ANO V NÚMERO 21 RIO GRANDE DO SUL JANEIRO | FEVEREIRO | 2019
INFORMAÇÃO COM PROPRIEDADE
REPLANTIO DA SOJA
O que tirou o sono dos produtores gaúchos na safra 2018/19 LEITE
ARROZ
SHOW RURAL COOPAVEL
Sustentabilidade e economia no mercado leiteiro
Safra marcada pelas irregularidades climáticas no RS
Feira deve movimentar R$ 2 bilhões em 2019
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EDITORIAL
Compromisso
#edição 21 #Ano V #Jan e Fev
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niciamos 2019 renovando o propósito de levar informação qualificada para a nossa audiência. Estar inserido nas regiões onde atuamos é fundamental, por isso, estamos presentes em regiões como Santa Catarina, Paraná e também no Centro Oeste. Um marco importante em nosso crescimento é a participação no 31º Show Rural Coopavel, com estrutura própria composta com estúdio para transmissão ao vivo e cobertura completa da feira, oferecendo a nossos clientes oportunidades de divulgar as soluções à produção agrícola, que são amplamente lançadas no evento. Desafios da Soja A safra gaúcha de 2018/2019 começou com algumas dificuldades, chuvas no período de semeadura causaram mortes de plântulas obrigando produtores a replantarem parte de suas áreas, e doenças, como Mofo Branco e Ferrugem Asiática, estão mais severas. O projeto Desafios da Soja chega a sua terceira edição acompanhando de perto esses problemas e, através de nossas pautas, apontando soluções. Nessa edição, por exemplo, trazemos na matéria de capa os desafios no manejo do tombamento da Soja e dessa forma seguiremos até a colheita da safra. Arroz e Leite A 21ª edição também aborda temas pertinentes a cultura do Arroz e da Pecuária Leiteira, estaremos cada vez mais próximos a esses mercados por sua importância econômica e social. São atividades que enfrentam nos últimos anos grandes desafios e contribuiremos para que juntos superemos as dificuldades. Contem conosco!
Editora Riograndense CNPJ 17.965.942/0001-07 Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Cacilda Becker, 30 Boqueirão Cep 99010-010 Diretor Leonardo Wink Jornalista Responsável Fernanda Custódio 66137/SP Jornalistas João Vicente Mello da Cruz Fernanda Custódio Estagiários Thaise Ribeiro William Mendes Projeto Gráfico Cássia Paula Colla Capa João Vicente Mello da Cruz Diagramação Ângela Prestes Colunistas Gilberto Cunha Elmar Luis Floss Raquel Breitenbach Impressão Gráfica Tapejarense Contatos leonardowink@destaquerural.com.br redacao@destaquerural.com.br (54) 3632 5485
Boa leitura! Leonardo Wink
Tiragem 8 mil exemplares
Diretor
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16 ÍNDICE
Safra em risco leite: produção mais econômica e sustentável
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milho safrinha: um parâmetro da cultura
gestão: do campo ao escritório, como chegar?
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entrevista: os desafios do cooperativismo no brasil
arroz: fortes chuvas prejudicam a safra no rs
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artigo: como se comportará o preço do dólar em 2019?
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FOTOS: JOÃO VICENTE MELLO DA CRUZ
LEITE
Sustentabilidade e economia no mercado leiteiro Uma produção sustentável pode ser sinônimo de lucratividade e respeito ao meio ambiente Redação Destaque Rural
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produção de leite é uma tarefa desafiadora que exige dos produtores a adoção de práticas sustentáveis para aprimorar o desenvolvimento do setor como, por exemplo, um sistema de produção rentável, que ofereça boas condições de trabalho e que seja eficaz do ponto de vista econômico e ambiental. 8 |
De acordo com o médico veterinário da Cotrijal, Marcos Rovani, o produtor deve agir pensando no futuro do rebanho e da atividade leiteira. A primeira orientação é planejar e construir uma gestão na propriedade. O planejamento, segundo ele, deve envolver todos os pilares da produção como a parte de finanças, de produção, de comercialização e também de organização interna. E quando o tema é sustentabilidade econômica o produtor rural Ezequiel Weber entende do assunto. Desde criança ele ajuda a família na produção de leite. “Nunca pensei em trabalhar em outro setor, eu gosto muito do que faço” afirma, orgulhoso. Morador do interior de Coqueiros do Sul, pequena cidade localizada na região noroeste do estado gaúcho, o jovem de 23 anos fez graduação em agronegócio para, junto com os pais, administrar a propriedade. Depois de formado, com auxílio de seu pai, Ezequiel alinhou a teoria da graduação com a prática leiteira e diversas
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decisões de gestão aconteceram. A sala de ordenha foi reformada de forma ideal para o manejo, uma pista de alimentação foi construída e, a partir disso, a alimentação que sobra passou a ser reaproveitada e foram instalados também ventiladores pensando no bem-estar animal. Investimentos que fizeram com que a maioria das vacas da propriedade produzissem, em média, 40 litros de leite por dia, sendo que antes a média era de 20 litros por dia.
A comissão mundial do meio ambiente e desenvolvimento da ONU define o conceito de desenvolvimento sustentável como “o desenvolvimento que atende as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações em atender suas próprias necessidades”.
Menos impacto no meio ambiente Uma propriedade rural sustentável atende a uma crescente preocupação, por conta do menor impacto que gera no meio ambiente. Assim, fica mais fácil encontrar melhores compradores para os produtos vendidos pelo próprio produtor. Mas, para isso acontecer, é necessário aderir a soluções que envolvam práticas favoráveis ao meio ambiente. O médico veterinário Marcos Rovani comenta algumas sugestões que podem auxiliar na questão ambiental. Entre elas está a importância de preservar as matas nativas. “Elas auxiliam no bem-estar animal, principalmente no verão. Se um animal vive em um ambiente confortável, ele vai se alimentar melhor e gerar mais leite”, comenta o especialista. Outra dica é o reaproveitamento da água da chuva que pode ter várias utilidades como, por exemplo, ser usada para limpeza da sala de ordenha e de galpões, reduzindo assim os custos financeiros. E, por fim, o que muitos produtores já fazem - que é utilizar os dejetos como adubo, evitando poluição em águas. Na propriedade do pecuarista Euclésio Weber esse conjunto de ações ambientais é colocado em prática. Além disso, ele mesmo cultiva a maior parte da alimentação dos animais, garantindo nutrientes eficientes para o leite que irá ser vendido. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), os desafios para o futuro são inúmeros e alimentar a população estimada em 9 bilhões de pessoas em 2050 e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente é a grande missão da agricultura. Desta forma, quanto mais os produtores optarem por uma produção sustentável, menos irão comprometer a capacidade de produção das futuras gerações.
Alimentar a população estimada em 9 bilhões de pessoas em 2050 e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente é o grande desafio da agricultura.
