Relatório Final de Iniciação Científica

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS -PRÓ-REITORIA DE PESQUISA (PRP) INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNICAMP PIBIC/CNPQ-PRP, exercício 2007/2008

Relatório Final de Iniciação Científica

A significação imagética no contexto das baterias de avaliação de afasias e diagnóstico de demências e declínios cognitivos Projeto de Iniciação Científica

Profª. Rosana Novaes Pinto (Orientadora) Denis Prado Forigo - RA 002915

Vigência da Bolsa: agosto de 2007 a julho de 2008. Campinas/SP 2008


A significação imagética no contexto das baterias de avaliação de afasias e diagnósticos de demências e declínios cognitivos Apresentação Este relatório final refere-se às atividades de Iniciação Científica realizadas durante o período de agosto de 2007 a julho de 2008 e, pela natureza e limites de espaço, apresenta uma síntese das questões teóricas estudadas, a relação de atividades realizadas e as análises dos dados referentes à aplicação do TNB (Teste de Nomeação de Boston) a sujeitos com afasias e com diagnóstico provável de Demência de Alzheimer (DA).

Atividades desenvolvidas no período de bolsa As principais atividades realizadas neste período, detalhadas no cronograma do projeto de Iniciação Científica, são descritas a seguir:

1. Atividades desenvolvidas no segundo semestre de 2007 •

• • •

Levantamento de títulos (livros, revistas e periódicos) relacionados ao tema do projeto. (As principais referências bibliográficas levantadas para o projeto estão relacionadas no final deste Relatório e foram exploradas para que se pudesse abordar criticamente a questão da aplicação do TNB na perspectiva da Neurolingüística Discursiva) Análise crítica do TNB, segundo a Neurolingüística Discursiva e as teorias da Semiótica. Aplicação do TNB a sujeitos com afasias e revisão de literatura a respeito. Produção do Relatório Parcial. 1

2. Atividades desenvolvidas no primeiro semestre de 2008. • • •

Contato com a literatura sobre a Demência de Alzheimer (DA) Análise dos dados do TNB obtidos na avaliação de sujeitos com DA Produção do Relatório Final

3. Produção científica. Todos os itens propostos no Projeto, em termos de divulgação da pesquisa e produção, foram cumpridos, conforme relatamos abaixo:

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Aprovado em Março de 2008.


• Participação e publicação de artigo nos anais do 5º Sepeg (Seminário de Pesquisas em Andamento) IEL-Unicamp, em Maio de 2008.. • Apresentação de pôster sobre este trabalho aceito no 56º. Seminário do GEL (Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo), no campus da Unesp de São José do Rio Preto; em Julho de 2008. • Inscrição realizada para o XVI Congresso Interno de Iniciação Científica da UNICAMP, de 22 a 26 de setembro de 2008, com apresentação de banner.

Resumo Este Relatório Final de Iniciação Científica apresenta uma reflexão crítica sobre a aplicação do Teste de Nomeação Boston (TNB), amplamente utilizado para classificação e diagnóstico de afasia, de declínio cognitivo e de Doença de Alzheimer (DA), dentre outras síndromes e distúrbios neurológicos. Este tema é aqui abordado por representar um recorte das questões teóricas e metodológicas área de Neurolingüística Discursiva, na qual este trabalho se referencia. Para realizar esta abordagem, elencamos conceitos e produzimos discussões referentes à concepção de linguagem implícita na metodologia científica, deixando clara nossa filiação a uma visão da linguagem como atividade sóciocognitiva. Buscamos, a partir de autores filiados à Neurolingüística Discursiva, apresentá-la como campo de investigação científica situado na fronteira entre as ciências humanas e cognitivas. A partir desses pressupostos teóricos, analisamos os dados filmados e transcritos de sujeitos com diagnóstico de afasia e DA e, a partir destes dados, utilizando conceitos próprios da semiótica imagética, realizamos discussões e aventamos hipóteses acerca da aplicação, natureza, estrutura e qualidade do TNB.

Introdução Este relatório apresenta o resultado do estudo em nível de Iniciação Científica por mim realizado, ao longo do último ano, sobre a aplicação do Teste de Nomeação Boston (TNB) (Boston Naming Test – BNT). O TNB é amplamente aplicado a pacientes com diagnóstico de afasia, de declínio cognitivo e de Doença de Alzheimer (DA), dentre outras síndromes e distúrbios neurológicos. Sua aplicação é bastante difundida em diversos países. Em muitos deles, recebe algumas adaptações devido a questões culturais, sem que haja, entretanto, alterações no formato padrão do teste. Muitas vezes o TNB — composto por uma seqüência de imagens em branco e preto dispostas em ordem de dificuldade — é aplicado de forma incompleta, selecionando-se apenas algumas das 60 figuras que o compõe (ANEXO I). Um caso ilustrativo dessa forma de aplicação pode ser encontrada na bateria neuropsicológica do Consortium to Establish a Registry for Alzheimer’s Disease (CERAD). O TNB (Goodglass & Kaplan, 1996), consiste num protocolo que visa a obtenção de um escore. As figuras são apresentadas ao sujeito e, depois de 20 segundos, se este não responde com a palavra indicada na ficha de respostas, é fornecida uma “pista semântica” (ou pista de estímulo). Se, ainda assim, o sujeito não responde com a palavra esperada, é dada, segundo este protocolo “oficial”, uma pista fonêmica, que consiste geralmente no primeiro fonema da palavra alvo. Mesmo que o sujeito acerte a palavra com a pista fonêmica, ele não recebe pontuação no escore. A explicação, segundo os autores, é que o acesso teria sido feito pelo investigador, não pelo sujeito, o que implicaria na hipótese de que ele perdeu a representação mental da palavra-alvo. Realizamos, para cumprir este objetivo específico, uma análise crítica de diversos dados coletados no Centro de Convivência de Afásicos (CCA) com sujeitos com diagnóstico de afasia e de DA. Buscamos analisar criticamente, além do método de aplicação, o formato do TNB, através de conceitos do campo teórico da semiótica, em especial a semiótica Peirceana. Tal análise crítica,


