo como o do oceano, emoldurado por grossas e longas pestanas escuras; quando ela sorria, o rosto parecia iluminar-se. Usava um short listrado azul e branco e top curto, combinando. Tyler estava agudamente consciente da beleza do corpo esguio, da pele marfim-dourado que parecia muito macia ao toque. Ele deu um passo para trás e lembrou-se que precisava respirar. Será que era assim que se sentiam as pessoas atingidas por um raio? - Carrie, o sobrenome dele não é Tyler - informou Ben, preocupado. - É Tremaine, você sabe, o das Lojas e Livrarias Tremaine! Carrie mostrou-se confusa: - Pensei que ele disse que se chamava alguma-coisa Tyler, quando falamos por telef... - Não. Você entendeu mal. Ele se chama Tyler Tremaine. De repente, Tyler percebeu que discutiam a seu respeito como se ele não estivesse ali. Pigarreou, disposto a marcar sua presença: - Talvez a ligação não estivesse boa e a... senhora entendeu o Tyler, mas não o Tremaine. - Ligação ruim, com o telefone ao lado? - riu Carrie. - É muito gentil, sr. Tremaine. - Por favor, somos vizinhos! Me chame de Tyler, sra. Wilcox. Ela inclinou a cabeça para trás, os olhos azuis brilhando divertidos: - Isso está me parecendo uma deixa para eu lhe dizer que me chame de Carrie. - É mesmo, Carrie. Tyler observou-a com atenção. Era muito jovem para ele, claro, e tinha filhos, o que eliminava toda e qualquer chance de algo surgir entre os dois. Mas Carrie era um prazer para os olhos, de uma beleza natural e fascinante, que ele nunca vira em suas sofisticadas conhecidas. Não conseguia desviar os olhos dela. - É muito diferente do que eu esperava - disse ele, e surpreendeu-se por revelar o que pensava. Se bem que Tyler parecesse ser a espontaneidade em pessoa, como diziam os amigos e admiradoras, todos seus comentários ingênuos, as atitudes impetuosas e surpreendentes eram premeditados, estudados e treinados para causar efeito. Por isso estranhara aquele deslize. Refazendo-se, continuou: - Pensei que fosse muito mais velha, acho que pelo fato de saber que é viúva... Calou-se e conteve um gemido: que grossura! Diante do que dissera, ninguém poderia chamá-lo de víbora com língua de prata, como faziam seus inimigos e detratores. Aquilo era frase de uma língua de ferro! - Há viúvas até de vinte anos - murmurou Carrie, e seus olhos entristeceram. - Não muitas, mas existem. Ele não se surpreenderia se ela dissesse que tinha dezenove anos ou menos; mas triste e séria como ficara naquele momento, parecia mais velha. - Quantos anos você tem? Tyler arrependeu-se: nunca se pergunta a idade de uma mulher! - Temos vinte e seis anos - respondeu Ben. - Nosso aniversário é em Primeiro de Abril, o dia dos bobos! Dia mais besta de se fazer anos, não? Não imagina as brincadeiras e piadas idiotas que se tem de agüentar. - Imagino, sim, porque faço anos no mesmo dia... - respondeu Tyler, sem esconder o espanto por aniversariarem os três no mesmo dia. - Vocês são gêmeos? - Somos trigêmeos - esclareceu Carrie. - Nossa irmã Alexa, Ben e eu.
Ela ficou esperando a surpresa que essas revelação sempre despertava e Tyler não a decepcionou: - Trigêmeos?! De fato era notável: não se encontram trigêmeos todos os dias. A situação exigia um comentário, mas ele não descobria nada inteligente para dizer. Nem parecia o homem que tinha tiradas brilhantes, uma depois da outra. - Nosso pai pensou que o médico estivesse lhe pregando uma peça de Primeiro de Abril quando disse que mamãe tinha dado à luz três filhos - riu Ben. - Eles esperavam gêmeos e Carrie foi uma surpresa. - Cutucou a irmã com o cotovelo, os olhos azuis zombeteiros: - Eu dizia que foi um choque para eles, mas Carrie ficava ofendida. Em geral ela é mais surpreendente do que chocante, mas às vezes é as duas coisas. Carrie ergueu os olhos em súplica: - E Ben é o engraçadinho da família. - Sei o que é isso - comentou Tyler, seco. - Tenho um irmão assim. Vocês moram juntos? - Não. Alexa e eu temos nossa casa, mas sempre visitamos Carrie. - Ben acrescentou, preocupado: - Podemos ir à sua festa assim mesmo ou ela é só para vizinhos permanentes? - Ben, pelo amor de Deus! - exclamou Carrie. - Ele veio nos convidar para a festa do Dia do Soldado Desconhecido que vai dar amanhã, Carrie explicou o rapaz. - Disse que a família estava convidada e eu só quis confirmar. - Estão todos convidados, é claro - assentiu Tyler. Era impressionante como aqueles dois conseguiam falar sobre ele como se não estivesse ali! Tyler Tremaine estava acostumado a comandar o espetáculo: ser ignorado era novidade. Começava a sentir-se estranhamente cansado e ali dentro estava tão quente! Num repente, decidiu ir embora. - Está ficando tarde. - Olhou para o relógio e encaminhou-se para a porta. - Eu tenho que... - Não quer ver o Sombra? - perguntou Carrie, com gentileza. - Esse gato maluco! - interferiu Ben. - Espere até ver o mocó preferido dele, Tyler! - Segurou-o pelo braço, firme: - Venha. Relutante, Tyler acompanhou-o até a modestamente mobiliada sala de visitas. Através da janela decrépita viu a cerca viva, maltratada e irregular, que separava sua propriedade da dela. O tamanho e proximidade de sua mansão roubavam luz e sol, fazendo a sala ficar na penumbra. - Lá está o Sombra em seus domínios - apontou Carrie. Sobre um móvel alto, de madeira pesada, a um canto da sala, encontrava-se um gordo e grande gato, de pêlo cinza-escuro listrado em tom um pouco mais claro, com uma orelha da qual faltava um pedaço, na certa recordação de uma de muitas batalhas. - É a nossa sentinela: fica também em cima dos armários da cozinha. Ele parece viver tomando conta - brincou Ben. - O Sombra sabe, ele vê tudo - disse Carrie, com voz grave, e os gêmeos riram. Era evidente que ambos partilhavam o senso de humor; Tyler sentiu-se excluído e ficou ansioso por ir embora. De repente, um súbito berro de criança pequena cortou o silêncio e ele quase correu para a porta: não queria ser arrastado escada acima para ir admirar um bebezinho. - Se resolverem ir à festa, vejo vocês amanhã - disse ao sair, e foi direto para o carro. Com certeza tinha o ar de quem não estava ligando se eles fossem ou não, mas ligava! Pegou o lenço e enxugou a testa. Sabia o que eles iriam ver e ouvir se fossem ao que seu irmão chamava de "bacanal romana" e acabava de descobrir que não queria que isso acontecesse. Considerava-se vivido e cínico, no entanto sentia um impulso irracional de proteger Carrie e o irmão, porque ambos pareciam tão jovens, sinceros e honestos! Imagine, oferecer uma torta para a festa, levá-lo para ver o gato... Como eram límpidos e simples! A confiança, a inocência deles faziam-no sentir-se mal e culpado. Nada tinha a ver com aqueles dois: era como o Drácula ao lado de Joãozinho e Maria. Tyler detestava sentir-se desconfortável e culpado, tanto quanto sentir-se ignorado. Carrie Shaw Wilcox e o irmão tinham provocado essas sensações e despertado um astral negativo nele. Quanto antes ela lhe vendesse a casa e desse o fora dali, melhor. E se a festa do dia seguinte contribuísse para isso... Bom, era um mal necessário. O fim justifica os meios, não diziam os publicitários vitoriosos? No frescor de sua espaçosa sala de estar com ar-condicionado, aproximou-se da janela e olhou a dilapidada casa vizinha. Lembrou-se de como se perturbara ao ver Carrie Wilcox. Só de lembrar dos enormes olhos azuis-escuros e do sorriso encantador, ficava todo esquisito.
Era um absurdo. Não podia sentir-se atraído por ela, disse a si mesmo. Ela apenas o impressionara por ser tão diferente das mulheres que conhecia... Não queria ser atraído por ela, determinou, feroz. Era idiota e injusto para com Carrie. Ele não estava no mercado para doces, ingênuas e jovens mães viúvas. Essa perspectiva era tão irritante quanto a moça linda, boazinha e simpática de seu pai. Ambas as hipóteses deviam ser descartadas. E Tyler, habilidoso em farejar e evitar armadilhas, jamais tivera dificuldade em se manter livre. Tinha certeza de que continuaria assim.
CAPÍTULO II Carrie correu escada acima para tirar Franklin do berço. O pequeno, de um ano e meio, deixou de chorar assim que ela entrou no quarto; agarrou-se na grade e levantou-se, com um largo sorriso no rostinho rosado e gorducho. - Oi, Frankie! - cumprimentou Carrie, alegre. Ergueu-o no colo e colocou-o sobre a tampa da banheirinha, para trocá-lo. Animado, ele agitou pernas e braços, entre gostosas gargalhadas. Depois de rápida luta, com um saldo de uma lata de talco e um pacote de fraldas espalhados pelo chão, a fralda foi colocada no selvagem Franklin e ela começou a vesti-lo. Um macacãozinho sem pernas e sem mangas era o mais indicado para o calor reinante e o menos complicado. - Então, afinal o Belo Adormecido resolveu acordar! - exclamou Alexa, entrando no quarto com uma criança no colo e outra pela mão. - Tive que desistir de brincar com eles lá fora - confessou, largando um e sentando o outro no chão. - Não agüento mais! As duas crianças foram direto para a prateleira numa das paredes do quarto e, seguidas por Franklin, as três passaram a jogar no chão todos os brinquedos que alcançavam. Alexa deixou-se cair na cadeira de balanço, com um suspiro de cansaço: - Dylan tentou passar por um buraco na cerca pelo menos quarenta vezes e cada vez que eu corria para impedir, Emily ia direto para as balsâminas que você plantou ontem. Acho que elas estão na pior... Pedi a Ben para dar um jeito. Carrie sentou-se no chão, com as pernas cruzadas, e Emily correu para o colo da mãe, que a abraçou e beijou. Depois de corresponder ao carinho, a pequenina foi se juntar aos irmãos no projeto destruir brinquedos. - Eles não param um instante! - gemeu Alexa. - Quando não estão dormindo, são agitados como gatos siameses. - Mamãe afirma que éramos assim, na idade deles - comentou Carrie. - Um "perigo triplo", como diz papai. As duas ficaram olhando Dylan, que sentou numa cadeirinha baixa, de plástico; de imediato Franklin e Emily correram para cima dele e por instantes os três ficaram sentados um sobre o outro. Então, Dylan tentou levantar-se e os três se esparramaram no chão. Alexa e Carrie se precipitaram para ajudar, mas o intrépido trio já se levantara e saltava sobre o enorme panda de pelúcia que estava sentado perto da janela. Entre risos e gritos, os trigêmeos pulavam sobre o brinquedo macio. - Ben está animadíssimo com o convite para uma festa amanhã - disse Alexa. - Você sabe do que se trata? - Meu vizinho, Tyler Tremaine, fez o convite. Creio que é uma espécie de boas-vindas para eu conhecer o pessoal da rua. Acho que devo ir... Você quer ir, Lex? Vou precisar de ajuda com as crianças. - Está dizendo que vai a um jantar com os três? - duvidou Alexa. - Claro que não! - riu Carrie. - Se fizesse isso iria apavorar os vizinhos e provocar um enfarte no sr. Tremaine. Ele faz questão de ser todo certinho, mesmo suando de calor. Com certeza a casa dele é um exemplo de limpeza e ordem. - Em dois minutos os trigêmeos maníacos Wilcox acabam com a ordem! - exclamou a tia. - Esse é o tempo máximo que pretendo ficar lá, Lex. Vamos depois do jantar, ficamos no jardim e depois de sermos apresentadas a alguns vizinhos, voltamos para casa. Entende? Um gesto de boa educação, para retribuir o convite.
- Bom, acho que isso dá para encarar e você precisa mesmo de ajuda com esses demoninhos. Por que Ben está tão aflito para ir? Não pensei que festas de vizinhos fizessem o gênero dele... - Ele está tão impressionado com o nome Tremaine que se enfiaria num reator atômico, se Tyler mandasse - respondeu Carrie, ácida. - Desmanchou-se em sorrisos e reverências o tempo todo que o homem ficou aqui. - Espera aí... - Alexa arregalou os olhos azuis: - Tremaine. Não há uma ala Tremaine no Hospital Central? É o Tremaine das farmácias e livrarias? Os milionários que vivem fazendo doações incríveis para fundações filantrópicas? É esse Tremaine? - Esse mesmo. Dava até para ouvir o cérebro de Ben em ação - Carrie fez uma careta - pensando no jeito de fazer amizade com Tremaine e levar a conta dele para sua agência. - Se Benjamin Shaw conseguir Tremaine como cliente, a agência lhe dá uma sala especial! animou-se Alexa. - Às vezes fico assustada com a ambição de Ben - suspirou Carrie. - Ele é tão calculista e manipulador! Tenho até vontade de avisar Tremaine para tomar cuidado. Afinal, ele veio aqui em boa fé, convidar a gente para a festa, e não pode saber que está na mira de um tubarão-publicitário. - Tenho certeza que Tyler Tremaine sabe se cuidar, Carrie. Um homem na posição dele é mais do que capaz de lidar com exploradores em potencial. Aliás, me diga como ele é. Pensativa, Carrie procurou descrevê-lo: - Parece ter uns trinta anos, é alguns centímetros mais alto do que Ben... Deve medir um metro e oitenta e sete. Cabelos castanhos, olhos verdes-escuros... Traços clássicos. Tem um sorriso arrasador. É forte, musculoso, mas não como um halterofilista... Hum... que mais? É como um deus grego renascido. Eu não reparei muito, claro. - Claro! - riu Alexa. - Mas percebi que ele não via a hora de sair daqui e que achou Ben e eu dois rematados idiotas. Tenho certeza que detesta ser nosso vizinho. - Quem sabe ele resolve comprar esta casa - sugeriu Alexa, esperançosa. - Como ele é rico, você pode pedir um preço bem alto e ir morar numa boa casa, em um bairro simpático, perto de uma escola, onde haja crianças para os trigêmeos brincarem e... - Mesmo que ele quisesse comprar, não quero vender. Pelo menos, não agora. Não posso mudar de novo com as crianças, Alexa. Temos mudado demais e elas precisam de segurança, de estabilidade. - Bom, quem sabe morar ao lado de Tyler Tremaine tenha suas vantagens. - Alexa olhou-a, cautelosa. - Você é tão bonita, Carrie! Talvez ele a convide para sair e... - Alexa, um homem como Tremaine sai com princesas, modelos e estrelas de cinema. Nem enxergam uma viúva com trigêmeos. E você sabe o que penso a respeito de namoro: não tenho tempo para isso e mesmo que tivesse ando cansada demais. No entanto, o principal é que nunca mais vou amar alguém como amei Ian. - Eu sei. - Alexa abraçou a irmã. - Ele era o homem mais maravilhoso do mundo, Carrie. Foi meu mais querido amigo, um cunhado que adorei. Se, pelo menos... - Vai! - Dylan atravessou o quarto correndo. – Vai, vai! Dirigiu-se para o patamar da escada, seguido pelos irmãozinhos, ao mesmo tempo que a mãe e a tia disparavam atrás deles. Carrie ficou feliz com a interrupção. Era difícil falar em Ian e Alexa sempre desandava a chorar, lembrando da noite fatídica. Determinada, Carrie expulsou a reminiscência da tragédia: tinha três filhos para cuidar, precisava viver e ir em frente por eles. As crianças estavam acima de seus sentimentos e até mesmo da dor; eram o símbolo vivo do amor que a unira a Ian. E com um trio ativo como aquele para cuidar, não havia a menor chance de ela sequer pensar num homem. Aceitara esse destino no dia em que beijara os lábios de seu amado marido, Ian, momentos antes que o caixão mortuário fosse fechado para sempre. Apesar de um casamento tragicamente breve, considerava-se abençoada por ter sido amada por um homem como Ian Wilcox. Tivera sua parte de amor e acabara-se: tinha certeza que nunca mais amaria. - Ei, Tyler, venha cá! Tem que ver isto! Tyler achava-se nas preliminares sexuais com uma ruiva estonteante que chegara há pouco à sua festa, acompanhada por Luke Minteer, o rapaz que o chamava com tanta insistência. Luke era o administrador que trabalhava com seu ajuizado irmão, cujos passos não pretendia seguir. - Espere-me aqui, querida...
Ele beijou mão de Rhandee, que assentiu, fitando-o com langorosa fascinação. Luke abriu a porta de entrada e fez Tyler sair para o pórtico: - Não pode perder isso! - exclamou, rindo. - Olhe o grupinho que está chegando. Pasmo, Tyler viu a pequena procissão que vinha pela alameda. Reconheceu Ben Shaw e Carrie imediatamente. Uma loira alta, na certa a terceira gêmea, os acompanhava. Carrie puxava um carrinho contendo... Engasgado ele fixou os olhos nas três crianças loirinhas, que pareciam ter a mesma idade. - Acho que eles erraram o caminho do parque infantil - caçoou Luke. - Oi, Tyler! - gritou Ben. Segurando o carrinho com uma das mãos, Carrie ergueu a outra e acenou, num gesto tímido. - Tem certeza que ele nos convidou? - murmurou Alexa. - Estão nos olhando como se fôssemos seres de outro planeta. Tyler foi ao encontro do grupo. Luke estava nos seus calcanhares e perguntou, incrédulo: - Você os conhece? Não vai deixar essa gente entrar, vai, Tyler? Isto não é festa para crianças! Não teve resposta, porque Tyler estava com os olhos fixos em Carrie Wilcox, que usava um simples vestido de algodão azul e branco, sandálias de pelica branca, com meio salto. Estava linda, adorável. Afinal, os olhos dele desviaram-se para o carrinho com as crianças barulhentas. - Eles não são... - começou ele. Engasgou, limpou a garganta e tentou de novo: - Eles não são todos seus? - São, sim. - Ela sorriu ao ver o espanto dele. - Dylan, Emily e Franklin. Completam um ano e meio amanhã. - Trigêmeos? - Tyler estava assombrado. - Outro grupo de três? - Isso é comum na nossa família - esclareceu Ben, todo alegre. - Desde o tempo da nossa bisavó todas as nossas mulheres têm gêmeos ou trigêmeos. Parece que é genético. Ainda bem que sou homem! - Filhos em blocos de dois ou três - balbuciou Luke, recuando como se fosse contagioso. - É pior do que uma peste! Surpreendido, Tyler descobriu que não partilhava a aversão do amigo. - É fascinante! - admirou-se, olhando para Carrie. - Isso foi documentado? - Claro que foi! Nossa família está sendo estudada por cientistas universitários - explicou Ben. Reparou nos nossos nomes? Alexa, Ben e Carrie: A, B, C. Na maternidade, puseram essas letras nas nossas pulseirinhas, pela ordem do nascimento. Nossos pais resolveram mantê-las ao escolher os nomes. Os filhos de Carrie também tiveram pulseirinhas A, B, C, mas eu a convenci a mudá-las para D, E, F, ao escolher os nomes. - E concordei com Ben, naquele momento de fraqueza - suspirou Carrie. - Fraqueza na certa causada por temporária falta de oxigênio e perda de sangue devido ao nascimento dos trigêmeos - acrescentou Alexa. - Santo Deus! - horrorizou-se Luke e bateu em retirada, indo se refugiar na casa. - Acho que ele se sente mal quando ouve falar de parto - Tyler sacudiu os ombros. Em vez de fugir, como o amigo, ele permaneceu junto de Carrie, inebriado com o perfume dela. - Você ainda não conhece nossa irmã Alexa! - E Ben apressou-se a apresentá-los, dizendo com reverência: - Este é Tyler Tremaine, Alexa. - É um prazer conhecê-la... Alexa era mais alta, loira, esguia e linda, mas interessava Tyler tanto quanto Ben. Era para Carrie que ele queria olhar, com quem queria falar, apesar de saber que não devia deixar a visita daquela família se prolongar. - Podemos entrar com este "circo" na sua casa? - indagou Ben. - Não! - exclamaram Tyler e Carrie ao mesmo tempo. Como explicar a resposta intempestiva? Tyler passou a mão nos cabelos, num gesto nervoso, reação rara nele! - É que... - começou e engasgou de novo. Não podia deixá-los entrar, porque a festa estava "esquentando". Começara às sete e meia; já eram oito e meia, as coisas já iam bem animadas, e ali pelas nove e meia ou dez, estaria pegando fogo. Como explicar isso? Era a primeira vez que o língua-de-prata, o rei do marketing da Tremaine Co., não sabia o que dizer. Carrie quebrou o desajeitado silêncio:
- Não se preocupe, eu entendo. - Parecia mais divertida do que ofendida. - Tenho certeza que sua casa não é à prova de crianças e não vai querer estes três renegados soltos nela. Não podemos ficar mesmo, só viemos para agradecer e... - Vocês são ótimos e eu pareço um idiota! - Cortou Tyler. Pela primeira vez, sentia-se um adolescente inseguro. Era envolvente e insinuante desde pequeno, quando descobrira o poder de seu estilo naturalmente encantador. Tentou jogar aquele charme nesse momento, com um sorriso tipo derrete-neve-dos-polos: - Sabe, é que... Não teve tempo de inventar a desculpa para barrar-lhes a entrada porque os trigêmeos, cansados de tanta inatividade saltaram do carrinho e saíram correndo, um para cada lado. Alexa, Ben e Carrie imediatamente entraram em ação. Ben foi atrás de Franklin, que disparou para o quintal, dando a volta na casa. Alexa seguiu Dylan, que corria para a porta de entrada e Carrie perseguiu Emily, que voou, rindo, para o portão. Tyler saiu atrás de Carrie, ultrapassou-a e agarrou Emily antes que ela fosse para o meio da rua. A garotinha solto um agudo grito de protesto, depois calou-se e fitou-o com os olhos azuis enormes, curiosos. Descobriu que não conhecia seu captor e os cantos da boquinha rosada tremeram: - Chão... - murmurou ela, insegura. - De modo nenhum - recusou ele. - Você vai ficar aqui em cima, macaquinha! - Maca... quinha... - repetiu Emily. Depois, esforçando-se, gritou: - Chão! Berrou e jogou o corpinho para trás. Apanhado de surpresa, Tyler mal conseguiu segurá-la pelas pernas dobradas no joelho, enquanto ela se agitava, de cabeça para baixo. - Me dê ela - socorreu-o Carrie. Ela já não ria, com pena de Tyler, todo atrapalhado para conter as acrobacias de Emily. Agradecido, ele lhe passou a menina. - Obrigada por tê-la alcançado - disse, aliviada. - Você é incrivelmente rápido! Nesse momento um carro passou pela rua, acima da velocidade permitida e pela primeira vez Tyler pensou que uma criança poderia ser atropelada. - Ela é que é rápida - respondeu, ofegante. - Move-se com a velocidade da luz! Como você consegue agüentar três? - Bem, eu jamais saio sozinha com eles - explicou Carrie. - Só vou poder fazer isso quando tiverem no mínimo três anos. - Eu só faria quando tivessem dez - resmungou ele. - Onde estão os outros dois? Não estão à vista e... Tyler empalideceu: um devia estar dentro da casa e o outro no quintal, por perto da piscina. Conteve um gemido a custo. Nesse momento Alexa apareceu na porta, com um esperneante Dylan encaixado no quadril; o garotinho tentava livrar-se da mão da tia que lhe cobria os olhos. Ela estava vermelha, com os olhos azuis arregalados. - Ele não viu nada, Carrie! - disse Alexa, ofegante, tirando a mão dos olhos do sobrinho com um movimento rápido, pois ele tentou mordê-la. - Mas eu vi um bocado! Vamos embora já desta casa e é bom você dar o fora desta rua o quanto antes, porque se é este o tipo de vizinhança... - As pessoas que você viu lá dentro não são vizinhos - interrompeu Tyler. Lembrou-se de ter convidado Carrie Wilcox para a festa justamente para chocá-la. Então, por que não encorajava a idéia de que a vizinhança era imoral? Viu-se acrescentando: - Só há você de vizinho, aqui. - Peguei-o! Todos se voltaram para ver Ben correndo ao lado da casa, com Franklin embaixo do braço, uma das mãos cobrindo com firmeza o rosto inteiro do garotinho. - Franklin não viu nada, Carrie, juro! Tentando imobilizar a impaciente Emily, Carrie voltou-se para Tyler: - Por que nos convidou para esta festa? - indagou, com suavidade. Ele sentiu que ficava vermelho. A fria calma que ela demonstrava o enervava mais do que uma revoltada acusação. Os olhos azuis fitavam-no claros, ingênuos, e a expressão dela era indecifrável. Sentiu-se perdido porque era excelente em antecipar as reações e anseios das pessoas, talento que explorava com muito sucesso na vida social e profissional. Via claramente que Alexa estava chocada e sabia o que dizer a ela; percebia que Ben se interessara e que precisava de outro tipo de resposta.
Mas não entendia Carrie Wilcox. Seus olhos, o rosto, a voz e a linguagem corporal não o informavam de nada. Não sabia se ela estava chocada, zangada, magoada ou assustada. Não sabia se ela achava a situação engraçada e se divertia às custas dele. Sempre se orgulhara de jamais ser o primeiro a abaixar os olhos. Mas foi incapaz de sustentar o olhar de uma mulher e perdeu pela primeira vez o jogo que denominara "sinceridade do olhar". Tinha a boca seca, a pulsação acelerada e sentia-se desconcertado. Que diabo lhe acontecia? Aquela garota o intimidava e se fosse uma tratativa de negócios estaria perdido. - Não importa. Vamos embora. Carrie continuava falando com calma, sem se perturbar por ele não ter respondido sua pergunta, o que o atordoou ainda mais. Ele era o Rei da Comunicação, o mágico das palavras... E daí? Aqueles enormes olhos azuis o deixavam mudo. Carrie pôs Emily no carrinho, imediatamente Alexa e Ben colocaram um irmãozinho de cada lado dela. Tyler ficou olhando enquanto ela puxava os filhos pela calçada. Num momento ela voltou-se, disse algo às crianças e os três acenaram com as mãozinhas, dizendo, "tchau, tchau!". Quanto a Carrie, nem sequer fitou-o. - Devia ter vergonha - murmurou Alexa, indignada, enquanto passava por ele, no portão. - Quero dizer, não tenho nada com o que você e seus amigos fazem, mas convidar minha irmã e as crianças para ver essa pouca vergonha é imperdoável. O choque de Alexa se transformara em raiva, percebeu ele, sem esforço. Sabia como lidar com isso, caso se importasse. Mas não se importava. - Procure entender, Tyler - disse Ben. - Minhas irmãs não são... hum... sociáveis. - E você é? - perguntou ele, seco. Era evidente que Ben achava-se dividido entre a obrigação de acompanhar as irmãs e a vontade de ficar na festa. Tyler sabia lidar com aquilo, também. Mas era decepcionante descobrir que podia virarse com Alexa e Ben, mas não com Carrie, que era quem o interessava. - Claro que sou! Andei pelo mundo - orgulhou-se Ben. - Nosso pai é oficial da Força Aérea; ele e mamãe moram na Alemanha. Morei na Alemanha, também, na Turquia, na Inglaterra e em seis Estados. - Suas irmãs não moravam com vocês? - Moravam, mas não saíam de casa, como eu - acrescentou Ben, rápido. - As meninas são mais presas, você sabe. Hum... Pelo menos na minha família. Olhou para os fundos da casa, onde a piscina e o pavilhão de churrasco estavam cheios de convidados. Tyler podia imaginar o que ele vira por lá, então pensou no garotinho vendo também e estremeceu. - Benjamin Shaw, você vem ou não? - chamou Alexa. O tom dela dizia que era melhor ele ir e Ben suspirou: - Preciso ajudá-las com as crianças. Obrigado por ter me convidado para a festa, Tyler. - Você fala como quem gostou mesmo do convite... - E gostei! Acho ótimo... hum... ampliar minha vida social - afirmou Ben. Acrescentou, depressa: Mas isso não é para as minhas irmãs. - Se quiser, pode voltar para a festa e ampliar sua vida social, depois de ajudar a deitar as crianças. Terminando de falar, Tyler dirigiu-se para a garagem enorme onde ficavam seus carros e Ben indagou, intrigado: - Você vai embora da sua festa? - Minha vida social já é ampla demais - justificou ele. Tudo que queria naquele momento era ver-se bem longe dali. Tirou o Mustang ano '64, azulmarinho, da garagem, e passou por Ben e Alexa, que ficaram parados na calçada, olhando-o. Viu Carrie entrar no que seria o jardim da sua casa, puxando o carrinho com os trigêmeos e ficou a olhálos pelo espelhinho retrovisor, até virar a esquina.
