Marรงo e Abril - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nยบ19
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EDITORIAL
O desafio da soja
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ontar histórias inspiradoras sempre foi um dos principais objetivos da revista Destaque Rural. Na 19ª edição não poderia ser diferente. Com a soja como protagonista, trouxemos uma história de desafio na lavoura. Os relatos do Seu Neco, produtor do município de Sertão/RS, são o espelho do produtor rural gaúcho. A desvalorização, os conhecimentos passados de pai para filho, a luta para manter as próximas gerações na lavoura. Histórias como essa são o combustível para manter o projeto Desafios da Soja na estrada, percorrendo as principais regiões produtoras do Rio Grande do Sul. Na safra 2017/18 estamos dando continuidade ao projeto iniciado em 2016. O intuito é, além de inspirar outros produtores pelo estado, coletar dados, documentar a safra e levar informação de qualidade para dentro das propriedades. Atualmente em sua segunda edição, o Desafios da Soja oferece conteúdo jornalístico sobre as boas práticas agrícolas que são desenvolvidas, mostrando os principais desafios passados pelo homem do campo e buscando soluções para enfrentá-los. Se o ano do brasileiro inicia só depois do carnaval, para o produtor gaúcho, ele começa junto com a Expodireto. Nossa 19ª edição circula na também 19ª edição da Expodireto Cotrijal, que acontece em Não-Me-Toque/RS, entre os dias 5 e 9 de março. A feira, termômetro do setor, prentende atingir um alto volume de negócios neste ano. Para o presidente da Cotrijal, Nei César Mânica, a expectativa é positiva. “Nós fizemos um trabalho neste último ano em cima de uma projeção de recuperação da economia. A gente nota que os índices econômicos estão melhorando e isso se reflete positivamente no setor”. Também trouxemos, nesta edição, uma entrevista com o atual presidente da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul, Gedeão da Silva Pereira. Ele fala sobre as perspectivas do setor para 2018 e as dificuldades que devem andar lado a lado com o produtor neste ano. Além disso, a reforma trabalhista, os benefícios da irrigação, a importância da cobertura de solo e o combate à resistência aos fungicidas são outros assuntos que você encontra nas próximas páginas. Que venha a 20ª edição!
#edição 19 #Ano IV #Março e Abril Editora Riograndense CNPJ 17.965.942/0001-07 Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Cacilda Becker, 30 Boqueirão Cep 99010-010 Diretor Leonardo Wink Jornalista Responsável Ângela Prestes (MTB/RS 17.776) Jornalistas Ângela Prestes Giseli Furlani Ana Cláudia Capellari Projeto Gráfico Cássia Paula Colla Diagramação Ângela Prestes Colunistas Gilberto Cunha Elmar Luis Floss Impressão Gráfica Tapejarense Contatos leonardowink@destaquerural.com.br redacao@destaquerural.com.br (54) 9947- 9287 Tiragem 8 mil exemplares
Boa leitura Ângela Prestes Editora
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CAPA
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ÍNDICE
Avanço da soja entre gerações
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O INVERNO PARA ASSEGURAR O VERÃO PASTAGEM: DA PORTEIRA PARA DENTRO
REFORMA TRABALHISTA NO MEIO RURAL
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COMBATE À RESISTÊNCIA AOS FUNGICIDAS
PERSPECTIVAS: O QUE ESPERAR DO AGRO EM 2018?
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UM MUNDO SEM ABELHAS: MUITO ALÉM DO MEL
IRRIGAÇÃO GARANTE ALIMENTO E RENDA PARA PROPRIEDADE no rs
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MANEJO
O inverno para ass coberturas no solo A prática do plantio de culturas de inverno – não só a de trigo – garante mais sustentabilidade e possibilidade de maiores rendimentos na oleaginosa Ana Cláudia Capellari
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pós a colheita das culturas de verão, em meados de abril, muitos produtores deixam o solo em pousio no Rio Grande do Sul, ou seja, as áreas permanecem sem nenhuma semeadura até o início do próximo ciclo. No entanto, mesmo reconhecida como uma prática legal pelo Código Florestal Brasileiro, deixar o solo “descansar” mais prejudica que ajuda a principal matéria-prima da agricultura: sem um solo adequado para o plantio, é praticamente inviável para o agricultor obter retorno financeiro. Para cuidar do solo e fazer com que os nutrientes sejam mantidos é preciso pensar a propriedade rural a longo prazo e fazer um planejamento do sistema de produção. O engenheiro agrônomo e professor Elmar Floss argumenta que, quanto mais tempo a lavoura estiver ocupada com culturas, mais o solo irá aumentar a produção de palhada. Essa prática não beneficia somente a cultura que está sendo plantada, mas gera resultado positivo para toda a cadeia produtiva da lavoura. “O aumento da palhada vai promover a melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo e evitar que o gás carbônico retorne imediatamente ao ar”, diz o professor. Ainda segundo Floss, a quantidade de palhada necessária para manter o equilíbrio do solo é de, aproximadamente, 9 e 12 toneladas. Em específico para a cultura da soja, principal plantada no Estado, esse cuidado pode proporcionar vantagens rentáveis. Estima-se que com o aumento da produção de palhada, feita através do plantio das coberturas de inverno, como o trigo por exemplo, 10 |
segurar o verão: como as o ajudam a produção de soja a colheita da oleaginosa pode aumentar em 8 a 10 sacas por se viria em sucessão, aproveitaria os nutrientes deixados hectare. A rainha do agronegócio, sozinha, consegue propelo nabo. duzir menos do que o necessário para a sustentabilidade do solo: entre 3,5 e 4,5 toneladas de palhada. Mas, não é só de Três culturas na mesma lavoura trigo que o inverno gaúcho vive. O professor salienta que há Floss afirma que, de acordo com pesquisas, os melhores outras alternativas para o agricultor que não aposta no cereal resultados sobre as coberturas de inverno é quando acontece de inverno. “Após o fim da colheita da soja, o produtor pode a mistura, ao mesmo tempo, de aveia preta, nabo forrageiro e entrar na lavoura com aveia preta, que é uma forrageira de fáervilhaca. “Tem se observado resultados positivos no rendicil plantio e possui custos baixos. Ela fornece uma excelente mento do milho em sucessão, mas especialmente da soja em cobertura no inverno e evita a erosão do solo, aumentando a sucessão”. O professor explica que as três culturas, por serem infiltração de água quando chove”, comenta o professor. Oudiferentes, possuem sistemas radiculares opostos e que por tro benefício destacado por Floss do cultivo de aveia preta é conta disso melhoram as propriedades físicas do solo. “Elas a supressão das plantas daninhas, visto fazem com que haja o desenvolvimento que o solo ficará por mais tempo coberdo maior número de microrganismos to. “Com isso, o custo com controle de benéficos no solo e dá uma palhada explantas daninhas pré-semeadura da soja celente para a semeadura direta, tanto é reduzido, além de se criar um ambienQuando se leva em do milho quanto da soja”, diz. A ervite favorável com uma boa palhada”. lhaca, do trio das coberturas de inverno, consideração o trigo Dependendo do ano e das condições inserido em um sistema ainda apresenta a vantagem de fazer a climáticas, a aveia preta pode produzir fixação biológica de nitrogênio, ou seja, de produção, talvez uma média de 5 a 7 toneladas de matédevolve ao solo o elemento químico a renda não venha ria seca de palha. Como uma conta de necessariamente dessa que estava presente apenas no ar. “E a matemática simples, o produtor pode cultura, mas sim da sua partir disso o produtor reduz custo na somar esses números aos que a soja lavoura: não vai ser necessário fazer uma sucessão, da grande produz de palha no verão e será possível adubação nitrogenada”. cultura econômica, que chegar no mínimo para obter um solo atualmente é a soja”. sadio entre as produções anuais. Sucessão que dá certo Nesse sentido, é reforçada a necesElmar Floss O engenheiro agrônomo argumenPesquisador sidade da rotação das culturas. De ta que para o produtor rural conseguir fazer, o que o próprio nome diz, uma fazer essa rotação das culturas e extrair mudança no que é plantado na propriedade. Outra culdo solo o que ele tem de melhor, é preciso esquecer o pentura, que segundo o engenheiro agrônomo, é importante samento de uma única cultura e pensar em um sistema de de se colocar no vazio outonal é o nabo. “Especialmente produção. “O produtor geralmente avalia economicamente quando se colhe o milho e sobre esta área a proposta é a sua propriedade cada vez que completa um ciclo. Muitas plantar trigo, o nabo tem um crescimento inicial rápido vezes, é olhado o trigo e só se vê riscos de mercado e clima, e se houver um intervalo de 60 a 90 dias entre a colheita por exemplo. Mas quando se leva em consideração o trigo inde soja ou milho e a implantação do trigo, o nabo faz uma serido em um sistema de produção, talvez a renda não venha boa quantidade de palhada e possui uma decomposição necessariamente dessa cultura, mas sim da sua sucessão, da rápida dos nutrientes, em especial do nitrogênio”, explica grande cultura econômica, que atualmente é a soja”. Floss. De acordo com o professor, o trigo, que em hipóteAinda segundo o engenheiro, onde se planta soja depois Março e Abril - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nº19
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FOTO: EMBRAPA/DIVULGAÇÃO
do trigo, como um efeito residual da adubação do cereal e da melhora nas propriedades físicas do solo, é possível notar um aumento na produção de soja de 500 a 600 kg. “Então o grande lucro não vem do trigo, o grande lucro vem da soja, que por sua vez se utilizou dos benefícios vindos do trigo”.
Milho: muito além do mercado O mesmo pensamento descrito em relação ao trigo, pode-se dizer para o milho. O produtor, na maioria dos casos, olha a cultura isoladamente e tende a ver somente as despesas ou os riscos. Nesta safra, de acordo com a Emater/Ascar-RS, a redução da área de milho no Rio Grande do Sul chegou a aproximadamente 12%. “Quando o milho está no sistema de produção e o produtor coloca uma cultura de cobertura que beneficia o rendimento dele, a maior vantagem será vista na colheita de soja do ano que vem, onde neste ano se plantou milho”, diz Floss. Além da importância econômica para o Rio Grande do Sul – que não é autossuficiente na produção - o milho tem valor agronômico de permitir a maior sustentabilidade do sistema. “Onde tem milho, trigo e soja em sucessão, é possível chegar, facilmente, nas nove toneladas de palha previstas. Além do valor econômico do grão colhido, é garantida a sustentabilidade do sistema”, complementa o engenheiro agrônomo.
Benefícios do milho para a soja
Em áreas onde há rotação de culturas com a inserção do milho, geralmente não há problemas com compactação
então há benefícios físicos. Muitas pessoas falam em subsolagem, em fazer coisas para organizar perfil de solo e trazendo o milho para dentro do sistema, é possível fazer isso de uma maneira ‘barata’”, comenta. Em áreas onde há rotação de culturas com a inserção do milho, geralmente não há problemas com compactação, com isso os nutrientes permanecem no perfil do solo e outras culturas que forem ser plantadas posteriormente, em especial a cultura da soja, podem ser favorecidas.
