Maio e Junho | 2014 | Rio Grande do Sul | Ano I | nยบ 6
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EDITORIAL
CIRCULAÇÃO
É a vez delas Tapejara
Elas deixaram de protagonizar apenas na cozinha e assumiram diferentes cargos na sociedade. São Dilmas, Cristinas, Anas. São presidentes, diretoras, chefes. Trabalham em escritórios, multinacionais, palácios e repartições. Comandam fazendas, cabanhas, administram a renda que vem do campo. Em uma região essencialmente agrícola, não podiam faltar damas do agronegócio. A sexta edição da Destaque Rural conta a história de um trio de belas e competentes profissionais, responsáveis pela administração de uma das principais cabanhas do Rio Grande do Sul. Caroline, Manoela e Verônica Bertagnolli comprovam que de sexo frágil nada têm. São firmes nas decisões, sabedoras do que falam. Para completar fizemos um panorama de como está a situação da Cesa, a Companhia Estadual de Silos e Armazéns do Rio Grande do Sul. Algumas medidas buscam reduzir uma dívida de mais de R$ 170 milhões. As delícias de Vacaria também são destaque desta edição. A fruticultura movimenta a economia da cidade – principal produtora de maçãs do Brasil. À sua disposição, está uma revista recheada de assuntos que movimentam o campo. Boa leitura! Tainara Scalco
www.destaquerural.com.br 2 |
| Maio e Junho - 2014
Santa Bárbara do Sul
EXPEDIENTE
#edição 6 #Ano I #maio e junho Editora Riograndense CNPJ 17.965.942/0001-07 Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Cacilda Becker, 30 Boqueirão Cep 99010-010 Diretor Leonardo Wink Jornalista Responsável Tainara Scalco (MTB 17.118) Jornalistas Fabiana Duarte Rezende Tainara Scalco
Colunistas Gilberto Cunha Elmar Luis Floss Projeto Gráfico e Diagramação Cássia Paula Colla Revisão Débora Chaves Lopes Comercial Leonardo Wink Impressão Gráfica Tapejarense Contatos leonardowink@destaquerural.com.br redacao@destaquerural.com.br
(54) 9947- 9287
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| Rio Grande do Sul | Ano I | nº 6
ÍNDICE ESPECIAL
As damas do agronegócio
METEOROLOGIA
A companheira da agricultura
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APICULTURA
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Sinal de alerta
OPINIÃO
22 CT& Bio
Elmar Luiz Floss
4
Estresses abióticos em soja
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CESA Medidas buscam reduzir dívida
12 DESTAQUE EMPRESAS
Gilberto Cunha
FRUTICULTURA
Vacaria das delícias e dos bons resultados
O alerta de Leonardo Boff sobre o Greenwash
18
PERFIL Produtor rural altamente especializado
30
DIREITO
(In) Segurança Jurídica
14
34 Comemoração Bayer SeedGrowth: 100 anos de inovação em tratamento de sementes
SOJA
Planta resistente à seca
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OPNIÃO elmar@grupofloss.com
Elmar Luiz Floss Engenheiro Agrônomo e licenciado em Ciências, Dr. em Agronomia, Diretor do Instituto Incia
ESTRESSES ABIÓTICOS EM SOJA
A
principal causa dos estresses abióticos limitantes ao desenvolvimento e rendimento da soja é decorrente da deficiência hídrica, associada a altas temperaturas (golpes de calor) e deficiências nutricionais. Isso causa o aumento dos hormônios inibidores (ácido abscísico e etileno) e redução na síntese de hormônios promotores (citocininas, auxinas e giberelinas). Os principais distúrbios fisiológicos observados são a floração antecipada, a menor estatura de plantas, o abortamento de flores e vagens, a não formação de grãos na vagem, menor enchimento de grãos e a retenção foliar e caule verde. A soja é uma planta fotoperiódica, o que significa que passa da fase vegetativa para a fase reprodutiva, em função do comprimento do dia/noite. A floração ocorre sempre que o número de horas luz for menor que um determinado limite crítico. O fotoperíodo varia no mesmo local, em função da época de semeadura e na mesma época, varia com a latitude. Para obtenção de altos rendimentos, é imprescindível um adequado crescimento vegetativo antecedendo a indução floral, determinando maior formação de axilas foliares (nós), e o consequente aumento de racimos florais. Desta forma, haverá maior formação de legumes/vagens por planta, o principal componente do rendimento. A soja está apta a ser induzida à floração com cerca de 30 dias após a emergência (DAE). No entanto, essa exigência fotoperiódica pode ser anulada, quando a cultura estiver apta a ser induzida à floração e for submetida a estresse hídrico associado a temperaturas superiores a 30º C, por pelo menos 3 dias. Sempre que ocorrem estiagens, observa-se uma antecipação da floração na cultura. Isto representa perdas do rendimento devido ao menor número de vagens/planta. Os cultivares que mais sofrem danos são os superprecoces, de
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| Maio e Junho - 2014
“Um dos efeitos mais comuns do déficit hídrico na soja é a queda de flores, vagens e legumes nos estágios iniciais de desenvolvimento. Isso ocorre pela síntese dos hormônios ABA e etileno, que promovem a abscisão.” hábito de crescimento determinado e sem ramificação lateral. Fisiologicamente, o estresse causa um aumento da produção do hormônio ácido abscísico (ABA) pelas raízes, que tem a finalidade de promover o fechamento dos estômatos para evitar a perda de água pelas plantas. Possivelmente, esse mesmo hormônio, associado ao ácido giberélico, promove a indução à floração. Na parte aérea, o estresse promove a síntese do inibidor etileno. Após e estiagem, quando volta a chover, ainda sob fotoperíodo favorável, em alguns cultivares, de hábito indeterminado, ocorre um novo estímulo ao crescimento vegetativo das plantas, seguido de floração. Um dos efeitos mais comuns do déficit hídrico na soja é a queda de flores e das vagens/legumes nos estágios iniciais de desenvolvimento, causado pela síntese dos
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hormônios ABA e etileno, que promovem essa abscisão. Quanto mais longo for o período de estresse, mais provável é também a abscisão foliar, iniciando pelas folhas baixeiras e antecipando a senescência das plantas. A compensação do abortamento de vagens é restrita quanto ao número de grãos por vagem e peso individual de grãos. A retenção foliar ou caule verde, causada pelo estresse hídrico, desequilíbrios nutricionais (deficiência de potássio, manganês, molibdênio ou zinco, e baixa relação Ca/Mg), e presença de percevejos, promove menor formação de vagens e a não formação de sementes na vagem. A redução na demanda por fotoassimilados (açúcares e compostos nitrogenados) pelos órgãos reprodutivos da planta (vagens e grãos), causa a manutenção do caule verde. A não formação de sementes na vagem, devido a não fertilização, é causada pela desordem hormonal que ocorre nas plantas submetidas a estresses. A falta do dreno significa que não há translocação de fotoassimilados da folha para as sementes. O número de grãos depende do número de plantas por unidade de área, do número de vagens por planta e do número de grãos por vagem. A fixação do número de grãos por planta é determinado principalmente no estádio de R2 (florescimento pleno), nos estádios R3 e R4 (fixação de legumes/ vagens). A partir do estádio R5, definição do peso de grãos. Por esta razão, estresses abióticos e bióticos, causam distúrbios fisiológicos nas plantas, determinando a perda de rendimento. Um dos efeitos mais importantes do estresse hídrico é o fechamento dos estômatos, impedindo a absorção de gás carbônico do ar e água do solo, e reduz a fotossíntese. Com a menor produção de açúcares e aminoácidos, bem como a falta de água para a translocação dessas substâncias para a vagem, ocorre menor enchimento de grãos.
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Meteorologia
A companheira
da AGRICULTURA Colaboração: Gilberto Cunha, pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura da Embrapa Trigo, Passo Fundo.
Certo
S
egundo um ditado popular, “todo mundo fala sobre tempo e clima, mas ninguém faz nada com isso”. Na agricultura, essa premissa não se aplica quando o assunto é o uso de previsões meteorológicas. Agricultores, assistentes técnicos, gestores, formuladores de políticas agrícolas podem se beneficiar fazendo melhor uso desse tipo de informação no manejo dos cultivos, no planejamento das lavouras, na comercialização de commodities agrícolas e em decisões estratégicas de Governo.
Estratégias de manejo Diante da divulgação de um evento El Nino/La Niña na mídia, é comum as pessoas reagirem de forma diferente. Algumas reações, seguramente, podem ser consideradas adequadas e outras totalmente imprecisas. Vejamos, qual a melhor forma de comportamento frente a uma previsão de El Nino/La Niña, principalmente quando entra em jogo a agricultura brasileira. 6 |
1
Procurar informações sobre o fenômeno El Nino/La Nina – Oscilação Sul.
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Saber quando ocorreu El Niño/La Niña nos últimos tempos.
3
Tomar conhecimento sobre os tipos de condições climáticas e eventos meteorológicos extremos que ocorreram na sua região durante os eventos El Nino/La Niña anteriores.
4
Ter claro como foi afetado pelo último El Nino/La Niña.
5
Discutir com amigos e colegas de profissão os possíveis impactos do El Nino/La Niña nas diferentes estações (épocas) do ano.
6
Dominar alternativas de resposta para os possíveis impactos climáticos.
7
Identificar as alternativas de reação que podem fazer sozinho e com meios próprios.
8
Listar as alternativas de reação para as quais dependem de auxílio de terceiros (privado ou governamental).
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O que fazer quando a previsão é chuva acima do normal?
Vai chover pouco,
e agora?
Descompactar o solo. Mobilizar o solo o mínimo possível, por ocasião do preparo. Dar preferência ao Sistema Plantio Direto.
Começar a semeadura no início do período recomendado, particularmente no caso de áreas grandes. Deixar a estrutura para a semeadura preparada. Realizar limpeza, regulagem e reparos em máquinas e os insumos disponíveis para, quando o tempo permitir, desencadear a operação. Não semear com o solo exageradamente úmido. Evitar o risco de compactação e degradação da estrutura do solo. Apesar das chuvas abundantes, há períodos de sol suficientes para a semeadura, durante o período recomendado. Obedecer esquema de rotação de culturas, pois em ano de alta umidade o ambiente é favorável para o desenvolvimento de doenças. Escolher cultivares resistente às principais doenças fúngicas que ocorrem na região. Preocupar-se com a sanidade e com o tratamento de sementes. Eleger cultivares não suscetíveis ao acamamento. Cuidar com a adubação nitrogenada em cobertura. Evitar o uso de áreas sujeitas a inundações prolongadas. Realizar a colheita tão logo o produto tenha umidade adequada para a operação, evitando a chance de perdas quantitativas e qualitativas pelas chuvas frequentes. Adotar o Sistema Plantio Direto, em função das características de conservação do solo e da praticidade da operação de semeadura.
