Destaque Rural - 20ª edição

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ANO IV NÚMERO 20 RIO GRANDE DO SUL OUTUBRO | NOVEMBRO | 2018 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

INFORMAÇÃO COM PROPRIEDADE

Integração Lavoura-pecuária Diversificação no campo gera renda e sustentabilidade DIRCEU GASSEN

SAFRA 2018/19

ENTREVISTA

Uma vida dedicada à agricultura

Previsão de clima, doenças e comercialização

Conversa com o ex-ministro Roberto Rodrigues

Outubro e Novembro - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nº20

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EDITORIAL

União transformada em resultado

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iversificar a produção e aumentar a eficiência da propriedade, gerando mais renda e sustentabilidade para o negócio. Na 20ª edição da Destaque Rural, o Sistema Integração Lavoura-Pecuária é o protagonista. Fomos até a fazenda de Ivonei Librelotto, em Boa Vista das Missões/RS, para mostrar os benefícios do sistema e contar um pouco da história do produtor. Mais do que dar dicas sobre o gerenciamento de ILP, Ivonei mostra que ousadia e um olhar aberto para as oportunidades são duas das principais qualidades de um produtor de sucesso. Nesta edição, trouxemos também a trajetória de um dos mais renomados nomes da agricultura nacional, Dirceu Gassen. O professor e pesquisador foi um grande parceiro da Destaque Rural, presente em praticamente todas as edições da revista impressa. Nos deixou neste ano em decorrência de um câncer, mas permanecerá para sempre na memória da agricultura brasileira. O Brasil é o 4º maior produtor de leite no mundo, mesmo assim, a importação ainda é realidade para suprir o mercado interno. Nas próximas páginas, você encontra duas matérias com diferentes vertentes da produção leiteira nacional. Uma delas, traz um nicho relativamente novo no país: o mercado de leite orgânico. Na outra, apresentamos os benefícios da ordenha robotizada. Você confere também uma entrevista com Roberto Rodrigues, ex-ministro da agricultura; matéria sobre a difícil situação do setor arrozeiro gaúcho; os benefícios e cuidados no plantio do trigo precoce; e mais. Boa leitura! Ângela Prestes

#edição 20 #Ano IV #Out e Nov Editora Riograndense CNPJ 17.965.942/0001-07 Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Cacilda Becker, 30 Boqueirão Cep 99010-010 Diretor Leonardo Wink Jornalista Responsável Ângela Prestes (MTB/RS 17.776) Jornalistas Ângela Prestes Giseli Furlani Ana Cláudia Capellari Projeto Gráfico Cássia Paula Colla Capa Giseli Furlani Diagramação Ângela Prestes Colunistas Gilberto Cunha Elmar Luis Floss Raquel Breitenbach Impressão Gráfica Tapejarense Contatos leonardowink@destaquerural.com.br redacao@destaquerural.com.br (54) 3632 5485 Tiragem 8 mil exemplares

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Integração lavoura-pecuária ARROZ: PREÇOS ALTOS NÃO MASCARAM DIFICULDADES

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dirceu gassen: UMA CARREIRA PARA FICAR NA HISTÓRIA

Mercado de leite orgânico cresce e conquista produtores

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El Niño, alta pressão de ferrugem e liquidez na comercialização

ENTREVISTA COM ROBERTO RODRIGUES, EX-MINISTRO da agricultura

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Antecipar plantio de trigo pode ser opção viável para a soja

tecnologia avançada na produção leiteira

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MERCADO

Arroz: preços altos não mascaram dificuldades Custo de produção elevado e redução no consumo levaram a um quadro de dificuldades para o produtor arrozeiro. Valor da saca de 50 kg sofreu alta, mas preço do dólar e previsão de encarecimento nos insumos devem diminuir área para a próxima safra Ângela Prestes

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cenário é de alta no mercado arrozeiro. De 29 de junho a 31 de julho, o Indicador ESALQ/ SENAR-RS registrou elevação de 6,56%, fechando a R$ 43,36/sc de 50 kg no dia 31. A explicação para os preços mais firmes está no aumento das exportações. Até junho, os embarques do Rio Grande do Sul somaram 678 mil toneladas, 15% acima do comercializado para outros países durante todo o ano de 2017. Segundo o diretor Comercial do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Tiago Sarmento Barata, além de pouca disponibilidade do produto, com uma safra menor que no ano passado, essa valorização se deve à balança comercial superavitária. “Ela se deve ao dólar alto, aos preços firmes do mercado internacional e, ainda, pelos preços do mercado doméstico estarem em um patamar baixo. Por isso estamos com uma boa condição competitiva. As exportações ocorreram com muita intensidade nos primei8 |

ros meses do ano. As importações ocorreram de forma tímida. E com isso os preços apresentaram recuperação”, explica. Pena que a maioria dos produtores gaúchos de arroz não conseguiu aproveitar o bom preço. Excluídos do crédito oficial, muitos foram obrigados a comercializar logo na entrada da safra, sem fôlego para esperar melhores condições de venda. Não é de hoje que o setor arrozeiro vem enfrentando dificuldades. Diminuição de área e endividamento são apenas algumas das consequências. Apesar dos números desanimadores, o arroz tem uma importância gigante para o Estado, responsável por mais de 70% da safra brasileira. São cerca de 55 mil empregos gerados diretamente na lavoura e uma produção, na última safra, de R$ 6 bilhões. Para o presidente da Comissão do Arroz da Farsul, Francisco Schardong, o arroz garante maior renda ao governo do que a soja, por exemplo. “Enquanto a soja tem como principal foco a exportação, a produção arrozeira gaúcha é responsável por 70% da safra brasileira sendo grande parte consumida no país, o que garante a movimentação de toda a cadeia”. Apesar da importância, o arroz passa por um momento de crise. De acordo com Tiago, para grande parte dos produtores a atividade está inviabilizada economicamente e isso se deve a dois fatores: “o primeiro é a elevação dos custos de produção, que é extremamente caro, já que cultura exige características específicas de preparo do solo”. Outro ponto citado por Tiago é a redução no consumo do arroz. “Hoje se consome 17% a menos do que se consumia há 20 anos. Se hoje nós consumíssemos a mesma quantidade de 20 anos atrás, considerando o crescimento demográfico, teríamos uma demanda de 2,1 milhões de toneladas. Isso seria um volume suficiente para a gente absorver o excedente do Uruguai, da Argentina e do Paraguai, sem que isso causasse uma sobreoferta no mercado brasileiro”.

Dólar alto = lavoura mais cara Para o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul, a Federarroz, Henrique Dornelles, a perspectiva para os meses seguintes é seguir a tendência de alta dos preços. “A medida em que a exportação enxugou o mercado e não estão ocorrendo volumes expressivos nas importações, com uma tendência gradual de aumento dos pre-

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Um movimento criado em 2010 e reavivado em janeiro deste ano reflete a preocupação dos produtores com a sobrevivência das lavouras gaúchas de arroz. O “Te mexe, arrozeiro” nasceu com o objetivo de lutar por melhorias no setor orizícola. João Paulo Knackfuss é produtor de arroz em Eldorado do Sul/RS e um dos responsáveis pelo movimento. Para ele, se nada for feito, se tornará inviável a produção. Ele elenca cinco principais dificuldades enfrentadas pelo produtor: “custos de produção acima do valor de venda por vários anos consecutivos, gerando um passivo sem precedentes; assimetrias do Mercosul, a indústria, através de financiamento, rebaixou a capacidade de pagamento do produtor, as alíquotas de impostos (ICMS) não competitivas com outros estados e, por último, o alto custo de produção”.

O RS é responsável por 72% da safra brasileira, colhendo em uma área que representa 55% da área total do país.

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

gem para arriscar o emprego desses recursos em lavouras ços podendo em algum momento sofrer certa estabilização, com potencial inundação”. A preocupação é de que os o momento é de preços firmes com tendência de alta. Até preços mascarem os problemas e acabem gerando uma porque no fim do ano teremos um dos menores estoques de falsa impressão de que o ano que vem será caracterizado passagem da década e isto historicamente segura os preços por preços altos. “Não há nenhuma condição de garantir em patamares mais altos”. que vamos ter essa conjuntura de preços altos no Apesar do preço de venda mais alto, o que deve próximo ano. A única certeza é que teremos um encarecer também é o custo de produção. A valoano de safra ainda mais cara”. rização do dólar frente ao real, em um cenário de Segundo Henrique, a área cultivada para a incerteza política no país, fará com que os adubos próxima safra é uma incógnita muito grande. fiquem ainda mais caros, isso sem contar outros “Primeiramente em função da descapitalização gastos, como energia, por exemplo. O produtor, O arroz do setor. O sistema financeiro está priorizando que já está no vermelho, fica ainda mais descapitaligera, no produtores que tenham garantias e histórico zado. “Essa valorização do dólar em relação ao real inquestionável. Acreditamos que existe uma por um lado é boa porque nos dá condições com- RS, mais tendência de redução de área devido à falta de petitivas para exportar e o mercado brasileiro fica de 55 mil empregos recursos para formação da lavoura”. Outro ponmenos atrativo para o arroz importado. Por outro lado, ela tem por consequência a valorização dos in- diretos na to que agrava a situação é o preparo do solo em todo o Rio Grande do Sul. “A qualidade está sumos que têm o seu preço estabelecido com base lavoura. comprometida, o que poderá provocar uma rena moeda americana”, explica Tiago. A situação fidução de produtividade na próxima safra. Os produtores nanceira do produtor, sem muita condição de investimento na lavoura, faz com que o setor acredite em uma retração na não tinham dinheiro para começar o preparo do solo e depois tivemos problemas climáticos que mantiveram o área plantada no Estado. “Também considerando uma conssolo saturado impossibilitando o trabalho, impedindo os ciência do produtor de que é importante escolher as melhoprodutores de fazer este preparo antecipado”. res áreas e trabalhar com maior eficiência. Não há mais mar10 |

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DESTAQUE EMPRESAS OPINIÃO

Raquel Breitenbach

raquel.breitenbach@sertao.ifrs.edu.br

Doutora em Extensão Rural, Professora e Pesquisadora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia/RS

Bem-estar animal e demanda mundial de leite

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tualmente o mundo exige uma visão mais ampla do abastecimento alimentar, inclusive no mercado de leite e derivados. Não basta se preocupar com a quantidade de produtos que é capaz de fornecer ao consumidor, mas deve considerar a problemática da qualidade, segurança alimentar e bem-estar animal como fatores fundamentais. É neste contexto que o consumidor assume papel central entre os demais elos da cadeia produtiva, demandando das empresas maior atenção no sentido de atender suas necessidades. O consumidor é responsável por manter a demanda de leite e derivados e suas necessidades e exigências, se não atendidas, impactam diretamente nos ganhos de todos os setores envolvidos na cadeia produtiva do leite, incluindo o agricultor. É nesse sentido que se enquadram exigências e consequentes mudanças nos sistemas produtivos relacionados ao bem-estar animal. Existe uma visível e mensurável mudança no perfil dos consumidores mundiais, os quais querem saber de onde vêm os alimentos que consomem, ter confiança que são seguros e produzidos com padrões elevados. Destaca-se o crescimento de vegetarianos, veganos e pessoas que observam a origem e o sistema produtivo dos alimentos, negando-se consumir produtos originados ou com sistemas produtivos que agridem o meio ambiente ou não respeitam princípios de bem estar animal. Portanto, ações no sentido de adequar os sistemas produtivos devem prever o bem estar animal como uma preocupação central com o próprio animal, para além de ser uma ação estratégica de negócio. O bem estar animal, para ocorrer, deve levar em consideração as liberdades dos animais. Estes não devem sentir sede, fome e má nutrição; devem estar livres de dor, ferimentos e doença; não deve estar em desconforto; devem ter as condições para