Para o engenheiro agrônomo e produtor rural Bernardo Tisot, que desde a década de 1990 planta milho - independentemente dos preços praticados - os benefícios gerados pelo Rotação para reduzir grão para a cultura da soja são vários. custos Bernardo defende a ideia de que o Trabalhar com mais de uma cultura produtor não deve pensar somente na lavoura não é só sinônimo de diversino mercado e na formação de preços ficar a atividade. Rotacionar as culturas, para decidir se irá plantar milho ou produtos e práticas agrícolas significa, não. “Se o produtor tem interesse em aos poucos, eliminar custos e formas montar um sistema dentro da prode prejuízos. Bernardo comenta que, priedade dele, o milho deve estar preem aproximadamente três anos, utilisente. O milho tem que ser inserido O milho é uma cultura za quatro ou cinco culturas no talhão no sistema de produção como uma que tem a melhor onde vai o milho, pela facilidade que a chave, uma porta de entrada, não de estrutura radicular de cultura possui em relação a reciclagem rendimento direto em função do pretodas as culturas que dos nutrientes e de suprimir o probleço que ele está no momento, mas tem que estar fazendo parte da rotação, in- temos disponíveis hoje”. ma das plantas daninhas, como o azevém, por exemplo. “Depois do milho, tedependentemente do preço”, diz. Bernardo Tisot Produtor Rural nho condições de trabalhar com o trigo, Dentre os benefícios de se plantar utilizando o nabo forrageiro de cultura milho, o engenheiro destaca a possiintermediária. Após esse trigo, é possível plantar a soja. Fico bilidade de melhorias na parte de compactação do solo. com a área sempre coberta e sempre com alguma cultura fa“O milho é uma cultura que tem a melhor estrutura razendo uma função na minha área”, finaliza o produtor rural. dicular de todas as culturas que temos disponíveis hoje, 12 |
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CT& Bio
Gilberto Cunha
gilberto.cunha@embrapa.br
Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo
O dissenso do clima
S
e há um assunto capaz de suscitar debates acalorados, com opiniões exacerbadas (favoráveis ou contrárias) e defesas de interesses corporativos (veladas ou nem tanto), esse é o que trata da mudança do clima global. Mas, afinal, a atividade humana é ou não é a principal responsável pelo aquecimento global que assola o planeta na atualidade? Há ou não há consenso, na comunidade científica, que a ação humana tem sido a principal responsável pelo aquecimento observado em escala planetária, especialmente a partir dos anos 1950? E, se há esse entendimento, então por que tanta controvérsia sobre o assunto? Eis um tema que comporta muitas nuanças, mas, que, inquestionavelmente, desde 2007, quando saiu o quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), ao ficar estabelecido que “os gases de efeito estufa de natureza antropogênica têm sido responsáveis pela maior parte do inequívoco aquecimento da temperatura média global a partir da segunda metade do século 20”, não deveria mais suscitar dúvidas. Todavia, não é isso que se observa cotidianamente. A metodologia do “consenso”, adotada pelo IPCC, pode ser assumida como científica? Existe consenso científico? Há espaço para outro olhar (desinteressado) sobre o clima global? A discussão da mudança do clima global, ainda que esteja presente internacionalmente, na esfera diplomática e científica, desde final dos anos 1980, mantém-se atual e relevante como nunca; especialmente com o advento da era Trump no comando da nação mais rica e poderosa do planeta (os EUA). Um novo momento histórico, em que as grandes questões ambientais, a exemplo da mudança do clima global, podem perder protagonismo e as
opiniões da comunidade científica, por mais consolidadas que sejam, a exemplo dos relatórios do IPCC, relegadas; saindo vitoriosa, por conveniência de ocasião, a via do dissenso em vez do assaz bem trilhado caminho do consenso. Não é de hoje, que os contrários à tese da responsabilidade humana na mudança do clima global acusam de falacioso o dito consenso científico que concluiu pela inequívoca natureza antrópica da elevação da concentração dos gases causadores do efeito estufa na atmosfera terrestre. Não raro, utilizam técnicas apuradas de persuasão ou, quando não, buscam fazer valer a sua opinião pela força do poder
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A discussão da mudança do clima global, ainda que esteja presente internacionalmente, na esfera diplomática e científica, desde final dos anos 1980, mantém-se atual e relevante como nunca; especialmente com o advento da era Trump no comando da nação mais rica e poderosa do planeta (os EUA).
econômico ou político. Insistem os céticos do aquecimento global que não há espaço para “consenso” no universo científico; que a crença cega na tese da ação humana como responsável pela elevação dos gases causadores do efeito estufa (como aparenta nos relatórios do IPCC) é um pecado imperdoável; que o método científico, seguindo as premissas de Karl Popper, não opera por consenso; que hipóteses que não podem ser expressas quantitativamente não são suficientemente rigorosas para serem testáveis; usam e abusam de relatos de trabalhos que refutam a tese do aquecimento global (alguns, inclusive, que levam a assinatura de cientistas que gozam de certo reconhecimento nos meios acadêmicos, mas que não são necessariamente especialistas na área de clima); etc. Indiscutivelmente, em parte, estão com a razão os céticos do aquecimento global: CONSENSO não é prova científica de nada. Mas, por outro lado, estão, os céticos, completamente equivocados, ao não admitirem que esse suposto consenso, forjado a partir de resultados de pesquisas robustas, constitui-se, usando-se emprestada a definição de Thomas Kuhn, no atual paradigma dominante da ciência normal do clima. Sim, consenso implica em concordância; mas não necessariamente em unanimidade. Na ciência, e nesse caso em particular, consenso significa aquilo que a maioria dos especialistas aceita como válido. Então, diante do que está posto, resta, aos que são contra, derrotar o modelo presumido da responsabilidade humana na mudança do clima, para que essa teoria seja rejeitada e algo novo, como os apregoados ciclos naturais de variabilidade climática, possa, legitimamente, ocupar o seu lugar como o novo consenso científico. Simples, assim!
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MANEJO PASTAGEM
Da porteira para dentro
Produtores encontram formas de elevar a produção de leite por meio da alimentação de qualidade, investindo no sistema de manejo correto da pastagem
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FOTOS: DEOMIR MARTINI
Giseli Furlani
O
leite está entre os seis produtos mais importantes da agropecuária brasileira, e é atualmente uma das principais fontes de renda do estado do Rio Grande do Sul. A cadeia leiteira desempenha papel fundamental na geração de emprego e renda para população. Além disso, o leite é um dos principais alimentos consumidos no dia a dia, seja em sua forma natural ou em seu vasto grupo de derivados. O consumo habitual desses alimentos é recomendado pela Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, para atingir uma ingestão adequada de cálcio - mineral fundamental para a formação e a manutenção da estrutura óssea do organismo. Para obter um bom desempenho na produção leiteira é essencial a adoção de boas práticas na atividade, como cuidados com a higiene, manejo adequado, aplicação correta de medicamentos e controle de doenças, e uma alimentação adequada e nutritiva. Entretanto, o cenário vivido hoje não é um dos melhores: em dezembro de 2017 o valor do leite ficou praticamente estável em relação a outubro e novembro, na média nacional. Com a queda no valor, os produtores de leite necessitam buscar soluções para obter rentabilidade e estabilidade no campo. Em 2007 o setor do leite passou por um momento parecido, onde os produtores se desanimaram, e foi nesta época em que o Técnico em Agropecuária da Cotrisal (Cooperativa Tritícola Sarandi LTDA), Deomir Martini, resolveu mudar a realidade do sistema de produção, investindo em alimentação e manejo correto das pastagens para minimizar prejuízos e aumentar a produtividade.“Para isso foi preciso encontrar uma propriedade que aceitasse o desafio de deixar para trás práticas do passado e olhar para frente em busca do novo”, detalha Deomir, que conseguiu a primeira propriedade na cidade de Constantina/ RS. As novas técnicas implementadas no local serviram de base para difundir a ideia em outras propriedades no município e para cidades da região em que a cooperativa atua. Hoje, Martini atende produtores em 12 municípios, com auxílio das filiais da Cotrisal.
Época de plantio Durante o ano existem dois períodos de plantio: na pastagem de inverno a semeadura acontece de março até junho, e, no verão, os melhores plantios têm início em outubro. O objetivo, conforme o técnico Martini, é evitar o vazio forrageiro entre uma cultura e outra. Muitos produtores de leite enfrentam um grande problema nas pastagens de verão que são as invasoras de plantas daninhas, mas o segredo é realizar o manejo correto na pastagem de inverno. “Quando o produtor maneja bem a sua pastagem de inverno, aveia branca e azevém tetraplóide, levando este no mínimo a final de outubro ele terá menos problemas com essas invasoras, pois no momento da dessecagem, antes do plantio, a maioria das sementes já terá germinado e assim a cultura desenvolverá
Além de produzir muito alimento e com qualidade, ainda estamos formando uma camada de palhada sobre o solo melhorando sua matéria orgânica”. Douglas Agatti Produtor
com menor competição de invasoras”, comenta o técnico. De acordo com Martini, antes de iniciar o plantio é fundamental realizar a amostragem do solo. “A recomendação sempre leva em consideração dados da análise de solo, tipo de pastagem e quantas toneladas de matéria seca quer ser produzida por hectare”. Com base nisso o produtor toma a decisão em conjunto com seu técnico.
