ANO V NÚMERO 23 RIO GRANDE DO SUL MAIO | JUNHO | 2019
INFORMAÇÃO COM PROPRIEDADE
SUPERANDO EXPECTATIVAS Após início de incertezas, produtores brasileiros deverão colher mais de 118 milhões de toneladas de soja nesta temporada
LEITE
IRRIGAÇÃO
TRIGO
A produção no inverno
Milho irrigado rende mais por hectare
Investir para agregar valor
EDITORIAL
Mais uma safra de soja chega ao fim
M
ais uma safra de soja que se encerra no Brasil. E, após um início de muitas adversidades e incertezas, os resultados nos campos mostraram que a temporada 2018/19 pode chegar a 118 milhões de toneladas do grão. Os bons resultados obtidos na região Sul do país, especialmente nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina foram decisivos para compensar as perdas registradas em outras importantes regiões produtoras do grão. Neste ciclo, os produtores gaúchos plantaram em torno de 5,8 milhões de hectares com a oleaginosa. E a estimativa é que sejam colhidas 18,5 milhões de toneladas com o grão, com rendimento médio de 3,19 mil quilos por hectare, segundo projeções da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Governo do Rio Grande do Sul (Emater/RS).
Ainda nesta edição, trouxemos os cuidados com a produção de leite no inverno. E, a alimentação, um dos principais pilares da atividade representa um percentual importante do custo de produção, podendo variar de 40% a 70% dos custos totais.
Outro tema abordado nesta edição é a peste suína africana. A doença é ocasionada por um vírus altamente contagioso e, até o momento, estima-se que entre 150 a 200 milhões de suínos já morreram na China desde meados de 2018. A nação asiática é a maior produtora de carne suína do mundo. E, diante desse cenário, a expectativa é que os preços da carne subam mais de 70% no segundo semestre de 2019. Boa leitura!
#edição 23 #Ano V #Mai e Jun
Editora Riograndense CNPJ 17.965.942/0001-07 Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Cacilda Becker, 30 Boqueirão Cep 99010-010 Diretor Leonardo Wink Jornalista Responsável Fernanda Custódio 66137/SP Jornalistas João Vicente Mello da Cruz Fernanda Custódio Estagiários Thaise Ribeiro Projeto Gráfico Cássia Paula Colla Diagramação Ângela Prestes Colunistas Gilberto Cunha Elmar Luis Floss Raquel Breitenbach Impressão Gráfica Tapejarense Contatos leonardowink@destaquerural.com.br redacao@destaquerural.com.br (54) 3632 5485 Tiragem 8 mil exemplares
Fernanda Custódio Editora
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16 ÍNDICE
Colheita da soja
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Leite: cuidados com a produção no inverno irrigação: Produtividade acima da média
gestão: Diversificar para reduzir os riscos
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trigo: Investir para agregar valor
pesquisa: as mãos que trabalham o campo
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peste suína: Preços da carne podem subir no segundo semestre
campo em destaque: confira fotos enviadas pelos leitores
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FOTO: ALAN RAHMAN
PECUÁRIA
Leite: cuidados com a produção no inverno
A estação pode ser uma oportunidade de reduzir custos de produção, otimizar os recursos produtivos – como terra, maquinários e mão-de-obra e aumentar a renda da atividade 8 |
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Thaise Ribeiro*
O
inverno está chegando e alguns agricultores precisam tomar a decisão de quanto de área destinar para a produção de grãos e quanto utilizar para a pecuária de leite. De acordo com Raquel Breitembach, especialista em gestão rural, em comparação com o que é produzido no verão, existe uma subutilização de áreas de inverno para produção de grãos no Rio Grande do Sul. Por isso, no inverno existe maior oportunidade de desenvolver atividades para produção de alimentos nessas áreas ociosas e fomentar sistemas de integração
lavoura-pecuária. A alimentação, um dos principais pilares da atividade leiteira, representa um percentual importante do custo de produção, podendo variar de 40% a 70% dos custos totais. Assim, as mudanças realizadas em nível de alimentação e nutrição animal impactam no custo final da produção. “É por isso que as forragens em forma de pastagens, com valor nutritivo adequado, são apresentadas como alimentos mais econômicos para os bovinos,” explica Raquel. Para os sistemas produtivos de pasto e semi-confinado, que utilizam boa parte das áreas no verão para produção de comercialização, o inverno pode ser uma oportunidade de reduzir custos de produção, otimizar os recursos produtivos – como terra, maquinários e mão-de-obra e aumentar a renda da atividade. Isso, desde que seja realizado um planejamento forrageiro adequado. Por outro lado, no inverno, a pastagem pode não ser suficiente para alimentar adequadamente os animais. Neste caso, Raquel orienta que para evitar redução na produtividade, é imprescindível que os pecuaristas de leite se preparem armazenando alimentos como silagem e pré-secados, além de complementar a alimentação com compostos concentrados. Alan Rahman, médico veterinário da Cotrijal, acrescenta que os meses de outono e inverno são estratégicos para a atividade leiteira. Um dos motivos é a melhora dos preços que acontece nessa época do ano, tornando a atividade mais rentável ao produtor. Outro ponto seria o ambiente, principalmente a temperatura, que proporciona melhores condições às vacas no tocante ao stress térmico. Com mais conforto térmico elas conseguem comer mais, consequentemente convertendo mais leite e os índices reprodutivos também são melhores. Além disso, o médico veterinário comenta que as pastagens têm mais qualidade no inverno, devido à alta digestibilidade e alto teor proteico. A nutrição de gado leiteiro é um assunto que deve ser tratado com critério, pois o custo alimentar é o maior custo da atividade. É válido lembrar que alterações na nutrição dos animais impactam diretamente na produção, normalmente quando é reduzido o volume/quantidade de alimento que as vacas estão comendo, deixa-se de produzir uma maior quantidade de leite. O médico veterinário Alan dá algumas orientações sobre os tipos de dietas que podem ser oferecidas ao rebanho nessa época do ano: pastagem de aveia e azevém à vontade, que os animais possam estar dia e noite em cima dos piquetes com oferta; silagem de milho em torno de 15 a 20 kgs por vaca dia; suplementação com ração de 14% a 18% de proteína bruta, o teor proteico dependerá da quantidade e qualidade da pastagem ofertada, e a quantidade média de ração ofertada por vaca/dia fica entre 6 a 9 kg, tendo alguns animais comendo um pouco menos e outros um pouco mais, conforme seu potencial produtivo, e estágio Maio e Junho - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº23
6a9 quilos de ração
dia deve ser a quantidade média ofertada
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FOTO: ALAN RAHMAN
da lactação. É importante lembrar que a entrada dos animais na pastagem deve ser feita de maneira gradual. Segundo Alan, as pastagens de inverno, no primeiro corte, tem o teor de matéria seca em torno de 10% a 15%, ou seja, 85% a 90% do que as vacas estiverem comendo é água e essa quantidade de água encontrada nas pastagens irá acelerar a taxa de passagem e os alimentos passarão mais rápido pelo trato digestivo da vaca, consequentemente sendo menos aproveitados. Para evitar essa situação, a orientação do médico veterinário é que as vacas entrem na pastagem apenas quando a plantação estiver no ponto certo, ou seja, quando as plantas estiverem fechando as linhas de plantio com o solo todo coberto e as pontas das folhas estejam apontando para o lado ou para baixo. A partir do momento que as vacas entrarem na pastagem é importante que tenha oferta suficiente para que possam comer o máximo possível de pasto, essa capacidade de ingestão das vacas irá depender de oferta, qualidade e tempo. Na questão da oferta, a pastagem deve ser bem implantada, com adubação adequada e com dimensionamento de piquete para o tamanho do rebanho. “As experiências de campo têm demonstrado que 150 metros²/vaca/dia entregariam volume suficiente de leite, para quando elas saírem o mesmo não esteja raspado e que o resíduo que fique no piquete permita a planta uma rebrota vigorosa e rápida,” explica Alan. Em termos de qualidade, é necessário observar os materiais de ciclo mais longo, que irão permitir vários pastejos e isso é importante para ter uma alimentação de qualidade a um custo baixo. E no ponto de vista do tempo, o ideal é que, tirando o momento da ordenha, as vacas fiquem nas pastagens o maior tempo possível, desta forma, elas terão tempo suficiente para pastar tudo aquilo que podem, além de desenvolverem grandes quantidades de dejetos para área, devolvendo assim boa parte do N-P-K (nitrogênio, fósforo e potássio) que ingeriram via pastejo. Alan reforça que a quantidade de ração a ser ofertada, dependerá da produção da vaca. “Uma conta que vários produtores utilizam há tempos e tem funcionado é a seguinte: para cada três litros de leite ofertar um quilo de ração, por exemplo: uma vaca de 27 litros estaria comendo nove quilos de ração. Temos que ter muito cuidado ao trabalhar com os nove quilos ou mais de ração por vaca/dia, quando as vacas começam a ingerir 10 quilos ou mais de ração por dia, elas podem estar ingerindo metade de seu consumo em matéria seca em grãos e isso pode nos causar muitos problemas. A acidose ruminal é um deles, que por sua vez pode causar redução de imunidade, diarreia ou redução da taxa de concepção”, explica Alan. A especialista Raquel lembra que não é somente a alimentação que passa por mudanças nesse período do ano e que a
rotina do agricultor também sofre algumas alterações como, por exemplo, a mão de obra. “Um exemplo disso é que, ao pesquisar sobre as motivações para adoção de sistemas produtivos de confinamento como o Compost Barn e Free Stall, dentre os principais fatores apontados pelos agricultores destaca-se o desejo de melhorar a qualidade de vida dos familiares,” aponta Raquel. Buscar os animais na pastagem, limpeza de tetas e úbere, higiene do ambiente, ficam mais difíceis no período de inverno. Outro ponto que deve ser levado em consideração é que os invernos costumam ser chuvosos e diminuem os dias úteis para pastagem, bem como podem impactar na qualidade do leite, pela maior facilidade de infecções da glândula mamária. Ainda, as vacas chegam mais sujas na ordenha, aumentando a necessidade de cuidados com higiene para evitar a contaminação. Desta forma, a alimentação dos animais representa a maior parte dos custos de produção, mas Raquel ressalta que qualquer mudança que for realizada impacta nos resultados econômicos da atividade. Portanto, decisões que envolvam variações na alimentação devem prever um planejamento não só produtivo, mas também econômico. “Os produtores deveriam analisar quais alterações nos custos de produção, na produtividade e no produto bruto da atividade as mudanças na alimentação podem gerar. A partir disso, a decisão acertada deve ser com base na melhor relação custo benefício” finaliza Raquel.
