ANO II NÚMERO 8 RIO GRANDE DO SUL MARÇO | ABRIL | 2015 D I S T R I B U I Ç A O G R AT U I TA I N F O R M A Ç ÃO C O M P RO P R I E DA D E
FERNANDA FALCÃO
“SOLO, A BASE DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS”.
| SOJA
| TRIGO
| M E RCA D O
O G R Ã O Q U E S A LVA A ECONOMIA GAÚCHA
AS S O C I A Ç ÃO E M P R O L VA L O R I Z A Ç Ã O D E Março e Abril | 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº 8 | 1 D A T R I T I C U LT U R A G A Ú C H A T E R R AS AG R Í C O L AS
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EDITORIAL
CIRCULAÇÃO
Terra forte
N
o ano em que a maior entidade da agricultura e alimentação, FAO, volta suas atenções para os solos, um recurso finito e que deve ser utilizado de forma sustentável para garantia de sua preservação, a Revista Destaque Rural acompanha os debates, traz avaliações e análises de profissionais especializados no assunto. Mas, além de alternativas levantadas, esta edição dedica um espaço especial para falar de experiências já desenvolvidas e que apresentam resultados surpreendentes pautados na sustentabilidade e manejo adequado dos solos. E foi aqui mesmo, em Passo Fundo, que encontramos Fernanda Viacelli Falcão, engenheira agrônoma e responsável técnica da Sementes Falcão, empresa que se dedica à preservação dos solos, compreendido aqui como a base da produção agrícola. A mulher forte e de opiniões firmes agrega técnica, conhecimento e qualidade à empresa familiar e traz subsídios importantes sobre manejo, técnicas e tecnologias, especialmente relacionadas ao uso e manutenção dos solos. Ações que garantem ótimos resultados na qualidade, produtividade e rentabilidade. Em meio à instabilidade econômica e política brasileira e a dificuldade financeira do Rio Grande Do Sul, o agronegócio mais uma vez traz boas notícias para amenizar esta realidade. Com a expectativa de mais uma safra recorde se concretizando, o que irá injetar na economia gaúcha aproximadamente R$ 121,97 bilhões, 12% mais do que no ano passado, a matéria “O grão que Salva a Economia Gaúcha” analisa a queda dos preços nos últimos três anos (2012, 2013 e 2014) e motiva o produtor e as empresas do setor aumentar a produtividade, através da tecnologia e da dedicação, pois a produção de soja é, sim, rentável. Boa leitura! Leonardo Wink
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www.destaquerural.com.br | Março e Abril | 2015 | Rio Grande do Sul
Tapejara Santa Bárbara do Sul
EXPEDIENTE #edição 8 #Ano II #Março e Abril Editora Riograndense CNPJ 17.965.942/0001-07 Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Cacilda Becker, 30 Boqueirão Cep 99010-010 Diretor Leonardo Wink
Projeto Gráfico, infograficos e Diagramação Cássia Paula Colla Revisão Débora Chaves Lopes Comercial Leonardo Wink Marcelo Schaussard Vieira Impressão Gráfica Suloeste
Jornalista Responsável Fabiana Duarte Rezende (MTB 14633)
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Jornalistas Fabiana Duarte Rezende Rosângela Borges
Fone (54) 9947- 9287 (54) 3632 - 0506
Colunistas Gilberto Cunha, Elmar Luis Floss
leonardowink@destaquerural.com.br redacao@destaquerural.com.br
Capa Marcelo Schaussard Vieira
www.facebook.com/destaquerural
| Ano II | nº 8
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ÍNDICE ESPECIAL
SOJA
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O grão que salva a economia gaúcha
OPINIÃO
“ Solo, a base da produção de alimentos”.
CT& Bio
Elmar Luiz Floss
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Nutrição da soja para altos rendimentos
Desistência ou persistência?
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A era do Big Data
MERCADO
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POLÍTICA
38 Löser Caminhos que conquistaram a confiança dos produtores rurais
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2015: Ano Internacional dos Solos
Gilberto Cunha
DESTAQUE EMPRESAS
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MANEJO
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Imóveis rurais: valorização de até 500%
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TRIGO
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Associação em prol da triticultura gaúcha
OPNIÃO elmar@grupofloss.com
Elmar Luiz Floss Engenheiro Agrônomo e licenciado em Ciências, Dr. em Agronomia, Diretor do Instituto Incia
NUTRIÇÃO DA SOJA PARA ALTOS RENDIMENTOS
P
ara obtenção de altos rendimentos de soja, há necessidade de uma alta disponibilidade de macronutrientes e micronutrientes no solo, de adequadas relações entre os nutrientes (ex. relação Ca/Mg/K), bem como conhecer a extração e a exportação de nutrientes nos níveis de rendimento obtidos. Quanto maior o rendimento, maior é a extração e a exportação de nutrientes do solo. A adubação racional é a diferença entre a necessidade da cultura (extração) e a disponibilidade de nutrientes no solo, multiplicado pelo fator de eficiência de absorção de cada fertilizante. Uma adubação eficiente objetiva conseguir um equilíbrio nutricional na planta, que garanta um adequado crescimento de raízes, parte aérea e, especialmente, a maior formação de vagens e grãos. Dentre os macronutrientes, o mais extraído e exportado pela soja é o nitrogênio. A necessidade de N varia conforme o rendimento de grãos e palha e do teor de proteína no grão (37 a 43%). Para obtenção de um rendimento de 4t/ha de grãos e uma produção de palha de 4t/ha (65-66 scs./ha), a cultura extrai aproximadamente 350 kg/ha de N. Se esse N tivesse que ser fornecido na forma de ureia, a adubação deveria ser superior a 770 kg/ ha. Felizmente, até 85% desse N, a soja obtém através da fixação biológica do nitrogênio (FBN), realizado pelas bactérias do gênero Bradyrhizobium nos nódulos das raízes. Daí a importância de realizar, anualmente, a inoculação adequada das sementes, com o uso de pelo menos duas a três doses de inoculante/ha de boa qualidade e bem conservado. Mas, para que a nodulação seja efetiva, há necessidade de alta disponibilidade de molibdênio, cobalto, cálcio, magnésio, fósforo, enxofre e boro no solo.
“Como até os estádios V5-V6 a prioridade da planta de soja é a partição dos fotoassimilados para as raízes, o N promove um aumento no crescimento radicular (número e comprimento = maior volume de raízes em contato com o volume de solo), a maior disponibilidade de açúcares e aminoácidos (peptídios) para atração de bactérias e a formação de nodules, e ,o aumento da síntese de citocininas, o mais importante hormônio promotor do crescimento vegetal”.
Como a FBN somente disponibiliza N para a soja a partir dos estádios V5-V6, aproximadamente 15% do N é absorvido do solo, 52 kg/ha de N (o equivalente a mais de 100kg/ha de ureia) para um rendimento de 4t/ha. Um solo com 3,5% de matéria orgânica e uma taxa de mineralização de 2% ao ano, libera por ano aproximadamente 70 kg de N/ ha. Com um ciclo da soja de 120 dias, a cultura aproveita apenas um terço desse N (23kg). Daí a importância do cultivo da soja em sucessão a coberturas com baixa relação C/N e rapidez de decomposição, suprindo parte desse N na fase inicial de desenvolvimento da cultura. Nesse caso, quando a soja é cultivada em sucessão a gramíneas (trigo, aveia branca, cevada cervejeira, centeio, triticale, milho safrinha, sorgo, milheto, braquiárias, dentre outras), recomenda-se o uso de 5 kg de N/t de palha remanescente na semeadura, para compensar a imobilização temporária de N pelos microrganismos decompositores da matéria orgânica. Esse N tem como principal função garantir a nutrição nitrogenada da soja da emergência ao V5-V6, enquanto não ocorre a liberação de N da fixação biológica pelos nódulos. O N promove um maior crescimento das primeiras folhas da soja e o aumento do teor de clorofila, fatores essenciais para uma maior fotossíntese. Como até os estádios V5-V6 a prioridade da planta de soja é a partição dos fotoassimilados para as raízes, o N promove um aumento no crescimento radicular (número e comprimento = maior volume de raízes em contato com o volume de solo), a maior disponibilidade de açúcares e aminoácidos (peptídios) para atração de bactérias e a formação de nodules, e, o aumento da síntese de citocininas, o mais importante hormônio promotor do crescimento vegetal.
