ANO V NÚMERO 22 RIO GRANDE DO SUL MARÇO | ABRIL | 2019
INFORMAÇÃO COM PROPRIEDADE
INIMIGO
SILENCIOSO Mofo branco pode provocar perdas de até 70% nas lavouras de soja
INOVAÇÃO
EXPODIRETO COTRIJAL
8 DE MARÇO
O jovem e o agronegócio
Feira completa 20 anos em 2019
A profissional mulher inserida no Agro
EDITORIAL
Mofo Branco
H
á duas safras acompanhamos a dificuldade de produtores no ataque ao Mofo Branco em Soja, uma doença que acomete a produção em regiões mais altas e com temperaturas mais baixas. No Brasil, já são dez milhões de hectares afetados com o problema que é de difícil manejo, custo alto e acaba com altas produtividades. Devido a importância desse tema, sua abordagem como matéria de capa busca auxiliar nossos leitores com dúvidas e esclarecer o manejo em relação à doença. DUAS DÉCADAS Neste ano, a Expodireto Cotrijal, uma das feiras com maior relevância no agronegócio internacional, completa 20 anos. O próprio nome da feira carrega o caráter de EXPOR produtos e serviços relacionados ao PLANTIO DIRETO e, assim como a técnica que revolucionou a produção agrícola no Brasil, a feira tem papel determinante na construção de um novo patamar do agro. SISTEMA DE PRODUÇÃO O problema de resistência e a perda da eficiência dos defensivos fazem pressão nos custos da produção da Soja, além disso, doenças que tinham pouca importância, hoje aparecem com mais força. É grande o desafio de incorporar um sistema de rotação de culturas, pensando em diminuir a área de Soja e aumentar, por exemplo, a de milho ou de cultivar mais Trigo no inverno, pois a conta não fecha. Os preços desses produtos e a dificuldade de liquidez os tornam pouco atrativos e, por vezes, geram prejuízos. Contudo, a sustentabilidade da produção agrícola depende da viabilização de outras culturas no sistema de produção e como fazer isso é a principal barreira a ser transposta para garantir a viabilidade do cultivo da Soja. Leonardo Wink
#edição 22 #Ano V #Mar e Abr
Editora Riograndense CNPJ 17.965.942/0001-07 Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Cacilda Becker, 30 Boqueirão Cep 99010-010 Diretor Leonardo Wink Jornalista Responsável Fernanda Custódio 66137/SP Jornalistas João Vicente Mello da Cruz Fernanda Custódio Estagiários Thaise Ribeiro William Mendes Projeto Gráfico Cássia Paula Colla Capa João Vicente Mello da Cruz Diagramação Ângela Prestes Colunistas Gilberto Cunha Elmar Luis Floss Raquel Breitenbach Impressão Gráfica Tapejarense Contatos leonardowink@destaquerural.com.br redacao@destaquerural.com.br (54) 3632 5485 Tiragem 8 mil exemplares
Diretor
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16 ÍNDICE
Mofo Branco
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nEMATÓIDES: A SOJA E SEU INIMIGO NO SOLO TRIGO: O GUARDACOSTAS DA SOJA
Expodireto Cotrijal: 20 anos de história
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Jovem e agronegócio: inovação para o campo
aposentadoria dos trabalhadores rurais. O QUE MUDA?
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A HORA DA VERDADE: OPINIÕES DO AGRO SOBRE O GOVERNO BOLSONARO
O que vem causando a perda de eficiência dos defensivos
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DESTAQUE EMPRESAS OPINIÃO
Elmar Luiz Floss
elmar@incia.com.br
Engenheiro Agrônomo e licenciado em Ciências, Dr. em Agronomia, Diretor do Instituto Incia
Baixa população de plantas de soja
A
safra 2018/2019 de soja no Sul do Brasil será lembrada pelos graves problemas de germinação/emergência de plântulas, o “damping off” ou morte súbita de plântulas. Sabe-se que os altos rendimentos da soja dependem de uma adequada população de plantas produtivas. Os problemas de emergência de plântulas ou a morte após a emergência, ocorridas nessa safra, são causadas por diferentes fatores: baixo vigor das sementes, maior profundidade de semeadura, solos encharcados e/ou compactados, não tratamento das sementes ou uso de produtos ineficientes, solos frios, resíduos de herbicidas, dentre outros. a) Sementes de baixo vigor Uma boa lavoura começa com uma boa semente. E uma boa semente é uma semente de alto vigor, pois a germinação é mais rápida e uniforme, formando plântulas mais vigorosas que toleram melhor os estresses bióticos (pragas e doenças) e abióticos (falta de chuva, excesso de chuva, temperaturas mais baixas ou muito altas), além de uma maior capacidade de enraizamento e ramificação lateral. Infelizmente, mais de 50% das lavouras de soja no Rio Grande do Sul são implantadas com sementes de baixo vigor. b) Semeadura muito profunda A semeadura da soja não deve ser mais profunda do que 5cm. A semeadura profunda causa um atraso na 6 |
emergência e um gasto de energia muito grande para atravessar essa camada de solo. Uma planta mais frágil sofre mais com os estresses, causando a sua morte. A plântula frágil que sobrevive gera uma planta dominada, que produz menos legumes por planta, o principal componente de rendimento da soja. c) Solo compactado e encharcado A compactação do solo, especialmente a superficial, formada pelo uso indiscriminado da grade, impede a infiltração do solo, causando o encharcamento. Nos meses de outubro e novembro, época de semeadura da soja, ocorreu um excesso de chuva em várias regiões do Sul do Brasil, sendo uma das principais causas da baixa emergência de plantas. O excesso de água expulsa o oxigênio do solo. A redução do teor de oxigênio no solo promove a deterioração da semente e não a sua germinação. Toda e qualquer semente, rica em óleos (a semente da soja tem em média 20% de óleo), necessita maior quantidade de oxigênio para degradar as reservas, para a obtenção da energia necessária para a emergência da plântula. d) Falta ou inadequado tratamento das sementes O adequado tratamento de sementes é de fundamental importância para uma boa emergência de plântulas e a proteção da mesma na fase inicial de crescimento. Infelizmente ainda há produtores que não tratam
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as sementes ou usam produtos inadequados ou de baixa eficiência. A escolha do melhor inseticida ou fungicida depende do diagnóstico preliminar da ocorrência de pragas, naquela área e ano. O diagnóstico de patógenos deve ser considerada a ocorrência no ano anterior ou a presença na semente, mediante uma análise da sanidade da semente. e) Semeadura em solo muito frio O inverno em 2018 foi mais longo, apesar de não ter apresentado um frio muito severo. No entanto, em muitas regiões, houve antecipação da semeadura, com solos ainda frios (temperaturas do solo abaixo de 15oC). A baixa temperatura reduz o metabolismo da semente e a germinação é mais demorada. Quanto mais tempo a semente leva para germinar, maior é a incidência de patógenos na plântula, bem como a emergência de uma plântula menos vigorosa. f) Efeito residual de herbicidas É crescente a morte de plântulas ou a redução do crescimento inicial da soja, causada pelo efeito residual de herbicidas como 2,4 D (dose maior e pequeno intervalo entre a aplicação e a semeadura da soja), metsulfuron metílico (altas doses aplicadas no trigo e menor intervalo até a semeadura da soja), dentre outros. Portanto, precisamos saber qual a causa, em cada situação, para evitar ou tentar minimizar os efeitos, na próxima safra de soja.
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NEMATÓIDES
FOTOS ARQUIVO DE PESQUISA ENGª.-AGRª., DRª., CAROLINA DEUNER
A soja e seu inimigo do solo Nematóides podem causar prejuízos de até R$ 35 bilhões a cada ano para o agronegócio brasileiro Thaise Ribeiro*
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e acordo com a Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, os nematóides são vermes que, na maioria das vezes, tem o corpo no formato cilíndrico e geralmente são alongados com as extremidades afiladas. O tamanho de um nematóide varia. Os parasitas de plantas medem até três milímetros de comprimento. Essas criaturas movem-se como se fossem serpentes e vivem em lagos, rios, mares e solos. Além disso, podem ter vida livre, serem parasitas de plantas, de insetos ou de animais. 8 |
Existem mais de 100 espécies de nematóides, envolvendo cerca de 50 gêneros que estão associados à soja. Segundo levantamento da SBN, Sociedade Brasileira de Nematologia, essas pragas podem causar prejuízos de até R$ 35 bilhões a cada ano para o agronegócio brasileiro. Somente para a cultura da soja as perdas relacionadas aos nematóides são estimadas em R$ 16,2 bilhões. Segundo informações da Embrapa Soja, no Brasil, os nematóides mais prejudiciais à cultura têm sido os formadores de galhas (Meloidogyne spp.), o de cisto (Heterodera glycines), o das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o reniforme (Rotylenculus reniformis). Geralmente, nestes casos, os nematóides estão presentes no solo e atuam nas raízes das plantas. A consequência é o aparecimento de formas aberrantes de estruturas e escurecimento do tecido. Um dos fatores que causa o aparecimento de nematóides na soja são as práticas de rotação de culturas inadequadas ou inexistentes. Essa praga é considerada inimiga do produtor rural porque nem sempre é possível visualizá-la no campo. Assim, é comum que os produtores confundam os nema-
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tóides com outras causas como, por exemplo, ataque de outras pragas e doenças, deficiência de nutrientes e estiagem e compactação de solo. Conforme a engenheira agrônoma e pesquisadora da Embrapa, Divania Lima, o ideal é que o produtor fique atento aos sintomas e que peça auxílio de um engenheiro agrônomo ou profissional da área para facilitar a identificação da praga - que deve ser feita em laboratório - para que em seguida o produtor possa fazer o manejo correto. Um dos sintomas mais comuns são as chamadas reboleiras com plantas atrofiadas e cloróticas. “É comum entrar no campo e ver uma lavoura uniforme em termos de porte e nas entrelinhas avistarmos plantas com estaturas menores e com coloração mais amarelada. Essas plantas chegam a abortar vagens, podendo reduzir a produtividade,” explica Divania. Essa redução acontece porque os nematóides parasitam o sistema radicular da soja, dificultando a absorção de água e nutrientes. Em casos de população muito elevada pode ocorrer a morte de plantas. É importante lembrar que cada espécie exige uma atenção diferenciada. Entretanto, a rotação com culturas não hospedeiras deve ser adotada no manejo de todas as espécies de nematóide.
