A casa é sua, empreendedor
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) completa 128 anos com o espírito jovem. A mais antiga entidade de classe paulista hoje é uma holding que controla empresas de crédito e educação, tem programas de impulsionamento de startups e de estímulo à inovação no varejo... mas para chegar nesse ponto, muita história se passou. Págs 2 e 3
Balanço da gestão De cara nova
A
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Prêmio Rodovalho
São Paulo, 07 de dezembro de 2022 O JORNAL DO EMPREENDEDOR
Alfredo Cotait Neto fala das conquistas à frente da ACSP nos últimos quatro anos, como a implantação da Faculdade do Comércio, da ACCredito e o IPO da Boa Vista. O empresário agora vai se dedicar à Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB). Págs 4 e 5
reforma das instalações permitiu à Associação Comercial se integrar a um mundo mais dinâmico e digital. Esse novo momento da entidade é marcado também pelo lançamento de produtos e serviços modernos, como o Pateo 76, que ajuda startups a se conectarem.
A tradicional homenagem da entidade vai para Alexandre Allard, idealizador do megaprojeto Cidade Matarazzo, um complexo de luxo com hotel, restaurantes, apartamentos e centros culturais distribuídos em uma área de 150 mil metros quadrados, antes abandonada, na região da Paulista. Pág 8
DANIELA ORTIZ
JEFFERSON OLIVEIRA
JEFFERSON OLIVEIRA
dcomercio.com.br
BOB WOLFESON
Uma breve viagem pelos 128 anos dessa comunidade de empreendedores
A ACSP surgiu no século XIX para dar voz aos empresários e esteve presente nos momentos decisivos da história, sempre firme aos princípios da livre iniciativa
Renato Carbonari Ibelli
Nesse contexto político e econômico insólito de 2022, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) buscou ser um norte para o empreendedor. A entidade abriu as portas a candidatos que concorreram aos pleitos nacional e estadual, recebeu o presidente da República e o governador paulista. Com a mesma naturalidade, deu espaço a seus adversários políticos, para que todos apresentassem suas propostas à classe empresarial.
Enquanto o mundo despertava diferente da pandemia, muito mais digital, a ACSP, por meio da Faculdade do Comércio, formava a sua primeira turma de profi ssionais do varejo já capacitados para atender a um consumidor que emergia dessa nova realidade. Com esse mesmo espírito inovador, a entidade buscou no mercado startups para impulsionar, recrutando-as no programa Ac boost.
Além de orientar e capacitar, a Associação deu munição para o empresário retomar os negócios nesse quase pós-pandemia ao criar linhas de fi nanciamento especiais por meio da ACCre-
dito, voltadas principalmente às micro e pequenas empresas, segmento que encontra maiores difi culdades para contratar recursos em bancos tradicionais.
É essa entidade atual e propositiva que completa hoje 128 anos. Centenária, mas com o mesmo espírito jovem daquele 7 de dezembro de 1894, quando o empresário Antônio Proost Rodovalho, ladeado por autoridades no prédio de número 10 da rua da Quitanda, fundava a ACSP.
O tempo, que costuma varrer tudo para o esquecimento, também eterniza quem se ergueu sobre bases sólidas. Os princípios da liberdade econômica, da livre iniciativa, do estímulo ao empreendedorismo forjaram as lutas da Associação Comercial ao longo desses anos, e continuam a ser a bússola para suas ações.
“Somos antigos, mas não somos velhos. A ACSP está viva e ativa porque está sempre em busca de atualização e inovação. Respeitando nossas tradições, ingressamos na era tecnológica, prestando serviços em tempo real e sem burocracia. Para manter-se
moderna, convidamos os jovens empresários para participar das nossas ações, e em troca oferecemos nossa experiência em defesa do empreendedorismo”, diz Roberto Mateus Ordine, vice-presidente da ACSP.
Uma breve viagem pelos 128 anos dessa história ajuda a ilustrar como as conquistas atuais se alinham com os ideais primordiais dessa que é a mais antiga entidade de classe do estado de São Paulo.
PEQUENO EMPRESÁRIO
Hoje, falar da importância dos empreendedores para a economia soa lugar comum, mas 50 anos atrás, em pleno “Milagre Econômico”, quando as multinacionais estrangeiras despejavam montanhas de dinheiro no Brasil, as empresas de pequeno porte não tinham o reconhecimento merecido. A ACSP, porém, antevia o potencial estratégico que esse segmento teria para o país, e já em 1974 criava o Núcleo de Assistência Gerencial à Pequena e Média Empresa (NAG), para diagnosti-
car necessidades e dar treinamento a esses empresários.
Naquele mesmo ano, a entidade fechou contrato com a Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo para garantir a criação de um programa de assessoria gerencial para os pequenos negócios, com o objetivo de adequá-los à realidade de mercado da época.
Nessa mesma toada, em 1979 a Associação realizaria o primeiro Congresso Brasileiro das Pequenas e Médias Empresas, evento que teve mais duas edições, em 1980 e 1982, onde começariam a ser desenhadas algumas das políticas específi cas de suporte aos empreendedores, como o Estatuto da Micro e Pequena Empresa, que antecedeu a criação do Simples (Sistema Integrado de Pagamento de Impostos), em 1996, regime que reduziu a burocracia e a carga tributária para empresas de menor porte.
Essas medidas evoluíram para a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, de 2006, legislação que rege o atual Simples Nacional e que permitiu a criação do microempreendedor individual (MEI).