A preservação da mata nativa beneficia o bem estar animal
Ezequiel Weber, produtor rural, com os pais Euclésio Weber e Rosane Marlise Weber Janeiro e Fevereiro - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº21
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DESTAQUE EMPRESAS OPINIÃO
Raquel Breitenbach
raquel.breitenbach@sertao.ifrs.edu.br
Doutora em Extensão Rural, Professora e Pesquisadora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia/RS
O futuro incerto do cooperativismo agropecuário
A
s cooperativas agropecuárias têm como princípio desempenhar papel social, diminuir a pobreza e melhorar a qualidade de vida dos cooperados, promovendo a inclusão social e produtiva. Especialmente para os agricultores familiares, a organização em cooperativas é uma forma de melhorar a competitividade. No Brasil, a Lei federal nº 5.764/1971, regulamenta as cooperativas e estabelece sete princípios cooperativistas fundamentais: 1 - Adesão voluntária e livre; 2 - Gestão democrática pelos associados; 3 - Participação econômica dos associados; 4 - Autonomia e independência; 5 - Educação, formação e informação; 6 – Intercooperação; 7 - Compromisso com a comunidade. Uma das principais dificuldades do cooperativismo na atualidade é conseguir gerar mudança social ao mesmo tempo em que precisa ser competitivo no mercado. O cooperativismo tradicional enfrenta dificuldades como: a) construir a ideia de bem comum numa sociedade que estimula a individualidade e o desejo de posse; b) complexidade da autogestão; c) fazer com que o crescimento da cooperativa não a faça perder a concepção fundamental, conservando a sua natureza social. O que questionamos é se, diante deste cenário de competitividade do agronegócio brasileiro, os agricultores familiares do Rio Grande do Sul estão satisfeitos com o desempenho das cooperativas agropecuárias? Inicialmente podemos afirmar que os cooperados estão satisfeitos com a atuação das cooperativas e com os impactos positivos do vínculo cooperativo. Porém, a percepção sobre as vantagens do cooperativismo pelo associado está relacionada ao retorno financeiro. O 10 |
cooperado gaúcho considera que as cooperativas proporcionam benefícios mais econômicos do que sociais. Ainda, eles apontam que as cooperativas se assemelham com empresas privadas mercantis e, por isso, consideram o vínculo cooperativo como possivelmente dispensável. Consideramos a necessidade imediata de reflexão acerca do papel das cooperativas na atualidade, já que o cooperado constrói um modelo de cooperativismo com base em seus interesses e não apoiados na doutrina do cooperativismo. Adicionado a isso, o cooperado afirma desconhecer as informações referentes às cooperativas de que é sócio. A baixa participação dos associados nas decisões das cooperativas aponta para o pouco esforço da direção e gerência em envolvê-los e responsabilizá-los pela organização. Mas é causada também, pela sua própria ‘auto isenção’ na participação em reuniões e assembleias. Isso indica o desinteresse em visualizar a organização como sua propriedade, adotando a lógica de que ao não opinar e se envolver, também não se responsabilizam pelo que acontece. Isso ocorre já que o cooperado busca na cooperação meios de satisfazer interesses individuais e econômicos e não reconhece as ações sociais com o mesmo nível de importância daquelas para melhorias econômicas. Isso orienta também os atos das cooperativas no sentido mais econômico do que social, desvirtuando o cooperativismo de seus princípios e objetivos básicos. Se essas observações forem consideradas para uma análise do cenário atual do cooperativismo gaúcho, arriscamos em mapear um panorama pessimista. Complementar a isso, ao se identificar os principais problemas na gestão das coopera-
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tivas agropecuárias no Rio Grande do Sul, percebe-se um cenário incerto quanto ao futuro, caso elas mantenham as configurações atuais. Destaca-se como principais problemas de gestão destas organizações: a) Necessitam adaptar os processos gerenciais para competir no mercado com outras empresas do setor, as quais visam o lucro; b) Pela exigência estatutária de sua constituição e pela dualidade das ações cooperativas, as equipes diretivas das cooperativas nem sempre estão preparadas para competir com mercados oligopolizados, necessitando profissionalização ou apoio consultivo externo; Por fim, destaca-se que existe um cenário contrastante no cooperativismo agropecuário: ao mesmo tempo em que existe a necessidade da profissionalização da gestão como saída para as cooperativas tornarem-se competitivas, também é imprescindível que o cooperativismo priorize a participação dos sócios. Ou seja, equacionar a tomada de decisões rápidas com a democracia das decisões e ampla discussão é difícil, ainda mais se essa democratização vai contra o próprio interesse e disposição dos associados, os quais muitas vezes se isentam de participar. Para mudar esse cenário, algumas cooperativas vêm sugerindo estratégias de fidelização do cooperado, para aumentar a utilização de seus serviços e a participação na governança da organização. A gestão participativa resgata a confiança do associado com a gerência e aumenta as chances de sucesso pela maior transparência. ¹ Este texto tem como base resultados de pesquisas conduzidas com agricultores familiares cooperados e cooperativas agropecuárias do Rio Grande do Sul. Ao todo, o estudo envolveu cerca de 15 cooperativas agropecuárias e 500 agricultores familiares cooperados.
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MANEJO MEMÓRIA
Milho safrinha: um parâmetro da cultura Cerca de 70% do milho produzido no país é cultivado na safrinha Redação Destaque Rural
O
milho cultivado na segunda safra, a cada ano, apresenta um crescimento expressivo no Brasil. De acordo com o engenheiro agrônomo e professor da Universidade Estadual de Maringá, Tadeu Inoue, em 1988 foram plantados 665 mil hectares, já neste ano a estimativa é de que 11,5 milhões de hectares sejam cultivados com a cultura.
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Ainda, segundo o especialista, a maior região produtora é o Centro-Oeste com cerca de 7,5 milhões de hectares, seguido da região Sul com 2,1 milhões. Já a produtividade segue a mesma tendência com o Centro-Oeste tendo média de 5,9 toneladas por hectare, seguido do Sul com a estimativa média de 5,5 toneladas por hectare. Mas, para que bons resultados sejam colhidos nos campos, o engenheiro agrônomo, especialista em nutrição de plantas, Marco Aurélio dos Santos, destaca que os
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produtores rurais devem ficar atentos com pragas agrícolas sazonais. Pragas como percevejos e corós devem ser monitoradas ainda no início do desenvolvimento da planta. A partir disso, ele orienta que o produtor preste atenção, principalmente, nas lagartas, pois existem vários tipos que podem danificar a cultura durante todo o seu ciclo. “A lagarta rosca pode causar danos desde a semeadura até a fase vegetativa, logo após, a lagarta do cartucho aparece podendo causar danos, principalmente, no momento do espigamento”, explica. No caso das doenças, as atenções devem estar voltadas para a Cercosporiose, Mancha Branca, Ferrugem Polisora, Ferrugem Tropical, Helmintosporiose e Mancha de Bipolaris Maydis. Segundo Marco o ideal é que seja feito um monitoramento da cultura para avaliar a aplicação preventiva ou curativa de defensivos agrícolas para o controle dessas pragas e doenças. Além disso, a escolha do híbrido correto, da nutrição eficiente e práticas de manejo como semeadura e tratos culturais são o alicerce para construir um bom potencial produtivo. As condições climáticas também podem danificar a
cultura. De acordo com o engenheiro agrônomo Tadeu, o milho exige, em termos de radiação, temperaturas e condições hídricas para expressar todo seu potencial de rendimento. Assim, a alternativa para reduzir esses problemas ocasionados pelas irregularidades climáticas seria realizar a semeadura o mais cedo possível. No Paraná, por exemplo, o ideal é semear até a segunda quinzena de fevereiro. Já para o controle de patógenos um maior trabalho de acompanhamento das lavouras, realização de diagnósticos do manejo correto, contando com a adesão por parte dos produtores, podem contribuir na rentabilidade da cultura.
Solo: a principal ferramenta de manejo A cultura do milho no Brasil vem passando por importantes mudanças tecnológicas, resultando em aumentos significativos de produtividade. Por isso, destaca-se a necessidade da manutenção para manter a qualidade dos solos. Para Marco, um manejo adequado inclui uma série de operações básicas e necessárias para conduzir a cultura e as operações adicionas de correções de melhorias.
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“No primeiro caso, encontram-se as operações de preparo inicial do solo, no sistema de plantio convencional, ou o sistema de plantio direto e a adubação adequada do milho. No segundo caso, sobre as operações adicionais de correções e melhorias, encontram-se, dentre outras práticas, a rotação de culturas e o manejo da fertilidade, através da calagem e da adubação verde”, explica. Tadeu ainda comenta que as condições climáticas do período da segunda safra não são as mais adequadas no que diz respeito à disponibilidade de água no solo. Desta forma, o manejo correto físico e químico do solo é importante, pois a partir dele o sistema radicular conseguirá se desenvolver em profundidade, fazendo com que a planta fique menos susceptível ao déficit hídrico comum neste período de cultivo. “Temos que realizar um bom manejo físico e químico do solo evitando que o mesmo se apresente compactado, com baixa fertilidade, tanto na superfície quanto em subsuperfície.”