expressar seu comportamento natural; bem como não devem sentir medo ou estarem expostos ao estresse. Ao mesmo tempo em que as exigências e necessidades relacionadas ao bem estar animal podem demandar maiores custos e investimentos do produtor, é notório que as vacas quando estão em boas condições de bem-estar são mais produtivas, produzem mais leite, proporcionam melhores índices reprodutivos, apresentam menos problemas de saúde e têm uma vida útil maior, permanecendo mais tempo no rebanho. A apreensão em produzir respeitando o bem-estar dos animais induziu à construção de regulamentações e leis que administram a produção animal em distintos países ao redor do mundo. A preocupação relacionada ao bem-estar animal é comum no mundo todo, mas nos países desenvolvidos existe maior conscientização e é onde tem mais regulamentação em prol da melhoria da qualidade de vida dos animais. Exemplificando os argumentos, várias imagens apelativas contra os maus tratos aos animais estão sendo veiculadas nos trens de Toronto, Canadá, onde circulam milhões de pessoas diariamente. Faz parte de uma campanha do movimento vegano “Like a Us” organizado pelo The Save Movement que expressa, na sua perspectiva, a história de vacas, porcos, galinhas e perus. Apelam para o lado emocional da população ao afirmar que os animais sentem amor, alegria, tristeza e medo, tal como nossos filhos, animais de estimação e nós mesmos. Este é um cenário mundial que, estando de acordo ou não, precisamos estar preparados para gerenciar com sabedoria. Produzir nas condições ideais de bem estar animal passa a ser uma possibilidade de valorização do produto. Os produtores rurais que desenvolvem suas atividades de produção e comercialização por meio de produtos in natura, na maioria dos casos,

são tomadores de preços nos mercados. Ou seja, possuem baixa ou inexistente autonomia na negociação, tanto nos preços de compra dos insumos produtivos, quanto nos preços de venda da produção. Isto influencia de forma negativa os resultados econômicos dos produtores rurais. Por outro lado, ao passo que estes agricultores conseguem ofertar um produto diferenciado de produção, podem buscar maior valorização do mesmo. Mas cabe às empresas processadoras, que são os agentes coordenadores da cadeia produtiva do leite, valorizarem monetariamente as unidades produtivas que adotam princípios de bem estar animal. Ou seja, são estratégias para criar valor para seus clientes, procurando entender quais são os pensamentos, ações, motivações e influências no processo de compra, compreendendo quais indivíduos fazem parte do público consumidor. O processo de compra e as decisões dos consumidores são influenciados por vários fatores que devem ser conhecidos pelas empresas. Exemplificando as ações de marketing no sentido de atender um perfil moderno de consumidores, destacam-se as mensagens veiculadas em importante rede de fast-food da América do Norte. A empresa A&W Foodservices do Canadá anunciou já em 2014 ser a primeira cadeia de restaurantes fast-food na América do Norte a servir ovos de galinhas alimentadas com uma dieta vegetariana e a servir frangos criados sem o uso de antibióticos, em grandes celeiros, com espaço para vagar e amplo acesso a ar fresco e água limpa. Com esta ação, a empresa viu a demanda pelos seus produtos aumentar substancialmente. Ou seja, mudanças nos hábitos dos consumidores e nas suas exigências, que poderiam ser visualizadas como uma ameaça para a produção, podem ser consideradas como uma oportunidade de mercado.

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MANEJO MEMÓRIA

Uma vida dedicada à agricultura Dirceu Gassen faleceu deixando a esposa, três filhas e um legado que ficará para a história do agro no Brasil

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

Thaise Ribeiro

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preocupação com o meio rural sempre esteve presente na vida do engenheiro agrônomo Dirceu Gassen. O entusiasmo pela agricultura começou ainda na infância, aos seis anos de idade, quando Dirceu ajudava o pai nas lavouras da família, no município gaúcho de Santa Rosa. Ao longo do tempo, o gosto pelo campo virou profissão. Fez graduação em agronomia, mestrado em entomologia e cursou controle biológico de pragas. Com o decorrer do tempo se tornou referência na área, contribuindo de modo generoso com seu conhecimento e experiência, principalmente quando o assunto era plantio direto. Ele viajou para mais de 30 países com o intuito de aderir e compartilhar conhecimento. Nesse tempo teve o suporte da família, formada pela esposa e três filhas. Tainara Gassen, a caçula, conta que quando tinha um ano de idade, no final dos anos 80, a família viajou até Nova Zelândia para Dirceu estudar e, de lá pra cá, as recordações que carrega revelam a preocupação que Dirceu tinha com o meio agrícola. “Percebo que meu pai contribuiu, significativamente, com a agricultura. Os amigos e conhecidos dele quando me encontram comentam da dedicação que ele tinha com a profissão que escolheu.” As principais características da personalidade do Dirceu, de acordo com Tainara, era o carisma, que contagiava quem estava ao seu redor; a dedicação que o tornava incansável no trabalho; e a simplicidade que o fazia compartilhar todo seu conhecimento com quem precisasse. A prova disso é visível, basta observar sua última postagem na página que tinha no Facebook: “Cada indivíduo dedica tempo, energia e conhecimento para cultivar a paz, desenvolver o bem... de acordo com o caráter e valores que tem...”.

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Dirceu Gassen foi uma das maiores referências do Brasil em plantio direto

Dirceu gostava de registrar suas novas descobertas por meio da fotografia. Em 2014, ele compôs a exposição “Visão do Agro através de imagem” em Gramado/RS. Outra característica era o gosto pelo esporte, especialmente pelo tênis, onde além de praticar, ele aproveitava o momento para encontrar os amigos. Produzir objetos artesanais em madeira era outro hobby. Em todos os lugares que passou, deixou amigos, alunos e admiradores do seu conhecimento. Sua proposta era de ensinar que a ciência, aliada às boas técnicas agrícolas, pode gerar safras cada vez mais produtivas. Foram 65 anos de admiração pelas singularidades do campo, traduzidos em mais de 200 estudos sobre a proteção das plantas, que daqui em diante serão passados, de geração em geração, aos futuros engenheiros agrônomos. Dirceu morreu no dia 3 de setembro deste ano, em decorrência de um câncer. Deixa para trás muitos admiradores e um legado que será sempre lembrado por aqueles que eram mais próximos e por todos que tiveram a oportunidade de um dia ouvi-lo compartilhar aquilo que sabia.

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O Dirceu é uma personalidade eterna na minha vida. Primeiro ao vê-lo entusiasmado num palco pregando as boas práticas com sabedoria única. Segundo ao adotar a expressão: ‘agroconhecimento: a rentabilidade é proporcional ao conhecimento aplicado a cada hectare’. E terceiro ao ver o eterno amigo no nosso show de rock em São Paulo. Dirceu, amigo para sempre!” José Luiz Tejon Megido Conselheiro Fiscal do Conselho Científico Agro Sustentável

Tive o prazer de ser aluno do Dirceu Gassen, um exemplo de profissionalismo, competência e dedicação. Deixa um precioso legado científico através de suas pesquisas. Mesmo com formação em grandes centros internacionais, sempre se destacou pela facilidade de transmitir seus conhecimentos aos produtores de forma simples e didática.” Elmar Konrad Vice-presidente da Farsul

Palestra sobre água no solo em 2012

Egresso da sétima turma (1977) de Engenheiros Agrônomos da Universidade de Passo Fundo foi sempre um grande colaborador, orientador e motivador dos nossos acadêmicos. Dezoito dias antes do seu falecimento nos prestigiou com sua presença na aula inaugural do curso de Agronomia da UPF.”

Entusiasta é a palavra que descreve Dirceu Gassen. Foi uma pessoa de ânimo constante, sempre convicto em fazer o certo, disposto a participar e criar novos projetos em prol da agricultura. Não se preocupava primeiramente em como iria financiar seus projetos, em como ia receber. Em primeiro plano vinha a promoção da cultura da soja, do trigo, do milho. O resto ele pensava depois em como resolver. Com essa empolgação e com muito conhecimento ele ajudou a Biotrigo. Era um profundo conhecedor da importância do trigo para a agricultura. Sempre esteve disposto a conceder palestras e ajudar o agricultor a plantar melhor. Tem uma frase de sua própria autoria que resume sua trajetória: ‘Rentabilidade é uma função do conhecimento aplicado em hectare.’ E, assim, ele colocava em prática a capacidade de enxergar um conhecimento de muitas culturas e de muitos problemas. Certamente é um profissional e uma pessoa de muito bom coração que vai fazer muita falta!”

O reconhecimento da importância do seu trabalho na área de entomologia agrícola levou-o a ser agraciado, em 1995, com o nome de uma espécie que parasita os adultos de Diabrotica spp, cujas larvas são pragas de diversos cultivos: Centistes gasseni. Dirceu foi um entusiasta do Sistema Plantio Direto, sendo impossível separar o seu nome dessa revolução no manejo de solo que mudou a face da nossa agricultura.”

André Cunha Rosa Diretor Biotrigo Genética

Ana Christina Albuquerque Chefe de Pesquisa Embrapa Trigo

O Pesquisador Dirceu Gassen sempre foi um profissional entusiasmado pela agricultura brasileira, preocupado com o produtor rural, fomentava a criação de grupos de discussões visando a melhoria do manejo para o aumento da produtividade das culturas. A agricultura brasileira deve muito ao seu brilhante trabalho”.

Lamentamos muito a perda de Dirceu Gassen, um verdadeiro entusiasta do agronegócio. Apaixonado pelo que fazia, ele sempre estava disposto a compartilhar informações, sendo um defensor do desenvolvimento da agricultura. Perdemos um homem e um profissional exemplar. Perde a agricultura, perde o país”.

Alexandre Levien

Erasmo Carlos Batistella

Diretor Técnico e Administrativo Fundação Pró-Sementes

Presidente BSBIOS

Vilson Antonio Klein Coordenador do Curso de Agronomia da UPF

Dirceu com as filhas Tatiana, Thais e Tainara em 1988

Observando o desenvolvimento de uma lavoura, em 1986

Produzir artesanato em madeira era um de seus hobbies

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CT& Bio

Gilberto Cunha

gilberto.cunha@embrapa.br

Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo

Eliseu

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liseu Roberto de Andrade Alves, aos 87 anos de idade, ainda cumpre, diligentemente, a rotina diária de 8 horas de trabalho, tal qual qualquer outro empregado, na sede da Embrapa, em Brasília, DF. Por que esse homem, que foi fundador e é considerado o mais importante colaborador dessa empresa, faz isso? Eis uma questão intrigante, cuja resposta pode ser encontrada no livro “Prosa com Eliseu/entrevista a Jorge Duarte”, que acaba de ser publicado na série Memória Embrapa e encontra-se disponível para download gratuito no endereço https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1090761/prosa-com-eliseu-entrevista-a-jorge-duarte Após muitas horas de conversação com o Dr. Eliseu Alves, o jornalista Jorge Duarte conseguiu traçar, mais do que um retrato da vida pessoal e profissional do entrevistado, uma breve história do papel da extensão rural e da pesquisa agrícola no desenvolvimento do Brasil. E, mais relevante, apontou, na visão de um gestor e cientista singular, os rumos a serem seguidos se quisermos ir um pouco mais além. Eliseu Alves nasceu em São João Del Rei, em Minas Gerais, mas foi criado na fazenda do avô, no município vizinho de Itutinga, onde viveria até os nove anos. Depois, até o ingresso, em 1951, com a 1ª colocação, na Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (atual Universidade Federal de Viçosa), passou 11 anos em colégios internos, começando pelo Ginásio Gammon, de orientação presbiteriana, onde consolidou a religiosidade e a fé em Deus, que são professadas até hoje. A carreira de Eliseu Alves teve início na extensão rural. Ingressou, em 1955, na Acar MG (atual Emater-MG), um marco da extensão rural no Brasil, criada em 1948, sob os auspícios financeiros do 14 |

empresário americano Nelson Rockefeller. Em 1965, casado com uma prima, Dona Eloisa, e pai de dois filhos, Edilberto (morto aos 33 anos, em 1995, num acidente de carro) e Elisabete, vai para os EUA cumprir programa de mestrado e doutorado em Economia Agrícola, sob a orientação do professor Edward Schuh, na Purdue University, em Indiana. Voltou ao Brasil em 1968, com uma dissertação de mestrado cuja conclusão fora de que não havia diferença no desenvolvimento da agricultura entre municípios assistidos e não assistidos pela extensão rural em Minas Gerais. Aqui estava o insight

Eliseu Alves, que fez parte da primeira diretoria da Embrapa, não hesita afirmar que a agricultura brasileira moderna começou, de fato, em 1973, quando da criação dessa empresa, e, paralelamente, com os avanços de conhecimento obtidos nos cursos de pósgraduação em ciências agrárias no Brasil.

