90 ANOS COM
POIARES
Com Com o patrocínio de:o patrocínio de:
Esta revista faz parte integrante da edição de hoje do Diário de Coimbra e não pode ser vendida separadamente
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90 anos com Vila Nova de Poiares Introdução
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Memórias com 90 anos
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é – Acção – Trabalho – Unidade – Solidariedade – Amor em Liberdade”. É este o lema de Vila Nova de Poiares. Uma terra pobre, que nasceu em redor de uma Albergaria, mandada erguer pela rainha D. Dulce, esposa de D. Sancho I, para apoio aos peregrinos. Mas com gente de fibra, de garra. Um povo empreendedor que se fez à estrada para vender azeite. Gente de génio, que fez frente à miséria e fez crescer a vontade de ser grande. Tão grande como a lendária figura de D. Afonso Henriques, que aqui terá afrontado e enfrentado o cardeal mandatado por Roma, libertando-se a si e ao reino da excomunhão já anunciada. Uma velha lenda que rodeia a figura do primeiro rei de Portugal e que parece ter inspirado os poiarenses, fazendo-os correr à conquista do mundo. Fazendo-os regressar ao torrão natal para o ajudar a crescer e a trilhar os caminhos do progresso. Foi isso que aconteceu no início do século passado, com os poiarenses radicados no Brasil a juntarem-se para erguer um hospital que garantisse apoio aos seus conterrâneos, sobretudo aos mais pobres. Acontece hoje, com empresários dinâmicos,
verdadeiros guerreiros que se instalaram no concelho, aqui ergueram as suas unidades fabris, algumas únicas no país e mesmo na Europa. Gente com um incomensurável orgulho na sua terra. Um amor sem limites que também conquistou e conquista povos de outras terras, de outros mundos. Uns e outros rendidos aos encantos deste recanto, aconchegado pelas serranias, que desafia os turistas e convida os amantes da natureza. Mas também aos sabores de uma gastronomia de excelência, onde a chanfana assume o lugar de rainha. Iguarias que a Estrada da Beira ajudou a conhecer e que a Rota da Nacional 2 promete, agora, levar mais longe. É ao concelho de Vila Nova de Poiares que o Diário de Coimbra dedica, hoje, mais uma revista, no âmbito dos 90 anos de publicação do jornal. Um projecto que nos leva a recordar alguns dos momentos marcantes, memórias e vivências que fazem parte da história de Poiares e dos poiarenses. Cientes que muito fica por dizer, convidamos o leitor a embarcar connosco nesta viagem.
FICHA TÉCNICA Maio de 2021 Director: Adriano Callé Lucas Directores-adjuntos: Miguel Callé Lucas e João Luís Campos Directora-geral: Teresa Veríssimo Coordenação editorial: Manuela Ventura
Coordenação comercial: Mário Rasteiro Textos: Manuela Ventura Fotos: Ferreira Santos, Figueiredo, Câmara Municipal de Poiares, Família Alves Bandeira Arquivo e D.R.
Vendas: Ana Lopes e Hélder Rocha Design gráfico: Pedro Seiça Publicidade: Carla Borges e Rui Semedo Impressão: FIG – Indústrias Gráficas, SA
Tiragem: 10 mil exemplares Agradecimentos: ao município de Vila Nova de Poiares, em particular a Ricardo Cruz e a Pedro Santos
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Opinião 90 anos com Vila Nova de Poiares
Diário de Coimbra
90 anos de uma voz forte na defesa da região João Miguel Henriques Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares
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s 90 anos de história do Diário de Coimbra confundem-se com a história do país e da região, assumindo-se como uma verdadeira referência no panorama do jornalismo regional e de proximidade. Valores que soube bem construir sem nunca se desviar da sua matriz identitária, preservando os valores éticos e deontológicos inscritos no estatuto editorial definido pelo seu histórico fundador. Uma história que se cruza com o percurso e desenvolvimento do concelho de Vila Nova de Poiares, envolvendo as entidades públicas e privadas e as pessoas de uma maneira geral, contribuindo para a formação de uma opinião pública bem informada, esclarecida e consciente dos seus direitos e deveres cívicos de participação na vida pública em sociedade. É esta proximidade, dando voz aos munícipes, empresas e instituições que tem permitido a mobilização da sociedade em torno de temáticas de desenvolvimento estruturantes não só para o concelho como para a região e o país, como as acessibilidades e que contribuiu para ajudar a encontrar soluções como a alternativa à EN-17 e a ligação ao IP-3, que agora se encontra
em fase inicial de concretização. É esta consciência de dever social na construção de uma região mais desenvolvida, que tem permitido dar expressão às potencialidades, marcas, produtos e eventos mais significativos, onde tem especial importância o papel de Poiares na difusão dos valores gastronómicos e artesanais, não só através dos seus eventos como a POIARTES, mas também nas diferentes ações de certificação e preservação do seu património imaterial e cultural. Uma importância que este concelho soube acrescentar também em matéria de ofertas turísticas, como a aposta na Rota da EN2, o singular complexo das Piscinas da Fraga, as paisagens naturais exuberantes que o investimento nos desportos de natureza fez descobrir e despontar, como o Poiares Trail ou os percursos pedestres, de escalada e parapente tão bem atestam. Por isso o Diário de Coimbra tem sido
credor do reconhecimento de todos os municípios, que se reveem na sua postura de levar aos seus leitores os assuntos que verdadeiramente importam, num espírito de verdadeiro serviço público, orientando-se pelos princípios do rigor, isenção, credibilidade, sem, no entanto, perder de vista o foco na defesa dos interesses das pessoas, dos cidadãos que constituem a verdadeira massa e fibra de que é feita a região. É esta defesa intransigente de uma imprensa livre, mas eticamente responsável e empenhada na construção de uma região coesa e solidária, que define o caráter de longevidade do Diário de Coimbra e que merece o nosso sentido reconhecimento e agradecimento público por tudo o que tem feito em prol da região e do país. Parabéns pelos 90 anos e que muitos mais se possam seguir repletos dos maiores sucessos.
O Diário de Coimbra tem sido credor do reconhecimento de todos os municípios, que se revêem na sua postura de levar aos seus leitores os assuntos que verdadeiramente importam
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Misericórdia 90 anos com Vila Nova de Poiares
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IRMANDADE RESISTE À MUDANÇAI E GANHA RENOVADA FORÇAI
Quinta das Camélias foi o “balão de oxigénio” numa altura difícil e hoje é um verdadeiro baluarte de serviços à população
1974 Nacionalização do Hospital de Beneficência Poiarense, no pós-25 de Abril, trouxe o vazio à instituição que era sua guardiã. Mas novos desafios se desenharam no horizonte
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m Dezembro de 1974 assistia-se à nacionalização do Hospital de Beneficência Poiarense. «O Estado ficou com o Hospital e esta instituição quase morreu». Palavras de Manuel Lobo dos Santos, provedor da Irmandade de Nossa Senhora das Necessidades – Misericórdia de Vila Nova de Poiares. Depois de 65 anos a gerir o Hospital, a Irmandade vê-se de mãos vazias, «reduzida a um lar – criado em 1962, junto ao hos-
pital - com 10 utentes e duas funcionárias». Um período deveras conturbado na história da instituição. «Felizmente resistimos», adianta o provedor. Volvidos pouco mais de dois anos, em Janeiro de 1977, a Misericórdia procede à aquisição da Quinta das Camélias – por dois mil novecentos e 50 escudos - onde actualmente funciona a sua sede e grande parte das valências. Era o espaço do antigo seminário, desactivado, pertencente aos Missionários da Consolata. As obras começaram céleres, recorda, no sentido de requalificar e adaptar o edifício para ali instalar um lar de idosos. A inauguração aconteceu no dia 10 de Outubro de 1982, com 85 utentes. Estava relançada a dinâmica da Irman-
dade. Em 1991 novas obras. Agora para ampliar o lar, que passa a ter capacidade para 120 utentes em regime residencial e mais 30 em centro de dia. O provedor recorda que, à época, o lar representou uma «mais-valia para muita gente de Coimbra e de outros concelhos». De Poiares seriam poucos os utentes. Na altura, as pessoas ainda tinham resposta, a «retaguarda da família». Mas a capacidade, para 120 utentes, também era muito significativa. As obras incluíram, ainda, instalações para os serviços administrativos, salão nobre e a construção da capela. As atenções da Irmandade de Nossa Senhora das Necessidades – Misericórdia de Vila Nova de Poiares estavam, definitivamente, concentradas na Quinta das Ca-
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mélias. Assim, em 1994 avança a criação do Centro de Reabilitação e Fisioterapia, com o objectivo de garantir mais e melhor qualidade de vida aos utentes do lar e também da população em geral do concelho e arredores. Manuel Lobo dos Santos recorda que funcionou até 1999 como unidade privada, uma vez que só nessa data foi celebrado o acordo com a Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC). No ano seguinte avança o serviço de apoio domiciliário. Com a entrada no novo milénio, assiste-se a uma nova “reviravolta”, com a Misericórdia a voltar a focar o seu olhar e atenção na outro lado da vila, nas instalações do velho Hospital de Beneficência Poiarense. Depois da nacionalização, ainda ali funcionou o Centro de Saúde e, mais tarde, aAPPACDM. Depois, fechou e ficou ao abandono. Em 2001 a Misericórdia empenha-se em recuperar o «extremamente degradado edifício». «Era uma dor de alma», refere o provedor. O objectivo era criar uma valência intermédia, entre lar e hospital, que pudesse dar resposta a «doentes mais dependentes» que, à data, não existia. Um desafio que acabou por sofrer alguns contratempos e que só avançou no quadro do Programa Saúde XXI, do Ministério da Saúde. Mudou, igualmente, o propósito e a unidade de saúde, instalada no antigo Hospital Beneficência Poiarense, é inaugurada em Janeiro de 2005 como Unidade de Cuidados Continuados, pelo então primeiro-ministro Pedro Santana Lopes. «Foi um projecto-piloto», recorda o provedor. Inicialmente, o acordo com a ARSC contemplava 15 camas. No ano seguinte, novo acordo contabiliza 20 camas. As necessidades da rede nacional crescem e em Poiares há capacidade de resposta. Significa que, em 2007, a Segurança Social aprova a integração do terceiro piso do antigo hospital
90 anos com Vila Nova de Poiares Misericórdia
Festa de Nossa Senhora das Necessidades Em frente ao antigo Hospital de Beneficência Poiarense, hoje Unidade de Cuidados Continuados, do outro lado da rua, está a Capela de Nossa Senhora das Necessidades, entregue à Irmandade em 1909, que em 1980 foi sujeita a obras de restauro, designadamente dos altares e telas. No designado arraial faz-se, todo os anos, em Agosto, a festa em honra de Nossa Senhora das Necessidades. Uma romaria que outrora era a segunda maior do distrito, imediatamente depois da Rainha Santa, em Coimbra. Cabe à Irmandade, em termos estatutários, a organização das festividades. Um registo que vigora desde 1909. A festa era a grande fonte de receitas para manter o Hospital de Beneficência Poiarense a funcionar e cumprir o desígnio de tratar os mais pobres e desvalidos da sorte. Hoje, não há hospital, mas a Festa de Nossa Senhora das Necessidades continua a ser a grande festa do concelho. O ponto de encontro anual da família poiarense.
para o serviço da Unidade de Cuidados Continuados, o que vai representar mais 35 camas e um novo acordo, assinado em Junho de 2008, que contempla a totalidade da capacidade da unidade, ou seja, 55 camas de cuidados continuados de longa duração. As mesmas camas que existem hoje, por norma com lotação esgotada.
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Obras em diferentes frentes A pacata Quinta das Camélias está actualmente em revolução, com obras por todo o lado. Ditadas pela «necessidade de modernização e requalificação das instalações e de segurança», explica o provedor. A obra começou em Junho de 2020 e representa um investimento superior a um milhão e 450 mil euros (mais IVA), sem qualquer financiamento, apenas contando com 300 mil euros de apoio do Fundo Rainha D. Leonor. São três as “frentes” da intervenção. Para a cave do novo bloco vai ser transferida a lavandaria, actualmente a funcionar em instalações precárias, devido à muita idade do edifício. O mesmo acontece com o serviço de fisioterapia, que vai passar para o rés-do-chão deste bloco, garantindo as melhores condições aos mais de uma centena de utentes habituais. No primeiro andar vão ficar, de acordo com o provedor, 13 quartos, o que representa 26 camas, que vão permitir, posteriormente, avançar com a requalificação do restante edifício. As obras deverão estar concluídas no final deste ano, princípios de 2022. Uma segunda obra aposta na requalificação e eficiência energética do lar, orçada em 485 mil euros (esta com financiamento). Trata-se de substituir o telhado e janelas, colocar isolamento e painéis fotovoltaicos, além da substituição de lâmpadas e sistema de águas quentes. «Queremos começar a obra o mais rapidamente possível», afiança o provedor. A terceira frente de “batalha”, que representa um investimento na casa dos 30 mil euros, prende-se com a recuperação do edifício onde actualmente funciona o Centro de Reabilitação e Fisioterapia, que, além de muito antigo, também sofreu o impacto do temporal. «Recebemos cerca de 7.300 euros de apoio», diz o provedor. Com a transferência deste serviço, o espaço vai,
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no futuro, ser aproveitado para uma nova valência. Também na zona do antigo Hospital Beneficente há obra para fazer nos dois pavilhões externos. Um cedido aos Escuteiros e outro à Conferência de S. Vicente de Paulo, que a Misericórdia pretende requalificar. Na Quinta das Camélias funcionam actualmente as valências de lar, com capacidade para 110 utentes, Centro de Dia (30 utentes, metade dos quais com protocolo com a Segurança Social) e o serviço de apoio domiciliário (25 utentes). Está também ali instalado o Programa Alimentar para Pessoas mais Carenciadas, que mensalmente entrega géneros alimentares a uma centena de agregados familiares. A Cantina Social serve actualmente 15 refeições. «Chegámos a atingir as 50», refere o provedor. Também ali funciona o CLDS-4G (Contrato Local de Desenvolvimento Social), que, sublinha Manuel Lobo dos Santos, chegou ao concelho no ano passado, no quadro de uma candidatura apresentada pelo município, que tem a Misericórdia como entidade executora. Uma valência que centra a sua intervenção em dois eixos: protecção à infância e apoio aos idosos. Todas as valências das Misericórdia estão certificadas. Um dado que o provedor enaltece, destacando o pioneirismo e a abrangência deste reconhecimento de qualidade.
Novo edifício na Quinta das Camélias
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Gestão espartana
O provedor, Manuel Lobo dos Santos, e o tesoureiro, Antonino Martins
Em 1974, quando se deu início à “segunda vida” da Irmandade, já despojada do Hospital, a Misericórdia tinha dois funcionários. «Hoje são cerca de 150», faz notar o provedor. Uma casa grande, que exige uma «gestão espartana, de muito rigor», afiança Manuel Lobo dos Santos. «São dois milhões e 400 mil euros/ano para salários», exemplifica. Com a pandemia, e apesar das muitas dificuldades, «nunca recorremos ao lay off». A fisioterapia virou-se exclusivamente para “dentro”, dando uma redobrada assistência aos idosos. Um trabalho que «nem a Segurança Social nem as famílias pagaram, mas que entendemos foi bem feito», refere. A instituição viu-se confrontada com um grave surto de Covid-19, que implicou um esforço acrescido. «Foram todos extraordinários, desde os médicos aos auxiliares», garante, agradecendo, igual-
mente, o apoio da Segurança Social, do Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal Interior, da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia de S. Miguel (autarquia local que assegurou o apoio domiciliário quando a Misericórdia se viu impossibilitada de o fazer). «Chegámos a um ponto em que havia três pessoas na cozinha!», recorda o provedor, corroborado pelo tesoureiro,Antonino Martins. Foi necessário reconverter tudo, com os funcionários da área administrativa a darem uma ajuda e o município a ceder pessoal para a cozinha.Agradecida, a Mesa Administrativa quer reconhecer os funcionários que, num «momento dramático», estiveram ao lado da instituição e deram o seu melhor. «Vamos oferecer vales de compras», refere o provedor, satisfeito porque esta “démarche” também ajuda a «dinamizar comércio local».
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Hospital de Beneficência: “ex libris” do orgulho poiarense 1909-1974 O bairrismo e o grande amor que sempre ligou os poiarenses ao seu torrão natal justificou, no início do século passado, a construção de um hospital. Um gesto que tem a sua génese num grupo de poiarenses radicados no Brasil, que se empenha em erguer um hospital, «especialmente virado para a assistência na doença e na pobreza aos mais infelizes e desprotegidos», sublinha José Morais, na obra “1.º Centenário da Irmandade de Nossa Senhora das Necessidades – 1899-1999”. A Comissão Iniciadora – constituída por Daniel Carvalho Matias, Alfredo Montenegro, António Maria Coimbra, Eduardo Correia da Costa e Viriato Correa da Costa - reuniu a 25 de Março de 1897, na cidade de Santos, juntou os primeiros donativos e levou a boa-nova a Poiares. Aqui foi constituída a Comissão Central de Beneficência Poiarense, que integrava Jerónimo Pereira da Silva, Francisco Correia da Costa, Artur Montenegro Ferrão Castel-Branco e José Henriques Simões. De um lado e do outro do Atlântico começavam os esforços para reunir fundos, com a organização de quermesses, constituição de comissões auxiliares, espalhadas por todo o país e também em África. Em simultâneo, decorriam as diligências para desanexar da Confraria do Santíssimo Sacramento a Capela de Nossa Senhora das Necessidades e proceder à criação de uma Irmandade de Beneficência, sob invocação da padroeira, a quem iria competir assegurar a gestão do hospital. Uma proposta aprovada por unanimidade em assembleia geral da Confraria do Santíssimo Sacramento, realizada em Agosto de 1898. «Esta Irmandade nasce do povo, pelo povo e para o povo. Não há 500 anos, como muitas, nem à sombra da Igreja. Antes e sim da generosidade destes emigrantes, bem sucedidos na vida, que entenderam criar um hospital para acudir sobretudo aos mais necessitados», sublinha o provedor. No dia 8 de Dezembro de 1901, de acordo com o relato de José Morais, o projecto do edifício é entregue à Comissão que, em Agosto do ano seguinte, adjudica a em-
Unidade de Cuidados Continuados “reabilitou” o antigo Hospital de Beneficência
preitada pelo preço de 7.950 mil réis. No dia 27 de Setembro de 1908, «em reunião extraordinária da assembleia geral da Irmandade de Nossa Senhora das Necessidades», assiste-se, de acordo com o autor, à entrega do Hospital de Beneficência Poiarense à Irmandade. No dia 27 de Junho de 1909 decorre a inauguração solene, «num acto que se revestiu da pompa e circunstância exigidas por tão grande acontecimento», escreve José Morais. O primeiro director clínico foi o dr.Alfredo Lobo das Neves, que «prestou os seus serviços graciosamente», sublinha. O mesmo aconteceu como médico dentista Luís de Almeida Gomes Pacheco, que começou a trabalhar no Hospital em 1913. Exemplos de beneméritos que se estendem, igualmente, à construção do Pavilhão para Doenças Infecto-Contagiosas, concluído em Maio de 1913, uma obra financiada por António Maria Coimbra (terminada pelo genro, José Maria Dias Ferrão, por morte daquele). Em 1919, outra benemérita, Elisa Henriques Nogueira, promoveu a construção do pavilhão adjacente ao bloco central do Hospital, onde durante anos funcionaram «o Banco, o Raio-X, o consultório médico para consulta externa e ainda o bloco operatório, cujo apetrechamento e funcionalidade foram sempre enaltecidos por quantos cirurgiões afamados que por lá passaram fazendo as suas intervenções segundo a sua especialidade», descreve o autor.
Entre as muitas curiosidade que José Morais apresenta nesta obra está a referência ao internamento, em Dezembro de 1915, do «dr. Afonso Costa, primeiro ministro e ministro das Finanças de um dos governos da República, então recentemente implantada». O autor refere os muitos cortejos de oferendas e as “caravanas do Norte”, iniciadas em 1960, com um grupo «de bons e generosos poiarenses, sempre incansável (…) que nunca regatearam o seu valioso contributo para o nosso Hospital». Referência, ainda, para a implementação, em 1950, no Hospital, da “Sopa dos Pobres”. Para o acordo com o Instituto Maternal, em 1957, visando garantir a melhor assistência pré-natal, de pediatria e puericultura, incluindo «assistência domiciliária por ocasião do parto e o internamento no Hospital nos casos em que razões de ordem clínica ou social o aconselhem». Um acordo que contemplava, ainda, medicamentos, «produtos de dietética infantil», bem como a realização de «análises, radiografias, tratamentos de agentes físicos ou outros que forem julgados necessários». O Hospital foi nacionalizado a 7 de Dezembro de 1974. Ainda ali funcionou o Centro de Saúde e, posteriormente, a APPACDM, entre outras valências. Acabou por ficar votado ao abandono, até ao ressurgimento, como Unidade de Cuidados Continuados, inaugurada em Janeiro de 2005.
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90 anos com Vila Nova de Poiares ADIP
ADIP: 25 ANOS A FAZER HISTÓRIA 1996 Nascida a 21 de Fevereiro de 1996, a Associação de Desenvolvimento Integrado de Poiares centrou as suas respostas na formação e apoio social. Um desígnio que prossegue
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raticamente todas as instituições do concelho, desde o movimento associativo às autarquias, embarcaram, juntas, «nesta aventura». E, com o «entusiasmo» do então presidente da Câmara, Jaime Soares, nascia a ADIP – Associação de Desenvolvimento Integrado de Poiares. Uma instituição criada oficialmente no dia 21 de Fevereiro de 1996, que além das várias entidades, integrou pessoas a título individual, designadamente Madalena Carrito, actual directora executiva, e o então autarca. O objectivo era «realizar um trabalho de desenvolvimento integrado», em «várias áreas», onde o concelho tinha carências. O primeiro passo foi, recorda, um olhar para o artesanato, através de um curso de formação. Na altura a ADIP era instituição de utilidade pública, mas ainda não era IPSS. «Foi um curso de barros pretos, que
Edifício Azul da ADIP onde funciona o Centro Difusor de Artesanato
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ADIP 90 anos com Vila Nova de Poiares
Centro Social concentra as valências sociais da instituição
permitiu que a nossa oleira, Judite Pereira, e outras pessoas desempregadas fossem oleiros». Madalena Carrito sublinha a oportunidade, pois foi possível aproveitar o know how do senhor Silvino, oleiro de Olho Marinho. Dois anos depois foi um curso de palitos e artefactos em madeira, aproveitando, igualmente, o saber-fazer de uma grande paliteira, a D. Olinda, «a única que se dedicava por completo a esta arte». Uma iniciativa que contou com o apoio do Instituto de Emprego e Formação Profissional. «Ficou por fazer o curso de cestaria», refere a responsável, recordando que um dos objectivos era contemplar as diferentes áreas tradicionais. De resto, todas elas foram acolhidas no Centro Difusor de Artesanato, que funciona no “Edifício Azul”. Um espaço onde a olaria ganhou destaque, com a presença contínua da oleira Judite Pereira e, «um dia por semana» tinha outro artesão, ao vivo, que apresentava o seu trabalho. «Inicialmente apostámos, sobretudo, na
vertente do artesanato, na formação, promoção e divulgação», refere. O que passou pela presença em feiras e festivais por todo o país. «Crescemos na área do artesanato», de tal forma que «o Centro Difusor conseguiu ter autonomia financeira», faz notar. Um dado que levou a ADIP a avançar para a criação de uma sociedade, a 3A, «para podermos usufruir do estatuto de unidade produtiva artesanal e os artesãos serem certificados». «Nessa altura concorremos a uma série de programas. Foi um período áureo», lembra. Todavia, o mercado de artesanato «começou a entrar em queda» e a «sociedade tinha muito encargos», que acabaram por ditar a sua extinção. «Mas mantivemos a actividade», esclarece.
Respostas sociais Inicialmente sediada nos Paços do Concelho, a ADIP transferiu-se para o chamado Edifício Azul. Um espaço pertencente ao município, apenas com paredes e telhado.
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«Fizemos um empréstimo para adquirir o edifício e fazer obras», recorda. Em paralelo, a ADIP constitui-se como IPSS, em 1999, e «avança para outras actividades», dando resposta a algumas das preocupações da Câmara Municipal. Os idosos, «sobretudo com menos recursos financeiros», estavam na linha da frente. «Começámos com centros de dia», refere. Uma resposta de proximidade, que surgiu sob a forma de centros de convívio, em Venda Nova, Alveite, Lavegadas e Pinheiro, aproveitando instalações que foram reconvertidas e adaptadas, com o funcionamento a ser garantido pela equipa da ADIP. Uma opção que, reconhece, «era interessante», mas acabou por não se revelar funcional. «As juntas davam uma listagem e 15/20 pessoas, mas depois eram poucas as que apareceriam». O passo seguinte foi crescer para uma resposta «mais estruturada», plasmada na criação de uma unidade residencial, em Poiares. As primeiras obras avançaram em 2007. Começava a tomar forma o segundo edifício da ADIP. «Quase em simultâneo, em 2005, avançava a creche e jardim-de-infância» que «começaram a funcionar em espaços alugados, em S. Miguel», adianta. A ideia, enfatiza, foi sempre que os espaços de apoio a crianças e seniores ficassem «fora do centro da vila, perto da zona industrial». Actualmente, a estrutura residencial acolhe 38 idosos, mas as obras recentes já permitiram alargar a capacidade para 45, faltando unicamente a homologação da tutela. O apoio domiciliário contempla 30 utentes e, além das refeições e higiene pessoal, inclui a limpeza da habitação. O centro de dia, herdeiro dos centros de convívio, acolhe 20 utentes. O Jardim-deInfância, actualmente instalado no Centro Social da ADIP, tem capacidade para 25
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Equipa fantástica abraçou esta causa «Consolidar a ADIP» e «desenvolver um caminho «sem percalços» é o grande objectivo da directora executiva. «Passámos um momento muito difícil em 2013/14», recorda, referindo os ordenados em atraso e a necessidade de fazer despedimentos. Um PER – Plano Especial de Recuperação foi a via de saída para as crescentes dificuldades, decorrentes dos atrasos de pagamento dos fundos comunitários, que obrigaram a recorrer à banca. «Continuamos em PER, agora menos exigente». Mas a pandemia veio aumentar as exigências e agravar os custos, faz notar. A ADIP tem actualmente meia centena de colaboradores. «Uma equipa fantástica», considera Madalena Carrito, que destaca o facto de dois funcionários estarem na instituição desde o início, há 25 anos. Outros, bastantes, há 20. «São pessoas muito boas, empenhadas, de valores, que sentem e sofrem com a instituição», diz, agradecida.
crianças e acolhe actualmente 19. A creche tem 10 crianças no berçário e mais duas salas, para os dois e três anos, com 16 crianças cada. Ainda no quadro das respostas sociais, a Cantina Social garante almoço e jantar a 40 famílias. «Já tivemos cerca de 100», esclarece. Assegura, também, as refeições às crianças e jovens (15) da Comunidade de S. Francisco de Assis.