Manejo da pastagem O setor de produção de pastagem passou por inúmeras transformações ao longo do tempo. Em um primeiro momento a maioria dos produtores rurais desenvolvia a atividade leiteira como uma produção para subsistência familiar, na época quase não se investia na qualidade do pasto. No segundo momento, a produção de leite passou a ser destinada à comercialização e iniciou-se então o plantio de pastos específicos para alimentar o plantel. Mas, mesmo com a iniciativa, o uso de adubação era baixo e isso gerava um empobrecimento dos solos onde havia animais pastejando. A utilização de adubos começou com o que sobrava do plantio de soja ou milho, mas inicialmente o manejo das pastagens não era realizado de forma correta. O piqueteamento, por exemplo, só começou a ser feito com o surgimento do eletrificador para cerca elétrica, e neste momento, surge uma nova fase na pastagem, onde os piquetes são introduzidos nas propriedades melhorando o manejo. Março e Abril - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nº19
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Adubação aliada ao alto rendimento Quando o assunto é adubação de base, na maioria das propriedades a quantidade utilizada é menor do que na cultura da soja. De acordo com o técnico da Cotrisal, em média 300 kg são utilizados para uma retirada em torno de 4 ton/ha de grão, já na pastagem, é possível chegar a uma produção de 15 ton/ha de matéria seca com milheto, portanto, a adubação deve ser muito maior do que a utilizada. É o que o técnico está aplicando nas propriedades que atende. “As propriedades estão usando em média de 450 kg/ha de adubos específicos para pastagens, estes possuem alta concentração de nitrogênio com liberação gradual, além do fósforo e do potássio, também possuem na formulação enxofre, muito importante para gramíneas”, conta Martini. Nas propriedades que estão no sistema há mais tempo, já é possível reduzir a quantidade de adubo usado. “Com manejo correto das pastagens a reciclagem de nutrientes é muito grande, além de melhorar a matéria orgânica do solo”, explica o técnico. Ele acredita que a grande evolução está ancorada em dois pilares: produtores mais profissionais e empresas de tecnologias que focam em pesquisa na produção de pastagem e disponibilizam adubos específicos. A adubação nitrogenada também é de extrema importância para o cultivo de pasto. Martini costuma brincar com os produtores que o nitrogênio é a mesma coisa que o fermento no pão. “De nada adiante usar uma boa semente, fazer uma boa adubação de base e não usar corretamente o nitrogênio em cobertura”. Utilizando uma boa adubação em quantidade e com qualidade, é possível fazer até três pastejos sem necessitar fazer adubação de cobertura, mas para isso é preciso usar adubos com alta concentração de nitrogênio. Martini orienta os produtores a usar a cada dois pastejos, desde que utilizem formulações com liberação gradual. Este é o caso do produtor rural Douglas Agatti. Morador da Linha Taquaruçu em Novo Xingu/ RS, Douglas segue os caminhos herdados do avô, que iniciou a atividade leiteira há 35 anos. Em seu retorno do colégio agrícola em 2011, junto de seus pais e seus dois irmãos, tornou a produção de leite, que antes era apenas para subsistência, a principal atividade da propriedade. Com essa mudança foi necessário investir na alimentação rentável. Hoje além de utilizarem o esterco de suíno à vontade, é usado em média 350 kg na base de NPK e mais 150 kg de cloreto de potássio, adubação de cobertura 600 kg de nitrogenado sobre a área, aplicada a cada dois pastejos. “Com uma adubação específica para produção de pastagem conseguimos ir de quatro, para no mínimo 10 pastejos, sendo 16 |
Roçadas em períodos corretos são fundamentais para nutrição da planta
O momento de entrada e saída dos animais no piquete é uma decisão de manejo importante, para garantir a estrutura de pasto adequado durante toda a estação do pastejo
Pastagem para gado leiteiro permite produção a baixos custos, com possibilidade de produtividade elevada.
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que, em algumas áreas, avançou mais do que isto”, relata o agricultor.
Roçadas são fundamentais O técnico Martini, explica que a roçada é tão importante quanto o nitrogênio. “Só conseguimos levar estas plantas produzindo folhas por um longo período se fizermos as roçadas nos momentos corretos”. Existem duas situações que devem ser feitas a roçada. Uma é quando largam os animais e há uma sobra maior que 40% da pastagem, esta deve ser realizada imediatamente após a retirada dos animais sobre a área. Já a outra situação, é quando está sobrando pastagem e os animais não estão acompanhando a velocidade de crescimento, neste caso, roça-se alguns piquetes e avança com o pastejo. “Este processo tem o objetivo principal de não deixar a planta alongar, pois quando acontece isto além de perdermos qualidade do alimento produzido também perdemos a qualidade do rebrote”.
Manejo correto Na forma tradicional de manejo de pastagens são cometidos dois principais erros que comprometem a produção e a longevidade. A entrada no primeiro pastejo com o pasto muito alto e a retirada dos animais de cima do piquete com o pasto muito rapado. “Quando estamos iniciando o primeiro pastejo temos que pensar no último que será pastejado, este não deve estar passado do ponto, então temos que entrar antes, mas sempre sabendo que não temos grande volume de alimento ainda, por isso é preciso muito cuidado, deixar os animais menos tempo no piquete para que não rebaixem demais os mesmos”. afirma o técnico. A partir do segundo pastejo o manejo segue até o final da mesma forma, ou seja, entrada e saída do piquete na altura correta. Na propriedade do produtor Douglas, o manejo foi realizado nesta proposta. Dividindo em 36 piquetes iniciou-se o pastejo no primeiro corte sempre pensando em chegar no último piquete com o tamanho ideal. “Além de produzir muito alimento e com qualidade, ainda estamos formando uma camada de palhada sobre o solo melhorando a matéria orgânica do mesmo, pois o sistema que é trabalhado pensando nisto também, a preocupação em nutrir o solo é muito grande”, relato o produtor.
Pasto: economia e vantagem
A produção de leite baseada na pastagem busca sempre potencializar os resultados, mas para alcançar altas produtividades é necessário fazer a suplementação com silagem e concentrados (ração). Porém, in-
VANTAGENS O técnico da Cotrisal, Deomir Martini, aponta as principais mudanças para quem consegue olhar da porteira para dentro: F Aumento de produtividade e consequentemente de produção; F Redução na quantidade de silagem fornecida; F Redução do teor de proteína no concentrado; F Formação de palhada sobre o solo e recuperação da matéria orgânica; F Alongamento do ciclo da planta, azevém até dezembro e milheto até maio; F Redução de plantios, pois quem tem que fazer plantio de pasto de verão em agosto provavelmente terá que fazer mais um em janeiro; F Diminuição dos custos de produção; F Redução de trabalho na propriedade; F Melhora na autoestima da família. Isto é visível em todas as propriedades, o produtor tem orgulho de mostrar seus pastos, antes era mostrar os animais;
vestindo em uma boa pastagem, pode-se diminuir os complementos com maior valor de produção. “Quando temos uma grande oferta de alimento de qualidade, diminuímos a quantidade de silagem fornecida e diminuímos o teor de proteína no concentrado. As duas medidas reduzem muito o custo do leite produzido”. O pasto é o alimento mais completo para ruminantes, fazendo o plantio na hora certa, a adubação necessária e o manejo correto, o resultado só mostra vantagens. Para Douglas, além de aumentar a quantidade do leite, a principal vantagem é o custo do alimento. “Como estamos produzindo muito pasto sobre a área conseguimos reduzir drasticamente a silagem e a proteína da ração. Isso gerou uma economia na propriedade e ficou melhor para desenvolver a atividade”, afirma o produtor. Se engana quem pensa que é necessário obter grandes áreas para conseguir mudar a forma de produção por meio da alimentação. “Independentemente do tamanho da propriedade, atendo produtores que possuem três hectares de pasto e outros 20, os resultados são muito parecidos”, conta Martini. Na propriedade de Douglas são plantados oito hectares de pasto no verão e 16 no inverno, e com sua busca por mudança no cenário leiteiro, o produtor obteve um aumento significativo na produção de leite. “Saímos de uma média de 12 litros vaca dia para 28 litros em média no inverno e 23 no verão, Março e Abril - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nº19
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Obter uma base alimentar consolidada é fundamental para o bem- estar do animal
sendo que meu plantel é formado por uma genética de 50% de animais holandês e 50% de jérsei”. Desde 2011 com seu retorno na propriedade, Douglas focou muito na questão alimentar, manejo e conforto dos animais e, para ele, esse foi o segredo no aumento da produção. “A base para aumento de produção foi a pastagem, e junto com ela foram melhorados todos os processos produtivos, sempre com fechamento de dietas balanceadas e muito cuidado na reprodução e conforto animal”, descreve o produtor.
Repensando o futuro da produção Toda atividade que gera produção está sempre sendo desafiada a produzir mais. Segundo Martini, as propriedades precisam fazer uma escolha: profissionalizam a atividade ou param de produzir. “Muitas propriedades ainda estão na atividade como forma de subsistência, geralmente as pessoas envolvidas nela são casais com mais idade e que não tem objetivo de seguir nela por muito tempo. As propriedades que estão investindo e se profissionalizaram na produção geralmente são compostas de pessoas mais novas e 18 |
que têm objetivos claros”. Para que esse desenvolvimento aconteça nas propriedades é necessário o uso de novas tecnologias, e para isso é essencial que o produtor observe os processos produtivos, identificando o obstáculo e colocando em prática as soluções. “Quando o produtor acreditar que é possível aumentar no mínimo 50% a mais sua produção com os mesmos animais, já é meio caminho andado, a partir daí é seguir as recomendações e o resultado sempre surpreende os produtores”, destaca o técnico. O produtor Douglas, aceitou girar a chave do sucesso para obter qualidade no pasto e consequentemente uma alta na produtividade, hoje com um plantel formado por 37 matrizes e mais 25 novilhas, pretende aumentar a quantidade de animaise planeja renovara estrutura física da propriedade pensando na melhoria do trabalho da família. Douglas da à dica para os produtores. “Precisamos escutar os técnicos que estão nos auxiliando, pois eles sempre têm novidades da pesquisa para serem aplicadas na propriedade. Entretanto, se não partir de nós o interesse não vamos mudar nada” enfatiza o produtor.
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MANEJO PASTAGEM
Avanço da soja entre gerações Produtor de soja desde a época de seu pai, Neco pode acompanhar as transformações na agricultura e hoje deseja ver as filhas seguindo seus passos na lavoura
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Giseli Furlani
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v ida no campo é feita de desafios. Todo ano o mercado sofre mudanças, o clima traz surpresas e agricultores enfrentam a tarefa de produzir mais na mesma terra. A cada ano o Brasil conta uma nova história no cenário agrícola. Quem vive no campo, carrega consigo uma grande missão: a de produzir não só alimentos, mas a riqueza de um país. Trabalhar com a terra, então, há muito tempo deixou de ser um serviço, passou a ser vocação. Da agitação da cidade, partimos em busca de uma dessas histórias. Nosso destino: o município de Sertão, localizado no Norte do Rio Grande do Sul. O caminho que nos leva pelo interior é uma estrada estreita de chão batido, cercada dos dois lados por um infinito mar verde. Após percorrer cerca de 12 km, chegamos na Comunidade São Roque, mais especificamente na casa em frente à Capela. Com uma recepção acolhedora, o convite para entrar e se abancar não demorou muito. A roda de chimarrão estava formada: seu Jandir Comin, sua esposa Marilde e suas duas filhas, Carina e Sabrina. Conhecido em Sertão como Neco, apelido que carrega desde pequeno, sem saber de fato sua origem, talvez
tenha sido seu pai ou sua falecida mãe, ninguém sabe ao certo, seu Jandir tem descendência italiana e carrega no sangue o amor pelo trabalho no campo. A história inicia ainda em 1956, ano em que Ampélio João Comin, pai de Neco, chegou à Comunidade São Roque para plantar em terras arrendadas. Com o passar do tempo conquistou seu primeiro espaço de lavoura, e com 24 hectares a família começou a produzir sua própria safra. Ampélio casou-se com Albina e tiveram seis filhos, três homens e três mulheres. Hoje os seis continuam na agricultura. Neco e seus irmãos desde novos foram se apegando ao trabalho no campo, estudavam um turno e no outro gostavam de ir para roça. Aos poucos a área de cultivo foi aumentando. “Quando eu e meus irmãos começamos a ajudar o pai na propriedade, ele já havia aumentado a área e nós fomos dando continuidade, comprando mais espaços de terra para cultivar”, lembra. No início a cultura de soja era plantada no meio do milho, duas carreiras de milho e uma de soja e para o plantio era usada a famosa máquina de milho de nome Saraqua. Com o tempo a produção de milho acabou ficando de lado e decidiram cultivar apenas a soja, que permanece até hoje na propriedade. Neco ressalta que tentaram produzir outras culturas, mas a soja acabou se tornando mais
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rentável. “Nossa única renda sempre foi a lavoura, e, apesar dos gastos, a soja é a produção que tem mais retorno”. Neco e os dois irmãos trabalharam juntos na lavoura do pai até 2013 e então decidiram dividir as partes da terra e cada um seguir produzindo em sua propriedade. Hoje, Neco planta 250 hectares de soja, do plantio à colheita tudo é realizado pelo agricultor, sua esposa e suas duas filhas.