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que o levaria a repensar a extensão rural brasileira e qual o novo tipo de pesquisa agrícola que o País necessitava. Por isso, Eliseu Alves costuma enaltecer mais a sua dissertação de mestrado do que a tese de doutorado, cujo título de Ph.D. foi obtido, também pela Purdue University, em 1972. Eliseu Alves, que fez parte da primeira diretoria da Embrapa e, como seu segundo presidente (1979-1985), foi quem consolidou o novo modelo de pesquisa no País, não hesita afirmar que a agricultura brasileira moderna começou, de fato, em 1973, quando da criação dessa empresa, e, paralelamente, com os avanços de conhecimento obtidos nos cursos de pós-graduação em ciências agrárias no Brasil. O foco na solução dos problemas dos agricultores, a sistematização do conhecimento, a ênfase na capacitação dos cientistas e em comunicação de resultados levaram, por um lado, a um reconhecido programa de distribuição de renda (crescimento da economia e queda nos preços dos alimentos), e, por outro, ao aumento da desigualdade no campo, uma vez que, pelas imperfeições de mercado, cerca de 3,9 milhões de estabelecimentos rurais no País (pelos dados do censo de 2006, podendo piorar quando da divulgação do novo censo) ficaram à margem da modernização da nossa agricultura. Eis o desafio, como incorporar esses agricultores de forma competitiva nesse processo, em que, cada vez mais, na chamada produtividade total dos fatores, os clássicos “terra e trabalho” perdem força diante do “capital/inovação tecnológica”. Quanto aos motivos de por que o Dr. Eliseu Alves, aos 87 anos, ainda continua trabalhando na Embrapa, eis a resposta dele: “a Embrapa é a maior ideia na qual me engajei de corpo e alma e trabalho por obrigação com a sociedade”.


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CAPA

Integração Lavoura- Pecu Diversificação que gera r

Giseli Furlani

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m um espaço aconchegante no galpão, o chimarrão e o bolo de milho nos dão as boas-vindas. Antes de sair para conhecer a propriedade nos acomodamos ao redor da mesa para escutar a jornada de quem hoje é considerado um modelo no sistema Integração Lavoura-Pecuária (ILP). Ivonei Librelotto é um produtor atento às mudanças que o mundo do agro oferece e como ele mesmo diz, “se permite encarar novos desafios”. O que nos levou até Boa Vista das Missões, Norte do Estado gaúcho, para conhecer de perto a fazenda Librelotto, foi justamente um dos modelos

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de produção que vem crescendo no Brasil e deve prevalecer no futuro: o de sistemas integrados. O sistema permite a intensificação da área agrícola durante todo o ano com a união do plantio em rotação e criação de animais na mesma terra.

Informação transformada em resultado O contato de Ivonei com o campo começou desde cedo quando seu pai, Frederico, foi adquirindo uma área aqui outra ali, ainda na época em que um espaço de terra tinha pouco ou quase nenhum valor. No início, a família visitava a propriedade para acompanhar o plantio e a colheita, nos finais de semana ou quando tinha algum tempo livre. “Meu pai sempre trabalhou e

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uária: renda e sustentabilidade

tinha paixão pela pecuária. Já com a lavoura fazia porque era rentável, mas como ele tinha outras atividades não era um produtor que morava na propriedade”, relata Librelotto. No entanto, esse modelo de produtor de final de semana deixou de existir quando seu pai resolveu construir uma casa provisória na propriedade e se fixar no local. Com o novo espaço, a família foi “pegando gosto” de estar no local, tocar a lida e ajustar as pendências da fazenda. “Acredito que para deixar uma propriedade do jeito que você quer tem que morar nela, dificilmente vindo só nos finais de semana vai conseguir organizar”, comenta Librelotto. Dos quatro filhos do seu Frederico, Ivonei foi o único que permaneceu com as atividades do campo, her-

dou parte da terra de seu pai e hoje a fazenda Librelotto está com pouco mais de 100 hectares e conta com cerca de 200 cabeças de gado no sistema de cria, recria e engorda. Diferente de seu pai, Ivonei sempre gostou das duas atividades, pecuária e lavoura. “Achava meio injusto esta coisa de que a lavoura tem que ser bem cuidada e o gado tem que só largar no campo, comendo o que tiver, como quiser”. Segundo ele, lavoura e pecuária não se acertavam. “Não conseguíamos unir os dois mundos e fazer com que desse certo”. Foi sob o olhar curioso e atento às informações que Librelotto encontrou uma forma de transformar a produção na propriedade. Ao ler uma matéria, no ano de 2007, descobriu o trigo de duplo propósito (trigo DP),

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Fomos aprendendo e melhorando ano a ano nossa terra. A pesquisa cria soluções e nós nunca esgotamos elas.” Ivonei Librelotto Produtor Rural

um cereal que permite tanto ser utilizado para alimentação dos animais quanto para colheita de grãos. Com seu perfil inquieto, Ivonei buscou saber mais sobre o assunto e transformar a informação em resultado.

Difusão do sistema na fazenda Librelotto relata que, na época, conseguiu entrar em contato com Renato Fontaneli, pesquisador de integração lavoura-pecuária da Embrapa Trigo, que foi o autor da matéria que despertou interesse no trigo DP e no modelo de sistema. “Liguei para o Renato e ele nos disse que o cereal era desenvolvido para fazer até três pastejos e poderiam ser colhidas 40 a 50 sacas de trigo. Fiquei entusiasmado com a ideia, mas um pouco cético por medo de fazer um mal investimento”, comenta Librelotto, que mesmo receoso foi atrás e conseguiu encontrar um produtor de sementes de Chiapetta. “Fomos lá e trouxemos a semente para plantar e deu certo, o trigo ficou muito bonito, tanto é que quando foi a hora de largar os animais nele não tinha coragem de tão bonito que estava”, recorda Librelotto. Os animais realizaram os pastejos e a fazenda colheu 45 sacas de grãos no inverno, foi aí que Ivonei deu o primeiro passo para uma gestão de integração na propriedade. “O trigo DP é uma ferramenta fantástica, ele conseguiu unir esses dois mundos: lavoura e pecuária, viabilizando o inverno e a partir daí percebemos que as safras de verão começaram a ser mais produtivas”, afirma. De acordo com o pesquisador de integração da Embrapa Trigo, Renato Fontaneli, as primeiras cultivares brasileiras de trigo foram lançadas na década de 1990, com o objetivo de oferecer um cereal de inverno com ciclo vegetativo mais longo, que permite tanto a utilização para a alimentação dos animais por meio de pasto, quanto para a colheita de grãos. “Nos cultivos de inverno parte pode ser plantando trigo DP (cultivares BRS Tarumã ou BRS Pastoreio) e outra parte aveia e azevém, tudo semeado em março/abril, onde os animais poderão pastejar de maio até julho. Quando inicia o alongamento do trigo, retira-se os animais para que rebrote e produza grãos e os animais continuarão a serem pastoreados na pastagem de aveia e azevém”, explica Fontaneli. Com a implementação do trigo DP na propriedade, em 2007 Librelotto teve que diminuir a área de lavoura para poder ter área de pastagem. “Quem faz integração tem gado o ano inteiro na terra e, por isso, não pode ter medo de tirar uma área da lavoura para ter pastagem com o trigo DP”, comenta o produtor. Ao ver o rendimento do sistema foi aumentando o número de animais na propriedade. Para o pesquisador Fontaneli, o trigo DP tem vantagem relativa às pastagens tradicionais. “Pode-se produzir mais ou pelo menos o mesmo


propiciado pelas pastagens anuais de inverno. Os novilhos podem ganhar até mais de 1,5 kg diários, podendo resultar de 100 a mais de 600 kg/ha”, destaca Fontaneli. Para o produtor Librelotto, o trigo DP ainda vai ter um bom caminho. “Ainda estamos no começo, mas é uma produção que vai conquistar espaço nas propriedades”, comenta Librelotto. A descoberta do trigo duplo propósito foi fundamental para a fazenda Librelotto iniciar suas atividades no sistema ILP e começar a ter parceiros na atividade. “Em um primeiro momento a Emater nos procurou para saber mais sobre o trigo e depois do terceiro ano com o cereal a Embrapa Trigo passou a nos dar suporte da pesquisa e começou a fazer validações na propriedade. A Universidade de Santa Maria também entrou como parceira com os alunos de zootecnia nas validações de ganho de peso do gado”, conta Librelotto. A propriedade aos poucos foi recebendo visitas para conhecer o sistema em que era possível ter lavoura com um ótimo rendimento e animais o ano inteiro na mesma terra. “Recebíamos uma visita aqui outra ali, chegou em um ponto em que não conseguíamos mais trabalhar porque sempre tinha gente visitando a propriedade”, comenta Librelotto, que decidiu então criar um dia de campo para reunir todos os interessados. “Fizemos o evento e conseguimos reunir mais de 100 produtores. No outro ano o número duplicou e cada ano foi aumentando mais. Quando vimos estávamos com mais de mil pessoas para conhecer o sistema”. Hoje a fazenda Librelotto conta com uma área que é usada como um laboratório a céu aberto para realizar experimentos onde as forrageiras mais promissoras, por exemplo, são repassadas para as outras áreas da propriedade. “Fomos aprendendo com essas ações e melhorando ano a ano nossa terra. A pesquisa cria soluções e nós nunca esgotamos elas”, comenta Librelotto. A propriedade de Ivonei tornou-se um polo de difusão da tecnologia do sistema integrado lavoura-pecuária, o que orgulha o proprietário. “Sempre vamos aprendendo mais com cada experimento que entra na propriedade e temos satisfação em dizer que o sistema ILP é o que mais cresce no estado do Rio Grande do Sul, é uma tecnologia incrível”, alega o produtor, que vê a integração uma oportunidade de fixar o homem no campo com uma atividade rentável. “Vejo que as pessoas olham muito para um ponto só, para aquilo que dá dinheiro no momento, mas temos que pensar que mundo está mudando muito rápido e o que dá dinheiro hoje pode não dar amanhã. Por isso esse olhar para diversificação na produção”.

Resultados na produção de alimentos O sistema ILP consiste na exploração das atividades agrícolas e pecuárias, e um dos grandes benefícios é

O que é? F O Sistema ILP, segundo a Embrapa, consiste na exploração de atividades agrícolas e pecuárias, de forma integrada, em rotação ou sucessão, na mesma área e em épocas diferentes, aumentando a eficiência no uso dos recursos naturais, com menor impacto sobre o meio-ambiente, uma vez que os processos de degradação são controlados por meio de práticas conservacionistas. O ILP consiste na diversificação da produção, possibilitando o aumento da eficiência na utilização dos recursos naturais, a preservação do meio ambiente, a estabilidade de produção e a renda do produtor.

essa diversificação da produção, possibilitando o aumento de renda. Na fazenda Librelotto os resultados não demoraram para aparecer, e hoje a média da propriedade gira em torno de 300 quilos de carne por hectare em cada ciclo de engorda. Nos últimos quatro anos produziram em média 80 sacas de soja por hectare. De acordo com Renato Fontaneli, quando o sistema inclui engorda de novilhos no inverno, a cada duas safras de soja em sucessão a engorda de novilhos, há um aumento de renda equivalente a mais uma safra de soja, ou seja: renda de três anos em dois. A integração lavoura-pecuária é tida pela FAO como a forma de produção sustentável capaz de atingir a produção de alimentos para uma população estimada de 10,5 bilhões de pessoas em 2050. “O Brasil deverá ser responsável pela produção de, aproximadamente, 30% a 40% de alimentos para esse aumento de população global, além do que já está produzindo”, pontua Fontaneli. Librelotto acredita na sustentabilidade do sistema e consegue visualizar um futuro promissor. “Nosso sistema integrado de produção tem gerado renda, fixado o homem no campo e nos deixado muito felizes por desenvolver esse trabalho. E vamos ter sucessão, vai ter gente morando na propriedade daqui 10, 20 anos”, conta Librelotto ao lado de sua filha, a pequena Pietra, de nove anos.