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*Com supervisão de Fernanda Custódio
150
metros2
de pastagem
dia entrega o volume suficiente de leite
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MILHO
Produtividade acima da média
Área de milho irrigado rende até 20 toneladas por hectare João Vicente Mello da Cruz
A
irrigação é utilizada para trazer água para lavouras desde o Império Persa em 500 a.C. e hoje em dia é manejada com alta tecnologia aumentando os percentuais de produção ao redor do mundo. A irrigação permite, além do fornecimento de água em períodos sem chuva, o cultivo de culturas fora de períodos normais, modificando as datas das colheitas e movimentando a economia, pois o produtor terá mais safras em mãos para comercializar, e mais cedo.
Milho O milho é a cultura que mais corresponde à irrigação em termos de produção. Hoje, as produtividades médias na cultura de sequeiro, onde não há irrigação e a cultura depende das chu-
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vas e da umidade do solo, ficam em torno de 120 a 150 sacas de milho por hectare em anos com períodos de chuva bons, frente às áreas irrigadas onde alguns produtores trabalham com tetos de produção de até 270 sacas por hectare. “O milho, hoje, é o grande pagador do pivô”, é o que comenta o supervisor de engenharia de aplicação da irrigação, Diego Limberger. “A irrigação garante água, por exemplo, em um caso de estiagem prolongada em um momento de estiagem em um momento de enchimento do grão do milho onde cada milímetro de água que o milho deixe de receber corresponde a uma saca a menos de rendimento médio de uma lavoura por hectare”, contabiliza o engenheiro agrícola. O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Camilo de Lelis Teixeira de Andrade ressalta que as cultivares de milho utilizadas atualmente também são responsáveis por ajudar a corresponder ao estresse hídrico e que quando irrigadas, produzem mais. “Os cultivares de milho reco-
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mendados para o Brasil hoje apresentam elevado potencial tema de irrigação. Dados de topografia, de solo, de clima e produtivo. Alguns deles podem ultrapassar 20 toneladas de suprimento de água e de energia devem ser levantados. por hectare. Cultivos irrigados de milho em áreas priva- O pesquisador Camilo Teixeira explica que o revelo da das na Região Sul do país já demonstraram este potencial”. área deve ser levado em conta na hora de se implementar Para o pesquisador, a cultura depende muito da variação o uso de um sistema de irrigação. “Um levantamento placlimática e é suscetível à falta de água. “Entretanto, a cul- nialtimétrico deve ser feito por topógrafo. Áreas em que o os desníveis entre a fonte de água e a tura do milho é sensível ao estresse hílavoura são elevados e a distância de drico, principalmente quando a falta condução da água é longa devem ser de água no solo ocorre em períodos evitadas ou muito bem avaliadas. A críticos, como no pré-florescimento topografia, forma e presença de obstáe no enchimento de grãos. Além do A cultura do milho é culos no terreno onde será a lavoura mais, as mudanças climáticas em cursensível ao estresse irá auxiliar na escolha do método de so tendem a tornar o regime de chuvas hídrico, principalmente irrigação a ser empregado”, explica. mais instável com maiores chances de Na prática, antes do inicio dos traocorrerem veranicos. Portanto, o uso quando a falta de água balhos sob irrigação, o produtor precida irrigação é de grande importância no solo ocorre em sa conhecer o sistema e suas especifipara esta cultura”, explica. períodos críticos, como no pré-florescimento e no cidades. “Hoje, o sistema de irrigação por pivô central, parte primeiramente Implementação enchimento de grãos”. por uma visita técnica na propriedaO pivô central é a máquina que atinge Camilo de Lelis Teixeira de Andrade de. Cada propriedade tem o seu equia maior área com um único equipamenPesquisador da Embrapa Milho e Sorgo pamento com tamanho específico to e maior automatização à distância. para aquele local, para aquela área e Então, para culturas de grande escala como soja, milho ou feijão, que atinjam áreas de 100 a 200 ou declive. Levando em conta um levantamento topográhectares, o pivô é a melhor opção de custo-benefício de valor fico e também a necessidade de água e a disponibilidade de água no local. A questão da energia elétrica disponível por hectare irrigado. Deve-se fazer um planejamento muito bem-feito da ati- ou a necessidade de motores a diesel”, explica o engenheividade de produção de milho, antes de se adquirir um sis- ro agrícola, Diego Limberger.
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FOTO: DIEGO LIMBERGER
Benefícios Em uma área irrigada é possível se antecipar o plantio e não é necessário esperar a época das chuvas. Consequentemente, antecipando o plantio, o produtor vai ter a cultura disponível para a colheita mais cedo, com produtos disponíveis mais cedo, fugindo dos preços especulativos, podendo barganhar preço e comercializar melhor. “A irrigação possibilita o cultivo de mais culturas durante o ano devido à independência das épocas de chuvas. Em estados como Mato Grosso, Goiás, Bahia e Minas Gerais, por exemplo, em períodos onde a terra ficaria em repouso porque não teria chuva para cultura, é possível o cultivo”, conta o engenheiro Diego Limberguer. Outro beneficio do equipamento de irrigação é possibilidade de além do fornecimento de água é a possibilidade de aplicação de fertilizantes assim como produtos químicos via pivô. Por exemplo, produtores que tenham criação de suínos ou gado podem utilizar os dejetos para fazer fertirrigação. Com o uso da irrigação, pode-se aumentar consideravelmente a produtividade da cultura do milho, que é responsiva ao uso deste insumo. O pesquisador da Embrapa, Camilo 14 |
Teixeira complementa a fala de Diego, explicando que em uma lavoura irrigada, o potencial de produção pode ser expandido. “Pode-se produzir mais de uma lavoura por ano; pode-se realizar com facilidade sucessão e rotação de culturas; pode-se produzir na entressafra. No aspecto social, a agricultura irrigada gera pelo menos quatro vezes mais emprego por hectare que a agricultura de sequeiro, além de estimular a economia local”, completa o pesquisador.
Rio Grande do Sul O assistente técnico estadual da Emater/RS-Ascar, José Enoir Daniel, responsável pela área de irrigação explica que o estado está sob boas quantidades de chuvas, porém mal distribuídas. “O estado conta ao ano com uma média de 1500 milímetros de chuva por metro quadrado. Uma lâmina de água de 1,5 m, ou seja, contamos com uma boa quantidade de chuvas, porém, com um clima instável com chuvas mal distribuídas”. O Rio Grande do Sul conta com 1.500.000 de hectares de lavouras irrigadas. 1 mlhão de hectares somente no arroz. As maiores áreas irrigadas estão sob a tecnologia do pivô, cerca de 150 mil hectares.
