APLICAÇÃO DE ELEMENTOS DE MODELAGEM DOS ANOS 50 EM COLEÇÃO DE MODA Bruna Caroline Marques1 Malva Ouriques2
RESUMO A modelagem utilizada na década de 1950 apresentava muitos recortes e pences que se ajustavam ao corpo e traziam feminilidade ao vestuário. Com a evolução da indústria e a necessidade de confeccionar roupas com maior rapidez, esses elementos foram simplificados. No entanto, há um público que se identifica com essa década, especialmente com a feminilidade e caimento que a roupa proporcionava. Por essa razão, o presente estudo tem por objetivo desenvolver uma coleção de roupas femininas a partir das técnicas de modelagens utilizadas na década de 1950 tendo como alvo o público que se identifica com o movimento Rockabilly. Para esse fim, foi realizado levantamento das características da moda da década de 1950 a partir de pesquisa bibliográfica, estudado o movimento Rockabilly e seus adeptos. Em seguida, foram selecionados os métodos Toutemode e Gil Brandão, que eram utilizados na época, para a realização das modelagens. O resultado foi uma coleção de 15 looks composta de peças ajustadas, com muitas pences, recortes, saias godês e elementos que remetem à década de 1950, porém atualizadas para o contemporâneo. Palavras-chave: Modelagem; Anos 50; Rockabilly. 1 INTRODUÇÃO Com o fim da Segunda Guerra Mundial as pessoas voltaram ao desejo de se vestir bem. A modelagem dos anos 50 fez a roupa da mulher mais feminina, glamourosa e elegante, com muitas pences e recortes que se ajustavam ao corpo, seguindo a moda lançada pelo “New Look”, nome que foi dado à criação de Dior, criação essa que mudou a estética da década de 50. (SPAINE; PINHEIRO, 2013). Com o surgimento da roupa pronta para vestir, o chamado Prêt-à-porter, as modelagens se simplificaram para que as produções fossem sendo criadas e confeccionadas com mais rapidez. Com essas mudanças, as roupas foram se transformando na forma, caimento e modelagem. 1
Aluna do 6º período do Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda da Faculdade de Tecnologia Senai Curitiba. 2 Professora da disciplina de Modelagem Industrial, do Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda da Faculdade de Tecnologia Senai Curitiba, Orientadora do estudo.
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Neste contexto, este estudo irá identificar as modelagens utilizadas na década de 1950, resgatando suas técnicas e formas que hoje, com a evolução da indústria acabaram por se perder, devido à necessidade de confeccionar roupas em larga escala com rapidez de trocas de coleções que o mercado exige. Dessa forma, o objetivo geral desse estudo é desenvolver uma coleção feminina a partir dos recursos de modelagem comuns utilizados na construção de roupas da década de 1950. Tal coleção será destinada ao público que se identifica ou simpatiza com o movimento Rockabilly, que até hoje faz sucesso através de bandas musicais e possuem seguidores fãs do estilo. Para atingir esse objetivo será realizado levantamento teórico da moda da década de 1950, identificação dos métodos de modelagem utilizados no período, estudo do movimento Rockabilly, adeptos e simpatizantes e estudo comparativo através de protótipos dos métodos de modelagem utilizados em torno da década de 1950, e dos métodos atuais. Para realização do estudo, será utilizada pesquisa exploratória do tipo bibliográfica, com consulta em livros, periódicos, artigos e revistas da década de 1950. A segunda etapa do trabalho consiste na criação de um projeto de coleção feminino, para isso, serão realizadas experimentações em tecidos utilizando diferentes recursos de modelagem. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 A MODA E A ROUPA: ANOS 50 Segundo Barnfield (2014), depois das restrições de tecido e da moda que ocorreram durante a Segunda Guerra Mundial, que durou de 1939 a 1945, Christian Dior revolucionou o mundo da moda com a introdução de uma nova silhueta em que a linha da cintura era levantada até a sua posição natural (ver figura 1).
FIGURA 1 – O NEW LOOK DE DIOR, 1948.