Por que investir em milho safrinha? De acordo com dados de 2018 da Conab, cerca de 70% do milho produzido no país são cultivados na segunda safra, logo após a colheita da soja. “Apesar de o milho safrinha ser uma cultura de risco o investimento deve ser sempre realizado pensando-se no melhor retorno possível para as condições do ambiente, ou seja, o nível de investimento deve ser sempre estudado conforme as previsões climáticas e de mercado para que não haja nenhuma frustação no final da lavoura”, afirma Tadeu. Assim as orientações são: fazer um investimento mínimo na cultura, começando com a compra do material mais O nível de adaptado em sua região de cultivo, um investimento manejo adequado do solo para o fornedeve ser cimento das quantidades necessárias de sempre nutrientes para as plantas e um controle estudado de plantas daninhas, insetos e patógenos. conforme as Além disso, é importante observarmos previsões que existem diferenças de produção e climáticas e de plantio entre as regiões do Brasil. O sul, mercado”. por exemplo, apresenta uma área menor e as condições ambientais não são as Tadeu Inoue Engenheiro agrônomo melhores, há grandes riscos de perdas devido a veranicos e geadas. Já as condições no centro-oeste permanecem boas durante a fase de estabelecimento da lavoura, tendo como principal limitação à ocorrência de veranicos da metade para o final do ciclo. Desta forma, quando o produtor consegue adiantar essa semeadura a cultura consegue ter um rendimento melhor no final, finaliza Tadeu. Assim, com planejamento, é possível conquistar altas produtividades e lucrar com o milho safrinha. 14 |
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CT& Bio
Gilberto Cunha
gilberto.cunha@embrapa.br
Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo
Eficiência, Substituição e Redesenho
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ndiscutível o papel da Revolução Verde na elevação da produtividade e da produção agrícola mundial; contribuindo para oferta sem precedentes de alimentos na história da humanidade. Foi primando pela escolha de novas variedades de plantas e raças melhoradas de animais, uso intensivo de fertilizantes químicos e pesticidas industrializados, irrigação e mecanização agrícola; que, indiferente ao crescimento da população mundial, para cada habitante do planeta Terra, a disponibilidade de alimentos, na atualidade, chegou a 1,5 vezes a quantidade que havia no começo dos anos 1960. Assim, ainda que tenha trazido prosperidade econômica e, pelo lado da oferta, eliminado a fome no mundo (a fome que existe hoje se deve à limitação de acesso aos alimentos por falta de renda ou, se preferirem, por pobreza), essa intervenção tecnológica e a intensificação na produção agrícola também nos deixou como legado um passivo ambiental de vulto, que, por diversas razões, não pode mais ser ignorado ou, como preferem alguns, simplesmente negado. Por sorte, há solução! E o caminho que emerge para o mundo continuar produzindo alimentos, fibras, energias renováveis etc., frente à demanda em expansão e um cenário de escassez de terras agricultáveis e de oferta de água, é o mesmo que foi tomado no início da segunda metade do século passado: a intensificação, pela via tecnológica, da produção. O diferencial é que, a essa nova proposta de intensificação, sobrepõe-se o adjetivo sustentável. A intensificação sustentável, que ora se propõe em agricultura, envolve produzir mais, na mesma área de terra, sem custos adicionais impeditivos e, preferencialmente, não causando danos e, mais do que
isso, trazendo ganhos aos bens e serviços ambientais. Esse é o apelo! A transição da intensificação convencional, em geral praticada pelo uso de mais insumos, para a intensificação sustentável em agricultura, exige que estágios sejam cumpridos. E esses ditos estágios, que não são lineares, podem ser resumidos em três palavras: eficiência, substituição e redesenho. Eficiência, que implica em fazer melhor uso dos recursos (terra, capital e trabalho) por unidade produzida, não se questiona. Cada vez mais deve ser merecedora de atenção. A substituição de
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O caminho que emerge para o mundo continuar produzindo alimentos, fibras, energias renováveis etc., frente à demanda em expansão e um cenário de escassez de terras agricultáveis e de oferta de água, é o mesmo que foi tomado no início da segunda metade do século passado: a intensificação, pela via tecnológica, da produção.
insumos (cultivares/raças, fertilizantes, agrotóxicos, etc.), práticas e processos de produção motivada pela destruição criativa da inovação tecnológica, especialmente quando traz ganhos associados, também não pode ser perdida de vista. Mas, eficiência e substituição apenas, ainda que imprescindíveis, podem não ser suficientes para garantir ganhos em rendimento nos sistemas de produção agrícola e, ao mesmo tempo, trazerem benefícios ao ambiente, especialmente quando se olha para as chamadas externalidades. Mais além dos meros incrementos em ganhos, facultados pela eficiência e substituição, a intensificação sustentável, pode, pelo seu caráter transformativo, que inclui particularidades sociais e institucionais, exigir o redesenho dos sistemas agrícolas produtivos. Entenda-se que intensificação sustentável em agricultura, da forma que está sendo apresentada, é um conceito aberto. Enfatiza resultados, mais do que meios. Não predetermina uma tecnologia ou tipo de produção. Nem se alvoroça, pelo caráter dinâmico da atividade, a pregar a existência de um sistema único e perfeito que dure para sempre e seja aplicável para todas as situações. No redesenho dos nossos sistemas agrícolas produtivos, pode ser essencial favorecer processos ecológicos que, uma vez maximizando a biodiversidade e envolvendo ações de predação, parasitismo, alelopatia, fixação biológica de nitrogênio, etc., venham a contribuir para a redução do consumo mundial de pesticidas sintéticos, que anda ao redor de 3,5 bilhões de kg de ingredientes ativos ao ano (Jules Pretty, Science 362, nov. 2018. DOI:10.1126/science.eaav0294), evitar o cultivo de mais terras e melhorar o desempenho dos serviços ambientais.
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CAPA
Safra em risco Tombamento vai diminuir rendimentos da soja no Rio Grande do Sul
João Vicente Mello da Cruz
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ogo no início da safra de soja no estado do Rio Grande do Sul, produtores de soja e engenheiros agrônomos foram surpreendidos pelos recorrentes problemas com o estabelecimento de plântulas devido ao efeito dumping-off ou tombamento de plântulas. Diante das condições chuvosas que o clima apresentou logo após a semeadura da soja, seguido de baixas temperaturas durante as noites, fungos presentes no solo encontraram condições favoráveis para a infestação da doença. As plântulas recém-emergidas do solo adoeceram apresentando uma podridão escura na base do caulículo que “estrangula” o desenvolvimento vegetativo e causa, então, o tombamento. Os micro-organismos causadores do tombamento sobrevivem no solo se alimentando de restos culturais de safras passadas e contaminam a soja se locomovendo através de água abundante durante as chuvas. O principal fungo identificado como causador do tombamento
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da soja no Rio Grande do Sul foi a fitóftora.
Replantio O produtor rural de Lagoão/RS, Rudinei Erpen, planta ao todo 1.100 hectares de soja, dos quais, em torno de 90 hectares tiveram que ser replantados, o equivalente a 9% da área. E o custo médio de replante ficou em R$ 500,00 por hectare na região, mas esse é um custo que pode apresentar variações dependendo da localidade dentro do Estado. O produtor rural e técnico em agropecuária reforça que a doença já havia trazido preocupações e perdas na safra 2017/18. “Nós fomos atrás de soluções. Para a safra atual, investimos em tratamento de sementes, variedades resistentes à fitóftora, mas mesmo assim não deixamos de ter perdas de produtividade ou áreas de replantio”, explica. Além do custo, a doença também impactará o rendimento das lavouras de soja no Estado nesta safra. Segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), reportado no mês de janeiro, a produtividade média da soja deverá ficar próxima de
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3.235 quilos por hectare, acima do registrado no ciclo passado, de 3.013 quilos por hectare. “Ainda não sabemos ao certo quanto iremos colher, mas a expectativa é de queda na produtividade tanto nas áreas replantadas, quanto nas outras que também sofreram com as chuvas excessivas. Não teremos uma supersafra e, possivelmente, na nossa região, o rendimento deverá ficar próximo ao observado em 2018, quando tivemos perdas em variedades tardias devido à ausência de chuvas”, pondera Erpen. Em Tupanciretã, maior cidade produtora de soja no estado, o cenário é semelhante. A área semeada com o grão ficou em 149,1 mil hectares nesta safra e a perspectiva é de uma quebra em torno de 10% a 15% na produtividade. A projeção é que sejam colhidas, em média, entre 45 a 46 sacas por hectare, abaixo das 50,5 sacas colhidas na temporada passada, conforme destaca o produtor rural e Coordenador do Núcleo da Aprosoja de Tupanciretã, José Domingos Lemos Teixeira. Na região, o custo do replantio ficou entre 4 a 4,5 sacas da oleaginosa por hectare. “Tivemos que dessecar a soja que sobrou, tratar as sementes, realizar a ressemeadura e temos o custo operacional também. E não sabemos se teremos lucro nas áreas replantadas, tudo irá depender do comportamento do mercado. Nessas áreas, a soja está pequena, não dará uma resposta forte de produção”, diz Teixeira. Em meio às incertezas em relação à lucratividade na safra de verão, Teixeira salienta que a cultura do trigo deverá ganhar espaço. “Isso para recuperar o faturamento que a soja deixará de ter nesta safra”, ratifica. Na visão do produtor de Lagoão, “essa é uma doença muito preocupante para os próximos anos de plantio no Estado”.