CAPÍTULO III
Carrie achava-se sentada no balanço de dois lugares, na varanda dos fundos. Passava das duas horas da manhã, mas a festa na casa vizinha prosseguia animada, com o som altíssimo do conjunto musical que se alternava com períodos de gravações não menos barulhentas. Escutava vozes, gritos, risadas e ruídos de corpos caindo na piscina. A cerca viva que separava as duas moradias era uma frágil barreira para aquele estardalhaço. Tomava seu chá gelado devagar, agradecida pelo fato das crianças não acordarem. Talvez o ronco suave do aparelho de ar-condicionado do quarto deles estivesse disfarçando a barulheira infernal. Ben e Alexa tinham ido embora; a irmã primeiro, desculpando-se: aquela algazarra lhe dava dor de cabeça. Ben se despedira há uma hora, sem explicações. Sombra, o gato, dormia tranqüilamente na enorme poltrona de vime com espaldar em forma de leque, diante dela. Como gostaria de poder dormir como ele! No entanto, mantinha-se alerta, acordadíssima, sozinha e triste, enquanto na casa ao lado... Lembrou-se dos comentários de Ben e Alexa sobre o que tinham visto na chamada festa. Impressionado, Ben dissera que as cenas eram a "realização de todas as fantasias". - Não das minhas - protestara Alexa - e acredito que nem das suas, Carrie! - Minha única fantasia é ter, pelo menos uma vez, oito horas seguidas de sono - replicara Carrie, que se senti como se tivesse cem anos. A princípio não teve certeza de ouvir o ruído na cerca viva, por causa da barulheira que vinha em ondas. Mas seus olhos demonstraram que os ouvidos estavam certos ao divisar o vulto masculino esgueirando-se entre os arbustos. Avaliou o estado de embriaguez do indivíduo pela incapacidade de tentar passar pela parte menos densa dos arbustos. As orelhas de Sombra espetaram com o despertar de seu bem condicionado instinto de sobrevivência. Saltou da cadeira e sumiu como um raio pela cozinha a dentro. Carrie fez uma careta: era o que acontecia por ter adotado um gato em vez de um valente cão pastor alemão. Teria que enfrentar o intruso sozinha. Lembrou-se, então, que ele não sabia se havia um cão de guarda. Levantou-se e foi até os degraus da varanda quando o homem, alto e desgrenhado, conseguiu passar para o seu quintal. - Fora daqui! - disse, ríspida. - Tenho um cão treinado para atacar. Se não for embora, eu o atiço contra você. - Tenho que... - resmungou o homem, andando aos tropeções. Devia ter vinte e cinco a trinta anos, estava bem vestido, só que com as roupas caras amarrotadas e cheias de manchas, testemunhas do embalo da festa. - Tem mesmo! - zangou-se Carrie. - Saia já ou vira comida de cachorro, moço. Aqui, Mefisto! chamou, para impressioná-lo. - Tenho que... - repetiu o rapaz, cambaleando. Então, ela compreendeu que falavam de coisas diferentes e arregalou os olhos ao vê-lo abrir o zíper da calça e parar diante de seu canteiro de balsâminas. - Aí não! - gritou, o medo se transformando em raiva. - Vai matar minhas flores! Se quiser, use aquele canto do quintal, não tem nada plantado. O homem imobilizou-se, confuso, os olhos bestificados pelo excesso de bebida. - Oh, pelo amor de Deus! - explodiu Carrie. - Meia volta! - ordenou e o homem obedeceu. - Agora, ande em frente até o canto do quintal... Isso aí, continue andando. Sentia enorme aversão enquanto o observava obedecer estupidamente suas ordens. Aquele idiota não apenas pretendia fazer seu quintal de mictório, como também tinha que ser orientado por ela. Que noite maldita! Entrou na cozinha e ficou por trás da porta de tela, esperando que o bêbado terminasse, para depois dirigi-lo de volta à "festa" de Tremaine. Foi então que ouviu de novo um barulho na cerca viva. Tornou a levantar-se, furiosa: - Não! Mais um, não - gritou, revoltada. - Não admito que meu quintal vire o mictório do vizinho! Por que não usa a piscina do seu anfitrião? - Que idéia pouco caridosa! - exclamou Tyler Tremaine aproximando-se da varanda, alinhado como o vira horas atrás, com a roupa esporte impecável. - Se bem que eu mande drenar e limpar a piscina sempre, depois de uma festa. - Pelo que soube que acontece nela, sua piscina deveria ser interditada por uma tampa de concreto - retorquiu Carrie. Ele chegou até diante da porta de tela e parou:
- Você parece uma solteirona azeda, diretora de escola - observou. - De fato me sinto morando ao lado de um abrigo de menores infratores. Aliás um deles, provavelmente o Garoto-Natureza, está ali. - Apontou para o bêbado no canto do quintal, de costas para eles. - Por que não vai ajudá-lo? - Eu? Ele que se arranje! Tyler nem bem acabara de falar, os joelhos do rapaz se dobraram e ele desabou no chão. - Essa não! - gemeu Carrie. - Você escapou de boa, porque ele está na minha casa e eu sou a responsável! Abriu a porta da cozinha com tanta violência que Tyler seria atingido se não saltasse de lado. Sentindo o mato úmido sob os pés descalços, Carrie saiu correndo, decidindo que seu pijama curto, de algodão, mais parecia um conjunto de short. Tyler foi atrás e ao perceber que ela estava de pijama admirou-a por não tentar se desculpar pela roupa ou falta de roupa. Esse modo de agir chamava mais ainda a atenção. Será que ela estava querendo chamar sua atenção? E se não estava, por que não o fazia? Sua experiência lhe dizia que as mulheres sempre queriam chamar a atenção de Tyler Tremaine. Carrie parou junto do rapaz caído. - O que vai fazer? - perguntou Tyler, curioso. Uma leve brisa fez a blusa do pijama colar-se ao corpo de Carrie, realçando as suaves curvas dos seios. Ele piscou, aturdido. Seus olhos estavam lhe pregando peça ou vira os mamilos rijos delineados pelo algodão azul-claro? Ignorando o olhar e a evidente perturbação dele, Carrie dava toda atenção ao homem inconsciente a seus pés. - Para começar, pretendo ver se ele ainda respira. O homem resfolegou e começou a roncar. - Acho que isso responde à pergunta - disse Tyler. - E agora? - Bem - irritou-se ela -, não posso largá-lo aí, posso? - Por que não? Está calor, não tem perigo de chover, portanto Ted não vai morrer de frio, nem por afogamento. Apenas, vai dormir à luz das estrelas. - Ele se chama Ted? - ela deu-lhe um rápido olhar. - Ted Qualter. Tem um emprego público no Palácio do Governo, cortesia do endinheirado papai que se recusa a tê-lo como funcionário na própria empresa. Sábia decisão, porque Ted é um incompetente. - Por isso trabalha para o governo? O dinheiro suado que gasto com impostos é usado para pagar o salário deste bêbado incompetente? - Revoltante, não? - riu Tyler, enquanto ela dava a volta e parava junto dos pés de Ted Qualter. Observou-a: era pequena, mas tinha pernas longas, muito bem feitas e tentadoramente nuas. Coxas firmes, panturrilhas esguias e tornozelos finos. Ele percebeu, então, que respirava de boca aberta. Ridicularizou-se por estar praticamente babando por ela só porque estava de pijama, enquanto em sua casa havia uma porção de mulheres lindas nuas ou quase nuas... Sacudiu a cabeça para clareá-la. Aquelas mulheres não se comparavam a esta, com sua tranqüilidade isenta de malícia. Parecia um bobo, fascinado por Carrie Shaw Wilcox que nem percebia sua presença, a não ser para se irritar. Sem ligar para a atenta observação de que era alvo, ela colocou as pernas de Ted Qualter embaixo dos braços e segurou-o firme pelos tornozelos. - Carrie, o que vai fazer? -perguntou ele, pasmo. - Não enxerga? Vou arrastar isto aqui! - Ela puxou ferozmente, mas o corpo largado não se moveu um milímetro. Tentou de novo, então soltou os pés, ofegando. - Bom, eu ia arrastar... Ele pesa uma tonelada! - E ia arrastá-lo para onde? Não vai deixar esse cara passar a noite na sua casa! - Não. Quero levá-lo para dentro, chamar um táxi, oferecer ao motorista uma boa gorjeta para entregar Ted Qualter em casa, são e salvo, depois cobrar a despesa de você. - Pegou os pés do bêbado de novo. - Vai me ajudar? Se não, por favor, volte para a "festa". Os convidados devem estar sentindo sua falta. Aquele tom de voz indicava o que ela pensava da festa. Ao contrário do que acontecera no começo da noite, agora Tyler a entendia. - Não sentem, não, porque nem estive na festa. Saí de casa quando você saiu, estava chegando quando vi Ted Qualter tentando passar pela cerca viva e vim atrás. - Para quê?
-Para que o segui? Não sei... Curiosidade? Um impulso cavalheiresco, será? Escolha o que preferir. - Ergueu o rapaz embriagado e colocou-o sobre um ombro. - Eu me viro sozinho, pode soltá-lo. Ela obedeceu com o maior prazer. - Um impulso cavalheiresco? - repetiu, irônica. - Você iria me proteger dele? - Eu não sabia que você estava no quintal. Creio que pensei em proteger sua propriedade, talvez para me livrar de alguma ação legal da sua parte, por ser o causador indireto do prejuízo. - Claro: esse homem está aqui por causa da sua festa... Você é sempre assim desconfiado? - Um homem na minha posição precisa sempre tomar cuidado - o tom de Tyler era superior. - E um homem na sua posição precisa sempre fazer coisas esquisitas para evitar processos? - Ela quase precisava correr para acompanhar Tyler, que carregava o corpo inerte com a maior facilidade. E o que faz agora é uma dessas coisas? - Carregar um bêbado ou um morto, você quer dizer? Tem que concordar que sou bom nisto... - É mesmo! - aprovou ela. - Se eu tiver outra "encomenda" dessas vou chamá-lo. - Será que estou mesmo vendo um sorriso no seu rosto? Será que sua aversão por mim está diminuindo? Estamos, afinal, nos divertindo? - Não, para todas as perguntas. Enquanto respondia, Carrie abriu a porta da cozinha para Tyler entrar. Ele atravessou a casa e deitou o rapaz no soalho do hall de entrada, enquanto ela ficava na cozinha, telefonando para chamar um táxi. - Disseram que o táxi virá em vinte minutos - disse, juntando-se a Tyler minutos depois. - Pode me dar o dinheiro e ir embora. - Está com muita pressa de livrar-se de mim? - ele riu, zombeteiro. - Pois eu não tenho pressa. Não quero ir para minha casa, está cheia de bêbados e chatos, lembra-se? E eles vão ficar lá até a bebedeira passar, o que deverá acontecer amanhã à tarde. - Eu deveria ter pena de você, por isso? Desculpe, mas não tenho. Sua casa está cheia de bêbados por sua causa. - Não posso negar isso - Tyler sacudiu os ombros. - A culpa é minha mesmo. Carrie fitou-o, intrigada: - Não entendo. Você organiza uma festa monstro e foge dela em vez de ficar com os amigos... - E é um montão de amigos, não? - ironizou ele. - Acho que nunca vi metade das pessoas que estão na minha casa e garanto que ninguém percebeu que não estou lá há cerca de seis horas. - O que é isso? - indagou ela. - Uma nova versão do "pobre menino rico"? - Por favor, não me acuse disso! - Tyler ergueu as mãos, num arremedo de implorar. - Nunca assumi esse tipo, nem mesmo quando era um menininho rico. Sempre gostei da minha situação e agora sou um homem rico que aprecia os privilégios, as oportunidades e o luxo que o dinheiro e a posição oferecem. - Bem, é gratificante encontrar alguém sincero o bastante para admitir isso - aplaudiu Carrie. Toda vez que vejo tevê ou leio uma revista sempre há algum pobrezinho lamentando ter que agüentar o peso de ser rico. Isso me deixa uma fera! Queria ver essa gente escolher a alternativa de viver contando cada centavo gasto, economizando para ir em frente. - É a sua vida que está descrevendo? - indagou ele, de testa franzida. - Não, exatamente, mas quase. - Ela abaixou os olhos, sem jeito. - Sei que não devo me queixar, porque há gente em condições muito piores... - Seu marido não deixou você e os trigêmeos amparados? Não tinha um seguro de vida, nada? - Ian não tinha seguro de vida... Estava com vinte e cinco anos ao morrer e os trigêmeos ainda não tinham nascido. Para que precisávamos de seguro de vida? - Ela riu, com amarga ironia. - Afinal, éramos jovens, cheios de vida e maridos recém-casados não morrem, esposas de vinte e três anos, grávidas de dois meses, não ficam viúvas! - A inconsciência da juventude... - murmurou Tyler. Ela sorriu, mas os olhos azuis estavam profundamente tristes: - É uma coisa que não tenho mais. Ela parecia frágil, jovem e vulnerável, mas era Tyler quem se sentia fraco. Olhava-a, fortemente atraído. Ergueu uma das mãos levado por incontrolável necessidade de tocá-la para senti-la perto de si, mas abaixou-a, rápido. Queria muito tocá-la, mas não se atrevia. Era uma reação paradoxal num homem acostumado a fazer o que bem queria, sem ligar para regras. Carrie estremeceu e endireitou os ombros, assumindo uma expressão determinada:
- Também não tenho auto-piedade - disse, desafiante - e não preciso que você sinta pena de mim. Posso não ganhar o que você ganha, mas dá para eu me arranjar. Tenho um bom ordenado e o salário-família por causa dos trigêmeos ajuda bastante. - Você trabalha? - Não! Minha fada-madrinha agita a varinha de condão e todas as minhas contas ficam pagas, a geladeira e os armários enchem-se de comida, mantimentos, guloseimas; o quarto das crianças fica cheio de roupinhas, brinquedos... - Mereci essa resposta. O senso de humor de Carrie o surpreendia tanto quanto sua coragem. Tyler avisou a si mesmo que era melhor sair logo daquela casa, porque se ficasse... - No que você trabalha? - perguntou, em vez de ir embora como o juízo aconselhava. - E como pode trabalhar com três crianças para tomar conta? - Sou enfermeira no Hospital Central, na ala da maternidade. É maravilhoso trabalhar lá. Tantas esperanças, tantas promessas, tanta alegria! - Os olhos azuis tomaram-se emocionados e brilhantes. É tão... real! Uma reafirmação da vida, entende? O lado cínico de Tyler se manifestou: estava se aproximando demais daquela mulher. Era bom recuar. - Entendo exatamente o que quer dizer - assentiu. - O trabalho no campo publicitário me dá essa mesma sensação. Satisfeito, ele esperou o revide de Carrie pelo sarcasmo, mas em vez disso ela riu: - Meu irmão, Ben, diz a mesma coisa. Ele é publicitário e afirma que cada conta nova que consegue é como um filho recém-nascido. Talvez melhor, até, porque uma conta nova gera dinheiro e um filho novo absorve dinheiro. Tyler fitou-a como se tivesse levado um soco no estômago. Quando ela ria daquele jeito, os grandes olhos cintilando, os lábios adoráveis entreabertos, ele sentia... O quê? Como? Não conseguia definir os sentimentos novos que aquela mulher despertava nele nem o jeito que ela o afetava. Era indescritível, intangível, no entanto, tão real... Uma reafirmação da vida... tantas esperanças, tantas promessas, tantas alegrias... As palavras dela ainda ressoavam em seus ouvidos. Tyler respirou fundo é esforçou-se para desviar os olhos, o que conseguiu por dez segundos. Carrie não parecia notar a perturbação dele. Continuava falando, enquanto se ajoelhava para ver a pulsação de Ted: - Tive sorte de ser aceita no Hospital Central. Trabalho quatro fins de semana em seguida, das sete da noite do sábado às sete da manhã do domingo, e folgo no quinto fim de semana. Alexa e de vez em quando Ben ficam com as crianças para eu trabalhar. Este fim de semana estou de folga. O barulho na casa vizinha redobrou naquele momento fazendo a velha casa estremecer, e Carrie levantou-se: - Uma pena eu não estar trabalhando hoje, porque não posso mesmo dormir - acrescentou, dando um olhar duro a ele. Tyler pigarreou: - Bem, admito que o barulho é... é insuportável. - É evidente que você contava com isso. Ele fitou-a, surpreso: - Não entendi o que quis dizer. - Ora, Tyler, por que não é honesto? Sei por que organizou essa festa tremenda e por que me convidou. - Sabe? Ela assentiu: -Quis me mostrar como pode ser terrível morar ao seu lado, que o ambiente, o barulho e o movimento podem se inconvenientes para meus inocentes filhos. - E por que eu faria isso? Apesar de si mesmo, ele estava curioso para ouvir a resposta, pois sabia que a subestimara e queria determinar quanto. - Quer que eu venda minha casa para você - respondeu ela, francamente. Os olhos verdes de Tyler se apertaram. Péssimo. Ela acertara direitinho. Quer dizer que suas intenções eram evidentes? Ou Carrie era excepcionalmente perceptiva? Fosse como fosse, ela levara a melhor.
Enquanto esses pensamentos saltavam em sua cabeça como bolinhas de pingue-pongue, ela continuou: - Você detesta ter esta casa decrépita ao lado da sua mansão e na certa tem planos para construir algo impressionante neste terreno. Uma quadra de tênis, quem sabe? Uma cocheira para cavalos de pólo ou uma cachoeira e uma piscina bem maior, para os jogos amorosos aquáticos de seus amigos? Ele sacudiu os ombros: - Não jogo pólo e não tenho intenção de fazer cachoeiras, nem nada! - Ah, então é a quadra de tênis! - Ela sorriu diante do olhar consternado dele. - Acertei, não? E você não entende como adivinhei. - Ela sacudiu a cabeça e fitou-o com severidade. - Não me subestime, Tyler. Posso não ser rica, mas não sou idiota. - Não é mesmo. Aliás, é brilhante. - A voz dele soava rouca. - Bonita, brilhante, sexy e esperta. Honesta, trabalhadora - engoliu seco - e mãe de trigêmeos com um ano e meio! - Por que está tão apavorado? - Carrie soltou uma risada gostosa. - Sossegue: não tenho a menor intenção de seduzi-lo. Nada tem a temer dos meus encantos femininos. Tyler encarou-a, dividido entre o impulso de rir com ela e a vontade de esganá-la. Era algo que ele tinha muita disposição para fazer por causa do profundo interesse que aquela mulher lhe despertava. - Não será você é quem se apavora? - disse, por fim, com um olhar destruidor. - E se eu resolver seduzi-la e você não resistir aos meus encantos masculinos? - Deu dois passos na direção dela. Disseram-me que eles são... consideráveis. - Tenho certeza que são. - Carrie não recuou um milímetro, apesar de seus corpos quase se tocarem. - Mas não importa: sou imune a eles. - É mesmo? Vamos ver... As curvas suaves do corpo dela, sob o fino pijaminha de algodão, produzia uma série de correntes elétricas em Tyler. - Pelo jeito, "essa" é a atitude programada - ironizou Carrie. - Vou beijá-la porque quero e você também quer. - Vejo que não se trata só de ação ensaiada, você tem até um estoque de frases decoradas! Tyler sorriu amarelo: - Se está querendo me fazer rir... - Estou querendo diminuir seu ardor despertando seu bom humor - corrigiu ela. - Está dando certo? - Não pode dar, com você tão perto de mim. - Oh, desculpe! Mas fiquei parada de propósito, para você completar a cena programada... Eu já me resignei. Vou deixá-lo me beijar uma vez, assim não precisa ficar me caçando pela sala inteira. Ela sorriu com uma inocência desarmante, enquanto Tyler mal conseguia respirar. Pela primeira vez, depois de muito tempo, sentia-se aflito e excitado só de pensar num simples beijo. - Acho que vou aceitar sua generosa oferta - sussurrou. Carrie sentiu a força das mãos grandes em seus ombros, o calor do corpo dele invadindo o dela. Com estranha calma, observou o rosto de Tyler se aproximando e avaliou todos os detalhes: o nariz bem feito, os olhos verdes naquele momento entrecerrados, o rosto viril sombreado pela barba azulada já crescida àquela hora da madrugada, a boca cheia, larga e bem desenhada. Foi nela que prestou mais atenção. De repente, já não estava calma. Uma violenta onda de excitação percorreu-lhe o corpo e, estremecendo, colocou as mãos no peito dele a fim de empurrá-lo. Tyler segurou-as e encostou a testa na dela. - Com medo? - perguntou. - Pior do que isso - murmurou ela, lutando contra o impulso de fechar os olhos e entregar-se à sensualidade que os envolvia. - Preferia estar com medo. - Por quê? Ele estava gostando daquele jogo, do humor, da seqüência de ondas sensuais que acabariam por levá-los onde ele pretendia chegar. Deslizou as mãos pelas costas, até a cintura dela, gostando de sentir o corpo pequeno, feminino, no entanto forte e receptivo. Ela continuou a fitar os lábios dele, com estranha sensação na espinha. Sem que a vontade interferisse, suas mãos ergueram-se e tocaram a nuca forte. Ficou nas pontas dos pés, colando-se a ele, aspirando-lhe o cheiro excitante e sentindo contra o ventre a rigidez ardente da masculinidade de Tyler. Há quanto tempo não saboreava a ansiosa pulsação de um corpo de homem desejando-a! - Você está me fazendo sentir coisas que nunca senti e que são perigosas... - disse ela, suave. Ele enfiou uma das coxas entre as dela e seus corpos se encaixaram melhor.
- Quer dizer que não é imune a mim? - indagou ele, baixinho, junto ao lóbulo da orelha delicada. - É, parece que não... Carrie inclinou a cabeça para trás e ele viu que os olhos azuis mostravam surpresa e confusão, mas não tinha a menor idéia por quê. Ela pensava que aqueles impulsos tinham sido sepultados com Ian, no entanto via-os ressuscitados por um homem como Tyler Tremaine, que estava muito longe dela pela posição social e financeira, sem falar em níveis de experiência de vida. Era uma situação perturbadora e Carrie franziu a testa: - Agora seu ego hiperdesenvolvido vai crescer ainda mais. Ele soltou uma risadinha rouca: - Não é bem meu ego que está crescendo, querida... Encostando-a contra a parede, segurou-a com firmeza e foi erguendo o joelho até que ela ficou praticamente montada na coxa musculosa. Carrie agarrou-se a ele, escondendo o rosto em seu ombro, chocada pelo contacto íntimo e atordoada pela intensidade do desejo que a consumia. A excitação era profunda, tão perigosa que ela tinha impulsos de fugir e, ao mesmo tempo, de permanecer e deliciar-se com ela até o fim. De súbito a boca de Tyler apoderou-se da dela e Carrie não conseguiu pensar mais: toda preocupação e bom senso tinham desaparecido sob a avalanche de puro desejo sexual. Ela entreabriu os lábios à insistência da língua quente e quando ele invadiu a boca macia foi como uma penetração de tão erótica. Excitada e comovida, Carrie correspondeu ao beijo sem qualquer reserva. Suas mãos exploravam o corpo dele, enquanto o prazer explodia em seus sentidos recémdespertos. Provocada pelo gosto dos beijos dele, por suas carícias, queria mais e mais. Tyler não esperava resposta tão apaixonada, faminta e assustada ao mesmo tempo. Sentia-se arrebatado por impulsos eróticos estranhamente desconhecidos. Mais uma vez a subestimara: jamais pensara que a enlouqueceria com um beijo. E como ela sabia beijar! E jamais imaginara que a pequena e meiga Carrie, mãe de três demoninhos, seria capaz de despertar uma paixão tão desenfreada nele. A necessidade de possuí-la era intensa e dolorosamente assustadora. Seus impulsos eram violentos e selvagens, fortes como nunca tinham sido. Claro que sentira desejo intenso por outras mulheres, mas nunca fora arrastado por ele, nunca se sentira um joguete dele, incapaz de se opor à sua força. - Carrie... - gemeu, os lábios roçando a pele macia do pescoço delicado. A sensação era tão profunda que precisava apertar os dentes para não gritar por causa da dor gostosa que o dominava. Apertou-a mais contra si e de novo seus lábios colaram-se aos dela. De repente, tudo terminou e ele se viu sozinho junto à parede. Carrie desvencilhara-se de seus braços e encontrava-se do outro lado da sala, Ted Qualter estendido no chão, entre eles. Era uma pequena distância, mas ela estava a salvo e ele ficou frustrado. Precisou de todo seu domínio para não saltar por cima do rapaz adormecido e abraçá-la de novo. - Não foi uma boa idéia... - murmurou ela, de olhos baixos. - O quê? Perdido, atordoado, Tyler não tirava os olho, dela. Suas emoções encontravam-se perigosamente na superfície, coisa que ele não admitia, por isso lutou para empurrá-las para as profundezas de seu íntimo, onde sempre as mantivera. - O beijo - Carrie fitou-o apenas por uma fração de segundo. - Foi um erro, para nós dois. - Você gostou. - Era quase uma acusação. - Eu diria que adorou, até. Você me acompanhou o tempo todo e não tente dizer que é mentira. - Não vou tentar, mas não devíamos ter nos beijado. Somos adultos, Tyler, e sabemos para onde esse beijo se dirigia. A franqueza dela apanhou-o de surpresa e o desorientou. - Para a cama - disse, brutal, percebendo que não recorria à resposta melosamente social que lhe daria o controle da situação. - Isso mesmo. - Ela parecia tranqüila e controlada. - E isso não deve acontecer. Não podemos ser amantes, não podemos sequer ser amigos. Você sabe disso tão bem quanto eu. Ela estava controlando a situação e Tyler não gostava disso. Ele era o líder, era quem dirigia situações e conversas para onde bem queria. No entanto, não sabia como fazê-lo, nesse momento. - Não, não sei - respondeu, seco -, e acho que deve me explicar. - Se você insiste...
Carrie demonstrava paciência, desconcertando-o cada vez mais. Não lembrava da última vez que alguém se mostrara condescendente para com ele e essa atitude o insultava. Com certeza, era uma mulher dominadora, concluiu, acostumada a mandar, a dar ordens e a fazer exigências com todos que passavam pela seção de maternidade onde ela trabalhava, habituada a dominar os filhos com mão de ferro. E era claro que não hesitava em estender seu controle para quem quer que cruzasse seu caminho ou a beijasse. - Sou viúva, com três filhos, e você é, com certeza, o solteiro mais cobiçado da cidade, se não do Estado. Somos de mundos diferentes e nos encontramos por puro capricho do destino. Tyler suspirou, impaciente: - Explicação mais tediosa! Diga logo o que pensa. - Penso que não tenho energia, nem interesse de me envolver sexualmente com qualquer pessoa. - Ela sacudiu os ombros. - E pelo que pude notar do seu estilo de vida você não tem tempo, nem energia, nem interesse para se envolver com qualquer pessoa, a não ser que seja sexualmente, ainda mais com uma pessoa como eu. - Então, é isso? Ela assentiu, séria, os olhos azuis intensos. Acreditava sinceramente no que acabara de dizer e Tyler viu-se de novo atacado por uma barragem de impulsos conflitantes. Tinha vontade de rir diante da simplicidade dela; queria discutir sobre aqueles pontos de vista idiotas e dogmáticos mais do que tudo, queria tomá-la nos braços e beijá-la até morrer. Enquanto examinava as várias opções, ela tornou a falar: - Há mais uma coisa... - Estou louco para saber o que é - ironizou ele, seco. Carrie respirou fundo e foi em frente: - Pode ser que eu esteja enganada, mas se está tentando me envolver romanticamente para conseguir comprar minha casa, não perca seu tempo. - Não estou planejando droga nenhuma de coisa como essa! - explodiu Tyler. - Que tipo de homem pensa que sou? - Um homem rico que está acostumado a fazer o que quer e a conseguir tudo que quer. - Eu só fiz uma pergunta retórica, você não precisava responder - resmungou ele. Ela ignorou o comentário: - Quer esta propriedade, Tyler, e prometo que a vendo para você, um dia. Mas por enquanto não quero mudar de casa com as crianças. Mudamos quatro vezes desde que eles nasceram e quero que tenham um senso de segurança, de lar e de estabilidade antes de mudar de novo. Quero, também, evitar o sofrimento que é fazer uma mudança com três crianças pequenas. - Um sorriso cansado pairou nos lábios cheios e bem feitos. - Não pode imaginar o que é isso. Acho que quando estiverem com três anos a gente muda. Não é tanto tempo assim para você esperar, é? Mais um ano e meio, aí combinamos o preço e... - Não estou a fim de falar sobre negócios neste momento! - exclamou Tyler, exasperado. Ele a queria tanto que sentia-se doer dos pés à cabeça, enquanto ela se mantinha calma, fria e controlada. Ansiava pelo gosto de sua boca rosada e ela pensava em vender-lhe a casa. Lembrava-se muito bem que se determinara a comprar aquela propriedade e a lançar mão de qualquer meio para convencê-la a vender. Por que e quando essa determinação se tornara tão irrelevante? Não conseguia entender, só sabia que isso não mais o interessava. Afinal, o que estava acontecendo com ele? - Acho que o táxi chegou - disse Carrie e foi abrir a porta. Tyler ficou imaginando como alguém podia ouvir qualquer coisa com o barulho que vinha de sua casa. Ele mal podia ouvir-se pensar! Vai ver que era por isso que estava tão confuso. Era como se estivesse bêbado, no entanto a única coisa que bebera fora água mineral, no escritório onde ficara trabalhando até aquela hora. Sentia-se perdido. Estava tudo errado. Mulher nenhuma devia interferir em seu equilíbrio. Todas e qualquer uma delas deviam permanecer no compartimento curtição/divertimento de sua mente até que decidisse chamá-las. Carrie não apenas negara-se a ficar no devido compartimento como também invadira e alterara seu processo de pensamento como um vírus ataca a memória de um computador. Precisava de um anti-vírus, depressa! Carrie tornou a entrar em casa acompanhada pelo motorista. Ele era baixo, magro e não pareceu contente diante da perspectiva de ter que carregar o adormecido Ted Qualter. - Moça, isso vai custar caro... - resmungou, de cara feia.
Aliviado por parar de pensar, Tyler entrou em ação: - Não se preocupe, será bem pago - prometeu. Ajudou o motorista a pôr Qualter de pé e meio o arrastaram para fora da casa. Carrie ficou olhando do pórtico, enquanto ajeitavam o bêbado no assento traseiro do táxi. Em seguida, Tyler pegou a carteira e deu algumas notas para o motorista, que foi embora com um amplo sorriso. - Você o fez ficar feliz - comentou ela. Quanto Tyler voltou. - É, foi bem pago pelo serviço. - Ele sacudiu os ombros. - Como você comentou, muito esperta, sou um homem rico que consegue o que quer, de qualquer jeito. E eu queria Ted Qualter longe daqui. - Muito obrigada - disse ela, séria. - Eu detestaria que as crianças o encontrassem jogado no nosso quintal quando acordassem... - Olhou o relógio. - O que, aliás vai acontecer dentro de quatro horas. Vou tentar dormir um pouco. - Eu também queria dormir, mas vai ser impossível com a loucura que está minha casa. Posso ficar aqui? - Você está brincando! - É sério. Se não tem quarto de hóspedes, durmo no sofá da sala mesmo. - Tyler... - Prometo que não vou perturbá-la. Olhe, concordo que não podemos ser amantes, mas acho que podemos ser amigos. Ele estava de novo confiante e no controle da situação por isso sentia-se exultante. Encontrara a solução enquanto ajudava o motorista a carregar Ted. Amizade! Insípida, aborrecida e cinzenta amizade. Esse era o anti-vírus que precisava para acabar com aquele enervante e inesperado feitiço que ela parecia ter lançado nele. Seria a cura para o absurdo interesse que sentia por aquela mulher. Doses freqüentes da presença dela acabariam por diluir a atração, principalmente sem o sexo como incentivo. Ele admirava sua inteligente estratégia. Cruzando os braços, Carrie fitou os brilhantes olhos verdes: - Por que você quer ser meu amigo? - Por que não haveria de querer? - rebateu ele, calmo. - Afinal, somos vizinhos e é razoável que vizinhos sejam amigos. Ela suspirou: - Então, de amigo para amigo, quer fazer o favor de ir embora? Não pode ficar aqui e estou cansada demais para discutir o assunto. - Quer que eu vá mesmo? Me manda para aquele antro de iniquidades, cheio de mulheres lascivas, determinadas a se aproveitar de mim? Que amiga é você, Carrie? O tom era leve e ela sabia que Tyler estava brincando, mas tinha dúvidas sobre a veracidade dos argumentos. Todas aquelas mulheres... Sentiu uma dorzinha esquisita no fundo do peito e de repente a lembrança do beijo arrasador que tinham trocado apoderou-se dela. Arriscou um furtivo olhar e viu que ele a observava, os olhos verdes atentos. Imaginou se Tyler sabia o que pensava e concluiu que sim, que ele dissera aquilo justamente para lembrá-la do beijo; era um homem experiente, sofisticado e calculista. Devia livrar-se dele. Depressa. - Tenho um tubo de gás para defesa pessoal e posso emprestar-lhe se quiser se defender dos ataques amorosos das suas convidadas - ofereceu, gentil. - Carrie... - Até logo e boa noite, sr. Tremaine! - O quê? Não sou mais Tyler? Depois do que houve entre nós? - Ele riu. - Pare com isso, Carrie. Gostamos um do outro e não há motivo para não sermos amigos. - Por que você resolveu ser meu amigo tão de repente? - indagou ela, firme. Tyler ficou pensativo por instantes. Ela exigia resposta e a verdade não convinha. Era num momento como esse que lhe servia a experiência de estratégia e contra-estratégia do mundo publicitário. - Talvez tenha sido porque você fez uma cara de Dia do Juízo Final e disse que não podemos ser amigos - respondeu por fim, astuciosamente. - Não gosto que me digam o que posso ou não posso fazer. Na verdade, não aceito o não posso. Assim que alguém me diz que algo não pode ser feito, trato de fazê-lo. Então, Carrie? - Ele estendeu a mão. - Amigos? - Oh... Por que não? - Ela apertou-lhe a mão como se estivessem fechando um contrato. Pensando bem, acho até que é melhor tê-lo como amigo do que como inimigo. E já que somos amigos, temos que ser francos e honestos um com o outro, não é? - Duvido que você não consiga ser franca e honesta - murmurou ele.