Olhando para trás, a luta pelos pequenos foi vitoriosa. Os empreendedores, que há algumas décadas passavam ao largo das iniciativas públicas, hoje representam mais de 90% das empresas em atividades no país, geram mais de 70% dos empregos e respondem por 30% do PIB.
Atualmente, a ACSP se mobiliza para sensibilizar o Congresso sobre a necessidade de ampliação do limite de faturamento para enquadramento nesses regimes simplifi cados de tributação, permitindo que a base de empreendedores possa crescer ainda mais.
CAPACITAÇÃO
A criação da Faculdade do Comércio (FAC-SP), em 2020, deu forma a aspira-
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ções que a ACSP carrega desde as suas origens. A entidade acredita que a capacitação da mão de obra está diretamente relacionada com o aumento da competitividade das empresas. Com esse direcionamento, ainda em 1947 a ACSP, em parceria com o SESC, ajudou a desenvolver a “Universidade do Ar”, que levava conhecimento técnico via ondas de rádio ao vasto território brasileiro.
Essa proposta pioneira estabeleceria as bases da educação a distância, hoje potencializada pela internet e usada pela Faculdade do Comércio para levar seus cursos a profi ssionais do varejo de todo o país com a ajuda da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB).
MERCADO DE CRÉDITO
O pioneirismo da ACSP também é notório no mercado de crédito. Estimulada por empresas associadas que frequentemente relatavam casos de calotes nas vendas a prazo, a Associação criou, em 1955, o Serviço de Proteção ao Crédito, que seria conhecido mais à frente como Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC).
Era um sistema complexo, que exigia a elaboração de fi chas feitas à mão para cada cliente, mas que foi fundamental para dar segurança ao comércio crediarista. Esse serviço, então restrito à cidade de São Paulo, ganhou o Brasil ao passo que foi informatizado. Hoje, a análise de crédito, que tem o DNA da ACSP, passou a ser estratégica não apenas para as empresas, mas para toda a economia.
Ao evoluir para o Cadastro Positivo e colocar o consumidor como parte ativa desse processo, garantindo aos bons pagadores vantagens na obtenção de crédito, a expectativa é que no longo prazo a inadimplência no mercado seja reduzida, diminuindo o spread bancário e, consequentemente, os juros cobrados pelo setor fi nanceiro.
Desenhado há quase 70 anos pela Associação Comercial, o sistema de análise de crédito envolve hoje grandes players, como a Boa Vista,
MENOS IMPOSTOS
Sempre que o governo pesou a mão sobre o contribuinte, a ACSP se manifestou contra. As ideias de liberdade econômica, de um mercado que se autorregula e um Estado necessário apenas em áreas estratégicas, como na diminuição de desigualdades, sempre pautaram os posicionamentos da Associação.
lorizaram a moeda e elevaram os juros ao longo da década de 1980 e início dos anos de 1990. Em suas manifestações, a ACSP enfatizava que sem controle dos gastos e moralização do setor público, não haveria medida capaz de recuperar a economia do país.
Esse é um posicionamento reforçado pela entidade até os dias de hoje em suas mobilizações para reduzir a carga tributária e conscientizar a população sobre o peso que os impostos têm no dia a dia, ações que ganharam as ruas pelo Movimento De Olho no Imposto, de 2005, que teve o Impostômetro como símbolo e a aprovação da Lei do Imposto na Nota, em 2012, como legado.
A ACSP tem hoje as portas abertas para que políticos, economistas e tributaristas apresentem e debatam propostas que convirjam para uma reforma tributária que reduza os impostos sobre a folha e simplifi que o sistema, sem ônus para quaisquer setores da economia, algo que as PECs 110 e 45 - que tratam dessa reforma e tramitam no Congresso - não contemplam.
OLHAR PARA O SOCIAL
Ao longo do tempo a ACSP se fi rmou como a voz do empreendedor, mas nunca deixou de ter um olhar abrangente para as necessidades do país. As questões sociais sempre mobilizaram a entidade.
A inclusão de jovens no mercado de trabalho é outra conquista da ACSP, que em 2000 criou o Movimento Degrau, iniciativa que reserva vagas para aprendizes nas empresas.
Esse papel de entidade-cidadã é observado hoje com as recorrentes campanhas da entidade por doações de roupas destinadas a moradores de rua e brinquedos e livros direcionados a crianças carentes. Essas ações sociais são colocadas em práticas pelo Concelho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC) da ACSP.
Com essa mesma preocupação social, o Conselho da Mulher foi ampliado recentemente e levado para todo o país por meio da CACB com o intuito de criar ações que fortaleçam a presença e a liderança feminina no mundo empresarial.
Quando Antônio Proost Rodovalho, há 128 anos, fundou a ACSP, tornando-se seu primeiro presidente, e registrou a Companhia Melhoramentos, dirigida por ele, como a primeira associada da entidade, ele gerava o embrião do que hoje se tornaria uma verdadeira comunidade de empreendedores, que se mantém sólida e preparada para contribuir com o desenvolvimento de São Paulo e do país.
Publicação da Associação Comercial de São Paulo
Jornalista responsável: Vinícius Prado de Morais (MTB: 28.681) (vprado@dcomercio.com.br)
Nos registros históricos, a ACSP aparece como protagonista em momentos nos quais o poder público tentou equilibrar as contas recorrendo ao aumento de tributos. Ainda em 1900, a entidade se posicionou contra a política estadual de ajuste fi nanceiro de Campos Sales, que criava mais impostos ao setor produtivo. Em 1919, a Associação fez duras críticas à criação de sobretaxas a produtos importados, levando o governo a rever seu posicionamento.
