Especial aos mestres e doutores com carinho

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Jornal do empreendedor

São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 2013

ESPECIAL Número de mestres e doutores cresceu mais de 300% entre 1996 e 2011, impulsionado pela maior oferta de cursos em instituições de ensino particulares. Estudo do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, traçou um panorama do setor de pósgraduação no Brasil.

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número de mestres e doutores formados pelas universidades brasileiras mais que quadriplicou entre 1996 e 2011. Em 15 anos, a concessão de títulos passou de 13.219 para 55.047, uma diferença de mais de 300%. A informação faz parte de um estudo inédito do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O levantamento do CGEE, intitulado Mestres 2012: demografia da base técnico-científica b ra si le i ra , também apontou que este crescimento foi impulsionado, em grande parte, pela maior oferta de cursos de mestrado em instituições de ensino particulares. Este é mais um trabalho elaborado pelo CGEE, nos últimos anos, sobre a demanda e perfil dos recursos humanos necessários ao desenvolvimento do País. Ele mostra um panorama detalhado da pós-graduação no Brasil, com farto conjunto de estatísticas sobre os programas, a formação e o emprego dos mestres. A pesquisa considerou dados do Censo Demográfico do IBGE e dos ministérios da Educação (MEC) e do Trabalho e Emprego (MTE) e se segue ao

l i v r o D o u t ores 2010: Estudos da demografia da base técnicocientífica brasileira, que deu início à produção de dados estatísticos do CGEE sobre a formação e o emprego de mão de obra em nível de pós-graduação. Segundo o presidente do Centro, Mariano Laplane, "este é um tema central nas discussões sobre políticas de desenvolvimento econômico e social, em especial quando se pretende que este desenvolvimento tenha como alicerce a ciência, a tecnologia e a inovação". De acordo com os resultados apurados, quase um terço dos mestres e doutores brasileiros reside em São Paulo, mas, neste Estado, o número por mil habitantes é bem menor do que o do Distri-

to Federal e do Rio de Janeiro. Ainda de acordo com a pesquisa, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul respondem pela formação de mais da metade (54,1%) de todos os mestres brasileiros. Em 2010, São Paulo concentrava 30,14% dos títulos de mestrado entregues e 32,88% dos doutores formados; em 1996, 38,8% dos mestres brasileiros concluíam seus estudos no Estado. O s d a d o s t a m b é m m o stram uma descentralização da pós-graduação em termos geográficos: apesar de ainda predominante, a região Sudeste registrou recuo de participação no número de programas de mestrado oferecidos ao público, passando de 62% para 50%.

Instituições particulares Outro dado interessante: embora a pós-graduação ain-

da esteja ancorada nas universidades públicas, aos poucos, as particulares vêm ganhando expressiva fatia do mercado, com um crescimento superior à média, e imprimindo às federais e estaduais menor participação relativa. Em 1996, as federais concederam 56,5% dos títulos de mestrado e as estaduais, 30,2%. Em 2009, estes números caíram para 51,9% e 25%, respectivamente. O aumento ocorreu por conta das particulares, que passaram de 13,3% dos titulados, em 1996, para 22,4% em 2009. Outro aspecto levantado é que o crescimento nas instituições particulares se concentra especialmente nas áreas de Ciências Sociais e Humanas. "O perfil privado se voltou para as áreas de mais fácil estruturação do ponto de vista da oferta do curso; são as que precisam de uma infraestrutura mais leve", ressalta o supervisor da pesquisa do CGEE, Antônio Carlos Galvão. Em números absolutos, as instituições de ensino parti-

culares formaram 8.696 mestres em 2009, enquanto as estaduais conferiram diploma a 9.712 mestrandos e as federais, 20.142 títulos.

Desigualdades persistem Do ponto de vista dos alunos, a pesquisa do CGEE permitiu apurar que oito de cada dez pós-graduados, no Brasil, pertencem à raça branca. Embora ela corresponda a 47% da população total do País, segundo as estatísticas oficiais, quando analisada a cor da pele do contingente de detentores de títulos de mestres e doutores, a fatia correspondente à raça branca chega a 80%. Apenas 3% do total de títulos de mestrado pertencem a pessoas da raça negra e 12% dos doutores são pardos, o que reflete a seletividade do sistema educacional. Os dados obtidos pelo estudo também apontam uma significativa desigualdade de gêneros na elite acadêmica brasileira. Embora as mulheres já representem mais da metade dos mestres do País desde 1997, a remuneração média que lhes corresponde é 42% inferior à dos homens com a mesma titula-

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Titulados tendem a se deslocar rumo às indústrias, que têm procurado profissionais de alta formação Sofia Daher

ção, sendo a discrepância mais acentuada nas regiões Sul e Sudeste (44%) e menos na região Norte (18%). Ainda segundo a pesquisa do CGEE, a maior parte dos titulados no Brasil (42,73%) atua na área acadêmica: apenas 27,4% estão empregados no setor privado e outros 29,63% se encontram no serviço público. A disparidade é ainda maior quando se trata de doutores: de cada 10 detentores do título que se encontram em postos de trabalho formais, 8 são empregados por estabelecimentos de ensino. Entre os mestres, a proporção é de 4 para 10. Ainda com relação a este aspecto, verificou-se que a proporção de mestres com emprego formal na indústria de transformação é mais de três vezes maior que a dos doutores titulados no País, entre 1996 e 2009. Nesse período, o primeiro grupo teve participação de 4,6%, contra 1,4% do segundo nas atividades produtivas.