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CT& Bio
Gilberto Cunha
gilberto.cunha@embrapa.br
Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo
Um escritor à procura do céu
O
saguão do Cine Pampa, naquela manhã do dia 15 de outubro de 1966, serviu de palco para um acontecimento que, ainda hoje, na Capital Nacional da Literatura, pode ser considerado raro: o lançamento de um romance. Sob os auspícios da Editora Padre Berthier e do Grêmio Estudantil Nicolau de Araújo Vergueiro, o jovem escritor Gilberto Borges estreava no mundo das letras com o livro Uma terra à procura do céu. Até então, os passo-fundenses tinham o privilégio de ter conhecido apenas dois romances escritos por autores locais. O folhetinesco Marta (1947), do advogado Jurandyr Algarve, que assinou o livro sob o pseudônimo Montclair, e o indigenista Irapuã, do jornalista Jorge Edeth Cafruni (com edições em 1955 e 1962). Ambos, apesar de escritos no século XX, frise-se, com temáticas e linguagem do século XIX. O romance de Gilberto Borges foi o terceiro produzido em Passo Fundo, sendo o primeiro de um autor genuinamente passo-fundense (Algarve nasceu em Laguna, SC, e Cafruni era natural de Porto Alegre) e sintonizado com o seu tempo. Desde então, passados 52 anos, a nossa produção de narrativas longas não mudou substancialmente, talvez nem sendo necessário usar todos os 10 dedos das mãos para contabilizar os romances localmente produzidos (incluam-se os títulos de Jorge Alberto Salton, Agostinho Both, Marconi De Cesaro e outros poucos). No memorável ensaio que escreveu sobre o livro Uma terra à procura do céu (Água da Fonte, v.1, n. 2, p. 32, 2004), o acadêmico Paulo Monteiro destacou Gilberto Borges como a
“
O romance de Gilberto Borges foi o terceiro produzido em Passo Fundo, sendo o primeiro de um autor genuinamente passofundense. nossa melhor promessa de ficcionista. Infelizmente ficou na promessa, pois, uma vez formado engenheiro-agrônomo e tendo constituído família, o lado prosaico da vida o levou para outros caminhos. A obra paga tributo à idade do autor. Mas é uma trama bem urdida, que narra a história do fazendeiro Francisco Costa, cujo enredo se passa entre 1917 e 1945. À ficção, em que facínoras aproveitam a revolução para saquear propriedades e cometer todo tipo de violência, misturam-se passagens históricas como o cerco de Passo Fundo, em janeiro de 1923, pelos assisistas. Francisco Costa, casado com a argentina Maria Cortez participa das revoluções de 1923 e 1930. Retorna para encontrar Maria, que engravida pela terceira vez e morre no parto. O filho Chico sai esquisito como o pai. O fazendeiro quarentão e viúvo encontra o amor na professora Sandra e enfrenta a oposição de Chico. Quer saber mais? Leia o livro. Gilberto Borges é descrito, nas lembranças dos amigos, como uma pessoa
simples, politicamente engajado, às vezes solitário, até certo ponto tímido, sedutor, bem-humorado, algo melancólico, extremamente ético, franco, respeitoso, fraterno e amante da cultura. Trouxe a Passo Fundo o diretor do Teatro de Arena de Porto Alegre, Jairo de Andrade, para que montasse a peça Os Fuzis da Senhora Carrar, de Berthold Brecht, em que atuou como ator. Formado em Agronomia, pela primeira turma da UPF, em 1970, casado com Florinda Endres e pai da Bárbara e da Ana Maria, Gilberto Borges foi trabalhar em Ponta Grossa, no Paraná. De volta a Passo Fundo, no final dos anos 1980, fundou, em sociedade com Ivaldino Tasca, a editora Aldeia Sul e passou a publicar o Jornal do Plantio Direto. Mais tarde criou a Aldeia Norte Editora e continuou com o Jornal do Plantio Direto, depois transformado em Revista Plantio Direto, e seguiu organizando e criando eventos, cujo principal chama-se EXPODIRETO. Casou-se com Juliane Borges e é pai do João Manoel e do Santiago. Depois do livro Uma terra à procura do céu, Gilberto Borges pode exercitar a sua verve literária nos editoriais e nas reportagens para o Jornal e Revista Plantio Direto, além da sua obra derradeira, Nonô Pereira - 25 anos plantando na palha, concluída 5 dias antes da sua morte, aos 55 anos, em 31 de agosto de 2002. Infelizmente, o seu talento literário não encontrou o céu merecido. (O colunista é grato pelo compartilhamento de lembranças e memórias afetivas, a Pedro Du Bois, Geraldo Fernandes, Khaled Ghoubar, Hugo Lisboa, Carlos Alceu Machado e Ivaldino Tasca.)
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CAPA
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Superando expectativas
Após início de incertezas, produtores brasileiros devem colher mais de 118 milhões de toneladas de soja nesta temporada Fernanda Custódio
A
safra de soja 2018/19 do Brasil será melhor do que o esperado inicialmente. Segundo estimativas da 16ª edição do Rally da Safra, expedição realizada pela consultoria Agroconsult, os produtores rurais deverão colher mais de 118 milhões de toneladas na atual temporada. A projeção está bem acima do reportado inicialmente pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de 113,8 milhões de toneladas do grão. E, de acordo com o sócio e diretor da consultoria, André Pessôa, os bons resultados obtidos na região Sul do país, especialmente nos estados do Rio Grande
do Sul e de Santa Catarina foram decisivos para compensar as perdas registradas em outras importantes regiões produtoras do grão. O clima adverso acabou ocasionando perdas nas lavouras da oleaginosa em estados como Paraná, Mato Grosso do Sul, Bahia e Goiás neste ciclo. “É uma safra de contrastes. Teve produtor que sofreu mais. A nossa estimativa é de 118 milhões de toneladas, com uma quebra de 4 milhões de toneladas em comparação com o ciclo anterior. Já a safra no Rio Grande do Sul deverá fechar em 20 milhões de toneladas, a maior produtividade que o Estado já colheu. Um resultado que ajuda a compensar em parte a queda dos preços”, destacou Pessôa.
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Produtividade média O rendimento médio tem variado conforme a época de plantio, ciclo das cultivares e comportamento climático. Floss ainda afirma que os materiais plantados mais cedo apresentaram melhores resultados nos campos em algumas regiões. Em contrapartida, os semeados mais tardiamente registraram redução de produtividade. “Acredito que isso ocorreu em função da dimi18 |
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FOTOS: JOÃO VICENTE MELLO DA CRUZ
Nesta safra, os produtores gaúchos cultivaram 5,8 milhões de hectares com a soja, conforme levantamento realizado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Governo do Rio Grande do Sul (Emater/RS). O número representa um crescimento de 0,79% em relação à área da temporada passada. E a perspectiva é que sejam colhidas 18,5 milhões de toneladas do grão, com produtividade média próxima de 3,19 mil quilos por hectare, ainda segundo dados da Emater/RS. Um cenário mais tranquilizador aos produtores rurais depois de um início de temporada bastante conturbado. O excesso de umidade observado no começo da safra 2018/19 ocasionou vários problemas com fungos de solos, resultando em mortes de plântulas e em população de plantas desuniformes. Em muitas regiões do estado gaúcho, os agricultores realizaram até quatro replantios das lavouras de soja neste ciclo. “Após esse período tivemos um bom enraizamento e formação das plantas, porém, não por completo. As lavouras não conseguiram se recuperar 100%, mas as chuvas registradas entre os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, contribuíram para uma melhora nas plantações, do ponto de vista de formação de arquitetura e formação de vagens”, explica o engenheiro agrônomo, Luiz Gustavo Floss. Ainda assim, o sentimento é de uma produção de soja maior do que a observada na safra 2017/18. Isso porque, no ciclo anterior, a seca observada especialmente na metade Sul do estado trouxe vários prejuízos aos rendimentos das lavouras. “A seca contribuiu para baixar a produtividade na metade Sul na temporada passada e esse ano acompanhamos um desempenho melhor nessa região. Na metade Norte, o rendimento das plantações está próximo ao registrado em 2018”, reforça o especialista.