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FONTE: Laver (2014)
Carmel Snow, editora da Harper’s Bazaar, batizou essa primeira coleção de primavera de Dior como “New Look”, ela consistia em uma silhueta justa e confortável, com ombros pronunciados, cintura marcada e saias rodadas amplas com comprimentos mais longos. Essa silhueta se destacou até meados da década de 1950. Laver (2014) analisa que, depois de crises, a moda costuma apresentar uma tendência para o luxo, pois possui uma nostalgia de uma era “segura”. As saias começam a se tornar amplas, as mulheres européias também desejavam substituir o rígido corte masculino por curvas femininas e saias dançantes. O New Look de Dior baseou-se nos modelos da década de 1860, com cinturas apertadas, saias muito amplas e meticulosamente forradas e blusas estruturadas, chegando até mesmo a colocar enchimento no busto e nos quadris para acentuar as curvas. O referido autor ainda afirma que: Após o New Look, seguiram-se dez anos de intensa atividade e agitação na moda.(...). Fora de Paris ocorria uma revolução jovem. As moças queriam sua própria moda e não versões açucaradas da moda de suas mães. Um look popular era o do “estudante de arte”, a antítese do luxo da moda vigente. Algumas modas jovens tiveram origem no sportwear, americano, como calças cigarrete até os tornozelos, sapatos baixos em forma de sapatilhas de balé, jeans.(...).(LAVER, 2014, p. 260- 261)
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Nery (2013) afirma que após o New Look de Dior, inúmeras tendências apareceram, sempre a fim de manter o predomínio de Paris na alta-costura. Nos anos 1950, as linhas A, H, e Y sucediam-se em ritmo rápido e anulando-se uma após a outra. As mulheres deixaram claro que não queriam abrir mão de alguns privilégios conquistados na guerra, como, por exemplo, o de usar calças, ainda que de vez em quando, seja nas ruas, em casa, nos esportes ou até nas casas noturnas. Uma moda jovem começou a se fortalecer, com calça cigarette ¾, suéteres, t-shirts, paletós folgados, sapatilhas de balé e jeans. Braga (2005) comenta que as variações nas roupas eram constantes, pois Paris tinha que continuar sendo o centro lançador de moda. Existia a “Linha H”, a “Linha A”, que era muito aceita, pois abria os vestidos ou saias com casaco do busto ou da cintura para baixo, a “Linha Y” (ver figura 2), que evidenciava o colo em grandes golas de formato em “V” e os vestidos chemisier, inspirados na camisa, uma vez que eram abertos na frente de cima a baixo e fechado por botões. FIGURA 2 – AS LINHAS A, H E Y DE DIOR
FONTE: Campanholi (2014)
O referido autor ainda comenta que na década de 50, os jovens norteamericanos começaram a buscar uma identidade própria para sua moda, associando-a a determinados comportamentos. Usavam cardigãs de malha, saias rodadas, sapatos baixos, meia soquetes e rabo-de-cavalo, que faziam o estilo College. As calças compridas cigarretes, justas e curtas à altura das canelas, usadas com sapatilhas foram muito populares entre elas. A frente única voltou a ter popularidade nos anos 1950, quando o modelo de decote quadrado com um corpete justo e estruturado tronou-se popular tanto para o