Migração para a indústria

De acordo com Sofia Daher, assessora técnica do CGEE e uma das autoras da pesquisa, a tendência é de que a força de trabalho composta por mestres e doutores deixe de se concentrar nas universidades. O fortalecimento do setor industrial nacional tem atraído profissionais com título de doutorado. "Titulados mais recentes tendem a se deslocar rumo às indústrias, que têm procurado profissionais de alta formação", explica a pesquisadora. O processo de elaboração do estudo do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos envolveu várias instituições de renome, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação Geral de Indicadores do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.


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TÍTULO DÁ Status E MELHORES Salários

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ness Administration), de outro, não agrada a todo mundo. A pedagoga Lucy Duró, sóciadiretora da Evoluir Educacional, por exemplo, não poupa críticas ao mercado profissional, que, de seu lado, valoriza excessivamente quem detém um MBA, e aos alunos "que só se dispõem a fazer uma pós para crescer profissionalmente", quando o que deveria movê-los é, em sua opinião, a busca por mais conhecimento.

Ascensão profissional

O profissional com mestrado ganha 84% mais em comparação a quem possui apenas um curso superior

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m dos aspectos mais cando próximo a 1,5% para os importantes do es- primeiros e a 1% para os setudo Mestres 2012: gundos. "Como o número de demografia da base pessoas que atingiram estes técnico-científica brasileira, do níveis de escolaridade é ainda CGEE, diz respeito à inserção muito pequeno em relação ao dos profissionais com títulos total da população, há a nede pós-graduação no merca- cessidade de se formar muito do de trabalho não acadêmi- mais gente, em todos os níveis co. Segundo Antônio Carlos de escolaridade", argumenta Galvão, supervisor da pesqui- a assessora técnica do CGEE. sa, os mestres têm mais faciliDe acordo com o levantadade para arrumar emprego mento feito, apenas 0,32% do que os doutores. Enquanto dos brasileiros detêm um di40% dos mestres formados ploma de mestrado e 0,12%, entre 1996 e 2009 têm um um título de doutor. posto de trabalho no setor Bom ou ruim? educacional, este percentual chega a 80% em se tratando É justamente neste ponto de profissionais com nível de doutorado. "Isso confirma que que o debate em torno do boos doutores têm um perfil mais om da titulação se acirra no acadêmico e corrobora a ideia Brasil. Se, por um lado, é conde que o mestrado não é só senso que "tanto para a vida uma etapa de graduação, é das pessoas quanto pela sua uma titulação com finalidade importância para o País, é preprópria, que tem um encaixe ciso continuar expandindo a social mais abrangente", justi- formação do brasileiro em todos os níveis", fica Galvão. como sustenta Para Sofia Sofia Daher, Daher, assespor outro lado é sora técnica do inegável que CGEE, "o que esta corrida observamos tem suas conno nosso estusequências nedo sobre os gativas, tanto Mestres 2012 é sobre a qualique há um 'bôdade da formanus' importanção e dos curte associado Lucy Duró: mercado sos propostos, aos níveis de valoriza excessivamente quanto sobre o formação mais quem possui MBA. próprio mercaaltos, com imdo de trabalho. pacto sobre o Para a psicopedagoga Méremprego e a remuneração. Ou seja, o desemprego diminui e cia Falcini, diretora pedagógia remuneração aumenta mui- ca da Saberes Consultoria e to a partir da graduação". Se- Assessoria Educacional, é imgundo o levantamento, profis- portante entender o significasionais que concluíram a gra- do desta titulação a partir de duação ganham, em média, diferentes pontos de vista: 170% a mais que os que con- "Um mestrado não habilita a cluíram o ensino médio. Já o uma profissão, e tampouco salário de quem tem um mes- transforma alguém em espetrado é cerca de 84% maior em cialista. Ele não outorga capacomparação a quem só fez a cidade e competência ao prograduação; e quem concluiu fissional, mas lhe ensina a exum doutorado recebe cerca de plorar de forma científica, éti35% mais do que aqueles que ca, metodológica e honesta um problema ou um processo têm título de mestre. Outra vantagem socioeco- no seu campo de atuação", exnômica da pós-graduação diz plica, defendendo ser este respeito à taxa de empregabi- "um grande ganho, pois ainda lidade. Segundo Sofia Daher, se conserva muito amadorisentre mestres e doutores, o mo no mercado de trabalho percentual de desemprego di- nacional". Lembrando que um espeminui significativamente, fi-

Grau de instrução da população Distribuição percentual da população com 10 ou mais anos de idade por nível mais alto de instrução, Brasil, 2010 (%) Doutorado 0,12 Mestrado 0,32 Superior 7,46 Médio Fundamental Fundamental incompleto Sem instrução 5,74

23,54 18,32 44,50

Fonte: IBGE (Censo Demográfico 2010). Elaborado pelo Núcleo de RHCTI do CGEE com base nos resultados da amostra do Censo 2010.

Aumento de salário Adicional de remuneração das pessoas ocupadas, com 10 ou mais anos de idade, com determinado nível de instrução em relação ao nível imediatamente inferior, Brasil, 2010 (%) Doutorado 34,97 Mestrado 83,60 Superior Médio 42,09 Fundamental 25,94 Fundamental incompleto 5,05 Sem instrução -

170,06

Fonte: IBGE (Censo Demográfico 2010). Elaborado pelo Núcleo de RHCTI do CGEE com base nos resultados da amostra doCenso 2010.

cialista só se forma com "muitíssimas horas de trabalho e dedicação", Mércia avalia que, no Brasil, o mestrado ainda é bastante teórico e distante do mercado. "As pesquisas não dialogam com a realidade e acabam formando um profissional que não se encaixa no contexto social", sustenta.

