CONHEÇA O PROGRAMA
MEDITATION STEPS, ONDE O DADA SADANANDA ENSINA A FILOSOFIA DE BABA
AS DIFERENTES MANEIRAS DE PRATICAR E DESFRUTAR O
KIIRTAN
LEIA A SÉRIE ESPECIAL UNIVERSALISMO (PARTE 3)
EXISTEM
VOZES NEGRAS NA ANANDA MARGA?
edição #6
editorial
Inspirar e provocar o que você espera de nós?
Iniciamos a sexta edição do Dharma for all Jour-
na busca pelo equilíbrio citado acima. Terminare-
nal – a última de 2018. Sentimo-nos ainda jovens,
mos o ano, por um lado, trazendo uma agenda de
com uma mistura de alguns aspectos de quem so-
eventos inspiradores; explicando quais são os vá-
mos já consolidados e outros ainda em formação.
rios jeitos de se fazer kiirtan; compartilhando mais
Por exemplo, estamos encontrando nosso próprio
uma deliciosa receita, criada pelo pracaraka chef
equilíbrio entre ser um veículo que divulga con-
Kaelash; contaremos a história de Kamaleshvara, o
teúdos inspiracionais, para nutrir nosso desejo
acarya de família que há anos vem fazendo um só-
por devoção, poesia, filosofia e notícias de bons
lido trabalho de pracar na Itália – e ajudando a for-
projetos de dharma pracar, e que propõe textos
mar outros pracakaras; assim como vamos enten-
provocadores, para questionar nossa maneira de
der quem são e o que fazem os acaryas de família,
enxergar a nós mesmos e a nossa prática como
na última parte da série “trabalhadores de pracar”.
anandamargiis e nos impulsionar a mudar e querer
Ao mesmo tempo, continuaremos a provocação
ser melhores.
iniciada com a matéria sobre o papel das mulheres na comunidade de Ananda Marga, na série “uni-
O que motiva você a nos ler? Querer se inspirar?
versalismo”, refletindo, agora, sobre qual o lugar
Um desejo de se questionar? Ambas as coisas?
que reservamos à população negra.
Queremos cada vez mais ouvir a opinião de quem nos acompanha, pois o retorno de vocês é parte
Então, continue atento(a) a nossas publicações, no
importante desse processo de consolidar quem
Facebook (aproveite para curtir e avaliar a nossa
somos. Para isso, inclusive, temos agora uma se-
página), no Instagram (siga-nos) e em nosso site
ção de cartas: basta nos enviar seus comentários,
(assine a nossa newsletter). Lembre-se, também,
elogios ou críticas para o email journal@d4all.org
que durante esta edição lançaremos a revista digi-
e, além de ser lida com atenção e carinho, sua car-
tal que reúne todos os conteúdos da edição ante-
ta poderá vir a ser publicada (na íntegra ou par-
rior, para você poder ler online ou imprimir.
cialmente). Conte-nos o que mais tocou você até agora, e o que mais incomodou. Diga-nos qual foi
Ajude-nos a inspirar. Apoie-nos a provocar. Una-se
a sua matéria preferida e a que você menos gos-
a nosso movimento mundial de dharma pracar!
tou. Gurucaran (Gustavo Prudente) Você verá que, nessa sexta edição, continuamos
Editor-chefe
DISTRIBUIÇÃO EDIÇÃO GERAL REPORTAGENS Laksmii & gratuita Gurucaran Jayanti PERIODICIDADE SUPERVISÃO CAPA mensal Prashanti EDIÇÃO#6 EDIÇÃO GRÁFICA Autumn Goodman Brasil Iasodara Abril 2019 Julia Koch
CONTATO journal@d4all.org journal.d4all.org f b.com/dharmaforalljournal instagram.com/d4alljournal
JOURNAL
2 | Dharma for all Journal
NESTA EDIÇÃO
4
Mensagem de Baba aos margiis
6
Série especial: existem vozes negras na Ananda Marga?
12
O passo a passo para meditação do Dada Sadananda
17
A história do acarya italiano Kamaleshvara
22
Projeto Mover Juntos
25
Inspirações de pracar
28
As diferentes maneiras de praticar kiirtan
32
Kaelash, o yogaterapeuta e seu superalimento
“Você deve lembrar que a vida humana não é como uma única flor; é como um buquê ou um jardim de flores desabrochando com muitas variedades de flores. E esta variedade de flores aumenta a beleza coletiva do jardim. Se houvesse apenas magnólia graniflora ou uma variedade de rosa apenas florescendo no jardim, embora essa única flor pudesse ser muito atraente, ainda assim o jardim como um todo não seria muito bonito. Um jardim é ainda mais bonito por causa das flores de vários tipos e matizes.” Shrii Shrii Anandamurti
Dharma for all Journal | 3
babastory
P r a c h a r
Um dia, o fato de que o destino de todo indivíduo, não apenas desta Terra, mas também do cosmo inteiro se entrelaça terá de ser admitido pela humanidade. Os aspirantes espirituais precisam fazer com que esse auspicioso momento aconteça logo, por meio de seu incansável esforço, serviço e propagação da grande ideologia. Somente essa é a tarefa suprema para a humanidade do presente.
4 | Dharma for all Journal
Com o estabelecimento da nova organização, Baba começou a incentivar seus discípulos a difundir ativamente seus ensinamentos. Ele tinha dado à organização o nome de Ananda Marga Pracaraka Samgha, ou AMPS (Sociedade para a Propagação da Ananda Marga), utilizando a palavra em sânscrito prachar. Como o nome da organização sugeria, o prachar rapidamente se tornou sua principal atividade. A única restrição era que o nome ou o paradeiro do mestre não podiam ser revelados aos novos iniciados, até que eles recebessem a permissão de estar com ele pela primeira vez. Os discípulos logo imprimiram dois pequenos panfletos para ajudá-los em seus esforços de prachar. Um deles continha os dez princípios de yama e niyama; outro apresentava a organização e alguns de seus princípios básicos. Um trecho do texto do segundo panfleto demonstra o entusiasmo com que os discípulos aceitaram os primeiros ensinamentos de Baba.
