Edição 753

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HISTÓRIA DE BOTUCATU

Diário da Cuesta

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

Ohomem só existe porque tem um passado. É o relato de como ele chegou até aqui que o faz inteiro. Sem isso não teríamos referência, não saberíamos o que somos e de onde viemos. Desde quando nós estávamos à beira do fogo e olhavamos o céu procurando direções, tinhamos noção da importância de nossa história. Os mais velhos a passavam para os mais novos em um relato oral. Daí nascia o herói, o vilão, as lembranças alegres e as lembranças tristes, daí vinha o orgulho de pertencer àquele povo. A História de Botucatu é assim, cheia de conquistas, de povos que tentaram ficar e que tiveram de partir de outros que, através de lutas e, por que não, um certo amor pelo lugar, conquistaram o direito de povoar esta cidade. Viva o povo botucatuense! Que é tão rico em seu passado, e soube assim fazer o seu presente. Incomparável. (livre adaptação do folder /Turismo da Riotur)

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ANO III Nº 753 SEXTA-FEIRA , 6 DE ABRIL DE 2023
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CANÇÃO DE BOTUCATU

ELDA MOSCOGLIATO

Estamos em pleno Abril, o mês que enriquece a crônica citadina com a seriação de datas e eventos sempre marcantes na tradição local. Justifica-se, pois, que aqui se trate de um assunto interessante como sejam as canções que Botucatu já possuiu e que, levadas ao esquecimento são patrimônio de uns poucos, herdeiros da memória dos antepassados

A primeira canção botucatuense é graciosa e simples. Cantaram-na nossos pais nos primeiros anos de funcionamento do Grupo Escolar “ Dr. Cardoso de Almeida”, vale dizer, nos primórdios desse estabelecimento exemplar de ensino, por onde passamos nós, gerações sucessivas, e que hoje já está a beirar seus noventa anos de existência.

Trata-se de uma canção de melodia singela, accessível à memorização mas delicada e suave como deve ser delicado e suave o amor à terra natal. Ela brincou nos ouvidos dos escolares de então. E se fixou para sempre na memória daqueles que tanto deram de si, na vida botucatuense. Três, desses meninos de outrora, tornados velhos amigos e companheiros, timbravam em recordá-la em seus constantes encontros. Não se visitavam mas esses encontros se davam na barbearia, no Bepão ou mesmo na Sacristia da Catedral onde dois deles : José da Rocha Torres mais carinhosamente : o Zelão Torres e o velho flautista eram Irmãos do Santíssimo E a memória se lhes avivava em fatos e acontecimentos que enriqueceram a Botucatu histórica. Zelão da Rocha Torres está lá, na fotografia memorável da implantação do Bispado. Entre tantas memórias, saiam da Sacristia trauteando a velha canção.

Um dia perceberam que após eles, ninguém mais conheceria a música

EXPEDIENTE

querida. Era preciso eternizá-la. A obra prima – poesia e música – de Américo Veiga , professor botucatuense, não poderia jamais desaparecer. Gravá-la como? Não havia a aparelhagem fácil de “stereos” que hoje sobra nas mãos das criançadas.

O velho flautista propôs : cante-a e eu a escrevo. Mas era difícil. O Zelão, mal começava os primeiros versos, era tolhido pela torrente de lágrimas que lhe resvalavam pelas lentes dos óculos. Embargava-se-lhe a voz e ficava nisso. Foi preciso recorrer a Tio Antonio Tillio, contemporâneo, setentão ainda rijo, de memória lúcida que sabia inteirinha a canção.

E com voz ainda “tenorinale” cantou-a inteira. Zelão aprovou. E o velho flautista transpô-la para a pauta. E com a letra silabada. E esse original está conosco. É uma velha e primitiva melodia nascida no começo do século. Vale a pena conhecê-la na sua simplicidade, na sua linearidade, na singeleza :

CANÇÃO DE BOTUCATU

Letra e Música de Américo Veiga.