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SOJA
O grão que salva a economia gaúcha A área de soja no Estado aumentou 2% em relação a 2014. Especialistas garantem: “não há na história uma safra tão volumosa”.
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Rosângela Borges
A
soja gaúcha encontra-se novamente nos grandes patamares de produtividade e deve alcançar uma safra recorde nunca antes vista na história do Rio Grande do Sul. São 5.125.436 milhões hectares de soja, a maior área de plantio da sojicultura de todos os tempos. Safra volumosa que amenizou a queda de preço dos últimos três anos. Sozinha, ela vai injetar mais de 120 bi na economia gaúcha, segundo dados da Federação da Agricultura do Estado (Farsul). Uma alta de 12% em relação a 2014 e que corresponde a mais de um terço do PIB do Estado.
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Os dados são animadores e resta aos produtores o monitoramento constante das lavouras para confirmar as estimativas. Os picos devem ser obtidos entre 20 de março até 10 de abril, mas as previsões são as melhores. De acordo com o engenheiro agrônomo e gerente-regional Adjunto Emater/Passo Fundo, Cláudio Doro, o padrão das lavouras nesta safra é o melhor dos últimos cinco anos. “A soja é um negócio altamente lucrativo e traz estabilidade ao produtor”. Doro atribui quatro fatores principais para a ampliação da área: estabilidade de produção (a soja é mais rústica, portanto tolera mais os veranicos dos meses de dezembro e janeiro); a questão do preço (quando o agricultor foi planejar
as culturas de verão - soja e milho precisava dois sacos e meio de milho para adquirir um saco de soja e, sempre quando esta relação passa de dois, ela é favorável à soja); o custo de produção, que na soja é menor do que no milho, além da questão das chuvas, pois a soja também é mais tolerante”. O agrônomo destaca que para formar um hectare de soja o agricultor teria que desembolsar R$ 1,3 mil por hectare e para o milho o preço saltaria para R$ 2,1 mil por hectare. “O custo para formação da lavoura de milho é bem mais alto que na soja”. As vantagens da soja De acordo com o engenheiro agrônomo e consultor em agronegócio, prof. Doutor Elmar Luiz Floss, a soja é vantajosa por duas razões. A primeira pela grande redução da área de milho na safra 2014/2015 (a menor desde 1974), redução esta que se deve ao aumento da área de soja pela questão do grão
Soja: um bom negócio Para Elmar Floss, mesmo considerando o potencial de rendimento, o custo de produção e os preços mais baixos dos últimos três anos, a soja ainda é um bom negócio. “Mesmo com estes entraves é remunerador, ainda mais com a condição climática favorável neste começo de ano. O preço pode ser menor, mas o aumento da área vai ocasionar, possivelmente, uma safra recorde”.
Cada ano temos uma área maior sendo ocupada onde tradicionalmente tinha arroz.
ser menos sensível às estiagens, comuns no RS. A segunda causa é porque a área de arroz está sendo transformada para soja, especialmente na região da Depressão Central do Estado. “A cada ano temos uma área maior sendo ocupada onde tradicionalmente tinha arroz. A demanda de arroz e seu rendimento estão estabilizados, portanto, a necessidade de áreas para cultivo do arroz é menor”, explicou Floss, lembrando que o preço da soja ainda permanece mais atrativo. “Também devemos lembrar a rotação de culturas, que se faz necessária no arroz para o controle de plantas daninhas e a soja
faz esse papel, especialmente a soja transgênica”. Floss enfatiza que no caso do milho há dois riscos: um climático, por ser a cultura que mais sofre com estiagem e, em segundo lugar, a remuneração, que é menor. “No entanto, se for considerado o sistema de produção pelo produtor o ideal seria plantar dois terços da área de soja e um terço ou a quarta parte com milho. Onde se cultiva soja em sucessão ao milho o rendimento é superior, pois há melhora na estrutura física do solo e aumento da palhada.”
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NÚMEROS FONTE: GOVERNO DO ESTADO DO RS
De acordo com a Food and Agriculture Organization - FAO, o continente americano é responsável por cerca de 86% de toda soja produzida no mundo - uma das principais commodities negociada nos mercados internacionais. Entre os países, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja e produz aproximadamente 27% do total produzido no mundo. Entre as unidades da federação, o Rio Grande do Sul é atualmente o terceiro maior produtor de soja em grão do Brasil, superado apenas pelos estados de Mato Grosso e Paraná. De acordo com a Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE, o RS registrou em 2011 a produção de 11.717.548 toneladas do grão. Considerando a última década, pode-se afirmar que o Estado praticamente duplicou quantidade produzida, passando de uma média de 5.782.081 toneladas no período de 2000-2002 para uma média de 10.074.299 no período 2009-2011. 10 |
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Com base na relação quantidades produzidas - área plantada, na última década, pode-se afirmar que houve importante ganho de produtividade no RS através do emprego de novas tecnologias e do manejo do solo, como por exemplo, a transgenia e o método de plantio direto. No período 2009 a 2011, 18 municípios apresentaram produção média superior a 100.000 toneladas/ano. Três deles apresentaram produção média variando de 211.574 toneladas a 367.650
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toneladas: Cruz Alta, Palmeira das Missões e Tupanciretã. Estes 3 municípios, somados a 56 outros municípios que apresentam produção média superior a 50.000 toneladas, respondem por aproximadamente 56% do total da quantidade produzida de soja do Rio Grande do Sul. Os principais municípios produtores encontram-se, especialmente, na porção norte-noroeste do Rio Grande do Sul.
MANEJO
2015 Ano Internacional dos Solos Valorização e preservação dos recursos naturais são temas da iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação Fabiana Rezende
A
iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) busca despertar maior conscientização sobre a relevância do solo, como base do desenvolvimento socioeconômico, bem como das funções essenciais dos ecossistemas, para uma melhor adaptação às alterações climáticas que estão em destaque no cenário mundial. A FAO pretende usar o ano para melhorar a relação dos produtores com os solos, fazendo com que os agricultores produzam mais, preservando o recurso natural. “O assunto é solo, justamente por
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ser um recurso natural que é a base para a produção de alimentos saudáveis e de qualidade. Estamos perdendo os solos e precisamos colocar mais atenção na preservação dessa base produtiva. A ideia é que os produtores tomem consciência do que está ocorrendo com os solos e como podemos ter boas práticas de preservação”, afirma o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic. Ele ainda salienta que no Ano da Agricultura Familiar (2014), foi dada importância para a dimensão social e, agora, o enfoque está na dimensão ambiental do recurso e da relação entre meios de produção e pessoas. Ou seja, é preciso pensar na necessidade de produzir alimentos para o futuro conservando os solos. No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é o órgão responsável por difundir o AIS 2015, que criou um comitê, unindo governo federal e sociedade civil, para promoverem o assunto.“Neces-
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sariamente, os produtores não podem deixar o solo se degradar. Há uma preocupação fundamental de todos os envolvidos na agricultura familiar em preservar esse recurso natural. O AIS 2015 vai orientar tanto os agricultores como os órgãos de governo na preservação do solo”, disse o coordenador da Assessoria Internacional do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Caio França. Para promover o tema, a FAO está organizando uma série de atividades que serão executadas no decorrer do ano.
No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é o órgão responsável por difundir o AIS 2015, que criou um comitê, unindo governo federal e sociedade civil, para promoverem o assunto.
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Ano Internacional do Solo Em dezembro de 2013, a ONU aprovou, a partir de resoluções propostas pela FAO, o dia 05 de dezembro como o “Dia Mundial dos Solos” e instituiu que 2015 será o “Ano Internacional do Solo”.