Somos contra todo tipo de tendências discriminadoras criadas pelo homem. Acreditamos fortemente que todos os seres vivos são filho do Senhor Supremo. Ninguém é superior ou inferior aos demais. Pertencemos a uma única família humana, independentemente de nosso país, religião, cor e comunidade. Todos são irmãos e irmãs, e existe um único dharma para todos os seres humanos. Somos contra a hipocrisia religiosa e a exploração religiosa de todos os tipos. Não acreditamos na chamada “condição de guru”, “condição de Cristo”, ou na filosofia da encarnação divina. Somos contra dogmas religiosos tais como morte de animais em nome da religião, tirania sobre inocentes, veneração de ídolos, e autoridade hereditária na religião. Somos radicalmente contra todos os tipos de dogmas e supertiçoẽs sociais psíquicos e religiosos. Para fortalecer a base da unidade, precisamos fazer com que os seres humanos se tornem mais unidos. (…)
Trecho do livro Histórias de um mestre tântrico, por Devashish (Donald Acosta), capítulo XIII Mensagem de Baba aos margiis, janeiro 1969. Anandamurti, Ananda Vanii Samgraha, 15
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Autumn Goodman
articles
SĂŠrie especial universalismo (parte 03):
Existem vozes
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negras
na Ananda Marga?
Marga para o mundo, e as pessoas que fazem parte da comunidade, podem, sim, reproduzir diferentes aspectos do racismo que estrutura uma grande parcela da sociedade (especialmente a Ocidental).
Nessa terceira parte da série “Universalismo”, Dharma for all Journal investiga se há um espaço objetivo para que a diversidade proposta pelo universalismo de Baba realmente aconteça e considere as diferentes visões de mundo. Essa pesquisa é extensa e poderia gerar diferentes respostas, a depender de que parte do mundo está sendo considerada. Por exemplo, existe, naturalmente, uma maioria de negros na Ananda Marga dos países africanos – o que não significa que o racismo não se expresse também nesses países. Entretanto, concentramos as investigações desta reportagem em dois países ocidentais, onde as discussões sobre racismo estão, atualmente, bem quentes: o Brasil e os EUA.
Num primeiro olhar, questionar a existência de vo-
Amrta (Aruanã Garcia), bhukti pradhan da jagrti do
zes negras na Ananda Marga pode parecer irrele-
Rio de Janeiro, Brasil, faz parte de uma pequena
vante, uma vez que a Ananda Marga propõe uma
parcela da população negra brasileira que ascen-
filosofia universalista. Entretanto, o racismo que
deu socialmente. Segundo ele, sua família, militan-
ocorre na sociedade se reflete entre os ananda-
te do movimento negro, “mesmo não tendo muita
margiis. Por um lado, a Ananda Marga, enquanto
grana, sempre tiveram boa educação”. Amrta foi le-
filosofia, baseia-se num ideal espiritual universalista,
vado pelo seu desejo de praticar uma “meditação
que se pauta na diversidade de manifestações da
mais espiritual”. Depois de frequentar dois dharma-
Consciência Cósmica, expressa em todos os seres,
cakras, já sentiu que aquele era seu lugar.
independente de cores e raças. Por outro, a realidade prática da comunidade da Ananda Marga, ou
“Quando você é uma pessoa negra, a primeira coi-
seja, as instituições que levam a filosofia da Ananda
sa que você pensa, quando é muito jovem, é: o que
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tem de errado comigo? Dentro do espaço da jagrti
Brasil), embora essa questão seja relevante, existe
em Copacabana eu nunca me senti assim. Eu já te-
também uma falta de receptividade. “Penso que,
nho uma precaução quando vou a estes espaços.
para que qualquer pessoa permaneça num grupo,
Primeiro, não tinha nenhuma pessoa negra ali, eu
tem de ter algo ou alguém que lhe segure, que lhe
chegava e sentava num canto”. Amrta ainda com-
prenda! Que lhe queira! Falta irmandade. Ananda
pleta, “A questão do racismo é que você vira uma
Marga é uma instituição elitista e os negros são em
pessoa preparada para enfrentar situações difíceis,
sua maioria pobres. Não se sentem à vontade. Não
que o ambiente vai ser hostil contra você, não por
sentem como uma família verdadeira”.
sua personalidade, se fala muito ou pouco, se é feio ou bonito, é uma questão que está relacionada com
Onkarnath Deva (Eudes Cardozo, São Paulo) se sen-
a sua cor”. Segundo ele, o negro vai se privando de
tiu de forma parecida a Revati quando frequentava
estar em diversos espaços e, inclusive, escuta dos
os eventos da organização Ananda Marga. “A ques-
amigos negros “Como você faz esse negócio de
tão da classe social sempre me chamou a atenção”,
meditação, esse negócio de branco?”. Amrta diz
diz. Como era um dos poucos membros negros
a eles que é uma cultura universal, mas pelo visto,
da comunidade, sentia que não era escutado pe-
ainda precisamos caminhar bastante.
los outros membros e que as pessoas tiravam suas conclusões como se conhecessem sua realidade.
Para o
Acarya Pavanananda Avadhuta, um dos
Revati acredita que essa desigualdade de condi-
acaryas oriundos da África alocados no Brasil, os
ções dificulta a convivência: “Não existe diálogo
negros, por terem sido explorados por anos, são
entre um margii negro que vive de artesanato, com
mais resistentes a algo novo como a filosofia de
um margii dono de uma empresa. Vai existir o res-
Anandamurti. “Também estou pensando muito so-
peito, a cooperação, a união através da ideologia,
bre isso, por que não temos muitas pessoas assim
mas fica apenas aí. Os dadas e didis priorizam o
na nossa organização”, diz. Um dos fatores possí-
contato com margiis elitistas. Negros são bem-vin-
veis, segundo ele, é a baixa renda da população
dos, mas não se sentem acolhidos. Não vejo esfor-
negra, pois uma vez que a energia dessa popula-
ço para trazer pessoas negras para o grupo”.
ção estaria voltada para a sua sobrevivência, não sobraria tempo para as práticas espirituais. “Baba
O racismo, para Geísa Mattos (Fortaleza, CE, Brasil),
diz que primeiro é preciso garantir as necessidades
não se limita a atitudes individuais, como frases ou
básicas da vida: educação, casa, remédio, comida,
gestos de discriminação. É uma questão estrutural,
roupa. Só assim, as pessoas têm mais tempo para a
que, segundo ela, extrapola o universo do Brasil e
espiritualidade”. Para Revati (Regina Célia Silva, RJ,
dos EUA. Não à toa, em 2014, surge nos EUA, o mo-
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Nathan Dumlao
vimento “Black Lives Matter” (“Vidas Negras Impor-
gências de vários tipos, como são pessoas que vão
tam”), ao mesmo tempo em que a Anistia Interna-
morrer cedo.” Hoje em dia, se sabe que 77% das
cional Brasil cria a campanha “Jovem Negro Vivo”.
mortes por homicídio, neste país, são de vítimas negras. A maior parte desses casos envolve jovens
Geísa estudou em seu pós-doutorado as conexões
entre 15 e 29 anos, negros, homens. No Brasil temos,
do ativismo contra a violência policial e o racismo,
segundo o último censo de 2010, 51% da população
e descobriu que no século XX não se levava em
que se reconhece como negra. Nos EUA, são 12,3%
conta a cor da pele das vítimas de violência no Bra-
da população e, mesmo sendo minoria nesse país,
sil. “Dois sociólogos brasileiros (Jaime Alves e João
são três vezes mais suscetíveis à violência policial.