Ele teve um desejo enorme de levar a mão dela aos lábios e beijar-lhe a palma. Imaginou-a olhando-o em seguida, perturbada e encantada. - Tudo bem, então lá vai! - Carrie soltou a mão dele e deu-lhe um sorriso luminoso: - Tyler, meu caro, você está perdido! E olhe que lhe dou este aviso do modo mais amigo e honesto do mundo!
CAPÍTULO IV Tyler ouviu vozes, risos de criança e barulho de água ao aproximar-se da cerca viva que separava seu quintal e o de Carrie. Hesitou, olhou para sua casa, fresca e sossegada ao sol quente do meio-dia. Quase todos convidados tinham ido embora e os poucos que restavam dormiam largados em sofás, poltronas ou no chão; uns cinco ou seis preparavam o café da manhã na enorme cozinha bem equipada. Depois de ouvir, impaciente, os comentários sobre a festa, ele saíra, levado por incontrolável impulso de escapar daquela gente. E ali estava, como um bobo, diante da cerca, apenas com um short de jeans cortado. Pelo jeito, Carrie e as crianças brincavam no quintal. Franziu a testa: esperara encontrá-la sozinha e iriam... Iriam o quê?, perguntou-se com cinismo. Continuar o que fora interrompido naquela madrugada? E isso seria o quê? A cena em que tinham sido envoltos por ardente desejo ou acena em que ela o levara até a porta, simpática e gentil, pondo-o para fora? Sentia-se esquisito quando pensava naquela mulher, porque não a entendia como as outras. Mas ia decifrá-la. Continuaria preocupado com essa dificuldade inicial se não tivesse encontrado a solução para o problema. Era simples, básica: quanto mais visse Carrie, menos interesse teria por ela. O estudante mais burro de marketing sabia do perigo da super-exposição, conhecia a teoria do "mais é menos". E Tyler Tremaine era doutor em publicidade. No entanto, seus planos não incluíam agüentar os trigêmeos, principalmente depois de ter dormido tão pouco. Deu meia volta e dirigiu-se para casa. - Dylan, volte aqui! Não, não, Dylan! Não entre aí! A voz angustiada de Carrie fez Tyler parar. No momento seguinte ouviu um grito agudo de triunfo e uma coisinha pequena, loiríssima, com um calçãozinho de banho verde escuro com patinhos amarelos passou por um buraco da cerca. Conformado com o destino, ele se abaixou e segurou o fugitivo, erguendo-o no colo. - Vai! - gritou Dylan, esperneando com impaciência. - Você quer dizer "vai para casa" - explicou Tyler, enquanto carregava o garotinho de volta à cerca. Dylan parou de espernear e olhou-o, curioso: - Vai casa...? - perguntou, inseguro. - Isso mesmo, você vai para casa - garantiu Tyler - e espero que fique por lá. Atravessou a cerca e viu Carrie correndo em sua direção, com uma criança encaixada de cada lado da cintura. - Parece que "todos" os seus braços estão ocupados... - disse ele, hesitante. - Como pretende carregar este aqui? Com os dentes? - Sacudiu a cabeça. - A logística de trigêmeos é complicada, principalmente no seu caso: é sempre três contra um... Ele não dissera nada que ela não soubesse e Carrie sacudiu os ombros. - Não posso deixar Emily e Franklin sozinhos na piscina. - Ela respirava ofegante, pelo calor e nervosismo. - Eles podem se afogar em dois segundos... É melhor tentar carregar Dylan nos dentes. Tyler sorriu. Gostava da presença de espírito dela, de sua disposição: jamais choramingava. Seria mesmo capaz de carregar Dylan nos dentes. Olhou a piscininha de plástico, com água pela metade, no meio do quintal. Então, fitou Carrie, que vestia um modesto maiô em duas peças, de um amarelo brilhante com bolas brancas. Suas pernas eram de fato longas para a pequena estatura, notou, confirmando o que lhe chamara a atenção na noite anterior. E eram muito bem feitas, desde os quadris até os pés. - Parece que isto está se tornando um hábito - disse ela. De imediato, Tyler desviou os olhos das lindas pernas e ficou vermelho: - Como? Não entendi - afirmou, usando a desculpa número um para quando apanhado em flagrante. - Você capturar meus fugitivos - esclareceu Carrie, rindo. - Emily, ontem à noite, Dylan hoje... Obrigada!
Ele engoliu seco. As pernas eram armas poderosas, mas o sorriso e aqueles enormes olhos azuis eram um arsenal! - Banho! - exclamou Franklin, apontando a piscininha. Estava de calção branco com rãzinhas verdes. Emily exibia um maiozinho cor-de-rosa, com babado. - Banho! - ecoou Dylan e pulou, quase caindo dos braços de Tyler, que o segurou com força, evitando que começasse as acrobacias que tivera que agüentar com Emily, na noite passada. - Banho! Banho! Banho - gritavam os três, um mais alto do que o outro. - Nadar - corrigiu Carrie. - Vocês vão nadar na piscina - ensinou, encaminhando-se para a pequena piscina azul. Automaticamente, Tyler foi atrás dela. O que mais poderia fazer? O menino estava no seu colo... - Nadar - disse Dylan, querendo conversar. - Você disse "nadar"? - perguntou Tyler, surpreso. - Muito bem, aprendeu! É nadar, não banho. Estava impressionado; nunca acreditara que bebês sabiam pensar, mas era evidente que aquele pequenino entendera a correção que a mãe fizera. - Nadar - repetiu Dylan, sério. - Isso mesmo, garotão! - festejou Tyler, colocando o menininho na piscina, onde Carrie já pusera os irmãos. - Banho! - gritou Franklin, extasiado, batendo na água com as mãozinhas gorduchas. - Nadar - corrigiu Tyler. - Diga "nadar". Vamos, rapaz! Mostre ao seu irmão que é esperto como ele. - Isso é que se chama provocar competição - comentou Carrie, seca. - Afinal, eles já estão com um ano e meio! Nunca é cedo para ensiná-los a enfrentar a competição do mercado, não? - Irmãos são competidores naturais, ninguém precisa ensiná-los - retorquiu Tyler. - Desde que me conheço por gente, me empenho em ganhar do meu irmão mais velho, em todos os campos acrescentou, pensativo. - Claro, como Cole é três anos mais velho do que eu, jamais consegui. Mas tive a sorte de ter um irmão mais novo, Nathaniel... -E faz questão de ganhar sempre dele, como Cole ganha de você - resumiu Carrie. - Isso mesmo. Toda criança deve ter um irmão mais novo sobre quem triunfar. Isso reforça o caráter. - Ou destrói o caráter - discordou ela. - Quero que meus filhos sejam amigos, não rivais. - Nadar! - gritou Dylan. - Banho! - berrou Franklin. Carrie e Tyler se olharam e riram. - De repente eles viraram competidores orais! - disse ela, sentando-se na espreguiçadeira ao lado da piscininha. Sentia os joelhos estranhamente fracos. O sorriso de Tyler a afetava como se a agredisse fisicamente, ainda mais acompanhado pelo peito nu, musculoso, com pêlos negros, brilhantes, crespos, e pelas pernas longas, fortes e morenas. Perturbada, admirou mais um pouco, antes de desviar os olhos. Tyler Tremaine era um belo homem e tornava-se mais atraente cada vez que o via. E era claro que ele sabia disso. Carrie sabia que ele sabia, pois exibia a confiança de quem é admirado, principalmente pelo sexo oposto. Tinha certeza que não era a primeira mulher a perder a respiração diante do sorriso e do físico másculo; mas era a primeira vez que isso lhe acontecia. Jamais sentira desejo tão intenso por um homem apenas ao olhá-lo. De súbito, achou que estava sendo desleal para com a memória de Ian. Loiro, bonito, ela gostara dele desde a primeira vez que o vira, na lanchonete da universidade. Seu coração apertou-se à lembrança daquele tempo despreocupado e feliz. Era doloroso olhar para trás sabendo o fim trágico que fora reservado ao sorridente e meigo Ian. Carrie desceu os óculos escuros da cabeça para os olhos, enquanto pensava no quanto amara o marido e que o amaria para sempre. Ninguém devia ocupar o lugar dele; olhar de vez em quando para um homem nada significava. Afinal, era humana e seria preciso ser um autômato para ficar indiferente à atração de Tyler Tremaine. Ele deu um rápido olhar para Carrie e ficou contente por ela ter baixado os óculos escuros: os lindos e enormes olhos azuis o deixavam indefeso. Talvez fosse a intensidade do azul-escuro ou a inteligência daqueles olhos que o atordoavam a ponto de ele ouvi-la falar sem entender. De novo voltou a atenção para as crianças:
- Então, Emily? Também deve dar sua opinião a respeito. - Ajoelhou-se ao lado da piscininha, perto de Emily que, muito séria, enchia metodicamente um copo de plástico com água e a despejava num balde que tinha ao lado. - Vamos ver o ponto de vista feminino. O que acha que é isso: nadar ou tomar banho? Emily fitou-o, atenta, depois disse, calma: - Áua. - Ela disse água - animou-se Tyler e Carrie assentiu. - Puxa, é mais viva do que os irmãozinhos! Concluiu que, banho ou natação, trata-se de água! - Ainda bem que não tem irmã, Tyler! Ela iria levar a melhor sobre você e seus irmãos, sempre. - Lamento seu pobre irmão - ele fingiu-se compungido. - Na certa você e Alexa arrastavam Ben pelo nariz. Aliás, pelo que vi ontem, você ainda arrasta. - Não deixe Ben ouvir isso! Ele sempre se achou o líder entre nós três. - Pobre iludido - Tyler sacudiu a cabeça. Nesse momento, Franklin e Dylan gatinharam para o gordo pato de plástico que flutuava na piscininha. Um segurou o rabo e o outro, a cabeça. - Meu! - gritaram ao mesmo tempo. - Essa é a última palavra que aprenderam - explicou Carrie, aborrecida - e a que mais usam, desde a semana passada. Nenhum dos dois menininhos queria largar o pato e seus gritos agudos "Meu!" ressoavam na cabeça de Tyler como disparos de revólver. - Não vai fazer nada? - perguntou, aflito. - Eles estão fazendo muito barulho... - Sim? O que me diz do homem que deu uma festa e atormentou a vizinhança com seus nove milhões de decibéis? - Ela sacudiu os ombros. - Trata-se, apenas, de uma batalha fraternal, pela posse de um bem; coisa que você deveria aprovar, segundo seu modo de encarar a concorrência da vida. - Bom, já que você não intervém... - Desaprovador, ele tirou o pato dos meninos e deu-o a Emily, que continuava enchendo o balde, imperturbável. - A irmãzinha de vocês vai ficar com o pato, meninos - disse, severo -, assim vocês aprendem o que acontece quando gritam e... Não pôde terminar. Dylan e Franklin explodiram de raiva, gritando com toda força dos jovens pulmões, em seguida avançaram para Emily com a fúria de uma frente de ataque. A menininha olhou para o pato em sua mão, depois para os irmãos e jogou o brinquedo para fora da piscina. Aquilo foi demais para Dylan e Franklin, que romperam num choro sentido, parecendo frustrados, tristes e pequeninos. - Estou me sentindo um carrasco - murmurou Tyler, amargo. Pegou o pato e ofereceu-o aos garotos, que choraram ainda mais alto e recusaram-se a aceitá-lo. Quando deu o brinquedo a Emily ela tornou a jogá-lo fora. Carrie entrou na piscina, sentou-se e pôs os filhinhos no colo. - Como é que você agüenta? - perguntou Tyler, observando-os, horrorizado. Não se conformava: Carrie vivia entre gritos, choros e correrias vinte e quatro horas por dia, trezentos e sessenta e cinco dias por ano! Aliás, um pouco menos. E nesses "menos" ficava num hospital, lidando com parturientes histéricas e maridos em pânico. Só que perto "disto", "aquilo" devia ser o paraíso. Ela ignorou a pergunta, a presença dele e dedicou atenção aos filhos. Falou-lhes por alguns momentos, com calma, carinho, e eles pararam de chorar, soluçando e fazendo beicinho. Pouco depois, estavam alegres de novo, brincando com os barquinhos que ela lhes dera antes de voltar para a espreguiçadeira. Carrie não percebera que Tyler se aproximara e ao se mexer esbarrou uma perna nas costas dele. Distanciaram-se com um pulo tão súbito que foi até engraçado. Mas nenhum dos dois riu e ela sentia em fogo cada milímetro de pele que o tocara. Para ele, o leve esbarrão teve o efeito de uma caricia erótica. Todo seu corpo despertou num desejo ardente e foi difícil conter um gemido. Aquele era o momento exato para um dos trigêmeos derramar um balde de água no colo dele ou os três gritarem, enlouquecidos, o que na certa o "desligaria". Mas as crianças brincavam, tranqüilas, enquanto Carrie e Tyler se mantinham silenciosos e conscientes da sexualidade que os ligava. Ele olhou as crianças. Eram adoráveis e vê-las brincar era mais interessante do que gostaria de admitir. Assim como Carrie era doce, sexy e inalcançável... Não que ele pretendesse alcançá-la, mas mesmo que quisesse não tentaria porque não queria, não podia envolver-se com a mãe de trigêmeos.
De repente, uma onda de raiva o percorreu. Não sabia por que, mas estava furioso como ficara no dia que um funcionário da Livraria Tremaine Editora mandara quinhentos exemplares do 1.000 Receitas para Evitar a Carne à Associação dos Criadores de Gado de Kansas City. - Então, é isto que você faz todos os dias? - perguntou, o desprezo expresso no rosto e na voz. - É mediadora de brigas infantis, distrai seus filhos dentro de casa no inverno, fora de casa no verão; alimenta-os, muda fraldas, dá banho, dá comida de novo, troca fraldas outra vez... Dia após dia, nessa repetição enlouquecedora, tediosa, sem sequer um instante para si mesma. Que porcaria de vida!, eu diria se me perguntasse. - E quem lhe perguntou? - Carrie explodiu e ela mesma respondeu: - Ninguém. Assim como ninguém lhe pediu que viesse aqui. Se acha tão horroroso ficar perto de nós, dê o fora! Tyler fitou-a, perplexo. Ela tirara os óculos e os olhos azuis fuzilavam de pura fúria. Sentiu-se pouco à vontade: jamais alguém o fitara com tanto ódio. Pelo menos, nenhuma mulher, até então. O choque foi substituído pela ira: - Está me expulsando de novo? - indagou, fazendo a cara mais feia que sabia. Ela não se assustou: - Sim, estou. Você é mal-humorado, cínico; eu nada tenho a ver com seu mau humor e seu cinismo, portanto, fora! - Mal-humorado? Cínico? Eu?! - revoltou-se Tyler. - Suas acusações são mentirosas e insultantes. Eu nunca... - Eu sei: nunca ouviu verdades a seu respeito - cortou Carrie. - É a primeira vez que lhe acontece. Mimo é o único tratamento que muitas mulheres insistem em dar para um solteiro rico como você, porque têm a estúpida ilusão de conquistar o príncipe encantado e ser felizes para sempre com ele e seus milhões! Ela parou para respirar e Tyler abriu a boca, mas fechou-a sem nada dizer. O que acabava de ouvir era a hedionda verdade. Claro que ele conhecia o poder de sua posição social, do seu dinheiro, da sua beleza e claro que sempre o usara para tirar vantagens. Seu modo de agir nunca fora exemplar. Mas nenhuma mulher, até aquele momento, se atrevera a dizer isso. - Como não tenho intenções de depender de você para viver, não preciso agradá-lo - prosseguiu Carrie. - Não tenho nada a perder mandando-o embora e dizendo que não volte mais aqui. Tyler levantou-se e enfiou as mãos nos bolsos: - Tem, sim... - A voz falhou e ele limpou a garganta, antes de afirmar: - Amizade. - Era um termo muito usado por seu pai, mas naquele momento servia. - Não procuro amizade nas mulheres, transo com elas. - Ele sorriu, bancando o tímido. - Claro, jamais tentaria essa jogada com uma amiga... Ela também levantou e os dois se enfrentaram. A zombaria presente nos olhos verdes a fez atacar: - Não sou sua amiga! - Ontem você disse que era. - Foi só para me livrar de você. - E agora está dizendo que não é pelo mesmo motivo: para livrar-se de mim. Complicado, não acha? - Acho que você é um idiota. Ele ficou sério: - Se eu for embora neste momento, nunca mais voltarei, Carrie. Você nunca mais vai me ver. Ela cruzou os braços sem desviar os olhos dele: - Ótimo! Compreendendo que ela estava sendo sincera, Tyler suspirou: - Por que continuo aqui? Não estou com os pés presos no chão... Por que não saio imediatamente deste maldito quintal, dando graças a Deus por escapar da língua venenosa de uma feiticeira malvada? - Não sei... - No fundo dos olhos azuis havia um brilho de divertimento. - Vai ver que é porque você preza demais a minha amizade. - Agora, caçoa de mim! - exclamou ele, incrédulo. Depois acrescentou, feliz: - Não está mais zangada! - Acho que não - ela sacudiu os ombros. - Tenho um péssimo gênio, perco a paciência rápido, mas também me acalmo fácil. O que você falou da minha vida, de eu só ficar com as crianças, Ben diz sempre que vem aqui. Mas ouvir isso de você... - a voz dela falhou e Carrie ergueu os ombros de novo - me ofendeu e fiquei furiosa. - Deu para perceber. - Tyler segurou-a pelos ombros, sentindo a delicada estrutura dos ossos, o calor da pele; respirou fundo e deslizou as mãos pelos braços dela. - Olhe, Carrie, eu...
Ela desvencilhou-se e entrou na piscininha: - Hora do almoço! - exclamou, animada. - Com fome, baixinhos? Vamos papar? Seu entusiasmo era tanto que os três se contagiaram e começaram a gritar "papá, papá"... Aproveitando a animação, ela tirou os trigêmeos da piscina, um por um. Dylan e Franklin saíram correndo para casa, Emily parou diante de Tyler e perguntou: - Papá? Ele ficou todo emocionado: - Está me convidando para almoçar, Emily? A menininha continuou a fitá-lo com os enormes olhos azuis, o cabelo loiro, crespo, emoldurando o rostinho corado. De repente, ergueu os bracinhos para ele. - Quer que a carregue? - perguntou Tyler, confuso. A garotinha não respondeu, mas continuou esperando, as mãozinhas erguidas. Ele ergueu-a no colo e encaminhou-se para a casa. Tinha que fazê-lo, dizia a si mesmo, não podia decepcionar uma criancinha. - Tudo bem, aceito o convite, Emily - sorriu, encantado. - Vou almoçar com você. - Oh, não! - gemeu Carrie. Abriu a porta da cozinha e os meninos entraram correndo. Sombra, o gato, que dormia em cima da geladeira, saltou e desapareceu dentro da casa, como um raio. - O que quer dizer "oh, não"? - quis saber Tyler, seguindo-a para dentro da cozinha. - Quer dizer exatamente "oh, não"! Acho que você deve ir embora. - Não estamos brigando - queixou-se ele -, por que quer que eu vá embora? - Porque você é cansativo - respondeu ela, de cara feia. - Estar com você me cansa muito, eu só dormi três horas esta noite, estou tão exausta que meu sonho é dar comida para as crianças, colocálos para dormir e cair na cama! - Gostei da parte "cair na cama"! - Tyler sorriu, malicioso. - E não estou exausto, além disso sou um homem estimulante. Pergunte aos diretores executivos da Tremaine Co. quem consegue tornar agradáveis as chatíssimas reuniões deliberativas. Vão responder que sou eu. - Chatíssimas não quer dizer cansativas. Você é exaustivo, por isso cancelo o convite de Emily. Era apenas meia verdade, tinha que admitir. A verdade completa incluía a incontrolável sensualidade que a proximidade dele despertava nela e o esforço que fazia para resistir à urgência de colar-se ao corpo forte e grande, de acariciar os pêlos crespos do peito amplo, de esfregar suas pernas nas pernas musculosas. Não podia deixar que esses fatos perturbadores acontecessem de novo. Era uma loucura! A última coisa que precisava em sua já tão atribulada vida era uma paixão sensual. Além de sentir-se vergonhosamente desleal para com Ian, ter um caso com Tyler seria trágico e só iria fazê-la sofrer. Sem dúvida ele estava acostumado com mulheres submissas, que faziam tudo para agradá-lo. Dava em cima dela daquele jeito porque era diferente das mulheres que conhecia, por não ser uma das mulheres de sua vida. E o propósito dela era continuar não sendo. - Vamos pôr roupas secas - disse Carrie e começou por tirar o calçãozinho de Dylan, que saiu correndo pela cozinha, nu e gritando. - Tyler, quer pegá-lo e pôr a fralda nele? - Não! - respondeu ele, que a observava, com Emily ainda no colo. - Se quiser ficar aqui tem que me ajudar. Por favor, leve Franklin e Emily para cima, vou trocá-los no quarto. Eu levo Dylan. - Como posso recusar pedido tão simpático? Sua vontade é uma ordem! Tyler fez uma reverência, ergueu Franklin no outro braço e foi para o hall e subiu a escada. A menininha passou a pequena mão no rosto dele e disse: - Ma... caquinha. - Foi assim que a chamei ontem! - encantou-se Tyler. - Você lembrou! Contou a Carrie o fato surpreendente, enquanto ela enxugava e punha fraldas nos trigêmeos. - Vai ver que ela pensa que é o seu nome - brincou Carrie - ou sua espécie! Ele não ligou para a ironia: - Incrível! Ela repetiu o que eu disse há quase vinte horas! E eu falei uma vez só! É inteligentíssima! - Bem, concordo que Emily não é idiota, mas inteligentíssima é exagero. Nessa idade eles aprendem fácil, descobrem uma porção de coisas todos os dias. É impressionante, divertido e é por isso que não acho a minha vida uma porcaria, como você disse. - Me pegou... - declarou Tyler, humilde. - Você nunca esquece, é?
- Não e sempre dou o troco. Lembre-se disso quando tiver tentação de me agredir de novo. Os trigêmeos corriam pelo quarto, espalhando brinquedos, e Tyler segurou-a, quando ela ia sair atrás deles: - É, também, uma mulher muito teimosa, não? - nos olhos verdes brilhava um desafio velho como o mundo. - Sou - os olhos azuis aceitavam o desafio. - Por isso, não mexa comigo, moço! - Estar avisado é estar bem armado! - Ele puxou-a, abraçou-a e acariciou-lhe a nuca. - Este é o lema dos soldados do marketing. Por momentos, ela resistiu, mas o desejo se revelou, avassalador. Seus olhos se fecharam, a cabeça inclinou-se para trás e no mesmo instante a boca de Tyler colou-se à dela. Moviam-se com suave precisão, como se tivessem feito aquilo a vida inteira. Os lábios rosados entreabriram-se; uma das mãos de Tyler tocou o ventre liso e ela pôs a sua por cima; os dedos deles entrelaçaram-se no momento em que as línguas se tocaram. Carrie não tinha como ocultar o quanto o desejava e Tyler gemeu, a língua iniciando um verdadeiro duelo com a dela, que suspirou quando o beijo se tornou mais íntimo. Os seios pequenos, bem feitos, endureceram contra o peito nu de Tyler, enquanto Carrie sentia um volume crescer e tornar-se aquecido junto de seu ventre. Movendo-se de novo em perfeito acordo, ele ajeitou-a contra si e ela ergueu os braços, passandoos pelo pescoço de dele, enquanto as mãos grandes e fortes deslizavam por sua costas e envolviam as nádegas, apertando, acariciando. O beijo profundo, erótico, prometia ser eterno e se tornava cada vez mais violento, enquanto eles se agarravam numa desesperada fome de amor. - Mamã! Mamã! - gritou Franklin, abraçando as pernas de Carrie. - Vai, vai! No mesmo momento, Emily aproximou-se de Tyler e, fascinada, começou a puxar os pêlos negros de suas pernas. - Ai! - exclamou ele, mais por surpresa do que de dor. Separaram-se tão depressa que cambalearam, desequilibrados. - Ai! - imitou Dylan, todo alegre. - Ai, ai, ai! Atordoado, inseguro, Tyler passou as mãos pelos cabelos. Os gritos "vai" de Franklin e os "ai" de Dylan ecoavam dolorosamente em sua cabeça. - Por que dizer algo uma só vez se pode dizê-la quinhentas? - resmungou. Num gesto automático, abaixou-se e ergueu Emily no colo. - Ei, garotinha, por acaso é aprendiz de torturadora? Isso dói, sabia? - Ai! - gritou Emily, toda feliz. Carrie pegou Dylan e Franklin. - Almoço! - cantarolou, com voz soou fraca e trêmula. Seus olhos encontraram os de Tyler e ela desviou-os, depressa. Levaram as crianças para a cozinha e Carrie colocou compridos babadores nos três, depois de sentá-los cada qual em seu cadeirão. Tyler deixou-se cair numa cadeira e ficou olhando-a cortar presunto e queijo em pedacinhos, que distribuía em pequenos pratos. - Vou ganhar um sanduíche? - indagou ele, interessado. Ela empurrou os pacotes de queijo, de presunto, o prato com alface, tomate, e o pão para ele: - Aí está tudo. Faça os sanduíches, enquanto eu lavo as uvas e ralo a cenoura. Serviu cenoura ralada, bagos de uvas verdes, tomate e alface nos pratinhos e deu um para cada trigêmeo. As crianças atacaram a comida com entusiasmo. Tyler e Carrie observaram em silêncio, ele sentado à mesa, ela de pé a seu lado. Minutos depois, Carrie fitou-o e viu que ele a olhava. Virou a cabeça no mesmo instante. - Ainda não começou a fazer os sanduíches - disse, com voz ainda frágil. - Detesto cozinhar - ele empurrou tudo para longe. - Fazer dois sanduíches não é cozinhar... Mas ela tratou de fazê-los, começando por passar maionese e mostarda no pão, dando a isso uma atenção muito grande. - O que foi? - indagou Tyler, os olhos verdes atentos. - Nada - respondeu ela, depressa e mordeu os lábios. - Por quê? - Você parece... - Tyler sacudiu os ombros. - Ficou diferente, agressiva. É isso, agressiva. - O olhar dele tornou-se intenso. - Está pensando no que aconteceu lá em cima?
CAPÍTULO V - Não, é claro que não! - reagiu Carrie. - Não mesmo? - Tyler a fitava com insistência. Ela sacudiu a cabeça: - Foi apenas um beijo... Uma coisa que acontece. - Seu coração batia acelerado, tinha impulsos agressivos, como ele dissera, mas não confessaria. - Uma reação biológica, apenas. Somos adultos e podemos lidar com isso. - É verdade. Foi apenas uma reação química. - Ele sacudiu os ombros, parecendo indiferente e até meio divertido. Não significa nada e estou contente por você entender. - Eu é que estou contente por você entender - disse Carrie, depressa -, porque amo Ian e nunca vou amar mais ninguém. Tyler assentiu, compreensivo: - Excelente sermos francos um com o outro, Carrie. Gosto de você, suas crianças são encantadoras, mas nunca me envolveria com... com uma família instantânea! Nunca namorei mulheres com filhos porque não estou interessado no papel de pai, nem por pouco tempo. - E eu não quero namorar você! - ofendeu-se ela. - Aliás, não quero namorar ninguém. - Ninguém? Nunca mais? - Ele estava impressionado com tanta veemência. - Por quê? - Porque as pessoas namoram quando estão interessadas em se envolver. Não é meu caso. Essa parte de minha vida está encerrada. - Há muita diferença entre namoro e envolvimento - explicou Tyler, paciente. - Gosto da companhia de mulheres, mas não quero me envolver seriamente com nenhuma, pelo menos não por enquanto. Quem sabe daqui a uns vinte anos... Disse isto a meu pai e meu irmão ante-ontem, acho que pela milionésima vez. Carrie empurrou o prato com um sanduíche para ele: - Eles andam insistindo para você "criar juízo"? - Ultimamente parece que só sabem falar nisso - queixou-se ele. - Estou farto. - Diga-lhes que não quer se casar e seja firme - aconselhou Carrie. - Quando minha família, com o maior cuidado, sugere que eu preciso de um pai para meus filhos sempre respondo com firmeza que não pretendo me casar outra vez, de modo algum. - Por que não? - interessou-se Tyler. - Praticamente, o casamento pode beneficiar você e as crianças, pelo menos no campo financeiro. - Parece meus pais falando! - Ela fez uma careta engraçada. - De qualquer modo, qual o homem que assumiria três filhos de outro? Além disso, sabe o que dizem de quem se casa por interesse, não? - Sei, sim. "Interesse no casório"... - "Faz da vida um purgatório" - completou ela. - Mas, deixando finanças de lado, não seria mais fácil para você se houvesse outro adulto em casa? - pressionou Tyler. - É jovem, atraente... Deve haver muitos caras querendo se casar com você, apesar dos trigêmeos. - Não quero que meus filhos sejam olhados como parte do pacote que um homem tem que aceitar comigo - declarou Carrie, honesta. - Quero que sejam queridos por eles mesmos. E que chances existem disso? Por exemplo, você tem absoluta certeza que não quer uma "família instantânea"... ou seja, uma mulher com filhos aos quais seria adicionado um "pai". Acho que a maioria dos homens pensa o mesmo; eles não se importam de ter os próprios filhos, mas os dos outros são diferentes. Tyler observou os trigêmeos, que conversavam na própria língua e riam, comendo com apetite. Eram lindos e ele, que jamais se interessara por crianças, sentia o encanto dos três. Era triste pensar que homem nenhum os queria. Na verdade, era deprimente. Como era típico dele, decidiu resolver o problema: - Olhe, deve haver algum homem decente que pode querer criar seus filhos como se fossem dele... Aliás, tenho certeza que há! - afirmou, categórico. - Houve um homem decente - corrigiu ela. - Chamava-se Ian Wilcox e morreu há quase dois anos, quando um adolescente bêbado avançou um sinal vermelho com uma caminhonete e bateu no carro dele. - Ian morreu num acidente de carro? - Tyler ergueu-se e começou a andar pela cozinha. - Foi assim que minha mãe morreu. Um garoto entrou na traseira do carro dela, que estava parado num sinal, e a pancada foi tão violenta que o jogou no meio do trânsito. Ela morreu no local, tinha vinte e nove anos.