Revoluções A soja ficou nas terras da família Comin ano após ano e durante esse tempo grandes revoluções aconteceram na agricultura. Neco destaca dois avanços na produção. “Com o desenvolvimento da tecnologia, aconteceram grandes mudanças na vida do produtor: o Plantio Direto e a soja RR1”. sempre foi do meio rural e hoje repassa os ensinamentos que herdou de seu O Sistema de Plantio Direto (SPD) é uma técnica con- Neco pai para suas duas filhas. servacionista que teve grande desenvolvimento a partir da década de 1990 no Brasil. Um sistema de semeadura no futuro. “Vejo como um curso rentável, vão estar cuidando qual a semente é colocada no solo não revolvido, ou seja, da lavoura que produz comida”. As duas trabalham duranas operações de preparo do solo (aragem e gradagem) são te o dia e estudam à noite em Getúlio Vargas, cidade vieliminadas do processo de produção. Juntamente com a zinha de Sertão. Muitos jovens costumam sair do interior rotação de culturas, a manutenção do solo é feita por meio para estudar e dificilmente retornam para as propriedades, da palhada com restos da antiga produção (trigo, milho, neste caso é diferente. As meninas do Neco, como são coaveia ou milheto), processo fundamental para o sucesso nhecidas, pretendem se formar e trabalhar na propriedade, do Plantio Direto. dando sequência nas atividades da família. A soja transgênica, também conhecida como soja RR O time, formado pela família, planta, trata e colhe os (RoundupReady), foi outra grande re250 hectares de soja. A divisão dos travolução para os produtores. A novidabalhos é de forma igualitária. Há três de surgiu nos Estados Unidos, na safra anos Carina já aprendeu a pilotar os de 1996. Em seguida foi introduzida equipamentos, inclusive a colheitadeiTorço para que as coisas no Brasil. O resultado foi o aumento da ra. Muitas vezes é ela quem colhe boa melhorem e que os produtividade no grão de ouro. parte da plantação. Sabrina não fica De acordo com Neco, a primeira sapara trás, a filha mais nova só precisou agricultores possam fra após a adaptação do Plantio Direto deixar seus herdeiros insistir um pouco para o pai ensinar. foi um problema. “Na época não havia produzindo alimento, “De tanto eu falar para o pai que queria plantadeira adequada, tudo teve que aprender, ele começou a me deixar dicuidando do que é ser adaptado para conseguir realizar o deles, que é o que estou rigir o trator com o tanque para levar na plantio”. Além da adaptação das mároça, depois eu fui indo cada vez mais e tentando fazer.” quinas, a tecnologia em tratamentos aprendendo a lidar com as outras máJandir Contin também começou a ser aprimorada. quinas”, relata. Produtor Rural “Naquele tempo ninguém usava muito Dona Marilde nasceu e se criou no tratamento, esperávamos as doenças aparecer para tratar, interior, e dos três irmãos foi a única que permaneceu na mas depois foi surgindo novos métodos e fomos prevenin- agricultura. Com o apego da vida no campo, não tem vondo com a aplicação”, relata o produtor. tade de morar na cidade. “Quem mora em apartamento é só passarinho”, comenta Marilde. A mulher, mãe e parceira, desempenha um papel indispensável na produção. De pai para filha Casado há 30 anos com dona Marilde, Neco teve duas Além dos afazeres domésticos, é ela que, com carinho, filhas, Carina, 28, e Sabrina, 21. Ele conta com alegria que prepara as merendas para levar na lavoura, e muitas vezes as filhas são duas futuras agrônomas. Ambas já tinham acaba ficando para ajudar até a hora das meninas irem para gosto pela vida no campo e, após o ensino médio, por in- faculdade. Em época de plantio de soja, o dia começa cedo, quacentivo do pai e para adquirir mais conhecimento na área, começaram a cursar Agronomia. Para Neco, é um curso do se sempre o sol ainda nem apareceu. Neste ano a família 22 |
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FOTOS: GISELI FURLANI
plantou 130 hectares de trigo e segundo Neco foi bastante trabalhoso. “Tínhamos que colher o trigo e aproveitar o tempo para plantar a soja. Então Carina colhia o trigo, Sabrina puxava o caminhão com o tanque, e eu e a Marilde plantávamos a soja”, descreve o agricultor. Para dona Marilde essa união familiar é gratificante. “Somos parceiros em tudo, é até bonito de ver”, afirma a agricultora.
O grande desafio Todo ano o produtor enfrenta vários desafios no seu dia a dia para conseguir produzir uma boa safra. Mas para Neco o maior deles é fazer com que os jovens continuem na produção rural. “Quem tem um ou dois filhos, que foi estudar e não voltou para dar continuidade ao trabalho, já pensa em vender tudo e ir morar na cidade”, comenta o agricultor, que já viu isso acontecer muito em sua comunidade. Seu Ampélio criou os seis filhos, todos permanecem na agricultura e consecutivamente seus netos. “Acho que o pai nos ensinou muito bem”, afirma Neco, que hoje troca conhecimento com as filhas que estão se especializando. “Enquanto elas estiverem por aqui eu vou continuar”, declara o produtor que tem o desejo de ver as filhas dando continuidade na cultura, assim como ele. Quanto à safra deste ano, o produtor não enfrentou muitos problemas em sua propriedade, relata que viu menos doenças do que na safra do ano passado, que foi a maior colheita de todos os tempos. “Eu espero colher bem este ano também, mas agora é esperar para colocar a máquina e ver o resultado”. Morador da comunidade São Roque, nascido e criado no campo, que gosta de jogar uma partida de bocha aos domingos na capela, que mesmo se estiver chovendo está embaixo do galpão revisando as máquinas, ajustando aqui e ali. Seu Neco espera ter uma agricultura mais rentável para as próximas gerações. “Torço para que as coisas melhorem e que os agricultores possam deixar seus herdeiros produzindo alimento, cuidando do que é deles, que é o que estou tentando fazer”, declara Jandir Comin.
Desafios da Soja
Para contar histórias como a da família Comin que o projeto Desafios da Soja foi criado. Inspirar outros produtores pelo estado do Rio Grande do Sul, coletar dados, documentar a safra e levar informação de qualidade para dentro das propriedades são alguns dos objetivos do projeto. Atualmente em sua segunda edição, o Desafios da Soja percorre as principais regiões produtoras do Estado produzindo conteúdo jornalístico sobre as boas práticas agrícolas que são desenvolvidas, mostrando os principais desafios passados pelo homem do campo e buscando soluções para enfrentar tais situações. O intuito é também aproximar pesquisa e produtor, ampliando o conhecimento produzido no meio científico na lavoura.