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Entidade formadora e Centro Qualifica
Judite Pereira explica às crianças a arte de trabalhar o barro
Reconhecida como entidade formadora, a ADIP tem um departamento de formação que garante resposta a activos e desempregados nas mais diversas áreas, desde a informática ao relacionamento interpessoal, inglês e outras línguas. «A nossa grande aposta é ter parcerias com instituições e empresas, o que permite direccionar a formação e, inclusivamente, fazer a formação nessas entidades».Aprocura vem de Poiares, mas também dos concelhos limítrofes. Ainda em termos de formação, desde
2005 que aADIP detém um Centro Qualifica. «Já passaram por aqui muitas centenas de pessoas, que concluíram o 9.º ou o 12.º ano», diz Madalena Carrito, destacando a importância do «aumento da qualificação». Formação esta que é prestada em Poiares, mas que também dá resposta a solicitações vindas de fora, designadamente de Condeixa, Góis, Arganil, Coimbra ou Pampilhosa da Serra. «Só não vamos onde há outros Centro Qualifica», refere, exemplificando com Penacova.
Entidade SAAS em Góis e Poiares A ADIP integrou, também, a Rede Local de Intervenção Social (RLIS), que terminou em 2020, garantindo apoio às famílias em dificuldade nos concelhos de Poiares e de Góis. «Foi o único núcleo do distrito de Coimbra que abrangeu dois concelhos», faz notar Madalena Carrito. Um trabalho que foi particularmente exigente na sequência dos incêndios de 2017, recorda.
«A ADIP vai ser contemplada com um Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social (SAAS) nos dois concelhos», o que significa que «vamos ficar com a responsabilidade de acompanhar todas as situações de vulnerabilidade social em Poiares e em Góis», adianta Madalena Carrito, sublinhando o desafio que representa, mas também a possibilidade de dar continuidade ao trabalho feito.
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APPACDM 90 anos com Vila Nova de Poiares
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APPACDM: RESPOSTA À DIFERENÇA 1996 Nas antigas instalações do Hospital da Misericórdia nasce, em 1981, um núcleo da APPACDM de Coimbra. Um projecto que cresceu, ganhou asas e autonomia
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vontade e a necessidade levou um grupo de pais e amigos a criar, em 1981, em Poiares, um Centro daAPPACDM (Associação e Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental). «Eram cinco utentes», recorda Ana Cristina Dinis, tesoureira da instituição. As instalações do antigo Hospital da Misericórdia foram a primeira casa deste projecto, que foi «crescendo, ganhando asas e dando resposta a muitas outras crianças» e criou as valências necessárias para acompanhar os jovens e os adultos em que as crianças iniciais depressa se transformaram. Na génese, o projecto daAPPACDM surgiu em Poiares como Centro da APPACDM de Coimbra, que, em 1992, passou a auferir do estatuto de delegação. E cresceu, também, em termos de área geográfica, englobando o Centro de Figueira de Lorvão (Penacova), criado em 1987. Foi, esclarece Cristina Dinis, «uma questão de proximidade». Uma vez que Poiares era mais próximo do que Coimbra. Em 2000, por escritura datada de 14 de Junho, a instituição ganha autonomia jurídica, administrativa e financeira, passando a ser APPACDM de Poiares. Um crescimento que foi, igualmente, acompanhado com a mudança de instalações, em 1988, para o espaço onde hoje funciona. O Centro de Actividades e Capacitação para a Inclusão ganha dimensão, passando dos cinco utentes iniciais para os actuais 58. Um centro ao qual foi atribuído o nome de João Pedroso de Lima, anterior presidente da direcção, com forma de agradecer «a dedicação e o empenho» deste «grande mentor, que fez a diferença no caminho da instituição», refere Cristina Dinis. Em 1992 foi construído o Lar Residencial “Casa do Arco-Íris”, que também começou com cinco utentes e hoje tem 25 residentes. Nesse mesmo ano, em 1992, com a criação da delegação da APPACDM, por uma questão de funcionalidade e eficácia, a instituição assume a responsabilidade do então Centro de Actividades Ocupacionais, hoje Centro deActividades e Capacitação para a Inclusão de Figueira de Lorvão, que tem 32 utentes. A formação profissional é outra das respostas que a APPACDM assegura, com
APPACDM funciona nas actuais instalações desde 1988
apoio de fundos comunitários. Cristina Dinis explica que, neste momento, estão a funcionar dois cursos, de jardinagem e costureiro/modista. O primeiro em Poiares, o que se justifica tendo em conta que a instituição criou uma resposta de inserção, que presta serviço na área da jardinagem exterior, para particulares e empresas. «O levantamento das necessidades feito na altura, indicava que o curso de costureiro/modista era a resposta mais adequada para Figueira de Lorvão», adianta. Em Dezembro, também nesta localidade, terminou uma formação, na área de auxiliar de serviços gerais, destinada a responder a necessidades da hotelaria, alojamento local e particulares. A funcionar desde 2006 está o Centro de Recursos para a Inclusão. Trata-se de uma resposta tutelada pelo Ministério da Educação, plasmada na prestação de «apoio técnico especializado» a alunos com necessidade educativas especiais nos agrupamentos de Poiares e de Penacova. Cada agrupamento faz o respectivo levantamento e a APPACDM disponibiliza os psicólogos, terapeutas da fala e outros técnicos especializados para o acompanhamento do maior número possível de crianças e jovens. Satisfeita, a responsável fala no «sucesso» deste projecto e do «feed-back fantástico» dado pelos agrupamentos.
Projectos para o futuro não faltam, sobretudo com o objectivo de optimizar o funcionamento das quatro áreas de actuação.Arequalificação do Centro João Pedroso de Lima é uma necessidade, diz Cristina Dinis, apontando uma casa com 30 anos, que carece de intervenção, até para se adequar às actuais exigências da tutela. Uma obra que rondará os 415 mil euros, candidatada ao programa PARES III. Relativamente ao lar residencial, falta concluir a terceira fase da requalificação, que rondará os 80 mil euros, e contempla a instalação de um elevador. Empreitada igualmente candidatada ao programa PARES. Necessidade de fundo, «que sentimos todos os dias, é a criação de um novo lar residencial em Poiares, que consiga dar resposta a Poiares e a Figueira de Lorvão», diz Cristina Dinis. Igualmente entre as prioridades está a construção do Centro de Actividades em Figueira de Lorvão. Recorda que se trata de um projecto de há longa data, uma vez que a valência funciona em instalações cedidas pelo Centro de Bem-Estar. «Já tivemos financiamento, já nos foi retirado, já esteve em PIDDAC, e caiu. Estamos a tentar encontrar uma solução», adianta, reiterando a necessidade de apoio, pois «sozinhos não conseguimos». Estes são os grandes desafios para o futuro.
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iCreate 90 anos com Vila Nova de Poiares
Diário de Coimbra
As diversificadas propostas apostam em promover uma interacção com a comunidade e aproveitar o saber-fazer dos participantes
ICREATE - IDEIAS FORA DA CAIXA QUE FAZEM TODA A DIFERENÇA 2012 O envelhecimento activo e saudável, numa relação forte com o desenvolvimento comunitário, de forma ampla e informal constituem o “segredo” de um projecto de sucesso
A
s crianças estiveram na origem do projecto. Em Coimbra, em 2012, numa loja instalada na Conchada. O objectivo era promover a leitura, com um foco centrado na narração oral, com contadores de histórias e sua recriação. Poiares estava ali mesmo ao lado, a terra natal de Vera Carvalho. A mentora do projecto começou ali, também, a fazer, em colaboração com uma colega, oficinas de arte. Seguiram-se as acções nas escolas e, do foco centrado nas crianças, rapidamente
a iCreate – Ideias Fora da Caixa chega aos mais velhos. Estava traçado um novo rumo. Agora a partir de Poiares. Vera Carvalho, presidente da direcção, fala com entusiasmo do projecto e da candidatura apresentada, em 2016, ao Prémio BPI Sénior. «Não ganhámos, mas começámos a desenvolver o projecto, em regime de voluntariado». Uma aliança entre criatividade e colaboração activa, entre o saber-fazer e novas aprendizagens, desafios pessoais e desenvolvimento comunitário, entre crianças e seniores. «O envelhecimento activo e saudável, através da participação activa na comunidade, constitui o nosso foco», explica. Trata-se, adianta, de «promover a estimulação cognitiva» dos mais velhos, mas também de aproveitar o seu saber-fazer, o seu conhecimento e colocá-
-lo ao serviço de todos, num registo de «intervenção comunitária». Um percurso que pode ser cumprido das mais variadas formas. A responsável da iCreate aponta, por exemplo, as oficinas, onde são confeccionados tapetes, aventais, “dedos” ou outros adereços, usados como apoio nas iniciativas de narração oral de contos, em creches, jardins-de infância ou escolas do primeiro ciclo. Ou outros adereços, recheados de fantasia, que resultaram em belíssimos enfeites para decorar a vila e os arredores. Ou, ainda, as oficinas de lãs e crochet, onde se confeccionam mantas, xailes, gorros e botinhas para bebé, que depois são entregues a instituições, com destaque para a ala de Oncologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
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Diário de Coimbra
Inês Silva, vice-presidente da associação, recorda uma parceria, efectuada no ano passado, com o supermercado Rui & Dinora, que resultou na criação de uns sacos bordados. «Esgotaram em três dias», sublinha, destacando o sentimento de satisfação que essa situação gerou nos seniores que participaram no projecto.Autilidade e o envolvimento comunitário de braço dado, mais uma vez. Nas oficinas, designadamente de costura criativa e ecodesign, os participantes aprendem e desenvolvem uma determinada técnica. «Também desenvolvemos ideias criativas que vendemos nas feiras, mercados de Natal ou online», adianta Vera Carvalho. «Temos uma abordagem diferente», reconhece Inês Silva. Natural do Cartaxo, estudou Comunicação Empresarial e Gestão em Coimbra e trabalha desde 2016 na iCreate. «Mais do que impingir teorias, neste mundo mais rural faz muito mais sentido valorizar o que as pessoas sabem fazer e dar-lhe um novo sentido», adianta. “Mente sã em corpo são” é a designação dada ao projecto de envelhecimento saudável que a iCreate promove este ano, em parceria com o município e as juntas de freguesia do concelho. Uma colaboração com as autarquias locais já com história e com bons resultados. Vera Carvalho recorda o programa Letras Prá Vida, uma proposta da Escola Superior de Educação de Coimbra, destinada a combater a iliteracia junto dos mais velhos, que arrancou em Condeixa e em Poiares teve a iCreate como parceiro, juntamente com a Câmara Municipal e as juntas de freguesia do concelho, que garantiram a viabilidade do projecto em termos financeiros. O “Clube VelhosAmigos”é uma das referência da iCreate. «Temos 60 a 70 sócios», indica Inês Silva, que destaca o facto de muitas das actividades serem acessíveis a não sócios. O Clube não é mais do que um «espaço de encontro entre velhos amigos, que se reúnem
90 anos com Vila Nova de Poiares iCreate
para várias actividades», num «conceito de educação informal».As propostas contemplam vários ateliers, nomeadamente de artes decorativas, escrita criativa, costura criativa, tricot, ou ainda a participação em eventos culturais e na colónia de férias. Inês Silva refere um programa de rádio na Mundial FM, com Cristina Ferreira, que se realiza mensalmente. Ou o boletim “Velhos Amigos”, publicado de quatro em quatro meses, encartado no Diário de Coimbra. «Muitos dos textos são produzidos nas oficinas». Os restantes testemunham quatro meses de actividade.
Edições iCreate As oficinas de escrita criativa e o génio empreendedor dos participantes e das mentoras do projecto já deram resultados muito positivos. As Edições iCreate são disso testemunha. A primeira obra, lançada no início de 2019, foi uma biografia de Isaura Maia. Uma história de vida, na primeira pessoa, intitulada “Se pudesse pagava à morte pra ela não vir”. «Já vai na terceira edição, sempre esgotada», diz Inês Silva. Outra obra, num registo similar, é o trabalho de Abílio Antunes, “Também fui guardador de rebanhos”. No ano passado, em Setembro, foi lançado o livro de Vera Carvalho, escrito durante o primeiro confinamento, “É bom ouvir a voz de quem está vivo”. Recentemente foi lançado um trabalho de Irene Lisboa, “A escola do meu coração”.
Aprendizagem informal orienta o projecto
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Novos projectos em marcha A experiência positiva de uma loja colaborativa, no final do ano passado, está a ganhar asas. «Estamos a estruturar uma loja colaborativa, para os artesãos poderem vender os seus produtos». Também aqui a Câmara é um parceiro activo, com a cedência de um espaço físico, que complementa a oferta online. «É um projecto para o público adulto», refere a presidente. Trata-se de «acrescentar conhecimento, dar genialidade ao artesanato», através de introdução de novos factores, diferenciadores, designadamente ao nível do design. «Estamos a criar a rede colaborativa com os artesãos». A loja colaborativa, adianta Inês Silva, além dos artesãos, pretende envolver outros produtores locais, designadamente na área da doçaria, da cosmética natural. Serão duas dezenas de produtores a envolver. «Até ao final do ano, queremos estruturar e colocar em funcionamento outro projecto destinado às famílias», refere a directora. O objectivo é criar uma rede de apoio aos mais velhos, designadamente em casa, com momentos de conversa, limpezas, tomar um chá, mas também passar a ferro ou outro tipo de cuidados. Para os mais novos, Vera Carvalho exemplifica com o apoio ao estudos para crianças e jovens. «Estamos a criar uma rede de colaboradores», adianta.
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Paços do Concelho 90 anos com Vila Nova de Poiares
Diário de Coimbra
O PALACETE MUNICIPAL 2009 Obras de modernização e adaptação do edifício dos Paços do Concelho foram inauguradas a 16 de Junho de 2009 pelo então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva
É
considerado um dos edifícios mais emblemáticos do concelho. Construído nos anos 60 e 70 de 1800, afirmou-se desde sempre como «símbolo de independência e do poder local». Uma obra com a assinatura de José Carlos de Lara Everard, engenheiro militar que estava ao serviço do Ministério das Obras Públicas, em Coimbra, e acompanhava as obras da futura Estrada da Beira. Um edifício de linhas sóbrias e equilibradas, que obedece a uma linguagem de tipo neoclássico e ostenta, ao centro, as armas do rei D. Luís, monarca que governava o reino aquando da sua inauguração. Designado pelos “poyaristas”de oitocentos como “Palacete Municipal”, a construção do edifício dos Paços do Concelho contou com o apoio de grande número de beneméritos, entre os quais se destaca Manuel Lourenço Baeta Neves. Profundamente alterado na década de 50 do século passado, o “Palacete Municipal” acolheu, ao longo da sua centenária existência, inúmeros serviços, designadamente as Finanças, Tesouraria, Delegação Escolar, escolas primárias (masculina e feminina), Conservatórias e Notário. Funcionaram ainda, ali, uma agência bancária, os Correios, a Biblioteca, a Junta de Freguesia, os Bombeiros, a cadeia e a ADIP – Associação de Desenvolvimento Integrado de Poiares. Na primeira década deste século, o edifício dos Paços do Concelho foi submetido a uma profunda obra de adaptação e modernização. Manteve-se a nobreza singela da fachada, mas todo o miolo do edifício mereceu intervenção, de molde a garantir uma maior funcionalidade e, simultaneamente, responder à degradação que se fazia sentir. «O projecto visa essencialmente a preservação e manutenção face à sua degradação e adaptação do edifício face à legislação de acessibilidades para edifícios públicos e ao aumento de funcionários e serviços prestados aos munícipes», refere a memória descritiva e justificativa do Projecto de Remodelação e Ampliação do Edifício dos Paços do Concelho, assinado pela arquitecta Celma Gil, datado de Março de
Edifício distingue-se pelas linhas sóbrias, que mantém desde a origem
2004. «De modo geral serão substituídos todos os materiais de revestimento interiores das paredes, tectos, pavimentos, vãos interiores e exteriores, de acordo com o mapa de vãos e acabamentos, uma vez que se encontram bastante danificados.As cantarias das fachadas serão limpas e devidamente recuperadas, prevendo-se também a pintura e substituição das telhas cerâmicas», adiantava o documento. Uma intervenção que contemplou os quatro pisos do edifício, designadamente a cave, rés-do-chão, primeiro andar e sótão. Além da adaptação e refuncionalização do espaço, a intervenção conferiu uma dignidade acrescida ao até então exíguo salão nobre, bem como a todo o espaço de recepção/entrada dos Paços do Concelho. Uma empreitada com um valor de 759.013 euros (mais IVA), e com um prazo de execução de um ano. Dois contratos posteriores, de 82.395 e 22.166 euros, contemplam alterações ao projecto e arranjos exteriores. A obra foi inaugurada no dia 16 de Junho de 2009, naquela que foi a primeira visita de Aníbal Cavaco Silva, na qualidade de Presidente da República, efectuada ao concelho de Vila Nova de Poiares. Jaime Soares, então presidente da Câmara Municipal,
aproveitou para enaltecer a importância desta e de obras inauguradas nesse mesmo dia, pois permitia criar «melhores condições para os funcionários» e, desde logo, «servir melhor os munícipes». Crítico, como sempre, o autarca lembrou que «o secretário de Estado do Orçamento esqueceu-se que os compromissos são para cumprir», uma vez que a Câmara Municipal ainda não tinha «recebido a comparticipação que cabia ao Estado» relativamente a esta empreitada. Cavaco Silva, «bem disposto», escrevia o Diário de Coimbra no dia 17 de Junho, «brincava com a quantidade de placas descerradas nesse dia» – Paços do Concelho, Centro Cultural, quartel dos Bombeiros – considerando-as «uma demonstração do dinamismo de um concelho que contraria a tendência de desertificação dos concelhos do interior».
Degradação do edifício e necessidade de dar resposta a novas exigências legais, bem como o aumento dos serviços prestados, justificou a realização das obras
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Centro Cultural 90 anos com Vila Nova de Poiares
Diário de Coimbra
A SALA DE VISITAS DO CONCELHO 2009 Antigo quartel dos Bombeiros Voluntários deu lugar ao CCP - Centro Cultural de Poiares. Um espaço que é uma referência para toda a comunidade
Centro Cultural tem condições para acolher espectáculos e os mais diversos eventos
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em no centro da vila, junto ao Jardim Municipal e ao edifício dos Paços do Concelho, está o CCP – Centro Cultural de Poiares. Uma obra icónica, que resultou da transformação do antigo quartel dos Bombeiros Voluntários – transferido para a Zona Industrial – numa casa ao serviço da cultura, mas também dos mais diversos eventos de cariz cultural e social. É, sem sombra de dúvida, a sala de visitas do concelho. Um espaço de excelência, que fazia falta a Poiares, com condições ímpares, onde a cultura e o movimento associativo concelhio ganham uma nova dinâmica, com a realização dos mais diversos eventos, desde espectáculos culturais, a concertos,
Centro de Congressos deu resposta a uma carência que se fazia sentir na vila, que não possuía um espaço digno para eventos culturais Transferência dos Bombeiros para a Zona Industrial permitiu, igualmente, criar um quartel mais acessível e mais operacional
teatro, exposições. Um local de encontro e de afirmação dos valores da cultura e do património. Do concelho, numa primeira linha, mas também com projecção nacional. O edifício, inaugurado em Junho de 2009 pelo então presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, acolhe a Biblioteca Municipal, espaço de exposições e no mesmo piso encontra-se o auditório/cine-teatro, com capacidade para cerca de 230 lugares, que representa o palco principal dos espectáculos indoor do município. No piso menos 1 encontra-se o Salão de Festas, um espaço com cerca de 500 metros quadrados, que inclui um palco, com cerca de 55 metros quadrados de boca de cena e três camarins. Com boas condições em termos ambientais e acústicos, o espaço, polivalente, é apoiado por uma cozinha e bar, o que permite uma grande versatilidade em termos de utilização. A Sala de Congressos é considerada a zona mais “imponente”do Centro Cultural. Localizada no piso 1, tem uma área que ronda os 750 metros quadrados e, através dos grandes espaços envidraçados, oferece uma visão ímpar sobre a vila e as serranias circundantes. A sala principal, com tecto em forma de nave, tem capacidade para acolher cerca de 500 pessoas, oferecendo excelentes condições ambientais e acústicas. Um espaço concebido para grandes eventos, dotado com um palco com cerca de 45 metros quadrados. Dois gabinetes autónomos servem de apoio à Sala de Congressos, que possui, ainda, outras duas salas de apoio, bem como bar e cozinha.
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90 anos com Vila Nova de Poiares Biblioteca
Biblioteca Municipal está instalada no edifício do Centro Cultural
BIBLIOTECA NASCE DE UMA ENORME FOME DE LIVROS 1966 Um movimento cívico reuniu o primeiro acervo bibliográfico. A Fundação Calouste Gulbenkian deu uma ajuda e em 1966 nascia a Biblioteca Municipal de Poiares
É
um caso singular de empenho no acesso ao livro. Sobretudo quando nos reportamos à década de 60 do século passado. Mas aconteceu em Vila Nova de Poiares.A“fome”de cultura promoveu um verdadeiro movimento cívico para criar uma biblioteca. Lara Oliveira, vereadora responsável pelo pelouro da Cultura, e a bibliotecária Paula Cação, recordam essa movimentação “sui generis”. As “circulares” começaram a ser distribuídas em 1965 pela denominada Comissão Pró-Educação e Cultura de Poiares. Tudo
indica que o movimento fosse liderado por «pessoas mais abastadas e com mais acesso à cultura». Mas Lara Oliveira acredita que as professoras primárias que na altura trabalhavam no concelho também terão desempenhado um papel relevante neste movimento, com o propósito de «fazer chegar o livro a toda a gente». O objectivo era envolver a população e sensibilizá-la para a doação de obras, visando criar um fundo bibliográfico que pudesse estar acessível a todos. A vereadora destaca a organização metódica do processo, que levava à publi-
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cação, nos jornais, da listagem das obras e dos doadores. A Comissão Pró-Educação e Cultura vê o seu sonho concretizar-se com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, que em Poiares, à semelhança do que aconteceu em praticamente todo o país, deu um impulso cultural muito significativo, garantindo um acervo importante à biblioteca, renovado sucessivamente durante largos anos. «Foi o nosso Ministério da Educação», sintetiza Paula Cação. Vivia-se o ano de 1966 e nascia a Biblioteca Fixa n.º 121. Durante anos, recorda a bibliotecária, a biblioteca funcionou em horário pós-laboral. Com dois funcionários da Câmara, depois de saírem do serviço, a assegurarem o seu funcionamento. O edifício da Câmara Municipal foi o primeiro local a acolher a biblioteca, que passou pela cave e pelo rés-do-chão. Mas também pelo edifício da Junta da Freguesia, da Caixa Geral de Depósitos e das Finanças. Em 2002 a biblioteca é transferida para a Quinta do Vale Vaqueiro, onde se manteve até 2009, altura em que foi instalada no Centro Cultural, o antigo quartel dos Bombeiros Voluntários, que foi sujeito a uma ampla obra de requalificação e transformado na sala de visitas da sede do concelho. Uma obra inaugurada no dia 16 de Junho pelo então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que fazia a sua primeira visita como Chefe de Estado ao município. «É um espaço muito bom, com muita luz natural. Temos muito boas condições», afirmam, em total sintonia, a vereadora e a bibliotecária. À “fome”de livros e de cultura que esteve na base da criação da Biblioteca Municipal sucederam-se tempos de mudança, com as novas tecnologias e o acesso ao livro e à cultura a multiplicarem as plataformas que, noutros tempos, eram praticamente um
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Biblioteca 90 anos com Vila Nova de Poiares
exclusivo das bibliotecas. Hoje em dia, «é um bocadinho ingrato o trabalho que fazemos na biblioteca. Não só aqui, mas em todo o país», confessa Lara Oliveira. «Os estímulos são muitos e, talvez por isso mesmo, o papel da biblioteca seja ainda mais importante. O livro físico e a ferramenta leitura são estruturantes desde a pequena infância no desenvolvimento do raciocínio e do pensamento», afirma a vereadora. O «crescente desinteresse» pela leitura constitui, também, «um estímulo para as bibliotecas tentarem reverter esse caminho», adianta. Um desafio a que a biblioteca tem procurado responder «com ideias novas». Exemplo disso é a “Biblioteca Fora de Portas”, criada em 2019. Trata-se de «levar o livro para sítios públicos imprevistos», esclarece Lara Oliveira, exemplificando com bares, cafés, piscinas, centro de saúde, esplanadas. «Nem que signifique a leitura de um único parágrafo, é importante», refere. «O projecto correu muito bem», anota Paula Cação. Durante a pandemia, a iniciativa «estendeu-se à requisição domiciliária». Há uma listagem de obras que está à disposição e os leitores podem ligar para a biblioteca ou mandar um e-mail. «Vamos duas vezes por semana, à terça e à sexta-feira, entregar os livros a casa» e, simultaneamente, proceder à recolha, explica a bibliotecária, que regressou a Poiares, a sua terra natal, há 25 anos. «É uma forma de colmatar a dificuldade de acesso ao livro, ditada pela pandemia», acrescenta. O Ciclo de Contos online, também disponível no Facebook da presidência e no Instagram, é outra das iniciativas. Um momento com contos, poesia, lendas, contos populares, um leque versátil de propostas, que se realiza todas as semanas. Um projecto que passou a integrar uma componente de língua gestual, que «permite ser mais abrangente», adianta.