Botucatu tem primores, Tem belezas naturais.

É mui bela e são gerais Seus encantos e flores.

CORO

Devemos amar a nossa terra Como se ama a própria mãe!

E dizendo sempre e sempre: Amparai as belezas que ela encerra!

Mais tarde, um outro rapsodo teceu-lhe lindos versos. Era Astrogildo de Oliveira, versos esses musicados por João Gomes Junior. Era a Canção Botucatuense. Depois, Angelino de Oliveira dedicou-lhe letra e música : Saudades de Botucatu. São ambas muito bonitas. Mas não superam a ingênua, graciosa, a terna Canção que nossos pais cantaram. ( A Gazeta de Botucatu –13/04/1984 )

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

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A HISTÓRIA DE BOTUCATU

No ano de 1719, A Companhia de Jesus, através do Tenente Estanislau de Campos, Superior da Ordem no Brasil, partia para a formação de duas fazendas, objetivando a sustentação do Colégio de São Paulo em termos de alimentos e renda originada da comercialização dos produtos : as Sesmarias que seriam a base para as fazendas de Guareí e Botucatu.

A Fazenda de Botucatu era voltada à pecuária, com currais e ranchos de moradia, sendo que sua população oscilava sempre entre dez a vinte pessoas Por 40 anosela floresceu fornecendo carne para o Colégio de São Paulo e comercializando gado para todo o sertão. Desde o seu início até o leilão público, fruto da implacável perseguição do Marquês de Pombal aos jesuítas, a fazenda teve vida própria

OS PRIMEIROS BOTUCATUENSES nasceram na Fazenda Botucatu dos padres jesuítas, segundo pesquisa do historiador Hernâni Donato nos arquivos de Sorocaba, então Matrizde toda a região.

Segundo relato de Hernâni Donatoem seu “Achegas”, a extensão da Fazenda Botucatu era grande: “...por um lado, a fazenda chegava ao Paranapanema enquanto do outro, conforme anota a doação de Campos Bicudo, tocava o Tietê. Para o sul, ligava-se à fazenda também jesuítica de Guareí”.

Em 1760, os jesuítas tiveram seus bens confiscados pelo Marquês de Pombal - o todo poderoso Ministro de Portugal - e foram expulsos dos territórios portugueses e, portanto, do Brasil As benfeitorias (currais e ranchos rústicos), os escravos (13), as 440 cabeças de gado e os 43 cavalos dos padres ficaram como a mostrar que a fazenda tinha vida própria Os índios catequizados fugiram, assim como muito gado escapou para o sertão.

SOB O SIGNO DA CRUZ

Citada por Hernâni Donato a posição de historiadores que reivindicam para os jesuítas os méritos maiores de povoadores e remotos fundadores de Botucatu, como Plínio Airosa : “...antiga fazenda, confiscada aos padres jesuítas em 1759, aorigem do mesmo município.”

Em outras palavras : Botucatu teria sido uma fazenda, uma GRANDE FAZENDA JESUÍTA e os padres da Companhia de Jesus SEUS FUNDADORES, sendo certo, por registro passado e sacramentado, que os PRIMEIROS BOTUCATUENSES nasceram na Fazenda Jesuíta.

Nascida sob o signo da cruz e desbravada pela competente e elitizada ordem religiosa dos jesuítas, a FAZENDA BOTUCATUera parte de real importância no “CAMINHO DO PEABIRU”, na “TRILHA DO SUMÉ” que ia de São Vicente até Cusko, no Peru.