Outro ponto de vista que merece análise, segundo a consultora, diz respeito à clareza em relação ao futuro profissional, que o candidato ao mestrado deve ter. Para trajetórias acadêmicas, de pesquisa e docência superior, certamente a busca pela titulação é fundamental, opina Mércia. "Mas se

a carreira está ligada ao mercado, competência e técnica, uma pós-graduação e até mesmo um MBA fora do País, para ampliar o conhecimento especializado, pode ser uma decisão mais assertiva." Tamanha polarização entre mestrado e doutorado, de um lado, e MBA (Master in Busi-

Conhecimento para o dia a dia

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Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, que conta com 16 cursos de graduação, 16 de pósgraduação e uma variedade de cursos livres, de extensão e de Ensino a Distância, vem perseguindo a estratégia de lançar pelo menos dois cursos por ano. Neste início de ano letivo, a escola formatou, segundo a professora Lúcia Fernanda de Souza Pirró, gestora dos cursos de Pós Graduação, o curso "Inteligência de Mercado", com carga horária de 420 horas divididas ao longo de três semestres. Moldado para "quem busca conhecimento específico, pois está na iminência de se tornar uma liderança no seu ambiente de trabalho" – administradores, profissionais de marketing, produto, planejamento e vendas, gerentes de pesquisa e outros –, o curso visa familiarizar o aluno com as diferentes formas de captação de informação e monitoramento de dados nos processos de decisão de comunicação e marketing, capacitando-o a compreender os estudos de mercado num contexto empresarial e orientar sua tomada de decisões em cenários cada vez mais competitivos. "Um dos grandes diferenciais do curso é a sua grade curricular diferenciada, que permite aos alunos um amplo conhecimento das questões relacionadas à inteligência de mercado, além do corpo docente, formado por mestres e doutores com grande experiência na academia e principalmente no mercado", explica Lúcia Fernanda, adiantando que a escola fechou parceria com entidades de classe e profissionais do mercado para a apresentação de palestras e cases relacionados ao tema e com editoras para publicar os melhores trabalhos. Outro curso recentemente lançado pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo é o de "Comunicação Organizacional e Negócios", dirigido a profissionais da área de Comunicação que atuam em empresas privadas ou públicas, agências de comunicação corporativa, publicidade, imprensa e Relações Públicas, entre outros. Também com carga horária de 420 horas e duração de três semestres, "este curso de especialização se

estrutura", segundo a gestora dos cursos de Pós Graduação do Centro, "na convergência entre a comunicação e a gestão de negócios e tem como proposta curricular o enriquecimento da prática profissional contextualizado no cotidiano das empresas e agências por meio do conhecimento aprofundado de teorias, estudos e análises da comunicação organizacional e da gestão de negócios". Governança corporativa, finanças, estratégias empresariais, branding, marketing, comunicação interna, gestão de crise, avaliação e mensuração de resultados em comunicação são alguns dos temas trabalhados. "A ideia", segundo o coordenador Júlio César Barbosa, "é que o aluno saiba adotar o Balanced Scorecard, o Modelo de Excelência em Gestão (MEG) da FNQ (Fundação Nacional de Qualidade), e adaptá-lo a um planejamento de comunicação". Aplicado a área similar, o curso "Comunicação, Redes Sociais e Opinião Pública" é o terceiro curso de especialização recentemente lançado pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Seu objetivo é promover discussões de conteúdo e estudos de caso que proporcionem ao aluno uma visão crítica e estratégica das modernas ferramentas da comunicação. Sua atualidade repousa no fato de que a habilidade de utilizar estrategicamente as mídias digitais vem se tornando cada vez mais uma exigência do mercado nacional para o profissional de comunicação", explica sua coordenadora, a professora Vânia Penafieri de Farias, para quem "é cada vez mais raro uma empresa não estar presente em alguma rede social, nos dias de hoje". Segundo Lúcia Fernanda, a primeira turma, com 11 alunos, está prestes a se formar e é majoritariamente constituída de "empreendedores que querem dar uma guinada na carreira." (M.C.)

Segundo Lucy Duró, por conta de uma estrutura educacional tradicional, ainda vigente no Brasil, "o MBA adquiriu uma conotação de status profissional", que faz par com uma ascensão rápida e melhores salários. Esta sede de se destacar rapidamente no mercado é que tem moldado o comportamento de muitos jovens saídos das universidades, que buscam impressionar headhunters e empresas de recrutamento e seleção, colocando sobre a mesa uma coleção de diplomas e títulos de pós-graduação – o que, segundo a pedagoga, só faz estimular uma formação em escala industrial e uma banalização dos cursos, principalmente na seara dos lato sensu. Para ela, na esteira das transformações de ordem tecnológica, cultural e econômica que o País está vivendo, seria imperioso que o mercado nacional valorizasse os novos saberes e a atualização profissional: "Para perseguir uma carreira bem-sucedida, é preciso investir numa efetiva educação continuada e buscar o que realmente agrega valor, isto é, o conhecimento", adverte a diretora da Evoluir Educacional – uma mudança de prisma que o setor de cursos de especialização não parece muito disposto a assumir. (M.C.)