A FAO pretende usar o ano para melhorar a relação dos produtores com os solos
Importância do solo O Brasil possui entre 20 e 40 milhões de hectares de áreas de pastagens em algum estágio de degradação e com baixa produtividade da pecuária. O uso correto de tecnologias mais sustentáveis e de boas práticas agropecuárias torna possível reinseri-las ao processo produtivo. Nesse contexto, o planejamento de uso da terra e a adoção de tecnologias com fundamento na conservação de solos e adaptadas à realidade local, podem prevenir e reverter os impactos negativos decorrentes de uma atividade agropecuária conduzida de forma inadequada. O Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC) tem como um de seus pilares a Ciência da Conservação do Solo, do Manejo Integrado de Pragas e das Boas Práticas Agropecuárias. 1144 ||
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MERCADO
Imóveis rurais: valorização de até 500% 16 |
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Tecnologia nas propriedades e aumento da produção agregaram valor às áreas rurais no RS nos últimos anos Rosângela Borges
A
dquirir uma propriedade rural está se tornando cada vez mais um grande investimento. O aumento da produção agrícola aliada à tecnologia, com manejo de solo, diferenciado e novas variedades adaptadas a diferentes regiões e a agricultura de precisão, fizeram com que nos últimos anos as terras agrícolas tivessem maior valorização. A avaliação é de Nilo Ourique, corretor especializado em imóveis rurais. Para Ourique, a procura intensificada ajuda na valorização, mas só valoriza as áreas em função do aumento de produção. “A conta precisa fechar. O percentual de aumento varia muito por região. Nos últimos dez anos, em algumas áreas houve aumento de até 50% e em outras chega a 500%. Mas temos que ter muito cuidado para repassar esse tipo de informação, pois muitas vezes há uma generalização na ideia de aumento, em função de terem regiões que há 10 anos não tinham um pé de soja e hoje se tornarem grandes produtoras. Isto oca-
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siona uma variação significativa nos preços, somados a aproveitamento da área e índices de chuva na região. Por isso, a precificação tem que ser bem estudada em função da variação grande que existe por região e outros tantos fatores que compõem o mesmo”, ressalta. De acordo com o agente imobiliário e perito avaliador judicial, Luciano Lunelli, de Passo Fundo, a valorização pelas terras em áreas rurais é crescente em todas as regiões do Brasil. Alguns aspectos, como as facilidades de acesso por estradas melhores e a conexão com a internet, que aos poucos vai chegando ao interior dos municípios, fazem com que esses locais também passem a ser mais valorizados. “Existe uma remuneração real sobre o capital investido ao longo do tempo. Outro ponto está relacionado ao que acontece no mercado. São momentos em que a economia brasileira sofre as oscilações do mercado internacional, com relação às commodities agrícolas em geral. Essas oscilações criam expectativas de alta e de baixa no mercado. Mas, sem dúvida, a valorização hoje é crescente em todas as regiões do país”,
afirma Lunelli. Com relação ao tamanho das áreas mais procuradas, ele diz que não existe um parâmetro
para estipular esse quesito, principalmente porque a procura está voltada para a capacidade que cada
Quem compra? Para Ourique, cada vez mais os compradores de terra são pessoas que estão se especializando no agronegócio e profissionais da área, com exceção dos que adquirem a terra para investimento. “O mercado está chegando num patamar de preços e custos que não deixa lugar para amadores e sonhadores. É preciso compor a operação com números claros e metas bem definidas ou vai acabar tendo vida curta no mercado. O agronegócio vem se profissionalizando cada vez mais, com cada vez mais precisão nas operações”.
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O mercado A previsão para o mercado é otimista, pois deverá continuar aquecido em função do aumento da população mundial e do aumento do consumo de alimentos. “Hoje o agronegócio movimenta o Brasil, o setor é responsável por 30 % do PIB nacional, o grande desafio é cada vez produzir mais em menos áreas. Mas apesar de todas as adversidades que surgem, o produtor é guerreiro e apaixonado pelo que faz, com isso, cada vez mais vai se especializar e produzir melhor. Os imóveis, por consequência desse processo, acompanham este fluxo positivo”, completa Nilo Ourique.
empresário tem de investir no setor rural. “Existem muitos projetos, que são extremamente rentáveis e autossustentáveis, no interior”. Valores Quanto aos valores que o mercado está disposto a pagar pelos imóveis rurais, Luciano explica que, apesar de existirem preços referenciais, atualmente são vários os fatores que influenciam, como por exemplo, a região em que a propriedade está localizada, a topografia, a qualidade do solo, o regime de chuvas, as benfeitorias existentes no local e o acesso à propriedades. “Esses itens refletem-se diretamente nos valores e nas condições de pagamento”. Se-
gundo ele, as áreas procuradas têm as mais variadas medidas e a opção de compra é muito específica, voltada à capacidade de cada empresário rural. Como o agronegócio está em franca expansão no país, existem as fronteiras agrícolas de Norte a Sul e isso traz muitas vantagens aos produtores rurais do país. “O Brasil ocupa posição de destaque em nível internacional porque está entre os primeiros na exportação de soja, de milho e de outros produtos. Várias pessoas e empresas têm olhos para esse mercado. Apesar dos desafios, a rentabilidade é fator decisivo”, finaliza Luciano. Para Ourique, na região sul do Estado, por exemplo, existe uma variação média de R$ 10.000,00 a R$
12.000,00 o hectare para áreas agrícolas e na faixa de R$ 5.000,00 a R$ 7.000,00 o hectare para áreas de pecuária. “Depende muito do município e do histórico de produção”. Demanda alta, oferta baixa Na região de Passo Fundo, ele afirma que existe uma grande demanda por áreas rurais e o que impede que os negócios se concretizem é o baixo número de oferta de terras agrícolas. “A maior parte dos proprietários que tem intenção de venda, quer, primeiro, ter certezas sobre as disponibilidades na aquisição de áreas maiores em outras regiões”, conclui Luciano.
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ESPECIAL
FERNANDA FALC O solo como a base da produção
“A mulher conquistou seu espaço. Abriu caminhos nas mais diversas área, que antes eram ocupadas somente por homens. Não tenho dúvida da sua capacidade de gerenciar os mais diversos setores e situações com sensibilidade, sabedoria e conhecimento que, aliadas à paixão, conquistam os melhores resultados com profissionalismo”.
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Cテグ
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Fabiana Rezende
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ode-se contar que o início da história de Fernanda começou no ano 1947, quando seu avô, Manuel Antônio Falcão, chegou ao Brasil com treze anos de idade. A época era de dificuldades na Europa. Por isso, escolheu São Paulo para desembarcar e ali se estabeleceu. “Para ajudar a família, meu avô vendia palha de aço de casa em casa. Posteriormente, aos 15 anos, passou a vender cortes de casimira e, em 1955, chegou a Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, onde firmou residência”, conta a neta. Dois anos depois Manuel casou-se com Clecy Busato Falcão e no mesmo ano comprou um Jipe para fazer a entrega de tecidos, foi quando surgiu a oportunidade de comercializar automóveis multimarcas e se dedicar ao ramo a partir de 1957. Algum tempo depois abriu a Auto Agrícola, hoje revenda de caminhões MAN/Volkswagen. Em 1967 foi ao Mato Grosso, no município de Poxoréu, onde trocou um DKW por 3.300 há de terra e iniciou no ramo agrícola. A área foi vendida e, assim, adquirida uma fazenda que fica em Primavera do Leste, com 3.400 há, propriedade da família até hoje. Em 1970, adquiriu terras na Encruzilhada Natalina, no município de Sarandi, e, em 1981, em Soledade, onde está situada a pecuária de corte e criação de cavalos crioulos. Em 1981, Humberto Falcão, pai de Fernanda, se formou em Agronomia pela Universidade de Passo Fundo. Com o desafio de introduzir novas
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tecnologias, em 1982 iniciou o plantio direto e sempre foi pioneiro em produzir de maneira rentável e sustentável. “Além disso, sempre buscou agregar valor às áreas de produção e, em 1986, iniciou a atuação com sementes (Sementes Falcão, na unidade em Sarandi), com produção de sementes de soja, trigo e aveia branca, onde buscamos a excelência em qualidade sempre”, lembra a agrônoma. Para organizar melhor os negócios e transformar a fazenda em uma empresa, a mãe de Fernanda, que é formada em Belas Artes, acabou deixando a profissão de professora, se especializou em vendas e marketing e há 26 anos trabalha na empresa como gerente administrativa. Um dos seus irmãos, Henrique, formado em Administração de Empresas, é responsável pela parte comercial e trabalha há dez anos no empreendimento. Ela ainda revela que, quando entrou na faculdade, eram apenas cinco mulheres em uma turma de 52 alunos. “Na época havia poucas mulheres nas salas da Agronomia, se comparamos a hoje. É claro que existia, e, ainda existe, certo preconceito. Mas esse preconceito vai até o momento que você mostra que tem conhecimento e é capaz. Para a mulher, é preciso mostrar mais para poder conquistar esse espaço, mas é sempre possível se você tem amor e dedicação pelo que faz”. Ultrapassar limites, transpor barreiras e crescer em meio às dificuldades são marcas do trabalho de Fernanda Falcão, que vê o ano de 2015 como um grande desafio, especialmente para agricultura. “Infelizmente, todos estão pagando a conta
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por uma má administração e, especialmente, pela corrupção existente no país a longos anos. A agricultura ainda sustenta o Brasil. É responsável por 21% do PIB, sendo que 41% das exportações vêm do campo. Entretanto, este é um ano em que o controle dos custos e investimentos deve ser ainda maior. A instabilidade econômica, a volta da inflação, o aumento absurdo da energia elétrica, dos combustíveis, o aumento das taxas de juros, variação cambial, burocracia estatal e instabilidade jurídica geram impactos que, com certeza, já estão sendo sentidos. Além disso, temos um obstáculo que é a falta de infraestrutura, 24 |
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sem investimentos em rodovias, que estão abandonadas, sem portos, ferrovias e hidrovias. Temos que estar preparados”, enfatiza a empresária. A capacidade técnica aliada às tecnologias e ao manejo aplicado nas áreas de produção são fatores determinantes para o sucesso do seu trabalho. Por isso, no ano em que a sociedade coloca em discussão o papel dos solos e reflete sobre a produção de alimentos para atender a demanda mundial, a Revista Destaque Rural traz uma entrevista com Fernanda, abordando o uso e as práticas adotadas em suas propriedades.