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dia, quanto para a noite em vestidos de algodão e vestidos longos mais elaborados. (BARNFIELD, 2014,p. 18). Para Braga (2005), a indústria do Prêt-à-porter tornou-se cada vez mais significativa, especialmente por influência norte-americana, e o sports-wear se popularizava cada vez mais. “Mas até o final dos anos 1950, o Prêt-à-porter será pouco criativo em matéria estética, dará continuidade à lógica anterior: a imitação sensata das formas inovadas pela alta costura.” ( LIPOVETSKY, 2014, p. 127). Segundo Baudot (2008), devido à crise com a segunda guerra mundial, os Estados Unidos passou a cobrar um imposto de 90% sobre as roupas importadas, havia somente isenção de franquias para as telas e os moldes, isso levou ao desenvolvimento de uma técnica de reprodução baseada nas telas-moldes. Esses modelos eram simplificados e poderiam ser fabricados em diferentes tamanhos. Para Laver (2014), as roupas da década de 40 enfatizaram a cintura e o busto, apertando uma e realçando o outro. Na década de 50, os quadris se transformaram no foco erótico através do corte inteligente sobre eles. “O jeans não pode ser esquecido, como a grande afirmação da moda jovem, não só em seus modelos tradicionais como também nos novos, com inúmeras intervenções modernas à sua época.” (BRAGA, 2005, p. 87). Segundo Reed (2014), nos anos 1950, o jeans espalhou-se para além de sua terra natal californiana, a variedade de produtos feitos com denim aumentou, e o material se firmou como emblema dos descolados. De acordo com Catoira (2006), o ritmo do rock in roll continua revolucionando o mundo: ao mesmo tempo que contagia, choca os mais tradicionalistas, com seus movimentos irreverentes, e transforma o jeans em peças da moda jovem. 2.2 ESTILO ROCKABILLY Segundo Mazzoleni (2012), um baby-boom extraordinário levou ao aumento do número de adolescentes a partir da década de 1950. A próspera economia americana deu as condições para o desenvolvimento do Rock’n’roll e de uma nova classe de consumidores adolescentes. Ao final do dia letivo, os bares, com seus jukeboxes, eram um ótimo lugar de socialização entre os estudantes, os adolescentes agora eram capazes de escolher sua própria música, de acordo com
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seus hormônios. Pela primeira vez, uma geração inteira se emancipou e se definiu por sua própria cultura musical. Escutar Rock’n’roll era como um ato de desafio que dava certo prestígio cultural, em voga dentro da classe média branca. Para Stevenson (2012), nada foi mais característico do adolescente dos anos 1950 que o Rock and Roll, e o visual da menina de saia rodada e meia soquete dos anos 1940 evoluiu para uma cultura jovem em que a moda estava inextricavelmente ligada à música. De acordo com Reed (2014), o Rockabilly (ver figura 3) surgiu no início da década de 1950 e foi um dos primeiros gêneros do rock. Estilo musical de Elvis, Buddy Holly e Bill Haley, o termo Rockabilly é uma mistura de Rock’n’roll e hillbilly, referência à música country, que era chamada assim nas décadas de 1940 e 1950, a partir de então, música e estilo estariam ligados de modo inseparável. FIGURA 3 – O ROCKABILLY
FONTE: Reed (2014)
Para Molinar (2016), o Rockabilly originalmente é o rhythm’n’blues dos negros tocados por caipiras. Talvez a primeira música de Rockabilly gravada tenha sido Rock Around the Clock, de Bill Haley and His Comets, mas a que consolidou o gênero e mudou o mundo foi That’s All Right, gravada por Elvis Presley, em 1954. Ainda segundo o referido autor, a expressão Rockabilly, que foi o primeiro subgênero do Rock, começou a ser usada pela mídia como sinônimo de rock and roll. Assim como veio o som, logo apareceram os greasers. Bad Boys de brilhantina
