Diário de Coimbra Memórias
25/12/1931 Diário de Coimbra apelou a contribuições da comunidade para que pelo menos “não faltasse uma ligeira refeição” natalícia aos mais carenciados
11/12/1932
O Diário de Coimbra criticou, na edição de 11 de Dezembro de 1932, a discrepância de preços na venda de gasolina, mais cara nesta cidade do que noutros pontos do país. Se em Lisboa o preço por litro do combustível andava nos 2$15, e em Viseu nos 2$30, não se entendia que os automobilistas de Coimbra tivessem de pagar em geral 2$55. «Não compreendemos, francamente, que os preços não sejam sensivelmente iguais em toda a parte e que se apresente em vez disso uma tal disparidade. Não será possível que os revendedores de gasolina, em Coimbra, concertem os preços de forma a arranjar-se um preço comum, em conta, embora com a indispensável margem de lucro? Sabemos que o comércio atravessa uma crise de certo modo aguda e que a tudo tem de se agarrar para equilibrar as suas despesas e receitas. Mas a disparidade que vimos de pôr em foco não só não é justificável como se presta aos mais variados comentários. Repetimos: não será possível encontrar o justo preço, nesta barafunda de preços?», questionava o jornal.
Acabar com pés descalços em Coimbra
6/12/1932 «Entrou ontem em vigor a determinação proibindo, em Lisboa, o andar-se descalço na via pública», noticiou o jornal a 6 de Dezembro de 1932, aplaudindo uma medida «higiénica e civilizadora» para acabar com «o inveterado hábito nacional, que há muito não devia existir». Na nota, com o título “Os pés descalços”, desejava-se que a proibição também chegasse a Coimbra. «Para que deixássemos de ver o riso escarninho dos turistas estrangeiros que há poucos dias surpreendemos junto da porta do Café de Santa Cruz. É que uma rapariga das nossas aldeias, razoavelmente vestida mas descalça, oferecia fruta. Olharam, trocaram gestos e sorriram desdenhosamente. Confessamos: sentimo-nos vexados!», desabafou o autor.
GENEROSIDADE DE LEITORES ALEGROU NOITE DE NATAL DE 150 POBRES DE COIMBRA
ODiário de Coimbra
lançou o apelo e a comunidade, tal como fizera no primeiro ano de existência do jornal e voltaria a fazer em anos seguintes, contribuiu generosamente para que na noite de Natal «não faltasse uma ligeira refeição» aos mais pobres da cidade.
Depois do bando precatório a favor das famílias de 10 pescadores da Figueira da Foz mortos em naufrágio, que recordamos no passado domingo neste mesmo espaço de memórias, um novo acto de solidariedade foi patrocinado há 90 anos pelo jornal, agora para amenizar o sofrimento dos mais carenciados na quadra festiva natalícia.
Graças às dádivas de particulares e de empresas, o bodo aos pobres foi distribuído na véspera do Natal de 1931 nas instalações do Diário de Coimbra, então sediado na Rua do Quebra Costas. Na edição do dia 25 relatava-se «uma festa enternecedora» que permitiu
repartir bens alimentares e dinheiro por centena e meia de pessoas carenciadas, num valor global «para cima de dois mil e quinhentos escudos».
«Distribuímos ontem o nosso bodo do Natal aos pobres registados na nossa administração e para o qual contribuíram muito generosamente amigos queridos nossos, para quem vão os nossos mais sentidos agradecimentos e as lágrimas de reconhecimento e gratidão que vimos em muitos desses olhos macerados pelo sofrimento», escreveu o jornal.
Pelas 14h00, em frente das oficinas do jornal, a Rua do Quebra Costas apresentava «um aspecto confrangedor e comovente». «São 150 desgraçados que se acotovelam e que se comprimem para receber aquela esmola que nós lhes vamos entregar, mandatários de almas generosas, que acorre-
ram ao nosso apelo de bem fazer. Na nossa redacção, sobre as mesas dos redactores, resmas de pacotes. Nesta o de bacalhau, naquela o do arroz, naquel’outra o de açúcar. Enfim, para cada género, uma mesa. Às 14 horas precisas inicia-se a obra de bem fazer. Começa a distribuição, que constou de um quilo de massa, meio quilo de arroz, meio quilo de bacalhau, 250 gramas de açucar, 125 de café, três pãezinhos e 5$00 em dinheiro. Os pobrezinhos entram a cinco e cinco e saem alegres. Vão ter, vindo de nós, um pouco de conforto, neste dia feliz do Natal. E vão entrando uns e saindo outros, no rosto estampada um pouco de felicidade e uma grande gratidão», registou o repórter.
Além destas esmolas, a generosidade dos leitores estendeu-se a uma pobre mulher da Couraça de Lisboa, mãe de duas crianças, cuja situação de «terrível miséria» vinha merecendo especial atenção do jornal, a «quatro pobres envergonhados» e a dois tuberculosos.
«Quisemos que, na noite de Natal, aos nossos pobres não faltasse uma ligeira refeição. É pouco? É muito? É tanto quanto o Diário de Coimbra pôde angariar. O nosso bodo de hoje é bem o índice da nossa compaixão pelos desafortunados. Em nome deles, o nosso agradecimento sinceríssimo para aqueles que nos deram a sua solidariedade», concluía o jornal. M. S.
Um bom reclame pode ser “a alma do negócio”
1/10/1932 Uma crónica publicada no Diário de Coimbra a 1 de Outubro de 1932 destacava a importância da boa publicidade para o sucesso dos negócios.
Sob o título “Reclames gratuitos para chamar a clientela”, observava-se no texto que «hoje em dia quem não faz a propaganda intensa dos seus produtos vê-se preterido por aqueles que se abalançam a tornar, por todos os meios, conhecidos os seus artigos».
«O reclame é a alma do negócio», sustentava o autor, respigando, para ilustrar a ideia, de «alguns jornais cu-
riosos reclames para atrair a clientela».
Era o caso, por exemplo, de dois homens que «se entregavam a vias de facto» numa rua de Nova Iorque. «Logo que o espectáculo desta rixa (sabe-se que nos países anglo-saxões a vista de dois tipos a jogar o boxe constitui uma das cenas mais apreciadas) provocou um considerável ajuntamento, os dois galos lutadores cessaram bruscamente de se baterem e, de braço dado, dirigiram-se para um café próximo. Bem entendido, um grande número de espectadores seguiu-os... O dono desta publicidade e do
café em questão teve a ideia engenhosa de contratar uma dezena de boxeurs que enviava para diferentes sítios a fim de virem acompanhados de curiosos que se instalavam nas mesas do café», explicou o articulista.
Apontava a seguir a «ideia, também engenhosa», que veio à lembrança da proprietária duma casa de chapéus. «Uma das suas concorrentes tinha mandado vir um grande stock de enormes chapéus de palha que tiveram um sucesso colossal entre as damas da localidade. Que fez a nossa modista, furiosa por ver a sua loja de-
serta? Fez comprar por um amigo certa quantidade de chapéus e distribuiu-os pelas vendedoras ambulantes, com a condição de os usarem quando andassem no exercício do seu métier. Bem entendido, no dia seguinte, nenhuma dama chic quis mais ouvir falar nos grandes chapéus de palha», relatou.
Por último, a esperteza do director de um teatro parisiense que «encontrou um dia um bom reclame gratuito para a sua nova revista». «Telefonou a muitos dos melhores hotéis, dizendo aos porteiros que um cavalheiro lhe perguntara por telefone se ele
tinha um camarote disponível para a representação dessa noite. “O porteiro far-lhe-ia o favor de dizer a esse senhor (de quem não fixara o nome, mas que se devia encontrar no “hall” do hotel) que com efeito, tinha um camarote disponível?”. Inútil será dizer-se que todas as pessoas que se encontravam no “hall” dos diversos hotéis para onde se tinha telefonado, souberam por este meio que uma revista nova se iria representar no teatro X. E, à noite, o director engenhoso constatava com alegria que todos os lugares caros tinham sido vendidos», completou.
Camioneta da estação desviada para tourada
3/11/1932 Insurgiu-se o jornal, a 3 de Novembro de 1932, contra o mau funcionamento da ligação rodoviária entre o centro da Figueira da Foz e a estação ferroviária. «As camionetas que fazem o transporte colectivo de passageiros da estação de caminho de ferro foram em boa hora adquiridas. O público acolheu-as com agrado, recorreu aos seus serviços. Há que reconhecê-lo: tais carreiras vieram de encontro a uma necessidade que há muito fazia sentir-se. Ora as camionetas constituíram-se num dever para aqueles a quem servem. E, assim, não é coisa que deva estar na dependência das festas, festanças ou magustos que tenham lugar nesta ou naquela terra para onde a camioneta, sem prévio aviso, segue à última hora, conduzindo passageiros de ocasião com prejuízo dos habituais passageiros e da cidade que fica desprovida de semelhante meio de transporte», lamentou, denunciando o que sucedera no domingo anterior: «Nas ruas do percurso, pessoas que se destinavam ao comboio, aguardavam impacientes a sua passagem. Esperaram, esperaram, esperaram. O veículo não veio... e o comboio foi-se. Aquele tinha seguido para Maiorca, onde, segundo parece, se efectuava uma tourada». «Pode a cidade estar à mercê dos caprichos arbitrários de quem quer que manda em tudo aquilo?», questionou.
Gripe obrigou a fechar Liceu José Falcão
Diário de Coimbra Memórias
5/11/1932 Funeral do artista, professor e político, fundador e director do Museu Machado de Castro, foi “uma grandiosa manifestação de pesar”
MORTE DO MESTRE ANTÓNIO AUGUSTO GONÇALVES FOI UMA “PERDA IRREPARÁVEL”
Teve devido destaque neste jornal a notícia da morte de António Augusto Gonçalves, uma das mais carismáticas figuras de Coimbra do século passado, homem das artes, do ensino e da política, a quem se deve a criação do Museu Machado de Castro (1911), de que foi primeiro director.
A primeira página da edição de 5 de Novembro de 1932 transmitia a consternação geral da cidade pelo falecimento, aos 83 anos, do mestre que durante várias décadas orientou, com o seu dinamismo, engenho e «traço profundo, a grande obra da arte coimbrã, a imortal escola de Coimbra, gizada sobre moldes antigos e modernos».
Fundador (em 1878) e director da Escola Livre das Artes do Desenho, foi mentor de várias gerações que ali, na Torre de Almedina, adquiriram formação e saberes que muito contribuíram para elevar as artes da escultura e estatuária, da azulejaria e serralharia ar-
tística. A sua maneira especial de ensinar seria enaltecida por um dos discípulos durante a cerimónia fúnebre: «Enquanto dava lições de arte aos seus alunos, ensinava-os também a amar a liberdade. O artista tem que ser livre, para
bem interpretar a vida». Nascido nesta cidade em 1848, António Augusto Gonçalves foi professor da cadeira de Desenho na Universidade de Coimbra, dirigiu a Escola Industrial e Comercial Brotero, orientou o restauro oitocentista
da Sé Velha (iniciado em 1893), foi, após a implantação da República, presidente da Câmara de Coimbra (de 1911 a 1913), publicou artigos em jornais e revistas e deixou «uma obra de grande valor - a Estatuária Lapidar no Museu Machado de Castro». A este museu, que dirigiu até lhe suceder Virgílio Correia em 1929, dedicava «uma atenção especial». «Olhava-o com carinho, com uma afeição paternal. Guardava, todas as noites,a sua chave. O guarda ia buscá-la, de manhã, para lha entregar de novo, à tardinha. Ontem, Mestre António Augusto Gonçalves pediu ao guarda para ir buscar a chave mais cedo, antes das nove horas. O Mestre estava ainda bem disposto - e conversava com naturalidade. À tardinha, cerca das dezassete horas, quando o guarda voltou a sua casa para lhe entregar a
chave, já havia morrido», escreveu o Diário de Coimbra. O funeral, no dia 5, entre a residência de António Augusto Gonçalves na Rua JoaquimAntónio de Aguiar, a «dois passos da Sé Velha», e o cemitério da Conchada, foi «uma grandiosa manifestação de pesar». «Nele se incorporaram algumas centenas de pessoas. Todas as classes sociais estavam representadas. Muitos operários - quase todos os alunos da Escola Livre das Artes do Desenho, de que o saudoso extinto foi fundador e professor. Destacam-se alguns vultos eminentes das artes, das letras e da política. Professores da Universidade e dos liceus. Muitos académicos. Pouco depois das 15,30 organizou-se o cortejo fúnebre. À frente, uma deputação de alunas do Liceu Feminino, em duas filas. Numa carreta ornamentada com crisântemos, foi depositada a urna de mogno que continha o cadáver do Mestre António Augusto Gonçalves. Pelas 16 horas, o cortejo fúnebre pôs-se em marcha. Em muitos olhos viam-se lágrimas. Em todas as almas, havia luto - eaquelas centenas de pessoas moviam-se debaixo do mais impressionante e respeitoso silêncio. Pelas ruas do percurso, todos se descobriam, respeitosamente, em homenagem ao Mestre. Todos sentiam a perda irreparável desse filho ilustre de Coimbra, a quem Coimbra muito fica devendo», anotou o jornal. M.S.
Relato de um incêndio na Fábrica da Cerveja
dos da paz, estavam a postos».
17/2/1933
Foi notícia a 17 de Fevereiro de 1933 o encerramento temporário, por ordem superior, do Liceu José Falcão, em Coimbra, «devido à intensidade com que lavra a gripe nesta cidade, atacando de preferência os meios escolares». Já dois anos antes, em Janeiro e Fevereiro, um surto de gripe tinha perturbado fortemente a vida dos cidadãos, levando ao fecho de vários estabelecimentos de ensino da cidade, como recordamos nesta página de memórias em 8 de Março de 2020.
29/7/1931 O «denodo, a coragem e a perícia dos bombeiros, tanto municipais como voluntários» mereceram elogios do jornal no relato do incêndio que, no dia 28 de Julho de 1931, danificou as instalações da Fábrica da Cerveja, na Avenida Emídio Navarro.
A notícia, no dia seguinte, informava que pelas 11h30 «os sinos das várias igrejas de Coimbra começaram a badalar desesperadamente, dando o alarme de fogo», e «instantes decorridos as “sereias” e as campainhas dos prontos-socorros, das auto-macas e das auto-bombas anunciavam que os bombeiros, os heroicos solda-
«Segundo as informações que conseguimos colher, o incêndio teve o seu início no madeiramento de um dos barracões, presumindo-se que fosse originado por alguma faúlha da chaminé da própria fabrica. Em virtude do estado ressequido das madeiras, dado o enorme calor que ultimamente tem estado, o fogo propagou-se rapidamente a vários barracões contíguos, que quase tiveram de ser destruídos à machadada, tal o incremento das chamas», descreveu o repórter.
Foram os Bombeiros Municipais os primeiros a chegar, atacando prontamente o incên-
dio, que «lavrava com intensidade», a partir da Rua da Alegria, onde montaram duas agulhetas «em outras tantas bocas de incêndio e mais duas, ali-
mentadas por poços da fábrica, accionadas pelas moto-bombas». «Poucos instantes decorridos, compareceram também os Bombeiros Voluntários, que iniciaram o ataque pelo lado interior da fábrica, aplicando as suas mangueiras em bocas de incêndio da Avenida Navarro, conseguindo em breves minutos apagar o fogo na casa das máquinas, onde fez bastos estragos, no telhado», prosseguiu.
O incêndio foi considerado extinto cerca das 13h00, graças ao «denodo, a coragem e a pericia dos bombeiros», que «mais uma vez mostraram do que são capazes, quando se trata de salvar tanto as casas
incendiadas, como as que se lhe encontrem contíguas».
Os Bombeiros Municipais mobilizaram para o local duas viaturas pronto-socorro, «a escada magirus e a auto-maca», enquanto os Voluntários levaram uma auto-bomba, «que não chegou a prestar serviços, um carro de vário material e uma carreta de mangueiras».
Alguns bombeiros e populares sofreram «ferimentos sem importância» no combate às chamas e o jornal alertou ainda «quem de direito» para o facto de que, «durante o tempo em que os bombeiros prestaram serviços, duas bocas de incêndio não tiveram água».
Diário de Coimbra Memórias
Novos limites entre Sé Nova e Santo António dos Olivais
5/11/1932
Noticiou o jornal uma «nova delimitação» de duas das principais freguesias de Coimbra - Sé Nova e Santo António dos Olivais. «De Santa Teresa, no cruzamento da Avenida Dias da Silva com o caminho do Cidral, sobe-se pela mesma avenida até ao Depósito das Águas; do Depósito das Águas segue-se à esquerda por uma rua nova ainda sem nome até ao Lugar Novo; do Lugar Novo segue-se ao extremo da Rua Antero do Quental; daí segue-se em linha perpendicular até à Rua de Montes Claros.
Tudo o que fica para a direita ficará pertencendo a Santo António dos Olivais, tudo o que fica para a esquerda continua a pertencer à Sé Nova», elucidou na nota publicada no dia 5 de Novembro de 1932.
FEDERAÇÃO DE COMISSÕES DE TURISMO DAS BEIRAS ERA IDEIA “EM MARCHA”
Um acordo para tornar o cinema mais popular em Coimbra
Cuidado
com os cogumelos silvestres
2/11/1932
Saborosos e nutritivos, os cogumelos silvestres são em certas alturas do ano um importante complemento alimentar, facilmente acessível nas matas a quem tenha paciência e conhecimento para os apanhar. Não isentos de risco, todavia, como o Diário de Coimbra alertou a 2 de Novembro de 1932. «Estamos na época própria em que os cogumelos surgem pelos terrenos húmidos e sombrios. E todos os anos, também nesta época, se dão casos de intoxicação em pessoas que confundem os bons com os perniciosos. Assim, no hospital de Alpedrinha [Fundão] receberam o respectivo tratamento, por intoxicação, uma mulher e duas crianças, da freguesia de Orca, felizmente sem consequências funestas. Para que tais factos se não repitam, é conveniente que haja o máximo cuidado. Aí fica a prevenção», aconselhou o jornal.
Publicou o Diário de Coimbra, a 29 de Agosto de 1932, o primeiro de uma série de artigos em defesa de uma federação que agregasse os organismos promotores do turismo existentes na região das Beiras.
O texto, ilustrado por uma gravura alusiva à carta turística da região de Coimbra que a Comissão de Turismo acabara de editar, sublinhava o incremento que este sector de actividade vinha registando nesta cidade.
«Coimbra é, sem a menor dúvida, a cidade da província onde mais se está desenvolvendo e mais brilhantemente frutificando a indústria de turismo, quando certo é que, durante muitos e muitos anos, quase não se deu pela existência dessa indústria. Constatado o facto por todos aqueles que seguem com particular atenção os progressos constantes desta cidade, não nos devemos admirar que muitos sejam os olhos que se voltam para ela, ansiosos de aprender e impacientes por a imitarem nas suas iniciativas e empreendimentos», observava o articulista,
dando conta, de seguida, do desejo de algumas localidades e regiões estabelecerem com Coimbra «entendimentos e acordos que lhe permitam uma melhor e mais profícua defesa dos seus interesses e aspirações dentro de uma possível federação regional, ou inter-regional, em que caibam os organismos de turismo que a ela queiram espontaneamente aderir».
Tal federação, apontava-se no artigo, teria por «principal fim prático estabelecer, com prévio acordo e assentimento de todos, as directrizes da acção comum a exercer, e a organização de um plano de obras e de iniciativas, a que ficassem subordinados todos os actos dos mesmos organismos, sem que cada um deles perdesse, nas suas respectivas localidades ou regiões, a sua independência orgânica e a sua autonomia administrativa».
Coimbra, preconizava o autor, ficaria sendo dentro da federação «o elemento orientador e de coordenação de todas as iniciativas e actividades atinentes à valorização dos interesses das localidades e regiões
espontaneamente federadas».
A união faz a força e as comissões de turismo da região só teriam a ganhar em federar-se. «Se a federação já hoje existisse, estamos convencidos que a Estrada das Pedras Lavradas, que tão grandemente interessa tanto a Coimbra como à Covilhã, estaria a esta hora acabada, como construída estaria a estrada da Aldeia das Dez ao Santuário da Senhora das Preces, que, se muito interessa a Oliveira do Hospital não pouco também importa a esta cidade como grande centro de turismo, com larga e bem manifesta influência em toda a região. E, de uma maneira geral, quanto não lucrariam também os grandes santuários do Senhor da Serra, da Senhora da Piedade e da Senhora do Monte Alto, que sendo centros de fé e devoção religiosa, nada perderiam se simultaneamente fossem centros de excursões e de vilegiaturas, como sucede com Lourdes e com Fátima! Em suma, a ideia federativa dos organismos de turismo está em marcha. Para que ela vingue e triunfe bastará apenas que o
Conselho Nacional de Turismo a acolha com simpatia, autorizando a constituição das federações regionais e inter-regionais», rematava o articulista. No mesmo sentido seria apresentada uma tese intitulada “A organização turística das Beiras”no V Congresso Beirão, realizado de 9 a 13 de Outubro de 1932 na cidade da Figueira da Foz. «Se for aprovada esta tese apresentada ao Congresso Beirão e o Conselho Nacional concordar com os princípios nela expostos pelo sr. dr. Falcão Machado, e que reflectem a opinião e a orientação seguidas pela Comissão de Turismo de Coimbra, que defende a organização federativa regional das comissões que tenham manifesta identidade de interesses e aspirações, temos a convicção de que o primeiro núcleo federativo que se constituiria seria formado pelas comissões de Coimbra, Covilhã, Arganil e Lousã, e que, neste núcleo, ingressariam mais tarde as comissões de Oliveira do Hospital, Seia e Gouveia, isto é, logo que nestes concelhos as respectivas comissões de turismo forem criadas, como é necessário que sejam, para a mais rápida e completa valorização da Serra da Estrela e dos grandes santuários do Alto Distrito de Coimbra, para fins de turismo. E se isto afirmamos é porque sabemos que estas comissões, além de terem bastantes interesses e aspirações comuns a defender, têm também estreitos laços naturais de simpatia a atraí-las e a prendê-las, e estas circunstâncias são fundamentais para o bom e feliz êxito de uma federação desta natureza», lia-se na edição de 11 de Outubro. M.S.
5/11/1932 O Diário de Coimbra elogiou, na edição de 5 de Novembro de 1932, um acordo para tornar a exibição de filmes acessível às «bolsas mais modestas». «As empresas de Coimbra, no intuito de facilitarem a todo o público sessões de cinema a preços compatíveis com as bolsas mais modestas, conseguiram contratar com algumas casas distribuidoras uma série de filmes que serão exibidos no Salão Tivoli às segundas, sextas e domingos a preços populares. Assim, para o próximo dia 11 será estreado o filme da Paramount “Sua esposa perante Deus”, que tanto sucesso obteve em Lisboa. Não se trata de filmes reposição mas sim de estreias que tenham sido exibidas em Lisboa e Porto. Por esta forma o público de Coimbra poderá, como o de nenhuma outra cidade, assistir a toda a produção sonora que tenha entrado em Portugal, visto que quase diariamente se lhe apresentará um novo filme quer no Avenida, quer no Tivoli», informou. A nota, intitulada “Cinema popular”, ressalvava que «os preços feitos para o cinema Tivoli são tão reduzidos que as empresas em nenhuma hipótese poderão obter resultados favoráveis, atendendo que o custo dos filmes ainda está a preços que não admitem lucros». Acrescentava ainda que o Cinema Avenida continuaria «na série de estreias», trazendo de imediato a Coimbra o que se exibia «nos melhores cinemas de Lisboa e Porto», para o que «teve de empregar os seus melhores esforços junto das casas distribuidoras por forma a que a nossa cidade fosse a segunda ou pela menos a terceira cidade do país onde os filmes sensacionais devem ser passados».
Um “pauliteiro” feroz na feira de Maiorca
Diário de Coimbra Memórias
21/11/1932
como verdadeira associação académica que é».
30/11/1932
O redactor do Diário de Coimbra na Figueira da Foz informou que no Hospital da Misericórdia recebeu curativo o guarda fiscal António Matoso, a uma «extensa brecha na cabeça que foi suturada com alguns pontos», após ter sido agredido na feira mensal de Maiorca «ao tentar fazer a apreensão dum isqueiro».«Estabeleceu-se rebuliço. O povo, juntando-se, tomou o partido contrário àquele. Os varapaus, advogando a causa popular, a breve trecho andavam no ar como lanças em batuque selvagem. Generalizada a contenda, entre gritarias, ameaças e discussões vociferadas, numa algazarra indescritível, interveio a autoridade, na pessoa do regedor das Alhadas, sr. António José Abrantes, que não obstante as suas intenções conciliadoras foi igualmente contemplado com uma paulada na cabeça, da qual foi pensado no Hospital. O endemoninhado “pauliteiro”, de sua graça Joaquim Domingues, que em prodígios de ginástica braçal bem podia concorrer às Olimpíadas, foi, por fim, reduzido à obediência, de nada lhe valendo o ter-se esgueirado. Conduzido, sob prisão, para esta cidade, deu entrada na cadeia onde, por certo, a estas horas, depois de muito excogitar deve ter compreendido que com a autoridade não se brinca, nem com uma flor, ainda quando exercida na caça feroz à multadesta vez, mau grado, substituída por um rombo no toutiço...», relatou, com ironia.