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nuição do peso de grãos. E tivemos problemas com no início da safra. E, agora no final, tivemos as manas doenças foliares e a ferrugem asiática, além de uma chas foliares e a ferrugem asiática, que apresentou questão nutricional também, como falta de potássio, maior pressão se comparado com os últimos dois anos. que fizeram a produtividade baixar”, pondera Floss. Os produtores que realizaram as aplicações de fungiO engenheiro agrônomo ainda aponta que a recidas, protegendo até o fim tiveram bons resultados gião de Tupanciretã, Júlio de Castilhos e seguindo de controle. Já os que deram um intervalo maior entre para Cruz Alta foi bastante afetada com os probleuma aplicação e outra, tiveram mais problemas com a mas de emergência no começo da safra. A informadoença”, disse Floss. ção é reforçada pelo produtor e consultor na região De acordo com dados do Consórcio Antiferrugem, de Júlio de Castilhos, Edison Thomaz. no estado do Rio Grande do Sul, foram registrados “Tivemos problemas com replantio na nossa re127 casos da doença na safra 2018/19. gião, o que elevou os custos de produção nesta temporada. As variedades precoces apresentaram melhor Produção de soja em resultado nesta safra, com rendimentos de até 80 sacas Mato Grosso e Paraná de soja por hectare, já as de ciclo médio, não corresNo maior estado produtor de soja no Brasil, o Mato ponderam às expectativas devido às chuvas no moGrosso, os produtores rurais já finalizaram a colheita da mento de enchimento de grãos”, soja da safra 2018/19. E, segundo analisa Thomaz. levantamento realizado pelo InstiPor outro lado, as cultivares plantuto Mato-grossense de Economia tadas nas áreas de replantio, um Agropecuária (Imea), a produção da pouco mais tardiamente registraram oleaginosa ficou em 32,5 milhões de As variedades precoces melhor desempenho nos campos toneladas neste ciclo. apresentaram melhor neste ciclo, apesar da maior pressão O número representa uma queda resultado nesta safra, com da ferrugem asiática e das doenças de 0,46% ou 149 mil toneladas em rendimentos de até 80 de final de ciclo. “Acreditamos que relação ao volume colhido no ciclo sacas de soja por hectare, passado. A produtividade média das a média de produtividade na nossa já as de ciclo médio, não região e em São Martinho da Serra lavouras ficou em 56,04 sacas do grão corresponderam às fique próxima de 65 sacas do grão por hectare. Ao todo, os agricultores expectativas devido às por hectare”, aponta o consultor. destinaram 9,66 milhões de hectares chuvas no momento de Na região das Missões, por exemao plantio da soja nesta safra. enchimento de grãos”. plo, mesmo com o replantio de muitas No Paraná, a colheita da oleaáreas, o rendimento observado até o ginosa também foi finalizada e a Edison Thomaz momento está acima do observado Produtor e consultor safra deverá somar 16,2 milhões em 2018, ainda segundo levantamende toneladas, uma queda de 17% to do Rally da Safra. em relação à estimativa inicial, de 19,6 milhões de Já na metade Sul do estado, a expedição verificou um toneladas. As informações foram divulgadas pelo rendimento próximo de 45 sacas de soja por hectare, Departamento de Economia Rural (Deral), entidanúmero bem acima do registrado no ciclo passado, de de vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura e 30 sacas por hectare. A média para o Rio Grande do do Abastecimento do Paraná (Seab). Sul é projetada em 57,6 sacas por hectare, a melhor da “Essa redução deve-se principalmente ao excesso história e maior do que o observado no ciclo 2017/18, de calor e à falta de chuva no início do ciclo. Embora de 54,5 sacas por hectare. o clima tenha causado impacto em todo o Estado, atingiu principalmente as regiões Oeste, Noroeste e As doenças nesta safra Norte”, reportou o departamento. “Tivemos problemas com fungos de solo, que interNo ciclo 2017/18, os agricultores paranaenses coromperam a germinação, criando doenças radiculares lheram 19,2 milhões de toneladas do grão. 20 |
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MANEJO GESTÃO
Diversificar para reduzir os riscos
“É preciso dominar a sua gestão, que começa da porteira para dentro”, afirma agropecuarista
É preciso diversificar e não arriscar todos os ovos em uma cesta somente. “Precisamos diversificar para criar a sinergia. A soja, dentro do sistema produtivo, m tudo na vida existe dificuldade, tem a sua importância para o solo e também o seu vanão há coisa fácil. Se fosse fácil, lor econômico. Em um ano que o arroz vai mal, nós qualquer um faria. É preciso gostar temos a soja, e isso também acontece inversamente. do que se faz pra ter resultados po- Dessa forma, conseguimos nos manter na atividade sitivos”, afirma o empresário e agropecuarista de há mais de vinte anos”, acrescenta Wallauer. Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, Astor Além da diversificação nos negócios dentro da Wallauer. Nascido em Montepropriedade, o empresário refornegro, em setembro de 1950, o ça a importância de conhecer a produtor aprendeu desde cedo a fundo os custos de produção das importância da gestão dentro de lavouras de soja, arroz, noz peum negócio. can, da pecuária. Assim, com as Da porteira para fora, Filho de pequenos comercianplanilhas em mãos, é impossível quem domina é o tes do ramo de varejo alimentício, realizar o planejamento e reduzir mercado, ele irá dizer o Wallauer acompanhou o inves- quanto você vai receber os riscos que a atividade impõe timento da família na avicultura por determinado produto, aos agricultores brasileiros. e a expansão dos negócios. “En“É preciso dominar a sua gesele é soberano”. tramos nesse ramo por necessitão, que começa da porteira para dade. Chegou um momento em dentro. Da porteira para fora, Astor Wallauer Empresário e agropecuarista que não tínhamos mais galinha quem domina é o mercado, ele caipira para atender a demanda e irá dizer o quanto você vai recefizemos os primeiros aviários. Os negócios foram ber por determinado produto, ele é soberano. Na crescendo até que na década de 70 nos tornamos indústria, os custos são mais exatos, você sabe o uma grande indústria”, relembra. Em 1998, quan- quanto entra de matéria-prima e sabe o quanto do a família se desfez da empresa, a capacidade de custará no final. Mas na agricultura estamos mais abates era de 700 mil frangos por dia. suscetíveis aos riscos, especialmente em relação ao E foi a partir desse período que o empresário en- clima e ao mercado, já que as variáveis são maiotrou na atividade agropecuária. “Vi uma oportuni- res”, destaca o produtor. dade de negócio e acabei fazendo esse investimenE para mitigar os riscos impostos nessa indústria to na agricultura. Na nossa propriedade, o carro a céu aberto, que é o agronegócio, os produtores chefe é o arroz, mas ainda investimos na soja, mi- têm acompanhado ao longo dos anos o desenvollho, noz pecan e na pecuária”, explica o produtor. vimento da atividade, através da utilização da tecFernanda Custódio
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nologia e também de grandes revoluções, como o plantio direto. De acordo com informações divulgadas no site da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o sistema de plantio direto é uma tecnologia conservacionista, que teve grande desenvolvimento a partir da década de 1990 no Brasil e se encontra bastante difundida entre os produtores rurais. Devido aos seus efeitos benéficos sobre os atributos químicos, físicos e biológicos dos solos, o sistema é uma ferramenta de extrema importância para atingir a sustentabilidade dos sistemas agropecuários, ainda segundo a Embrapa. “O plantio direto deu outra dimensão para a agricultura brasileira. Não sei o que seria da nossa atividade se não fosse todo esse sistema”, reforça o empresário. Outra forma de também tentar diluir os riscos, ainda na visão do empresário, é produzir mais com menos, principalmente no caso da soja. Diante das incertezas em relação aos preços da commodity, com impasses comerciais entre as duas maiores potências mundiais, Estados Unidos e China, é preciso reavaliar o cenário.