Diário de Coimbra
Crianças em festa receberam Cavaco Silva no Centro Cultural - Biblioteca
«Estamos sempre insatisfeitos. Gostamos de ter sempre mais», assume Paula Cação e alerta para o papel fundamental do bibliotecário, como referência para o acesso à informação e às fontes. «Não sabemos todas as respostas, mas sabemos exactamente onde encontrar as respostas a algumas das perguntas que nos colocam». Hoje, observa, «toda a gente insere conteúdos na Internet». «O nosso papel, como bibliotecários, é hoje essencial. Trabalhamos num centro de informação e ajudamos as pessoas a pesquisar a informação», faz notar.
do município em «distinguir e reconhecer, em vida», as personalidades relevantes do concelho. «Atítulo póstumo fazemos muitas, e alguns precisam desse reconhecimento, que nunca tiveram em vida», refere. Todavia, «tem muito mais valor fazê-lo em vida», uma vez que «o homenageado está presente, assim como a sua família». Foi isso que aconteceu nas celebrações do Dia do Município, em 2017, com a consagração de José Pedroso de Carvalho, carinhosamente tratado como «provedor emérito», como patrono da Biblioteca Municipal
Homenagem a um ilustre poiarense A 13 de Janeiro de 2017 a Biblioteca Municipal passa a ter um patrono: José Pedroso de Carvalho. Uma homenagem a um homem que dedicou grande parte da sua vida às causas sociais, como provedor da Irmandade de Nossa Senhora das Necessidades – Santa Casa da Misericórdia de Poiares. Lara Oliveira sublinha o empenho
Projecto “Biblioteca Fora de Portas” leva o livro para os espaços públicos mais improváveis, como cafés, bares, esplanadas ou centros de saúde
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Filarmónica 90 anos com Vila Nova de Poiares
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Filarmónica Fraternidade Poiarense é uma banda centenária, caracterizada pela juventude dos seus músicos
FRATERNIDADE PROMOVE SONS DE HARMONIA 2015 Centenária banda apostou no canto e criou, há seis anos, o Coro Misto. Escola de Música é outra das valências
S
ão 146 anos ao serviço da música em Vila Nova de Poiares. Um desafio que a Filarmónica Fraternidade Poiarense assumiu há 146 anos. O dia 8 de Setembro marca oficialmente o surgimento desta banda, a única do concelho. Ramiro Oliveira, presidente da direcção, recorda-nos a sua origem, ligada a um grupo de amigos que gostavam de música e resolveram cimentar esses laços de amizade com acordes musicais. Daí a designação de Filarmónica Fraternidade, um sinal claro, que nasceu com a banda e se mantém, como um traço distintivo. Actualmente a filarmónica conta com um total de 44 elementos. Ramiro Oliveira, também ele músico há 35 anos – toca saxofone tenor - aponta, com notório orgulho, a juventude dos músicos. «Agrande maioria são jovens, até aos 20 anos. Há cinco ou seis com mais idade e o mais velho tem 55 anos», explica. A dirigir esta juventude musical está, desde há seis anos, um também jovem maestro Jorge Oliveira, que tem imprimido uma grande dinâmica à Fraternidade Poiarense. Inclusivamente, salienta o presidente da direcção, foi o maestro o grande impulsionador da criação do Coro Misto. Um grupo implementado em 2015, que completou o sexto aniversário no passado dia
5 de Abril, e que diversificou a actividade, até então centrada nos instrumentos musicais. Assistia-se a um novo ciclo, desta vez tendo a voz como instrumento. Neste momento, esclarece Ramiro Oliveira, o Coro Misto conta com 17 elementos, entre homens e senhoras. «Já tivemos mais», faz notar. O grupo tem feito o seu percurso com um repertório diversificado, que envolve desde música sacra a música pop. Por vezes, mas raramente, o Coro Misto conta com o acompanhamento musical da banda, mas, por norma, actua sozinho. A funcionar, «seguramente há mais de 20 anos», está a Escola de Música, uma valência que a filarmónica criou com o objectivo de garantir a formação musical das crianças e jovens e, desta forma, manter vivo o interesse pela filarmónica e garantir o seu futuro, com o “fornecimento” de novos músicos. Trata-se, assume o presidente da direcção, de garantir a continuidade da colectividade. Actualmente são 15 os elementos, sobretudo crianças, que frequentam a escola. Todavia, de acordo com o responsável, também vários adultos, que conseguiram ter, agora, tempo e disponibilidade, recorrem à escola para consolidar ou iniciar uma aprendizagem musical. Tradicionalmente a Filarmónica Fraternidade Poiarense vive numa verdadeira roda vida, multiplicando-se em actuações,
particularmente no concelho e na região. Uma vivência a que a pandemia da Covid-19 veio pôr um ponto final e, ao mesmo tempo, avolumar as já habituais dificuldades financeiras da agremiação, uma vez que destas actuações sempre resultava alguma receita. «É tudo muito caro», afirma Ramiro Oliveira, referindo-se aos instrumentos – que é necessário adquirir ou mandar reparar mas também ao fardamento, que custa uma fortuna. E, neste caso concreto da Fraternidade Poiarense, dada a juventude dos músicos, «é necessário estarmos sempre a mudar de farda», uma vez que as crianças e os jovens crescem e o fardamento deixa de lhes servir. A Câmara Municipal garante um apoio significativo à filarmónica e as juntas de freguesia também dão uma ajuda, o mesmo acontecendo com os sócios. «São 145», sublinha o presidente.
Projectos à espera de melhores dias Projectos não faltam à direcção da Fraternidade Poiarense, que tem a particularidade de integrar cinco elementos que são simultaneamente músicos da banda. «Não temos é condições – leia-se dinheiro – para os concretizar», afirma Ramiro Oliveira. Um dos projectos contempla a sede que, de acordo com o presidente, precisava de ser pintada e ampliada, além de uma intervenção para melhorar a qualidade do som. O responsável não tem o somatório das contas feito, mas tem uma certeza: «custa muito dinheiro». Dinheiro que a Fraternidade Poiarense não tem. Por isso, as obras de remodelação e ampliação têm de esperar por melhores dias.
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90 anos com Miranda do Corvo Bombeiros
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SEMPRE PRONTOSI PARA SERVIRI
Novo quartel, instalado na Zona Industrial, oferece condições de excelência
1954 No dia 11 de Agosto de 1954 assiste-se à fundação da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Poiares. Uma estrutura de referência ao serviço da população
O
quadro activo conta com 65 bombeiros, 18 dos quais são profissionais. Nos últimos anos, «temos cada vez mais senhoras», refere o presidente da direcção. «São actualmente 22», precisa o comandante, Luís Sousa. Mas também elementos com «mais formação». Dados positivos, no entender de Carlos Henriques, que se saldam numa resposta «mais eficaz». «As pessoas vêm a ambulância do INEM e ficam tranquilas. Ninguém põe em causa a compe-
tência do pessoal». Todavia, «mais de 90% dos serviços INEM são feitos por bombeiros, a maioria voluntários», refere. Por isso, a preparação é fundamental e faz a diferença. «Acontece, com regularidade, recebermos mensagens dos Hospitais da Universidade de Coimbra a darem conta do bom serviço feito na resposta de emergência pré-hospitalar», adianta, satisfeito. Todavia, para garantir essa resposta pronta e eficaz, é preciso ter uma equipa preparada. Se o crescente nível de formação dos bombeiros ajuda, não resolve tudo, uma vez que é necessária formação específica. Carlos Henriques garante que em Poiares não se sente a tão apregoada crise de voluntariado, mas entende que exista. «As pessoas não têm tempo, têm de fazer formação com sacrifício da sua vida pessoal», adianta. «Muitas vezes têm de tirar férias». E ques-
tiona: «Que ajudas dá a comunidade aos bombeiros? Não existem. Não há um benefício para a reforma», faz notar, lembrando, muito embora, «benefícios criados por alguns municípios», que representam «uma compensação» pelo muito que «os bombeiros dão à comunidade». «Os bombeiros poupam milhares de euros à comunidade e às autarquias». Exemplifica com o gato que não desce da árvore ou o texugo que morreu atropelado na estrada. Num e noutro caso são os bombeiros que são chamados. «Não digo que não devem fazer, mas tudo isso custa dinheiro e quando a comunidade se encosta aos bombeiros não tem de criar outros meios para fazer esse serviço». «É justo que a comunidade dê alguma coisa aos bombeiros, porque os bombeiros dão muito à comunidade», considera.
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Bombeiros 90 anos com Vila Nova de Poiares
Preservar a memória dos tempos passados
Um Land Rover de 1948 está religiosamente guardado numa garagem. Vieram dois para Portugal e este foi transformado em carro de fogo, com as escadas ainda em madeira. Uma verdadeira relíquia que os bombeiros guardam e que gostariam um dia de recuperar. O parque inclui outras viaturas antigas, designadamente uma ambulância. «Ainda recentemente nos ofereceram 25 mil euros por ela», conta Carlos Henriques. Um projecto que não tem horizonte temporal, mas seguramente vai enriquecer o já vasto espólio de memórias que os Bombeiros de Poiares têm reunido na sala-museu, onde se encontra a primeira moto-bomba, fardas e outro equipamento antigo, mas também cartazes de eventos organizados pelos bombeiros, entre outras relíquias.
«Gostava que houvesse mais atenção aos bombeiros», confessa. Isso não significa que o número de voluntários crescesse significativamente. «Mas era um estímulo, um carinho». Exemplifica com um desconto na factura da água, isenção de licenças ou a criação de um «cartão social, negociado com a Associação Empresarial, que desse descontos aos bombeiros. É uma ideia sem custos para a autarquia, que certamente teria bons resultados», defende. O presidente destaca, de resto, a colaboração do município, que assegura um subsídio directo de 72 mil euros anuais, «pago a tempo e horas», e suporta metade do custo da equipa de in-
tervenção permanente (o restante é pago pela Autoridade Nacional). Hoje em dia, «é muito raro tocar a sirene», pois «o quartel está sempre guarnecido, com equipas prontas para qualquer ocorrência». No ano transacto, os Bombeiros de Poiares intervieram em 4.523 ocorrências e «só tivemos seis incêndios urbanos e 31 rurais». «Em média, fazemos 1.100 km por dia», grande parte dos quais «com o transporte de doentes», um serviço «extremamente exigente, que ocupa muitos meios». Não sendo «uma área lucrativa», o transporte de doentes «financia as corporações», uma vez que «a estrutura está montada e as pessoas disponíveis». Todavia, a pandemia decretou um abrandamento dos serviços. «Houve meses em que literalmente parou», diz Carlos Henriques. Valeu o facto de os hospitais e a Administração Regional de Saúde terem feito o pagamento de «contas atrasadas», mas o dirigente não tem dúvidas: «o buraco ficou». Carlos Henriques salienta o apoio da Câmara e das juntas, que ajudaram a estabilizar a situação financeira, mas considera «a situação preocupante». Igualmente com o objectivo de angariar receitas, os Bombeiros promovem vários eventos, designadamente a Festa das Sopas, torneios de sueca, peditórios, caminhadas, saraus. «Tudo ajuda» e, sobretudo, cria-se um «grande envolvimento com a comunidade». O fortalecimento desta relação é muito importante e os bombeiros têm procurado promovê-la. «Acomunidade precisa de sentir que a associação é da comunidade e precisa da colaboração de todos», afirma. As instalações são de excelência. «Modernas e operacionais» e ao nível do parque de viaturas assiste-se a um «esforço grande de renovação, evidente no parque de ambulâncias». São 14 – quatro de socorro e 10 de transporte de doentes - e apenas duas precisam ser substituídas. Num caso, «estamos à espera do protocolo com o INEM. Devia ter sido substituída há três anos», diz. Relativamente às restantes viaturas, de fogo (8) e de apoio (11), também é necessária alguma renovação. Carlos Henriques aponta uma «situação caricata», decorrente de um incêndio de 2017. «Perdemos três viaturas, entre as quais uma ambulância, com dois meses, que foi socorrer um bombeiro. Não temos direito à reposição da viatura, porque o protocolo da Autoridade Nacional não previa ambulâncias naquele tipo de ocorrência», refere, incrédulo. Relativamente à
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viatura de incêndio, já com vários anos, «recebemos uma compensação de 13 mil euros. Temos de comprar em segunda mão. Um carro novo custa 200 mil euros». Este é um exemplo das «dificuldades criadas». «Se não houver muito rigor e cuidado, muita carolice e ajuda da população e das autarquias, tudo é muito mais complicado, porque a ANPC não paga minimamente o que suportamos por conta do que nos é exigido». E para quem tem dúvidas, aponta os «60 milhões de euros» destinados aos «Sapadores de Lisboa e Porto», quando as restantes «437 associações de bombeiros de todo o país recebem 33 milhões de euros».
Escolinha de Bombeiros e Escola de Ballet AEscolinha de Infantes e Cadetes começou a funcionar há cinco anos e é frequentada por meia centena de crianças e jovens. Carlos Henriques destaca as duas componentes fundamentais que ditaram a sua criação.Antes de mais, «é uma componente importante na formação das crianças. É um primeiro contacto com o espírito de equipa, com os valores da solidariedade, de dar ao próximo, que procuramos incutir». Simultaneamente, representa o «lançar a semente de ser bombeiro». «Muitos pais ou avós foram bombeiros», refere, confiante que a Escolinha possa ser uma verdadeira ponte para o voluntariado. Uma outra escola funciona no quartel dos Bombeiros. Esta dedicada à dança, mais propriamente ao ballet. Cristiana Viola tem 21 anos, está a tirar o curso de Teatro e Educação e é a professora responsável por este projecto, que assumiu nos últimos dois anos. Duas dezenas de alunas, com idades entre os 3 e os 20 anos, integram este projecto diferenciador.
Carlos Henriques, presidente da direcção
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90 anos com Vila Nova de Poiares Bombeiros
História inspira publicação de livro
Núcleo Museológico
A vontade popular de ter um corpo de bombeiros que desse resposta às necessidades de socorro levou, em Dezembro de 1953, à elaboração dos primeiros estatutos, numa reunião realizada na Câmara Municipal. Dava-se um passo decisivo para a fundação da Associação Humanitária dos Bombeiros de Vila Nova de Poiares, criada oficialmente a 11 de Agosto de 1954, data do registo no Governo Civil de
Coimbra. Começa, assim, a história dos Bombeiros de Poiares, cuja implementação se prolonga no tempo, uma vez que só no dia 24 de Janeiro de 1961 tomam posse os primeiros órgãos sociais. Manuel Fernandes Dias Martins Vicente presidia à direcção,Augusto Duarte Henriques Simões liderava o conselho fiscal e Urbano Carvalho Madeira presidia à assembleia geral. O major JoaquimAntónio Ferreira de Matos foi o primeiro comandante. O primeiro quartel foi inaugurado a 15 de Outubro de 1979. Seguiu-se uma segunda fase, que entrou em funcionamento em Março de 1993. Em Junho de 2009 os Bombeiros mudam de casa. Deixam o centro da vila e instalam-se na Zona Industrial, onde se mantêm. A segunda fase da obra do quartel foi inaugurada em Janeiro de 2012. A história dos Bombeiros de Poiares está a ser investigada pelo historiador Pedro Santos e vai dar origem a um livro.
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Certificação como entidade formadora «Estamos a avançar com a certificação como entidade formadora», explica o presidente. A decisão prende-se com o facto de a corporação ter elementos que são formadores, «solicitados para dar formação». Aos formadores, junta-se a disponibilidade de espaço. Significa que, com a certificação, «podemos dar formação, de qualidade e certificada». Um processo «em fase adiantada», que vai representar mais uma valência da associação.
Equipa cinotécnica Os Bombeiros de Poiares têm, desde 2013/14, cães especializados em efectuar buscas, designadamente de pessoas desaparecidas. No quartel estão dois, da raça labrador (um terceiro teve de ser abatido por questões de saúde). Há ainda um pastor-alemão, que se encontra na casa da tratadora.
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Acidente na Serra do Carvalho 90 anos com Vila Nova de Poiares
OITO PILOTOSI DESPENHARAM-SEI NA SERRA DO CARVALHOI
Monumento, localizado à entrada da vila, presta homenagem aos oito jovens pilotos
1955 Dia 1 de Julho de 1955. As comemorações do terceiro aniversário da Força Aérea Portuguesa terminavam da pior forma. Oito dos 12 aviões, da formação comandada pelo capitão Rangel de Lima, despenharam-se na serra
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oi o mais trágico acidente da história da Força Aérea Portuguesa (FAP) e um dos mais relevantes a nível mundial. Uma esquadra de 12 aviões sobrevoava a região Centro para assinalar o terceiro aniversário da FAP. Oito despenharam-se na Serra do Carvalho. Aconteceu no dia 1 de Julho de 1955. Na edição do dia seguinte, o Diário de Coimbra noticiava a tragédia com grande destaque. Os 12 aviões F-84 Thunderject, comandados pelo capitão Rangel de Lima, saíram da Base Aérea da Ota para um voo festivo. Ao chegarem à Serra do Carvalho, alinharam-se em “escada”, para evitar os remoinhos de vento. Quatro à frente, quatro atrás e outros quatros mais atrás ainda. Apenas os quatro primeiros ultrapassaram a serra, num voo rasante. Os restantes oito embateram violentamente no terreno, envolvido num “manto de invisibilidade”. Os oito pilotos tiveram morte imediata. A notícia chegou célere à redacção do Diário de Coimbra. Da Câmara Municipal confirmava-se a tragédia, embora se ignorasse a «extensão da catástrofe», que se presumia «fosse muito grande». Os repórteres meteram-se a caminho. «Os destroços dos aparelhos tombados e desfeitos começaram a surgir na nossa frente, em área de muitas centenas de metros. Ferros torcidos, fios, parafusos, pedaços de alumínio e aço, alcatifam, por assim dizer, toda a zona trágica. No terreno onde existia uma seara, há um feixe mais volumoso de destroços. Deve ser um motor, misturado com outras peças do aparelho, numa amálgama chocante, fumegante ainda. Da seara nada resta. É um terreno árido, calcinado pelo fogo. E as árvores que a circundam, meias queimadas, são pormenores dolorosos da catástrofe. Mais abaixo, numa ravina de difícil acesso, há outro montão arrepiante de destroços. Apareceu perto deles uma
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Acidente na Serra do Carvalho 90 anos com Vila Nova de Poiares
pulseira de prata, com o nome de “Furriel António Carvalho”. É o único elemento de identificação que surge e que se recolhe piedosamente, como piedosamente são guardados os restos dos pilotos mortos, dispersos por toda aquela extensão», escrevia o jornal na primeira página. «Um cheio acre, incomodativo, desprende-se dos molhos das engrenagens, ainda fumegantes. Pilotos de Portugal morreram naquela pacata terra serrana, no maior desastre de viação de todo o mundo. E parece que nos lábios de quem se agrupa, olhando aqueles montões de ferros torcidos, há uma oração sentida pelos que caíram em plena mocidade», adiantava o jornal. Procurando uma explicação para tamanha tragédia, o Diário de Coimbra escrevia que o comandante da esquadra, capitão Rangel de Lima, teria, «numa zona de nuvens», «ordenado aos pilotos que tomassem altura». Todavia, não tinham passado 20 segundos e já tinha perdido o contacto com os oito aparelhos que o seguiam. Sem resposta aos sucessivos apelos, o comandante, longe de se aperceber do que se tinha passado, regressou à base, acompanhado de mais três aparelhos. Eram os quatro aviões que seguiam na frente da formação. Os únicos que escaparam à tragédia. «Eu vi como as coisas se passaram. Estava névoa na serra. Apareceram os aviões. E, de repente, parece que o céu se abria em lume! Foi como que um relâmpago o houvesse rasgado. Depois começaram a cair os aparelhos, com grande estrondo. Foi uma coisa espantosa», relatava, emocionado, António Carvalho, um homem do campo, que se encontrava no local. «Eu andava com uma criança no campo quando se ouviu aquele pavoroso estrondo! Tremeram as casas, como se houvesse um grande tremor de terra», dizia, por seu turno, Maria José Veiga.
«Depois de muito instada, com receio de que fôssemos da polícia», Maria José da Conceição desabafou: «Podia ter morrido muito mais gente, embora não saiba quantas pessoas desapareceram no desastre. Eu andava a ceifar com outra rapariga. Ouvimos o estrondo e, logo a seguir, a um metro apenas do sítio onde nos encontrávamos, caiu um pedaço enorme de ferro, vindo pelo ar. Foi Nossa Senhora das Preces, a padroeira desta aldeia, que fez o milagre de nos salvar. Bendita seja ela!»
As vítimas A notícia publicada no dia 2 de Julho dava conta da identidade das vítimas: Tenente António Albino da Rocha Moz, 26 anos, de Lisboa Alferes José Nobre Guerreiro Bispo, 25 anos, de Odemira Alferes Henrique Ferreira Pinto Howell, 25 anos, de Leça da Palmeira Alferes Fernando Fernandes Ventura Pinto, 25 anos, de Tondela Sargento Fernando da Silva Santos, 25 anos, de Tomar Furriel António Carvalho, 24 anos, de Cabeceiras de Basto
Diário de Coimbra deu grande destaque à tragédia
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Furriel Dinis Lopes Alves Martins, 24 anos, de Abrantes Furriel Danilo Martins da Fonseca, 21 anos, de Lisboa Na edição do dia 3 de Julho, o jornal dava conta da trasladação dos corpos dos oito aviadores, que, em ambiente de consternação geral, saíram da capela do Hospital Militar de Coimbra para as respectivas terras. Na Serra do Carvalho, «a comissão de inquérito, constituída por oficiais da Ota», continuava os seus trabalhos, no sentido de explicar a tragédia. «Haverá, realmente, maneira de explicar como se deu a catástrofe?», questionava. O local onde se deu o acidente «continua a ser guardado por soldados, que se têm empenhado no trabalho exaustivo de recolher material dos aviões, disperso por toda aquela grande área». «E ali também afluíram, ainda ontem, numerosas pessoas, a despeito das más condições da estrada que conduz à serra». No dia seguinte (4 de Julho), na “Nota” da primeira página, o Diário de Coimbra dava conta da intenção do ministro da Defesa nacional, que «mandou estudar a possibilidade de, no ponto mais alto da Serra do Carvalho, se erigir um padrão representativo do esforço que está a ser desenvolvido pelo pessoal das Forças Aéreas ao serviço da Aeronáutica e da Nação». Um monumento «trabalhado em granito e bronze, a desafiar as fúrias da Natureza, tem ali um ambiente próprio». «A ideia deve ser acarinhada por todos com o coração. E tornada uma realidade. Porque não pensar, depois, numa romagem anual, nos dias 1 de Julho de cada ano, ao alto da Serra do Carvalho? Porque não ir levar o nosso respeito e a nossa saudade junto desse monumento, juncando-o de flores e garantindo dessa maneira, aos que morreram, que não esquecemos o seu sacrifício? Seria Portugal a cumprir um
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90 anos com Vila Nova de Poiares Acidente na Serra do Carvalho
dever para com a memória dos moços que pela Pátria tombaram, em pedaços, sobre o dorso altivo e imponente da Serra do Carvalho», rematava o jornal. Efectivamente, em memória dos oito pilotos da Força Aérea, a Câmara Municipal de Poiares mandou construir um monumento no local do acidente e uma capela em honra de Nossa Senhora do Ar. Na passagem dos 50 anos sobre o desastre, em 2005, foi inaugurado outro monumento, numa rotunda da vila, feito em parceria com a ForçaAérea Portuguesa. Para manter viva a memória do acidente. Concebido por um arquitecto da FAP, o monumento, designado “Voo dos Anjos”, é constituído por oito colunas – numa alusão aos oito aviões que se despenharam, vitimando os respectivos pilotos – encimadas por um vidro azul céu e alguns pares de asas, uns abertos e outros fechados, que fazem referência ao levantar e aterrar dos aviões. Todos os anos, o município e a Força Aérea promovem uma cerimónia de homenagem aos oito pilotos que perderam a vida na Serra do Carvalho.
Todos os anos na Serra do Carvalho se presta homenagem aos oito pilotos
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Acidente na estrada 90 anos com Vila Nova de Poiares
“UMA CAMIONETA DESARVORADA” PROVOCOU A MORTE DE CINCO PESSOAS 1955 Na edição de 10 de Agosto de 1955 o Diário de Coimbra relatou um dos mais trágicos acidentes rodoviários do concelho. Aqui fica a memória desse acontecimento
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erca das 20h00, à porta do estabelecimento de Augusto Fernandes Querido, encontravam-se sentados, a tomar o fresco, Silvino Fernandes Ferreira, de 20 anos, solteiro, filho de Silvino Ferreira, sócio da firma Arruda Ferreira, Lda., seu avô, Gregório Fernandes, de 75 anos, casado, proprietário; Francisco Luís, cabouqueiro; Américo Fernandes Querido, serralheiro e António Correia, também cabouqueiro, todos residentes no Entroncamento de
Poiares», escrevia o Diário de Coimbra na edição do dia 10 de Agosto de 1955, com grande destaque na primeira página. Ali se encontravam «em amena cavaqueira» quando, de repente, surgiu a camioneta de carga BL 22-12, de que era proprietário Armando Gonçalves, de Avô, e conduzida pelo motorista José Gaspar da Silva, levando como ajudante Carlos Rosário de Almeida, de 26 anos, casado, ambos residentes na Benfeita, Arganil, que «passando rente ao estabelecimento,
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Diário de Coimbra acompanhou de perto o macabro acidente
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colheu aqueles indivíduos». «O que se passou não é possível descrever. À surpresa do aparecimento do veículo juntou-se a confusão, os gritos dos que de longe assistiram à tragédia, e logo populares mais animosos procederam aos socorros a toda aquela gente que ficou amassada, numa mistura de corpos, terrível e impressionante». O autor da notícia continuava o seu relato, sublinhando que ao serem retirados os corpos, «quase disformes, verificou-se logo que o Silvino Fernandes Ferreira, o Gregório Fernandes e o Francisco Luís tiveram morte instantânea». «Enquanto mãos piedosas depunham os cadáveres dos desventurados, outros correram para o Hospital da Beneficência de Poiares, conduzindo os feridos, António Correia, Carlos Rosário de Almeida e Américo Fernandes Querido». Um deles, o Correia, «já chegou morto», continuava o jornal. Américo e Carlos, depois de receberem os primeiros socorros, uma vez que o seu estado era «muito grave, foram transportados aos Hospitais da Universidade», esclarecia o repórter. «Entretanto – adiantava o jornal – o motorista da camioneta, alucinado, pôs-se em fuga, abandonando a camioneta e o ajudante, que ficou também ligeiramente ferido. Foi socorrido no Hospital de Poiares». «O desastre, como é natural, causou nesta vila a maior consternação, tanto mais que tanto o Silvino Ferreira como o seu avô, Gregório Fernandes, eram pessoas muito estimadas», rematava o autor da notícia, “enviada” via telefone para a redacção do Diário de Coimbra.
Mais uma morte “Morreu mais uma das vítimas do trágico acidente de Poiares”. Era assim que,
90 anos com Vila Nova de Poiares Acidente na estrada
Funeral mobilizou três mil pessoas No dia 12 de Agosto, o Diário de Coimbra voltou a recordar a tragédia que se abateu sobre Vila Nova de Poiares, dando conta do funeral das cinco vítimas mortais. “Cerca de 3.000 pessoas acompanharam até ao cemitério as vítimas do drástico acidente de Poiares”, escrevia o jornal, em título, na primeira página. De manhã, realizou-se o funeral de quatro das vítimas, com o cortejo fúnebre a sair da Capela de Nossa Senhora das Necessidades para o cemitério de Vale de Gião. À tarde foi o funeral de Américo Querido. Augusto Simões, presidente da Câmara Municipal e deputado da Nação, fez o elogio fúnebre, entre «cenas lancinantes» de dor. «12 menores ficaram sem os pais, que eram o seu único amparo. E as pobres viúvas, a braços com as maiores dificuldades financeiras, não sabem agora como hão-de fazer face à sua vida», destacava o jornalista.
no dia 11 de Agosto, o jornal anunciava mais uma vítima da “desarvorada camioneta”. «Aos quatro mortos temos agora de juntar o serralheiro Américo Querido Fernandes, que faleceu ontem, pelas 13h00, nos Hospitais da Universidade».
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O motorista, que «fugiu horrorizado», «cerca das 8h00 da manhã apareceu em Oliveira do Hospital, em cujo posto da GNR se apresentou, entregando toda a sua documentação e pondo-se à disposição das autoridades, que o mandaram apresentar-se na Lousã», escreveu ainda o jornal. Quando ao ajudante do motorista, Carlos Rosário de Almeida, internado nos Hospitais da Universidade, «apresenta algumas melhoras, sendo satisfatório o seu estado», referia o Diário de Coimbra. Ainda na edição de 11 de Agosto, o jornal apresentava uma hipotética explicação para o acidente. «Segundo a versão que nos apresentaram, foi o Américo Fernandes o causador do acidente, onde afinal também veio a perder a vida». Isto porque, junto à mercearia onde se encontravam as vítimas, pertencente a Augusto Fernandes Querido, existia uma oficina de bicicletas, propriedade de Américo Fernandes. «Este, que não possuía uma perna, talvez para fazer reclamo ao seu negócio, possuía uma bicicleta motorizada e sempre que tinha de a utilizar fazia-o com velocidade exagerada», escreve o jornalista. E foi o que aconteceu ao princípio da noite de terça-feira. «Saiu de casa já em cima da máquina e, sem tomar as precauções necessárias, atravessou a estrada para tomar a sua mão. Foi nesse momento trágico que apareceu a camioneta conduzida pelo motorista Armando Gonçalves que, para evitar o desastre, desviou o veículo, que galgou sobre o terreno onde as vítimas se encontravam e todos aqueles corpos foram calcados e esmagados pelo rodado da camioneta». A peça terminava dando conta que o posto da GNR de Poiares, «que tomou conta da ocorrência, está a organizar o respectivo processo».