Não utilizar população de plantas superior ao recomendado para a cultura. Escalonar as épocas de semeadura e/ ou plantio, utilizando cultivares de ciclos diferentes. Implantar as culturas sob adequadas condições de umidade e temperatura de solo. Evitar o esvaziamento de barragens/açudes. Racionalizar o uso da água e irrigar quando necessário, preferencialmente nos períodos críticos. Observar o Zoneamento Agrícola (começar a semear no início do período recomendado e escalonar épocas de semeadura com cultivares de diferentes ciclos). Não utilizar populações de plantas superiores às recomendadas para as condições de baixa precipitação. Utilizar cultivares com sistema radicular mais profundo. Usar o raleio de frutos. Aumentar o estoque de forragens na propriedade, seja no campo, através do ajuste de carga (aliviar a carga animal) e do diferimento de potreiros desde o final do inverno, quando possível, via forragens conservadas (feno e silagem).
MaioeeJunho Junho| |2014 2014 | | Rio RioGrande Grandedo doSul Sul | | Ano AnoI I | | nº nº66 Maio
| |7 7
APICULTURA
Sinal de alerta
Os estados nas exportações Novo regulamento pode líderes encarecer a produção e produtores de mel à desistência da atividade Em todo o mundolevar existem
79
Fabiana Rezende milhões
A
de colmeias de abelhas.
Presidência da República deve assinar um novo deA China possui creto que poderá encerrar as atividades de centenas de apicultores do Rio Grande do Sul e % o Brasil. de todo Atualmente, o Regudo total mundial. lamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal O Brasil,(RIISPOA) segundo estimativa está sendo revisado pelo de FAO Ministério (2013), possui da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), prevendo requisitos que dificilmente poderão ser milhão cumpridos pelos produtores de mel. de colmeias, mas segundo as A principal preocupação é a exigência associações de apicultores, de registro este número é de da unidade de extração de produtos das abelhas – Uepa (a casa do mel), junto ao serviço de inspeção federal. Omilhão custo seria de mais de R$ 60 mil.
11,1 1
1,7
colônias de abelhas.
Exigências As principais obrigações para conSituaçãoquista idêntica ocorre deste registro incluem a planta com a produção, estimada da unidade de extração, que deverá ter pela FAO (2013) em um projeto assinado por um engenheiro, com o mínimo de quatro salas e remil t cepção coberta. O produtor também deverá contratar e pelas associações mais de um técnico responsável pela unidade e análises de controle, o que gera um custo aproximado de R$ 2 mil ao mês. mil t Atualmente, o mel é extraído em salas que seguem padrões de segurança alimentar, comprovadas por análises realizadas de forma rotineira. A nova versão do RIISPOA também determina que os entrepostos que com-
% % pram o produto para vender23 no merca27,3 do nacional e internacional só poderão
14,5
% Principais países produtores Conforme dados apresentados pelo receber mel extraído de Uepa registrada professor e diretor da Faculdade de no Mapa ou instância equivalente. Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo, Hélio de um volume de Carlos Rocha, a estimativa de produção Produção familiar mundial de mel pela Food AdministraNo Brasil, o setor de mel é formado tion Organization (FAO) para 2013 era TONELADAS por pequenos apicultores familiares e de 1,59 milhão de ton., 2,85% maior relativo ao ano de 2013 empresas beneficiadoras e exportadoque no ano de 2010. A China mantém a ras de produtos apícolas. Dos 350 mil primeira colocação com 27,4% da proapicultores do país, 90% praticam a dução, seguido da Turquia com 5,5%, agricultura familiar e têm renda anual Argentina com 4,7% e Estados Unidos Evolução por Estado da produção de mel (ton.) no Brasil, segundo - SIDRA 2014 em torno de R$ 6 mil. da América com IBGE 4,2%. A produção Conforme especialistas no assunto, Estados 2006 2007 2008 2009 2010 manteve-se 2011 2012 % part. americana estabilizada no caso a proposta seja aprovada decorrer da década Rio Grande do Sul 7.819 7.364 da forma 7.418 7.155 7.098 6.985 de 2000, 6.774 enquanto 20,0 Paraná 4.612 4.632 4.643 4.831 5.467 5.204 5.496 16,2 como está apresentada, muitos apiculque a produção chinesa cresceu 8,0% Santa Catarina 3.990 3.470 3.706 4.514 3.965 3.990 4.388 12,9 toresGerais poderão optar clandestiniMinas 2.482 pela 2.624 2.862 2.605 3.076 e 2012. 3.075“Este 3.398 entre 2011 aspecto10,0 mosSão Paulo 2.541 2.332 2.016 2.188 2.316 2.417 2.821 8,3 dade ou, ainda, desistir da atividade. O tra que a apicultura chinesa alia alta Ceará 3.053 3.137 4.072 4.734 2.760 4.165 2.016 5,9 tecBahia 2.046 2.199 2.194 1.922 2.396 2.646 1.595 país ainda corre 4.195 o risco de cair da 10ª 4.278 nologia3.262 com disponibilidade de4,7 mãoPiauí 3.483 4.143 5.107 1.563 4,6 paraGrosso a 30ªdoposição no ranking Mato Sul 485 641 da produ646 430 512 686produziu 820 seis vezes 2,4 de-obra. A China e Pernambuco 1.161 1.176 1.382 1.774 2.094 2.349 635 1,9 ção de mel mundial. meia mais mel que os Estados Unidos
mil
Total
36.193
34.747
37.791
39.029
38.072
41.792
33.931
-
Fonte: IBGE, 2010 - Pesquisa Pecuária Municipal – PPM, 2014.
33,5 50
8 |
Fonte: http://www.fao.org (FAOSTAT - © FAO Statistics Division 2013 -25February 2014).
| Maio e junho - 2014 | Rio Grande do Sul | Ano I | nº 6 Consumo médio de mel nos principais países consumidores (kg/pessoa/ano) segundo a FAO, 2013 País
2007
2008
2009
Média
es
as.
a
as ,
o
lt
de
em 2012”. AOs Argentina perdeu a segunestados líderes nas exportações da colocação em 2012, mas manteve a produção de 75,5 mil ton., enquanto que o Brasil ocupa a sétima % colocação % % com 33,5 mil ton., e o Uruguai é o décimo segundo com 20,0 mil ton.. A Índia com uma produção de 61 mil ton. é o quinto maior produtor mundial e o terde um volume de da sua ceiro exportador, o restante produção de mel atende o mermil cado interno. O incremento na TONELADAS produção de mel pelo Brasil na relativo ao ano de 2013 última década foi de 42%, impulsionada pelos crescentes índices de exportação, que em 2013, atingiu o Evolução Estado da produção de mel (ton.) no Brasil, segundo IBGE - SIDRA 2014 valor de 22.399 ton. por de mel.
23
27,3
Estados
2006
2007
Rio Grande do Sul 7.819 7.364 Faturamento Paraná 4.612 4.632 Santa Catarina 3.990 3.470a Considerando o Mercosul, tanto Minas Gerais 2.482 2.624 São Paulo 2.332 Argentina como o Uruguai2.541 são países Ceará 3.053 3.137 Bahia exportadores 2.046de 2.199 eminentemente mel, Piauí 4.195 3.483 Mato Grosso do Sul 485 641 com um consumo doméstico muito Pernambuco 1.161 1.176 pequeno, com 1,4% e 8,2% respecTotal 36.193 34.747 tivamente. Já no Brasil, a produção nacional atende em parte a demanda, mas ocasiona uma forte pressão sobre os preços praticados no mercado. Enquanto no Brasil o produtor recebe uma remuneração entre dois e quatro dólares, nos países vizinhos gira em torno de um dólar por quilograma do produto. “Futuramente, a produção de mel orgânico, cujo potencial brasileiro é sem concorrentes, será um dos grandes trunfos para a apicultura nacional”, informa o professor.
14,5
2008
2009
2010
2011
2012
% part.
7.418 4.643 3.706 2.862 2.016 4.072 2.194 4.143 646 1.382
7.155 4.831 4.514 2.605 2.188 4.734 1.922 4.278 430 1.774
7.098 5.467 3.965 3.076 2.316 2.760 2.396 3.262 512 2.094
6.985 5.204 3.990 3.075 2.417 4.165 2.646 5.107 686 2.349
6.774 5.496 4.388 3.398 2.821 2.016 1.595 1.563 820 635
20,0 16,2 12,9 10,0 8,3 5,9 4,7 4,6 2,4 1,9
37.791
39.029
38.072
41.792
33.931
-
Fonte: IBGE, 2010 - Pesquisa Pecuária Municipal – PPM, 2014.
Comércio Internacional Aproximadamente 46% das exportações de mel é exclusividade de quatro países: China, Argentina, Índia e México, e 50% das importações são realizadas por três países: Estados Unidos da América, Alemanha e Japão. Maiores consumidores Entre os maiores consumidores de Fonte: http://www.fao.org (FAOSTAT - © FAO Statistics Division 2013 -25February 2014). mel estão os países pobres da África, Ásia
Consumo médio de mel nos principais países consumidores (kg/pessoa/ano) segundo a FAO, 2013 País
2007
2008
2009
Média
Rep. Centro Africana Grécia Angola Nova Zelândia Turquia Alemanha Portugal Espanha Austrália Irã França Reino Unido
3,40 1,50 1,50 1,10 1,10 1,10 0,70 0,70 0,70 0,70 0,60 0,60
3,60 1,60 1,50 1,50 1,20 1,00 0,70 0,70 0,70 0,60 0,60 0,60
3,80 1,50 1,40 1,00 1,10 0,90 0,70 0,70 0,60 0,60 0,60 0,60
3,60 1,53 1,47 1,20 1,13 1,00 0,70 0,70 0,67 0,63 0,60 0,60 Fonte: http://www.fao.org (FAOSTAT - © FAO Statistics Division 2013 -25February 2014).
