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Expressionismo Alemão
from Trilha da Morte
Expressionismo Alemão
Em 1895 na Alemanha, os irmãos Skladanovsky inventaram o bioscópio,um projetor primitivo que exibia as primeiras imagens em movimento para o público. No mesmo ano na França, os irmãos Lumière apresentaram um aparelho semelhante: O cinematógrafo, que foi considerado um aparelho tecnicamente superior ao bioscópio. O cinema alemão, em seus primeiros 20 anos de existência, não obteve um grande desenvolvimento, pelo fato de até 1911 a Alemanha produzir apenas 10% dos filmes exibidos em seus cinemas (Lara Loguercio Cánepa, 2012, p. 62). Prejudicando ainda mais o estudo aprofundado no gênero expressionista, muitas obras se perderam durante a guerra.Em 1912, o produtor Paul Davidson (da produtora Pagu), criou o que chamamos de “filme de autor”, ou em alemão Autorenfilm, que são as obras cinematográficas criadas a partir de adaptações de grandes escritores da literatura (Nazário, 2002, P. 507). Um dos mais destacados artistas foi o diretor de teatro - e posteriormente de cinema - Max Reinhardt. O primeiro filme do autor foi o drama psicanalítico “O outro” (1913) e no mesmo ano foi lançado o filme mais conhecido daquela época: O estudante de Praga (1913), dirigido por Paul Wegener e Stellan Rye. O filme, baseado no conto “William Wilson” de Edgar Allan Poe, retrata a história de um estudante que vende o reflexo de sua imagem para uma figura um tanto diabólica e sarcástica, com a intenção de ficar rico e conquistar sua amada. A partir desse momento, sua vida entra em colapso com a perseguição do seu outro “eu”. Produzido na cidade de Praga, na época do Império Austro-Húngaro, a obra traz consigo elementos místicos - como a cigana - e cenários mórbidos de cemitério (Carine Lorensi, 2012, A essência de Poe no cinema mudo alemão, Revista Universitária do Audiovisual).
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Colagem do filme “O Estudante de Praga” 1913. Foto: IMDB Internet Movie Database
De 1916 até 1917 foi produzida uma série de seis filmes “Homunculus, de Otto Rippert. Os filmes trazem a história de um homem feito em laboratório (Olaf Fonss) que quer dominar o humano devido à sua revolta de ter condições não humanas. Os filmes retratavam a história usando recursos que se tornaram famosos no estilo expresionista alemão (Laura Loguercio Cánepa, 2012, p. 64). A estética cinematográfica era marcada por uma experiência que se dava pelas características da filmagem de baixo orçamento e dos truques que eram usados para a produção de filmes que carregavam efeitos dramáticos de sombra e luz, vilões com poderes sobrenaturais e a importante ligação com o gótico.
A UFA (Universum Film Aktien Gesellschaft) foi uma companhia fundada pelo estado alemão que centralizou a maior parte da produção, distribuição e exibição de filmes na Alemanha durante o pós-guerra na República de Weimar. (Laura Loguercio Cánepa, 2012, p. 66). Com o boicote internacional do cinema alemão durante a Primeira Guerra, a UFA decide, imediatamente após a guerra, garantir salas de cinema em países neutros como a Suíça, Holanda e Espanha, o que permitiu ao país retomar seus laços com o cinema no resto do mundo. Em 1921 foi lançado no exterior o filme mais significativo do movimento expressionista alemão: O gabinete do dr. Caligari (1920), dirigido por Robert Wiene. Próximo da Bauhaus, provavelmente o artefato mais celebrado da república de Weimar foi um filme exibido em Berlim em fevereiro de 1920, “O gabinete do dr. Caligari”. Willy Haas escreveu mais tarde: “ Aí estava a Alemanha gótica, sinistra, demoníaca, cruel”. Com seu enredo de pesadelo, sua tendência expressionista, sua atmosfera obscura, Caligari continua personificando o espírito de Weimar para a posteridade (...) É um filme que merece integralmente sua imortalidade, uma experiência que gerou uma série de outras experiências (Peter Gay, 1978, p. 119). O filme “O gabinete de dr. Caligari” (1920), por Robert Wiene foi conceituado como a obra que marcou o início do gênero cinematográfico do Expressionismo alemão, foi a obra-prima que possibilitou a formalização do gênero
no cinema. O movimento que teve origem e fim em um período entre guerras, obtêm seu auge no Pós-Guerra, quando a Alemanha se torna a República de Weimar. A inclinação dos temas e da estética proposta por esta escola, se deve ao fato de que, no Pós-Guerra, a Alemanha sofria de uma grande crise econômica e política somadas com o descontentamento coletivo e a perda de esperança da população. As narrativas mórbidas, o misticismo e a aura macabra persistentes nos filmes, demostra um reflexo da angústia presente na rotina do povo alemão naquela época.
De acordo com Kracauer (1985), a intensão do filme “O gabinete de dr. Caligari” era fazer uma crítica ao autoritarismo e à obediência sem o questionamento e sem a reflexão. A tarefa de definir a cinematografia expressionista se torna um trabalho complexo e denso, dado que o gênero não possui uma definição baseada em padrões estéticos rigorosos, mas sim de aspectos estratégicos e específicos com relação a composição (cenografia, fotografia e mise-en-scène), temática recorrente (situações dramáticas e construção do personagem) e estrutura narrativa (modo de contar as histórias) (Laura Loguercio Cánepa, 2012, p. 69). Filmes como “Genuine” (1920), por Robert Wiene, “A morte cansada”(1921), por Fritz Lang e “Nosferatu: Uma sinfonia do horror” (1922), por Friedrich Wilhelm Murnau são obras que, criadas após o “Caligari” trazem a junção de elementos ligados à luz, decoração, arquitetura, distribuição das figuras e sua organização em cena. O que estava enfatizado era a maquiagem dramática dos atores e os figurinos estilizados.