Costa Vargas) denunciam o que chamam de geografias da morte, a violência de estado que visa o
Para se discutir um cenário onde existem impactos
extermínio dessa população de diversas maneiras.
do racismo entre os anandamargiis, é preciso ob-
Não só porque são pessoas abandonadas à pró-
servar questões como representatividade (propor-
pria sorte em termos de saúde, educação e negli-
ção de pessoas negras praticantes e inseridas nos
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Foto Shutterstock
espaços de poder) e representação (que histórias
da matriz africana. Em outro momento o samba foi
são contadas sobre os negros e sua cultura, e de
evocado, envolvendo a todos”.
que forma). Anuragha (André Lucas, PR, Brasil) cita como exemplo o retiro em Ananda Daksina (Via-
Na visão de Tarinii (Tarinii Isner), que vive em Ash-
mão, RS, Brasil), que aconteceu em fevereiro de
ville, NC, EUA, o hinduísmo é construído num classi-
2018. Entre as centenas de participantes, ele contou
cismo – o histórico sistema de castas que define os
dez a quinze pessoas que, como ele, são negras.
status sociais dos indianos. Embora a Ananda Marga
Além disso, Revati (Regina Célia Silva, Rio de Janei-
sustente princípios muito diferentes desse sistema,
ro), em um retiro há alguns anos, sentiu resistência
Tarinii lembra que foi nessa cultura que a organiza-
por parte dos dadas e didis para fazer uma apre-
ção nasceu. “Então, algo disso pode estar profun-
sentação de samba. Entretanto, em 2018, Anuragha
damente entrelaçado na sua construção. Compre-
percebeu “que as atividades culturais apresentaram
ender essa conexão histórica é muito importante,
grande diversidade de manifestações, em específi-
pois não podemos nos mover adiante sem enten-
co me chamou a atenção o acolhimento com que
der o passado, porque o que somos hoje é direta-
foram recebidos o legado da ancestralidade e da
mente impactado pelo que aconteceu antes”. Em
cultura afro-brasileira expressa através da música,
sua comunidade anandamargii, Tarinii diz que não
poesia e da dança nos diferentes momentos em
existem muitos negros, como ela.
que foi apresentada. Ocorreram apresentações contagiantes que tinham em comum elementos
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Para Tarinii, o neo-humanismo, que em princípio
neutralizaria a existência do racismo, não aconte-
exclui toda uma população. Então, se esse conhe-
ce em sua plena expressão porque ele não pode
cimento (da filosofia de Baba) é o mais precioso
conviver ao mesmo tempo que o capitalismo. “O
que adquirimos, se é revolucionário na maneira de
neo-humanismo incorpora muito mais equidade.
ver o mundo, tem de ser o mais inclusivo possível,
Se alguém precisa mais, ajustamos na necessidade
e cada um de nós, margiis, devemos nos esforçar
da pessoa e do povo. Eu sinto que no capitalismo
para encontrar formas de inclusão”, conclui.
as necessidades não vêm do povo. O capitalismo apoia aqueles que têm dinheiro a conseguirem
Quais seriam os caminhos para sermos mais in-
mais dinheiro. Não necessariamente apoia pessoas
clusivos? Para Revati, é preciso mudar a dinâmica
com poucos recursos ou pessoas de cor”. Ao mes-
de dharma pracar dos anandamargiis, que hoje já
mo tempo, ela se diz “orgulhosa de todos nós que
atuam nas periferias para prestar serviços, mas não
somos capazes de questionar, até mesmo nossa própria organização, porque assim começamos a evoluir”.
“Como expandir essa visão de mundo? Ficará só entre a elite?
“A percepção começa a mudar quando a gente se dá conta dos privilégios, de que a exclusão está acontecendo e que a gente não estava percebendo”
A percepção começa a mudar
Geísa Mattos
priorizam criar, a partir da periferia, um grupo que interaja com toda a comunidade. Segundo Geísa, é importante que as pessoas brancas convidem as negras para o diálogo, e que essa relação seja de escuta e aprendizado de ambas as partes. Amrta acre-
quando a gente se dá conta dos privilégios, de
dita que é importante que todos estejam próximos
que a exclusão está acontecendo e que a gente
da comunidade negra. Anuragha concorda e su-
não estava percebendo. Quando a gente abre os
gere que as lideranças negras possam presenciar
olhos, já é o primeiro passo. Temos que às vezes
um dos grandes retiros anuais. Para ele, os espaços
ter um puxão de orelha, pois nós naturalizamos
de convivência, “além da socialização fraternal e
uma realidade excludente”, diz Geísa Mattos. E, ao
do intenso contato com as práticas espirituais, se
trazer a diversidade, segundo ela, temos que as-
configuram em momentos de alto potencial para
sumir que os conflitos virão e que é preciso estar
a organização política do movimento, visto toda a
com o coração aberto, pois é cômodo mantermos
confluência presencial de margiis, acaryas, apoia-
um grupo homogêneo. “Mas aí você entra numa
dores e simpatizantes. Assim, seria possível traçar
ótica reprodutivista, reprodução de como a socie-
objetivos e metas para o trabalho conjunto”.
dade capitalista faz. Reproduz o saber, reproduz os privilégios apenas para os brancos, para os ricos e
Por Jayanti (Joana Amaral)
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dharmapracar
Passo a passo para meditação: a internet como poderoso instrumento de pracar
“A tecnologia existe, os recursos existem, os cérebros existem, os corações existem, mas todas essas coisas são inúteis sem uma ideologia e filosofia de vida.” Dada Sadananda
“Eu estava procurando por respostas, eu estava
Laime, cujo nome civil quer dizer felicidade e boa
procurando pela confirmação de que a reencar-
sorte, nasceu na Estônia e hoje tem 54 anos. Ela
nação existe. Eu estava procurando pela esper-
começou sua busca por algo que lhe devolvesse
ança de que meus amados não me deixariam para
o significado da vida após perder seu filho, depois
sempre, que algum dia, em algum lugar, nós nos
de uma luta incessante contra um câncer de estô-
encontraríamos…meu coração estava doído. Eu es-
mago diagnosticado já em estágio 4. A perda so-
tava procurando por um caminho que me levasse
frida lhe deixou extremamente vazia:
mais perto do Criador.” Assim nos responde Laime, quando perguntada
“Meu filho faleceu…fiquei com um enorme buraco
sobre o que ela estava procurando ao começar a
no meu corpo, e todos os ventos do mundo foram
assistir aos vídeos do programa Meditation Steps
capazes de passar…” diz Laime.