SURGE O POVOADO

A partir de 1830, intensificou-se o afluxo de criadores e lavradores vindos de Tietê, Sorocaba e Itapetininga Por essa época, a região já estava posseada e dividida em quatro (4) grandes fazendas de criação de gado : FAZENDA MONTE ALEGRE(englobando nossa atual parte central e os bairros do Lavapés, Tanquinho e Bairro Alto), sendo seu proprietário o Cap. José Gomes Pinheiro; a FAZENDA RIO CLARO, pertencente ao Cap. Ignácio Apiaí; a terceira fazenda era resultante da fusão das fazendas BOQUEIRÃO e PULADOR, pertencentes ao Cap. Joaquim Gabriel de Oliveira Lima e José Inocêncio Rocha; e a quarta, a FAZENDA BOM JARDIM, pertencente a um posseiro e criador de sobrenome Marques. Todos os proprietários eram residentes em Itapetininga.

Dos muitos nomes citados como prováveis fundadores ou benfeitores de Botucatu , fora, é claro, a presença indiscutível dos jesuítas, GOMES PINHEIRO e JOAQUIM COSTA foram os que encontraram melhor acolhida entre os historiadores. Gomes Pinheiro como doador de terras e Joaquim Costa como consolidador e incentivador do povoado. Em 1845, o Cap. José Gomes Pinheiro doou parte de suas terras, já posseadas por Costa, para que se constituísse a Freguesia.

Em 1846, o Governador da Província, Manuel da Fonseca Lima e Silva, promulgava a lei criando uma Freguesia no Distrito de Cima da Serra de Botucatu, sob a invocação de Sant´Ana.

Pelos meados de 1855, havia em Botucatu aproximadamente 83 habitações, das quais 40 cobertas de telhas. No dia 14 de abril de 1855, foi criado o Município, só instalado a 27 de setembro de 1858.

FORMAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

O Distrito (freguesia) de Botucatufoi criado pela Lei Provincial nº 7, de 19 de fevereiro de 1846. A 14 de abril de 1855, por força da Lei Provincial nº 18, elevou Botucatu à categoria de cidade. A Comarca data de 20 de abril de 1866, criada pela Lei Provincial nº 61

Botucatu é constituída pelos Distritos de Rubião Junior e Vitoriana.

LOCALIZAÇÃO

O município de Botucatu se localiza na região centro sul do Estado de São Paulo e ocupa uma área de 1522Km2, mesmo após o desmembramento que deu lugar à formação do município de Pardinhoe a perda do Distrito da Prata (Pratânia), que primeiro passou a integrar o município de São Manuel e, hoje, Pratânia é município autônomo.

Pertenceram a Botucatu: Santa Bárbara do Rio Pardo, Lençóis Paulista, Anhembi, Bofete, Avaré, São Manuel, Aparecida de Água da Rosa, Pardinho e Pratânia.

Os limites de Botucatu são com os municípios de Dois Córregos, Santa Maria da Serra, Pardinho, Itatinga, Anhembi, Bofete, São Manuel, Pratânia e Avaré

BOTUCATU

Em busca de progresso e desenvolvimento, Botucatu consegue as suas primeiras escolas, suas primeiras industrias (1º Ciclo Industrial), sua Diocese (1908), sua Escola Normal (1911), o Colégio dos Anjos - Santa Marcelina ( 1912), o Colégio Arquidiocesano Nossa Senhora de Lourdes, hoje, La Salle ( 1913), Escola de Comércio( 1919), a Escola Profissional, posteriormente Escola Industrial, em 1936.

Passa por uma grande crise (1929/30) que se arrasta pelos anos 30, passa por seu 2º Ciclo Industrial (meados dos anos 50 até meados dos anos 60), com dificuldades e poucas perspectivas.

Consegue, em 1962 com funcionamento em 1963 – comemorando em 2013 seu Jubileu de Ouro! -, as Faculdades Oficiais ( Medicina, Medicina Veterinária, Biologia e Agronomia - FCMBB ), hoje destacado Campus da UNESP , acrescido de outras Unidades de Ensino Superior como Engenharia Florestal, Zootecnia e Enfermagem. Em meados dos anos 70 , tem início o seu 3º Ciclo Industrial que traz uma perspectiva sólida para seu futuro. Com uma população estimada em mais de 140 mil habitantes, Botucatu começa a representar importante polo de desenvolvimento industrial no Estado e são concretas as possibilidades de vir sediar uma Universidade Regional Estadual ( Universidade Estadual Regional DR. VITAL BRASIL ), moderna e ágil , tendo como base o Campus local da UNESP.