As irmãs, Carina e Sabrina, pretendem se formar em Agronomia e trabalhar na propriedade da família
No ano passado a equipe do Desafios da Soja viajou mais de 20 mil km pelo Rio Grande do Sul e uma parte do estado de Santa Catarina. Neste ano a equipe já percorreu 12 regiões, abordando diversos assuntos. A importância da pesquisa na produção da soja foi o primeiro tema tratado, na sequência vieram diversos assuntos, como semeadura, tecnologia de aplicação, manejo de pragas e doenças, aplicação noturna, etc. O projeto segue até o fim da colheita, documentando o dia a dia dos produtores, técnicos, pesquisadores e lideranças. Acompanhe o projeto Desafios da Soja pelo site www. desafiosdasoja.com.br e nas redes sociais da Destaque Rural. Quem sabe a próxima parada seja em sua propriedade para descobrir qual o seu desafio para produzir soja. Março e Abril - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nº19
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REFORMA TRABALHISTA
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Meio rural já sente os impactos da mudança
Um dos pontos mais polêmicos é o intervalo intrajornada, em que se admite a negociação de redução do intervalo para descanso e alimentação durante a jornada de trabalho 24 |
Ângela Prestes
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provada pelo Congresso e sancionada pelo presidente Michel Temer em julho do ano passado, a reforma trabalhista vem causando mudanças no mercado de trabalho rural. A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que apenas 1,6 milhão de trabalhadores rurais têm contratos fixos. Os dados revelam que, de um total de 13,5 milhões de trabalhadores rurais brasileiros, 12% têm carteira assinada, 17% trabalham informalmente e 68% dedicam-se à agricultura. Com a reforma, a probabilidade é de que esse número aumente ainda mais. Na visão da Federação dos
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Trabalhadores Assalariados Rurais (FETAR-RS), o número de contratações legais vai diminuir. De acordo com o diretor financeiro da Fetar, Denilson Aguiar Rodrigues, os impactos já estão sendo sentidos. “Principalmente a questão da insegurança jurídica. As causas trabalhistas diminuíram bastante por causa dessa insegurança, a informalidade com certeza vai aumentar. Nas verbas rescisórias que são homologadas dentro do sindicato os trabalhadores estão tendo prejuízos em valores bem altos, em torno de R$ 7, R$ 8 mil de diferença”, aponta ele. A Destaque Rural conversou com Maurício Sinicio Molina que é advogado, Pós-Graduando em Direito Agrário e do Agronegócio e Membro da Comissão do Agronegócio OAB/DF. Ele falou sobre os principais impactos da reforma no meio rural. Confira abaixo a entrevista: Destaque Rural F Quais mudanças da reforma trabalhista mais afetam o trabalho no campo? Maurício Sinicio Molina: Inicialmente, temos que a Constituição Federal, de 1988, equiparou o trabalhador rural ao urbano. Dessa forma, temos até hoje várias críticas sobre esse tema, uma vez que o dia a dia do trabalhador rural pouco se assemelha com o labor exercido nas cidades. Alguns doutrinadores defendem o posicionamento de que os direitos dos trabalhadores rurais deveriam ser regulados pelo ramo do Direito do Trabalho em conjunto com o Direito Agrário, linha a qual coaduno. O motivo é simples, o Direito Agrário regula o local, método, contratos e as demais especificidades rurais em que o trabalhador rural está inserido para laborar, corroborando que por mais que existam semelhanças, inegáveis as diferenças vislumbradas entre o trabalhador rural e urbano. Superado os apontamentos introdutórios, passamos a tratar sobre a reforma trabalhista. Os pontos que mais afetam o trabalho no campo são: Horas in itinere: trata-se do tempo despendido pelo trabalhador desde a sua residência até a efetiva ocupação do posto de trabalho e para o seu retorno. Antes da reforma, em se tratando de local de difícil acesso não servido de transporte público ou quando o empregador fornecia a condução (grande parte dos casos quando tratamos de trabalho em áreas rurais), esse tempo de deslocamento era computado na jornada de trabalho, ou seja, a remune-
ração do trabalhador rural era maior. Após a reforma, não se computa mais esse tempo de deslocamento para fins de jornada de trabalho; Jornada de trabalho: o ponto que merece destaque é a possibilidade dos trabalhadores negociarem jornada 12x36, ou seja, 12 horas de trabalho seguidas de 36 horas de descanso. Ainda, abriu-se a possibilidade na jornada parcial de contratação para trabalharem até 30 horas por semana, enquanto antes da reforma o limite permitido eram de 25 horas semanais; Intervalo intrajornada: um dos pontos mais polêmicos. Admite-se a negociação de redução do intervalo para descanso e alimentação durante a jornada de trabalho para 30 minutos, alegando que os trabalhadores poderiam voltar para casa mais cedo. Antes da reforma o limite mínimo do intervalo era de 1 hora; Demissão: abre o precedente para empregadores e empregados rescindirem os contratos de trabalho em comum acordo, não precisando mais ser homologado pelos sindicatos. Interessante identificar que no caso de demissão em comum acordo, os trabalhadores terão direito a 50% do aviso prévio e da multa do FGTS, podendo sacar 80% do saldo do FGTS, mas não poderão se beneficiar do seguro desemprego. Portanto, algo vantajoso para ambos os lados, pois os trabalhadores ganham mais e de forma mais rápida, enquanto que o empregador paga menos do que se estivesse demitindo sem justa causa, e; Representação sindical: o imposto sindical somente será recolhido havendo autorização do trabalhador para que seja descontado do seu salário. Existem posicionamentos que por esse motivo os sindicatos poderão se enfraquecer, o qual discordo e explico posteriormente. DR F No ambiente rural, a relação entre empregadores e empregados sentiu os impactos da reforma? Maurício: Em grande parte, não. Atualmente se percebe um maior impacto nas discussões jurídicas sobre o assunto, almejando um melhor entendimento e a busca por uma consolidação jurídica sobre os diversos temas que a reforma trabalhista propiciou. Infelizmente o nosso ordenamento jurídico possui muita insegurança, podendo vir a sofrer diversas interpretações sobre uma mesma norma, levando tempo até que se chegue a um enMarço e Abril - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nº19
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tendimento concreto e pacífico. acredito que os sindicatos em geral vão se forDessa forma, a maioria dos empregadores si- talecer, fornecendo serviços de qualidades e tuados em áreas rurais preferem não se “aven- lutando com mais eficiência pela defesa dos turarem” nos novos dispositivos legais, justa- direitos da sua classe de trabalhadores. mente por não terem o respaldo jurisprudencial Isso ocorrerá justamente por essa maior para a implementação de tais normas. amplitude de possibilidade de deliberar soDe fato, alguns pontos tratados pela reforma bre diversos pontos referentes ao contrato de trabalhista podem ser implantados sem maiores trabalho, culminando em uma maior atuação cuidados, como por exemplo a implementação e fiscalização por parte dos sindicatos, resda jornada 12x36 mediante acordo coletivo. ponsáveis por criar convenções coletivas com Desde que sejam respeitados os requisitos ne- o fim de proteger os direitos da sua classe que cessários para essa negociação, dificilmente o entendem como indispensáveis para a execuentendimento do magistrado ção do trabalho. será diferente do pactuado entre as partes, salvo fato discreDR F As mudanças na lei pante da realidade. no que diz respeito aos traEntretanto, existem alguns balhos temporários impacpontos que merecem maiores tam positivamente no setor? cautelas e talvez o ideal seja O que muda na prática? esperar um melhor posicionaMaurício: À princípio, sim. mento do Judiciário sobre o Os trabalhos temporários postema, como no caso da redução suem o condão de atender a do intervalo de descanso e aliuma determinada especificimentação para 30 minutos. Tal dade, sob o binômio demanda redução compromete as normas x necessidade. Na área rural é de saúde e segurança preceimuito comum um ciclo sazonal, tuadas na Constituição Federal, tendo variações estacionais da abrindo precedentes para as fuatividade agrária desempenhaturas decisões julgarem diverso da, variando de ano para ano Levando em conta as do que consta na Consolidação a necessidade de um determimudanças trazidas nas Leis do Trabalho – CLT. nado número de trabalhadores pela reforma Levando em conta as mudantemporários para a execução de trabalhista de forma ças trazidas pela reforma trabadeterminara atividade rural. global, entendo que lhista de forma global, entendo Na prática, alterou-se o temque trouxe mais benefícios do po máximo admitido para sua trouxe mais benefícios que malefícios para a atividade contratação, passando de três do que malefícios para agrária do Brasil. Entre os ponmeses para 180 dias, consecua atividade agrária do tos positivos, podemos citar a tivos ou não. Havendo necessiBrasil”. possibilidade de regularização dade, permite-se a prorrogação de certas atividades que antes desse contrato por mais 90 dias, se enquadravam como ilícitas e que agora saem também consecutivos ou não. da ilegalidade, custos menores para empresas e Alguns aspectos devem ser observados para empregadores, diminuição de ajuizamentos de sua contratação, a obrigatoriedade em ofeações trabalhistas, liberdade de escolha sindi- recer aos trabalhadores temporários os mescal, flexibilização para empregadores e empre- mos benefícios de alimentação, transporte e gados, diminuição na burocracia, entre outros. atendimento médico disponibilizados aos que Do outro lado, devemos nos preocupar com as ali já se encontravam antes da contratação explorações do trabalho no campo que se equi- dos temporários. Ainda, importante ressaltar parem com condições análogas a de escravidão. que os trabalhadores temporários possuem Nesta seara que insere o papel fundamental dos isonomia salarial com aqueles que exercem a sindicatos contra essa luta. Ainda que a repre- mesma função de forma rotineira no local de sentação sindical tenha se tornado voluntária, execução do trabalho.
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DESTAQUE EMPRESAS OPINIÃO elmar@grupofloss.com
Elmar Luiz Floss Engenheiro Agrônomo e licenciado em Ciências, Dr. em Agronomia, Diretor do Instituto Incia
Controle integrado de moléstias, uma necessidade!
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s moléstias ou doenças são um dos fatores mais limitantes à produção na maioria das culturas. Os agentes causais são fungos, bactérias e vírus. A safra de soja 2017/2018 certamente será lembrada pela grande incidência de moléstias causadas por fungos necrotróficos, aqueles que se mantêm na palha da cultura ou são transmitidos pelas sementes. A presença do patógeno, combinada com condições climáticas favoráveis e cultivares suscetíveis, foi responsável pela alta frequência de morte de plântulas, logo após a emergência da soja (“damping off”), uma das razões da redução da população de plantas produtivas em muitas lavouras. A maior parte desses patógenos são conhecidos como doenças de final de ciclo (DFC), cuja incidência e severidade causa a senescência precoce de folhas (reduz o enchimento de grãos) e promovem o abortamento de flores e vagens (legumes). A perda de vagens no terço inferior das plantas de soja causa uma redução significativa no rendimento. Esse problema foi agravado nas lavouras onde o agricultor não fez a primeira aplicação de fungicidas antes do fechamento das linhas. O patógeno se estabeleceu no terço inferior, e além de causar as perdas, é a mais importante fonte de inóculo para as folhas superiores, reduzindo a eficiência de controle pelos fungicidas aplicados depois.
Também preocupa cada vez mais a eficiência dos fungicidas no controle dessas moléstias e também da ferrugem da soja, a mais importante causadora de perdas de rendimento no Brasil. Infelizmente, há um desenvolvimento acelerado de resistência de alguns patógenos aos grupos de princípios ativos, como os triazóis, estrobilurinas e, agora, as carboxamidas. E, logo, infelizmente, também a resistência aos demais grupos químicos, hoje no mercado. De outro
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A safra de soja 2017/2018 certamente será lembrada pela grande incidência de moléstias causadas por fungos necrotróficos, aqueles que se mantêm na palha da cultura ou são transmitidos pelas sementes.
lado, os custos do controle químico cresceram vertiginosamente nos últimos anos, reduzindo a rentabilidade dos produtores. Por essas razões, somente o uso de fungicidas não tem sido eficiente para reduzir as perdas nas lavouras de soja devidos às diversas moléstias. Há necessidade do produtor, combinar os melhores fungicidas, em função das moléstias predominantes, usar a melhorar tecnologia de aplicação, na dose correta e no momento certo. Também, é de fundamental importância, a rotação de princípios ativos, para aumentar a eficiência de controle e também proteger por mais tempo o grupo químico quanto ao desenvolvimento de resistências pelos patógenos. Portanto, há necessidade de um controle integrado de moléstias, associando o controle químico, com outras práticas, para controlar as moléstias, como a resistência genética (uso crescente de cultivares “inox”), a rotação de culturas (especialmente para as moléstias necrotróficas), a rotação de cultivares na mesma área, a nutrição adequada, o uso de sementes sadias, adequado tratamento das sementes e o uso de indutores de defesas (ex. fosfito, aminoácidos, ácido salicílico, dentre outros). Estima-se que num futuro próximo, os produtores aplicarão cada vez mais indutores de defesas (“vacinas”).