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de alimentos e, com o crescente aumento da população mundial e por demanda de alimentos, eles se tornam cada vez mais essenciais.
DESTAQUE RURAL – Por que a sociedade enfatiza a importância dos solos em 2015? FERNANDA FALCÃO O ano de 2015 foi escolhido como a Ano Internacional dos Solos, pela Organização das Nações Unidas (ONU), tamanha a importância e necessidade de se chamar atenção
para um dos recursos finitos e essenciais para a produção de alimentos no mundo. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), estima-se que 33% das terras do planeta sejam degradadas, por razões químicas, físicas ou biológicas. O solo é a base para a produção
“O solo é nosso maior patrimônio e precisa ser preservado, recuperado e mantido, sempre. Isso é essencial para a biodiversidade e a vida”.
DESTAQUE RURAL – Como manejar adequadamente os solos no Rio Grande do Sul? FERNANDA FALCÃO – O nosso Estado é amplo, com diferentes tipos de solo e com diferentes manejos. Mesmo áreas com características parecidas, há suas atividades específicas e suas peculiaridades. Por isso, é importante analisar cada situação a fim de se buscar a melhor solução. O mais importante é sabermos da real importância do solo, recurso fundamental e básico para atingirmos alta produtividade e rentabilidade. Não existe uma receita. DESTAQUE RURAL – Qual a melhor forma de conservação dos solos? FERNANDA FALCÃO - Temos que buscar na prática a chamada Agricultura Conservacionista, que é a agricultura praticada segundo os preceitos da ciência da conservação do solo, na qual é conduzida sob a proteção de um complexo de tecnologia de caráter sistêmico, objetivando preservar, manter e restaurar ou recuperar os recursos naturais, mediante o manejo integrado do solo, da água e da biodiversidade, devidamente compatibilizado com o uso de insumos externos. DESTAQUE RURAL - A res-
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peito da Agricultura Conservacionista, como é este complexo de tecnologia de caráter sistêmico que você mencionou? FERNANDA FALCÃO - A Agricultura Conservacionista engloba alguns preceitos: manejo do solo de acordo com a sua utilização; preservação dos ecossistemas sensíveis, como margens de rios, lagos, nascentes de água; preservação dos restos culturais na superfície do solo; manter a cobertura permanente do solo; rendição ou eliminação da mobilização do solo; aporte de material orgânico ao solo com qualidade e quantidade; ampliação da biodiversidade, mediante cultivo de diferentes espécies; diversificação de sistemas produtivos; uso preciso dos insumos; controle de tráfego de máquinas e equipamentos; manejo integrado de pragas, plantas daninhas e moléstias; práticas mecânicas de controle de erosão; processo colher-semear, etc. Estes preceitos são a base da sustentabilidade. DESTAQUE RURAL – Qual a importância da tecnologia para a conservação dos solos? FERNANDA FALCÃO - Hoje temos novas e diversas tecnologias ao alcance do produtor. Agricultura de precisão, máquinas e implementos modernos, capazes de analisar e corrigir o solo, softwares, GPS. Entretanto, na minha opinião, alguns conceitos básicos e fundamentais da conservação do solo têm sido esquecidos. Estamos pensando em rendimento operacional, mas estamos esquecendo da qualidade desta operação. Falamos em agricultura de precisão, com equipamentos modernos de 26 |
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aplicação, mas, muitas vezes, o calcário que está sendo aplicado, por exemplo, vai parar na área do vizinho. Observar os detalhes, cuidar para que a operação seja feita da melhor maneira, mesmo que demore um pouco mais para ser executada. Estamos esquecendo de olhar o micro, para olhar apenas o macro. Estamos esquecendo de fazer o verdadeiro sistema plantio direto, com manutenção dos restos culturais na superfície do solo, com ampliação da biodiversidade, mediante a diversificação das espécies, com redução no tempo entre colheita e semeadura (processo colher-semear), com a manutenção permanente de cobertura no solo e com aporte de material orgânico ao solo em quantidade, qualidade e frequência compatíveis com a demanda biológica deste solo, com técnicas complementares para con-
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trole da erosão. DESTAQUE RURAL - Ao que o produtor deve ficar atento? FERNANDA FALCÃO - Um fato que temos observado com mais frequência é a erosão dos solos. Quando há erosão, há perdas, não somente de solo, mas de fertilizantes e nutrientes, especialmente da camada superficial, a mais fértil, rica em matéria orgânica e onde muitas vezes esta erosão laminar não é perceptível. Não podemos ter essas perdas. Isso afeta negativamente todo o processo de produção e acarreta em perdas econômicas ao produtor. Temos, na região, áreas com declividade acentuada e é fundamental entender que, a partir de determinado comprimento de rampa, não há palha que segure a velocidade da enxurrada. Temos chuvas intensas e, muitas vezes,
em curtos períodos de tempo, sendo que muitos solos não têm capacidade de infiltrar esta água, formando então a enxurrada. Diferente da energia da gota da chuva, onde a palha é 100% eficiente em conter este impacto. O problema está ocorrendo e os produtores precisam estar atentos a este fato. DESTAQUE RURAL - Qual sua dica para o cuidado do solo, garantia de bom aproveitamento das sementes e, consequentemente, para uma boa safra? FERNANDA FALCÃO - O sucesso de qualquer atividade inicia no planejamento. Somos uma empresa sem telhado. Dependemos do clima, que é um fator incontrolável e determinante no sucesso de qualquer lavoura. Entretanto, muitos
são os fatores que influenciam na atividade agrícola. Este planejamento inicia na safra anterior, quando decidimos quais os melhores cultivares para cada área, quais os melhores insumos de acordo com a necessidade ao longo do desenvolvimento da cultura, baseado em avaliações de plantas daninhas, pragas e doenças. Com base em resultados de pesquisa oficial e científica, qual o fertilizante adequado para a área e que supra as necessidades da planta, baseado no potencial produtivo que se deseja atingir, o uso de sementes com procedência e com qualidade, com alto poder germinativo e vigor, sementes padronizadas, o que gerará plantas com maior potencial produtivo, máquinas e implementos bem regulados, qualidade operacional e não
Sistema de terraceamento base larga em nível
“O sistema de terraceamento foi ferramenta indispensável para controle da perda de nutrientes por erosão, principalmente na camada superficial do solo, onde estão concentrados os maiores níveis de fertilidade e estes números vêm crescendo com a não existência do processo de perdas por erosão”.