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no cabelo penteado para trás, blue jeans, camisetas brancas ou camisas xadrez, canivetes no bolso e um cigarro pendurado na boca. Assim como as garotas em vestidos rodados, saias mais curtas, calças, lenços no cabelo e outros acessórios que as mulheres começaram a usar nos anos 50, essas conhecidas como pin up’s. Graças ao cinema, que vivia sua época de ouro com os filmes de Marlon Brando e James Dean, a rebelião juvenil americana atravessou o atlântico e na Inglaterra começam a aparecer os greasers, lá conhecidos por Teddy Boys. A diferença do greaser (americano) para o Teddy boy (inglês) é que os greasers usavam as vestimentas já citadas, já os Teddy boys usavam mais os trajes inspirados na era eduardiana (primeira década dos anos 1900, durante o reinado de Eduardo VII), introduzidos por estilistas de Savile Row, uma rua de Londres. Ainda segundo Molinar (2016), o Rockabilly se espalhou pelo Brasil durante os anos 90, e atualmente, a nova geração de rockers já mostrou que não quer deixar nada a desejar, garotos e garotas na faixa dos vinte anos provam que o Rockabilly não acabou nos anos 50 ou 80. Há uma renovação de público e de idéias partindo desse pessoal mais novo. Afinal, no futuro, serão eles que levarão o movimento adiante. O autor ainda afirma que esse gênero nunca morreu, embora tenha sofrido alterações com o passar dos anos. O movimento continua ganhando novos adeptos e deve ser visto como uma forma de libertação da falsa moralidade enrustida na sociedade em geral. Não é um movimento partidário, mas um movimento político pessoal e saudosista, que possui integrantes verdadeiros e fiéis a ele. O Rockabilly entrou para a história, mas não ficou na história, pois se reinventa a cada ano, mesclando todos os seus períodos e novos elementos que vão surgindo. 2.3 MODELAGEM Para Sabrá (2009), a modelagem é considerada um fator de competitividade, visto que exerce grande influência sobre o consumidor no momento da aquisição de um produto do vestuário. Diante de uma oferta de produtos muitas vezes semelhantes, como é o caso da moda, o consumidor irá optar pelo que atender não só pelo estilo, pela cor e pela função, mas também o que melhor vesti-lo, ou seja, o que tiver a melhor modelagem. Ao estabelecer uma coleção, são desenvolvidos protótipos antes das peças definitivas, ensaiando a modelagem, a matéria-prima, o caimento, os tempos e métodos de fabricação, dentre outros.
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Ainda segundo Sabrá: A modelagem dentro do processo de confecção é um ponto essencial no processo de transformação têxtil em vestuário, que influencia e sofre influência direta do mercado, já que é tido como peça fundamental na motivação de compra do consumidor de produtos de vestuário.(2009, p. 21)
Os modelistas são intérpretes de uma linguagem baseada em desenhos e anotações de estilistas e comerciais. O seu objetivo consiste em produzir moldes que reproduzam o desenho e estejam de acordo com as medidas feitas pelos estilistas. (ARAÚJO, 1996). De acordo com Menezes e Spaine (2010), a modelagem plana utiliza os princípios da geometria para traçar os diagramas bidimensionais nos planos (moldes), e que resultam em formas que se adaptam ao corpo do usuário. Esses moldes são colocados sobre o tecido, cortados e unidos por costuras que resultarão nas vestimentas. O molde traçado no papel de forma bidimensional, com auxílio de materiais e instrumentos de modelar, constitui-se de diagramas formados por ângulos de 90º e de linhas retas e curvas, que vão tomando formas, sempre de acordo com a tabela de medidas padronizadas para os diversos segmentos do design do vestuário. (ver figura 4). FIGURA 4 – BASE DE BLUSA FEMININA
FONTE: Brandão (1967)
Devido às variações dos produtos e aos diferentes tipos de tecidos, a modelagem sofre alterações na construção do molde, esse processo é realizado por meio das folgas e encolhimentos que são necessários na elaboração de novos moldes.