Abaixo, instalações do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e Lúcia Fernanda de Souza Pirró, gestora dos cursos de Pós-Graduação

Diretor de Redação Moisés Rabinovici Editor-Chefe José Guilherme Rodrigues Ferreira Edição Carlos Ossamu Reportagem Marleine Cohen Diagramação Lino Fernandes Arte Paulo Zilberman Gerente Executiva de Publicidade Sonia Oliveira Telefone: 3180-3029 soliveira@acsp.com.br


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AQUI, O Brasil FEZ BEM A Lição de casa Conheça as escolas de negócio e universidades brasileiras que estão no ranking das melhores instituições de ensino do mundo

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ara frequentar uma das melhores universidades por disciplina do mundo ou se matricular em um curso customizado de educação executiva de uma das principais escolas de negócios existentes, não é preciso ir até os Estados Unidos, onde Harvard, MIT e UC Berkeley despontam como as favoritas no ranking mundial de universidades. Aqui mesmo, no Brasil, a Fundação Dom Cabral ficou com a 16ª posição no ranking do jornal britânico Financial Times, que elege os melhores programas de educação executiva. A escola de negócios de Minas Gerais que, em 2011, chegou a desbancar a renomada Harvard Business School e ocupar o terceiro lugar do pódio, recuou oito posições em relação a 2012. Mesmo assim, ela segue como a melhor brasileira em matéria de educação executiva, segundo o FT: atrás dela vem o Insper, de São Paulo, na 36ª colocação, registrando igualmente um retrocesso em relação a 2012, quando detinha o 29º lugar na lista dos melhores programas customizados. No ranking dos melhores programas abertos latino-americanos, a Dom Cabral também está mais bem posicionada: detém a 23ª posição, com um recuo de cinco pontos em relação ao período anterior. Depois dela, aparece o Insper em 38º lugar.

Avaliação

Ainda segundo a lista elaborada pelo jornal britânico, o suíço IMD foi escolhido como o melhor curso em matéria de programa aberto de educação executiva e a Duke Corporation Education, americana, levou o título de escola de negócios que oferece os melhores programas personalizados. Para elaborar este ranking, o Financial Times ouviu centenas de presidentes e diretores de empresas, que avaliaram os cursos executivos destas escolas nos quesitos "infraestrutura", "lógica de planejamento do programa" e "métodos de ensino". No ranking mundial de universidades por disciplinas QS2013, a USP (Universidade de São Paulo) ficou entre as 50 melhores universidades do mundo em cinco disciplinas: agricultura e silvicultura (24º lugar), filosofia (41º), estatística e pesquisa operacional (41º), educação (45º) e comunicação e mídia (48º). A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), por sua vez, ganhou a 19ª posição com as disciplinas de agricultura e silvicultura. As duas brasileiras dividiram o pódio com várias outras universidades onde se fala essencialmente o inglês. Entre elas, destacam-se Harvard, dez vezes em primeiro lugar, MIT, UC Berkeley, Oxford, Cambridge e Imperial College London. Para elaboPaulo Pampolin/Hype

Divulgação/Guilherme Bergamini

Ao lado, prédio da Fundação Dom Cabral, em Minas Gerais, a mais bem pontuada escola de negócios do País, segundo o Financial Times; abaixo (esq.) instalações do Insper e a Cidade Universitária (dir.), principal campus da USP. Fotos: Divulgação

rar o ranking, foram ouvidos mais de 70 mil acadêmicos e empregadores.

Opção pelo MBA Mas se tempo é dinheiro, uma pós-graduação é tempo, dinheiro e carreira: no Brasil ou fora dele, como não levar gato por lebre? Como fazer uma boa opção, sabendo que qualquer escolha indevida no grande caldeirão onde se acumulam, atualmente, mais de 9 mil formatos de cursos de especialização no País? Criado nos EUA há quase um

século para proporcionar uma visão prática e aplicada da gestão de empresas por parte de professores, cuja principal característica é possuir experiência acumulada, o MBA, ou Master in Business Administration, sempre visou formar líderes. "A capacitação para o exercício da liderança e do gerenciamento de uma organização se consolida nas escolas de negócios, por meio da realização de um curso de MBA", explica Roberto Fialkovits, professor da BBS Business School. Assim, os

temas de que trata o curso são pertinentes a todo gestor: logística, contabilidade, produção em série. Com o tempo, porém, assuntos como marketing, tecnologia e gestão de talentos também ganharam importância, e, para alguns, a sigla se banalizou. Para escolher um bom MBA nos dias de hoje, ensina Fialkovits, "o aluno deve antes de mais nada aferir o quanto este curso contribuirá para a sua

carreira". Para isso, é importante que ele tenha um plano pré-estabelecido, ou pelo menos uma boa ideia do caminho que quer trilhar e de onde pretende chegar profissionalmente, adverte o professor. Outro ponto importante: "Como quem busca um MBA são empreendedores e profissionais que ocupam posição de liderança e valorizam o conteúdo educacional alinha-

do com a vivência na prática, cabe à instituição de ensino incorporar esta dinâmica corporativa, com professores atuantes, que possam trazer e trocar experiências", explica Fialkovits, destacando o fato de o aluno precisar "conhecer bem o corpo docente e se informar se todos os professores são profissionais de mercado ou consultores experientes e ocupam posições de decisão nas empresas em que trabalham". Só assim, acredita Fialkovits, "ele terá em sala informações acerca de situações reais facilmente adaptadas à teoria". Outro ponto que agrega valor na escolha do curso, segundo o professor da BBS Business School, são as parcerias inte rn ac ion ai s, " a o p o r t u n idade de o aluno acrescentar um diplom a i n t e r n acional ao seu M B A n a c i onal". Mas, adverte ele, o prete ndente deve avaliar bem se elas se adequam à sua disponibilidade de permanecer fora do País e, também, checar a qualidade dos programas e das universidades, lembrando que a escolha de uma entidade renomada no mercado "ajuda a dar um upgrade no curriculum, além de ser garantia de qualidade de ensino". Observar a quantidade de alunos por turma é, por fim, um aspecto a ser observado, na medida em que "turmas numerosas demandam muito do professor, limitando o acesso do aluno a questionamentos diretos". (M.C.)