De maneira semelhante, a entidade se posicionou contra planos econômicos lastreados em intervencionismo no mercado, como os Planos Cruzados, o Plano Bresser, Plano Verão e o Plano Collor, que congelaram preços, desva-
Em 1918, a recém-criada ACSP já se movimentava para obter recursos para ajudar o estado de São Paulo a enfrentar a pandemia da Gripe Espanhola. Desses esforços nasceu um hospital, a Policlínica. De maneira semelhante, a entidade organizou frentes de assistência para garantir o abastecimento de alimento à população durante as revoluções de 1924 e 1932.
Em 1919, com greves tomando conta do país motivadas pela precariedade do mercado de trabalho, a ACSP foi escalada como interlocutora para os pleitos dos trabalhadores e ajudou a elaborar a proposta que resultaria no estabelecimento da jornada de trabalho de oito horas diárias.
Editor: Renato Carbonari Ibelli (ribelli.ext@dcomercio.com.br)
Repórteres: Karina Lignelli (lignelli@dcomercio.com.br) Mariana Missiaggia (mserrain@dcomercio.com.br) Silvia Pimentel (spimentel.ext@dcomercio.com.br)
Diagramação: Suelen Mendes (suelensimone@gmail.com)
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cuja controladora é a ACSP.
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Somos
antigos, mas não somos velhos. Respeitando nossas tradições, ingressamos na era tecnológica, prestando serviços em tempo real e sem burocracia.
Roberto Mateus Ordine, vice-presidente da ACSP
NEWTON SANTOS
Vejo hoje uma ACSP muito mais voltada para a educação e inovação”
Alfredo Cotait Neto faz um balanço de sua gestão e fala sobre os caminhos que a Associação Comercial de São Paulo deve trilhar nos próximos anos
Oano de 2022, que marca os 128 anos da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), também será o último da gestão Alfredo Cotait Neto. Nos quatro anos à frente da entidade considerada a porta-voz do micro e pequeno negócio no Brasil, o dirigente colocou a ACSP na era da governança corporativa.
A proposta de adotar um modelo baseado em compliance, seja para se adaptar às mudanças socioeconômicas, ou aos avanços tecnológicos do varejo, já traz bons resultados. Entre eles, a abertura de capital da Boa Vista, empresa da holding ACSP que nasceu do pioneiro SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) e se tornou um unicórnio (startup com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão).
“E estamos instituindo novas empresas para poder investir e obter retorno por meio de dividendos, para reforçar a nossa parte institucional”, explica Cotait.
Ou seja, ao manter a sustentabilidade fi nanceira, a ACSP garante também independência em seus posicionamentos e ações, pois não depende de verbas do governo.
Engenheiro civil de formação e ex-senador da República, a partir de 2023 Cotait se dedicará à Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB). Ele afi rma que levará a expertise adquirida à frente da centenária ACSP para profi ssionalizar associações comerciais em nível nacional.
A seguir, confi ra o bate-papo de Alfredo Cotait Neto com o Diário do Comércio, no qual ele faz um balanço de sua gestão e sinaliza os próximos passos para a evolução da ACSP:
DC – O senhor concretizou um processo de modernização da ACSP. Como o senhor definiria a entidade hoje? Uma gestão não pode ser simplesmente uma arrumação administrativa. Tem que ter um projeto. Quando nós assumimos, eu tinha um projeto que cabia em uma folha. Mas ele avançou. Agora eu enxergo a ACSP muito voltada para duas áreas importantes: educação e inovação. Se você perguntar sobre a continuação desse projeto, digo que ele não está totalmente pronto, mas quase completo. As 15 distritais fi caram todas arredondadas, o comércio exterior (pela SP Chamber of Commerce) está com outra formulação. O projeto para o nosso setor de varejo não conseguimos concluir ainda, porque eu gostaria de criar uma NRF (maior feira de varejo do mundo) brasileira, mas continuamos com essa proposta. Os conselhos da ACSP foram reorganizados, nossas empresas estão andando. Só que agora é preciso dar a esse projeto um outro caráter, uma outra visão, de educação e inovação, que passam a ser a base dessa continuidade.
A ideia é fortalecer a parte educacional. Mas quando falo em educação é do tipo lato sensu, onde a faculdade é só uma parte desse processo, que de forma geral inclui profi ssionalização, educação fi nanceira. Porque temos um sistema formado por uma rede de associações, mas para que funcione, precisa de colaboradores que estejam mais bem preparados para fazer parte desse contexto.
DC – E quanto à inovação?
Temos que continuar prestigiando esse tema, nos digitalizar, e criar mecanismos de penetração maior no mercado através de plataformas que atinjam o nosso associado, que levem a informa-
ção para mais próximo de onde ele estiver. Mesmo com todo o sucesso, sabemos que temos falhas, e uma delas é nessa aproximação. A atuação dos associados não é só física, é digital, meio pelo qual pretendemos levar tudo o que a ACSP tem a oferecer, ganhando amplitude de atuação. Mas são coisas que têm de ser melhor exploradas. A ACSP se modernizou, só que nessa parte de inovação e digitalização ainda temos muito a fazer.
DC – A ACSP se tornou uma holding de sucesso. Uma das empresas, a Boa Vista, virou unicórnio. O senhor disse anteriormente que o objetivo era fazer com que todas andassem pelas próprias pernas. Isso já acontece?