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Segundo Prado e Braga (2011), a criação de moda se mantinha restrita à altacostura, na França. Os modelos eram lançados semestralmente nas temporadas de desfiles por estações, às massas restava a possibilidade de copiar a moda, por meio de croquis e fotos divulgados pelas revistas femininas em todo o mundo. Na década de 1950, a copiagem ou imitação das coleções lançadas a cada estação pelas casas de haute couture tornara-se um problema para os costureiros franceses. Eles desfrutavam de um prestígio internacional que tornava quase inevitável a imitação ou a copiagem da moda que lançavam. As casas de alta moda sob medida do Brasil, que copiavam a moda francesa, chegam a seu apogeu na década de 1950, trazendo as criações de Dior (linha A) e Balenciaga (linha I). Para Maleronka (2007), a crescente valorização dos ofícios femininos, a partir da década de 1930, estimulou muitas mulheres a aprender a costurar, em um momento em que a indústria do vestuário já registrava forte expansão, mas ainda não atendia à demanda da população, que com freqüência recorria ao trabalho de costureiras e alfaiates. Isso levava a proliferação de escolas de costura que, valendo-se de meios pedagógicos, ministravam esses conhecimentos técnicos. De acordo com Sabrá: No Brasil, metodologias internacionais eram divulgadas por meio de cursinhos aplicados em igrejas, casas de costureiras e algumas instituições. Muitas delas são conhecidas até hoje, como a toutemode, do professor Justiniano Dias Portugal, o centesimal e o molde cópia, dentre outros. Alguns figurinistas se destacaram na divulgação de métodos próprios, como o estilista Gil Brandão, que se tornou bastante popular e teve trabalhos publicados em jornais e revistas. (2009, p. 70)
Também contribuía para a aceitação da costura a forte influência dos meios de comunicação, especialmente as revistas femininas e o rádio, que reforçavam a importância em adquirir esses conhecimentos. (MALERONKA, 2007, p.80-81). Alceu Penna, jovem desenhista mineiro, foi procurado por Accyoli Netto, jornalista editor da revista de moda “O Cruzeiro” (ver figura 5), em 1933 para retratar em suas revistas, de forma não agressiva às famílias, as pin-ups, que faziam sucesso na imprensa norte-americana.
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FIGURA 5 – CAPAS DE REVISTA “O CRUZEIRO”
FONTE: Revista O Cruzeiro (2017)3.
A expressão Pin-up era usada para definir uma figura de mulher em pose sensual, do tipo que os homens desejavam ter pinned up (pendurada) na parede, ou como se popularizou no Brasil, a “garota do calendário” ou “do pôster de borracharia”. Surgia assim uma das mais famosas e duradouras seções de O Cruzeiro, publicada por 26 anos ininterruptos. A seção “As garotas do Alceu” capturava o interesse tanto masculino – pela sensualidade das poses – quanto feminino – em razão dos modelos de roupas detalhados, pautados pelas estações do ano e datas sociais. Aos poucos, a seção de Alceu foi se tornando um referencial de comportamento e moda, com suas garotas “endiabradas” difundindo hábitos associados a um ideário de independência e emancipação femininas. (PRADO; BRAGA, 2011) No campo da moda, As garotas do Alceu influenciavam as leitoras a assumir novos comportamentos e modelos. Por exemplo, estimularam o uso de saias mais curtas, de calças compridas, de shorts, do maiô de duas peças ou do baby-doll. Alceu produzia verdadeiros croquis de moda (ver figura 6), que podiam (e eram) copiados pelas mulheres, algumas vezes os desenhos chegavam a detalhar os cortes das roupas, sugerindo texturas e tramas para os tecidos. (PRADO; BRAGA, 2011). 3
Imagem disponibilizada em http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx? bib=003581&PagFis=66763&Pesq= . Acesso em 15 ago 2017
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FIGURA 6 – AS GAROTAS DO ALCEU
FONTE: Prado; Braga. (2011)
No Brasil, destaca-se Gil Brandão, que foi o primeiro e maior divulgador do método de corte baseado em regras geométricas no país. Em seu livro “Aprenda a costurar”, Brandão ensina a tirar as medidas necessárias para a confecção de trajes, além de ter algumas medidas criadas pelo autor, sobre as relações entre ombro e costas, altura da cava ideal na blusa, meia largura da manga para uma cava qualquer, meia largura e a cava da manga, elementos para o traçado de mangas e folgas. (KNUPP; CAPELASSI, 2008). Para Beduschi e Italiano (2013), o material dispõe de diversos volumes, que abordam o passo a passo dos traçados, bem como suas possíveis alterações, e também informa a medida aproximada de tecido a ser utilizado, ensinando a calculála. Ainda apresenta modelagens de diferentes graus de dificuldade e fornece informações sobe os tecidos que podem ser utilizados em cada uma delas. Brandão também apresenta croquis com o desenho das peças que serão confeccionadas, ao mesmo tempo em que demonstra o diagrama final da modelagem que é seguida pelas etapas de elaboração do molde. De acordo com Nacif (2006), o curso Toutemode (ver figura 7), inaugurado em 1938, visava formar mão-de-obra especializada no ofício de costureira, alfaiate chapeleira, decoração do lar, culinária, etiqueta social, maquiagem e penteados e
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desenho para modas, conferindo diplomas regulamentados pelo MEC. Sob direção geral do Professor J. Dias Portugal, tendo como secretário-tesoureiro seu filho, Ellerme Portugal e uma equipe de professores por todo o Brasil. FIGURA 7 – REPORTAGEM SOBRE A ORGANIZAÇÃO TOUTEMODE
FONTE: Biblioteca Nacional Digital4
No final do período de ensino, que durava geralmente dois anos, os alunos eram examinados por uma banca de professores credenciados pelo Ministério, quando deveriam dar provas de conhecimentos e habilidades técnicas, interpretando um molde escolhido pela banca para esse fim e apresentando um conjunto de peças feitas.