Divulgação/Fernando Esselin

Estrangeiros querem estudar aqui

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negável constatação: o número de estrangeiros que vêm para o Brasil fazer uma pós-graduação está cada vez maior. Dados do Ministério da Educação e Cultura referentes ao ano passado, segundo os quais o País recebeu 41% a mais de bolsistas do exterior do que em 2011, num total de 1.576 alunos, comprovam o fato. Diretores de grandes instituições de ensino, algumas das quais incluídas nos melhores rankings internacionais, também endossam a afirmação: "Os estudantes que vêm ingressando no País para fazer estudos, sejam eles de curta ou de longa duração, são cada vez mais numerosos", atesta o professor Sérgio Pio

Bernardes, diretor acadêmico internacional da ESPM (Escola Superio de Propaganda e Marketing). Para John Schulz, presidente da BBS Business School, "o fluxo de estrangeiros no mercado de trabalho brasileiro ainda é relativamente pequeno, mas não há dúvidas de que deve aumentar". Vários fatores explicam o fenômeno: mais do que os grandes eventos esportivos, como as Olimpíadas e a Copa do Mundo, ou mesmo as grandes obras pra exploração do petróleo do pré-sal, "a tendência se deve aos grandes investimentos e à presença de multinacionais instaladas no Brasil", avalia Bernardes, explicando que "a cidade de São Paulo é considerada, hoje, uma cidade globalizada". Além disso, no novo arranjo corporativo global pesa a geopolítica da oportunidade: "Portugueses que não encontram perspectivas em seu próprio país, vão para Angola; americanos vêm

para o Brasil", resume Schulz.

Cidade Maravilhosa Por conta disso, as estatísticas espelham, na ESPM, a mobilidade dos estudantes. "Entre 2004 e 2012, registramos nos campi de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre um aumento do número de matrículas de alunos de fora da ordem de 400%", reporta o diretor da escola, apontando também outros indicadores, como um incremento do número de delegações estrangeiras. Na corrida pelas melhores escolas do Brasil, o Rio de Janeiro continua liderando o maior percentual de destino, indica o professor Pio Bernardes. De fato, uma maior visibilidade do País no exterior acabou convergindo para a Cidade Maravilhosa, onde os setores nos quais ela mais se destaca – como óleo e gás – e um maior conhecimento das características do mercado nacional se tornaram atrativos para os estrangeiros que escolhem o Brasil como destino para fazer um mestrado profissional. Na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, por exemplo, o aumento do número de alunos estrangeiros matricula dos nos cursos de MBAs tem sido expressivo: mais de 60% nos últimos dois anos. "O foco dos programas, principalmente do MBA internacional, é traduzir para o expatriado o ambiente de negócios brasileiro", justifica Alvaro Bruno Cyrino,

Sérgio Pio Bernardes: estudantes estrangeiros estão vindo ao País.

vice-diretor da EBAPE/FGV.

Estrangeiros Para John Schulz, que também coordena na BBS Business School um grupo de ex-alunos que entrevistam candidatos para uma graduação na Yale, existe uma nova tendência de mercado que justifica uma presença cada vez maior de estrangeiros no Brasil: "Há quatro décadas, o multinacional típico era expatriado. A tendência era o brasileiro assumir as diretorias e depois a própria presidência da empresa. Hoje, como os quadros brasileiros se tornaram muito caros, as multinacionais estão trazendo gerentes médios para as suas filiais. São eles que vêm fazer um MBA no País, em busca de três valores, de acordo com a sua faixa etária: informação prática e networking, além do título em si". (M.C.)


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Aliança COM ESCOLAS Internacionais

a corrida pelas alianças mais perenes e atraentes, a Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), criou um consórcio com quatro escolas de administração internacionais (Instituto Tecnológico de Monterrey, da Egade Business School, mexicana; Kenan-Flagler Business School, da Universidade de North Carolina, norte-americana; Rotterdam School of Management, da Erasmus University, holandesa; e Chinese University of Hong Kong) para oferecer o seu OneMBA, um dos cursos mais bem cotados no ranking do jornal inglês Financial Times de 2012. Em se tratando de oferecer módulos internacionais em seus programas, outras instituições não ficam atrás: o MBA Executivo Empresarial da Fundação Dom Cabral, em Minas Gerais, por exemplo, permite aos alunos aproveitar os créditos cursados durante uma semana na Kellogg Graduate School of Management, nos EUA. A carioca Coppead, por sua vez, oferece aos diplomados recém-saídos do MBA Executivo um dual degree, isto é, um cur-

so de seis semanas na França, com projeto final a ser defendido seja na Audencia de Nantes, seja na Rouen Business School ou na Reims Management School, e certificado international equivalente. Produtos educacionais de diversos formatos e duração não faltam numa das economias de mais rápido crescimento no mundo e flagrante

oferta de cursos de especialização. "Daquele ano em diante, o mercado cresceu e se sofisticou muito, abrindo espaço para que as instituições mais atentas estabelecessem alianças internacionais para o intercâmbio de seus alunos." Ainda assim, o lapso de tempo decorrido entre meados dos anos de 1990 e o presente momento gerou consequên-

Com algum atraso, vem se consolidando a parceria entre escolas de negócios brasileiras e instituições na Europa e EUA

ses, a presença delas melhorou a qualidade dos cursos oferecidos: hoje, nada menos do que nove escolas de administração asiáticas estão entre os 50 melhores MBA em tempo integral do mundo, segundo o ranking de 2012 do Financial Times. Mais: no ano passado, segundo estimativas, mais de 40 mil chineses prestaram o Graduate Management Admission Test (GMAT) – a prova de aptidão lógica e verbal em inglês, que é requisito básico para a inscrição em vários cursos de MBA em universidades norte-americanas e europeias – contra 1.697 brasileiros, o que sugere que a China está anosluz à frente do Brasil na formação de futuros líderes empresariais.