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Incêndios 90 anos com Vila Nova de Poiares
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APRENDER COM A EXPERIÊNCIA 2017 Incêndios de 2017 foram uma lição. Município está empenhado em evitar que se voltem a repetir
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emos de aprender com o que aconteceu». É assim que João Miguel Henriques, presidente da Câmara Municipal de Poiares, encara a tragédia de 15 de Outubro de 2017. O violento incêndio, que começou na Serra da Lousã e atravessou o concelho, deixou uma marca de destruição, com 70% da área ardida. «Felizmente não tivemos vítimas mortais», refere o autarca. O fogo entrou na Zona Industrial, mas como «estava tudo limpo», não provocou danos de maior. Pior foi a destruição de habitações. Foram atingidas, total ou parcialmente, 16 casas de primeira habitação e 12 de segunda. A maioria foi reconstruída ou recuperada, mas ainda há «duas situações» pendentes, à espera de resolução. «Temos de evitar que se repita», sublinha o autarca. Mas alerta: «Se continuarmos a não tratar do território florestal, se continuarmos a não ter planeamento e a não proteger os nossos bens, com as alterações climáticas existe uma grande probabilidade de que o que aconteceu em 2017 se volte a repetir». Por isso e porque os exemplos representam uma aprendizagem, Poiares está a «fazer um grande esforço de investimento, no sentido de planear e gerir o nosso espaço florestal de uma forma mais resiliente e sustentável», afirma o autarca. É nesse esforço que se enquadra a criação de três ZIF – Zona de Intervenção Florestal, que «cobrem praticamente toda a área geográfica do concelho». Um processo que «implicou milhares de contactos» com os proprietários. Um «processo muito difícil», reconhece, mas que constitui «uma base
Habitações destruídas pela violência das chamas
de trabalho para começarmos a pensar a floresta de uma forma diferente». O objectivo é definir espaços para produção, zonas de contenção, aceiros de protecção às habitações. «A floresta tem de ter o seu espaço», defende o edil, que assume: «não acho que o eucalipto tenha de acabar, mas tem de ter o seu espaço próprio». João Miguel Henriques entende que têm de se criar defesas para o espaço urbano e para o espaço rural e florestal e «fazer um planeamento de grande escala». A criação de ZIF representa um «primeiro passo» de uma «longa caminhada», para a qual o autarca conta com o apoio financeiro de 270 milhões de euros destinados à floresta con-
sagrado no Plano de Recuperação e Resiliência. Poiares foi, igualmente, um dos primeiros concelhos a aderir ao programa “Condomínio de Aldeias”, cujo protocolo foi assinado em Outubro do ano passado. Por outro lado, o município vai avançar, «em breve, com o cadastro simplificado». Trata-se de uma ferramenta «muito importante», pois «permite identificar quem são os donos do espaço rural e florestal». Um dado vai, também, criar a possibilidade de «responsabilizar os proprietários». «Se querem gerir eles os seus espaços, têm de o fazer. Não podem é estar abandonados, pois colocam em risco os que os rodeiam», alerta.
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90 anos com Vila Nova de Poiares Incêndios
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COMPENSAÇÃO PELOS INCÊNDIOS 1981 Segurança Social entregou 16.500 contos aos municípios de Poiares, Pampilhosa da Serra, Góis, Arganil e Penacova
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ssolados por violentos incêndios no Verão de 1981, os municípios de Vila Nova de Poiares, Arganil Góis, Penacova e Pampilhosa da Serra foram contemplados com um subsídio, por parte do Governo, a fim de «compensar proporcionalmente os prejuízos detectados em cada um dos concelhos». Em causa estava um “pacote” de 16.500 contos, que Maria Emília Xavier de Bastos, presidente do Centro Regional de Segurança Social de Coimbra, entregou aos presidentes dos cinco municípios. A estimativa global dos prejuízos apontava, de acordo com a edição de 19 de Dezembro de 1981 do Diário de Coimbra, para «cerca de 45 mil contos», com uma incidência especial na floresta, «atingida de forma calamitosa nestes cinco concelhos». Uma cerimónia realizada na Pampilhosa da Serra, que registou os maiores prejuízos e recebeu um subsídio de 11.600 contos. Seguia-se Poiares, com um apoio de 2.300 contos. Os concelhos de Góis e Arganil
foram ambos contemplados com 1.200 contos e Penacova com 150 contos. «Não acreditava que, dentro da miséria que nos assolou, viessem a lembrar-se de nós», confessava, agradecido, o autarca da Pampilhosa da Serra, José Augusto de Almeida. Fernando Nogueira, da Comissão de Coordenação da Região Centro (CCRC), dizia que «esta atribuição de subsídios não é mais do que a necessária compensação às pessoas afectadas. Temos que acalentar as pessoas que vivem no interior, pois a sua situação é muito precária. As importâncias entregues são o cumprimento de um dever, uma obrigação e não simples caridade». «São um muito pequeno contributo para Tragédia dos incêndios tem sido uma constante na região da Beira Serra
os compensar do drama que viveram», sublinhava a presidente do Centro Regional de Segurança Social, que dava conta da «consciência que não seria possível contemplar todos os lesados, o que «não nos inibiu (...) de fazer o que era possível». Emília Xavier de Bastos explicou que a Secretaria de Estado recorreu ao Fundo de Socorro Social para garantir a «minoração do sofrimento de alguns dos mais atingidos» pelos fogos. A notícia do Diário de Coimbra refere o papel relevante desempenhado por um grupo de jovens, que «ao abrigo de um programa especial de emprego de tempos livres», prestou serviço na Comissão da Região Centro, assegurando, no terreno, a recolha de elementos para atribuição das verbas compensatórias. O representante da CCRC assegurava que estava prevista a «reflorestação de toda a zona» afectada «com o apoio do Banco Mundial». Fernando Nogueira adiantava o estudo de «um projecto próprio de florestação» e defendia a criação de «uma série de actividades paralelas à exploração florestal», de forma a «manter as pessoas ligadas a esta actividade, «podendo, assim, contribuir para a sua sobrevivência económica».
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Justiça 90 anos com Vila Nova de Poiares
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O CRIME DE POIARES 1930 No dia 25 de Junho de 1930 assistia-se, no Tribunal da Comarca da Lousã, à leitura do acórdão do chamado Crime de Poiares. Cinco réus foram condenados. Outros dois absolvidos
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om uma «sala literalmente cheia», assistia-se, no dia 25 de Junho de 1930, no Tribunal da Comarca da Lousã, à leitura do acórdão do chamado Crime de Poiares. Um julgamento que o Diário de Coimbra acompanhou sessão a sessão, com especial destaque. Era o ponto final de uma escaramuça de consequências gravosas, registada um ano antes, no dia 19 de Junho de 1929, da qual resultou a morte de Jerónimo Rodrigues Ferreira, natural de Friúmes (na altura pertencente a Poiares). Tudo terá começado com «um ligeiro abalroamento do carro de bois, que era conduzido pelo Jerónimo Ferreira, com uma camionete, que se encontrava dificultando a passagem, junto ao portão donde aquela saía», escrevia o jornal no dia 12 de Junho de 1930, dando conta do início da primeira sessão do julgamento. «O pai da vítima e este prontificaram-se, ao que parece, a pagar os ligeiros estragos produzidos pelo abalroamento. O Candeias, porém, não lhes deu ouvidos e, após tê-los ameaçado, vibrou uma violenta pancada no Afonso, pai da vítima, que caiu inanimado. Decorridos momentos e por entre grande confusão, o filho era perseguido para vir a ser prostrado na Ponte das Necessidades, a poucos metros do local da altercação», sintetizava o jornal. O crime aconteceu em dia de feira e ditou a detenção de sete jovens poiarenses, com idades entre os 20 e os 29 anos, que no dia 25 de Junho conheceram o destino que a Justiça lhes reservava. As sessões do julgamento foram rodeadas de especiais medidas de segurança, tendo em conta o interesse da população em seguir de perto o desenrolar do processo, mas também o estado degradado da sala de audiências, sem esquecer o grande número de envolvidos, nada mais nada menos que sete arguidos, 96 testemunhas de defesa e 26 de acusação. Dados a que acrescia a plêiade de ilustres juristas – Umberto de Araújo, António Leitão, Fernando Lopez, José Paredes e Ulisses Cortes - chamados a defender os réus.
«No Largo Cândido Reis estaciona muita gente – vinda de Poiares, de Friúmes, de Risca Silva – que aguarda com ansiedade a sentença. Há uma expectativa de vivo interesse pelo resultado do julgamento», escrevia o enviado especial do jornal, que esclarecia, ainda, o facto de uma formação da GNR, «sob o comando do sr. tenente Mateus Soares», assegurar a «vigilância do edifício». «Às 11,10 chegam os réus» e a «audiência abre 10 minutos depois». Todavia, é suspensa logo «após a chamada dos arguidos». «O tribunal vai reunir para lavrar o acórdão», adiantava o jornalista. Às 16h30, depois de uma demorada reunião de «4 horas e 15 minutos exactos», o júri colectivo - «constituído pelos srs. dr. Antero Cardoso, juiz presidente, dr. Luiz Mendes, de Arganil, e dr. Luiz Pereira de Melo, de Oliveira do Hospital» - regressa à sala. Ouve-se, escreve o jornal, «aquele ruído grave, pesado, do público que se preparou para ouvir a sentença. Depois, o ruído esmorece, de repente. E o sr. dr. Antero Cardoso lê, por entre o silêncio do tribunal inteiro, o acórdão, que condena: João Candeias, em 5 anos de prisão maior celular ou na alternativa a 8 anos
Diário de Coimbra acompanhou todas as sessões do julgamento
de prisão maior temporária ou em igual tempo de degredo em possessão africana de 1.ª classe, 2.000$00 de imposto e acréscimos legais; José Candeias em 4 anos de prisão maior, ou na alternativa de 6 anos de prisão maior temporária ou igual tempo de degredo em possessão africana de 1.ª classe, 2.000$00 de imposto de justiça e acréscimos legais; Eduardo Candeias em 2 anos de prisão maior celular ou na alternativa de 3 anos de prisão maior temporária ou em igual tempo de degredo em possessão africana de 1.ª classe, 1.500$00 de imposto de justiça e acréscimos legais; Albano Martins em 2 anos de prisão maior celular ou na alternativa de 3 anos de prisão maior temporária ou em igual tempo de degredo em possessão africana de 1.ª classe, 1.500$00 de imposto de justiça e acréscimos legais; Arsénio Soares a 9 meses de prisão correccional, 1.000$00 de imposto de justiça e 45 dias de multa a 3$00. Contado, porém, o tempo de prisão já sofrida, foi posto em liberdade. José Candeias e José Martins, absolvidos. A acusação particular foi condenada em 1.000$00 de imposto de justiça. A sentença foi bem recebido», concluída o autor da peça. Os quatro condenados foram, pouco depois, «conduzidos em camionete, acompanhados por oito praças da GNR para a Cadeia de Santa Cruz, de Coimbra». «À despedida, Albino Martins chorava muito. Os outros procuravam esconder as lágrimas, denunciadas por sufocados soluços. Muitas pessoas de família, principalmente mulheres, choravam sentidamente», relatava o jornalista. Quanto aos arguidos ilibados pelo acórdão, «foram alvo de comovedoras manifestações – abraços estreitados com veemência – a matar saudades dos longos meses de prisão», referia o jornal. Em Vila Nova de Poiares, eram aguardados «por muito gente» que se mostrava «intensamente satisfeita com o seu regresso», concluía o Diário de Coimbra.
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Chanfana 90 anos com Vila Nova de Poiares
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SIMPLICIDADE É O SEGREDO DA CHANFAN 1990 Lurdes Silva regressou à terra dos pais há cerca de 30 anos e a “escola” de cozinha” que herdou da mãe valeu-lhe para dar um novo rumo à sua vida
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ão há chanfana melhor que a da Risca Silva». Quem o diz é Lurdes Silva, uma especialista na arte de confeccionar esta especialidade. Aprendeu com a mãe, natural daquela localidade. «Segredos? A chanfana não tem segredos», garante. «Só se for a conta das areias de sal», diz, bem disposta. Filha de pais poiarenses, a mãe da Risca Silva e o pai de Vale de Afonso, onde reside actualmente, Lurdes Silva nasceu em Vila Nova de Paiva. Os pais fizerem-se à vida. «Eram azeiteiros», recorda. Primeiro em Vila do Conde. Depois em Vila Nova de Paiva, onde se estabelecerem por conta própria. A vida corria de feição, mas “onde há morte, há má sorte”, diz. E foi essa má sorte que a trouxe de regresso a Vila Nova de Poiares. Já lá vão mais de 30 anos. Aprendeu a cozinhar com a mãe e foi esse saber-fazer que a ajudou a dar um novo rumo à sua vida. À volta dos caçoilos, dos tachos e das panelas. Entre o fogão e o forno. Começou no restaurante O Confrade. «Foi o meu primeiro emprego», confessa. «Até então sempre tinha sido patroa». Foi um curso de formação, tirado na ADIP, que lhe permitiu dar início a uma nova vida, agora como cozinheira. Pelas suas mãos já passaram milhares de caçoilos de chanfana e muitos milhares de buchos. Hoje, com 60 anos, com os filhos e os sobrinhos criados, com dois netos e um bisneto, Lurdes Silva vai dando resposta às enco-
Lurdes Silva é uma especialista na preparação da chanfana, que aprendeu com a mãe
mendas que lhe chegam. De particulares e de restaurantes do concelho, que lhe pedem ajuda para fazer uma fornada de chanfana ou preparar bucho. «Não tenho trabalho todos os dias, mas não posso viver do ar». Pragmática, lembra as despesas certas, «de mais de 100 euros», todos os meses, só na farmácia. Por isso, sempre que é preciso, arregaça as mangas e responde de pronto. Seja para confeccionar chanfana, seja para preparar umas dezenas de buchos. «A chanfana não tem qualquer segredo. Quanto mais simples, melhor», garante, lembrando as origens ancestrais do prato. «Antigamente não havia cominhos, nem caldos Knorr», faz notar. Sal, alho, vinho
são os ingredientes fundamentais. E carne, claro está. «Acarne tem de ser boa, suculenta. Tenho de olhar para ela e ela rir-se para mim e eu para ela», esclarece. «Uma boa carne é a base de tudo», sublinha a mestre. Carne que chega do talho já devidamente cortada. «Descasco uns dentes de alho, pico-os e ponho no fundo do caçoilo, com um bocadinho de azeite», explica, advertindo para a necessidade de o caçoilo ser de barro preto. Nada de vidrado! Depois, «ponho a carne no caçoilo, junto um bocadinho de sal, dois piri-piris, cortados ao meio ou inteiros e uma folhinha de louro». Por fim, desfaz o colorau num fio de azeite e deita
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ANA sobre a carne. «Uma colherzinha de banha» faz a diferença. «Dá outro gosto», garante, seja na chanfana ou mesmo no cabrito assado. Cebola ou cravinho? «Nem pensar! A chanfana não leva nada disso!», diz, peremptória. O vinho, tinto, «tem de ser bom», adverte. «Ponho o vinho até cima», explica. Mas também é fundamental «mexer a carne». «Há pessoas que fazem uma marinada e deixam de um dia para o outro. Não! A carne bebe o vinho e fica a saber muito a vinho», explica. Com a carne mexida, coloca-se uma cabeça de alho inteira no meio do caçoilo. Depois, basta tapar com uma prata e está pronta a ir ao forno. Mas aqui também há que ter algumas cautelas. «Se o forno não estiver bem quente, a carne não fica boa!», garante Lurdes Silva. «Quando fecho a porta do forno, tenho de ouvir logo a carne a ferver», refere a cozinheira, confessando ser este um dos seus “segredos” para uma boa chanfana. «Já me aconteceu
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ficar mal. Basta não aquecer bem o forno, a lenha não ser boa...», admite. Ou a carne não ser “aquela”, «suculenta». Ou, então, o vinho não ser grande coisa. Boa carne, bom vinho e um forno bem quente são, sublinha Lurdes Silva, os factores fundamentais para confeccionar uma boa chanfana. «Quatro horas no forno» é o tempo necessário para a chanfana ficar bem assada, macia, suculenta, a desfazer-se na boca. Mas, atenção, «as brasas ficam lá dentro». «Não se tiram as brasas, como se fosse para cozer a broa, ficam lá dentro», adverte. E fecha-se a porta do forno. Quatro horas depois, abre-se a porta e retira-se a chanfana. Está pronta a comer. «É uma coisa simples. A simplicidade é o segredo», afirma a cozinheira. Mas em Poiares, garante, «a chanfana é muito boa em qualquer restaurante».«Poiares é a Capital Universal da Chanfana», adianta. «Nunca se fez tanta chanfana como agora», faz notar, lembrando que, antigamente, era um prato que «não faltava num casamento», mas «não havia a fartura que hoje existe».
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Exigências do bucho Mais exigente que a chanfana é, sem dúvida alguma, a preparação do bucho. «Estão duas horas a cozer», refere Lurdes Silva. Isto para já não falar no trabalho que dá limpar e arear o bucho, com água quente, água fria, sal e limão. Depois é necessário fazer o recheio. «Leva carnes boas, magras, chouriço, serpão, cebola, azeite, colorau e, claro, arroz». Mistura-se tudo num alguidar e é preciso ter o olho certo para dosear o recheio e distribui-lo pelos buchos que, no final, são cozidos, com agulha e linha. Depois, sim, vão para o tacho cozer. Durante duas horas.
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Confraria da Chanfana 90 anos com Vila Nova de Poiares
Madalena Carrito é a mordomo-mor da Confraria da Chanfana
CONFRARIA PROMOVE A GENUÍNA CHANFANA 2001 Criada há duas décadas, Confraria afirma-se como uma referência na defesa de uma das principais bandeiras do concelho. Processo de certificação da chanfana está em curso
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uma marca do concelho que se entendeu devia guindar-se a um patamar maior e levar mais longe o seu genuíno sabor.Anotoriedade e o reconhecimento cedo se fizeram sentir, com a Confraria da Chanfana, nascida em Setembro de 2001, a levar longe o nome de Vila Nova de Poiares e desta especialidade da gastronomia. «A chanfana é um produto desta região, com uma forma de confecção muito especial, que em Vila Nova de Poiares é o mais simples possível», afirma Madalena Carrito. A mordomo-mor da Confraria destaca esta herança, este saber-fazer com sé-
culos de existência, associado aos caçoilos de barro preto, do qual existem registos paroquiais que datam do século XVII. Trata-se, sublinha, de uma receita que assegura o «aproveitamento da cabra, um animal que não podendo ter outro préstimo – já não dá cabritos, nem leite – foi aproveitado para confeccionar este fantástico prato». «A chanfana é um dos pratos com mais história, com mais tradição», faz notar, destacando a tarefa da Confraria na «defesa da genuinidade, na promoção e na projecção desta marca». Um trabalho que levou a chanfana aos
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quatro cantos do país e também ao estrangeiro, através da participação activa dos confrades nos mais diversos eventos promovidos pelas muitas dezenas de confrarias gastronómicas que existem de Norte a Sul e também fora de portas. Mas este esforço começou “cá dentro”, refere a mordomo-mor, lembrando o empenho da restauração e a aliança criada no sentido de «apresentar um prato cada vez melhor», «a verdadeira chanfana». Há pessoas, assume, que «não gostam de chanfana porque nunca provaram a verdadeira chanfana». É essa que se faz em Poiares e que a Confraria promove. Se a secular receita é respeitada ao pormenor, Madalena Carrito sublinha, igualmente, o esforço de inovação que a Confraria, em parceria com chefes de renome, tem vindo a desenvolver, tendo por base a chanfana. A trouxa cabreira, uma criação do chef Luís Lavrador, revelou-se um verdadeiro sucesso e já faz parte da ementa. Mas outras continuam a surgir, por sugestão de outros chefs. Algumas ousadamente inovadoras, como é o caso de «um bombom de chanfana», uma criação do chef Flávio Silva, em 2020. Outras duas criações recentes, dos chef Emanuel Silva e Marco Almeida, «ainda não têm nome». A mordomo-mor destaca o objectivo de lançar «um livro com estas receitas, as tradicionais e as inovadoras, feitas com a colaboração de profissionais fantásticos». «Mesmo os jovens cozinheiros rendem-se e vão-se envolvendo neste desafio de preparar novos pratos com base na chanfana», afirma, assumindo com «orgulho» o trabalho feito nestas duas décadas. Com «passos certos», a Confraria da Chanfana tem cumprido o seu objectivo, «conseguindo afirmar a chanfana» como iguaria, mas também outros pratos característicos de Poiares, como o arroz de bucho
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90 anos com Vila Nova de Poiares Confraria da Chanfana
ou os negalhos e o poiarito, este ao nível da doçaria. Notoriedade acrescida têm igualmente ganho os barros pretos, através dos tradicionais caçoilos onde se prepara a chanfana. É a economia da região a crescer ao ritmo dos sabores da chanfana. Se dúvidas houver, basta referir os muitos milhares de refeições servidas na Semana da Chanfana, habitualmente realizada em Janeiro, um evento que resulta de uma aliança entre os restaurantes do concelho, a Confraria e o município. Além da Semana da Chanfana, a mordomo-mor refere a iniciativa “A Chanfana à Mesa com as Nossas Crianças”, destinada especialmente à comunidade escolar, o mesmo acontecendo com “A Chanfana é Fixe”, evento que já fez “descobertas” tão extraordinárias como uma saborosa pizza de chanfana. A Confraria promove, ainda, jantares temáticos, entre outros eventos, além de um vasto trabalho de investigação, que já resultou na publicação de duas obras, estando uma terceira – livro de receitas – em fase de preparação. Em curso está, também, o processo de certificação da chanfana como especialidade regional, que a pandemia veio atrasar. Aos confrades cabe levar longe o nome desta iguaria. «Percorremos milhares de
quilómetros», lembra Madalena Carrito, referindo-se à representação da Confraria da Chanfana nos eventos promovidos em todo o país e também no estrangeiro. Um conjunto de personalidades de relevo nacional, ligadas aos mais diversos sectores da sociedade, são confrades de honra da Confraria da Chanfana e ajudam a promover esta iguaria, da qual são confessos adeptos. Entre a vasta lista, destacam-se os nomes do antigo seleccionador nacional Luiz Felipe Scolari, do cirurgião Manuel Antunes, do antigo ministro da Justiça Laborinho Lúcio, do actor Ruy de Carvalho, do toureiro Pedrito de Portugal, ou outros, que já se despediram deste mundo, como o médico e precursor da procriação medicamente assistida Agostinho Almeida Santos, o futebolista Eusébio ou a cantora Madalena Iglésias. A participação em concursos, designadamente no programa 7 Maravilhas - à Mesa e da Gastronomia - guindou a chanfana a um patamar cimeiro. «Foi finalista em ambas as situações», recorda a responsável, que espera que a escolha da Região de Coimbra como Capital Europeia da Gastronomia possa representar mais uma oportunidade para «Poiares e os concelhos onde se faz boa chanfana promoverem esta maravilha da região Centro».
Desfile das confrarias constitui um momento de cumprimento à população
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Restaurante O Confrade Instalado junto ao Mercado Municipal, o restaurante O Confrade é uma referência. A mordomo-mor recorda que se trata de um projecto que remonta aos anos de 2008/9, num espaço cedido, em regime de comodato, pelo município, que «tem servido como sala de visitas a muitas pessoas que procuram a chanfana». «Não é um restaurante concorrencial com os restantes que existem no concelho», adverte, uma vez que se trata de um restaurante apoiado pela Confraria, onde só se servem as especialidades locais, como a chanfana, arroz de bucho, negalhos, trouxa cabreira e cujo funcionamento conta com a colaboração dos confrades. «Para ser viável, têm de ser os confrades a trabalhar», esclarece. Por isso, desde há alguns anos só funciona por marcação e eventualmente aos fins-de-semana. «De outra forma é impossível, uma vez que não tem objectivos comerciais», refere. Durante a Semana da Chanfana e da Poiartes o restaurante também funciona. «É a nossa sala de visitas, um espaço neutro onde, inclusivamente, se podem juntar os diferentes restaurantes», afirma Madalena Carrito. Em Vale de Vaz, numa antiga escola primária desactivada, localizada junto à Estrada Nacional 17, funciona a sede da Confraria da Chanfana. Um espaço cedido pelo município, que foi sujeito a obras de recuperação e adaptação, onde está grande parte do espólio da colectividade e onde se efectuam os seus principais eventos.
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Capriland 90 anos com Vila Nova de Poiares
CAPRIL VAI NASCER NA SERRA DO BIDOEIRO 2021 Projecto inovador vai arrancar, com cabras sapadoras a limparem a serra. Mas há muito mais em perspectiva
Rotunda da Capriland dá as boas-vindas a quem chega ou passa por Poiares
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m projecto inovador está prestes a arrancar na Serra do Bidoeiro. Trata-se de um capril, «a instalar em plena serra», sublinha o presidente da Câmara, numa parceria com a Junta de Freguesia de S. Miguel. «Inicialmente estão previstas 60 cabras sapadoras, que vão ajudar a manter a serra limpa», esclarece o autarca. O objectivo é aumentar o rebanho e, numa segunda fase, «instalar em Poiares uma queijaria». João Miguel Henriques explica a pertinência desta infraestrutura tendo em conta que «uma das dificuldades existentes se prende com a necessidade de uma solução para a produção e valorização do leite». A resposta equacionada é efectivamente a queijaria, que representa, igualmente, uma «fonte
de rendimento» para os produtores. O “figurino”deste queijo até já foi ponderado, adianta o autarca, que lembra o facto de, há dois anos, no âmbito da Poiartes, o Centro de Competências da Caprinicultura ter promovido uma prova de queijos, que permitiu instituir uma referência relativamente ao produto que o público mais apreciou. Um dado que poderá ser usado no projecto da queijaria, quando esta avançar. Este é um dos mais recentes projectos que faz parte do Poiares Capriland, uma marca que o município definiu, em 2016, como elemento essencial de uma estratégia para valorização da caprinicultura. Trata-se, sublinha o autarca, de revitalizar um sector que constitui uma referência identitária. João Miguel Henriques alerta para o
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facto de nunca terem existido «grandes unidades», mas a verdade é que «todas as famílias tinham três ou quatro cabras, que ajudavam a limpar as quintas e representavam um complemento ao rendimento familiar», através dos cabritos e do queijo fresco. Finalmente, «quando a cabra já não dava mais nada», ou seja, já não tinha capacidade nem para dar leite nem cabritos, surge a chanfana. Era a velha cabra transformada em carne, colocada num caçoilo de barro preto e assada em forno de lenha. Uma iguaria que ganhou fama em Poiares. O edil destaca o desempenho do Centro de Competências da Caprinicultura, criado em Junho de 2017, que tem como objectivo a promoção da fileira da caprinicultura. Uma aposta diferenciadora, que conjuga tradição e inovação, envolvendo parceiros do domínio académico e empresarial, designadamente a Universidade de Coimbra, a Escola Superior Agrária de Coimbra, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, a ANCOSE – Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela e a Câmara Municipal de Poiares. Para o final do mês está prevista a realização do I Congresso de Caprinicultura (26 a 29 de Maio), a efectuar online, uma iniciativa que faz parte do plano de acção do Centro de Competências da Caprinicultura. João Miguel Henriques destaca que o grande objectivo deste centro passa por «reunir informação e conhecimento, directamente relacionado com a área da caprinicultura e disseminar esse conhecimento junto do sector produtivo e comercial». Trata-se, em síntese, de congregar esforços, a montante e a jusante, e imprimir uma nova dignidade e dimensão a um sector tradicional, que sempre representou uma mais-valia para a região e que pode ganhar uma importância acrescida, ajudando a criar valor e a desenvolver o território.