e Oriente Médio por aspectos culturais e religiosos, como a República Centro Africana, Angola, Etiópia, Quênia, Kuwait, Irã e Emirados Árabes. O consumo mundial médio de mel é da ordem de 220g e de açúcar de 53 kg (FAO, 2013). O mel no Brasil A produção brasileira de mel em 2012, segundo IBGE (2010), gerou um valor de R$ 240 milhões, com um crescimento da ordem de 24% nos últimos seis anos. A maior produção está concentrada nos estados sulinos, que juntos detém mais de 49% do total da produção. O Rio Grande do Sul é o principal produtor nacional com 20%, seguido pelo Paraná com 16,2% e Santa Catarina com 12,9% da produção nacional. “Um dos fatores que pode ser apontado para o ótimo desempenho do
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Os estados líderes nas exportações
23%
27,3%
Hélio Rocha, professor e pesquisador da UPF
14,5%
de um volume de
Em todo o mundo existem
79
mil
TONELADAS
de colmeias de abelhas.
relativo ao ano de 2013
Os estados líderes nas exportações Rio Grande do Sul está relacionado, que aparece nas estatísticas somente a Evolução por Estado da produção (ton.) no segundo IBGE - SIDRA 2014 principalmente, à grande tradiçãode mel partir doBrasil, ano 2000. O volume médio % cultural que a apicultura possui endas exportações brasileiras de mel nesEstados % 2006 2007 2008 2009 2010 2011% 2012 % part. tre osRio gaúchos. Outro aspecto imtes últimos oito anos foi de 19,9 mil toGrande do Sul 7.819 7.364 7.418 7.155 7.098 6.985 6.774 20,0 Paraná é a maior 4.612 4.632 na 4.643 neladas. 4.831 Pelas 5.467 5.204 oficiais, 5.496 este 16,2 portante consciência estatísticas Santa Catarina 3.990 3.470 3.706 4.514 3.965 3.990 4.388 12,9 preservação do meio2.482 ambiente e ser 2.862volume em torno3.398 de 50%10,0 Minas Gerais 2.624 2.605 representa 3.076 3.075 Paulo 2.541 2.332 2.016 2.188 2.316 2.417 2.821 8,3 uma São atividade familiar ligada à peda produção nacional, ou 1/3 pelas as-5,9 Ceará 3.053 3.137 4.072 4.734 2.760 4.165 2.016 2.046 2.199 1.922 de2.396 2.646 1.595 4,7 quenaBahiae média propriedade rural”, 2.194sociações apicultores. de um volume de Piauí 4.195 3.483 4.143 4.278 3.262 5.107 1.563 4,6 explica Rocha. Os principais destinos do mel produMato Grosso do Sul 485 641 646 430 512 686 820 2,4 Pernambuco 1.161 1.176 1.382 2.349 635 zido1.774 no Brasil2.094 foram os Estados Unidos1,9 Total do mel 36.193 34.747 37.791 39.029 38.072 41.792 que 33.931 Preço da América e Alemanha, juntosTONELADAS IBGE, 2010 - Pesquisa Pecuária Municipal –do PPM, 2014. estimula importaram Fonte: 84,9%, 85,8% e 80,7% relativo ao ano exportação de 2013 O Brasil é um dos novatos no rol de total das exportações brasileiras, respectipaíses exportadores de mel, uma vez vamente nos anos de 2011, 2012 e 2013.
23
27,3
14,5
mil
Evolução por Estado da produção de mel (ton.) no Brasil, segundo IBGE - SIDRA 2014 Estados
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
% part.
Rio Grande do Sul Paraná Santa Catarina Minas Gerais São Paulo Ceará Bahia Piauí Mato Grosso do Sul Pernambuco
7.819 4.612 3.990 2.482 2.541 3.053 2.046 4.195 485 1.161
7.364 4.632 3.470 2.624 2.332 3.137 2.199 3.483 641 1.176
7.418 4.643 3.706 2.862 2.016 4.072 2.194 4.143 646 1.382
7.155 4.831 4.514 2.605 2.188 4.734 1.922 4.278 430 1.774
7.098 5.467 3.965 3.076 2.316 2.760 2.396 3.262 512 2.094
6.985 5.204 3.990 3.075 2.417 4.165 2.646 5.107 686 2.349
6.774 5.496 4.388 3.398 2.821 2.016 1.595 1.563 820 635
20,0 16,2 12,9 10,0 8,3 5,9 4,7 4,6 2,4 1,9
Total
36.193
34.747
37.791
39.029 38.072 41.792 33.931 Fonte: http://www.fao.org (FAOSTAT - © FAO Statistics Division 2013 -25February 2014). Fonte: IBGE, 2010 - Pesquisa Pecuária Municipal – PPM, 2014.
Consumo médio de mel nos principais países consumidores (kg/pessoa/ano) segundo a FAO, 2013 País
2007
2008
Rep. Centro Africana Grécia Angola Nova Zelândia 10 | Turquia Alemanha Portugal Espanha Austrália
3,40 3,60 1,50 1,60 1,50 1,50 1,10 1,50 | Maio e Junho 1,10 1,20 1,10 1,00 0,70 0,70 0,70 0,70 0,70 0,70
2009 3,80 1,50 1,40 1,00 - 2014 1,10 0,90 0,70 0,70 0,60
milhões
A China possui
11,1%
do total mundial.
O Brasil, segundo estimativa de FAO (2013), possui
1
milhão
de colmeias, mas segundo as associações de apicultores, este número é de
1,7 milhão colônias de abelhas.
Situação idêntica ocorre com a produção, estimada pela FAO (2013) em
33,5
mil t
e pelas associações mais de
50
mil t
Média 3,60 1,53 1,47 1,20 | Rio Grande do Sul | Ano I | nº 6 1,13 1,00 0,70 0,70 0,67
Cons
Armazenamento
Medidas buscam reduzir dívida de
R$ 178 milhões
Aumento de ocupação das filiais
Ações de recuperação incluem redução em folha salarial e gastos com energia
junto à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) possibilitou elevar o faturamento: hoje a Conab é a principal cliente, responsável por cerca de 60 % da armazenagem total da Companhia. Entre as ações de recuperação está a redução de aproximadamente R$ 4 milhões na folha de pessoal e R$ 1,5 milhão de gastos com energia que, entre outros fatores, permitiram a saída de déficit operacional de R$ 4,6 milhões em 2010 e passar a lucro anual de cerca R$ 3,5 milhões em 2013.
Fabiana Rezende
E
m processo de reestruturação, a Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) vem se recuperando financeiramente nos últimos três anos. A atual administração herdou uma dívida de R$ 178,2 milhões. O objetivo é promover medidas para aumentar a receita e reduzir o passivo. Em 2011, o recredenciamento 12 |
| Maio e Junho - 2014
Trigo Conforme o presidente da Cesa, Márcio Pilger, grande parte do produto é o trigo, graças à política de incentivo adotada pelo Governo do Estado, que foi lançada durante a Expointer 2013. A Cesa, hoje, conta com 192 mil toneladas de trigo espalhadas em suas unidades.
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Além disso, para aumentar receitas, a Cesa tenta acessar novos mercados e ampliar o nível de ocupação das filiais. As unidades de Palmeira das Missões e Lagoa Vermelha são um exemplo. Em 2010, ambas eram deficitárias. Hoje, após passarem por readequações estruturais e ambientais, voltaram a receber grãos e começam a dar lucro. O trabalho surte efeito e, com exceção da unidade de São Luiz Gonzaga, a qual comporta 83 mil toneladas e está com a metade ocupada, unidades como as de Santo Ângelo, Santa Rosa, Cruz Alta e Júlio de Castilhos estão com sua lotação máxima.
Tentativas frustradas Na atual gestão, houve duas tentativas de vendas de unidades - que, por
diversos fatores, inclusive, a falta de condições estruturais, não estão em funcionamento - através de um processo amplamente divulgado de concorrência pública. Ambas frustradas. As unidades eram em Palmeira das Missões, Santa Bárbara do Sul, Nova Prata, Passo Fundo e Estação. Destas, Palmeira voltou a operar. As outras se encontram desativadas e sem condições de operar. Passo Fundo Conforme Pilger, uma atenção especial vem sendo dada à área de Passo Fundo, unidade que, por sua baixa capacidade de armazenagem (apenas 7 mil toneladas e localização imprópria para operação, pois está no centro da cidade), se tornou uma área inútil para operações de armazenagem. “Estamos buscando novas alternativas de venda ou de utilização da área pelo Estado”. Sinais de recuperação Pilger destaca que a Cesa é um desafio. O qual foi muito maior no início, quando todos os números eram desfavoráveis a qualquer empresa, seja ela pública ou privada. “Hoje, através da ruptura de um sistema de gestão despreocupado com a “coisa pública” e que achava que o Estado podia arcar com tudo, um novo sistema de gestão foi implantado e, agora, mostra sinais de recuperação. Isso devido a uma gestão comprometida com a legislação, em sanar suas dívidas e discutir amiúde cada centavo a ser pago. Hoje, essa empresa, que tem mais de 60 anos, se reapresenta a sociedade com um caráter de diálogo, transparência e compromisso”. Já o atual secretário estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, Cláudio Fioreze, salienta que a Cesa hoje é outra empresa. Para ele, a partir da orientação do ex-secretário, Luiz Fernando Mainardi, e da firme condução do ex-presidente da Cesa, Jerônimo de
CESA HOJE
602 mil toneladas disponíveis em
18
unidades ativas
a estocagem é de
243,7 mil toneladas
quantidade referente a
40
%
da capacidade total
e a receita mensal é de, em média
R$
2,4 milhões
Oliveira, os problemas estruturais da empresa passaram a ser enfrentados com determinação. “Resultaram disso, três anos de lucro operacional face
Márcio Pilger, Presidente da Cesa
à maior ocupação de sua capacidade de armazenagem e uma gestão corajosa. Enfrentamos as dívidas e os drenos intermináveis nas áreas fiscal e, principalmente, trabalhista e previdenciária”, afirma Fioreze. Otimista, o secretário da Agricultura afirma que os exemplos positivos são inúmeros. Segundo ele, o protagonismo foi recuperado em importantes cadeias, como a do arroz, através do Porto de Rio Grande, onde estão sendo escoados recordes históricos para ajustar o mercado e enfrentar a maior crise de preços da orizicultura, ocorrida em 2011. Assim também está acontecendo no trigo, a Cesa vem tendo papel importante no enxugamento da maior safra da história.
Projetos estratégicos Atualmente, a gestão da Cesa pensa em projetos estratégicos, como o terminal arrozeiro de Rio Grande, a possibilidade da construção de um Terminal Intermodal (ecopátio) na unidade de Capão do Leão e a modernização tecnológica de unidades estratégicas. “Ainda resta muito a fazer, mas hoje a Cesa tem rumo e não pode mais ser considerada um ralo sem fim, a serviço de outros interesses que não os dos agricultores e/ou das cadeias produtivas do Estado”, defende Fioreze.