“Acompanhamos o aumento de área plantada, crescimento de produtividade e, por outro lado, como vamos escoar essa produção? A que preços venderemos essa soja?”, questiona o produtor. Cenário político e econômico do país Assim como qualquer produtor e empresário brasileiro, as questões políticas e econômicas enfrentadas pelo país também preocupam Wallauer. A princípio, as mudanças que trazem esperança para o setor agropecuário como um todo, também geram receio. “Acredito que a elite governante do país não está pronta para fazer as mudanças que o povo solicitou nas últimas eleições. Não aguentamos mais pagar tantos impostos e ainda temos que acompanhar tamanha disparidade social no Brasil. Por que nunca houve interesse em retirar essas pessoas da miséria? O que poderia ser feito através da educação, nenhum Governo se preocupou com isso até hoje. Não é interessante, é preferível ter um povo ignorante para servir de massa de manobra”, desabafa Wallauer. Maio e Junho - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº23
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TRIGO
Investir para agregar Área de trigo semeada no Estado deve ficar próxima a 681 mil hectares Thaise Ribeiro*
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stamos no início da safra de trigo no Rio Grande do Sul, com semeaduras que se estendem até o mês de agosto. Neste ano, a área a ser semeada no Estado deve ficar próxima da área cultivada na safra anterior que, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foi de 681 mil hectares. Segundo João Leonardo Fernandes Pires, pesquisador da Embrapa Trigo, alguns aspectos podem mudar essa estimativa de área como, por exemplo, o valor atual do produto no mercado, a disponibilidade de sementes e o acordo firmado entre Estados Unidos e Brasil referente à importação de grãos. Ainda, é válido lembrar que a implantação das lavouras deve seguir o Zoneamento Agrícola, que indica o melhor momento para a implantação da cultura em cada município, com base em registros coletados nas principais estações meteorológicas do país. O pesquisador da Embrapa Trigo orienta que no período de pré-semeadura o produtor deve fazer a análise de solo, correção nas áreas a serem cultivadas com atenção para práticas conservacionistas do solo, dessecação e ajustes nos equipamentos. “A escolha da cultivar já foi feita na aquisição de sementes. Escolhas adequadas são fundamentais e definem boa parte do sucesso da lavoura, pois com a escolha da cultivar estão sendo definidos fatores como potencial produtivo, custo de produção e modelo de negócio a ser utilizado”, afirma. Em relação ao modelo de negócio, citado anteriormente, destacam-se duas grandes possibilidades como a produção de grãos ou a utilização do trigo na alimentação animal em sistemas de Integração Lavoura Pecuária (ILP). 24 |
No caso do uso para sistemas de produção envolvendo animais podemos citar os usos para pastejo, para silagem e para o chamado duplo propósito (trigo flex) onde, em uma mesma área, com o manejo e cultivares específicas, é possível utilizar o trigo para pastejo e, após a retirada dos mesmos animais, fazer a colheita de grãos. Essa é a terceira safra que o produtor rural Luiz Chiochetta planta trigo duplo propósito em Coronel Bicaco no Rio Grande do Sul. Para ele, a produção é uma das alternativas para obter renda no inverno e ao mesmo tempo cobrir e proteger o solo. “A obtenção da renda é importante para diluir os custos fixos do capital e a mão de obra,” conta o produtor. Além disso, Luiz afirma que esse sistema de produção é uma forma mais segura de produzir o cereal. “Dificilmente você terá perdas, por exemplo, com a geada. A Integração Lavoura Pecuária traz uma sinergia positiva ao sistema produtivo adotado na propriedade,” finaliza o produtor que, neste ano, irá plantar 40 hectares. Em relação à produção de grãos também podemos encontrar alternativas para a diversificação. A produção de trigo melhorador e trigo pão pode bonificar o produtor, pois são trigos bastante demandados pela indústria nacional. João Leonardo ainda ressalta que, apesar da maior dificuldade de manter a regularidade de produção desses trigos no ambiente do Rio Grande do Sul, alguns modelos de negócio envolvendo essas opções têm obtido resultados interessantes. Já o trigo chamado branqueador é outra alternativa em função da valorização pela indústria. Segundo o pesquisador, o mercado consumidor no Brasil prefere farinhas de coloração mais clara. Assim, já existem no Rio Grande do Sul modelos de negócio em cooperativas que utilizam cultivares específicas com características de farinha branca e manejo adequado para essas cultivares. “Pela agregação de valor obtida pela indústria, é possível repassar um bônus de até 20% ao produtor com a entrega desse produto diferenciado,” comenta o pesquisador. O produtor rural André Bonamigo, do munícipio de Pejuçara, trabalha com a cultura do trigo há mais de
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valor
DIVERSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO ILP Trigo para silagem Trigo para pastejo Trigo duplo propósito (pastejo e grãos)
Grão Trigo melhorador Trigo pão Trigo branqueador Trigo biscoito Trigo padrão exportação Trigo para ração FONTE: EMBRAPA TRIGO
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30 anos e nesta safra pretende plantar 500 hectares de trigo pão. “O trigo tem nos proporcionado maior rentabilidade e é fundamental para rotação de culturas para possibilitar o plantio de aveia branca com um maior controle de plantas daninhas,” afirma o produtor. Na safra passada, André conta que plantou 450 hectares e colheu 55 sacas por hectare. Além disso, ele investe no trigo pão por ter uma demanda maior no mercado. Eduardo Caierão, pesquisador da Embrapa Trigo, explica que a utilização do trigo para a composição de rações é uma alternativa que está sendo desenvolvida no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Isso porque a redução da área de milho no Sul do Brasil e a dificuldade de importar milho de outros estados, principalmente Mato Grosso, a custos competitivos, configura-se uma ameaça ao setor de produção de suínos e aves e faz emergir a oportunidade de utilizar o trigo como opção. “Essa alternativa poderia ajudar a dar destino para parte do trigo gaúcho que acaba sobrando no Estado em função de dificuldades logísticas e de atendimento de padrões de qualidade impostos pela indústria,” explica Caierão.
Como tornar a atividade mais rentável?
FOTO: JOÃO LEONARDO PIRES
Segundo João Leonardo Pires, o próprio setor produtivo deve buscar alternativas e não ficar esperando que o governo resolva ou que o produto seja valorizado economicamente de forma a se tornar mais atrativo. “Conhecimento existe e precisa ser aplicado ou adaptado de forma a contemplar as peculiaridades regionais e de oportunidades de negócio”. Uma orientação do especialista é que o produtor desenvolva a capacidade de modificar o manejo da lavoura durante o ciclo tomando decisões com base no andamento da safra.
Ainda, se as condições como solo, ambiente ou doenças forem mais favoráveis podem suportar maior investimento com mais chances de retorno. “O problema é que, muitas vezes, a safra se encaminha para potenciais de rendimento intermediários ou baixos e o produtor continua investindo como se fosse uma safra de alto potencial, ” explica. Em relação ao preço do trigo ele pode ser atrativo, mas o produtor precisa fazer seu planejamento de acordo com os indicativos de preço históricos da cultura. Outra orientação do pesquisador é ter muito cuidado no desembolso que é feito investindo em insumos que realmente sejam necessários para o sucesso de suas lavouras dentro de parâmetros técnicos específicos para cada realidade de produção e modelo de negócio utilizado. “Como as margens são menores que as da soja, qualquer erro pode implicar em fracasso na atividade. Devemos ter atenção não somente em fatores ligados a produtos, mas especialmente em boas práticas agrícolas com uma visão de sistemas de produção, contabilizando não somente os aspectos monetários, mas os benefícios do trigo para outras culturas,” avalia Pires. Para agregar valor ao trigo, o pesquisador da Embrapa defende que é preciso “profissionalizar” as alternativas como trigo para ração e exportação, não tratando como negócio de oportunidade, mas desenvolvendo um modelo de negócio com filosofia específica de produção, beneficiamento, logística e comercialização. Segundo João Leonardo Pires, quando conduzidas de modo profissional, essas oportunidades de negócio podem aumentar o número de alternativas para o trigo sem impactar os usos já existentes.
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*Com supervisão de Fernanda Custódio
DESTAQUE EMPRESAS OPINIÃO raquel.breitenbach@sertao.ifrs.edu.br
Raquel Breitenbach Doutora em Extensão Rural, Professora e Pesquisadora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia/RS
Jovens mulheres e o futuro no campo
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s papéis sociais do homem e da mulher são fundamentais para o desenvolvimento rural e não existem isoladamente na agricultura, uma vez que se complementam e dinamizam o campo. Porém, existem disparidades entre homens e mulheres na agricultura, as quais foram justificadas, por muitos anos, por diferenças biológicas. No entanto, tais desigualdades são socialmente construídas e sustentam um status de hierarquia dos homens sobre as mulheres e uma divisão sexual do trabalho em que o trabalho da mulher é menos reconhecido. Entretanto, essa realidade está em transformação e as mulheres têm aumentado sua participação no espaço da unidade familiar e nas tomadas de decisão. Esta mudança é observada também pela adesão cada vez maior do público feminino a cursos das ciências agrárias, que tradicionalmente tinham a supremacia do público masculino. Embora a inserção da jovem mulher rural nos cursos de ciências agrárias tenha aumentado, as relações sociais no campo interferem nas suas decisões sobre onde projetam seu futuro profissional, se no campo ou na cidade. As jovens rurais que estudam atualmente nas ciências agrárias têm menos interesse que os jovens homens em serem gestoras e sucessoras da propriedade rural dos pais. Consequentemente, têm mais interesse em migrar para a cidade em busca de trabalho e estudo e menor interesse em permanecer no campo. Este contexto é resultante de condições sociais e familiares ainda distin-
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Embora a inserção da jovem mulher rural nos cursos de ciências agrárias tenha aumentado, as relações sociais no campo interferem nas suas decisões sobre onde projetam seu futuro profissional, se no campo ou na cidade. tas no meio rural quando o assunto é gênero. As jovens têm menos incentivos dos pais para permanecerem no campo e serem sucessoras e têm menos oportunidades de participação nas atividades agropecuárias da propriedade e nas atividades gerenciais e tomadas de decisão. Mesmo que implicitamente, as famílias agrícolas possuem regras para a escolha do sucessor familiar. Estas consideram, por exemplo, o número de sucessores, a ordem de nascimento, a dedicação, a capacidade das crianças e jovens para o trabalho agrícola e o gênero como critério para definir quem seguirá à frente da propriedade. Porém, o gênero e a aptidão física ainda são os principais critérios para a elegibilidade na herança e sucessão familiar. Mais recentemente, o
percurso educacional e de formação do jovem também tem interferido para eleger novos sucessores. Portanto, em muitos casos, as mulheres não são consideradas como possíveis sucessoras, especialmente se existem filhos homens e mulheres na família. Comparativamente aos homens, as mulheres têm menos perspectivas profissionais e motivacionais para permanecer no meio rural por se evidenciar: a sua falta de autonomia econômica e pessoal; a invisibilidade destas como trabalhadoras e cidadãs, tendo seu trabalho avaliado como ajuda; a não participação delas em decisões de aspectos produtivos ou de comercialização de produtos da propriedade; desigualdades na distribuição das atividades produtivas e no acesso à propriedade da terra. Ainda, a menor inserção das jovens nos processos agropecuários, as distanciam da cultura local e rural, tornando mais difícil para elas o processo de sucessão. Em contrapartida, é possível traçar uma trajetória de mudanças no papel da mulher no campo, com ganho de autonomia e maior inserção política e social. Ainda, mudanças como: a) incremento tecnológico, que não coloca a força física como limitante para o trabalho agrícola; b) crescente importância da gestão rural e a necessidade de pessoas dispostas a atuarem nessa área, com destaque para a participação da mulher; e c) maior inserção das mulheres em cursos das ciências agrárias, indicam para aumento da sucessão familiar por parte das jovens mulheres rurais, especialmente com formação nas ciências agrárias.