- Que horror! - murmurou Carrie. - Você devia ser muito pequeno... - Tinha cinco anos. Quer dizer, quase. Meu aniversário foi três semanas depois do enterro. Quando eu ia apagar as velinhas, alguém me disse para fazer um pedido... - Ele sacudiu os ombros. - Pedi que minha mãe voltasse. Claro que não voltou. - Lembra-se bem dela? - Mais ou menos. Na verdade, guardo mais imagens do que lembranças. Eu olhava muito as fotografias dela, para matar a saudade. - Ele calou-se, olhando os trigêmeos, depois voltou-se para Carrie: - Talvez tenha sido melhor eles não conhecerem o pai, assim não sentiram a dor de perdê-lo. Foi uma época dura para meus irmãos e para mim. Dura mesmo. - Deve ser terrível para uma criança perder a mãe - disse Carrie, com a voz embargada. Uma profunda tristeza e dolorosa sensação de abandono e vulnerabilidade a machucou. Seu coração se confrangeu ao imaginar a festa de cinco anos de Tyler, o inocente pedido que ele fizera ao apagar as velinhas e sua decepção. - Oh, Tyler, sinto tanto! Num impulso, abraçou-o. Era seu jeito natural de consolar o garotinho magoado que ele fora. Tyler hesitou por instantes, então correspondeu ao abraço: - Tudo bem... - sussurrou. - Aconteceu há muito tempo e já não dói mais. De vez em quando penso em como teria sido nossa vida se aquele acidente não acontecesse. - Com certeza é o que os trigêmeos vão pensar sobre Ian - disse ela. - Como seria se ele vivesse? Pobre Ian... Merecia conhecer os filhos e ser amado por eles. - Sinto por eles não poderem conhecer o pai - assentiu Tyler. Beijou os cabelos loiros e mais uma vez seus sentidos despertaram. Carrie entrecerrou os olhos e encostou-se mais nele. Aproximara-se na melhor intenção de minorar o sofrimento do menino, mas seu corpo respondia ao homem que ele se tornara. Era tão bom ser abraçada, sentir as mãos em suas costas nuas... - Ei, Carrie! Resolvi dar um pulo aqui e... - Alexa engasgou, parada à porta da cozinha. Carrie e Tyler separaram-se, rápidos, e voltaram-se para ela. Os olhos azuis de Alexa estavam enormes e a boca comicamente aberta, enquanto Carrie ficava vermelha. De súbito, tomava consciência que ela e Tyler estavam quase nus, ela de maiô duas peças, ele de short. - Eu... Nós... Não te ouvimos chegar, Lex - gaguejou. - Isso é mais do que evidente! - fungou Alexa. - Você não viu o que pensa que viu - apressou-se a explicar Tyler. - Quero dizer, o que você viu não é o que pensa... Fez uma careta e desistiu, sentindo-se injustamente acusado. Aquele abraço era o mais inocente do mundo, dois amigos partilhando apoio e conforto. Mas o olhar acusador de Alexa o transformava no adolescente apanhado em flagrante pela luz da lanterna do guarda, num canto escuro do parque. - Merda! - resmungou. - Meda! - manifestou-se Dylan, imitando Tyler direitinho, até na entonação. - Não diga nada! - interferiu Carrie, depressa. - Ele esquece da palavra se você não ligar. Mas se a gente rir ou tentar fazê-lo entender que não deve dizer isso... - Vai ficar repetindo e os outros dois farão coro - concluiu ele. - Esse trio adora se exibir. Aproximou-se do cadeirão e pegou uma uva do pratinho: - Uva, Dylan! - Uva! - repetiu o menininho, enfiando a fruta na boca e rindo, todo alegre. Tyler correspondeu ao riso: - É fácil lidar com crianças quando se pega o jeito - afirmou, orgulhoso. Percebeu que as duas trocavam olhares. Era evidente que Alexa estava louca para interrogar a irmã e provavelmente repreendê-la pelo que vira ao chegar. - Posso falar com você, Carrie? - perguntou ela, confirmando a suspeita. - Acho que essa é a deixa para eu dar o fora - comentou Tyler, decidido a ficar. Sentou-se à mesa e começou a comer seu sanduíche. - Parece que perdeu a deixa - a voz de Carrie soou seca. - É, perdi, sim. - Ele sacudiu os ombros. - Não estudei direito meu papel e sou péssimo ator. As duas também sentaram. - Achei que não dormiu muito esta noite, por causa da festa do vizinho, Carrie - disse Alexa, impávida, fazendo um sanduíche para si -, então vim tomar conta das crianças para você descansar um pouco, de tarde. - Inclinou-se e passou a mão na cabecinha loira de Franklin. - Além disso, senti saudade dos diabinhos. Acostumei a passar a maior parte dos meus sábados com eles.
- Alexa fica com as crianças nos fins de semana que trabalho... - Sim, você me disse, ontem à noite - interrompeu-a ele. - Ontem à noite? - Alexa ficou desconfiada. - Eu estive aqui, ontem à noite, ajudando Carrie a livrar-se de um homem inconsciente confidenciou Tyler. - Não ligue para ele - disse Carrie à interessada irmã. - É ainda mais brincalhão do que Ben. - Por falar em Ben... - Alexa abaixou a voz e inclinou-se para a frente. - Telefonei para perguntar se ele queria vir comigo e nosso irmão estava acompanhado! Parece que conheceu uma moça chamada Rhandee na sua festa - fuzilou Tyler com o olhar - e ela foi para a casa dele. - Ben ganhou Rhandee? Não brinca! Tyler mostrava-se divertido, sem qualquer indício de ciúme. Fizera planos de passar a noite de sábado com Rhandee, então não seria normal sentir ao menos algum despeito por saber que ela transara com outro homem? Mas nada sentia. Seus olhos encontraram os de Carrie e ele se perturbou. Apenas olhar para aqueles incomparáveis poços azuis, luminosos, era mais erótico do que pensar na mais lúbrica fantasia com a disponível Rhandee. Nervoso, tentou mostrar-se frio. - Então, seu irmão sobreviveu a uma noite com Rhandee e ainda teve energia para falar com você? - Não quer verificar pessoalmente? - sugeriu Carrie, doce demais. - Dou o telefone dele e vocês podem trocar figurinhas sobre a garota. - Diante desta clara demonstração de censura, acho melhor eu ir embora. Tyler terminou o sanduíche e levantou-se. Saiu para o quintal sob o animado coro de despedida dos trigêmeos. A sós, as duas irmãs fitaram-se, até que Alexa franziu a testa, preocupada: - Só uma pergunta, Carrie: sabe o que está fazendo? O que há entre você e Tyler Tremaine? - São duas perguntas - retificou Carrie -, mas vou responder. Não estou fazendo nada e não há nada entre nós dois. Ele estava aborrecido da festa e dos convidados, então veio até aqui. Só isso. - Vocês estavam abraçados, Carrie - lembrou Alexa. - O que é, um novo tratamento para tédio? Carrie sacudiu os ombros e examinou, atenta, o desenho da toalha. Achava difícil enfrentar os olhos reprovadores da irmã. - Estávamos conversando... - Carrie respirou fundo, relutante em partilhar as confidências de Tyler. - Falamos de pessoas queridas que perdemos e como a perda nos afetou. Ele era pequeno quando a mãe morreu num acidente de carro, como Ian. Ela estava com vinte e nove anos... - Carrie, se precisa falar sobre Ian e de como a perda dele está afetando sua vida, deve ir a um encontro de Pais Sem Cônjuges ou outro grupo de apoio. Não deve ficar falando nisso para Tyler Tremaine. - Depois que a gente o conhece melhor, vê que é um bom rapaz, Lex. Alexa revirou os olhos: - E você o conhece muito! Viu apenas o que ele quis lhe mostrar. Homens do tipo dele não deixam as mulheres se aproximarem demais e só revelam partes da vida que lhes convém revelar. Imagino o quanto ele explora a morte trágica da mãe: não há mulher que não amoleça diante de um pobre menininho órfão! Carrie ficou vermelha, lembrando-se de sua reação às palavras tristes de Tyler. - Hum... Ele te pegou, hein? - Alexa balançou a cabeça, cheia de sabedoria. - Provavelmente Tyler escreveu o papel e decorou. Imagino qual vai ser a próxima revelação: um relato de cortar a alma, sobre um cachorro muito amado que foi embora, talvez expulso por parentes malvados, como um pai indiferente, uma madrasta cruel... - Você é muito cínica, Alexa. - Carrie colocou sorvete em taças de plástico, para os trigêmeos. Duvido que Tyler tenha lançado mão de estratagemas para me enrolar. Para quê? Somos apenas amigos. - Amigos? Pois sim! Lembra-se de Ryan Cassidy, Carrie? - Claro! Ele era um verdadeiro rato, Lex, mas você deixa que a má experiência com Ryan afete seus julgamentos e acha que todos os homens são frios e sem coração como ele, o que não é verdade. - Pode ser. Você já sofreu bastante, Carrie, e não quero que se envolva com um homem vaidoso e egoísta que pode partir seu coração. Como um certo egoísta vaidoso chamado Ryan Cassidy que partira o coração de Alexa, pensou Carrie. Havia vários tipos de perda e de coração partido. O tipo que sua irmã experimentara nas mãos
de Ryan a fizera mudar profundamente, pusera sombras em seus lindos olhos azuis, roubara-lhe a capacidade de acreditar e a tornara amarga. Já a perda de Ian não alterara a visão de Carrie sobre o mundo e as pessoas. Ela ainda acreditava na força do amor porque sabia que Ian a amava e que jamais a teria deixado por vontade própria. Isso era um grande conforto negado a Alexa. - Não se preocupe comigo, Lex, não vou me envolver com ninguém - garantiu à irmã. - Agora, enquanto as crianças terminam o sorvete, me conte da última aventura amorosa de Ben. - Estou furiosa com ele por agir como um implacável, insensível caçador de mulheres e lhe disse isso! - Alexa pegou uma colherada de sorvete e lambeu-o. - Não podemos permitir que nosso irmão se torne um homem frio, calculista e libidinoso, como Ryan Cassidy - sustentou o olhar da irmã - e Tyler Tremaine. Carrie lembrou-se dos beijos incendiários que havia trocado com Tyler e corou violentamente. Podia não conhecer as manobras dos sedutores a fundo, mas sabia de uma coisa: não fora uma vítima inocente de Tyler, mas sim uma entusiasmada e voluntária participante. Se ele a usara, ela fizera o mesmo. Emily jogou a taça vazia no chão, anunciando que o sorvete terminara. Um entusiasmado Franklin seguiu o exemplo da irmãzinha e Dylan apressou-se a imitá-lo. Carrie gostou da interrupção: não lhe agradava o rumo que seus pensamentos tomavam e preferia afastá-los. As irmãs passaram a cuidar das crianças, preparando-as para o soninho da tarde, e não falaram mais em Tyler Tremaine. A temperatura subira demais para os padrões de verão de Washington. Apesar de passar a maior parte do tempo em salas e no carro com ar-condicionado, a primeira coisa que Tyler fez ao chegar em casa foi tomar um bom chuveiro, vestir um confortável short de algodão cáqui e uma camiseta. Olhou o relógio de pulso: quinze para as oito. O jantar de negócios terminara muito mais cedo do que esperava; seu cliente, coisa raríssima, recusara o convite de esticar a noite em bares e boates. Portanto ali estava, numa segunda-feira, com a noite começando. Havia uma porção de gente, homens e mulheres, que aceitariam com prazer um convite para sair ou para ir à casa dele. E havia uma porção de coisas que poderiam fazer... Mas nenhuma das milhares de atividades tão empolgantes até pouco tempo atrás o interessavam. Abriu à agenda de telefones e percorreu-a, rejeitando todo nome que se apresentava. Por fim, pegou uma sacola de papel grosso, com o logotipo das Lojas Tremaine, e saiu silenciosamente pela porta dos fundos, indo para o buraco na cerca que separava sua imponente propriedade da humilde esquina de Carrie Wilcox. Não se preocupou em perguntar-se aonde ia ou por quê. Quando não há respostas, é melhor não fazer perguntas. Carrie estava na cozinha, servindo-se de um copo de chá gelado, quando ele apareceu no umbral. Uma lufada de ar quente vindo do ventilador rotatório que estava sobre o balcão da pia agitou-lhe os longos cabelos quando ela abriu a porta - Oi... O sorriso dela era cálido e iluminava-lhe o rosto; os olhos azuis brilhavam, intensos. Tyler fitou-a, momentaneamente paralisado. Os cabelos loiros estavam presos num gracioso rabo-de-cavalo e ela usava um vestido de algodão azul-claro, solto, curto e sem mangas. Ele sentiu a cabeça vazia e teve dificuldade para falar: - Oi... Olhe o que eu encontrei. - Tirou da sacola um pato de borracha idêntico ao que provocara abriga entre Dylan e Franklin no dia anterior. - Estive na loja de Wheaton, costumo visitar nossas lojas pelo menos uma vez por mês, vi este pato na seção de brinquedos - tirou mais um pato da sacola - e comprei dois. Agora cada um tem seu pato. Três crianças, três patos... Ele estava todo atrapalhado e não conseguia parar de falar: - Pensei no que você disse, que seus filhos deviam ser amigos, não competidores... Faz sentido. Quero dizer, acho que irmãos são mais felizes como amigos do que procurando um infernizar o outro. - Isso - sorriu Carrie. - Obrigada pelos patos, as crianças vão adorar. Muito gentil, Tyler. Ele deu-lhe a sacola: - Onde estão os três terroristas? Isto aqui está tão calmo... - Na cama. Ele olhou o relógio: - Já? Ainda não são oito horas.
- Eles se deitam às sete e meia. Conversam e brincam, cada qual em seu berço, até adormecerem. Pode ser que ainda estejam acordados. Quer subir para vê-los? - Não precisa. - Ele encostou-se no umbral. - Quer dizer que tem algum tempo livre... O que pretende fazer? Carrie fez um gesto indefinido: - Costumo assistir tevê. Hoje tem uns programas bons. - É difícil eu assistir tevê - confessou ele - e quando o faço é para verificar se os comerciais da Tremaine Co. foram feitos de acordo com o que combinei com a agência de publicidade. - Então, televisão é trabalho para você. Para mim é uma desculpa para relaxar. E gosto... - Ela olhou o relógio na parede. - Vou fazer pipoca, antes que o programa comece. Pouco depois, foram para a sala, ela ligou a tevê e sentaram-se lado a lado no sofá, a tigela de pipoca no colo de Carrie. O ambiente estava quente e abafado. - Pensei que o sr. Wilcox tinha ar-condicionado - comentou Tyler, acomodando-se entre almofadas. - Não. Só existe um aparelho de ar-condicionado, que coloquei no quarto dos trigêmeos. Ben vive dizendo para eu comprar um de segunda mão, para meu quarto, e vai procurar um. Por enquanto me viro com o ventilador. - Esse ventilador não é lá grande coisa. Leva um tempão para ele virar para o lado da gente, aí bate um pouquinho de ar quente e ele já se virou para outro lado! Ele sentia-se acalorado, nervoso. O verão sempre o deixava assim. Carrie encolheu as pernas sob o corpo e dedicou-se a assistir o programa; de vez em quando enfiava a mão na tigela e comia pipoca. Tyler agitava-se. Era ridículo estar ali aborrecido, suando daquele jeito, quando sua casa oferecia uma temperatura agradável em todos os cômodos. Fez alguns comentários idiotas sobre o calor, outros tantos sobre o programa de tevê e ficou zangadíssimo ao ver um comercial de uma cadeia rival de lojas, cheio de cachorrinhos, crianças encantadoras, senhores e senhoras lindíssimos, jovens deslumbrantes. - Eis um exemplo da vergonhosa publicidade manipuladora que nada tem a ver com o que se vende nas lojas! - acusou, furioso. - Mas chama a atenção - comentou Carrie - e acho lindo quando aquela vovó compra sorvete para o menino, o bebê e o cachorrinho. - Naquela loja nem vendem sorvete! - explodiu Tyler. - As Lojas Tremaine têm preços mais baixos, atendimento eficiente... - E comerciais muito chatos - brincou ela. - Chatos? Nossos comerciais são de primeira. Informativos, despretensiosos, dirigidos para o cérebro e o bolso dos clientes, não para o coração deles! Deus sabe o quanto gastamos com publicidade para... - Eu só estava brincando - cortou Carrie. - Tenho certeza que seus comerciais são tudo que está dizendo. Não era essa a opinião que o diretor-geral da empresa e chefe do departamento de marketing queria ouvir. - O que eu acho dos nossos comerciais não interessa - começou, pontificando. - A mensagem deles precisa atingir os consumidores, os telespectadores como você e acho que conseguimos isso. Fazemos comerciais que mostram... - Psiuu! Começou - Carrie voltou a atenção para o vídeo colorido, demonstrando que não ligava a mínima para o que os comerciais dele mostravam. Tyler sentiu-se insultado. A última vez que o tinham mandado calar-se fora... Não lembrava. Talvez nunca tivesse acontecido. Todos costumavam escutá-lo com devoção, suas críticas e opiniões eram ouvidas e acatadas! Outra coisa: jamais perdera tempo assistindo televisão e fazer isso numa sala quente, abafada, era cretinice. - Vou embora - disse, levantando-se. Os olhos dela não deixaram a tevê: - Tchau, Tyler. Obrigada pelos patos. - Você nem liga se eu for embora! - queixou-se ele. Afinal, os enormes olhos azuis o fitaram: - É bem-vindo aqui, mas se não se sente bem, tem toda liberdade para ir embora. - Quer que eu fique ou não?
- Quero, sim, mas só se você quiser ficar - respondeu ela, escolhendo as palavras com cuidado, como se lidasse com um perigoso psicótico. - Pare de falar comigo como se eu fosse um débil mental! - Eu não fiz isso. Disse que quero que você fique. - Então, diga-o de um modo convincente, me faça ficar! Os olhos dela arregalaram-se. Fazê-lo ficar? Ergueu a tigela de pipoca e ofereceu: - Quer? Ele imobilizou-se por instantes, incrédulo, depois o senso de humor levou a melhor: - Como resistir a essa tentação? Caiu na gargalhada, se bem que achasse, no fundo, que não era caso para rir: ele, disposto a ficar naquele calor dos infernos, olhando Carrie assistir tevê! Deixou-se cair no sofá, com um suspiro irritado. - Tyler, posso perguntar uma coisa? - arriscou-se ela. - Claro. - Você teve cachorro, quando era criança? - indagou, inquieta. - Não e nunca quis ter. O mais que me aproximei de ter um bichinho de estimação foi vir dar comida para o gato maluco que você adotou. - Sombra está lá em cima, dormindo na minha cama - disse Carrie, aliviada ao ver que ele não tinha nenhuma historinha piegas sobre cachorrinhos adorados, como Alexa dissera. - Ele gosta de lugares bem quentes. - É, eu disse que é um gato maluco. Mas estou vendo que sou mais maluco do que ele! De súbito, pegou-a pela cintura e a pôs no colo.
CAPÍTULO VI Ele a erguera como se fosse a pequena Emily e uma vozinha interior avisou Carrie para ter cuidado: estava a sós com um homem forte, que não conhecia direito. Mas não tinha medo. Alguma coisa lhe dizia que estava a salvo com Tyler Tremaine. Quer dizer, tão a salvo quanto poderia estar nos joelhos dele... Voltou a cabeça e seus olhos se encontraram. O mau humor de Tyler desaparecera, o ambiente abafado não o incomodava e nem sequer ouvia a tevê. Com uma das mãos na cintura dela e outra na coxa, ele sentia o calor da pele sob o vestido cor de turquesa. O corpo dele despertou, antecipando o prazer. Formou-se imediata tensão sexual entre eles e Carrie indagou: - Você sempre faz isto? Tyler ficou feliz por ela não lhe afastar as mãos, porque não a largaria: era como se o homem das cavernas houvesse despertado nele. - Eu faço sempre o quê? - fingiu não entender. - Essa ginástica que me colocou no seu colo - explicou ela, seca. - Não foi ginástica - respondeu ele, malicioso. - Foi um bote, digamos, e não costumo ter que dar botes. Em geral, sou calmo e sofisticado. Insinuante, entende? Fui muito elogiado por minha técnica. Mas desta vez não houve técnica alguma e pulei sobre você como o seu gato maluco sobre o rato... - Sombra não precisa caçar para comer - garantiu ela -, agora que tem casa e família. - Hum, duvido! Aposto que ele apenas suporta essa vida doméstica e volta à vida selvagem sempre que se chateia. - De jeito nenhum! - discordou Carrie. - A transformação dele foi completa e o tempo vai provar. - Escute aqui - impacientou-se Tyler -, vamos falar desse gato doido a noite inteira? - Do que mais podemos falar? Dos comerciais Tremaine? - provocou ela, os olhos azuis cintilando. Tema fascinante, não? Sem pensar, ela passou os braços pelo pescoço de Tyler, num gesto casual. Sentia-se descontraída, ao mesmo tempo que a excitação começava a manifestar-se. - Acho melhor não falar... - decidiu Tyler, encolhendo as pernas, de modo que ela escorregou para seu colo. Mais uma vez seus olhos se encontraram e Carrie sentiu-se perdida no intenso verde-escuro. Eram olhos tão lindos, pensou, atordoada. Que boca irresistível... Percorreu o desenho dos lábios dele com as pontas dos dedos. Esqueceu de Ian e de tudo que não era o intenso desejo que lhe aquecia o corpo.
Suave, Tyler subiu a mão até chegar à altura do umbigo e tocou-lhe de leve o ventre. Enfiou o rosto na curva do pescoço dela, cheirando, beijando, lambendo a pele suave, enquanto suas mãos tornavam-se mais possessivas. A onda de sensualidade que a percorreu foi tão densa que Carrie teve medo do prazer que lhe era prometido. Mas gostava do que Tyler fazia e queria que ele continuasse. Fechou os olhos e inclinou cabeça para trás, oferecendo-lhe a curva suave da garganta. Uma intensa e deliciosa dor espalhou-se pelo seu corpo quando ele tocou-lhe um seio. A boca de Tyler colou-se à dela, faminta, e Carrie sentiu como se uma corrente elétrica a percorresse. Seus lábios entreabriram-se com um leve gemido e ela se arqueou, enfiando os dedos nos cabelos espessos. A língua dele invadiu-lhe a boca, explorando a doce e macia umidade. O coração de Carrie agitava-se no peito, enquanto confusamente ela se dizia que não devia estar fazendo aquilo, mas não podia evitar. - Você está recuando... - ofegou Tyler. - Me beije como fez ontem, enfie a língua na minha boca. A explícita orientação sensual a excitou mais e Carrie teve a feminina necessidade de dar-se a ele, de aceitar a paixão que lhe era oferecida. Tyler beijou-a de novo e ela obedeceu ao erótico comando. Introduziu a língua inexperiente na boca dele, enquanto se fundiam num abraço desesperado. A mão dele acariciou um seio arredondado, firme e macio sob o tecido de algodão, depois tocou o mamilo com o polegar e este tornou-se tão rígido que parecia prestes a furar o vestido. A reação de Carrie foi elétrica: estremeceu, enquanto um grito abafado escapava-lhe da garganta. - Você é muito sensível. - A voz de Tyler estava rouca. - Eu sabia que era, pelas opiniões apaixonadas e reações emotivas. E você beija... Santo Deus, como você beija bem! Ele continuava a acariciar o seio, aumentando o prazer doloroso que a fazia gemer baixinho. Então, a boca de Tyler passou a brincar com a dela, suas respirações misturando-se. Ela percebeu que perdia o controle, mas não sabia como reavê-lo. E não queria se controlar. Suas mãos deslizaram pelos ombros largos e ondulou o corpo vagarosamente no colo dele, deliciada com o despertar de sua masculinidade. Tyler estava impressionado com a intensidade dos próprios sentimentos, com a força de seu desejo. Respirando pesadamente, ergueu o vestido e passou as mãos nas coxas acetinadas, subindo-as até cegar à suave elevação das nádegas, depois deslizou-as para a frente, acariciou a barriguinha enxuta e desceu para o triângulo entre as pernas. Sentiu a penugem sedosa sob o tecido macio da calcinha e, mais abaixo, a quente umidade que era prova de quanto ela o queria. Gemendo, Carrie separou as coxas, num silencioso convite. Um desejo selvagem irrompeu nele e tocou alucinadamente a intimidade aveludada, enquanto ela se retorcia, mordendo os lábios para não gritar. De súbito, Carrie empurrou a mão dele e levantou-se de um salto: - Não, Tyler. A voz dela mal saiu. O calor dos dedos dele permanecia em sua pele, na maciez dolorida e latejante de seu sexo. Todo seu ser implorava que se entregasse, mas ela resistiu: - Temos que parar com isso - murmurou, quase sem poder respirar, e foi para o outro lado da sala. - Não temos que parar - discordou ele. O sangue rugia em seus ouvidos e seu corpo vibrava, tenso. - Não queremos parar, Carrie. - Você deve pensar que sou uma... uma prostituta - disse ela, com voz presa. Ficou diante do ventilador, tentando esfriar-se, livrar o corpo da tensa energia sexual, à qual não se achava com direito de satisfazer. - E tem motivo para pensar - continuou, aflita -, porque até eu me acho uma prostituta, pelo modo que venho agindo. Tyler suspirou. Não era bem essa a conversa que queria ter e a frustração sexual fazia seu corpo doer terrivelmente. Cerrou os punhos, tinha que ajeitar a situação. - Você não é uma prostituta, Carrie. A afirmativa não a acalmou e ela continuou andando de um lado para outro, diante do ventilador: - É claro que você tem que dizer isso, Tyler. É um homem fino, sofisticado demais para dizer a verdade. Ele fechou os olhos: - Mas não sou fino e sofisticado a ponto de prever que você usaria minhas próprias palavras para me atacar. - Isso tinha que acontecer, depois de tudo que nos dissemos ontem - murmurou ela, desgostosa.
Seu corpo se tornara um traidor ao passar por cima dos nobres sentimentos, das altas aspirações, para submeter-se a um simples apelo sexual. Tyler tentou lembrar o que tinham dito no dia anterior, mas sua cabeça encontrava-se travada pela paixão insatisfeita. - Sente aqui, por favor - pediu, indicando o sofá, a seu lado. - Andando desse jeito você me deixa com dor de cabeça. - Traí Ian. Ela parou apenas alguns segundos e voltou a andar mais depressa. Não pretendia mentir: queria Tyler com loucura e tudo piorava ao tentar lembrar-se se alguma vez sentira aquele desejo enlouquecido por Ian. Nunca. Cada vez mais a imagem dele em sua mente se tornava pura, etérea como a de um santo, muito distante de coisas tão terrenas como impulsos e necessidades sexuais. Sentia-se morrer de vergonha. - Traí Ian e usei você para isso. Desculpe, Tyler... Agi de maneira detestável. Era a primeira vez que uma coisa daquelas lhe acontecia e ele fitou-a, incrédulo: - Está pedindo desculpa por "me usar"? - perguntou, cauteloso. Ela assentiu. Dissera a ele que não tinha tempo nem energia para se envolver sexualmente com ninguém a acreditava nisso quando falara. Mas suas ações a desmentiam: agira como se estivesse pronta e louca para se envolver com ele. Nunca seu corpo e sua mente tinham estado tão desunidos, seus valores e suas necessidades tão conflitantes. - Eu ainda amo Ian e... - Carrie, alguns beijos e carícias não significam traição. Ela ficou vermelha. Ele considerava sem importância a explosiva paixão que abalava o pequeno e tranqüilo mundo dela. Embaraçada e ressentida, procurou palavras que o fizessem sentir-se do mesmo jeito. Tyler interpretou o silêncio dela como dúvida. - Ian morreu, Carrie - disse, disfarçando a frustração que o dilacerava. - Você o amou, mas ele não está mais aqui para ser traído. Os votos de matrimônio dizem "até que a morte os separe". Pois bem, a morte separou vocês e seus votos não valem mais nada. Carrie ficou gelada, empalideceu e os grandes olhos se encheram de lágrimas. O que fui arranjar agora?, pensou ele, furioso consigo mesmo. Sentia-se um monstro sem coração, do jeito que se sentira quando tirara o pato de Dylan e Franklin. Mas o que dissera era verdade e Carrie precisava ouvi-la. Por mais doloroso que fosse, devia encarar o fato de que seus sentimentos e necessidades não tinham morrido com o marido. Levantou-se e foi para junto dela: - Não chore, Carrie - era um pedido e uma ordem, ao mesmo tempo. - Não vou chorar. - Ela piscou, determinada. - Odeio chorar - afirmou, com orgulho. - Não choro desde que os trigêmeos nasceram. Meus olhos se enchem de lágrimas, mas eu acabo com elas e não choro! A corajosa demonstração de domínio afetou-o mais do que se ela se desmanchasse em soluços. - Talvez fosse mais fácil se você chorasse de vez em quando... Calou-se, surpreso com o que dissera. Não acreditava! Justo ele, que desaparecia à primeira fungadela de uma mulher? Carrie balançou a cabeça: - Não. Chorar não resolve nada. - Forçou um sorriso e readquiriu o controle. - Os olhos da gente incham, ficam vermelhos, o nariz escorre e o rosto fica horrível. Tyler observou-lhe o perfil delicado: longos e escuros cílios, lábios cheios, macios, queixo pequeno, mas firme. Um sentimento estranho apoderou-se dele: - Carrie, você não ficaria horrível nem se quisesse. Aproximou-se e tomou-lhe o rosto nas mãos. - Obrigada, mas sei que não é verdade. - Ela recuou, distanciando-se, exausta e insegura. - Está ficando tarde - olhou para o relógio no pulso. - É, muito tarde. Nove horas - observou ele, irônico. - Sempre acaba assim, você me chutando fora. - Não há motivo para você ficar. A rejeição fazia-lhe mais mal do que ele esperava. - Tem razão. Não há qualquer motivo para eu ficar aqui.