criado pelo Acarya Sadananda Avadhuta, nascido na Sibéria em 1978, atualmente em Barnaul, na Rús-
O método de meditação do dada Sadananda foi
sia.
um dos instrumentos empregados por Laime na
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busca para ressignificar a vida, e a meditação lhe
amiga. Comecei a legendar para o português, pelo
abriu a possibilidade de um grande aprendizado:
menos os vídeos que falam dos yamas e niyamas, a base de tudo. Queria facilitar que mais pessoas
“…eu apenas senti como se alguém falasse a minha
fossem inspiradas pelo dada.” Conta Paritosh.
língua materna…Parecia uma migalha no caminho para que eu encontrasse a minha paz…
É possível começar com o passo a passo ou assistir aos vídeos que mais interessam, para se motivar a
Isso me trouxe de volta à vida – eu entendi que
cumprir o programa. Assim como Laime, usuários
existe algo maior do que eu sou capaz de ver,
do mundo todo têm se beneficiado e procurado o
compreender. Isso me tirou da tristeza e do lugar
dada Sadananda para falar sobre o método:
sem esperança, onde me encontrei quando perdi meu lindo e inteligente garoto. Isso me ajudou
“As respostas têm sido muito positivas. Eu costuma-
a ver de onde meus erros vieram, me deu forças
va ler e responder perguntas o dia todo… agora
para pedir perdão e me perdoar.
esse trabalho é feito pelos meus colegas que foram treinados para fazê-lo. As pessoas dizem várias
Eu sei com certeza que todas as coisas na vida têm
coisas boas, como ‘o seu trabalho salvou a minha
um propósito maior, e nos é dada uma chance de
vida’ ‘encontrei novo sentido e força’, etc.” Diz o
ver isso, não necessariamente em circunstâncias
acarya Sadananda.
felizes…Tenho sorte de ter a chance de perceber e aprender as leis do universo.” Conta Laime.
O dada começou o programa em outubro de 2013
O site Meditation Steps contém lições e um passo a passo de práticas espirituais. O canal do youtube dispõe de mais de quinhentos vídeos em russo e cerca de cinquenta vídeos em inglês. Alguns vídeos também podem ser vistos com legendas em português, feitas por Paritosh Hare (Fabrício Henrique Trindade), de São Caetano do Sul- SP – Brasil, com 37 anos, que inspirado pelo conteúdo do dada, resolveu traduzí-los:
“A ideia inicial de traduzir o material foi de uma
Dharma for all Journal | 13
como forma de inspirar mais pessoas a praticarem
Explica o acarya.
a meditação e a seguirem um estilo de vida senciente. Tratava-se de uma estratégia efetiva de
Agora o dada Sadananda vislumbra novas possi-
pracar. Sabendo que a mente humana leva tempo
bilidades. Uma delas é expandir a temática e falar
para mudar e para amadurecer, o dada Sadanan-
de saúde, família, educação, sociedade, vegetaria-
da apostou na abordagem gradual e nas múltiplas
nismo, economia e etc. Outra ideia é transformar
possibilidades de contato com a fonte:
o processo de aprendizado de meditação em um jogo e em aplicativo para celular. O aplicativo por
“Com satsanga diário (por exemplo, assistindo al-
exemplo, deverá ter kiirtans, notificações sobre
guns vídeos) uma transformação sutil acontece em
novos vídeos, um mapa do mundo mostrando os
todos os extratos da vida e um homem comum
praticantes presentes, informações sobre retiros
pode se tornar um praticante da espiritualidade.”
de margiis do mundo todo, além de uma rede so-
14 | Dharma for all Journal
http://fb.com/meditationstepbystep
edições dos vídeos e todas as atividades decorrentes, como administrar uma equipe, o monge ainda precisa arrumar tempo para participar de cerca de 20 retiros e iniciar em média 400 pessoas por ano.
A explicação do dada Sadananda para conseguir conciliar todas as atividades sem perder a motivação para inspirar mais e mais pessoas é também uma dica valiosa:
“O pracar é uma expressão de amor e compaixão. Quando a alegria te preenche a um ponto que você não pode mais guardar e quer expressar e compartilhar ela, você está colocando em prática o pracar. Essa habilidade chega quando você ama o mundo, quando você deseja o melhor para a humanidade e para a civilização. Você pode praticar o pracar quando você esquece de si próprio, esquece o que é importante ou interessante para você e foca nas necessidades do outro. cial para sadhakas. No momento, o foco está em incentivar a participação dos praticantes em movimentos de kaosikii e kiirtan.
“Na maratona de kaosikii temos agora 700 pessoas na Russia participando. Logo, nós vamos lançar a maratona de kiirtan. Meu objetivo é ter 10.000 participantes praticando kiirtan por 30 minutos ao dia. Em meio ano nós atingiremos um milhão de horas de kiirtan.” Explica o dada.
Além de todo seu empenho com as gravações e
Dharma for all Journal | 15
Você deve entender de onde vem seu ouvinte, quais são seus medos, suas crenças, aspirações, e você deve gradualmente o guiar a ideais cada vez mais
http://fb.com/meditationstepbystep
altos, até que ele acolha a ideologia única e sublime.
O pracar é o mais importante na sociedade do presente, que tem todos os elementos necessários para atingir alegria e prosperidade. A tecnologia existe, os recursos existem, os cérebros existem, os corações existem, mas todas essas coisas
de todos nós, monges e praticantes espirituais:
são inúteis sem uma ideologia e filosofia de vida.
“Quando eu tinha 4 anos, acho que foi a primei-
Apesar de ótimos professores, a humanidade foi
ra vez que vi um documentário sobre a Índia e os
incapaz de construir uma sociedade que honre
iogues. Eu me lembro de ficar apoiada na minha
seus nomes. Então hoje, são os pracarakas que
cabeça e dizer para meus pais: ‘Olha, eu sou uma
adicionarão o componente faltante da ideologia
yoguini’.
e guiarão a humanidade da escuridão para a luz.” Eu ri quando ouvi o dada Sadananda compartilhar O dada Sadananda ainda nos conta que aos 5
sua história tão familiar.” Diz Laime.
anos costumava ficar de cabeça para baixo, com as mãos apoiadas no chão e dizia a seu pai: “Olha, sou um yogue!” Em um primeiro momento me vem a ideia de que ele já era um predestinado a ser um pracaraka.
