7 minute read
a 14 Entrevista Luís Manuel Ribeiro - AEP
1500 Maiores Empresas
Advertisement
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal, reflecte sobre a situação económica do país e a importância dos Fundos Europeus como fonte de financiamento e de estímulo ao investimento
Como pode descrever a actual
situação económica do país?
Luís Miguel Ribeiro - A economia portuguesa tem vindo a recuperar da profunda crise económica, reflectindo o controlo da pandemia, associado ao elevado grau de cobertura do processo de vacinação. Contudo, há sérios riscos e ameaças à confiança dos agentes económicos, que podem condicionar a trajectória sustentada de recuperação, como é o caso das perturbações nas cadeias de fornecimento globais, a que se junta o agravamento da pandemia, e respectiva implementação de medidas restritivas, em vários dos nossos principais parceiros comerciais, o que é uma situação preocupante. Nesta altura, creio que a incerteza é novamente a palavra apropriada para descrever a situação actual, como é dado nota no inquérito que a AEP realizou em Novembro junto dos seus associados, embora relativamente à evolução da pandemia durante os próximos três meses haja um pessimismo maior no que respeita ao contexto mundial do que relativamente a Portugal.
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP)
1500 Maiores Empresas
As exportações, maior investimento (estrangeiro ou não) e o empreendedorismo podem ser a “chave” para um maior crescimento da economia, nacional e regional, nomeadamente do Centro do país?
Desde há longa data que a AEP coloca as exportações e o investimento (nacional e estrangeiro) como os vectores chave de um crescimento económico robusto e sustentável e da melhoria da coesão territorial, no sentido da convergência de todas as regiões portuguesas com as regiões europeias mais desenvolvidas. Naturalmente, a promoção do empreendedorismo coloca-se com especial relevância, na medida em que potencia a atracção e a retenção de talento. É por isso que no desenvolvimento das suas actividades, a AEP e a Fundação AEP têm vários projectos dedicados à promoção destas três importantes vertentes.
Quais são, para si, os principais desafios que o sector empresarial enfrenta actualmente e de que forma poderão ser ultrapassados pelos empresários?
Para além de todos os custos de contexto já sobejamente conhecidos (como a enorme carga fiscal, a elevada burocracia, as dificuldades de acesso ao crédito, os incipientes instrumentos para resolver o problema da insuficiente capitalização das empresas, a baixa qualificação dos activos e uma legislação laboral rígida e desajustada a um mercado de trabalho em acelerada transformação), têm surgido outras dificuldades muito sérias ao bom desenvolvimento da actividade empresarial, nomeadamente a escassez e aumento de várias matérias-primas e componentes, os elevados custos de transporte, os elevados custos energéticos e a crescente dificuldade de mãode-obra especializada.
As medidas da tutela têm sido suficientes e equitativas para o crescimento do sector empresarial?
Como referido, o sector empresarial está debaixo de uma grande pressão nestes tempos de pandemia, com grandes variações na procura, que se agravaram com o aumento anormal dos custos de produção. Se no primeiro caso há uma forte componente conjuntural, já no caso de alguns custos de produção são muito mais estruturais, comportando uma grande componente de carga fiscal (taxas e impostos) no caso da energia e combustíveis, que a tutela, por razões orçamentais, tem optado por não baixar, deixando as empresas fortemente limitadas na sua competitividade, para além de transmitir um sinal muito negativo sobre a atractividade de investimento.
Os fundos provenientes do PRR e do Portugal 2030 podem representar uma oportunidade para o país, e a região centro em particular, para fazer crescer o sector empresarial?