Maio e Junho | 2014 | Rio Grande do Sul | Ano I | nº 6
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DIREITO
(In) Segurança Jurídica Para especialista, “conduta adotada pelo estado brasileiro nos processos de desapropriação é merecedora de verdadeiro sentimento de afronta e vergonha”
O
agronegócio é o setor da economia brasileira que apresenta os melhores resultados nos últimos anos e, sem dúvida, é o principal alicerce de sustentação do crescimento do país. Segundo a Confederação Nacional da Agricultura – CNA, sozinho, o agronegócio representa o equivalente a um terço do Produto Interno Bruto – PIB. “Porém, os produtores estão inseridos em um
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contexto adverso diante da precária infraestrutura e logística, da legislação e carga tributária complexa e asfixiante, da escassez de mão de obra qualificada, da concentração da propriedade e produção em grandes empresas e, principalmente, a alta insegurança jurídica, especialmente quanto aos direitos de propriedade”, diz o advogado, especialista em Direito Administrativo e mestre em Direito pela Universidade do Porto, Artur Antônio Grando. Mesmo com tantos entraves, o setor se sobressai na economia e pode ser considerado, sem receio, como a viga mestra que sustenta o Brasil.
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Agronegócio no Brasil: Responsável por aproximadamente
37
%
de todos os empregos;
Representa em torno de
40
%
das exportações;
o ponto nevrálgico da insegurança jurídica, pois além de relativizar a garantia da propriedade e do direito adquirido, terminam por inviabilizar maiores investimentos no setor, quer venham de dentro, quer venham de fora do país.
Artur Grando, advogado
A segurança jurídica é um problema para o agronegócio no Brasil? Artur Grando – Absolutamente, pois são muitos os questionamentos e embates gerados, normalmente, entre União, estados, municípios e particulares. Por isso o ambiente jurídico-político em que se desenvolve o agronegócio brasileiro é instável, provocador de incertezas e de angústias. E sabemos que economias e relações internacionais são avessas a isso. Os questionamentos mais frequentes que geram insegurança jurídica são quanto ao direito à propriedade, à implantação do Código Florestal e ao investimento estrangeiro no setor. Aliada a todos está à demora na prestação jurisdicional, qualquer que seja o motivo. “Justiça tardia nada mais é do que injustiça institucionalizada”, já dizia Rui Barbosa. Destes, considero que as questões relativas ao direito à propriedade sejam
Quais os maiores questionamentos em relação ao direito à propriedade? Grando - Os mais frequentes são a relativização dos títulos de propriedade e a dificuldade de regularização de direitos possessórios, processos de desapropriação inadequados e sem contraditório, além do descaso quanto aos direitos adquiridos. Quais os principais embates em relação ao direito à propriedade? Grando- A questão da demarcação de terras indígenas e quilombolas são as mais graves e traduzem as maiores violações de direitos. Segundo a CNA e a FUNAI, existem, no Brasil, em torno de 285 conflitos judiciais e outros inúmeros referentes à questão. De 1988 a 2010 a demarcação de terras indígenas cresceu aproximadamente 600%. Hoje, o Brasil é o país com a maior área reservada aos nativos, cerca de 13% de todo o território nacional. Contudo, a população indígena representa apenas 0,43% da população. Uma evidente
Justiça tardia nada mais é do que injustiça institucionalizada.
desproporção e que está em ampliação. Só no Rio Grande do Sul, são 41 reivindicações e abrangem 60 mil hectares, o que provocaria um impacto econômico de R$ 2 bilhões em indenizações a milhares de famílias gaúchas. Há desrespeito aos direitos adquiridos pelos produtores? Grando- Sim. Um sistema jurídico e político só se sustentam, perante os seus cidadãos, se houverem garantias que os protejam contra a atuação de outros, mas, também, da atuação do próprio Estado. É a submissão do Estado ao direito – Estado de Direito. O direito de propriedade e a proteção ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito estão assegurados na Constituição como cláusulas pétreas (art. 5º, XII e XXXVI). Estes são geradores de segurança jurídica e representam aqueles atos perfeitos, acabados e efetivados segundo a lei de seu tempo e, portanto, merecem proteção contra sua violação ou revogação a qualquer tempo e justificativa, inclusive contra o próprio Estado. Logo, tornam-se elementos intrínsecos ao Estado de Direito. E as desapropriações? Grando - Nos processos demarcatórios, em desapropriações nas quais a posse e/ou a propriedade se deram por outorga do Estado – justo título, o não reconhecimento dos direitos adquiridos atenta diretamente contra a segurança jurídica, pois os particulares não têm garantias contra as violações produzidas pelo próprio Estado. Não há estabilidade jurídica e social. A forma de aquisição da propriedade – justo título - e o lapso temporal são os
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elementos que devem desembaraçar a questão. A Constituição de 1988 estabeleceu no seu artigo 231, caput e §1º, que são reconhecidos aos índios os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam e definiu que, por tradicionalmente entendem-se as terras por eles habitadas em caráter permanente. Assim, a Constituição é marco temporal de definição, pois assegura os direitos das terras tradicionalmente (já) ocupadas e (de fato) habitadas em caráter permanente até sua promulgação, em 5 de outubro de 1988. Logo, se as terras não estavam ocupadas pelos nativos ao tempo da promulgação, a posse não se manteve tradicionalmente. Nesse sentido, a Súmula n. 650 do Supremo Tribunal Federal – STF – nos traz a interpretação que deve ser adotada relativamente à ocupação indígena de terras. Ela afirma que os bens da
“Hoje, o Brasil é o país com a maior área reservada aos nativos, cerca de 13% de todo o território nacional. Contudo, a população indígena representa apenas 0,43% da população”. 16 |
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Constituição de 1988 estabeleceu no seu artigo 231, caput e §1º, que são reconhecidos aos índios os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam e definiu que, por tradicionalmente entendem-se as terras por eles habitadas em caráter permanente. união, nomeadamente as terras tradicionalmente ocupadas por indígenas, não alcançam terras de aldeamentos extintos, mesmo que ocupadas por indígenas em passado remoto. A demarcação de novas terras indígenas e consequentes desapropriações sob o argumento de que os mesmos lá viveram num passado remoto é insustentável perante a Constituição, pois não preenche os requisitos por ela trazidos. Caso tal argumento fosse aceito, teríamos que desapropriar grande parte, inclusive, das cidades brasileiras, pois é notório que nativos lá habitavam. Seria a falência do Estado brasileiro.
Os processos são inadequados? Grando - Existem dois aspectos polêmicos a serem ressaltados relativamen| Rio Grande do Sul | Ano I | nº 6
te aos processos de desapropriação: não é concedido às famílias desapropriadas o direito ao contraditório e à ampla defesa e, geralmente, as indenizações por desapropriações são tardias e inferiores ao valor do bem desapropriado. Relativamente às desapropriações em face de demarcações de terras indígenas, existe um aspecto ainda mais polêmico, porém trazido pelo texto constitucional. O art. 231, § 6º, afirma que as indenizações em face de desapropriação por ocupação de terras indígenas alcançariam somente as benfeitorias realizadas, o que poderia levar a interpretação de que a perda da terra, por si só, não seria indenizável. Entretanto, uma interpretação sistemática do ordenamento jurídico brasileiro afasta tal medida notoriamente injusta, pois foi o próprio Estado brasileiro que concedeu o justo título de propriedade às famílias que ocupam as
terras em comento. Para evidenciar a falta de contraditório, importa lembrar o que afirmou o procurador do Estado do Rio Grande do Sul, Rodinei Candeia, atuante no caso da delimitação da área indígena Mato Preto (Erechim, Getúlio Vargas e Erebango), ao dizer que ingressaria com medidas judiciais para anular o processo (do Ministério Público Federal) e a portaria (do Ministério da Justiça) por terem sido publicadas antes que o Estado encaminhasse defesa. Para o procurador, há um aspecto ainda mais grave do que a falta de contraditório: o laudo antropológico foi feito por pessoa suspeita, direta e intimamente ligada à causa indígena. As famílias alvos das desapropriações também não são ouvidas ou fazem parte dos referidos processos. A conduta adotada pelo Estado brasileiro nos processos de desapropriação é merecedora de verdadeiro sentimento de afronta e vergonha e, assim, invariavelmente, de insegurança jurídica. Que outras indefinições ainda afetam o setor rural? Grando - Grande parte das outras indefinições no setor são consequências diretamente atribuíveis à questão da relativização da propriedade e do direito adquirido, especialmente quanto à dificuldade e escassez de investimentos estrangeiros. Se o receio de investir no setor cresce entre nós brasileiros em face à relativização da propriedade e ao descaso em relação aos direitos adquiridos, como não esperar o mesmo dos estrangeiros, que sequer compreendem a real dimensão do problema? É natural que o interesse seja percebido de forma inversamente proporcional às
desapropriações: quanto mais e maiores as desapropriações, menor o interesse estrangeiro e mesmo nacional. As relações contratuais do setor vão na mesma esteira, pois é preciso um sistema complexo de garantias para contrapor a questão da insegurança jurídica. O Código Florestal também preocupa? Grando - Relativamente à implantação do Código Florestal, temos sempre que ter em mente que a utilização eficiente e o consumo consciente dos recursos são meios chaves para uma economia sustentável e, mais do que isso, para o futuro da humanidade. Nesse contexto, o Brasil assume particular relevância no cenário mundial, pois é um dos maiores celeiros do mundo. Tal posição só se manterá com políticas públicas rígidas quanto à preservação ambiental, mas que estimulem a produção eficiente de recursos. Entretanto, para a implantação do Código Florestal há uma dificuldade técnica imensa a ser superada, pois os estados federados não estão capacitados para implantar o código e fazer recomendações concretas sobre os procedimentos que devem ser tomados. Um dos principais problemas são os diferentes níveis de execução de estado para estado. O diálogo entre os entes federados é pobre e, muitas vezes não releva condições locais em detrimento de uma padronização generalista. O que ainda precisa ser feito? Grando - Em suma, o principal a ser feito é respeitar a Constituição. Infelizmente, há um desrespeito endêmico ao ordenamento jurídico e, principalmente aos cidadãos que parecem não
ter garantias contra à conduta do Estado. O Estado tem uma predisposição maléfica de se agigantar e, para termos uma sociedade sadia, as garantias do cidadão contra os abusos do poder devem ser inabaláveis. Revoltantemente, a violação das garantias dos cidadãos vem através dos nossos próprios representantes políticos. As questões acima comentadas têm em comum uma motivação e uma finalidade política, mas no sentido pejorativo. Somos violados pelos nossos próprios representantes e por razões escusas. Com o respeito à Constituição e aos direitos adquiridos, bem como com uma carga tributária menos asfixiante, a segurança jurídica naturalmente aumentará e, consequentemente, a confiança no setor, dentro e fora do país.