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Imagem disponibilizada em http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx? bib=348970_05&pagfis=32115&url=http://memoria.bn.br/docreader#. Acesso em 15 ago 2017
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2.4 ANÁLISE DIACRÔNICA E SINCRÔNICA Para Pazmino (2015), a análise diacrônica é um exame dos fenômenos culturais, sociais, tecnológicos, etc., observados quanto à evolução de um produto. Ou seja, é um levantamento das características de um produto a ser desenvolvido. Devem-se levantar fatores históricos, técnicos, culturais e sociais que têm influenciado no design do produto para a satisfação das necessidades. Já a análise sincrônica serve para comparar os produtos em desenvolvimento com produtos existentes ou concorrentes, baseando-se em variáveis mensuráveis, ou seja, que podem ser medidas. Essas análises serão relevantes para verificar de que forma eram trabalhados os elementos de modelagem na década de 50, e como são feitos hoje, com as marcas atuais. A partir dessas análises, serão escolhidos os elementos a serem realizados na coleção. Na figura 8 pode ser observada a análise diacrônica da revista “O Cruzeiro” da década de 1950. Pode-se notar, em todas as edições dos exemplares da revista O Cruzeiro analisados a presença de saias, transpasses, cintura destacada, pences, recortes e golas trabalhadas (ver figura 8).
FIGURA 8 – ANÁLISE DIACRÔNICA DA MODA DOS ANOS 50 - REVISTA O CRUZEIRO
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FONTE: Revista O Cruzeiro (1952, 1953, 1955, 1956-1959) NOTA: Dados trabalhados pelo autor.
Podemos verificar a presença de saias volumosas, assim como também saia lápis, modelando o corpo da mulher, gola Dior, Cintura no lugar, transpasses, muitas pences e recortes. As cinturas eram minúsculas, puxadas para dentro por uma roupa de baixo conhecida como waspie ou guêpière; as saias godês obtinham volume através de saiotes de tule de várias camadas que iam até abaixo da barriga da perna. (MENDES; HAYE, 2009, p. 126). As saias-lápis são extremamente versáteis e rapidamente tornaram-se um traje de trabalho comum no início dos anos 1950. (BARNFIELD, 2014, p. 60). A seguir, análise sincrônica dos desfiles da coleção Verão 2017 - Ready to Wear (RTW) (ver figura 9).
FIGURA 9 – ANÁLISE SINCRÔNICA MARCAS DIOR E CHANEL
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FONTE: O Autor NOTA: Dados trabalhados pelo autor.
A análise sincrônica apresentou os mesmos elementos da analise diacrônica, porém com uma leitura mais contemporânea. Podemos verificar que alguns elementos continuam sendo trabalhados, como as saias volumosas, saia lápis, gola Dior e transpasses. As saias perderam um pouco do volume, a saia lápis não proporciona o caimento que modelava o corpo e as cinturas não estão marcadas como antes, deixando as peças mais soltas ao corpo. 3 DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO 3.1 PÚBLICO-ALVO Mulheres, de 20 a 35 anos, adeptas do estilo ‘Pin Up’, que frequentam eventos com a temática retrô, nos quais se ouve principalmente o Rockabilly, seu estilo musical favorito, são o público alvo escolhido para essa coleção. Não importa se casadas ou solteiras, com filhos ou não, gostam de aproveitar cada minuto da vida, sentirem-se belas e sedutoras, com suas roupas, penteados e maquiagem elegantes e sensuais, como os utilizados na década de 1950.