Orientações De acordo com estudos da Embrapa Soja, no caso dos nematóides de galhas, as ocorrências predominam em áreas cultivadas anteriormente com café ou algodão. O principal sintoma desta espécie são as manchas em reboleiras, onde as plantas ficam pequenas e amareladas. Não ocorre a redução no tamanho das plantas, mas, devido ao florescimento, se percebe um intenso abortamento de vagens e amadurecimento prematuro de plantas. Já nas raízes das plantas atacadas são visíveis diversas galhas de tamanhos variados. Todas as medidas de controle devem ser executadas antes da semeadura. No entanto, ao constar que uma lavoura de soja foi atacada, o produtor não consegue reverter à situação, os cuidados deverão ser voltados para os próximos cultivos na área. De acordo com Rosangela Silva, pesquisadora e engenheira agrônoma da Fundação Mato Grosso, uma área que o produtor rural poderia colher 60 sacas por hectare, dependendo da gravidade da infestação, ele pode colher apenas 35 sacas. Na safra 1991/92 foi identificado o nematóide de cisto. Atualmente, ele está presente em mais de 150 municípios do país. A praga penetra as raízes da soja e dificulta a absorção de águas e nutrientes, resultando em porte reduzido das plantas. Os sintomas também podem ser vistos nas reboleiras, próximo de estradas ou carreadores. Em algumas situações, as plantas acabam morrendo. Em solos mais férteis e de boa distribuição chuvosa os sintomas na parte aérea podem não aparecer. Desta forma, o diagnóstico definitivo exige uma
Presença de nematóides no solo Porcentagem de amostras de solo e raízes de soja com presença de nematoides no RS Meloidogyne spp./Formadores de Galha Heterodera glycines/Cisto
Pratylenchus brachyurus/Lesões radiculares Rotylenchulus reniformis/ Reniforme
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Fonte: Profa. Dra. Carolina Deuner - Universidade de Passo Fundo
análise da parte radicular. Em lavouras que a praga foi identificada, o produtor tem que conviver com o mesmo. O nematóide reniforme é visto com mais frequência na cultura do algodão, mas, infelizmente, não deixa de atingir a soja, principalmente na região centro-sul do Mato Grosso do Sul. Diferente das outras espécies, o nematóide reniforme não parece ter sua ocorrência limitada pela textura do solo, ocorrendo tanto em solos arenosos quanto em argilosos. Desta forma, as principais formas de controle é a sucessão com culturas não hospedeiras e a utilização de cultivares resistentes. Já o nematóide das lesões radiculares é visto com frequência no Brasil. O uso de uma cultivar de soja mais resistente deve ser sempre procedido de, pelo menos, um ano de rotação com uma espécie vegetal não hospedeira. Rosangela Silva reforça que o ideal é não deixar que nematóides se introduzam na área. Assim, depois que o nematóide estiver estabelecido dificilmente o produtor vai conseguir eliminá-lo. Divania, pesquisadora da Embrapa, reforça que o produtor deve coletar as raízes de plantas atacadas e enviá-las para laboratório especializado a fim de identificar a espécie. A partir da identificação, é definido um programa de controle que deve integrar algumas estratégias como rotação de culturas com espécies vegetais resistentes ou hospedeiras desfavoráveis, uso de cultivares resistentes e adoção de boas práticas de manejo do solo e da cultura.
*Com supervisão de Fernanda Custódio Março e Abril - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº22
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SAFRA DE INVERNO
Trigo: guarda costas da soja Cereal integrado ao sistema de rotação de culturas contribui para melhoria da fertilidade dos solos, controle de pragas e doenças William Mendes Martinez*
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safra de verão da temporada 2018/19 foi marcada pelas adversidades climáticas nas principais regiões de produção no Brasil. Com isso, a perspectiva é que haja uma redução na produtividade, principalmente na cultura da soja. Somente no Rio Grande do Sul, as perdas são estimadas em 1,045 milhão de toneladas, conforme levantamento realizado pela Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). A projeção é que sejam colhidas 17,6 milhões de toneladas de soja no Estado nesta temporada. O número está bem abaixo da estimativa inicial para essa safra, de 18,6 milhões de toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ciclo 2017/18, os
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produtores gaúchos colheram 17,5 milhões de toneladas do grão. “O principal produto agrícola do estado, a soja, também deverá ter perdas em decorrência das condições climáticas adversas de janeiro. Fatores como chuvas, umidade e luminosidade praticamente anularam o crescimento de produção”, informa o relatório divulgado pela Federação. Diante desse cenário, muitos produtores sinalizaram o retorno dos investimentos na cultura do trigo na safra de inverno. O objetivo é tentar recuperar os prejuízos financeiros deixados pela safra de verão e também pensar na produtividade das lavouras de soja da próxima temporada. “O trigo vem sendo tratado como o guarda-costas da soja. A área onde tinha trigo dentro do seu sistema, a cultura da soja vem sofrendo menos. Devido a essa estiagem, como você tem uma palhada como a do trigo, mais uniforme, você diminui a temperatura do solo, mantendo a umidade por um tempo maior, quando comparado a uma outra palhada que entrega espações sem cobertura”, afirma o engenheiro agrônomo da Biotrigo, Bruno Alves. Segundo estudos do pesquisador da Embrapa Trigo, João Leonardo Fernandes Pires o trigo é fundamental na sustentabilidade da agricultura brasileira. “A cultura do trigo integrada em sistemas de rotação de culturas contribui efetivamente na manutenção e/ou melhoria da fertilidade química e física do solo, no controle de doenças, pragas e plantas daninhas e no aumento da eficiência de uso de maquinário, mão de obra e insumos na propriedade rural, sendo fundamental para a sustentabilidade da
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agricultura brasileira.” A dica para o produtor é sempre pensar na próxima cultura a ser plantada e planejar a safra de inverno. “O produtor nunca deve trabalhar apenas com uma cultivar, é importante dentro de um planejamento buscar variedades com ciclos diferentes e com reações a doença diferentes para que ele dilua o risco climático dentro de sua propriedade”, ainda reforça o engenheiro agrônomo da Biotrigo.
Mais benefícios Estudos da Embrapa Trigo comprovam que a monocultura de trigo no sul do Brasil, ou mesmo o sistema de sucessão trigo-soja empregado de forma contínua em décadas passadas, provocou a degradação física, química e biológica do solo trazendo, como consequência, a queda da produtividade do cereal. Foi com a adoção da milenar prática cultural de rotação de culturas, atualmente de uso corrente na produção agrícola, que se viabilizou, novamente, o cultivo do trigo na região. O trigo pode ser utilizado no inverno com aplicação de toda a dose de adubo necessária para o inverno e o verão, evitando-se a adubação da soja na sequência e, consequentemente, facilitando a implantação da cultura de verão. Com isso, a rotação de culturas voltou a merecer especial destaque nas recomendações técnicas para a cultura do trigo. Diversos estudos têm demonstrado seus efeitos benéficos, como viabilização do plantio direto, controle da erosão, melhor utilização do solo e dos nutrientes, mobilização e transporte dos nutrientes das camadas mais pro-
fundas para a superfície, aumento do teor de matéria orgânica, controle de plantas invasoras, controle de insetos pragas, controle de doenças, melhor distribuição de mão-de-obra ao longo do ano, melhor aproveitamento das máquinas e maior estabilidade econômica para o agricultor.
Benefícios econômicos: Trigo x Milho Em questões econômicas, dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) apontam que com o avanço da colheita dos grãos de verão na região Sul, principalmente Paraná, triticultores planejam a divisão das áreas de semeio na segunda safra. O custo operacional de produção do milho 2ª safra foi calculado em R$ 2.822,54/hectare, contra R$ 1.901,03/ha para o trigo. De acordo com dados do Deral/Seab, a produtividade média das últimas três safras foi de 93 sacas/ha para o milho e de 49 sc/ha para o trigo. Considerando-se os valores médios de venda em janeiro/19, as receitas geradas seriam de R$ 2.724,08/ha para o milho e de R$ 2.343,38/ha para o trigo. Portanto, a receita obtida com a cultura do trigo foi suficiente para saldar os custos operacionais e gerar margem positiva ao produtor, de R$ 442,35/ha. Já a receita obtida com o milho 2ª safra não foi suficiente para cobrir o total de desembolsos, resultando em margem negativa ao produtor, de R$ 98,46/ha. Ou seja, a produção de trigo se torna mais rentável para o produtor rural.
*Com supervisão de Fernanda Custódio
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MANEJO NÃO-ME-TOQUE
Expodireto Cotrijal: 20 anos de história
Volume de negócios deve ultrapassar os R$ 2,2 bilhões nesta edição Fernanda Custódio
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m 2019, a Expodireto Cotrijal completa 20 anos. A feira, que é um dos principais eventos do agronegócio brasileiro e internacional, acontece entre os dias 11 a 15 de março, em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul. Há duas décadas, a Expodireto Cotrijal tem feito história, levando inovações e tecnologias aos produtores rurais e contribuindo
para o avanço do setor. “Iremos trazer aos produtores rurais as inovações para aumentarmos a produtividade e, consequentemente, termos maior rentabilidade dentro das propriedades. Esse é o nosso grande desafio”, afirmou o presidente da Cotrijal, Nei César Mânica, durante o lançamento oficial do evento. Ao longo de cinco dias, os visitantes, que devem ultrapassar 250 mil, poderão conferir todas as novidades FOTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA EXPODIRETO COTRIJAL
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apresentadas pelos mais de 500 expositores. O parque onde acontece a feira foi ampliado para 98 hectares nesta edição e o volume de negócios deve superar os R$ 2,2 bilhões registrados em 2018. “O sentimento dos expositores e também dos produtores é de otimismo. Acreditamos em um aquecimento nos negócios, já que tínhamos muitos investimentos reprimidos, aguardando uma definição do rumo que o país tomaria. Com isso, a perspectiva é de que a comercialização supere a observada na última edição da feira”, reforça Mânica. O crescimento e consolidação da feira também aconteceram de forma rápida. A primeira edição, realizada em 2000, começou com 32 hectares, mais de 41 mil visitantes, 114 expositores e negócios próximos de R$ 21 milhões. Em 2018, a Expodireto Cotrijal contou com estrutura de 84 hectares, reuniu 527 expositores e atraiu mais de 265 mil visitantes. Além disso, a presença das instituições financeiras também facilita o acesso dos agricultores a linhas de crédito. Assim, no mesmo ambiente, o produtor consegue ter acesso às inovações, que o auxiliem no incremento da produtividade e na viabilidade da atividade. “Teremos muita tecnologia e inovação no parque nesta edição. Iremos discutir agricultura 4.0, teremos a presença de startups ligadas ao agronegócio, além de muitas novidades na área de máquinas e equipamentos agrícolas, produção vegetal, produção animal, pequenas propriedades, agricultura familiar e meio ambiente”, acredita o presidente da Cotrijal.
