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a 22 Entrevista Nuno Lopes - CERC

1500 Maiores Empresas

“A NOSSA FORÇA É A FORÇA DO NOSSO TECIDO EMPRESARIAL”

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Constituído formalmente em Novembro, o CERC, que compreende 12 associações empresariais dos 19 municípios da CIM-RC, tem como objectivo lutar por ambições e objectivos comuns a todo o território

Nuno Lopes, presidente do Conselho Empresarial da Região de Coimbra (CERC)

Volvidos dois anos dos primeiros

passos dados pelo CERC, foi constituído formalmente em Novembro. O que é que este importante passo representa para as várias associações empresariais que agrega?

Nuno Lopes - No fundo é termos a capacidade, de lutarmos por objectivos comuns, de uma forma organizada. Uma das carências que nós temos é mesmo essa falta de união.A ideia surgiu numa reunião da Câmara de Comércio e Indústria da Região Centro, que tem uma área territorial mais abrangente. Sentimos que na região da CIM de Coimbra, que abrange 19 municípios, não estávamos organizados. Tínhamos Aveiro e Viseu como bons exemplos, a trabalharem nos seus territórios de forma construtiva, e no nosso caso cada um tentava desenvolver o seu concelho. Com o CERC procuramos contrariar essa tendência e, de uma forma organizada, dar uma resposta conjunta às dificuldades comuns. Somo uma equipa coesa e muito unida e queremos desenvolver um trabalho sólido e profissional, para que seja profícuo e possa perdurar no tempo.

Para quem ainda não conhece, o que é o CERC?

Representamos 19 municípios mas somos 12 associações e algumas delas representam mais do que um concelho. O mais difícil, numa primeira fase, passou pela criação de um consenso. Durante dois anos trabalhámos essa estrutura, procurando pontes de convergência. Inicialmente, o CERC só tinha carácter

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consultivo e achámos por bem, face aos projectos que estão à porta, nomeadamente o PRR, nos formarmos de uma forma mais oficial no sentido de termos um número fiscal e podermos aceder a algumas candidaturas. Porquê? Porque desta forma, e esse é o grande objectivo actual porque depois vêem outros projectos, podemos apoiar os nossos empresários nas candidaturas ao PRR. Os avisos são curtos, os tempos de resposta por vezes são demorados da parte das entidades que tutelam essas candidaturas, e o nosso trabalho é ajudar as empresas a identificar quais são as que estão em aberto, verificar a sua elegibilidade e apoiar a eliminar um pouco esta burocracia para que possamos aproveitar os fundos da forma mais correcta possível. Caso contrário, corremos o risco de no final termos de devolver o dinheiro à UE porque não tivemos a capacidade de executar projectos.

Os fundos provenientes do PRR e do Portugal 2030 podem representar uma oportunidade da região fazer crescer o sector empresarial?

Temos de ir a duas velocidades: vamos aproveitar o que temos no imediato, que são os apoios disponibilizados a nível do Governo, seja através do IAPMEI seja da CCDRC. Estes stakeholders acabam por ter de falar individualmente com cada uma das associações, e o facto de nós já estarmos a trabalhar em conjunto, e de forma organizada, permite alguma celeridade porque o CERC pode falar em nome de todas as associações em simultâneo. Aqui, acreditamos que será uma mais-valia. Neste momento, estamos um pouco dependentes dos programas ou avisos do PRR. Aquilo que nós pretendemos, nos próximos anos, é que sejamos nós a apresentar as temáticas, ou seja, envolver os nossos empresários a identificar quais as necessidades críticas e para que áreas devem ser vocacionados esses apoios. Porque às vezes o que acontece é que as candidaturas que abrem não estão alinhadas com as necessidades das nossas empresas.

Que necessidades são essas?

Neste momento falamos na transição digital, bem como o próprio cuidado que temos de ter com o ambiente, medidas de boas práticas das empresas em termos de pegada ecológica. Estamos todos plenamente de acordo. Mas uma das situações que nós ouvimos como críticas em termos empresariais é a falta de mão-de-obra em alguns sectores específicos. E aí urge, na base, com as próprias escolas, prepararmos o futuro. Senão corremos o risco de dentro de poucos anos termos alguns sectores com falta de mão-de-obra para poder desenvolver a sua actividade económica.

Quais os principais problemas que identificam para um desenvolvimento empresarial mais significativo na região? Por onde passa a resposta a esses obstáculos?