A unidade que cuida das empresas tem conseguido bons resultados. As empresas têm performado muito bem, e estamos caminhando para uma evolução do nosso pool. Primeiro, criando cada vez mais valor nas empresas já existentes. Segundo, instituindo novas empresas para aumentar o nosso parque, cujo objetivo único é poder obter retorno através de dividendos para a manutenção da parte institucional. Claro que todo esse investimento não é de curto prazo, precisa de maturação. Por isso a gente investe nessas empresas, criando valor no trabalho de cada uma delas, para captar esse retorno mais à frente. Enquanto isso, elas vão rendendo, e algumas delas já distribuem dividendos. Estamos muito satisfeitos com a evolução das companhias que fazem parte do grupo ACSP, e já preparando novas, com foco importante nos próximos passos a serem dados.
DC – O senhor pode adiantar quais seriam essas novas empresas? Posso dizer que uma delas terá o papel
de fortalecer a rede de associações comerciais pelo Brasil, sendo uma empresa com foco nacional. O objetivo é melhorar a forma como essas associações atuam em todo o país, para que possam não só oferecer serviços para os associados, mas se aprimorarem na parte institucional e em sua profi ssionalização.
DC – A FAC-SP é uma conquista da sua gestão. Qual a importância da capacitação para o profissional do varejo, e como o senhor visualiza o futuro da faculdade?
A FAC surgiu porque vimos a necessidade de o sistema varejo oferecer uma oportunidade para que comerciários pudessem conhecer melhor as novas formas de se fazer negócios - por meio do e-commerce e das plataformas digitais. Então ela nasceu com a característica clara e única de visar profi ssionalização para esse novo comércio. Mas por que ela se distingue? Porque é focada, e porque o corpo docente não é só de acadêmicos. São professores e professoras que atuam no mercado de trabalho, conhecem o seu dia a dia, e levam para os alunos experiência e uma preparação muito mais rápida. Em resumo, é uma faculdade que requalifi ca comerciários para a era digital.
DC – Uma demanda importante dos empreendedores é o crédito. A ACCredito quer virar um banco digital de amplitude nacional. Como atingir esse objetivo?
O projeto da ACCredito passou por um processo de inscrição, regularização e aprovação no Banco Central, e por isso tem uma série de itens de governança muito rígidos. Eles fazem com que essa empresa seja um pouco limitada no seu crescimento e, por isso, precisa de muito capital próprio para crescer.
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MARINA NASCIF
Karina Lignelli
A ideia do banco digital é ampliar sua atuação (para pessoas físicas e jurídicas), e obter recursos de terceiros. A empresa está indo bem dentro da equação do projeto original, já está criando valor. E agora nós fi zemos um acordo para trazer o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles para ser o chairman (presidente do conselho) da nova ACCredito. Há um projeto que está sendo elaborado e discutido com sua participação, para essa transformação em banco. Aí sua atuação não fi cará restrita ao [empréstimo para] micro e pequeno negócio.
DC – Fale sobre a ampliação do CMEC, presidido por sua esposa, Ana Claudia Badra Cotait, e se esse Conselho influenciou o processo de modernização da ACSP: Nós detectamos, muito no começo, a falta da presença feminina empreendedora na ACSP. E conversei com a Ana Claudia, que tinha experiência como servidora no Senado Federal, para repensar a atuação do Conselho da Mulher aqui na ACSP.
Habilidosa, com dinamismo e talento próprio, ela passou a criar times juntando as mulheres dos Conselhos espalhados pelo estado de São Paulo inteiro, a ponto de ter virado referência em nível nacional. Também foi convidada a participar do Ministério da Economia como representante da sociedade civil, e indicada para integrar o G100 (grupo global de 100 mulheres líderes) como uma das principais infl uenciadoras do mundo pelo trabalho em prol do empreendedorismo feminino.
Nós detectamos a necessidade, mas o trabalho e os méritos são todos dela e do seu grupo. Só esse sucesso já é uma modernização: sempre foi um erro achar que o empreendedorismo da mulher é um, e o do homem é outro. A mulher é tão geradora de emprego e renda quanto o homem, mesmo em níveis e situações diferentes. E na pandemia isso fi cou ainda mais claro. Não há dúvida de que elas podem assumir qualquer cargo ou responsabilidade exercidos por homens.
DC – Nesses quatro anos, o senhor visitou as associações comerciais espalhadas pelo estado de São Paulo em busca de uma integração maior da rede ligada à Facesp. Como sua gestão encerra esse trabalho? Acho que não havia uma percepção adequada dos dirigentes sobre a necessidade e a importância de as as-
sociações menores receberem uma atenção, um cuidado maior. Isso nos deu uma visão muito ampla não só da atuação delas pelo estado, mas também sobre como essa rede estava realmente estruturada. Com o projeto Pfor, que é o plano de fortalecimento das associações comerciais, tomamos a decisão de investir R$ 65 milhões em cinco anos para fortalecer as pequenas, que aí sim poderiam compor uma rede junto com as maiores.
Esse projeto deu uma unidade maior, e por isso hoje temos uma rede muito bem constituída em São Paulo. A tendência agora é algumas pequenas se tornarem médias, e as que não conseguirem vamos reavaliar. Não será com todas, mas como boa parte está crescendo, em cinco anos se tornarão associações médias do ponto de vista do seu posicionamento na rede.
DC – Dá para dizer que é um trabalho de expansão da rede?
Sim, mas é expansão de tamanho, não de quantidade. Vamos reduzir, e quem mostrar não ter condições de sobreviver, recomendaremos, em último caso, se desfazer ou se unir com outras.