apenas rendimento, semeadura e colheita em nível. Também é importante o controle da erosão através do sistema plantio direto, associado ao sistema de terraceamento base larga em nível, acompanhamento constante das lavouras para que se possam tomar as decisões corretas, sempre buscando utilizar novas tecnologias que tragam custo benefício ao produtor. Conciliar a gestão técnica com a gestão administrativa e econômica é fundamental. O que vai garantir a sobrevivência na atividade é quantos reais por hectare sobrou e não simplesmente quantos sacos por hectare foram colhidos. DESTAQUE RURAL - Com funciona o sistema de terraceamento base larga em nível? FERNANDA FALCÃO - Em busca de melhoria constante nos processos de conservação dos solos na
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propriedade, a Sementes Falcão, em parceria com a Embrapa Trigo e a Emater/RS, desenvolveram, em 1997, um trabalho inédito de terraceamento base larga em nível, para o Sistema Plantio Direto, utilizando o software “Terraço for Windows”, hoje chamado Terraço 4.1 (criado por Pruski et al (1996)). No manejo da enxurrada, principalmente em áreas com declives acentuados,
onde apenas a palha não é capaz de dissipar a energia cisalhante desta enxurrada, este sistema de terraceamento, associado ao Sistema Plantio Direto, foi fundamental para reduzir drasticamente a ação negativa das águas da chuva. Calcula-se o terraço de forma precisa e de acordo com a necessidade da área em questão, com
Cada sistema de produção deve ser avaliado e adaptado à realidade de cada propriedade rural, mas é fundamental que esta análise seja feita no âmbito técnico, econômico e social.
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Economia de R$ 240,00 por hectare/safra Através de análises sistematizadas de amostragem de solo feitas através da agricultura de precisão, foi possível verificar os teores de cada nutriente em 3 camadas de amostragem: 0 a 5 cm, 5 a 10 cm e 10 a 20 cm. Estes resultados possibilitaram a redução de adubações por 5 anos consecutivos, representando uma economia média de R$ 240,00 por hectare/safra.
um excelente espaçamento entre eles, que varia de acordo com a declividade do terreno, onde é possível semear e colher e toda a extensão do terraço. É como se fosse uma microbacia dentro da propriedade. Com a excelente taxa de infiltração de água que temos no solo, toda água da chuva fica armazenada ali, sem escorrimento, favorecendo os anos de estiagem e não contaminando as nascentes, pois não há perdas. O sistema de terraceamento foi ferramenta indispensável para controle da perda de nutrientes por erosão, principalmente na camada superficial do solo, onde estão concentrados os maiores níveis de fertilidade e estes números vêm crescendo com a não existência do processo de perdas por erosão. DESTAQUE RURAL Como é feita a escolha dos melhores cultivares para cada área? FERNANDA FALCÃO Cada cultivar tem sua característica específica. Alguns cultivares são mais exigentes em fertilidade, por exemplo, outros são mais rústicos. Alguns mais precoces, outros mais tardios e cada cultivar tem sua região de adaptação específica, de acordo com a indicação do obtentor do cultivar. Temos que buscar sempre o melhor cultivar para aquela determinada região de cultivo e com diferentes grupos de maturação para diminuir os riscos climáticos.
Sistema de plantio direto
DIFERENCIAÇÃO DE CONCEITOS Semeadura Direta ou Plantio Direto Termos que expressam, simplesmente, o ato de depositar no solo sementes ou partes de plantas na ausência de mobilizações intensas de solo, tradicionalmente promovidas por arações, escarificações e gradagens. Esses termos são fiéis ao conceito dos termos “zero-tillage” ou “no tillage” ou “no-till”, ou seja, “sem preparo de solo” ou “sem amanho”, oriundos dos EUA e da Inglaterra, de onde essa técnica foi introduzida em 1969, sob o enfoque de um simples método alternativo de preparo reduzido de solo. Portanto, “semeadura direta” ou “plantio direto” reúne apenas dois preceitos da Agricultura Conservacionista: a redução ou eliminação da mobilização intensa de solo e a preservação dos resíduos culturais na superfície do solo. Plantio Direto na Palha Termo que segue os mesmos preceitos da Semeadura ou Plantio Direto, porém, apenas ressaltando a presença obrigatória de palha na superfície do solo, condição que não assegura a adoção dos demais preceitos da Agricultura Conservacionista. Sistema de Plantio Direto Um complexo de processos tecno-
lógicos destinado à exploração de sistemas agrícolas produtivos, compreendendo mobilização de solo apenas na linha ou cova de semeadura, manutenção permanente da cobertura do solo e diversificação de espécies, via rotação e/ou consorciação de culturas. Esse conceito foi ampliado posteriormente, passando a incorporar o processo colher-semear, que representa a minimização ou supressão do intervalo de tempo entre colheita e semeadura, prática relevante ao ampliar a biodiversidade e, consequentemente, o número de safras por ano agrícola, construir e/ou manter solo fértil e aportar ao solo material, orgânico em quantidade, qualidade e frequência compatíveis com a demanda biológica do solo. Portanto, é sobre essa base conceitual que, na atualidade, “sistema de plantio direto” é interpretado como ferramenta da Conservação do Solo e da Agricultura Conservacionista, capaz de induzir caráter de sustentabilidade à agricultura. Sistema de Plantio Direto na Palha Termo que abriga o mesmo conceito de “sistema plantio direto”, apenas enfatizando a presença obrigatória de palha na superfície do solo.
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AGRICULTURA CONSERVACIONISTA Práticas mecânicas para o controle da erosão Terraços são obras hidráulicas, constituídas por um camalhão e um canal, construídas transversalmente ao declive do terreno, que tem por função interceptar e disciplinar a enxurrada quando a intensidade da chuva supera a taxa de infiltração de água no solo.
AGRICULTURA DE PRECISÃO Funções do terraço: - Divide o comprimento da pendente; - Reduz a velocidade e a energia erosiva da enxurrada; - Reduz a perda de nutrientes, matéria orgânica e solo por erosão; - Evita poluição de mananciais de superfície; - Previne a formação de sulcos e perdas econômicas no manejo da lavoura.
São necessárias técnicas de manejo de enxurradas complementares ao Sistema Plantio Direto, principalmente em áreas de declive acentuado. Outra prática de controle de erosão utilizada é a semeadura e a colheita em contorno e em nível, assim como as estradas internas.
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A agricultura de precisão engloba o uso suficiente e exato de todos os insumos agrícolas e também o manejo de tráfego mecânico, animal e humano sob o solo. O sistema de análise de solos da Sementes Falcão, por exemplo, é composto por 21 sub-amostras e cada amostra com grades (grids) de dois hectares e em três profundidades de amostragem (0-5cm; 5-10cm; 10-20cm). “Desta maneira temos condições de analisar e avaliar de forma mais precisa as características físicas e químicas do nosso solo e recomendar com precisão a verdadeira necessidade de fertilizantes para cada cultura, comparando também os mapas de fertilidade com os mapas de colheita”, diz Fernanda. Manejo integrado de pragas Através do levantamento preciso de plantas daninhas, insetos e doenças, é possível verificar qual a real necessidade de controle para cada praga, utilizando somente os agroquímicos necessários, em quantidade e qualidade. O uso excessivo e sucessivo de pesticidas pode se tornar um poluente no solo. Preservação de ecossistemas frágeis Ecossistema designa o conjunto formado por todos os fatores bióticos (animais, vegetais e microrganismos) e abióticos (ar, água, luz, calor, solo, minerais, etc.) que atuam simultaneamente em um determinado meio. A agricultura conservacionista é a base para a sustentabilidade. Conserva o solo, a água, o ar e a biota, gera competitividade para o agronegócio, atende às necessidades socioeconômicas, garantindo segurança e qualidade alimentar, preservando o meio ambiente.