Prémio para quem encontre “fósforo que ri”
5/11/1932 Um anúncio na edição de 5 de Novembro de 1932 incentivava os leitores à compra dos fósforos da marca Fosforeira, representada em Coimbra pela firma Lusa Athenas, Lda., habilitando-se dessa forma a «vários prémios sorteados em todas as lotarias da Santa Casa no fim de cada mês», a «uma libra em ouro quando encontre o fósforo que ri» e «ao sorteio duma casa em estilo português, na próxima lotaria do Natal».
AMEAÇA DE FECHO DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA PREOCUPOU A CIDADE
Causou algum alarme a notícia, que este jornal publicou a 21 de Novembro de 1932, de um decreto regulamentador do «funcionamento de todas as associações de estudantes do país», em virtude do qual «aAssociaçãoAcadémica de Coimbra teria que encerrar as suas portas no fim do corrente mês».
Opondo-se a essa eventualidade, o Diário de Coimbra esclareceu que «a associação dos nossos estudantes difere, em muito, das suas congéneres». «Não se trata, evidentemente, duma associação com qualquer carácter político ou religioso definido, mas apenas dum Palácio de Estudantescasa onde todos os académicos se reúnem e convivem.
Por isso mesmo, a Associação Académica de Coimbra tem uma alta finalidade social que não deve ser olvidada por quem de direito. Por essas razões, e bem fortes e convincentes elas são, os actuais corpos directivos da Associação Académica vão dirigir-se ao
Governo, a fim de que tal decreto, ao ser posto em execução, não venha prejudicar, de qualquer forma, o funcionamento da casa dos estudantes
de Coimbra», noticiou.
Um dia depois, voltando ao assunto, escreveu que «todos os conimbricenses se têm manifestado a favor do funciona-
Mas já na edição seguinte o jornal procurava tranquilizar os leitores. Assegurando que «a Associação Académica continuará a funcionar», dava conta de uma reunião realizada no Governo Civil com os dirigentes estudantis. «Conferenciaram demoradamente com o sr. governador civil sobre o grave problema do encerramento da casa dos estudantes. O sr. dr. Moura Relvas, depois duma exposição detalhada feita pela direcção da Associação Académica, fez sentir que ia proceder às necessárias diligências, na certeza de que aquela velha e prestimosa entidade continuará a funcionar como até agora», divulgou.
mento da casa dos nossos estudantes», reiterando que ela, «alheia a qualquer paixão política, tem sempre funcionado apenas para os estudantes,
Informou ainda que, sobre o mesmo assunto, «conferenciou também a direcção da Associação Académica com o sr. Reitor da Universidade». «O sr. Dr. João Duarte de Oliveira prometeu interceder junto de quem de direito para que a Associação Académica não seja encerrada. Sabemos ainda que o Senado Universitário se manifestou a favor do funcionamento da casa dos estudantes. Alegrem-se, pois, os nossos académicos, que a sua gloriosa Associação não será encerrada», lia-se na primeira página do jornal do dia 23 de Novembro. M.S.
Preço de livros escolares era martírio para os pais
28/10/1932 Os preços “incomportáveis” dos livros escolares mereceram reparo num artigo que o Diário de Coimbra dedicou a “Questões do Ensino Secundário” na edição de 28 de Outubro de 1932.
Alertava o texto para «medidas ultimamente decretadas» que colocavam «em sérias dificuldades os pais que aos seus filhos pretendem dar educação e predispôs-los para um futuro que lhes permita triunfar na vida», elencando «as matrículas caras, os livros igualmente caros, o regime de faltas muito exigente, e para complemento ainda de tanta
dificuldade, exige-se-lhe a classificação de 12 valores na 5.ª classe, condição indispensável para a passagem à 6.ª classe».
«Compreendemos muito bem a intenção do senhor ministro, que pretende fazer uma selecção de competências, a fim de evitar que os incompetentes venham para a vida a perturbar o seu normal e progressivo andamento, inutilizando com a sua concorrência a utilidade de quem de direito. Mas, a rígida classificação dos 12 valores pode dar margem a parcialidades», comentava o autor.
A aquisição dos livros representava todavia especial preo-
cupação para as famílias com filhos no ensino liceal. «Certamente por necessidades de or-
dem pedagógica o sr. ministro da Instrução aprovou livros novos para o ano lectivo liceal corrente. Mas não se pode admitir que os seus preços sejam incomportáveis. Os livreiros não têm a culpa, afirmam eles e nós acreditamos. De quem é, então, a culpa?», questionava o jornal, pedindo a atenção do governante para o assunto.
No mesmo sentido, publicou o Diário de Coimbra por esses dias uma carta de um leitor, encarregado de educação, a lamentar as «constantes mudanças de livros escolares, especialmente dos liceus, o que obriga os pais a sacrifícios vio-
lentos, que constituem verdadeiras desumanidades». «Esse facto é agravado com o sistema seguido por certos autores, reunindo num só volume matérias referentes a diversas classes, o que torna o livro excessivamente caro. Para cúmulo, muitas vezes põe-se de lado esse livro, no ano seguinte ao da sua compra, para se adoptarem outros! Por aqui se avalia o martírio dos desgraçados pais que não disponham de grandes rendimentos», desabafava, exemplificando que havia livros para os liceus postos à venda na cidade que custavam «entre 30 a 40 escudos».
O “António da Amália” não tinha emenda
5/11/1932 Compadeceu-se o Diário de Coimbra da situação de um pobre desgraçado desta cidade, alcoólico e pintor desempregado, que se comprometera a não mais beber e causar provocações. No dia 5 de Novembro de 1932, confiante na mudança de comportamento, o jornal publicou um apelo para que «as almas caridosas» lhe dessem trabalho. Debalde, no entanto, já que dias depois, a 15 de Novembro, resignava-se à evidência de que o “António da Amália” não tinha emenda. «Este diabo, ontem, insultou no Beco da Boa União, onde reside, toda a vizinhança, com os nomes mais indecorosos e infames. Tinha-nos prometido, há dias, emendar-se, quando aqui esteve, chorando a sua desdita... Hoje volta à mesma e está provado que os seus vizinhos nada têm com o seu mau vinho. Impõe-se a intervenção da autoridade, para acabar de vez com aquela má criação de todas as horas», sugeriu o redactor.
Sortido de moda “colossal” para a estação de Inverno
1/11/1932 Com o título “As senhoras e a moda”, lia-se na edição de 1 de Novembro de 1932 deste jornal que as casas de moda de Coimbra preparavam os seus “stocks” para a abertura da estação de Inverno, de modo a «satisfazerem as necessidades exigentes das nossas senhoras elegantes». «De entre esses “stocks” apresentados já, destaca-se o da acreditada e conhecida casa Santos & Dias, costureiros que se têm vindo a impor graças ao seu fino e apurado gosto e às suas maneiras afáveis e gentis. Desse sortido, verdadeiramente colossal, onde há de tudo que a moda criou, não se sabe mais que admirar: se o bizarro das cores, se a pureza do gosto», elogiou o Diário de Coimbra, dirigindo por esse facto «sinceros parabéns» aos «dignos comerciantes» da cidade.
Diário de Coimbra Memórias
27/11/1932 Inauguração da luz eléctrica foi um grande acontecimento, que atraiu à vila de Condeixa-a-Nova gente de todo o concelho
MULTIDÃO EM CONDEIXA DE “OLHOS POSTOS NA LÂMPADA MAIS PRÓXIMA”
O“enviado especial” do Diário de Coimbra relatou «grandes manifestações de entusiasmo» na inauguração, a 27 de Novembro de 1932, da luz eléctrica em Condeixa-a-Nova.
Os benefícios da electricidade ainda não tinham chegado a muitas povoações de Portugal no início da terceira década do século passado, pelo que a novidade justificava os festejos e «animação extraordinária» a que na tarde daquele domingo se assistiu na vila de Condeixa.
«Veio gente de todo o concelho, utilizando-se dos mais variados meios de transporte, a fim de assistir às anunciadas festas de inauguração da luz eléctrica. Pelas 17 horas, as avenidas dos bairros novos - uma obra que se vem fazendo a passos agigantados e que é do maior alcance para a vila - estavam pejadas de pessoas de todas as categorias sociais. A multidão comprimia-se, sobretudo no largo onde se ergue a nova cabine do transformador,
donde partem as ligações da iluminação pública e particular, para todas as ruas», descreveu o repórter incumbido de cobrir o acontecimento.
Pelo relato, publicado na edição do dia seguinte, ficamos a saber que junto à cabine de electricidade «aglomeravam-se os representantes das entidades oficiais de Coimbra, Condeixa e Lousã», enquanto o
povo aguardava «com viva ansiedade» que fosse «feita a ligação da luz» e, «de olhos postos na lâmpada mais próxima, centenas de pessoas» esperavam ver «transformado em realidade, num ápice, o seu sonho de há muitos anos».
O advogado João Bacelar, presidente da Câmara de Condeixa e colaborador habitual deste jornal, dirigiu «duas pa-
lavras, simples e despretenciosas», ao povo, «gente do campo, na sua maioria», que o aplaudiu «com entusiasmo», e convidou o tenente José Beato, administrador do concelho, a «fazer a ligação do interruptor geral».
«A luz surge. Era uma realidade. E uma realidade consoladora - a avaliar pelas manifestações calorosas a que se entregaram aquelas centenas de pessoas, que estavam de olhos postos na lâmpada mais próxima - enquanto uma banda executava algumas partituras», registou o jornalista.
A festa, lê-se na notícia, prosseguiu com uma sessão solene no «novo Salão-Teatro, propriedade do comerciante sr. Joaquim da Costa - um edifício construído propositadamente para o fim a que se destina e que será inaugurado por estes dias - novo factor de progresso da vila de Condeixa».
«O salão estava repleto. Usan-
do da palavra em primeiro lugar, o sr. dr. João Bacelar declara que a sessão é apenas uma festa de homenagem ao tenente sr. José Beato e aos seus colaboradores - a todos os condeixenses, enfim, que trabalharam para que fosse uma realidade a luz eléctrica que se acabava de inaugurar. Depois, incita todos os homens bons do concelho de Condeixa a trabalharem pelo progresso da sua terra, numa estreita e necessária união. Fala, depois, o tenente sr. José Beato. Referindo-se ao melhoramento importante que é a luz eléctrica, declara, com entusiasmo: - Fez-se esta grande obra sem auxílios do Estado e sem nada se ficar a dever a quem quer que seja. Os cofres da Câmara, hoje, podem saldar todos os compromissos», anotou o “enviado especial”.
Também presente, o presidente da Câmara Municipal da Lousã, Eugénio Mascarenhas, «saudou, em nome do seu concelho, o povo de Condeixa» e dirigiu algumas palavras especiais de homenagem «ao industrial lousanense sr. José Rebelo, que se encontrava presente, sócio da importante firma Padilha & Rebelo, daquela vila, fornecedora da energia eléctrica a Condeixa».
A concluir o texto, dava-se a informação de que os trabalhos de instalação da rede geral de iluminação eléctrica, bem como o respectivo transformador, tinham sido «executados pela importante companhia de electricidade Siemens». M.S.
Abolição da gorjeta era um acto de justiça
14/11/1932 ODiário de Coimbra noticiou a 14 de Novembro de 1932 que estava em preparação um decreto para acabar com as gorjetas aos empregados de mesa dos cafés, restaurantes e hotéis, congratulando-se com uma medida considerada importante para a dignificação destes profissionais.
«Entre os variadíssimos decretos que têm sido promulgados pelas várias pastas ministeriais dos governos da Ditadura, um vai ser mandado, agora, para o “Diário do Governo”, que merece o nosso mais franco aplauso e a nossa
concordância. É o decreto que extingue a gorjeta ao pessoal dos hotéis e restaurantes», escreveu o jornal, num texto que intitulou “Um decreto nobilitante e justo”.
Tal diploma, adiantou, constava de um «artigo único, com dois números, ou parágrafos, duma eloquente simplicidade e valor». «Doravante, jamais os empregados dessas casas, ou estabelecimentos, estarão sujeitos à generosidade forçada, ou convencional, dos fregueses, generosidade que muitas vezes se traduz numa esmola grosseira e arrepiante, para ser cobrada, nas contas dos referidos
clientes, uma percentagem digna, e à altura dos serviços por eles prestados no uso da sua
profissão, que longe de parecer um favor, seja antes a justa recompensa ao trabalho honestamente prestado, por uma classe que merece todo o nosso respeito e atenção. O decreto está elaborado de maneira a não serem permitidas quaisquer infracções por parte do referido pessoal, adoptando sanções rigorosíssimas e moralizadoras da sua doutrina e finalidade, contra todos aqueles que, ferindo essa doutrina e finalidade, receberem gratificações directas dos clientes, seja a que título for», elucidou.
A promulgação de tal diploma legal, comentou o autor
do artigo, se «de um modo bizarramente elegante» contribuía para «o prestígio e dignificação duma classe que é credora da nossa melhor simpatia», por outro lado prestigiava também «a pena que o redigiu, dando-lhe vida, sentido e realidade, satisfazendo, enfim, de uma vez para sempre, as legitimas aspirações desse punhado de trabalhadores que moirejam, honradamente, noite e dia, pelo pão dos seus filhos».
«A abolição da gorjeta é, pois, um acto justíssimo que honra o ministro que lhe deu a sentença de morte», concluía o jornal.
Em Portugal a gorjeta aos empregados é facultativaObra de instalação da energia eléctrica em Condeixa fez-se “sem auxílios do Estado” e sem ficar a dever D.R. D.R.
Orfeão da Escola Brotero iniciava ensaios
30/11/1932 O Diário de Coimbra comunicou, a 30 de Novembro de 1932, que iam começar os ensaios do Orfeão da Escola Brotero, «interessante e educativa agremiação de canto coral», sob a «hábil regência do sr. dr. Raposo Marques que, como sempre, grande entusiasta da sublime arte em que é especializado, vai comprovar a sua competência». «Entre a mocidade que frequenta a Escola Brotero lavra grande animação, na ânsia de aperfeiçoarem a sua educação, encontrando-se muito reconhecidos ao sr. Director do mesmo estabelecimento de ensino pela feliz iniciativa, prova evidente de que não descura a educação dos alunos sob a sua orientação e direcção. Outras iniciativas, em breve, ali terão execução, como sejam ginástica médica, organização de um grupo cénico e outros, em estudo, entre a Caixa Escolar e o sr. Director que, certamente, vão contribuir para o engrandecimento da Escola e o bom aproveitamento dos alunos», vaticinou, congratulando-se com a informação que um aluno lhe fez chegar, «pois que a educação da mocidade cada dia mais acentuadamente se reconhece que carece ser orientada com cuidada circunspecção».
Detidos por vaguear a desoras
13/11/1932 Com o título “Limpeza da Cidade”, o jornal noticiou a 13 de Novembro de 1932 a detenção, pela polícia, de vários indivíduos por «terem sido encontrados a vaguear a desoras e não terem residência». Por esse motivo, recolheram «aos calabouços do Governo Civil» José Carvalho, 36 anos, sem profissão, de Poiares; António Casais Pinto, 50 anos, sem profissão; Manuel Pereira Batista, 29 anos, do Porto; Ananias Lopes, sem residência; Manuel Lopes de Sousa, 20 anos, de Santa Marinha; Adelino de Sousa, desta cidade; Eugénio Amaro, de Abrunheira; Teófilo Ventuôso, de Carcavelos; Artur Pereira da Costa, de Lisboa, e Artur da Costa Novais.
Diário de Coimbra Memórias
31/1/1932 Milhares de pessoas testemunharam o tributo da cidade a um dos maiores republicanos, cujo nome foi dado à rua principal de Montes Claros
COIMBRA HOMENAGEOU O PALADINO DA DEMOCRACIA ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA
dade que ia ser prestada ao beirão mais ilustre entre os mais ilustres; ao amigo querido que a Coimbra quis como poucos», registou, mencionando as entidades presentes.
Pedia-se novo Jardim-Escola João de Deus em Coimbra
Uma das maiores figuras republicanas foi homenageada a 31 de Janeiro de 1932 em Coimbra, que inaugurou uma rua com o seu nome em Montes Claros.
Nascido a 17 de Julho de 1866 em Vale da Vinha, concelho de Penacova, António José de Almeida destacou-se como um dos principais opositores ao regime monárquico e defensores dos ideais republicanos.
Presidente da República de 1919 a 1923, viria a falecer em Lisboa aos 63 anos, em 31 de Outubro de 1929.
Com muitos amigos e correligionários nesta cidade, onde se formou em Medicina e teve papel particularmente activo na contestação ao conservadorismo académico (e por isso foi fortemente penalizado), a reputação e importância de António José de Almeida para a implantação e consolidação da República justificavam a homenagem póstuma que uma comissão (que incluía nomes como Bis-
saya Barreto, Ângelo da Fonseca e António Augusto Gonçalves) entendeu promover-lhe, propondo à Câmara Municipal que o nome do idealista e visionário republicano fosse atribuído «à rua mais importante do importante bairro de Montes Claros».
Reunida a 16 de Julho de 1931, a Câmara de Coimbra concordou e aprovou que «o nome do grande paladino da República» fosse dado à rua central de Montes Claros, devendo «a colocação da lápide ser feita com toda a merecida solenidade».
Assim viria a acontecer a 31 de Janeiro de 1932. Na edição de 2 de Fevereiro – no dia 1 o jornal não se publicou devido à solenidade da véspera, evocativa da primeira revolta republicana de 1891 – o Diário de Coimbra relatou «a grandiosa e sentida homenagem à memória do grande democrata» António José de Almeida.
«Para que a manifestação revestisse maior cunho popular e traduzisse na realidade uma
prova de admiração e respeito da cidade de Coimbra, organizou-se um grande cortejo em que se incorporaram milhares de pessoas de todas as categorias sociais, composto de todas as entidades oficiais e de representantes das diversas colectividades locais», descreveu o repórter.
O cortejo, iniciado na Praça 8 de Maio, ao meio-dia, «pôs-se em marcha em direcção a Montes Claros», ouvindo-se foguetes e «ao mesmo tempo frenéticos vivas à República e à Pátria, que eram correspondidos com entusiasmo». Seguiu pela Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, Avenida Sá da Bandeira, Rua Tenente Valadim, Rua Antero Quental, Rua 12 de Outubro, Bairro Operário e Montes Claros, sendo «durante o percurso muito saudado pelo povo, que abrindo alas erguia vivas à República».
«Pode dizer-se que todas as colectividades de Coimbra se associaram à imponente manifestação de simpatia e sau-
Em Montes Claros, cuja rua principal «se achava apinhada de povo, vendo-se as janelas ornadas de colgaduras e repletas de senhoras», teve lugar a cerimónia do descerramento da artística lápide toponímica, com «desenho do mestre António Augusto Gonçalves» e mandada executar «a expensas de um grupo de amigos do falecido democrata». Momento abrilhantado pela banda do Grupo Musical Recreativo, com «os acordes do hino Maria da Fonte, ao mesmo tempo que de todos os lados se ouviam estrepitosas palmas, muitos e frenéticos vivas, subindo ao ar uma girândola de foguetes».
A Ângelo da Fonseca, director dos Hospitais da Universidade, coube o primeiro discurso, em nome da comissão promotora da homenagem, tendo feito «em traços largos o retrato moral do saudoso amigo e grande paladino da causa da Democracia». Falaram ainda Afonso Maldonado, presidente da Câmara Municipal, e o governador civil, Albino dos Reis. «Todos os oradores no final dos seus discursos foram saudados pela assistência com frenéticas e prolongadas salvas de palmas», apontou o jornalista do Diário de Coimbra, acrescentando à sua reportagem a nota de que «um numeroso grupo de estudantes, após a chegada do cortejo ao local da homenagem, entoou “A Portuguesa”, que foi ouvida com o maior respeito pela assistência». M.S.
28/11/1932 Na edição de 28 de Novembro de 1932 elogiava este jornal «uma das mais simpáticas e interessantes instituições da nossa cidade, o viveiro infantil que funciona muito alegremente, lá em cima na Alta, muito pertinho do Jardim Botânico e que se denomina Jardim-Escola João de Deus». «Encarecer os relevantes serviços dispensados à nossa infância, o carinho maternal que ali recebem, o zelo e interesse do pessoal docente pela sua augusta missão é tarefa quase desnecessária, porque é do conhecimento público. Mas a Escola já não comporta a população infantil que ansiosa espera vacatura. A actual frequência é de 104 crianças e esperam vaga mais de 100», lia-se no texto, intitulado precisamente “Jardim-Escola João de Deus - Um, apenas, não chega para Coimbra”.
Justificava-se por isso o repto: «Coimbra carece de ser urgentemente dotada de outro edifício com características idênticas e interessante seria que a nossa mocidade académica chamasse a si tão altruista iniciativa, como da sua iniciativa foi também a criação do actual Jardim-Escola. A mocidade sempre de coração aberto para acolher os actos generosos e abnegados, mais uma vez provará como sabe aviventar e fortalecer uma ideia altruista, cujos efeitos perdurarão, através dos tempos, tal qual tem perdurado e perdura a obra genial de que hoje nos ufanamos, e que sob a égide do mimoso poeta do Campo de Flores, lá em cima, muito no alto da cidade, tanta criança tem acarinhado e acarinha, educa e instrui maternalmente».
O Jardim-Escola João de Deus de Coimbra abriu em 1911 e o 2.º Jardim-Escola seria inaugurado sete décadas depois, a 8 de Março de 1980, na Solum.
Diário de Coimbra Memórias
Uma suja vingança entre primos
4/11/1932 Outrora amigos, as relações entre os primos Manuel Tavares e Manuel Tavares d’Almeida, residentes no lugar da Ribeira, Vale de Cambra, tinham-se deteriorado de tal forma que resultaram no deplorável episódio divulgado por este jornal na edição de 4 de Novembro de 1932. «O Tavares d’Almeida, que é rancoroso, desejando tirar vingança do primo, imaginou e levou a efeito um processo torpe e mesquinho. Certa noite, quando a aldeia dormia, foi-se ao telhado do lagar do Manuel Tavares, e destapando-o, despejou sobre o belo mosto que ali fervia e refervia, para ser recolhido nas vasilhas, uma porção de dejectos e urinas que tinha previamente juntado, numa fossa, perto de casa. Quando se dispunha a envasilhar o mosto, o Manuel Tavares verificou, provando-o, que o mosto estava estragado, e que também cheirava mal. Pôs logo o dedo na ferida. Fora o primo, com toda a certeza. Não poderia ser outro. Justamente indignado, entregou o caso à polícia. Foi encarregado das averiguações o agente Santos Junior, da P. I.C., que depois de o ter submetido a apertado interrogatório, conseguiu do Tavares d’Almeida a confissão do crime», esclareceu o texto, com o título “Uma vingança pouco asseada”. O autor da notícia comentou que «este expediente do Tavares revela um tal índice de malandrice que nem sendo ele partidário da lei seca se lhe poderia perdoar». Recolheu por isso à cadeia do concelho, «muito embora se tivesse prontificado desde logo a indemnizar o parente do prejuízo que lhe causara».
Enfermeira na Grande Guerra pedia trabalho
9/10/1932 «Senhora muito modesta e honesta, falando português, francês, alemão e espanhol, que foi enfermeira na Grande Guerra e agora em situação difícil, oferece-se para leccionar ou para enfermeira, costura, engomar, passar a ferro ou qualquer outro serviço», lia-se num anúncio deste jornal.
FEIRA SEVILHANA, ESGRIMA E “TOILETTES DE PAPEL” AGITAVAM VERÃO NA CURIA
Estância de “repouso e cura”, afamada pelas águas termais, a Curia atraía gente de todo o país e fervilhava de vida na época de veraneio. Da agitação social neste «centro de turismo privilegiado» dava conta o Diário de Coimbra, relatando há 90 anos as elegantes festas que animavam o Palace Hotel, luxuoso e cosmopolita empreendimento de Alexandre de Almeida.
Na edição de 13 de Agosto de 1932, o jornal constatava o «excepcional interesse» com que estavam decorrendo as festas de Verão organizadas pelo Palace Hotel, que registava «mais hóspedes que em igual época do ano passado».
«O baile que ontem se realizou no belo salão de festas, acompanhado de um concurso de “toilettes de papel”, foi um acontecimento mundano digno de relevo. Vinte e duas gentis meninas se apresentaram com originais e elegantes vestidos confeccionados em papel. Durante o baile, os assistentes, muito numerosos, iam registando, por escrito, qual o vestido que consideravam mais interessante», anotou o correspondente do Diário de Coimbra na Curia, destacando
a vencedora, Maria Cecília de Almeida, «cuja mocidade gentilíssima era realçada pela elegante simplicidade dum gracioso vestido lilás em três tons».
A mesma notícia anunciava o Campeonato de Esgrima que iria começar nesse dia nos terraços do Palace Hotel, iniciativa da «florescente agremiação desportiva Curia Palace Sports Club», com participantes de todo o país e «a presença do ministro da Guerra». Seguir-se-ia no hotel «um jantar à americana», em honra dos esgrimistas, no qual teria lugar «um in-
teressante concurso de dança».