entretanto, só pode ser compreendida quando confrontamos as concepções de língua e de linguagem que dominam o campo das neurociências àquelas que orientam as abordagens da Neurolingüística Discursiva, à qual nos filiamos.

Concepções de linguagem nas neurociências e na ND A partir desses pressupostos, cabe destacar que a orientação teórica e metodológica fundada no estruturalismo domina o cenário atual das neurociências. Testes como o TNB, que analisamos neste trabalho, apresentam um enfoque que deriva de uma análise estrutural da linguagem, fundada no Curso de Lingüística Geral (SAUSSURE, 1988). Este tipo de análise traz consigo uma higienização dos dados obtidos nesses experimentos através da exclusão de variáveis sociais, históricas, psicológicas e individuais (NOVAES-PINTO, 1999, p. 22). O teste de nomeação, como o próprio nome afirma, busca verificar a capacidade do sujeito de atribuir um nome a um referente. Referenciar é apenas uma das funções da linguagem, mas geralmente nas patologias é um dos sintomas mais importantes para se afirmar que a linguagem está comprometida. A respeito da tradição que enfatiza a tradição referencialista dos estudos semânticodiscursivos, citamos MARCUSCHI (2006. p. 7), quando contrapõe duas posições diferentes quanto ao tratamento da referência: A primeira [posição quanto ao tratamento da referência] (...), é a que se funda numa concepção de linguagem como transparente e referencialista, tendo por base uma visão instrumentalista da língua. Esta posição garante uma relação clara entre linguagem e mundo e vem sendo postulada pelas teorias vericondicionais, entre outras.

Já com respeito a uma vertente sócio-cognitivista, ao contrário da tendência nominalista, Marcuschi afirma: A segunda posição postula uma noção de linguagem como atividade sócio-cognitiva em que a interação, a cultura, a experiência e aspectos situacionais interferem na determinação referencial.

A seguir, passamos a sintetizar alguns dos princípios teóricos e metodológicos das teorias estruturalistas, sobre as quais se apóiam as concepções de língua(gem) nas neurociências contemporâneas e das quais derivam as avaliações metalingüísticas, dentre as quais o TNB. Mais adiante, apresentaremos algumas das bases que sustentam a Neurolingüística Discursiva. Dentre os muitos autores que fundamentam a ND, optamos por Bakhtin, que elege a interação como solução dialética para a compreensão das questões de língua(gem) e porque seus conceitos são coerentes com a abordagem dos fenômenos nesta perspectiva. Destacamos, primeiramente, o esforço teórico de Saussure em trazer à lingüística o reconhecimento como ciência autônoma. Este talvez seja um ponto que explique a aplicação dos modelos estruturalistas pelas neurociências – a busca da cientificidade. Notamos também as conseqüências teóricas e práticas das abstrações que envolveram este esforço. Se considerarmos, como Hénault (2006, p. 58) que Atualmente, a caracterização de uma teoria científica (determinando sua aptidão a circunscrever a singularidade do objeto que se deu a si mesma) comporta a representação de três elementos: - um espaço de estado que especifica o tipo de sistemas aos quais a teoria se aplica (...); - um conjunto de enunciados elementares que incidem sobre grandezas variáveis (...); - uma função de satisfação que represente o vínculo que a teoria estabelece entre seus modelos matemáticos e os resultados experimentais empíricos

Então,


[Se esta formulação for] aplicada ao Curso de Lingüística Geral (CLG), (...) seguramente [Saussure] percorreu as duas primeiras etapas em seu movimento de fundação da lingüística como ciência autônoma, deixando a seus seguidores, lingüistas e semioticistas, a tarefa de atender à terceira (...).

Aparte toda a problemática de interpretação da obra de Saussure, considerada a publicação póstuma (e realizada através de anotações de Saussure e de seus alunos) do Curso de Lingüística Geral, devemos justamente voltar nossa atenção para as características desta sua busca por circunscrever e tornar singular o objeto da lingüística. Veremos que a dualidade é central na obra de Saussure e que ela coloca para o estudo da linguagem uma situação paradoxal. Analisando, por exemplo, o seguinte excerto: Depois de ter estudado muito bem o que é histórico, é preciso esquecer o passado para estudar o sincrônico. É um paradoxo, no sentido de que nada é mais importante do que conhecer a gênese do que é uma época. “Mas é um paradoxo verdadeiro, evidente, porque é preciso abstrair «o passado», dada a natureza irredutível dos dois fenômenos...” (Cahiers F. de Saussure apud HÉNAULT, 2006, p. 29).