Fique de olho na programação A Expodireto Cotrijal ainda será palco de grandes debates que envolvem a agricultura brasileira. No dia 11, um dos destaques será a realização do 11º Fórum Nacional do Milho. Realizado no Auditório Central, das 14h às 16h30, irá analisar os dados do projeto do IPGM, que visa o abastecimento de milho, especialmente para a criação de animais, dada a importância da produção de proteína animal nos estados do Sul do país e onde a demanda pelo cereal é maior do que a oferta. Já no segundo dia, o destaque ficará por conta do 30º Fórum Nacional da Soja. Os participantes terão mais informações através das palestras: “Altos rendimentos da soja, da calagem à nanotecnologia eletrônica e biológica” e “Perspectivas para o mercado da soja”. O evento acontece no Auditório Central, das 9h às 11h45. No dia 13, o Auditório Central terá importantes discussões. Na parte da manhã, entre às 8h30 e 12h30, acontece o 15º Fórum Estadual do Leite. Temas como: “Consumo de Lácteos no Brasil: como avançar?”, “Agro
Iremos trazer aos produtores rurais as inovações para aumentarmos a produtividade e, consequentemente, termos maior rentabilidade dentro das propriedades. Esse é o nosso grande desafio”, Nei César Mânica Presidente da Cotrijal
4.0 e sua contribuição para o futuro do leite” e “Quais lições deveremos aplicar para obter competitividade no leite brasileiro?”, serão debatidos por lideranças do setor. Enquanto isso, no período da tarde, das 15h15 às 18h, o destaque será a cultura do trigo. A distribuição e situação atual do trigo no Rio Grande do Sul, o potencial do uso do cereal para a alimentação de suínos e aves serão itens discutidos no fórum. Inclusive, o trigo ainda será destaque na quinta-feira (14). No Auditório da Produção, das 10h às 12h, serão abordados temas como os resultados de desempenho do trigo na safra 2018 e o cenário da triticultura para a safra 2019, com informações sobre os custos de produção e mercado futuro. O último dia será marcado por importantes temas. Em Audiência Pública da Comissão de Agricultura do Senado, que acontece no Auditório Central, das 14h às 16h30, serão discutidos assuntos como: crédito rural, seguro agrícola e as perspectivas para o setor produtivo com o novo governo. Confira mais informações no site: www.expodireto.cotrijal.com.br. Março e Abril - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº22
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CT& Bio
Gilberto Cunha
gilberto.cunha@embrapa.br
Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo
Tributo a Gilberto Borges
O
uso sugerir, a você visitante da Expodireto Cotrijal 2019, que, ao passar pela Casa do Plantio Direto, um estande localizado no lado esquerdo e a poucos metros do pórtico de entrada da feira, ainda que simbolicamente, preste a sua reverência à memória de Gilberto de Oliveira Borges (1947-2002). Pois foi graças ao entusiasmo e ao idealismo desse engenheiro-agrônomo pelo Sistema Plantio Direto que a semente dessa feira um dia foi plantada, germinou, cresceu, foi manejada com esmero de ourives e rendeu e ainda renderá muitos frutos. Evidentemente, mesmo que capitaneando o movimento, Gilberto Borges nunca esteve sozinho nessa empreitada. Embora possa aparentar, aqui não se trata de culto a personalidades, mas também não nos parece descabido dar os devidos créditos a quem de direito merece receber. Rememorar um pouco dessa jornada de 21 anos de Expodireto, no Planalto Médio do Rio Grande do Sul, e prestar o nosso tributo a Gilberto Borges e equipe Expodireto são os objetivos dessas breves notas. Primeira correção histórica: NUNCA HOUVE UMA EXPODIRETO EM PASSO FUNDO! Essa afirmação pode ser encontrada, com relativa facilidade, em falas de algumas pessoas, não raro lamentando a perda, que são reproduzidas nos nossos veículos de comunicação sem um maior criticismo. Sim, nossa cidade sediou diversos eventos ligados ao Sistema Plantio Direto (Seminários, nacionais e internacionais, Encontros, Reuniões, Feiras, etc.), mas nunca algo que tivesse levado o nome Expodireto. Todavia, se alguém quiser dizer que houve uma primeira Expodireto no RS, com esse nome inclusive, deve fazer referência a I Expodireto, que
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marcou os 10 anos do Clube do Plantio Direto com Cultivo Mínimo de Arroz Irrigado, realizada na Fazenda Cerro do Tigre, de propriedade de Eurico Dorneles e administrada pelo engenheiro-agrônomo Ivo Mello, responsável pela organização das áreas demonstrativas, em Alegrete, nos dias 6 e 7 de janeiro de 1994. A cobertura completa desse evento pode ser encontrada no Jornal do Plantio Direto, edição n. 19, janeiro/fevereiro 1994, páginas 14 e 15. Inclusive, consta que, alguns anos depois, Gilberto Borges consultou o Clube do Plantio Direto de Arroz Irrigado, cuja diretoria prontamente anuiu, sobre a possibilidade de utilizar o nome “EXPODIRETO” para denominar um evento que estava organizando na cidade de Carazinho, RS. Sobre Expodireto e Passo Fundo, pode-se se dizer que quatros pessoas discutiram e trabalharam muito para materializar essa ideia. Gilberto Borges, pela Revista Plantio Direto, Antoninho Luiz Berton, pela Emater-RS, Rainoldo Alberto Kochhann, pela Embrapa Trigo, e Luiz Graeff Teixeira, como presidente do Clube Amigos da Terra de Passo Fundo. Inclusive, chegou-se a cogitar a realização da Expodireto´99 na propriedade de Luiz Teixeira, em Coxilha. Essa ideia não se viabilizou economicamente. Foi então que Antoninho Berton, que era amigo do diretor do Centro Rural de Ensino Supletivo (CRES), professor Celito Lorenzi, aproximou o grupo daquela instituição e assim acabou sendo viabilizada a realização da Expodireto´99 – I Exposição e Demonstração de Máquinas, Implementos e Tecnologias para Plantio Direto na área do CRES, que tem sede em Carazinho, junto à Rodovia BR 285, de 24 a 27 de março de 1999. O evento foi um su-
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cesso: público superior a 4200 pessoas, palestras no Clube Comercial de Carazinho, dinâmicas de máquinas e a presença com estandes de diversas empresas do segmento rural, que deram a tônica do que estava sendo plantado e o que seria possível colher futuramente. A posição regional privilegiada, o sucesso do primeiro evento, a demanda de novas empresas para participar e a similaridade da Expodireto com o Agrishow de Ribeirão Preto e o Show Rural da Coopavel exigiam mais e melhor estrutura para os eventos futuros. E assim, novamente, Gilberto Borges, à frente da revista Plantio Direto, levou a ideia à direção da Cotrijal, que abraçou a causa e o resultado foi a Expodireto Cotrijal 2000, realizada de 21 a 24 de março de 2000, em Não-Me-Toque, que superou todas as metas, com 114 expositores e 41 mil visitantes. Prestamos, nesse texto, nossos respeitos à memória de Gilberto Borges, o idealizador da Expodireto Cotrijal, que, no dia 31 de agosto de 2002, aos 55 anos, morreria repentinamente. Mas, não podemos ignorar o valor do grupo de pessoas que esteve com ele, desde a primeira hora, discutindo, apoiando e trabalhando em prol dessa iniciativa: Rainoldo Alberto Kochhann, hoje aposentado da Embrapa, que era um entusiasta do Sistema Plantio Direto e dos Clubes Amigos da Terra, Antoninho Luiz Berton, lamentavelmente falecido em 17/05/2013, que viabilizou a aproximação de Gilberto Borges e a direção do CRES e era um batalhador incansável da conservação de solos, e Luiz Graeff Teixeira, então presidente do Clube Amigos da Terra de Passo Fundo, engajado com a causa do plantio direto na palha e que atualmente não reside mais no RS.