Dias depois, os jardins do hotel acolheram a “Grande Feira Sevilhana”, festa de beneficência patrocinada pela Imprensa de Coimbra e de Aveiro, a favor dos pobres por ela protegidos.
Inaugurado a 18 de Agosto, quinta-feira, o evento prolongou-se pelo fim-de-semana com programa diversificado, incluindo «garraiada à espanhola, com gado dos campos de Formoselha», descantes regionais, fados, bailes, cinema ao ar livre e outras actividades.
«Algumas artistas espanholas
virão exibir bailados e cantar graciosas cançonetas. Alguns académicos, tocadores de viola, uma filarmónica e gaiteiros encherão de animação os jardins do Palace Hotel», comunicava o jornal, informando também que «formosas senhoras» venderiam «sortes, chá, etc.» nas «artísticas barracas» de beneficência de várias instituições, destacando entre elas a do Ninho dos Pequenitos, «um belo trabalho, muito interessante e bastante original, do pintor modernista Pedro Olaio».
No dia 23, o “enviado espe-
cial” do Diário de Coimbra relatava o encerramento das «grandes festas sevilhanas, que decorreram brilhantemente».
«A “Feira Sevilhana” da Curia revestiu-se este ano, como nos anos anteriores, duma completa animação e entusiasmo. As iluminações dão aos jardins do Palace Hotel um efeito surpreendente. Numerosos grupos de meninas e senhoras, em vistosos trajos sevilhanos, põem uma nota alegre e pitoresca no ambiente», descreveu.
Registou, por outro lado, que o «programafoi ampliado com um interessante número, oferecido por um grupo de académicos de Coimbra, que contribuíram para o êxito das festas com todo o seu entusiasmo e alegria, em favor do Asilo da Infância Desvalida». «Assim, nos jardins do Palace Hotel realizou-se um pequeno sarau, organizado e levado a efeito pelo grupo académico, que teve artes de manter o numeroso e selecto público, durante mais de uma hora, numa completa e constante gargalhada, mercê das excentricidades dos fados, cantares, danças e várias pantominas de Henrique Mota (Pantaleão) e João Azevedo, e, bem assim, de alguns números de prestidigitação de M. Condorcet, que bastante intrigaram o público. Flávio Rodrigues, o grande guitarrista conimbricense, acompanhado à viola por José Maria dos Santos, fizeram-se ouvir em guitarradas que foram muito apreciadas e aplaudidas», testemunhou o repórter deste jornal. M.S.
À espera do assaltante que vinha na camioneta
29/11/1932 Com o título
“Um importante roubo praticado há meses que agora é descoberto”, o Diário de Coimbra noticiou, na edição de 29 de Novembro de 1932, a detenção pela Polícia de Investigação Criminal de um indivíduo que era suspeito de ter assaltado uma ourivesaria em Arganil.
«Em Maio findo», recordou, «foi assaltada em Arganil a ourivesaria do sr. João Fernandes Nepomoceno, donde furtaram
objectos de ouro e prata, na importância de 25 contos, sem que, até agora, o gatuno ou gatunos tivessem deixado quaisquer indícios para a sua descoberta». «Sucede, porém, que há tempos a esta parte, o electricista António dos Santos, natural daquela mesma vila, começou a usar um relógio de pulso que logo deu nas vistas como sendo um dos objectos roubados. Vai daí, o sr. Nepomoceno imediatamente se pôs em co-
municação com o chefe Mota, da Polícia de Investigação Criminal de Coimbra, tendo ficado assente que o Santos fosse devidamente vigiado e que logo que ele pretendesse sair daquela vila, certamente no intuito de proceder à venda dos objectos roubados, imediatamente fosse comunicado esse facto àquele agente, a fim de ele agir conforme as circunstâncias aconselhassem. E assim, sabendo o sr. Nepomoceno que
o Santos tencionava ontem ausentar-se de Arganil para Lisboa, telefonou ao chefe Mota comunicando-lhe este facto, tendo, por sua vez, o chefe Mota dado as suas instruções aos agentes Pinto e Loureiro daquela polícia, os quais se dirigiram ao Largo das Ameias, onde, à chegada da camioneta que faz carreira entre Coimbra e aquela vila, prenderam o Santos que, interrogado na polícia, confessou ser o autor do roubo,
tendo-lhe sido apreendidos alguns objectos de ouro e prata na importância de uma dezena de contos», relatou o jornal.
Informou também que o detido António dos Santos declarou à polícia que «não tinha cúmplices e que já duas vezes havia ido ao Porto proceder à venda de parte dos objectos, tencionando, agora, dirigir-se a Lisboa para vender a parte restante, que, ontem, no acto da sua prisão, lhe foi apreendida».
Diário de Coimbra Memórias
Barqueiro salvou criança de morrer afogada
19/11/1932 Manuel Alvarez, de 5 anos de idade, filho do chefe de secção das Fábricas Triunfo Francisco Alvarez, brincava a meio da tarde do dia 18 de Novembro de 1932 junto do gradeamento do Largo das Ameias quando, inadvertidamente, caiu ao rio Mondego. «A criança foi salva pelo barqueiro Manuel Modesto. Uma filha deste ainda se lançou à água, com o mesmo intuito, tendo que se retirar por não saber nadar. Actos como este que praticou o barqueiro Manuel Modesto merecem a consideração de quem de direito», elogiou no dia seguinte o Diário de Coimbra, numa breve notícia com o título “Acto humanitário”.
Arganil pediu ao ministro a estrada da Serra
JORNAL RECLAMOU OBRAS PARA A RUA DA SOFIA
A29de Novembro de 1932 o Diário de Coimbra congratulava-se por finalmente estarem em andamento, ainda que não ao ritmo desejável, as obras de pavimentação da Rua da Sofia.
bros à empresa e ali se vê, com agrado de Coimbra, uma brigada de trabalhadores. O passeio do lado do poente ficará até fins do mês completamente renovado. O do lado do nascente, iniciar-se-á logo que as festas da Rainha Santa tenham terminado. Nestas obras gastará a Câmara aproximadamente 150 contos», noticiou.
ver, ainda era muito mais interessante...», criticava.
No ano seguinte o problema persistia, observando o jornal, a 12 de Janeiro, que a Rua da Sofia, «mercê do seu trânsito contínuo, apresenta um aspecto detestável de que sobressaem os passeios, autênticos atoleiros, verdadeiros chafurdos em que toda a gente se atasca».
16/11/1932
O Diário de Coimbra noticiou a 16 de Novembro de 1932 que o Grémio da Comarca de Arganil, «acompanhado por numerosos arganilenses residentes em Lisboa», entregou ao ministro das Obras Públicas e Comunicações, engenheiro Duarte Pacheco, «uma mensagem acerca da construção da chamada estrada da Serra, no concelho de Arganil». «Diz-se no referido documento que a estrada não pode deixar de partir de Folques, porque assim servirá muitas povoações e será muito menos dispendiosa. Acrescenta-se que, construindo-se a estrada a partir de Folques, onde já há estrada de macadame há mais de 35 anos, em direcção à Selada das Eiras, ficam os povos da Serra ligados com a estrada que de Folques segue já em direcção ao Pisão de Coja, e cuja construção chega já ao Alqueve, sendo desta maneira fácil a comunicação entre a Serra e a Estrada da Beira. E pede-se, por fim, que se faça partir a referida de Folques, em direcção à Selada das Eiras, como já em 1876 foi determinado», informou o jornal, concluindo que o ministro «prometeu estudar cuidadosamente o assunto, e resolver como for justo e conveniente».
Dois anos antes, já o jornal pugnava por este melhoramento, lamentando, na edição de 1 de Novembro de 1930, que a «mais ampla, a mais direita a mais alegre rua de Coimbra» tivesse sido votada ao esquecimento. «Sendo, como é, uma das ruas de maior trânsito e uma das mais comerciais e industriais não se justifica aquele abandono. O piso cheio de covas e o lancil dos passeios abaulado, fazendo lembrar uma valeta, além de lhe dar um aspecto desagradabilíssimo, torna-se perigoso para os transeuntes. Urge dar providências no sentido de ser imediatamente transformado o piso e os passeios, tornando aquela rua digna duma cidade como Coimbra», exortava.
A 12 de Fevereiro de 1931, lembrava os constantes apelos à Câmara para «o arranjo conveniente dos passeios da Rua da Sofia». «Mas bradamos no deserto e fazem ouvidos de mercador os que têm por dever olhar a sério por essas coi-
sas. Mais uma vez: os passeios da Rua da Sofia estão num estado miserando, precisando de ser substituídos com urgência. É interessante alcatifar pomposamente a sala nobre dos Paços camarários. Mas arranjar os passeios da Sofia, a nosso
Finalmente, boas notícias, a 19 de Junho de 1932. «Até que enfim! Durante meses e meses, reclamamos nas nossas colunas os arranjos indispensáveis na Rua da Sofia, quer nos passeios, quer no leito. A Câmara actual, da digna presidência do sr. dr. Afonso Maldonado, resolveu, enfim, a contento geral, alindar conveniente e merecidamente aquela importante artéria citadina. O infatigável vereador do pelouro das obras, sr. Moura Marques, meteu om-
Os trabalhos prosseguiam, a 29 de Novembro, vaticinando o Diário de Coimbra que a Rua da Sofia «depois de pronta deverá ficar a melhor artéria da cidade». «Está sofrendo esta movimentada artéria citadina a aplicação dum novo pavimento que se estende aos passeios, cimentados e com um novo alinhamento que os tornou consideravelmente mais espaçosos. E assim se atenderam as justas reclamações do público, algumas feitas por nosso intermédio. Porém, as obras, demorando-se, dificultam o trânsito de veículos, ocasionam certos transtornos e arrelias aos peões, que com este tempo húmido e quase invernoso, se enlameiam, por vezes, ao passar dos carros. Não haveria possibilidade de a Câmara reforçar, possivelmente ao dobro, o pessoal que lá trabalha, a fim de que as obras fossem terminadas no mais curto espaço de tempo?», questionou o jornal. M.S.
Formou-se um dos grandes boémios de Coimbra
27/11/1932 Uma das mais carismáticas e lendárias figuras estudantis das primeiras décadas do século XX, Henrique Pereira da Mota, celebrizado pelo cognome “Pantaleão”, concluiu o curso de Medicina em 1932, facto que o Diário de Coimbra assinalou na edição de 27 de Novembro.
«Henrique Mota, o “Pantaleão” de todas as festas académicas - um dos últimos e mais típicos boémios de Coimbraformou-se ontem. À porta da sala onde sentiu, pela última vez, as torturas dos actos, aguardavam-no algumas dezenas de amigos, que o desnudaram por completo, pondo-lhe a batina e as calças em estiras. Envolto na sua velha capa, tão velha que já atravessou um ror de gerações e que já foi ao
Brasil, há mais duma dezena de anos, Henrique Mota, rodeado por uma multidão enorme que o aclamava, dirigiu-se, depois, à Real República Ribatejanaos paços históricos onde o “Pantaleão” se fez doutor! Ao chegar aí, devia relembrar, por certo, a sua carreira académica que findou - mais duma dezena de anos gastos por essas ruas de Coimbra, com sua inseparável viola, em serenatas românticas sob varandins que jamais existiram... E devia relembrar, ainda, certos acontecimentos que o imortalizaram, no nosso meio académico. E, agora, feito médico e de atitudes estudadas, o dr. Henrique Mota vai deixar Coimbra, a Coimbra que ele tanto amou e tanto animou com as suas facécias. As suas qualidades nobilíssimas
são a garantia segura da sua vitória na vida. É essa vitória que nós lhe apetecemos - uma vez que, a ela, tem incontestável direito», escreveu o jornal.
No dia seguinte, na coluna “Coimbra Académica”, destacavam-se os festejos da formatura de quatro novos médicos, «preparados para minorar os
males do mundo». «Rapazes académicos, queridos por todos - académicos e não académicos - conquistaram a amizade de Coimbra inteira, que os verá agora partir para a vida activa, com o coração confrangido de saudade. Henrique Mota, o popular “Pantaleão”, Pereira Arinto, Carlos Fagulha e Belchior Nunes, quatro velhos académicos, receberam ontem, comovidos, a mais apoteótica das consagrações. As figuras destes académicos ficarão, através dos tempos, perdurando na memória dos que os conheceram e na história da gloriosa Academia coimbrã. E assim desaparecem da vida académica quatro grandes figuras, para se transformarem noutras quatro grandes figuras de utilidade para a sociedade. E é para isso
que se estuda», lia-se no jornal. Enquanto estudante, Henrique Mota (1905-1980) esteve ligado à Tuna Académica, foi presidente da Real República Ribatejana, co-fundador e redactor principal do jornal humorístico “O Ponney”, sendo conhecido por “Pantaleão” por ter interpretado esse papel no Grupo Dramático Académico. O curso de Medicina a que pertenceu foi, em 1932, iniciador da tradição da “Venda da Pasta” a favor da Casa da Infância Elysio de Moura e das cartolas dos finalistas na Queima das Fitas (“Curso dos Cocos”). Concluídos os estudos em Coimbra, Henrique Pereira da Mota regressou à pequena aldeia onde nasceu - Porto da Lage, no concelho de Tomar - e onde foi médico durante toda a vida.
PSP ameaçou prender jogadores mal comportados
7/12/1932 O comandante da Polícia de Segurança Pública de Coimbra enviou aos clubes uma circular com o intuito de «reprimir o abuso de certos praticantes do desporto que nos campos têm, por vezes, gestos e frases bastante ofensivos para o decoro e para a moral pública», informou o jornal na edição de 7 de Dezembro de 1932. Situações verificadas nos «últimos jogos de uso e abuso de linguagem e gestos indecentes e sobretudo ofensivos da moral pública, sem respeito e consideração pelas pessoas que a eles assistem, em especial senhoras e crianças», levaram o tenente Sérgio Vieira, que pouco depois seria nomeado governador civil de Coimbra, a ameaçar com punições os jogadores que se comportassem «por forma a merecer a intervenção da autoridade, podendo ir a sua acção até à prisão imediata dos respectivos delinquentes». Acrescentava a notícia o apelo do comandante da PSP para que os clubes desportivos dessem «as necessárias instruções, quer aos seus jogadores quer aos seus simpatizantes mais exaltados, a fim de não sofrerem as consequências desta determinação».
Escondeu na capoeira o dinheiro furtado
Diário de Coimbra Memórias
edifício, devorado pelas chamas
INSTALAÇÃO ELÉCTRICA COLOCOU UNIVERSIDADE SOB RISCO DE INCÊNDIO
Étempo, escreveu o Diário de Coimbra a 19 de Dezembro de 1932, de «lançar, através destas colunas, o sinal de alarme a toda a cidade e a todo o país». «O vetusto edifício da nossa histórica Universidade, fiquem-no sabendo os conimbricenses, fique-o sabendo todo o país, está ameaçado de desaparecer, de um momento para o outro, devorado pelas chamas dum incêndio que assumiria, dentro de instantes, proporções destruidoras», alertou.
Não se tratava, avisou de início, de vir a público «com frases campanudas - por mor de suprir a falta de assunto com que parece lutar-se em todos os jornais». «Não senhor. Se hoje lançamos, destas colunas, este sinal de alarme a toda a cidade, a todo o país, é porque justificadas razões, motivos imperiosos e urgentes, nos levam a assim proceder», justificou o jornal.
O alarme, explicava o texto, tinha fundamento na instalação eléctrica da Universidade, que
se podia «classificar de péssima», de acordo com uma opinião «traçada num relatório de técnicos que, ultimamente, a vistoriaram». «Quer dizer: de um momento para outro há um curto-circuito e lá desaparece todo o edifício da Universidade, sob o poder dominante das chamas!», receava-se.
Uma situação preocupante
que, contextualizava o autor da notícia, tinha origem na pressa com que fora feita a instalação eléctrica, «quando se anunciava a visita de Afonso XIII [rei de Espanha] a Coimbra e, por tal motivo, importantes obras se realizaram nos Paços da Universidade». «De maneira que os fios das suas ligações ficaram, em muitos pontos, a desco-
berto, e aquelas tão má execução apresentam que mais avolumam os receios dos técnicos de que um pavoroso incêndio destrua, num momento, o histórico edifício que domina, do alto, toda a cidade, na sua imponência e na tradição que o valoriza extraordinariamente. Entendemos, por isso, que é tempo de lançar, através destas
colunas, o sinal de alarme a toda a cidade e a todo o país. Não mais se deve viver em sobressaltos, não mais deve haver motivos para impaciência e revolta, da parte daqueles que devotam a sua vida à defesa de Coimbra e labutam sempre em prol dos seus interesses», comentava, pedindo urgência na resolução do problema.
O alerta surtiu efeito e dias depois, a 22 de Dezembro, informou o jornal que o reitor da Universidade ordenara, «para cumprimento do disposto em ofício da Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos», que «fosse melhorada convenientemente a instalação eléctrica do histórico edifício, remediando-se todos os defeitos apontados pelos engenheiros daqueles serviços».
«O sr. Dr. João Duarte Oliveira procurou, assim, evitar um lamentável acidente, que porventura podia pôr em perigo a nossa Universidade. Devido ao seu elevado critério, repararam-se as deficiências da instalação eléctrica que havia sido feita um pouco apressadamente. Honra seja prestada, por haver intervido a tempo em tão momentoso assunto, resolvendo-o de harmonia com os altos interesses da cidade e do país - e salvando o vetusto e histórico edifício da nossa Universidade», elogiou. M.S.
17/11/1932
O Diário de Coimbra noticiou na edição de 17 de Novembro de 1932 um assalto aos escritórios das minas de estanho exploradas por uma companhia inglesa no sítio da Panasqueira, na então chamada freguesia de Cebola, do concelho da Covilhã, donde foi furtada a elevada quantia de 17.500$00, destinada aos salários dos trabalhadores. O mineiro Manuel Machado, casado, residente na Panasqueira, acabaria por confessar o crime ao agente Alexandre Rodrigues da Silva, da Polícia de Investigação Criminal de Coimbra. Tinha escondido a totalidade do dinheiro furtado debaixo de uma capoeira, pertencente a Maria Bárbara, que ali o encontrou e avisou as autoridades.
O “milagre de produção” das Fábricas Triunfo
10/12/1932 Criada no início de 1923 graças ao dinamismo de um grupo de empresários em que se destacavam Mário Pais e Adriano Viegas da Cunha Lucas (fundador do Diário de Coimbra), a Sociedade de Mercearias e Farinhas Limitada “Fábricas Triunfo”evidenciava-se já, uma década depois, como um dos mais produtivos e promissores empreendimentos industriais da região e do país.
Na edição de 10 de Dezembro de 1932, antecipando a celebração de «dez anos de labor industrial», o jornal enaltecia em título de primeira página “O triunfo das Fábricas Triunfo”.
«De entre as indústrias de Coimbra que se destacam pela quantidade da sua produção e pela qualidade dos seus produtos, conhecidos e afamados não só nesta cidade mas no país inteiro, destaca-se, sem dúvida, a das bolachas, massas e moagem, que encontram o seu maior organismo produtor nas Fábricas Triunfo. É verdadeiramente surpreendente a intensidade progressiva que, de há dez longos anos, tem constituído o labor activo destas importantes fábricas», assinalava o articulista.
Com início modesto, rápido a aposta empresarial se revelou vencedora, conseguindo
«a breve trecho, mercê da superioridade do seu fabrico, conquistar um lugar de destaque na indústria da moa-
gem do nosso país».
Reconhecia-se ao homem no leme, o sócio-gerente Mário Pais, «industrial activo e moderno», um papel principal em «todo esse milagre de produção». «À sua inteligência e ao seu saber industrial, à sua dedicação e ao seu labor, se deve o progresso da mais importante indústria de Coimbra que, apesar da tormentosa época de crise que passa e de que tão funestos efeitos têm resultado para a indústria portuguesa, continua singrando sempre, sem esmorecimentos, sem dificuldades intransponíveis, antes trabalhando activamente de noite e dia, com turnos suces-
sivos de pessoal», elogiava o Diário de Coimbra.
Reiterava o texto que à «gerência técnica e comercial» de Mário Pais, «um filho de Coimbra que Coimbra admira, ainda pelos seus dotes de coração», se devia «a “tour de force” das Fábricas Triunfo e a sua vida desafogada e progressiva, o qual representa algo de importante para os interesses económicos da cidade».
«É pois este industrial credor de toda a simpatia e admiração de Coimbra inteira, porque cérebros e corações como os de Mário Pais é que constituem a alavanca do progresso conimbricense», concluía.
Diário de Coimbra Memórias
Quintanistas de Medicina eram padrinhos de baptismo
5/12/1932 Um «pimpolho forte e risonho», que recebeu o nome de Francisco José de Duarte e Azevedo, teve como padrinhos de baptismo os quintanistas de Medicina José Maria Simões de Carvalho e Branca Lopes Chiotte. Cumpria-se assim um «velho costume», «herança dos outros académicos que já deixaram Coimbra», de saírem do curso de Medicina os padrinhos da primeira criança nascida na maternidade ao iniciarem ali os seus estudos em Obstetrícia. No dia 5 de Dezembro de 1932, o Diário de Coimbra relatou a cerimónia de baptismo realizada na Sé Nova, em que «todo o curso, com as suas fitas doiradas, tomou parte, imprimindo-lhe uma nota enternecedora - com mocidade e brilho». «O petiz felizardo foi contemplado ainda com um rico enxoval, adquirido por todos os briosos quintanistas», acrescentava a notícia.
Coimbra tinha os serviços de táxi mais caros do país
8/11/1932 Motivou protestos a nova tabela de preços de automóveis de aluguer, que em Coimbra passava a ser «a mais elevada do país». As «constantes reclamações do público, e principalmente de turistas» que visitavam a cidade, porque em Coimbra se pagava por serviços de táxi «o dobro ou quase o dobro» do que eles custavam noutras cidades do país, levaram a Comissão de Turismo a solicitar à Câmara Municipal e ao comandante da Polícia de Segurança Pública medidas no sentido de ser «modificada a tabela de preços do serviço dos automóveis de praça», informou o jornal no dia 8 de Novembro de 1932. O assunto seria abordado na sessão camarária de 18 de Novembro, deliberando-se criar uma comissão encarregada de organizar uma nova tabela de preços para os serviços de táxi, constituída por um representante da Câmara, um delegado do governador civil e o comandante da PSP.
BATALHA DE SERPENTINAS E “CONFETTIS” ANIMOU A BAIXA DE COIMBRA
Dezenas de carros, uns com ornamentações carnavalescas e outros de publicidade a casas comerciais e industriais, desfilaram no animado corso que o “Grupo Pro-Coimbra” e a Comissão de Turismo levaram a efeito na tarde de 26 de Fevereiro de 1933, domingo.
«Coimbra vai ter este ano um Carnaval animado e alegre como nunca. Vai dar que falar!», antecipava o jornal, aludindo aos festejos, para crianças e adultos, que prometiam «um esplendor e um brilho inusitados», a fim de que a população pudesse «passar, divertida, a quadra de folia» que, nesta cidade, costumava ser de «uma pasmaceira aborrecida e triste».
Elogiando os organizadores, o Diário de Coimbra registou, na edição de 27 de Fevereiro, o «brilhantismo» com que tinha decorrido o desfile carnavalesco da tarde anterior nas principais ruas da cidade, presenciado por milhares de pessoas apesar de o dia se ter apresentado chuvoso, com ocasionais «fortes bátegas de água».
«De manhã, vários grupos de típicos “zés pereiras” percorreram a cidade, dando às ruas um ar festivo. Às 13 horas, como estava marcado, começaram a afluir à Praça da República os primeiros carros or-
namentados que depois se deviam incorporar no corso. Mas como a chuva, então, se fizesse sentir mais, a sua organização teve de sofrer um demorado atraso, iniciando-se cerca das 14h30», anotou o repórter, identificando depois os carros que integravam o cortejo, onde se destacavam, com decorações alusivas às suas actividades e produtos, os da Fábrica Triunfo e Magalhães & Conde (1.º prémio), A Colonial e Serralharia Mecânica de José Domingos Baptista (2.º), Cerveja Portugália e Fábrica Antas (3.º), Panificação de Coimbra e companhia de seguros La Pré-
servatrice (4.º), por classificação de um júri avalizado.
Na dianteira, um grupo de “cabeçudos e gigantones” provocava «a hilaridade na multidão que assistia ao desfile», seguindo depois a Filarmónica União Taveirense. O cortejo deu uma volta à Avenida Sá da Bandeira e, em frente do “Ninho dos Pequenitos”, uma largada de “balonas” «produziu sensação», espalhando no ar prospectos de casas comerciais com alguns valiosos prémios.
O cortejo chegou à Praça 8 de Maio a meio da tarde, travando-se ali «uma verdadeira batalha de serpentinas e “con-
fettis” entre o corso e as janelas e varandas, que se prolongou pelas ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges, onde o público se apinhava aos milhares.