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90 anos com Vila Nova de Poiares Barros Pretos
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As outras joias feitas com o barro preto
BARROS PRETOS:I UMA TRADIÇÃOI QUE PERDURAI
No atelier de Fernando Correia os barros pretos de Olho Marinho ganham novas formas e destinos pela mão de Diana Marina, a filha do oleiro. Nutricionista, a jovem tem no ADN a herança de cinco gerações de oleiros e também vai construindo e criando as suas peças. Decorativas por excelência. Uma gama de sugestivas composições que ganham vida sob a forma de colares, onde o barro preto adquire uma outra vida. Todavia, apesar desta intervenção activa da filha, o oleiro não vê ali grande futuro. Nem o filho, farmacêutico de formação, parece, pelo menos para já, ter grande interesse pelas artes do barro. Fernando Correia continua a fazer rodar o barro e a dar forma a peças de cerâmica. Sobretudo utilitárias, todas elas com o necessário “Carimbo Alimentar”, uma garantia da qualidade do produto feito em Olho Marinho.
Fernando Correia tem o barro na alma. Representa a quarta geração de oleiros
2006 Fernando Correia renova a oficina do pai, investe milhares de euros e dá início a uma nova era na tradição de família. A loiça utilitária é a sua referência, mas também faz peças decorativas, 100% artesanais
“Não podia deixar isto morrer”, diz ernando Fernandes Correia re- Fernando Correia, presenta a quarta geração de olei- quando se viu confrontado ros de Olho Marinho. Uma acti- com a doença e, mais vidade que começou com o bisavô. tarde, com a morte do «Sempre foi a profissão da família e éramos pai, Silvino Correia
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praticamente obrigados a aprendê-la», refere. Quando o pai, Silvino Correia, morreu, em 2006, entendeu que não podia fechar a porta e «deixar isto acabar». Por isso investiu, de forma a dar continuidade ao ciclo de produção de barros pretos. Agora mais mecanizado e com outras condições. «Aos 8/9 anos, talvez até mais cedo, já
O oleiro investiu, criando uma nova oficina, com máquinas e condições que até então estavam muito longe de existir
ajudava a mudar a loiça, a ir buscar o barro à serra, a amassá-lo». Fernando e o irmão foram os únicos que apreenderam a arte. Mas este está afastado, «há mais de 20 anos». Fernando continua, mas depois de muitas “derivações”. «É um trabalho muito duro. No Inverno era impossível trabalhar. Se hoje as condições são rudimentares, há 50 anos era terrível», recorda. Por isso, assim que pôde, deu “o salto”. «Poiares sempre foi uma terra de comércio e com muita tradição de azeiteiros, que andavam por esse país fora», refere. Foi esse o seu primeiro trabalho. No Porto, na venda ambulante de azeite. «Percorria quilómetros com uma lata de azeite», diz. Esteve ali entre os 10 e os 14 anos. Seguiu--se uma passagem por Braga, Aveiro e Coimbra, sempre ligado ao comércio e ao ramo alimentar. Entre um e outro patrão, regressava a Olho Marinho
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Barros Pretos 90 anos com Vila Nova de Poiares
O oleiro faz os necessários ajustes ao forno, para garantir a cozedura das peças
e aos barros. Aos 18 anos estava no torrão natal, tirava a carta de condução e iniciava um novo percurso profissional. Também na área do comércio, mas ao serviço de um “prestaneiro” da Pampilhosa da Serra, estabelecido no Luso. Quatro anos depois, estabeleceu-se por conta própria. Viviase o ano de 1988 e Fernando Correia começava a vender electrodomésticos, móveis, têxteis, artigos para o lar. «Cheguei a ter seis carrinhas a vender a prestações. O comércio, na altura, não era como hoje», faz notar, destacando o grande sucesso que estes vendedores ambulantes dos mais diversos tipos de mercadoria, particularmente para o lar, tinham em todo o país. Um negócio que, refere, era dominado pelos “prestaneiros” de Pampilhosa da Serra e de Oleiros. O Grupo Singer foi o primeiro a fazer “sombra” ao negócio e, em 2000, a crise na América começou a ditar o «desequilíbrio dos mercados», sucedendo-se, em 2005, a «crise bancária». Um processo
complementado pela doença do pai, em 2004. «Foram dois anos complicados», recorda. «Ou me deixava arrastar com o meu negócio e ficava com o dinheiro na rua, ou reunia verbas para vir para aqui» e restaurava a olaria, conta. O pai faleceu em 2006 e Fernando Correia regressou a Olho Marinho nesse mesmo ano. «A oficina não era nada disto», diz, referindo-se aos 58 metros quadrados que ocupava. «Já tinha uma roda eléctrica, mas continuava a amassar o barro com as mãos e com os pés», adianta. Fernando Correia analisou a situação e pensou: «não vou desistir da loiça preta, mas não vou trabalhar como o meu pai». Por isso, «com dinheiro que não foi ganho na cerâmica, mas na venda ambulante», investiu na aquisição de máquinas, particularmente para a preparação das pastas. «Por muita qualidade que o nosso barro tenha, a matriz é produzir e vender loiça para utilizar na cozinha, por isso tem de ser de grande qualidade», sublinha. O que
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significa que «um tacho não pode partir». Um dado que depende, entre outros factores, da «purificação das pastas», alerta. O investimento saldou-se «em mais de uma centena de milhar de euros». E tudo começou a correr de feição. O oleiro, actualmente com 59 anos, elenca a tipologia de clientes, que vai desde as feiras semanais, «alguma restauração, directa ou indirectamente», armazenistas de produtos utilitários e clientes de excelência, que «consomem muito», como a Feira de São Mateus (Viseu), a Feira de Março (Aveiro) ou a Feira Popular (Coimbra). Mas, «os melhores clientes éramos nós mesmos. Estávamos a fazer 17 eventos», refere, apontando as feiras de artesanato e de turismo, desde a FIL, em Lisboa, a Vila do Conde, passando pela Feira Ibérica de Turismo, na Guarda. As feiras do queijo eram igualmente certames de excelência, o mesmo acontecendo com as feiras medievais. «Eventos de dimensão nacional e internacional onde esgotávamos muitos produtos», recorda. A pandemia veio complicar as “contas” de Fernando Correia. «Hoje é a primeira vez que estamos a cozer», confessa. Em 2020 efectuou a cozedura de loiça sete vezes, quando anteriormente «cozia 55 a 60 vezes por ano». «Estamos praticamente parados desde Março do ano passado. Fizemos a Feira do Queijo de Seia e mais nada», desabafa. «A minha sorte foi seguir o que diziam os antigos: “nunca se desencavar uma enxada para encavar outra”, refere. O que significa que nunca abandonou por completo o negócio de prestaneiro. «Graças à minha mulher – Cristina – ainda temos duas carrinhas na rua», anota. E vai continuar a vender, a prestações, tudo o que é preciso para o lar. Pelo menos enquanto a olaria não der novos sinais de recuperação.
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90 anos com Vila Nova de Poiares Barros Pretos
A “ilusão” do barro preto
Os tachos, com asas laterais e tampa, constituem uma das apostas da loiça utilitária
Na oficina de Fernando Correia multiplicam-se os caçoilos dos mais diversos tamanhos, ou não estivéssemos na Capital Universal da Chanfana. Mas também são muito os tachos – que se distinguem, pelas duas asas que apresentam – os tabuleiros – ovais e rectangulares, de diferentes tamanhos –, alguidares de arroz, cântaras, tradicionalmente usadas para o café ou para recolher aguardente ou mel, os assadores de chouriço, tigelas, telhas para servir à mesa, para já não falar na loiça decorativa, onde pontuam as bilhas de segredo, os jarrões, as fruteiras, entre muitas outras peças de referência. A cor das peças chama a atenção. Enquanto umas são pretas retintas, outras há que se apresentam com um tom claro. Afinal é ou não é barro preto? Pacientemente, o experimentado oleiro explica. «É barro preto, mas não é!». O mistério está, esclarece, dentro do forno. A temperatura atinge os 1.040/1.050 graus e «faz a fusão da pasta». O barro coze e, depois, é sujeito ao «abafamento». É uma alteração brusca da temperatura, em poucos minutos. «Corta-se o oxigénio» e é esse processo que faz a louça ficar preta. Um procedimento que exige que o forno esteja devidamente «selado», de molde a evitar fugas. «Se houver fugas, a loiça não fica preta», garante. Um processo que tem a duração de 24 a 30 horas, porque
o arrefecimento do forno tem de ser feito naturalmente, com a loiça no interior. Significa que, mesmo com a melhor das boas-vontades, «dificilmente se consegue cozer mais do que três vezes por semana», faz notar. Apesar da sua longa experiência, o oleiro diz que há peças que se estragam e lembra uma velha máxima de um mestre, José Ferreira, que trabalhava na Ceres: “Na cerâmica há coisas que não se explicam, acontecem!”, dizia, referindo-se a loiça que se parte ou estala, ou mesmo que se recusa a ganhar a cor preta… O forno, que antigamente era a lenha e é decisivo na arte do oleiro, é apenas a última das muitas voltas que a loiça dá. Uma parte é mecanizada, mas exige sempre a “mão” do oleiro. «Hoje é impensável ir buscar o barro à serra», confessa Fernando. A “pasta” é comprada e o processo exige, «pelo menos, duas qualidades». «Um barro forte, “gordo” e outro mais fraco, “magro”». Mas a esta mistura o oleiro junta uma pequena dose de barro que vai buscar à encosta da serra. «Para cumprir melhor o processo de asfixiação», refere. Pouca coisa. «Em 10 toneladas de barro, vou buscar 500 kg». Mantém, assim, a tradição, ao mesmo tempo que acrescenta «mais material ferroso». A máquina faz a mistura e garante que todo o oxigénio é retirado do barro. A “bola”
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fica pronta a ir para a “prensa” onde está instalado o molde. Pode ser de um caçoilo. A peça segue, depois, para a roda de oleiro, onde é acabada à mão. Sempre. «Nada do que aqui está é feito sem a mão do oleiro», garante. «Antigamente era tudo feito manualmente», o que já não acontece. «Hoje temos um produto tradicional, artesanal, mecanizado, com design», avança. «A mecanização representa 20% do trabalho que a peça exige», esclarece. Depois de receberem os primeiros retoques do oleiro, as peças vão secar. Primeiro à sombra. Depois, «quando já perderam a humidade», ao sol. E ainda regressam à roda de oleiro, onde Fernando ou Eduardo – um jovem ucraniano que desde há dois anos dá uma ajuda preciosa na oficina – procedem ao polimento das peças, individualmente, com uma pedra. «É isso que lhe dá o brilho», explica, enquanto vai afagando, carinhosamente, a peça de barro com um macio seixo polido. Mas também ajuda na impermeabilização da peça, sublinha, uma vez que contribui para reduzir o nível de porosidade. Só depois de cumprido este longo percurso a peça é enfornada e coze. Entre 24 a 30 horas, a mais de mil graus. «Sei fazer – e faço – peças 100% à mão», diz Fernando Correia, que aponta alguns exemplares, sobretudo peças de cariz decorativo, que são completamente feitas à mão. A bilha de segredo é um exemplo. «Mas não compensa». O preço de venda é de 35 euros, mas «o trabalho exigia, pelo menos, 70 euros», refere. Mais, «um artesão faz duas/três peças e não faz mais, porque cansa muito», afirma. A bilha de segredo «é a peça mais icónica dos barros pretos», que se diferencia de outras, designadamente de Molelos ou de Vila real, que se apresentam com o mesmo nome, mas com um design ligeiramente diferente. Conseguir beber água por esta bilha é um desafio. Um segredo para cada um desvendar de per si…
Apesar das máquinas ajudarem, apenas representam 20% do trabalho e todas as peças feitas exigem, em maior ou menor grau, a intervenção do oleiro
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Certificação Barros Pretos 90 anos com Vila Nova de Poiares
Diário de Coimbra
Peças decorativas de barro preto. Um trabalho artesanal exigente
CERTIFICAÇÃO DOS BARROS PRETOS 2021 Cada artesão tem o seu selo de qualidade. Uma etiqueta que garante a autenticidade das peças feitas em Olho Marinho e que pode imprimir mais dinâmica a esta arte tradicional
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epois de um longo e moroso processo, a certificação dos Barros Pretos de Olho Marinho é uma realidade. A etiquetagem está pronta. Fernando Correia é o primeiro artesão certificado. O processo de Judite
Pereira está a decorrer e há um terceiro oleiro em perspectiva de certificação. Lara Oliveira, vereadora responsável pela área da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares, acredita que esta certificação poderá representar uma rampa de
lançamento para uma arte ancestral que esteve quase a perder-se. A vereadora recorda o longo trabalho que foi necessário empreender para chegar a este patamar. «Exige muito trabalho de bastidores», afirma, destacando o «exigente
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Diário de Coimbra
90 anos com Vila Nova de Poiares Certificação Barros Pretos
caderno de encargos» que envolveu esta longa caminhada, que contou com um envolvimento significativo de várias entidades, designadamente da ADIP, onde funciona o Centro Difusor de Artesanato, e também da família Correia. Um processo já reconhecido em Diário da República, mas que faltava ultimar, depois do trabalho de investigação histórica e da análise e acompanhamento técnico, com as visitas às oficinas e o supervisionamento dos processos de modelagem e cozedura, esclarece. Aquestão da “etiquetagem”e da atribuição de um número de certificação, que acompanha as peças produzidas pelo oleiro, foi o último passo, um trabalho efectuado pela ADER, «a única empresa nacional que faz a certificação de produtos artesanais», que ficou concluído no final do mês passado. De acordo com Lara Oliveira, o primeiro oleiro a beneficiar desta certificação é Fernando Correia e o processo tendente a reconhecer a oleira Judite Pereira também já avançou. Há um terceiro oleiro tradicional de Olho Marinho que poderá integrar este processo de reconhecimento oficial, adianta.
Todavia, a partir do momento em que a estrutura está criada, qualquer oleiro de Olho Marinho pode avançar com o processo e requerer a respectiva certificação. Basta, obviamente, que cumpra os requisitos de produção artesanal e esteja legalmente constituído como empresa ou em nome individual. O município afigura-se como o interlocutor privilegiado para acompanhar o processo junto da empresa certificadora. Processo que, refere, implica uma avaliação, por parte de um júri. Para Lara Oliveira a certificação dos Barros Pretos de Olho Marinho representa, sobretudo, e para o consumidor, «a garantia de que se trata de um produto artesanal, de qualidade e com origem certificada». «O consumidor tem a certeza que está a comprar um produto original e não uma cópia ou uma peça de qualquer outra localidade», salienta. Destaca ainda o facto de a certificação abranger as peças para uso culinário, o que considera deveras importante, não apenas para o que é a tradição ancestral dos Barros Pretos de Olho Marinho, mas também para toda a gastronomia
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característica do concelho. «Não é só a chanfana que é feita nos caçoilos de barro preto, também os negalhos e os torresmos são ali confeccionados», faz notar. Relativamente aos oleiros, Lara Oliveira acredita que este selo de qualidade e o número de série que vai acompanhar todas as peças saídas das oficinas certificadas de Olho Marinho vai representar «uma valorização em termos comerciais, de mercado», uma vez que representa «um reconhecimento» de um produto tradicional, com centenas de anos de história e de uma indiscutível qualidade. Espera, também, que este «reconhecimento» externo possa ter um impacto positivo na «revitalização desta arte». Mais, que «seja um impulso para que todos os oleiros tenham vontade de se certificar» e, desta forma, dar um contributo importante para «não deixar morrer esta arte». Refira-se que a arte dos oleiros de Olho Marinho levou o município de Vila Nova de Poiares a aderir, na qualidade de fundador, à Associação Portuguesa de Vilas e Cidades Cerâmicas (AptCC), criada em 2018.
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Kartódromo 90 anos com Vila Nova de Poiares
UM PARAÍSOI DO KARTINGI Provas no Kartódromo de Poiares fizeram história, mas também há eventos de puro lazer
1997 Empresário e amante dos desportos motorizados, Manuel Amado foi o mentor do Kartódromo de Vila Nova de Poiares. Inaugurado a 7 de Setembro de 1997, é o único na região
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anuelAmado, natural de Coimbra, emigrado em França desde os anos 70, é o responsável pela existência, em Poiares, do único kartódromo da região.Apaixonado pelos desportos motorizados, quis construir um kartódromo. Apresentou a proposta a
Diário de Coimbra
vários municípios, mas foi em Poiares que ganhou asas, com o então presidente da Câmara, Jaime Soares, a agarrar o projecto com entusiasmo. Filipa Ferreira e Pedro Matos contam-nos a história deste espaço, inaugurado a 7 de Setembro de 1997, que representou um investimento a rondar os dois milhões de euros. Um casal unido pela paixão pelos karts e responsável pela gestão do kartódromo. «Os primeiros cinco anos foram os anos de glória do Kartódromo. Vinham aviões cheios de gente para passar o fim-de-semana na região e participar nas provas de karting organizadas pelo Kartódromo», recorda Filipa Ferreira, destacando o carácter pioneiro da estrutura de Poiares, designadamente com organização da prova das 300 milhas ou do Grand Prix de Poiares. Seguiu-se um “boom” de kartódromos pelo país. «O que foi bom para o desporto motorizado», faz notar Filipa, que assume a gestão e lidera o relacionamento com os clientes, enquanto Pedro é o responsável pela componente técnica e pelas oficinas. «Alguns projectos ficaram pelo caminho», refere. Poiares manteve-se. Manuel Amado continua a ser o sócio maioritário, mas delegou a gestão nos dois jovens. Filipa é educadora de infância. Pedro um ex-piloto de karting. Ela, natural de Coimbra, chegou ao karting num registo de terapia, numa altura exigente em termos profissionais. «Sentia medo a conduzir». Recuperou a confiança ao volante de um kart. Ganhou-lhe o gosto, apanhou-lhe o jeito e não parou. Pedro, oriundo da Lousã, com 15/16 anos começou a dar uma ajuda na oficina. E ficou. Em 2013 assumiu a gestão do espaço. Competição e lazer. São estas as duas propostas do Kartódromo de Poiares. A pista, sublinham, é «conhecida pelas suas características muito técnicas». Significa
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que «quem gosta de conduzir, identifica-se com este traçado». São 1.280 metros de comprimento e 10 de largura. O kartódromo possui um serviço de aluguer de karts. São 14 bólides que podem ser conduzidos por quem quiser, a partir dos 12 anos. Por 20 euros, os interessados podem fazer uma “corrida”durante 15 minutos. Mas o aluguer pode ser de 20, 30 minutos ou mais. Também é possível alugar a pista. «São clientes que trazem o seu próprio kart», explicam. Uma opção que cresceu bastante nos últimos dois anos. O casal também organiza os mais diversos tipos de eventos, desde despedidas de solteiro(a), a festas de aniversário, pessoais ou de empresas, e “track days”. Em todas o karting ocupa um lugar de destaque. Mas ninguém pense que é “atar e pôr ao fumeiro”. «Há sempre um briefing», explica Filipa, que garante um «explicação detalhada sobre o modo de funcionamento do kart». Os karts de aluguer, de 390 de cilindrada, «são muito seguros», esclarece. Mais, o staff de apoio garante uma apertada vigilância à pista e aos condutores.
Academia-Escola de karting Em 2016 Filipa Ferreira cria a Academia – Escola de Karting, com o objectivo de «fomentar o gosto pelo desporto motorizado, designadamente o karting», junto das crianças e jovens. Um segundo objectivo prende-se com a aprendizagem das «boas práticas do karting» e com todo um conjunto de conhecimentos que os alunos – entre os 4 e os 16 anos – podem adquirir, designadamente em termos teóricos, com a história do karting, mas também práticos, especialmente em termos mecânicos. «O karting é a melhor escola de condução que existe», diz quem sabe. Pedro Matos não podia estar mais de acordo. «Todas as pessoas que tiram a carta de condução
90 anos com Vila Nova de Poiares Kartódromo
deviam ter uma experiência de karting», defende, apontando a verdadeira lição que o karting representa para saber como travar, fazer-se à curva, evitar a “fuga” do carro… «Ganham-se outros reflexos e outro tipo de condução», sintetiza. O antigo piloto vai mais longe e destaca a melhoria de performances que os praticantes de karting registam, designadamente ao nível escolar. «O karting é exigente e disciplinador», esclarece. Filipa Ferreira fala com satisfação dos alunos que passaram pela escola e hoje disputam competições nacionais e mesmo internacionais. «Gostamos de ver que os nossos alunos vão longe». Mas também fica satisfeita com os outros, que continuam num registo de lazer. A escola tem-se revelado um sucesso, reunindo uma média de 30 alunos. «A mais nova tem 4 anos». Mas também há jovens com mais de 16 anos e adultos interessados em aprender. Ninguém é posto de lado. Todos recebem a assistência e formação necessárias. A formação é dada por patamares, que envolvem entre oito a 10 sessões, dependendo do desempenho. Filipa é a responsável pela formação. Quando os condutores passam para o nível de competição é Pedro quem assume as rédeas do processo.
Pedro Matos e Filipa Ferreira
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À espera da “normalidade” «Queremos continuar a inovar», garante o casal, a pensar no futuro. Pedro evoca uma máxima de Manuel Amado, sempre presente na gestão que se empenham em cumprir: “Continuar, tentar, conseguir e exercer”. Para já, o maior anseio é mesmo o «regresso à normalidade» e a possibilidade de continuar a reunir, no kartódromo de Poiares, clientes e amigos, que fazem «uma família única, fantástica». A nova temporada está condicionada pela pandemia, mas o calendário de provas já está gizado. O casal gostava de fazer regressar, em Julho, uma prova “mix” de karting e canoagem, para recordar as 300/500 milhas, que juntavam, num fim-de-semana, as duas modalidades, com uma descida do rio Mondego, além da adrenalina do kartódromo.
Kartódromo inclui bar e restaurante O kartódromo, localizado na Zona Industrial de Poiares, possui, desde a origem, um restaurante, Paddock, bem como um bar temático ligado ao karting, ambos alugados. Um espaço de lazer onde são servidas algumas das especialidades de referência da gastronomia da região e que permite uma visão de excelência sobre a pista de karting.
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Turismo 90 anos com Vila Nova de Poiares
Diário de Coimbra
DESCOBRIR A NATUREZA DAS MAIS DIVERSAS FORMAS 2020 Escalada e parapente são as mais recentes apostas, que se juntam aos percursos pedestres
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emos em Poiares alguns recantos naturais que nunca foram devidamente explorados e que estamos a tentar dinamizar». Palavras do presidente da Câmara Municipal, que assume o desejo de aproveitar estes recursos naturais para fins turísticos. Significa que, depois do turismo gastronómico, que indiscutivelmente é uma aposta ganha, o turismo de natureza começa a ganhar força. «Na vertente do património natural, temos o privilégio de ter alguns espaços de eleição e que permitem uma oferta diversificada», salienta João Miguel Henriques. As possibilidades são amplas e a oferta diferenciadora. A pé, a correr, de bicicleta. Mas também é possível voar e testar a destreza na escalada, tomar um banho refrescante, fazer pesca desportiva ou descer o rio em canoa. Entre a serra e os rios Mondego e Alva, o desporto e a vivência em estreito contacto com a natureza ga-
Concelho apresenta uma ampla e diversificada oferta em termos de espaços de alojamento local de qualidade
nham uma nova vida. «Poiares é um destino privilegiado para o turismo de natureza», considera o autarca, que destaca a «excelente oferta», em termos de alojamento local, que o concelho oferece. São três os percursos pedestres, devidamente homologados e sinalizados. O da Ribeira de Poiares começa na sede do concelho e termina em Louredo, junto ao rio Mondego. São 7,6 km, no trilho principal,
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Diário de Coimbra
90 anos com Vila Nova de Poiares Turismo
Natureza foi pródiga. Piscinas da Fraga são uma referência, que se junta à escalada, parapente, percursos pedestres e de BTT
que pode crescer para os 11,1 com variantes. O percurso da Serra do Carvalho apresenta-se com 9,5 km e une o Carvalho a Louredo, e o “Viver o Alva”, inserido na Grande Rota do Alva, começa na Ponte da Mucela e termina na Barragem das Fronhas, com um percurso de 7,9 km. Um convite à realização de passeios pedestres, mas também à utilização da bicicleta. O desafio para um voo de parapente faz-
-se junto ao Parque de Merendas da Serra do Alveite Grande/Fraga, onde desde Setembro do ano passado está instalada a pista. As ofertas mais radicais também contemplam os amantes da escalada. Nas proximidades do Complexo de Piscinas da Fraga, o município e a Federação Promotora de Montanhismo e Escalada empenharam-se em garantir uma resposta di-
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versa e que pode ser usada durante todo o ano, uma vez que os afloramentos rochosos de quartzito «têm uma orientação de leste». Um posicionamento que permite, no Inverno, a sua utilização nas manhãs soalheiras e, nos meses mais quentes de Verão, durante o período da tarde. São quatro os sectores. No “Miradouro”, além de uma vista deslumbrante sobre o vale, encontram-se cinco vias de escalada, com alturas entre os 8 e os 10 metros. No chamado “Penedo do Mouro”, são duas as vias existentes na gruta, com oito metros. No lado oposto do vale, no designado “Penedo da Desgraça”, está a maior concentração de «vias de qualidade e diversidade técnica», com alturas entre os 10 e os 18 metros. Também aqui se encontra a primeira via de escalada aberta na zona, em 2007, por José Miguel Pereira. Trata-se da via “Zé Cogumelo”, considerada uma via de autoprotecção, para a qual são necessários os respectivos equipamentos. Para a iniciação à escalada está a “Rua Sésamo”, que oferece aos praticantes mais novos 15 vias, com um nível de dificuldade menor à qual se aplica o conceito de “escalada em família”. Referência, ainda, para duas vias que permitem a iniciação à escalada “multi-largos”. As vias têm alturas entre os 5 e os 15 metros. Bem perto da zona dedicada à escalada está um local verdadeiramente paradisíaco. Falamos do Complexo da Fraga, um espaço que foi requalificado, na sequência dos incêndios de Outubro de 2017. São seis piscinas naturais, com amplos espaços de recreio e lazer, zona de merendas, locais com sombra, bar e esplanada. Acresce referir os bons acessos e parque de estacionamento, bem como toda a envolvente da paisagem, que convida a passar um dia diferente, em perfeita sintonia com a natureza.