FOTOS: JOÃO VICENTE MELLO DA CRUZ
Vários fatores são avaliados para se definir a necessidade do replantio: o tipo de solo, a variedade de soja plantada, o número de plantas que restaram por m².
O fungo fitóftora ataca as plântulas em desenvolvimento, estrangulando o caulículo e causando o tombamento precoce.
Escape Muitos questionamentos ainda seguirão sobre a semeadura em áreas onde ainda permanece o inóculo do fungo para a próxima safra e também sobre a época ideal de semeadura. Para a fitopatologista do Instituto Phytus, Mônica Debortolli, o produtor deve fugir de uma época com a presença de instabilidade do clima favorecendo chuvas fortes durante a semeadura, um manejo de escape. “Nós devemos buscar uma época de semeadura que não tenha essa conjuntura. O ideal é um pós-semeadura com períodos de sol sem umidade no solo para que a planta possa emergir”. Segundo a pesquisadora, a falta de luz faz com que a velocidade de emergência das plântulas seja menor e isso favorece muito esse tipo de fungo. 18 |
O tombamento vai prejudicar o estabelecimento do estande da lavoura.
Solo compactado e fortes chuvas podem contribuir para o tombamento de plântulas recém-emergidas.
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Rotação de culturas A fitoftótora permanece durante décadas no solo, sobrevivendo através de suas estruturas de dormência que a permitem ficar à espera de um hospedeiro ideal para infectar. “Quando o produtor coloca a semente nos solo para germinar, essa semente libera substâncias que são detectadas por esse fungo que forma esporos especializados para atacar a soja”, explica o fitopatologista e pesquisador, Carlos Alberto Forcelini. A condição que favorece a infecção é a água. As chuvas recorrentes e em grande volume deram ao fungo a mobilidade necessária para atacar as plântulas em desenvolvimento. “O fungo ao encontrar condições favoráveis ao seu desenvolvimento, acaba criando estruturas especializadas para se locomover, chamadas flagelos. E se tem água no solo ele é muito ativo. Se não tem água no solo ele não vai conseguir fazer a infecção da planta”. O pesquisador ainda explica que a compactação encontrada em muitas áreas acaba favorecendo o encharcamento do solo e o acúmulo de água. “O problema não está na semente, está no solo”. Mesmo a fitóftora sendo um fungo que atinge predominantemente a soja, ele consegue sobreviver anos em dormência. No caso, a ausência de hospedeiro não o eliminaria completamente. Porém, a rotação de culturas diferentes pode trazer um benefício para o estabelecimento das raízes das plântulas de soja em um solo 20 |
menos compactado. Logo, em uma situação de chuvas e contaminação pelo fungo, a cultura conseguiria se fixar e sofrer menos os efeitos da doença.
Prevenir é a melhor solução Segundo o pesquisador Luiz Gustavo Floss, a rotação de culturas traz benefícios inegáveis à cultura da soja e também poderia prevenir a infecção de muitas áreas por fitóftora. Mas, segundo ele “não adianta chorar pelo leite derramado”. Para o pesquisador, as áreas que sofreram com o mau estabelecimento de estande irão precisar de um incremento de produção alcançado através de estímulos específicos na soja. “Nas fases iniciais, entre os estádios V2 e V4, quando as plântulas estão entre 1 e 3 trifólios, é que deve ser estimulada a produção de ramos laterais nas plantas, gerando novas axilas onde haverá a produção de vagens e, consequentemente, o incremento na produção”. O manejo com bioestimulantes é capaz de favorecer a formação de galhos laterais nas plantas de soja, dando um ganho maior na produção de vagens. “Produtos a base de hormônios sintéticos, chamados de bioestimulantes, ou produtos à base de estratos de algas, que possuem também esses hormônios e uma série da ácidos orgânicos e aminoácidos, podem ter uma ação na planta que vai favorecer a formação de mais axilas nas fases iniciais”, responde o pesquisador.
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DESTAQUE EMPRESAS OPINIÃO elmar@grupofloss.com
Elmar Luiz Floss Engenheiro Agrônomo e licenciado em Ciências, Dr. em Agronomia, Diretor do Instituto Incia
Gestão técnica e financeira da propriedade
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ma boa propriedade agrícola é aquela que apresenta aumento crescente da produtividade/ rendimento, com rentabilidade e sustentabilidade. Mesmo com o aumento do rendimento da soja observado nos últimos anos, ainda está muito aquém da potencialidade dos cultivares e das condições de solo e clima existentes. Na “gestão técnica” da propriedade, para aumentar o rendimento é necessária a melhoria permanente das propriedades físicas (descompactação do solo e aumento da capacidade de armazenamento de água e ar), propriedades químicas (correção do pH, aumento da saturação de bases, matéria orgânica e disponibilidade de nutrientes) e propriedades biológicas (aumento dos microrganismos benéficos e supressão dos patógenos) do solo (“o maior patrimônio dos produtores”). Também é indispensável a utilização das modernas tecnologias de manejo da cultura: utilização de cultivares de maior potencial de rendimento e adaptadas às diferentes condições de solo, clima e época de semeadura; uso de sementes com vigor e não meramente pelo poder germinativo; qualidade da semeadura (época, profundidade e distribuição espacial); nutrição/adubação racional (em função do rendimento esperado naquelas condições de solo e
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Uma boa gestão técnica e financeira deve levar em conta os riscos inerentes à atividade. clima) e equilibrada, com macro e micronutrientes, e um controle rigoroso de plantas daninhas, pragas e moléstias (uso dos produtos mais eficientes, dose adequada e com a melhor tecnologia de aplicação). A rentabilidade está na dependência dos maiores rendimentos, do controle dos custos de produção e investimentos, e da maior eficiência na comercialização. Quanto a gestão administrativo/ financeira da propriedade é preocupante o crescente endividamento dos produtores, pela aquisição de máquinas e equipamentos (muitas vezes desnecessários, superdimensionados para o tamanho da propriedade e com custos acima da capacidade de pagamento), pela aquisição de terras (cada vez mais caras) ou pelo aumento exagerado das despesas pessoais. Também é preocupante o valor pago pelos produtores no arrendamento de terras, especialmente em regiões com
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altas probabilidades de problemas climáticos, causando frequentes frustrações de safra. Os investimentos são realizados com a expectativa de colheita cheia e preços altos da soja, a cada safra. O maior erro de um produtor é economizar no custeio (uso de cultivares de menor potencial de rendimento, uso de sementes de baixa qualidade, adubação abaixo das necessidades da cultura, sub-doses de herbicidas, inseticidas e fungicidas, dentre outras práticas) devido às dívidas por investimentos (círculo vicioso que leva a inviabilização da atividade). Para pagar dívidas de investimentos, há necessidade da aplicação das melhores tecnologias disponíveis, para aumentar o rendimento e por consequência a rentabilidade e, assim, pagar as dívidas. Uma boa gestão técnica e financeira deve levar em conta os riscos inerentes à atividade. A lavoura é uma indústria a “céu aberto”, portanto sujeita aos riscos climáticos e também aos riscos sanitários. Os gastos com o controle de plantas daninhas, pragas e moléstias é cada vez mais alto, já sendo o maior custo da produção da soja. E ainda temos os riscos de mercado. E os fatores de mercado e climáticos não dependem dos produtores, mas podem ser amenizados através de uma boa gestão técnica e financeira.