Chegado ao Largo de Miguel Bombarda [Portagem], seguiu pela Avenida Emídio Navarro, Avenida da Madalena (Fernão de Magalhães], Arnado e Rua Fabril, acompanhado por extensa fila de automóveis, carros de cavalos e ranchos dos arrabaldes que lhe emprestavam um acentuado carácter português. Na Rua da Sofia voltou a travar-se nova batalha, tendo, então, dispersado à chegada à Praça 8 de Maio, cerca das 18 horas», descreveu o jornal, acrescentando que «pela tarde adiante continuaram a circular pelas ruas da cidade veículos e crianças, ostentando os mais variados costumes, e à noite, em vários clubes e sociedades de recreio, prosseguiram os bailes, com franca animação».
«Coroada do melhor êxito», a iniciativa mostrou que, com a «boa vontade de todos», era possível, «de futuro, o Entrudo ser entre nós uma quadra que marque pelo seu esplendor e brilhantismo, trazendo centenas e centenas de forasteiros», rematava a notícia. M.S.
Repartição
de finanças era “triste espectáculo”
Os festejos carnavalescos de 1933, grandiosos como nunca antes Coimbra vira, prolongaram-se por três dias, de 26 a 28 de Fevereiro. Após o momento alto do cortejo de domingo, o programa prosseguiu no Parque da Cidade, que «apresentava uma grande anima-
ção». Ali, durante a tarde, «fizeram-se ouvir alternadamente com vivo agrado» as bandas de Metralhadoras 2 e daPolícia de Segurança Pública, e desfilaram com entusiasmo crianças em trajes de Carnaval, segunda-feira no concurso das meninas e no dia seguinte no dos
rapazes. «A concorrência foi grande, apesar da tarde se apresentar bastante fria. O número de crianças que afluíram ao recinto, envergando os mais garridos e bizarros costumes, pode também considerar-se extraordinário, bem como o dos concorrentes ao concurso
de trajos, e constituiu um grande êxito», informou o jornal. O concurso de crianças mascaradas deu direito a prémios, por avaliação do júri. Para as melhores houve brinquedos mas todas foram «contempladas com bolachas, bombons, rebuçados e outras guloseimas».
23/12/1932 As precárias condições em que funcionava a repartição de finanças de Coimbra motivaram o alerta que o jornal publicou a 23 de Dezembro de 1932. «É uma vergonha!», exclamava em título, referindo-se ao aspecto «pouco mais do que sórdido» da secretaria de finanças, apesar de instalada «em edifício grandioso - o dos Paços do Concelho». «Não exageraremos afirmando que aquilo é pouco mais do que uma enxovia ou casamata, imprópria de qualquer aldeia sertaneja. Por mais diligência que haja no funcionalismo dessa importante repartição pública, superiormente dirigida pelo zeloso funcionário sr. Tristão Bacelar, aquilo é inadaptável a limpeza e a higiene indispensável, própria de Coimbra, terceira cidade de Portugal. O desconforto em que os empregados vivem na repartição é horrível! O pó, o lixo acumulado nas paredes; o triste espectáculo das estantes sem vidros; tudo é miserável. Para a repartição que tantos milhares de contos fabrica, não há verba para arranjos. É de lamentar! Causa arrepios!», verberava o Diário de Coimbra, pedindo «olhares misericordiosos» das autoridades competentes para «tão grande abandono». Face aos esforços infrutíferos do secretário das finanças para «remediar aquelas tristes anomalias», sugeria-se «a quem de direito uma visita à casamata referida», pois «certamente se não fariam esperar os arranjos convenientes e indispensáveis». «Porque aquilo assim é uma autêntica vergonha, para lhe não chamarmos estrumeira», rematava. Refira-se que a repartição de finanças ganhou novo espaço no edifício camarário com a saída, em Junho de 1933, do Tribunal Judicial para as actuais instalações do Palácio da Justiça na Rua da Sofia.
Música e concursos de crianças mascaradas no Parque da CidadeARQUIVO Festejos carnavalescos foram retomados há alguns anos em Coimbra, com cortejo no Bairro Norton de Matos
Ir às compras com moeda falsificada
18/11/1932 O Diário de Coimbra alertou e pediu medidas contra a proliferação de moeda falsa, que gerava um ambiente de desconfiança entre quem comprava e vendia. «Estávamos agora relativamente bem servidos com os novos tipos de moedas. Mas, porque assim era, a imitação tinha de surgir sem perda de tempo, para estabelecer a confusão e os prejuízos respeitantes. As moedas de 10$00 só correm com dificuldade, já ninguém as quer, porque há uma infinidade delas falsificadas. E daí o ouvir-se, por toda a parte, o tilintar do metal, a pesagem da moeda, etc., num ambiente de desconfiança que muitos inconvenientes causou, sobretudo às donas de casa que para o mercado levam dinheiro, na melhor da boa fé, e que voltam para casa sem fazer as compras do dia, a não ser que lá tenham crédito», observou o jornal na edição de 18 de Novembro de 1932, apelando à intervenção das autoridades porque «o público não está apto a distinguir a boa moeda da má, e anda intrigado sem saber o que fazer». O texto constatava a capacidade lusa de rapidamente «investigar os furos» para ludibriar novas leis e rematava, com ironia: «Desejamos ver a Humanidade muito inteligente e inventiva; mas para ludibriar os incautos, não!».
Bodas de ouro do gráfico Mateus Ferreira
19/11/1932 Com o título “Homenagem a um velho gráfico”, o jornal informou que os colegas do «simpático elemento da classe gráfica de Coimbra» Mateus José Ferreira iam assinalar com «um almoço íntimo, cuja inscrição é de 7$50», os seus «50 anos de serviço - meio século passado em frente das caixas do tipo, passando a letra de forma os mais variados assuntos». «Não podemos olvidar a saudosa colaboração de Mateus Ferreira nas tradicionais récitas dos quintanistas, noutras eras, em que actuava sempre e a contento de todos como “ponto”», acrescentava a notícia .
Diário de Coimbra Memórias
4/12/1932 Diário de Coimbra visitou instalações, em Santo António dos Olivais, que acolhiam “menores delinquentes” ou em perigo social
NA TUTORIA PROTEGIA-SE A INFÂNCIA E EDUCAVAM-SE “OS HOMENS DE AMANHÔ
Aantiga Tutoria da Infância de Coimbra, hoje Centro Educativo dos Olivais, sob tutela da Direcção-Geral da Reinserção Social, tinha cinco anos de existência quando foi visitada pelo nosso jornal, para uma reportagem publicada a 4 de Dezembro de 1932.
ATutoria de Coimbra e o Refúgio anexo, com pavilhões separados para rapazes e raparigas, foram instalados em terrenos do presbitério que integrou o antigo convento franciscano de Santo António dos Olivais.
«Contorna-se a igreja. Do adro desfruta-se um panorama de horizontes largos. Atrás, fica uma casinha baixa, muito bem amanhada, com seu alpendre à antiga feição portuguesa e seus lambris de azulejo. Foi, primeiro, dependência do antigo e humilde convento do glorioso taumaturgo. Depois, passal da freguesia. Hoje, diz uma tabuleta, colocada sobre a pequena porta de entrada, é a Tutoria de Infância. Não se afira, porém, a missão desse estabelecimento pela sua designação. Não se julgue que se trata duma casa de correcção. Que aí se detêm me-
nores delinquentes - preparando-os para a vida. O carácter da Tutoria é outro. É tutelar - e não repressivo. Julga os casos e dá, depois, o devido destino aos delinquentes», começou por descreverAntónio Cruz, então chefe de redacção do Diário de Coimbra.
Explicou depois o funcionamento da Tutoria. «Há um caso a julgar - um menor criminoso ou, mais simplesmente, um menor em perigo moral. Esse menor dá entrada na Tutoria. E
enquanto se organiza o respectivo processo, a fim de lhe ser dado um destino, o menor trabalha: estuda e é estudado. Consoante o seu desenvolvimento físico, assim as crianças ingressam em três divisões distintas: pré-púberes, púberes e pós-púberes. Cada divisão devia possuir instalações próprias, a saber: dormitório, refeitório, sala de aula e sala de família. E em cada divisão devia haver ainda três secções, separadas por barreiras psicológicas: a primeira
destinada aos criminosos primários, a segunda para os reincidentes e a terceira destinada aos menores condenados a simples detenção ou indisciplinados.Mas - o eterno mal!não foi possível ainda executar-se toda essa obra, por falta de verba», constatou. Em todas as instalações da Tutoria, «percorrendo-as uma a uma», o jornalista verificou «ordem, asseio, higiene». «A sala do tribunal, gabinetes vários e secretaria estão bem instalados. Foram modelarmente aproveitadas as dependências do antigo passal. Desce-se para a cerca. E encanta a maneira como foi adaptado o terreno inclinado, que ora se apresenta dividido em socalcos. Aqui, ali e além, destacam-se três pavilhões: o dos rapazes, o das raparigas e o do posto policial. Os rapazes empregam-se no amanho das terras e na limpeza de toda a quinta. Disciplinados, batem os tacões, para a posição de sentido e desbarretam-se - à passagem de algum superior. E fazem
plantões, no portão, no dormitório e no edifício», registou. Ali, avaliou, «protege-se a infância». «Os menores dão entrada no Refúgio para serem estudados, passam pela escola, passam pela quinta, e vão ao laboratório de psicologia experimental e de orientação profissional, para serem estudados. A sua conduta, as suas tendências e as suas aptidões são registadas em relatórios apensos aos processos, servem de base para a escolha do destino a dar-lhes, quando forem julgados. Pequenos nadas traduzem a qualidade dos internados. Por exemplo: a ordem, o asseio que preside à arrumação dos armários individuais, nas salas de família», apontou.
Referiu ainda na reportagem o pavilhão de semi-internato, onde «encontram cama, mesa e o incitamento moral bem necessário para triunfar na vida aqueles menores que, sob a tutela do Tribunal, trabalham em várias oficinas da cidade, ganhando os seus salários aqueles rapazes de rosto sadio e peito forte que nós topamos, a cada passo, aí pelas ruas, muito asseados nas suas blusas de ganga e nas suas calças de cotim».
«Aqui, na Tutoria, protege-se a infância, educam-se as crianças de hoje - educando os homens de amanhã!», considerou o autor, não terminando sem enaltecer o papel de dois homens na «obra admirável» levada a cabo nesta instituição, o professor da Faculdade de Direito José Beleza dos Santos (juiz do Tribunal de Menores) e o jurista João Bacelar (director do Refúgio anexo). M.S.
Matança do porco vista como execução “bárbara”
6/12/1932 Um texto publicado nove décadas atrás no Diário de Coimbra colocava em questão a tradicional matança do porco nas aldeias de Portugal.
O autor, apenas identificado pela inicial A., considerava «desumana a maneira como se costuma matar os porcos», defendendo que «tais processos bárbaros e atávicos precisam desaparecer».
«A “matança”, que sói constituir uma festa de família, é revestida dum cerimonial e exe-
cução tão bárbara que não pode coadunar-se com os bons princípios. Durante minutos está o pobre animal a grunhir, visto que doutra maneira não pode exprimir o sofrimento atroz. E quantas vezes eles já têm fugido do banco a que os amarram com a faca espetada!», observou.
Admitindo o autor que «para nos alimentarmos com carne temos de abater os animais», ninguém pode todavia «contestar que a morte dos animais destinados à nossa alimentação
pode e deve ser rápida».
«Até nos parece já estar a ouvir os insensíveis e rotineiros: isso é uma pieguice! - Tu também gostas de carne; porque a comes? Sim, senhor. Gosto
de carne, e como-a porque habituaram o meu organismo a alimentação carnívora», reconheceu o articulista, salvaguardando no entanto que prolongar o sofrimento desses animais «é ser-se duro de sentimentos, é não compreender que eles também têm sensibilidade».
E entre a morte dos animais, acrescentou, «aquela que mais enerva e irrita é a do porco, por essas terras além», mas tais processos poderiam ser alterados. «Assim o compreendeu
a França, onde já se fizeram experiências aplicando ao pescoço do animal uma corrente eléctrica, intensa, que produz uma morte rápida, melhorando até a carne. Oxalá que as experiências, em breve, se convertam numa realidade, e que se tornem extensivas até nós, para que se elimine dos hábitos do nosso Povo o costume bárbaro e desumano, que embota o sentimento e o embrutece», desejou, a concluir o artigo publicado na edição de 6 deDezembro de 1932.
O cinema ao serviço da lavoura
30/11/1932 Sete centenas de lavradores encheram o Teatro de Anadia, a 27 de Novembro de 1932, numa sessão cinematográfica de propaganda do valor dos adubos «para o aumento da produção agrícola». Dias depois, do correspondente do Diário de Coimbra em Mogofores foi publicada notícia do evento, que no ecrã «reproduziu com a maior fidelidade os métodos na cultura, as forragens aplicadas, os resultados obtidos». «Estivemos em pleno Alentejo, na charneca cultivada. A fita agradou muito e, para mais se tornar interessante à assistência, falaram o sr. A. Soares Folkibei, empregado superior da União Fabril, que se ocupou da parte relativa à técnica dos adubos, e o distinto agrónomo sr. Albano Homem de Melo, vice-director da Estação Vitivinícola da Bairrada, que discursou brilhantemente sobre o objecto da fita, referindo-se, por vezes, às culturas da Bairrada, onde os cereais não são, como a vinha, a sua principal cultura, e elevando o seu pensamento de homem de ciência e regionalista ao progresso da agricultura, afirmou em palavras entusiásticas que é mister fazer criar cada vez mais o amor à terra, e que todos se interessem por tudo quanto possa dar-nos em melhores condições “o pão nosso de cada dia”. A assistência aplaudiu o orador e ninguém deu por mal empregadas as horas passadas no Teatro de Anadia a convite gracioso da Companhia União Fabril», relatou.
Um médico para os povos da Pampilhosa
8/12/1932 O jornal deu voz às populações de Cabril, Fajão, Vidual, Janeiro de Baixo, Dornelas e Unhais-o-Velho, no norte do concelho da Pampilhosa da Serra, que «com muita razão» se queixavam da falta de assistência médica. Eram, alertou na edição de 8 de Dezembro de 1932, oito mil habitantes «muito afastados da sede», onde existia o único clínico do concelho, e servidos por «caminhos escabrosos e quase intransitáveis».
Diário de Coimbra Memórias
14/12/1932
IMPUNHA-SE REORGANIZAR PARA EVITAR OS ERROS NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
Anotícia de que o ministro da Justiça, Manuel Rodrigues, antigo professor de Faculdade de Direito de Coimbra, estava a trabalhar na reorganização da Polícia de Investigação Criminal foi aplaudida neste jornal na edição de 14 de Dezembro de 1932.
Em artigo na primeira página, apontava-se a «necessidade absoluta de dar uma orientação diversa aos serviços de investigação criminal, acabando de vez com “aquela magnífica colecção de ferramentas pré-históricas” que tanto fazem emperrar entre nós os serviços de investigação criminal».
«A reorganização da nossa polícia judiciária impõe-se, tornando-se necessário que os seus actuais serviços sejam desdobrados em secções bem distintas - de Investigação Criminal e de Instrução Criminal.
Deve, por isso, a investigação criminal volver ao Ministério
da Justiça, para que com ela e por meio duma reorganização inteligente, possam os institutos de criminologia e os institutos de Medicina-Legal bem cumprir a sua missão», considerava o articulista, preconizando que a investigação criminal fosse a estes institutos «buscar a sua
polícia científica, a cooperação de elementos de alto valor científico que os compõe».
Com «ideias e conhecimentos bem modernos sobre os serviços de investigação criminal», o ministro Manuel Rodrigues seria a pessoa certa para operar esta mudança. «Dele es-
peramos que no seu novo trabalho se coloque a investigação portuguesa a par das congéneres estrangeiras», frisava o texto.
Na opinião do autor, a investigação de um crime deveria acompanhar a evolução dos tempos e adequar-se às novas teorias, contrárias a métodos
de investigação que por hábito recorriam a “truques”, que mais não eram do que «grosseiras ciladas aos arguidos».
«A investigação de um crime deve ser feita com um grande espírito de boa fé, que remova quanto possível os estorvos e subtilezas de pura formalidade, a fim de constatar única e simplesmente a verdade, pois, segundo afirma d'Ortolan, nos Elements de Droit Penal, a investigação é organizada tanto contra, como a favor do arguido. Dia a dia, instante a instante ouvimos falar em erros judiciários. Não há, não existem, nunca existiram erros judiciários, há sim e muitos erros de investigação, porque à falta de conhecimentos indispensáveis, da teoria das investigações, aliado tudo isto à vaidade e à ambição do reclame, têm-se apenas procurado criminosos com aqueles “truques” condenados por Boneville, um dos quais é afirmar falsamente aos arguidos possuir-se provas da sua criminalidade e sujeitá-los, não poucas vezes, ao martírio de interrogatórios a desoras, levando-os a uma confissão que não fariam, que não poderiam fazer se não fossem vencidos pela tortura», concluía. M.S.
“Niño de la Palma” detido numa pensão da Baixa
22/12/1932 Foidetido na Pensão Aliança, na Rua de Sargento Mor, em Coimbra, onde estava hospedado, um «conhecido gatuno» que dava pela mesma alcunha de um famoso toureiro espanhol, “Niño de la Palma”. Na edição de 22 de Dezembro de 1932, o Diário de Coimbra informou que a proprietária do estabelecimento, desconfiada do hóspede «pela urgência que ele tinha em que lhe fosse servido o almoço», avisou os polícias Evaristo Baptista Loureiro e Francisco Correia, que na zona «procediam a umas averiguações». Aos agentes, o indivíduo identificou-se como João da Cruz Barreto, de 27 anos, solteiro e natural da Moita do Ribatejo. «Ao fazerem-lhe abrir uma
mala que transportava, encontraram dentro desta duas meias cheias de dinheiro, em cobre e prata, que, com algumas notas que trazia no bolso, perfazia a importância de 902$00, e ainda grande quantidade de pares de meias, tabaco, cortes de roupa e muitas miudezas, desconfiando os agentes, por isso, de que se tratava do produto de um roubo. E não se enganaram. Pouco depois do gatuno dar entrada nos calabouços do Governo Civil, apareceu na P.I.C. (Polícia de Investigação Criminal) o comerciante de S. Martinho da Cortiça José Maria Marques, queixando-se de que na noite de terça-feira tinham entrado no seu estabelecimento, donde roubaram muitos objectos que tinha à venda e a gaveta
com todo o dinheiro que ali se encontrava», lia-se na notícia.
Na posse do suspeito, que «ao ser interrogado confessou o roubo, descrevendo a maneira como o fez», foram encontrados «molhos de chaves, entre as quais havia a chave da pensão onde foi detido».
Informações seguintes permitiram ao público perceber o “calibre” do criminoso que casualmente fora travado na Baixa de Coimbra. No dia 27 de Dezembro foi divulgado que o indivíduo, ao ser «interrogado e apertado» pelo agente Alexandre da Silva, assumira a autoria de vários furtos de que existiam queixas no distrito, como aquele que o administrador de Penacova comunicara à P.I.C., ocorrido na resi-
dência de Maria Casimira, do lugar de Estrela de Alva, donde subtraíra «um relógio de bolso e várias peças de roupa».
Pela Polícia de Investigação Criminal de Lisboa viria a saber-se o verdadeiro nome do criminoso. José Carvalho, natural de Santarém, chefiara «uma quadrilha de salteadores em 1927 e nesse tempo infestou a Moita do Ribatejo, onde era conhecido pelo sobriquete de “Niño de la Palma”». Em Outubro desse ano, aguardando julgamento «pelo crime de um roubo de perto de 6.000$00», esteve preso na cadeia de Sintra, de onde viria a evadir-se.
No edição de 30 de Dezembro, anunciou o jornal que nesse dia seria entregue ao poder judicial «o célebre gatuno
“Niño de la Palma”, acompanhado de «um volumoso processo», elogiando o «hábil agente» Adelino Duarte pela eficácia na condução das investigações.
«Parece interminável a série de roubos que este famigerado gatuno tem praticado em várias terras onde tem sido notada a sua presença. Além dos roubos que já publicámos, ainda, à última hora, confessou, com a maior naturalidade, um outro que fez há dias em Antanhol, de uma corrente de oiro e duas roupas prontas a vestir que avaliam em 1.000$00», escreveu, adiantando que o criminoso deveria ser «transferido para a comarca de Sintra, onde tem de responder por várias proezas que ali praticou».
Diário de Coimbra Memórias
Roubou uma junta de bois ao vizinho dos pais
8/12/1932 O correspondente do Diário de Coimbra na vila do Rabaçal informou que na vizinha povoação da Ramalheira, da freguesia de Pombalinho, foi «praticado o roubo de uma junta de bois por um indivíduo daquele lugar, residente em Lisboa e que é tido como useiro e vezeiro em tais proezas». «O gatuno, pela calada da noite e conhecedor de todos os becos do lugarejo, foi ao curral de um vizinho de sua família e levou os animais em direcção à estrada de Soure onde, para os transportar, os esperava uma camioneta. Um dos bois, porém, um pouco arisco, a certa altura fugiu, sendo encontrado ao abandono no dia seguinte; o outro, levado para a vila de Almeirim, ali foi vendido a um negociante de gado que, desconfiando do vendedor foi colhendo deste, despercebidamente, elementos sobre a sua filiação e naturalidade, alegando ao mesmo tempo que só passados dias poderia pagar o animal. Imediatamente telegrafou para a freguesia de Pombalinho, pondo o pai do gatuno ao corrente do sucedido. E assim se veio a descobrir o paradeiro do boi que faltava e do gatuno que a estas horas deve estar a prestar contas da sua aventura à justiça de Almeirim», relatou, na notícia publicada a 8 de Dezembro de 1932.
Queixas por envenenamento de galinhas
7/12/1932 Celestino Nunes, sócio n.º 1.196 da Sociedade Protectora dos Animais, apresentou participação contra Manuel Ferreira, casado, proprietário, morador no lugar do Loureiro, da freguesia de Cernache, acusado de «deitar veneno numa sua propriedade, de que resultou morrerem algumas galinhas, dos seus vizinhos», lia-se no jornal de 7 de Dezembro de 1932. Também à Polícia de Investigação Criminal chegou pela mesma via uma queixa, de Júlia da Assunção, do Senhor da Serra, freguesia de Semide, contra vizinhos que lhe «envenenaram com trigo uma galinha e alguns pombos».
BISSAYA BARRETO FOI PATRONO DO PRIMEIRO LICEU DA FIGUEIRA DA FOZ
ções grandiosas a que nós vimos de assistir, dia a dia», anotou o repórter deste jornal, acrescentando que este discurso, «entrecortado, amiúde, por aclamação da numerosa assistência, levou, uma vez findo, as centenas de pessoas que se aglomeravam na sala, nos corredores e nos recreios, a tributarem uma demorada e calorosa saudação ao ilustre patrono do novo liceu».
Era urgente criar um corpo de bombeiros em Tábua
Com 85 alunos inscritos nas três classes e quatro professores, as aulas no Liceu Municipal Dr. Bissaya Barreto, na Figueira da Foz, começaram no dia 25 de Novembro de 1932 mas só no mês seguinte a nova escola, sob responsabilidade camarária, foi inaugurada no espaço do antigo terminal rodoviário.
Na edição de 12 de Dezembro, o Diário de Coimbra relatou a «jornada triunfal» da inauguração solene do liceu e, também no mesmo dia, a inauguração de uma estrada nas Alhadas e de um edifício escolar no lugar da Esperança, «por entre manifestações entusiastas do povo».
O “enviado especial” do jornal não poupou adjectivos para descrever o “brilhantismo” do acto inaugural. Era o concretizar de «uma velha aspiração» da Figueira da Foz, dotada agora do estabelecimento de ensino que «há muito reclamava, para melhor educar os seus filhos». E «porque o dia era de festa, todos os bons figueirenses se juntaram, batendo palmas de
satisfação, exteriorizando a alegria que lhes ia na almarodeando de carinhos as altas figuras que até junto deles vieram e que abriram novas clareiras ao futuro da Figueira da Foz, ao progresso desta linda, desta encantadora cidade».
No largo da estação e Avenida Saraiva de Carvalho, por volta do meio-dia, «aglomerava-se uma grande multidão» à espera das individualidades vindas para a inauguração, entre elas o patrono do novo liceu, o médico Bissaya Barreto, presidente da Junta Distrital de Coimbra, que chegou de automóvel com o governador civil.
Na gare, a receber os representantes do Governo (Armando Cordeiro Ramos, chefe de gabinete do ministro da Instrução, e Antonino Pestana, director geral do Ensino Secundário), «viam-se os vários elementos representativos da cidade, bem como deputação de todas as colectividades locais, com os respectivos estandartes, e uma banda de música».
«Organizado um cortejo em direcção aos Paços do Concelho, seguiu-se uma sessão so-
lene de boas-vindas» e de agradecimento «para com todos aqueles que concorreram para a efectivação do melhoramento» que se ia inaugurar.
A meio da tarde, «uma multidão enorme invadiu os amplos recreios do edifício onde se encontra instalado o novo liceu. Numa das espaçosas salas de aula realizou-se, então, a cerimónia inaugural».