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Frequentam bares com os amigos, escutam Elvis Presley, Stray Cats, Bill Haley and His Comets, Johnny Cash, mas também escutam Rock atual, como AC/DC, Kiss, Motorhead e Metallica. A maioria é tatuada, adoram tirar fotos e postar nas redes sociais mostrando suas roupas e penteados (ver figura 10). FIGURA 10 – PÚBLICO ALVO
FONTE: O Autor
3.2 MATERIAIS E MÉTODOS A coleção foi baseada no estudo da modelagem e elementos que caracterizam a estética dos anos 1950, como as pences e recortes que se ajustam ao corpo, mangas trabalhadas, saia godê e lápis, golas estruturadas, decotes e transpasses. Para os estudos que resultaram no desenvolvimento da coleção, foram utilizadas algumas edições da revista de moda dos anos 1950 “O Cruzeiro” e os livros de métodos de corte e costura utilizados na época, como o Método Toutemode e Gil Brandão.
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Foram escolhidos tecidos planos brim e denim, por serem tecidos mais estruturados e atenderem aos requisitos da silhueta da época. Segundo Braga (2005) o jeans foi a grande afirmação da moda jovem, com inúmeras intervenções modernas à sua época. Para Reed (2014), nos anos 1950, o denim se firmou como emblema dos descolados. De acordo com Catoira (2006), o ritmo do rock in roll transforma o jeans em peças da moda jovem. Para a cartela de cores, optou-se pelo vermelho, cor essa que remete á sensualidade das Pin Ups, o azul, que lembra a moda jovem do Jeans, o preto e o branco, cores básicas e o verde militar, que remete à segunda guerra mundial, que terminou em 1947, porém ficou muito presente na indumentária na década de 1950. Foi desenvolvido estudo de modelagem a partir dos livros de corte e costura de Gil Brandão e o Método Toutemode, que eram utilizados na época. Para isso, foi feito prototipagem de uma saia godê listrada e uma manga drapeada em algodão cru e posteriormente em tecido (ver figura 11). FIGURA 11 – ESTUDOS DE MODELAGEM
Fonte: O Autor
Para a criação da coleção, foi feito um painel de inspiração com referências dos anos 50, com referências de indumentária, música, decoração e veículos. FIGURA 12 – PAINEL DE INSPIRAÇÃO
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Fonte: O Autor
3.3 RESULTADOS O resultado foi uma coleção composta de 15 looks, com elementos que rementem às formas e silhuetas da estética dos anos 1950, como as pences e recortes que se ajustam ao corpo, mangas trabalhadas, saia godê, golas estruturadas, decotes e transpasses. A coleção é composta de 23 peças, sendo 08 tops, 09 bottons e 06 singles.