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PESQUISA
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Combate à resistência aos fungicidas: do laboratório para o campo
Para evitar perdas e reduzir custos na lavoura, diversos elos da cadeia produtiva estão envolvidos na ação de eliminar a resistência Ana Cláudia Capellari
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ais comum do que as dificuldades na lavoura, é a resistência criada pelos fungos aos fungicidas. O problema da resistência, que com a vinda da ferrugem asiática para o Brasil em 2001 assustou os produtores, pode gerar consequências como aumento de custos da produção, resíduos em alimentos e con28 |
taminações ambientais. Em 2008, cerca de sete anos após as primeiras incidências do fungo, foram registradas as primeiras resistências aos fungicidas. A fitopatologista da CCGL (Cooperativa Central Gaúcha), Caroline Wesp Guterres, esclarece que e ssa resistência criada aos produtos é um processo natural dos fungos. “Como todos os organismos vivos, os fungos possuem taxas de mutações em suas populações, que algumas vezes são benéficas aos fungos, e, outras vezes, deletérias”. Os fungicidas, uma das principais ferramentas para controlar os fungos, acabam tendo nesse processo de aplicação um papel de agente de seleção, ou seja, conseguem eliminar os indivíduos mais sensíveis e alguns não. No caso de haver mutantes resistentes, esses últimos sobrevivem. “Com a utilização do mesmo fungicida ao longo das safras, a população de esporos mutantes irá aumentar em frequência e será visto um menor controle dos fungicidas”, explica. Ainda de acordo com Caroline, a utilização de fungicidas que atuem sob local específico do fungo, como os triazois, benzimidazois, estrobilurinas e carboxamidas, é possível exercer uma
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pressão seletiva sobre os fungos. E, em meio as adversidades, os fungos buscam a mutação para sobreviver.
Táticas dentro do campo E o que o agricultor, que vive diariamente a rotina do campo, pode fazer para evitar que a resistência gere danos à propriedade? Segundo a fitopatologista, traçar estratégias para esse combate é essencial, pois não há resistência genética para todas as doenças da soja e, por conta disso, o produtor rural depende dos fungicidas para controlar as doenças. “Como para os próximos dez anos não existem novos grupos químicos a serem lançados para controle de doenças, é preciso preservar as moléculas disponíveis no mercado. As que existem, ao menos em curto prazo, são novas misturas, mas de moléculas já utilizadas ou de grupos químicos já conhecidos”, argumenta.
Não é só o produtor rural O FRAC Brasil, fundado em 1999, é um comitê formado por representantes dos principais produtores de fungicidas no Brasil e coordena atuações, juntamente a outras entidades, que visam diminuir o problema de resistência de fungos no país. O FRAC Internacional, entidade que agrega a brasileira, existe desde 1981. Para o gerente de desenvolvimento avançado de fungicidas da Bayer e presidente do FRAC Brasil (Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas), Rogério Bortolan, o papel de combater a resistência não parte unicamente do agricultor, mas de todos os envolvidos no processo agrícola. “Não tem algo que o produtor faça de errado para aumentar a resistência, toda cadeia está ligada de algum modo nesse procedimento, a academia e a indústria também. Se é recomendado, alguém vai usar lá na frente e se o produtor faz o uso da maneira adequada, seguindo a recomendação do fabricante, já contribui para a diminuição da resistência”, diz. Caroline ressalta que, tanto a tarefa de combate à resistência quanto ao seu desenvolvimento não é exclusivamente do produtor. Deve-se levar em conta fatores como o fungo em questão de cada lavoura, a sua capacidade de produzir nos propágulos, entre outros. “Não é somente responsabilidade do produtor, que é quem irá executar as ações na prática lá na ponta da cadeia, mas também das empresas fabricantes de produtos. Tanto no que se refere ao desenvolvimento de moléculas, priorizando o lançamento de fungicidas em misturas de mais de um grupo químico e, de preferência, que ao longo do tempo, já lancem fungicidas contendo multissítios em sua formulação, para facilitar o manejo”. A fitopatologista ainda explica que a prática de utilização de um mesmo produto ou das mesmas moléculas de forma repetitiva na lavoura e uma aplicação deficitária, podem contribuir significativamente para o desenvolvimento da resistência. Entretanto, além da atenção com o manejo dos produtos químicos, Bortolan salienta que o produtor deve estar atento a outro detalhe. “O produtor brasileiro deve aceitar que o
Principal doença A ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizie, é uma das principais doenças que acomete a cultura, pelo grande potencial de perdas da lavoura dos produtores De acordo com estudos, os prejuízos causados pela doença podem gerar perdas de rendimento de até 80% nas lavouras. O primeiro relato da doença foi registrado em 1903, no Japão. No Brasil, a doença chegou mais tarde, ao final da safra de 2000/2001, no estado do Paraná. Na safra citada, a doença foi descrita em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Já na safra de 2003/2004, a doença ocorreu de forma generalizada no país, o que ocasionou grandes perdas de produtividade.
problema da resistência é uma realidade, principalmente em países tropicais como o Brasil, onde se tem uma dinâmica com o ano todo de produção, seja de soja, milho ou algodão, por exemplo. Nós temos como conviver com a resistência, tem inúmeras ferramentas para evitar. Hoje esse problema existe e temos de quebrar paradigmas”, comenta. Para ele, nessa iniciativa de conscientizar o produtor rural sobre os efeitos da resistência, é necessário compartilhar conhecimento com entidades que estão perto dos produtores rurais, como Embrapa, Aprosoja Brasil, associações, universidades e cooperativas. “O importante é todos estarem unidos em prol do tema”, diz.
Como evitar a resistência? Com este cenário, Bortolan ressalta que o produtor que quiser retardar ou até mesmo inibir a ocorrência de resistência, deve fazer mudanças nos mecanismos de ação (rotacionar culturas, usar produtos novos) e utilizar fungicidas que atuem em diversos locais, para complementar a proteção dos fungicidas específicos. Já Caroline, acredita que o agricultor pode ir além e seguir outros passos para coibir a ação, como por exemplo, adequar os intervalos de aplicação e as doses recomendadas pelos fabricantes. “É importante também utilizar variedades resistentes, quando disponíveis e semear logo no início do período recomendado para plantio e eliminar soja voluntária das lavouras na entressafra”, finaliza. Março e Abril - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nº19
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PERSPECTIVAS
O que esperar do agr Gedeão Pereira, presidente da Farsul, acredita que a crise deve chegar ao setor neste ano. As cadeias do leite, do arroz e do trigo são as mais preocupantes Ângela Prestes
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epois de uma excelente colheita de soja em 2017 e uma sucessão de anos de crescimento e valorização do agronegócio, 2018 inicia com uma tendência um pouco menos otimista. A perspectiva, de acordo com a Emater/RS, para safra de verão 2017/2018 é de uma diminuição de pelo menos 10% em relação a safra anterior (33,61 milhões de toneladas). As perdas são em razão da estiagem na Metade Sul do Estado, que atinge as regiões de Bagé, Pelotas e Porto Alegre. De acordo com dados levantados preliminarmente, pela Gerência de Planejamento da Emater/RS-Ascar, na primeira quinzena de fevereiro, a estimativa atual da produção total de arroz, feijão, milho e soja, gira em torno de 30,14 milhões de toneladas, ou seja, 0,7% maior que a estimativa do início da safra baseada no cálculo de tendência feito a partir da média histórica dos últimos 10 anos (29,94 milhões de toneladas). Já no Norte, o cenário é outro. De forma geral, o visual das lavouras de soja impressiona pelo porte e carga de vagens, confirmando o bom potencial produtivo. Para o atual presidente da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul, Gedeão da Silva Pereira, a crise
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Para voltar a crescer, na opinião de Gedeão, é preciso que o país resolva os problemas que atingem a polític
chegou ao setor. “Evidente que estamos conscientes das dificuldades econômicas que se avizinham ao agronegócio. Até agora, vínhamos pela tangente da crise brasileira, mas ela começa já a permear o setor e as pontas mais visíveis neste momento são a lavoura orizícola, a pecuária de leite e a triticultura”, aponta. Segundo ele, os preços da soja devem se manter em alta, já que a mesma seca que atinge a metade Sul está atingindo também a Argentina. “Isso faz com que estejamos tendo uma evolução no preço do bushel. Com essa estabilidade cambial consequentemente nós teremos preços um pouquinho melhores do que tivemos o ano passado o que dá um certo fôlego para a lavoura”. Ele acredita que o produtor rural está tendo a cautela suficiente e vislum-
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ca e administração nacional
FOTO: DIVULGAÇÃO/FARSUL
ro em 2018?
brando esse novo cenário que está se apresentando e com isto ele vai medir o tamanho dos passos que dará ao longo do ano de 2018 após colher esta safra. “O importante é que ainda podemos dizer que o agronegócio continua muito eficiente, embora outros problemas estejam atingindo-o, como o peso e o tamanho do Estado Brasileiro nas suas três esferas. Assim como atingiu todos os outros segmentos da economia, também está chegando ao agronegócio”. Para voltar a crescer, na opinião de Gedeão, é preciso que o país discuta e resolva os problemas que atingem a política e a administração nacional. “Nós estamos com um Estado paquidérmico, muito ineficiente, muito pesado, em que as produções brasileiras, e eu digo dos três setores da economia, não conseguem mais suportar. Temos que entrar neste ano, nas discussões com o Congresso Nacional, com os Governantes, com as Assembleias Legislativas, que precisamos ter uma nova visão de Estado se quisermos que o Brasil entre em um crescimento acelerado. Se não, nós vamos continuar ainda dentro dessas grandes dificuldades que já estamos vislumbrando”, finaliza.
nos preços da soja. Se o destino da soja segue previsto, o mesmo não pode ser dito da infraestrutura do agronegócio: em ano eleitoral, fica difícil saber o que irá se concretizar e o que não passará da promessa. A economia brasileira comandada por Henrique Meirelles afasta o investimento público e pode favorecer as atividades rentistas no lugar das produtivas. As inovações tecnológicas para o mercado agrícola em 2018 deverão ajudar na redução das aplicações de agroquímicos, diminuindo a dependência de energia derivada de combustíveis fósseis. No cenário mundial, a utilização de resíduos orgânicos, ambientalmente adequados e de baixo custo deverão seguir em alta neste ano. Outro ponto que merece a atenção redobrada dos produtores rurais em 2018 serão as condições climáticas, já que a incerteza com a formação ou não de mais um La Niña e seus possíveis efeitos deverá movimentar o mercado. Essa incerteza irá agitar o setor agrícola até a consolidação das primeiras safras do ano, e o mesmo deverá ocorrer com a Argentina.
Soja, grãos e infraestrutura: perspectivas para 2018
Venda de máquinas agrícolas em 2018: expectativas altas
As oscilações no valor total bruto das produções de grãos deverão se manter entre R$ 530 e R$ 550 bilhões. Depois de uma recuperação em 8%, após uma queda de 25% em 2017, as cotações das commodities agrícolas deverão permanecer estáveis mesmo com as altas produções nos Estados Unidos. O Brasil e a Argentina devem seguir em alta em 2018. Já a soja será afetada pela aprovação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) do aumento das misturas de biodiesel ao diesel de petróleo em 10%. A medida, que entrou em vigor em março de 2018, traz a expectativa de um aumento de produção de biodiesel que irá saltar dos atuais 4,2 bilhões de litros para 5,3 bilhões. Por conta disso, a soja destinada para a produção de biocombustível deverá aumentar no Brasil. Consequentemente, o esmagamento da soja também irá crescer. O aumento deverá contribuir para um balanço de oferta e demanda acelerada do grão, que será sentido
Após fechar 2017 com uma comercialização no mercado interno que atingiu 44,3 mil unidades, as vendas de máquinas agrícolas seguem com boas perspectivas no ano que acabou de começar. As exportações também fecharam 2017 em alta: foram US$ 3,017 bilhões, com um avanço de 69,7% em comparação com 2016. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção de máquinas agrícolas e rodoviárias chegou a 54,9 mil unidades no ano passado, com um aumento de 1,8% ante o desempenho anterior. As exportações de máquinas agrícolas também cresceram, totalizando 14 mil unidades, com alta de 46,9%. Só em dezembro, 1,3 mil máquinas foram exportadas, com uma expansão de 39,1% em relação ao mesmo mês do penúltimo ano. A expectativa para os próximos meses, de acordo com a Anfavea, é que o setor cresça 10% na produção de máquinas, com alta de 43,7% nas vendas internas e crescimento de 34,5% nas exportações.