Costa Pimpão, reitor do novo liceu, proferiu «uma brilhante alocução» inicial e a “oração de sapiência”, com o tema “Da Geografia no Ensino Secundário”, coube a Correia Monteiro, professor na mesma escola. Falaram depois o governador civil de Coimbra, Moura Relvas, o presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, José Fonseca, e o advogado Martin Afonso de Castro, «em nome do povo da Figueira da Foz».
«Feito silêncio», o reitor da Universidade de Coimbra, João Duarte Oliveira, fez «uma dissertação brilhante sobre a obra do mestre eminente sr. Dr. Bissaya Barreto, analisando a sua brilhante carreira académica até ao presente - até às realiza-
Por fim, Bissaya Barreto, no seu «discurso notável», agradeceu a homenagem e saudou «a concretização de um desejo». « A sua população, a sua situação, as suas riquezas, o seu valor social davam, de facto, à Figueira, o direito de possuir um liceu», considerou.
«Tem, pois, a Figueira mais uma joia a embelezar e a enriquecer o seu já valioso património, mas seja-me permitido, não digo fazer um pedido, mas manifestar um desejo. Eu quereria que a acção deste liceu não fosse circunscrita às paredes que o cercam e quereria que, ultrapassando-as, fosse até ao meio social desta formosíssima praia onde a sua influência pode ter o mais alto valor», expressou.
Aconcluir, Bissaya Barreto desejou que o novo liceu municipal viesse a «desempenhar também uma utilíssima e fecunda acção local e regionalista, contribuindo para o aperfeiçoamento e engrandecimento do meio social desta linda praia», e afirmando-se como «um centro de irradiação de instrução e de educação, colaborando desta forma na obra de aperfeiçoamento e valorização das classes populares». M.S.
6/12/1932 O Diário de Coimbra apontou, a 6 de Dezembro de 1932, a urgência da criação, no «laborioso concelho de Tábua», de uma corporação de bombeiros e aquisição do «material indispensável para que esses denodados soldados da paz possam prestar os seus serviços humanitários, constantemente reclamados». Lembrou o jornal que há quatro anos tinha sido «prometida à Câmara Municipal deste concelho, a que presidia, então, o sr. dr. José Varela, o subsídio de 15 contos para a aquisição desse material e criação do corpo de bombeiros», mas «essa verba não passou, até hoje, além da promessa, muito embora vários e tristes factos justifiquem inteiramente a necessidade de tal aspiração se transformar numa realidade, como é desejo de todos os tabuenses». No entanto, adiantou, parecia haver perspectivas de vir a ter finalmente «completa resoluçãotão momentoso problema», pois «alguns dos melhores valores do concelho» estavam dispostos a «meter ombros a tal empresa, contando para tal, evidentemente, com o indispensável auxílio das instâncias superiores».
«Não faz sentido, de facto, que um concelho tão laborioso e da importância do concelho de Tábua não possua ainda uma corporação de bombeiros, provida do indispensável material, para acudir aos sinistros onde os seus altos serviços se tornam indispensáveis. Esperamos, portanto, que não esmoreçam nos seus nobres desejos os bem intencionados que pretendem criar, em Tábua, uma corporação de bombeiros», enalteceu.
A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Tábua viria ser criada três anos depois, a 28 de Agosto de 1935.
Pedia-se a arborização da Serra da Estrela
Diário de Coimbra Memórias
24/12/1932
15/12/1932
O Diário de Coimbra deu voz aos povos serranos que reclamavam a plantação de árvores na Serra da Estrela. Na edição de 15 de Dezembro de 1932, defendeu este jornal que fosse arborizada a zona montanhosa mais alta de Portugal, do que resultaria «um maior embelezamento para a maior e mais linda serra do país, uma maior fonte de riqueza turística daquela linda região e um valor material importantíssimo para o Estado», enquanto se evitariam ainda «as enxurradas constantes provocadas em grande parte da falta de revestimento das íngremes encostas». «As enxurradas causam elevados prejuízos aos povos serranos. Razão porque os habitantes dos lugares de Monte de S. Tiago e de Melo, Folgosinho e Valezim representaram ao Governo, expondo-lhe a razão que lhes assiste de verem a sua região incluída na arborização das serranias portuguesas», noticiou, vaticinando que, a serem ouvidos, «os povos da serra, leais e honrados como poucos, dos que mais cultivam o reconhecimento e a gratidão, saberão ser gratos aos homens que nos governam».
Obrigatório declarar automóveis à Câmara
21/12/1932 Em edital publicado neste jornal a 21 de Dezembro de 1932, a Comissão Administrativa da Câmara de Coimbra avisou «todos os indivíduos ou entidades domiciliadas» no concelho, que possuíssem viaturas automóveis, de que estavam obrigados a declarar na secretaria municipal, até dia 15 do mês seguinte, «o número e as características dos veículos, independentemente dos locais de recolha ou dos locais onde essas viaturas prestem serviços habitualmente, com indicação de estarem ou não em condições de circular, sob pena de uma multa de 500$00 por cada veículo não declarado ou falsamente descrito».
FREGUESIA DOS OLIVAIS RECLAMOU ESCOLAS PARA AS SUAS CRIANÇAS
Acriação de «duas escolas, masculina e feminina, ou pelo menos uma mista», era há 90 anos uma das principais reclamações da freguesia de Santo António dos Olivais.
Na edição de 24 de Dezembro de 1932, o Diário de Coimbra voltou a noticiar a «velha aspiração da hoje já importante população dos Olivais», que pedia uma escola mais próxima para a «educação de seus filhos».
«Poder-se-á argumentar que próximo existem escolas em Celas que podem frequentar. Certamente assim é, mas também ninguém ignora os inconvenientes físicos e morais a que se expõem as crianças sem vigilância, percorrendo distâncias ao sol e à chuva, sujeitas ainda a atropelamentos de carros, etc.», apontou o jornal, lembrando que a Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais tinha apresentado esta pretensão «perante quem de direito», mas até então sem resultados.
O articulista exortou os autarcas a não desistir. Pelo contrário, deveriam «insistir com persistência», correspondendo assim «à confiança dispensada e à consideração dos seus conterrâneos».
O próprio jornal insistiu
pouco depois no assunto, em novo artigo publicado a 31 de Dezembro, com o título “Santo António dos Olivais não tem ainda Escola!”.
«A população escolar de Santo António dos Olivais é das maiores do concelho. Pois
apesar disso não tem escola, sendo as crianças forçadas a ir a Celas, se porventura os pais entendem que elas não devem ficar “broncas”, de todo», observou.
A aspiração justificava-se tanto mais que, assinalava o
texto, Santo António dos Olivais era «das mais importantes freguesias do concelho de Coimbra e um dos seus arrabaldes mais importantes». «Devemos afirmar também que é, das freguesias do concelho, uma das que mais paga para os cofres camarários e também uma das freguesias menos beneficiadas pela nossa edilidade», lamentava.
O autor reconhecia que quem governa, «por mais vontade que tenha», «nem sempre pode satisfazer as aspirações dos povos quer por deficiências de orçamento, quer por falta de numerário». No entanto, Santo António dos Olivais, que «reclama constantemente a beneficiação de caminhos, o arranjo das calçadas, melhorias na luz, etc., de uma maneira geral, infelizmente, só tarde consegue fazer ouvir os seus queixumes doloridos e os seus reparos justíssimos», considerava.
«À Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Coimbra, sempre disposta a ouvir os clamores dos povos seus administrados e sempre solícita em atender as reclamações honestas, nós solicitamos que seja a intérprete dos desejos do bom povo dos Olivais junto do sr. ministro da Instrução, de forma a dotar aquela ridente freguesia com um edifício escolar em termos», intercedia o jornal. M.S.
“Caixa de reforma” para não recorrer à caridade
15/12/1932 A falta de protecção social dos trabalhadores reformados foi questionada pelo Diário de Coimbra, que nove décadas atrás sugeriu medidas para o problema.
Na edição de 15 de Dezembro de 1932 lembrou o jornal o pioneirismo de França, que em 1918 tornou obrigatório o seguro de reforma e pensões dos trabalhadores. Em Portugal falou-se de solução idêntica, mas «até hoje, porém, tudo não passou de promessas mirabolantes, pois nemsequer o assunto foi estudado, e os trabalhadores quando impossibilitados pela velhice ou pela doença só têm um recurso - estender a
mão à caridade pública».
«Ora isto não pode nem deve continuar. Quem compulsar a colecção do Diário de Coimbra verificará, com facilidade, que fomos nós, nestas colunas, que preconizamos o lançamento de uma taxa para acudir aos desempregados, que alvitramos que o produto dessa taxa não fosse distribuído como esmola, mas aplicado em trabalhos públicos, fornecendo trabalho em vez de dar esmola.
Os resultados foram os mais excelentes, pois, posto em prática esse alvitre, pôde o Governo da República acudir ao desemprego, mas pôde também fazer melhoramentos in-
dispensáveis a várias terras do país. Verificados os resultados, a importância das taxas cobradas, entendemos que elas podem quintuplicar, se os contribuintes tiverem um benefício. Sabe-se que em França a taxa aplicada ao seguro de reforma e pensões é de 3,5% sobre o montante dos salários. Ora, porque não há-de o Governo da República aproveitar a ocasião e criar o seguro obrigatório de reforma e pensões, explorando-o em favor do próprio Estado?», questionou.
Desta medida, na opinião do autor, resultaria «uma verba importantíssima que seria aplicada, como até agora, a debelar
a crise do desemprego, fomentando trabalhos públicos, reorganizando serviços, onde os desempregados, qualquer que fosse a sua categoria e habilitações, tivessem trabalho», e, por outro lado, obrigaria «todos aqueles que vivem do seu trabalho a pensarem e garantirem o seu futuro de modo que quando impossibilitados de trabalhar pela invalidez ou pela velhice tivessem garantido o pão para si e para os seus».
«Será um sacrifício o que propomos? De modo nenhum. Um operário que aufira diariamente 10$00 de salário, mediante $35 diários poderia garantir, assim, o seu futuro, sa-
crificando apenas o custo dum copo», considerou.
Caberia a «quem de direito» o modo de concretizar esta ideia. «Certamente os nossos dirigentes encontrarão quem possa enfrentar tão magno assunto, estudando a forma praticável de operários e patrões contribuírem para a “caixa de reforma” do proletariado, para que, ao atingir a invalidez, não sofra a suprema vergonha de suplicar um bocado de pão, para que não morra de fome, quando durante a sua validez muito concorreu para a riqueza nacional e para a abastança dos outros mais felizes ou melhor orientados», lia-se neste jornal.
Queria “buscar lã”... e ficou tosquiado!
28/11/1932 Os “contos do vigário” motivaram um alerta na edição de 28 de Novembro de 1932. As vigarices eram “produtiva indústria” porque havia quem as alimentasse. «Os “tansos” sempre vão dando alguma coisinha, com a ambição de receber mais. Por isso, querendo ir “buscar lã... ficam tosquiados”. E alguns são tosquiados tão imbecilmente que toca as raias da estupidez», avisou o articulista. O jornal contava o caso de um lavrador enganado na feira da Arrifana (Condeixa), a quem um «hábil e benemérito» vigarista entregou um embrulho com “10 mil escudos”. para que «distribuísse metade pelos pobres e ficasse com a outra metade», exigindo como garantia determinada quantia. «Ao desenrolar o embrulho, encontrou... nozes! Vendo-se ludibriado, o ingénuo chorava a sua desdita. Apetece dizer: bem feito, para que não sejas parvo!», rematou.
Universidade Livre apoiou biblioteca em
Gouveia
21/12/1932 Com a colaboração da Universidade Livre de Coimbra, instituição de inspiração republicana virada para a instrução popular que funcionou nesta cidade (com sede na Torre de Almedina) entre 1925 e 1933, ia abrir ao público uma biblioteca pública em Gouveia. «Um grupo de amigos da instrução resolveu criar na linda vila de Gouveia uma Biblioteca Pública, que em breve vai abrir no Centro Republicano local, com o apoio e colaboração da Universidade Livre de Coimbra. Após a sua abertura será iniciada uma série de conferências educativas, sendo primeiro conferente o grande impulsionador da instrução popular, sr. Tomaz da Fonseca. O grupo organizador, à frente do qual se encontra o sr. José de Sousa Cabral, espera dos seus conterrâneos toda a sua solidariedade, agradecendo o envio de quaisquer obras educativas, colecções de jornais, revistas, etc.», noticiou este jornal no dia 21 de Dezembro de 1932.
Diário de Coimbra Memórias
9/12/1932
PEDIU A COIMBRA PARA SALDAR DÍVIDA COM O POETA ANTÓNIO NOBRE
Falecido em 1900, vítima de tuberculose, com apenas 32 anos, o poeta António Nobre criou enquanto estudante uma forte relação afectiva com Coimbra, tendo sido, nas palavras do amigo Alberto de Oliveira, editor, também homem de letras e diplomata, aquele que «melhor definiu, e em mais ressoantes versos celebrou, os mil encantos»
da cidade do Mondego.
Na edição de 9 de Dezembro de 1932, o Diário de Coimbra recomendou à Câmara e a outras entidades oficiais da cidade que levassem por diante a devida homenagem ao autor de “Só”– «o livro mais triste de Portugal», como classificou António Nobre a única obra que publicou em vida, e que lhe bastou para a imortalidade literária.
O artigo, assinado por António Cruz, chefe de redacção, indicava a Torre de Anto, que o poeta habitou antes de se exilar em Paris à procura do êxito nos estudos de Direito que não lograra em Coimbra, como ideal para «um monumento que perpetuasse a sua memória».
«O sítio é manso, quietosombrio e pacato. Há, no sítio, melancolia, saudade. Vem uma
aragem leve, das bandas do rio, sacode as árvores que se erguem para o céu e logo a calçada da ladeira fica atapetada de folhas mortas. Viveu ali António Nobre. Escolheu para sua morada a velha torre que de Anto tomou o nome - do Anto que se perdia por essas ruas do bairro alto, do bairro latino, embuçado na sua capa negra e compondo estrofes que fica-
ram, para sempre, ligadas a Coimbra, ao luar de Coimbra, à paisagem de Coimbra – que ficaram ligadas, para sempre, às maravilhas desta Coimbra de encantos. Debruçado nas pequeninas, estreitas e góticas janelas da torre, o Poeta inspirava-se no cenário que lhe ficava em derredor», anotou o redactor.
Era ali, alvitrou, que ficaria bem o busto do poeta, em bronze, da autoria de Tomás Costa, que o seu grande admirador Alberto de Oliveira oferecera a Coimbra. «Que resta, pois? Que a Câmara Municipal, que a Comissão de Turismo, que todas a as entidades oficiais, enfim, metam ombros à ideia e a levem por diante, de forma a Coimbra saldar uma dívida em aberto, uma dívida que Coimbra deve saldar - uma dívida que Coimbra tem que saldar, e depressa. António Nobre ficava bem, ali, para sempre, para todos os séculos dos séculos na quietude, na pacatez do sítio», preconizou António Cruz.
Tardou, porém, a homenagem pública. Por iniciativa da Câmara, só a 30 de Outubro de 1939 seria inaugurado, mas nos jardins do Penedo da Saudade, ao lado da primeira casa que António Nobre habitou em Coimbra, o monumento em que sobre um alto pedestal figura o busto do poeta do ultraromantismo e simbolismo, réplica do que existe no Jardim da Cordoaria, no Porto, cidade onde nasceu e morreu. M.S.
Miranda do Corvo estava “isolada do mundo”
22/12/1932 O Diário de Coimbra lamentou, na edição de 22 de Dezembro de 1932, a falta de ligações telefónicas a Miranda do Corvo, apesar de ser «um dos mais florescentes concelhos do nosso distrito».
«Os seus catorze mil habitantes e as suas cinco freguesias continuam infelizmente esquecidos dos nossos governantes e não vêem, com o mais vivo pesar, chegar até si o progresso», alertou o jornal.
Apesar de Semide, «a dois passos», já possuir telefone e
luz eléctrica, «montados por iniciativa e a expensas» da Junta Geral do Distrito de Coimbra, mostravam-se até então infrutíferas as diligências para «se estenderem os respectivos cabosaté Miranda do Corvo».
«Tudo tem sido baldado. Tudo tem sido bradar no deserto. Não há vila nenhuma do nosso distrito que não esteja já hoje ligada telefonicamente com Coimbra, com uma excepção: Miranda do Corvo.
Amigos queridos, desta laboriosa terra, solicitam-nos a
nossa intervenção no assunto. Pedem-nos que reclamemos perante quem de direito, pela desigualdade de tratamento, pela injustiça que se vem praticando. Dentro dos nossos princípios regionalistas, endereçamos os justos reparos às dignas autoridades da nossa terra, certos de que elas providenciarão rapidamente. E uma vez resolvido o problema, como é mister, Miranda do Corvo bendirá os que metam ombros à empresa», vaticinou o Diário de Coimbra.
Biblioteca retomou empréstimo de livros
5/1/1933 A Biblioteca Municipal de Coimbra contabilizou no ano de 1932 um total de 30.258 leitores nas suas salas de leitura. Tendo aberto para a leitura pública em 1923, o espaço cultural vinha registando um crescendo de frequentadores, com 26.887 no ano de 1929, 28.706 em 1930 e 37.085 em 1931, lia-se na notícia publicada neste jornal a 5 de Janeiro de 1933. Havia uma explicação para a aparente diminuição do último ano. É que em Abril de 1932 fora restabelecido o serviço de empréstimo de livros para leitura no domicilio. «Emprestaram-se, com efeito, de Abril a Dezembro 4.474 volumes. Supondo que cada volume emprestado possa corresponder a uma média de três sessões de leitura na Biblioteca, se os 4.474 volumes emprestados ali tivessem sido lidos, teria havido mais 13.422 requisições. Juntando este número de leitura domiciliar ao de 30.258 requisições de leitura na Biblioteca, obtém-se o número 43.680, superior ao do transacto em cerca de vinte por cento», justificava o texto.
Concerto de estreia da Banda da PSP
6/1/1933 Por iniciativa do comandante, tenente Sérgio Vieira, a PSP de Coimbra criou há 90 anos uma banda de música, com 32 instrumentistas, que se estreou na tarde de 6 de Janeiro de 1933, sexta-feira, no coreto da Avenida Emídio Navarro. Ao longo de duas horas, a Banda da Polícia executou seis composições neste primeiro concerto, aguardado com alguma expectativa pois sabia-se dos «prodígios feitos para a colocar à altura merecida». «Conjunto harmonioso e de execução bastante firme, ouvindo-se com agrado. Não se pode exigir mais, e estamos certos que o seu digno regente, o sargento-ajudante sr. Jara, com as suas apreciáveis qualidades, virá com a sua banda contribuir para que desapareça uma lacuna existente na cidade», avaliou o Diário de Coimbra na edição do dia seguinte.
Diário de Coimbra Memórias
21/1/1933 Serviço de Limpeza de Chaminés, criado pela Câmara Municipal, contribuiu para a redução do número de incêndios no ano de 1932
BOMBEIROS DE COIMBRA CONGRATULAVAM-SE COM A DIMINUIÇÃO DE FOGOS
Orelatório da Inspecção dos Serviços de Incêndio da Câmara de Coimbra evidenciava uma redução no número de «fogos grandes» e em chaminés durante o ano de 1932.
Os Bombeiros Municipais acudiram nesse ano a cinco incêndios de média dimensão, 39 pequenos fogos e dois grandes, mas estes fora do concelho. Foram ainda chamados para 19 incêndios em chaminés, mas também aqui havia motivos de satisfação, sabendo-se que, habitualmente, eram a origem de grande número de sinistros.
«Vê-se que decresceu o número de incêndios grandes, diminuindo também os que se registavam, frequentemente, nas chaminés, o que se deve, positivamente, à prontidão com que os socorros são prestados e ainda às facilidades oferecidas ao público pelo Serviço de Limpeza de Chaminés, criado pela actual comissão administrativa municipal», lia-se na notícia publicada neste jornal a 21 de Janeiro de 1933.
Com base numa informação enviada pelo comandante geral dos bombeiros, tenente Fer-
nando de Oliveira Leite, indicava-se na actividade da corporação, do ano anterior, um total de 76 chamadas de socorro, incluindo quatro situações de falso alarme e outros sete sinistros (cinco «desastres diversos», um desabamento e uma pessoa caída a um poço).
Sobre as causas dos incêndios, 32 eram atribuídas a «descuido ou causa normal», nove por explosão de matérias inflamáveis, uma por «fusão de fios», três por «faúlhas de locomotivas», uma por «combustão espontânea» e 19 originadas em chaminés. «A estas chamadas
de socorros, os bombeiros municipais compareceram em 1.º lugar 60 vezes e em 2.º lugar 12 vezes», destacava o relatório, esclarecendo ainda que «dos prédios incendiados apenas 50% estavam no seguro».
Acrescentava que «além de todos estes relevantes serviços, há ainda que pôr em relevo os socorros prestados pela auto-maca que passou a ter um motorista permanente ao seu serviço». Os Bombeiros Municipais efectuaram naquele ano 256 serviços de ambulância, dos quais 32 para «casos de doença na via pública» (a requisição da polícia), 47 para transporte de doentes pobres ao hospital e 177 com doentes que pagaram a deslocação.
Apontavam-se ainda os meios da corporação: além de um inspector, um comandante geral e um comandante ajudante, o quadro permanente tinha um chefe de secção, dois chefes de estação, 12 bombeiros, três motoristas, um co-
cheiro e um clarim, e o quadro auxiliar dois chefes de estação e 27 bombeiros. Havia ainda, do corpo da “Cruz Azul”, um médico, um chefe de ambulância, um subchefe, um enfermeiro e quatro maqueiros.
A corporação contava com três viaturas de tracção mecânica de pronto-socorro, um auto-tanque, uma ambulância, um carro de transporte, uma viatura de tracção animal com uma escada “Magirus” e cinco «viaturas de tracção braçal», num total de 13 meios.
O jornal divulgou também, no dia 7 de Janeiro, os serviços prestados ao longo de 1932 pelo corpo activo e “Cruz Amarela” da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Coimbra. O relatório indicava 59 comparências em incêndios (tendo chegado a 25 deles em primeiro lugar), incluindo três intervenções em «incêndios grandes», 17 em chaminés, 38 em fogos «vulgares» e um médio. A corporação mobilizou a ambulância para nove desastres, realizou 30 transportes gratuitos de doentes e 24 pagos, e efectuou 18 serviços de piquete de segurança para bailes e teatros.
«Comparecemos também a todos os desafios de foot-ball realizados nos campos do Arnado, Santa Cruz e três no campo do União, onde foram prestados numerosos curativos a alguns jogadores e a particulares (nos três campos)», mencionava ainda a informação enviada ao Diário de Coimbra por António Pinto Magalhães, secretário do comando dos Bombeiros Voluntários. M.S.
“Iremos sofrer os horrores de uma nova guerra?”
5/1/1933 A ascensão de Adolf Hitler ao poder (o líder nazista formou governo nesse mesmo mês na Alemanha) prenunciava ventos de guerra e desses receios dava conta o Diário de Coimbra, em artigo publicado a 5 de Janeiro de 1933, seis anos antes de deflagrar o maior conflito bélico da história da humanidade.
«As nações preparam-se para a guerra, para uma nova guerra que já não vem longe e que vai arrasar a ferro e fogo esta pobre humanidade exausta e des-
mantelada», observou o jornal, ao reparar na contradição entre compromissos de paz assumidos na Conferência do Desarmamento da Sociedade das Nações e o reforço da capacidade militar de alguns dos principais protagonistas mundiais.
«Estas lindas frases e promessas cairiam muito bem na opinião pública se não se conhecesse o quantitativo das forças aéreas dos diferentes países. É o próprio Anuário da Sociedade das Nações que nos elucida cabalmente acerca deste angus-
tioso problema. Assim, a França tem 2.375 aviões no efectivo e 605 sobresselentes; 1.752 aviões os Estados Unidos; 1.639 o Japão; 1.505 a Itália; e 1.434 a Inglaterra. Ao mesmo tempo, vejamos o material de guerra dos exércitos de todo o mundo: 19.700 aviões; 6.200 tanques; 4.000 canhões de marinha; 42.300 canhões lança-minas; 256.000 metralhadoras; 2.050 barcos de guerra; e 115 grandes couraçados. Em vista destes números formidáveis, não nos devemos admirar que as fábri-
cas de material de guerra forneçam dividendos de 30% aos seus accionistas...», considerava o artigo, intitulado “A ameaça de uma nova guerra”.
O texto apontava exemplos. «A fronteira oriental francesa está cuidadosamente fortificada - com receio de qualquer imprevista invasão. E é o “Koelnische Ilustrierte Zeitung” que diz estar a França em armas!...
A França prepara-se para uma defesa honrosa; e a verdade é que o orçamento da defesa nacional alemã contém disfarces,
contém “camouflage” variadíssima. Também os fascistas consagram todas as suas forças à preparação da guerra. A Itália quer estender a sua influência aos Balkans e aspira à soberania no Mediterrâneo.
Tem razão Barbusse quando diz: “Afirmo a realidade e a gravidade dos perigos da guerra, que assemelham os dias que atravessamos aos que precederam imediatamente o ano de 1914”. Iremos sofrer os horrores de uma nova guerra?» questionavao articulista.