#CAMPOEMDESTAQUE Pensando em valorizar nossos leitores, que nos mandam belas imagens do campo, a Destaque Rural selecionou algumas fotos para fazer parte desta edição da revista. Confira:
Adriel Avila Foguesatto - Ajuricaba - RS
Altamir Erkmann - São Vicente do Sul - RS
Almir Chaves - Caseiros - RS
Cleison Zenere - Muitos Capoes - RS
Edinéia Germiniani - Tapera -RS
Evandro de Lorena - Espumoso - RS (2)
Greice Minotto - Lagoa Vermelha - RS
Edivan Bregalda - Ibiaça - RS
João Vitor Biazutti - Sananduva - RS Janeiro e Fevereiro - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº21
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FOTO: DIVULGAÇÃO
GESTÃO
Gestão que fortalece o agro O caminho do campo ao escritório passa pelo planejamento Redação Destaque Rural
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rande parte das empresas de agronegócio do país tem início com uma gestão familiar. E a falta de orientação especializada pode desencadear problemas no crescimento da empresa, pois sem auxílio de um profissional as dificuldades de visão estratégica de mercado aumentam. A gestão no agronegócio é responsável por trazer decisões assertivas para melhor posicionamento de mercado e principalmente melhor atendimento às exigências da demanda. A grande dificuldade encontrada pelo produtor é definir a gestão, como sair do campo e ir para o escritório? A solução é simples: planejamento. Assim como toda empresa é necessário colocar os planos no papel e 24 |
executá-los, analisar os recursos financeiros, materiais e humanos, buscando sempre resultados positivos. Assim como qualquer empresa, uma empresa rural precisa de ferramentas gerenciais simples e aplicáveis à sua realidade. Não existem dúvidas de que o futuro de uma empresa esteja ligado à forma de gestão inteligente, superando as dificuldades. O engenheiro agrônomo e mestre em gestão empresarial, Giandrei Basso, fala sobre os desafios na transição de uma gestão familiar para uma gestão empresarial. “As dificuldades na hora de ingressar no ramo empresarial passam pela questão de ter uma cabeça aberta. Para você sair de uma gestão familiar de uma propriedade para começar a gerir uma empresa rural será preciso que você quebre alguns paradigmas”. A solução é o produtor sair para buscar conheci-
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mento em gestão de processos, gestão financeira, gestão de pessoas e gestão tributária da propriedade rural. “O planejamento tributário hoje é de extrema importância para o negócio, o produtor paga muito imposto, mas com planejamento tributário ele poderia reinvestir grande parte desse valor dentro de sua propriedade, ou seja, muito dinheiro escorrendo entre os dedos das mãos”. explica Basso. Não há dúvidas de que o futuro de uma empresa está diretamente ligado às formas como os gestores lidam e superam as dificuldades cotidianas. E no ramo do agronegócio não é diferente.
Tecnologia no campo
é perceptível verificar hoje uma facilidade muito maior nas propriedades onde está ocorrendo a sucessão familiar, onde o filho sai para estudar, fazendo uma graduação ou especialização e retorna para a propriedade trazendo conhecimento e aplicando uma gestão mais profissional.
Cursos e profissionalizações
Os cursos de gestão no agronegócio auxiliam quem deseja profissionalizar ainda mais o trabalho na propriedade. Na Universidade de Passo Fundo, por exemplo, o curso de Gestão no Agronegócio tem como objetivo ensinar o aluno a trabalhar com ferramentas adequadas que auxiliam a administração da empresa, desde o planejamento da safra, até os custos envolvidos no processo da produAs dificuldades na ção. O aluno desenvolve a capacidahora de ingressar no de de planejamento estratégico para ramo empresarial se tornar um profissional adequado passam pela questão para superar os desafios de gerir uma de ter uma cabeça empresa. O profissional pode atuar aberta. Para você como gestor e analista de empresas sair de uma gestão agroindustriais, produções agrícolas, familiar de uma gestor de varejo de alimentos, nas orpropriedade para ganizações rurais, consultorias ou incomeçar a gerir vestir na propriedade familiar transuma empresa rural formando-a em uma empresa rural.
Influências tecnológicas voltadas para a agricultura induzem o agricultor a sair do sistema operacional da propriedade e avançar em direção a uma gestão estratégica, onde ele analisa dados para tomar decisões e realiza ações em relação às informações que recebe. “Um exemplo hoje é o cruzamento de dados fornecidos pelas máquinas, e em cima disso você toma uma decisão muito mais assertiva do que se via anos atrás.” diz Basso. Além disso, o especialista reforça que o uso de drones a favor da agricultura, será preciso que fornecendo dados que unidos aos dos você quebre alguns maquinários faz com que o produtor Futuro da Agricultura tenha um papel mais analítico e tome paradigmas”. A agricultura está em constante decisões mais assertivas gerando um mudança e as novas tecnologias têm Giandrei Basso Mestre em gestão empresarial aumento de resultados positivos. ajudado no avanço do setor. A ten“Tudo vem somando para que tenhadência para a agricultura do futuro mos um ganho, um crescimento de é que o produtor cada vez mais saia produtividade. Com isso, as médias estão subindo devido do operacional e vá para o estratégico. “Ele terá na sua ao uso dessas tecnologias, que conseguem cruzar dados e propriedade cada vez mais sensores, máquinas autônos dar informações mais assertivas nas nossas decisões”, nomas, drones sobrevoando e gerando mapas, e terá conclui Basso. que fazer a leitura dessas informações, analisar esses dados e tomar decisões em cima do que foi gerado” Gestão e a nova geração afirma Basso. A troca de gerações é sempre um desafio e merece atenA agricultura do futuro vai passar por esses movimenção redobrada. “Hoje na agricultura você está contratantos em que os desafios não serão apenas as novas tecnodo jovens para trabalhar, e você gerir alguém da geração logias, mas também a gestão de pessoas mais jovens no babyboomer - nascidos entre a metade da década de 1940 ramo agrícola, pessoas com conteúdo teórico que retoraté a metade da década de 1960 - ou X é diferente de você nam para o campo e o produtor vai precisar se adaptar gerir uma geração Y ou Z, onde você precisa saber como para permanecer dentro da atividade. Outro ponto para é que irá fazer para motivar aquele colaborador para que evoluir no futuro, é que o produtor deve estar mais atento ele desempenhe com afinco as atividades e queira cresna questão tributária na sua propriedade, através de um cer dentro da empresa”. É fundamental que o produtor planejamento, organizar a sua propriedade para que ela busque esse conhecimento, é um choque de realidade e possa ter o melhor desempenho e gerar crescimento. Janeiro e Fevereiro - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº21
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ENTREVISTA
Os desafios do cooperativismo no Brasil “É preciso aumentar a participação e entender a demanda do mercado interno”, afirma presidente da Coopavel o longo das últimas décadas, o cooperativismo tem crescido em todo o Brasil e o estado do Paraná se destaca na consolidação das cooperativas. De acordo com informações do Sistema Ocepar, as cooperativas paranaenses são responsáveis por praticamente 20% da movimentação econômica do estado, envolvendo mais de 2,5 milhões de pessoas. Nesse cenário se destaca a Coopavel,
criada em 15 de dezembro de 1970, por um grupo de 42 agricultores. Com o passar dos anos, a cooperativa se fortaleceu e expandiu e, atualmente, são mais de 26 filiais instaladas em 17 cidades da região Oeste e Sudoeste do Paraná. A Destaque Rural conversou com o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, sobre o quadro atual do cooperativismo no Paraná, quais os desafios para os próximos anos e também as novidades para a 31ª edição da Show Rural Coopavel, que ocorre entre os dias 4 a 8 de fevereiro de 2019, em Cascavel.