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Acessibilidades 90 anos com Vila Nova de Poiares
Diário de Coimbra
Mural da autoria do artista Violant chama a atenção para a Nacional 2
ESTRADAS QUE SE CRUZAM NO DESENVOLVIMENTO DO CONCELHO 2021 Concurso para estudo de viabilidade de alternativa à Estrada da Beira foi lançado este ano. Uma esperança para desencravar o concelho
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história do concelho está directamente relacionada com as estradas. «Aqui sempre se cruzaram estradas muito importantes, desde o tempo dos romanos», refere João Miguel
Henriques, presidente da Câmara Municipal, que destaca a Estrada Nacional (EN) 17, comummente designada por Estrada da Beira. «Era a principal via de ligação a Vilar Formoso e à Europa», sublinha. E também a Nacional 2, a estrada mais longa do país, com 738 quilómetros, que liga Chaves a Faro. Duas vias de referência que se «cruzam no concelho, precisamente no Entroncamento de Poiares». «Curiosamente, a EN 17 foi perdendo im-
portância estratégica», refere, lembrando que uma das marcas características do concelho de Poiares é a excelente restauração, grande parte da qual cresceu à sombra da Estrada da Beira. Ainda hoje «alguns dos melhores restaurantes» estão à beira da EN17. «Essa marca ficou». Mas o certo é que, com a construção do IP3 e do IP5 (depois A25), a «Estrada da Beira perdeu a sua importância estratégica». Em contrapartida, a Nacional 2 , um pro-
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Diário de Coimbra
jecto que integrou o Plano Rodoviário Nacional de 1945, começou a ganhar um importância estratégia. Trata-se da única estrada em toda a Europa que atravessa longitudinalmente um país, percorrendo 35 concelhos, 11 rios e igual número de serras. Une Portugal de Norte a Sul, o que suscita algumas comparações com outras duas rotas, essas verdadeiramente gigantes, a Route 66, nos Estados Unidos, e a Ruta 40, na Argentina. O autarca refere a criação, em Novembro de 2016, da Associação de Municípios da Rota da Nacional 2, que Vila Nova de Poiares integra e que representa «um dos projectos turísticos mais importantes do país». Viajar na EN2, seja de carro, moto ou mesmo de bicicleta tornou-se uma verdadeira moda, que veio imprimir uma grande dinâmica turística aos concelhos por onde passa. De resto, essa importância estratégica ficou provada durante a pandemia, com as pessoas a procurarem locais alternativos e seguros e uma verdadeira multidão a percorrer a EN2. «No Verão passado quase fomos invadidos por milhares de pessoas que percorreram a Nacional 2». Um registo que, sublinha João Miguel Henriques, é deveras «importante para a economia local». Esta nova importância estratégica da Nacional 2 representa «algo que a comunidade local já percebeu» e, por isso, «estão a surgir projectos associados a esta via, para potenciar o seu valor». É o cruzamento de duas estradas importante no concelho. Em tempos e formas diferentes. Uma perdeu importância estratégica. Outra ganhou-a. Sinal disso mesmo é o facto de, bem no centro da vila, ao lado da monumental escadaria que envolve a Cruz de Cristo, um curioso mural “obrigar”quem passa a parar e a “prender” os olhos. Trata-se de uma criação do artista João Maurício, mas co-
90 anos com Vila Nova de Poiares Acessibilidades
nhecido por Violant. Uma obra de arte urbana, colocada num local estratégico, que pretende promover a Estrada Nacional 2 como produto turístico. Com cerca de 100 metros quadrados, o mural assinala o quilómetro 248 e representa mais um motivo de atracção para turistas e visitantes.
Alternativa à EN17 «A Estrada da Beira continua a mesma estrada há 100 anos», considera João Miguel Henriques. «À volta da EN 17 pode fazer-se alguma coisa. Na EN17 não há grande coisa a fazer», assume. «O terreno não oferece condições para fazer uma estrada de grande fluxo», alerta. Todavia, não deixa de referir o facto de ser «uma estrada linda», sobretudo o traçado que se desenvolve junto ao rio Ceira. A «alternativa está identificada e estamos a trabalhar nela». Trata-se de uma nova estrada, com ligação da A13 ao IP3 e ao IC6 pelo corredor a Sul do rio Mondego, refere o autarca. Este projecto, ou melhor, a intenção de
Pórtico da Nacional 2, à entrada da vila
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projecto, «está identificada no Plano Nacional de Investimentos», faz notar, apontando o facto de a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIM-RC) e a Infraestruturas de Portugal terem «lançado o concurso para a realização do estudo técnico que nos vai orientar para o traçado técnica e economicamente mais viável». João Miguel Henriques enfatiza o diálogo entre a CIM-RC e o Governo, que permitiu avançar com este estudo de viabilidade, essencial para o futuro projecto. Aligação ao IP 3, a Sul, não foi contemplada no Plano de Recuperação e Resiliência (PPR). Todavia, o Governo garantiu que esta obra, bem como a construção do troço do IC 6 entre Tábua e Folhadosa (Seia), igualmente prevista no PRR, e também excluída, vai avançar. Não com as verbas da anunciada “bazuca” financeira de Bruxelas, mas com financiamento do Orçamento de Estado ou com recurso a verbas do programa Portugal 2030. Mais um obstáculo para ultrapassar, que se espera tenha um final feliz.
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Cassiano Alves Bandeira 90 anos com Vila Nova de Poiares
Diário de Coimbra
CASSIANO ALVES BANDEIRA: EMPREENDEDOR E HOMEM DE VISÃO 1932-2020 Empresário teve a visão, a paixão e a resiliência para se afirmar e deixar uma marca para o futuro. Os filhos e os netos dão continuidade à sua obra. Natural de Góis, fez de Poiares a sua segunda casa
C
assiano Alves Bandeira foi durante décadas o homem do leme da Alves Bandeira. Primeiro em nome individual, depois com a primeira empresa e, mais tarde, um grupo. Sempre uma referência icónica no mundo dos combustíveis, dos lubrificantes e dos pneus. Uma marca que tem hoje uma dinâmica nacional e internacional, mas que começou praticamente do zero. Fruto do trabalho, do empenho, da visão, ambição e resiliência de um empreendedor nato, o empresário Cassiano Alves Bandeira. Nasceu no dia 24 de Setembro de 1932 na localidade de Esporão, concelho de Góis. O pai tinha ali um pequeno posto de abastecimento de combustíveis, uma loja de venda de produtos diversos, mas para Cassiano, o mais velho de quatro irmãos, este berço era demasiado estreito para a sua visão. Queria descobrir o mundo e, com 15 anos, partiu rumo a Lisboa. «Começou como ajudante de balcão», no sector da restauração, recorda o filho mais novo, Pedro Bandeira, administrador do Grupo Alves Bandeira. Passou por restaurantes de renome, como as Berlengas e a Brilhante e foi conquistando patrões e clientes com a sua eficiência, simpatia e capacidade de trabalho. «Com 22 anos era o gerente do afamado Solmar, um dos melhores restaurantes/cervejarias da Península Ibérica», sublinha, com notório orgulho. Tudo parecia indicar que o futuro de
Cassiano Alves Bandeira foi um verdadeiro “self made man”
Cassiano Alves Bandeira estava traçado no mundo da hotelaria, ligado ao grupo empresarial de origem galega. Mas o destino não quis que assim fosse, com um acidente a implicar uma verdadeira reviravolta na sua vida. Foi, recorda Pedro Bandeira, a «morte de um grande amigo, vítima de electrocussão». Uma situação que o «marcou muito» e ditou o seu regresso ao torrão natal. E foi então que conheceu Maria Adelaide Neves, com quem casou e teve quatro filhos, Rosa, Rui, Pedro e Isabel. «Teve a ambição de fazer o seu próprio
posto de abastecimento, quis fazer o seu percurso, sem ser à sombra da família», refere o filho mais novo, companheiro de longas jornadas. «Ia com o meu pai para todo o lado», recorda, lembrando que, muitas vezes, altas horas da noite, já cochilava sobre a mesa, depois do jantar, onde o pai continuava a fechar negócios. «Tu é que quiseste vir», lembrava-o. E queria ir sempre. Só havia um destino proibido: Vila Ficaia. «Sempre que dizia que ia para Vila Ficaia, já sabia que não o podia acompanhar», conta Pedro Bandeira, confessando que só
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90 anos com Vila Nova de Poiares Cassiano Alves Bandeira
«20 anos depois, como piloto da Mitsubishi, descobriu que havia uma Vila Ficaia ali para os lados da Sertã». «Recorreu à ajuda de amigos» para erguer o primeiro posto de abastecimento e estação de serviço, em 1958. Um primeiro passo de um longo caminho, que começou em Góis. «Sempre teve a ambição de fazer mais postos de abastecimento», refere o filho. Pedro recorda que até à 4.ª classe frequentou quatro escolas em outras tantas localidades, onde a família se instalava para acompanhar um novo projecto. Depois de Góis foi a Marinha das Ondas (Figueira da Foz), seguindo-se Tentúgal (Montemor-o-Velho) e Ceira (Coimbra). Ainda em Góis, Cassiano Alves Bandeira adquiriu o seu primeiro camião, que «ele próprio conduzia, para fazer as folgas do motorista». Mas, «muitas vezes iam os dois», pois as estradas eram «muito difíceis». Com a construção do quarto posto, em Ceira, o número de camiões eleva-se para quatro. Rui, o filho mais velho, com 17 anos, depois de concluir o liceu, desiste de estudar. «Queria trabalhar com o pai». E assim se fez. Mais novo, Pedro continuava a acompanhar o pai para todo o lado e, sobretudo, a “infiltrar-se”nos camiões. Com um sorriso gaiato, conta-nos que chegava a casa, em Ceira, vindo da escola, e escondia-se por detrás da cortina, na cabine de um camião. O motorista arrancava e só em plena viagem Pedro se fazia anunciar. Uma dor de cabeça para o motorista, mas sobretudo para o empresário, pois a viagem terminava às tantas. Sem emenda, Pedro acabou por se ver internado num colégio em Tomar. O único local que Cassiano Alves Bandeira descobriu longe da rota dos camiões da Alves Bandeira, que circulavam mais no Centro e Norte do país. Ficavam, assim, inviabilizadas as possibilidade de fuga e Pedro cumpriu.
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Empresário começou com um posto de combustíveis e foi sempre crescendo
Quinta de Vale de Vaz, em Poiares, foi o local estratégico onde a Alves Bandeira instalou durante largo tempo toda a base logística e registou um amplo crescimento
Instalação em Poiares Com os escritórios no posto de Ceira e já com quatro camiões e uma estrutura a começar a “pesar”, o empresário tem necessidade de procurar um terreno capaz, que pudesse ser a âncora dos negócios em crescimento. «Aparece a quinta de Vale de Vaz, em Poiares», pertencente a um brasileiro. A compra fez-se e começou a
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Cassiano Alves Bandeira 90 anos com Vila Nova de Poiares
O mesmo espírito de sempre
Hoje o Grupo Alves Bandeira tem mais de 850 colaboradores e 160 postos de abastecimento, de Norte a Sul do país, com venda de combustível a retalho e a granel. Cresceu no mundo dos pneus, lubrificantes, baterias e peças auto, com marcas próprias e representação de outras e diversificou a sua actividade para outras áreas, designadamente ao nível da construção de vias rodoviárias, de infraestruturas hidráulicas e de construção civil e também no sector dos seguros. Com capital 100% nacional, é hoje um dos maiores grupos económicos de Portugal. A sede mantém-se em Poiares e o lema continua a ser o mesmo: “Um amigo no seu caminho”. Também à letra continua a ser levado o conselho de Cassiano Alves Bandeira: “Não somos nada sem os funcionários. Fui empregado até aos 26 anos , sei o que é ser empregado e sei o que é ser patrão. Só juntos, patrão e funcionários, conseguimos continuar este trajecto de sucesso”.
segunda fase da grande odisseia. A empresa muda de nome, passando de Cassiano Alves Bandeira para Alves Bandeira, C.ª, Lda., explica. Alteração que se prende com o facto de, nesta transferência para Poiares, pai e filho mais velho já trabalharem juntos. Sobretudo, a empresa cresce. Dos combustíveis, pneus e lubrificantes avança para as oficinas, primeiro de manutenção, depois para serviço externo, e para o mundo dos automóveis. De quatro, os camiões crescem para 40 e a rede de postos de abastecimento avança em crescendo. «Chegámos a ter 90 postos», refere Pedro Bandeira. «Crescemos de tal forma em Poiares que foi necessário passar os escritórios para Coimbra», instalados na Avenida Emídio Navarro, onde funcionavam os serviços administrativos, financeiros e outros de suporte. De resto, toda
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a parte operacional, logística dos camiões, armazéns, apoio aos postos de abastecimento, equipas de manutenção e oficinas se manteve em Poiares. Em Poiares manteve-se, também e sempre, a sede daAlves Bandeira, cumprindo a vontade do seu fundador. Durante mais de 30 anos, Cassiano Alves Bandeira todos os dias, pontualmente, começava o seu dia de trabalho às 7h30, nos escritórios, em Vale de Vaz. Pedro Bandeira recorda que bastas vezes se deslocava da Zona Industrial da Mealhada – onde a empresa se instalou, em 2012, tendo em conta as melhores acessibilidades e a integração de mais negócios e empresas – a Poiares para almoçar com o pai. Sempre às 12h30. «Às 13h50 estava a pedir a conta, pois tinha de estar de regresso ao escritório às 14h00 em ponto».
Cassiano Alves Bandeira e João Miguel Henriques
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90 anos com Vila Nova de Poiares Cassiando Alves Bandeira
Histórias para recordar
No escritório, rodeado pela colecção de porta-chaves que tanto gostava de mostrar
Pedro Bandeira recorda algumas das “estórias”que marcaram a vida deste visionário. Um homem tão grande quanto humilde, dotado de uma larga visão, mas também de uma solidariedade extraordinária. «Via em cada cliente um amigo, que apoiava numa base de confiança». Muitas vezes rumava, de bicicleta, primeiro, e motorizada, depois, de Góis rumo à Pampilhosa da Serra, com dois pneus pendurados na mota e outros dois enfiados no corpo. «Contava que chegou a ir assim para Castelo Branco». «Vendíamos tudo, bicicletas, motorizadas, motosserras, peças e acessórios, até caixões», recorda, lembrando o acidente que a mãe sofreu, com uma carrinha, pouco tempo depois de ter tirado a carta, quando Cassiano Alves Bandeira a mandou fazer a entrega de um caixão para os lados de Arganil. «Conseguiu angariar uma ambulância para os Bombeiros de Góis», faz notar, destacando a grande paixão do pai pela corporação, da qual foi comandante e presidente da direcção. Mas também um pequeno in-
cidente… «Vinha na ambulância com uma grávida para Coimbra. A porta abriu-se e perderam a grávida. “Vai lá ver. Acho que não temos a grávida”, dizia para o colega. E efectivamente não tinham a senhora. Estava uns metros atrás… Mas correu tudo bem, foi uma história com final feliz». Uma ligação aos Bombeiros que o GrupoAlves Bandeira (constituído em 2014, resultante da fusão das empresas da família Bandeira com outras duas organizações) tem mantido, designadamente com uma grande campanha, desencadeada emAbril de 2017, que resultou num donativo de «mais de 150 mil euros para dezenas de corporações». Recorda ainda, em criança, que todos os dias, o pai fazia a “ronda” pelos postos de abastecimento – Góis, Marinha das Ondas, Tentúgal e Ceira – «para recolher o dinheiro». Pedro não se lembra de incidentes, mas sim das «formas criativas» que, em cada posto, existiam para guardar o dinheiro, evitando que estivesse ali, à mão, na caixa. O mesmo acontecia com a recolha, efec-
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tuada pelo empresário. «Tinha sempre forma de esconder o dinheiro», diz, fosse «na forra da caixa de velocidades ou no pneu suplente», exemplifica. Amante do coleccionismo, o empresário reunia um bom stock de porta-chaves, isqueiros e moedas. «Gostava muito de mostrar», o que significava o redobrar das ofertas. «Tinha alguns muito interessantes», recorda Pedro Bandeira, que também reconhece a paixão do pai pelo desporto automóvel. «Fez três ou quatro ralis regionais, piratas, e levava-me a ver todos os ralis. Era fã da Volta da Portugal e do Rali de Portugal». Tinha um ídolo neste desporto, o seu primo, Américo Nunes, que corria num Porsche 911 S e a quem, na zona Centro, dava todo o apoio, quando participava em provas. O filho herdou-lhe esta faceta, tendo cumprido um vasto percurso entre o karting, o rali e o todo-o-terreno. Grande fã do café Delta, Cassiano Alves Bandeira recusava-se a tomar outro café. «Vínhamos embora sem tomar café se não fosse Delta», refere, adiantando que alguns restaurantes, depois da experiência, mudavam e fornecedor. «A Delta é nosso fornecedor há 35/40 anos», mas os fundadores das duas empresas, CassianoAlves Bandeira e Rui Nabeiro, não se conheciam, o que acabou por acontecer em Novembro de 2017, num almoço que juntou as duas famílias. «Foi comovente ver estes dois grandes senhores juntos, a contarem as suas histórias de vida» refere. Cassiano Alves Bandeira foi agraciado em 2019 pelos municípios de Poiares e de Góis com a Medalha de Honra. Faleceu no dia 28 de Fevereiro de 2020, com 87 anos. As cerimónias fúnebres decorreram no dia seguinte, com dois momentos distintos. Primeiro em Poiares, a terra de adopção, onde centrou a base do império. Depois em Góis, o torrão natal do empresário.
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Jaime Soares 90 anos com Vila Nova de Poiares
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Jaime Soares presidiu durante trinta e nove anos e meio à Câmara de Poiares
JAIME SOARES: O DINOSSAURO DOS AUTARCAS 1974 Eleito para a primeira comissão administrativa que liderou a Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares, Jaime Marta Soares manteve-se na presidência da autarquia durante quase quatro décadas
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rreverente, cáustico, polémico. Homem de causas e de paixões. A política está-lhe na “massa do sangue”, mas os bombeiros serão, talvez, a sua paixão maior.
Falamos de Jaime Marta Soares, o dinossauro dos dinossauros do poder autárquico. O homem que mais tempo esteve à frente de uma Câmara Municipal. «Trinta e nove
anos e meio», precisa. «Entrei no dia 6 de Maio de 1974 – o dia em que o PSD foi constituído – e saí no dia 13 de Outubro de 2013», acrescenta, meticuloso. Uma vida dedicada à política. «Pode não ser essa a avaliação das pessoas, mas tenho um grande sentimento de dever cumprido. Ser presidente da Câmara não é ter um poder discricionário, mas sentir, todos os dias, que se é o gestor a prazo da coisa pública e só se pode desenvolver um projecto se se tiver o sufrágio diário da população». Uma lição de política que, oito anos depois de deixar a Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares, Jaime Soares nos dá. «Sempre senti que estava a servir uma causa e procurei ir ao encontro das necessidades da população, do bem-
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-estar colectivo», afirma. Hoje com 78 anos, Jaime Soares acredita que a «mensagem passou», pois «ao longo de quase 40 anos as pessoas tiveram a gentileza de acreditar que, em conjunto, conseguiríamos». «O que construímos está à vista de todos. Criámos condições de vida. Soubemos ler a mensagem que o 25 de Abril nos trouxe», observa. Jaime Soares tinha 30 anos quando foi eleito para a primeira comissão administrativa que liderou a Câmara. Sublinha que, em Poiares, «a comissão administrativa foi eleita, não foi nomeada». Recorda a verdadeira multidão, «mais de milhar e meio de pessoas», que enchia por completo o Jardim Municipal e que, de braço no ar, elegeu a lista de 13 cidadãos, apoiados pelos vários sectores da sociedade. «Foi uma decisão democrática», «tomada espontaneamente». Jaime Soares foi um dos primeiros a ser eleito, em representação dos comerciantes e da freguesia. A lista dos 13 nomes foi encaminhada para o Governo Civil, que «informou que em Poiares eram só três elementos». «Por voto secreto», refere, foram
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Jaime Marta Soares
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eleitos o médico Ilídio Manteigas e Moura, Fernando Inácio Ferreira e Jaime Marta Soares. «Estivemos os três, até 1976». Dois anos e meio depois realizam-se as primeiras eleições autárquicas. Um processo que viveu até 2013. Primeiro com um intervalo de três anos, depois de quatro. Sempre a disputar e a ganhar a presidência da autarquia. «Sempre senti uma grande alegria e felicidade por merecer a confiança dos poiarenses», assume. «Juntos, fomos construindo uma terra, um património de todos os poiarenses. Eu apenas fui um gestor a prazo», diz ainda. E confessa que, nestes quase 40 anos de liderança autárquica, o presidente da Câmara teve como «grande conselheiro o bombeiro». Dois “amores” que se cruzaram na vida de Jaime Soares. «Um ajudou muito o outro». «Como presidente de Câmara tinha de conversar com o comandante dos Bombeiros», refere. E a opinião deste, decerto teve quase sempre o maior peso nos dois pratos da balança. Destes quase 40 anos de uma vida política intensa tem a mágoa, a desilusão de ver «a
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Jaime Soares 90 anos com Vila Nova de Poiares
grande conquista do 25 de Abril, o poder local - «este valor maravilhoso, o poder do povo, que decide quem quer ou não quer para governar o seu espaço municipal» - ser «posto em causa pelo poder central». «O poder central não respeita o poder local como um parceiro», afirma. Crítico, aponta a «prepotência» dos «vários governos e da Assembleia da República», que assumem uma posição «autista» relativamente à realidade “a la longue” do país. O surgimento da Associação Nacional de Municípios – da qual foi um dos fundadores e onde esteve 30 anos como vice-presidente - representou «uma salvaguarda e uma retaguarda avançada dos municípios para discutir, olhos nos olhos, com o poder central, centralizador e manipulador».
Jaime Soares foi agraciado pela Presidência da República com o título de comendador e é juiz da Confraria da Chanfana desde a sua fundação O antigo autarca recorda a sua chegada à presidência. «Poiares tinha 22 casas à volta da igreja. Havia 200/300 contadores de água. Não havia indústria, não havia emprego». «Quando saí da Câmara, Poiares era um dos municípios mais desenvolvidos da região. Isso deve-se à persistência da raça poiarense», afirma. Uma expressão que, reconhece, lhe valeu muitas críticas. Mas que não é mais do que a expressão da resiliência de um povo empreendedor, que «não vira a cara à luta».
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Militância política de longa data A liderança do município foi o corolário de um longo processo de envolvimento político, que também o levou à Assembleia da República e permitiu um relacionamento de grande proximidade com nomes grandes da política nacional, como Fernando Valle, Manuel Alegre, António Portugal, António Arnaut, Fausto Correia, entre muitos outros. Mas já antes do 25 de Abril Jaime Soares mostrava o seu espírito inquieto, revolucionário. «Aos 16/17 anos envolvi-me na oposição», refere. Em 1967 andou de “seca em Meca”, entre a Câmara e o Governo Civil, para obter a credencial necessária para ser “fiscal às urnas”. Não a conseguiu, mas manteve-se à porta da secção de voto. «Sabia
que não ganhava as eleições, mas consegui evitar que se pusessem votos ilegais nas urnas», conta. Em 1969 integrou o MDP/CDE – Movimento Democrático Português – Comissão Democrática Eleitoral . «Não apareci no 25 de Abril como um “abrileiro”», destaca. Lembra que desde os tempos da juventude lia o Avante, jornal que era entregue na casa dos pais. «Não éramos comunistas, mas éramos defensores da liberdade e da democracia», diz. «Orgulhoso» do seu passado, Jaime Soares mantém-se igual a si próprio. Autêntico e genuíno. «Penitencio-me e peço desculpa aos que desiludi», diz. «Do que fiz mal, que relevem a minha falta, não o fiz com intenção», remata.
Recordações do Sporting Outra reconhecida grande paixão de Jaime Soares é, indiscutivelmente, o Sporting. Sócio há mais de meio século, foi presidente da assembleia geral entre 2013 e 2018 . «Talvez tenha sido a primeira vez que alguém fora de Lisboa tenha presidido à assembleia geral», admite. Foram cinco anos. Os quatro primeiros «muito bons». Depois, no início do segundo mandado da direcção presidida por Bruno de Carvalho, a coisa não correu de feição. «Tive que tomar uma atitude muito dura», recorda. Tratou-se, sublinha, de fazer valer o princípio que tinha assumido, ou seja, que «só estaria a frente da assembleia geral do Sporting para que os sócios tivessem voz». E a voz dos sócios quis fazer-se ouvir, através de uma petição com 1.800 assinaturas. «Fizeram-me passar por um dos
momentos mais difíceis da minha vida», reconhece, lembrando as várias assembleias gerais «para destituição da direcção, que se desviou dos seus princípios». Foram «momentos dramáticos, com ameaças à minha segurança pessoal», assegura. Recorda uma assembleia geral que começou às 9h00 da manhã e se prolongou até à 1h00 da madrugada. «Não arrepiei caminho e levei até ao fim a destituição da direcção. Quase 72% dos sócios entendia que era esse o caminho e destituíram a direcção, o que permitiu fazer, depois, uma assembleia geral eleitoral das mais serenas e seguras, com a assumpção de uma grande liberdade democrática». Recorda a «alegria de fazer a passagem de testemunho com os valores do respeito associativo a ficarem vincados».
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90 anos com Vila Nova de Poiares Jaime Soares
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A paixão pelos bombeiros O grande amor de Jaime Soares está nos bombeiros. A Associação, constituída em 1954, ficou em “banho-maria” e só oito anos depois começou e dar sinais de vida. Recorda o major Ferreira Matos como a referência para a criação dos bombeiros. Vivia-se o ano de 1962. «Inscrevi-me», lembra e, juntamente com Eugénio André, conhecido por Né, acompanhou de perto a construção daquela casa. «Fui uma espécie de secretário». A carreira de bombeiro começou pela base, como aspirante. Antes de 1974 era ajudante de comando e durante cerca de 40 anos assumiu o comando dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Poiares. Em 1972, recorda, «acompanhei os políticos, como comandante», a Lisboa, a uma reunião no Ministério daAdministração Interna. Eram as diligências para a construção do quartel, obra que começou um ano depois, sendo inaugurada em 1978. Na altura o comandante já era o presidente da Câmara Municipal. Deixou o comando aos 67 anos, por limite de idade. «Só quem vive é que sente este espírito de missão», garante. Durante 31 anos foi presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Coimbra e preside, desde 2011, à Liga dos Bombeiros Portu-
Jaime Soares lidera a Liga desde 2011
gueses. «Uma experiência e uma luta de que me orgulho muito». «Hoje as coisas são muito diferentes, não necessariamente para melhor», assume. Contundente, afirma que «o Estado não tem olhado para os bombeiros à dimensão do que eles representam para o bem-estar da sociedade». Portugal, sublinha, «é um caso único no mundo», onde a Protecção
Civil assenta nos bombeiros. «Um quartel de bombeiros em Portugal responde a todas as missões para a segurança das populações», afirma, esclarecendo que nos outros países essa tarefa está «distribuída por vários grupos de interesse, que não são minimamente comparáveis aos nossos bombeiros». «O Estado não compreende isso e caminha para a destruição de um dos mais nobres valores da sociedade portuguesa», critica, apontando o «autismo estúpido» e a «total irresponsabilidade» do Governo e da Assembleia da República. «Saio desiludido», confessa, assumindo que não se vai recandidatar à presidência da Liga. «Entendo que já não tenho nada a ver com este caminho de reformas que não levam à melhoria de uma estrutura que serve bem os portugueses». Para quem tem dúvidas, refere que «98% do socorro é efectuado pelos bombeiros, 95% dos incêndios florestais são combatidos pelos bombeiros, 95% dos transportes de doentes não urgentes são assegurados pelos bombeiros e 95% da actividade do INEM é feita pelos bombeiros. «Quem efectivamente destrói um patamar destes, está a destruir o país», afirma, sem esconder o ressentimento.