“O Estado tem uma predisposição maléfica de se agigantar e, para termos uma sociedade sadia, as garantias do cidadão contra os abusos do poder devem ser inabaláveis”
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FRUTICULTURA
Vacaria das delícias e Produção de pequenas frutas em Vacaria safra 2013/2014
dos bons resultados (ha)
(Obtida/Estimada)
ou, talvez, uma pequena expansão. “O que está continuamente acontecendo, e foi o que transformou Vacaria no maior produtor brasileiro e exportador da fruta, é a reconversão/renovação constante de pomares com cultivares de alto padrão de qualidade, bem como o uso de alta tecnologia no manejo dos pomares”.
EXPORTAÇÃO NA CIDADE:
VACARIA Setor da maçã Empregados do emprega mais de setor da maçã: 14 mil pessoas, além de outros 10 pessoas mil temporários
é responsável um quarto do total de maçãs produzidas em todo o país. A fruticultura é a principal atividade econômica da cidade, com cerca de 14 mil empregados no setor da maçã. Conforme o engenheiro agrônomo, secretário municipal da Agricultura e Meio Ambiente, Eduardo Pagot, todos os anos Vacaria fica em segundo lugar em todo o país na criaFabiana Rezende ção de empregos, devido à contratação de mão de obra para a colheita rezentos mil toneladas de da fruta. A estimativa é de que são Valor adicionado especifimaçã deverão ser colhidas criados em torno de 10 mil emprecamente geradogos pelo na safra de 2014, naecidade temporários no período de sade Vacaria/RS. A estimativa,no da setor Asmunicípio da fra. maçã: “São trabalhadores oriundos de sociação Gaúcha dos Produtores de diversos municípios do estado do Rio Maçãs (AGAPOMI), confirma a liGrande do Sul, Paraná, Santa Catarina, derança da cidade como maior proMato Grosso do Sul, entre outros, além dutora brasileira e exportadora da de pessoas vindas da Argentina”. fruta, já que o número é maior que a Conforme Pagot, a maçã em Vacametade do que é esperado para todo ria passa por um bom momento e a o estado: 530Faturamento mil toneladas. Vacaria tendência é de manutenção da área total das
14.000
T
R$ 58 milhões
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empresas que | Rio Grande do Sul exploram a maçã:
| Maio e Junho - 2014
| Ano I | nº 6
SAFRA 2013 VOLUME EXPORTADO( KG):
65.902.920 CONTAINERS EXPORTADOS:
3.166 VALOR EXPORTADO (U$):
47.830.463,65
Valor em Dólar
EXPORTAÇÃO DE MAÇÃ MAPA/VACARIA/RS
EXPORTAÇÃO DE MAÇÃ Cidade também é destaque na MAPA/VACARIA/RS produção de pequenas frutas O município de Vacaria é considerado o principal polo de produção das chamadas pequenas frutas, grupo Produção formado,de pequenas principalmente, frutas em pelo Vacaria safra 2013/2014 Valor em Dólar morango, mirtilo, framboesa e amoValor em Dólar ra-preta. A cadeia das pequenas frutasda região dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul possui sua base de produção na agricultura familiar, na qual se concentra os poProdução de pequenas frutas em Vacaria safra 2013/2014 mares e a produção dessas espécies. (ha)
(Obtida/Estimada)
(ha)
VACARIA
(Obtida/Estimada)
Panorama da produção:::
Produção de pequenas frutas em Vacaria safra 2013/2014 EXPORTAÇÃO NA CIDADE: (ha)
Empregados do setor da maçã:
14.000
pessoas
SAFRA 2013 VOLUME EXPORTADO( KG):
VACARIA
65.902.920
Empregados do CONTAINERS setor da maçã:
Valor adicionado especificamente e gerado pelo município no setor da maçã:
R$ 58 milhões Faturamento total das empresas que exploram a maçã:
R$ 500
milhões
ÁREA PLANTADA
7.091,47 ha PRODUÇÃO SAFRA 2012/2013:
253.394 Ton.
EXPORTADOS:
14.000
3.166 pessoas
VALOR Valor adicionado especifiEXPORTADO (U$): camente gerado pelo município setor da maçã:
VACARIA 47.830.463,65
R$ 58 milhões
Empregados do
Faturamento das setor datotal maçã: empresas que exploram a maçã:
Morango (Obtida/Estimada)
De acordo com o secretário de Agricultura, o morango tem um mercado muito dinâmico com variações de EXPORTAÇÃO preços ao longo do ano, de acordo com a oferta.NA EmCIDADE: função do crescimento do cultivo de variedades reflorescentes, que produzem praticaSAFRA 2013 mente durante todo o ano, e a expansão dessas cultivaresVOLUME para regiões tradicionais de produção do EXPORTADO( KG): de produto tem sido mais sudeste brasileiro, a oferta regular, o que de certa forma também estabiliza 65.902.920 os preços. “O morango gaúcho e, principalmente, da região CONTAINERS dos Campos de Cima da Serra tem se EXPORTADOS: destacado pela sua qualidade e apresentação no mercado. Em Vacaria, destaca-se a introdução de EXPORTAÇÃO novas tecnologias de produção, como o cultivo seNA CIDADE: mi-hidropônico e, ainda, o cultivo em solo em túnel VALOR alto, que EXPORTADO estão promovendo aumento na produtivida(U$): de e a produção de frutas de melhor qualidade ao 47.830.463,65 mercado”, disse Pagot.
14.000 R$ 500
pessoas
milhões
3.166
SAFRA 2013
VOLUME EXPORTADO( KG):
Framboesa 65.902.920
Por se tratar de uma cultura mais delicada e mais CONTAINERS exigente em mão de obra e manejo, a framboeEXPORTADOS: sa passa por um momento de estabilidade, sem Valor adicionado especifiperspectivas de aumento de área, pelo menos por camente gerado pelo enquanto. Nos últimos anos, devido a forte concormunicípio setor da maçã: rência da framboesa importada do Chile, seu preço PRODUÇÃO SAFRA sofreu uma leve queda, mas ainda se mantém ren2012/2013: tável, principalmente para os produtores que efetuVALOR am o congelamento e ampliam a possibilidade de EXPORTADO (U$): comercialização ao longo do ano.
ÁREA PLANTADA
7.091,47 ha
3.166
R$ 58 milhões
253.394 Ton.
Faturamento total das empresas Maio que e Junho | 2014 exploram a maçã:
47.830.463,65
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Amora-preta
O momento é positivo para a amora-preta, já que o mercado de frutas para indústria tem apresentado um consistente crescimento, que favorece o aumento dos preços pagos aos produtores. Ao mesmo tempo houve uma diminuição no volume de frutas produzido na região dos Campos de Cima da Serra nos últimos anos, em função da redução da área cultivada e, também, pela diminuição de produtividade das últimas safras, ocasionada por problemas climáticos e o declínio de produtividade nos pomares mais velhos. “No momento, é notada a iniciativa de muitos produtores em revitalizar e renovar os pomares, bem como investir em aumento de área, considerando os resultados e perspectivas de renda EXPORTAÇÃO DE MAÇÃ que a produção da amora está apresentando”.
MAPA/VACARIA/RS
Valor em Dólar
Produção de pequenas frutas em Vacaria safra 2013/2014 (ha)
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(Obtida/Estimada)
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Mirtilo
O mirtilo, assim como a framboesa, mantém-se sem expansão de área, mas a produção vem crescendo no município devido à entrada em produção de pomares jovens. O mercado vem apresentando uma significativa melhora, devido ao lançamento de diversos produtos processados com essa fruta e a divulgação maior de suas qualidades funcionais. O mercado da fruta “in natura” requer maior organização da logística e transporte por parte dos produtores, mas já apresenta iniciativas promissoras na região.
Produtores Apesar do recente insucesso na formação de uma cooperativa por parte dos produtores, a APPEFRUTAS - Associação dos Produtores de Pequenas Frutas, continua seu trabalho na coordenação da coleta, transporte e comercialização conjunta da produção. “O projeto de implantação de uma grande central de congelamento de frutas, inicialmente pensado pelos produtores e apoiadores do setor, foi interrompido em função de dificuldades enfrentadas na disponibilização de um terreno e na construção de prédio para abrigar esse empreendimento. É preciso ressaltar também, que o grupo não estava preparado para administrar uma agroindústria do porte projetado inicialmente”, esclarece Pagot. O secretário ainda conta que, durante inúmeras reuniões para discussão em torno da gestão do empreendimento idealizado, os produtores chegaram à conclusão que é mais oportuno e viável o investimento em pequenos empreendimentos nos núcleos da APPEFRUTAS, próximo as propriedades dos produtores, que dessa forma conseguem com sua mão de obra
familiar fazer todo o processo de recepção, congelamento, classificação, processamento e embalagem das pequenas frutas, sem a necessidade de contratação de mão de obra para realizar as atividades ou gerenciamento do processo. A ideia de descentralização já conquistou adeptos junto aos membros da Associação, sendo que vários grupos já implementaram pequenas unidades de congelamento, processamento e armazenagem de frutas congeladas financiadas pelo PRONAF, já operando nessa safra 2013/2014. “Complementando essa ideia da descentralização, os associados da APPEFRUTAS, em assembleia geral, estão propondo a utilização dos equipamentos adquiridos pela Prefeitura Municipal de Vacaria para os grupos dos núcleos da associação. Esses equipamentos foram adquiridos com recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA e agora servirão para desenvolver as atividades de agregação de renda nos pequenos empreendimentos familiares que estão surgindo nos núcleos de APPPEFRUTAS, nas comunidades rurais”, relata.
Estruturação A cadeia das pequenas frutas no município e região passou por diversas fases: expansão de área e da pro-
dução, crise com retração de preço e redução de produção e, mais recentemente, o alcance de certa estabilidade. Inicia-se agora uma “fase estruturante”, na qual a organização das unidades produtoras, visando qualificar, processar e agregar valor à produção serão fundamentais para a continuidade e o sucesso dessa atividade, que transformou a agricultura familiar da região. “Os produtores de pequenas frutas estão investindo de forma mais consistente na sua propriedade, na comunidade, no seu núcleo de produção, visando criar as condições adequadas e necessárias para produzir, armazenar, processar e comercializar o seu produto obtendo segurança e agregando renda”, declara o secretário.