Modelo de produção e filosofia de vida Um produtor curioso e aberto para as novidades. Nessas andanças da vida já fez uma plantação de nozes, criou ovelhas e foi sócio em um empreendimento. “Penso que tenho uma vida só e preciso aproveitar ela, e vou tentar esgotar todas as possibilidades”, diz Librelotto. Desde que se fixou na propriedade e começou a abrir as portas para as oportunidades, Ivonei passou a verticalizar o sistema. “No início eu sempre pensava em ter 500, mil hectares e agora vejo que com os 100 hecta-

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FOTOS: GISELI FURLANI

res que temos, ainda não conseguimos explorar tudo, Ivonei conseguiu dobrar a produção da propriedade. as possibilidades não se esgotam”, relata o produtor. “Vejo oportunidade nas coisas em que a maioria não Para Librelotto, o novo modelo de produção se está fazendo, e um olhar aberto para iniciarmos o sistornou uma filosofia de vida. “Deitema ILP foi fundamental. Hoje temos xou de ser aquela coisa eu venho, um trabalho sustentável, que gera renexploro e vou embora. Hoje temos da, emprego e satisfação para as pesum lugar aprazível para se viver e soas envolvidas”, diz Librelotto. E as toda hora recebemos visitas na promudanças não param por aí, a fazenda Hoje temos um priedade, então todo esse sistema faz recebe cerca de mil pessoas durante o parte de um contexto muito maior”, trabalho sustentável, ano para visita e a ideia do produtor que gera renda, relata Librelotto. Ele acredita que o é fortalecer a marca Librelotto com a maior problema no mundo rural não emprego e satisfação produção de bolachas, massas, queijos para as pessoas está na falta de conhecimento, nem coloniais e outros produtos. “Nossa envolvidas”. no operacional e na tecnologia, está intenção é viabilizar a produção da na gestão. “Costumo dizer que tem mulher do campo, onde minha muIvonei Librelotto Produtor Rural uma palavra que é mágica que se lher e as vizinhas da propriedade prochama diagnóstico, onde o produtor duzem os alimentos, para que no fim tem que entender o negócio dele e ver o que realdas visitas que recebemos, se gostarem possam levar mente precisa para sua realidade”. produtos produzidos por nós e não industrializados”, Com a implementação do trigo duplo propósito, relata Librelotto. 20 |

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CENSO AGRO

Tupanciretã lidera produção de soja no Estado

Os municípios da Região Central, Noroeste e Fronteira-Oeste estão na frente no ranking da produção gaúcha de soja. Os dados fazem parte da divulgação preliminar do Censo Agropecuário 2017, lançada em julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Abaixo, você confere também a produção gaúcha de milho e trigo. **Os gráficos não se comparam entre si Milho - Grão | Rio Grande do Sul 5.410.917,687 toneladas 179.928 estabelecimentos

Soja - Grão | Rio Grande do Sul 17.268.758,965 toneladas 95.394 estabelecimentos Milho toneladas

Soja toneladas

0,730 - 1.337,660 1.372,752 - 4.410,520 4.459,720 - 9.798,780 9.870,480 - 16.972,380 17.548,860 - 106.061,600 Sem informação

2,040 - 4.516,140 4.757,180 - 14.850,540 14.968,980 - 28.339,620 29.252,340 - 65.453,730 65.462,880 - 496.303,041 Sem informação

Maiores produções de Milho - Grão toneladas

Maiores produções de Soja - Grão toneladas 1 Tupanciretã

496.303,041

2 Júlio de Castilhos

400.300,500

1 Palmeira das Missões

106.061,600

2 Vacaria

104.472,399

3 Cruz Alta

335.237,261

3 São Luiz Gonzaga

4 São Gabriel

319.567,380

4 Muitos Capões

83.548,740

5 Santa Bárbara do Sul

305.818,110

5 Doutor Maurício Cardoso

81.354,347

6 Palmeira das Missões

303.012,832

6 Cruz Alta

7 Cachoeira do Sul

297.239,190

7 Coronel Bicaco

59.593,740

8 Dom Pedrito

272.882,289

8 São Lourenço do Sul

55.916,085

91.174,528

65.744,43

9 Jóia

217.297,332

9 São Miguel das Missões

54.836,818

10 São Luiz Gonzaga

195.716,866

10 Canguçu

53.501,824

Trigo - Grão | Rio Grande do Sul 2.170.964,246 toneladas | 19.679 estabelecimentos Maiores produções de Trigo - Grão

toneladas

1 Giruá

69.380,270

6 São Miguel das Missões

40.683,950

2 São Borja

67.210,820

7 Cruz Alta

36.095,740

3 São Luiz Gonzaga

59.005,700

8 Santo Augusto

34.463,850

4 Palmeira das Missões

49.964,190

9 Ajuricaba

29.702,780

5 Coronel Bicaco

42.014,400

10 Ijuí

27.670,090

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LEITE

Mercado de leite orgânico cresce e conquista produtores brasileiros Nicho de mercado e remuneração acima da média estimulam produção livre de químicos e aditivos Ana Cláudia Capellari

O

leite, um dos alimentos mais consumidos no mundo, também pode ser orgânico. A produção exige determinados cuidados e é regulamentada por uma Instrução Normativa (IN) do Ministério da Agricultura. Desde a base da vaca, tudo deve ser livre de aditivos. A instrução prevê que não é possível a utilização de adubos químicos e há restrições quanto ao uso de antibióticos, vermífugos e carrapaticidas nas vacas. A alimentação, que também é regulamentada pela IN, deve ser composta de, pelo menos, 85% de produtos certificados orgânicos, como milho, sorgo e aveia, por exemplo. De acordo com o chefe de transferência de tecnologia da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos-SP) André Novo, a principal diferença do leite convencional para o orgânico é o modelo de produção. “As vacas necessariamente precisam ter acesso a pastagens, não é possível ter confinamento total e se faz o modelo mais natural possível do que seria o hábito de vida do animal, mais a pasto, mais livre”, explica. A saúde dos animais é tratada com fitoterapia e eles podem receber remédios florais para acalmar os ânimos, quando necessário. O processo de conversão de uma fazenda leiteira convencional para a orgânica pode demorar cerca de um ano e meio. Segundo o pesquisador, quem tem vontade de seguir esta produção precisa, antes de tudo, “ter um conjunto de boas práticas muito bem implantadas”. A ordenha deve ser feita com qualidade para evitar mastite nas vacas, pois como o uso de antibióticos para o tratamento é restrito, a qualidade do produto pode cair. “Se a fazenda tem uma série de problemas de produção, não sabe cuidar dos bezerros ou não tem uma reprodução eficiente, pode-se ter dificuldades maiores para a adaptação ao orgânico”, salienta. 22 |

Além desse processo, os animais precisam de mais seis meses de alimentação só com produtos orgânicos para estarem ajustados ao novo sistema. O pesquisador observa que a necessidade de pastos bem manejados é uma das questões mais importantes na produção de leite orgânico. “A maioria dos produtores da região de São Carlos, no Estado de São Paulo, tem trabalhado com produção de forragem de alta qualidade, com silagem de milho em alta qualidade, sempre com os animais em pastejo e recebendo uma suplementação concentrada no cocho. Isso tem sido mais ou menos a regra, mas não significa que seja o modelo único, pois se pode produzir leite no Brasil inteiro de diferentes formas.”.

Em expansão O mercado de leite orgânico cresce e empolga desde pequenos produtores a grandes empresas como a Nestlé, por exemplo. Desde 2016, a empresa investe em planos de incentivo para que produtores realizem a transição das fazendas para o modo alternativo. Para fornecer para eles, os produtores devem ser autenticados por uma certificadora e são constantemente inspecionados, tanto pela certificadora quanto pelo Ministério da Agricultura, para manter o nível da produção. Atualmente, a companhia tem contrato com 37 produtores da região de São Carlos/SP, onde a Embrapa Pecuária Sudeste está lotada. Segundo André, a intenção da Nestlé é a partir de 2019 usar 100% de leite orgânico na fabricação de seus produtos alimentícios. Apesar do custo de produção ser mais alto que o do leite convencional - os insumos podem ser até 40% mais caros do que os habituais - a remuneração compensa. Os parceiros da Nestlé recebem um valor mais alto pago pelo litro de leite, cerca de 50% acima da média do mercado, pautada pelo índice Cepea/Esalq e mais uma bonificação de qualidade. André acredita que o fator remuneração facilitou o grupo de produtores a se inserirem neste mercado. No entanto, ressalta que o produtor que não tem um arranjo de comercialização adequado precisa ter cuidado. “O leite orgânico tem um custo de produção mais alto que o tradicional, então é preciso ter o mercado cativo, que possa processar o seu produto e vender diretamente ao cliente, pois o leite é um produto perecível e os produtos lácteos feitos a partir dele não podem ter conservantes. É um desafio achar o canal de escoamento da produção”, comenta. Na região da Embrapa, em torno de 30 mil litros de leite orgânico

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FOTOS: REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

estão em processo de conversão. Além do fator remuneração, há a demanda dos consumidores por produtos feitos de forma sustentável. “Do público urbano, há uma preocupação maior sobre como os alimentos são produzidos, com a qualidade intrínseca do produto que elas oferecem as suas famílias. O apelo de um sistema mais racional e sustentável de se produzir tem seduzido muita gente a gastar mais com alimentos orgânicos”. Novo acredita que o mercado de orgânicos no Brasil está começando a se estruturar, diferente do exterior, onde o mercado de derivados do leite orgânico já é consolidado.

Agregar valor ao trabalho

Nossas vacas produzem leite muito mais felizes e saudáveis no pasto” Claudinei Jr Saldanha Produtor Rural

Para divulgar a sua produção orgânica, difundir conhecimento sobre manejos e criar interação entre produtores de leite todo o Brasil, Claudinei atualiza uma conta no Instagram, rede social focada no compartilhamento de fotos e vídeos. Para conhecer a fazenda de Saldanha sem precisar sair de casa, é só procurar pelo usário @ss.organico.

Produtor de leite convencional desde o ano de 2005, Claudinei Junior Saldanha, de Itirapina, interior de São Paulo, viu na produção de leite orgânico uma maneira de se destacar e conquistar uma nova fatia do mercado leiteiro. Saldanha já era admirador do sistema das vacas mais ao pasto e quando soube como funcionava a produção orgânica, resolveu investir. “Tudo começou no final de 2012, quase em 2013, quando a Fazenda Toca, nossa vizinha, iniciou a produção de leite orgânico para ela, montou um laticínio e abriu para um parceiro. Eles fizeram algumas reuniões e convidaram cerca de 12 produtores da região. Na última reunião, só tinha ficado eu e eu topei fazer o negócio”, lembra. Após convencer o irmão de seu pai, sócio na propriedade, a entrar no negócio de orgânicos, Claudinei deu entrada no processo de conversão da fazenda em março de 2013. Em outubro do ano seguinte já estavam certificados. “Eu disse ‘tio, vamos meter a cara. É o único jeito da gente ser diferente, chamar a atenção e agregar valor ao nosso trabalho’”. No plantel de Saldanha há 45 vacas adultas e destas, 36 estão em lactação, o que gera uma produção de 630 litros diários de leite orgânico. Segundo ele, a intenção é dobrar a produção em dois anos. O processo de transição, segundo Claudinei, “foi um choque cultural”. Nos primeiros anos, o produtor teve queda na produção de forragem e silagem até aprender a manejar de forma totalmente orgânica. A adaptação dos animais ao tratamento homeopático também foi um problema a ser enfrentado, pois na região há muita incidência de carrapato. “Eu aprendi com o meu sistema funcionando e no começo foi caro, difícil, pelas quedas de produção e por não poder usar um tratamento tradicional”.