DESTAQUE RURAL F Como está o cooperativismo no Paraná? DILVO GROLLI: Vai muito bem, com crescimento a índices consideráveis. Hoje são 70 cooperativas no Estado, de 13 ramos de atividades diferentes. Em 2018, elas faturaram perto de R$ 85 bilhões. Uma a cada quatro pessoas é ligada ao cooperativismo no Paraná. DESTAQUE RURAL F Qual é o perfil do cooperado
da Coopavel? DILVO GROLLI: A grande maioria, cerca de 70%, são de minis e pequenos produtores rurais. DESTAQUE RURAL F Como as cooperativas têm contribuído para o aumento da renda dos produtores rurais? DILVO GROLLI: De várias formas. Ajudam a organizar a produção, levam mais informações e conhecimentos ao
Fernanda Custódio
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campo e oferecem a chance de diversificação agrícola, a exemplo do que ocorre com o leite, o frango, o suíno e o peixe. E tudo com assistência técnica especializada à disposição do cooperado, além de garantia de aquisição. DESTAQUE RURAL F Qual é a avaliação que podemos fazer do ano de 2018? DILVO GROLLI: O ano de 2018 entra para a história como um dos mais importantes para o povo brasileiro. Ele marca uma grande virada de rumos para o Brasil, que aos poucos volta a ter confiança nos seus governantes. Mesmo com dificuldades econômicas, o PIB cresceu e as exportações foram bem no ano passado. DESTAQUE RURAL F Quais os desafios que o cooperativismo ainda precisa enfrentar nos próximos anos? DILVO GROLLI: O maior desafio do cooperativismo é aumentar a participação e entender a demanda do mercado interno, assistindo assim o mercado doméstico com uma logística eficiente. O maior exemplo desse desafio do mercado brasileiro é ter de três a cinco cooperativas entregando o mesmo produto, na mesma rede de varejo com cinco veículos diferentes. Essa falta de logística eficiente acarreta custos às cooperativas, que afetam todos os produtores
rurais. Outro desafio é integrar e preparar os cooperados para as mudanças, para que possam produzir tendo renda compartilhada e fidelizada com a cooperativa. As organizações estaduais e federais devem entender o trabalho do princípio cooperativo para as cooperativas e organizá-las para evitar a concorrência no mesmo território, que gera desgaste ao sistema e não melhora o bem-estar do mesmo. DESTAQUE RURAL F E quanto à agricultura 4.0? DILVO GROLLI: É o presente e principalmente o futuro. É o uso das tecnologias para que as produções agropecuárias sejam cada vez maiores, melhores e então se consiga fazer frente à demanda por alimentos das 9,5 bilhões de pessoas que o planeta terá em 2050. Com todos os recursos tecnológicos, leituras e interpretações possíveis, a agricultura 4.0 vai conduzir o agronegócio a um novo patamar de sofisticação, produtividade e resultados. DESTAQUE RURAL F São quase 50 anos de Coopavel, a que fator podemos atribuir essa consolidação de mercado? DILVO GROLLI: A Coopavel sempre trabalhou atenta aos anseios de seus cooperados, à dinâmica do mercado e conectada às oportunidades. E é isso o que ela tem feito, trabalhando por
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resultados sempre melhores que contribuam no processo de desenvolvimento de Cascavel e do Oeste do Paraná, além de qualidade de vida e bem-estar aos seus associados. DESTAQUE RURAL F O Show Rural Coopavel ocorre desde 1989. Como surgiu a ideia de elaborar a feira? DILVO GROLLI: Da necessidade de levar informações de forma mais rápida, prática e objetiva até os produtores rurais. Criando agilidade entre o repasse da informação e do novo conhecimento até o resultado de cada cultura. Assim, unindo teoria, prática, 28 |
demonstrações e esclarecimentos de dúvida, tudo de forma simultânea, é possível fazer com que as novidades sejam de forma mais rápida e precisa incorporadas ao cotidiano das propriedades rurais. E é isso o que tem ocorrido nesses 30 anos. A produtividade do agricultor cresceu até 400% graças às informações, tecnologias e inovações apresentadas nesses anos todos pelo Show Rural Coopavel. DESTAQUE RURAL F Qual é a expectativa para a comercialização de 2019? DILVO GROLLI: A expectativa de movimentação em vendas fica entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões. Porém,
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os negócios costumam seguir depois de terminado o evento e esse valor pode ser muito maior. DESTAQUE RURAL F Quais são os impactos do evento para o comércio de Cascavel e região? DILVO GROLLI: Em 2019, de mais de R$ 60 milhões. A conta é simples: esperamos 250 mil pessoas e se cada um gastar, em média, R$ 250 por dia, então a injeção de recursos no comércio de Cascavel e Oeste do Paraná chegará aos R$ 60 milhões. Diversos setores sentem os reflexos diretos do evento, como hotéis, restaurantes, bares, supermercados, entre outros.
A injeção de recursos no comércio de Cascavel e Oeste do Paraná chegará aos R$ 60 milhões”.
ARTIGO
Como garantir lucratividade na venda da colheita?
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produtor é peça fundamental para economia e população de um país, todo ano ele enfrenta uma série de adversidades como: clima, pragas, preço dos fertilizantes, dos defensivos agrícolas e muito mais, porém, na hora que colhe não sabe se irá vender com lucro e todo este trabalho e exposição ao risco pode ter sido em vão, tendo em vista que o preço de venda pode estar abaixo do seu custo de produção. Pode parecer estranho, mas isto é mais comum do que parece, o conhecido economista da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, em seu trabalho de mestrado, fez um levantamento que detectou que em 12 anos de produção o produtor tem prejuízo em 7 anos na hora venda. Quando isto ocorre o que o produtor faz? Como eu vou controlar o preço de uma commoditie? Nem você, nem eu, nem ninguém pode controlar um mercado gigantesco, já que este preço é definido por oferta e demanda. Não podemos controlar preços, mas podemos já no início do plantio calcular o custo da produção e garantir uma margem de lucro tendo em vista o preço atual. Atualmente, na nossa Bolsa, com o nome de B3, existem 5 ativos que o produtor pode fazer o hedge, são eles: - Milho, soja, café arábica, boi gordo (nelore) e dólar. Vou tentar simplificar um pouco os critérios a se analisar e as duas principais modalidades de hedge existente. É um assunto que gosto de desmistificar, porém, é um desafio simplificar neste artigo. Contratos Futuros: na Bolsa existem os contratos futuros padronizados, onde o milho são 450 sacas de 60kg, o café 100 sacas de 60kg, soja 450 sacas de 60kg e o boi 330 arrobas, o dólar são 10 mil dólares ou 250 mil dólares, cada contrato possui suas especificações e meses de vencimento. Os contratos não são como ações que não vencem, eles possuem vencimentos e são liquidados financeiramente ou
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Não podemos controlar preços, mas podemos já no início do plantio calcular o custo da produção e garantir uma margem de lucro tendo em vista o preço atual. com entrega física como no caso do café, mas a grande maioria é financeiro apenas. Risco de base: o preço de sua região pode ser diferente do preço da Bolsa, por isto é importante fazer um estudo desta diferença média, pois assim quando você fizer o hedge conseguirá calcular esta diferença e saber quanto realmente está o preço na sua região. Digamos que a saca do milho (base campinas B3) está R$ 38,00, mas sua região o milho é dois reais em média mais barato, ou seja, se você fizer o hedge a R$ 38,00 na Bolsa, equivale a R$ 36,00 na sua região, mas diferença oscila e você precisa estar ciente disto. O Hedge são duas modalidades, a com contratos futuros e a com opções, onde cada uma possui seu ônus e bônus. Contrato Futuro: Você planta milho e seu custo é de R$ 25,00 por saca e o risco de base de sua região é R$ 3,50 abaixo de campinas (região da Bolsa para milho) e digamos que esteja R$ 38,00 na bolsa, ou seja: R$ 38,00 – R$ 3,50 = R$ 34,50 é o preço real da sua região, onde seu custo é R$ 25,00 dá um lucro de R$ 9,50 por saca. Se o preço cair você está travado no mercado futuro e garante este lucro, pois entrará crédito na corretora. Se o mercado subir você ganha no físico e terá de pagar ajuste na Bolsa, tendo os mesmos R$ 9,50 de lucro, não aproveitando a alta.
No contrato futuro há margem garantia e ajuste diário, o que faz ter de se alocar ativos financeiros para isto. As margens de garantia costumam ser de 5% a 10% do volume do contrato e produtor possui desconto e não precisa ser dinheiro, podem ser ações, cdb, poupança, ouro e etc. Vantagens contrato futuro: proteção da margem de lucro definida no começo e não há perda independente de alta ou baixa. Desvantagens: Se o mercado for a seu favor não ganha mais e precisa pagar ajuste diário se o mercado for contra e depositar margem de garantia para as posições. Opções: A opção é a modalidade que se assemelha ao seguro, onde você paga um pequeno percentual sobre o bem principal e só utiliza se o cenário for desfavorável, caso contrário você apenas perdeu o valor do seguro. O hedge com opção não requer margem de garantia e nem ajuste diário. Vamos usar o mesmo exemplo: Seu custo é de R$ 25,00 a saca e o risco de base é de R$ 3,50 e no mercado futuro o milho está R$ 38,00, ou seja, considerando o risco de base o preço para sua região é de R$ 34,50 e para você garantir este valor você decide comprar uma opção R$ 38,00 (34,50 na sua região) e esta opção custa R$ 2,20 (valor seguro) por saca. R$ 38,00 (Bolsa) – R$ 3,50 (risco de base) = R$ 34,50 (preço sua região) – R$ 2,20 (preço opção) R$ 32,30 – R$ 25,00 (custo) = R$ 7,50 (lucro). Se o preço despencar você garante um lucro de R$ 7,50 por saca, pois pagou R$ 2,20 pela opção como seguro. A grande vantagem da opção é que ela não exige margem de garantia e nem pagamento de ajuste diário e se o mercado for a seu favor você ganha mais ainda, não fica limitado como no contrato futuro, se o milho for a R$ 45,00 no mercado futuro seu ganho será de R$ 15,00 por saca. A grande desvantagem é o pagamento inicial do “seguro”. A hora que o produtor aprender a utilizar o mercado futuro como ferramenta teremos um setor ainda mais forte e lucrativo. Desejo um 2019 de bons negócios e oportunidades.