3.3.1 A Coleção
LOOK 1
LOOK 2
LOOK 3
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- Elementos trabalhados: Transpasse, pences, Saia godê escama de peixe (estudos realizados à partir de: As garotas do Alceu e Método Toutemode)
LOOK 4
- Elementos trabalhados: Gola Dior, escama de peixe, Cintura alta marcada. (estudos realizados à partir de:Método Toutemode e As garotas do Alceu)
LOOK 7
- Elementos trabalhados: Transpasse com pregas, Saia godê em recortes. (estudos realizados à partir de: Método Toutemode e Revista “O Cruzeiro”)
LOOK 5
- Elementos trabalhados: Gola Dior,pences, Saia godê, abertura frontal (estudos realizados à partir de: As garotas do Alceu)
LOOK 8
- Elementos trabalhados: Saia lápis, mangas trabalhadas, pences (estudos realizados à partir de: Livro “El corte de Oro”)
LOOK 6
- Elementos trabalhados: Cintura marcada, saia godê com abertura frontal (estudos realizados à partir de: As garotas do Alceu e Método Toutemode)
LOOK 9
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- Elementos trabalhados: Pences, cintura marcada, escama de peixe. (estudos realizados à partir de:Método Toutemode)
- Elementos trabalhados: Recortes, saia godê (estudos realizados à partir de: Método Toutemode)
- Elementos trabalhados: Cintura marcada, saia godê (estudos realizados à partir de: Revista “O Cruzeiro / Dior)
LOOK 10
LOOK 11
LOOK 12
- Elementos trabalhados: Mangas elaboradas, pences no decote, saia godê (estudos realizados à partir de: Método Toutemode e Gil Brandão)
- Elementos trabalhados: Recortes, pences, Cintura alta marcada (estudos realizados à partir de: As garotas do Alceu / Gil
- Elementos trabalhados: Recortes e pences, mangas trabalhadas, cintura marcada (estudos realizados à partir de: As garotas do Alceu / Gil
Brandão)
Brandão e Método Toutemode)
LOOK 13
LOOK 14
LOOK 15
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- Elementos trabalhados: Saia lápis e godê (estudos realizados à partir de: Método Toutemode / Gil Brandão)
3.3.2 Ensaio fotográfico 1º look confeccionado: LOOK 5
- Elementos trabalhados: Saia godê, abotoamento frontal (estudos realizados à partir de: As garotas do Alceu)
- Elementos trabalhados: Mangas trabalhadas, pences, saia godê (estudos realizados à partir de: Método Toutemode / As garotas do Alceu)
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Modelo: Mayara Teixeira Local: Barbearia Vincent 2ยบ look confeccionado: LOOK 1
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Modelo: Pamela Dias Local: Barbearia Vincent
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A modelagem tem grande importância na construção de roupas e nos efeitos e caimentos que ela apresenta sobre o corpo. A partir de estudos sobre a modelagem e corte e costura da década de 1950, foram resgatados alguns elementos e formas dessa década, como as pences, os recortes, mangas trabalhadas e saias godês listradas. Elementos esses, que foram se simplificando com o tempo devido a necessidade de confeccionar roupas em grande escala. A coleção desenvolvida pretendeu apresentar peças que resgatam a feminilidade, o caimento e a cintura no lugar, que é objeto de desejo do público-alvo adeptos ao movimento Rockabilly, como as Pin Ups.
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REFERÊNCIAS ARAÚJO, M. Tecnologia Gulbenkian,1996.
do
Vestuário.
Lisboa:
Fundação
Calouste
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TERMO DE APROVAÇÃO
BRUNA CAROLINE MARQUES
APLICAÇÃO DE ELEMENTOS DE MODELAGEM DOS ANOS 50 EM COLEÇÃO DE MODA
Este trabalho foi julgado e aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de tecnólogo do Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda na Faculdade de Tecnologia Senai Curitiba.
______________________________________ Edson Korner Coordenador
Orientador(a):
Malva Valeria de A. Ouriques Profº/ª ____________________
Banca:
Daniela Gomes Nogueira
Profº/ª ____________________
Roseli do Pilar M. Stencel
Profº/ª ____________________
Curitiba, _______/____________/_______
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao meu amor, Giulliano Pinheiro, que sempre acreditou em mim, nunca me deixou desistir, esteve em todos os momentos comigo nessa jornada acompanhando de perto meu esforço e dedicação. Agradeço também à minha professora orientadora Malva Ouriques, que me ajudou na realização deste trabalho e a minha mãe Ana Maria Lopes, que não me deixou desistir no começo. Não poderia deixar de agradecer também ao Vicente Amaral, da Barbearia Vincent, que cedeu o espaço para as fotos do ensaio fotográfico, por duas vezes. E aos fotógrafos Tiago Sureck e Rodrigo de Souza, e minha modelo linda Pamela Dias, meus queridos amigos.