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POLÍTICA
Desistência ou persistência? Presidente da Comissão do Trigo da FARSUL aponta percalços e esperanças da produção de trigo no Rio Grande do Sul Fabiana Rezende
A
história do trigo gaúcho leva ao início dos anos de 1900 e tem um importante marco entre os anos de 1956 a 1958 , quando em um forte apelo nacionalista, Getúlio Vargas, presidente da época, pregava a autossuficiência na produção de trigo, aço e petróleo. Na sua visão, assim estaria garantida a necessária autonomia e dependência nacional. Mais adiante a luta do produtor voltou-se ao preço mínimo e, em 1967, ficou estabelecido que a compra do trigo nacional seria feita exclusivamente pelo Banco do Brasil. A modalidade de aquisição perdurou até o início do governo Collor, quando foi extinta, passando, a partir de então, à livre comercialização. Conforme conta o presidente da Comissão do Trigo da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul – FARSUL,
Hamilton Guterres Jardim, mais recentemente, em 1985 e 1986, houve uma nova tentativade alavancar a produção nacional, desta vez com a criação do “Grupo do Trigo”, que envolvia pesquisadores, assistentes técnicos, cooperativas, obtentores, governo, entre outros. A atividade do Grupo resultou numa ação de incentivo ao plantio através do estabelecimento do Valor Básico de Custeio - VBC(atualmente denominado orçamento de lavoura), compatível com a tecnologia preconizada na época visando, desta maneira, incentivar o produtor a realizar maiores investimentos na cultura, que tinha preço de garantia bem acima de mercado (algo em torno de 240 dólares por tonelada, e garantia de compra). A assistência técnica também valorizava o produtor assistido que produzisse 2.100 Kg/ha, uma vez que a produtividade média estava em 1.500 Kg/ha, o que era um grande desafio. “Com esse incentivo o produtor
“Ou resolvemos esses gargalos ou vamos acreditar na proposição de Assis Chateaubriand, em Erechim, por ocasião, onde sugeriu que os produtores gaúchos abandonassem a lavoura de trigo e se dedicassem a criação de ovelhas”. – Hamilton Jardim.
fez a sua parte, o clima ajudou e conseguimos uma safra no Brasil, superior a seis milhões de toneladas, quando o consumo nacional era pouco mais de sete milhões de toneladas, ou seja, produzimos algo em torno de 80 por cento do consumo nacional. De lá para cá, com o lançamento de novos materiais genéticos, a produtividade aumentou e, muito mais, os custos de produção que também estão elevados. Não bastasse o fato, as condições climáticas, principalmente geadas e chuvas excessivas, prejudicaram muito as lavouras. Desta maneira, considerando a safra de 2013, produzimos pouco mais de cinco milhões de toneladas, ou seja, menos da metade de um consumo aproximado de mais de onze milhões e meio de toneladas. Ao mesmo tempo, gastamos com importações de, aproximadamente, seis milhões e meio de toneladas, algo em torno de 2,5 bilhões de dólares”, diz Jardim. Segundo ele, estes fatores mostram
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a fragilidade do setor, que não tem previsibilidade na produção em virtude da falta de incentivo governamental. Se comparado aos demais países membros do Mercosul, tem o mais alto custo de produção. “Sem considerar os gargalos em termos de logística para escoamento interno, principalmente para o Norte e NE, grande região consumidora, mas bastante distante dos estados produtores e responsáveis por mais de 92% da produção nacional, que são as terras frias do RS, PR e SC (este último estado em menor volume de produção)”, complementa. Altos custos de produção Para Jardim, o grande percalço da triticultura moderna, em que pese os excelentes e produtivos materiais modernos, desenvolvidos por entidades públicas e privadas, é o alto custo de produção da lavoura. “Isto em muito tem contribuído para que grande parte das terras fique descobertas no inverno com esse cereal tremendamente nobre, que já chegou a ser cultivado em metade da área plantada com milho e soja no final dos anos 80 e, atualmente, não ocupa sequer nem 20% da área cultivada com soja e milho no estado, hoje de, aproximadamente, 5.800.000,00 hectares. Não bastasse isso, o cultivo de um grande número de cultivares ou variedades, bem como o baixo número de armazéns adequados com a eração e termometria para receber o trigo por ocasião da colheita, impede um sistema de segregação mais efetivo. Hoje, como a situação está posta, o produtor deixa de agregar 32 |
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Hoje, como a situação está posta, o produtor deixa de agregar valor a sua produção, visto a dificuldade de segregar o trigo de acordo com a aptidão comercial das cultivares e, desta maneira, deixa de gerar maiores receitas
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valor a sua produção, visto a dificuldade de segregar o trigo de acordo com a aptidão comercial das cultivares e, desta maneira, deixa de gerar maiores receitas”. Nova realidade Ainda de acordo com o presidente da Comissão do Trigo da Farsul, a partir da resolução número 38 do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), de novembro de 2010, que preconiza novos parâmetros visando a qualidade, e também por normas da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que estabelecem parâmetros de micotoxinas, tanto para grãos como para produtos derivados, uma nova realidade tem que ser encarada pelo setor e por toda a cadeia produtiva. “É neste contexto que todos os atores principais da cadeia terão que encontrar as soluções, seja através das câmaras setoriais estaduais e da câmara temática das culturas de inverno do MAPA, bem como, através das federações dos segmentos envolvidos, visando mostrar, desta maneira, para
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os governos estaduais e federal a importância deste grande segmento, que gera emprego (cada 30 hectares plantados gera 1 emprego direto e 2 indiretos), gera renda, gera tributos e desenvolvimento regional. Ou resolvemos esses gargalos ou vamos acreditar na proposição de Assis Chateaubriand, em Erechim, por ocasião da VI Festa Nacional do Trigo realizada em 1956, onde sugeriu que os produtores gaúchos abandonassem a lavoura de trigo e se dedicassem a criação de ovelhas”, declarou Jardim.
Hamilton Guterres Jardim
Leitura Outras histórias sobre a triticultura gaúcha podem ser encontradas no livro “Fecotrigo, um trabalho de união”, de Jaeme Luiz Callai, editado em 2008, na comemoração dos cinquenta anos de união da federação das cooperativas, e que mostra as dificuldades do segmento e produtores.
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é presidente da Comissão do Trigo da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul – FARSUL
Grupo Löser Caminhos que conquistaram a confiança dos produtores rurais
DESTAQUE EMPRESAS
Unidade de Ibirubá que reúne a sede administrativa, cerealista, agropecuária e floricultura
P
or que uma empresa se destaca? O que faz uma empresa crescer? Qual o segredo do sucesso no Agronegócio? Não há fórmulas que possam dar conta destes questionamentos, tampouco determinações que contemplem as inúmeras possibilidades que ajudariam a mapear um caminho, mas há experiências únicas, como a do Grupo Löser, que a Revista Destaque Rural apresenta neste espaço. O primeiro diferencial pode ser percebido logo que atravessamos o portão de entrada da sede do Grupo em Ibirubá, a cordialidade dos funcionários aproxima quem chega e há um contato humano, seja no olhar atento ao outro, no cumprimento firme e na atenção cuidadosa de quem, mais
Diretor do Grupo, Jakson Löser
do que trabalhador da Löser, faz daquele ambiente um espaço de convivência. E isso é incorporado por todos, e o exemplo vem do líder – o diretor do Grupo, Jakson Löser, que toda vez que passa pela recepção faz questão de apertar a mão de todos os clientes e, quem quiser falar pessoalmente com ele, encontrará sempre as porteiras abertas. “A empresa é aconchegante, tem produtor que vem só para conversar e tomar chimarrão”, destaca um dos fun-
cionários mais antigos da Löser, Liberto Scharb, que coordenou as obras de construção da primeira sede da Löser e hoje é gerente das Unidades. Não há como dissociar a estrutura e o funcionamento do Grupo de Jackson Löser, sua personalidade imprime a essência da organização que hoje conta com cinco unidades cerealista, floricultura, agropecuária e transporte. O investimento constante, a diversificação com qualidade e profissionalismo atesta mais um diferencial, garantido através de uma equipe técnica qualificada e que saiba atender as diferentes demandas de seus clientes. Na visita técnica o agrônomo chega à propriedade brincando, o produtor já conta uma piada e, nesse clima amistoso, a recomendação técnica é repassada ao agricultor. Ildemar Spier (64 anos), pro-
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DESTAQUE EMPRESAS Participantes do 1º Encontro de Casais promovido pelo Grupo Löser
dutor da localidade de Picada Café, já está familiarizado com o jeito Löser de trabalhar. Ele estava presente no dia 30 de março de 2001, na inauguração da Löser Cereais, em Quinze de Novembro, e de lá pra cá não trocou mais de empresa. “Não entrego nenhum grão fora, sou 100% Löser, porque o atendimento até agora foi 100%. A chegada da Löser foi muito importante em Quinze de Novembro, antes tínhamos uma única opção para entregar a safra no município”, comenta. “Na Löser tu se sente em casa”, acrescenta o produtor Alberto Della Libera, que planta 570 hectares em Santo Antônio do Bom Retiro, no interior de Ibirubá e, desde 2007, entrega toda a produção na Löser Cereais.