Dirigiu-se para a saída, com ela nos calcanhares, na certa para ter certeza de que ele iria mesmo. Antes que chegassem à porta ela se abriu e Ben entro no pequeno hall; parou, surpreso ao dar com eles. - O que aconteceu? - perguntou, querendo descobrir por que Tyler estava lá. - Tudo em ordem, Ben - assegurou ela. - Tyler veio trazer um presentinho para as crianças e ia embora. - Ei, não precisa sair correndo! - exclamou Ben. - Carrie, por que não nos serve uma bebida gelada e nós três... - Ele já tomou chá gelado - respondeu ela, distante - e quer ir embora. Minha casa é muito quente, Tyler está acostumado com ar-condicionado e fica com urticária em lugares aquecidos. - Urticária? - perguntou Tyler, indignado. - Não é vergonha nenhuma, cara! - consolou-o Ben. - Pode acontecer com qualquer um. - Mas nunca aconteceu comigo! - revoltou-se Tyler, indo para a porta. Parou e voltou-se para Ben. - Ouvi dizer que passou o fim de semana com Rhandee. Como foi? Percebeu que Carrie corava, viu fogo azul nos olhos dela e ficou satisfeito. - Rhandee... - suspirou Ben. - Foi incrível! Ela é o máximo. - Então, o sorriso de beatitude desapareceu do rosto de Ben e ele olhou zangado para Carrie. - Isso me lembra por que vim aqui. Escuta, Carrie, quer fazer o favor de dizer para a sua irmã que sou crescido o bastante para cuidar de minha vida, que ela pare de interferir e de fazer sermões? - Minha irmã? - Carrie não pôde deixar de rir. - A coisa foi ruim, hein? - Pior do que pensa - gemeu Ben. - Alexa ficou uma fera quando soube que fui para a cama com Rhandee na noite em que a conheci. Ela... - Só uma perguntinha - interrompeu Tyler -, quantas horas depois de se conhecerem vocês transaram? Carrie deu-lhe um olhar negro e Ben suspirou, decepcionado: - Sei que você está brincando, Tyler, mas Lex me fez a mesma pergunta, só que a sério. E ficou me enchendo horas com discursos sobre os perigos do sexo promíscuo, me acusando de ser machista como Ryan Cassidy e ela sabe o ódio que tenho daquele imbecil! - Você não é como Ryan Cassidy, Ben! - assegurou Carrie. - Estão falando do cartunista? - perguntou Tyler. Os dois irmãos trocaram olhares e Tyler percebeu franca hostilidade nos olhos azuis, idênticos. - Cartunista! - zombou Ben. - Os quadrinhos dele são uma droga! Não sabe desenhar e não tem senso de humor. - As histórias em quadrinhos dele são muito apreciadas - garantiu Tyler. - As coleções anuais das tiras que saem no jornal vendem muito bem em todas as Livrarias Tremaine. - Nós não as compramos - afirmou Carrie, fria. - Sei que há controvérsias sobre o trabalho dele, mas tenho impressão que o problema de vocês com Cassidy é pessoal - comentou Tyler, curioso. - Há uma dívida de sangue entre nós - admitiu Ben -, sem se falar na de açúcar, não é, Carrie? Ele piscou para a irmã, que lhe enviou um olhar de aviso. Ben achava que tinha sido muito hermético, mas Tyler matou a charada: - Alguém pôs um quilo de açúcar no tanque de gasolina do Ford Thunderbird 1964, vermelho, conversível, de Cassidy, há uns dois anos. Há séculos eu vinha implorando que me vendesse aquela beleza, mas ele nunca cedeu. O açúcar destruiu o motor, o carro ficou desvalorizado e... - Desvalorizado, nada! Inutilizado - corrigiu Ben. - Foi você, não é? - Tyler fitou-o, chocado. - Você destruiu aquele carro magnífico, clássico... Por quê? - Ben, não diga mais nada! - aconselhou Carrie. Mas ele a ignorou: - Cassidy é um canalha maldoso que partiu o coração de Alexa - disse, implacável. - Era justo que passasse pelo sofrimento que causou a ela, mas como o desgraçado não tem coração, o jeito foi... - Destruir o carro dele - concluiu Tyler. Fitou Carrie: - Participou disso? - Carrie e Lex só souberam da coisa depois, quando lhes contei - respondeu Ben, orgulhoso. - Agi por conta própria. Carrie viu aversão nos olhos de Tyler e sua lealdade de irmã irrompeu: como ele se atrevia a julgar Ben, se não tinha idéia do que Alexa sofrera?
- Ryan Cassidy é um convencido frio e arrogante que merecia castigo muito pior pelo que fez com Alexa - disse, defendendo o irmão. - Por que se limitaram a destruir o carro dele? - indagou Tyler, sarcástico. - Por que não deceparam as mãos dele? Seria o fim de um desenhista, mas um castigo justo pelo horrendo crime de não amar sua irmã. - Não fazemos a menor questão que você entenda - retrucou Carrie, zangada. - Entendi que se um dia aparecer açúcar no tanque de gasolina de um de meus carros, sei a quem pegar! Com um olhar de desprezo pôr cima do ombro, Tyler saiu prometendo-se nunca mais pôr os pés ali. - Agora ele pensa que somos doidos - lamentou-se Ben. Carrie recusou-se a admitir que estava aflita com o acontecido. - O que ele pensa não nos importa, Ben. - Importa, sim, Carrie. Ele é um Tremaine! Pense nas vantagens que teríamos se fosse nosso amigo! Tive uma idéia sensacional para uma campanha da Tremaine Co. e estou trabalhando nela desde que o conheci. Se conseguir vender a idéia a ele, estou feito na vida! - Acho que Tyler nem vai querer ouvi-lo depois do que soube. - Foi uma idiotice confessar que acabei com o T-bird de Ryan Cassidy - arrependeu-se Ben. - Ainda bem que ele não ficou sabendo do resto da vingança! Carrie, será que pode me fazer um favor? Se por acaso ele aparecer aqui de novo, tente... - Usar minha grande influência para conseguir uma entrevista para você apresentar a idéia da campanha publicitária? - Ela riu, irônica. - É melhor tentar isso através da amiga comum de vocês, Rhandee. - Ele parece interessado nela - assentiu Ben. - Acho que queria mesmo conversar a respeito. Por que a gente teve que falar no maldito Ryan Cassidy e... Ei, Carrie! Aonde você vai? - Tomar um banho e me deitar - respondeu ela. Se quiser, pode ficar vendo tevê, Ben. - OK... Mas antes vou fazer um telefonema. - Para Lex? - sugeriu Carrie. - Tá louca? - Ele fez uma careta. - Para Rhandee. Nos três dias seguintes, sempre que ia ter uma recaída, Tyler lembrava-se do que os vingativos trigêmeos Shaw eram capazes de fazer com pobres automóveis indefesos. Imaginou-se dando partida num de seus caríssimos carros de coleção e jogando uma quantidade letal de açúcar no motor. Era uma possibilidade horrorosa e só podia se cumprimentar por ter escapado da fúria dos trigêmeos assassinos com sua casa, carros e a própria pessoa intactos. As horas que passava no escritório eram uma contínua e interminável sucessão de entrevistas, telefonemas, reuniões. Podia ser o herdeiro dos Tremaine, mas era também o futuro vice-presidente da empresa e tinha que se dedicar ao crescimento dela. De acordo com o plano da família, quando o pai se aposentasse Cole passaria a presidente e Tyler teria a vice-presidência, por isso procurava tornar esse fato justo trabalhando com empenho. Fora do escritório, almoçava e jantava com clientes um dia, em outro ia a coquetel ou jantar organizado pela Associação Comercial, onde representava a riqueza, importância e charme dos Tremaine. Ao voltar para casa, tarde da noite, parava na alameda que levava à sua garagem e olhava a casa de esquina. A única luz era a que brilhava no pórtico de entrada. Carrie e os trigêmeos dormiam. Ficava sentado no carro, vendo na escuridão a imagem dela sorrindo, os grandes olhos azuis irradiando carinho. Era uma incrível imagem tridimensional e sensorial, porque conseguia ouvir a risada dela, sentir a maciez da pele, o perfume suave dos cabelos. A habilidade de evocá-la tão vividamente não se limitava a quando estava acordado: estendia-se aos sonhos. Estavam deitados, beijando-se, as pequenas e delicadas mãos dela o acariciavam, inocentes no começo, depois atrevidas e diabolicamente eróticas. Ele gemia de prazer e retribuía, envolvendo os seios com as mãos ansiosas, beijava e mordiscava os mamilos rosados até ela implorar piedade; beijava-a com um fogo intenso, deslizava os dedos entre as coxas macias, tocava o quente lugar secreto, sentindo que estava úmido e ardendo por ele. Ela murmurava algo arrasadoramente sensual, enlouquecendo-o; seu coração saltava no peito, o sangue fervia nas veias e ao sentir os dedos delicados envolverem seu sexo ardente gritava o nome dela...
- Carrie! Tyler acordou com o próprio grito e sentou-se na cama. Estava suando, apesar do ar-condicionado fresquíssimo, o coração parecia um tambor e a violenta ereção fazia seu sexo parecer de granito. Tivera um sonho erótico, coisa que não lhe acontecia há anos. Não precisava de fantasias noturnas, uma vez que levava uma vida sexual ativa intensa e muito bem resolvida... Até agora. Há alguns dias vinha sofrendo de intensa frustração em tudo que se referia a sexo, pagando um preço muito alto pelos pequenos e apaixonados interlúdios que Carrie interrompera com insultante indiferença. Tinha que dar um jeito naquela situação. Não agüentava mais acordar daquele jeito e ter que tomar chuveiros gelados todas as noites. Resolveu ouvir o recado de seu corpo e voltar às atividade sexuais, que andara relaxando ultimamente. Na verdade nunca mais transara e era impossível continuar desse jeito. E assim fez. Um aperitivo, um show, jantar e horas agradáveis num clube de jazz com uma atraente moça. Gwenda escutava interessada enquanto ele falava de si e ria com gosto de suas piadas. Era evidente que não ia esnobá-lo e deixá-lo na mão, como certa mulher cujo rosto vivia em sua mente apesar dos tremendos esforços para expulsá-lo. Ficou animado quando Gwenda convidou-o para esticar a noite no apartamento dela. Música suave, luzes indiretas, ar-condicionado murmurante, proporcionando umidade e frescor do ar perfeitos. Ela serviu vinho para ambos e sentou-se ao lado dele, no macio sofá de couro negro. Os sinais eram bem claros e indicavam que ele podia fazer o primeiro avanço. Foi nesse momento que Tyler percebeu que não ia dar certo. Sentiu-se arrasado. Tudo lhe parecera tão simples: era só entrar no clima e passar para a ação. Afinal, fazer sexo era algo instintivo, básico. Por que, então, seu corpo sabotava a tentativa de aplacar a fome de sexo que o atormentava? Onde fora parar todo aquele tesão quase insuportável de tão intenso e doloroso? Quando Gwenda mostrou-se simpática e compreensiva, dizendo que entendia o "problema" dele, que podia acontecer com qualquer homem, a humilhação tornou-se completa. Tratou de se despedir e pouco depois teve a surpresa de ver, de longe, a casa de Carrie toda iluminada. Coisa estranha àquela hora da madrugada. Não era um alarmista, no entanto acelerou até parar diante da casa de esquina. Entrou correndo e bateu a velha aldrava de bronze. - Quem é? - a voz de Carrie soou trêmula e ansiosa atrás da porta. - Tyler, Carrie. Abra. Ela abriu de imediato. Ao vê-lo diante de si, vestido para sair, ficou surpresa. Fosse de jeans velho cortado ou na maior elegância, ele era sensacional. Mas que diabo fazia na porta dela, às três da manhã? - Aconteceu alguma coisa? - indagou, hesitante. - Eu ia fazer essa pergunta - respondeu Tyler, sem desviar os olhos. Ela usava um robe curto, de seda azul, que combinava com os olhos expressivos, fechado apenas por um cinto estreito, do mesmo tecido, que podia ser desamarrado com um simples puxão. Será que ela vestira alguma coisa por baixo? Por que quase sempre a encontrava com roupa de dormir? O pior era que essas roupas de Carrie eram modestas, mas estimulavam a imaginação e os hormônios dele de um jeito alucinante! Era uma tortura adicional ao jogo pode-olhar-mas-é-proibido-tocar que andavam fazendo. - Sua casa parece uma Árvore de Natal - disse, frio. - Está todinha iluminada. - Todinha, não - replicou ela. - O quarto dos trigêmeos está às escuras. Eles estão dormindo. Ajeitou o mini-robe, diante do olhar atento de Tyler. O cinto estava desamarrando?, perguntava-se ele. Carrie percebeu que o cinto estava se desamarrando e apertou o laço, enquanto ele a fitava com os enigmáticos olhos verdes. De repente, ela lembrou que precisava respirar. - Quer entrar? - perguntou, por fim, com voz incerta.
CAPÍTULO VII Tyler não queria entrar. Não porque houvesse algo errado, mas queria dormir e deixar que Carrie continuasse fazendo fosse lá o que fazia àquela hora. No entanto entrou, com sensação do inevitável, como se ele fosse de metal e ela um imã que o atraía sem que pudesse resistir. E, pior, seu corpo estava se assanhando. A resposta viril negada às amorosas investidas de Gwenda manifestava-se apenas com a presença de Carrie. Começou a suar e não era pela falta de ar-condicionado. - Por que ainda está acordada? - perguntou, brusco. - São três ho... - Eu sei que horas são - interrompeu ela. - Não conseguia dormir, então... - Acendeu todas as luzes, menos a do quarto das crianças? - A voz dele tornou-se mais grave. - O que há? - Estou muito nervosa. Ela dirigiu-se para a cozinha; Tyler foi atrás, viu-a abrir unia velha caixa de pão e pegar um livro. - Guardei este livro aqui porque só de olhá-lo tenho arrepios - confessou, sem jeito. - Ben disse que era sensacional e comecei a ler depois de deitar os trigêmeos. Fiquei tão apavorada que não pude dormir, nem com todas as luzes acesas. - Olhou para o livro e estremeceu. - Não sou do tipo nervoso, mas "isso aí"... É sobre um assassino serial, sádico, que entra nas casas à noite. - Exatamente a história que uma jovem mãe solteira e solitária deve ler na cama! - cortou ele, cáustico. - Mas não me surpreende vindo de seu irmão, que se diverte destruindo carros clássicos. - Não quero falar sobre isso. - Ah, prefere conversar sobre homicidas psicopatas? Eles fazem Ben parecer um anjo, não? Tyler pegou o livro e olhou a capa sinistra que prometia "terror horrendo e suspense chocante". Jogou-o na lata de lixo, num gesto dramático. - Aconselho novelas de amor, bem românticas, Carrie. Há uma ampla escolha nas Livraria Tremaine. Garanto que não vão tirar seu sono. - Às vezes tiram - respondeu ela, franca. - Por motivos muito diferentes, é claro. Ele arqueou as sobrancelhas: - Excitação amorosa não é melhor do que terror? - Mas faz a gente ficar acordada do mesmo jeito. - Isso é verdade, posso atestar - ele deu um sorriso triste -, e juro que prefiro o terror. Acho que vou levar esse livro comigo. Pode ser que o tal suspense chocante tire "outras coisas" da minha cabeça. - Sua namorada não cooperou, hoje? - indagou Carrie, fingindo uma pena que não sentia e tentando disfarçar o ciúme. Tyler tirou o paletó, colocou-o no espaldar de uma cadeira, desabotoou o colarinho, soltou o nó da gravata e arregaçou as mangas da camisa. Ela observava, tentando adivinhar o que ele faria em seguida. - Será que posso tomar alguma coisa? - perguntou, bem-educado. Aquele pedido era um verdadeiro anti-clímax. - Claro. O que quer? - Qualquer coisa gelada, estou ficando desidratado. O calor está demais, hoje! - Bom, confesso que fechei todas as janelas... - Me deixe adivinhar: o criminoso entra por janelas abertas. - Ela assentiu. - Hum, como Drácula, só que não tem capa, nem caninos longos, nem capacidade de virar morcego. - Não é nada engraçado! - Carrie estremeceu. - Nunca mais vou me sentir a salvo com uma janela aberta, a não ser que esteja num vigésimo andar. Serviu limonada, com dois cubos de gelo, para ela e para Tyler. Sentaram-se à mesa da cozinha. - Como sabe que saí com uma garota? - perguntou ele. - Está vestido tipo primeiro-encontro... - O encontro não deu certo. - Ele tomou um gole de limonada. - Gwenda, a coitada que saiu comigo, é uma gracinha, estava a fim e tudo. Compreensiva, disse que meu "problema" é temporário, devido a cansaço e que não devo fazer nenhuma loucura... Nesse momento, ele descobriu que seu senso de humor, em baixa devido aos acontecimentos daquela noite, estava voltando. Carrie arregalou os olhos, preocupada: - Que problema?
- Imagine, Gwenda acha que sou capaz de me matar - ele arranjou um tom de voz amargo. - Disse que conhece homens incrivelmente másculos que já passaram por isso e fez tudo para me consolar. O queixo de Carrie caiu: - Quer dizer que... Você não... Não conseguiu... - ela tapou a boca com as mãos. - Se rir de mim, juro que derramo esta limonada, congelo e tudo, por dentro da sua roupa! - Não estou rindo - afirmou Carrie, procurando fica séria. - E Gwenda tem razão. Aprendemos, nas aulas de Educação Sexual, que é comum os homens sofrerem de... de impotência temporária, que pode ter várias causas e... - No momento não há problema - esclareceu ele. - Se não acredita, venha ver, ou melhor, venha sentir. - Acredito, sim! - afirmou ela, rápida. - Você nunca teve "problema" comigo. - Aliás, minha cara amiga, esse é o grande problema com várias implicações. Por exemplo: por que estou todo aceso aqui, conversando com você sobre maníacos assassinos, e fiquei apagado lá, com Gwenda disposta à maior transada do mundo? Uma onda de calor passou por Carrie: - Devo responder ou essa é uma pergunta retórica? - Na verdade, acho que é uma tremenda sacanagem que a vida está fazendo comigo! O sorriso inefável iluminou o rosto dela e seus olhos cintilaram como jóias. Tyler sentiu-se tocado até a alma. Eles desviaram os olhos um do outro, perturbados pela intensidade da atração que sentiam. - Essa limonada não está doce demais? - perguntou Carrie, solícita. - Se quiser outra coisa... - Quero "outra coisa", sim. Tyler ajeitou as pernas embaixo da mesa e seus joelhos se tocaram. Carrie não se mexeu. Recusava-se a agir como uma virgenzinha tímida, principalmente depois de ter bancado a idiota, apavorada por causa da própria imaginação. - Mas você não vai me dar o que quero - acrescentou ele. - Vai, Carrie? - Não, a menos que se trate de algo líquido, que possa ser posto num copo. - Eu sabia. - Ele suspirou, terminou a limonada e levantou-se. - Se eu for embora, tem certeza que não vai ficar dura de medo na cama, de olhos abertos, esperando que um psicopata sádico entre pela janela e a ataque? Carrie estremeceu. Fora o que acontecera pouco antes, até que ela se levantara, acendera todas as luzes da casa e ficara sentada na sala, tremendo de medo. - Seu rosto e seus olhos são muito expressivos - disse Tyler. - Ou, quem sabe, eu estou muito receptivo a emoções esta noite. Quer que eu fique aqui? - Já falamos sobre isso - suspirou ela. - Não posso ir para a cama com você. - Meu bem, por nada deste mundo eu passaria a noite na sauna que deve ser o seu quarto. Vou dormir com os trigêmeos, porque o quarto deles é o único lugar civilizado desta casa. Me dê um travesseiro e durmo no chão. - Não posso deixar que você... Ele a pegou pela mão e levou-a para cima. - Não vai ser a primeira vez. Cansei de dormir no chão no tempo da faculdade... O calor me incomoda mais do que ausência de colchão. Apesar do ventilador ligado, o quarto dela estava abafado, como ele esperava. Ficou lá o tempo necessário para pegar um travesseiro e uma manta. Sombra dormia na cama e nem se mexeu quando Carrie se deitou. Aquilo sim, acontecia-lhe pela primeira vez, pensou Tyler, divertido: sua companhia trocada pela companhia de um gato. Entrou no quarto dos trigêmeos, abençoadamente fresco, apenas com a luminosidade fraca de um abajur, e estendeu a manta no chão. Antes de se deitar, aproximou-se de cada berço e olhou as crianças adormecidas. Emily estava de bruços, toda enrolada no lençol fino, cor-de-rosa; Dylan dormia de lado, abraçado com uma ovelhinha verde de pelúcia; Franklin encontrava-se de costas, com um polegar na boca. Tão pequeninos e indefesos, três bebês que dependiam totalmente da mãe. Fechou os olhos e visualizou Carrie na cama, no quarto ao lado. Tão jovem para ser mãe de três criancinhas! Era pequena, delicada, e ao fitá-lo com os enormes olhos azuis parecia tão inocente quanto Emily. Mas não era indefesa e dependente. Ao contrário: deixara bem claro que era decidida e forte.
O Que fazia ali, no quarto das crianças, enquanto ela estava na cama com um gato? Carrie não lhe pedira para ficar, mas ele sabia que queria que ficasse e que aceitara depender dele, pelo menos nessa noite. Tirou a roupa e colocou sobre uma cadeirinha de plástico. Muita gente queria ou precisava dele porque era Tyler Tremaine e tinha os poderes e influências das pessoas ricas. O mesmo acontecia em sua vida pessoal. As mulheres queriam ser vistas em sua companhia por ele ser rico, por levá-las a lugares chiques, dando-lhes chances de se ajeitar na vida. Ele sabia que tinha um físico agradável e era simpático, mas compreendia que boa parte das atenções devia-se ao sobrenome Tremaine: com ele, poderia ser feio, mal educado e antipático que continuariam a incensálo. No entanto, não lembrava de ninguém que o tivesse querido por ser apenas ele mesmo. Nunca se separara do sobrenome Tremaine e de tudo que significava. Até essa noite. Estar naquela casa nada tinha a ver com o fato de ser um Tremaine. Nessa noite ele era apenas um homem cuja presença dava paz a uma jovem mãe apavorada por um livro aconselhado pelo idiota do irmão dela. Nessa noite bastava-lhe ser e estar. Não era solicitado por interesses, sexo ou dinheiro: era o bastante existir e encontrar-se ali. Passara por muitos estágios e fases em sua vida e lembrava-se vagamente deles ao olhar os três berços. Chegou à conclusão de que a fase atual era a mais inexplicável e assustadora de todas. Esperava, com fervor, que fosse temporária. - Uh! Ah! Oh! Os três sons, profundos e claros, penetraram a inconsciência de Tyler, acordando-o. Abriu os olhos e viu uma cabecinha loira logo acima da grade de um berço, os grandes olhos azuis fixos nele. - Uh! Ah! Oh! - berrou Franklin de novo. Já tinha jogado um porquinho e atirou um ursinho de pelúcia vermelho. - Bom dia para você também - cumprimentou Tyler, jogando os dois bichinhos de volta no berço. O garotinho riu deliciado, jogou os brinquedos de novo e tudo mais que tinha no berço. E como tinha coisa! Tyler empenhou-se em devolver os animaizinhos até perceber que a brincadeira não teria fim. A essa altura a gritaria de Franklin acordara os irmãos, que ficaram de pé nos berços, assistindo a batalha de bichinhos de pelúcia. Quando a ovelhinha verde saiu voando do berço de Dylan, Tyler compreendeu que parava com aquilo ou seria soterrado por brinquedos. - Tá, agora chega! Levantou-se e gemeu quando seu corpo reclamou da noite no chão. Estava travado, dolorido e tonto com a gritaria dos pequeninos que pulavam em seus berços. Olhou ansioso para a porta, esperando a entrada de Carrie. Nada! A gritaria redobrou e Tyler viuse obrigado a tomar uma decisão executiva, mais difícil de todas que tomara na Tremaine Co. até então. - Tudo bem, vou libertar vocês, baixinhos - disse, hesitante. Tirou Emily do berço e viu que estava molhada. Seus irmãozinhos também pingavam e ele entrou em pânico: - Olhem aqui, companheiros, sinto muito, mas não sei lidar com fraldas. As crianças não pareceram se importar. Saíram correndo para o corredor e Tyler foi atrás, olhando para dentro do quarto de Carrie ao passar por ele. Ela dormia, encolhida no meio da enorme cama, o lençol cobrindo-a dos pés ao queixo. Parecia muito jovem e angelical. O coração dele se apertou, em seguida um onda de sensualidade o envolveu: ela estava também muito desejável. Que combinação mais esquisita, um anjo sensual! Não havia tempo para decifrar o enigma, porque os trigêmeos tinham chegado à escada. Dylan e Franklin, sensatos, desciam os degraus um a um, sentados. Mas Emily ia descer de pé e seu equilíbrio precário fez o coração de Tyler subir à boca. Pegou-a no colo quando ela oscilava perigosamente e olhou para baixo. De repente, a escada pareceu-lhe um abismo e visualizou a menininha estendida lá embaixo. Apertou-a com força ao peito. Viu, então, que o portãozinho de segurança, no alto da escada, estava aberto. Lembrava-se que Carrie o fechara quando haviam subido. Como as crianças tinham conseguido abri-lo? - Já vi que vocês são um terror! - comentou.
A resposta das crianças requeria tradução e não havia nenhum intérprete por perto. Mas ele aprendera: não podia tirar os olhos dos três diabinhos por um momento sequer, nem mesmo para olhar a maravilha que era a mãe deles. Entrou na cozinha, colocou cada bebê no seu cadeirão e pôs um enorme babador em cada um, como vira Carrie fazer, enquanto eles conversavam animados, no seu idioma particular. Pareciam felizes por estar fora dos berços, não eram complicados e pouco depois Tyler se apanhou rindo e conversando com eles, apesar de não entendê-los e não saber se era entendido. Mais confiante, tratou de preparar o café da manhã: colocou flocos de milho em três tigelas, acrescentou leite e as pôs diante de cada um, com uma colher e um guardanapo. Emily fez uma corajosa tentativa com a colher, mas não conseguiu capturar nenhum floco de milho e o leite escorreu todo antes de chegar à rosada boquinha. Dylan achou a colher supérflua, jogou-a no chão, enfiou as duas mãos na tigela e o leite espirrou para todos os lados. Franklin interessou-se pelo guardanapo e tratou de investigar o estranho quadrado de papel, depois mordeu um canto, para sentir-lhe o gosto. O gato apareceu na cozinha, olhou para Tyler e soltou um imperioso miado. - Eu sei, eu sei - disse ele, que sabia reconhecer críticas. - Eu devia ter servido o leite e o cereal separados. O guardanapo foi o maior erro. Era a conclusão evidente, pois Emily acabara de enfiar o guardanapo dentro da tigela, em seguida ergueu-o e observou-o atentamente antes de submergi-lo de novo. Sombra saltou sobre o balcão e miou outra vez. Os trigêmeos agitaram-se com o grito de guerra do gato. - Ga, ga! - gritou Emily, não muito longe de "gato". Dylan soltou um som muito parecido com o miado e Sombra respondeu no ato, com dois miados bem mais altos. Franklin aplaudiu, batendo as mãozinhas gorduchas nos flocos de milho com leite. Carrie entrou na cozinha nesse momento e deu com Tyler de cueca, que aliás mais parecia um calção de banho, olhando para os trigêmeos e o gato. Ela acordara sobressaltada, correra ao quarto das crianças e ao ver os berços vazios descera correndo, sem sequer pensar em vestir o robe e só o notou quando Tyler voltou-se e olhou-a com a maior atenção. - Estão imprestáveis... - disse ele, pegando os três guardanapos ensopados e jogando-os no lixo, onde foram fazer companhia ao livro do psicopata sádico. - Estou me entendendo bem com as crianças, mas o gato me odeia. - Ele está com fome. Vou dar a comida dele. Carrie abriu uma lata de comida para gato e Sombra esfregou-se nos tornozelos dela, ronronando. Tyler estivera interessado em saber, na noite anterior, se havia alguma coisa por baixo do robe curto que Carrie usava e agora sabia: uma camisola curta, de algodão branco, com decote e barra adornados por renda branca. Sentou-se numa cadeira, aturdido. Estava correndo sério perigo se uma roupa tão simples e casta provocava um desejo tão intenso nele que suas pernas tremiam. -O brigada por ter ficado comigo ontem à noite, Tyler - disse ela, aproximando-se e colocando a mão num ombro dele. - Adormeci em seguida. - E não teve pesadelos sangrentos? - Nenhum. Obrigada, também, por ter atendido os trigêmeos e dado comida a eles. Não sei como dormi até tão tarde! - São sete da manhã, Carrie. Isso não é acordar tarde. - Em geral eu acordo assim que um deles emite o mínimo som. Não entendo por que nada escutei hoje. Será que inconscientemente se acomodara porque sabia que Tyler estava lá e daria um jeito?, perguntou a si mesma. Ele pensou a mesma coisa e ficou orgulhoso: - Fiz tudo com prazer - sorriu, meio tímido -, mas não me saí muito bem. Ela sorriu também: - Você foi ótimo. Um tanto trêmulos, os dedos dela desceram pelo braço e tornaram a subir, enquanto se aproximava até quase encostar nele. Estava corada, o coração aos saltos. Sabia muito bem o que fazia e que não deveria fazê-lo, mas não conseguia parar. Queria tocá-lo, queria que ele a desejasse. Tyler respondeu de imediato, puxando-a para si e sentando-a em seu colo. - Esta "estratégia" funcionou muito bem na outra noite... - disse, com uma risada rouca.