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NATUREZA
Um mundo sem abelha
O desaparecimento das abelhas vem preocupando ambientalistas, pes por todo o mundo. Além dos impactos ambientais, a segurança e a div Ângela Prestes
A
falta do mel é o menor dos problemas de um mundo sem abelhas. A extinção da espécie – fato que chega cada dia mais próximo da realidade - poderia acarretar em problemas bem mais sérios para o planeta. Nos últimos anos, diferentes estudos atestam a diminuição no número de colmeias. Um deles, realizado pela pesquisadora Tereza Cristina Giannini, indica que pelo menos 90% dos municípios brasileiros devem enfrentar a perda de espécies, que devem reduzir em quase 13% até 2050. E o problema não se restringe ao Brasil. Na Alemanha, por exemplo, um estudo científico publicado na revista Plos One revelou que o volume total de insetos voadores sofreu uma queda de 75% em apenas 27 anos. Mas por que elas são tão importantes? O impacto é na polinização de espécies. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Meio-Norte, Fábia de Mello Pereira, as abelhas são fundamentais para a manutenção da biodiversidade ambiental e para a produção de alimentos. “Em virtude do importante papel desses insetos como agentes polinizadores de plantas cultivadas ou nativas”. As causas são várias. “Os problemas relacionados a perda de enxames e mortalidade de colônias possuem como causa inimigos naturais e doenças, uso indiscriminado de agrotóxicos, mudanças climáticas, desmatamento e fragmentação de matas e florestas”, explica a pesquisadora. Segundo o professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF), Dr. Hélio Carlos Rocha, as abelhas estão expostas à diferentes fontes de contaminação ambiental, de origem antrópica, ou seja, relativas a ação do homem, como também devido a atividade 32 |
da apicultura. “No primeiro grupo aparecem os pesticidas dos mais diferentes grupos químicos, de amplo espectro de atuação, os quais contaminam as plantas, o solo, a água e o ar em função da deriva do produto, devido ao baixo volume de calda aplicado [abaixo de 100 L/ha], alta velocidade do trator durante a aplicação, altura inadequada da barra e qualidade dos bicos de aplicação, misturas de princípios ativos e erros de dosagem”. O professor também cita as espécies de plantas modificadas geneticamente [OGMs] que contribuem com a contaminação das abelhas, já que as expõem a toxinas presentes no pólen e no néctar. Outra atividade de grande impacto sobre as abelhas é o cultivo intensivo de espécies de plantas de pouca ou nenhuma importância apícola. “Essa agricultura acarreta uma redução ou eliminação das pastagens apícolas, a perda da biodiversidade e a falta de áreas de refúgio para as abelhas e preservação da flora de interesse apícola. Dentro desse contexto, poderíamos incluir as mudanças climáticas que ao afetar os ecossistemas provoca mudanças no meio ambiente”. Já no segundo grupo, os mais importantes contaminantes são substâncias utilizadas pelo apicultor para o controle de pragas das abelhas [acaricidas,
“Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência”. Albert Einstein (1879/1955)
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as: muito além do mel
squisadores e organizações não-governamentais e governamentais versidade alimentar são algumas das consequências
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Um mundo sem abelhas é possível? Foi ninguém menos do que Albert Einstein que previu que “se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade teria apenas mais quatro anos de existência”. Exagero ou não, é inquestionável a relevância das polinizadoras para a renovação das matas e florestas e a produção mundial de frutas e grãos. Conforme Hélio, o equilíbrio dos ecossistemas e da biodiversidade sofreria um sério impacto, o que afetaria diretamente o ser humano de diversas maneiras. “As abelhas polinizam mais de 80% de todas as plantas com flores, incluindo 70 das 100 principais culturas utilizadas para alimentar a humanidade”. Um terço do que comemos, portanto, O valor é derivado de plantas polinicomercial dos zadas por abelhas, tornandoserviços de -as muito importantes para o polinização abastecimento alimentar. “As das abelhas, abelhas são apenas um dos váem 2017, foi rios animais, que incluem aves, estimado em morcegos, borboletas, moscas U$ 14 bilhões e besouros que são conhecinos Estados dos como polinizadores. EsUnidos, e U$ 212 bilhões em ses polinizadores transferem todo o mundo. pólen de uma flor para outra, fertilizando a planta para que ela possa crescer e produzir alimentos”. O professor explica que não só a polinização é necessária para o alimento que consumimos diretamente, mas também é vital para a nossa cadeia alimentar. “Culturas como plantas forrageiras [gramíneas] que produzem pasto e feno, assim como os trevos que são utilizados para alimentar o gado que produz carne, leite, lã e uma infinidade de outros subprodutos, como gelatinas, vacinas, fertilizantes, sabonetes, linha cirúrgica, entre tantos outros”. Para o professor, a questão não deve ser encarada como um exagero, mas sim como um alerta. “Para que possamos antever e reverter um problema que não terá volta, que é a perda de espécies polinizadoras”. 34 |
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Distúrbio do colapso das colônias O distúrbio do colapso das colônias (DCC) se refere ao desaparecimento de populações de abelhas que vem ocorrendo em diversos países. Segundo o professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF), Dr. Hélio Carlos Rocha, na sua definição clássica, o DCC implica uma maciça redução da população de operárias de uma colônia, com a preservação da rainha e de um grande estoque de mel. “A maioria dessas colônias, muito enfraquecidas, não se recupera e acaba se extinguindo”. As causas do DCC não são bem conhecidas, provavelmente seja uma combinação de fatores, como perda de habitat, doenças e uso de certos pesticidas, especialmente os inseticidas de uso agrícola. “Nos Estados Unidos as perdas foram estimadas em 33% no número de colmeias, entre os anos de 2016 e 2017, de um total de 2,78 milhões de colmeias existentes”. No Brasil a estimativa das perdas de abelhas foi de 20 mil colmeias, com a morte de mais de 1 bilhão de abelhas, creditando-se essa perda diretamente a atividade antrópica sobre o ambiente, ou seja, um somatório de diferentes fatores.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
antibióticos], principalmente no controle do ácaro varroa [Varroa jacobsoni ou V. destructor], e uma bactéria, que causa a morte das larvas de abelhas, conhecida como podridão americana da cria [Melissococcus pluton].
ÁGUA
Irrigação garante alimento e renda para propriedade leiteira no Rio Grande do Sul FOTO: THIAGO CUNHA
Irrigação por aspersão na pastagem permitiu um aumento de 400% no plantel Giseli Furlani
O
Brasil possui 12% da reserva de água doce do planeta. Em termos de concentração, a região amazônica possui 70% do volume e os outros 30% são distribuídos de maneira irregular para as outras regiões do país. O uso da água no Brasil e no mundo serve para o abastecimento humano e animal, industrial, geração de energia, navegação, turismo e lazer. Além disso, a água sempre esteve presente em atividades da agricultura e pecuária, utilizando maior parcela desse recurso natural. “De forma geral, da água usada, 70% é pela agricultura, 22% pela indústria e 8% é uso doméstico”, destaca o Assistente Técnico em Recursos Naturais da regional Emater/ RS-Ascar de Passo Fundo, Ilvandro Barreto de Melo. De acordo com Ilvandro, para que se tenha uma boa utilização da água sem eventuais desperdícios é necessário preservar os recursos naturais como o solo, água e floresta. “A interação entre esses fatores é fundamental, já que o ciclo hidrológico tem uma ampla relação e dependência deles”, afirma o técnico. Em algumas regiões a falta de água doce é um problema para produção de alimentos, visto que este recurso é diretamente responsável pelo desenvolvimento na agricultura. Muitas vezes, além de criar uma política de preservação de recursos naturais e evitar o desperdício, é necessário buscar o uso de tecnologias que possam melhor aproveitar o potencial hídrico. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), com a utilização de tecnologia de irrigação na agricultura, estima-se que 44% dos alimentos do mundo são produzidos em 18% da área cultivada. Na prática, a produtividade obtida pela produção irrigada é 2,7 maior que a agricultura de sequeiro. “A irrrigação permite estabilização, incremento e segurança na produção de alimentos para atender as demandas de energias e fibras, assim como garantia de estabilidade de renda aos agricultores”, destaca o engenheiro agrícola da Emater/RS-Ascar de Porto Alegre, Rogério Mazzardo. Toda atividade para obter os melhores resultados deve ter um acompanhamento técnico e um subsídio de informações
Toda atividade para obter os melhores resultados deve ter um acompanhamento técnico e um subsídio de informações de qualidade.
de qualidade. Para Rogério, na tecnologia de irrigação não é diferente. “A utilização de equipamentos projetados adequadamente, a oportunidade de oferta de água aos cultivos, manejo adequado da água utilizada. Todo o processo necessita a utilização de técnicas agrícolas que tornem o sistema produtivo, econômico, ambiental e socialmente sustentável”, destaca o engenheiro agrícola. Três processos são os mais utilizados: a irrigação superficial (inundação), irrigação por aspersão (convencional, pivô central e auto propelido) e irrigação localizada (gotejamento ou micro aspersão). Há três anos o produtor de leite José Roque Fagundes, aderiu ao sistema de irrigação por aspersão na pastagem. Morador da Comunidade Nossa Senhora das Graças, no interior de Passo Fundo, iniciou a atividade com apenas cinco animais, e os quatro hectares de pasto não eram suficientes para a alimentação do gado. O sistema de irrigação por aspersão - em que a água é aplicada ao solo sob a forma de chuva mais ou menos intensa e uniforme - permitiu ao produtor estabilidade e garantia produção o ano todo. O resultado se deu também no aumento na produção de leite. “Nesta época estávamos sem pasto, com o surgimento da irrigação a planta consegue se manter o ano inteiro. Conseguimos aumentar o número de vacas e a quantidade de leite”, relata José. Hoje seu plantel é formado por 25 animais e na mesma área de pastagem, que antes não havia pasto para cinco vacas, hoje sobra alimento. Março e Abril - 2018 | Rio Grande do Sul | Ano IV | nº19
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DICAS
Dez erros para não cometer na ILPF
As experiências já existentes mostram alguns erros que podem ser evitados por quem está começando a trabalhar com a integração
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s sistemas integrados de produção agropecuária, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) trazem benefícios agronômicos, ambientais, sociais e econômicos para os produtores. Entretanto, por serem mais complexos, exigem também maior atenção e mais cuidados. Atualmente, mais de 11,5 milhões de hectares no Brasil já são cultivados com alguma configuração de ILPF. O aumento constante na adoção demonstra um domínio da tecnologia cada vez maior por parte dos produtores. Entretanto, as experiências já existentes mostram alguns erros que podem ser evitados por quem está começando a trabalhar com a integração. Confira abaixo alguns desses erros e veja como fazer para não cometê-los.