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CAPA
Mofo branco: o inimigo silencioso
No Brasil, a área infestada com a doença é de 10 milhões de hectares, segundo levantamento da Embrapa 16 |
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Fernanda Custódio
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tualmente, o mofo branco é uma das principais e mais severas doenças registradas na cultura da soja no Brasil. Causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, o patógeno pode ocasionar perdas de até 70% na produtividade das lavouras da oleaginosa, caso as condições climáticas sejam favoráveis ao desenvolvimento da doença, conforme alertam os especialistas. Apesar de ter ganhado relevância nas últimas safras, o mofo branco já é um velho conhecido dos produtores brasileiros. O primeiro registro do fungo foi realizado na década de 1920 nas regiões Sudeste e Sul, de acordo
com informações da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Já nas décadas de 1970 e 1980, o mofo branco deixou severas perdas nos rendimentos da soja no Sul do Brasil, sul do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e também nos Cerrados, Minas Gerais, região de São Gotardo e Uberlândia. Depois de um longo período sem grandes ocorrências, a doença voltou a chamar a atenção na safra 2006/07 causando prejuízos à produção da oleaginosa dos Cerrados e também da região Sul. No sudoeste da Bahia, os danos foram registrados entre as safras 2007/08 a 2010/11. Conforme levantamento mais recente da Embrapa, a área infestada com o mofo branco no País é de 10 mi-
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lhões de hectares. O número é equivalente a 28,5% da área total cultivada com soja na safra 2017/18, de 35 milhões de hectares. Os especialistas ainda destacam que o patógeno continua sendo levado para novas áreas através de sementes infectadas. E o seu acúmulo no solo tem crescido nas áreas infestadas, gerando risco de epidemias anuais da doença e, consequentemente, perdas nos rendimentos das lavouras. Esse foi o cenário observado na propriedade do agricultor Neri Baseggio, em Muitos Capões, no Rio Grande do Sul. O produtor viu a queda na produtividade aumentar significativamente na safra 2017/18, após pequenas perdas nos rendimentos das plantações no ciclo 2016/17 ocasionadas pelo mofo branco. Na temporada 2017/18, Baseggio contabilizou uma redução de 25% no rendimento das lavouras de soja em comparação com o ciclo anterior. “Deixamos de colher entre 16 a 17 sacas do grão por hectare devido à incidência da doença. Em 2017, as perdas ficaram próximas a 1% e nem imaginávamos o dano que o mofo branco poderia causar. Para o ciclo 2018/19, realizamos medidas preventivas para tentar minimizar os prejuízos”, afirma o produtor. Inimigo silencioso Para que haja a ocorrência da doença nas lavouras de soja, o fitopatologista Ricardo Brustolin reforça que são necessários três fatores: a presença de escleródios, estrutura de dormência do fungo que permanece no solo por alguns anos, um ambiente favorável, com horas de molhamento e temperatura amena, entre 15ºC e 25ºC, e a presença de hospedeiros, como plantas de soja, nabo forrageiro, canola e culturas de folha larga em geral. “Esse fungo tem a chance de infectar a planta e permanecer no talhão do produtor por vários anos, sempre mantendo um saldo de inóculo no solo. E nas últimas safras esse saldo tem aumentado no Brasil”, explica o fitopatologista. Em meio às condições favoráveis, os escleródios introduzidos ou produzidos por plantas infectadas e caídos nos solos, germinam e desenvolvem as estruturas de frutificação, chamadas de apotécios. Por sua vez, os apotécios produzem os ascósporos, que são ejetados e liberados no ar e levados pelo vento para as partes mais suscetíveis da planta de soja. “A porta de entrada são as flores. No período de R1 até R4 podemos ter a infecção do fungo”, reforça Brustolin. Esse é o período crítico para o fungo infectar a flor e depois colonizar a planta da soja. O especialista 18 |
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ainda acrescenta que a temperatura é de extrema importância para a velocidade e taxa de crescimento da epidemia do mofo branco nas plantações. Apesar disso, é preciso reforçar que a doença também pode ser observada em ramos tenros, vagens em formação, axilas das folhas e ramificações. Com isso, os produtores devem estar atentos aos sintomas da doença e, principalmente, no período de florescimento da cultura da soja. Os primeiros sintomas a serem observados nas plantações são manchas de encharcamento, que evoluem para uma coloração castanho-clara, com formação de micélio branco e denso. E que, em alguns dias, se transforma em uma massa negra, de formas e tamanhos diversos e que pode ser formada tanto na superfície quanto no interior da haste e de vagens infectadas. A Embrapa ainda pondera que, ocasionalmente, nas folhas podem ser observados sintomas de murcha e seca.
Mofo branco - Área infestada
Proteção no terço inferior Brustolin ainda destaca a importância de se proteger o terço inferior das plantas, a parte mais atacada pelo fungo. “Iniciando a floração é hora de proteger a lavoura, blindá-la. E existe um posicionamento de fungicidas, de acordo com o hábito de crescimento de cada cultivar”, completa. “A aplicação de fungicidas foliares é uma das principais medidas de controle da doença, e deve ser adotada para proteger as plantas da infecção pelo patógeno, no período de maior vulnerabilidade da soja, que compreende o início da floração ou fechamento das entrelinhas”, reforça Maurício Meyer, fitopatologista da Embrapa Soja. Desde 2009, a eficiência do controle químico do mofo branco tem sido avaliada através da rede de ensaios cooperativos conduzidos por especialistas de instituições de pesquisa e experimentação, nos estados em que a ocorrência do patógeno é maior. Os ensaios realizados na safra 2017/18 identificaram uma redução na produção de escleródios proporcionada pela maioria dos fungicidas analisados, conforme artigo divulgado pela Embrapa. Esse resultado reforça a importância da adoção do controle químico como uma das principais ferramentas no manejo da doença na cultura da soja. Por outro lado, como há uma diversidade em relação ao modo de ação de cada fungicida para o controle da doença, é possível rotacionar os produtos. Consequentemente, “há uma menor pressão de seleção 20 |
Fonte: - regiões produtoras de soja: Conab/IBGE - áreas infestadas por Sclerotinia sclerotiorum: Meyer et. al., 2017
sobre o patógeno e é possível adotar estratégias antirresistência do fungo aos fungicidas, preservando a eficiência das moléculas pelo maior tempo possível”, destaca a Embrapa. “Contudo, considerando que o percentual máximo de controle observado foi de 81% e que ainda ocorre produção de escleródios, todas as demais medidas de manejo devem ser adotadas com a finalidade de inviabilização desses escleródios durante a entressafra, promovendo o manejo integrado da doença”, ainda segundo artigo da Embrapa. Além disso, os especialistas salientam a importância do uso de sementes certificadas, livres do patógeno para evitar a introdução do fungo nas áreas. O tratamento de sementes, aumentar o espaçamento entre plantas, rotação de culturas, com milho, aveia branca ou trigo, eliminação de plantas hospedeiras do fungo, realizar a adubação equilibrada e fazer o controle químico são práticas que podem contribuir para um controle mais eficiente da doença. “Reduzindo o inóculo, reduzimos boa parte do risco para a cultura da soja. Para as próximas safras, é importante que todo produtor que tenha o histórico de ocorrência do mofo branco na propriedade fique atento à previsão de florescimento da cultura”, orienta Brustolin.
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INOVAÇÃO
Jovem e agronegócio: inovação para o campo FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Elias Francisco Sgarbossa (26) criou soluções para reduzir a mão de obra na produção de leite Thaise Ribeiro*
“M
eu envolvimento com o agronegócio é desde meu nascimento.” Essa citação é comum e faz parte da vida de muitos agricultores. Mas, para o autor dessa afirmação, Elias Francisco Sgarbossa, a frase é reflexo de muito trabalho e dedicação no campo. Filho de produtores rurais do município de Ibiraiaras/RS, o jovem de 26 anos se identificou com a produção de leite e até hoje trabalha com a intenção de aprimorar a atividade. “Meus pais tinham um animal que fornecia leite apenas para consumo. Aos poucos o número de animais aumentou e a produção de leite começou a ser destinada para fabricação de queijos. Na década de 90, começamos a venda do excedente de produção para a indústria”, conta Elias. Por volta de 2004 a propriedade da família Sgarbossa foi ganhando forma e novos desafios. O número de animais havia crescido, já eram 35 vacas em lactação. Os tarros que eram carregados manualmente até o resfriador deram espaço a um resfriador de expansão direta, que melhorou a qualidade do armazenamento. O humilde balde que era utilizado para tirar o leite das vacas à mão também foi substituído por uma ordenhadeira canalizada. Tecnologias que revolucionaram a produção e proporcionaram mais qualidade no leite e que também incentivaram o jovem Elias a criar uma inovação para o setor leiteiro. Elias é formado em engenharia elétrica e seu objetivo na graduação sempre foi criar alguma ferramenta que otimizasse o tempo gasto durante e após o processo de ordenha. Desde o início da graduação as pesquisas feitas pelo estudante estiveram relacionadas a equipamentos para o tambo. Em 2015, 22 |
no trabalho de conclusão de curso, Elias resolveu alinhar a teoria com a prática e criou sua própria tecnologia: um sistema automático de limpeza de ordenhadeiras. Os resultados foram positivos. O jovem teve nota máxima no trabalho de conclusão de curso e encaminhou um relatório de pedido de patente no Brasil e Uruguai - o primeiro pedido de patente de um aluno da Universidade de Passo Fundo (UPF), que foi protocolado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). “Para mim o agro era uma atividade que não tinha muito mais a evoluir, pois as tecnologias demoravam a chegar e quando chegavam tinham um alto custo. Depois que iniciei a graduação percebi que era possível desenvolver muito o agronegócio, através de tecnologias com um valor acessível ao produtor” afirma Elias. Elias comenta que os jovens, assim como ele, precisam buscar cada vez mais conhecimento e devem aplicá-lo incessantemente nas suas propriedades para que o setor agrícola se torne cada vez mais rentável e prazeroso. “O agro sempre foi, é, e sempre será a base da economia mundial, não tem como pensar a vida da população sem o agro. O jovem que permanecer no campo e tiver a habilidade de tonar a atividade profissional será uma pessoa de sucesso”, comenta Sgarbossa. Hoje, além de auxiliar na propriedade rural da família, Elias é sócio da Z2S Sistemas Automáticos, empresa incubada ao Parque Científico e Tecnológico da UPF. Depois de desenvolver o sistema automático de limpeza
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Criar uma inovação que otimizasse o tempo gasto durante e após o processo de ordenha sempre foi o objetivo de Elias.
de ordenhadeiras canalizadas, Elias começou a investir no desenvolvimento de outras ferramentas na linha de higienização como, por exemplo, um sistema automático de limpeza para tanques de resfriamento. Sistemas que trazem, principalmente, dois benefícios para o produtor: financeiro e pessoal. Na parte financeira, os sistemas proporcionam uma redução superior a 80% da Contagem Bacteriana Total (CBT), consequentemente aumentando o valor recebido pelo leite entregue. Além disso, destaca-se o menor consumo de detergentes, água e energia elétrica. Na parte pessoal o produtor ganha em qualidade de vida, pois não fica mais exposto a produtos químicos e água quente, além de não precisar realizar nem acompanhar o processo de limpeza. Todos esses benefícios fazem com que a atividade se torne mais eficiente. Sgarbossa conta que quando iniciou a faculdade sua intenção era de não voltar para o interior, pois sempre ouvia que o trabalho na agricultura era complicado, cansativo e não rentável. “Logo no primeiro semestre da faculdade já comecei a mudar essa percepção. O contato com pessoas que viviam realidades diferentes da minha começou a mudar esse pensamento que haviam me passado. Acho fundamental que o jovem viva uma experiência diferente da qual está acostumado a viver”. E ainda acrescenta: “Hoje como nunca, as propriedades rurais precisam ser muito bem conduzidas. Não podemos mais fazer as coisas com o pensamento ‘porque meu pai fazia assim’. Os jovens precisam buscar cada vez mais conhecimento, e devem aplicá-lo incessantemente nas suas propriedades”, finaliza Elias. É importante observar que nem todos os jovens produtores rurais têm a oportunidade de buscar aperfeiçoamento na profissão por meio de faculdades, universidades ou cursos técnicos. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os produtores rurais ainda têm baixos níveis de escolaridade. Aproximadamente 70% deles têm, no máximo, o ensino fundamental incompleto, 13% têm o ensino fundamental completo, 15% têm o ensino médio completo e apenas 2% têm o ensino superior completo. A título de comparação, enquanto 70% dos produtores rurais têm, no máximo, o ensino fundamental incompleto, 38% dos potenciais empresários e apenas 15% dos empresários estão nesta mesma faixa de escolaridade. Outro fator que podemos observar é que são poucos os jovens à frente das propriedades. Os donos de negócios rurais mais jovens, que possuem até 25 anos, são a minoria. Eles representam apenas 6,7% do total. Segundo dados da PNAD Contínua, referentes ao primeiro trimestre de 2018, a maior proporção de produtores rurais possui entre 45 a 55 anos de idade, representando 26,3% do total. Mas para que essas tecnologias permaneçam evoluindo e entrando porteira adentro é fundamental que jovens olhem, cada vez mais, para o meio rural. De acordo com Willing-
Escolaridade Menos de 3% dos produtores rurais têm ensino superior completo
2,51% 12,59% Fundamental completo
Superior completo
69,72%
15,18%
Fundamental incompleto
Médio completo
Idade Os donos de negócios rurais mais jovens são a minoria
6,7%
11% De 65 a mais
Até 25 anos
26,33% De 45 a 65 anos
15% De 25 até 35 anos
20,8% De 35 até 45 anos
20,6% De 55 até 65 anos Fonte:Sebrae - Dados de janeiro de 2018
thon Pavan, graduado em Ciência da Computação e doutor em Agronomia, capacitar e formar verdadeiros profissionais do campo é uma necessidade. “Nada mais prazeroso é ser o criador e o usuário de produtos. Produtos estes de hardware, software ou até mesmo técnicas agrícolas que aprimorem a produtividade no campo”. Pavan realiza, com frequência, diversos estudos relacionados à tecnologia no campo. Ele comenta que o avanço tecnológico no campo é muito vasto. Vai desde o equipamento utilizado no dia a dia do produtor até sensores e atuadores que coletam os mais variados tipos de dados, que com inteligência são transformados em informações. Além dessas tecnologias, a internet está cada vez mais presente no campo, expandindo as potencialidades de comunicação e gerenciamento a distância. A interação da ciência e campo ainda pode ser muito fomentada e, para isso acontecer, precisamos de novas histórias como a do jovem Elias.