- É... Creio que pode incluí-la em seus planos de ataque - sugeriu ela. Ele lembrou-se das fases do ritual pré-amoroso que vinha utilizando há anos e achou-as tolas. Há quanto tempo não sentia o gosto de um verdadeiro encontro, da deliciosa batalha de olhares, toques, insinuações, beijos, amassos e, por fim, a deliciosa rendição? O fracasso da noite anterior com Gwenda significaria incapacidade para sexo-social? - Minha estratégia de ataque - suspirou ele - tornou-se tão antiquada quanto os discos LP e a tevê em preto e branco. De fato, o conceito de solteiro playboy o envergonhava como um ultrapassado clichê que se tornara sua própria caricatura. - Você está com a confiança abalada pelo que aconteceu ontem à noite com... Como é mesmo o nome dela? - A voz de Carrie era doce demais. - Griselda? Tyler percebeu que Carrie se importara com o fato e sorriu: - Gwenda - apressou-se a corrigir. Ela resolveu que detestava aquele nome tanto quanto Rhandee. Sacudiu os ombros e ao fazê-lo movimentou o traseiro sobre as coxas musculosas de Tyler. Tinha consciência de quanto o excitava e gostava disso. Era bom apoiar o pouco e macio peso dos seios no peito nu e forte... Sentiu a resposta rápida, máscula, e sua pulsação se acelerou. - Acho que vou telefonar para Gwenda, contando que meu "problema" foi mesmo muito temporário. Ela vai ficar feliz... Tyler segurou as mãos de Carrie, que brincavam com os pêlos de seu peito, e ela movimentou o corpo, sinuosamente. Ele gemeu, sentindo que se tornava cada vez mais difícil resistir à tentação. - Doce e ingênua Carrie... - murmurou-lhe ao ouvido. - Sabe o que está fazendo comigo? Ela ficou vermelha. Sabia, sim. E também sabia como se chamavam as mulheres que faziam "aquilo". Mas nunca imaginara que merecia esse nome até conhecer Tyler. - Não estou provocando você - disse, defendendo-se dos próprios pensamentos. Afinal, "provocar" significava fazer algo tendo controle das próprias ações, o que ela não tinha. Queria esse homem, por isso agia de modo que ele a quisesse. - Está sim, menina - afirmou Tyler. - Claro que está. - Abraçou-a, fazendo-a encostar-se em seu peito. - A pergunta é: por quê? Acariciou-lhe as costas, a nuca e um langoroso prazer percorreu o corpo esguio de Carrie. - Por quê? - Os lábios dele roçaram a orelha rosada, depois desceram pelo pescoço macio, com pequenos beijos. - Será que se diverte me deixando alucinado e depois me recusando? Aquelas palavras foram como um balde de água gelada e ela não conteve o grito: - Não! Os trigêmeos interromperam as interessantes experiências com o café da manhã e fitaram a mãe, que saltara de pé. - Não, não, não! - apoiou Emily, entusiasmada. - Não! - rugiu Dylan. Franklin, que acabara de enfiar a carinha na tigela e estava todo sujo de leite e flocos de milho, rompeu em choro. - Franklin pensa que estamos zangados com ele - explicou Carrie e foi consolar o menininho. Tyler fez uma careta, aborrecido por ela ter escapado do que prometia ser muito bom. Todo seu corpo estava alerta, pulsante; queria... Era óbvio o que ele queria e era óbvio que não ia conseguir. Não com três criancinhas observando, uma delas soluçando e as outras duas cada vez mais agitadas. Levantou-se, sentindo-se exausto, física, emocionalmente e ainda não eram oito horas da manhã. Mais tarde, teve certeza que era essa exaustão mental e corpórea que o tinha feito perguntar a Carrie: - Não quer ir com as crianças nadar na minha piscina hoje, quando eu voltar do trabalho? Franklin parara de chorar e roía um biscoito que a mãe lhe dera. Ela voltou-se, com ele no colo: - Vai dar outra festa? Ele lembrou-se que a convidara, com as crianças, para aquela sinistra festa e ficou calado por instantes. - Não - respondeu por fim. - Não vai haver nenhuma festa. Seremos só nós cinco. Responda não, Carrie ela ordenou a si mesma. Você não consegue manter a cabeça no lugar quando está perto dele e Tyler sabe disso. Quando ele resolve agir, você derrete como neve ao sol. E aquele seu famoso eterno amor por Ian? Ela mordeu os lábios, nervosa, antes de responder: - Não sei se...
- Tenho pequenos salva-vidas que as crianças podem usar - assegurou Tyler, como se o problema dela fosse esse. - Assim, não vamos ter dificuldade em cuidar deles na água. E você nem pensou em salva-vidas para seus filhos!, recriminou-se ela, amarga. Mas ele pensara e Carrie horrorizou-se por sua fixação em sexo. Perturbada, ficou mais confusa ao ouvir-se respondendo: - Está bem, aceitamos o convite. - Telefono assim que chegar, ali pelas seis horas. - Tyler passou as mãos pelas cabecinhas loiras de Dylan e Emily. - É melhor eu me vestir, tenho um compromisso na cidade. A reunião deu resultado favorável para a Tremaine Co. Tyler e seu irmão Cole saíram do edifício para o intenso calor do meio-dia na cidade. - Pelo jeito, este fim de semana também vai ser quente demais - comentou Cole. - Você vai para a praia? - Não - Ao ver a surpresa do irmão, Tyler acrescentou: - Tenho um programa aqui. - Como é o nome dela? - riu Cole. Tyler respondeu com um leve soco no braço do irmão, que significava você-não-tem-nada-comisso. Não pretendia falar sobre aquele estranho relacionamento que estabelecera com Carrie. Tyler Tremaine com a mãe de trigêmeos? Cole não entenderia, como ele próprio não entendia, aliás. - Cole - perguntou, de repente -, sabe aqueles salva-vidas que seus filhos usam na praia e no veleiro? - O quê? - Cole achava que não havia entendido direito. - Eles funcionam também em piscina? - insistiu Tyler. - Se quer saber se mantêm uma criança na superfície da água, a resposta é sim. - Ótimo. Onde se pode comprá-los? Olhando-o como se tivesse ficado louco, Cole mencionou várias lojas. - Obrigado! - Tyler bateu-lhe, amigável, num ombro. - Caso a gente não se encontre hoje de tarde, bom fim de semana! - Para você também - respondeu Cole, intrigado. - Chelsea e eu vamos para a praia com os meninos. Tyler imaginou os trigêmeos brincando na areia, correndo para as ondas espumantes do mar... - Eles vão se divertir à grande! - disse, animado. - Na certa vão tentar comer a areia toda! Dessa vez Cole quase caiu de costas: - Ei! Não vai me criticar, dizendo que sou doido em viajar com dois filhos? E aquela sua teoria de que é idiota levar crianças para todo canto, porque elas não aproveitam, nem sabem o que está acontecendo? - Os baixinhos são muito mais espertos do que a gente pensa, mano! Com essa, Tyler foi para o estacionamento, enquanto o irmão ficava olhando, de boca aberta.
CAPÍTULO VIII - Atenção, um... dois... JÁ! - gritou Tyler. Um gritante e risonho Dylan pulou na piscina. A cabeça flutuou e ele bateu pernas e braços, espirrando água para todos os lados, na segurança que oferecia o salva-vidas cor de laranja brilhante. Tyler levou-o pela água até onde Carrie colocava Emily e Franklin num colchão de ar colorido. Dylan agitou-se ainda mais, berrando selvagemente: - Vai, vai! O garotinho estava saltando da borda da piscina há cerca de vinte minutos e pedia mais. - Não é possível! - gemeu Tyler. - Ele não pode estar querendo mais. Já pulou pelo menos cem vezes! - Fique com Emily e Franklin, que eu cuido do Dylan - sugeriu Carrie. - Com o maior prazer, minha senhora! Eram quase oito horas, já passara do horário das crianças irem para a cama e estavam na segunda sessão de piscina. Tyler chegara às cinco e meia, tinham ficado na piscina até às seis e meia, então ele pedira uma refeição chinesa, que haviam comido na casa de Carrie. Divertira-se com os trigêmeos
descobrindo as delícias do frango agridoce, do arroz chop-suey. Depois, perguntara se não queriam voltar a nadar e Carrie concordara. As cenas que se desenrolavam na piscina de Tyler nessa sexta-feira eram muito diferentes das que tinham acontecido no sábado anterior. Uma porção de brinquedos, que ele comprara naquela tarde junto com os salva-vidas, flutuavam na água. Observou Carrie esperando que Dylan desse seu centésimo-septuagésimo-nono salto. Estava com o velho duas peças amarelo com bolas brancas e os olhos dele passearam na pele amorenada pelo sol. Dava para perceber os mamilos rijos delineados pelo algodão molhado. Imaginou-se tirando o sutiã do maiô e olhando-a, tocando-a, deslizando os lábios pelos pequenos montes de carne macia. Sentiu que seu corpo despertava. Para distrair-se, mergulhou e surgiu do outro lado do colchão de ar. Emily e Dylan riram, quem sabe achando que aquilo era uma nova versão do "Cuco, achou!" e não que ele fervia de paixão pela doce, devotada mãezinha deles. - Corrida de barco! - gritou e nadou rebocando o colchão de ar, cada vez mais depressa. As crianças soltavam gritos deliciados e riam, enquanto ele descobria que o exercício era excelente antídoto para a luxúria. - Quer vir amanhã, outra vez? - perguntou a Carrie, meia hora depois, quando levavam três chorosos bebês para casa. Eles queriam continuar na água, haviam protestado com toda a força dos pequenos pulmões ao serem tirados da piscina, e continuaram a protestar o caminho todo até em casa. Carrie não podia acreditar que ele os convidava de novo. Observara-o brincar com as crianças e diante daquele berreiro final, pensava que Tyler apenas se despediria, aliviado por se livrar deles. Ele carregava Dylan e Franklin, um em cada braço: os dois pareciam ainda menores, só que bem protegidos. Sentiu uma angústia doce e dolorosa ao mesmo tempo. Levaram as crianças para o quarto delas: - Você ainda não respondeu - pressionou Tyler, pondo os pequenos no chão. - Vamos nadar amanhã? - Eles adoraram - ela esquivou-se de responder, ajoelhando-se para trocar os trigêmeos. - Mas você realmente quer que a gente vá? - Você quer? - cortou ele, encostando-se na parede e fitando-a. Ela movia-se tão rápida quanto as crianças, conseguindo enxugá-las e pôr as fraldas. - Quero - respondeu, em voz baixa. Segurou Franklin e vestiu-lhe o pijaminha, enquanto Emily e Dylan rindo, pulavam em cima do enorme panda. As crianças estariam no berço em dez minutos, então eles ficariam a sós. - Tudo bem, piscina amanhã, depois do soninho da tarde - decidiu Tyler, indo para a porta. - Até lá, então. Bom sono, baixinhos! Carne sentiu os olhos arderem pelas lágrimas. E elas permaneceram lá, ardentes, mas não caíram, enquanto punha as crianças nos berços e quando tomava um banho de chuveiro. Como podia censurálo por ter ido embora? Será que se diverte me deixando alucinado e depois me recusando?, perguntara Tyler. A evocação de seus beijos e carícias despertaram um selvagem desejo e Carrie mal podia suportar a ansiedade. Não. Absolutamente, não se divertia quando o fazia parar, porque precisava de mais e mais. E se não o detivesse? O que aconteceria se deixasse a cautela de lado e fizesse amor com Tyler? Era uma pergunta idiota: jamais seria capaz de transar simplesmente levada por atração sexual. Pertencera apenas a Ian Wilcox e haviam esperado o casamento para fazer amor, porque ela queria ser uma noiva virgem. Mas já não era virgem e Tyler não era controlado como Ian. Era exigente e impulsivo, agressivo, seguro de si e terrivelmente sexy. Pensou em seu olhar intenso, no jeito como ele a tocava, beijava. De repente, notou que mal conseguia respirar de tanto desejo. "Telefone para ele", disse uma vozinha íntima. Com firmeza, ela dominou o impulso, encarando a situação. Não pretendia ser como Alexa, que confundira o desejo de um homem com amor. Não queria sofrer por mais uma perda. Tinha os filhos, seu trabalho. Tyler Tremaine nunca seria dela e quanto mais cedo parasse com aquilo... Engoliu um soluço doloroso. Tinha que parar de querer esse homem! Tyler segurava uma chorosa Emily e, de pé no pórtico, olhava Carrie, toda vestida de branco, saindo para trabalhar no hospital. Alexa tentava confortar os desolados e uivantes Dylan e Franklin. - Mamãe! - gritava Emily, como se estivessem partindo seu coraçãozinho.
Emocionado, Tyler compreendia a menininha, uma vez que sabia o que era ser uma criança chorando pela mãe ausente. - É uma crueldade Carrie ter que deixar estas crianças todas as semanas! - Ele nem notou que pensava em voz alta. - São pequenos, precisam da mãe! - Eu também acho - disse Alexa. Surpreendido, ele voltou-se, pois não esperava que concordasse. Alexa se mantivera fria e distante dele desde que chegara e o encontrara comendo cachorro-quente no quintal, com Carrie e os trigêmeos. Não fizera comentários quando a irmã lhe contara que tinham nadado na piscina de Tyler, mas deixara evidente que não aprovava. Ele continuara por lá porque provavelmente as duas esperavam que fosse embora e não queria dar-lhes o gosto de acertar, só que não contara com a angustiada reação dos pequeninos quando a mãe saísse para trabalhar e estava muito perturbado. - Vamos tomar sorvete! - exclamou Alexa, com alegria. Levou os ainda soluçantes garotinhos para a cozinha, enquanto Emily fitava Tyler com os olhos cheios de lágrimas e perguntava: - Vete? - deu um suspiro tremido e deitou a cabecinha no ombro dele. - Emily - Tyler abraçou-a -, mamãe volta logo e amanhã a gente vai nadar. Eu puxo você na água, tá? Agora, vamos tomar sorvete, antes que seus irmãozinhos tomem tudo. Em vez de colocá-la no cadeirão, ele ficou com a menininha no colo, enquanto ela tomava o sorvete. Conversava com os meninos, que trabalhavam ativamente com a colher, e notou que se saíam muito melhor com o sorvete do que com os flocos de milho e leite. - Esse sorvete é mágico - comentou. - Ninguém mais está chorando. Sentada à mesa diante dele, Alexa sorriu: - Sei que não é muito certo, mas eu tapeio os baixinhos com sorvete ou biscoitos, sempre que Carrie sai. Detesto vê-los chorar. Tyler limpou um pouco do sorvete que Emily deixou cair em sua camisa e perguntou: - Você sempre fica com as crianças para ela ir trabalhar? Alexa fez que sim: - Faço qualquer coisa para ajudar Carrie e os pequenos. - Mas é um sacrifício ficar presa quatro fins de semana por mês. E se você tiver algum programa? - Você quer dizer um namorado? Não tem perigo, não quero saber de namoros - definiu Alexa. - Ora, vamos! - riu ele. - Você ainda é muito moça e bonita demais para dizer isso. - E você parece minha mãe falando - rebateu ela, seca. - Por que é tão difícil acreditar que prefiro passar os fins de semana com os meus sobrinhos do que com um namorado? Ele ergueu as sobrancelhas: - Sua prematura retirada da arena amorosa tem algo a ver com Ryan Cassidy? - Não quero falar nisso - gelou Alexa. Pelo jeito, a ferida provocada por Cassidy ainda não cicatrizara. Tyler gostaria de saber o que acontecera e há quanto tempo, mas viu nos olhos dela que não convinha insistir. - Há quanto tempo Carrie está trabalhando? - perguntou. Tranqüilizada, Alexa respondeu: - Voltou ao trabalho logo depois que os trigêmeos nasceram. Mamãe e eu não aprovamos, mas papai disse que ela devia voltar para a vida, que precisava adquirir confiança pessoal, saber que podia sustentar a si e às crianças. - Acho seu pai duro demais - contrapôs Tyler. - Duro, não - discordou Alexa. - Determinado, corajoso e prático. É coronel da aeronáutica e seu lema é "Quando é preciso fazer, o corajoso faz". Papai quer mesmo que Carrie vença. - Então, por que ele e sua mãe não a ajudam com os trigêmeos? - Ajudaram. Ela foi morar com eles quando Ian morreu, teve os filhos lá e ficou na casa deles até há três meses, quando papai foi removido para a Alemanha. Ela não quis ir, o tio de Ian deixou esta casa, então decidiu morar aqui. Diz que papai tinha razão, que desde que voltou a trabalhar sente-se mais segura. Mas eu sei o quanto é difícil para ela... Como trabalho a semana inteira, sou fisioterapeuta no Hospital Central, Carrie tem que cuidar das crianças sozinha e se sai maravilhosamente bem. Eu acho que os trigêmeos e o tempo vão ajudá-la a superar a perda de Ian. - Acha que se ela... - Você está interessado na minha irmã, não? - interrompeu Alexa. - Não precisa negar, notei o jeito que a olha. - Somos amigos - afirmou ele, cauteloso.
- Vi muitos dos seus amigos, na festa da semana passada. - O tom dela era frio. - Quero dar-lhe um aviso: não pense sequer em incluir minha irmã entre eles. E Tyler, que jamais tolerara ser advertido, menos ainda ameaçado, que geralmente revidava com violência, apenas disse: - Admiro a lealdade que tem por sua irmã. Não se preocupe. Para ser franco, cansei e não pretendo continuar essas orgias. Até então ele tinha pensado nisso, mas pareceu-lhe ótima idéia. Estava na hora de encerrar a vida social, que há algum tempo deixara de ser divertida. - Bom, vou indo... - disse, olhando o relógio. Emily atirou a colher no chão e gritou, fazendo carinha de choro: - Não vai! Não vai! Alexa tinha tirado os menininhos dos cadeirões; eles olharam a irmãzinha e, de repente, Dylan enfiou-se embaixo da mesa, berrando: - Não! E Franklin começou a chorar. - Eles não querem que você vá embora! - Alexa estava atônita. - Gostam de você - acrescentou, como se isso fosse impossível. - Mas não deve perder seu sábado. - Para ser franco, essas saídas de sábado andam muito chatas. Vou acabar com elas, também. Os olhos de Alexa se arregalaram e Tyler entendia seu espanto. O apego dos trigêmeos por ele iria surpreender sua própria família, pois nunca se aproximara das crianças dos Tremaine. Mas Emily, Franklin e Dylan eram diferentes das crianças que conhecia. Eram espertos, divertidos, interessantes... Não conseguia explicar, mas era isso aí. - Então, fico até eles irem dormir - decidiu. Aquele era um modo esquisito de passar uma noite de sábado, mas ainda era cedo, teria muito tempo para si depois. Não podia decepcionar seu adorável fã-clube. Podia? - Quer dizer que ele ficou, para ajudá-la a deitar as crianças? - duvidou Carrie. Havia chegado do hospital há uma hora e tomava sorvete com a irmã, sentada no degrau da varanda dos fundos, olhando os filhos que brincavam. Alexa fez que sim: - Depois, foi embora. Parece que ele gosta mesmo dos baixinhos, que são loucos por ele. Carrie, o que está acontecendo? - Não sei... Carrie esfregou as têmporas. Não dormia há vinte e duas horas, mas os trigêmeos sempre estavam acordados quando ela chegava, pela manhã, e exigiam sua atenção. Tinha que ficar um pouco com eles, antes de ir dormir. - Tyler disse que vai parar com as festas e de sair aos sábados. - Alexa olhou-a disfarçadamente. Por que será? Sacudindo os ombros, Carrie imaginou se o fracasso com Gwenda tinha algo a ver. Mas fosse qual fosse o motivo, uma coisa era evidente: se ele não saíra, era porque não estava namorando. Sentiu uma súbita alegria, mas escondeu-a. - Podemos perguntar a ele - sugeriu Alexa. - É estranho um homem como ele dedicar seu tempo livre a bebezinhos. - Também acho - admitiu Carrie, preocupada. - E ao dedicar tempo para as crianças, ele dedica para você, também. - A irmã fitou-a, atenta. Isso pode significar que... - Somos apenas amigos! - interrompeu Carrie. - É. Foi o que ele disse. - Ty, Ty, Ty! As três crianças gritaram em coro, rindo, e as irmãs olharam para o buraco na cerca, onde ele surgiu, de shorts e camiseta brancos. - Bem que pensei ter ouvido esse bando de delinqüentes ameaçando minha propriedade! As três crianças correram para ele, que as pegou no colo. Sentia-se ridiculamente feliz por ver que lembravam do seu nome. Caminhou para a casa a passos largos e Carrie correu-lhe ao encontro. Só de vê-lo o coração dela tinha disparado. Tentou disfarçar a perturbação, mas sua voz soou um tanto rouca: - Parece que você capturou o bando todo.
- Mereço uma recompensa? - o tom era sugestivo e os olhos verdes brilhavam, maliciosos. Um calor intenso percorreu-a inteira. Sentiu-se fraca: precisava de todas as forças para lidar com aquela atração. - Você parece exausta - murmurou ele. As escuras olheiras ao redor dos lindos olhos azuis acrescentavam intensa sensualidade ao visual frágil, aumentando muito o encanto dela. Tyler perguntou-se se haveria uma circunstância em que não achasse Carrie desejável. - Tive uma noite horrível - contou ela. - Quatro partos, dos quais um foi de gêmeos e dois de mães estreantes, com cerca de quarenta anos. - Por favor, não me venha com histórias de horror ginecológicas - implorou ele. Os trigêmeos começaram a berrar e Tyler colocou-os no chão; saíram correndo para a caixa de areia, num canto do quintal. - Vim para avisar que um caminhão de entregas parou na frente da sua casa, Carrie... Antes que ela respondesse, Alexa chamou, da porta da cozinha: - Carrie, estão tocando a campainha. Atendo ou quer que eu fique com as crianças? - Fique com elas, eu atendo - respondeu Carrie, entrando em casa e indo para a porta da frente, com Tyler atrás. - Deve ser engano, não comprei nada. Havia dois homens à porta, segurando uma grande caixa. - Entrem - ordenou Tyler -, subam a escada e instalem no segundo quarto, à direita. - O que... - começou ela e Tyler segurou-a com firmeza pelos ombros, enquanto os homens subiam. - Eu não comprei nada! - Mas eu comprei. É o seu aparelho de ar-condicionado. Vão instalar no seu quarto. Há um maior, que vão instalar na sala de estar. Levou uns instante para ela recuperar a fala: - Comprou um aparelho de ar-condicionado para mim? - Dois. - Não pode fazer isso! - Não vejo por quê. - Ele começou a subir a escada. - Vou ver se estão instalando direito. - Espere, Tyler. - Carrie segurou-o. - É muita bondade, mas não posso aceitar presentes de você. - Por que não? Aparelhos de ar-condicionado não são presentes íntimos; ao contrário, são presentes de amigos. - Olha aqui, Tyler, as pessoas não vivem dando ares-condicionados umas às outras! - Não? - Ele sacudiu os ombros. - Então, acho que podemos iniciar a moda. - Olhou para as mãos dela que lhe apertavam o braço. - Vai me largar ou subir comigo? Ela soltou-o e perguntou, aflita: - Por que está fazendo isso? Tyler ficou em silêncio, depois tomou o rosto dela entre as mãos e se fitaram, a tensão crescendo. - Por que você mesma não responde, Carrie? Nós dois sabemos... Em seguida, ele a beijou de forma tão intensa, faminta, que ela perdeu a respiração. Seus lábios se entreabriram e a língua de Tyler invadiu a suave e úmida doçura de sua boca. As pernas dela amoleceram e Carrie teve que segurar-se nele para não cair. Ele abraçou-a com força, sentindo-se como que embriagado com o calor dos seios macios, do ventre liso e das coxas firmes contra seu corpo ansioso. Tão subitamente como começara o beijo se interrompeu e Carrie sentiu vontade de protestar. Aturdida, abriu os olhos e deu com Tyler olhando para seus filhos, que entravam correndo no hall, com Alexa logo atrás. - Oh, não se preocupem com a gente - disse ela, tranqüila. - Continuem suas demonstrações de "amizade", eu e as crianças vamos subir para... - Lex, nós... eu... - Vermelha, Carrie ficou sem voz. Passou as mãos nos cabelos, pigarreou e tentou de novo: - Lex, Tyler comprou um ar-condicionado para mim. Quero dizer, dois. - Oh! - Alexa ergueu as sobrancelhas. - Não é mesmo um gesto de amigo? - É uma necessidade - afirmou Tyler, brusco. - É sabido que o índice de pólen e poluição no ar está alto demais, que o uso de ar-condicionado é a melhor defesa contra alergias, asma e... - Só que nenhum de nós aqui sofre dessas coisas - interrompeu Carrie. - Tyler, não posso aceitar. - Pode e vai aceitar - insistiu ele.
Fitou-a com tanta intensidade que ela chegou a sentir-se mal. Engoliu seco, corou, pensando desesperadamente no que dizer e fazer. Havia uma insinuação sexual sob aquelas palavras ou era a sua imaginação? Quando Tyler estava por perto ela se perdia em impulsos e pensamentos eróticos... Sentou-se no último degrau e pegou Dylan no colo. - Você está muito cansada - ouviu-o dizer, vagamente -, assim que o ar-condicionado do seu quarto estiver instalado, vá se deitar. Alexa e eu vamos levar as crianças para a piscina. - Incrível, Tyler! - ironizou Alexa, de bom humor. - Você dá ordens igualzinho ao meu pai e não é militar. - Também na vida civil a gente tem que tomar decisões e exigir que sejam realizadas. Enquanto falava, ele passou as mãos sob as axilas de Carrie e a ergueu. Ela fitou-o, com os olhos dilatados, o coração palpitando ainda por causa do selvagem beijo trocado. Santo Deus, como queria esse homem! E nesse instante compreendeu que aquilo era mais do que paixão, do que simples desejo sexual. Estava muito próxima de amar Tyler, se é que já não o amava. Fechou os olhos, porque não queria que ele visse isso. Sentia-se como se nadasse num mar bravio, sem saber para onde ir. Quando pensava em Ian, querendo que a acalmasse e orientasse, a presença de Tyler preenchia sua mente e seus sentidos, sem deixar lugar para mais ninguém e mais nada. - Vim para ver se vocês precisam de ajuda com as crianças... Ben calou-se ao entrar na sala da casa de Carrie, onde Alexa lia, acomodada no sofá. Fez uma cara engraçada ao notar o aparelho de ar condicionado em pleno funcionamento. - Achei que havia algo diferente quando não sufoquei no instante em que pus os pés nesta casa! completou, surpreso. Alexa pôs o livro de lado: - As crianças já estão na cama, chegou tarde para ajudar, maninho. Quanto ao ar-condicionado, há outro no quarto de Carrie, com os cumprimentos de Tyler Tremaine. - É mesmo? - admirou-se ele. - Grande vizinho, não acha? - indagou Alexa, sarcástica. - Se é! Não preciso mais procurar o aparelho de segunda mão que prometi a Carrie e ficar aqui deixou de ser... É isso! - Ben arregalou os olhos. - Matei a charada! - Dá para explicar? É isso o quê? Matou que charada? - Tyler Tremaine detesta calor, esta casa era uma caldeira e ele resolveu dar um jeito. Por quê? Porque pretende passar bastante tempo aqui dentro, Lex. - Ben socou o ar, num gesto de vitória. - Ela conseguiu! Ela fisgou um Tremaine! Sabe o que isso significa, irmãzinha? Alexa fitava-o, impassível: - Sei o que você pensa que significa, Ben. Uma sala no edifício principal da Tremaine Co., com seu nome na porta, como gerente publicitário. Quer um conselho de amiga? Não abandone seu emprego, ainda, pois Carrie e Tyler afirmam que são simplesmente amigos. - Pouco importa o que eles afirmam - entusiasmou-se Ben. - Está na cara que ele gamou! E se Carrie aceitou o presente, é claro que também está caidinha por ele. - Ela não teve jeito de recusar: os homens vieram instalar, Tyler estava aqui e não admitiu recusa - explicou Alexa. - Olha aqui, Lex, nós dois sabemos muito bem que Carrie sabe se defender. Se ela não quisesse mesmo teria jogado os aparelhos pela janela e dito a ele que sumisse daqui. Porém, não fez nada disso. Bem jogou-se numa poltrona, de lado, passando as pernas por cima de um dos braços estofados. - Essa "amizade" de Carrie com Tremaine vai nos ajudar também, Lex. - Pode ser que Tyler Tremaine ajude a sua carreira - disse Alexa, aborrecida -, mas para mim nada significa. - Significa, sim! Andei pesquisando sobre os Tremaine. Tyler tem um irmão um pouco mais novo, solteiro! Nathaniel Tremaine tem trinta e dois anos, é bonito, elegante e nunca se casou. Você pode se sair bem com ele, maninha! - Você é maluco, Ben! - irritou-se Alexa. - Nada disso: Sou otimista e talvez um tantinho oportunista... - Ele olhou o relógio. - Já que não precisam de mim, vou indo. Tenho um encontro esta noite. - Com Rhandee? - Com a companheira de apartamento de Rhandee, Darcy Lynn. - Acrescentou, orgulhoso: - Vou variar um pouco.
- Nada bonito da sua parte, Ben... Sacudindo a cabeça, com ar desaprovador, Alexa voltou ao livro.