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MANEJO PESQUISA
As mãos que trabalham o campo
Pesquisas recentes mostram o perfil e calculam o potencial de produção de cada trabalhador rural brasileiro FOTOS: DIVULGAÇÃO
João Vicente Mello da Cruz
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egundo um dado proveniente de uma pesquisa encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a CNA, a participação do agronegócio no PIB – Produto Interno Bruto brasileiro chegou ao percentual de 23,5% no ano de 2017. No centro desse dado surpreendente encontramos um trabalhador rural cada vez mais tecnificado e que eleva 28 |
os expoentes de produção agrícolas nacionais aos patamares de exportação.
Quem é o trabalhador rural brasileiro? A pesquisa Hábitos do Produtor Rural encomendada em 2017 pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio, a ABMRA, relatou que o produtor rural no Brasil tem em média 46 anos de idade e que 31% dos trabalhadores rurais são mulheres. A pesquisa também revela que o produtor rural brasileiro é uma pessoa de meia
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idade, com filhos cursando a faculdade na área de observa é que a produtividade do trabalho, além de agronegócio e usa a televisão, o rádio, a internet, ser uma medida de bem-estar, é muito menor nos jornais e revistas como fontes de informações para extratos até cem hectares. Nestes casos, a produtise manter atualizado sobre as novidades do setor vidade do trabalho é igual ou menor que um salário do agronegócio. mínimo, o que justificaria a ação das políticas púOutro estudo produzido pelo Deagro, o Departa- blicas no sentido de aumentar esta produtividade”, mento de Agronegócio da Fiesp e pela Organização explica. das Cooperativas Brasileiras, a OCB, apontou que O professor e pesquisador da Universidade de 60% das famílias que trabalham no campo estão na Passo Fundo, Marco Antonio Montoya aponta a atividade há mais de 30 anos. O percentual cai para necessidade de uma abordagem que contemple o 30 % se avaliarmos as famílias que trabalham com tamanho e a robustez da produção de cada propecuária no mesmo período. priedade para obtermos uma amostra mais clara Esse mesmo estudo ajuda a avaliar o perfil no em- do nível de produção. “Se falarmos da agricultura preendedor do campo. 37% dos empresários rurais de um modo geral, a produtividade é baixa. Mas possuem escolaridade superior completa. No todo, se falamos da agricultura empresarial voltada à o trabalhador rural tem 72% de sua renda depen- exportação, a produtividade é alta. Se tratarmos o dente exclusivamente do setor do agronegócio. Brasil como um todo, a agricultura de subsistência Baseado nesses indicadores, um estudo elabora- faz com que os números de produtividade caiam. do pela Conference Board, uma Por outro lado, se apresentarmos instituição americana composta os números da produtividade das principais commodities agrícopor 1200 empresas públicas e privadas de 60 países estabelelas exportadas, estamos acima da ceu um parâmetro de produção produtividade americana inclusiSe falarmos de milho, baseado produtividade no trave”, detalha o pesquisador. soja, frango, suínos, balho para definir quanto cada A pesquisadora Raquel Breileite, falamos de uma trabalhador contribui para o PIB tenbach atenta para o fato de produtividade bastante de seu país. Segundo o estudo, que nos últimos anos a produtisignificativa”. são necessários 4 trabalhadores vidade total dos fatores garantiu brasileiros para atingir o mesmo 80% do crescimento da agriculMarco Antonio Montoya Pesquisador da UPF nível de produção de um trabatura brasileira. Este incremento na produtividade se deve, espelhador americano na economia do país. Mas como será que esse dado se comporta cialmente, pelas inovações tecnológicas. O uso de se estudado apenas o agronegócio brasileiro? insumos explica os outros 20% do crescimento do setor. Investimentos em pesquisa e inovação estão fortemente ligados ao aumento da produtividade. Entendendo os dados A produtividade do trabalho na agricultura está Portanto, investimentos em pesquisa pública reverassociada diretamente ao tamanho da proprieda- tem em elevados retornos sobre a produtividade de rural, a tecnologia empregada, educação e valor total dos fatores. Montoya complementa a fala da pesquisadora agregado das atividades. Por isso, no Brasil a produtividade do trabalho da agricultura familiar, de explicando que a tecnologia foi a principal resmodo geral, é menor que em propriedades maiores. ponsável pelo incremento de produção do agroEspecialmente porque os dados do Censo Agrope- negócio nos últimos anos. “Isso se deve a novas cuário não fazem diferenciação entre agricultura fa- tecnologias, maior mecanização do setor, maior miliar tecnificada e não tecnificada. É o que explica grau de escolaridade porque quando falamos de a pesquisadora e professora do Instituto Federal de agricultura empresarial, estamos falando de um Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do indivíduo com grau de escolaridade universitáSul, o IFRS Agronegócio, Raquel Breitenbach, pois ria. E aí, repito: quando falamos da agricultura a especificidade de cada propriedade reflete um empresarial, aquela focada em exportação para o padrão de produção e pode ser medido. “O que se mercado exterior, estamos falando de patamares Maio e Junho - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº23
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da economia brasileira um ganho de produção que de produção superiores a produção americana”, permitiu menos necessidade de mão de obra de 10 complementa. pessoas. 110 milhões de pessoas estão trabalhando Segundo o levantamento feito pelo Departamenno Brasil hoje. 75 milhões de pessoas trabalham to de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA, em atividades gerais da economia e 31 milhões esnos últimos 42 anos a taxa anual de crescimento tão no agronegócio. Pouco mais de um terço dos da Produtividade Total dos Fatrabalhadores brasileiros. tores no Brasil foi de 3,43%, esNo agronegócio, no ano 2000, pecialmente pelo maior crescipara gerar 1 milhão de reais no mento da agricultura nas últimas PIB eram necessários 43,6 trabaduas décadas. Essa taxa alcança“Investimentos em lhadores. Hoje, em 2015/2016, da para a agricultura brasileira pesquisa e inovação são necessários 30,3 trabalhadoé considerada elevada, especialestão fortemente res para gerar o mesmo rendimente se comparado à taxa hisligados ao aumento da mento. Dentro da commoditie tórica nos Estados Unidos que é produtividade”. soja, no ano 2000, eram necesde 1,38% ao ano. Já se considerasários 56,2 trabalhadores para do o período 2007-2015, o cresRaquel Breitench gerar 1 milhão de PIB. E hoje cimento da PTF nos EUA foi de Pesquisadora do IFRS são necessários 29 trabalhadores. 0,53%. “Então, observando setores espeUm estudo coordenado pelo cíficos da produção brasileira, podemos dizer que pesquisador Marco Antonio Montoya revela a eso incremento de produção foi absurdo. Aqui falapecificidade do agronegócio na cadeia de produmos de quase 30 trabalhadores a menos envolvição brasileira. No ano 2000, para gerar 1 milhão de dos com soja necessários à produção em quase 20 reais no PIB eram necessários 43,6 trabalhadores. anos”, comenta o pesquisador sobre os dados de Hoje, em 2015/2016, são necessários 30,3 trabaseu estudo. lhadores para gerar o mesmo rendimento dentro 30 |
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Qualificação A pesquisadora Raquel Breitenbach chama a atenção para o número de trabalhadores que atuam na produção agrícola e como esse número é afetado pelas taxas de produção crescente. “A redução do pessoal ocupado na agricultura e da área plantada é outra tendência, uma vez que mão de obra e terra vem crescendo a taxas negativas. Em contrapartida, a produtividade destes fatores está crescendo em taxas altas. De 1975 a 2017, a produtividade do trabalho cresceu numa taxa anual de 4,23%, enquanto a produtividade da terra cresceu em 3,83% ao ano”, detalha a pesquisadora. A qualificação formal e informal e a maior adoção de instrumentos de trabalho são os principais responsáveis pelo crescimento da produtividade do trabalho das pessoas ocupadas na agricultura brasileira. O Censo Agropecuário de 2006 e 2007 mostram que as melhorias na qualificação do pessoal ocupado na agricultura vêm ocorrendo de forma lenta, o que indica que o aumento da utilização de equipamentos para o trabalho agrícola, como o uso de tratores e colheitadeiras, pode ter sido determinante. Se o incremento na qualificação ainda deixa a desejar no Brasil, é possível analisar esse dado como
uma oportunidade de maior crescimento da produtividade do trabalho no futuro a partir da melhoria desse indicador no campo. A pesquisadora deixa claro que a qualificação dos profissionais e o uso de tecnologia visando o aumento de produção do setor do agronegócio contribuem também para a melhora da qualidade de vida do trabalhador. “O maior acesso a informações ou qualificação contribui para o incremento da renda a partir da melhor utilização dos recursos disponíveis e maior produtividade da terra e do trabalho, além da obtenção de menores custos produtivos. As pesquisas também constaram que melhorias na saúde dos agricultores aumentam a produtividade do trabalho”. Segundo Raquel, a capacidade de produção do trabalhador está atrelada a uma série de fatores que independem de investimentos em infraestrutura e conhecimento. Elementos delimitadores do próprio setor agrícola. “Tendo em vista as particularidades da produção agropecuária, a qual é dependente de condições climáticas, a produtividade do trabalho é muito sensível a eventos da natureza. Portanto, períodos em que ocorreram situações climáticas que prejudicaram a produção podem resultar em menor produtividade do trabalho”, completa. Maio e Junho - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº23