Diferenciais O atendimento individualizado e consciente parte de uma cultura organizacional com hábitos de estímulo e efeito, que garantem uma fidelidade na relação comercial do Grupo com seus colaboO atendimento individualizado e consciente parte de uma cultura organizacional com hábitos de estímulo e efeito
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radores e clientes. Foi assim, que a Löser cresceu em meio às dificuldades. Jackson relata a crise enfrentada no setor agrícola, em 2005, e as estratégias criadas para superar um cenário adverso e, ainda crescer quando muitos registraram perdas significativas. O próprio diretor ia às comunidades, reunia os produtores, suas mulheres e através de dinâmicas de grupo, de um diálogo motivador integrava as comunidades, que fortalecidas conseguiam enfrentar os desafios com trabalho e empatia. Jackson é um visionário, estrategista com faro apurado e sensibilidade para liderar não só os negócios. Assim, além de expandir a Löser Cereais, diversificou sua atuação e estruturou o Grupo Löser, com cinco unidades cerealistas: duas sedes em Quinze de Novembro, uma delas é a matriz; duas sedes em Ibirubá, uma delas hoje congrega o centro administrativo do Grupo e uma sede no município de Jóia. Uma agropecuária e floricultura.
DESTAQUE EMPRESAS
Amor Perfeito Flores encantadoras, opções diversas e equipe atenciosa cativa clientes A paixão por flores fez o diretor do Grupo Löser, Jakson Löser, não hesitar em investir pesado para ter uma floricultura diferenciada e, em 19 de outubro de 2008, foi inaugurada em Ibirubá a Amor Perfeito Floricultura. A qualidade e a variedade de opções em flores sempre foram destaques. A proprietária da floricultura, Bruna Klein, lembra que a escolha da nova loja foi amor a primeira vista. “Na época, me apaixonei pelo jardim de inverno que era conservado pela antiga dona”, recorda Bruna. A loja tem uma ampla variedade de flores para presentes como orquídeas, begônias e lírios. Tem ainda vasos para
decoração de casas e apartamentos. Quem chega na Amor Perfeito encontra todas essas opções a disposição, não é preciso encomendar. Foi toda essa diversidade que encantou a caminhoneira, Elisete Ubessi da Silva (44 anos), que é cliente da floricultura desde a abertura da loja, há quase seis anos. “Eu não troco de floricultura. Tem uma variedade de flores e gosto do atendimento, gosto da Bruna: ela é simpática, a gente chega e ela está sempre sorridente, feliz, te atende bem, te dá atenção. E é isso que eu procuro numa loja. Hoje em muitas empresas te olham por fora, a tua roupa e não a pessoa que você é”, relata Elisete. O investimento na floricultura foi além: na RS 223, ao lado da Löser Cereais, a Amor Perfeito tem uma nova e ampla loja com muitos produtos para ambientes externos – são plantas nativas, frutíferas, plantas para jardim, vasos, pedras e outros materiais para sacadas como mesas, cadeiras e produtos de decoração. Para acompanhar esse portfólio a busca por qualificação profissional é constante
em cursos específicos para a área como paisagismo e decoração de interiores. Manter a qualidade do atendimento, dos produtos e a diversidade de flores, sem descuidar do preço é outro desafio.
Atendimento qualificado Quais as melhores plantas para interiores? Quais texturas e materiais combinam com determinada flor? Quais cortes e técnicas para aumentar a conservação do arranjo? A proprietária da Amor Perfeito Floricultura foi buscar essas respostas no curso “Designer Floral para Decoração de Interiores”, promovido pela Floral Design Brasil – Formação Internacional em Arte Floral em Holambra, no interior de São Paulo, considerada a capital nacional das flores e responsável por 40% das flores comercializadas no País. “Com essa qualificação podemos melhor orientar e atender os nossos clientes da floricultura”, avalia Bruna.
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DESTAQUE EMPRESAS
VALORIZAÇÃO DAS PESSOAS Encontro de casais e baile de encerramento da safra, com sorteio de viagens e prêmios para os produtores rurais, são algumas das iniciativas da empresa. O Pastor Cesar Neiverth, formado em teologia e com pós-graduação em Psicologia e Aconselhamento Pastoral, dedica um dia por semana à Atividade Motivacional nas unidades da Löser Cereais e, também, quando necessário, junto a clientes da empresa. O trabalho motivacional visa o bem estar emocional dos colaboradores, bem como qualificar a psicologia que rege os relacionamentos dentro do quadro funcional. “O bem estar dos colaboradores se reflete no bem estar da empresa. Pessoas felizes produzem com mais qualidade e elevam o semblante humano da empresa onde trabalham”, ressalta o pastor. Promover a qualidade de vida no ambiente de trabalho é um
dos princípios da Löser, tanto que, em março deste ano, a instrutora de yoga e terapeuta corporal, Marcia Roque Dickel Weber, foi contratada para atender os colaboradores nas Unidades da Löser Cereais, Löser Agrícola e Pecuária e na Amor Perfeito Floricultura. São realizados, todo mês, mais de 200 atendimentos de Quick Massage – massagem rápida que proporciona o relaxamento muscular, levanta a energia e melhora a ansiedade. Para os funcionários dos armazéns também é feito o yoga laboral, que trabalha a respiração e o corpo de forma completa, harmonizando aspectos físicos e mentais. “O yoga laboral tranquiliza a mente, reforça a autoestima e a autoconfiança, e ajuda o praticante a lidar melhor com situações de estresse e ansiedade”, reforça Marcia. Outra forma de valorizar as
Baile de encerramento de safra
Yoga laboral tranquiliza a mente, reforça a autoestima e a autoconfiança, e ajuda o praticante a lidar melhor com situações de estresse e ansiedade
pessoas é posta em prática na Löser com o trabalho desenvolvido em parceria com a terapeuta Lenir Seibel Roos. Funcionários, clientes e até quem não é cliente são encaminhados para o consultório em Ibirubá onde a saúde psicológica e emocional é tratada. “Não faz sentido ter um comércio onde os funcionários e clientes são tratados como máquinas, essa relação humana deve existir no dia-a-dia da nossa vida e temos essa ideologia de valorizar o ser humano”, avalia Jakson Löser.