CAPÍTULO IX A predição de Ben fora correta. Nas várias semanas seguintes, raro foi o dia que os trigêmeos e Carrie não receberam a visita de Tyler. Ele aparecia sempre à noitinha, assim que chegava do trabalho, para jantar e ficar com eles na piscina, depois acompanhava o ritual de colocar os três pequeninos na cama. Nos fins de semana ia para a casa dela antes que saísse para o hospital e acabava ficando com as crianças. Entre ele e Alexa nascera uma forte amizade, mas irritava-se e divertia-se, ao mesmo tempo com Ben, que aparecia de vez em quando e lhe fazia uma adulação explícita. A cada dia que passava, Tyler e Carrie se entendiam cada vez melhor. Conversavam, animados, ou ficavam calados, sempre fazendo agradável companhia um ao outro. Se bem que quisesse Carrie mais do que quisera qualquer mulher até então, ele não tentara levála para a cama, dizendo a si mesmo que não suportava aquele jogo de começa-e-pára, por isso deixava para lá. Quando não era Alexa, Ben ou as crianças que atrapalhavam, aparecia o fantasma de Ian Wilcox! Havia vários jeitos de gastar energias e Tyler ia ao clube fazer exercícios, jogar tênis, nadar, e tomava longos chuveiros frios. A alternativa de aplacar o sexo com outras mulheres não o atraía. Ao contrário, repugnava-o. A idéia de que vendo Carrie constantemente iria livrar-se do encanto dela não funcionara. Ao contrário, cada vez a queria mais e o que sentia por ela era tão intenso que às vezes sentia-se esmagado pela força dos sentimentos. Mas continuava afirmando que era apenas vizinho e amigo de Carrie Shaw Wilcox. O 4 de Julho caiu numa quarta-feira, o que significou feriado no meio da semana, em vez da ponte de três dias que Tyler preferia. No entanto, fez planos para o fim de semana. - Tenho uma casa de praia em Rehoboth, pequena, mas confortável - disse a Carrie quando flutuavam lado a lado na piscina, segunda-feira à noite. Ela cuidava de Emily numa cadeirinha de plástico flutuante e ele vigiava os meninos, num barquinho salva-vida. - Você tem folga neste fim de semana, então podemos ir na sexta-feira à noite e voltar no domingo - acrescentou. - É melhor a gente sair depois das dez, para não pegarmos a estrada com muito tráfego. Ela tirou os cabelos molhados da testa: - Não sei, Tyler. - As crianças vão adorar, Carrie. A casa fica na praia, podem brincar na areia, entrar no mar a qualquer momento. - Mas leva duas horas para chegar lá. Eles nunca viajaram. E é claro que na sua casa não há berços, nem cadeirões. Muito obrigada, Tyler, mas não dá. - Dá, sim, e nós vamos - afirmou ele. - Já pensei em tudo. As crianças nunca foram a lugar algum, a não ser ao supermercado! - Eles se divertem muito na sua piscina - lembrou ela. - De vez em quando você até os leva para dentro de casa. - E eles ficam felizes por estar em um lugar diferente. São crianças inteligentes, curiosas, por isso precisam conhecer outros lugares, outras pessoas. Vão ficar estacionadas, emocional e intelectualmente, se viverem fechadas aqui, vendo apenas Alexa, Ben e eu. Carrie ficou pensativa, depois assentiu: - Talvez você tenha razão... É, tem razão e falou igualzinho ao meu pai. - Do mesmo jeito que o duríssimo coronel Shaw? - Tyler fingiu-se chocado. - Ben exagera muito as histórias de papai - riu ela. - Você gostaria dele e acho até que são meio parecidos. - Alexa e Ben me disseram que você é a preferida do papai.
- Mentira! - Ela jogou água nele. - Nossos pais não têm preferidos. Como permite que meus irmãos falem mal de mim quando estou ausente? - Assim eu a conheço melhor - brincou Tyler. - Então, vamos para a praia? Podemos alugar berços e cadeirões lá. Quanto à viagem, como vamos tarde provavelmente eles vão estar dormindo. Ela assentiu, calada. - Tyler, você me acha superprotetora? - perguntou, momentos depois. - Acha que sou uma supermãe? - Claro que não. É natural a mãe querer os filhos por perto, para protegê-los. - E o papel do pai é assegurar que os filhos tenham contato com o mundo, que saiam do ninho para conhecê-lo... Depois de falar é que ela se tocou: Tyler não era o pai de seus filhos! Cometeria um erro enorme se pensasse nele como um pai substituto, pois já lhe dissera que não queria representar esse papel. Nas últimas semanas ela e os trigêmeos se havia habituado a vê-lo atravessar a cerca, depois do trabalho, e tinham sentido muito a falta dele nas poucas vezes que não aparecera, por causa de compromissos de trabalho. Carrie nunca perguntara por que ele lhes dedicava tanto tempo. Desconfiava que Tyler também não sabia e achava que era um interesse temporário: não acreditava em contos de fadas. O que mais a preocupava era que as crianças também amavam "Ty" e iam sofrer quando ele saísse de suas vidas. Olhou-o; consertava um brinquedo de Dylan, conversando com os três pequeninos. Graças a Deus ele não ligava aquela situação a nada parecido com paternidade! Engano de Carrie. Seus pensamentos pareciam ecoar na mente de Tyler. Papel de pai? É o que estou fazendo com os trigêmeos Wilcox, perguntava-se ele. Nesse momento Franklin resolveu ficar de pé e o barquinho virou. Os menininhos caíram na água rindo, boiaram graças aos salva-vidas e Tyler resgatou-os antes da mãe alcançá-los. - Por falar em pai - disse ele, como se a conversa não tivesse sido interrompida -, lembrei do meu... Ele e a esposa querem que eu vá festejar o 4 de Julho com eles, na quarta-feira. Vai ser um almoço tipo piquenique. Que tal você e os trigêmeos irem também? Poderia ser um teste para a viagem à praia. Era assustador pensar em conhecer os Tremaine! E, antes de se acovardar, ela respondeu, rápida: - Seria ótimo. - Um convite de Richard Tremaine é, ao mesmo tempo, uma ordem paternal/executiva - explicava Tyler, enquanto se dirigiam, com os pequenos, para a casa dos Tremaine, no subúrbio de Maryland. Vai ser gostoso estar com vocês quatro, meu pai e Nina na festa da Independência. E as crianças vão ser ótima desculpa para a gente escapar logo do falso acontecimento familiar. Estavam no automóvel de Carrie, que era adaptado às crianças. - Por que "falso acontecimento familiar"? - Carrie observou-o, rápida. - A nossa grande-família-feliz é uma farsa, por mais que papai e Nina demonstrem o contrário. Ele sacudiu os ombros. - Nina é a segunda esposa de meu pai, casaram-se há uns dois anos. Ela era viúva, com um filho e duas filhas, meu pai era o eterno viúvo com três filhos. Eles vinham namorando há anos... - Sua mãe morreu há muito tempo, Tyler. - Ela olhou as crianças, no banco de trás, distraídas com os brinquedos amarrados às cadeirinhas de segurança. - Acha que seu pai traiu a memória de sua mãe, por se casar de novo, trinta anos depois? - Meu pai não traiu a memória da minha mãe - foi a amarga resposta. - Ele a traiu ainda viva. Teve um caso com Nina quando meu irmão Cole era nenê. - Oh - Carrie engoliu seco. - Isso não me parece bom... - E piorou muito! - assegurou Tyler. - Nina ficou grávida e, pelo que sei, ele queria se divorciar de minha mãe para casar com a amante. Mas a "nobre" Nina não quis desfazer um lar. Só que devia ter pensado nisso antes de transar com um homem casado! Bem, o fato é que encontrou um idiota chamado Will McKay que se casou com ela e deu nome ao garoto. Assim que minha mãe morreu no desastre, meu pai procurou Nina e implorou-lhe que deixasse o marido e se casasse com ele. Como ela recusasse, ele assumiu o papel de viúvo eterno, não por causa de minha mãe mas por ter sido recusado por Nina. - E você sabia disso desde pequeno?
- Não... Fiquei sabendo da maravilhosa-história-de-amor quando meu meio-irmão Connor McKay apareceu, há dois anos. - Quer dizer que não tinha idéia da existência desse irmão! - surpreendeu-se Carrie. - Pode imaginar como me sinto nessas reuniões familiares - assentiu ele, irônico. - Uma beleza para meu pai, que tem quatro filhos, duas enteadas e todos seus apêndices... Connor, que passou a trabalhar na Tremaine Co. e recebeu o nosso sobrenome, é casado, tem uma filhinha e um nenê a caminho. As filhas de Nina também são casadas e mães. - Me corrija se eu estiver errada, mas acho que o fato de Connor ter recebido o sobrenome Tremaine o incomoda mais do que o casamento de seu pai com a mãe dele... - observou Carrie, muito séria. - Olha-o como um competidor na empresa. - Seria um idiota se não o olhasse assim - respondeu Tyler, brusco. - Quero ser presidenteexecutivo da firma e tenho trabalhado como doido para chegar lá. A idéia é Cole se tornar presidente e eu vice e executivo, quando papai se aposentar. - Connor também quer ser presidente? - Ele diz que não - admitiu Tyler. - Diz que está feliz como Diretor do Departamento Legal e membro do Conselho Superior. - E você não acredita? Tyler sacudiu os ombros: - Connor é inteligente e sua mãe casou-se com o pai dele, que pretende fazer tudo para compensar os anos perdidos... - Mas acho que isso não inclui dar a presidência da empresa a Connor - argumentou ela. - E os seus irmãos, Cole e Nathaniel? Também se sentem ameaçados? - A posição de Cole é garantida, por ser o filho mais velho. Quanto a Nathaniel... - Ele deu uma risadinha. - Meu irmão tem cérebro, mas não pretende usá-lo para negócios. Tem um cargo honorário na firma e nenhuma vontade de assumir deveres e responsabilidades. É o único folgado na família, que tira longas férias e viaja quando quer. - Então, por esse lado não há competição - concluiu Carrie. - Acho que Nathaniel perdeu um bocado dos irmãos mais velhos quando era criança, adolescente e jovem, por isso sabe que não ganharia a luta e desistiu. Tyler cerrou os dentes: - Carrie, por favor, não banque a psicóloga, sim? Sei que há livros excelentes sobre o assunto, mas não me interessam. - Pois eu gosto de ler bons livros sobre posição dos filhos - respondeu ela, calma -, famílias compostas e problemas que surgem quando um irmão acha que seu lugar na família foi usurpado. - Usurpado? - Tyler riu, apesar de si mesmo. - Socorro! Minha invejável posição de filho do meio foi usurpada! - Inclinou-se e colocou a mão na perna dela. - Mas devo confessar que estou contente: pelo menos livros de psicologia não vão fazê-la ficar acordada a noite inteira. Ao contrário, são excelentes soníferos. Carrie pôs a mão sobre a dele, olhando-o por entre os cílios espessos, torcendo para que ele não retirasse a mão. Ele não retirou, continuou com a mão sobre a coxa dela até chegarem. Ela ficou encantada ao ver de longe a mansão de Richard Tremaine, onde Tyler e os irmãos tinham crescido. - É quase do tamanho de um bairro em que morei! - exagerou, preocupada. Jamais tinha visto uma moradia tão grande. Alisou a bermuda listada de vermelho-cereja e branco, acompanhada por blusa e sandálias brancas. Em casa, achara-se bem vestida, mas já não tinha tanta certeza: aquela mansão parecia exigir peles e diamantes, mesmo no calorão de julho. - Não comece a ficar impressionada com a purpurina dos Tremaine - brincou Tyler. - Já chega as reverências e lisonjas de Ben! Carrie corou. De fato, Ben não escondia a admiração que sentia pelos Tremaine e se estivesse ali, com certeza se ajoelharia, reverente. Nervosa, voltou-se e começou a soltar os trigêmeos das cadeirinhas, enquanto o carro percorria a ampla rotatória e entrava pela alameda particular que levava à mansão. As crianças vestiam shorts listrados de vermelho e branco, camisas azuis com estrelas brancas, presente dos avós que moravam na Alemanha. Emily tinha um bibi vermelho preso com grampos aos crespos cabelos loiros, que dava um toque de feminilidade. Os três insistiram em ir andando, então
Tyler e Carrie lhes deram as mãos, enquanto se dirigiam para a entrada da casa, ampla, com altas colunas. A porta de carvalho maciço foi aberta por um mordomo uniformizado, com sotaque decididamente britânico. O comentário que Carrie ia fazer para Tyler morreu-lhe nos lábios quando apareceram no hall de mármore uma senhora loira, com cerca de cinqüenta anos, usando elegantíssimo vestido longo, de braço dado com um cavalheiro alto, de cabelos grisalhos, de smoking. - Oi, pai, oi, Nina - cumprimentou Tyler, cordial mas frio. - Estes são os Wilcox: Carrie, Emily, Dylan e Franklin. Não especificou quem era quem, mas Carrie nem percebeu, tão aflita ficou pela roupa imprópria que vestia. A essa altura, vários homens e mulheres, sem dúvida os Tremaine mais jovens e esposas, se haviam juntado a eles, todos vestidos como Nina e Richard Tremaine; as mulheres com longos caríssimos e jóias, os homens de smoking. Horrorizada, ela olhou para Tyler, que estava com o short de jeans cortado, camiseta azul-marinho e tênis branco. - Mamãe! - choramingou Emily, agarrando-se às pernas dela, assustada com os estranhos imponentes. Carrie passou um braço ao redor da filha; não havia nenhum pequenino Tremaine à vista. Tyler dissera que as crianças estariam lá, mas ela compreendeu que se tratava de uma festa apenas para adultos e ali estava, com os trigêmeos, vestida para um churrasco de fundo de quintal! Tinha vontade de morrer! Como Tyler pudera fazer isso com ela? Ele nem se tocava, tranqüilo. Sorriu, passando-lhe um braço pelos ombros, e pôs-se a apresentá-la aos outros. Cole, Chelsea, Connor, Courtney, Cristine... Ela mal ouvia e os rostos desfilavam como manchas indecisas. Era uma gente intimidante, com os nomes começados por C. Será que era brincadeira?, pensou Carrie e ficou aliviada ao ouvir Mônica, Jeff, Tom e Nathaniel, porém estava agitada demais para conseguir ligar os nomes aos rostos. Todos sorriam, educados, e Carrie mal conseguia exibir a sombra de um sorriso. - Tyler, você ainda não conhece as sobrinhas de Nina, que moram em Chicago. E Richard Tremaine apresentou Brooke e Rae Ann Raleigh, duas loiras altas, de olhos castanhos, vestidos curtos e sem mangas. Carrie viu-as sorrir para "tio Richard", depois aproximar-se de Tyler. - Somos primos, agora - ronronou uma delas. - Não vai beijar as priminhas? - acrescentou a outra. As duas se desmanchavam e Carrie descobriu que eram mais interesseiras do que Ben. - Tia Nina foi uma gracinha organizando este almoço-dançante em nossa homenagem - os olhos profundos de Rae Ann Raleigh devoravam Tyler. - Você e sua irmã são as convidadas de honra mais deliciosas que já tivemos - galanteou Richard Tremaine. - Os outros convidados estão no terraço - sorriu Nathaniel Tremaine - e todos já perguntaram por você, Tyler. Almoço-dançante, mais convidados no terraço? O olhar de Carrie para Tyler era francamente homicida. Ele dissera que ia ser um almoço informal, tipo piquenique, só com a família! E era evidente que as "convidadas de honra" tinham sido escolhidas a dedo para Nathaniel e Tyler. Por que ele a trouxera, com os trigêmeos? Para estragar a festa de Nina? Teve vontade de pedir desculpa à dona da casa e sumir dali com os filhos, mas antes que abrisse a boca um cão Labrador preto desceu correndo a escada e se enfiou no meio deles. - Marquês escapou! - riu Nina, meio nervosa. - Ainda é filhote, apesar de grande, e é muito estabanado. Marquês encantou-se com os pequeninos e saltou sobre Dylan, que caiu sentado e ficou imóvel, enquanto o cão lhe lambia o rosto. Houve exclamações consternadas, mas Carrie agiu rápida, pegando o cão pela coleira e afastando-o do filho. - Cacholinho gande! - disse o menininho, rindo. Emily não teve a calma do irmão. Apesar de seguro por Carrie, o cachorro continuava saltando, latindo e lambendo quem ficasse ao seu alcance. - Cacholinho gande! - berrou Emily, apavorada, e agarrou-se em Tyler, procurando proteção. Ele ergueu-a no colo e exigiu, em voz bem alta: - Tirem esse maldito bicho daqui! Ele assustou Emily. Pedindo desculpa, Nina saiu com o cão, enquanto Carrie limpava o rostinho de Dylan dos beijos babados. Foi aí que notou: Franklin sumira.
- Onde está o Franklin? - perguntou, preocupada. Ele não estava no hall e ninguém o vira. - Connor, vá ver na piscina! - afligiu-se Courtney, a gravidíssima esposa dele. Connor saiu correndo e algumas pessoas o seguiram. - Ele não pode ter ido para a piscina - assegurou Tyler. - É longe daqui e, além disso, cercada. Nesse momento, Nathaniel anunciou: - Há um garotinho vestido de bandeira americana sentado no meio da mesa da sala de jantar! Todos correram e Carrie seguiu-os, pois não tinha idéia de onde ficava a sala de jantar. Ouviu murmúrios desaprovadores, outros divertidos, antes de ver Franklin sentado no meio de imensa mesa, comendo alguma coisa, seus pequenos passos claramente marcados na toalha bordada, entre porcelanas e cristais. Antes que alguém o alcançasse, ele esticou uma das perninhas e derrubou o grande vaso de cristal, centro da mesa, espalhando flores e água. - Ah! - Franklin começou a bater as mãozinhas na poça de água sobre a qual ficou sentado. - Mo... lha... do! - gritou, radiante, a palavra que aprendera recentemente. Carrie gemeu. Alguém pegou o filho e deu a ela. Dylan, que já estava no outro braço da mãe, assentiu, muito sério: - Mo... lha... do! Connor Tremaine voltou, dizendo que o bebê não estava na piscina. - Não, ele está aqui - disse Cole Tremaine, rindo. - Resolveu nadar na mesa de jantar mesmo. Todo mundo riu, inclusive Emily, ainda no colo de Tyler, que desandou a gritar alegremente. Todos os olhos estavam fixos em Carrie, que prometeu a si mesma rir daquela cena, um dia. Mas como esse dia lhe parecia distante! - Vamos para casa - decidiu. O grupo elegante abriu passagem, sem que ninguém fizesse a menor menção de insistir que ficassem. Caminhou, rápida, para a porta, enquanto os menininhos, em seu colo, conversavam, repetindo as palavras "cachola" e "molhado", várias vezes. - Incrível! Não acredito que Tyler tenha feito "isso"! - Nathaniel Tremaine parecia ter surgido do nada ao lado de Carrie. - Quem é você? Por acaso, trabalhou com essas crianças em um comercial da empresa? - De que está falando? - gaguejou Carrie. - Para mim não precisa fingir - sorriu Nathaniel, cúmplice. - É evidente que meu irmão alugou seus serviços e das crianças para "animar" nossa festa de Quatro de Julho. Tyler bem que avisou papai que ia se vingar das manobras que anda fazendo para casá-lo e a armadilha com as sobrinhas de Nina foi a gota d'água! Aposto que papai agora aprendeu e vai parar de atormentá-lo! Genial! Quanto custa um trabalho como este? - Dez mil dólares - respondeu Carrie, seca. - Metade é minha, a outra metade é dividida entre as crianças. Já fizemos outros trabalhos juntos. A agência notou a semelhança entre nós quatro e aproveita. Não acha que eles parecem parentes? Nathaniel olhou, atento, para Dylan e Franklin: - É... Eu seria capaz de jurar que são gêmeos. - Milagres da publicidade - disse Carrie, chegando ao hall. O mordomo, gentil, abriu a porta. - Quer me fazer um favor? - pediu a Nathaniel. - Pegue a menininha que está com seu irmão e leve-a até meu carro: já fizemos o que tínhamos a fazer aqui. - Faço, se você também me fizer um favor - ele assumiu um ar esperto. - Me dê seu telefone. Não quero seus serviços, não - esclareceu logo -, quero sair com você. Carrie olhou-o friamente: - Por que não sai com uma das sobrinhas de Nina? Tenho certeza que suas beijoqueiras primas irão adorar sair com você! Quase correu para o carro. Estava ajeitando os meninos nas cadeirinhas quando sentiu que Tyler estava atrás dela. Voltou-se, com fogo azul nos olhos: - Pode voltar para sua festa. Tenho certeza que ninguém vai se importar por você não estar vestido de acordo. - Que confusão gozada! - comentou ele, rindo. - Como pôde fazer isso, Tyler? - Carrie olhou-o de novo, depois de instalar a três crianças no carro. - Compreendo seu ressentimento pelas manobras casamenteiras de seu pai e Nina, mas me usar, me obrigando a fazer papel de idiota, com as crianças!
Estava muito magoada, os olhos cheios de lágrimas, mas não permitia que corressem. Tyler fitou-a, perplexo, depois protestou: - Eu não a usei! Carrie, acha que a trouxe para cá sabendo dessa festa? Ela sentou-se ao volante e fixou os olhos à frente. - Você não sabia que ia ser uma festa formal? Pensou que eles iam fazer uma espécie churrasco, no quintal, com crianças e cachorros correndo pela grama? - Isso mesmo - respondeu Tyler, beligerante. - É assim que se festeja o 4 de Julho, não? Foi assim que o festejamos no ano passado, mas acho que as pretensões sociais de Nina subiram à cabeça dela, sem falar na tentativa de incluir as sobrinhas na família Tremaine. - Acha que vou acreditar que você não sabia de nada? - Carrie ligou o motor. - Não insulte minha inteligência, Tyler! - Nem por sonho! Chegue para lá, eu vou dirigindo - ele tentou fazê-la passar para o lugar do passageiro. Ela não se mexeu: - Eu dirijo - disse, tão zangada que ele achou melhor não discutir. - Tá... Você dirige. Enquanto Tyler dava a volta para entrar do outro lado, ela engrenou a primeira e saiu cantando pneus, mas ainda conseguiu ver de relance a cara espantada dele no espelhinho retrovisor. Do assento traseiro veio uma vozinha lamentosa: - Ty... Era Emily, que rompeu em lágrimas sentidas. Carrie não podia consolar a menininha e dirigir: - Vamos ouvir música! - propôs, com voz presa, ligando o rádio do carro. Por infeliz coincidência a música que tocavam era "Coração Machucado", que combinava com o estado de espírito dela. Nesse dia, Tyler demonstrara claramente que ela e os filhos eram apenas armas para lutar contra a teimosia do velho Tremaine. Sentia-se ferida, humilhada e traída. Bem, o que esperava de um playboy como Tyler Tremaine?
CAPÍTULO X Carrie percebeu que era seguida. Um carro preto, esporte, a acompanhava, mas não de perto o bastante para que pudesse ver quem o dirigia. No entanto, tinha certeza que era Tyler. Pelo visto, não conseguiria evitar o confronto. Quando parou diante de sua casa estava nervosa, com o estômago apertado e piorou ao ver o carro preto parar logo atrás e ir embora, com um leve toque de buzina, depois de Tyler saltar, do lado do passageiro. - Obrigado, Connor! - gritou ele, acenando. - Connor trouxe você? - perguntou ela, surpresa. Em seguida censurou-se: pretendia castigá-lo com gelado silêncio. Já que falara, adotou a linha sarcástica: - Resolveu aceitar ajuda de seu detestado meio-irmão? - Pois é - admitiu ele, humilde -, isso demonstra... - Que você usa qualquer um quando quer alguma coisa! - cortou Carrie. - Não faz diferença entre amigo e inimigo. - Está enganada - ele sacudiu a cabeça. - mas quem sabe é melhor assim. Em silêncio, tiraram os trigêmeos do carro e os levaram para dentro de casa. Emily grudou-se em Tyler como uma macaquinha e quando a mãe tentou pegá-la, berrou como se a estivessem matando. - Não chore, benzinho, Ty vai ficar aqui com você - disse ele, olhando ostensivamente para Carrie. - Eles já deviam estar no berço, para o soninho da tarde, mas precisam comer - observou ela, gelada. - O que também está atrasado, por causa da sua "festa". - Franklin comeu - provocou Tyler. - Pelo menos, acho que o vi mastigando o centro de mesa da Nina. Carrie fuzilou-o com o olhar: - Acha que é muito engraçado? Pouco ligou por eu me sentir um lixo, indo lá sem ser convidada e...
- Eu a convidei. - Mas não avisou Nina e seu pai que eu ia. Aliás, isso fazia parte de seu plano sujo. Dar um choque em seus parentes jogando os trigêmeos e eu na cara deles. - Você está indo longe demais, Carrie. Eu não pretendi... - Por favor, cale a boca! Ela falou tão baixo que as crianças não ouviram, mas com ódio tão intenso que ele se calou. Ficou observando, enquanto Carrie preparava e dava comida aos filhos. Era evidente que estava tensa: os ombros altos, os movimentos rígidos. Afinal, voltou-se para encará-lo: - Ainda está aqui? - os olhos azuis eram glaciais. - E vou continuar aqui, Carrie. Encostou-se no balcão da pia, com os braços cruzados. Parecia calmo, mas fervia de raiva. - A brincadeira acabou, Tyler. - Pode me dizer qual era a brincadeira? Pega-pega: você correndo e eu tentando agarrá-la? Esconde-esconde: você se ocultando e eu tendo que achar? - Olha aqui, não estou a fim de descobrir que papel você está representando agora. Reconheço que é excelente ator, Tyler, mas chega. - O que quer dizer? - Exatamente isso: chega. Se houve amizade entre nós, acabou-se. Não vou deixar que use a mim e meus filhos como armas na sua luta de adolescente contra seu pai e sua madrasta, nem servir de distração enquanto descansa da sua vida social, por algum tempo. - Não quer me ver mais, é isso? - Tyler sentia-se desesperado, com todos os músculos tensos. - É isso que está tentando dizer, Carrie? - Não estou tentando, estou dizendo. - Tudo por causa de um almoço que... - Esse "almoço" a que se refere nunca existiu! - gritou ela. - Escute, Carrie - ele falava entre os dentes cerrados. - Nina me convidou para o 4 de Julho, dizendo que meu pai fazia questão que eu fosse e que não aceitaria desculpas... A essa altura eu nem escutava mais o que ela dizia e achei que se tratava dos almoços ao ar livre, que sempre aconteciam lá em casa nessa data. É possível que ela tenha dito que ia ser uma festa formal, mas não escutei... - E também não sabia que as sobrinhas dela iam! - escarneceu Carrie. - Sabia, porque Nathaniel me telefonou, contando. Nem ele nem eu queremos nada com elas. Então, resolvi levar você e as crianças para minha família ficar sabendo que... - Que você estava farto de ser pressionado para se casar - ela terminou, brusca. - E sua vingança contra essa última tentativa casamenteira foi levar um esquadrão demolidor à festa de Nina. Lembrou-se de Dylan corajosamente agüentando os carinhos do Labrador; de Franklin sentadinho no meio da luxuosa mesa, das marcas de seus pés na toalha finíssima, do belíssimo arranjo destruído; de Emily berrando a plenos pulmões. De fato, os três demolidores até que tinham se comportado bem. Não podia culpá-los: a culpa era de Tyler. Fitou-o com raiva. Os lábios dele eram uma linha fina, tão apertados estavam. O que quase dissera o chocava tanto o que Carrie havia dito. Quase confessara que a levara, com as crianças, a fim de mostrar à família como passava seu tempo livre e que era assim que pretendia passá-lo para sempre. Queria que soubessem que não era mais um solteiro disponível, que estava seriamente envolvido com Carrie Wilcox, mãe de trigêmeos. Amava a mulher com quem nunca transara. No entanto, ela olhava para ele com raiva e afirmara que nunca mais queria vê-lo. Pegou uma cadeira e sentou-se: - Bem, parece que fizemos uma confusão incrível. - Afinal, reconhece que agiu como uma pessoa cruel e sem sentimentos? - perguntou Carrie. - Reconheço que me enganei a respeito do almoço familiar, mas não que a ofendi, Carrie. Olhe para mim: não estou vestido para uma festa formal, mas não me senti humilhado por aquela gente embonecada. - Porque tem orgulho de si - retrucou ela, ácida - e agiu assim para escarnecer deles. Tyler suspirou, exasperado: - Como você é teimosa! Por que não acredita em mim? Não a levei à casa de meu pai para humilhá-la, não pretendia fazê-la passar vergonha e peço desculpa se o fiz. Mas acho que também me deve desculpas, Carrie. - Eu? Por quê?