*Com supervisão de Fernanda Custódio Março e Abril - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº22
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ENTREVISTA
O que muda na aposentadoria dos trabalhadores rurais? Thaise Ribeiro*
O
governo apresentou em fevereiro a proposta de reforma da Previdência. Para saber quais poderão ser as principais mudanças para o produtor rural, conversamos com Professor de Direito Constitucional e de Direito Previdenciário da IMED e Advogado Previdenciário Fausto Santos de Morais. Confira a entrevista. *Com supervisão de Fernanda Custódio
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DESTAQUE RURAL F O que muda para o produtor rural se a Reforma da Previdência for aprovada? FAUSTO SANTOS DE MORAIS: As pessoas ligadas ao campo podem se enquadrar em duas diferentes categorias, quais sejam: produtor rural e segurado especial. A condição de produtor rural está mais ligada ao grande agricultor
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que explora a atividade agropecuária de forma profissional. Essa pessoa deverá preencher os mesmos requisitos criados para os trabalhadores urbanos. Ele deve contar com idade mínima de 65 anos de idade se homem, 62 anos de idade se mulher, devendo ter no mínimo 20 anos de contribuição para o percentual mínimo de 60% da média das
suas contribuições. Essa será a nova regra para todos os segurados urbanos. Por sua vez, o segurado especial é caracterizado por aquela pessoa que explora a atividade agropecuária em regime de economia familiar. Para este, a reforma promove também uma radical mudança. O segurado especial poderá se aposentar por idade e precisará contar com 60 anos de idade se homem, e 55 anos de idade se mulher, mais 15 anos de contribuição. A mulher terá um incremento anual de 6 meses na sua idade a partir de 2020 até o máximo de 60 anos de idade. Ou seja, em 2030 a mulher segurada especial deverá contar com 60 anos de idade. Ou seja, em pouco mais de 10 anos a aposentadoria rural ao agricultor em regime de economia familiar irá requerer uma idade mínima de 60 anos, tanto para homens e mulheres, mais 15 anos de contribuições. DESTAQUE RURAL F Como é o modelo atual? FAUSTO SANTOS DE MORAIS: Na regra atual existe benefício de um salário mínimo àqueles trabalhadores rurais que, via de regra, em regime de economia familiar tenham, se homem, 65 anos idade e se mulher 55 anos de idade, mais tempo mínimo de 15 anos comprovados em atividade rural. Outra possibilidade é a chamada aposentadoria híbrida. As idades mínimas se mantêm, podendo o segurado
especial (agricultor em regime de economia familiar) se aposentar com a soma de 15 anos (carência mínima) entre o tempo de contribuição e tempo rural comprovado. DESTAQUE RURAL F Essa reforma será justa e igualitária? FAUSTO SANTOS DE MORAIS: Há certo consenso pela categoria que, do ponto de vista econômico e social, a aposentadoria do segurado especial (agricultor em regime de economia familiar) estabelece requisitos muito pesados para aquelas pessoas que exercem atividades campesinas árduas por diversos anos de suas vidas. Outra questão é a exigência de uma formalização das atividades rurais pela prova da contribuição mínima anual de R$ 600,00, burocracia que dificilmente se verifica na prática. Nesse sentido, é importante que a categoria se mobilize para colocar no radar político a real condição do segurado especial, especialmente, diante de uma idade mínima que não leva em consideração a expectativa de vida diferenciada para essas pessoas sob árduas condições laborais. DESTAQUE RURAL F O governo propôs idade mínima de 60 anos para homens e mulheres na aposentadoria rural. Pela regra atualmente em vigor, a idade mínima para homens é de 60 anos e para mulheres de 55 anos.
Como essa mudança de idade vai impactar na vida do agricultor? FAUSTO SANTOS DE MORAIS: Atualmente a aposentadoria rural do agricultor em regime de economia familiar é uma das formas de redução da pobreza rural, principalmente nas regiões mais ao norte do País. Aliás, de acordo com o estudo “Estatística do meio rural”, publicado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário no ano de 2011, o trabalho nas zonas rurais é o mais desgastante. Numa primeira vista, parece que a reforma tornará a população rural dependente da economia familiar mais pobre e debilitada física e mentalmente.
Numa primeira vista, parece que a reforma tornará a população rural dependente da economia familiar mais pobre e debilitada física e mentalmente.”
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DESTAQUE RURAL F Pela reforma, os trabalhadores rurais vão precisar de pelo menos 20 anos de contribuição. É ou não um tempo adequado? FAUSTO SANTOS DE MORAIS: A Proposta de Emenda Constitucional PEC hoje prevê um tempo de labor rural em regime de economia familiar de no mínimo 15 anos. Os 20 anos valeriam apenas para aquelas pessoas que começassem a trabalhar na agricultura em regime de economia familiar após a aprovação da mudança. Os demais trabalhadores rurais deverão cumprir a mesma regra aplicável aos trabalhadores urbanos. Nesse sentido, com exceção ao agricultor em regime de economia familiar, não há qualquer sensibilização ao trabalhador rural sobre as condições penosas que envolvem as suas atividades. DESTAQUE RURAL F A contribuição do trabalhador rural pode incidir sobre o salário ou sobre a produção. Como será feito o cálculo do benefício? FAUSTO SANTOS DE MORAIS: O trabalhador rural pode envolver duas categorias. Como empregado, terá o desconto do seu salário de acordo com o valor mensal que recebe. As alíquotas serão de 7,5% até 14% aplicável com referência à sua remuneração. Para o agricultor em regime de economia familiar, a contri26 |
buição envolverá o desconto na comercialização do seu produto, estimado pelo percentual de 1,7% sobre a Nota de Produtor Rural. Há um detalhe importante nessa hipótese: deve esse segurado especial comprovar a contribuição mínima anual de R$ 600,00 pelos descontos ocorridos, sob pena de ter que contribuir anualmente com tal valor. DESTAQUE RURAL F As mudanças na previdência rural vão ajudar a coibir fraudes? FAUSTO SANTOS DE MORAIS: Não acredito que a PEC terá esse efeito. Na verdade, não diria que as fraudes seriam o verdadeiro problema da “Previdência Rural”. Na prática, a esmagadora maioria das pessoas que se aposenta como agricultor em regime de economia familiar realmente viveu ou vive dessa prática. DESTAQUE RURAL F A reforma trará mais segurança aos trabalhadores no campo? FAUSTO SANTOS DE MORAIS: É difícil dizer. No meu ponto de vista as regras endurecem a possibilidade de recebimento do benefício decorrente da agricultura em regime de economia familiar, ignorando o fato do labor penoso duradouro dessas pessoas até uma idade mais avançada. Além disso, o condicionamento à comprovação de uma contribuição mínima ignora a realidade social de
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TRAMITAÇÃO A proposta de emenda à Constituição (PEC) da reforma da Previdência Social, entregue pelo governo federal ao Congresso Nacional, começará a tramitar pela Câmara dos Deputados. Se for aprovada, seguirá para o Senado. Pelas regras regimentais, a matéria passará primeiro pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, que analisará se o texto fere algum princípio constitucional. Nessa etapa, não é analisado o mérito do texto. Em seguida, se a CCJ aprovar a constitucionalidade do texto, será criada uma comissão especial formada por deputados para discutir o mérito da proposta. Se for aprovada pelo colegiado, a PEC segue para votação no plenário da Câmara, onde precisará do apoio de ao menos 308 dos 513 votos em dois turnos de votação.
informalidade nas atividades campesinas. DESTAQUE RURAL F O produtor rural terá que contribuir, anualmente, com R$ 600,00. Isso é válido para todos ou depende de quanto esse agricultor produz? FAUSTO SANTOS DE MORAIS: Quando a PEC se refere ao produtor rural, na verdade ela está direcionando as regras ao agricultor em regime de economia familiar. Essa categoria contribuirá no mínimo com o valor anual de R$ 600,00, valendo para todos os seus dependentes, cônjuges e filhos a partir dos 16 anos de idade, desde que laborem exclusivamente na agricultura e sem empregados.