Comercialização De outubro de 2014 até maio de 2016, toda a produção de Claudinei era fornecida para a Fazenda da Toca. Depois do fechamento do laticínio dos vizinhos, ainda em 2016, o produtor encontrou na Nestlé a sua principal compradora. “A Nestlé entrou nessa região e eu fui o primeiro produtor já certificado a fornecer para eles. Estamos há dois anos fornecendo e o retorno financeiro é muito bom, pois pagam acima da média do mercado convencional e há as qualificações”, comenta. Outubro e Novembro - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nº20

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SAFRA 2018/19

El Niño, alta pressão de ferrugem e liquidez na comercialização Lavouras de soja começaram a ser implantadas a algumas semanas. Confira abaixo previsão de clima, pressão de doenças e preços para a próxima safra da oleaginosa Ângela Prestes

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icar de olho nas tendências para a próxima safra de verão é imprescindível. A Destaque Rural conversou com especialistas e trouxe um resumo de três dos principais fatores que influenciam no sucesso da lavoura de soja. Confira abaixo, a previsão de clima, pressão de doenças e comercialização para a safra 2018/19.

El Niño Chuvas constantes em todo o Rio Grande do Sul e temperaturas relativamente mais quentes marcarão a próxima safra. De acordo com o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio dos Santos, todos os modelos de previsão de El Niño indicam que as maiores chances desse fenômeno se formar será entre o final do ano e mais especificamente no começo de 2019. “Muito tem se falado sobre uma possível volta do El Niño, isso porque as águas da região equatorial do Oceano Pacífico estão em gradativo aquecimento”. Entretanto, segundo os modelos de previsão, as chances de ocorrência de formação desse fenômeno deverá mesmo ficar para 2019. “Caso venha realmente a se formar, o verão/19 no Rio Grande do Sul tende a ser com chuvas regulares e, sobretudo, em bons volumes. Permitindo que as condições se mantenham muito boas ao desenvolvimento das lavouras”, afirma Marco Antonio. O agrometeorologista explica porque a sensação, no inverno de 2018, é de que ele foi mais rigoroso que nos últimos anos, apesar de ser justamente o contrário. “Estão ocorrendo picos de frios extremamente intensos, mas de curta duração, diferen24 |

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temente do que foi registrado nos últimos dois anos, quando tivemos um inverno mais dentro da média. Mas é fato que essa condição de águas mais quentes no Pacífico impede que massas de ar polar avancem com regularidade sobre o Brasil”. Marco alerta para outro fato que merece atenção. “A região leste do Pacífico, aquela que banha toda a costa da América do Sul, na qual é denominada Niño 1+2, continua mais fria do que o normal, assim, há uma tendência de que mesmo a região central e oeste do Pacífico continuem num processo de aquecimento”. As chuvas até devem chegar mais cedo à região Sudeste, mas de uma forma tão irregular que há uma grande possibilidade de que o mês de outubro venha a ser com chuvas bastante regulares e até mesmo com volumes acima da média no Rio Grande do Sul. “Assim, o plantio do milho verão e do arroz poderá ser prejudicado, assim como a colheita do trigo”, alerta. Entretanto, diferentemente do observado no ano passado, onde outubro foi extremamente chuvoso, com longos períodos de invernadas, a tendência é que venham ocorrer chuvas mais regulares, mas com alguns bons períodos de tempo mais firme. “O que permite que os produtores vão ao campo e com isso, consigam realizar todos os tratos culturais, bem como o plantio, mesmo que de uma forma mais ‘homeopática’”.

Pressão de doenças A previsão de El Niño é boa notícia para os produtores, entretanto, traz junto algumas preocupações. O clima mais chuvoso e com altas temperaturas propicia a formação de doenças. Segundo o gerente de clientes Bayer para o Rio Grande do Sul, Cassiano Medeiros, a probabilidade é de uma severidade de ferrugem mais intensa em relação à safra passada. “O produtor que já vem trabalhando de forma preventiva, monitorando as áreas, precisa continuar se organizando, se programando, não deixando para as últimas horas, é preciso que continue fazendo o que vem fazendo”. No momento, explica Cassiano, o mais importante é controlar a soja tiguera ou guaxa – plantas que por ventura ainda não morreram no inverno e podem ser hospedeiras de doenças - aumentando a quantidade de inóculo para a próxima safra. “Para a safra 2018/19 o produtor pode esperar uma safra um pouco mais agressiva em relação às doenças, principalmente a ferrugem e também as doenças de final de ciclo. Para se proteger é preciso se prevenir e trabalhar desde as primeiras aplicações com o que se tem de melhor em tecnologia”. Com o plantio se aproximando, a recomendação é que o produtor busque informação, aconselhamento com profissionais responsáveis e orientação de um bom engenheiro agrônomo. “Isso é fundamental para que o produtor possa tomar uma decisão assertiva, com as melhores tecnologias, melhores soluções de acordo com a realidade de cada propriedade”, recomenda.

Comercialização Negociações entre Estados Unidos e China, eleições para presidência e produtividade são alguns dos fatores que influenciarão a comercialização da safra 2018/19. Por enquanto, a expectativa é de boa lucratividade, já que a China deve se voltar mais para o Brasil, o que elevará os prêmios. Entretanto, de acordo com o diretor da consultoria Trigos & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, dois fatores ainda são incertos. “Primeiro, vamos falar sobre as perspectivas do potencial produtivo da próxima safra brasileira de soja. A primeira estimativa feita por uma consultoria privada fala em aumento de 2,3% da área. Poderia ser mais, se não fossem os problemas de entrega de insumos causados pelo tabelamento de fretes. Outro empecilho ao aumento de área são os bons preços do milho; ninguém vai reduzir a área de milho para plantar soja. De qualquer maneira, o Brasil poderá ocupar o lugar do que a China não comprar nos EUA. Por isso, demanda não vai faltar e tudo o que se plantar tende a ser vendido”. Entretanto, certamente o dólar não será o mesmo. “Passadas as eleições, definido o novo presidente e, mais do que isto, o seu Ministro da Fazenda e a sua linha de atuação, a tendência é o dólar voltar aos patamares entre R$ 3,30 e R$ 3,10, no Brasil”. O fator Chicago também não deverá ser o mesmo. “Lembram-se que uma das causas da queda foi a disputa EUA-China? Se ela se resolver, no todo ou em parte, Chicago volta a subir e os prêmios no Brasil, a cair, como numa gangorra”, explica Pacheco. Segundo ele, provavelmente não voltará aos níveis de março e abril deste ano, porque a safra americana tende a aumentar e as safras sul-americanas também. “Com dólar menor, Chicago menor e prêmios menores, provavelmente não teremos preços exatamente a R$ 80,00 posto interior, como são os oferecidos hoje, razão pela qual recomendamos que sejam aproveitados nos contratos de barter ou simplesmente fixados junto aos compradores que os oferecem”, finaliza.

O QUE ESPERAR? CLIMA F Chuvas regulares e temperaturas mais quentes DOENÇAS F Severidade na pressão de ferrugem. Recomendação: No momento, controlar a soja guaxa. Investir em boas tecnologias e recomendações. COMERCIALIZAÇÃO F Liquidez, com as vendas para a China. Recomendação: Aproveitar os contratos de barter, já que os preços tendem a cair.

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ENTREVISTA

“Nós estamos trabalhando modelo medieval, tabela n A Destaque Rural conversou com o exministro Roberto Rodrigues sobre temas como a greve dos caminhoneiros e seus impactos, tabelamento dos preços dos fretes, mudança na lei dos agrotóxicos e mais

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oberto Rodrigues, natural de Cordeirópolis, São Paulo, é engenheiro agrônomo, produtor rural e foi ministro da Agricultura entre 2003 e 2006. Atualmente, Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, titular da Cátedra de Agronegócios da ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) da Universidade de São Paulo (USP). É também Embaixador Especial da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). Com uma agenda cheia de compromissos em palestras e congressos, o paulista arrumou tempo para liderar um projeto que promete fazer do Brasil o campeão mundial da segurança alimentar. O projeto, que foi lançado no começo de agosto, é um plano de Estado, que deve unir de forma definitiva as sociedades urbana e rural. Com visão até 2030, o projeto contempla áreas como tecnologia, cooperativismo, gestão do agronegócio, sustentabilidade, dentre outras. “Agora, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) uma das patrocinadoras do projeto, está organizando um evento com os candidatos a presidência da República, durante o qual eles poderão se manifestar sobre temas colocados e estamos nos comunicando 26 |

com os formuladores dos planos de governo dos candidatos, para que eles tenham a informação do que nós desejamos que seja feito, para que os candidatos venham até esse evento responderem sobre o agronegócio brasileiro e como vão apoiar esta estratégia.” A Destaque Rural conversou com o ex-ministro sobre temas como a greve dos caminhoneiros e seus impactos, tabelamento dos preços dos fretes, mudança na lei dos agrotóxicos e mais.

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o em um nunca mais” FOTO: FABIO H. MENDES

DESTAQUE RURAL FA greve dos caminhoneiros evidenciou um dos principais gargalos brasileiros, que é a dependência na malha rodoviária. Por que o Brasil continua tão dependente das rodovias? ROBERTO RODRIGUES: Continuamos dependentes das rodovias porque o Brasil, infelizmente, abandonou os modais ferroviá-

rios e hidroviários para formalizar toda a sua estrutura de transporte via rodovias. Isso é uma questão infeliz, porque nós temos hoje a mesma malha rodoviária de 30, 40 anos atrás, mostrando que de fato evoluímos quase nada neste setor e isso nos coloca em uma posição de dependência e cria uma fraqueza institucional, como ficou claro na greve dos caminhoneiros. Não existe nenhuma chance de mudar isto nas próximas duas ou três safras, não há qualquer projeto que se interesse por ferrovias para valer e isto demanda muito tempo. Além disso, há uma questão subjacente que é muito complexa: hoje o Estado brasileiro não tem recurso para investir em ferrovias, logística e infraestrutura. Há também o déficit da armazenagem, de modo que esses investimentos só ocorreriam através de parcerias público-privadas, é a única maneira de avançar nesta questão. Por outro lado, as parcerias dependem, fundamentalmente, de segurança jurídica. Ninguém vai investir se não tiver segurança com o retorno dos investimentos, então nós precisamos de uma estrutura jurídica que faça com que os investidores se interessem pelo processo, que tenham um ‘pay-back’ razoável, em curto prazo ou em um prazo cabível para que os investimentos dessa natureza retornem e, a partir disso, montar projetos bastante adequados que contemplem não interesses de governadores, parlamentares ou prefeitos, mas interesses do país, considerando os volumes a serem transportados. Não adianta fazer uma ferrovia em um lugar onde passa pouca carga porque interessa o governador do Estado, o importante é montar uma estrutura lastreada na demanda por cargas. Então, segurança jurídica, parcerias público-privadas e projetos com prioridade. E Outubro e Novembro - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nº20

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mais: não se resolve de um ano para o outro, é demorado. Ainda viveremos dificuldades com relação a esse assunto. DR F O tabelamento de frete já teve repercussões na agricultura, inclusive dificultando o abastecimento de fertilizantes para a próxima safra de soja. Como o senhor vê essa decisão do governo? O agronegócio deveria estar pagando a conta da greve dos caminhoneiros? RODRIGUES: Claro que não deveria pagar a conta, mas infelizmente está pagando. Em boa parte, a sociedade urbana pagou um custo alto, porque teve a falta de alimentos nas prateleiras, falta de remédios em hospitais e farmácias e isso gerou um gargalo inflacionário negativo para todo mundo, a sociedade também pagou um pouco mais caro pela greve. O tabelamento é um absurdo, inclusive há uma certa perplexidade no ar de como pôde o próprio governo brasileiro e o parlamento homologarem um cartel ao estabelecerem uma tabela de preço, esse foi um tema muito discutido no mercado. Claro que o caminhoneiro, sacrificado pelo preço do combustível, acabou ficando mais balizado no processo de renda, então, ele tem razões ao querer algum tipo de garantia por seus resultados, mas não criando uma tabela em que coloca o produtor rural no ‘corner do ring da renda’. É preciso que haja uma negociação mais aberta e que a ação do governo seja concentrada apenas em mecanismos tributários que reduzam o custo de combustível para o caminhoneiro. Fora isso, nós estamos trabalhando em um modelo medieval, tabela nunca mais. DR F Nas últimas décadas o Brasil vem avançando em produtividade e uso de tecnologia no campo, o que fez aumentar a importância da produção nacional a nível mundial. O que garante que o Brasil continuará sendo uma potência na produção de alimentos? O que precisa ser feito para que continuemos mantendo essa linha de crescimento? RODRIGUES: Essa pergunta tem duas ver-