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Phil Mendrix 90 anos com Vila Nova de Poiares
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PHIL MENDRIX: A MEMÓRIA DO VIRTUOSISMO DA GUITARRA
Phil Mendrix foi cabeça de cartaz da Poiartes’17. A título póstumo foi agraciado com a Mealhada de Ouro do concelho
1947-2018 Filipe Mendes, um nome grande da música portuguesa, manteve uma ligação muito forte a Vila Nova de Poiares, que o município reconheceu e consagrou
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m palco, pegava na guitarra e não existia mais nada no mundo». Filipe Mendes era assim. Por isso, na década de 60 do século passado ficou conhecido como o Jimi Hendrix português. Um nome que, mais tarde, já na década de 90, terá inspirado o nome artístico que acabou por adaptar, Phil Mendrix. Natural de Lisboa, onde nasceu a 10 de
Novembro de 1947, Filipe Alberto do Paço d’Oliveira Mendes, Phil Mendrix, viveu durante alguns anos na aldeia de Venda Nova, no concelho de Poiares. Fez ali amigos e manteve, ao longo dos anos, uma ligação muito próxima com estas raízes, deslocando-se com frequência a Vila Nova. Todavia, se no palco, com a sua guitarra, era um verdadeiro furação, na vida do dia-a-dia era «uma pessoa muito discreta». Por isso, mesmo em Vila Nova só quem o conhecia sabia que estava ali o grande músico. Para os restantes não era mais do que um ilustre desconhecido. Um músico com um extraordinário talento que o município agraciou, em 2019, a título
póstumo, com a entrega da Medalha de Ouro de Mérito Municipal na área da Cultura. Um galardão que foi recebido pela esposa, Lurdes Mendes, no dia 13 de Janeiro, nas comemorações do feriado municipal. «Era presença assídua no nosso concelho, onde nos brindava regularmente com o seu virtuosismo na guitarra, com concertos únicos», destaca o documento, lido na cerimónia, que recorda a presença de Phil Mendrix na edição de 2017 da Poiartes, onde foi cabeça de cartaz. Nesse mesmo ano, refere, foi distinguido pela Sociedade Portuguesa de Autores com a Medalha de Honra. Considerado um «génio da música», «um
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dos melhores guitarristas portugueses de sempre», Filipe Mendes começou a estudar piano aos 7 anos e em 1971 aperfeiçoou os conhecimentos de guitarra eléctrica num curso na Chicago School of Music. Em 1964 estreou-se como profissional na rádio e televisão. Foi líder dos Chocalhais, grupo que formou, aos 16 anos, com Vítor Mamede, José Machado, Mário Piçarra e Fernando, uma formação considerada pioneira do chamado rock psicadélico português. Fortemente influenciada pela música dos Cream e de Jimi Hendrix, a banda gravou o seu primeiro disco em 1967. Quatro anos depois, lançava o seu único single, com uma das mais icónicas músicas que têm a assinatura de Phil Mendrix, “Barradela”. Na sua longa carreira, Filipe Mendes passou pelos Roxigénio, Ena Pá 2000, Irmãos Catita, entre muitos outros projectos. Considerado uma referência, «inspirou gerações de guitarristas», situando-se ao nível dos «grandes nomes internacionais» e «granjeou, ao longo da sua carreira, um enorme reconhecimento e admiração entre os seus pa-
90 anos com Vila Nova de Poiares Phil Mendrix
res». Soube conjugar o «seu enorme talento» com «o lado inovador na forma de abordar a guitarra», daí resultando um «estilo muito próprio» que o transformou num «verdadeiro militante da causa rock em Portugal». Filipe Mendes morreu no dia 13 de Agosto de 2018, vítima de doença prolongada. Tinha 70 anos. «O desaparecimento de Filipe Alberto do Paço d’Oliveira Mendes, que nos deixa um enorme legado cultural na área da música, representa uma enorme perda para o concelho», refere a Câmara de Poiares, que entendeu que «não poderia deixar de publicamente reconhecer o seu valor», com a atribuição da Medalha Municipal de Mérito na Área da Cultura.
Memorial ao músico no Centro Cultural Mas a homenagem e o reconhecimento de Vila Nova de Poiares não se ficou por aqui. No ano seguinte, em Novembro de 2020, o município fez questão de, no dia 10, a data do seu aniversário, voltar a lembrar o músico, dedicando-lhe um sim-
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bólico memorial. Em causa está um mosaico, em forma de guitarra eléctrica, acompanhado de uma placa alusiva ao músico, inaugurado na entrada do Centro Cultural de Poiares. Uma cerimónia onde a esposa, Lurdes Mendes, marcou presença e agradeceu, mais uma vez, a sensibilidade do município e o seu gesto de gratidão. «O Filipe tinha Poiares no coração», afirmou na ocasião. «Um grande bem-haja. Ele merecia isto», disse ainda. Além do memorial, a homenagem ao músico com raízes em Vila Nova, onde ainda tem familiares, incluiu, nesse mesmo dia, no auditório do Centro Cultural, a realização do concerto “Somos Mendrix”, que teve como convidados especiais Manuel João Vieira, Chica Vinagre e Fast Edie Nelson, transmitido nas plataformas digitais, devido à pandemia. Foi, igualmente, apresentado um vídeo com testemunhos de amigos, familiares e músicos. Na véspera, também no auditório do Centro Cultural, foi apresentado um documentário sobre a vida do músico, com a assinatura de Paulo Abreu.
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Associação Empresarial 90 anos com Vila Nova de Poiares
ATRAIR INVESTIMENTO E FAZER CRESCER POIARES 2014 No dia 31 de Maio de 2014 assistia-se à constituição da Associação Empresarial de Poiares. Um organismo empenhado em captar investimento e levar longe o nome do concelho
Paulo Carvalho, presidente da Associação Empresarial
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oi a «necessidade de ter uma voz» que levou os empresários do concelho a juntarem-se. Uma união que teve os seus primeiros passos nos anos 80, com a criação do Parque Empresarial, que agregou, num único espaço, o tecido empresarial outrora disperso. Fisicamente mais próximos, faltava um traço de união. A associação começou a tomar forma em 2012 e, a 31 de Maio de 2014, surge oficialmente a Associação Em-
presarial de Poiares (AEDP). O objectivo é só um: «atrair mais investimentos, mais negócios para o concelho». Paulo Carvalho é o presidente da direcção. A cumprir o segundo mandato, este engenheiro civil fala com paixão de Poiares e do espírito empreendedor que desde sempre definiu as suas gentes. Recorda um concelho marcadamente rural, que assumiu as rédeas do negócio do azeite a nível nacional. Empresários que saíram daqui para o mundo,
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sem «nunca esquecerem a sua terra» e «trazendo algum saber» e «motivando outros empreendedores». «Um concelho pequeno, mas com gente de garra», que hoje, afirma com orgulho, «tem a terceira zona industrial da região». «Os empresários de Poiares são uns autênticos heróis», considera, referindo as dificuldades, comparativamente com outros concelhos, em termos de acessibilidades. «Em cada tonelada têm de somar 15 cêntimos para serem competitivos e nem assim desistem», sublinha, destacando exemplos de unidades fabris, «únicas na Europa», como é o caso da Ansell, ou que usa «tecnologia de ponta», como a Nutriva. Um espírito dinâmico que tem encontrado uma boa retaguarda na Câmara Municipal. «Há uma parceria muito grande e saudável com a Câmara e isso tem ajudado à fixação de empresários», afirma. «O empresário gosta pouco de burocracia. Gosta de querer e fazer e em Poiares consegue-se isso num tempo recorde. Poiares sempre respeitou esta forma de pensar. Toda a burocracia tem de ser cumprida, mas de forma célere», destaca, fazendo notar que é «a velocidade» que traz «viabilidade» e o «desenvolvimento da região». «A grande maioria dos projectos que entram na Câmara Municipal de Poiares demoram duas/três semanas para obterem aprovação», afirma, com satisfação, apontando o exemplo positivo. «É a única câmara da CIM-RC que funciona assim». Os resultados estão à vista. Poiares tem a «terceira maior zona industrial da região» e continua a captar investidores. «Um empresário validou um projecto, arrancou com a obra e já estar a pensar em mais dois projectos», exemplifica. Com entusiasmo, o empresário fala num projecto que se poderá vir a instalar no concelho. Trata-se de «um sistema inovador,
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90 anos com Vila Nova de Poiares Associação Empresarial
que produz energia 24 sobre 24 horas, 365 dias por ano». Uma referência em termos tecnológicos que, a concretizar-se, vai tornar Portugal o segundo país europeu e o terceiro a nível mundial com este tipo de energia, que tem o ar como combustível. O empresário faz notar que «a taxa de desemprego é zero em Poiares». «Os desempregados que temos são “profissionais”», diz, com humor, destacando a crescente necessidade de «ir buscar mão-de-obra aos concelhos vizinhos». Profundo conhecedor do tecido empresarial, o presidente alerta para a necessidade de «investir em cursos médios». «Digo isso há 20 anos», atesta, salientando a falta que
Paulo Carvalho foi o responsável, nos anos 80 do século passado pela criação do primeiro gabinete de projectos de arquitectura e engenharia no concelho faz uma EscolaAvelar Brotero. «As empresas precisam desses cursos médios». Não se trata, assegura, de «impedir um aluno de crescer no saber», mas sim de garantir que, quando termina a sua formação, ao nível do 12.º ano, tem lugar no mercado de trabalho. «Depois pode continuar a estudar», defende, apontando o seu exemplo. «É duro, sim, mas também se consegue aproveitar melhor», garante. «Queremos o melhor para os nossos filhos, mas não podemos ter um escritório e um computador para toda a gente», diz Paulo Carvalho, defendendo a necessidade urgente de «repensar todo o paradigma da educação». «Ainda estamos a tempo», considera, apontando o que se passa em vários países europeus. «Erro grave será não nos acautelarmos», avisa.
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Formação e turismo são áreas fundamentais para o futuro A formação é «fundamental» e representa uma das áreas em que a AEDP tem apostado, dirigida a trabalhadores e a empresários. «O importante é percebermos quais são as necessidades», diz Paulo Carvalho, e procurar a resposta certa. Exemplifica com o inglês, relevante por causa do turismo. O turismo constitui, de resto, uma das âncoras do desenvolvimento de Poiares. «Temos um grupo de restaurantes simpático, com potencial, reconhecidos na região». E também «um grande hotel, com 240 camas, distribuído pelo concelho». São ofertas distintas e diferenciadas em termos de alojamento local. Uns dedicados à agricultura, outros às bicicletas, à equitação ou com a oferta de um atelier de pão. «Isto é que é turismo», defende o empresário. Um projecto que ganha visibilidade através das plataformas tecnológicas, que permitem ao turista conhecer os espaços, as suas especificidades e marcar as respectivas férias. Um projecto similar está, igualmente, a ser desenvolvido para o sector do comércio e serviços. «Quando acabar o confinamento, vamos ser invadidos por turistas», afirma. O aproveitamento do potencial turístico associado à Estada Nacional 2 e à gastronomia não pode ser esquecido. Lembra a beleza da paisagem, com a serra, o rio, a 70 km da neve e a 170 km do mar. «Os estrangeiros descobriram com mais facilidade as qualidades que temos do que nós», afirma, fazendo notar que cerca de 150 famílias estrangeiras escolheram o território para se instalarem. Mas também há portugueses conquistados pelo encantos desta terra. Paulo
Carvalho não tem dúvidas. A receita é só uma: «acreditar, valorizar o que temos e transmitir isso... com entusiasmo e com paixão».
Valorização da floresta Assumindo-se como «o primeiro funcionário da AEDP», actualmente com mais de duas centenas de associados, Paulo Carvalho destaca a floresta como uma área fundamental a intervir. «Já andava com essa ideia», confessa, mas o incêndio de 15 de Outubro de 2017 foi o “clik”. «Um dia que não vou esquecer nunca». Não só porque é a data do seu aniversário, mas sobretudo pela tragédia que se abateu sobre a região. «No dia seguinte reuni com o presidente da Câmara», recorda. «O que está feito, está feito. Vamos dar a volta», desafiou. «Em quatro dias formalizámos a candidatura para colocar o concelho todo sob ZIF – Zonas de Intervenção Florestal». Uma estratégia que permite «apoio financeiro para limpeza, construção de estradões, plantação. As pessoas não precisam de despender dinheiro, só têm de aderir». Esta é, em seu entender, uma forma de responder às muitas pessoas que, por exemplo, «recebem heranças e não sabem como tratar da floresta». «Parte do caminho já foi percorrido. Já apresentámos alguns projectos que esperamos sejam aprovados». Lembra que a região Centro é especialmente sujeita a incêndios, há uma tendência para a monocultura do eucalipto e, por isso, importa «sensibilizar para uma gestão profissional da floresta». No futuro, «a floresta pode ser uma empresa», considera.
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Zona Industrial 90 anos com Vila Nova de Poiares
CRESCER E ATRAIR INVESTIDORES 2021 Zona Industrial é o testemunho vivo do espírito empreendedor e da dinâmica do tecido empresarial
Monumento em plena Zona Industrial evoca a tradição ligada à produção de azeite
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Zona Industrial é claramente a “coqueluche” do município. Em causa está, tão só, a terceira zona industrial do distrito, onde se concentram algumas das maiores empresas da região, algumas das quais com uma vocação claramente exportadora e outras que representam um exemplo em termos de inovação e tecnologia. Orgulhoso, o presidente da Câmara Municipal sublinha que o município está a «concluir a primeira fase do Pólo II e está já a preparar a segunda fase». As crescentes solicitações exigem essa resposta célere. «Os lotes que estão a ser criados no Pólo II estão entregues, estão esgotados e temos
lista de espera», esclarece. Satisfeito, João Miguel Henriques sublinha o facto de haver um conjunto de «novos empresários, que está à espera de disponibilidade de espaço» para se instalar no concelho. «Poiares tem essa capacidade. As pessoas gostam de investir aqui», destaca. Um cenário francamente promissor, que leva o executivo municipal a equacionar «avançar para a segunda fase de infraestruturação do Pólo II» e ainda a «pensar num Pólo III». Isto porque, reconhece, apesar de a segunda fase garantir «alguma possibilidade de crescimento, face à procura que existe, mas se continuar, dentro de 5/6 anos teremos de pensar num Pólo
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III», de molde a garantir «que Poiares mantém esta dinâmica empresarial». Necessariamente, uma melhorias das acessibilidades em perspectiva, designadamente com a possibilidade de construção de uma alternativa à Estrada da Beira – o concurso para a realização do estudo de viabilidade foi recentemente lançado pela CIM-RC e pela Infraestruturas de Portugal – certamente irá reforçar a já crescente atractividade do município, em termos de captação de investimento empresarial. De resto, o concelho de Vila Nova de Poiares beneficia de uma majoração, em termos de apoios comunitários, uma vez que se encontra no Pinhal Interior. O autarca reconhece que Poiares não é dos concelhos com maiores dificuldades, designadamente em termos de desertificação. «Somos um concelho pequeno, mas não tem havido uma redução significativa da população, sobretudo em comparação com outros concelhos do Pinhal Interior». «Continuamos a ter capacidade de criar emprego, em contraciclo», refere. Todavia, considera que esta possibilidade, que visa «mitigar alguma diferença relativamente a outras regiões» deve «ser aproveitada», sobretudo porque «é justa para o território». «O país tem de pensar que não é só Porto e Lisboa. Há um outro país que resiste e precisa de ser apoiado e acarinhado», defende. João Miguel Henriques refere, ainda, que a majoração para investimentos na região, no âmbito desta discriminação positiva, está devidamente identificada e acredita que no novo quadro de apoio seja mantida ou mesmo reforçada a majoração desse apoio. «Se os investidores perceberem que têm mais-valias vindo para o território, isso vai ajudar a criar riqueza e emprego», conclui.
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90 anos com Vila Nova de Poiares Nutriva
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PRODUTOS ALIMENTARESI DE POIARES PARA O MUNDOI
Gigante na produção alimentar, prepara-se para entrar em novos segmentos de mercado, com uma gama de refeições
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Nutriva 90 anos com Vila Nova de Poiares
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2005 Os croissants originais, produzidos em 2005, multiplicaram-se e deram origem a uma vasta gama de produtos de pastelaria, padaria, sobremesas, gelados e refeições. Sempre com a chancela da Nutriva e inspirados no receituário tradicional
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fábrica da primeira empresa responsável pela produção de croissants em Portugal deu origem a um projecto pioneiro, inovador e sustentável que criou raízes em Vila Nova de Poiares. Uma âncora na produção de produtos alimentares congelados. «Somos a única unidade fabril de Portugal que tem seis áreas de produção», refere António Monteiro, CEO da Nutriva. Um nome que conjuga dois conceitos, nutrição e vida e que dá vida a um universo de produtos. É o reino dos produtos alimentares congelados. Desde o croissant, da origem, ao pão, passando pela pastelaria, pelos gelados e sobremesas. Em fase de ultimação está uma gama diversificada de refeições, que conta com a colaboração activa do chef Diogo Rocha. O responsável da empresa orienta-nos nesta viagem pelas origens. Recorda que, há 15 anos, construiu uma fábrica para a empresa de croissants, com sede no Porto, instalada na base de um prédio. Todavia, os empresários «não conseguiram concretizar o negócio» e a solução de António Monteiro foi a aquisição do imobilizado e do know how. Nascia, assim, em 2005, uma unidade fabril em Poiares. «Porque sou natural de Poiares e porque entendi que ali existia mão-de-obra». Foi o pontapé de saída para um projecto grande, sobretudo grandioso, que não pára de crescer. «Achei que a fábrica tinha pouca dimen-
Joel Monteiro e António Monteiro, o futuro e o presente da empresa
são», confessa António Monteiro, que logo na génese decidiu duplicar a área, passando dos mil para os dois mil metros quadrados. Um crescimento que, em 2016/18, sofreu um novo investimento, a rondar os sete milhões de euros, que dotou a fábrica com os 6.700 metros quadrados que hoje possui e equipamento topo de gama. Os 15 trabalhadores iniciais cresceram para os actuais 195 e a capacidade de produção instalada atinge as 43 toneladas/dia. Um crescimento sustentado que passou, refere António Monteiro, pela criação de um departamento comercial no Porto e outro em Lisboa e também pela certificação da empresa. Inicialmente com a norma ISO 22.000. Posteriormente com as normas IFS e IFDA, referências para os produtos
alimentares na Europa e nos Estados Unidos da América. Ao nível da produção, os projectos também cresceram. Primeiro na área das sobremesas e, mais tarde, nos gelados artesanais. Em nenhuma das situações «começámos do zero», faz notar António Monteiro. «Comprámos duas empresas, em Oliveira de Frades e Sintra», cuja produção foi “incorporada” na unidade de Poiares. Hoje, «somos a única unidade fabril em Portugal que tem seis áreas de produção», refere o CEO da Nutriva. À primeira, da origem, há 15 anos, a croissanteria, juntam-se-lhe as sobremesas, a pastelaria, a padaria, os pré-cozinhados e os gelados. Actualmente, em colaboração com o chef
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Diogo Rocha – que ostenta uma estrela Michelin - «estamos a preparar um novo projecto na área das refeições». Um projecto que arrancou em 2019 e cujo lançamento está previsto para Setembro, esclarece. Uma proposta multivariada, com 18 referências, que inclui pratos de bacalhau, de peixe, de carne. «É um portefólio muito completo», garanteAntónio Monteiro, sublinhando que algumas das “referências” ainda estão em fase de ultimação, mas a maioria já está pronta a entrar em produção. Sempre produtos congelados. «Todos os nossos produtos são congelados», sublinha o CEO da Nutriva. «A congelação é o melhor químico», brinca. «É a forma mais natural de conservação de alimentos», adianta. Os produtos “made in” Poiares representam uma aliança entre «o receituário tradicional e o conceito industrial». «Somos uma fábrica», assume António Monteiro, mas a produção “bebe” toda a sua inspiração no «receituário tradicional», explica. «O futuro do pão está no seu passado, na massa mãe, no descanso», exemplifica». Produtos que viajam para todo o território nacional e abastecem o mercado europeu e da América do Norte. «35% da nossa produção destina-se a exportação», diz. Um passo para conquistar o mundo que arrancou em 2016. Espanha e Inglaterra atingem um patamar cimeiro. Franca,Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, Suíça, são outros dos mercados europeus de referência. Os Estados Unidos daAmérica e o Canadá representam igualmente bons mercados para os congelados Nutriva e «também exportamos alguma coisa para a China», refere. Em 2019, a empresa facturou 14,5 milhões de euros. «2020 não foi um ano bom», faz notar o CEO da empresa. «Queremos atingir o mais rapidamente possível o patamar dos 15 a 20 milhões de euros de facturação», assume António Monteiro.
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Resolver questão do armazenamento
Nutriva: um mundo de coisas boas
A resolução do problema logístico representa um dos grandes desafios para o futuro. Trata-se de criar «capacidade de alojamento». «Precisamos sempre de uma capacidade de duas mil paletes de alojamento», refere. «Ou teremos de fazer uma parceria com uma empresa ou construir nós uma plataforma logística de armazenamento», explica o CEO da empresa. Actualmente a Nutriva tem um sistema de armazenamento de stocks dividido entre Coimbra, Porto e Lisboa e o objectivo é «localizar os stocks num local único». Coimbra, pela sua centralidade é o espaço de eleição. O caminho está traçado, mas a decisão ainda não está tomada. Certo é que este novo projecto, necessário para garantir o escoamento da produção e, simultaneamente, criar um «pulmão de crescimento», representa um investimento na «ordem dos três milhões de euros».
Aposta na investigação e desenvolvimento Se o chef Diogo Rocha está a dar uma “mãozinha” na preparação da nova gama de refeições, a verdade é que esta é uma colaboração pontual, externa. Dentro da empresa há um Gabinete de Investigação e Desenvolvimento (I&D). São três técnicos, acompanhados pelas directoras de produção e de qualidade, que garantem o progresso e o futuro, testando novos produtos, inovando, mantendo em alta a produ-
ção e criando novos produtos. «É um departamento muito importante», sublinha António Monteiro. A par disso, a Nutriva mantém uma colaboração activa com empresas de consultadoria, às quais recorre pontualmente e também recebe estagiários de instituições de ensino superior, designadamente da Escola Superior Agrária de Coimbra e da Universidade de Coimbra.
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Fresbeira 90 anos com Vila Nova de Poiares
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FRESBEIRA: O MUNDO DA CARNE 2009 A 2 de Fevereiro de 2009 nasce a Fresbeira. Uma unidade industrial que se dedica ao universo das carnes frescas e congeladas, enchidos e receitas tradicionais da região. Sabores que conquistam o mundo
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igada ao ramo há alguns anos, a família Grade, oriunda de Miranda do Corvo, decidiu criar uma unidade de raiz, moderna e tecnologicamente bem equipada. E instalou-se no Parque Empresarial de Poiares. «Foi o município que nos ofereceu melhores condições», recorda Ana, que partilha a gerência da empresa com o irmão, Miguel. No dia 2 de Fevereiro de 2009 a empresa começava a funcionar, com o abate e desmancha de suínos e caprinos. Um registo que ainda hoje se mantém, garantindo uma ampla resposta a toda a região Norte e Centro do país, até à zona de Lisboa. Tecnologia e inovação caminham de mãos dadas no universo Fresbeira. Numa área de sete mil metros quadrados, assiste-se ao abate dos animais, à desvisceração, à desmancha. Toneladas de carne, inspeccionadas a cada passo, de molde a garantir a necessária segurança alimentar, um dos pilares da empresa. É o reino dos suínos e caprinos que, na Zona Industrial de Vila Nova de Poiares, começam um ciclo de transformação, que os leva a todo o país, mas também para o mercado internacional. Produtos diferentes. Desde os frescos aos congelados. Animais inteiros ou peças individualizadas, devidamente embaladas, prontas para o consumidor levar para casa. Uma panóplia que vai desde as tiras de entremeada ou entrecosto ao lombo e à pá, passando pelas costeletas. Para já não falar na carne de cabra, já devidamente cortada, pronta para confeccionar a chanfana.
Empresa assegura toda a produção e também a distribuição
Mas ao lado dos enormes frigoríficos e das arcas congeladores, cresce outro mundo. O mundo do vai-vem dos camiões frigoríficos que chegam, carregam e partem. Mas também um outro mundo. Este feito de saberes e de sabores. Inspirado nas tradições da Beira Serra. No fumeiro que marcou a vida de sucessivas gerações. Ana Grade recorda a velha máxima: «no porco e na cabra aproveita-se tudo». Praticamente desde o início do funcionamento, a Fresbeira fez essa aposta, criando espaço para uma secção de charcutaria «Temos 16 referências», explica. Um universo de produtos que vai desde as farinheiras, às alheiras, e salpicões, passando pelos di-
versos tipo de chouriço – mouro, corrente, de vinho, regional, picante – pelas morcelas (de sangue e doces), pelas salsichas (crioula, fresca, picante), linguiça, negritos, presunto, ou ainda o bacon, o lombo fumado, o enrolado de cachaço fumado, a cabeça fumada ou o singular fiambre. Numa zona própria, as carnes são devidamente cortadas para os enchidos e temperadas a preceito. Segue-se o processo de enchimento e o caminho para o fumeiro. Depois só falta mesmo embalar. Mais uma panóplia de produtos com a marca Fresbeira. Também eles viajam para todo o país. À semelhança da carne fresca e congelada, a charcutaria tem como destino o continente
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africano, sobretudo Angola e Cabo Verde. Para a Europa, onde se perfilam Espanha, França, Luxemburgo e todo o chamado “mercado da saudade”. Ana Grade destaca o facto de a Fresbeira também exportar os seus produtos para o mercado de Hong Kong. Mas as experiências não se ficam por aqui. Se na zona da charcutaria os bons aromas já invadem o espaço, logo a seguir a experiência é perfeitamente única. É a zona dos fornos. Rapidamente esquecemos as enormes salas de refrigeração e de congelação, onde as temperaturas assustam os mais protegidos. Aqui adivinha-se o crepitar do fogo e dos fornos de lenha escapa-se o inconfundível aroma da chanfana acabada de fazer. Os caçoilos de barro são retirados do forno. «A receita é cumprida à risca», sublinha Ana Grade. Os fornos de lenha e os caçoilos contrastam com todo o universo de inox que rodeia o espaço e que nos faz lembrar que estamos num «ambiente industrial». Tradição e modernidade cruzam-se ali, num verdadeiro abraço. E é a tecnologia que complementa os segredos ancestrais, permitindo embalar a chanfana, em couvetes, acompanhada do respectivo molho, que qualquer um pode comprar no supermercado e levar para casa. À clássica chanfana, um “ex libris” da
90 anos com Vila Nova de Poiares Fresbeira
Enchidos foram a primeira aposta
gastronomia da Beira Serra, que tem em Vila Nova de Poiares um dos seus baluartes de referência, a Fresbeira quis juntar outros produtos. Igualmente com a preocupação de promover o receituário tradicional, mas também de inovar, de aumentar a oferta de sabores. Um projecto desencadeado em 2018, que, sublinha Ana Grade, tem como parceiro o chef Luís Lavrador. Foi ele o responsável pela recriação destas receitas, que a Fresbeira confecciona e
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coloca no mercado. Se é indiscutível que se trata de uma diversificação em termos de negócio, procurando apostar numa outra área, usando a principal matéria-prima da empresa, a carne, como ingrediente, a responsável reconhece um outro objectivo. Cultural, se quisermos. De valores, com toda a certeza. Trata-se de «permitir que os mais novos possam ter acesso a estes sabores» e, dessa forma, manter viva uma herança ancestral dos paladares genuínos da boa mesa. Um registo que tem nos fornos a lenha e nos caçoilos e tabuleiros de barro a sua referência identitária. À chanfana, junta-se, assim, o bucho recheado. «Temos o bucho, a carne, os enchidos, só não temos o arroz», diz Ana Grade a propósito deste bucho, igualmente uma das referências da boa mesa de Poiares. Um clássico cheio de segredos, em termos de tempo de cozedura e quantidade de ingredientes, pois o bucho pode rebentar durante a cozedura. Na recta final, um “travo” de forno confere-lhe o aspecto dourado e estaladiço. A ementa servida pela Fresbeira inclui, ainda, bochechas de porco à serrana e lombo recheado à pastor. Nenhum dos pratos contém conservantes ou aditivos, garante Ana Grade, que destaca o facto de serem «embalados em atmosfera protectora», que garante a sua conservação.