ARTIGO
8 de março: a profissional mulher inserida no agro
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arço chegou e com ele mais uma série de campanhas que nos homenageiam saem do forno. Algumas tocam o coração ao mostrar o lado terno, sensível e carismático da mulher, outras retratam a luta de tantas mulheres multitarefas que equilibram seu tempo entre alegrias e angústias de serem mães e exercerem com competência irrepreensível de seus papéis no mundo corporativo. Mas eu me pergunto o que de fato deixa de ser mostrado nessas campanhas? Essas campanhas geralmente embrulhadas em muitos tons de rosa por vezes deixam de mostrar uma realidade ainda maior. E o que isso teria a ver com mulheres como nós que vivemos no agro? Afinal somos nós que estudamos mais horas por dia - temos uma frequência maior que os homens em sala de aula, e também estudamos mais anos investindo em nossa bagagem educacional e infelizmente ainda ganhamos menos. E pasme, perceba a ironia: no fundo a maioria das campanhas acaba apenas querendo atrair o olhar feminino para o apelo comercial. Mas deixando o radicalismo de lado, até mesmo porque ele não é bom, consigo orgulhosamente perceber o quanto o Agro em tão poucos anos conseguiu inserir, reconhecer e valorizar tantas mulheres. Sinto-me realizada ao perceber estar trilhando o caminho certo. Venho fomentando ideias sobre a valorização da mulher do agro desde o início dos anos 2000, num momento em que esse assunto não circulava na pauta de marketing das corporações e nem tampouco era fomentado. Dessa maneira sinto-me em parte realizada ao perceber estar trilhando o caminho correto, afinal quem me conhece sabe que fomento desde o início dos anos 2000 o conceito da valorização da mulher do agro pelo conhecimento.
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A você, mulher do agro, deixo um recado: invista em conhecimento pois essa é a base para a valorização de qualquer profissional. Insista sempre, persista e não desista. E justamente num período em que esse assunto sequer circulava na pauta de marketing das corporações e tampouco era abordado em palestras, congressos e nos famosos dias de campo. Enfim o Brasil se abriu a esse conceito. Efeitos da globalização? Sim! O mundo se deu conta da importância do papel da profissional. O agro brasileiro é próximo ao agro dos EUA. De lá não importamos somente tecnologia, referenciais de precificação e conhecimento técnico para aplicar aqui no Brasil. De lá trouxemos a cultura do respeito da profissional mulher inserida no agro. Com a presença de grandes multinacionais em vários elos do setor aqui no Brasil, foi natural as corporações aqui adotarem regras e padrões similares. O despertar desse olhar fez toda a diferença para as profissionais dentro e fora do campo, e em especial nos últimos quatro anos foram de grande avanço. E percebo também que à medida que nos reposicionamos profissionalmente desconstruindo preconceitos e paradigmas, o agro que é o motor que impulsiona a economia brasileira investe cada vez mais em nós! É certo que ainda temos um longo caminhar, mas não podemos deixar de
destacar que já percorremos um caminho inédito. Não o mais difícil, mas o mais trabalhoso. Não só mudamos conceitos alheios como transformamos os nossos próprios conceitos. Quando comecei no agro era raro encontrar numa reunião uma profissional mulher. Percebia olhares curiosos de alguns. De outros sentia o incômodo que causava e de outros recebia nada mais, nada mesmo que a indiferença. E ao trocar impressões com outras colegas do setor, descobria que com elas não era diferente. Hoje ao entrar numa reunião, o cenário é diferente. A presença da mulher e sua participação em cargos de comando e liderança é crescente. Tenho orgulho de juntamente com várias outras profissionais termos insistido, persistido e lutado para sermos valorizadas pelo nosso conteúdo e competência. De maneira geral, nós percorremos um caminho maior para provarmos nossa competência. Isso ainda é fato. Mas é fato também que cada vez mais as empresas entendem que as mulheres têm uma facilidade nata de vestir a camisa da empresa que a contrata ou que é parceira e pelo fato de sermos muito empáticas, nos tornamos altamente proativas em nossos núcleos corporativos. E uma grande prova que consolida essa linha de valorização está justamente na presença feminina num dos maiores postos do agro que é o Ministério da Agricultura. E quem sabe daqui um ano, estejamos aqui juntas celebrando novas conquistas dentro e fora da porteira e consagrando nomes de outras tantas mulheres do agro. A você, mulher do agro, deixo um recado: invista em conhecimento pois essa é a base para a valorização de qualquer profissional. Insista sempre, persista e não desista. E lembre-se, pratique sororidade, pois juntas somamos. Juntas transformamos! Um forte abraço.
ANDREA CORDEIRO Andrea Cordeiro, Diretora da Labhoro, tradicional na área de Consultoria e Comercialização Agrícola.
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ARTIGO
Gestão Financ
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o longo da nossa trajetória profissional tivemos o privilégio de conhecer e conversar com muitos produtores rurais. Dentre eles, pecuaristas e produtores de grãos de diferentes portes e com diferentes experiências. Entretanto, apesar das diferenças em relação às atividades realizadas em cada estabelecimento rural e ao tamanho da propriedade, um questionamento tem sido comum entre eles e cada vez mais frequente: para onde foi o meu lucro líquido após o fechamento do ano agrícola? Temos observado no campo produtores extremamente competentes e profissionais no manejo e condução da lavoura. Produtores que participam de dias de campo e têm contato com especialistas. Eles estão atualizados sobre os melhores cultivares, fungicidas, da recomendação de adubação, entre outros aspectos produtivos. Entretanto, muitos ainda apresentam dificuldades de fechar no “azul” ou com uma margem de lucro satisfatória no final da safra. O que nos questionamos, e talvez muitos dos leitores também o façam, é: como melhorar os resultados financeiros do negócio agropecuário? A resposta para essa pergunta parece ser óbvia. Para melhorar os resultados financeiros basta que se aumente a produtividade das lavouras e dos animais! Entretanto, essa questão é um pouco mais complexa de ser res-
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ceira Rural: para onde foi o meu lucro? pondida. Essa complexidade está relacionada principalmente a ausência de gestão financeira formal nas propriedades rurais brasileiras de forma geral e priorização a maximização da produtividade física e não no retorno financeiro. Com os olhos voltados principalmente para as questões de produtividade, a gestão financeira do negócio vem sendo considerada como pouco importante, e por vezes, desnecessária. Se voltarmos um pouco no tempo, 20 anos atrás, por exemplo, raras eram as propriedades que usufruíam de um adequado controle financeiro do seu negócio. Em contraste, analisando os negócios urbanos (supermercados, postos de combustíveis, lojas de confecções), eram poucos os casos onde não era realizado esse tipo de gestão. Para exemplificar, tomemos como exemplo dois produtores fictícios: Beto e Antônio que cultivam com área própria. Beto cultiva 1200 hectares, não possui um caderno de contas ou um aplicativo de gestão para administrar a situação financeira da sua propriedade. Conforme ele costuma dizer: “os custos e as receitas estão todos na minha cabeça”. Por assim ser, Beto não sabe em detalhes qual é o seu custo de produção, quantas sacas necessita produzir por hectare para começar a ter resultados positivos, bem como quais itens de custos e despesas mais impactam no seu
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A gestão financeira está em magnitude equivalente de importância com o desempenho produtivo da lavoura”. orçamento durante o ano. Na safra passada, Beto colheu em média, 75 sacas de soja por hectare. Excelente resultado produtivo para sua região. Ao conversar com Antônio (seu vizinho), Beto percebeu que o dinheiro que sobrou no final do ano agrícola foi menor que seu colega produtor, por mais que Antônio tenha obtido uma produtividade de 70 sacas por hectare, em sua área de 1100 hectares. Apesar do uso de insumos para manejo, como fertilizantes, fungicidas e sementes ser semelhante para Antônio e Beto, existe alguma particularidade na gestão que leva a essa diferença. Qual? Sem uma formalização desses custos, muitas vezes, fica difícil de perceber que a margem de lucro está sendo consumida com juros de capital, depreciação, despesas
administrativas, manutenção familiar ou mesmo pagamento elevado de insumos a fornecedores. Por mais que o exemplo de Beto e Antônio seja extremamente simplório, ele sinaliza a importância da gestão financeira para uma melhoria nos resultados monetários do produtor rural, sendo um elemento fundamental para a tomada de decisão de compra de insumos, venda da produção, expansão ou diversificação do negócio, por exemplo. A formalização da gestão financeira, por meio da contabilidade rural e ferramentas de controle é importante e segue uma sequência lógica para ter resultado: (1) busca fixar padrões para comparar resultados; (2) mede o desempenho efetivo do negócio , (3) e o mais importante, toma medidas corretivas para melhorar o desempenho após identificar as áreas e itens com problemas. Com esse texto, esperamos ter deixado a mensagem de que a gestão financeira está em magnitude equivalente de importância com o desempenho produtivo da lavoura, e é por meio da primeira que o produtor terá melhores condições de dar continuidade à sua empresa rural. O Grupo RARA estará na Expodireto Cotrijal, no estande da Destaque Rural para discutir e apresentar exemplos como do Beto e do Antônio. Queremos evitar a pergunta do final da safra: para onde foi o meu lucro?
DIEISSON PIVOTO (Eng. Agrônomo, Doutor em Agronegócios - Grupo RARA) CRISTIAN ROGÉRIO FOGUESATTO (Administrador, Mestre e Doutorando em Agro negócio – UFRGS). CARLOS ALBERTO OLIVEIRA DE OLIVEIRA (Eng. Agrônomo – Mestre em Agronegócios e Doutorando em Administração UFRGS / Pesquisador da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação - SEAPI/RS).
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MANEJO POLÍTICA
A hora da verdade O que dizem as entidades do agronegócio após dois meses de governo Bolsonaro João Vicente Melo da Cruz
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urante sua campanha em 2018, o presidente Jair Bolsonaro priorizou propostas para atender as demandas do setor do agronegócio. Logo após a confirmação da vitória nas urnas em outubro, um ar de otimismo tomou conta do setor. A partir de agora, as questões que afligem os agricultores e que são levadas a debate por diversas entidades ganham maior expectativa na concretização de ações que tragam soluções objetivas para tudo que foi dito em campanha.