DC – O senhor assumirá a CACB. Baseado nos aprendizados e conquistas à frente da ACSP e da Facesp, como será o trabalho de profissionalização das associações comerciais em âmbito nacional?
O mesmo modelo e conceito que geramos no estado de São Paulo vamos levar para o âmbito nacional, só será um pouco mais complexo, porque cada estado, cada região, tem sua cultura, suas particularidades e suas peculiaridades. Ainda estamos acertando muitas questões internas, costurando melhor a rede pois ela está meio truncada. Por ser uma rede, precisamos de ‘caminhos livres’ para transitar e integrar informações, serviços e produtos. Mas também fazer um diagnóstico de quantas somos, e qual o tamanho e o potencial de cada uma - ou seja, um retrato real da nossa rede em nível nacional. Esperamos até o começo de 2023 estar com tudo isso delineado, para começar então a fazer esse trabalho de reorganização.
DC – A luta por uma reforma tributária que desonere a folha, por exemplo, deve continuar na CACB? Qual a importância desta, e de outras pautas do âmbito político-econômico nacional? Nós estamos elaborando uma pauta que será apresentada pela CACB as-
sim que começar o novo governo. Além da desoneração da folha, a mudança no teto de faturamento do Simples Nacional, uma reforma tributária que não prejudique serviços e comércio, a reforma administrativa... todas estarão na pauta, lembrando que na CACB só poderemos trabalhar propostas em âmbito nacional.
DC – Faça um balanço de suas duas gestões à frente da ACSP e, com base nisso, quais as perspectivas futuras, a curto e médio prazo, para a entidade?
Consegui implementar um bom time para o meu projeto de gestão, que foi implantado e quase concluído, então considero um saldo muito positivo. Fico muito grato por ter recebido essa missão, e espero que esse projeto tenha continuidade, com pessoas que pensam da mesma forma e que tenham as condições necessárias para evoluir essas ideias.
Construção Civil, e o sucesso que tive pode ser medido pela experiência que ganhei junto aos colaboradores com os quais convivi nesses anos todos, incluindo aqueles da gestão na ACSP. Para ter sucesso na vida profi ssional e em seus projetos é fundamental entender e compreender a relação com seus colaboradores. Desde quando estava mais próximo da Construção Civil, eu encontrei pessoas de qualifi cação mais elementar, como pedreiros, mas com capacidade e talento únicos. Se o brasileiro tivesse um melhor nível educacional, mais completo, seria extraordinariamente mais produtivo. Então posso dizer que todos esses colaboradores, até hoje, me ensinaram muito com seus conhecimentos e habilidades. Muito mais até que a academia.
DC – O que a ACSP e seus 128 anos representam para o cenário político e econômico do país?
O que me dá muita satisfação nesse projeto que mencionei é a conquista do IPO da Boa Vista, por exemplo. A FAC é outro ponto de grande satisfação: antes havia uma certa discordância interna, mas hoje ela é unanimidade. E tem as novas ideias, como a de acelerar startups, ajudá-las a gerar clientes no mercado. E além disso, fi co satisfeito por ter contribuído com o crescimento da rede Facesp e para que a ACSP tenha ampliado sua visibilidade e seu nível de alavancagem.
DC – O senhor é um empresário de sucesso, já foi Senador da República. Pessoalmente, quais as lições tiradas do período à frente da ACSP? Tenho 52 anos de atividade profi ssional, sou engenheiro especializado em
A ACSP, nesses 128 anos, esteve presente em várias etapas da nossa história, cada uma com sua particularidade. Esse retrospecto dá a ela um credenciamento, uma representatividade para falar pela sociedade civil em qualquer fórum, em qualquer circunstância.
Ela é a porta-voz do sistema que envolve o micro e pequeno empreendedor, os maiores geradores de emprego nesse país. Eu sempre digo, para qualquer um que venha aqui, seja secretário de Estado, de prefeitura, ministro, deputado, senador, presidente: nós não queremos pedir nada, nós só queremos ser ouvidos. E o que nos concede essa autoridade [de falar pelos empreendedores] não são só os 128 anos, mas a representatividade conquistada ao longo de nossa história.
5 Quarta-feira, 07 de dezembro de 2022
Cotait, ao lado da esposa Ana Claudia Badra, responsável por difundir o empreendedorismo feminino pelo Brasil por meio do CMEC
ACSP DIVULGAÇÃO
O novo momento da ACSP
Associação Comercial de São Paulo se reorganizou
Mariana Missiaggia
Como a sua história mostra, desde o início de suas atividades a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) trabalha para facilitar o dia a dia das empresas. A iniciativa pioneira do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), criado em 1955, e que décadas depois originou uma empresa de capital aberto, a Boa Vista, é um exemplo da postura atuante e contemporânea da entidade.
A propósito, a criação da Boa Vista, em 2010, pode ser considerada mais um marco na história da Associação, a partir do qual a centenária entidade se reinventa para encarar a nova realidade do mercado, muito mais exigente, digital e aberto aos micro e pequenos empreendedores. Nesse contexto, a ACSP inicia uma reorganização administrativa e cria um rol de empresas que hoje são a sua base de sustentação.
Esse movimento, iniciado nas gestões de Rogério Amato e Alencar Burti, se materializa com Alfredo Cotait Neto, quando a ACSP lança novos produtos, como a Faculdade do Comércio (FAC-SP), a ACCredito e o Pateo 76, voltado para startups, entre outros.
A ampliação dos serviços é acompanhada pela consolidação das fi nanças e a modernização das instalações de sua sede, que hoje conta com um auditório moderno, salas para reuniões preparadas para videoconferências, áreas de trabalho agradáveis, entre outras melhorias estruturais.