1 – Não estudar o mercado O ingresso na ILPF, assim como em qualquer atividade produtiva, deve ser feito pautado em estudo prévio de mercado. É preciso saber de antemão se há logística para a chegada de insumos e escoamento da produção, se há fornecimento local de mão-de-obra e de serviços que serão demandados e, principalmente, para quem irá comercializar a produção. A falta desse estudo prévio pode resultar em dor de cabeça e prejuízos para o produtor. “A escolha da espécie tem que ser feita de acordo com o mercado. Você vai ter para quem vender? E isso não vale só para árvores. Estou falando de tudo. Não é em qualquer lugar que você pode plantar soja, por exemplo. Tem que ter uma logística, armazenamento, comercialização”, explica o analista do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, Miqueias Michetti 36 |
Em alguns casos, a própria fazenda pode absorver parte da produção. É o caso dos grãos usados em um sistema de confinamento ou semi-confinamento, ou da madeira usada como lenha no secador de grãos ou como lascas para as cercas. Ainda assim, é preciso usar a quantidade certa para evitar excedente do produto sem saída comercial.
2 – Implantação do consórcio Uma estratégia muito utilizada na integração lavoura-pecuária é o consórcio de milho com capim, principalmente as braquiárias. Com essa técnica, o produtor ganha tempo, aproveita melhor o período chuvoso e mantém o solo sempre protegido.Porém, a implantação e o manejo do consórcio são feitos de acordo com o objetivo do produtor. Se o capim for usado somente como palhada, usa-se menor quantidade de sementes da forrageira e prioriza-se o milho. Já se o objetivo é a formação de uma pastagem após a colheita do grão, aumenta-se a quantidade de sementes da forrageira. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Fernanda Ikeda, não fazer o correto planejamento da implantação do consórcio em função do objetivo final pode implicar em aumento de custos para o produtor e em queda no rendimento. Se o número de sementes é elevado numa lavoura que prioriza a produção de milho, a competição com o capim pode levar à menor produtividade do grão.
3 – Não deixar palhada para a lavoura Uma atitude comum dos produtores em um sistema de integração lavoura-pecuária é a de aumentar a lotação das pastagens
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no fim do período seco para baixar o capim antes de ser dessecado para o plantio da lavoura. Entretanto, é preciso cuidado para que o excesso de pastejo não reduza o capim de modo a deixar palhada insuficiente para cobertura do solo na cultura agrícola. O pesquisador da Embrapa Eduardo Matos explica que pesquisas mostraram que em alguns casos, o pastejo excessivo chegou a reduzir o estoque de matéria orgânica no solo, ou seja, teve o efeito inverso ao desejado na ILP. De acordo com ele, para que haja acúmulo de matéria orgânica no solo e que a palhada exerça sua função protetora, o ideal é que o produtor retire os animais 30 a 40 dias antes da semeadura, permitindo a rebrota antes da dessecagem.
4 – Regulagem da plantadeira Em um sistema de ILP, o ideal é que se tenha uma palhada uniforme e robusta para que se obtenha o melhor resultado de cobertura e acúmulo de matéria orgânica. Porém, é preciso ficar atento à regulagem de plantadeira. Uma plantadeira desregulada pode depositar as sementes no meio da palha e não no solo, causando falhas no plantio e perdas para o produtor. Dessa forma, é preciso ficar atendo à altura de profundidade do disco de corte, regulando a máquina corretamente para a quantidade de palhada na lavoura.
5 – Falta de adubação na pastagem Em um sistema de integração lavoura-pecuária, a pastagem retorna ao sistema aproveitando o resíduo da adubação da lavoura que o precedeu. Entretanto é preciso que durante o período em que a pecuária ocupe a área, seja feita a adubação de manutenção. Essa prática ajudará a manter a fertilidade do solo, aumentará a produtividade da pecuária, garantirá maior acúmulo de matéria orgânica no solo e evitará a compactação. Fazendo isso, ao retornar com a agricultura ao sistema produtivo, o solo estará em boas condições, não necessitando grandes intervenções antes da semeadura. Uma possível economia com adubação da pastagem poderá sair resultar em maiores gastos no retorno da lavoura.
6 – Superlotação das pastagens Da mesma forma que a falta de adubação de manutenção, a superlotação das pastagens é um erro em um sistema de integração lavoura-pecuária ou no sistema silvipastoril (IPF). O pastejo excessivo pode provocar a redução da quantidade de plantas da forrageira. Com isso, o solo fica exposto, aumenta a incidência de plantas daninhas e começa um processo de degradação da pastagem. Como consequência, além de ter menor quantidade de palhada para a agricultura, a recuperação do solo pode implicar em maiores custos para o produtor.
7 – Espaçamento da espécie florestal A escolha errada do espaçamento entre os renques com espécies florestais em sistemas ILPF pode colocar todo o sistema em risco. Para isso, é preciso estudar antecipadamente o perfil de crescimento da árvore e o comportamento da copa, levar em consideração o objetivo com o sistema produtivo e então definir o melhor espaçamento. Pesquisas e experiências de quem já vem usando o sistema mostram que espaçamentos menores do que 20 metros obstruem muito a entrada de luz no sistema, prejudicando o cres-
cimento da lavoura ou da planta forrageira. Algumas árvores com copas mais largas demandam espaçamento ainda maior, a partir de 30 metros. É o caso de nativas como o pau-de-balsa e o paricá. De acordo com o pesquisador da Embrapa Jorge Lulu, na comparação entre dois sistemas com eucalipto, um com espaçamento de 50 metros e outro de 15 metros, observou-se uma redução de até 37% na incidência de raios solares. Longas distâncias, entretanto, apesar de ainda garantirem a sombra para o gado, reduzem o efeito da interação entre os componentes, como a ciclagem de nutrientes, por exemplo.
8 – Deriva de herbicidas nas árvores Ao se cultivar lavoura entre renques de árvores, é preciso cuidado especial com a pulverização de herbicidas. Qualquer descuido pode provocar a deriva nas espécies florestais causando danos ao seu crescimento, brotação excessiva, bifurcação de tronco ou até mesmo levando à morte de plantas jovens. O engenheiro florestal da Embrapa Diego Antonio alerta que para evitar que esses problemas ocorram, a pulverização deve ser feita em dias sem vento e com temperaturas mais amenas, em baixa velocidade e utilizando bicos anti-deriva nas pontas da barra de pulverização. Outra medida eficiente é deixar uma faixa de 1m a 1,5 m entre a lavoura e a linha de árvores,
9 – Manejo da espécie florestal A economia evitando operações de manejo nas espécies florestais, como poda, desrama, combate à formigas e capina podem sair caro para o produtor no momento de comercializar o produto. O manejo inadequado durante a fase de crescimento da planta tem impacto direto no crescimento e na formação do fuste da árvore. Uma árvore com tronco bifurcado, cheia de nós e com outros danos perde valor comercial. Na maioria dos casos essa perda chega a ser muito maior do que as despesas evitadas nos anos anteriores. “Se você gastar mais no começo, a garantia de ter um bom resultado final é muito maior. Deixar de gastar com certos manejos no processo faz com que seu produto valha muito menos no final”, afirma a consultora da Rede ILPF Mariana Takahashi.
10 – Não existe um modelo ideal Cada sistema de integração é particular. Não existe um modelo que vá se ajustar a todas as propriedades, mesmo que tenham perfil semelhante. Para adotar qualquer configuração de sistema ILPF é preciso um estudo prévio, avaliar a aptidão do produtor, maquinário disponível, características da propriedade, disponibilidade de mão-de-obra, mercado local, logística, disponibilidade de crédito, entre outros fatores. Dessa forma, a estratégia adotada em uma fazenda pode não ser a melhor para a propriedade vizinha. O melhor a se fazer é contar com auxílio de um consultor técnico para se fazer um bom planejamento e evitar surpresas no futuro.
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REDUÇÃO
DESTAQUES
Apesar de atingirem diretamente a economia dos municípios e dos agricultores da Metade Sul, as perdas estimadas por conta da estiagem, que atinge as regiões de Bagé, Pelotas e Porto Alegre, não devem impactar significativamente na produção das culturas de verão da safra 2017/2018. De acordo com dados levantados preliminarmente, pela Gerência de Planejamento da Emater/RS-Ascar, na primeira quinzena de fevereiro, a estimativa atual da produção total de arroz, feijão, milho e soja, gira em torno de 30,14 milhões de toneladas, ou seja, 0,7% maior que a estimativa do início da safra baseada no cálculo de tendência feito a partir da média histórica dos últimos 10 anos (29,94 milhões de toneladas). Em relação à safra anterior (33,61 milhões de toneladas), estima-se, até o momento, uma redução de 10,3%.
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PRODUÇÃO RS 2017/18* Cultura Arroz Feijão Milho Soja Total
Estimativa Inicial 8,53 milhões t 60,77 mil t 4,59 milhões t 16,75 milhões t 29,94 milhões t
Estimativa Atual 8,23 milhões t 69,52 mil t 4,69 milhões t 17,13 milhões t 30,14 milhões t
Variação (-3,4%) (+14,4%) (+2,2%) (+2,3%) (+0,7%)
* Estimativa da Gerência de Planejamento da Emater/RS-Ascar, na primeira quinzena de fevereiro de 2018
ABIGEATO O balanço de dados estatísticos da criminalidade em 2017, divulgado pela Secretaria de Segurança Pública do RS, mostrou que os casos de abigeato registrados diminuíram 25,5% em relação a 2016. Foram 7.783 ocorrências desse tipo de crime, contra 10.451 do ano anterior.
CRÉDITO Os grandes e médios produtores rurais tomaram R$ 85 bilhões em empréstimos por meio do crédito oficial na atual temporada agrícola 2017/2018. O montante referente a financiamentos de custeio, comercialização, industrialização e investimento de julho/2017 a janeiro/2018 representa aumento de 14% em relação ao que foi financiado em igual período da safra anterior. Os dados foram divulgados pela Secretaria de Política Agrícola (SPA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Do total, R$ 63 bilhões foram contratados a juros controlados. Já os financiamentos a juros livres chegaram a R$ 22 bilhões.
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