Percebemos, entretanto, que esta dualidade entre sincrônico e diacrônico (expressa como inevitável a partir da constatação da “natureza irredutível dos dois fenômenos”), e que veio a nortear todo o aprofundamento de estudo do seu objeto, está alicerçada numa concepção ideacional ou representacional sobre a linguagem (LAHUD, 1977). Isto significa que o sistema saussuriano implica na existência de uma consciência individual que opera, seja como for, uma “contraparte espiritual de um sinal material”, garantindo assim, e somente assim, a univocidade do signo lingüístico. O desdobramento lógico dessa crença na “irredutibilidade” dos elementos constituintes da língua aparece quando Saussure precisa realizar a união entre significante e significado. Para tal manobra, apóia-se em último caso numa “psicologia social”, externa ao campo da lingüística: Bem antes da lingüística, todas as ciências sociais, pelo menos as que se ocupam do valor, são elas também, perfeitamente redutíveis em última instância à psicologia; o que não impede de haver uma enorme linha de demarcação entre a psicologia geral e as ciências e que cada uma delas tenha a necessidade de noções que a psicologia geral, nem mesmo a coletiva, fornecia (...)” (Cahiers F. de Saussure apud HÉNAULT, 2006, p. 58).

É esta “psicologia geral” que “opera” nos elementos unitários do “sistema” de Saussure e é este o movimento que ele realiza para resolver temporariamente o problema da univocidade do signo lingüístico. No caminho oposto a esta visão da linguagem como dualidade paradoxal (manifestada claramente em distinções teóricas como “ouvinte × falante”), caminha o lingüista russo M. Bakhtin. Trazendo para a lingüística uma concepção de signo que se contrapõe à concepção ideacional (em que “[a consciência individual está] situada em algum lugar acima da existência e determinando-a”). Contrapõe-se ainda ao “positivismo psicologista”, onde “a consciência se reduz a nada: simples conglomerado de reações psicofisiológicas fortuitas que, por milagre, resultam numa criação ideológica significante e unificada”. (BAKHTIN, 1995, p.34). Para ele, a “consciência individual só pode surgir e se afirmar como realidade mediante a encarnação material em signos”, colocando-os como mediadores que permitem uma transição de mão dupla entre as relações sociais e as consciências individuais. Aqui encontramos justamente uma base sólida para o caráter funcional da linguagem, que dá escopo teórico a este trabalho: Preliminarmente, portanto, separando os fenômenos ideológicos da consciência individual nós os ligamos às condições e às formas da comunicação social. A existência do signo nada mais é do que a


materialização dessa comunicação. (...) A palavra é o fenômeno ideológico por excelência. A realidade toda da palavra é absorvida por sua função de signo. A palavra não comporta nada que não esteja ligado a essa função, nada que não tenha sido gerado por ela. A palavra é o modo mais puro e sensível de relação social

A partir desta concepção de signo, Bakhtin constrói sua concepção sobre linguagem, fundando-a num objeto uno, o enunciado: A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou de outra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas (...)

O enunciado aparece, portanto, como a unidade real da comunicação verbal: a fala só existe, na realidade, na forma concreta dos enunciados de um indivíduo: do sujeito de um discurso-fala. O discurso se molda sempre à forma do enunciado que pertence a um sujeito falante e não pode existir fora dessa forma. Quaisquer que sejam o volume, o conteúdo, a composição, os enunciados sempre possuem, como unidades da comunicação verbal, características estruturais que lhes são comuns, e, acima de tudo, fronteiras claramente delimitadas. (BAKHTIN, 1991, p.293).

Na visão de BAKHTIN não é a abstração em subunidades lingüísticas o que delimita a comunicação verbal, mas a alternância real entre os parceiros da comunicação verbal. A importância desse conceito fica claro no contexto do estudo das afasias se considerarmos que a partir dele, (...) qualquer réplica, mesmo monolexemática constitui em enunciado e esse é compreendido no interior do processo dialógico. Sendo assim, esse conceito pode ser aplicado aos dados dos sujeitos afásicos, mesmo aqueles com expressão bastante reduzida, que nenhum outro modelo pode dar conta, já que muitos [enunciados] não podem ser subdivididos em unidades convencionais da língua. (NOVAES-PINTO, 1999: p. 157).

Exemplificando, NOVAES-PINTO cita enunciados como os de CF, “[esaw esaw esaw]” ou EF, “[ow: ow]“, "cuja significação e acabamento só podem ser dados no interior do processo dialógico, assim como os enunciados de qualquer um de nós” (ibidem, p. 157). Esta concepção bakhtiniana acerca da linguagem vem ao encontro da ND. Assim como BAKHTIN, a ND considera a linguagem como uma atividade humana histórica e social. A ND busca no uso efetivo e funcional da linguagem, seja pelos sujeitos com diagnóstico de afasia ou por quaisquer outros, a elaboração ou organização dos conceitos que podem elucidar a relação entre linguagem, cérebro e cognição. Esta forma de estudar e entender a linguagem resulta numa concepção que tem como essência não o paradoxo (como na visão de Saussure), mas a dialética das relações discursivas reais e funcionais.