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ESPECIAL
As damas do agrone Elas comercializam sementes, multiplicam um rebanho premiado, administram mais de dois mil hectares e perpetuam a tradição de uma família com raízes no campo
2 22 2 ||
|| Março Abril -- 2014 2014 || Rio Rio Grande Grande do do Sul Sul || Ano Ano II || nº nº 65 Maio e eJunho
egócio A
Tainara Scalco
poeira da estrada de chão contrasta com olhos delineados. As botas completam o figurino do trio. Elas dão o toque de feminilidade a um ambiente campeiro que, há pouco tempo, era considerado apenas lugar de homem. Caroline, Manoela e Verônica estão na linha de frente de uma das principais cabanhas do estado, local reconhecido pelos animais campeões e pela primeira lavoura de trigo mecanizada da região. A propriedade fica em Coxilha, 30 quilômetros de Passo Fundo. Conversamos com elas em uma segunda-feira de manhã, por volta das nove horas. O trio chegou junto à fazenda. Caroline fora ao médico logo cedo e Verônica precisava resolver questões domésticas – a busca por uma empregada virou peregrina-
ção. “Como é difícil encontrar uma profissional disponível no mercado,” conta. Mais complicado ainda para quem se divide entre a casa, os filhos e a comercialização das sementes produzidas na Fazenda Butiá. Organizar o tempo é imprescindível para dar conta de tantas tarefas. Desde que Ronald Bertagnolli faleceu, em meados de 2004, os filhos Caroline, Manoela, Marcelo e Verônica assumiram a direção da fazenda junto com dois tios, Paulo e Beto. Por mais que todos estivessem inseridos desde cedo, estar na ponta de um negócio com várias ramificações não é tão simples quanto parece ao senso comum. Então, foi preciso dividir as demandas, arregaçar as mangas e dar continuidade a um trabalho de décadas consolidado pelo pai. Elas sabiam que podiam e estão provando que tinham razão. À Caroline coube o premiado gado
Manoela é a responsável pelo financeiro da propriedade. Maio e Junho | 2014 | Rio Grande do Sul | Ano I | nº 6
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do, mas com a cabeça voltada para os negócios do campo, o escritório é o ambiente de trabalho de Manoela. “A mulher que cuida da falta do dinheiro,” brincam as irmãs. As planilhas do Excel se tornaram aliadas da jornalista desde 2005. Isso mesmo, da jornalista! Formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, ela chegou a trabalhar no Canal Rural em Porto Alegre. Voltou para auxiliar na administração da propriedade. O desafio de trocar as pautas pelos números foi intenso, mas nada que não pudesse ser superado. Para ajudar nas decisões, a mãe de Vitorio, 3 anos, fez duas pós-graduações, em Marketing e Agronegócio. A produção de sementes é um dos pilares dos negócios da família. Cabe à Verônica cuidar dessa parte. Formada em Agronomia, a mãe do José
Verônica cuida da comercialização de sementes.
leiteiro. O rebanho é um dos maiores vencedores do país. Os Bertagnolli foram um dos primeiros criadores da Associação Gaúcha de Jersey e está na Cabanha Butiá o controle de registro mais antigo do estado. No total, são mais de 350 animais sob o comando de Carola, como é carinhosamente chamada pela família. “Hoje, direcionamos a produção mais para o leite, mas, claro, sem perder a genética,” explica. A primeira ordenha do dia, quase sempre, é acompanhada pela médica veterinária. Centenas de araucárias comple24 |
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tam a paisagem visível da janela de Caroline. Ela e o esposo moram na fazenda. O som dos pássaros e a tranquilidade do lugar, sempre familiar às meninas, seduziu Carola que decidiu aliar o trabalho à comodidade do lar. No dia em que produzimos a reportagem, fomos recepcionados com pinhão cozido e chimarrão, brindados com o ar puro, em um ambiente tipicamente campesino. As visitas por lá são recebidas dessa forma. Não é à toa que muitos têm vontade de permanecer no local. No ritmo frenético de Passo Fun-
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Mais de 350 animais estão sob os cuidados de Caroline.
Um começo difícil Nascidos em Gaurama, Nelly e Pedro Bertagnolli mudaram-se para Passo Fundo na década de 50. Em sociedade com outros dois amigos, Pedro comprou um pedaço de terra na localidade de Butiá Grande. Depois de duas safras frustradas, os sócios decidiram desistir do negócio. Mas, o instinto dizia ao agricultor que não era o momento de largar tudo. Comprou as duas partes e seguiu com a lavoura. Mesmo com grandes prejuízos no início, o trigo nunca deixou de ser cultivado na propriedade. Desde a primeira safra, o cereal é plantado mais tarde para escapar das fortes geadas que, geralmente, acontecem no período de 20 de setembro. Uma tradição que começou com a sabedoria de Pedro e perdurou com os filhos e netos que passaram pelos bancos de faculdades Brasil afora. A propriedade foi pioneira na mecanização da lavoura de trigo. A família sempre foi adepta às tecnologias. Na década de 70, investiram na soja, mas sem deixar de lado o cereal. “Em uma safra, até foi investido na cevada, mas não deu muito certo. Junto com a soja, começaram os experimentos de plantio direto que vêm até hoje,” contam. No total, cerca de dois mil hectares são destinados à lavoura. Uma parte em Coxilha e outra em Ciríaco.
Família sempre unida.
Pedro, 9 anos, e da Marcela, 7 anos, viaja seguidamente para fechar as comercializações. Assim como as irmãs, ela sempre esteve a par das operações da fazenda na época em que o pai administrava. “Com 16 anos, eu já trabalhava com o pai no escritório, a gente acabou pegando um pouco de cada coisa aqui dentro, isso facilitou quando precisamos assumir,” conta. A paixão pelo campo de Sandra e Ronald Bertagnolli passou para os filhos ainda no berço. E eles cresceram com isso. “Pra nós, ir para a Expointer era sagrado. Tínhamos que negociar as faltas com os professores, passávamos 7, 8 dias no parque. O nosso hobby era o trabalho do pai e do avô”, revela o trio. A lida no campo jamais ficou restrita ao filho Marcelo, hoje, responsável pelos cavalos campeões da Cabanha Butiá. As meninas estiveram juntas. Unidos, os filhos perpetuam as tradições do pai. Maio e Junho | 2014 | Rio Grande do Sul | Ano I | nº 6
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Rebanho premiado da Cabanha Butiá.
Trajetória de desafios Ser mulher em um mundo essencialmente masculino já é um desafio, mas elas contam que nunca encontraram muitas dificuldades com isso. Ter ciência do que fala ajuda bastante. E conhecimento sobre o campo é o que não falta para o trio. 26 |
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Os contratempos vieram de um modo mais severo. O Plano Collor castigou na década de 90. Com a descapitalização da agricultura, a família arcou com muitas hipotecas bancárias. Em seguida, a bolha explodiu com o Plano Real. Para cobrir as dívidas, foi preciso vender uma parte do
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plantel vitorioso da Cabanha. “Em 1994, o Marcelo ganhou o Freio de Ouro com o Butiá, no ano seguinte fizemos um leilão e vendemos a metade dos animais. Lembro-me de um comentário da Ana Amélia Lemos, na RBS TV, que dizia que em Passo Fundo a agricultura estava comendo
“Até pensamos em vender uma parte, mas sabíamos trabalhar, sabíamos que podíamos vencer.”
Verônica Bertagnolli, engenheira agrônoma.
os cavalos”, relembra Manoela. A recuperação plena foi conquistada em 2003. “Achávamos que ninguém nos pegava mais,” conta Caroline. O que ninguém esperava era uma seca devastadora dois anos depois. O silo construído para armazenar cerca de 5 mil toneladas de grão não
A comercialização de sementes é um dos principais negócios da propriedade. Maio e Junho | 2014 | Rio Grande do Sul | Ano I | nº 6
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encheu 10%. E ne foi com soja, 500 toneladas de milho apenas. O investimento ainda precisava ser pago. Recorreram aos bancos, cortaram os investimentos e, novamente, deram a volta por cima. “Até pensamos em vender uma parte, mas sabíamos trabalhar, sabíamos que podíamos vencer”, conta Verônica. A trajetória de desafios trouxe experiência e cautela é o lema da nova gestão. Bastidores de simpatia Um contraste de sorrisos e beleza traduz o trio de irmãs. Simpáticas, elas percorreram conosco a fazenda. Sentaram no gramado, subiram em pilhas de sementes, trocaram informações com alguns colaboradores (são 50 no total). Falaram sobre a infância: escaladas nas pilhas de soja, ordenhas ao amanhecer, enfim, a vida no campo. Tradição que percorre as veias. Chama que não se apaga.
Cabanha de vencedores
O crioulo chegou aos campos da Butiá em 1980. A primeira fêmea, BT Saracura, chegou em 1982, presente do amigo Flávio Bastos Tellechea. No mesmo ano, vieram BT Dengosa, mãe de BT Salitre e BT Lasqueada, mãe de Butiá Arunco. Nessas quase três décadas de criação, buscou-se o cavalo funcional com a seleção de linhas maternas e a utilização de pais comprovados. Nos anos 90, veio do Chile um cruzamento cujo produto interessava antes mesmo de nascer. Tratava-se da linhagem Taco x Estribillo, sangue de campeões do Rodeo Chileno. Nasce Santa Elba Comediante, um vencedor. Com ele, a Cabanha conquistou o Freio de Prata 86, Freio de Ouro e de Prata 87, Freio de Ouro 88, Freio de Prata 89 e 90, Freio de Bronze 93, Freio de Ouro 94, Freio de Bronze 95, Freio de Bronze 99, Freio de Bronze 2000, Freio de Ouro e de Prata 2001, Freio de Ouro 2002, Freio de Prata Ficcc 2003 e Sand Storn Slide Aberto de Lubbock - Texas 2004, Freio de Prata 2007, Freio de Prata FICCC 2009.
“Pra nós, ir para a Expointer era sagrado. Tínhamos que negociar as faltas com os professores, passávamos 7, 8 dias no parque. O nosso hobby era o trabalho do pai e do avô,” Caroline, Manoela e Verônica Bertagnolli. Ronald Bertagnolli com o vencedor Comediante.