Hoje, a entidade está preparada para as transformações do mercado que ocorrem em função da rápida evolução da tecnologia e, assim, segundo José Eduardo Nicolau, superintendente-geral da ACSP, tem condições de oferecer aos associados serviços que lhes permitem enfrentar quaisquer desafi os.
Novo produto - Dando sequência a essa trajetória moderna, José Eduardo adianta o próximo lançamento da ACSP, o ACloja, previsto para março de 2023. Trata-se de um e-commerce para associados desenvolvido em parceria com a VTEX, multinacional especializada em cloud commerce. O novo
serviço vai permitir que lojistas vendam seus produtos com todas as opções de logística e de pagamento já planejadas.
O superintendente destaca ainda o alcance e a representatividade da entidade por meio de suas distritais, e a forma como tem se aproximado dos lojistas com serviços que promovem
evoluções no empresariado.
José Eduardo também comemora o fato de a ACSP, que tem se dedicado à capacitação dos profi ssionais do comércio por meio da FAC-SP, internamente ter avançado na pauta da educação. Hoje, 95% dos funcionários da entidade têm curso superior.
Quarta-feira, 07 de dezembro de 2022
A
para ampliar sua atuação e hoje a entidade é uma holding controladora de empresas que oferecem os mais variados serviços para o empresariado
Com a modernização das instalações, a ACSP
ganhou um novo auditório (1), lounge repaginado no 11º andar (2), salas de aula informatizadas na FAC (3), área para startups trocarem experiências no Pateo 76 (4), áreas de trabalho agradáveis, como as da SP Chamber (5) e Plenária atualizada (6)
JEFFERSON OLIVEIRA
JEFFERSON OLIVEIRA
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JEFFERSON OLIVEIRA
Temos condições de oferecer aos associados serviços que lhes permitem enfrentar quaisquer desafios.
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José Eduardo Nicolau superintendente-geral da ACSP
Pateo 76 mostra que tradição e inovação podem caminhar juntas
ção (Conin), em 2019, formado por re presentantes do setor empresarial, tec nológico e acadêmico, além de contar com investidores e o poder público.
Alessandra explica que esse novo momento da ACSP é pautado por duas provocações: Como é possível desen volver um ecossistema de inovações em São Paulo? E como levar essas inovações ao pequeno empreendedor?
mento de startups que acabou de se lecionar 34 empresas, entre mais de 400 inscritas, que receberam horas de mentoria oferecidas por especialistas da ACSP e do Sebrae.
“O Conin nasce, primeiramente, para trazer as principais mentes dessa nova economia para dentro das nos sas discussões. O Pateo 76 vem para complementar, como um espaço de co nexão e relacionamento. E o Ac boost vem para mediar essa aproximação comercial entre a ACSP e as startups e ainda promover a democratização des sas tecnologias para o micro e peque no empreendedor”, diz Alessandra.
A ascensão das startups e as opor tunidades abertas por esse modelo de negócio levaram a Associação Comer cial de São Paulo (ACSP) a direcionar suas ações também para as áreas de tecnologia e inovação.
Jovens empreendedores se encar
regaram de transformar a centenária entidade em uma Associação 4.0, um movimento encabeçado por Alessan dra Ferreira de Andrade, vice-presi dente da ACSP, que fortaleceu o Fó rum de Jovens Empreendedores (FJE) e ajudou a criar o Conselho de Inova
FAC-SP está entre as cinco melhores instituições de ensino privado do país
Em um mercado majoritariamente constituído por empreendedores ina tos, muitas vezes os pequenos e mé dios varejistas nascem da experiência do “chão de loja”. Com a operação da loja pautada pelo dia a dia, algumas atividades, eventualmente, são com partilhadas com alguém da confiança do empresário, e boa parte das vezes familiares cumprem a função de mão de obra especializada.
Poucos têm a oportunidade de
xima do MEC (Ministério da Educação), para oferecer cursos superiores na mo dalidade de educação a distância. Com o objetivo de qualificar e inse rir o varejo no universo digital a partir de um modelo acadêmico baseado no desenvolvimento de competências, a FAC-SP pretende chegar a oito mil alu nos em cinco anos.
Hoje, a instituição está presente em 12 estados, por intermédio de 90 asso ciações comerciais que se tornaram po
Nesse contexto, outras iniciativas foram surgindo, como o Pateo 76, espaço de empreendedorismo e hub de inovação mantido pela ACSP, que aproxima investidores e agentes da inovação das startups. Localizado na rua Boa Vista, 76, na cobertura do edi fício Vista Alegre, esse espaço permite que várias startups se conectem para exponencializar seus trabalhos.
Dentro do Pateo 76 foi criado o Ac boost, um programa de impulsiona
A vice-presidente da ACSP destaca ainda a importância dessa renovação para o fortalecimento do associati vismo. Na visão de Alessandra, com maior engajamento e por meio de no vas ferramentas tecnológicas, a ACSP está empenhada em seguir como uma entidade tradicionalmente inovadora, com maior portfólio de produtos para atender o empreendedor e diversos associados com negócios de base tec nológica. (MM)
ACCredito está pronta para se transformar em um banco digital nacional
Braço financeiro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a ACCredito foi criada em 2021 para ajudar a preencher um vácuo exis tente no mercado de crédito brasi leiro, o de produtos voltados aos micro e pequenos empresários.