A Neurolingüística Discursiva Como já foi dito, este trabalho se inscreve na área de Neurolingüística Discursiva (ND) e, portanto, para além da análise lingüística, traz discussões referentes à área interdisciplinar que envolve a Lingüística e as Neurociências. Outra observação é a de que o campo da Neurolingüística é terreno fértil para uma análise sobre metodologia científica. Historicamente, o início do desenvolvimento do método anátomo-clínico consistia em observar nas autópsias as alterações anatômicas no cérebro do indivíduo e relacioná-las aos sintomas observados em vida, em fases agudas ou crônicas das doenças. O fato de terem essas reflexões nascido no interior da clínica médica fez com que se traçasse muitas vezes uma relação direta entre cérebro e linguagem. A linguagem na patologia – ou seus sinais e


sintomas – seriam como que uma janela aberta para a compreensão do funcionamento do cérebro e das funções cognitivas complexas. Esta origem diretamente relacionada à Neurologia coloca para a Neurolingüística uma discussão fundamental: como se dá sua definição enquanto campo de pesquisa de fronteira entre as ciências humanas e as cognitivas. Morato (2001) afirma que, nessa discussão, é necessária a delimitação da concepção de linguagem, cérebro e cognição de que se está partindo: “o estudo da relação entre linguagem, cérebro e cognição está longe de delimitar ou definir a Neurolingüística se não se precisar de que ponto de vista essa relação é construída. (...) Tanto o estudo da linguagem quanto o da cognição são reivindicados por diversas disciplinas. Ao que parece, tanto a linguagem quanto a cognição não podem ser objeto de uma única disciplina. Ao tratar de dados patológicos para estudar processos lingüístico-cognitivos normais, ou construir teorias para explicar as patologias (para citar apenas dois dos interesses da Neurolingüística), a Neurolingüística põe-se às voltas com fronteiras algo frouxas e delicadas”. (MORATO, 1997, apud NOVAES-PINTO, 1999). 2

Surge um cenário em que a Neurolingüística encontra caminho aberto a definir seu programa teórico-metodologico próprio, que possa propiciar uma relação adequada entre as ciências humanas e cognitivas: Dada a complexidade do fenômeno ao qual [a ND] se dedica, a arbitragem entre domínios teóricos aparentemente incompatíveis só poderia ser de preferência do tipo epistemológico, e não apenas interdisciplinar (situação em que apenas a ignorância comum sobre o objeto - a cognição, no caso justificaria a conjugação de áreas cujas vocações e finalidades são tão díspares quanto às vezes inconciliáveis) (MORATO, ibid: 01)

Cabe destacar que este caminho é o que tem se consolidado no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, no Centro de Convivência de Afásicos (CCA), como descreve MORATO (1997): “a Neurolingüística praticada no Brasil, e mais especificamente na Unicamp, traça um caminho que, reconhecidamente afiliada à tradição européia, procura ter na Lingüística o seu posto privilegiado de observação. A teorização produzida pela pesquisa neurolingüística volta à Lingüística de forma extremamente produtiva em relação aos interesses desta última pois “a análise dos dados obtidos no contexto patológico, bem como o estudo sistemático da relação entre linguagem, cérebro e cognição permitem diferentes e prolíferos movimentos teóricos: ajuda a refutar, comprovar, discutir e construir teorias no âmbito da Lingüística e das ciências cognitivas; colabora para o entendimento dos processos normais de aquisição e desenvolvimento da linguagem e da cognição; promove a construção de teorias “pontes” no interior da própria Lingüística; atua na arbitragem interdisciplinar entre a Lingüística e outras disciplinas do conhecimento voltadas para a pesquisa cognitiva; contribui para o melhor desenvolvimento das atividades clínico-terapêuticas, desempenhando um importante papel social, o que faz ao destinar explicitamente parte de sua vocação científica à diminuição de tensões e sofrimentos provocados pelas patologias cerebrais. Não é de estranhar, portanto, que a arbitragem interdisciplinar seja o vetor epistemológico que sustenta toda e qualquer pesquisa produzida na área. (...) Com efeito, parece-nos muito reducionista a concepção de Neurolingüística como a “ciência que correlaciona as zonas anatômicas do cérebro com comportamentos lingüísticos dos falantes”.

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As referências aqui utilizadas do trabalho de Morato são as que Novaes-Pinto tinha disponíveis na época da

elaboração de sua tese, de 1999, que baseou-se em um texto de Morato que ainda estava “no prelo”. O texto, com modificações, foi publicado em 2001 por Morato, com o título “Neurolingüística”, in Mussalin & Bentes (2001) Introdução à Lingüística: domínios e fronteiras”. O mesmo é válido para as demais referências de Morato feitas ao longo do texto.


A escolha do tema desta iniciação científica, uma análise crítica e qualitativa de dados de aplicação do TNB, se insere nesse contexto da Neurolingüística realizada no IEL e é apenas um recorte dessas questões metodológicas mais abrangentes apresentadas inicialmente. Colocadas as questões teóricas que fazem um pano de fundo deste trabalho, seguimos com a discussão sobre o TNB propriamente dito.

Discussão: relação entre imagem e linguagem A literatura sobre os testes de nomeação traz o ato de nomeação como um ato realizado a partir da habilidade de, em se reconhecendo a figura apresentada, “disparar” a representação mental que possibilitará sua nomeação através da linguagem: A habilidade de nomear em tarefas de confrontação visual é um processo complexo que envolve reconhecimento de elementos visuais (linhas, barras, pontos e curvas), a representação visual complexa de um objeto, e permitem seu reconhecimento. A imagem dispara a representação mental, a partir de nosso conhecimento e diversas experiências, de acordo com o objeto representado em nosso sistema semântico, assim como sua enunciação por formas disponíveis em nossa língua. Os modelos cognitivos reconhecem a existência de componentes semânticos e fonético-fonológicos no processo de nomeação (Hillis, 2001; Scheuer et al., 2004 apud Mansur).

