6oERGODESIGN | 2006
Comunicaçãoalternativa
sob o enfoque
do
ergodesign Alternative communication under the approach of ergodesign
MASCHIO, Helen Graduanda em Tecnologia em Móveis Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR pedta@cefetpr.br SCHUSTER, Estefânie Graduanda em Tecnologia em Móveis Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR pedta@cefetpr.br MALLIN, Sandra Sueli Vieira Mestre em Inovação Tecnológica Coordenadora do Programa de Ergodesign Aplicado a Tecnologia Assistiva/ PEDTA Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Avenida Sete de Setembro, 3165 Centro Curitiba – PR CEP 80230-901 pedta@cefetpr.br Palavras- chave: Comunicação Alternativa, Ergodesign, Tecnologia Assistiva, Paralisia Cerebral Resumo: O artigo trata do desenvolvimento de produtos sob a ótica do Ergodesign voltados à Tecnologia Assistiva para portadores de necessidades especiais. Demonstra os resultados alcançados com o redesign de um painel de comunicação alternativa . 6o Congresso Brasileiro de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces HumanoTecnologia: Produtos, Informação, Ambiente Construído, Transporte 6o International Congress of Ergonomics and Usability of Human-Technology Interfaces: Produtcts, Information, Built Environment,Transportation 2
Key-words:Ergodesign, Assistive Technology, Cerebral Paralysis, Alternative Communication Abstract: The article deals with the development of products under the optics of the Ergodesign come back to the Assistiva Technology to ward special carriers of necessities. It intends to demonstrate the results reached with redesign of a panel of alternative communication.
1. Introdução O presente trabalho foi desenvolvido no Programa de Ergodesign Aplicado à Tecnologia Assistiva - PEDTA, dentro de uma Universidade Tecnológica, sob a responsabilidade da Pró-Reitoria de Relações Empresariais e Comunitárias. Este programa “Visa um trabalho conjunto com equipes de reabilitação das instituições sediadas em Curitiba bem como a interdisciplinaridade com os demais departamentos, oficinas e laboratórios da universidade, oportunizando difundir uma mentalidade reabilitadora além de buscar o apoio dos Programas de Pós-Graduação.” (PEDTA/site do Programa). O conceito de Tecnologia Assistiva adotado segue a definição da Organização Internacional de Normatização - ISO, em sua Norma 9999, que situa: “(...)qualquer produto, instrumento, equipamento ou sistema técnico usado por uma pessoa deficiente, especialmente produzido ou disponível que previne , compensa, atenua ou neutraliza a incapacidade(...)” A proposta desenvolvida trata do redesign de um Painel para Comunicação Alternativa, utilizado na educação especial e solicitado pela Associação Paranaense de Reabilitação-APR, sediada em Curitiba, parceira do PEDTA. Atende crianças e jovens portadores de necessidades especiais, entre 05 e 20 anos de idade. O produto é fundamental para desenvolver a comunicação daquelas pessoas acometidas de alguma doença, deficiência ou situação momentânea que impediu sua comunicação com o mundo por meio dos recursos mais usuais como a fala. Nesta instituição são desenvolvidas tarefas psico-motoras, reabilitação de pacientes e fabricação de produtos ortopédicos, mas que carecem ainda da linguagem do Ergodesign para amplificar o seu
potencial reabilitador. Possui ainda uma escola de educação especial que realiza trabalhos pedagógicos e alfabetização de crianças e adolescentes até 16 anos. Além do painel, tornou-se necessário desenvolver também determinados recursos didáticos como ícones e símbolos mais legíveis, visíveis e compreensíveis, pois o atual encontrava-se obsoleto, exigindo um esforço excessivo para sua compreensão.