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FOTO: DIVULGAÇÃO
PESTE SUÍNA
Preços da carne podem subir até 70% no segundo semestre Aumento das importações chinesas de proteína animal influenciará nos mercados dos grandes exportadores de carnes, como EUA, Brasil e EU Thaise Ribeiro*
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peste suína africana é um vírus altamente contagioso, sem cura conhecida e com uma taxa de sobrevivência quase nula para os porcos infectados. O cenário tem se agravado em grandes países produtores e consumidores como a China e isso tem gerado uma preocupação no mercado internacional. De acordo com estudos da Embrapa Suínos e Aves, a doença não acomete o homem, sendo exclusiva de suídeos domésticos e asselvajados (javalis e cruzamentos com suínos domésticos). 32 |
A peste suína começou a afetar a nação asiática em meados de 2018. Estima-se que entre 150 e 200 milhões de suínos já morreram no país desde então. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), elaborados pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a China é o maior produtor de carne de porco do mundo, com uma produção de 52 milhões de toneladas só no ano passado. Cada chinês consome cerca de 40 quilos do produto por ano, volume equivalente ao consumo per capita do brasileiro de carne de frango. Diante deste problema, uma das consequências é o aumento dos preços da carne, que poderão subir mais de 70% no segundo
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semestre deste ano. De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, os preços da carne suína irão subir, porém não na mesma proporção da redução de oferta interna do produto, pois também haverá uma maior demanda por outras carnes. Ainda, o aumento das importações chinesas de proteína animal terá influência nos mercados dos grandes exportadores de carnes, como EUA, Brasil e UE, pressionando para a subida de preços pagos ao produtor. No mercado global, a China ainda tem estoques, devido ao elevado abate de animais nos últimos meses, justamente em função da doença. Espera-se que no segundo semestre a redução destes estoques determine um aumento da demanda efetiva da China, elevando ainda mais os preços. Lopes ressalta que a carne suína norte americana é um dos itens que estão sendo taxados pela China, além da soja. Esta redução da produção chinesa pode interferir nesta negociação que ainda está pendente de uma definição. “Mesmo com a tarifa imposta pela China, os EUA têm aumentado os embarques e já demonstram alta dos preços atuais e do mercado futuro da carne suína, acrescenta o presidente da (ABCS)”. Além disso, a PSA já chegou ao Vietnã, outro grande produtor e a doença ainda não está controlada na China. Os desdobramentos ainda são imprevisíveis e é preciso cuidado com a biosseguridade nos demais países, incluindo o Brasil. De acordo com a diretora técnica da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Charli Ludtk, há risco de o Brasil ser contaminado com a Peste Suína Africana e, se isso acontecer, será difícil de eliminar, pois o vírus é resistente no ambiente e pode persistir também nos alimentos. Para os animais suspeitos de terem aderido a peste, a orientação da ABCS é procurar o Serviço Veterinário Oficial para a realização do diagnóstico e, havendo essa confirmação, a propriedade será interditada e os animais serão sacrificados. Ainda, é válido orientar que não é recomendado encaminhar os animais para o abate devido ao alto risco de disseminação da doença. Segundo Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, o setor vê com grande otimismo a forte elevação da demanda chinesa por proteínas. “Há boas expectativas quanto à
PREVENÇÃO Segundo Charli, adotar a redução dos fatores de riscos que possam ingressar o vírus é uma forma de prevenir a peste. Abaixo, alguns exemplos: F Ampliação de vigilância em portos e aeroportos, evitando que passageiros internacionais tragam alimentos de regiões que tenham focos da doença; F Destruição e adequado destino para o lixo de aeronaves e embarcações; F Estabelecer medidas de biosseguridade nas granjas; F Maior atenção ao cumprimento dos requisitos sanitários para importação de suínos vivos e material genético de países de risco; F Medidas de controle de javalis; F Conscientização dos profissionais que atuam em granjas e de produtores de suínos; F Notificação de casos suspeitos ao Serviço Veterinário Oficial; F Não alimentar suínos de subsistência com resíduos de alimentos; F Controle de roedores e moscas nas granjas; F Transporte de animais, (manter todos os controles e lavagem e desinfecção de caminhões e também cuidados os uniformes dos motoristas que circulam em diferentes granjas).
Segundo projeções do Rabobank, o impacto pode superar 30% da produção chinesa. A China é o maior produtor do mundo, com 52,5 milhões de toneladas em 2018. O quadro, portanto, pode superar o total do trade internacional, que é de 8,3 milhão de toneladas. Maio e Junho - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº23
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melhora do fluxo internacional, aos preços gerais e também aos custos de produção, com maior oferta de insumos”, afirma Turra. Desta forma, o quadro é bastante favorável ao setor produtivo em 2019. Ainda, Turra afirma que, com um mercado mais pressionado, é esperada a elevação de preços de produtos no mercado internacional. Isso porque o trade internacional é inferior à demanda global por proteína animal. “Os impactos não devem se restringir à carne suína. A carne de frango também deve ser favorecida, ocupando lacunas que serão abertas pela falta de carne suína, completa o presidente da ABPA”. Desta forma, há expectativa de que a carne de frango passe a ser a mais consumida no mundo, já em 2019. Para evitar que a PSA chegue ao Brasil, a ABPA fundou um Grupo Especial de Prevenção à Peste Suína Africana (GEPESA), que atuará em linha idêntica ao o Grupo Especial de Prevenção à Influenza Aviária (GEPIA). O foco principal está na avaliação de estratégias adotadas internamente e análise de erros e acertos cometidos por países que enfrentaram o problema, sob a perspectiva de atuação do setor privado. Ainda, a entidade aconselha que os produtores evitem a visita de estrangeiros ou visitantes de fora do sistema produtivo brasileiro em suas propriedades. Isso porque uma das formas de proliferação da Peste Suína Africana é pelas roupas e calçados, especialmente daqueles que trabalham diretamente no setor. Em relação às exportações brasileiras de carne suína (considerando todos os produtos, entre in natura e processados) totalizaram 58,1 mil toneladas em abril deste ano, informa a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O volume é 44,3% superior as 40,2 mil toneladas exportadas no mesmo período do ano passado. Em receita, houve incremento de 27,6%, com US$ 119,7 milhões no quarto mês neste ano, contra US$ 93,8 milhões em abril de 2018. No acumulado do ano (janeiro a abril) o setor exportou 215,7 mil toneladas, volume 10,29% superior as 195,5 mil toneladas embarcadas no primeiro quadrimestre do ano anterior. No mesmo período, a receita das exportações alcançou US$ 418,1 milhões, saldo 2,2% acima do alcançado no ano anterior, com US$ 409,2 milhões.
EXPORTAÇÕES ABRIL/2019 Volume em mil toneladas
China
15,9 Hong Kong
13,8 Uruguai
4,3 Rússia
3,9 Cingapura
2,9 Chile
2,9 Argentina
2,8 Georgia
2,6 Vietnã
1,2 Angola
1,1
*Com supervisão de Fernanda Custódio 34 |
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FOTO: DIVULGAÇÃO
DESTAQUE EMPRESAS OPINIÃO elmar@incia.com.br
Elmar Luiz Floss Engenheiro Agrônomo e licenciado em Ciências, Dr. em Agronomia, Diretor do Instituto Incia
Lições da safra de soja
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stamos chegando na reta final da colheita de mais uma safra de soja no Brasil e no Rio Grande do Sul. Impõe-se uma avaliação da mesma e a projeção da nova safra 2019/2020. Os dados ainda preliminares da Conab (abril de 2019) estimam, para o Brasil, uma área cultivada de 35.775,2 milhões/ha, produção de 113.823,4 milhões/t e rendimento de 3.162 kg/ha. Para o Rio Grande do Sul, a estimativa é de uma área cultivada de 5.777,5 milhões/ha, produção de 18.748,0 milhões/t (a segunda maior do Brasil) e rendimento médio de 3.245 kg/ha. A instabilidade climática (excesso de chuva numa época e falta em outra), reduziu o potencial de rendimento da soja na maioria dos grandes estados produtores, como Mato Grosso (primeiro produtor nacional), Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, e, na fronteira do Rio Grande do Sul. Excetuando-se os fatores climáticos, a presente safra deixou lições importantes, que devem ser consideradas no planejamento da próxima safra. Mesmo com adversidades climáticas, é possível colher mais, utilizando-se tecnologias de manejo da cultura, que minimizam seus efeitos. Destaco algumas dessas práticas: A escolha do cultivar de maior potencial de rendimento, para as condições de cada região edafo-climática, época de semeadura e nível de tecnologia utilizado, visando produtividade e estabilidade de produção.