Tradicionalmente, os problemas apontados nos testes de nomeação dizem respeito à “qualidade” das ilustrações apresentadas e a escolha adequada dos itens que compõem os testes. As concepções apresentadas acima nos levam a afirmar que os testes de avaliação da linguagem em sujeitos com diagnóstico de Afasia ou DA, se necessários, devem ser utilizados num contexto de acompanhamento lingüístico mais amplo e em contextos dialógicos em que os sujeitos estejam realmente envolvidos. Ainda assim, queremos neste trabalho discutir alguns elementos que podem ser importantes na superação desses “problemas qualitativos” dos testes. O primeiro elemento a ser discutido é o tipo de significação imagética empregada no teste, que pode influenciar no grau de dificuldade para realização da tarefa e, portanto, em seu êxito. Nesse sentido, Mansur (2006) observa que: Devemos levar em consideração que as dificuldades com a representação bi-dimensional, assim como a clareza e redundância da informação visual podem influenciar o desempenho, particularmente nos indivíduos menos educados.

Para aprofundarmos esta análise, cabe aqui analisar um aspecto básico da semiótica imagética, proposto por Santaella & Nöth, que é a existência de três paradigmas no processo evolutivo da produção de imagens, definidos a seguir: O primeiro paradigma nomeia todas as imagens que são produzidas artesanalmente, quer dizer, imagens feitas a mão, dependendo portanto da habilidade de um indivíduo para plasmar o visível (...). O segundo se refere a todas as imagens que são reproduzidas por conexão dinâmica e captação física de fragmentos do mundo visível, isto é, imagens que dependem de uma máquina de registro (...). O terceiro paradigma diz respeito às imagens sintéticas ou infográficas, inteiramente calculadas por computação. (1997, p.157).

Os testes são realizados, portanto, através de imagens (ANEXO I) que pertencem ao primeiro paradigma de produção imagética, o desenho (com traços feitos a mão, em preto e branco). E se não é possível afirmar que esta característica influencia diretamente no êxito na nomeação da imagem, é patente que o grau de indexicalidade do desenho (característica que na situação de testes é freqüentemente tratada como a “qualidade” do desenho) desempenha um papel importante na realização da tarefa, alterando o grau da função referencial da imagem apresentada. Esta afirmação de


que o grau de indexicalidade pode influenciar no resultado se contrapõe à idéia implícita ao TNB, de que a utilização de imagens supostamente prototípicas é possível e desejável para testar adequadamente a linguagem. A interpretação de imagens através da linguagem — ou seja, um aspecto específico da relação linguagem-mundo — é, a nosso ver, como mencionamos anteriormente, uma atividade sócio-cognitiva e, portanto, diretamente influenciada por questões culturais de diversas ordens. A utilização de imagens com menor grau de indexicalidade em favor de imagens mais prototípicas pode representar, na realidade, ainda quem em pequeno grau, a utilização de imagens mais abstratas e menos figurativas. Essa alteração na figuratividade das imagens pode gerar uma dificuldade que é mais de ordem de significação imagética do que lingüística. E se o TNB tem como objetivo este tipo de análise, a escolha de imagens que exigem um esforço de outra ordem apresenta-se como fator desviante do objetivo principal. Alguns dados recorrentes nos aparecem como pistas de que a indexicalidade é um fator importante. O desenho que tem como objeto referente um iglu é um desses casos. Destacamos inicialmente o dado do sujeito JM, com diagnóstico de Afasia: JM: buraco de tatu não...buraco de... Iir: de... JM: hã::: Iir: pode pensar tranquilamente seu Madeira... JM: rato né?nao... Iir: não é nem de tatu nem de rato JM: buraco de... Iir: eles realmente hoje hã:: os esquimós dormem... JM: esquimós não não Iir: que eles constroem né?... mas tem um nome dessa casa onde eles dormem JM: não sei Iir: i::... JM: i... (11s)não sei Iir: iglu JM: iglu? Iir: iglu...

A situação dialógica criada através dos prompts gera uma abertura de interpretação do signo visual, com a qual o sujeito lida no intuito executar a tarefa solicitada. A esse respeito é importante observação de BEILKE, H., NOVAES-PINTO, R. (2008), de que (...) muitas vezes, o que emerge é justamente a capacidade criativa dos sujeitos para lidarem com a situação do próprio teste. Revela-se sua capacidade de reorganização, de trabalho lingüístico e cognitivo, além dos fatores psíquicos que atuam simultaneamente durante o funcionamento lingüístico/cognitivo e que podem explicar dificuldades, como alguns bloqueios no acesso às palavras ou às memórias, a produção de parafasias ou de atos-falhos, dentre outros.

Considerando que o sujeito nunca tenha visto um iglu ou não consiga se lembrar deste objeto referente, observamos que esta capacidade criativa se coloca em funcionamento quando o segundo prompt fornecido pelo pesquisador possibilita que o referente “buraco” seja pressuposto como parte correta da resposta (“não é nem de tatu nem de rato”). A imagem passa a ser interpretada como o “buraco [de alguma coisa]” numa redefinição do que poderíamos chamar de sintaxe imagética inicial. Em outras palavras, o signo visual tem sua interpretação aberta a partir da situação dialógica criada pelo prompt do pesquisador e o que passa a estar em jogo é não a capacidade de nomeação da imagem, mas a execução da tarefa a partir desta nova sintaxe imagética, independentemente o objeto referente “realmente” representado.