A empresa nasceu enquadrada ao cenário de transformação tecno lógica, e se apresentou ao merca do como uma instituição financeira 100% digital. “Há duas décadas, restava ao empreendedor fazer as contas e aceitar. Nos últimos dez anos, começamos a desenhar uma outra perspectiva com as fintechs”, diz Milton Luiz de Melo Santos, pre sidente da ACCredito.
estão inseridos em um mercado fa vorável”, diz Santos.
Próximos passos - Após ter con cedido crédito a mais de 1,2 mil empresas paulistas a um tíquete médio de R$ 40 mil em menos de dois anos de operação, a ACCredito agora tem planos de se tornar um banco digital de abrangência na cional. Nesta fase, a fintech terá o apoio de Henrique Meirelles, ex-mi nistro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, que vai ajudar a instituição a captar investidores e a ampliar sua oferta de serviços financeiros.
aprender e acumular conhecimento por meio de ações formais. Com con tratados sem experiência e treinados por colaboradores que também não fo ram devidamente preparados, o varejo desponta como um dos setores menos qualificados, segundo Wilson Vitório Rodrigues, diretor-geral da Faculdade do Comércio de São Paulo (FAC-SP), mantida pela ACSP.
Mudar essa realidade, segundo Ro drigues, motivou a criação da primeira e única instituição de ensino brasileira focada no varejo. Inaugurada em 2020, em menos de dois anos a FAC-SP con seguiu se inserir entre as cinco melho res instituições de ensino privado do Brasil, segundo pesquisa de qualidade publicada pelo Guia da Faculdade, ela borado pelo jornal O Estado de S. Pau lo, em parceria com a Quero Educação. Outra conquista nesta ainda curta trajetória foi a aprovação, com nota má
los da faculdade. Ela oferece cinco cur sos de graduação: Gestão Comercial, Gestão Logística, Gestão de Recursos Humanos, Sistemas para Internet e Ad ministração. Outros cinco deverão ser autorizados em 2023: Marketing, Ges tão Financeira, Ciências Contábeis, Co mércio Exterior e Análise e Desenvolvi mento de Sistemas.
Para implementar essa grade, Ro drigues explica que a equipe acadêmi ca visitou pequenos, médios e grandes varejistas para entender quais são as carências dos profissionais do merca do. Neste processo, varejistas como Magazine Luiza, Preçolândia e Ria chuelo passaram a apoiar a atuação da faculdade.
“Estamos formando competências para o varejo 4.0, sempre voltados para a carreira no varejo e focados em habilidades atreladas à digitalização”, diz o diretor da FAC-SP. (MM)
Por operar em um modelo total mente digital, a ACCredito desburo cratiza a liberação do empréstimo, que pode ser realizada em algumas horas. Essa agilidade é consegui da também porque suas linhas têm como avalista o Sebrae, por meio do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), que cobre a não-apre sentação de garantias por parte do empre endedor que pretende obter o crédito.
Tudo isso permi te à fintech da ACSP oferecer taxas de juros mais competiti vas que as dos ban cos tradicionais, com prazo de 24 meses para pagamento dos empréstimos. “A libe ração do recurso em questão de horas é algo importante para os pequenos negó cios, que ainda não
Seguro de que empresas como a ACCredito podem contribuir para atender a um número cada vez maior de empreendedores, com custos mais baixos e celeridade na concessão do empréstimo, Santos diz acreditar que a ACSP está aju dando a moldar o futuro da indústria bancária no país. (MM)
7 Quarta-feira, 07 de dezembro de 2022
O Conin levou para dentro da ACSP as principais mentes da nova economia.
Alessandra Andrade, vice-presidente da ACSP
A ACSP ajuda a moldar o futuro da indústria bancária no país.
DANIELA ORTIZ
Milton
Luiz de Melo, presidente da ACCredito
ACSP
DIVULGAÇÃO
Estamos formando competências para o varejo 4.0. Wilson Rodrigues, diretor-geral da FAC
DANIELA ORTIZ
Alexandre Allard, idealizador da Cidade Matarazzo, recebe Prêmio Rodovalho
Quando decidiu empreender na região da Avenida Paulista com o projeto verde conhecido como Cidade Matarazzo, o francês Alexandre Allard foi chamado de maluco e visionário. Para muitos, era muita ousadia querer transformar um local abandonado há mais de 20 anos, preservar construções antigas, como o Hospital Matarazzo, construir uma torre de 32 andares, uma verdadeira fl oresta vertical com árvores de até 14 metros de altura, que hoje compõem um cenário da cidade de 150 mil metros quadrados, alimentada por energia limpa, abrigando hotel de luxo, apartamentos, restaurantes, centros de cultura e eventos e um verde exuberante proporcionado pela plantação de mais de 10 mil árvores.
“A Cidade Matarazzo é um grande lugar dedicado a abrir os olhos e conscientizar a sociedade brasileira sobre o tema da regeneração do meio ambiente. O Brasil não tem ideia do que representa para o mundo”, diz o empresário, escolhido para receber o Prêmio Antônio Proost Rodovalho.
Em entrevista ao Diário do Comércio, Allard aborda a burocracia enfrentada para tirar do papel o sonho de construir um modelo de cidade inteligente, e revela os bons resultados alcançados com a primeira fase já concluída do projeto.