Bombardeio educacional escassez de talentos em gestão. "Até 1995, o ensino superior era muito fechado no Brasil", avalia Marcelo Saraceni, presidente da ABIPG (Associação Brasileira das Instituições de Pós-Graduação), entidade cujos principais objetivos consistem em defender parâmetros de qualidade e padrões éticos no setor, regulando a

cias: como muitas grandes escolas de negócios tradicionais voltaram suas baterias principalmente para o Leste, e não para o Sul, concentrando-se em lugares como a Índia, a China ou Cingapura para recrutar candidatos para o seu MBA, desenvolver programas conjuntos com instituições locais e instalar campus nestes paí-

Novos cursos de pós-graduação da FIA

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esde 2005, o programa de Especialização em Aconselhamento de Carreira da FIA (Fundação Instituto de Administração) tem sido o principal meio de formação de profissionais preparados para enfrentar e lidar com as inovações impostas pelas novas perspectivas da trajetória profissional. Visando atender às necessidades de um público cada vez mais exigente, a FIA oferece um curso de especialização de 500 horas em Aconselhamento de Carreira, que está em sua 5ª edição. O curso tem no seu corpo docente acadêmicos renomados, tanto nacional como internacionalmente, e também os profissionais mais experientes em aconselhamento de carreira no Brasil. Essa combinação garante ao participante se aprimorar, ligando os modelos de vanguarda às práticas consolidadas em aconselhamento de carreira. O curso oferece também a oportunidade de participação no Seminário Internacional sobre Carreiras, que foi concebido especialmente para alunos FIA e conta com a presença dos acadêmicos da Escola de Boston, membros das principais Universidades americanas. "No módulo internacional (Seminário) teremos a chance de discutir as principais tendências, os modelos teóricos e as práticas inovadoras com os grandes gurus do assunto, professores da Boston College, Simmons School of Management, Boston University, Harvard University, Suffolk University, The University of Queensland, University of St. Thomas e Bowling Green State University", comenta Tânia Casado, acadêmica da

A FIA é uma das principais escolas de negócios do Brasil.

FIA que divide a coordenação do Seminário com o professor Michael Arthur, criador do modelo das Carreiras Sem Fronteiras (Boundaryless Career).

Gestão de Negócios Esportivos Por conta dos grandes eventos esportivos que acontecerão no Brasil nos próximos anos, vem se aprofundando a discussão da gestão do esporte com um olhar mais corporativo. Para atender esta crescente demanda por especialistas em administração no setor esportivo, a FIA criou o curso de extensão em Gestão de Negócios Esportivos. Com 180 horas de duração, o curso, online, permite que alunos de todo País possam adquirir e aprimorar seus conhecimentos com o que há de mais atual em termos de técnicas e ferramentas gerenciais aplicadas ao esporte. O conteúdo é conduzido por professores e especialistas com ampla experiência prática e acadêmica, com uma metodologia estruturada em atividades via web conferências, vídeo aulas e autoestudo. Os alunos terão aulas com especialistas renomados em gestão esportiva do Brasil, encontros presenciais para promoção de networking (não obrigatórios) e poderão visitar centros de treinamentos, arenas e instituições esportivas de diferentes modalidades. Destinado a profissionais atuantes na indústria esportiva, como gestores e dirigentes de clubes esportivos, executivos de empresas do setor, profissionais de agências, jornalistas esportivos, além de interessados no tema, o curso aborda aspectos únicos desta gestão tão diferente da praticada em outros segmentos. Para o professor Michel Mattar, um dos coordenadores do curso e profundo estudioso de Gestão Esportiva, a indústria esportiva no Brasil necessita de profissionais com visão global do setor. "O esporte no País vem se desenvolvendo, mas ainda faltam executivos que consigam aliar as características próprias do segmento, no que diz respeito a instituições, fornecedores, clientes, entre outros fatores, com o ambiente socioeconômico. Somente assim, analisando essas complexas variáveis, o gestor irá obter resultados positivos na área. Diferentemente de outros setores, o esporte tem muitas particularidades. O que pretendemos com este curso é fornecer uma abordagem prática porém muito bem fundamenta em conceitos sólidos de administração, objetivando elevar a eficácia da gestão das instituições esportivas no Brasil".

Para recuperar o tempo perdido, as escolas de administração mais importantes do mundo viraram sua atenção para o mercado nacional. Embora presente no País há mais de uma década, a espanhola IESE ampliou sua atuação a partir de 2011, inaugurando um campus em São Paulo, onde oferece um MBA executivo ao público brasileiro. A norteamericana Thunderbird, por sua vez, fechou um convênio com o Institute of Performance Leadership (IPL), de São Paulo. E a Darden, escola de negócios da Universidade da Virgínia (EUA), inaugurou uma residência brasileira para o seu Global Executive MBA, programa durante o qual, além de visitar São Paulo e Rio de Janeiro, os alunos conhecem empresas nacionais e se familiarizam com as peculiaridades do ambiente de negócios de cada uma delas. Para se diferenciar no mercado e em relação a estas estrangeiras que estão se instalando no País, algumas escolas brasileiras mais atuantes passaram a estabelecer alianças com instituições de prestígio internacional. A ideia é escolher uma escola credenciada pelas principais entidades de avaliação de programas do mundo e atuar como ponta de lança. Assim, a BBS Business Scholl se associou à University of Richmond, à Universitat Autònoma de Barcelona e à Jindal Global University, indiana, para oferecer suas modalidades de MBA executivo, enquanto, também na área de saúde, os cursos de especialização lato sensu e stricto sensu do Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa e lato sensu do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein são ministrados por profissionais e instituições de ensino renomados internacionalmente. Para Marcelo Saraceni, há que se diferenciar, no entanto, este novo formato de curso de pós, que incorpora creden-