Este grau de abertura interpretativa gerada pela situação dialógica poderia, entretanto, ser alterado em função da indexicalidade do signo visual. Num estudo que tivesse como escopo outros testes que utilizam signos visuais, poder-se-ia testar as diferenças entre a apresentação de um desenho de um iglu e uma foto deste mesmo objeto. Vejamos outro dado, agora do sujeito MIP, com diagnóstico de DA: InvH: E isso aqui? [...] Fmip : Casinha dos eskimos InvH: A senhora já viu a casa dos eskimos? MIP: É uma oca, não é? Oga não é? InvH É um iglu.

Chama atenção o fato de que um paciente com DA realize uma parafasia semelhante à anterior (de um sujeito com diagnóstico de Afasia) no mesmo item do teste. Ao responder com a palavra “oca”, MIP provavelmente busca um referente que pode ter semelhança formal ao desenho apresentado e é próprio à cultura brasileira. Outro caso de semelhança na resposta de um mesmo item em testes de sujeitos com diagnósticos distintos é apresentado abaixo. A palavra-alvo agora é helicóptero: MIP: Esse é um avião InvH: Avião tem asas né, esse aqui não tem asas, esse aqui tem hélices [...] é um.... MIP: Helicóptero

e SI: e e e é... avião Iir: esse daqui ele... é ele não é um avião SI: ah é?hu::m... Iir: mas ele voa... SI: óia... é:: avião memo ((risos)) Iir: não... é de um outro tipo... SI: a é? hã:: Iir: porque o avião ele é imenso esse é menorzinho SI: hum... Iir: ele é menorzinho não...um pouco menor , também voa... SI: é? hum... Iir: e as outras hélices aqui é... SI: óia... hã:: Iir: a senhora não sabe? SI: não Iir: he... vamos ver se a senhora recorda... he-li SI: é.. ele /’eli/... voa. 3 .. Iir: helicó SI: helicópio... Iir: jóia... também voa né? mas ele não é menor do que o avião? SI: óia... avião ... é

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Observamos aqui que o sujeito se preocupa em responder à tarefa que pensa ter sido proposta a partir do prompt

“he-li“ (que seria um prompt com o formato de um enunciado incompleto) e não mais em nomear adequadamente a figura. Abordaremos mais adiante a importância de um estudo sobre o formato do prompt e o entendimento do sujeito em relação ao teste apresentado pelo investigador.


Observamos que dois sujeitos com diagnósticos distintos apresentam uma mesma resposta “errada”. Ainda que possa representar apenas uma coincidência, se considerarmos que são apenas dois dados, há um indício de que possa haver um padrão no estímulo gerado pelo signo visual, pois ambos respondem “avião” sem o prompt semântico ou fonêmico. Uma possibilidade que pode ser estudada a partir desse dado é a de que haja não uma dificuldade lingüística (ambos acertam a palavra-alvo depois do prompt), mas uma dificuldade em disparar a representação mental adequada dentro de um determinado grupo de objetos existentes no mundo, agrupados por características ou funções semelhantes. Nesse caso podemos também considerar a abertura interpretativa que gera um signo visual isolado de seu contexto, se considerarmos que aviões e helicópteros são vistos em situações muito semelhantes e distantes do contexto social destes sujeitos. O questionamento que se consolida a partir do estudo desses dados é quanto à eficácia da aplicação tradicional (que contabiliza um escore a partir da aplicação do TNB) no que diz respeito a testar especificamente a condição lingüística do sujeito testado. Soma-se a este questionamento um outro, também de ordem metodológica, que refere-se a diferenciação entre a condição lingüística apresentada por sujeitos com diferentes diagnósticos e, portanto, teoricamente, com diferentes condições. Simultaneamente, no caso em que o objetivo é avaliar a condição lingüística do sujeito, pudemos perceber que o olhar para a situação dialógica do teste, com o auxílio das filmagens e das transcrições, é mais revelador do que a generalidade obtida através dos escores gerados. Diversos parâmetros que dizem respeito à relação entre linguagem e mundo podem ser observados por meio desse olhar de pesquisa qualitativo. Olhemos os seguintes dados a partir desta perspectiva: (palavra alvo: tesoura) SI: é é é é lá lápis não... é:: tesoura... Iir: ok

(palavra alvo: martelo) SI: é é... é é é((eleva a mãe no rosto e a movimenta de cima pra baixo sobre o resto)) como chama? Iir: esse aqui é de bater... SI: ah é? hã::: Iir: [aquele que a gente bate SI: hã::: Iir: é que a figura ta ruim aqui SI: hã::: é:: tesoura não não é:: pentear... é... Iir: a senhora recorda que há algo a gente coloca e vai batendo SI: então é... tesoura não... é:: como que chama.. é::... tesoura... é... é.. Iir: mar... SI: ma mar... é:: co coisa não... é tesoura não... é... Iir: mar... começa com “mar” SI: ah é? Iir: mar-té... SI: martelo Iir: jóia...