Alguns já nos estamos a antecipar. Por exemplo, a curto prazo vamos ter um problema logístico com o Porto da Figueira da Foz pela incapacidade de acolher navios com determinado porte, porque o futuro aponta para que esses navios exijam um calado e uma manobra de bacia de maior abrangência. Portanto, temos de dotar o nosso porto dessa capacidade. Outra, é usarmos este porto como um meio de entrada na Europa e para isso precisamos de revitalizar a nossa linha férrea. Outra situação que estamos a estudar, e sendo possível, gostaríamos de ter na região Centro uma plataforma logística, de preferência mais para o Interior de forma a potenciar essas regiões. De certa forma, procuramos também aqui alguma equidade territorial a nível de oportunidades porque é também isso que este projecto do CERC procura: a coesão territorial. Temos em cima da mesa também a preocupação do IP3, estrada muito utilizada que neste momento já carece de inovação e também as ligações da zona da Lousã e Poiares a alguns Itinerários Complementares e autoestradas. Facto que pode limitar o investimento por parte de alguns empresários. Hoje em dia quando se querem sediar procuram como-

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didades, locais que tenham segurança e bom acesso ao ensino. No fundo, as qualidades locais são importantes para captar investimento. Já não chega só o preço do lote mas sim todo o pacote que o concelho pode oferecer para que tragam a família e possam investir no nosso país, caso seja estrangeiro, ou que se possam deslocar de uma outra área, se a empresa já for nacional. Queremos combater a quebra demográfica e para isso precisamos de captar investimento.

Qual o retrato que faz do tecido empresarial existente na região?

Ao contrário do que podemos pensar, o tecido empresarial até é forte. Está é assente em poucas estruturas. Por exemplo, na área da Figueira da Foz temos a indústria papeleira, vidreira e dos componentes dos automóveis que, em termos de facturação, tem um peso muito importante, inclusive para o país, e que coloca a região Centro numa posição favorável. Estamos é muito concentrados e aquilo que nós pretendemos é captar outro tipo de investimentos, e manter os que já existem, por exemplo na área tecnológica, para que possamos reter os nossos talentos e evitar que os jovens que se formam vão trabalhar para outras zonas geográficas.

A internacionalização e as exportações podem e devem ser uma aposta destas empresas?

Estas empresas de que falei especificamente já o fazem mas é uma lacuna do nosso país: nós importamos muito e exportamos pouco. O importante é que consigamos passar a ser também um país exportador. E a pensar nisso, temos uma linha estratégica mas as coisas não se resolvem de um dia para outro e nós temos como objectivo aproveitar o presente e preparar o futuro. O Porto da Figueira da Foz e a linha férrea têm um papel preponderante para pensar na exportação. Dito isto, estas áreas carecem de investimentos e é um factor discriminatório positivo, o facto de nós termos no nosso território essas duas valências.

Considera que os empresários estão conscientes dos actuais desafios, nomeadamente no que toca à inovação e à indústria 4.0?

Achamos que sim e aqueles que não estão, cabe-nos a nós, associações empresariais,dotá-los desse conhecimento e dessa ferramenta para estarem sensibilizados, porque é inevitável e é o futuro. Consideramos que pode ser melhor trabalhado, por nós associações empresariais ou representantes de empresas e também pelas universidades, onde existe um desfasamento entre o tecido empresarial, excepto algumas boas práticas, e as universidades. Nós temos de fazer uma aproximação a Coimbra no sentido de aproveitar a investigação e os recursos humanos que todos os anos são formados para que possam ficar a desenvolver os seus conhecimentos e sua actividade empresarial nos nossos concelhos. É isso que nós queremos: em conjunto encontrar soluções para que seja possível. Só vai ser uma realidade, por um lado,

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captando novos investimentos e, por outro, dotando as nossas empresas. A indústria 4.0 vai fazer com que os profissionais que já estão a trabalhar tenham que renovar os seus conhecimentos e, por outro lado, com as robóticas, ir buscar novos profissionais. Estão a ser desenvolvidas e a aparecer novas profissões e são precisos novos actores e para isso queremos captar e reter esses alunos, os que estão a sair agora das universidades. Desta forma, resolve-se o problema da falta de mão-de-obra, da demografia, e simultaneamente aumenta-se o valor salarial, com mais pessoas a morar e com maior poder de compra. Vamos resolver um problema grave do comércio local, porque a questão maior é a falta de pessoas e de poder económico. De certa forma, acaba por ser um projecto mais abrangente em que ao captar pessoas para trabalhar, resolvemos uma série de situações que estão todas interligadas. Quando a indústria sofre, automaticamente o comércio local e o turismo também. É difícil falar destes sectores todos de forma separada. Quando um deles é afectado, de certa forma os outros, de forma directa ou indirecta, também vão ser penalizados. O contrário também sucede. Se conseguirmos pegar num dos sectores e começar a desenvolvê-lo vai servir como uma alavanca para projectar e desenvolver os outros que possam estar com algum atraso.

Como fazem chegar as vossas preocupações ao Governo?