Para saber mais, veja os links abaixo: www.meditationsteps.org https://www.youtube.com/ https://m.facebook.com/meditationstepbystep/ https://www.instagram.com/meditation_steps/
Mas, ao ouvir Laime, entendo que essa é a função
16 | Dharma for all Journal
Por Laksmii (Luciana Lima Lopes)
profile
Sucesso dentro, sucesso fora a história do acarya italiano Kamaleshvara
Ao voltar para a Itália, depois de sua primeira via-
preparado”. Sentindo-se humilhado, e refletindo se
gem à Índia para ver Baba, Kamaleshvara (Christian
esse não seria um teste de Baba, ele pensou que,
Franceschini) recebeu do Acarya Rainjitananda
ao menos, deveria usar a ocasião para fazer sua
Avadhuta a incumbência de organizar uma pales-
sadhana. O resultado foi inesperado e bem-vindo.
tra, em um lugar onde a Ananda Marga ainda não
“Caí em samadhi e fiquei uma hora no local”, conta.
tivesse presença. Ele levou o pedido a sério, e em duas semanas havia organizado um evento numa
Ao voltar para casa, tarde da noite, ele ainda pre-
cidade próxima: alugou um salão por U$ 50 dóla-
cisou convencer alguns policiais de que não esta-
res, espalhou pôsteres e, numa noite de inverno,
va drogado. “Voltei num estado de muita bem-a-
com forte neblina, pegou o trem para realizar a sua
venturança”, conta. A história lhe ensinou que há
missão. Entretanto, ninguém apareceu.
sempre um bom motivo para sempre fazer pracar: “mesmo quando você não for bem-sucedido fora,
“No início, achei apenas que as pessoas estives-
será bem-sucedido dentro”. E, em seu caso, o su-
sem atrasadas. Mas o tempo passou e ninguém
cesso veio das duas formas. Hoje, anos depois do
veio. Fiquei nervoso e frustrado, porque coloquei
ocorrido, Kamaleshavara acumula em sua trajetó-
muita esperança e entusiasmo, de que eu pode-
ria três anos como LFT; duas gestões como bhukti
ria dar algo ao mundo, mas o mundo não estava
pradhan, na cidade onde nasceu, em Bolzano, norte da Itália; treinamentos concluídos como tattvika, acarya de família e, em 2018, acarya sênior; além de ter servido em diferentes cargos, como, por exemplo, membro do Comitê Nacional da Ananda Marga na Itália.
Seus méritos não vêm apenas de suas posições, mas dos resultados do serviços para os quais contribuiu: construção de uma unidade mestra em Ve-
Dharma for all Journal | 17
rona; criação de uma fábrica de tofu e seitan para
primeiro, do estilo de vida. Seguir ao máximo pos-
gerar fundos para pracar; início das publicações de
sível os 16 pontos deixam você vitalizado e com
Ananda Marga na Itália; lançamento da Academia
entusiasmo para trabalhar para Baba”, conta, refe-
de yogis e a Academia de neo-humanismo, como
rindo-se aos dois primeiros aspectos. Sobre co-
parte do departamento de Gurukul; e abertura
nhecer o contexto em que se irá atuar, ele refle-
de uma loja e centro de yoga chamado Dharmi-
te: “Uma coisa é o idealismo de dharma pracar e
ca Point. Como instrutor de yoga e de meditação,
a outra é o realismo: o que você pode fazer nes-
mais de 12 mil adultos já passaram por suas aulas,
se ambiente social, nesse momento histórico? Se
conferências e retiros, além de quase 10 mil crian-
você está muito à frente do tempo, falando mui-
ças de escolas públicas. Publicou, também, dois
to complicado, mesmo se você for um exemplo,
livros: “Biopsicologia Tântrica” e “Comida dos Deu-
vai ser um bom pracar apenas na sua mente. Não
ses”, que juntos venderam mais de 8 mil unidades
vai ter sucesso na esfera externa. Você precisa se
e estão disponíveis para compra online pela Amazon.
Com tanta história para contar, Kamaleshvara acabou se tornando uma referência em como fazer pracar, e atualmente dá treinamentos para outros
“Precisamos ter em mente que devemos trazer a sociedade para níveis mais elevados.”
margiis que queiram se desenvolver
Kamaleshvara
como pracarakas. “Treinar pracarakas
misturar com as pessoas, entender suas necessidades. Não pode ir nem muito rápido, nem muito lento. Se seu pracar não tiver ritmo, você pode ter sucesso de vez em quando, e depois não terá mais, pois outras pessoas serão mais rápidas que você, apresentando as coisas de maneira melhor. As novas gerações precisam de algo
é minha atividade favorita. Precisamos criar estrutu-
atrativo, caso contrário, é inútil. Aí não é dharma
ras humanas, comitês, treinamentos, e também es-
para todos”.
truturas físicas, como jagrtis. Eu prometi a Baba que faria isso, quando tive contato pessoal. Todo dia
Como exemplo, Kamaleshvara cita a prática de asa-
eu repito essa promessa, e cada dia eu luto para
nas, que no passado era feita por poucas pessoas,
levar sua missão à frente”, afirma. Para ele, um bom
em nichos específicos. “Isso mudou, e hoje você
trabalho de pracar depende de três aspectos prin-
pode criar uma escola onde pessoas jovens quei-
cipais: ser exemplo, entregar-se à graça do Guru e
ram vir”. Ou seja, a criação de uma escola como
compreender a realidade em que se deseja atuar.
essa, anos atrás, teria sido precipitada, da mesma forma que não criá-la agora poderia fazer com que
“Minha energia vem da graça de Baba. E isso vem,
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a Ananda Marga ficasse ultrapassada. “Um dada
me disse que nos anos 80 a Ananda Marga estava 30 anos à frente da sociedade, e que agora está 30 anos atrás. As coisas estão se movendo tão rápido! Nós estávamos realmente à frente do tempo. Agora, devido à situação interna da Ananda Marga, embora haja muito fluxo de projetos, não temos uma mente coletiva para entender a realidade do mundo e aplicar a visão de dharma pracar para a situação atual”.
Kamaleshvara explica que há dois tipos de pracar mais eficientes: o “cara-a-cara”, focado na pessoa
mais amplo, feito por meio de atividades de maior escala, como cursos, conferências e retiros. “É preciso organizar eventos que atraiam e inspirem as pessoas para o dharma, e depois fazer follow-up. O que fiz foi criar um ritmo que vai desde o evento mais fácil até o mais difícil, e devagar as pessoas se afinam, fazendo com que o processo seja bem-sucedido”, conta.