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tentes. A primeira é olhar a demanda global. A demanda existe e a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) fez um trabalho mostrando que em 10 anos a oferta mundial de alimentos tem que crescer 20% para que não haja fome no mundo, 20% em 10 anos. Mas, a OCDE também argumenta que para crescer 20% em 10 anos o mundo, o Brasil tem que crescer 40%, ou seja, nós somos incitados pelo mundo consumidor, a partir do estudo de uma academia relevante e séria que é a OCDE, a aumentar em 10 anos o abastecimento em 40% para que o mundo cresça a metade, 20%. Isso realmente é um chamamento para qual nós não podemos ficar de costas, nós temos que olhar essa questão. Portanto, a demanda existe. Mas como atender a esta demanda? A resposta também é simples no ponto de vista da objetividade, nós precisamos ter uma estratégia. O Brasil tem três características que nenhum outro país no mundo tem somadas: a primeira é que nós temos aqui a melhor tecnologia tropical do planeta, uma tecnologia sustentável que tem permitido o crescimento da produtividade de maneira espetacular, reduzindo a demanda por desmatamento. O produtor brasileiro e a pesquisa brasileira promovem uma tecnologia extraordinariamente sustentável que nos permite alcançar mercados cada vez maiores. O segundo é que ainda há terras disponíveis. O Brasil ocupa apenas 9% de seu território com agricultura e temos aí mais 21% do território com pastagens, como a pecuária vem progredindo muito no país, provavelmente teremos áreas de pastagens virando agricultura em um futuro próximo, nós temos terras disponíveis para aumentar a produção rural. O terceiro ponto é de que temos gente capacitada. O Brasil tem gente jovem na agricultura. Hoje, em qualquer fazenda brasileira, há meninos e meninas altamente preparados e capacitados, ligados no computador, sabendo o preço dos produtos em qualquer lugar do mundo, se choveu ou não, eles têm uma visão clara que possibilita a tomada de decisões. Então estes três fatores - tecnologia, terra e gente - permitem ao Brasil crescer 40% em 10 anos. Mas, não é suficiente, é necessária

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Nós temos terras disponíveis para aumentar a produção rural.”


uma estratégia que contemple vários temas. ção Carne Fraca, por exemplo. Isso nos tira Posso elencar alguns: o primeiro é a ren- mercados e oferece aos concorrentes uma da. O Brasil ainda é um país que precisa ter vantagem competitiva. Não é possível conuma política de renda adequada. O seguro tinuar dessa forma, é preciso fazer grandes rural fui eu quem fiz enquanto era ministro investimentos em defesa sanitária para não da agricultura. No primeiro ano de manda- permitir ao concorrente nenhuma vantagem to, em 2003, fizemos um seguro rural com o com fraquezas do nosso lado. apoio formidável da Frente Parlamentar da Há algumas legislações que tem de ser Agropecuária (FPA). Se não fosse esse apoio, modificadas também, como por exemplo a não entraríamos com o seguro naquele ano. previdenciária, que não foi possível realizar Após 15 anos, nós não temos nem 10% da neste ano, a tributária, a ambiental, o Cóárea agricultável no Brasil coberta com se- digo Florestal, que é uma grande conquista guro rural, é pouco, é preciso ter um seguro do Brasil, infelizmente não tem percentuais rural mais consistente, inclusive um seguro definidos de reservas legais, de APPs (áreas de renda que garanta a estabilidade da esfe- de preservação permanente), então é precira produtiva. so ter um pouco mais de ciência para evoluir O segundo tema é uma política comercial nas limitações que temos. mais consistente. O Brasil não tem nenhum Há uma série de outros temas... é preciacordo bilateral com países relevantes, so inserir a agroenergia cada vez mais, pois grandes consumidores, tem apenas com a possibilidade do milho tamcom países pequenos. Nós precibém se transformar em álcool, gera samos ter acordos bilaterais mais uma mudança na oferta brasileira vigorosos que permitam ao Brasil de alimentos. Com a transformação aumentar seus mercados e agregar do milho em etanol é necessário A relação valor à produção exportada, não olhar essa mudança com bastante exportar apenas a matéria-prima, carinho, implementando o Renovaurbanomas exportar produtos já com valor bio de maneira realmente eficiente. rural na agregado mais alto. Nós precisamos nos preocupar agricultura Um terceiro tema de uma estramuito com o cooperativismo e asbrasileira tégia dessa natureza é a logística. sociativismo. As cooperativas estão é imensa Nós precisamos investir nisso para ganhando uma dimensão cada vez e nós é valer com projetos bastante ademais importante no cenário nacioque não quados ao momento brasileiro. Não nal para que o pequeno produtor mostramos é possível que se tenha um milho seja garantido e possa progredir isso.” que saia do Norte do Mato Grosso e na atividade. Da mesma forma, as vá ao Porto com um frete que custe cooperativas de crédito se transfortanto quanto a saca de milho, é um absurdo maram em um elemento fundamental. Se as e temos que virar esse processo para sermos cooperativas de crédito fossem o único sismais competitivos. tema financeiro, seria o sexto maior banco Um quarto tema é a tecnologia. Nós temos do Brasil, que tem um poder crescente e que a melhor tecnologia tropical do mundo, mas deve ser estimulado cada vez mais pelo Esisso é um processo dinâmico, não se pode tado e pela sociedade. nunca dormir sob os louros alcançados, porA gestão agropecuária, em que a assistênque se os países que concorrem conosco au- cia técnica seja mais bem desenvolvida, com mentarem suas tecnologias, nós vamos per- projetos de processos que regulam perdas e der mercados. É preciso investir muito mais desperdícios, dando mais viabilidade e acesem tecnologia, seja em termos financeiros, so a alimento a consumidores de todos os nas estruturas para que as pesquisas sejam nichos. desenvolvidas ou na formação de pessoas caEntão, ter uma estratégia é fundamental pacitadas para tocar a pesquisa. e toda ela tem que ser embalada por susAlém disso, tem a defesa sanitária. tentabilidade. Hoje não há competitividade Nós ficamos parados no tempo e isso nos em nenhum produto do mundo sem que ele trouxe grandes problemas, como a Opera- seja produzido de forma sustentável, com Outubro e Novembro - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nº20

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respeito ao meio ambiente, com atenção a questão social e com rendimento econômico adequado. Sustentabilidade é isso: economia social e ambiental. É preciso que tenhamos um modelo mais competitivo e eficiente do que temos tido até agora.

adequadamente a sociedade para que não haja uma enganação da realidade. DR FÉ preciso mudar a imagem do agronegócio, que aparece como vilão? Como fazer isso?

DR F Estamos em meio a uma discussão sobre os agrotóxicos, como o senhor vê essa questão da mudança da lei?

RODRIGUES: Eu acho que já está mudando isso. Eu acho que a sociedade urbana já reconhece o agro, a importância do agro no PIB, nas exportações, na geração de empreRODRIGUES: Essa é uma discussão que go. É mais ou menos voz comum que o agro acabou virando passional, sem nenhuma raé a alavanca da economia brasileira, não há cionalidade e eu nem gosto do nome agrotóquem duvide disso. O problema é que, dixico, prefiro chamar de defensivo agrícola. ferentemente de países desenvolvidos, em O que existe atualmente é um modelo buroque a sociedade urbana se sente ligada ao crático de reconhecimento de novas moléagro, aqui esse processo ainda não avançou. culas e fórmulas, que faz com que esse proEu, Roberto, sou produtor rural e quando cesso demore oito ou nove anos, enquanto eu planto uma semente de soja, eu estou que em países desenvolvidos, em no máxiplantando com máquinas agrícolas que são mo dois anos qualquer defensivo produzidos em fábricas urbanas, agrícola é homologado. As empreportanto, o operário das empresas que investem em geração de sas que fabricam essas máquinas novas fórmulas buscam vez mais tem tanta responsabilidade quanprodutos sustentáveis, produtos to eu no sucesso da agricultura. que tenham uma melhor condi- É preciso agilizar Eu uso adubo, que é fabricado os processos de ção de defesa ambiental, entre na cidade, eu uso crédito rural, reconhecimento outras coisas, então quanto mais que vem dos bancos urbanos. Na nova a molécula, mais preserva- de moléculas, em verdade, quando eu planto uma cionista ela é. Se leva quase 10 benefício ao meio semente, eu estou dependendo anos a aprovação de uma molémuito do urbano. Todo o processo ambiente e a cula, é atrasado em 10 anos a re- sustentabilidade. em volta do meu plantio é ligado dução da questão de agressão ao a área urbana. Quando eu venmeio ambiente. É preciso agilido a minha produção, também é zar os processos de reconhecimento de mopara a área urbana, para uma indústria de léculas, em benefício ao meio ambiente e a alimentos, para uma trading, o supermercasustentabilidade. É isso que busca a legislado que compra o alimento. ção de defensivos. Não se trata de consumir A relação urbano-rural na agricultura bramais veneno, como muitas pessoas desinsileira é imensa e nós é que não mostramos formadas dizem, não se trata de piorar as isso. Eu, sozinho na agricultura, não faço nada condições sanitárias do produto, a qualidasem a sociedade urbana, que produz insumos de do alimento. Trata-se apenas de moderou come a minha produção. Eu dependo do nizar o sistema e agilizar os processos que consumidor urbano para ter minha atividade viabilizem essa modernização. É claro que sustentada. É univitelina a relação e é isso tudo isso deve levar em consideração a saúque falta comunicar melhor. A sociedade rude humana, a saúde dos animais, a questão ral depende da urbana que depende da rural. ambiental, toda e qualquer modernização, Essa verdade não tem sido mostrada adequaque é indispensável para que se desburocradamente. Hoje, a sociedade urbana já recotize os processos, tem que ser tratado sob nhece a importância da agricultura, mas não a a ótica da saúde humana e isso está claraconsidera como uma coisa dela, e é nossa. Eu mente comtemplado no projeto de reforma acho que é necessário mostrar para a sociedade dos defensivos. O que se precisa é informar urbana a relação íntima que une a ambos.

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#CAMPOEMDESTAQUE Pensando em valorizar as belezas do campo, a Destaque Rural pediu aos leitores o envio de uma foto de sua propriedade. Recebemos, em uma semana, cerca de 50 registros de mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Abaixo, estão as 10 imagens que tiveram mais curtidas em nossa fanpage. Na página Destaque Rural, no Facebook, você encontra todas as fotos.