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PERFIL
PRODUTOR RURAL
altamente especializado Pesquisa aponta que 43% dos produtores brasileiros têm curso superior
77%
Fabiana Rezende
O
Departamento de Agronegócio (Deagro) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) apresentou, neste ano, o “Perfil do Produtor Agropecuário Brasileiro”. Entre as principais conclusões, a de que o produtor rural brasileiro é qualificado e altamente especializado. O estudo também demonstrou que este empreendedor é um consumidor de tecnologia e serviços de ponta, atendo às dinâmicas de seu setor. Uma das constatações que mais chama atenção é o crescimento da escolaridade: 43% possuem curso superior. A pesquisa ouviu 1,5 mil agricultores e pecuaristas de 16 estados brasileiros, entre julho e agosto de 2013, envolvendo as culturas de soja, milho, trigo, arroz, cana, café, laranja, algodão e pecuária (gado de corte e leiteiro). Conforme os números levantados, os produtores também preferem usar capital próprio para financiar a maior parte do seu negócio a depender dos bancos. Eles reinvestem o lucro no negócio e acreditam em sua atividade. 30 |
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AGRONEGÓCIO O agronegócio brasileiro representa 22% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, uma participação dividida em: indústria de insumos, com 11,8%; produção agropecuária (28,8%); agroindústria, que é a indústria de alimentos; fibras e energia (28,5%) e distribuição (30,9%). Do PIB do setor, 40,3% das riquezas geradas estão ligadas à indústria.
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Em outubro de 2013, a Conab divulgou nova estimativa para a safra brasileira, que apresentou novo recorde.
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As exportações do agronegócio já superam os US$ 100 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses, segundo dados da Secex/MDIC;
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De acordo com o IBGE, a atividade agropecuária apresentou um crescimento do PIB de 14,7% no primeiro semestre de 2013, comparado ao mesmo período de 2012;
O USDA, equivalente ao Ministério da Agricultura dos EUA, divulgou que o Brasil deverá ultrapassar os EUA na próxima safra e se tornar o maior produtor de soja do mundo;
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SOJA
Pesquisa busca planta
RESISTENTE À SECA Diminuição de perdas em períodos de estiagem é o foco da Embrapa
D
esde o ano de 2004, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o JapanInternationalResearch Center for AgriculturalSciences ( Jircas), empresa de pesquisa vinculada ao governo japonês, desenvolvem pesquisas com soja transgênica tolerante à seca. Vários genes estão sendo testados nesta parceira, entre eles o AREB, DREB 1 e DREB2 (DehydrationResponsiveElementBindingProtein ou Proteína de Resposta à Desidratação Celular). São várias as estratégias de engenharia genética desenvolvidas pela Embrapa Soja. “Trata-se de gens que fortalecem a estrutura da célula quando esta começa a perder água, protegendo estruturas, membranas e proteínas, fazendo com que a planta consiga suportar um pouco mais a situação de estiagem”, esclarece o pesquisador da Embrapa, Alexandre Nepomuceno. Segundo ele, recentemente, uma seca ocorrida no noroeste do Paraná, que teve duração de 50 dias, resultou numa perda de 40% da soja. “Se eu tiver uma estratégia de engenharia genética que diminua essa perda, já é interessante. É disso que estamos
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falando: maiores chances de redução de perdas. Não estamos “desenvolvendo um cactos. É uma planta que vai tolerar um pouco mais a falta de água, mas que precisará da utilização de táticas de manejo específicas, pois não se trata de mágica”. Para testes de comprovação da tecnologia, os genes foram introduzidos em uma cultivar de soja brasileira que é sensível à seca. Já foram realizados testes em laboratório, em casa de vegetação (estufas) e em campo. No entanto, não há previsão de quando a tecnologia chegará ao mercado. O grupo é o único do Brasil que está
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testando no campo e em condições reais o que, para a ciência, é um bom indicativo. “Para chegar ao produtor, este tipo de tecnologia depende da intensidade de recursos disponibilizados e, principalmente, de “cérebros”, disse. Ao ser comprovada a resistência à seca, as plantas serão levadas de Londrina/PR, onde hoje estão em campo, para regiões Norte e Sul do Brasil. Se produzirem resultados semelhantes aos que já estão sendo obtidos hoje, será dado andamento aos estudos de biossegurança para, então, submissão à Comissão Técnica de Biossegurança.
DESTAQUE EMPRESAS
Comemoração Bayer SeedGrowth:
100 ANOS DE INOVAÇÃO em tratamento de sementes A história de como as inovações da Bayer moldaram a história do tratamento de sementes está sendo comemorado globalmente pela Bayer CropScience. Esta história de sucesso começou em 1914 com o lançamento do Uspulun™, um tratamento de sementes líquido para infecções fúngicas em grãos. A utilização do tratamento para a proteção das sementes é essencial para o sucesso de produtividade das lavouras até hoje. Matthias Haug, responsável global por SeedGrowth da Bayer CropScience, destaca que os mais de 100 anos de experiência da empresa neste campo fazem com que: “o desenvolvimento do tratamento de sementes esteja associado de forma indelével ao nome da Bayer. Nossa experiência e conhecimento têm desempenhado um importante papel em transformar esta tecnologia em um dos métodos mais avançados de proteção de cultivos, totalmente alinhado com a nossa missão: ciência para uma vida melhor”. Bayer SeedGrowth™: marca de forte competência A Bayer CropScience oferece a agricultores, melhoristas de plantas, tratadores de sementes e indústrias de sementes, um portfólio totalmente integrado para a proteção das sementes. “Somos a única empresa do setor 34 |
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“Nossa experiência e conhecimento têm desempenhado um importante papel em transformar esta tecnologia em um dos métodos mais avançados de proteção de cultivos,” Matthias Haug, responsável global por SeedGrowth da Bayer CropScience.
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que apoia seus clientes com produtos inovadores de tratamento de sementes, agentes adesivos, tecnologias de revestimento, equipamentos e serviços”, afirma Haug, que aponta para a rede global de centros SeedGrowth, onde especialistas da Bayer treinam
clientes para o uso correto de produtos de tratamento de sementes, desenvolvem tratamentos customizadas e oferecem orientação sobre todos os aspectos, abrangendo desde o maquinário necessário até o próprio processo de tratamento de sementes. Outro elemento importante na estratégia SeedGrowth é o equipamento e a tecnologia de aplicação em sementes. Os equipamentos de tratamento de sementes da Bayer são conhecidos mundialmente por sua alta qualidade e foram projetados para atender às necessidades específicas dos clientes. A Bayer CropScience também oferece às empresas de sementes
um portfólio abrangente de revestimentos comercializados em todo o mundo sob a marca Peridiam™. Estes produtos melhoram a cobertura das
sementes e aumentam a fluidez e a plantabilidade das sementes tratadas. A gama de serviços da Bayer também inclui testes de abrasão e a avaliação das emissões de poeira. Inovações da Bayer, do Uspulun™ ao Ilevo™ O primeiro produto aplicado em sementes foi lançado sob o nome Uspulun™ em 1914, e marcou o início de uma história de sucesso que continua até hoje. Desde então, a Bayer CropScience definiu continuamente os padrões do tratamento de sementes nos campos com inovações revolucionárias. Lançado em 1980, Baytan™ foi o representante mais conhecido de uma nova geração de tratamentos de sementes. Outro marco foi o tratamento de sementes com o inseticida Gaucho™, lançado em 1991. O lançamento bem sucedido de Poncho™/Votivo™ para milho, algodão e soja nos Estados Unidos, em 2012 e 2013, proporcionou à Bayer CropScience outra solução sob medida para oferecer aos agricultores. Outras novidades do portfólio de produtos são o produto de tratamento de sementes Emesto™, utilizado para aumentar o potencial de rendimento de batatas, e EverGol™, uma
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família de fungicidas que recebeu aprovação para uso em canola no Canadá. Também prevista está a utilização EverGol™ em culturas como soja, milho, grãos, algodão e arroz. A mais recente inovação é o Ilevo™, um produto de tratamento de sementes utilizado para gerenciar uma nova doença da soja, conhecida como síndrome da morte súbita. Esta doença é causada pelo fungo Fusarium virguliforme e intensificada por nematoides. Recentemente, a Bayer CropScience solicitou a aprovação do produto nos Estados Unidos e espera que Ilevo™ esteja dispo36 |
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nível para os produtores de soja para em meados de 2015. Tratamento de Sementes no Brasil O desenvolvimento de cada semente, envolvendo produção, genética, biotecnologia, tempo de desenvolvimento e demais avanços tecnológicos agregam muito valor às lavouras. Isso reforça também a necessidade e as estratégias de manejo para a proteção, não só das sementes, mas do investimento realizado nelas tanto na fase de pesquisa quanto na
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etapa em que é comercializada para o agricultor que, por sua vez, espera a melhor produtividade e rentabilidade. Pensando em preservar a sanidade das sementes, a fim de viabilizar uma boa safra aos produtores brasileiros, a Bayer CropScience desenvolveu o CropStar®, solução voltada ao controle de insetos-pragas e nematoides na fase inicial da lavoura, seja com o tratamento Industrial ou com o tratamento realizado na fazenda. Originalmente destinado apenas à cultura do milho, a partir de 2010, o produto conquistou a extensão de uso para
DESTAQUE EMPRESAS
são menores e mais homogêneos, permitindo proteção desde o plantio além da rápida absorção do produto pelas plantas. O CropStar® proporciona ao produtor a proteção de seu investimento e auxilia em um maior rendimento, sustentabilidade e lucratividade da lavoura”. Durante a safra 2013 foi concluído o projeto CropStar®, com o envolvimento de mais de 1900 clientes e 108 profissionais na cultura da soja para apresentação nos campos dos benefícios proporcionados por CropStar®.
Mais de 80% dos clientes se mostraram muito satisfeitos com os resultados. Na região Sul, foram 748 clientes e um incremento de 2,4 sacas de soja por hectare. Na região dos Cerrados, 1030 clientes e 1,9 saca por hectare, e, no Sudeste, 145 clientes e 2,6 sacas a mais por hectare. “Esse produto é prova de que a Bayer busca constantemente o desenvolvimento de soluções inovadoras para o campo, que proporcionem benefícios únicos aos nossos clientes, tais como, segurança
outras 11 culturas: soja, algodão, trigo, feijão, arroz, amendoim, aveia, mamona, girassol, cevada e sorgo. Segundo Siegfrid Baumann, gerente de SeedGrowth Brasil da Bayer CropScience, o sucesso desta solução se mantém pela eficiência, período em que as sementes tratadas podem ser armazenadas e por sua formulação única. “Sua composição traz uma quantidade equilibrada de ativos, preparada com agentes que fazem com que o produto seja seguro e fique totalmente aderido à semente. Os cristais da formulação também Maio e Junho | 2014 | Rio Grande do Sul | Ano I | nº 6
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O primeiro produto aplicado em sementes foi lançado sob o nome Uspulun™ em 1914, e marcou o início de uma história de sucesso que continua até hoje. Desde então, a Bayer CropScience definiu continuamente os padrões do tratamento de sementes nos campos com inovações revolucionárias.