Diário de Coimbra Memórias
Recapturado “Carapau”, um ladrão de galinhas
3/1/1933 Na coluna “Da Figueira” noticiava-se, a 3 de Janeiro de 1933, a recaptura de Henrique Caldas Abreu, conhecido pela alcunha “Carapau”, que dias antes, após um julgamento em que fora condenado pelo crime de furto, se tinha posto em fuga, «aproveitando um descuido do oficial de diligencias a cuja guarda havia sido confiado». «O “Carapau”, mal se viu à solta, continuou a praticar a ginástica do ofício, cometendo furtos por série, como aconteceu uma destas noites em que assaltou uma enfiada de capoeiras na Rua do Mato, acartando avultado número de cabeças, partes das quais para consumo próprio e outras para vender. À autoridade chegaram sucessivas queixas dos lesados. De investigação em investigação, a polícia foi dar com o larápio, de madrugada, num casebre perto da Cova de Lavos, onde procedeu à sua captura bem como dos seus “hospedeiros” Maria Elisa de Oliveira e José Pinto da Silva, que há boas razões para crer sejam os seus receptadores», informou o jornal.
Estrada da Beira era um perigo para viajantes
19/12/1932 “Quando se acabará de reparar a Estrada da Beira?”, questionou o Diário de Coimbra na edição de 19 de Dezembro de 1932, aludindo ao «estado simplesmente vergonhoso» em que, «passada a povoação da Sobreira» [São Martinho da Cortiça, Arganil], se encontrava uma das rodovias de maior tráfego, «sulcada, diariamente, por dezenas de viaturas». «Pontos há em que, nos dias de chuva, se torna perigosíssimo o trânsito. O Inverno origina lamaçais e barrancos que constituem um perigo para a segurança dos viajantes, e uma vergonha para quem, falando em turismo, os lança em tais caminhos», lamentou, alertando para a «necessidade imediata do seu completo alcatroamento e consequente reparação».
CRIADO COMISSARIADO PARA AJUDAR A DEBELAR O GRAVE PROBLEMA DO DESEMPREGO
Reflexo da crise económica, o desemprego era, há 90 anos, das mais graves preocupações mundiais, calculando-se em mais de trinta milhões o número de pessoas sem trabalho. «Trinta milhões de bocas que clamam, desesperadamente, aterradoramente, por pão!», escreveu o Diário de Coimbra, apontando a urgência de medidas para debelar um problema que era «factor da perturbação no universo e causa da agitação interna dos povos». Portugal não escapava a este flagelo. Identificadas pelo menos cerca de 41 mil pessoas sem trabalho, foram criados em 1932, sob tutela do Ministério das Obras Públicas, o Comissariado e o Fundo de Desemprego, antecessores do actual Instituto do Emprego e Formação Profissional.
No dia 4 Janeiro de 1933, o Diário de Coimbra noticiou a vinda a esta cidade do comissário geral do Desemprego, o antigo ministro do Comércio Carvalho Teixeira. O motivo da deslocação, no regresso do Porto, «onde o levaram idênticos fins», foi a instalação em Coimbra da delegação distrital do Comissariado do Desemprego, à frente da qual ficou o engenheiro Eurico de Sousa.
«Veio a Coimbra para agir de maneira a que se activem, sem
delongas, as diligências necessárias para a solução do momentoso problema do desemprego no nosso distrito», informou o jornal, adiantando que ficara decidido instalar o Comissariado Distrital do Desemprego numa modesta sala «nos baixos do edifício da Câmara Municipal», em frente da Conservatória do Registo Predial. Esperava-se do novo organismo que fosse «útil e proveitoso», contribuindo «ao mesmo tempo para a solução da crise que por aí vai e para que se concluam as várias obras citadinas e distritais que aguardam acabamento».
A secretaria, cujo pessoal era composto por desempregados, abriu no dia 9 de Janeiro, funcionando para inscrições nos
dias úteis das 11h00 às 17h00. Duas semanas depois já tinha registadas 360 pessoas sem trabalho, «na maioria empregados da construção civil, comerciais e de escritório, contando-se entre eles também alguns elementos do sexo feminino».
A rede crescia e no dia 15 desse mesmo mês, graças aos «porfiados esforços» do governador civil de Coimbra, Moura Relvas, foram anunciadas delegações em todos os concelhos do distrito.
Vários empreendimentos em curso em Coimbra e na região recorreram a desempregados ali inscritos, recebendo em compensação verbas atribuídas pelo Comissariado do Desemprego, lia-se na edição de 25 de Janeiro, dando o exemplo
das obras no Choupal, trabalhos nas dunas e cultivo de matas da circunscrição florestal, conservação de estradas e caminhos e construção da estrada de Buarcos ao farol do Cabo Mondego (empregava «cerca de uma centena de operários de Buarcos e Quiaios, na sua maioria mineiros das antigas minas do Cabo Mondego»).
Também para trabalhos de pintura nas obras do Palácio da Justiça foram consultadas as listas dos inscritos no desemprego, enquanto que, informou o jornal no dia 9 de Fevereiro, o director da Biblioteca Municipal de Coimbra «foi autorizado a requisitar ao Comissariado Distrital do Desemprego seis desempregados, a fim de, em dois turnos, ficarem fazendo serviço naquela biblioteca», e o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Galizes negociou com o delegado distrital do Desemprego «a forma de aplicação da verba de 57.543$19, recentemente concedida pelo Fundo do Desemprego, para a construção dum hospital naquela localidade», onde deveriam ser empregados «algumas dezenas de operários que se encontravam desocupados de trabalho». M.S.
Quebra Costas calcetado com paralelepípedos
Na edição de 11 de Janeiro de 1933, o Diário de Coimbra propôs a criação de Bolsas de Trabalho em cada distrito, com delegados em todos os concelhos, para combater a crise do desemprego. «A nós afigura-se que não basta o lançamento dum imposto sobre patrões e trabalhado-
res, a organização dum cadastro mais ou menos perfeito ou imperfeito, quando não haja um organismo próprio, com conhecimentos profundos, sabendo, querendo e podendo estudar e resolver a questão do trabalho», considerou. Tais Bolsas de Trabalho, explicou, teriam
as seguintes finalidades: «1.º O cadastramento por profissões e por categorias de todos os desempregados»; 2.º Investigação das aptidões e honorabilidade de cada um deles; 3.º Cadastrar as empresas particulares, os serviços administrativos e do Estado que carecessem de emprega-
dos; 4.º Destacar ou indicar a essas empresas e serviços aqueles dos desempregados que estiverem em condições de ocupar as vagas existentes; 5.º Aceitar a procura de empregados ou a oferta dos empregos. 6.º Informar sobre as qualidades técnicas e morais dos desempregados».
8/1/1933 As quedas constantes na descida do Quebra Costas (onde o Diário de Coimbra teve a primeira sede) motivaram frequentes reclamações, como já anteriormente recordámos neste espaço de memórias, levando finalmente a Câmara a pôr mãos à obra. Na edição de 8 de Janeiro de 1933 constatava-se estar «em vias de conclusão o calcetamento, a paralelepípedos, duma parte da Rua do Quebra Costas, isto é, duma grande faixa aberta em toda a extensão da rua, formando um amplo passeio, até junto da Rua Ferreira Borges, abaixo do Arco de Almedina». «Trata-se duma obra deveras importante. E a sua importância pode-se avaliar, quando mais se não tenha em conta, pelas reclamações constantes que o público e a Imprensa vinham fazendo a seu respeito. Deve-se esta obra à acção que vem de desenvolver, em prol da cidade, a actual comissão administrativa da Câmara de Coimbra. Trabalhando com uma boa vontade e um acerto a toda a prova, os homens que se encontram à frente dos destinos da nossa Câmara Municipal bem merecem a gratidão de todos nós», enalteceu o autor do texto. Deixava no entanto uma advertência: «Para esta obra que se vem realizando na Rua do Quebra Costas, há que chamar a atenção do público. A ninguém custa, agora, deixar de lançar para aí cascas de laranja ou de qualquer outro fruto - cumprindo apenas, de resto, as posturas municipais. Como quer que surge sempre alguém que, por teimosia, desobedece a essas posturas, chamamos para o caso a atenção da polícia. E, assim, fica devidamente valorizada esta obra importante do calcetamento da Rua do Quebra Costas».
Rebanho trucidado por lobos
Diário de Coimbra Memórias
4/1/1933 Era urgente tomar medidas face a grave problema de saúde pública. Diário de Coimbra assumiu campanha pela construção de gafarias
JORNAL DEFENDEU DOENTES LEPROSOS QUE ESTAVAM ENTREGUES À SUA SORTE
7/1/1933 De Ladoeiro (Idanha-a-Nova) chegavam notícias de ataques de lobos, que alarmavam as populações. «Soubemos ontem nesta localidade que há dias, no rio Aravil, os lobos assaltaram, de noite, um bardo, matando 55 borregos e uma ovelha. Os lobos, ultimamente, têm-se visto, frequentes vezes, nesta redondeza. No monte do Rochão, limite desta povoação, foram feitas duas batidas, tendo-se morto três daquelas feras», noticiou o jornal a 7 de Janeiro de 1933.
Pensão da Baixa levava refeições a casa
1/1/1933 Anunciavam-se neste jornal, a 1 de Janeiro de 1933, os serviços de uma pensão, sem identificar nome mas com morada na Rua dos Esteireiros, n.º 22 a 28, próximo da Praça do Comércio, em Coimbra, que entregava refeições ao domicílio. «Comensais - Aceitam-se com cama e roupa. Café, mesa farta e meio litro de vinho a cada refeição. Com cama 285$00; Sem cama 235$00», referia ainda o anúncio.
Acusou pai de
Alepra era, há 90 anos, um grave problema de saúde pública e altamente estigmatizante para os que dela padeciam.
Calculava-se em mais de três mil o número de leprosos num país sem meios de profilaxia, como notou o Diário de Coimbra na edição de 4 de Janeiro de 1933, reiterando os alertas que vinha lançando para que urgentemente se atendesse à situação dos infelizes a quem esta doença infecto-contagiosa, causada pelo “bacilo de Hansen”, condenara a uma precária existência.«Este, sim. É o assunto do dia. Por desgraça nos-
sa, o problema da profilaxia da lepra é sempre o problema do dia, o problema instante, o problema nacional que mais carece duma solução imediata», considerava o autor do artigo, alertando para «o perigo que representa essa multidão que anda por aí, à solta, deambulando por essas ruas e por esses campos, tocando-nos, convivendo connosco, bebendo pelos copos por onde nós bebemos, mugindo, até, as vacas que dão o leite que nós tomamos, fabricando, até, o queijo que nós comemos».
Para tuberculosos havia dispensários e sanatórios onde
podiam «buscar remédio para os seus males», mas, lamentava, os leprosos «não dispõem ainda duma gafaria onde possam acabar os seus dias num relativo conforto e não continuarem para aí abandonados, contagiando os sãos». Impunha-se, por isso, «a construção duma gafaria, a fim de nela serem internados os leprosos do distrito e do centro do país», defendeu o jornal, reconhecendo este problema como especialmente preocupante na região de Coimbra. «Vemos, ao derredor de nós, concelhos que dão farto contingente de leprosos! Uma nota: em Góis, terra
de gafos como poucas, os leprosos chegam a ir enterrar no cemitério as suas próprias mutilações - os seus horríveis despojos. Dedos, mãos e pés inteiros que caíram de podres, roídos pelas micobactérias», exemplificava o redactor.
Assumindo o lema “Guerra à lepra, paz aos leprosos”, o jornal desafiava «as entidades oficiais a cargo de quem se encontra a assistência pública» a meterem «ombros à resolução do problema da profilaxia da lepra», a «estudarem, imediatamente, tal problema, solucionando-o com a urgência que a sua gravidade requer».
Dias depois, a 16 de Janeiro, reclamava-se uma primeira vitória. Numa grande quinta no norte, junto ao rio Minho, deveria ser instalada a primeira gafaria do país. «A aquisição dessa magnífica propriedade e a instalação duma gafaria, que ficará sendo uma moderna colónia agrícola de leprosos, é o primeiro passo para o debelamento da endemia da lepra. Sentimo-nos satisfeitos por termos contribuído para que o Governo, tão acertadamente, assim proceda em prol dos infelizes gafados, porquanto foi nestas colunas que se reiniciou esta humanitária campanha de combate à lepra, logo secundada pela Imprensa de todo o país», congratulou-se o Diário de Coimbra.
Era dado um primeiro passo «para o bem-estar de mais de duas centenas de gafados», mas importava não esquecer os outros, «que se contam ainda por muitas centenas, e que carecem também de gafarias, para serem internados». «Fica o norte possuindo uma bem instalada e com todos os requisitos. O centro, porém, deve também ser dotado com outra gafariabem como o sul. Aqui a dois passos de Coimbra, existe um edifício que, na opinião dos técnicos, se adaptava com facilidade a um estabelecimento de assistência de tal natureza. Queremo-nos referir ao convento de Lorvão», sugeriu o jornal.
Viria, no entanto, a ser instalada na Tocha a primeira gafaria desta região. Criada por decreto em 1938, a Leprosaria/Hospital Colónia Rovisco Pais apenas seria inaugurada em 1947. M.S.
a
agredir à bengalada
Salmão fresco era novidade no Café Santa Cruz
14/1/1933
Na coluna “Da Cidade”, da edição de 14 de Janeiro de 1933, lia-se que Maria Marques, de 22 anos, residente em Coselhas, apresentara queixa na Polícia de Segurança Pública contra o seu pai, Fortunato Francisco, acusando-o de «a ter agredido violentamente à bengalada, causando-lhe ferimentos na cabeça, pelo que recebeu curativo no posto de socorros dos Hospitais da Universidade».
28/1/1933 Quase a completar 10 anos de existênciafoi inaugurado a 8 de Maio de 1923, numa iniciativa dos empresários Adriano Ferreira da Cunha, Adriano Viegas da Cunha Lucas (fundador do Diário de Coimbra) e Mário Pais - o luxuoso Café-Restaurante de Santa Cruz apresentava «uma autêntica novidade», que o Diário de Coimbra deu a co-
nhecer ao público na edição de 28 de Janeiro de 1933. «O acreditado Café-Restaurante Santa Cruz recebeu já uma grande quantidade de salmão fresco - um peixe bem raro no nosso meio. A iniciativa daquela casa constitui, por tal facto, uma autêntica novidade, tanto mais que essa remessa e outras que se sucederão se destinam à venda ao
público», informou o jornal, numa nota intitulada “Já há salmão em Coimbra”.
O emblemático estabelecimento da Praça 8 de Maio, ponto de encontro, de convivência e de cultura no centro da cidade, além da excelência dos seus serviços de restauração continuava entretanto a proporcionar aos clientes momentos de animação musical,
noticiando-se a 6 de Janeiro desse ano que iniciava ali os seus concertos, a realizar «todas as tardes, das 15 às 18 horas», o «aplaudido Almeidita-Jazz, da regência do professor Teixeira Lopes». «O programa do concerto de hoje, organizado a capricho, é de molde a satisfazer todos os amadores de boa música», antecipou o Diário de Coimbra.
8/1/1933 Jorge Mendes, «activo comerciante da nossa praça», estava a organizar uma excursão à Serra da Estrela, anunciou o Diário de Coimbra na edição de 8 de Janeiro de 1933. Os excursionistas sairiam de Coimbra às 5 da manhã de domingo, 15 de Janeiro, num passeio para «contemplar a Serra da Estrela, já nesta altura coberta de neve e apresentando à volta do turista uma autêntica maravilha». «Uma visita à Serra da Estrela impõe-se sempre, quer no Verão, quer no Inverno, pelo espectáculo grandioso que ela sempre nos apresenta. Mas no Inverno o espectáculo sobe de cor e de imprevisto: é formidável. Quem ainda não viu e observou a Serra da Estrela nesta quadra do ano, não deve deixar de aproveitar esta oportunidade», recomendou o jornal, comunicando que já estavam «inscritas bastantes pessoas nesta esplêndida iniciativa».
Camioneta atropelou e matou 10 cabeças de gado
13/1/1933 José Marques dos Santos, casado, residente na Avenida Almirante Reis, apresentou queixa contra Laurindo Gomes Martins, morador em Penacova, acusando-o de «com uma camioneta que conduzia ter atropelado, quando seguia com grande velocidade pela estrada que liga com a Quinta da Granja, uma manada de gado lanígero, tendo causado morte instantânea a dez cabeças, ficando ainda uma outra completamente inutilizada, causando-lhe um prejuízo de 825 escudos». Alegou ainda que o condutor não deu «ouvidos aos seus protestos, pondo-se em fuga».
Diário de Coimbra Memórias
19/2/1933
FALTAVA PROPAGANDA PARA PROMOVER A LOUSÃ NO TURISMO NACIONAL
Se hoje a Lousã (ou “Lousan”, na ortografia da época) é reconhecida como um importante ponto turístico da região e do país, nove décadas atrás não era assim, como observou o “redactor regionalista”do Diário de Coimbra na edição de 19 de Fevereiro de 1933.
Logo a abrir, o artigo lançava o desafio que se impunha: «Há, necessariamente, inevitavelmente, que intensificar a propaganda turística da Lousan».
«À maneira que vamos percorrendo o país, mais nos convencemos de que Portugal é um país por descobrir... Porque em toda esta maravilhosa faixa de terreno que vai do Algarve ao Minho, como surpreendente varanda sobre o Atlântico, há regiões e localidades que, pela beleza da sua caprichosa paisagem e pelas características dos seus costumes, merecem figurar nos álbuns e roteiros do viajante que se deitou a percorrer o mundo, em cata de horizontes
novos», explanava o autor.
«Estância de turismo e de repouso» de «primeiro valor», a Lousã era ainda «pouco conhecida sob aquele aspecto», havia que admitir. «Sabe-se vagamente fora de Coimbra que é uma vila importante do nosso distrito. Mais nada. E to-
davia, além de estância turística, a Lousan é ainda uma magnífica, uma excelente estância de cura e de repouso, dotada dos melhores e mais salutares condições climatéricas e topográficas», considerava o redactor.
Descrevia depois as belezas
da região. «Se a vila nos oferece já alguns dos mais encantadores aspectos que conhecemos, a Serra da Lousan consegue surpreender, por vezes, com a magnificência e a extensão dos seus panoramas, o mais esquadrinhador dos vagamundos. A ascensão a essa majestosa
montanha é já, por si, um espectáculo que, em Portugal, só tem igual no Marão e na Serra da Estrela, a quem vem da Covilhã, acompanhando o sinuoso Zêzere, e faz a escalada de Manteigas».
«Há pequenos povoados que, milagrosamente suspensos das abas perpendiculares da serra nos levam a perguntar por que estranha lei grávica e geométrica se encontram ali assim. É que não se concebe como se edificaram essas choupanas humildes e recolhidas em tão desconcertantes planos! Vistos do auto que galga a estrada, lembram, por vezes, ângulos cinematográficos, marcados por um operador de arrojadas concepções», admirava-se. Encantos que, para o autor, justificavam que se lhes desse a devida promoção. «Em torno da Lousan e da sua serra, há que intensificar a propaganda turística. Novo cartaz dessa moderna indústria que há-de ser uma das principais fontes de receita do país, a Lousan tem o seu lugar marcado no turismo nacional», reiterava.
E, a concluir, deixava uma outra recomendação: «Que se inicie desde já a colocação de placas e dísticos nas estradas do distrito, chamando a atenção de quem viaja para essa estância de raro valor e merecimento». M.S.
Crítica não era meiga com o teatro amador
10/1/1933 O teatro amador nas colectividades, dependente em muito da boa-vontade dos seus executantes, não escapava ao olhar crítico de quem no jornal se dedicava a assuntos da cultura.
Da edição de 10 de Janeiro de 1933 chamou-nos a atenção um apontamento crítico, num registo algo severo mas cuja leitura, à distância de nove décadas, tem hoje o condão de nos fazer sorrir.
Reporta-se o texto a um espectáculo do Grupo Dramático da Sociedade Recreativa Grupo Musical Os Pacatos, que no domingo anterior
apresentara a peça sacra “O Combate dos Anjos” no «elegante e confortável teatro do Coimbra-Club».
«A casa regorgitava de espectadores, que, digamos em abono da verdade, assistiram a uma exibição inferior à do primeiro dia, regra geral», principiava o autor, argumentando depois que «um ou outro personagem lá se esforçou por melhorar, mas pareciam ser todos arrastados pela má exibição de António de Almeida (Tentúgal), no papel de Alonso de Recabruna, que, não interpretando como os seus antigos méritos o exigiam, se mostrou
sempre preocupadíssimo».
Menos negativa foi a prestação de Fausto Magalhães e José Ruas, que «conseguiram melhorar um pouco», enquanto «Reinaldo Ramos, no “Lusbel”, voltou a exagerar, como da primeira vez, sendo infeliz em duas entra-
das, que bastante prejudicaram o bom andamento da peça, mas... o diabo tem sempre desculpa...».
«Isabel Martins, na “Virgem Maria”, desempenhou-se bem do seu papel, mas precisa de ser mais calma no dizer. Adelino dos Reis e Marcolina Martins, respectivamente nos papéis de “S. José e Madre Mónica”, foram, como sempre, dois elementos que se salvaram...», avaliou também.
Quanto a Eurico Faria (o “Zé Cobre”), «não conseguiu agradar, como no primeiro espectáculo». Já Angelina Ribeiro e Maria Silva «portaram-se re-
gularmente, precisando, no entanto, de procurar naturalizar os seus gestos», assim como «Costa Pereira e os restantes ajudaram o elenco».
Nota positiva ainda para «os efeitos de luz, a cargo dos distintos electricistas desta cidade srs. Manuel de Assunção e José dos Santos, que muito abonam em favor da competência daqueles artistas».
«Os coros foram superiores aos do primeiro espectáculo. Valha-nos, ao menos, isso...», concluía o “crítico teatral” do Diário de Coimbra, na coluna dedicada às “Sociedades de Recreio”.
Uma excursão de Coimbra para ver a neve na Serra da Estrela
Autocarros obrigados a estacionar na Praça Velha
13/2/1933 “APraça do Comércio transformada em rotunda de camionetas” era o título da nota publicada na edição do Diário de Coimbra de 13 de Fevereiro de 1933. A notícia dava conta de que, a partir desse dia, era «obrigatório o estacionamento, na Praça do Comércio, das camionetas que fazem serviço de carreiras com esta cidade e não tenham garagem de recolha». «Esta medida, deveras acertada, faz convergir para um único ponto, se não apropriado em absoluto, pelo menos o mais aproveitável nesse sentido, as camionetas de carreira que até aqui estacionavam em vários locais da cidade», acrescentava.
Rua Antero de Quental arreliada com futebol
25/2/1933 Ojornal foi contactado por «alguns moradores da Rua Antero de Quental” que reclamavam «um giro de polícia» naquela artéria, para «acabar com o constante abuso dos garotos que aí jogam o “foot-ball”, quebrando vidros e causando outros danos». «Sabemos bem que o efectivo da PSP não permite a criação de mais giros. No entanto, lembramos o caso ao sr. Comandante da Polícia, certos de que será deferida a pretensão dos moradores da Rua Antero do Quental», escreveu o jornal a 25 de Fevereiro de 1933.
Cemitério dos Olivais não aceitava mais enterramentos
28/1/1933 Noticiou o Diário de Coimbra, na edição de 28 de Janeiro de 1933, que a Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais enviara à Junta Geral do Distrito de Coimbra um ofício a solicitar que providenciasse «no sentido de não mandar fazer mais enterramentos no Cemitério dos Olivais, em virtude das suas pequenas dimensões».
Diário de Coimbra Memórias
17/2/1933 Acolhimento dos leitores justificava o reforço da presença do nosso jornal na Praia da Claridade
DELEGAÇÃO NA FIGUEIRA E OUTRAS MUDANÇAS NO DIÁRIO DE COIMBRA
para efeitos de revenda do nosso jornal, do sr. António Rodrigues Garcia, proprietário da Taboleta Feliz, Praça 8 de Maio, telefone 865, para onde devem ser dirigidos todos os pedidos».
A 15 de Janeiro, o jornal anunciou que estava a aceitar «agentes e correspondentes em todas as localidades onde ainda os não tiver».
Um presépio embelezado pelo talento de Pedro Olaio
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Oestreitamento da ligação entre Coimbra e Figueira da Foz, insistentemente preconizado por instituições e periódicos de ambas as cidades no início da década de 30 do século passado, contou desde sempre neste jornal com um aliado.
Em Junho de 1930, um mês após nascer, o Diário de Coimbra delegou no jornalista Mário Azenha a responsabilidade de registar e reportar os acontecimentos e a vida figueirense, tarefa que desempenhou com competência comprovada nas regulares colunas de informação local e muitas reportagens que subscreveu.
Ter um correspondente na Figueira da Foz era positivo mas insuficiente, face ao crescimento de leitores e à ambição de uma maior presença na cidade.