Propriedade de Carmem Gaio, em Videira/SC

Foto de Jaqueline Petroli, em Caseiros/RS

Foto de Ana Tumelero, em Caseiros/RS

Registro de Leandrea Vieira, em São José dos Ausentes/RS

Foto de Deise de Souza, Pinhal da Serra/RS

Foto de Thaís Lunelli, de Caseiros/RS

Foto de Nei Martins, em Cachoeira do Sul/RS

Edivan Bregalda registrou o cusco apreciando o cenário formado pela geada em Ibiaçá/RS

Mais um registro do município de Caseiros/RS, feito pela Sandra Ribeiro

Registro da propriedade de Joel Guindani, do município gaúcho de Esmeralda/RS

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LAVOURA

Antecipar plantio de trig opção viável para a cultu Cultivares com ciclos mais curtos permitem entrada da oleaginosa mais cedo no campo

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Ana Cláudia Capellari

A

ntes da soja se tornar o cultivo mais rentável do Rio Grande do Sul, o trigo ocupava essa posição. Na década de 1960, os negócios eram feitos a partir da saca de trigo e o preço pago pelo cereal compensava o investimento. No entanto, os tempos mudaram e a soja se tornou a protagonista das lavouras. Com o avanço da pesquisa, sobretudo do melhoramento genético, o cereal de inverno ganhou um novo papel dentro da porteira. Como forma de aproveitar melhor a propriedade e aumentar a rentabilidade, produtores têm buscado no mercado cultivares de trigo com ciclos de desenvolvimento mais curtos. As cultivares precoces ou superprecoces permanecem no campo por um tempo menor, o que representa menos exposição a riscos. A colheita pode ser antecipada em até 20 dias, o que pode beneficiar as culturas de verão, em especial da soja. De acordo com a engenheira agrônoma da Fundação Pró-Sementes, Larissa Machado, a introdução dessas cultivares aumenta as possibilidades dos produtores que tem a soja como carro-chefe e pode representar também uma redução de custos, já que o número de aplicações de defensivos será reduzido. “Cultivares mais precoces podem antecipar a entrada da semeadura da soja. Além disso, podem proporcionar a semeadura de uma cultura intermediária, como o nabo forrageiro, pensando em melhoria do sistema de produção”. No Estado, o trigo é semeado entre o final do outono e o início do inverno e a média do ciclo de desenvolvimento da cultura é de

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Produtores têm buscado no mercado cultivares de trigo com ciclos mais curtos

aproximadamente 145 dias. Para a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Pró-Sementes, Kassiana Kehl, a situação, entretanto, não deve ser tomada com referência para todas as regiões do RS, pois existem diversos aspectos climáticos e adaptabilidade de cultivares que devem ser consideradas na tomada de decisão. “O mais importante neste sentido é que o produtor identifique qual sistema de produção melhor se encaixa em sua realidade”.

Cuidados A prática deste plantio pode ser viável para os produtores que se dispuserem a manejar de forma adequada. A engenheira agrônoma salienta que tirar o trigo de forma antecipada ou deixar o solo em pousio por um determinado período, sem o uso de uma cultura intermediária, é prejudicial. “O trigo é uma cultura essencial na rotação e a retirada dele do sistema de produção, sendo substituído apenas por culturas de cobertura, como, por exemplo, aveia preta, pensando na antecipação da semeadura da soja, deve ser pensada com cautela”. Com a utilização de uma cultura que faça esse intermédio, o solo recebe mais cobertura, nutrientes e

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go pode ser ura da soja quebra ciclos de doenças. Este cenário transforma-se em favorável para o aumento da produtividade na soja. Kassiana ressalta que, além de ser viável, os agricultores devem ter ‘na ponta do lápis’ os custos e receitas obtidas nos dois ciclos produtivos, de inverno e verão. “Indico que o produtor faça um planejamento detalhado da lavoura, buscando informações de pesquisa com relação a manejos fitossanitários e desempenho de cultivares mais próximas à realidade local”. Neste planejamento deve conter, segundo a gerente de Desenvolvimento e Pesquisa, o escalonamento das cultivares e épocas de semeadura, para evitar riscos de perdas na colheita ou períodos de seca em estádios de desenvolvimento específico, como a floração.

Aliar fatores para a propriedade Kassiana reforça que o produtor deve estar atento sobre dois fatores para aliar as opções existentes no mercado com o sistema produtivo da propriedade: observar o comportamento das cultivares e históricos/previsões climáticas. “Pensando nesta questão da antecipação da semeadura da soja torna-se interessante o cultivo de um trigo precoce, pois ao considerar aspectos como controle de plantas daninhas, rotação de culturas, diluição de custos fixos - como depreciação de máquinas e empregados, certamente, ao não ser por intempérie climática muito grave, este produtor já estaria lucrando”, finaliza.

Indico que o produtor faça um planejamento detalhado da lavoura, buscando informações de pesquisa com relação a manejos fitossanitários e desempenho de cultivares mais próximas à realidade local” Kassiana Kehl gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Pró-Sementes


PECUÁRIA

Tecnologia avançada na produção leiteira

FOTOS: MILKPARTS

Sistema de Ordenha Robotizada impulsiona a atividade no campo Giseli Furlani

O

ato singelo de pegar um banquinho de madeira, se aproximar do animal e encher o jarro de leite deu espaço a um futuro em que os processos da fazenda são controlados pelo celular. A atividade leiteira evoluiu nas últimas décadas e conheceu os benefícios da tecnologia. Na década de 1980 foi dado o pontapé inicial, quando o setor ganhou novas formas de comercialização e popularização do leite, se expandindo do Sul ao Nordeste dos grandes centros consumidores. Já nos anos 90, o produtor passou

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a receber pelo litro de leite, e também foi introduzida a classificação dos tipos A, B e C conforme as condições sanitárias. Com as mudanças, a busca pela qualidade do leite deu origem ao Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite (PNQL). Essa nova realidade possibilitou aos produtores o uso de novas tecnologias, como a da ordenha mecanizada, além de uma busca por melhorias nos índices produtivos no atual sistema do setor leiteiro. O leite é um dos principais alimentos consumidos no mundo e o Brasil está entre os cinco maiores produtores. Entre os Estados brasileiros, o Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor do País, com aproximadamente 13% da produção nacional. A produção leiteira avançou e, junto com ela, as mudanças no mercado e o perfil do produtor rural trouxeram uma necessidade de maior gestão e controle nas etapas da pecuária leiteira. Nas últimas décadas o banquinho de madeira deu lugar a modernização de grande profundidade no campo. Com a inovação

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tecnológica, o sistema de ordenha robotizada já faz parte do cenário da atividade leiteira, e há três anos já é realidade na propriedade do produtor Ezequiel Nólio, na cidade de Paraí/RS.

Produção de leite - Rio Grande do Sul Em bilhões de litros

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Pioneiro em ordenha robotizada Produtora de leite há mais de 40 anos, a família Nólio decidiu automatizar a propriedade em 2015 após a falta de mão de obra no setor leiteiro. “No ano de 2013 ficamos sem funcionário e estávamos com 80 animais em lactação, foi aí que decidimos investir na robótica. Já tínhamos visto esse sistema na Itália e na Alemanha”, relata Nólio. O sistema inovador foi conquistando aos poucos o produtor, que conta que na época todos ao seu redor diziam que seria loucura investir em um robô que ordenharia sozinho os animais. “Na época tudo era meio impossível, diziam que era um equipamento difícil de importar para o Brasil e que o sistema não iria funcionar”, conta o produtor, que insistiu na mudança e contatou diretamente os vendedores da empresa que produzia o equipamento, a Lely, na Holanda. “Em um primeiro momento os técnicos vieram até a propriedade para ver se tínhamos condições financeiras, animais suficientes para ser viável implementar o sistema e ver se tínhamos espaço para comportar o equipamento. Nós atendíamos todos os requisitos e a partir daí começamos a realizar as negociações do robô”, relata Nólio. Como havia sido a primeira ordenha robotizada da marca Lely a vir para o Brasil, Ezequiel conta que foi extremamente burocrática a negociação. “Tudo era novo e desconhecido, realizamos a compra em maio de 2014, mas até liberarem para o Brasil e sair da linha vermelha no porto de Paranaguá demorou muito. O sistema só chegou e entrou em funcionamento na propriedade em agosto de 2015”, relembra o produtor. A empresa holandesa precisou encontrar uma marca revendedora no Estado, e foi através da Milkparts, em Teutônia/RS, que o equipamento se consolidou. O tambo Nólio foi o pioneiro no Estado do Rio Grande do Sul a adquirir o sistema de ordenha robotizada, um processo que de acordo com o produtor pode se adaptar a qualquer propriedade e descomplicar a rotina no setor leiteiro. “O sistema é simples e tudo acontece de uma forma muito fácil na propriedade”, comenta.

Desempenho do robô de ordenha Um robô que ordenha, controla a alimentação e acompanha a saúde do animal. O chamado Lely Astronaut atua 24 horas por dia, 7 dias por semana. O equipamento monitora cada vaca individualmente, para isso os dados de cada animal precisaram ser inseridos no sistema pelo produtor. “Criamos manualmente uma identidade para todas as vacas, colocando corretamente

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Produção de leite - Brasil Em bilhões de litros

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FONTE: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE)

cada dado importante para eu poder acompanhar. A partir daí elas são monitoradas pelo colar que carregam no pescoço, que fica em contato com a pele do animal e grava tudo o que acontece durante o processo de ordenha”, relata Nólio. De acordo com o produtor, o sistema permite inserir informações como qual quarto o animal está dando leite, caso tenha algum que não esteja o robô não irá acoplar a teteira. O colar fica com a vaca durante toda a vida dela na propriedade e ao longo dos anos vai criando um histórico do animal. A ordenha robotizada consegue monitorar vários fatores de cada vaca, diferente da ordenha convencional, o que permite que o produtor tenha um gerenciamento completo do rebanho. “Você pode tratar suas vacas individualmente e isso resulta em animais com melhor saúde, menores intervalos de partos e redução dos custos de alimentação”, afirma a Milkparts. O espaço do robô por onde as vacas entram é de fluxo livre, as vacas devem ter acesso livre à ordenha. “O trabalho em uma fazenda sustentável deve oferecer à vaca acesso ilimitado para suprir as suas necessidades, sem nenhuma restrição”, Outubro e Novembro - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nº20

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relata a empresa. A partir do momento em que a vaca entra para ser ordenhada, através de uma tela é possível ver o que está se passando com ela. “Conseguimos ver sua produção total de leite em cada quarto, e conforme ele esvazia é retirado o teteiro para não prejudicar o esfíncter, músculo que segura o leite. O sistema também gera dados como quantos minutos de ruminação o animal fez, quantos passos, se está saudável ou se está com alguma anormalidade”, comenta Nólio. O leite ordenhado passa por várias análises do robô, sua composição, gordura, nível de proteínas e temperatura. Qualquer desequilíbrio que o leite apresentar sua rota é desviada do que iria para o consumo humano e vai para um local de descarte. Para

Um robô comandado pelo celular vai aproximando a comida dos animais na praça de alimentação

Quando a vaca entra para ser ordenhada, através de uma tela é possível ver o que está se passando com ela

Produtora de leite há mais de 40 anos, a família Nólio decidiu automatizar a propriedade em 2015 36 |

o presidente do Sindilat, Alexandre Guerra, o sistema é um avanço na busca pela excelência do leite produzido no Estado. “É um equipamento que permite maiores garantias da qualidade do leite e permite um cuidado bem detalhado do animal”, evidencia o presidente. Atualmente o tambo Nólio possui 65 vacas da raça holandesa em lactação. Os animais vivem em regime free stall e já estão adaptados a procurar o robô. “O robô acompanha a curva de lactação da vaca. Conforme aumenta a produtividade é liberada mais ração no cocho do equipamento, se diminuir o leite consequentemente ele irá diminuir a ração”, comenta o produtor. A ração é disponibilizada durante as ordenhas do animal, mas Nólio relata que não pode ultrapassar os 8kg de ração no total. Com o sistema em pleno funcionamento na propriedade, de três pessoas que antes trabalhavam na produção, hoje somente Ezequiel cuida e monitora o robô que faz todo o trabalho. “Hoje trabalho sozinho na parte da manhã e folgo todas as tardes, tenho controle e domínio da propriedade pelo celular, consigo acompanhar o sistema em qualquer lugar que eu estiver”, conta o produtor. O único trabalho braçal que precisa ser desenvolvido pelo ser humano é a limpeza externa do equipamento. “Precisa ser feita uma limpeza diária no braço do robô e verificar se está tudo certo com as peças”, diz Nólio. Já a limpeza interna do equipamento é realizada três vezes ao dia e dura cerca de 20 minutos cada. Na hora de ordenhar, sozinho, o robô identifica o animal, e por meio da leitura de um sensor, destina a quantidade de ração ideal, faz a higienização dos tetos e posteriormente, através dos “olhos” do robô - um laser que identifica os quartos - ele realiza a ordenha, que dura cerca de seis minutos. Após a liberação do animal pela porta dianteira, é feita a limpeza das teteiras para não contaminar a próxima vaca ordenhada. “O sistema de limpeza limpa as teteiras com vapor quente e enxagua com água. Esses dois sistemas juntos eliminam 99,9% das bactérias”, afirma a Milkparts. A tecnologia da ordenha foi criada para implementar dois braços robóticos, mas, de acordo com Nólio, devido à falta de conhecimento na época optou por apenas um. “Como foi o primeiro a chegar no Brasil, fomos com calma para entender e ver se iria dar certo”, conta o produtor. Produzir mais com menos animais é um dos focos da ordenha robotizada. “Cada vaca possui sua quantidade de permissão de ordenha, e quem decide isso é o produtor, por exemplo, de 0 a 30 dias após parir são sete vezes ao dia, 30 dias até o 6º mês são cinco vezes e do 6º ao 7º mês após a lactação são duas vezes”, relata Nólio. O ato de ordenhar é dividido durante o dia e caso a vaca procure o robô mais vezes do que está programado para ela, o robô irá descartála e não realizará a operação, deixando com que ela siga seu fluxo livre. O produtor ainda nos conta que o que irá definir o tempo de vida do animal na propriedade não é a lactação e sim o tamanho do úbere.” Se o úbere estiver muito baixo

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o braço do robô não consegue ter espaço físico e nem identificar os tetos, sendo assim é impossível ordenhar”, comenta Nólio. Além disso o sistema foi fabricado para ter maior controle da qualidade do leite e prevenção da mastite, principal doença no gado leiteiro. De acordo com a Milkparts, durante a ordenha, o leite é monitorado por quarto, continuamente. “Isso proporciona informação vital sobre mastite, gordura, proteína e lactose para o gerenciamento da qualidade do leite e da saúde da vaca, permitindo uma resposta rápida e que você consiga um leite de qualidade excelente”.