Nos últimos anos estivemos mergulhados na pandemia. A nossa preocupação - e correu muito bem e foi isso que fez com que os nossos associados vissem uma mais - valia nas associações - foi estarmos atentos a todas as medidas disponibilizadas pelo Governo e fomos os actores no terreno, no sentido de apoiarmos os nossos empresários a identificá-las e a fazer com que elas fossem aproveitadas e que conseguíssemos ter o melhor retorno possível. Utilizamos como meios para fazer chegar a nossa voz ao Governo, por exemplo a CIP ou a ACCP, e foram esses stakeholders, com quem trabalhamos assiduamente, que fizeram chegar as preocupações ao Governo. Porque neste tempo de pandemia houve uma série de medidas que foram tomadas que, inicialmente, ou deixavam muitos empresários de fora ou estavam desajustadas à realidade. Uma vez que era um tema que estava a colocar todo o país em causa, foram tomadas decisões de forma célere e por isso deixamos um bem-haja por todo o esforço de ambas as entidades. Por vezes nós empresários somos acusados de dizer que está sempre tudo mal, mas essas medidas permitiram que a taxa de desemprego não esteja hoje em números muito mais preocupantes.

Foram meses difíceis.

Foi uma situação muito grave, para a qual ninguém estava preparado e que de certa forma mostrou que o tecido empresarial português está preparado. Obviamente que foram precisas ajudas porque ninguém

Nós somos apenas os representantes e a voz das nossas empresas. A nossa força é a força do nosso tecido empresarial

O Porto da Figueira da Foz e a linha férrea têm um papel preponderante para pensar na exportação

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consegue honrar os seus compromissos sem estar a laborar. Certamente que quem for ler isto que estou a dizer, e que teve de encerrar os seus negócios, não vai gostar de me ouvir e não vai concordar com o que eu estou a dizer. Mas a situação foi tão grave e foi tão má, e obviamente que lamento todas as empresas e todos os empresários que viram os seus negócios a não terem sucesso devido a esta pandemia, mas podia ter sido muito pior. Nós no CERC tentamos transformar as adversidades em aspectos positivos e os nossos empresários, principalmente o comércio local, estava numa fase de descrédito em que já nada valia a pena. Acho que já nem acreditavam nas próprias associações empresariais. E numa situação de aflição, geralmente o ser humano tem essa capacidade, une-se, e o que nós fizemos foi mostrar que estávamos aqui para os apoiar, identificando quais os planos que mais se adequavam a cada sector de actividade. Esta é também uma carência de algumas empresas e por isso temos de apostar também no conhecimento. Talvez fruto do desespero, alguns profissionais nem sequer conseguiam identificar que medida mais se adequava ao sector em que estavam, se podiam trabalhar ou não, coisas tão simples quanto isso e nós servimos de porto de abrigo, estivemos cá para ajudar, para explicar. Reconheceram valor às associações empresariais e na sua maioria, pelo menos no nosso território, as associações aumentaram o número de sócios quando, numa fase de maior dificuldade financeira e com algumas empresas a encerrarem, o expectável seria a sua saída. Mas não foi o que se verificou. A maioria das associações registou um aumento, precisamente por essa proximidade e pela mais-valia e reconhecimento que os associados viram nas associações.

Como presidente do CERC, que conselhos pode deixar aos empresários?

Deixo uma palavra de esperança e dizer-lhes que vale sempre a pena. Temos agora duas grandes oportunidade: o PRR e o Portugal 2030. O PRR está mais vocacionado para as indústrias e para investimentos de grande valor, e não tanto para o pequeno comércio, micro ou pequenas empresas. Como já disse, a indústria, a nível de facturação, tem mais peso que as pequenas e médias empresas mas estas são mais de 90% do tecido empresarial português e são os maiores empregadores. Têm um peso enorme em termos da sociedade e responsabilidade social. E para esses está mais direccionado o PT 2030. É nisto que nós estamos a trabalhar, de forma a que possamos chegar a estas duas vertentes. A indústria tem uma equipa a trabalhar com eles, com uma capacidade financeira e profissionais que conseguem de certa forma fazer essas candidaturas e chegar a esses apoios financeiros. Já o pequeno comerciante tem mais algumas lacunas e precisa mais de nós para poder chegar a algum deste investimento.Por isso, digo-lhes que acreditem nas associações empresariais e que acima de tudo nos façam chegar as suas preocupações e que nos ajudem a levar este projecto a bom porto. Nós somos apenas os representantes e a voz das nossas empresas. A nossa força é a força do nosso tecido empresarial.

12 associações integram o CERC

- Associação Comercial e Industrial da Bairrada e Aguieira - Associação Comercial e Industrial da Figueira da Foz - Associação de Desenvolvimento Empresarial de Condeixa - Associação Empresarial de Cantanhede - Associação Empresarial de Poiares - Associação Empresarial de Mira - Associação Empresarial da Pampilhosa da Serra - Associação Empresarial de Soure - Associação Empresarial Serra da Lousã - Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra - Clube de Empresários de Miranda do Corvo - Núcleo Empresarial de Penela

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