Crédito Rural precisa de um forte seguro rural
Diante da concretização daquilo que já vinha sendo mostrado nas pesquisas eleitorais, o então candidato, Jair Bolsonaro, ganhou as eleições presidenciais de 2018 e, com isso, assumiu a responsabilidade de sanar as queixas que assombram há muito os eleitores do setor do agronegócio. Setor este que ajudou a eleger o então candidato. É o que nos diz o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, a Farsul, Gedeão Silveira Pereira. Para a liderança, a primeira medida do novo governo ao escolher Tereza Cristina como ministra da Agricultura foi assertiva. “Na realidade o que nós temos é um governo que foi eleito pelo produtor rural brasileiro, de um modo geral. E pelo fato de termos esta conotação, foi colocado no Ministério da Agricultura Tereza Cristina que é uma unanimidade do setor, uma produtora rural do estado do Mato Grosso do Sul e ex-presidente da Frente Parlamentar pela Agricultura no Congresso Nacional onde agora assumiu um gaúcho, Alceu Moreira. Cujo qual, em sua posse, teve ministros da economia e do meio-ambiente presentes, assim como o próprio presidente da 30 |
república e vice. Ou seja, o agronegócio brasileiro está sendo muito prestigiado por este governo”. Ainda na visão do presidente Gedeão, o recente retorno do governante às suas atribuições ainda inspira certa expectativa quanto ao rumo das decisões pendentes e tanto esperadas pelo setor. “Mas é claro que este é um governo muito novo ainda, com nem sequer 60 dias. Evidentemente, não se teve tempo de se ‘tomar pé’ de todas as dificuldades e situações diante de um País que está com grandes dificuldades econômicas. A partir dos municípios, do próprio Estado, e a própria Federação que não é diferente”, comenta. Uma das medidas mais aguardadas pelos setores da sociedade é referente à concessão do crédito rural. Sobre isso, Gedeão espera uma proposta sobre o subsídio que venha solucionar de forma concreta as demandas do setor rural. “Algo já se sabe, porO Agronegócio brasileiro que a própria Federação da está sendo muito Agricultura está participando prestigiado por este do estudo, diante de um novo governo. futuro para o crédito agrícola no Brasil. Ele será algo Gedeão Silveira Pereira Presidente da Farsul diferente. Como tudo que é novo assusta um pouco. Mas alguma coisa precisa ser feita porque esse modelo que aí está, está falido. E por que está falido? Porque nós não temos praticamente nenhum seguro para o produtor agrícola brasileiro. Nós temos uma grande
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dificuldade. E sempre vêm frustações, a exemplo do excesso de chuvas este ano em que se perdeu muito das lavouras, principalmente das lavouras orizícolas. Assim como tivemos perdas expressivas nas plantações de soja. Então precisamos de algo que ampare os agricultores. Por isso é que esse novo crédito agrícola deve ser baseado em um seguro agrícola eficiente”, salienta o presidente da entidade. Outro ponto a ser considerado pelos trabalhadores rurais e que merece destaque dentro das medidas priorizadas pelo novo governo, ainda segundo Gedeão, é a proposta de reforma da Previdência e que ela atenda aos interesses do setor do agronegócio. “Nós estamos vendo, rapidamente, a colocação da reforma da Previdência. Algo esperado por todo o país e que se não acontecer, o País vai ficar com grandes dificuldades. Isso renova as nossas expectativas de que esse será um governo diferenciado. E por ser um governo diferenciado de todos os outros é que nós temos expectativas de que o País, como um todo, volte a crescer. Não só o agronegócio. O que nós temos visto é o agronegócio crescendo, paulatinamente, exigindo novos mercados, novas posturas internacionais do Brasil e ele, o agronegócio, é que vem salvando a economia do nosso País. Agora precisamos que esse agronegócio não seja atrapalhado. Essa é a nossa expectativa”, conclui.
Primeiros dias de um governo atrapalhado Em fevereiro, o governo federal retirou a taxação de importação de leite em pó proveniente da União Europeia e da Nova Zelândia. A Fetag, Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul, manifestou-se contra a suspensão que desfavorece o produtor leiteiro interno, pois o produto importado entra agora no mercado nacional com menor preço e, segundo a entidade, ameaça os rendimentos já escassos dos produtores de leite. O presidente da entidade, Carlos Joel da Silva, observa que os primeiros dias do novo governo mostram uma gestão atrapalhada e que ainda não atende aos anseios dos produtores rurais. Além disso, essa medida antidumping está desalinhada com o setor do agronegócio, conforme acredita a liderança. “Nós estamos vendo nos primeiros dias de governo que o presidente está atrapalhado e que o discurso não está se confirmando na prática. Quando o governo diz que ia olhar para a agricultura com prioridade, que ia
olhar pra agricultura do Brasil e não em detrimento de outros países, que ia rever os acordos comerciais, pois nós estamos vendo o contrário. Apesar de a ministra da Agricultura ter dito que o primeiro ato de governo seria barrar a entrada das importações de leite do Uruguai, não o fez até agora. Pelo contrário, a medida que veio agora terminou com a taxação do antidumping do leite da União Europeia e da Nova Zelândia. Então, disse uma coisa e está fazendo outra”, relata o dirigente. Outro ponto a ser salientado, na opinião do presidente Carlos Joel, é a revisão da alíquota sobre o incentivo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o Pronaf. “Nos surpreendemos, porque no meio do Plano Safra aumentam-se os juros dos custeios onde nós tínhamos 2,5%, foi tudo pra 4,6%. Então são questões onde estamos vendo que o governo federal está em desacordo com aquilo que vinha dizendo. Prometeu e vem fazendo uma fala em valorização da agricultura e pecuária do Brasil, mas está fazendo outra. Todas as medidas que vieram até agora, não vêm em detrimento desses agricultores. Está piorando o que nós já tínhamos. Esperamos que o governo reveja isso. Que volte a taxação do antidumping, que rediscutam o Mercosul (Mercado Comum do Sul) e que as taxas de juros fiquem compatíveis com as questões Nós estamos vendo de mercado. Até agora, o que nos primeiros dias de nós vimos do governo não governo que o presidente nos traz um alento. Pelo con- está atrapalhado e que trário”, desabafa. o discurso não está se Gedeão Pereira ainda confirmando na prática. menciona o impasse quanto à negociação da carne brasi- Carlos Joel da Silva leira junto ao mercado árabe Presidente da Fetag e ainda observa que o pequeno produtor é o que mais precisa de atenção das políticas públicas provenientes do governo federal. “Vimos a questão do fechamento do mercado de aves e suínos para o mercado árabe. Que o governo tenha Março e Abril - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº22
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dentro dessa política agrícola pensado mais que o crédito agrícola, mais juros compatíveis. Com um Programa de Garantia da Atividade Agropecuária, o Proagro, e seguro agrícola que vá além da conta no banco, mas que olhe toda a rentabilidade do produtor. Que possa ter programas que realmente atendam os agricultores”, avalia. O presidente da Fetag ainda observa que a Reforma da Previdência a ser aprovada precisa avaliar a rotina do trabalhador do campo para uma definição mais justa. “Também olhamos para a reforma da Previdência, que se mantenha o que temos hoje para os agricultores e para as agricultoras familiares que já trabalham 40 anos, no qual vemos justa a diferenciação de idade para produtores da área rural”, finaliza.
Livre mercado No Rio Grande do Sul, o setor arrozeiro passa um momento conturbado devido às condições desfavoráveis ao desenvolvimento da safra, pelo excesso de volume de chuvas e, também, pela dificuldade de comercialização do produto. As demandas do setor estão presentes nas falas do presidente da Federarroz, a Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul, Henrique Dornelles. Para ele, o produtor não consegue ver lucro na produção do grão. “São dois momentos climáticos muito negativos e dois momentos de preço onde o setor se descapitalizou e hoje estamos enfrentando a mais grave crise deste setor. Onde o produtor se descapitaliza e acaba vendendo o seu produto por um preço abaixo do custo de produção. É todo um modal de comercialização que acaba agravando a situação”, justifica o presidente da entidade. Sobre as novas diretrizes assumidas pelo novo governo federal em defender o corte de subsídios baseados em uma série de direcionamentos neoliberais, Henrique Dornelles, questiona a incoerência de um livre mercado regulado pelo Estado e que atravanca os avanços no setor do arroz. “Hoje se questiona o novo governo que de fato é liberal, o qual está questionando os subsídios. Ele, o Governo Federal, precisa ‘descer’ até onde as culturas são produzidas pra entender a complexidade da coisa. Todos querem uma economia livre. Nós também queremos. Mas uma economia onde nós possamos vender para quem quisermos e também comprar de quem quisermos. Hoje, o que acontece com a agricultura é que só se pode comprar inter32 |
namente. Não é permitido comprar do Paraguai, não se pode comprar do Uruguai, por exemplo. Não se pode nem sequer contratar um trabalhador uruguaio ou paraguaio sem ter que arcar com os encargos trabalhistas. Ocorre que existe um ambiente extremamente regulado porque não se possui nenhum insumo genérico, que traz ‘uma certa’ reserva de mercado”, argumenta o presidente. Na opinião de presidente da Federarroz, existe uma série de encargos trabalhistas e sociais onde o Estado onera as operações da economia, freando o potencial de produção do setor do agronegócio. “Apesar de o Brasil ter a 2ª maior produtividade mundial, existe todo o ‘Custo Brasil’ com encargos sociais e ambientais que desvalorizam todos os ganhos. É isto que está em jogo hoje. É isso que esta equipe que está assumindo precisa avaliar. Nós carregamos Brasília, carregamos o Senado. Isso tudo nós temos que pagar”, desabafa. Mesmo com uma série de reinvindicações a serem atendidas por medidas importantes, Henrique Dornelles enfatiza que, apesar de ser um governo com trabalhos recentes, já tem mostrado empenho em ouvir as queixas dos agricultores. “Nós te- Todos querem uma mos sido recebidos. A Frente economia livre. Nós Parlamentar pela Agropecuá- também queremos. Mas ria no Congresso tem nos au- uma economia onde xiliado. Temos outra lógica nós possamos vender de governo que agora está para quem quisermos e observando e questionan- também comprar de quem do tudo, inclusive o MER- quisermos COSUL. A ministra Tereza Dornelles Cristina tem tratado alguns Henrique Presidente da Federarroz assuntos pessoalmente. Ou seja, existe todo um ambiente para que se possa atenuar a maioria dos problemas. Eu estou com muita esperança. Este governo conta com muita gente capacitada”, pondera Dornelles.
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MANEJO
O que vem causando a perda de eficiência dos defensivos A fitopatologista Caroline Wesp Guterres explica como uma doença adquire resistência João Vicente Mello da Cruz
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resistência aos defensivos agrícolas tem colocado em xeque os manejos tradicionais na hora de controlar pragas, doenças e plantas daninhas nas lavouras. O manejo fitossanitário passa por um momento de atenção à forma de aplicação e também aos químicos utilizados. No cuidado com doenças nas plantações, por exemplo, fica evidente a importância de o agricultor atender a um manejo consciente na dinâmica que permite a sobrevivência de uma doença em sua lavoura. A fitopatologista Caroline Wesp Guterres explicou como uma doença adquire resistência diante de um manejo ineficiente. Confira entrevista.