Divulgação

N

ESPECIAL - 5

ciais do exterior, e a modalidade de MBA, mestrado ou doutorado, que o aluno faz fora do Brasil, estabelecendo-se num país estrangeiro por um período muitas vezes longo. Além de atender estes alunos que, no passado, podiam fazer um curso no exterior, mas agora, com a economia nacional mais aquecida, preferem estudar no Brasil e se manter no mercado de trabalho, o chamado MBA internacional visa os profissionais que chegam interessados em fazer carreira no País. "Este MBA não substitui, to-

davia, o diploma conferido in loco", adverte o presidente da ABIPG. Um curso customizado, generalista, atende ao profissional que não pode se ausentar do trabalho por muito tempo e visa o intercâmbio acadêmico em algumas poucas semanas. Além disso, busca otimizar a experiência do aluno, mostrando-lhe como se dá a gestão empresarial em outros mercados, de modo a ajudá-lo a se familiarizar com as melhores práticas na sua área de atuação, em outros mercados", explica Saraceni. (M.C.)

Até 1995, o ensino superior era muito fechado no Brasil Marcelo Saraceni, presidente da ABIPG


DIÁRIO DO COMÉRCIO

6 -.ESPECIAL

sábado, domingo e segunda-feira, 1, 2 e 3 de junho de 2013

OS DIVERSOS CAMINHOS DA Pós-Graduação

Os cursos stricto sensu são para quem deseja seguir a carreira acadêmica, os cursos lato sensu são especializações para o mercado

E

mbora a legislação brasileira considere que todos os cursos realizados após a graduação são de pós-graduação, a dúvida acerca do melhor caminho acadêmico a perseguir, uma vez obtido o diploma superior, ainda preocupa muitos profissionais que desejam investir no conhecimento como diferencial de carreira. Por mais que todas as opções agreguem saber, uma escolha errada pode representar tempo e dinheiro perdidos. Por isso, o melhor a fazer, antes de se decidir, é uma boa pesquisa de mercado que permita garimpar o curso que melhor convém entre os mais de 900 modelos oferecidos. Para tanto, é preciso entender o beabá da pós-graduação e saber distinguir os tipos de especialização. No Brasil, os cursos oferecidos após a conclusão do curso superior (bacharelado, licenciatura ou tecnológico) se dividem em duas grandes modalidades: os de stricto sensu focam a pesquisa e o estudo das teorias em determinada área. Destinam-se aos profissionais que almejam seguir a carreira acadêmica, como professores, ou científica, como pesquisadores. Dentro dessa modalidade, estão os cursos de mestrado e doutorado. O mestrado destina-se particularmente a quem quer ser professor ou pesquisador, embora também ofereça bons subsídios ao profissional que

deseja ampliar seus conhecimentos para ter uma melhor formação no mercado de trabalho onde atua. Ao fim do programa, o aluno deve produzir uma dissertação sobre seu assunto de interesse. O doutorado, por sua vez, se segue à conclusão do mestrado, com o objetivo de formar pesquisadores. Este é o grau de titulação mais elevado dentro da hierarquia educacional brasileira, embora ainda exista o pós-doutorado (PhD) em outros países. Para receber o título, o aluno deve produzir uma tese, na qual desenvolve um tema que possa contribuir para o crescimento de determinada área de conhecimento.

Para o mercado Os cursos lato sensu são de especialização: têm objetivo técnico-profissional específico, e não abrangem o campo total do saber em que se insere a especialidade. Estão voltados ao treinamento em um ramo profissional ou científico bem definido e têm como meta o domínio de uma limitada área do saber ou da profissão, para formar o profissional especializado. Nesta categoria se incluem os cursos de especialização e o MBA. Um título deste porte é decisivo para quem está desempregado, em transição profissional ou quer alavancar a carreira. O curso de especialização tem como público-alvo quem

deseja se especializar em determinada área, bem específica, que pode estar ou não relacionada à primeira graduação, e é ideal para profissionais que buscam atualização ou aperfeiçoamento. Por exemplo: quem se formou em Administração de Empresas, pode se especializar em administração pública, hoteleira ou hospitalar. Quem cursou Direito, pode fazer uma especialização lato sensu em Direito do Consumidor. O mesmo acontece com quem atua na área de marketing, finanças ou recursos humanos. A conclusão do curso confere ao aluno um certificado de especialista, não um título de mestre ou doutor. O Master in Business Administration (MBA) – que, na tradução literal para o português, significa "mestre em administração de empresas" –, por sua vez, não é considerado um mestrado no Brasil, apesar do nome, o que sempre provocou muita confusão. Não passa de um curso de especialização lato sensu, voltado para a prática profissional. Mais procurado por quem já está no mercado e quer ampliar ou reciclar seus conhecimentos na área de gestão e negócios, forma essencialmente gestores, executivos e pode ajudar empreendedores natos.