“Você precisa ter uma série de instrumentos que faça com que as pessoas sigam de maneira fluida. É como um rio. Aulas de yoga, palestras, seminários de meio-dia, retiro de iniciantes de um fim de semana, retiros mais intensos. Eu simplesmente tento criar a máquina, como um sistema, onde as pessoas entram num fluxo com vários eventos, de acordo com suas necessidades e capacidades”. Para que esse sistema funcione, ele destaca a importância de se criar um time forte. “Para fazer
Foto Lalita (Luara Balista)
que precisa ser inspirada, e o focado num público
um evento para 200 pessoas, você precisa ter 20 voluntários bem comprometidos. Então, para ter sucesso, você precisa trabalhar duro para montar essa equipe, que entenda bem o espírito de pracar”.
A clareza e força de Kamaleshvara impressionam, mas como ele mesmo frisa, foram características moldadas pela prática espiritual. Aos 22 anos, levando uma vida pouco saudável, ele entrou numa profunda crise, e chegou a pensar em suicídio. Durante o serviço militar, perguntas sobre o significado da sua vida não saíam de sua cabeça. Foi quando ganhou de presente um livro sobre yoga.
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“Após o serviço, conheci um LFT num trem, pois ele me viu com o livro. Ele me convidou para uma palestra do Dada Rainjitananda. Dada me deu namah mantra e eu comecei a me livrar dos maus hábitos que tinha. Fui iniciado em abril de 1987 e, desde então, minha vida acelerou tão rápido, que em alguns meses eu estava na Índia, em Ananda Nagar, para ver Baba”, conta.
A visita a Baba foi tão poderosa, que ao voltar ele mudou sua vida completamente: passou a se dedicar cada vez mais à sadhana e pouco tempo depois iniciou treinamento de LFT. Em 1989, teve contato pessoal com Baba. “Ele me disse coisas muito legais e me abençoou. Ao voltar, passei a trabalhar em tempo integral para a missão”. Hoje, aos 55 anos, ele é casado com a tattvika Krisna Priya (Christina Terrible), com quem tem dois filhos: Yogesh, de 17 anos, e Chandra, de 14 anos. “Se você está casado com uma pessoa que também é ideológica, isso é o paraíso. Com os filhos, há períodos em que eles vão te seguir, mas depois eles precisam viver suas próprias experiências. Mas os princípios de yama e nyama estão lá, na vida deles. Se você é um exemplo, esse exemplo ficará em suas mentes por toda a vida”.
Segundo ele, após ter capacitado milhares de pessoas e iniciado outras centenas, é difícil saber quantas delas, de fato, tornaram-se margiis ativos. “As pessoas podem até não estar praticando a meditação, mas certamente vão dizer que é importante. Eu diria que poucas pes-
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soas permanecem no topo da atividade de pracar, mas muitos estão dando suporte na sociedade – as escolas e instituições estão se abrindo. O fato é que existem samskaras, além da pseudocultura. Mas estamos sendo bem-sucedidos: a consciência da meditação na sociedade está aumentando. Só precisamos esperar: as próximas gerações vão continuar nosso trabalho”, explica.
Por isso, ele defende com tanta veemência que a comunidade de Ananda Marga deve focar em melhorar a qualidade do trabalho de dharma pracar. “Precisamos ter em mente que devemos trazer a sociedade para níveis mais elevados. Não significa adaptar tudo e enfraquecer a ideologia. A qualidade dos pracarakas precisa melhorar. Dharma pracar depende das pessoas, não dos livros. Livros são boas ferramentas para fortalecer, mas no fim são apenas as pessoas, os pracarakas, que podem fazer essa missão crescer, por sua Graça”.
Saiba mais sobre Kamalesvhara e seu trabalho: www.anandamargi.it www.yogisacademy.org www.franceschinichristian.it www.yogaum.org www.dharmica.it Por Gurucaran (Gustavo Prudente)
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editorial
Projeto
Mover Juntos
Dharma for all convidou, com muito alegria,
cutando um belo plano conjunto de dharma
todos os margiis do Brasil para refletirmos
pracar. Vejam o convite e mais detalhes abai-
e alinharmos diversos temas relevantes em
xo, do encontro que ocorreu sábado, dia 2 de
2019, para que, em 2020, possamos atuar em
março, 15h, no retiro setorial de Georgetown,
cooperação coordenada, elaborando e exe-
a MOVER-NOS JUNTOS! Namaskar!
CONVITE Shrii Shrii Anandamurti veio ao planeta Terra para estabelecer uma nova sociedade humana baseada em valores cardinais, para que todos possam ter as necessidades básicas supridas, sendo assim, aptos para realizar o propósito dessa existência: a auto-realização. Somos muito afortunados da Sua vinda até nós, oferecendo a possibilidade de sabermos quem é esse Ser, desvendarmos o enigma da vida e, ao mesmo tempo, levarmos essa mesma possibilidade que nos é oferecida a todos os seres. Esse é o grande serviço, e Ele assegurou que nada faltaria àqueles que assim o fizessem, que teriam todas as necessidades supridas. Ele deixou ideias de vanguarda para essa nova sociedade, um legado, e nos direcionou a fazer Sua missão. Deu-nos essa oportunidade, pois, se assim não o fizermos, as cabras o farão! A luta é a essência do tantra. A luta interna na nossa meditação transfere-se para o mundo exterior. Precisamos nos fortalecer com as práticas, e fortes, conseguiremos lutar contra o ego e formar a unidade coletiva. Este é o espírito do Mover Juntos. A organização Ananda Marga Pracaraka Samgha, criada por Baba, está passando por um momento de divisões e divergências internas, e cabe aos margiis unirem-se e juntos, trabalharem e ajudarem todos a estabelecerem a missão de Shrii Shrii Anandamurti. Como Ele falou muitas vezes, a vitória é garantida. Param pita Baba ki! Jay!
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NOSSA PROPOSTA Muitos já conhecem o Dharma for all (d4all.org)
plano de ação incrível.
pelo incentivo a projetos, pelo Journal (journal.
Pensamos nos seguintes aspectos positivos em
d4all.org), com boas novas de ações de dharma
fazermos esse projeto coletivamente:
pracar, ou pelo Pracaraka Samgha, grupo de estudos sobre livros da filosofia de Baba.
– Escutar os margiis e entender suas preocupações, assim como a sua disponibilidade em tra-
Dharma For All quer incentivar um outro projeto:
balhar na missão de Baba;
o de construirmos JUNTOS, em cooperação co-
– Proporcionar o encontro dos margiis e a escuta
ordenada, um plano nacional de dharma pracar.
coletiva;
Por isso, estamos chamando esta ação de Mover
– Colher informações e temas para que possa-
Juntos.
mos discutir coletivamente; – Valorizar o trabalho individual e ajudar na divul-
Há muito sonhamos com uma rede eficiente
gação de projetos que já existem e que podem
de pracarakas trabalhando alinhados, margiis
inspirar outros;
apoiando os acaryas e acaryas apoiando os mar-
– Promover uma rede de apoio entre os praca-
giis. Uma orquestra de devotos em um fluxo de
rakas para trabalho voluntário e entre os projetos
atividades harmônicas, onde os mesmos dialo-
de dharma pracar;
gam entre si e se apoiam mutuamente para que
– Praticar a construção coletiva e o diálogo fran-
essa onda de pracar seja ainda mais forte.
co e amoroso, essencial em todas as fases do
Desta forma, gostaríamos de chamar os margiis,
– Trazer consciência do papel dos margiis na
para, primeiramente trabalharmos alguns temas
missão;
entre nós, e em um segundo momento, estarmos
– Trazer a questão ideológica da união; e
prontos para colaborar e montarmos JUNTOS um
– Empoderamento dos margiis.