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Fresbeira 90 anos com Vila Nova de Poiares
Leitão pronto a ir ao forno
Nos fornos a lenha assa-se a chanfana, usando os tradicionais caçoilos
Além do porco adulto, na Fresbeira também se abatem leitões. Uma grande maioria destinada a preparar o afamado leitão assado à moda da Bairrada. A pandemia veio alterar por completo este estado de coisas. Miguel Grade exemplifica com um cliente que dos habituais 600 mil euros de investimento reduziu para 50 mil. Todavia, os fornecedores continuam a ter os animais e os leitões crescem todos os dias… Com o objectivo de minorar o problema e, simultaneamente, permitir que o consumidor deixe de estar privado da afamada iguaria, a Fresbeira apresentou uma solução. Nada mais nada menos que um novo produto. Trata-se de quartos de leitão, acompanhados por um molho especial, igualmente preparado na empresa. Um produto que, explica Miguel Grade, engenheiro informático de formação, foi concebido em tempo de pandemia e já está no mercado, na versão fresca e congelada. Basta, explica, barrar a carne com o
molho e levar ao forno. A família pode, assim, em sua casa, experimentar cozinhar e saborear leitão assado. A recepção tem sido boa. «Somos uma empresa de cariz familiar, assente em três pilares: qualidade, segurança alimentar e respeito – pelo fornecedor, pelo colaborador e pelo consumidor», diz Ana Grade. A sócia-gerente da empresa tem uma máxima: «Fazer sempre bem. Preferimos fazer lentamente, mas fazer bem». Essa tem sido a filosofia. Em 2019, a empresa cresceu mais três mil metros quadrados. «Passámos para o dobro da área inicial», refere. Uma resposta às crescentes necessidades, sobretudo «às regras de segurança alimentar» e de «uma cadeia de frio eficaz». No horizonte perspectivam-se novos investimentos, canalizados para a modernização da linha de abate e tratamento de sub-produtos, mas também no aumento da capacidade de frio e na eficiência dos circuitos produtivos. Será um «investimento
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superior a um milhão de euros para os próximos anos», sintetiza. No ano passado, a empresa investiu 180 mil euros na instalação de painéis fotovoltaicos, de forma a reduzir o impacto ambiental e o grande consumo de energia. Este projecto já permite satisfazer, no Verão, 30% das necessidades. AFresbeira tem 72 colaboradores directos e no ano transacto facturou cerca de 22 milhões de euros. Mais do que crescer, a sócia-gerente da empresa, licenciada em Sociologia e com um MBA em Gestão e Administração, quer, no futuro, «manter os bons racios económicos da empresa» e, dessa forma, «honrar os compromisso com os colaboradores e com o mercado». «Seriedade e honestidade» são as palavras-chave do que Ana Grade chama «uma moral económica» que defende e aplica à empresa. Isso significa, esclarece, «preocuparmo-nos com o sítio onde estamos, sermos próximos da comunidade». Uma relação que se salda em colaboração, seja com as escolas, com as associações, com os bombeiros, com a autarquia. «Somos uma empresa com alicerces e, para isso, é preciso trabalhar bem, para que a empresa tenha solidez económica e possa colaborar e ser solidária».
Empresa assume produção e entrega A Fresbeira assegura todo o ciclo produtivo, desde a recepção e abate dos animais, ao processamento e transformação da carne, culminando com a sua entrega ao cliente. Significa que, fora das instalações, a empresa continua a movimentar-se, através de uma frota própria. «É uma questão de segurança, qualidade e também de apresentação dos produtos», afirma Ana Grade. «A nossa imagem na rua é dada pelas pessoas que nos representam e entregam os produtos aos nossos clientes», adianta.
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90 anos com Vila Nova de Poiares Habimóvel
A ARTE DE CONSTRUIR CASAS EM MADEIRA 2013 A Habimóvel fazia, em 2013, o seu primeiro teste, com uma construção de pequenas dimensões. A ideia ganhou raízes e os projectos multiplicam-se. Hoje, não há mãos a medir
Luís Almeida apresenta uma das mais recentes construções da empresa
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ucessivas gerações de carpinteiros apuraram a técnica e o design e colocaram essa experiência ao serviço da inovação, sob a forma de casas. Integralmente construídas em madeira. A Habimóvel é a detentora desta cultura e Luís Almeida – avô, pai, filho e neto – o nome que lhe dá vida. A primeira casa nasceu em 2013. Um percurso que nunca mais parou. Já lá vão mais de 150. O desafio é cada vez maior e, com os olhos postos no futuro, a empresa está a projectar um novo espaço, na Zona Industrial. Até lá, nos enormes pavilhões,
em plena vila, a construção não pára. O cheiro bom da madeira invade todos os recantos. Lima-se aqui, corta-se ali. A equipa não tem tempo para parar. Os módulos ganham forma. Conjugados dão origem às casas. Podem ser pequenas, um T1, ou familiares, de tipologia T3. Estas são, de momento, a grande aposta de Luís Almeida. Filho e neto de carpinteiro, o empresário é o grande mentor deste projecto, que arrancou em 2013, mas tem por detrás uma vasta herança, de meio século de experiência, mas também alguns infortúnios. “Vão-se os anéis, ficam os dedos”,
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afirma. E foi isso que fez. Com o know how acumulado, pensou no que faltava no mercado. E faltava uma casa de madeira, pequena, a «pensar nas pessoas que vivem na cidade, mas têm terrenos na aldeia e gostam de lá passar uns dias, mas não têm onde ficar». «Por 15 mil euros, era uma forma de ter uma casa na aldeia». «Não foi fácil», reconhece. Não em termos técnicos, mas sim de mentalidades. «Era um conceito completamente novo em Portugal», explica, muito embora as casas de madeira sejam, desde há muito, uma realidade nos países nórdicos ou nos Estados Unidos. «Foram dois anos a cambalear», confessa, mas a ideia «começou a ter aceitação». E hoje já não se trata de pensar em casas para férias, mas sim em habitação permanente. Razões não faltam para que isso aconteça. Luís Almeida apresenta um conjunto de argumentos que se aplicam exclusivamente a este tipo de construções. A começar pelo facto de poderem ser mudadas de local. Ou seja, a mobilidade. A casa pode acompanhar o morador numa mudança de residência. Mais, «numa casa de alvenaria, se se quiser vender, tem de vender a casa e o terreno», enquanto aqui os dois factores são independentes. Mas também o “crescimento”, uma vez que aos módulos existentes podem ser acrescentados outros, com a casa a ganhar dimensão e a família a ter mais espaço. Vantagens também em termos térmicos e acústicos, faz notar. «A madeira é um dos poucos produtos naturais que faz o corte térmico, não deixa passar o frio nem o calor», diz. Isso significa que exige um esforço energético muito menor quer para o aquecimento, quer para o arrefecimento, o que representa um impacto grande em termos ambientais. Mas há mais. «Pode-se ter um jardim em cima da casa», exemplifica o empresário,
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Habimóvel 90 anos com Vila Nova de Poiares
que aplicou essa sugestão na sua casa. Ou criar um pérgola, um jardim. Tudo depende do gosto. Aliás, o empresário faz questão de sublinhar que não tem nenhum tipo definido de construção. Pelo contrário, adapta o projecto ao gosto e à personalidade de cada cliente. O que significa que cada casa é um caso. Uma obra de arte, única. Outra vantagem é a celeridade. Neste momento, a Habimóvel está com uma capacidade de resposta reduzida, uma vez que só consegue garantir entregas para dentro de um ano, pois são mais de duas dezenas as casas em construção. Todavia, LuísAlmeida lembra os “ganhos”em termos de licenciamento, uma vez que uma obra normal só pode começar depois da necessária licença. «São oito meses, pelo menos», afirma. Aos quais se somam outros 12 para construção. Numa casa de madeira ganham-se os oito meses que demora a licença, pois a construção é toda feita na empresa. «Há casas e há barracas. As nossas são casas», afirma, justificando o custo que «não é barato», admite, apontando para os 63.500 euros como o preço médio de um T3. «É possível fazer praticamente tudo o que se faz numa casa de alvenaria», garante, exemplificando com a instalação de energia, telecomunicações ou ar condicionado. «Mais de 80% das casas saem daqui com a cozinha e o quarto de banho prontos. Os módulos são carregados e descarregados com uma grua e o transporte para o destino feito em «transporte especial, com batedores». A Habimóvel acompanha todo o processo, inclusive no terreno onde vai ficar instalada e assegura as respectivas ligações, designadamente de energia, água e esgotos.
A “obra”só termina com a entrega da chave, explica. Dois dias são o tempo médio para concluir este processo no destino. O pinho nórdico, importado da Finlândia, Noruega ou Dinamarca é o material base usado na construção. O interior pode seguir a mesma filosofia, com pinho nórdico, cerejeira, carvalho americano, sucupira. Mas também pode ser acabado em cerâmica, em pedra ou em Pladur, esclarece. «É tudo construído ao gosto do cliente. É um fato feito à medida», diz Luís Almeida. A empresa lançou uma campanha: por cada casa que venda, este ano, oferece 500 euros a uma corporação de bombeiros, indicada pelo cliente.
Cuidados a ter Um dos maiores receios prende-se com o fogo. Uma casa de madeira arde? «Sim, mas não tanto como as outras», garante o empresário. Isto porque, explica, tendencialmente os moradores cuidam do terreno em redor, evitando que o mato entre para dentro de casa. Por outro lado, «todos os produtos que usamos são de base aquosa e não de base solvente», o que significa que «não inflamam». Os vidros duplos laminados são outro dos “segredos”, em termos térmicos, acústicos e de segurança. Luís Almeida garante que as casas da Habimóvel são “casas para a vida”. Mas «exigem manutenção». «Cinco anos é por nossa conta». Depois, a manutenção externa passa para o cliente. Uma tarefa simples. Nada mais nada menos do que «limpar, lavar e pôr produto impregnante».Aempresa garante, ainda, um “upgrade” às casas, sem custos, melhorando soluções que entretanto foram desenvolvidas.
Algumas casas já instaladas na Zona Industrial, onde vai ser erguida a fábrica
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Projecto inovador nascido em Poiares A Habimóvel tem uma equipa de 15 colaboradores, onde se inclui Luís Almeida, pai e filho, ambos com o mesmo nome. Há um grupo de mais quatro/cinco pessoas que trabalha em regime de prestação de serviços, em áreas específicas, designadamente ao nível da instalação eléctrica. «Somos uma equipa. Trabalhamos juntos para tentar realizar os sonhos dos clientes. Não há nada melhor do que ver o brilho nos olhos do cliente», afiança o empresário. Este é, também, o projecto de vida de Luís Almeida, de 49 anos, «nascido e criado em Poiares». «Nunca fiz outra coisa», diz o pai, Luís Almeida, de 73 anos, também ele «nascido e criado em Poiares. «E quero cá morrer», faz questão de acrescentar. «Sempre trabalhei em madeira, desde os 10 anos». E só não tem uma casa feita em madeira, à semelhança do filho, porque a esposa «não deixa». Um projecto inovador, pioneiro, do qual «os nossos filhos e netos se poderão orgulhar» e cuja patente está registada na Inspecção Geral de Actividades Culturais. No ano passado, a empresa construiu mais de duas dezenas de casas, entre pequenas e grandes, para todo o território nacional, embora com mais incidência no litoral. Actualmente estão em fase de obra, nos dois pavilhões, localizados dentro da vila, duas dezenas de casas. Trabalho, seguramente, para um ano. Mas uma única casa, um T3, não demora, garante, mais de três semanas a construir. A empresa pretende mudar-se para a Zona Industrial. O espaço já existe. Uma área com 11 mil metros quadrados, onde está instalada a primeira casa e outras encomendas, mais recentes. A mudança não tem timing definido. «Quando for, é», afirma o empresário. Certo é o perfil que quer conferir à nova unidade. «Uma fábrica toda em madeira, diferente, tal como as casas».
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90 anos com Vila Nova de Poiares Ansell Portugal
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Processo clássico de produção, que consiste em emergir as luvas num “banho”
LUVAS “MADE IN POIARES” PARA OS QUATRO CANTOS DO MUNDO 1990 Em Fevereiro de 1990 começa a funcionar a única fábrica de luvas existente em Portugal e na Europa. Um projecto que veio para ficar e leva ao mundo o nome de Poiares
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m italiano, Francesco Vazzana, e um português, Luís de Sousa, juntaram-se para criar, em 1989, uma empresa pioneira. Era a Franco-Manufactura de Luvas, Lda, que começou a funcionar em Fevereiro de 1990. «Conheceram-se na África do Sul», explica Hélder Fonseca, director-geral da Ansell, que herdou o know how da empresa de origem, mas multiplicou o saber-fazer. Os dois empreendedores trabalhavam no ramo e o sócio português, oriundo da zona de Tondela, «tentou trazer a empresa para a sua região», explica e, na altura, «o município de Poiares ofereceu as melhores condições». Nascia a fábrica de luvas. Três décadas depois, a Ansell Portugal é uma referência na Europa e no mundo. Especializada em luvas de suporte, produz os mais diversos modelos de luvas técnicas, anti-corte, com garantias acrescidas para a segurança para os utilizadores.Aconstrução civil, mas sobretudo a indústria vidreira, metalúrgica e metalomecânica, são os grandes clientes. Em toda a Europa e também no mundo. Produtos diferenciadores, desenvolvidos pela equipa de Investigação e Desenvolvimento do Grupo australiano, que em Vila Nova de Poiares tem registado um crescimento significativo, acompanhado por uma verdadeira revolução em termos de pro-
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Ansell Portugal 90 anos com Vila Nova de Poiares
Mangas especiais com direito a um acabamento manual
dução. O mais recente é a criação de um produto 100% português. «O Grupo está a investir na produção de luvas de raiz em Portugal», explica Hélder Fonseca. Trata-se de uma nova filosofia, que não deixa de ser fruto da pandemia e uma resposta a outra sensibilidade do mercado, que sofreu um grande revés ao perceber a dependência de países como a China relativamente a um conjunto de matérias-primas. A nova linha representa um investimento de 5,6 milhões de euros, boa parte do qual carreado para uma nova máquina, verdadeiramente top, que tem uma capacidade de produção de 32 a 35 mil pares/dia. A montante estão mais 90 máquinas de tricotar (teares) para confeccionar as luvas. Maio é o mês de arranque da produção industrial da nova linha, que implicou a contratação de mais 60 pessoas. O director-geral da Ansell Portugal fala com entusiasmo deste novo desafio. A nova máquina começou a chegar em Setembro e a pandemia veio alterar o processo de montagem, uma vez que inviabilizou a deslocação dos técnicos da empresa do Sri Lanka e da Malásia para acompanhar o processo. Significa, também, que foi a equipa técnica de Poiares que meteu mãos à obra. A montagem da nova linha – que trabalha com três robots, semelhantes aos usados na indústria automóvel – está concluída e o processo de produção em fase de validação, prevendo-se que a produção industrial arranque este mês. Significa que uma boa parte das luvas-base que até agora vinham de outras unidades fabris do grupo e sujeitas, em Poiares, ao processo de transformação,
sejam agora aqui fabricadas, passando a ostentar o selo diferenciador “made in Portugal” ou “made in Europa”. Trata-se, em síntese, de uma «deslocalização da produção», assumida pelo Grupo Ansell que entendeu transferir para Portugal a produção de luvas até à data centrada na Ásia – Malásia, Vietname e Sri Lanka. Significa que, «aconteça o que acontecer no mundo, não ficamos sem capacidade de fornecer artigos Ansell», adianta Hélder Fonseca, confiante que esta é a resposta para garantir, no futuro, o abastecimento de todo o mercado europeu, o que significa «12 milhões de pares de luvas/ano».
Desafios novos e constantes A confecção das luvas-base em Poiares constitui um passo de gigante, mais um, que se sucede a muitos outros na história de empresa. Hélder Fonseca recorda, em 2015, outra aposta: a criação do «nosso próprio fio», até então encomendado “fora”, designadamente em Itália. Em causa estão «fios técnicos», cuja composição tem de conferir, designadamente, as características anti-corte das luvas, mas também o grau de segurança. «Com o know how da casa, conseguimos criar os nossos próprios fios», o que representou uma maior eficácia e um aumento da autonomia no circuito de produção e trouxe à Ansell Portugal uma nova secção, de fiação. «Somos quase uma empresa têxtil», afirma o director-geral. E assim é, pois junto à fiação, onde as bobines de fio correm velozes, estão instalados os teares/tricotadeiras onde as luvas são tricotadas. Esta «verticalização do processo»,
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com o início da produção de fio, representou «um marco» e «permitiu expandir a empresa em termos físicos», refere. O “desafio” é uma constante da empresa. Seja em termos de tecnologia aplicada aos produtos, seja na cadeia produtiva. O objectivo é crescer sempre, em termos de eficácia e eficiência e manter na linha da frente uma unidade fabril responsável pela produção de cerca de 150 modelos, entre luvas e mangas. Estas últimas representam uma novidade, que chegou ao mercado nos últimos três anos e tem tido a melhor aceitação. Trata-se de, além da mão, garantir a protecção da antebraço. As chamadas “luvas de corte” (resistentes ao corte) são, sem dúvida, a coqueluche da empresa. Mas há sempre novos produtos, novos “desafios”. O director exemplifica com uma luva que permite, garantindo toda a resistência, a “sensibilidade” para operar com um ecrã táctil, embora impregnada em óleo. Uma ferramenta importante, designadamente para o sector automóvel. Há 25 anos na empresa, Hélder Fonseca, formado em Economia, começou pelo departamento financeiro e hoje é o director-geral da unidade. «Orgulho-me imenso do percurso feito», assume. Mas sobretudo da equipa com quem trabalha, do seu entusiasmo e entrega. Uma das regras de ouro é «não termos medo de experimentar para melhorar». E é isso que a Ansell Portugal tem feito, com sucesso. Sempre com os olhos postos no amanhã.
Capacidade para produzir 25 milhões de luvas/ano A Ansell Portugal tem uma capacidade instalada para produzir 3.300 mil de mangas ano e no ano passado produziu 2.700 mil. Relativamente à produção de luvas, entre têxteis e impregnadas, tem uma capacidade de produção de 25 milhões e produziu, em 2020, 19 milhões de pares de luvas. 70% da produção destina-se à Europa e 30% para a América do Norte e do Sul. Todavia, esclarece o director-geral, a fábrica de Poiares apenas produz. «A parte comercial não está sob a nossa alçada». A empresa tem o processo produtivo certificado desde 1997 e todos os seus produtos estão certificados em conformidade com as normas europeias. Também o laboratório interno, que garante o escrutínio da qualidade da produção, está certificado com Norma ISO 17025.
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Atenção aos trabalhadores e ao ambiente A pensar na equipa, nos 400 trabalhadores, a Ansell Portugal prepara um investimento significativo na área social. Trata-se de um novo edifício, em fase de ultimação, onde vai ficar instalada a cantina, balneários, posto médico e de enfermagem, equipamentos que actualmente estão dispersos pelo miolo da fábrica e que vão ficar concentrados. Sobretudo «vão ganhar outra dignidade». A «dignidade que esta equipa merece», sublinha. Sensibilizado, o director-geral faz questão de agradecer a «flexibilidade e a disponibilidade» que a equipa demonstrou durante a pandemia. «Foram fantásticos», diz. Essa entrega, empenho e mesmo alguma flexibilização de funções permitiu que a empresa conseguisse, em tempos difíceis, «cumprir os prazos e dar resposta aos clientes». A área ambiental também merece atenção. Uma parte dos resíduos é encaminhada para um empresa da especialidade, enquanto outros são tratados em Poiares. Estação de tratamento que vai ser alvo de um “upgrade”. O objectivo é instalar um sistema que permita reciclar entre 65 a 70% da água, para que possa ser reutilizada. A partir de Julho vai estar em funcionamento um conjunto de painéis fotovoltaicos, que assegura 21% da energia global consumida pela fábrica. A empresa trabalha a velocidades diferentes, com a área mais intensiva, da tricotagem, a laborar 24 horas/sete dias por semana. Há outros sectores a funcionar por turnos, 24/horas/dia, mas de segunda a sexta-feira. Outros cumprem o horário normal, de oito horas/dia. De dois em dois anos a Ansell Portugal promove um Dia Aberto, onde recebe
casa e levá-lo para a fábrica. Cada fatia custa 50 cêntimos e o dinheiro é guardado e no final do ano, quem fez os bolos, reúne e define qual a instituição ou pessoa a quem deve ser entregue o donativo. Fatias de bolo que alimentam causas solidárias. Um projecto que a pandemia suspendeu e que espera oportunidade para regressar.
Colocação das livas nos moldes
todos quantos quiserem visitar e conhecer a fábrica. O objectivo é «mostrar o que fazemos» e criar proximidade com a comunidade. Já o Dia do Funcionário é virado para o interior, com um convívio informal, «sem discursos», que pretende «proporcionar experiências diferentes». O Natal é celebrado em família, com presentes e uma festa para os filhos dos funcionários até aos 12 anos e os prémios de antiguidade distinguem os trabalhadores com 10, 15, 20, 25 e agora também 30 anos de ligação à empresa. O director-geral faz questão de destacar um projecto, «das pessoas, para as pessoas», que nasceu da boa-vontade dos trabalhadores. “Uma fatia, uma pausa” é a designação da iniciativa. Nada mais, nada menos do que fazer um bolo em
Vocação internacional Criada por um italiano, Franscesco Vazzana, e pelo português Luís de Sousa – que se aposentou há cerca de dois anos – a empresa de luvas de Poiares nasceu sob o signo da internacionalização. Com efeito, a Franco Manufactura de Luvas, Lda, criada em 1989, começou a laborar em 1990, então com 53 trabalhadores e uma capacidade de produção de 12 mil pares de luvas por dia. Em 1996 a empresa foi adquirida pela multinacional London International Group e, em 1999, passou a pertencer à recém-constituída multinacional Ssl International Plc, resultante da fusão da London International Group e a Seton Schooll Healthcare. É nessa altura – 1996 – que Franscesco Vazzana deixa a empresa. Luís de Sousa continua, como director de manutenção. Segue-se a integração no grupo francês Comasec SAS, decorrente da venda, por parte da multinacional SSL International Plc, da divisão de luvas Marigold Industrial. Em 2004 a Franco Manufactura de Luvas, Lda. muda de nome e passa a assumir a designação Marigold Industrial Portugal – Luvas Industriais, Unipessoal, Lda. Em 2012 o grupo australiano Ansell compra a Comasec e passa a ser o proprietário da empresa de Vila Nova de Poiares.
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Descobrir o mundo Ansell Portugal «São praticamente três mini fábricas», refere o director. Cada uma com o seu ritmo e tipologia de produção. Começa-se pela produção clássica. Cresce-se para uma zona mais dinâmica, com tecnologia de ponta. «São luvas mais técnicas», esclarece o director geral, Hélder Fonseca. Na terceira secção acompanha-se desde a produção do fio à confecção da luva. É o mundo Ansell para descobrir. Mas comecemos pela base. «Estas eram as luvas que produzíamos há 30 anos», explica Hélder Fonseca. De um lado são amarelas, do outro azuis.Algumas máquinas são as de origem, apesar de terem acoplada nova tecnologia. O princípio é o mesmo. De um lado colocam-se as luvas, de algodão, provenientes do Sri Lanka, no molde. Um conjunto de “mãos erguidas”, que se estendem. A luva vai ao banho, segue para o forno, onde seca. Depois cumpre o seu circuito para receber o carimbo e ser embalada em pacotes de 12. Seguem para as caixas, prontas para serem levadas para o armazém. São luvas bastante usadas na construção civil. O circuito das luvas azuis é ligeiramente mais complexo, com as luvas de algodão a receberem um breve banho de água, para garantir uma melhor aderência ao molde e, consequentemente, ao banho de composto a que vai ser sujeita e à vulcanização. Entra, igualmente, no forno e sai, também pronta a receber o respectivo carimbo. Na segunda secção está em fase de pré-produção uma nova linha, que este mês entra em funcionamento. A capacidade de produção é de 32/35 mil pares/dia, explica Hélder Fonseca. Ou seja, tanto como as duas máquinas actualmente instadas na mesma nave. Quando visitámos a fábrica apenas uma estava em funcionamento. O processo acelera relativamente à primeira secção e a produção ganha dimensão. Continua a ser necessário “calçar” os moldes, mas as luvas ganham autonomia e saem, depois de cumprido o circuito, entre o banho e o forno, autonomamente, do molde. Seguem o seu trilho. Cada carrinho de supermercado cheio representa a capacidade de uma máquina de lavar. É isso que acontece a seguir. Depois, transitam para a máquina de secar e continuam o seu percurso, rumo ao embalamento. Por dia, esta má-
Teares funcionam de forma completamente automática. Fazem luvas e mangas
quina pode produzir 19 mil pares de luvas. A vizinha do lado atinge os 18 mil pares/dia. Mas todos os olhares se centram na nova “menina”. Não só pela dimensão e capacidade de produção, mas também pela apurada tecnologia que apresenta. Inclusive, um terceiro robot pode dar uma ajuda na colocação das luvas nos moldes. Em ambas as unidades se trata de produzir luvas com base, ou seja, de acrescentar valor, através de banhos de compostos, que garantem um conjunto de novas propriedades/qualidades à luva. Diferente é a terceira área, têxtil, onde dos fios nascem as luvas. Na zona da fiação preparam-se os fios. Misturas que são verdadeiros segredos, em termos de composição e de torção, que conferem propriedades diferentes a cada uma das produções. As bobines correm vertiginosas. São «13 mil rotações por minuto», esclarece o director. Hélder Fonseca explica a nova aposta, feita desde 2015, no sector de fiação. Ao invés de importar fio de França ou de Itália, o fio ou melhor, a “liga” usada para confeccionar as luvas – e também as mangas – é produzido em Portugal. Mesmo ao lado 400 teares fazem o seu trabalho. Sozinhos. Máquinas modernas, que apenas precisam de receber a necessária programação e, com o modelo definido, ter a alimentação necessária das bobines de fio. Amarelo, branco e azul pontuam de um lado. Do outro é o preto, o cinza e o branco. A luz verde indica que está tudo
funcional. Os operadores controlam, à distância. Cada um é responsável por 35 máquinas. O sinal vermelho exige intervenção. De resto, cada tear cumpre o seu papel. Escassos minutos depois de iniciar o processo, a luva cai, pronta, no depósito individual. Chega do avesso. O operador passa, de tempos a tempos para repor o fio e recolher as luvas prontas. Coloca-as do direito, o que permite verificar se há algum problema. Cada tear produz 110 a 120 pares em 24 horas. Amarelas, de um lado. Cinza escuro, quase pretas, do outro. No piso superior o paradigma é idêntico, mas a produção é centrada nas mangas. Aqui falta pôr o carimbo e as orlas, cozidas manualmente. Um produto que se tem revelado um sucesso e no qual a empresa está a apostar. O mais recente desafio passa pela utilização de teares circulares, com tecnologia especificamente desenvolvida para este projecto. «É a nova geração de mangas» em fase de preparação.
Grupo australiano apostou na produção de luvas de raiz em Poiares, deslocalizando uma produção instalada na Ásia. Investimento ronda os 5,6 milhões
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