EUA, por exemplo, confere o título de mestre em administração de empresas. Trata-se de um programa genérico, voltado para quem já tem alguma experiência profissional e precisa de um upgrade na carreira graças ao título. No Brasil, uma das grandes diferenças entre o curso lato sensu e o MBA é a carga horária: o primeiro tem pelo menos 360 horas; o segundo, em média, 1.200 horas. Outro diferencial é o perfil do aluno. Em geral, cursos lato sensu interessam mais aos jovens, que têm foco em determinada especialidade. Já quem cursa um MBA é o gestor, que deseja uma visão integrada dos negócios, tem mais idade – em média, 37 anos – e, também, mais experiência profissional. Nos programas lato sensu, os professores têm peso decisivo; no MBA, os estudos de caso são

importantes e o aluno deve construir o seu conhecimento a partir deles. É por isso fundamental que o aspirante a um MBA tenha experiência profissional consolidada como gestor. A Fundação Dom Cabral, por exemplo, exige que os integrantes do seu MBA tenham desempenhado a função de gestor durante cinco anos, no mínimo, seja na gestão de equipe, de resultado, risco, financeira ou mercadológica. Para bem escolher um curso, é importante trocar ideias com quem já concluiu o programa e checar o quanto a instituição de ensino está sintonizada com o mercado global. Outro aspecto a considerar é o registro do curso no MEC. A pós-graduação stricto sensu confere grau acadêmico; a especialização, um certificado. (M.C.)

Diferenças básicas Aos olhos da legislação internacional, o MBA feito nos

Dê um upgrade na carreira

U

ma via de mão dupla: se, por um lado, "quem faz pós visa se tornar empregável", nas palavras de Sheila Nowicki, da Nowicki Consultoria em RH, e, já por conta desta atitude pró-ativa, mostra talento e se diferencia dos seus pares, é preciso dizer que nos últimos dez anos, cada vez mais, o MBA representa uma exigência de mercado, "um must have sem o qual ninguém chega a um cargo de direção". Refletindo uma realidade norte-americana e europeia, alunos brasileiros que querem dar um upgrade na carreira têm procurado uma titulação generalista para aprender a gerir sua área dentro de uma corporação. "Todo mundo vira gestor em algum momento", advoga Sheila, lembrando que, de modo geral, faltam aos cursos superiores subsídios de como empreender dentro da carreira, motivo pelo qual o MBA acaba sendo tão necessário, uma hora ou outra. Assim é que, muitas vezes, por exemplo, um psicólogo pode se empregar numa área de Recursos Humanos e, em determinado momento, por força de sua ascensão profissional, acaba ocupando a cadeira de gerente ou diretor da empresa e se vê às voltas com a necessidade de administrar seu departamento, aplicando conhecimentos de gestão.

Para este profissional, que passa a ter nas mãos um business, como explica Sheila, ao lado do diploma superior de Psicologia, será preciso desenvolver uma visão generalista da corporação. Mas, se este é um denominador comum à maioria das carreiras, o fato é que algumas profissões podem ser alavancadas mais do que outras graças a uma

mestrado ao currículo. Da mesma forma, o salário médio de um bacharel em gerência de negócios, de U$ 62.723,68, segundo o CareerBliss, sofre acréscimo de cerca de 22,02% se o profissional tiver o título de mestre, podendo chegar a U$ 80.439,55. O mesmo acontece com quem trabalha na área de marketing ou administração de empresas: nos dois casos, ter a

bacharelado na área. Também um administrador de banco de dados pode ter um aumento de salário de 21,06% – um dos mais altos percentuais apurados pelo CareerBliss –, se ele acrescentar um curso de pós-graduação ao seu currículo, passando de cerca de U$ 75.807,21 para U$ 96.028,15. Também no Brasil, reconhece a sócia-diretora da

trabalha, ele precisa ter noções de vendas para administrar a parte financeira da sua área. Ser capaz de assumir a gestão do negócio se torna, neste caso, tão importante quanto acumular conhecimentos técnicos de engenharia. Da mesma forma, um advogado ou um publicitário que assume um cargo de confiança, e começa a dirigir o seu departamento,

pós-graduação – e o salário acaba acompanhando esta progressão. Nos Estados Unidos, via de regra, gastar alguns anos fazendo um mestrado permite fazer jus a uma remuneração cerca de 20% maior, segundo o site de recrutamento e seleção CareerBliss. Exemplos não faltam: quem persegue a carreira de assessor financeiro, chega a ganhar 19,2% a mais se acrescentar um diploma de

graduação de bacharel e aplicar os conhecimentos adquiridos durante o curso resulta em um aumento de salário da ordem de 20%, de acordo com avaliação do site. Mas engana-se quem pensa que a tendência se restringe às carreiras administrativas. Ainda segundo o site, quem tem aptidão artística e ganha o seu pão como designer gráfico, pode incrementar sua renda mensal em cerca de 18,9% caso faça um curso de

Nowicki Consultoria, algumas profissões podem ganhar grande projeção, na atualidade, por conta de um diploma de pós. É o caso da engenharia – seja ela de produção, elétrica ou de software –, do Direito, da Publicidade e Propaganda ou da área de Recursos Humanos, para citar apenas algumas. De fato, quando um engenheiro industrial conquista o posto de diretor ou gerente da companhia onde

deve lançar mão de habilidades específicas para gerir a sua área. Em um ou outro caso, avalia Sheila Nowicki, o profissional só terá sucesso se tiver capacidade de tocar o seu departamento como se fosse um business: "O MBA se revela, então, um passaporte para cargos de direção". "Estas demandas exigem uma visão generalista da empresa", conclui a consultora da Nowicki. (M.C.)


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