Por isso, a 17 de Fevereiro de 1933 o Diário de Coimbra comunicou a intenção de montar uma delegação na Figueira da Foz, «devido ao acolhimento que a vizinha praia» vinha dis-
pensando ao jornal. «À frente dessa delegação e como nosso redactor regionalista, foi colocado o sr. António Mendes Amaral, dotado das qualidades mais que necessárias para bem se desempenhar da missão que lhe confiamos. Doravante, todos os nossos amigos dedicados da Figueira da Foz se devem dirigir ao novo representante do Diário de Coimbra naquela cidade, para tratarem de assuntos que digam respeito à redacção e à administração deste jornal», informou.
A alteração do cabeçalho, logo no primeiro dia do ano (ver imagens), prenunciava que os primeiros meses de 1933 seriam férteis em mudanças neste jornal. Uma das mais relevantes, anunciada a 5 de Fevereiro, foi a cessação de funções do director e editor, José de Sousa Varela, que «a seu pedido» deixava o cargo que exerceu desde a primeira hora do Diário de Coimbra. O lugar de editor passou a ser assumido pelo até então chefe de redac-
ção, António Cruz. No cabeçalho figurava ainda o nome de Saul da Cunha e Silva, recém-nomeado (a 6 de Janeiro) como administrador-delegado.
A funcionar desde o início na Rua do Quebra-Costas, num prédio que acolhia redacção, serviços administrativos e oficinas de composição e impressão, o Diário de Coimbra debatia-se com falta de espaço e preparava-se para mudar de instalações. A 5 de Abril de 1933 anunciou que iria suspender a publicação por três dias, para tratar da transferência dos serviços para a Avenida Sá da Bandeira (redacção e administração no n.º 8-1 e oficinas no n.º 80). Voltaria ao contacto com os leitores no dia 9 de Abril, avisando que passariam a ser ali tratados «todos os assuntos respeitantes a este jornal».
Vejam-se ainda outras notícias dessa altura referentes ao nosso jornal. A 10 de Janeiro dava-se conta da nomeação, como «agente geral do Diário de Coimbra em todo o distrito,
No dia 2 de Fevereiro, comunicou que acabara de assinar contrato com «o sr. Horácio Gomes, da Agência Havas, que passou a fornecer-nos o seu serviço de informação do estrangeiro e a ser o representante exclusivo da nossa publicidade em Lisboa e Porto». «O Diário de Coimbra, que está passando por importantes transformações, modificou e alargou também os seus serviços naquelas cidades, de maneira a competir com os maiores jornais noticiosos. Não se poupando a esforços ou a despesas, no sentido de assegurar a mais completa informação quer do país quer do estrangeiro, procuramos assim corresponder à simpatia que o nosso jornal conta em toda a vasta região de que orgulhosamente somos defensores», escreveu.
E ainda, a 22 de Fevereiro, noticiou que, «no intuito de desenvolver e ampliar os seus largos serviços de informação», acabara de fechar um contrato com a Agência Americana, que passaria a fornecer a este jornal o seu noticiário. «Não se poupando a esforços para corresponder ao franco acolhimento que o público lhe tem dispensado, o Diário de Coimbra marca hoje, sem favor, um dos primeiros lugares entre os mais bem informados diários da província», concluía. M.S.
28/12/1932 O Diário de Coimbra informou os leitores, na edição de 28 de Dezembro de 1932, de que na Casa Olaio, ao Beco do Moreno, próximo da Rua da Sofia, se encontrava «desde há dias patente ao público um interessante presépio, muito artístico e muito completo, que tem causado a admiração de todos os que o têm visitado». «Realmente é de admirar este pitoresco trabalho, que reúne todas as figuras alegóricas ao nascimento de Jesus, com os seus Reis Magos, a Virgem Maria, S. José e outras figuras do hagiológio respeitantes ao milagre de Belém», escreveu, esclarecendo que o «interessante e artístico trabalho» fora realizado por Joaquim Luís Olaio, que «lhe imprimiu um cunho e originalidade bastante de destacar», enquanto as figuras alegóricas e decorativas que o ornamentavam pertenciam a José Augusto Frutuoso e António Gomes. «As pinturas, bem como a decoração da sala onde o presépio se encontra exposto, foram executadas pelo talentoso artista moderno que é o Pedro Olaio, que foi felicíssimo na imitação do azulejo e na criação de vários painéis, bastante artísticos e de acentuada originalidade, mostrando, mais uma vez, até onde se espraia o seu vasto talento e a sua privilegiada concepção artística», elogiava o redactor, informando os interessados que aquele «esplêndido trabalho» estaria patente ao público «todos os dias até ao próximo Dia de Reis, devendo ser visitado por todas as pessoas, pois ele constitui, realmente, um trabalho digno de ser apreciado». No dia 15 de Janeiro, avisou-se que o presépio da Casa Olaio ficaria mais alguns dias à disposição de «todas as pessoas que ainda o não tenham presenciado».
Estavam na mira da polícia 444 homens e 110 mulheres
4/2/1933 O Comando da Polícia de Segurança Pública de Coimbra divulgou a «estatística das participações» que ali deram entrada ao longo do ano de 1932. Na edição de 4 de Fevereiro de 1933 lia-se neste jornal que tinham sido apresentadas queixas contra 554 pessoas, das quais 444 do sexo masculino e 110 do sexo feminino. Dois homens eram suspeitos de falsificação, estando referenciados por desobediência, injúrias e resistência à autoridade 60 homens e 10 mulheres, por vadiagem 13 homens e oito mulheres e por embriaguês 65 homens e 12 mulheres. Constatavam também do relatório anual participações por conspiração e sedição contra 10 elementos do sexo masculino; por difamação, calúnias e injúrias, eram visados oito homens e sete mulheres; por roubo, oito homens e uma mulher; por furto e subtracção, 14 homens e duas mulheres; por danos, oito homens e uma mulher; e por ferimentos e ofensas corporais, 61 homens e cinco mulheres. Registavam-se ainda outros casos, não especificados, envolvendo 195 pessoas do sexo masculino e 64 do sexo feminino.
Suspensa a “sopa” da Penitenciária
27/2/1933 Já neste espaço de memórias recordámos anteriormente uma meritória iniciativa que a Cadeia Penitenciária de Coimbra levou a efeito em 1932 para ajudar os mais pobres da cidade. Porém, no dia 27 de Fevereiro de 1933, o Diário de Coimbra noticiou que tinham sido suspensas «há dias» as 50 refeições que o estabelecimento prisional vinha distribuindo diariamente em benefício de «outras tantas famílias indigentes, a quem as mesmas bastante arranjo faziam». Notando o «grande transtorno para as famílias beneficiadas», o jornal exortava o director da cadeia, José Miranda, a restabelecer a “Sopa da Penitenciária”, para «o bem dos pobres que com ela vinham sendo contemplados».
Diário de Coimbra Memórias
13/2/1933 Compra de aguarela de Alberto Sousa relançou a ideia de criar um espaço para o espólio artístico adquirido ou oferecido ao município
JORNAL SUGERIU GALERIA MUNICIPAL PARA EXPOR ARTE DEDICADA A COIMBRA
Aaquisição, pela Câmara, de um dos trabalhos que o pintor Alberto Sousa exibiu no Museu Machado de Castro, numa exposição individual dedicada à «paisagem e aos monumentos desta cidade de maravilha», levou o jornal a defender, nove décadas atrás, a criação de uma galeria municipal «destinada a coleccionar os trabalhos de arte» referentes a Coimbra.
“Uma terra de Arte que não tem ainda uma galeria para os trabalhos dos seus artistas” era o título do artigo que o Diário de Coimbra publicou a 13 de Fevereiro de 1933, um dia após a inauguração da mostra artística, em que começava por aplaudir o investimento do município na compra do quadro do famoso aguarelista.
«A aquisição desse trabalho não representa apenas uma homenagem que a cidade, agradecida, prestou ao artista que lhe ergueu hinos de amor, através de aguarelas que ficam para sempre. Mostra-nos, antes, que a Câmara soube ir de encontro
às aspirações da cidade, salvaguardando a documentação artística das riquezas de Coimbra», considerava o autor, defendendo que o município, ao abrir assim «um precedente que há muito se tornava necessário», deveria proceder «de igual forma para com outros artistas», seleccionando e adquirindo «quadros referentes a Coimbra - e que sejam dignos desta cidade de encantos».
Questionava de seguida «o fim a que se destina o trabalho de Alberto Sousa que foi adquirido em nome da cidade». «Renasce, em face desta pergunta, a velha ideia da criação de um Museu Municipal. E essa ideia parece tomar vulto, uma vez que se deu já o primeiro passo para a sua efectivação. É de aconselhar, neste momento, que todos os interessados na criação desse museu se unam e congreguem os seus esforços, no sentido de algo se conseguir.
E todos os interessados, neste caso, não são apenas os artistas de Coimbra. São, antes, todos os amigos de Coimbra, todos aqueles que se deixaram prender pelos encantos desta cidade de encantos. Alargadas devidamente as instalações da Biblioteca Municipal, podia-se muito bem instalar aí a galeria de trabalhos que se fossem adquirindo, por compra ou por oferta. Para tal, bastava cobrir-se devidamente - uma necessidade que, de resto, há muito já se faz sentir - a única ala do Claustro do Silêncio que continua votada ao maior abandono, sujeita à acção destruidora, arruinadora, até, das variações do tempo. O Museu Municipal pode ser um facto, dentro em breve. Basta que todos se interessem, mas a valer, pela sua criação», preconizava.
A ideia terá sido «devidamente apreciada nos meios artísticos e literários de Coimbra» e também «nos meios oficiais», uma vez que, dias depois, a 18 de Fevereiro, o Diário de Coimbra noticiou que iria ser criada «uma galeria municipal para os trabalhos de Arte que se refiram a Coimbra». «Sabemos que o presidente da Câmara, sr. dr. Sanches de Morais, se vai avistar, para a solução de tal problema, com o sr. governador civil. A galeria municipal, a criar-se, será instalada, como também alvitrámos, na única ala do Claustro do Silêncio que ainda se encontra descoberta, realizando-se aí as obras indispensáveis», adiantou. M.S.
“Atmosfera nauseabunda” na Escola do Calhabé
5/1/1933 O jornal elogiou, na edição de 5 de Janeiro de 1933, as diligências da Câmara Municipal de Coimbra para dotar a população do Calhabé de um novo edifício escolar.
Constatando alguma polémica na imprensa local sobre a opção de compra pelo município de um imóvel na Rua dos Combatentes da Grande Guerra a fim de o adaptar para a Escola do Calhabé, com «considerações pró e contra, expendidas por profissionais e não profissionais», o Diário de Coimbra deslocou-se a esta zona da cidade para ter uma melhor percepção do
que estava em causa.
«Fomos de abalada até ao Calhabé para visitarmos a escola existente e a que está em adopção, fazermos o confronto e dizermos da nossa justiça. Lá fomos; primeiramente, à escola em laboração, e sofremos profunda decepção. É um sepulcro para vivos, onde crianças e professores lentamente se atrofiam física e moralmente, porque, para que o ensino seja profícuo, a boa disposição impõe-se. Penetrámos na sala destinada ao sexo masculino, e, mal demos dois passos, recuámos imediatamente, porque o am-
biente era insuportável. Respirava-se uma atmosfera nauseabunda, consequência da aglomeração permanente de alunos, de dia e de noite, incompatível com a limitada capacidade e com a insuficiência
de ventilação, com a agravante, ainda, de ter luz deficiente, recebida só dum lado. Por mais esforços e boa vontade que um professor possua, a sua acção não pode produzir convenientemente», descreveu o redactor.
Já sobre o edifício escolar, em adaptação, na Rua dos Combatentes da Grande Guerra, considerou que ficaria «um dos melhores da cidade».
«A nossa Câmara, ao tomar a deliberação de adquirir o edifício em referência, teve uma boa visão e só bons louvores merece. Ali, ficam bem instaladas as duas escolas,
masculina e feminina: salas espaçosas, bem iluminadas, com suficiente capacidade de ar, vestiários, salas para professores, recreios, retretes, etc. E, deste modo, fica preenchida uma lamentável lacuna cuja existência era incompatível com a categoria da nossa cidade. Por isso, a Câmara bem merece o reconhecimento da população beneficiada, e estamos certos que, em tempo oportuno, completará o edifício escolar, dotando-o com o competente material escolar e didáctico, para que todos, ali, se sintam bem, alunos e professores», concluiu.
jornal
5/2/1933 O Diário de Coimbra recebeu a visita de «dois simpáticos rapazes», Alfredo Brás e Carlos Vieira, que se propunham efectuar uma «volta ao mundo». Os viajantes, que tinham já «percorrido 6.000 quilómetros dentro de Portugal», estavam de partida com destino a Espanha, França e Inglaterra, noticiou a 5 de Fevereiro de 1933, adiantando que estes “globetrotters» estavam munidos de «um livro de controle, que se encontra visado pelas autoridades civis e militares e outras entidades das terras por onde têm passado». Aos aventureiros, que na véspera se tinham deslocado à redacção, na Rua do Quebra-Costas, em apresentação de cumprimentos, o jornal desejou felicidades e sucessos para o seu projecto de viagem.
Zeppelin retomava linha aérea
8/2/1933 Publicou o Diário de Coimbra, na edição de 8 de Fevereiro de 1933, que a empresa alemã fundada pelo conde Zeppelin, líder na construção das famosas aeronaves (balões dirigíveis) em forma de charuto, se preparava para recomeçar o seu serviço de transporte aéreo para a América do Sul. «As viagens far-se-ão todos os quinze dias e terão como términus a cidade do Rio de Janeiro. Os preços das viagens tiveram uma redução de 20 por cento. Assim, um bilhete de Friedrichshafen para o Rio de Janeiro custará 1.980 marcos e Friedrichshafen-Barcelona 260 marcos», divulgou o jornal.
Ovelha perdida na Praça da República
9/2/1933 Fausto Marques, da Pastelaria Marques, na Praça da República, tinha em seu poder uma ovelha encontrada na véspera naquela praça, que entregaria a quem provasse pertencer-lhe, informou o Diário de Coimbra na edição de 9 de Fevereiro de 1933.
Diário de Coimbra Memórias
11/2/1933 Instalações modelares, pavilhões com oficinas e uma escola para ensinar a ler e a escrever contribuíam para a reabilitação dos reclusos
ELOGIOS À “GRANDE OBRA DE INSTRUÇÃO” DA CADEIA DA FIGUEIRA DA FOZ
Dedicou o Diário de Coimbra, na edição de 11 de Fevereiro de 1933, a coluna de notícias da Figueira da Foz à cadeia comarcã, enaltecendo em especial a escola que ali funcionava para instrução dos presos analfabetos.
Começava o texto por considerar que esta cadeia, «construída já há alguns anos, próximodo quartel de Infantaria 20 e situada num esplêndido local, arejado, cheio de luz e batido do sol e do vento, é uma “penitenciária” em ponto pequeno, higiénica e toda ela modelarmente montada, onde se vê limpeza, mercê de cuidado do seu carcereiro José M. da Silva».
«Tivemos conhecimento de que ali estavam sendo introduzidos novos melhoramentos,
além dos que já existiam, e convidados a visitá-la tivemos ocasião de observar que de facto assim era e que as suas instalações são modelares. Para complemento, verificamos que pela acção e iniciativa do ilustre magistrado, foram construídos, do
lado norte, fora do edifício e circundados por um alto muro, pavilhões destinados à instalação de oficinas para diversas artes, algumas delas apetrechadas já com material onde os condenados que delas necessitem possam aprender o sufi-
ciente para quando em liberdade se regenerarem e poderem trabalhar pela arte que aprenderam, ganhando assim a vida. Além destes melhoramentos, outro muito importante ali vem funcionando com toda a regularidade há mais de dois anos: trata-se duma escola de instrução aos presos analfabetos, cujos resultados têm sido óptimos, pois muitos deles têm saído deste estabelecimento prisional a saber ler e escrever correctamente, mercê também da grande força de vontade do encarregado do ensino, sr. Hiliodoro Silva, filho do carcereiro,
que com uma pequena gratificação tem sido incansável a bem dos que saem duma prisão convencidos de que aprenderam o suficiente para poderem viver para a sociedade e serem homens de bem», anotou o correspondente do Diário de Coimbra na Figueira da Foz.
Uma obra que - reconheciase devia ao «ilustre magistrado delegado do Procurador da República, sr. Dr. Celestino de Figueiredo Dias», que assumira igualmente a iniciativa de criar na Figueira da Foz um núcleo da Associação do Patronato aos Presos, destinada a «subsidiar pela assistência moral e material as famílias dos presos e os próprios reclusos, durante o seu cativeiro, recolher e educar os filhos que encontrem nestas condições e proteger em igualdade de circunstâncias os presos depois de cumprida a respectiva pena».
«A grande obra de instrução e melhoramento da cadeia comarcã desta cidade é digna dos maiores elogios ao ilustre magistrado que tão bem tem sabido compreender o quanto vem beneficiar homens que dali sairão completamente reabilitados, esquecendo assim vícios maus e o desprezo da sociedade», concluía o autor. M.S.
Um esquiador temerário na Serra da Estrela
19/2/1933 As potencialidades da Serra da Estrela para o turismo e desportos de Inverno estavam a ser descobertas e lançava-se nos inícios dos anos 30 do século passado uma “campanha da neve” no país, enquanto nascia o Ski Club de Portugal e se construía nos Piornos a primeira pista de esqui, isto em 1932.
Ziller Perez, um entusiasta dos desportos de Inverno natural de Vila Nova de Gaia, a residir desde Novembro de 1932 na estância de montanha das Penhas da Saúde, propôs-se «fazer o circuito da Serra da Estrela, em “ski”, e bater o recorde estabelecido, há dias, pelo norueguês Dundas, na sua travessia da mesma serra», noticiou o Diário de Coimbra na edição de 19 de Fevereiro de 1933.
Saindo da Casa-Abrigo do Ski Club de Portugal, nas Penhas da Saúde, iniciou a sua aventura
na manhã do dia 18, sozinho porque tinham adoecido os dois desportistas que deveriam acompanhá-lo.
«O “raid”, que é o mais importante que tem sido tentado na Serra, sendo uma réplica ao estabelecido por dois desportistas estrangeiros, é considerado uma temeridade praticado nas condições em que o iniciou o sr. Ziller Perez, tanto mais que as notícias vindas de Manteigas são aterradoras e registam desprendimentos de grandes massas de neve», avisava o jornal, esclarecendo que o circuito se deveria efectuar em quatro dias, sendo o primeiro pelo percurso Penhas de Saúde, Torre, Curral Martins, dormindo no Observatório; o segundo por Vistas de Gouveia, com regresso pelo Observatório; o terceiro pelas Lagoas, escura e comprida, dormindo em Valevim; e por último Penha
dos Abutres, Torres, Cântaros e Espinhaço de Cão, regressando às Penhas das Saúde pela tarde. Apesar dos «boletins meteorológicos anunciarem desprendimentos de neves e vizinhanças de tempestade», Ziller Perez, que «praticou o “ski” em larga
escala, na Noruega e na Suíça, onde lhe sucederam os mais extraordinários percalços», mostrou-se determinado em partir, o que «bastante contrariou os seus amigos, que o aconselharam a tentar com melhor tempo o seu projecto», publicou o jornal dias depois.
Pela edição de 21 de Fevereiro ficaram os leitores a saber que a aventura não teve o desfecho pretendido. Logo no primeiro dia, como até às 18h00 o Ski Club não tivesse recebido «qualquer comunicação sobre a chegada de Ziller ao Observatório de Manteigas, começou a admitir-se a hipótese dum grave desastre, tanto mais que do observatório informavam que a temperatura era àquela hora de 8,52 graus negativos».
O Ski Club organizou dois grupos, que partiram ao amanhecer, um das Penhas da Saúde, o outro das Penhas Doura-
das. As buscas infrutíferas e a falta de notícias de Ziller Perez motivaram «profunda tristeza» na região, onde era «muito estimado». «Em Manteigas, Gouveia e noutras localidades, onde se conhecia o empreendimento do arrojado desportista, também se procurava saber onde ele parava. Inesperadamente, às 18 horas, do Sanatório da Covilhã informaram que havia ali chegado e se encontrava relativamente bem», comunicou o jornal.
O aventureiro, que se protegera da noite gélida «cavando um pequeno abrigo» na neve, reconhecera por fim «a impossibilidade de prosseguir a viagem»e resolvera «voltar ao ponto de partida». No entanto, já recuperado, garantia aos amigos que o rodeavam: «Hei-de fazer o circuito da Serra da Estrela. Não foi desta... Há-de ser para a outra vez!»
Volta ao mundo com passagem pela redacção do nosso
Pedra para apurar o “bom toque” das moedas
11/2/1933 “A odisseia das moedas parece ter atingido o seu fim”. Com este título, o Diário de Coimbra dava conta, a 11 de fevereiro de 1933, de que a Agência do Banco de Portugal já estava a receber «aquelas moedas de dez escudos que, embora não tenham bom toque, não deixam de possuir o mesmo peso das moedas verdadeiras». «Finalmente... Foram ouvidas as reclamações formuladas nestas colunas» congratulou-se o jornal, considerando «necessário, porém, que essa medida se estenda aos Correios, às recebedorias do concelho, aos serviços dependentes da Câmara, Caminhos de Ferro, etc.». «E isto porque duma repartição sabemos nós que chegou a adquirir até uma grande e artística pedra de mármore, a fim de bater as moedas e, caso elas não tilintem, não as aceita... muito embora elas sejam tão boas como as verdadeiras! Era preferível cortar o mal pela raiz, impedindo que tais moedas, mercê duma escolha, não saíssem dos cofres da Casa da Moeda para circulação. Assim, uma vez que elas por aí andam nas mãos de toda a gente, só resta que todas as repartições as aceitem, à semelhança do que já acontece na Agência do Banco de Portugal», defendeu.
Sessão de cinema a favor dos leprosos
6/1/1933 O jornal divulgou a 6 de janeiro de 1933 o «acto de benemerência» promovido pelo dermatologista e professor Rocha Brito para «minorar a dor dos seis tristes e infelizes leprosos» que ainda se encontravam no Hospital dos Lázaros. Naquele estabelecimento, situado na Alta de Coimbra, junto aos Hospitais da Universidade, houve «sessão cinematográfica e distribuição de 30$00 a cada um daqueles desgraçados». «Assistiram vários alunos do sr. Dr. Rocha Brito e todos os empregados, bem como os infelizes daquele hospital, que comovidamente agradeceram este acto de caridade», lia-se na notícia.
Diário de Coimbra Memórias
21/2/1933
de gripe que levou muitos à cama, subiram à torre e emudeceram o sino
ROUBARAM O BADALO À “CABRA” MAS O “CABRÃO” MANDOU-OS PARA AS AULAS
ODiário de Coimbra noticiou no dia 22 de fevereiro de 1933 aquele que foi o segundo roubo do badalo da “cabra”, o sino da Torre da Universidade cujo toque comandava o quotidiano letivo da instituição.
«Ao bater das seis horas da tarde de ontem, não se ouviu a “cabra”, no seu dobrar plangente, avisando os escolares para se prepararem para as aulas de hoje. E, em vez da “cabra” – ouviu-se o “cabrão”, o sino grande...», informou o jornal, explicando que a “cabra” emudecera «simplesmente porque... lhe roubaram o badalo!»
Desconheciam-se os autores de «mais esta partida» que iria «ficar, por certo, na história da vida académica de Coimbra», escreveu-se nessa edição.
Mas dias depois o jornal publicava «uma carta picaresca» que vinha «contar um feito não menos picaresco».
«A última partida dos nossos académicos – o roubo do badalo da “cabra” – deu brado. Correu, célere, o país. E não houve alguém que se não risse, ao saber da facécia. O correio
de ontem trouxe-nos a carta que abaixo se publica. Nela se dá conta do feito. E nela se fala ainda das razões “imperiosas”–então os “bichos” não são menos que os “doutores” ? – que levaram os estudantes à prática
de tal acto», lia-se no jornal de 25 de fevereiro.
Transcrevia-se a carta, para «o leitor a saborear»: «Nós, abaixo assinados, fazedores da facécia por todo o Portugal conhecida, e a que o conceituado
jornal de V.ª Ex.ª obsequiosamente deu a merecida publicidade – trata-se, nada mais nada menos que do rapto da “língua de bronze” contida no “campanudo ventre” da respeitável, porque é velha, e, concomitantemente, enfadonha, porque é demasiado matutina e vespertina, Dona Cabra, - vimos declarar alto e bom som, como ela, a grande cabra, o fazia: a) Que a razão principal que nos levou a praticar o duro e esforçado feito foi, não só tirar uma vingança da cabra que tantas vezes no-las fez cortar, mas também marcar duma maneira assaz bastante elevada, porque é do alto da torre, o nosso protesto contra o facto da se terem concedido férias antecipadas aos “bichos” não o fazendo aos “doutores”. b) Que não foi por esquecimento que deixámos no seu lugar o badalo do “cabrão”, mas simplesmente porque contávamos que o famigerado “cabreiro” cumprisse religiosa-
Um “bairro higiénico” para alojar estudantes da Universidade de Coimbra
«Alegres e folgazões, os escolares têm também a noção das suas responsabilidades. Há que os acarinhar, há que os ouvir, há que atender as suas justas reclamações», comentou na edição de 24 de fevereiro de 1933 o Diário de Coimbra, na sequência do roubo do badalo da “cabra”, que repetiu «a facécia duma geração doutrora». Escalando a porta de Minerva, os autores «forçaram a porta da torre e vá de subirem uns tantos degraus, até que praticaram a sua
proeza». «A partida teve graça, teve pilhéria – e não ofendeu ninguém. Antes assim. Quem dela tomou conhecimento, riu-se a bom rir. De mais a mais, quando se soube também do motivo que levou os escolares a tal acto: pretendiam forçar umas férias de que tanto carecem, dada a impossibilidade de, na sua grande maioria, poderem assistir às aulas, devido ao andaço da gripe que os levou à cama», lia-se no artigo.