LEANDRO PAZ Formado em Adm de Empresas e pós-graduado em marketing, autor de dois livros sobre mercado futuro, cofundador da área de mercado futuros da maior corretora do país, trader profissional há 8 anos, fundador do site operefuturos.com.br. Janeiro e Fevereiro - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº21
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NOTA TÉCNICA
Podridão de sementes e morte de plântulas de soja
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a safra 2018, a fase de implantação da cultura da soja foi marcada pela ocorrência de podridão de sementes e tombamento de plântulas. Condições de acúmulo de água no solo, por elevada precipitação pluvial e/ou compactação, favorecem a ocorrência de fungos de solo, como Pythium spp. e Phytophthora spp., principais causadores desses problemas na região (Figura 1). Associado a isso, a temperatura no solo (5 cm de profundidade) variou de 16,9 a 24,7 ºC, o que promoveu atraso na emergência das plântulas, fazendo com que as mesmas ficassem mais vulneráveis à infeção dos fungos de solo (Figura 2). Durante o mês de outubro na Região norte do Rio Grande do Sul, houve precipitação de 319 mm, sendo que nos dias 27 e 30 desse mês, somados acumularam 112 mm. A média histórica desse período na região é de 152 mm (Figura 2). Entre os dias 1 e 27 de novembro foram recebidas no Laboratório de Fitopatologia da Universidade de Passo Fundo, 60 amostras de soja com sintomas de podridão de sementes e/ou tombamento de plântulas de diferentes cultivares, no qual, verificou-se a presença de oósporo (estruturas de sobrevivência dos fungos Pythium spp. e Phytophthora spp.) em 83% das amostras analisadas (Figura 2). Mediante isso, é importante salientar que estratégias conjuntas devem ser adotas visando minimizar esse problema, dentre elas: F Melhoria de características físicas do solo para evitar acúmulo de água no solo, que pode ser realizada por meio da rotação de cultura ou utilizando implementos agrícolas; F Uso de fungicidas via tratamento de sementes para prevenir ou reduzir
Figura 1. Sintomas de podridão de sementes e de plântulas de soja e oósporo em raiz de soja. UPF, Passo Fundo/RS (Deuner & Cardoso, 2018).
Figura 2. Precipitação em milímetros (mm) e temperatura do solo (5 cm de profundidade) (ºC) ocorrida no mês de outubro de 2018. UPF, Passo Fundo, RS, 2017 (Fonte: Embrapa Trigo).
a infeção dos fungos nas raízes, uma vez que esses não estão presentes nas sementes e sim no solo, na forma de oósporo; F Apesar da recomendação do uso de cultivares tolerantes aos fungos de solo, na prática é difícil identificar esses materiais, e além disso, em condições de acúmulo de água no solo na emergência das plântulas, os mesmos ten-
ENGA. AGRA. DRA. CAROLINA CARDOSO DEUNER Professora do curso de Agronomia e Pós-graduação em Agronomia Gestora do Laboratório de Fitopatologia/Nematologia da UPF
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dem a se comportar como suscetíveis. Mesmo adotando essas medidas conjuntas, caso o clima seja favorável, poderá ocorrer morte de sementes e plântulas de soja, uma vez que a estrutura de sobrevivência dos fungos permanecer no solo, de uma safra para outra, germinando quando as condições são favoráveis na presença do hospedeiro.
BIOL. ME. CINARA ARAUJO DE ANDRADE CARDOSO Laboratorista no Laboratório de Fitopatologia/Nematologia da UPF
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ARROZ
Prejuízos Naturais
FOTO: FEDERARROZ/DIVULGAÇÃO
Fortes chuvas e enchentes dificultam a vida dos produtores de arroz do RS Redação Destaque Rural
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situação da cultura do arroz nos últimos anos é delicada. Após um 2018 nada favorável, o preço médio ficou menor que em 2017. De acordo com dados do Cepea, os preços em queda no primeiro semestre, devido ao período de colheita e à maior negociação do cereal, pressionaram a média anual, que fechou em R$ 39,79/sc de 50 kg (Indicador do arroz em casca ESALQ/Senar-RS), em termos nominais, baixa de 2% frente à média de 2017 (R$ 40,60/sc de 50 kg). Em 2018, o alto volume de chuvas foi fator determinante para o aumento no prejuízo. A região mais afetada pelas enchentes foi da metade Sul do Rio Grande do Sul, principalmente as da Fronteira Oeste e as da Região da Campanha. Segundo a Federação de Associações de Arrozeiros do RS, a Federarroz, o prejuízo na produção do Rio Grande do Sul pode chegar aos R$ 440 milhões. Estima-se que a baixa deve ir de 8,2 milhões de toneladas, em 2018, para 7,3 milhões de toneladas, ou seja, queda de 11,3%. “O prejuízo dessa chuva é grande, porque pegou em cheio o período reprodutivo da cultura do arroz”, comenta o vice-presidente da Federarroz, Alexandre Velho. Os números são semelhantes aos da safra 2015/16, quando a região também foi atingida por enchentes. Porém, Alexandre Velho estima que o prejuízo da produção seja ainda maior, somando os prejuízos da cultura da soja que também foi atingida na região. “É uma preocupação a mais em função que a soja da metade Sul está crescendo bastante na área, já estamos falando em 300 mil hectares de soja, então certamente os prejuízos da soja também serão grandes”. Diante das perdas e da baixa produtividade, a Federarroz vê como alternativa, com intuito de manter a segurança alimentar em 2020, entrar com pedido para securitização, quando a dívida é vendida em forma de
títulos para outros investidores. Os representantes da Federarroz consideram esta medida necessária, pois os produtores de arroz também estão investindo em soja e, sobretudo, pelos problemas enfrentados nas lavouras que levaram os orizicultores a perderem volumes consideráveis nas duas culturas. Ao longo das últimas cinco safras a maioria dos produtores teve prejuízo com o arroz, os problemas estão se avolumando. “É necessário achar uma saída digna para os produtores que querem diminuir as áreas ou até mesmo acabar com a cultura do arroz e buscar alternativas como soja e pecuária”, afirma Alexandre.
O prejuízo na produção do Rio Grande do Sul pode chegar aos R$ 440 milhões
Bolso do consumidor Os prejuízos devem refletir no aumento do preço do grão. O presidente da Federarroz, Henrique Dornelles, reforça que, só a partir de valores mais altos, o produtor compensará o aumento nos custos de produção. No bolso do consumidor, o aumento vai ser mínimo. Certamente poderá haver uma diferença de preço para o consumidor. “Hoje você compra 1 kg de arroz de excelente qualidade por R$ 3,00, o arroz é o produto mais barato da cesta básica. Uma família de três ou quatro pessoas come arroz um mês todo e gasta em torno de R$ 20,00, com o aumento de 10% ao invés de gastar R$ 20,00 a família vai gastar R$ 22,00. As pessoas não vão deixar de comer arroz com esse aumento”, afirma Alexandre. O vice-presidente da Federarroz diz que a principal preocupação do consumidor não será com o aumento, mas sim com a qualidade. “Mais de 40% das amostras que a Federarroz coletou no ano de 2018 estavam fora de tipo, a Federarroz solicitou maior fiscalização por parte do Ministério da Agricultura”. Janeiro e Fevereiro - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº21
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ARTIGO
Preço do dólar: O que esperar?