2. Estado da arte Foram realizadas pesquisas sobre a tecnologia assistiva disponível no mercado para portadores de paralisia cerebral, na área de comunicação alternativa. Nestas pesquisas avaliou-se as formas e funções dos produtos. Entende-se por comunicação alternativa as maneiras não usuais de comunicação. Inclui-se
aí a linguagem gestual, sinais e movimentos faciais. Cabe uma diferenciação sobre o termo alternativa e o termo ampliada, ambos aplicados à comunicação, porém “(...)A comunicação é considerada alternativa quando o indivíduo não apresenta outra forma de comunicação e, considerada ampliada quando o indivíduo possui alguma comunicação, mas essa não é suficiente para suas trocas sociais.” (Extraído do site http:// www.comunicacaoalternativa. com.br/adca/caa/ comunicacaoalternativa.htm). Além deste conceito é necessário compreender que um projeto desta natureza deve perpassar o conceito de usabilidade envolvendo portanto, as tecnologias assistivas do ponto de vista da facilidade do seu uso. Para tanto consideramos o esquema (fig. 01) apresentado pela Fundação ONCE (Espanha) no projeto DATUS (Diseño de Ayudas Técnicas bajo critérios de Usabilidad/2000/2003) e desenvolvido pelo Instituto de Biomecânica de Valência (IBV) como segue:
Tecnologia Assistiva Usuários com necessidades especiais
Usabilidade
DATUS
Processos Projetuais Design orientado ao usuário
Figura 1 - Aspectos analisados durante o processo/DATUS 3
Os produtos avaliados foram: Produto I: Expansão Ind. e Com. de Produtos Ortopédicos e Terapêuticos LTDA (figuras 02 e 03)
Produto II: Centro de Terapia Ocupacional do Rio de Janeiro (figura 04) Neste centro realizam-se estudos referentes a comunicação alternativa . É um centro de atendimento para bebês, crianças, adolescentes, adultos e idosos que apresentam dificuldades na realização das atividades de vida diária, nas atividades escolares, de lazer ou do trabalho. No local é utilizada a prancha de comunicação. As figuras abaixo foram retiradas do próprio site.
Figura 06 - Qaudro de figuras
Produto IV: Lúmen equipamentos terapêuticos (figura 07) A Lumén foi criada por duas terapeutas ocupacionais, e a empresa fabrica desde equipamentos simples até os mais sofisticados. A Lumén também trabalha com equipamentos sob-encomenda. Hoje, atende a 24 crianças, onde o trabalho se dá com oficinas de horticultura, artes e reciclagem de papel.
Figura 02 - Tamanduá I
Figura 04 - Painel para atividades
Figura 03 - Tamanduá II
“Sistema de Fixação MentoOccipital, com hastes telescópicas. Com regulagens que se ajustam ao perfil cefálico. Apresenta também ajuste do arco de recepção das hastes de acionamento que permitem utilizar o sistema via testa ou via queixo, com ampla regulagem de angulação, altura e distância.” Fonte: http://www.expansao.com Esse sistema possibilita ao paciente maior mobilidade com a prancha, usado para atividades educacionais. Também pode ser usado como apoio para teclado e acompanha junto a ele um suporte para cabeça. Possui três tamanhos P, M e G sendo acoplado à cadeira do usuário.
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Produto III: Sinapse (figuras 05 e 06)
Figura 07 - Cadeira com prancha e jogos
Figura 05 - Usuário e Leitura Adaptada
A instituição localiza-se em Taubaté. Trabalha com aspectos clínico-psicopedagógicos sendo o atendimento individualizado. Foi verificado o uso de painéis, numa versão bem simplificada, como pode ser visto na figura a seguir.
Produto V: Associação de Assistência à criança Deficiente/ AACD (figura 08) Criada por um Médico em 1944, a AACD tem como objetivo reabilitar e reintegrar crianças que possuem algum tipo de deficiência. Não foram encontrados painéis e sim mesas com tampo regulável, que seguem praticamente a mesma função da prancha, como na imagem a seguir:
Figura 08 - Mesa e cadeira em madeira com altura regulável e possibilidade de acessórios
Figura 09 - Prancha de apoio
Figura 10 e 11 - Painel em madeira
A mesa e cadeira são de altura reguláveis. A cadeira possui os braços reguláveis. O material usado é a madeira Produto VI: Vanzetti – Produtos de reabilitação especiais para pessoas especiais (crianças e adultos) (figura 09) Empresa localizada em São Paulo, tem sua produção voltada para fabricação de artefatos assistivos , na sua maioria cadeiras, brinquedos e produtos didáticos. A estrutura usada é de madeira e de formato simples, limitandose a função de apoio. Possui três níveis de inclinação e porta lápis. Produto feito sob medida e indicação de um profissional. Há outros produtos que possuem semelhante função da prancha. Produto VII: APR- Associação Paranaense de Reabilitação (figuras 10 e 11) O produto de comunicação alternativa utilizado pela APR é constituído de folhas de madeira unidas através de dobradiça em piano, com apoio posterior. Confeccionado artesanalmente, foi nosso objeto de redesign. O painel é usado principalmente para dar apoio aos livros. Recentemente foi adquirido uma painel de metal (fig. 12 e 13) no qual as professoras colocam imãs com figuras e letras do alfabeto. Consiste apenas de uma chapa de metal dobrada e pintada de branco. Figuras 12 e 13 Painel metálico e acessórios didáticos
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3. Metodologia Através de relatos e visita técnica ao local teve-se a noção exata do que se pretendia, e, a partir do modelo antigo, foram pensados os estudos das novas propostas, sempre buscando orientação das educadoras, das terapeutas, e a familiarização com as necessidades dos usuários. A solicitação das terapeutas determinou o material a ser utilizado: uma chapa de metal para que fossem fixados itens e figuras de cunho educativo através de borracha imantada, com impressão fosca. O redesign do painel constituiu-se em um estudo da sua utilização e aperfeiçoamento de sua função. A vertente do design centrado no usuário permeou todo o trabalho, utulizando um enfoque ergonômico de concepção, ou seja, a contribuição ergonômica esteve presente desde a fase inicial do projeto. O enfoque centrado no usuário se fez necessário, pois projetos desta natureza devem considerar que é o usuário que possui metas e desejos bem definidos, e será ele, em última instância, o ator que desenvolverá suas interações com o produto (MORAES:2000).