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“Brincadeiras de criança, como é bom”

Nossa infância em Botucatu foi marcada com a presença de amiguinhas, fiéis e queridas. Estão em nossas vidas até hoje.

A mais chegada que chamamos amiguirmã é a Molyla: Eloisa Amando, que tem a idade da minha irmã. Elas até hoje tem uma brincadeira sobre a idade pois, tem diferença de dois meses.

Minha irmã é de setembro e Molyla de novembro. Depois conhecemos a Maria Elvira, com quem brincávamos quando ela vinha de férias e ficava na casa dos avós que era na esquina da Cardoso.

Morávamos na Rua Quintino Bocaiuva entre a General e a Cardoso.

E as brincadeiras eram com as bonecas: Cecília, uma beleza de boneca de louça com pernas articuláveis, simulava andar, tinha um lindo vestido, sapatinhos vermelhos ; e eu tinha o Paulinho um bebêzão. Tínhamos também um boneco de celofane que tinha sido da minha mãe.

Ela guardava num baú de madeira, as nossas roupas de bebê, perfeitas e muito limpas, passadas a ferro, aquele enorme em que se colocava brasas dentro, inclusive aquelas faixas que se usava naquela época.

O bebê ficava durinho como uma múmia.

Um dia, minha mãe apareceu com uma caixa que para nossa surpresa, tinha um cachorrinho.

Demos a ele o nome de Pitoco.

Coitado do Pitoco, era cuidado a base de mamadeiras, enrolado em faixas e roupas de bebê.

Tinhamos também uma tartaruga, a Pituca.

Comia banana, tomate, folhas de alface.

Muitas vezes para se proteger das nossas brincadeiras se escondia dentro de sua carapaça.

Outra brincadeira era a de vendinha onde juntávamos latas, jornais velhos, revistas, caixinhas, garrafas e brincávamos de vender aqueles bagulhos.

Tinha as viagens de navio e lá íamos de malas, cuias e filhos.

Minha mãe e meu pai trabalhavam fora e precisavam de alguém para nos cuidar.

Foi então que a Enilda, vinda de Pardinho, entrou em nossas vidas.

Morou conosco até seu casamento com o Vital. Era como se fosse da família.

Fazia nossos lanches após a escola: lembro de comer salada de tomate temperada com vinagre Castelo, com pão.

Achava muito gostoso molhar o miolo de pão naquele molhinho com azeite, que sobrava no prato.

A glória eram os desfiles de modas que organizávamos.

Vestíamos lençóis, toalhas de banho, de mesa, roupas da minha mãe e a grande apresentação era sobre a mesa da sala de jantar.

O gran finale era sempre o vestido de noiva. Esses desfiles só podiam acontecer quando nossos pais viajavam e ficávamos sob a supervisão da Enilda.

Na mesma rua, entre a Avenida e a General Telles, em frente a casa da D.Elza: a comadre e melhor amiga da minha mãe, moravam os Amaral, que tinham vários filhos entre meninos e meninas.

Era uma criançada alegre que sabia muitas brincadeiras, não só de passa anel, cirandinha, esconde esconde...

Algumas vezes éramos autorizadas a brincar, nas noites quentes de verão: de queimada, jogos de bola, com eles, os Amaral, e as outras crianças da vizinhança.

Participavam a Graça, filha do Seu Nelson, seu irmão o Nelsinho, a Silvinha, filha do vizinho do lado, Seu Nelson, o motorista de praça.

Tinhamos que voltar antes de começar a Hora do Brasil, sempre no mesmo horário, apresentada por um apresentador de voz grave, no nosso grande rádio de válvula.

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