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Duy Pham
projeto;
Alguns assuntos que entendemos serem importantes conversarmos entre nós:
– Papel dos margiis na missão; – Conciliação da vida familiar com a vida de pracaraka / vida espiritual; – Ajustes com um parceiro/ uma parceira/ família que não siga a mesma filosofia e que aceite o seu papel como pracaraka; – Como os margiis podem evoluir espiritualmente, se inspirarem e manterem esse progresso – possibilidades; – A importância da satsaunga; – Experiências de trabalhos de pracar anteriores bem sucedidos (históricas de quando Baba era vivo e casos bem sucedidos); – Ajustes de “tempo, lugar e pessoa” do trabalho da missão.
FASES 1a fase – tempo estimado de duração – março de 2019 a fevereiro de 2020 Para esta primeira fase, de alinhamento do projeto e de como plano de ação, e de como melhor podemos alcançar isso, gostaríamos de chamar os margiis para conversarmos em Ananda Daksina, presencialmente, no dia 2 de março, das 15h às 17h.
2a fase – tempo estimado de duração – fevereiro a março de 2020 Nossa construção coletiva, em cooperação coordenada, de um plano nacional de dharma pracar! : ) Com todos os pracarakas! Acaryas e margiis!
Dharma for all chamará possíveis financiadores e estaremos juntos incentivando belos projetos de dharma pracar!
Somos pracarakas e protegemos, em todos os aspectos e a qualquer custo, os tesouros da Ananda Marga: ideologia sublime, amor universal e a união inamovível entre nós.
Equipe Dharma for all
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pracar inspirations
#pracar inspirations
Projeto:
YOGA DE RUA (yoga para moradores de rua) https://www.yogaderua.org/ Onde: Rio de Janeiro – RJ, Brasil Quando: 28 de março, 2019 Foto por: Lorena Mossa Pracaraka: Anjali (Eliane Rogério) Dharma for all Journal | 25
Evento:
PRANA – YOGA NA NATUREZA Onde: Araruama – RJ, Brasil Quando: Outono – 21 abril 2018 Foto: Copyright © 2019 Dropê Fotografia Pracarakas: Krsna, Roshnii e Bhadra
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kiirtanforall
As diferentes maneiras de praticar e desfrutar do kiirtan Em Ananda Marga, quando o assunto é kiirtan, logo
tudos Orientais e Africanos, em Londres, Inglaterra.
se pensa no canto de Baba nam kevalam. Entretanto, existem diferentes tipos de kiirtan, não ape-
Rahr, a região onde ela concentrou seus estudos,
nas porque o gênero existe em outras tradições
é considerado um berço do kiirtan, e Anandamurti
– como entre os Hare Krishnas – como também
discorreu em seus discursos sobre esse legado. Em
porque o kiirtan pode ser executado de maneiras
um desses discursos, ele afirma que teria sido em
variadas. Você sabia?
Rahr a origem dos Vaishnavite padávalii (versos) e os mahájaniiya kiirtanas. “Pada significa ‘verso”,
“Existem nama kiirtan, pada kiirtan e katha kiirtan.
em Rahr, entretanto já era um gênero estabelecido
Nama kiirtan significa ‘cantando o nome do Senhor
antes do tempo de Caetanya Mahaprabhu”, expli-
apenas’, como em Baba nam kevalam’. Esse é o
ca Jyoshna. Ela cita o Giitagovinda, kiirtan escrito
mais popular no Ocidente. Em Rahr, na Índia, é um
por Jayadeva no século XI, para exaltar o amor
dos mais dinâmicos e desenvolvidos gêneros de
entre Radha e Krishna. Ela conta que pada kiirtan
música desde que ele foi inventado por Caitanya
é também conhecido como “kiirtan da canção”.
Mahaprabhu, no século XV”, explica Joyshna la Tro-
“São escritos em louvor ao Amado, podem ser em
be, proeminente cantora e compositora de kiirtans
qualquer língua e há muitos exemplos de canções
e doutora em etnomusicologia pela Escola de Es-
de kiirtan no Cristianismo, por exemplo, no movi-
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mento Hare Krishna, no Sufismo,
Jyoshna, no caso do katha kiir-
fia de Ananda Marga também
entre outros. Na Ananda Marga,
tan, trata-se de um espaço para
define outros gêneros, relacio-
nós temos nossas próprias can-
compartilhar experiências com
nados às maneiras de se cantar
ções de kiirtan, compostas por
a graça divina, bençãos e reali-
o kiirtan. Segundo o site HPMG
Baba no Prabhat samgiita, assim
zações do divino no cotidiano,
Portugal (Hari Pari Mandala Gos-
como por margiis”.
num formato em que cada his-
thi – https://hpmg.anandamar-
tória é intercalada por uma can-
ga.pt), além do katha kiirtan, em
Por fim, existe o katha kiirtan,
ção ou um canto de kiirtan. “Na
Ananda Marga faz-se também:
em que “ouvimos histórias do
minha experiência, todo mundo
o akhanda kiirtan, feito em cír-
divino, de Baba, do nosso cami-
tem uma história para contar so-
culo, em sentido anti-horário,
nho espiritual e de nossa meta”,
bre como chegaram no cami-
em ciclos de 3 horas (por exem-
como conta Jyoshna. Em um
nho espiritual”, afirma.
plo, em retiros costuma-se fazer
de seus discursos, Baba explica
durante uma madrugada três a
que, em sânscrito, “katha” sig-
Além dos tipos de kiirtan con-
quatro ciclos ininterruptos, num
nifica “longa história”. Segundo
ceituados por Jyoshna, a filoso-
total de nove a doze horas de
“a presença divina é experienciada por meio da vibração sonora, da canção, do canto e das histórias.” Jyoshna
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Foto de Harideva (Rodrigo Camargo)
kiirtan); o avartha kiirtan, feito nas seis direções
que não importa o que aconteça, o Supremo está
(norte, leste, sul, oeste, cima e baixo), tendo cada
sempre com ela”. Portanto, ela afirma, “a presença
direção uma intenção específica (veja abaixo, após
divina é experienciada por meio da vibração so-
o texto); e o nagar kiirtan, feito em espaços públi-
nora, da canção, do canto e das histórias. Todos
cos (por exemplo, caminhando pelas ruas de uma
esses estilos foram empoderados pelo Sadguru e,
cidade), como forma de introduzir o kiirtan a um
portanto, chamados de mantra siddha de ‘poder’”.
público mais amplo ou para celebrar ocasiões especiais.