respostas do usuário (MORAES e MONT’ALVÃO). Utilizou-se também a técnica do registro fotográfico, através de câmera digital, para as análises posturais e de trabalho real com o equipamento antes do redesign. Em se tratando de novas interpretações para os ícones, o trabalho foi realizado utilizando o software Clipart 50.000. As imagens foram posteriormente tratadas em software adequado, retirando-se o fundo e as cores que não fossem as primárias. Para BRAGA (1995), “(...) a criança estabelece relações sociais através de símbolos que são sistemas culturais, mas o que interessa, no caso do deficiente, não é o tipo de instrumento ou signo que deve ser desenvolvido ou ensinado e sim o significado deles.” Para o trabalho considerou-se que o tipo de sistema simbólico não
importa mas sim o significado envolvido. Assim, as imagens foram agrupadas da seguinte maneira: caracteres alfa-numéricos; objetos da vida cotidiana; fauna; flora. Toda a abordagem do painel para comunicação alternativa foi desenvolvido acreditando-se que o usuário (crianças com paralisia cerebral) necessitam de uma educação mediada por alternativas educacionais. Esta educação mediada por artefatos de tecnologia assistiva além da mediação realizada através da família e dos terapeutas podem descortinar um novo mundo a estas crianças. A geração de alternativas (fig. 14, 15 e 16) procurou assegurar que o produto interagisse com o paciente, não limitando o painel apenas à categoria de apoio de objetos. A geração de alternativas procurou agregar novas tecnologias e facilidade de produção, além de suprir tais necessidades.
Além desses aspectos, foram considerados ainda: o processamento da informação; a tomada de decisões enfocando a detecção e a discriminação dos sinais conforme as habilidades do usuário em questão no que se refere à utilização do painel e seus elementos para a comunicação; os signos e os símbolos; análise da tarefa verificando as implicações do grau da paralisia cerebral nas
Figuras 14, 15 e 16 - Alternativas geradas para o projeto
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4. Resultados
5. Considerações finais
Depois da alternativa escolhida, foram confeccionados modelos da estrutura, estudo de dimensionamento e esforço mecânico (figura 17). O modelo funcional foi confeccionado na escala 1:1, exigindo apenas um processo de corte e dobras, posteriormente pintura em tinta fosca, preta.
Figura 17 - Modelo feito em papel
O resultado final é apresentado ao lado (figura 18).
Conforme BRAGA (1995) “estudos recentes mostram que crianças com deficiência motora grave e incapacidade de fala, que eram consideradas retardadas mentais, após a implementação de meios alternativos de comunicação e expressão, apresentaram resultados compatíveis aos de crianças normais. (...) mas a questão da cognição na paralisia cerebral é ainda um interrogação.” Estamos, pois, na busca da resposta.
O modelo deverá ser submetido a testes para avaliação e validação do projeto, em circunstâncias de variáveis controladas, com os usuários em questão, na instituição de reabilitação. As especificações ergonômicas finais ficarão atreladas aos resultados que ainda estão por ser analisados. Figura 18 - Modelo funcional em metal
Referências Bibliográficas MORAES, Anamari e MONT’ALVÃO, Cláudia. Ergonomia: conceitos e aplicações. Rio de Janeiro: 2AB, 2000. BRAGA, Lúcia Williadino. Cognição e paralisia cerebral: Piaget e Vygotsky em questão. Salvador: SarahLetras, 1995. COUTO, Rita Maria de Souza. (org) Formas do design: por uma metodologia intesciplinar. Rio de Janeiro: 2AB, PUC-Rio, 1999. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 9999. Technical aids for persons with disabilities: classification and termilogy. 2002 50.000 CLIPS: cliparts, fotos, fontes. São Paulo: Anasoft Editora e Distribuidora. 2004 . 2 CD-Rom.
10 e 11 de Abril de 2006. LEI - FAAC - UNESP - Bauru - SP - Brasil
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