(palavra alvo: compasso) SI: o::... ichi... eu sei o que que é isso... ti tisoura nao... é tesoura... é é... ai Iir: com... SI: contar Iir: a gente usa já na escola em alguns trabalhos né? SI: a ré... Iir: isso... com... ((risos de SI)


Iir: compá SI: compass Iir: quase SI: é? Iir: quase quase acertou dona Shizue... Si: é:: Iir: compá SI: compá... ah não sei... Iir: compasso SI: ah passo oia a:::

Entendendo a linguagem (como já observamos anteriormente) como uma atividade sóciocognitiva que abrange não somente a atividade de nomeação, pode-se olhar para dados como de SI e perceber o processo de “contaminação” em vários itens com a palavra “tesoura”, que antecedeu os demais. O que seria computado como erro no teste, numa análise qualitativa passa a ser analisado como fenômeno lingüístico, o que parece fazer mais sentido tanto no campo das ciências humanas quanto no campo das ciências cognitivas. Um elemento que se mostra quando realizamos esta analise em que se relacionam as respostas em vez de somar resultados numéricos, é quanto à interferência de uma imagem na outra. Importante relembrar que o teste se constitui numa seqüência de imagens que vão se sobrepondo umas às outras e uma hipótese que se pode levantar é que talvez esta contaminação advenha desta forma de apresentação dos signos visuais, somado ao fato de que nas afasias há uma maior lentidão no processamento das informações e no acesso lexical, organização sintagmática, dentre outros. Não poderíamos aqui deixar de abrir parênteses e observar — com o intuito único de criar uma metáfora — que a sobreposição de imagens é o método de criação do cinema, cuja percepção de movimento se origina da impossibilidade da percepção óptica humana (e, portanto, de uma característica cognitiva) em reconhecer quadros distintos projetados a uma velocidade superior a 24 quadros por segundo. A criação desta metáfora não é, entretanto, gratuita. Santaella, discutindo a influência contextual de imagens dispostas em seqüência, descreve o chamado efeito Kuleschow. Este efeito “mostra que o significado que um público relaciona a uma imagem A (o rosto de um homem) se modifica significativamente, dependendo se ele for mostrado em contigüidade com uma imagem B (um prato de sopa), C (uma mulher morta) ou D (uma menina brincando)”. Outro estudo relacionado às conseqüências da forma de exposição das imagens citado por Santaella é o de Thibault-Laulan (1971: 21) que argumenta que imagens numa disposição uma ao lado da outra são relacionadas semanticamente por uma lógica de atribuição, enquanto imagens em ordem cronológica são antes ligadas por uma lógica de implicação, já que a ordem tem tipicamente como efeito a impressão de uma relação causal.

Santaella conclui dessas considerações que “imagens podem funcionar como contextos de imagens”, que é o que mais nos interessa desta discussão. Tal conclusão nos leva a considerar a hipótese de que a relação de nomeação entre linguagem e imagem envolve dois fluxos temporais distintos, o lingüístico e o da percepção e interpretação imagética. Novamente se faz manifesta a questão colocada anteriormente por Morato, a respeito dos limites tênues entre as ciências humanas e as cognitivas. Outros aspectos relativos à estrutura metodológica do TNB puderam ser observados através da análise das transcrições e vídeos da literatura estudada. Busquei separá-los em três grupos somente com a intenção de organizá-los quanto à situação dialógica que se estabelece na aplicação do TNB (apenas na perspectiva Neurolingüística). Temos, portanto, (1) o sujeito testado (em especial a sua produção lingüística e expressiva), (2) a situação de teste (que diz respeito ainda ao sujeito testado, mas na sua


reação à tarefa proposta) e (3) o investigador (que apresenta as imagens e, principalmente, produz os prompts). Em (1) pode-se analisar, por exemplo, se (i) o sujeito produz a significação desejada em algum momento (mesmo que posteriormente, num outro item), (ii) se há produção de parafasia e de que tipo, (iii) se houve “contaminação” de outros itens testados e (iv) se há semelhança na métrica da palavra (o número de sílabas, a sílaba tônica, o ritmo.) 4 ; (2) traz parâmetros relacionados mais à forma como a tarefa é interpretada e à relação que se tem, portanto, com o signo visual apresentado. Então pode-se colocar em avaliação nesse grupo se (i) o sujeito está realmente tentando nomear a figura ou se apenas responde ao prompt (desliga-se da tarefa de nomeação), (ii) se o sujeito tem conhecimento de qual é o objeto referente apresentado a ele, ainda que não consiga nomeá-lo imediatamente e (iii) nos casos em que produz, o sujeito tem consciência de ter produzido uma parafasia. Quanto a (3) este grupo talvez que metodologicamente possa render mais discussões quanto à relação entre linguagem e imagem, considerando que teoricamente é o prompt fornecido pelo investigador o fator responsável por estimular o disparo da seleção da representação mental não realizada pelo sujeito ou mesmo somente da produção lingüística que será relacionada a uma seleção que já se mostra realizada. Nesse sentido, a estrutura e função do prompt devem ser cuidadosa e amplamente estudadas, à luz tanto das ciências cognitivas e lingüísticas quanto da semiótica. Citamos aqui a título ilustrativo alguns formatos de prompt que podem, neste estudo mais amplo, ter sua função esclarecida em relação ao que a produção lingüística representa face à imagem apresentada: (i) prompt fonêmico (progressão de fonemas fornecidos ao sujeito), (ii) o prompt é uma explicação do uso do objeto, (iii) O prompt é uma frase interrogativa, (iv) O prompt é um enunciado incompleto, cuja lacuna é a palavra-alvo. Pode-se avaliar, a partir desta discussão, as vantagens e desvantagens, ou mesmo a real possibilidade de pré-determinação do prompt na situação de teste.