O uso de sementes de alto vigor (acima de 80%), que garante uma germinação rápida, e uniforme, e, a obtenção de plântulas mais vigorosas, que enraízam mais, ramificam mais cedo, e toleram melhor os estresses abióticos e bióticos. O tratamento adequado das sementes com inseticidas e fungicidas, mediante o diagnóstico prévio das pragas e patógenos existentes no solo, e de patógenos nas sementes (análise de sanidade). A melhoria das propriedades físicas do solo, pela descompactação biológica por culturas de cobertura (densidade do solo inferior a 1,5 g/cm3 ou resistência a penetração menor que 3 MPascal) ou a descompactação mecânica, em níveis maiores de densidade, garantindo maior permeabilidade para o crescimento das raízes em profundidade e o maior armazenamento de ar (microporos ) e água (macroporos). A melhoria das propriedades químicas do solo, como pH entre 6 a 6,5 na camada 0-20 cm de profundidade, saturação de bases acima de 70%, bem como a correção na camada de 20-40 cm, mediante a aplicação de calcário em profundidade (associada a subsolagem) e/ou a utilização de gesso. A adubação equilibrada, com macro e micronutrientes, considerando a extração e a exportação de nutrientes para o nível de produtividade esperado, através do conjunto de práticas de manejo e a disponibilidade
de nutrientes no solo. Re-inoculação e co-inoculação de sementes ou aplicação no sulco de semeadura com, no mínimo, 3 doses de Bradyrhizobium e uma dose de Azzospirilum, associada a aplicação de molibdênio (1g para cada 60 kg de grãos produzidos) e cobalto, parcelando-se as aplicações via semente ou via sulco de semeadura, via foliar nos estádios de 3-4 folhas e florescimento (estádios R1/R2). Aplicação de bioreguladores/bioativadores no tratamento de sementes (acelerar o metabolismo da germinação e estimular o enraizamento, e/ ou no estádio 3-4 folhas (estimular o enraizamento e ramificação lateral), e/ou no florescimento (aumentar o pegamento de legumes/vagens nos estádios R3/R4); Controle rigoroso de plantas daninhas, pragas e, especialmente, de patógenos, ao longo de todo o ciclo da cultura, utilizando-se os produtos mais eficientes, associado ao uso de protetores, nutrição equilibrada (especialmente, Ca, K, Mn, Cu e Zn), de indutores de defesas e produtos biológicos, com a melhor tecnologia de aplicação. Essas práticas visam a obtenção de plantas com maior sistema radicular (maior eficiência na absorção de água e nutrientes), uma maior área foliar e duração da área foliar verde e sadia, maior teor de clorofila nas folhas) e com sanidade, visando maior produção de grãos por planta e uma maior massa individual de grãos.
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DESTAQUES
R$ 588,8 bilhões
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É O VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO (VBP) EM 2019 ESTIMADO PELO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (MAPA). O NÚMERO REPRESENTA UM CRESCIMENTO DE 0,8% EM RELAÇÃO AO ANO PASSADO, QUANDO O NÚMERO FICOU EM R$ 584,3 BILHÕES. AS LAVOURAS REPRESENTAM R$ 392,4 BILHÕES E A PECUÁRIA, R$ 196,4 BILHÕES. AS PREVISÕES INDICAM CRESCIMENTO DE 2,6% PARA A PECUÁRIA E ESTABILIDADE PARA AS LAVOURAS.
LEITE Em março, o preço do leite ao produtor registrou a terceira alta consecutiva, chegando a R$ 1,4784/litro na “Média Brasil” líquida, seis centavos acima do valor de fevereiro (ou elevação de 4,5%), segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Na comparação com março/18, o aumento é de 32,4% e, no acumulado deste primeiro trimestre, de 18,9%, ambas em termos reais (valores foram deflacionados pelo IPCA de fevereiro/19). O cenário é decorrente da menor oferta do produto no campo e pelo aumento da competição entre empresas para garantir a compra da matéria-prima.
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PERFIL DA MULHER NO AGRO Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 15 milhões de mulheres vivem na área rural, o que representa 47,5% da população residente no campo no Brasil. Entre as mais de 11 milhões de mulheres com mais de 15 anos de idade que viviam na área rural em 2015, pouco mais da metade (50,3%) eram economicamente ativas. De acordo com o último Censo Agropecuário do IBGE, quase 20% dos empreendimentos rurais do país são dirigidos por mulheres.
MÁQUINAS AGRÍCOLAS No Brasil, a venda de máquinas agrícolas e rodoviárias cresceu 7% em março em relação ao mesmo período do ano anterior. Ao todo, foram comercializadas 3,8 mil unidades. As informações foram divulgadas pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Já em comparação com o mês de fevereiro, o número representa um avanço de 31,6%. No mês anterior, foram comercializadas 2,9 mil unidades, ainda de acordo com o balanço da entidade.
MERCADO DE TRABALHO De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em movimento contrário ao observado no Brasil, em que a população ocupada (PO) no agronegócio tem se reduzido de forma significativa, especificamente no Centro-Oeste (aqui não foi considerado o Distrito Federal), o número de pessoas empregadas no setor aumentou 11,2% entre 2012 e 2018, totalizando 1,7 milhão em 2018. Dentre os segmentos que compõem o agronegócio na região, nota-se a expressiva contribuição da pecuária e da cadeia processadora de proteína animal e subprodutos.
ABATE NÃO FISCALIZADO
COLHEITA DA SOJA NO RS O projeto Desafios da Soja acompanhou o início da colheita de soja em uma propriedade do município de Sertão, no norte do Rio Grande do Sul, que está colhendo uma média de 90 sacas do grão por hectare. No Estado, a colheita da safra 2018/19 já está próxima do final. Ficou curioso e quer saber mais sobre o assunto? É só acessar o link e conferir todos os detalhes dessa reportagem no endereço: bit.ly/COLHEITASOJA
Um estudo realizado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/ USP, estima que o volume de animais abatidos no Brasil sem fiscalização em 2015 corresponde de 3,83% a 14,1% do total abatido. Para chegar a esses resultados, o Cepea considerou duas abordagens, a da demanda por carne bovina e a da oferta de animais “prontos” para o abate. Pelo lado da oferta, a estimativa nacional do total abatido sem qualquer tipo de inspeção foi de 14,1%, em 2015.
PLANO SAFRA 2019/2020
218 milhões É O TOTAL DE DOSES DE VACINAS CONTRA A FEBRE AFTOSA A SEREM DISTRIBUÍDAS NA PRIMEIRA ETAPA DA CAMPANHA, QUE INICIA EM MAIO. A PREVISÃO É DE IMUNIZAÇÃO DE 216,6 MILHÕES DE BOVINOS E 1,4 MILHÃO DE BUBALINOS. O ESTADO DE SANTA CATARINA É O ÚNICO QUE NÃO VACINA MAIS, POIS É CONSIDERADO LIVRE DA DOENÇA SEM VACINAÇÃO.
Durante a Agrishow 2019, o presidente Jair Bolsonaro anunciou R$ 1 bilhão para o Seguro Rural do Plano Safra 2019/2020, que será lançado no dia 12 de junho. Com o anúncio, a verba destinada ao Seguro Rural aumentará. Atualmente, é de R$ 440 milhões. O aumento nos recursos já vinha sendo defendido pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para resguardar os produtores em caso de prejuízos na safra, principalmente quando provocados por mudanças climáticas e, assim, atender a um número maior de beneficiários.
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#CAMPOEMDESTAQUE Pensando em valorizar nossos leitores, que nos mandam belas imagens do campo, a Destaque Rural selecionou algumas fotos para fazer parte desta edição da revista. Confira:
Em Passo Fundo /RS. De Jober Luiz Dalmás Linda registro do leitor Vilmar Bregalda, de Ibiaçá/RS
Colheita da soja em Caseiros/RS, enviada por Rosecler Abreu
A leitora Núbia Dall’Aglio, de Dom Pedrito/RS 38 |
Foto de Ana Paula Tumelero, de Caseiros/RS
Foto de Josiane Aguiar, de Ibiaçá/RS
Mais uma da Ana Paula Tumelero. Colheita em Caseiros/RS
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