- Por todas as acusações injustas. - Não acho que sejam injustas. - Ela dominava a raiva a duras penas. - É melhor você ir embora! Ele levantou-se: - Acha que é o melhor? Não pensa no que as crianças vão sentir? - Se usar os pequenos para me pressionar apenas vai provar que eles fazem parte de seu plano para conseguir o que quer. - Sei... Quer dizer que tudo que fiz foi planejado? Carrie falava como se ele houvesse determinado o que acontecera e estava acontecendo, desde seu envolvimento com ela até o desastre daquele dia. Será que ficaria surpresa se soubesse que ele sentia-se perdido pela primeira vez em sua vida? Apaixonado pela primeira vez, também. Mas como Carrie achava que já tinha todas as respostas; não havia saída. A raiva ferveu em seu peito, dolorosa, mas não ia demonstrar. Seu orgulho exigia que agisse como o mau caráter que ela pensava que era. Saiu sem fazer alarde para não atrair a atenção dos trigêmeos, que iriam protestar se o vissem ir embora. As crianças o amavam, apesar de sua mãe achar que ele era a pior espécie de canalha calculista. Entrou em casa e saboreou o frescor e calma reinantes por alguns minutos. Depois, o silêncio começou a enervá-lo. Colocou um CD de suas músicas preferidas para tocar, tentando preencher a quietude opressiva, mas a falta de vozes e risos continuava dolorosa. Olhou para a casa vizinha e tentou se convencer que não estava deprimido. Simplesmente, estava se reajustando, preparando-se para voltar à vida animada que abandonara há algumas semanas. Quando o telefone tocou, nessa noite, Carrie atendeu e procurou disfarçar a decepção ao ver que era Alexa e não Tyler. - Queria saber como foi o almoço na casa dos Tremaine, Carrie. - Foi terrível! O pior é que minha reação foi exagerada e estraguei tudo, Lex! - Engoliu, tentando livrar-se do nó que tinha na garganta desde que ele fora embora. - Depois que Tyler saiu, pensei no que aconteceu, no que ele disse e... - Tyler foi embora? - Eu mandei que fosse - confessou Carrie, angustiada. - Disse que não queria vê-lo mais, que sumisse... e ele sumiu, Lex! - Oh, Carrie! - Por favor, não faça sermão! - Eu não ia fazer. Quer que vá para aí? - Não precisa, estou bem. - Não seria justo fazer a irmã sofrer mais do que já sofria. - Estou bem mesmo. Vou me deitar e ler um pouco. Não se preocupe comigo. Assim que desligou, Alexa telefonou para Ben: - Só quero avisar para você não começar com seus elogios exagerados a Tyler quando estiver com Carrie - disse ao irmão. - Eles estão com problemas. - É mesmo? Que chato. O que aconteceu? - Não sei. Só sei que Carrie o pôs para fora e agora está mal, mas não tem coragem de pedir desculpa. - Eles se amam, tenho certeza! - exclamou Ben. - Mas acontece que nenhum dos dois quer reconhecer isso. - Pare de bancar o sabido - repreendeu Alexa - e não atormente Carrie com isso! - Nem por sonho, sabe que quero que ela seja feliz, tanto quanto você, Lex. - É, eu sei. Carrie vestiu uma camisola curta, de seda azul, que parecia uma camisa, e esticou-se no sofá, com uma revista. Dez minutos depois a campainha tocou. Com o coração aos saltos, foi até a porta, espiou pelo olho-mágico e viu Tyler. - Resolvi dar-lhe mais uma chance - disse ele, assim que ela abriu. Parecia calmo, frio, muito diferente do homem agitado, nervoso, que passara as últimas duas horas andando de um lado para outro, tentando imaginar a vida sem Carrie. Não conseguira. Era tempo de ela saber disso, mas seu orgulho masculino se revoltava. Ainda se ela se atirasse em seus braços ao vê-lo... Ficou esperando, mas a única coisa que Carrie fez foi falar:
- Engraçado, eu estava pensando em telefonar e lhe dizer isso mesmo. Erguia o queixinho, altiva, mas seus joelhos tremiam e os olhos brilhavam, traiçoeiros. - Verdade? - Tyler entrou, fechou a porta e girou a chave. Carrie desviou o olhar, ao dizer: - Achei que talvez você pensasse que era um almoço ao ar livre mesmo... - Quer dizer que encarou a possibilidade de não ter sido a vítima de um esquema diabólico que armei para irritar os Tremaine? Ela obrigou-se a fitá-lo. - Sim... - murmurou e um leve sorriso ergueu-lhe os cantos dos lábios. - Mas acho que qualquer coisa seria permitido para você se livrar daquelas peruas loiras que Nina chama de sobrinhas. Por instantes, ele não acreditou no que ouvia. Depois riu: - Peruas? Os olhos verdes brilhavam com irresistível mistura de alegria e paixão. Carrie teve vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. Passou os braços pelo pescoço de Tyler, ergueu-se nas pontas dos pés para beijá-lo e murmurou: - Eu te amo, Tyler. Só queria que soubesse... - Eu sei - respondeu ele, rouco. - Eu sei, querida. Abraçou-a e beijou-a com ardor. Uma festa de cores explodiu diante dos olhos fechados de Carrie e sentiu-se envolta num arco-íris quando a língua dele introduziu-se em sua boca, ansiosa e ardente. Fazia tanto tempo que não se beijavam e o desejo contido os consumia como um incêndio violento. Tyler também se tornara um joguete das emoções. Quisera tanto tomá-la nos braços, por muito tempo, e agora sentia os efeitos da contenção como uma dor quase insuportável castigando-lhe o corpo inteiro. Sua fome por Carrie era selvagem, incontrolável. Sua boca era exigente e a de Carrie correspondia. O beijo se tornou violento, mais e mais profundo, íntimo. Com um abafado gemido de paixão, ele enfiou as mãos por baixo da camisola, passando-as nas coxas sedosas, na calcinha minúscula, depois nos seios endurecidos pelo desejo. Apertou-os suavemente, depois acariciou os mamilos, até que ela gemeu de prazer. O desejo aumentava como chamas em uma fogueira, fazendo-a ofegar e arquear o corpo ansioso. Colada em Tyler, sentiu o despertar de sua masculinidade e arqueou-se mais, para senti-lo melhor, esfregando-se sensualmente contra ele. Ansiosas, suas mãos puxaram a camiseta de dentro do short de jeans e tocaram os músculos tensos das costas dele, enquanto sentia seus lábios ardentes deslizando-lhe pelo pescoço. Suas pernas amoleceram e teve que se agarrar nele para não cair. Um violento arrepio percorreu-a quando ele a apertou mais contra si. - Preciso tanto de você, Tyler! - suspirou. - Quando você foi embora, hoje, eu... - Eu não queria ir. - Ele beijou a pálpebras cerradas. - Não posso ficar longe de você, Carrie, nem um instante. - Acompanhou com o polegar o desenho dos lábios trêmulos, fazendo-a enrijecer, a necessidade dela torturando-o cruelmente. - Quero fazer amor com você, Carrie. Se tiver que esperar mais eu... - Não. - Ela tapou-lhe a boca com a mão, obrigando-o a calar-se. - Não vamos esperar mais, Tyler. Eu te amo muito e quero mostrar quanto. O nome dela foi quase um gemido ao passar pelos lábios trêmulos de Tyler, o beijo que trocaram queimava de tanta paixão, mas também continha uma ternura que o tornava muito doce. Carrie meneou o corpo, enquanto as grandes mãos morenas o percorriam, moldando a camisola macia em suas curvas. Sentia-lhes o calor através do tecido fino, depois sobre a própria pele, quando ele acariciou as coxas nuas. Correspondeu desesperadamente ao beijo, absorvendo o gosto, o cheiro dele, querendo-o com um desespero primitivo que não conhecia até então. Quando a mão ansiosa inseriu-se entre suas pernas, ela parou de respirar pela carícia atrevidamente erótica. No entanto, queria mais, queria "ele"... - Tyler - implorou, com voz fraca e trêmula. A excitação apoderou-se de seu ponto mais íntimo, mandando ondas de ansiedade a cada centímetro do corpo. Apertou a mão dele entre as coxas em fogo, entregando-se ao prazer que Tyler lhe proporcionava. Foi preciso uma tremenda força de vontade para ele retirar a mão e afastá-la de si. - Aqui não, meu anjo - arquejou. - Não quero que nossa primeira vez seja no chão de um hall... - Não me importa onde, eu te quero! - murmurou Carrie, como num sonho.
O rosto dela, inclinado para trás, corado, os lábios úmidos e vermelhos pelos beijos, os olhos azuis escuros de paixão, fizeram o desejo dele irromper, violento. Abraçou-a com força. Nunca dissera "eu te amo" para mulher alguma, pois havia limites que Tyler Tremaine não ultrapassava, mas também nunca estivera tão próximo de dizê-las. No entanto, sussurrou, erguendo-a nos braços: - Me deixe levá-la para a cama... - Sim - concordou Carrie, acariciando-lhe o rosto com as pontas dos dedos. - Sim, amor. Tyler subiu rapidamente a escada, passou pela porta entreaberta do quarto dos trigêmeos e entrou no quarto dela, onde Sombra dormia tranqüilamente na cama enorme. Ao ver o gato, os dois sorriram. - Prefiro que você o ponha para fora - disse Tyler, colocando-a de pé. - Esse velho Biruta é capaz de me atacar, não gosta de mim... - Imaginação sua - disse ela, enquanto tirava o gato da cama e, com um miau, ele ia para o corredor. - Sombra gosta de você, sim. - Tanto que arrepia os bigodes e chia quando me aproximo! - Então, Tyler ficou sério, pegou as mãos dela e falou, com voz emocionada, profunda: - Carrie, quero que saiba que jamais pretendi usála, humilhá-la ou feri-la. O que aconteceu hoje na casa de meu pai foi... - Isso já passou - interrompeu ela, suave. - Foi um mal-entendido. - Sorriu, meiga. - Mas tenho certeza que eles jamais me esquecerão: garanto que eu os impressionei! - Como me impressionou, desde a primeira vez que a vi. Nunca mais saiu da minha cabeça! Ele puxou-a pelas mãos e se abraçaram, deliciando-se com a sensual proximidade. O amor até então sufocado expandiu-se como fogo em gasolina. Seus lábios encontraram-se e soldaram-se, suas mãos empenharam-se em incendiárias carícias. Carrie sentia cada saliência rude do corpo dele contra a maciez de seu corpo. Gemeu e moveu-se lenta, sugestivamente, num claro convite que Tyler aceitou de imediato. Parando para beijá-la de vez em quando, levou-a para a cama. Caíram sobre o colchão, beijando-se, os corpos entrelaçados, irradiando sensualidade e paixão. Devagar, numa doce tortura, Tyler começou a desabotoar a camisola, depois deslizou-a pelos ombros delicados e tirou-a. Ergueu-se a meio na cama e percorreu-a várias vezes com os olhos, detendo-os nos seios arfantes. - Sabe quantas vezes sonhei ver você assim? - perguntou, em voz baixa e rouca. - Mil, tanto de dia quanto de noite... Tocou os seios de leve, com os longos e fortes dedos, depois envolveu-os com as mãos, deslizando os polegares nos mamilos rijos. - Ficava imaginando de que cor os mamilos eram... - Tyler percorreu o aréola rosada com a ponta da língua. - Tentava imaginar a textura, a forma deles... - Fez a mesma carícia no outro seio. - Mas minha imaginação não conseguiu reproduzir a sua beleza, a sua perfeição, Carrie. O corpo de Carrie pulsava em dolorosa e doce tensão a cada palavra, a cada toque, até que ela gritou o nome dele, perdida num encantamento mágico e erótico. Ele envolveu um dos mamilos com a boca e sugou-o. Carrie quase chorou com o elétrico espasmo de prazer que a percorreu. As sensações sucediam-se, fazendo-a delirar por ele, o calor entre suas pernas tornando-se cada vez mais intenso. O bonito e esguio corpo retorceu-se, procurando um alívio que não conseguiu. Como em resposta à sua silenciosa súplica, Tyler colocou a mão enorme, quente, no local exato em que ela a queria. Sentiu, então, a quente umidade dela, testemunha de seu intenso desejo, que o fez querê-la com maior violência. Tirou a calcinha com gestos controlados e possuiu a secreta maciez de Carrie com os dedos, enquanto a língua ardente penetrava a boca ansiosa, que deixava escapar roucos gemidos. As sábias carícias foram provocando cada vez mais ondas de calor no corpo tomado pela excitação, até que um gozo selvagem, de uma intensidade indescritível, explodiu enquanto ela sentia todo seu ser latejar, envolvo num cálido, luminoso mar de sensações. Em seguida, Carrie desfaleceu sobre o colchão, trêmula, respirando com dificuldade, os olhos fechados, enquanto Tyler permanecia deitado a seu lado, acariciando-a de leve, muito devagar. Ela abriu os olhos e encontrou os dele. Sorriram ao mesmo tempo. - Por que esperamos tanto por uma coisa tão certa? - indagou Tyler num murmúrio, beijando-lhe o rosto. - É certa justamente porque esperamos muito - respondeu ela, sorrindo. Os olhos azuis cintilavam. Um poderoso impulso de amor percorreu-a: queria dar prazer a ele, queria Tyler dentro de si, queria a união completa que faria de ambos um só ser.
Tocou-o, subindo a mão por baixo da camisa, enroscando os dedos nos pêlos crespos; desceu-a até a cintura do short. Continuou descendo, deslizando os dedos por cima do brim, seguindo o desenho do sexo intumescido, rígido. Adorava ter acesso ao corpo dele, tocá-lo como sonhava há tanto tempo. Mas as roupas eram uma barreira insuportável e tinha que livrar-se dela. Seus dedos lutaram contra os botões de metal da braguilha do short e ele não conteve um gemido quando ela acariciou o sexo nu. Segurou-lhe as mãos e disse com voz insegura: - Mais um pouco disso e perco de vez a cabeça... - Ótimo - ronronou Carrie. - É o que eu quero, Tyler. O riso dele soou rouco. - Mas não assim, Carrie, sem proteção. Os olhos dela abriram-se, assustados: - Oh, não pensei nisso! - Mas eu pensei... - Ele procurou no bolso do short e tirou um envelopinho prateado. - Você confia muito em si, não? - agastou-se ela. - Pode crer, garota, nunca me senti tão inseguro quanto nestes últimos dias. Ele ia se despindo enquanto falava. Carrie abriu o envelopinho: - Por isso comprou esta camisinha. Tyler mostrou mais três envelopinhos: - Pensei comprar a caixa, que tem vinte e quatro, mas... Carrie caiu na gargalhada e ele acompanhou-a, sentindo-se feliz e mais tranqüilo do que nunca. Não havia por que temer: ela o queria tanto quanto ele a queria e os motivos que os tinham mantido separados eram sem importância. A única coisa que importava era que afinal estavam juntos, partilhando os poderosos sentimentos que tinham um pelo outro. Haviam chegado aos próprios limites e quando as pernas de Carrie se abriram para ele, recebendoo amorosamente em seu calor, Tyler a possuiu com ardente e profunda confiança. Por instantes, ambos ficaram imóveis, fitando-se, ela envolvendo-o inteiramente, com a absoluta certeza que algo mudara irrevogavelmente, para sempre. Em seguida os olhos se fecharam, os corpos se amoldaram e moveram-se juntos, com apaixonado frenesi, um denso oceano de promessas deliciosas fechando-se sobre eles. A selvageria com que se desejavam acelerou os movimentos, fazendo-os gemer e murmurar palavras desconexas, até que o corpo de Carrie imobilizou-se, trêmulo, arqueando-se contra ele, em busca da libertação total. Gritou o nome de Tyler no momento em que foi percorrida por estremecimentos de prazer profundo, intenso, divino. Passaram a noite juntos, possuindo-se mais uma, outra e outra vez ainda, tentando saciar o renovado desejo que cada toque ou beijo despertava neles. Afinal, deliciosamente cansada, Carrie fechou os olhos e aninhou-se no peito dele, que a envolveu nos braços, por fim calmo. - No que está pensando, Tyler? - indagou, num sussurro. Ele sorriu na escuridão: - Que não vou precisar convencê-la a ir para a minha cama, quando estivermos na praia, neste fim de semana. Ela riu, baixinho: - Era esse o seu plano? - Era, sim - confessou ele. - E, agora, acha que irei correndo para sua cama, assim que deitar as crianças? - Não. Vamos esperar até que estejam dormindo - corrigiu ele -, aí iremos correndo para a cama. Ela entrelaçou a mão com a dele: - Mal posso esperar... Momentos depois dormiam.
CAPÍTULO XI O fim de semana deles na praia foi um monte de "primeiras vezes". A primeira vez de Tyler e Carrie como um casal. A primeira viagem dos trigêmeos. A primeira vez que os cinco saíam como uma família. Era como todo mundo os via: pai, mãe e três filhos pequenos. Tyler ficou surpreso com o número de comentários que os pequenos provocavam, com a quantidade de pessoas que queriam saber a idade deles e mais uma porção de coisas. Orgulhoso, Tyler adorava dar as informações aos curiosos e jamais dissera a nenhuma das pessoas que não era o pai das crianças. Foi divertidíssimo "apresentar" os três pequeninos para a praia e o oceano, ver a maravilha nos olhos deles ao deparar com aquela imensidão de areia, com as ondas quebrando, ao pisotear a água e bater nela com as mãozinhas gorduchas. O trio, louco por água, não sentiu medo, ao contrário: foi preciso vigiá-los com redobrada atenção porque entravam no mar sem temor. Adoraram brincar na areia e o monte de carrinhos, pás, baldinhos, forminhas que Tyler levara para eles os deixava horas distraídos. Por insistência de Tyler, comiam fora todos os dias e iam sempre ao parquinho, uma loucura para os pequenos. Carrie e Tyler ficavam do lado de fora dos brinquedos, em companhia dos outros pais, vendo as crianças se deliciando em balanços, aviõezinhos, carrinhos e mais uma porção de divertimentos. Dylan, Emily e Franklin sempre estavam eufóricos, mas exaustos, quando eram postos nos berços. Era então que as breves férias se tornavam adultas. Depois das crianças dormindo em seu quarto, Tyler a erguia nos braços e levava para o quarto deles. - Foi maravilhoso passar o dia com os baixinhos, mas cada vez que eu a olhava, queria tanto você! - confessava ele, rouco, enquanto a despia do short e top azul-claro. Imediatamente a calcinha dela e as roupas dele se amontoavam no chão; as mãos morenas, ansiosas, percorriam a cintura sutil, os seios firmes. - Como eu te quero! - sussurrava ele. - Não posso parar de pensar como é bom estar dentro de você. Carrie retribuía as carícias, feliz ao sentir a reação imediata, masculina, em saber que podia satisfazê-lo. - Faça amor comigo, Tyler! - pedia, apaixonada. A boca dele se apoderava da dela e se abraçavam estreitamente. O beijo era longo, lento, profundo. Queriam ir devagar, prolongar os momentos inefáveis do prelúdio, mas a paixão não tardava a arrebatá-los, ardente, obrigando-os a se beijar e tocar com febril ansiedade. Tyler se posicionava entre as coxas de Carrie e seu corpo arqueava-se para recebê-lo melhor, suas pernas se enlaçavam ao redor dele e suspirava seu nome quando a penetrava. Ele gemia roucamente, de puro êxtase, mergulhando na quente maciez do sexo úmido e palpitante, abafando os gemidos com o rosto escondido na curva do pescoço dela. Movimentavam-se no ritmo selvagem, primitivo, o intenso prazer se construindo em espessas e devoradoras chamas de erotismo, até que explodiam juntos, num glorioso clímax. Depois, ficavam deitados um nos braços do outro, descontraídos, envoltos em doce satisfação. - Vou acabar me viciando nisto - confessou Carrie nessa noite, aninhando-se no peito dele. - Eu te amo, Tyler. Ele abraçou-a e beijou-lhe os sedosos cabelos loiros. Sabia que já estava viciado, mas tinha vergonha de confessar. É difícil livrar-se dos hábitos cautelosos de solteiro; não tinha coragem de revelar seus sentimentos, de contar "tudo" a ela. Tinham tempo. Preferia ir devagar, ver primeiro o que acontecia. - Somos o máximo na cama! - exclamou ele, satisfeito por ter encontrado algo seguro para dizer. - Somos o máximo também fora da cama - disse ela, suave. Queria, muito, que Tyler dissesse que a amava. Sabia que ele estava segurando a confissão. Por quanto tempo continuaria bancando o inatingível? Estava mais do que claro que não era apenas sexo que ele queria dela. Seria capaz de apostar sua própria casa em que ele gostava dos trigêmeos. Mas Carrie saber disso e Tyler admiti-lo eram coisas bem diferentes. Imaginou até quando ainda teria que esperar para ouvir Tyler dizer que a amava. Semanas, meses, anos? Pela primeira vez desde que faziam amor, ela lembrou-se de Ian e pensou na história trágica de ambos. Ainda bem que Ian
não tinha perdido tempo em decidir o que sentiam um pelo outro! Tinham se casado e se amado intensamente, como se soubessem que aquele amor teria pouco tempo de vida. Com a perda do marido ela aprendera uma dura lição: o tempo passa e nada tem garantia... Seria um erro negar seus sentimentos por Tyler pelo medo de sofrer se o perdesse. Lutar contra o amor para evitar sofrimento era uma triste loucura. Todas aquelas atitudes e teimosia que separam os amantes são uma lamentável perda de momentos bons que nunca serão recuperados. Quem se ama deve entregar-se ao amor de corpo e alma, sempre. Pena Tyler não pensar como ela, suspirou. Ele ouviu o suspiro: - Tudo bem? - perguntou, apertando-a possessivamente nos braços. - Eu amachuquei? - insistiu, preocupado. O desespero em possuí-la era tão grande que ele sempre perdia a cabeça e, naquele instante, sentiu medo de ter sido grosseiro ao fazerem amor. - Não... - respondeu ela e beijou-o. - Estou ótima, maravilhosa. É que estava pensando em... Hesitou, mas depois decidiu que não devia haver segredos entre eles. - Estava pensando em Ian. - Ian jamais iria censurar você por voltar à vida, Carrie - disse Tyler, depressa. Não vou perder Carrie para o fantasma de Ian Wilcox!, desesperou-se. - Pelo que sei dele, acho que aprovaria que você me ame. Ela assentiu. Ian era generoso e gostaria mesmo que ela continuasse a viver, que amasse de novo. Um sorriso triste desenhou-se em seus lábios: mas ele iria querer, também, que o homem amado por ela correspondesse ao seu amor e que o demonstrasse. Eram quase nove horas, domingo à noite, quando os cinco voltaram para casa. As crianças dormiam em suas cadeirinhas e Carrie olhou-as, pensativa. - Eu não queria que acabasse - murmurou. - Você em sua casa, eu na minha. Tyler ergueu as sobrancelhas: também não gostava daquilo. - Posso perfeitamente passar a noite aqui com você. É só eu levantar mais cedo e ir para minha casa, então... Foi interrompido por umas pancadas na janelinha do carro. Era Alexa, que os olhava aflita. Tyler abaixou o vidro, contendo uma exclamação irritada, pois viu que Ben se aproximava correndo. - O que foi, Lex? - perguntou Carrie, alarmada. - Papai e mamãe estão aí, Carrie - murmurou Alexa. - Chegaram hoje de madrugada da Alemanha e... Não pôde terminar. O coronel e a sra. Shaw encaminhavam-se para eles. Aturdida e feliz, Carrie saiu do carro e correu para abraçá-los. Tyler saiu também e observou-os. - Como é bom ver vocês! - exclamava ela, abraçando primeiro a mãe, depois o pai. - O que estão fazendo aqui? - Eles pareciam ótimos, em boa saúde, mas perguntou: - Alguma coisa errada? - Nada, a não ser que sentimos uma saudade terrível de você e das crianças, filha - respondeu a mãe, toda chorosa. - Os meus pequeninos! Alexa, Ben, me ajudem a tirá-los do carro. Tyler disse adeus ao plano de levar os trigêmeos para os berços sem que acordassem e depois se dedicarem um ao outro, tranqüilos. Tratou de engolir a decepção. A lacrimosa vovó, Alexa e Ben entraram em casa com as crianças despertas e a todo vapor, deixando Carrie e Tyler para trás, com o cel. Shaw. Ele observou o senhor alto, grisalho, com enormes olhos azuis e a postura ereta de um militar. - Sentimos muito a sua falta, Carrie - ele abraçou a filha de novo, emocionado. - Sua mãe e eu achamos que... - Papai, quero que conheça meu... meu amigo - interrompeu Carrie, dando-lhe um olhar de advertência. - Tyler Tremaine. O pai soltou o abraço, mas a manteve junto de si, com um braço passado sobre os ombros dela, enquanto estendia a mão. - Tyler, este é meu pai, o cel. Shaw - continuou ela. - Ia apresentar mamãe, mas ela sumiu! - Não pôde esperar para ficar com os netos - explicou o coronel, indulgente. Fitou Tyler. - Você é o vizinho de Carrie, não? Alexa me contou que levou Carrie e as crianças para o fim de semana na praia. Tyler franziu a testa. Dito daquela maneira, sua ligação com Carrie parecia sem importância e casual. Um vizinho que a levara com as crianças para a praia, apenas. Era claro que o coronel não podia saber o que de fato havia. Tyler pigarreou:
- Sim, mas nós... - Quero agradecer por ser um bom vizinho para minha filha e meus netos - cortou Shaw, em tom de indiscutível comando. - Mas vai ficar livre desse encargo: viemos buscá-los para morar na Alemanha conosco. - O quê? - perguntaram Tyler e Carrie ao mesmo tempo. O cel. Shaw voltou-se para a filha: - Carrie, querida, cometi um grande erro encorajando-a a ficar aqui, sozinha com as crianças. Achei que agia assim pelo seu bem, mas... - Claro que foi pelo meu bem, papai! O coronel não gostou da interrupção e prosseguiu: - Eu estava errado e reconheço quando erro. Sua mãe e eu ficamos muito preocupados com você e os pequenos, porque estamos longe demais para ajudar. Viemos buscá-la, filha. - Mas estou bem, papai! - exasperou-se Carrie. - Não há motivo para vocês ficarem preocupados. - Seu trabalho no hospital é desgastante e, mais ainda, cuidar de trigêmeos dia e noite - discursou o coronel, firme. - Sei que a encorajei a trabalhar, mas errei nisso também. É mais importante gastar seu tempo e energia com as crianças, Carrie. - De fato, não é fácil, mas estou me saindo bem, papai - insistiu Carrie. - Lex fica com os trigêmeos enquanto eu trabalho e... - Outro motivo da nossa preocupação - trovejou Shaw. - Sua irmã está vivendo como uma ermitã, não sai, não tem amigos, passa os fins-de-semana ajudando você a cuidar das crianças e fugindo da vida! - Papai, eu... - Muito bem - ele impediu o protesto -, vamos entrar, filha. Depois voltamos a falar nisso, mas ninguém me tira da cabeça que você deve dedicar todo tempo a seus filhos. - Nesse ponto concordamos, cel. Shaw - apoiou Tyler. O coronel olhou-o como se tivesse esquecido de sua presença. - Ótimo - respondeu, educado, mas frio. - Sinta-se livre para retirar-se, sr. Tremaine. Tenho certeza que deve estar ansioso para descansar da viagem e este problema é apenas nosso. Tyler arregalou os olhos: estava sendo dispensado! Posto de lado como um recruta qualquer! O coronel Shaw, ainda com o braço firme nos ombros da filha, a conduzia para casa, continuando a falar: - Nossa casa, na base aérea alemã, tem quatro quartos, Carrie, e um deles é grande o bastante para os trigêmeos e as coisas deles. Vai ser muito mais fácil para você. Eles estão crescendo e precisam ver o mundo, conhecer pessoas. Mamãe tem esperança de convencer Alexa a ir conosco. Ela precisa mudar de ambiente para sair da depressão. Há vários pilotos jovens e simpáticos no meu esquadrão. Vou apresentá-los a você e à sua irmã para... Entraram em casa e a porta foi fechada. Tyler ficou parado no jardim, as palavras autoritárias do militar ressoando em seus ouvidos. Sentia-se confuso, desorientado, o que era coisa rara! Tudo acontecera muito depressa e o desequilibrara. Há poucos instantes planejava passar a noite com Carrie, agora ela fora seqüestrada pelo pai, que decidira levá-la com os trigêmeos para a Alemanha! Tentou imaginar sua vida sem ela e as crianças; viu-se diante de um abismo negro terrível e a revolta acumulou-se em seu peito, apertando-o. Viu tudo vermelho. Quando caiu em si, encontrava-se batendo na porta, com violência. - Está aberta, entre! - convidou a amável voz da sra. Shaw. Tyler aceitou o convite e irrompeu casa a dentro, indo parar na cozinha, onde se reuniam pai, mãe, trigêmeos adultos e trigêmeos crianças. - Carrie, tenho que falar com você - disse, com a pose de executivo determinado recuperada. Com o senhor também, coronel - acrescentou, deixando claro que não era um recruta sob o comando dele. Pegou Carrie pela mão e arrastou-a até a sala; o cel. Shaw seguiu-os, com expressão calma e enigmática. - Cel. Shaw, em primeiro lugar precisa saber que não sou "apenas" um vizinho de Carrie - declarou Tyler, fitando o velho militar em desafio. Puxou Carrie, fazendo-a encostar-se nele, e passou os braços ao redor da cintura dela, num gesto de posse.
- Carrie, temos que ser honestos com seu pai - disse, com firmeza - e, antes que haja malentendidos, ele tem que saber que você não vai para a Alemanha com as crianças. - Não está sendo um pouquinho presunçoso, sr. Tremaine? - indagou o coronel, com voz ameaçadoramente mansa. - Acho que essa decisão é de Carrie e sua prioridade são os trigêmeos. Carrie observou o pai, intrigada. Havia algo na voz, no olhar dele... algo indefinível que só quem conhecesse o coronel, como ela, poderia perceber. Estava havendo algo! Quando viu Ben assomar à porta, teve certeza e ergueu as sobrancelhas: - Papai, o que você e... - Carrie, eu te amo! - cortou Tyler, fazendo-a esquecer da conspiração que cheirava no ar. - Não quero que você e as crianças vão embora. Eles são "meus" filhos também! Eu os amo, eles me amam e, afinal de contas, são meus, como você é. Pertencemos um ao outro, Carrie, você bem sabe! - Ele respirou fundo. - Vamos nos casar o mais depressa possível. Assim que acabou de dizer isso Tyler soube o quanto, realmente, queria casar-se com ela, o quanto queria cuidar dos pequenos. Até então impedira-se de aceitá-lo e agora que aceitara criava alma nova. O cel. Shaw abriu um amplo sorriso: - Assim as coisas mudam por completo. - Voltou-se para Ben, que ria de orelha a orelha, desavergonhadamente. - Acho que devemos deixar Carrie e Tyler a sós... Vamos ajudar mamãe e Alexa com os pequenos. Assim que Ben e o coronel saíram, Tyler abraçou Carrie. Seu sorriso era tão amplo quanto o de Ben e os olhos verdes brilhavam. Carrie e os trigêmeos eram dele! Não lembrava de um dia ter se sentido tão feliz, nem mesmo quando fora nomeado diretor-geral da empresa, que era o degrau anterior ao da vice-presidência. Ia beijá-la, mas ela colocou a mão sobre os lábios dele: - Não posso deixar que você caia nessa, Tyler - disse, com os olhos cheios de lágrimas. - Não tem se casar comigo para impedir que eu vá embora com as crianças. Antes de você entrar, eu já tinha decidido que não ia. - Pedi que se case comigo, Carrie. - Ele assustou-se, achando que ela ia recusar. - Você me ama, eu a amo. - Foi bem mais fácil falar dessa vez. - Quero me casar com você, dar meu nome às crianças. Somos uma família. - Você não entendeu! - sussurrou Carrie, aflita. - Foi forçado a me pedir em casamento com a ameaça de me levarem embora. Tenho quase certeza que foi um lance armado por Ben. Não sei o que ele disse a meus pais, mas a vinda repentina e a idéia de me levar com as crianças para a Alemanha estão me parecendo uma forçada de barra para obrigá-lo a declarar-se. - E deu certo - riu Tyler, feliz demais para se zangar. - Subestimei o seu irmão. Ben tem o instinto criativo e suicida que a Tremaine Co. exige de seus publicitários. Vou ver se ele quer trabalhar comigo, depois que casarmos, claro. - Oh, Tyler! - Os olhos azuis cintilavam de felicidade e amor. - Eu o amo, quero casar com você, mas não admito que o forcem a isso! - Como é? Vai dizer "sim" ou quer que me ajoelhe e faça um pedido de casamento à moda antiga? - A voz dele soava rouca, emocionada: - Por favor, quero você mais que tudo no mundo, Carrie. Beijou-a de leve e acrescentou: - E se você quiser, vamos ter filhos nossos. - Pense bem - ela riu entre as lágrimas -, de acordo com a história familiar pode ser mais uma leva de trigêmeos! - Se você tem coragem, eu topo! Mas vamos pensar nisso quando o primeiro trio começar a ir para o jardim-de-infância, tá? - Combinado. Mais uma coisa, Tyler. Não acha que está na hora de encerrar a guerra contra seu pai e Nina, de dizer ao seu meio-irmão que confia nele e o aceita no lugar que merece na família? - É, parece que ele quer ser meu amigo - assentiu Tyler, depois de pensar um pouco. - Foi o único que se ofereceu para vir comigo atrás de você, no 4 de Julho. - Ele riu, com gosto: - E veja no que deu! - Deu num final feliz - disse Carrie, radiante. - Sem dúvida e vai ficar mais feliz ainda. Vamos para a minha casa: aqui já tem gente até demais para cuidar dos trigêmeos. Tyler pegou-a pela mão e saíram correndo para a casa dele, a fim de passarem a noite comemorando o noivado e o amor que os unia.
FIM