“Queremos expandir ainda mais nossos negócios, por exemplo, com a adição de produtos biológicos de tratamento de sementes ao nosso portfólio”, diz Haug, explicando a estratégia da Bayer CropScience. “A aquisição do grupo Biagro, na Argentina, há poucos dias, mostra nossas ambições de crescimento e fortalecerá ainda mais nossa posição como empresa de inovação.” A Bayer Crop-
e comodidade. Isso faz parte da nossa história”, destaca Roberson Lima, diretor de SeedGrowth Brasil da Bayer CropScience. Planos para a expansão dos negócios de SeedGrowth O mercado global de sementes e proteção de cultivos continuou apresentando desenvolvimento dinâmico em 2013. Graças à forte demanda por sementes de alta qualidade e avançados produtos de proteção de cultivos, o negócio de SeedGrowth da Bayer CropScience alcançou um crescimento significativo e registrou faturamento recorde de EUR 921 milhões. 38 |
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Science continuará investindo no desenvolvimento de tratamentos de sementes, com o foco no desenvolvimento de novos agentes adesivos e tecnologias de aplicação de polímeros. A empresa investe constantemente em programas de stewardship de produtos para garantir conformidade com as rigorosas normas de segurança e ambientais.
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EVENTO
Fórum Iniciativas pelo Brasil reuniu especialistas e discutiu a cadeia do grão
FOTOS: ALEX BORGMANN
Colheita da soja encerra com evento em Não-Me-Toque
Tainara Scalco
A
nalistas de mercado, produtores rurais, empresários e representantes de entidades ligadas à agropecuária discutiram a relação comercial do Brasil com a China e os Estados Unidos. O debate foi mediado pelo jornalista do Canal Rural João Batista Olivi. O Encerramento Nacional da Colheita da Soja, promovido pela Estratégia Marketing e Propaganda e Revista Destaque Rural, com o apoio da Sementes
Público acompanha o Fórum Iniciativas pelo Brasil, transmitido ao vivo pelo Canal Rural
Roos, Bayer e Monsanto, aconteceu no último dia 6 de maio em Não-MeToque, no norte do estado, na sede da empresa Roos. O Canal Rural
transmitiu ao vivo o fórum. A China é o principal importador da soja brasileira. Nesta safra, novamente bateu recorde com a compra
Da esquerda para a direita: Liones Severo, João Batista Olivi, Valdir Zonin, Santiago Schiapacasse, Tales Pezini, Anildo Betencout e Rogério Ferreira. 40 |
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EVENTO
de 86 milhões de toneladas, um aumento de 5,6% em relação ao ciclo anterior, segundo estimativa da Conab. Com o crescimento da renda dos chineses, a tendência é de que os padrões de consumo se alterem e a dependência por alimentos do Brasil cresça. É o caso do milho, que pode ser mais representativo nos cenários de exportações. O analista de mercado Liones Severo acredita que o Brasil poderá sofrer com problemas de abastecimento interno. Isso porque já vendeu quase 70% da soja. Porém, a presença de El Niño nos EUA pode gerar uma crise de escassez semelhante à da década de 1930, colocando o Brasil em uma posição mais competitiva em relação aos concorrentes. O sul do país poderá ser uma das regiões mais beneficiadas com o fenômeno climático. Para o coordenador da Câmara Setorial de Agroenergia, Infraestrutura e da Soja da Secretaria de Agricultu-
Almoço de confraternização entre os participantes do evento.
ra do Rio Grande do Sul, Valdir Pedro Zonin, o Brasil deveria insistir na venda de farelo e óleo de soja ou de carne para a China, priorizando o abastecimento do mercado interno. “Se continuarmos vendendo grãos, eles comprarão para o resto da vida. Se dissermos que não tem grãos, eles deverão comprar farelo, carne ou óleo,” avalia.
“Eu sei tudo da porteira pra dentro, e aqui a gente consegue ter uma noção ampla do que acontece da porteira pra fora,” produtor rural, Rogério Ferreira.
Tecnologia no campo O gerente regional de Soja da Monsanto, Tales Pezini, ressaltou a importância do plantio de áreas de refúgio, que é a semeadura de um percentual de soja convencional nas lavouras transgênicas. Ele aconselha os produtores a planejar a lavoura a longo prazo, o que pode garantir rentabilidade no futuro. “O correto é plantar 20% de área de refúgio, que não pode estar a mais de 800 metros da lavoura de Intacta. Essa é uma recomendação nacional,” afirma. Santiago Schiappacasse, presidente da Brasmax Genética no Brasil, ressaltou que, em muitos casos, o custo da soja BT não compensa o benefício da tecnologia. Esse seria o grande desafio das empresas que promovem a tecnologia, já que a indústria acaba não dando aporte positivo ao produtor. Sobre a tendência de alta nos preços no mercado de soja, Anildo Betencourt, gerente de Desenvolvimento de Mercado da Bayer CropScience para o Sul, explicou que a desvalorização do real diante do dólar impede que a remuneração dos produtores seja maior. “Este seria o grande momento da agricultura brasileira. Talvez, a gente veja, daqui pra frente, US$ 15,00 por bushell, mas vimos poucas vezes no passado,” completa. O Encerramento Nacional da Colheita da Soja reuniu mais de cem produtores em Não-Me-Toque. Para Rogério Ferreira, agricultor de Carazinho, eventos como este viabilizam a troca de conhecimento. “Eu sei tudo da porteira pra dentro, e aqui a gente consegue ter uma noção ampla do que acontece da porteira da pra fora,” conclui.
Orlando Roos e João Batista Olivi falam sobre a cadeia da soja no programa Mercado & Cia. Maio e Junho | 2014 | Rio Grande do Sul | Ano I | nº 6
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CT& Bio
Gilberto Cunha
gilberto.cunha@embrapa.br
Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo
O ALERTA DE LEONARDO BOFF SOBRE O GREENWASH
A
dmito que, entre os escritores contemporâneos que tratam de temas que me são caros, eu, até poucos anos, andava em dívida com Leonardo Boff. Isso mesmo, confesso que sabedor da sua história de luta pelas causas sociais e do seu envolvimento nos debates sobre as grandes questões ambientais da atualidade, não havia lido sequer um livro escrito por esse profícuo autor brasileiro. Evidentemente, eu não ignorava o “silêncio obsequioso” que Leonardo Boff fora condenado, em meados dos anos 1980, em função das suas teses ligadas à Teologia da Libertação; ser ele um dos redatores da “Carta da Terra”, a atenção que ele despertou por ocasião da sua passagem por Passo Fundo, em uma Jornada Nacional de Literatura; o título da sua obra mais popular, “A águia e a galinha”, e dos seus mais de 90 livros publicados, majoritariamente, pela Editora Vozes, cuja temática universal lhe valeram edições em vários idiomas. Ainda assim, me penitencio por isso, pois somente em 2012, que li (da primeira até a última página) o meu primeiro Leonardo Boff: “Sustentabilidade: o que é – o que não é” (Editora Vozes, 2012). Em “Sustentabilidade: o que é – o que não é” sobressai-se o ensaísta de escol e pensador singular Leonardo Boff. A partir das raízes do substantivo sustentabilidade e do adjetivo sustentável, vocábulos usados à exaustão nos discursos contemporâneos, Boff chama à reflexão crítica sobre a prática, nem sempre facilmente perceptível, do “greenwash”, que significa “pintar de verde”, quer seja para iludir consumidores que buscam produtos que tenha identificação com
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“A crise que vive o mudo não está na economia, mas na ética.” sustentabilidade ou melhorar a imagem das organizações perante a opinião pública. No entanto, Boff não se restringe a meramente criticar o modelo que está posto. Vai além, e propõe caminhos para a construção da sustentabilidade que ele entende como responsável e imperiosa, para humanidade efetivamente viver um futuro comum diante das ameaças trazidas pela nova era geológica do “Antropoceno”. Uma era cuja marca tem sido a capacidade de destruição causada pelo ser humano, acelerando o desaparecimento de espécies (perda de biodiversidade), ao fazer uso de todo um aparato tecnológico para submeter à natureza aos seus propósitos. A tese central de Lonardo Boff sobre sustentabilidade é a busca de um novo paradigma de civilização embasado em outros valores, até porque, estejamos conscientes ou não, a Terra poderá existir sem nós. Critica os modelos atuais de sustentabilidade, pois na maioria dos casos, a sustentabilidade apresentada é mais aparente que real, pois buscam, acima de tudo, salvar o tipo de desenvolvimento imperante. O modelo padrão, que Boff denomina de sustentabilidade retórica, não considera
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as externalidades (degradação da natureza e geração de desigualdades sociais), advindas, em decorrência, várias outras propostas, cada qual com suas peculiaridades, entre os quais se incluem, desde modelos predominantemente capitalistas até os com matizes ecossocialistas, passando pelo modelo da economia verde (a sustentabilidade fraca) até o da economia solidária (a microssustentabilidade viável). A badalada economia verde (limpa) na sua pretensão de substituir a economia marrom (suja), no fundo evita o fulcro da questão, que é a insustentabilidade do atual modo de produção e consumo. O verde pode não ser tão verde assim, representando apenas uma etapa de todo um processo, que só faz sentido quando efetivamente são respeitados os ciclos da natureza e os resultados materializam-se em redução da pobreza e das desigualdades sociais. Talvez a saída seja a busca do ideal da democracia econômica, integrando crescimento sustentável (que o planeta pode aguentar), suficiente (para atender as necessidades sem destruir as bases da reprodução da vida), eficiente (usar recursos minimizando impactos e desperdícios) e equânime (que distribua ônus e benefícios igualmente), conforme proposta do Prof. Ladislau Dowbor citada por Leonardo Boff. Realisticamente, seja pela alternativa da economia verde ou não, em uma Terra limitada em recursos, não há como se levar adiante um projeto de progresso ilimitado, que busca, antes de qualquer coisa, a preservação de mercados e o valor das moedas. A crise que vive o mudo não está na economia, mas na ética.
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