Resultado em um clique Devido a falta da mão de obra e com uma mente aberta para encarar as evoluções tecnológicas, Ezequiel Nólio, junto de seus pais, deram um passo transformador na produção do setor leiteiro e em suas vidas. “Hoje em dia a tecnologia está aqui para te ajudar e temos que enxergar isso, hoje temos outra realidade na mesma área com mais facilidade”, declara Nólio. Além da mudança significativa no sistema de produção, a ordenha robotizada viabilizou o aumento da produção de leite e diminuiu os gastos em várias questões. “Com o sistema do robô estamos com uma produção de 2.200 litros ao dia, um aumento de oito litros por vaca, e ainda gastamos menos água, ração, produtos de limpeza e tivemos uma redução de R$ 130,00 na conta da energia elétrica. O sistema é muito rentável e econômico”, afirma o produtor. Um sistema que gera mais de 50 relatórios e gráficos diários, e entre estes dados gera o relatório de saúde animal que é fundamental para acompanhar cada sinal irregular. “Você não compra só um robô de ordenha, compra um monitor de saúde e um gerenciador da propriedade, ele te ajuda a não ficar no “eu acho”, com o sistema tu tem as informações reais de cada vaca na palma da mão”, diz Nólio. Conforme o produtor outra questão que ajudou no gerenciamento da produção são os dados de cio de cada vaca. “Hoje o sistema faz isso por mim, através do colar que elas carregam ele consegue identificar quando ela se agita mais, remoe menos e diminui a produção de leite. Isso me alerta que está no cio, me orienta a inseminar essa vaca e me diz o momento mais fértil dela, essa é uma ferramenta muito importante para nós”, declara Nólio. As transformações não pararam por aí. Em abril de 2018 Ezequiel adquiriu o Juno 100. Um robô comandado apenas pelo aplicativo no celular, que vai aproximando a comida dos animais na praça de alimentação. As rotas são definidas para ao longo do dia ir aproximando cada vez mais o alimento, o que acaba estimulando o animal a comer mais. “Hoje entro na praça de alimentação apenas uma vez e o resto do dia ele faz o trabalho que antes era braçal. Aos poucos vamos automatizando a propriedade”, relata Ezequiel. Em três anos com o robô a propriedade não obteve nenhum problema no sistema, e todas as vacas se

10 benefícios do braço do Robô F Projeto amigável com a vaca. F As teteiras permanecem com segurança no braço. F Limpeza e estimulação mais efetivas. F Detecção dos tetos mais rápida. F Ordenha sob medida através de pulsação dinâmica. F Ordenha tranquila graças ao menor movimento do braço. F Medições da qualidade do leite precisas perto da ação. F O copo da teteira jamais cairá no chão. F Economia de energia com menos movimentos. F Construção robusta e materiais duráveis.

adaptaram com a nova realidade. “No início elas ficavam um pouco agitadas com o equipamento, mas em uma semana elas foram perdendo o medo e começaram a procurar o robô porque viram que aquilo era bom para elas”, comenta o produtor que garante que o desafio da robótica já está superado e agora tem seu foco em outros planos. “Agora queremos agregar valor ao nosso produto”, diz Nólio. O produtor já está em andamento com o projeto da sua queijaria e produtos derivados do leite e quer que o tambo Nólio seja ponto turístico na região, onde será possível conhecer todo o processo de produção com um sistema inovador e a industrialização do produto. “Um estilo de vida que não tem dinheiro que pague”. É assim que o produtor se refere sobre o investimento. “Antes sempre estávamos correndo contra o tempo, faltavam horas no dia. Hoje consigo ter meio turno livre para lazer e administro muito melhor a propriedade”, afirma Nólio. O trabalho braçal acabou, “os calos saíram da palma da mão e foram para as pontas dos dedos”, finaliza.

Um estilo de vida que não tem dinheiro que pague.” Ezequiel Nólio Produtor de leite

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DESTAQUES

R$ 563,5 bilhões

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FOTO: DIVULGAÇÃO

É O VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA (VBP) ESTIMADO ATÉ JULHO DE 2018, 2,2% MENOR QUE O APURADO NO ANO DE 2017 (R$ 575,9 BILHÕES). AS LAVOURAS TIVERAM REDUÇÃO DE 0,6% E A PECUÁRIA DE 5,3%, EM RELAÇÃO AO ANO PASSADO.

EXPORTAÇÃO I

PRODUÇÃO O Brasil vai produzir nos próximos 10 anos 69 milhões de toneladas a mais de grãos, atingindo de 302 milhões t em 2027/2028. Segundo projeções do Ministério da Agricultura, o desempenho será puxado pela soja (156 milhões t) e o milho (113 milhões t), com aumento estimado em 30%. As carnes (bovina, suína e de frango) devem passar de 27 milhões t para 34 milhões t, aumento de 27%, ou mais 7 milhões t no mesmo período.

PIB O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, que corresponde cerca de 20% da atividade econômica do país, deverá crescer 3,4% ainda neste ano. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o impulsionamento do setor vem de uma retomada da atividade agroindustrial.

Entre janeiro e julho deste ano, as exportações brasileiras do agronegócio somaram US$ 59,2 bilhões, valor recorde de toda a série histórica, iniciada em 1997. Segundo o Ministério da Agricultura, o valor é 5% maior do que o registrado no mesmo período de 2017. Além do mais, as importações do setor totalizaram US$ 8,3 bilhões no período, com queda de -0,6%. Como resultado, a balança comercial teve um superávit de US$ 50,9 bilhões.

EXPORTAÇÃO II Com vendas externas no total de US$ 27,26 bilhões, o complexo da soja foi o principal setor exportador do agronegócio brasileiro entre janeiro e julho de 2018, um aumento de 18,5% em comparação com o mesmo período do ano passado. O valor exportado pelo setor cresceu em função da elevação do volume exportado (+11,7%) e do preço médio de exportação (+6,1%). De acordo com dados do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) as vendas externas de soja em grão totalizaram US$ 22,50 bilhões (+17,2%) e tiveram uma participação de 82,5% no valor total exportado pelo setor.

EXPORTAÇÃO III A expectativa para os próximos meses é de que as exportações brasileiras de milho aumentem em função da boa disponibilidade interna com a colheita da segunda safra em andamento e o câmbio em patamar mais alto. No entanto, as questões relacionadas ao frete podem prejudicar os negócios em curto e médio prazo.

| Outubro e Novembro - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nº20


DESTAQUE EMPRESAS OPINIÃO elmar@grupofloss.com

Elmar Luiz Floss Engenheiro Agrônomo e licenciado em Ciências, Dr. em Agronomia, Diretor do Instituto Incia

Solo, o maior patrimônio do produtor!

O

maior objetivo dos produtores é o aumento do rendimento das culturas, com rentabilidade e sustentabilidade. Os altos rendimentos são obtidos quando as plantas apresentam equilíbrio nutricional (macro e micronutrientes), equilíbrio hormonal (mais hormônios promotores do que inibidores) e sanidade (controle rigoroso de pragas, moléstias e plantas daninhas). Essa condição depende de mais de 50 fatores (genéticos, ambientais, práticas de manejo e fisiológicos). É como se fosse uma escada com mais de 50 degraus, que devem ser vencidos, um por um, iniciando pela base. E o primeiro degrau dessa longa escada é, sem dúvida, o solo. O solo é o maior patrimônio dos produtores, mais importante que as máquinas e equipamentos e as tecnologias de manejo, por mais modernas que sejam. Um solo que proporciona a expressão genética (desenvolvimento e produção) do cultivar deve ter adequadas propriedades físicas, químicas e biológicas. Essas condições devem proporcionar maior disponibilidade de nutrientes, água e oxigênio às raízes. Por essa razão, é cada vez mais importante a melhoria do perfil de solo em profundidade, para amentar o volume de raízes em contato com o solo e aumentar a eficiência de absorção de água e nutrientes. Raízes mais profundas são um seguro para minimizar os efeitos de veranicos. As propriedades químicas mais importantes são um pH do solo (na ca-

Um solo que proporciona a expressão genética do cultivar deve ter adequadas propriedades físicas, químicas e biológicas. mada de 0 a 20 cm, de 6,0 a 6,5), teores de matéria orgânica acima de 3,5%, saturação de bases acima de 70%, ausência de alumínio tóxico, participação do cálcio na CTC (capacidade de troca de cátions) entre 50% a 60%, do magnésio de 15% a 20% e do potássio de 3% a 5%, teores altos de fósforo e de enxofre (superior a 10 mg/dm3). Também, é cada vez mais importante, para a expressão dos cada vez maiores potenciais dos cultivares disponíveis, adequados teores de micronutrientes, especialmente, de boro, manganês, zinco, cobre e molibdênio. Para correção da acidez na camada de 20 a 40 cm de profundidade, pode-se realizar a calagem associada à subsolagem. Também a redução da atividade do alumínio e a elevação dos teores de cálcio em profundidade, mediante a gessagem. A compactação do solo, superficial ou sub-superficial, é decorrente do impacto da chuva, especialmente em

solo descoberto (a palha reduz em 95% a energia da gota de chuva), o pisoteio de animais, o trâfego de máquinas e o uso indiscriminado da grade (formação do “pé de grade”). Além da redução da permeabilidade, que limita o crescimento de raízes, a compactação reduz a retenção de água no solo e a disponibilidade de oxigênio e nitrogênio. O meio mais expedito para diagnosticar a compactação do solo é o uso do penetrômetro ou penetrógrafo (inclusive digitalizados). A operação deve ser realizada quando o solo está em capacidade de campo (macroporos saturados de ar e microporos saturados de água). Quando a resistência à penetração for menor que que 3 Mega Pascais (Mpa), a descompactação pode ser realizada por um mix de culturas de cobertura (ex. aveia preta + nabo forrageiro + ervilhaca). Caso a resistência seja maior que 3, há necessidade de uma escarificação (caso a compactação seja na camada de 0 a 25 cm de profundidade) ou uma subsolagem, para uma profundidade de de 25 a 40 cm. Certamente as tecnologias mais impactantes nos próximos anos serão para a melhoria das propriedades biológicas dos solos, como o aumento de microrganismos fixadores de nitrogênio no solo (Bradyrhizobium, Azzospirilum, Pseudomonas, ...), microrganismos para controle biológico de moléstias e nematoides (Trichoderma, Baccilus, ...) e promotores de desenvolvimento de Micorrizas, especialmente para aumentar a eficiência de absorção de fósforo do solo.

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