Considerações Finais Ainda em relação à análise realizada para a produção deste trabalho, gostaríamos de ressaltar que a metodologia que utilizamos privilegiou uma análise qualitativa dos dados. Foram analisados os dados de quatro sujeitos com diagnóstico de afasia e três de DA, dos quais buscamos discutir dados que consideramos singulares - isto é - que elucidam processos (Abaurre, 1996). Temos ciência de que as observações e afirmações que produzimos neste Relatório Final precisam ser muito mais aprofundadas a partir da pesquisa com um número maior de sujeitos para que possamos obter conclusões efetivas sobre o TNB. Considerando que este é um trabalho em nível de iniciação científica, nos detivemos a estudar questões teóricas acerca das concepções de base da ND e analisar e discutir dados que trouxessem indícios de padrões e possibilitassem a elaboração de hipóteses ao menos pertinentes no contexto teórico apresentado. Estas hipóteses, dependendo da avaliação do PIBIC e de outros fatores, poderão se tornar o caminho de continuidade de minha pesquisa acadêmica.

Agradecimentos Gostaria, por fim, de agradecer: Ao SAE e ao PIBIC, pelo financiamento; À Fernanda Cruz, pelo apoio e discussões desde o início da formulação deste projeto. À Lou Kleppa, pelas observações e críticas em relação ao meu artigo no SEPEG;

4

A respeito de uma análise das parafasias produzidas e da relação com a métrica da palavra-alvo, baseamo-nos no trabalho

de Reisdorfer (2007). A caracterização das parafasias na perspectiva da Neurolingüística Discursiva.


Ao Hudson Beilke, pela discussão sobre este trabalho e disponibilização dos dados de aplicação do TNB em sujeitos com diagnóstico de DA; Ao grupo III do CCA, pelas agradáveis e ricas sessões de terça-feira de manhã em que pude estar presente; Aos funcionários e pesquisadores do CCA, que viabilizam estas sessões e delas produzem conhecimento científico; E, em especial, à Rosana Novaes Pinto, orientadora sempre disponível e disposta a debater e me guiar neste trabalho, mesmo num semestre atribulado e decisivo como este que passamos.

Referências Bibliográficas Referência Bibliográfica levantada ABAURRE, B. (1996). Os estudos lingüísticos e a aquisição da escrita. In CASTRO, M. F. (Org.), “O Método e o Dado no Estudo da Linguagem” Editora da Unicamp, Campinas, S.P., páginas 111 - 164 BAKHTIN, M. Os Gêneros do Discurso. In Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1991. ____ Dialogismo e construção do sentido / organizadora: Beth Brait. 2ª Ed. rev. Campinas/SP: editora da Unicamp, 2005. ____ Marxismo e filosofia da linguagem. 7ª Ed. São Paulo: Hucitec, 1995. CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária, 1943/1995. COUDRY, M.L.R. Diário de Narciso - Discurso e Afasia. São Paulo: Martins, 1988. CRUZ, F. M. A construção da referencia em uma situação interlocutiva entre sujeitos afásicos e não-afásicos In Koch, I., Morato, E. M. & Bentes, A.C.(orgs). Referenciação e Discurso. São Paulo: Contexto, 2005. FOUCAULT, M. O nascimento da clínica.- 5'ed.- Tradução de Roberto Machado, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1963/1998. FRANÇOZO, E.. Linguagem Interna e Afasia. Campinas, SP: [s.n.], 1987 (Tese). T/UNICAMP F849L HÉNAULT, Anne. História concisa da semiótica. Trad. de Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. JAKOBSON, R. Dois Aspectos da Linguagem e dois tipos de Afasia. In Lingüística e Comunicação, (34-62), São Paulo: Cultrix,1954/1981/1999. KAPLAN, E., GOODGLASS, H., & WEINTRAUB, S. The Boston Naming test. Philadelphia: Lea & Febiger, 1983. KOCH, I. V. G. A Referenciação como Atividade Cognitivo-Discursiva e Interacional. In: Cadernos de Estudos Lingüísticos, vol.41. Campinas: Editora da Unicamp, 2001. LAHUD, Michel. Alguns mistérios da Lingüística. Almanaque, Caderno de Literatura e Ensaio, 5. São Paulo: Brasiliense, 1977. MANSUR, Letícia Lessa et al. Teste de nomeação de Boston: desempenho de uma população de São Paulo. Pró-Fono R. Atual. Cient., Jan 2006, vol.18, no.1, p.13-20. ISSN 0104-5687 MARCUSCHI, L. Referenciação e progressão tópica: aspectos cognitivos e textuais. In Cadernos de Estudos Lingüísticos, n. 48(1) – Jan./Jun. 2006; pp. 7-22. MORATO, E.M.. Um estudo da confabulação no contexto neuropsicológico: O discurso à deriva ou as sem-razões do sentido. Campinas, SP: [s.n.], 1995 (Tese).


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ANEXO I Figuras do Teste de Vocabulário de Boston

1

2

3 2ª Edição Teste

4

5

5

6

7 2ª Edição Teste

8

9

9

10


2ª Edição Teste

10

11

12 2ª Edição Teste

13

14

14 2ª Edição Teste

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16

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2ª Edição Teste

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26 2ª Edição Teste

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39

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2ª Edição Teste

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42

43

44

45

46 2ª Edição Teste

47

48

48

49

50


2ª Edição Teste

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51

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58

2ª Edição Teste

58

60


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