Portanto, argumenta Jyoshna, “não há tempo algum em que kiirtan não seja apropriado: o kiirtan
Jyoshna explica que o propósito de nama e pada
pode ser usado em todos os momentos e a qual-
kiirtan é “nos lembrar do Supremo, vivendo e respi-
quer hora do dia e da noite. As pessoas tendem a
rando em cada um de nós, em todos os momentos
pensar em cantar kiirtan quando elas se sente co-
e ocasiões”. Ela ressalta que o kiirtan proporciona
nectadas, quando precisam de ajuda, ou quando
um contato direto com Baba, sem intermediários.
elas precisam imprimir um senso de auspiciosida-
“Quando uma amante quer a sua Amada ou o seu
de a uma ocasião”.
Amado, ela chama o Seu Nome e se sente confortada, se sente ‘em casa’, ela sabe que não está só,
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Por Gurucaran (Gustavo Prudente)
Intenções do Avartha Kiirtan retirado do site https://hpmg.anandamarga.pt/sobre-kiirtan/
Avarthan kiirtan: é feito em 6 direções diferentes. Com cada mudança de direção, muda a melodia do Kiirtan. As 6 direções são: norte, leste, sul, oeste, para cima e para baixo. Ao cantar kiirtan nas 6 direções, espalha-se a vibração de Baba nam kevalam por todos os lados. As ideações específicas de cada direção são:
– Eu sou a personificação da sinceridade. – Eu tenho um amor inato por Parama Purusa. – Eu purifico a minha mente no fogo da devoção. – Eu ultrapasso todos os obstáculos internos e externos. – Oh Parama Purusa, leva-me para o teu colo – Eu entrego tudo o que é meu para ti.
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pracarakachef
O superalimento de Kaelash,
yogaterapeuta e professor do estilo de vida do alimento vivo Kaelash Neels, 40 anos, alemão de Herdecke, aos
ram pautados pela filosofia de Baba” lembra Kae-
cinco anos de idade já sabia que tinha Baba dentro
lash, que cresceu sabendo que além das lições de
de si. Isso porque é filho de anandamargiis e nas-
Ananda Marga, tinha também o compromisso de
ceu inserido na filosofia de Shrii Shrii Anandamurti.
manter corpo e mente sattvicos.
“Valores, prioridades e perspectivas de vida fo-
Na adolescência, Kaelash não deixou de ser vegetariano, mas comeu comida rajásica e tamásica por algum tempo. Conta que uma vez estava com amigos comendo pizza e um debate casual começou: “discutíamos se era melhor comer ou não carne e os vegetarianos perderam. Me senti mal porque no meu coração sabia que não deveria comer animais e perguntei a minha mãe porque eu era vegetariano. Ela não falou muito mas, logo me deu um livro: ‘Leichenschmaus’, literalmente ‘Banquete de Cadáveres’.” Após a leitura, Kaelash decidiu ser vegano porque compreendeu o quanto os animais eram maltratados pela indústria que lhes fornecia laticínios. Logo percebeu que a dieta vegana era muito boa porque sua saúde estava melhor e sentia sua energia mais elevada.
Então, por que passou a ser crudívoro? Kaelash explica “Amei a ideia de comer tudo no estado natural, do jeito que Deus criou”. Ele mantém uma dieta de alimentos crus desde 1995, mesmo a sua família sendo lactovegetariana.
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Além de trabalhar com a “comida viva”, Kaelash é professor de yoga, yogaterapeuta e graduado no método Feldenkrais. Trabalha no Centro de Yoga e Saúde Kripalu – kripalu.org, em Massachussets, USA e no Instituto Ann Wigmore de Saúde Natural – www.annwigmore.org, em Puerto Rico, EUA, onde mora.
Ele nos conta que na sua rotina diária acorda por volta das 4 horas da manhã para ter tempo de praticar asanas, cantar kiirtans, cumprir sua sadhana e então sair para dar aulas, buscar o filho Chaetanya (Ian Neels Damaceno) de 6 anos na escola, levá-lo para brincar e voltar para casa a tempo de novamente meditar, jantar e dormir.
Kaelash teve a oportunidade de estar na presença de Baba três vezes. Na mais relevante, tinha 12 anos, quando foi à Índia com o pai: “ficamos sabendo que Baba estava doente e que provavelmente não poderíamos vê-lo. Pois, ficamos na frente da casa onde Baba morava. Um dia os acaryas nos informaram que Baba passaria pelo jardim na cadeira de rodas, fui para o muro da casa e esperei por cerca de duas horas. Muitas pessoas chegaram e não foi fácil me manter lá. Mas, quando Baba apareceu foi como uma onda de amor que me lavou, e entrei em estado de bem aventurança durante alguns minutos.”
A vida de Kaelash é tão misturada com a filosofia da Ananda Marga que depois de nos falar de seu trabalho com yoga, de sua alimentação sátvica, de sua vida em Baba, de sua dedicação, ele não soube dizer se suas atividades eram instrumentos de pracar. Apenas afirmou que gostaria de imaginar que sim. Sim Kaelash, parece que naturalmente, sim.
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Superalimento anti-inflamatório
Ingredientes . 2 colheres de sopa de sementes de chia . 1 copo de água de côco . 1 talo de aipo . ½ cenoura . 7 uvas-passas (de qualquer tipo) . ½ maçã . ¼ beterraba . pedaço pequeno de gengibre sem casca a gosto . pedaço pequeno de turmeric a gosto . pedaço de açaí congelado (sem nenhum aditivo) . pitada de pimenta preta . polpa de côco para criar a cremosidade desejada . 1 folha de acelga chinesa, que é um importante anti-inflamatório (opcional) . mirtilos a gosto – podem ser congelados (opcional)
Hidrate as sementes de chia no dobro de água por 4 horas (se fora da geladeira), ou por 8 horas (se dentro da geladeira – por exemplo, durante a noite). Bata todos os ingredientes no liquidificador e aproveite!
Dica para liquidificar: bata os ingredientes até estarem bem liquidificados sem super aquecê-los.
Saiba mais sobre Kaelash, seu trabalho e outras receitas: http://www.kaelash.com (site em ingles e português) Por Laksmii (Luciana Lima Lopes)
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