DC - Por que a escolha do Brasil, e especificamente São Paulo, para abrigar o empreendimento verde conhecido como Cidade Matarazzo? Decidi fazer um projeto para ajudar o Brasil a entender que ele é muito importante para o planeta. E São Paulo é a sua capital econômica. O desafi o mais importante é mudar a maneira de ver e de pensar das elites econômicas do país. É preciso pensar na preservação como um caminho possível. E isso é uma mudança cultural, econômica, de modelo de desenvolvimento. O projeto mostra a possibilidade de seguir pelo caminho da preservação. Era um
local abandonado há mais de 20 anos que ninguém queria comprar por causa da necessidade de preservar e hoje, veja, é o mais valioso do país.
DC - Com o empreendimento, você demonstra que o respeito ao meio ambiente e à história pode ser compatível com o desenvolvimento econômico. Acha que os empresários, de forma geral, têm essa consciência verde?
A preservação do meio ambiente infelizmente ainda é encarada como um repelente aos investimentos. Tanto que fui chamado de maluco francês, no início,
que se paga no Itaim. Quebramos todos os recordes em transações imobiliárias. Vendemos nossos apartamentos oito vezes mais caro do que os apartamentos do outro lado da rua. O verde, então, é algo que pode ser vendido, sim. Nossos restaurantes - são três em funcionamento - festejaram recentemente a conquista de 350 mil clientes depois de nove meses de abertura. Os clientes gostam, voltam e convidam amigos para conhecer. No hotel, considerado o mais luxuoso na história do Brasil, cujo preço é 50% maior que o hotel mais caro na cidade, conseguimos ter um caixa po-
em que as coisas vão acontecer, especialmente quando envolve investimentos de bilhões de reais. Infelizmente, a burocracia é a maior responsável pela paralisia da criatividade do país e pode levar à simplifi cação extrema dos processos empresariais.
DC - Você acaba de chegar do Egito, onde foi realizada a COP 22. Como a Cidade Matarazzo pode ajudar nas discussões sobre as mudanças climáticas?
A Cidade Matarazzo é um grande lugar dedicado a abrir os olhos e conscientizar a sociedade brasileira sobre o tema da regeneração do meio ambiente. O Brasil não tem ideia do que representa para o mundo. É a nação mais verde do planeta. O dinheiro necessário para fazer essa regeneração não está disponível e é muito caro quando está disponível. Por isso temos o projeto Aya - edifício que reúne ONGs e empresas para criar, fi nanciar e executar a transformação verde -, que vai ajudar a trazer dinheiro do mundo. No passado, dos US$ 500 bilhões emitidos em fundos verdes, só 1,5% foi direcionado para a América Latina, sendo apenas 0,6% para o Brasil. O país precisa receber pelo menos US$ 50 bilhões. O trabalho do Aya vai ajudar a agilizar a chegada desse dinheiro, pois reúne empreendedores, desenvolvedores e fornecedores de solução para o fl orescimento da economia verde. As empresas que não entrarem no caminho da regeneração do meio ambiente vão desaparecer nos próximos 10 anos.
DC - Como você se sente com a homenagem da ACSP, por meio do Prêmio Antônio Proost Rodovalho? É uma honra receber essa premiação, considerando que não sou brasileiro. É um importante reconhecimento e recompensa para toda a equipe envolvida nesse projeto, que há 12 anos trabalha incansavelmente, enfrentando várias difi culdades. A premiação é uma boa notícia. O Brasil é um país difícil, mas quando conseguimos realizar e empreender, temos o reconhecimento, o que não ocorre em outros lugares. A Cidade Matarazzo só aconteceu por causa de um amor incondicional ao Brasil. A cultura do País e a sua natureza são ativos valiosos não só para o Brasil, mas para todo o planeta.
quando decidi investir na Cidade Matarazzo. É importante fazer as coisas acontecerem porque ajuda as pessoas a entenderem que esse caminho é de grande valor. O projeto signifi ca a materialização de uma visão e com isso abrimos uma porta, um caminho. O meu objetivo primordial com o empreendimento é inspirar as pessoas.
DC- Quanto já foi investido no projeto e quais os resultados com a primeira fase já concluída?
Os investimentos somam R$ 2,7 bilhões. E os resultados são excepcionais. Já conseguimos vender todas as unidades residenciais 50% mais caro do
sitivo depois de 63 dias de inaugurado. Trata-se de uma estrutura com mais de 500 funcionários e, portanto, com um custo fi xo altíssimo.
DC - Como foi lidar com a burocracia para conseguir as licenças necessárias para a execução das obras? A burocracia é um legado brasileiro bem conhecido, que gera incertezas aos investidores. Enfrentá-la foi certamente o maior desafi o do projeto. Por conta da burocracia, as obras fi caram paralisadas muitas vezes. Sem ela, a primeira fase teria sido concluída três anos antes. O maior problema relacionado está na incapacidade de mensurar o tempo
Sobre o prêmio Criado em 1992 pela ACSP a pedido da Companhia Melhoramentos, o Prêmio Antônio Proost Rodovalho reconhece iniciativas de empresários que envolvem soluções criativas para problemas econômicos, sociais, políticos e relacionados ao meio ambiente.
O prêmio recebe o nome do fundador da Melhoramentos e da ACSP. A homenagem ganhou a forma de um troféu que reproduz o busto do empreendedor Rodovalho, feito pelo escultor Luis Morrone.
Quarta-feira, 07 de dezembro de 2022
Seu megaprojeto de luxo está repaginando uma área de 150 mil metros quadrados antes abandonada na região da Paulista
Silvia Pimentel
BOB WOLFESON
VEDOR FILMS
A primeira fase da construção da Cidade Matarazzo consumiu R$ 2,7 bilhões e envolve hotel de luxo, apartamentos, restaurantes e centros de cultura e eventos