Os Fundos Europeus são uma importante fonte de financiamento e de estímulo ao investimento empresarial. Os estudos mostram que sistemas de incentivos às empresas têm produzido resultados muito positivos na inovação, na internacionalização, na qualificação dos recursos humanos e na melhoria da produtividade e aumento da competitividade. Os estudos demonstram, também, que tais impactos perduram no tempo, ou seja, para além do período da duração do apoio, por vezes até se acentuam. Quanto às verbas do PRR, desde o início a AEP teve oportunidade de sublinhar que a sua alocação está invertida, a favor do sector público e em detrimento do sector privado. Por isso, o Portugal 2030 terá de priorizar as empresas, que são fundamentalmente quem cria riqueza e emprego, exporta e contribui para o equilíbrio externo e orçamental. Numa altura em que o tecido produtivo ainda está a sofrer os impactos da pandemia, é crucial o apoio e estímulo ao investimento empresarial. Só com empresas saudáveis é possível praticar melhores salários e contribuir para se assegurar as políticas sociais. No que se refere ao apoio ao inves-
1500 Maiores Empresas
timento público, é importante que os Fundos Europeus se orientem para a melhoria das condições da envolvente em que se move a actividade empresarial. Um desses exemplos é a melhoria da conectividade internacional, por forma a que as empresas instaladas em Portugal possam aceder de uma forma competitiva aos seus principais mercados internacionais. Por isso, em termos territoriais, a AEP tem vindo a manifestar-se publicamente, nos últimos anos, para que as regiões do Norte e do Centro venham a dispor de uma ligação ferroviária para o transporte de mercadorias entre Aveiro-Salamanca, que seja competitiva (em termos de fiabilidade, capacidade, frequência e interligação com a Europa), que permita satisfazer as necessidades logísticas das empresas e, simultaneamente, ajudar Portugal a cumprir com as metas ambientais definidas pela União Europeia. No entanto, temos assistido aos investimentos do Programa Ferrovia 2020 que, infelizmente, não apontam para a resolução dos problemas existentes e para a criação de uma alternativa viável. O PRR não inclui nenhum investimento do transporte ferroviário de mercadorias e, pelo que foi possível verificar nos documentos preliminares do PT 2030, também não está previsto um investimento competitivo nesta ligação internacional, apenas a continuação dos investimentos do Ferrovia 2020 que, na prática, correspondem à tentativa de recuperação da muito antiga Linha da Beira Alta, ao longo da Serra da Estrela. Neste sentido, perde-se uma oportunidade de criar definitivamente uma ligação ferroviária de mercadorias competitiva, que seria um importante trunfo para a captação de investimento para estas regiões.
De que forma a AEP pode contribuir para que o PRR seja bem sucedido?
A AEP tem vindo a tomar posição sobre a alocação de verbas do PRR. Fê-lo durante a consulta pública e continua a fazê-lo sempre que há lugar à abertura de candidaturas. A AEP defende que as candidaturas às empresas devem ser em contínuo e sem burocracias. Continua a defender a urgente implementação de instrumentos de capitalização, atendendo a que no crédito bancário a banca praticamente não partilha o risco com as empresas. As Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial, apoiadas pelo PRR, são positivas mas claramente insuficientes e limitadoras face à estrutura do tecido empresarial nacional. A AEP continua a defender um amplo programa estratégico para a valorização da indústria portuguesa, nos termos em que propôs - Portugal Industrial: PT i 5.0, com apoio à capacitação em várias dimensões: Tecnológica (Inovação, I&DT); Competências (Formação e (Re)qualificação); Eficiência Empresarial (Produtividade, Competitividade, Internacionalização, Comercialização e Marketing); Capacitação Financeira (Capitalização e Diversificação das Fontes); e das Entidades Associativas de Apoio à Indústria.
Fale-nos um pouco do recém programa “Desafios 5.0”.
O programa Desafios 5.0 foi lançado no início de Novembro e tem como objectivo promover o espírito empresarial do Norte e Centro do país, contribuindo para consolidar um novo perfil empreendedor, apoiado em ideias inovadoras e criativas, que possam responder a novos desafios. O programa destina-se aos jovens empreendedores do Norte e Centro, regiões que concentram actualmente cerca de 54,29% do tecido empresarial português.