A
saga competitiva dos setores de negócios internacionais segue firme com a atual volatilidade cambial. Como o câmbio depende de variáveis incontroláveis, no mercado nacional e internacional, além de fatores que envolvem sistemas de governança política, não é incomum a busca por respostas de curto, médio ou longo prazo de como vai ficar o câmbio, especialmente na hora da compra ou da venda, seja dos insumos ou da produção. Revela prudência o entendimento de que câmbio ideal dificilmente vai existir. O melhor resultado vai
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estar em se diferenciar na hora da gestão e administração dos riscos que são comuns às atividades produtivas do principal setor da balança comercial brasileira que é o agronegócio. Então, gestão de risco e boa administração é o maior amigo do produtor na hora de comprar o insumo ou vender o seu produto. Mas como a minha função aqui é tentar trazer a informação de como deve se comportar o dólar nos próximos meses, então vamos pôr mãos à obra na análise. Primeiro, quero dizer que não vou indicar um valor específico para o dólar, mas o que pode influenciar
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na sua cotação, ficando mais fácil entender a tendência altista ou baixista. As notícias internacionais atuais podem nos trazer algumas pistas interessantes. Guerra comercial entre EUA e China, os motores da economia mundial, não pode ser desprezada. Quaisquer mudança dos ânimos nessa questão vai influenciar o câmbio. O bom desempenho econômico da China, os indicadores da economia norte-americana e as decisões da taxa de juros do FED (Federal Reserve), Banco Central dos EUA, são fatores a serem monitorados. No âmbito doméstico, nossos
maiores problemas se concentram no equilíbrio fiscal. Mas outras questões podem determinar os rumos da valorização ou não da nossa moeda. Nossa balança comercial deve também estar equilibrada, o que dependerá de políticas de fortalecimento da produção nacional e a retomada do crescimento econômico de forma consistente. O país precisa ficar cada vez mais competitivo para poder atrair mais capital estrangeiro e, assim, equilibrar mais o câmbio. Fortalecer o Real, com economia competitiva, é outro fator de equilíbrio cambial. Claro que são fatores difíceis de se prever, administrar e idealizar, mas podem ser informações esclarecedoras na hora de esperar um câmbio adequado. Por isso a análise é clara: Existem dois cenários explicitamente colocados que podem influenciar a demanda pela moeda estrangeira e influenciar o câmbio. O primeiro é estar atento aos sinais vindos de fora. Se houver um entendimento entre EUA e China nas questões comerciais, o otimismo pode se tornar maior e aumentar a oferta de dólares por aqui. O desempenho da economia chinesa também pode fortalecer as bases de países fornecedores, mesmo que o equilíbrio seja maior com o sucesso nas boas relações do país asiático com os americanos. O FED, banco central norte americano, está buscando uma postura de paciência com o aumento da taxa de juros e isso, por enquanto, não deve afetar muito as cotações. Segundo. Internamente, não há algo mais urgente do que a questão fiscal. O equilíbrio das contas, especialmente via reformas, é o único sinal consistente de otimismo que os investidores, principalmente de fora, estão aguardando. As sinalizações nesse sentido ficarão mais evidentes a partir de fevereiro
no Congresso Nacional, onde a habilidade política do governo vai ser decisiva. Outro ponto a se observar é o desempenho do câmbio a partir do gráfico. Podemos perceber o quanto era mais barato comprar os insumos entre abril/2017 e abril/2018. Logo após, ficou melhor vender o produto. Em abril/2017 a cotação subiu 1,40% em 30/04/17, cotado a R$ 3,1732. Um ano depois, já percebemos as mudanças significativas quando, numa valorização de 1,20% a moeda norte-americana era negociada a R$ 3,50. A máxima histórica do Dólar frente ao Real aconteceu no ano passado em meio às eleições. A cotação fechou, no dia 13 de setembro de 2018, a R$ 4,196, depois de ter chegado a R$ 4,20 ao longo do dia. O curioso é que esse patamar de R$ 3,17, lá em abril de 2017, havia sido precedido do maior patamar histórico ainda em 2016, quando a cotação chegou a R$ 4,16. Logo após, a tendência foi cair de patamar e alcançar esses valores próximos de R$ 3,00. Nesse gráfico, vemos os dois topos (janeiro/16-setembro/18). Portanto o desafio continua. Na hora de comprar e vender é difícil prever um câmbio ideal. O Brasil vai enfrentar muitas turbulências ainda, no primeiro semestre deste ano, até ajustar a administração, alinhar a comunicação, fortalecer a relação produtiva com o Congresso Nacional e impor uma agenda mais voltada a abertura econômica. Se os ventos de fora do país forem favoráveis, poderemos ainda ver um dólar em torno de R$ 3,50. Internamente as expectativas do mercado financeiro são de crescimento do PIB em torno de 2,5%, taxa básica de juros em torno de 7,00% ao ano e dólar
FONTE: ADVFN
em R$ 3,70. São expectativas que podem indicar que a Bolsa de Valores ainda tenha fôlego e entre em mais patamares históricos. Indicações de otimismo com a economia brasileira, aliada a agenda positiva de recuperação fiscal, também podem promover a valorização do Real frente ao Dólar e vermos a cotação em torno de R$ 3,50. Por outro lado, se a Reforma da Previdência não emplacar ainda no primeiro semestre, mesmo com perspectivas positivas para o avanço da economia e dos fundamentos macroeconômicos, podemos ainda esperar a moeda norte-americana em torno de R$ 3,80. Aliado a isso, às questões internacionais como guerra comercial, FED, Brexit ou outras variáveis, tornam plausível uma expectativa de dólar entre R$ 3,50 e R$ 3,80 para o primeiro semestre, que inclui o período de comercialização da soja e início da preparação para as culturas de inverno.
MOISÉS CRISTIANO Economista e apresentador do Destaque Rural Notícias Janeiro e Fevereiro - 2019 | Rio Grande do Sul | Ano V | nº21
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INFORME COMERCIAL
ROOTELLA BR: inoculante micorrízicos arbusculares,
A
NovaTero BioAg, empresa sediada em Joinville, é a primeira empresa do Brasil a obter registro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para comercialização de um inoculante à base de fungos micorrízicos arbusculares, conhecidos no meio agronônimo pela sigla “FMA” ou como “endomicorrizas”. O Rootella BR, nome comercial do produto, é o único produto a base de FMA atualmente comercializado em larga escala no mercado nacional. O produto é totalmente biológico, natural e composto por fungos micorrízicos da espécie Rhizophagus Intraradices, com concentração mínima de 20.800 propágulos viáveis por grama. A recomendação de aplicação é no tratamento de sementes, com dosagem de 120 gramas por hectares. A simbiose entre fungos benéficos e plantas é chamada de “micorriza”. Os FMA penetram nas células da raiz, onde trocam os 34 |
nutrientes captados no solo por açúcares. Uma das especialidades dos fungos micorrízicos é estender o sistema radicular da planta, aumentando o tamanho e o número de raízes e, além disso, a área alcançada para captação de nutrientes e água, por meio de uma rede de longos filamentos microscópicos, chamados de hifas. Outra especialidade é a capacidade de solubilizar nutrientes com pequeno gasto energético, especialmente o fósforo. Dessa forma, a inoculação de sementes com Rootella BR permite a introdução dos FMA no solo, melhorando significativamente a capacidade das plantas em absorver nutrientes. Os resultados diretos são plantas mais saudáveis e mais resistentes a condições adversas, trazendo ganhos de produtividade, de biomassa e da qualidade da lavoura. Os testes no Brasil foram iniciados em 2016, com as culturas do milho e da soja, e executados a campo nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná,
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Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás. As diferentes condições climáticas e de tipos de solo foram utilizados para a validação agronômica, atendendo a todos os requisitos regulamentados pelo MAPA para mostrar a viabilidade e eficiência do inoculante, resultando na obtenção do registro. Para o milho, que tem uma alta taxa de crescimento e, por isso, uma alta demanda por nutrientes, a inoculação com Rootella BR trouxe ganhos significativos na produção de biomassa e no rendimento de grãos, com ganho médio de
e inédito, a base de fungos s, é lançado no Brasil produtividade de 54%. Entre as diversas regiões, as aplicações mostraram sempre resultados positivos, com acréscimos que variaram entre 17% e 92% no rendimento de grãos, também médios para diversos níveis de adubação fosfatada. Para a soja, os resultados positivos se repetiram em todas as regiões, com ganhos médios de produtividade entre 14% a 48%, em função da região e níveis de adubação. O acréscimo médio geral de produtividade ficou em 25%. Os resultados para a cultura da soja mostraram que a inoculação com Rootella BR e a racionalização de fertilizações a base de fósforo podem trazer ganhos potenciais para a rentabilidade da lavoura. Além disso, o aumento de raízes laterais e da densidade e ramificações de pelos radiculares pode contribuir significativamente com a formação de nódulos, por bactérias fixadoras de nitrogênio. O Rootella BR também teve sua extensão de aplicação às culturas de trigo, feijão, cevada, aveia e arroz, pois
são culturas similares que, reconhecidamente, se beneficiam da micorriza. Nas aplicações comerciais realizadas após o registro, os resultados positivos de produtividade continuam a aparecer, incluindo inoculações recentes realizadas com trigo no Rio Grande do Sul, onde o ganho de produtividade chegou a 21% com a aplicação do Rootella BR. A NovaTero fornece soluções e produtos inovadores para o incremento da produção e da qualidade da lavoura. Sempre em busca do que há de melhor no mundo científico, no Brasil e no exterior, trabalha para identificar, desenvolver e disponibilizar produtos e serviços com potencial de aplicação na realidade do campo brasileiro. A empresa, como parte do seu plano estratégico, já iniciou os trabalhos para incluir o registro para outras culturas e deverá ampliar a comercialização e distribuição do produto em todo Brasil e em países da América do Sul.
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