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DESTAQUE RURAL F Como uma doença desenvolve a resistência a defensivos? CAROLINE GUTERRES: A resistência aos fungicidas pode ser definida de forma simples como a ineficiência de um composto químico em controlar bem doenças que antes eram controladas pelo mesmo. Este fenômeno depende basicamente de três fatores: do fungo (taxa de mutações da espécie, do número de gerações por safra e da capacidade de competição e sobrevivência); do modo de ação dos fungicidas (fungicidas com modo de ação sítio específico – triazóis, benzimidazóis, estrobilurinas, carboxamidas – facilitam o desenvolvimento de resistência por parte do fungo, já que atuam somente em um local alvo do patógeno e dependem da alteração de apenas um gene) e à forma como é feito o manejo dos fungicidas (re-
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petidas aplicações de um mesmo fungicida em grandes áreas, alterações nas doses de recomendação dos fabricantes, tecnologia de aplicação deficiente, aplicações erradicantes, dentre outros). A resistência dos fungos aos fungicidas é uma realidade em nosso cenário agrícola. O exemplo mais recente é o caso da ferrugem asiática na cultura da soja. Em um patossistema como o da soja e a ferrugem, onde temos somente no Brasil, mais de 35 milhões de hectares cultivados com a cultura, um fungo com alta variabilidade genética e que é capaz de completar diversos ciclos (a cada 7-10 dias) durante o ciclo da soja, a possibilidade de seleção de mutantes resistentes acaba sendo elevada. No Brasil são feitas, em média, 3 a 4 aplicações de fungicida e até pouco tempo, os fungicidas sítio-específicos, que atuam em apenas um local
do metabolismo do fungo, eram utilizados sem a presença de um fungicida multissítio. DESTAQUE RURAL F Como estabelecer um espectro mais amplo para a efetividade dos manejos com químicos? CAROLINE GUTERRES: Para evitar o desenvolvimento de resistência e consequentemente garantir um bom espectro de controle de doenças é imprescindível o manejo consciente. Este envolve diversas práticas e não só a aplicação de fungicidas.
No caso da ferrugem, é importante o vazio sanitário, a utilização de cultivares precoces e a semeadura no início da época recomendada, o uso de cultivares com gene(s) de resistência, e o uso de fungicidas de acordo com seu modo de ação. Por isso, estrobilurinas e carboxamidas devem ser posicionadas nas aplicações iniciais, em função de seu efeito preventivo da doença, já que atuam na fase de germinação de esporos e emissão de tubo germinativo. Não devemos utilizar mais de duas aplicações de carboxamida por ciclo da cultura. A partir
Para evitar o desenvolvimento de resistência e consequentemente garantir um bom espectro de controle de doenças é imprescindível o manejo consciente.
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do momento que já temos a presença da doença no campo, precisamos do efeito curativo, conferido por triazois ou morfolinas. É importante que as aplicações contemplem sempre fungicidas com mais de um modo de ação e que não se utilize o mesmo fungicida em repetidas aplicações. Outro ponto importante e indispensável é o uso associado de fungicidas multissítio (mancozebe, clorotalonil e os cúpricos), que auxiliam a mitigar e evitar a resistência. Em relação ao manejo, devemos manter as doses e recomendações dos fabricantes, respeitar intervalos de aplicação (não fazendo intervalos muito longos) e utilizar tecnologia de aplicação adequada, a fim de garantir uma boa cobertura da folhagem. Estas ações
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são importantes para outras doenças também. DESTAQUE RURAL F Quais doenças poderíamos citar como tendo desenvolvido resistência a defensivos nos últimos tempos? CAROLINE GUTERRES: Ferrugem asiática – resistente/parcialmente resistente aos triazóis, estrobilurinas e carboxamidas - Mancha-alvo – resistente aos benzimidazóis - Mancha olho de rã – relatos de resistência às estrobilurinas - Crestamento de cercospora – resistência às estrobilurinas identificada na Bolívia DESTAQUE RURAL F Quais as principais variáveis para o desequilí-
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brio em um manejo que se encontra estável? CAROLINE GUTERRES: Dentre as práticas que mais contribuem para o desequilíbrio nos manejos e o desenvolvimento de resistência, podemos citar a não utilização de fungicidas multissítio, a realização de intervalos muito longos entre as aplicações, a utilização de sub-doses ou de doses maiores do que as recomendadas pelos fabricantes, a utilização do mesmo fungicida em várias aplicações e o não uso de um programa de manejo que contemple diferentes modos de ação, a presença de plantas voluntárias nas entressafras, que permitem sobrevivência de fungos, a baixa adoção da rotação de culturas, dentre outros fatores.
#CAMPOEMDESTAQUE Pensando em valorizar nossos leitores, que nos mandam belas imagens do campo, a Destaque Rural selecionou algumas fotos para fazer parte desta edição da revista. Confira:
Lavoura de soja em Balsas (MA). Envio de Valério Mattei
Cafezal na região de São Pedro da União (MG). Envio de Fernando Barbosa
Lavoura de soja em Ibiaçá (RS). Envio de Edivan Bregalda
Colheita da soja em Roraima
Lavoura de soja em Aparecida do Rio Negro (TO). Envio de Ricardo Backendorf
Lavoura de soja em Ibiaçá (RS). Envio de Edivan Bregalda
Colheita da soja em Mbaracayú, Paraguai. Envio de Fábio Graeff
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DESTAQUES
FINANCIAMENTO DA PRODUÇÃO
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De acordo com levantamento da Secretaria de Política Agrícola, nos primeiros seis meses de financiamento da produção agropecuária (PAP 2018/19), os produtores rurais tomaram R$ 87,9 bilhões nas instituições financeiras do Sistema Nacional de Crédito Rural. A contratação do crédito rural registrou aumento de 14% em comparação com igual período anterior.
MÁQUINAS AGRÍCOLAS A produção de máquinas agrícolas e rodoviárias cresceu 23,8% em 2018 e alcançou 65.674 unidades, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA). As vendas também subiram 12,7%, com a comercialização de 47.777 máquinas. Para 2019, a projeção da associação é de aumento nas vendas internas de máquinas agrícolas e rodoviárias, de 10,9%. O número é equivalente a 53 mil unidades.
PERSPECTIVA I Após encerrar o ano de 2018 com recorde nas exportações de carne bovina in natura, o setor pecuário brasileiro aposta em um aumento nas vendas internas da proteína em 2019, conforme dados dos pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. A perspectiva é decorrente do otimismo em relação à economia nacional, o que tende a elevar o poder de compra da população.
PERSPECTIVA II
VALOR DA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA De acordo com dados do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), o valor bruto da produção agropecuária (VBP) deverá totalizar R$ 564,3 bilhões em 2019. A estimativa está abaixo do registrado em 2018, de R$ 570,3 bilhões. O recuo é decorrente dos preços mais baixos de diversos produtos. O VBP tem sido sustentado pela soja, cana-de-açúcar, milho, algodão e café.
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Depois das altas temperaturas e da ausência de chuvas registradas em algumas regiões do país em dezembro, a perspectiva é de queda na produtividade da safra de soja 2018/19. Produtores estão atentos à rentabilidade, tendo em vista o aumento nos custos de produção. De acordo com o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, a elevação nos custos é resultado da valorização cambial, do custo de transporte no Brasil e da maior demanda.
PERSPECTIVA III O ano de 2019 começa com uma perspectiva mais favorável ao mercado de trigo, conforme levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Diante da estimativa de aumento nas importações, em virtude da queda na qualidade da produção nacional em 2018, e dos estoques menores, a expectativa é de sustentação nos preços do cereal.
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R$ 194,37 bilhões SERÁ O VALOR DESTINADO AO FINANCIAMENTO AGROPECUÁRIO NA SAFRA 2019/20. QUEM GARANTIU O NÚMERO FOI A MINISTRA DA AGRICULTURA, TEREZA CRISTINA, QUE ADIANTOU QUE O VALOR SERÁ, NO MÍNIMO, ESSE - O MESMO DE 2018. O MONTANTE ANUNCIADO NO ANO ANTERIOR FOI DESTINADO À COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA BRASILEIRA DE MÉDIOS E GRANDES PRODUTORES RURAIS. PARA A AGRICULTURA FAMILIAR, O VALOR FICOU EM R$ 31 BILHÕES.
CRÉDITO As contratações de crédito do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) entre médios e grandes produtores apresentaram um crescimento de 13% entre julho do ano anterior e janeiro de 2019. O volume chegou a R$ 110,2 bilhões, contra os R$ 97,6 bilhões adquiridos em igual período da safra passada. Entre os programas de financiamento, o Prodecoop (Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária), registrou a maior alta, de 235%. As informações foram reportadas pelo Mapa.
VENDAS EXTERNAS Em 2018, as exportações brasileiras de produtos agropecuários atingiram novo recorde, em volume e valor, segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. O valor exportado pelo setor agrícola cresceu 4,7% no ano, com destaque para a cultura da soja. Os embarques da oleaginosa aumentaram 23% no ano anterior. Já o faturamento em reais registrou um incremento de 12% no ano passado.
CLIMA O Centro de Previsão Climática (Climate Prediction Center, CPC, na sigla em inglês) ligado ao NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), o serviço de Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos confirmou a caracterização de El Niño esse ano. A expectativa é que o fenômeno seja de fraca intensidade e que dure até a Primavera no hemisfério Norte.
PIB I
PIB II
Em 2018, o PIB teve crescimento de 1,1% em relação ao ano anterior. O crescimento resultou da expansão de 1,1% do Valor Adicionado a preços básicos e da alta de 1,4% no volume dos Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios. O resultado do Valor Adicionado neste tipo de comparação refletiu o desempenho das três atividades: Agropecuária (0,1%), Indústria (0,6%) e Serviços (1,3%). Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O PIB per capita alcançou R$ 32.747, (em valores correntes) em 2018, um ligeiro avanço (em termos reais) de 0,3% em relação a 2017. Após o crescimento recorde de 2017, a Agropecuária teve variação positiva de 0,1% em 2018, decorrente, principalmente, do desempenho da agricultura, com destaque para o café (29,4%), algodão (28,4%), trigo (25,1%) e soja (2,5%). Houve quedas em lavouras como a do milho (-18,3%), laranja (-10,7%), arroz (-5,8%) e cana (-2,0%).
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