Colaboradores da Unidade da Löser em Ibirubá durante a aula semanal de yoga laboral. 38 |
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TRIGO
Associação em prol da triticultura gaúcha Produzir com qualidade e buscar mercados e o foco do trabalho
H
á mais de 30 anos realizando discussões, debates e estudos a respeito da viabilidade do cultivo do trigo, no Rio Grande do Sul, produtores de Passo Fundo e demais regiões estão mobilizados para a criação de uma Associação, que deverá ser responsável por uma organização mais eficiente para atender às demandas dos agricultores, armazenadores e moinhos. Segundo membros da Comissão do Trigo, do Sindicato Rural de Passo Fundo/RS, até a extinção da Cetrin (Comissão para Compra do Trigo Nacional, extinta em 1990, que fixava preços e direcionava a produção brasileira) havia liquidez para a produção. “Com o fim da Cetrin ficamos à própria sorte. Não existe projeção de consumo do trigo nacional, falta consistência de comercialização, falta quantificar tipos de trigo e onde estão depositados. Nosso grande erro, na época da extinção da Cetrin, foi delegar a terceiros o problema que herdamos”, declara o integrante da Comissão, João Batista Fernandes da Silveira. Ele destaca que dos 27 es-
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Presidente do Sindicato, Paulo de Tarso Silva, e membros da Comissão Setorial do Trigo do Sindicato, Júlio Susin e João Batista Fernandes da Silveira
tados da Federação, somente o Rio Grande do Sul e o Paraná são produtores efetivos de trigo. “O mercado do trigo é altamente disputado, é preciso estar nele com seriedade. O custo de produção também é um fator importante já que, no Brasil, é o mais alto do mundo e concorremos com a Argentina e os Estados Unidos. Somente quando estivermos com a “casa pronta” (trigo de qualidade) poderemos chegar até Brasília e pedir por mudanças. Existe um movimento em busca disso, mas é preciso o convencimento de todos os elos da cadeia a respeito da importância de andarmos em uma mesma direção e falarmos a mesma língua. O
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problema da comercialização do trigo é nosso, só nós podemos resolvê-lo”, afirma o presidente da Comissão, Julio Susin. As ações dos produtores engajados, no ano de 2015, estão voltadas para a solução deste assunto. O primeiro debate entre integrantes da diretoria do Sindicato Rural de Passo Fundo e associados vinculados à cultura foi realizado na noite do dia 27 de janeiro, na sede do Sindicato. Na ocasião, os membros da Comissão Setorial do Trigo do Sindicato, Júlio Susin e João Batista Fernandes da Silveira, acompanhados do presidente do Sindicato, Paulo de Tarso Silva, apresentaram os principais fatores que dificultam
a venda do trigo. “Constatamos que, embora a produção seja inferior ao consumo, devemos procurar mercado externo por questões políticas e de logística. Além disso, os preços de nosso produto são sempre inferiores mesmo que tenhamos qualidade. Existem dificuldades de retirada da produção do estado, além da má fama, mesmo que seja de boa qualidade”, disse Susin. Conforme os produtores, é necessária a criação da associação para organizar a cadeia antes do plantio, unir propósitos, prospectar mercado e cobrar ações políticas para que sejam conquistadas melhorias na cadeia tritícola de todo o RS. “Esta associação deverá acontecer entre cooperativas, cerealistas, produtores e indústria moageira. Cremos que este será o início de um importante processo e que, com os resultados deste trabalho, mais entidades irão aderir a esta nova Associação”, destaca Fernandes. Um novo encontro aconteceu no dia 13 de fevereiro, novamente na Sede do Sindicato, durante a Reunião do Trigo, com a presença do Dr. Sérgio Dotto, chefe geral da Embrapa Trigo, que tratou sobre a “Evo-
Deputado federal Luis Carlos Heinze, falou sobre as movimentações políticas para resolução dos problemas enfrentados pelos produtores
Evolução, qualidade e importância econômica da triticultura foram temas de reunião entre produtores
lução da Qualidade do Trigo”. Em seguida, Cláudio Dóro, engenheiro agrônomo da Emater, fez uma apresentação a respeito da “Importância Econômica da Triticultura”. O deputado federal, Luis Carlos Heinze, também esteve presente no evento e falou com os presentes sobre as movimentações políticas para a re-
solução dos problemas enfrentados pelos produtores do estado. Novas reuniões darão andamento às discussões e, desta forma, formalizar a criação da Associação, que irá defender os direitos e interesses dos triticultores do estado. “Nós precisamos dar novamente crédito aos produtores. Um dos temas é o novo preço mínimo. Na semana passada, a Ministra Kátia Abreu recebeu da OCEPAR, OCERGS e FECOAGRO/RS uma proposta de alteração do preço mínimo do trigo, bem como um programa que possa estimular os triticultores gaúchos e paranaenses, os dois maiores produtores do País, a voltar ao cereal-rei”, disse o deputado federal, Luis Carlos Heinze, em reunião na Secretaria da Agricultura e Pecuária do Governo do Estado do Rio Grande do Sul destinada ao debate de propostas para o desenvolvimento da triticultura gaúcha, no dia 09 de fevereiro deste ano.
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CT& Bio
Gilberto Cunha
gilberto.cunha@embrapa.br
Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo
A ERA DO BIG DATA
A
quantidade de dados (informações) que é produzida diariamente em escala planetária não encontra precedente na história humana. A IBM, em 2011, estimou essa soma, que hoje pode ser considerada em certos aspectos até conservadora,em 2,5 quintilhões de bytes a cada dia. Que significa isso? Nada ou muito; dependendo da nossa capacidade de processar essa enorme quantia de dados e transformar o que não passa de mera informação em conhecimento útil. E, por outro lado, que, indiscutivelmente entramos na era do Big Data. A expressão da moda, Big Data, contempla os bancos de dados de tamanho bem maior dos que conhecemos ou estamos acostumados a lidar no dia a dia. E que, mudando radicalmente o procedimento usual, os dados estão concentrados em uma base única e o processamento é que fracionado. Até, em razão disso, há certa glamourização do Big Data no ambiente corporativo, quer seja no universo científico ou no mundo dos negócios. A tal ponto que o crescimento exponencial da quantidade de informação passou a ser visto por alguns como espécie de panaceia, servindo a mera massa de dados, por exemplo, para propostas que sugerem não serem necessárias novas teorias ou que o método científico poderia ser abolido. Nada mais falso e ingênuo que isso, pois antes de exigir mais de nossos dados deveríamos exigir mais de nós mesmos. Devemos, nesse misto de capacidade de processamento de dados e julgamento humano, ter bem clara a fragilidade dos nossos pressupostos teóricos, pois esses podem embasar decisões que levam a resultados desastrosos. O entusiasmo com o Big Data exige, mais que retórica de persuasão sobre a utilidade desses bancos de dados, capacitação para o processamento de dados em grande escala e formação estatística para a extração de conhecimento do que, por si mesmos,
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O entusiasmo com o Big Data exige, mais que retórica de persuasão sobre a utilidade desses bancos de dados, capacitação para o processamento de dados em grande escala e formação estatística para a extração de conhecimento não passam de meros dados, ainda que disponíveis em grandes quantidades. Lidar com Big Data, racionalmente, hoje, significa saber lidar com a incerteza sobre o que pode ser concluído dos dados, quer seja uma previsão de qualquer coisa (resultado de eleição, vencedor de um campeonato de futebol, etc.) ou uma inferência científica derivada de experimentação empírica (dose de nutrientes no desempenho produtivos das culturas em agricultura, resposta a doses e drogas em tratamentos de doenças, etc.). Em essência, reviver Jacob Bernoulli, que, visionariamente, há cerca de 300 anos, quando publicou o livro ArsConjectandi, estabeleceu o uso da teoria da probabilidade para explorar melhorar as propriedades das estatísticas quando mais observações eram tomadas. Ou prestar tributo à memória do reverendoThomas Bayes, que há 250 anos, definiu, em ensaio clássico, que os seres humanos aprendem com a experiência, atualizando suas crenças assim que mais dados são disponibilizados. Os problemas tradicionais em estatística,
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em geral, envolvem muitas observações e poucos parâmetros medidos ou, inversamente, em tempos recentes, até por questão de custo elevado com experimentação, poucas observações e muito parâmetros medidos (como é exemplo a avaliação da expressão de muitos genes em um número limitado de amostras de tecido). Nesse último caso, é necessário que sejam testadas muitas hipóteses, para se tirar conclusões. E, apesar de consagrado nas ciências empíricas, a exemplo das agrárias, da saúde, etc, o uso de testes de significância estatística, nem sempre é adequado e nem se presta para uso indiscriminado. O padrão p< 0,05, usado a exaustão em trabalhos acadêmicos nas ciências experimentais, até por quem não consegue perceber o que esse número (0,05) significa na prática, simplesmente, nesse caso, nos diz que 1 em 20 das relações que não existem será declarada significativa naquele experimento. São as falsas descobertas, que depois se mostram erradas. Diminuir as chances das falsas descobertas é o grande anseio da ciência que lida com experimentação empírica e tira conclusões por indução ou inferência estatística. Não é por outra razão que a maioria das ditas descobertas científicas publicadas é falsa, como chamou atenção o polêmico artigo do médico John P. A. Ioannidis, publicado em 2005 (PLoSMed 2 (8):e124), referente a descobertas positivas apresentadas em periódicos da área médica (2/3 não conseguiram ser reproduzidas em laboratório). Vislumbram-se aplicações Big Data no complexo agroindustrial de um produto, caso da soja, do milho ou do trigo, por exemplo, em agricultura de precisão, gestão de frotas de maquinas agrícolas e de uso de insumos em plantas industriais; entre outras. Nunca tivemos tanta informação disponível ao nosso alcance. Mas, mais informação também pode significar mais problemas. Por isso, recomenda-se: mais Jacob Bernoulli e mais Thomas Bayes, para lidarmos com Big Data.
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