O autor lembrou que «a mo-
cidade tem direito a divertir-se». «Irreverente, o sangue a latejar-lhe nas veias, audaciosa, ela deve sempre primar por definir a sua época. Sobretudo, a mocidade escolar de Coimbra. Quando mais não fosse, em obediência a uma tradição sadia, a uma tradição que promete prolongar-se através de todos os tempos, a bem de todos nós! O que interessa é que a mocidade, divertindo-se, não ofenda».
Porém, advertiu, «não se julgue que a mocidade deste
burgo universitário se entrega apenas a folguedos».
«A mocidade, divertindo-se, não esquece que pesam sobre os seus ombros deveres a cumprir e não esquece ainda que se abre na sua frente um campo luminoso de direitos sagrados, invioláveis. Assim, enquanto, por um lado, essa mocidade se devota ao estudo, por outro lado bate-se em defesa dos seus interesses. Preparando-se para a vida, sabe reclamar, e com justiça, os benefícios que a vida tem que lhe dis-
mente a “praxe”, não tocando o cabrão em substituição da cabra. Foi um traidor, paciência». Na carta, nem uma assinatura. «Mas não importa. O que interessa é a razão principal que levou os académicos a praticar o duro e esforçado feito... E está tudo dito!», rematava a notícia, sugerindo que para quadra carnavalesca a partida nem era «desengraçada de todo».
Sabe-se hoje que foram quatro estudantes de Medicina os autores da proeza. Na manhã de 21 de fevereiro acederam furtivamente à torre onde o relógio e os sinos marcavam o funcionamento da Universidade. Calando a “cabra”, a “inimiga” que duas vezes ao dia lembrava aos alunos as suas obrigações, julgavam conquistada a pausa letiva que os universitários reclamavam, numa altura em que um surto de gripe tinha feito encerrar as escolas e liceus da cidade – de facto, o jornal noticiou a 18 de fevereiro que uma comissão de alunos do 4.º ano de Medicina tinha-se avistado com o reitor e vários professores «no sentido daquele estabelecimento de ensino ser encerrado, visto que a gripe, que está grassando com grande intensidade nos meios académicos, faz diminuir sensivelmente a frequência das aulas».
O resultado do furto do badalo não foi o que os autores esperavam. Na falta da “cabra”, e contrariando o que era “praxe”, os avisos de recolher e de aulas fizeram-se ao toque mais grave de outro sino da torre, o chamado “cabrão”. M.S.
pensar», considerou, apontando depois «medidas que devem ser postas em prática, para efeitos de melhoria da actual situação dos académicos, entre elas a construção dum bairro higiénico onde eles se possam acolher».
«Isto, em Coimbra onde lhes falta o conforto necessário para bem caminharem na vida. De resto, construindo-se esse bairro, apenas se transplantava para esta cidade de encantos o que no estrangeiro há muito já existe», preconizou.
Furtaram galinhas e... as batatas
Diário de Coimbra Memórias
17/2/1933 Remodelação da divisão administrativa do país teve em conta não só considerações geográficas mas sobretudo as de ordem económica e social
de Arganil e de Tomar a Miranda do Corvo».
3/3/1933
O Diário de Coimbra noticiou a 3 de março de 1933 que a Polícia de Investigação Criminal continuava «as averiguações acerca de um roubo de galinhas e de um peru pertencentes ao sr. dr. Artur Gomes Alves, residente à Estrada da Beira, praticado na noite de 31 de dezembro para 1 de janeiro último». «Ao que parece os autores da proeza já se encontram descobertos, contando-se entre eles bastantes estudantes, alguns filhos de famílias muito conhecidas. A “quadrilha”, que parece ser grande, não só praticou aquele furto como também, segundo nos consta, praticou outros de coelhos e até de batatas...», anotou o redator, numa notícia local que intitulou “Gatunos de Capoeiras”.
Estudante ajudou a salvar doente
21/3/1933 Joaquina Lopes, internada na Maternidade de Coimbra, encontrava-se «em perigo de vida» e o jovem Aureliano Dias Gonçalves, aluno da Faculdade de Medicina, prontificou-se a doar «250 centímetros cúbicos do seu sangue» para a necessária e urgente transfusão. O Diário de Coimbra registou na edição de 21 de março de 1933 o «acto nobilíssimo», informando que graças à generosidade do estudante e futuro médico a doente começava «a experimentar sensíveis melhoras».
“Complot” para independência da Ucrânia
30/3/1933 Na cidade de Kharkiv, então a capital da República Soviética da Ucrânia, foi «descoberto um “complot”cujo objectivo era expulsar os representantes oficiais de Staline e proclamar a independência integral da Ucrânia», informou o Diário de Coimbra a 30 de março de 1933, acrescentando que foram feitas «inúmeras prisões e, após um sumaríssimo julgamento, executados os chefes desse “complot”».
DEFINIU-SE UMA NOVA DIVISÃO DAS BEIRAS PARA “GOVERNO DE TODOS”
Publicou o Diário de Coimbra, na edição de 17 de fevereiro de 1933, um artigo em que se explicava aos leitores os fundamentos da “nova divisão das Beiras”.
O texto começava por recordar a necessidade, reconhecida pelo Governo, de ser «remodelada com urgência» a divisão administrativa do país, tendo nomeado para o efeito, em 1930, uma comissão de que fazia parte, entre outros, o geógrafo Amorim Girão, professor da Universidade de Coimbra.
«Visava tal trabalho criar a província homogénea, com afinidades já existentes ou previsíveis, que assegurem o progresso do corpo provincial e facilitem a sua administração», explicou, começando-se por «agrupar os elementos nacionais com afinidades marcantes, quer sob o aspeto do clima, território e suas condições de produtividade, quer sob o ponto de vista de população, suas tendências e formas de atividade, quer ainda sob o aspeto das comunicações e meios de acesso, para com tais elementos criar definitivamente em Portugal agregados adminis-
trativos com base natural e social». E, assim, ao contrário das «anteriores e tradicionais divisões administrativas portuguesas em que predominava o princípio de estabelecer os limites provinciais tomando por base os cursos dos rios», a referida comissão «não fundamentou a divisão em considerações puramente geográficas, mas também em motivos de ordem económica e social», assentando, para isso, que «o caráter e os costumes da população, os seus usos, a sua
maneira de falar, os seus interesses económicos e a sua atração por este ou por aquele centro urbano, considerados como polos diferenciadores, são, com efeito, elementos a considerar, ao fazer o esboço duma carta regional».
Assumindo tais pressupostos, e «para governo de todos aqueles que labutam nesta fecunda e linda região», estabeleceram-se três subdivisões: Beira Litoral, Beira Alta e Beira Baixa, sendo capitais, respetivamente, as cidades de Coim-
bra, Viseu e Castelo Branco. A Beira Litoral, esclarecia o texto, «é, agora, uma província que abrange a parte das Beiras que confina com o mar e dele recebe a sua natural influência e compreende os atuais distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria, excetuando, ao norte, os concelhos de Espinho, Feira, Arouca, Castelo de Paiva e S. João da Madeira, que ficam pertencendo à província do Douro Litoral, a nascente os concelhos de Tábua e Oliveira do Hospital, que ficam pertencendo à Beira Alta, e o concelho de Pampilhosa da Serra, que fica pertencendo à Beira Baixa. Ao sul, a Beira Litoral recebe ainda o concelho de Vila Nova de Ourém. Fica, assim, a Beira Litoral abrangendo as bacias hidrográficas do Vouga, do Mondego e do Liz, tendo Coimbra como capital. E para melhor união e interdependência de todos os componentes da província, foram incluídas em primeira fase as linhas de Cantanhede,
Da Beira Alta, tendo Viseu por capital, destacava o facto de ser «a região das maiores altitudes do país, da Estrela e do Caramulo». «Abrange os distritos de Viseu e da Guarda, excetuando do primeiro os concelhos de Lamego, com a freguesia de Barrô, do concelho de Resende, Armamar, Tabuaço e S. João da Pesqueira, que ficam pertencendo à província de Trás-os-Montes e Alto Douro. Do distrito da Guarda, excetuam-se os concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo, Meda e Vila Nova de Foz Côa, que pertencem também à província de Trás-os-Montes e Alto Douro, e o de Manteigas e as freguesias de Valhelhas, Bendala, Casteleiro e Sortelha, que passam para a Beira Baixa. Em compensação, são agregados à Beira Alta os concelhos de Tábua e Oliveira do Hospital. Esta província constitui um todo que vai da Estrela às vertentes do Douro e serras de Sicó e Aradas, e dos planaltos de Trancoso, da Guarda e do Sabugal à Espanha», completava.
Por último, a Beira Baixa, «natural e tradicionalmente» liderada por Castelo Branco. «Esta província abrange todas as terras ao sul da Estrela e dos planaltos da Guarda e do Sabugal (Terra fria) e os concelhos de Pampilhosa da Serra, Mação e Sardoal». «Assim fixados os limites desta província, torna-se urgente, para a sua completa unidade, a construção das linhas férreas da Sertã e de Manteigas (Gouveia à Covilhã)», preconizava. M.S.
A propósito do julgamento de pequenos furtos
22/2/1933 «Noventa por cento, para não dizermos a totalidade dos casos de crime de furto, que todos os dias se liquidam no Tribunal de Juízo Criminal, não representam o fruto duma tara criminosa e doentia, ou a obra dum bandido perigoso de alarmante cadastro, mas, tantas das vezes, o resultado duma necessidade imperiosa», advogava o autor do artigo que o Diário de Coimbra publicou a 22 de fevereiro de 1933, em coluna de “Crónica dos Tribunais”.
Sob o título “Os pequenos furtos”, constatava que «pelo banco dos réus passam todos os dias figuras miseráveis de miseráveis sem eira nem beira, a quem todos fecham a porta, de quem todos fogem com repulsa e que, assim, se veem sós e abandonados perante o mundo, não têm família, não têm amigos e a sua terra fica distante, lá muito longe».
«E se o pária consegue, num esforço de alma desiludida, esquecer a terra, a família e os amigos, não pode esquecer o
estômago, porque ele lá está a lembrá-lo, torturando-o naquela linguagem que por to-
dos nós é mais sentida. E então, essas vítimas desta sociedade mal constituída que põe de lado, como coisas inúteis, os desprotegidos do destino, não resistem à tentação do alheio, entrando na posse furtiva do que de direito lhes devia pertencer pela força dos seus braços ou pelo esforço o seu cérebro. E esses desgraçados que roubam quase sempre um feixe de lenha à beira dum caminho, uma galinha fugida a qualquer capoeira ou meia dúzia de laranjas caídas
duma árvore, para não morrerem de fome e de frio junto de qualquer curral de suínos e por falta de coragem moral para roubarem mais, são condenados em tantos dias de prisão correcional, acrescidos do respetivo imposto de justiça, que, na impossibilidade de ser pago, vai reforçar a prisão que lhes foi imposta. E tais infelizes são condenados porque a lei manda condenar aqueles que furtam mesmo para não sucumbirem de fome...», rematava o articulista.
Liga dos Bons Amigos de Celas
15/2/1933 Um grupo de moradores de Celas «resolveu há dias fundar naquele populoso bairro» de Coimbra uma coletividade «de recreio para eles e suas famílias», noticiou o jornal a 15 de fevereiro de 1933.
Designado Liga dos Bons Amigos de Celas, o novo clube seria recreativo e incluiria secções desportivas e artísticas, prevendo-se que «muito em breve» abrisse as suas salas atendendo ao «elevado número de inscrições» com que os seus promotores já contavam.
Proibidas gaiolas com pássaros às
janelas
3/3/1933 A delegação de Coimbra da Sociedade Protetora dos Animais estava a receber várias reclamações «em virtude de ter sido ultimamente proibido que às janelas e varandas dos prédios permaneçam gaiolas com pássaros», informou o jornal na edição de 3 de março de 1933, adiantando que aquela entidade iria dar conhecimento de tais protestos ao comandante da Polícia de Segurança Pública, tenente Sérgio Vieira.
Posto de vacinação de animais na Rua da Sofia
Diário de Coimbra Memórias
4/3/1933 Pedia-se a “estabilização dum salário mínimo” para todos os trabalhadores e que não fosse permitido empregar crianças nas obras
UMA “ASSEMBLEIA MAGNA” PARA OUVIR OS OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Num espaço dedicado a questões das classes profissionais, o Diário de Coimbra relatou na edição de 4 de março de 1933 uma «assembleia magna dos operários da construção civil de Coimbra e arredores», que registou «algumas centenas» de participantes.
Realizada ao final da tarde do dia anterior na sede da Associação dos Artistas de Coimbra, a reunião foi convocada pelo «Conselho Administrativo do Sindicato dos Operários da Construção Civil de Coimbra e Arredores, a fim de, junto do sr. Governador Civil do Distrito e Comissário Distrital do Desemprego, serem expostas as reclamações para a solução dos problemas mais urgentes dos Operários da Construção Civil desta cidade».
Com a presença do governador civil substituto, tenente Sérgio Vieira (também coman-
dante da PSP), e do comissário distrital do Desemprego, Eurico Teixeira de Sousa, a sessão teve início com a leitura de uma moção em que se transmitiam os problemas que mais vinham afetando os profissionais da construção civil.
Entre as reivindicações para «atenuar a crise extensa que assoberba a classe», dirigidas ao representante do Governo no distrito de Coimbra, destacavam-se desde logo a «estabilização dum salário mínimo para todos os operários» e que
não fosse permitido empregar na construção civil menores até aos 14 anos.
A moção prosseguia pedindo que «todos os proprietários sejam obrigados a reparar os prédios que assim o necessitem; a colocação de todos os operá-
rios, embora com salários mínimos; a abertura de novas obras do Estado, por administração direta do mesmo; que seja suprimido o desconto de 2% a favor do Fundo do Desemprego; que seja criado um imposto a aplicar sobre todas as fortunas superiores a 50.000$00; que o mesmo imposto seja aplicado na construção de casas e bairros operários; que não sejam executados mandados de despejo contra operários desempregados; que seja regulado e cumprido o horário do trabalho; e que seja estabelecido um seguro na invalidez, a cargo do Estado».
Otenente Sérgio Vieira, que justificou a ausência na reunião do «chefe do distrito, sr. dr. Moura Relvas», assegurou ter «tomado em devida conta os desejos manifestados pelos operários da construção civil, os quais transmitiria ao sr. Governador Civil, que, por sua vez, levaria os mesmos até junto das entidades competentes».
«Por fim, falaram os srs. José Pinto, empregado comercial, e José Ferreira, que demonstrarambem claramente a angustiosa situação em que se encontra a maioria dos desempregados», descreveu o repórter, na rubrica “Interesses de Classe”. M.S.
Havia “concorrência desleal” entre engraxadores
22/3/1933
O Diário de Coimbra comunicou, na edição de 22 de março de 1933, que na Intendência de Pecuária deste distrito tinha acabado de abrir «um posto de vacinação de animais, contra as zoonoses contagiosas, principalmente raiva, febre carbunculosa, mal rubro, peste suína e outras que atacam as diferentes espécies pecuárias». «Os proprietários e lavradores que desejem vacinar os seus gados podem dirigir-se àquela Intendência, cuja sede é na Rua da Sofia, n.º 94, todos os dias úteis das 11 às 16 horas, sendo o preço da vacinação somente o custo da vacina», esclarecia a notícia.
8/3/1933 Na edição de 8 de março de 1933 dava o Diário de Coimbra conta de um certo mal-estar que se instalara entre aqueles que, no espaço público, ganhavam a vida a engraxar o calçado dos seus concidadãos – uma atividade outrora comum mas que as gerações de hoje praticamente desconhecem.
Na rubrica “Interesses de Classe”, lia-se que «uma comissão de proprietários de engraxadorias desta cidade» se deslocara à redação a fim de que este jornal fizesse «eco junto do sr. Governador Civil do Distrito, da situação precária em que se encontram, motivada pela concorrência que lhes está sendo feita e que consideram desleal, pelos colegas que vêm exer-
cendo a sua profissão nos cafés e leitarias, não respeitando o horário de trabalho nem o dia de descanso semanal».
Corroborando esta posição, publicou o Diário de Coimbra, no dia 11 do mesmo mês, uma carta do cidadão Luiz Barata que vinha ajudar à compreensão do problema, do ponto de
vista daqueles que eram proprietários de espaços dedicados à engraxadoria.
«Acabo de ler no seu mui apreciado jornal a reclamação dos proprietários de engraxadorias desta cidade. Como proprietário que sou também duma, e não tendo feito parte da comissão a que se faz refe-
rência, não posso também deixar de dizer o que se me oferece sobre o assunto. Há mais de um ano que reclamamos perante Suas Ex.as o Governador Civil, Presidente da Câmara Municipal e Diretor de Finanças deste Distrito, para que nos fosse feita justiça pela flagrante deslealdade que nos está sendo feita pelos engraxadores dos cafés, barbearias e não sei que mais, pois ao passo que nós temos de pagar pontualmente rendas de casa, algumas caríssimas que vão até 200$00 mensais, jornais, revistas, água, eletricidade, empregados, contribuições, licenças várias e outras despesas que escusado é enumerar, eles, os dos barbeiros e cafés, despesas nenhumas destas
têm, e assim, pelas facilidades, não me admira que, em breve, até as tabernas tenham cada uma o seu engraxador, e além disso, julgo não ser decente nem higiénico que em barbearias, cafés e leitarias se façam barbas, tomem café ou leite à mistura com engraxadelas de botas», desabafava o leitor, terminando a epístola a considerar que «isto não é querer tirar o pão a quem o tem garantido... mas sim apenas querer que haja igualdade de vantagens e lealdade na concorrência, e assim associando-me à reclamação dos proprietários de engraxadorias, esperançado fico que Sua Ex.ª a Autoridade máxima do nosso Distrito nos faça a justiça a que nós julgamos ter direito».
“Carteiristas” com bilhetes de ida e volta
20/2/1933 O jornal informou que tinham sido entregues na 2.ª esquadra da Polícia de Segurança Pública de Coimbra dois indivíduos, «Eduardo da Conceição Gomes, de 30 anos, manufactor de calçado, e Mário Ireneu Ferreira, casado, de 28 anos, barbeiro, ambos naturais do Porto», que tinham sido detidos pelos «soldados n.os 94 e 93 da Guarda Nacional Republicana em serviço na Estação Velha». «A captura foi requisitada a pedido do chefe da referida estação, sr. Joaquim Ferreira Mateus, pois os passageiros viajavam com bilhetes semanais de “excursão” de ida e volta, do Porto a Coimbra. Supõe-se que aqueles passageiros tivessem chegado a esta cidade no comboio correio descendente e se preparassem para novamente embarcarem no correio ascendente, desconfiando-se ainda que os referidos indivíduos sejam dois carteiristas, pois que vão ser feitas investigações nesse sentido», lia-se na local publicada na edição de 20 de fevereiro de 1933.
“Sarau
dramático”
no Grémio Operário
9/3/1933 OGrémio Operário, uma das mais antigas coletividades de recreio e cultura de Coimbra, fundada na Alta da cidade em 1887, acolhia sessões como o “sarau dramático” anunciado neste jornal a 9 de março de 1933. Na sede da agremiação, na Rua da Ilha, junto à Sé Velha, teria lugar uma noite cultural no dia 12 desse mês, organizada por Jaime Soares (Peralta). «Subirá à cena a peça num ato “Justiça”, cujos papéis serão desempenhados pelo Grupo do Grémio, a comédia num ato “Falso Conde”, pelo grupo Victor Campos, e “AAdúltera”, comédia num ato pelo Grupo Dramático “Amigos do Bem”. Haverá também solos de viola pelo amador Joaquim Maria da Cruz e guitarradas pelo sr. José Santos, que será acompanhado pelo sr. J. M. da Cruz», completava a notícia.
Diário de Coimbra Memórias
14/3/1933 Jornal noticiou o envolvimento de família de Castanheira de Pera num processo de passagem de dinheiro falso que era fabricado em Lisboa
DESMANTELADA QUADRILHA DE PASSADORES DE MOEDA FALSA QUE ATUAVA NA LOUSÃ
Adetenção na Lousã de dois irmãos, naturais de Castanheira de Pera, apanhados no dia 14 de março de 1933 a passar moedas falsas de 10$00, deu início a uma operação policial que culminou no desmantelamento de uma quadrilha com ramificações em Lisboa e Fuentes de Oñoro (Espanha).
O Diário de Coimbra acompanhou o assunto ao longo de várias edições, descrevendo a 17 desse mês que os dois jovens, Miguel, de 24 anos, e Manuel, de 20 anos, capturados pela GNR quando tinham em sua posse 36 moedas falsas, usavam como método dirigir-se a lojas onde «compravam uma onça de tabaco, uma caixa de fósforos, um livro de papel e iam dando para pagamento as tais moedas, conseguindo por este processo passar bastantes».
No dia 22, foram noticiadas diligências da Polícia de Investigação Criminal (PIC) que em Lisboa detetara «em flagrante vários indivíduos quando fabricavam moedas falsas de 10$00 numa casa da Rua Tenente Espanca». «Al-
guns desses indivíduos foram exercer a sua profissão para a Lousã. Há tempos começaram a aparecer moedas falsas em abundância naquela localidade e nas povoações próximas, o que intrigou não só as autoridades mas a população. O delegado do procu-
rador na respetiva comarca comunicou o caso ao sr. dr. Alves Monteiro [diretor da PIC], pedindo-lhe a comparência ali de uma brigada de agentes. Seguiram efetivamente para a Lousã os agentes Campino e Germano, e esses, após várias diligências,
conseguiram prender nove pessoas que estavam em ligação com os fabricantes em Lisboa», divulgou este jornal.
No dia 29, o Diário de Coimbra publicou na primeira página, continuando na última, uma extensa notícia a informar que estava já “a contas com a polícia toda a quadrilha que operava na região da Lousã”. Reproduziam-se nessa edição fotos de oito dos suspeitos de envolvimento neste processo de falsificação e passagem de moeda falsa, quase todos membros de uma mesma família, de Castanheira de Pera. Entre eles figuravam pai, mãe e três irmãs dos rapazes que duas semanas antes tinham sido detidos na Lousã.
O mais velho, Miguel, contou à polícia que conhecera em Fuentes de Oñoro, junto à fronteira, o espanhol Diamantino Hernandez, que lhe propusera «um negócio de notas falsas de todos os tipos e valores». Em fevereiro de 1933 os dois encontraram-se em Lis-
boa, trocando com o espanhol 3 mil escudos de moedas de 10$00 falsas por 1.500$00 «em dinheiro do bom». «Para satisfazer a compra dessas moedas, o Miguel escreveu a seu pai, pedindo-lhe para lhe mandar todo o dinheiro que pudesse arranjar, num mínimo de 1.500$00, dizendo-lhe, ainda nessa carta, que o dinheiro era para a compra daquelas moedas falsas de 10$00 e seu pai enviou-lhe então 1.900$00». Regressado a Castanheira de Pera a 20 de fevereiro, o dinheiro falso foi escondido «numa manjedoura, debaixo duma pedra», incumbindo-se depois toda a família da operação de passagem das moedas. «No dia em que o Miguel e seu irmão foram presos, tinham estes combinado vir à Lousã passar algumas daquelas moedas, tendo trazido de sua casa, para esse efeito, 36 moedas, das quais passaram 6 em diversos estabelecimentos», referia a notícia.
O pai, detido quando passava moedas falsas na feira de Miranda do Corvo, confirmou à polícia a versão do Miguel e esclareceu que para enviar o montante solicitado pelo filho «vendeu um boi por 1.270$00» e pediu emprestado «mais algum dinheiro para perfazer a quantia necessária».
Diamantino Hernandez corroborou tais declarações e confessou ter comprado as moedas em Lisboa, na Calçada de Carriche, a «um indivíduo de nome José dos Santos», suspeito, juntamente com um sobrinho, de ser o fabricante do dinheiro falso. M.S.
Uma estrada para ligar Santa Clara aos Covões
5/3/1933 “O bairro de Santa Clara vai ser dotado com dois importantes melhoramentos”, informou o Diário de Coimbra na edição de 5 de março de 1933. Lia-se na notícia que o diretor das Obras Públicas, engenheiro Rangel de Lima, tinha sido «encarregado pela comissão administrativa da Colónia Portuguesa do Brasil de traçar o projeto de uma estrada que, partindo da Estrada de Lisboa, em Santa Clara, ligue esta diretamente com o Sanatório da-
quela Colónia nos Covões, passando pelo Santuário da Rainha Santa», devendo «apresentar brevemente à referida comissão aquele projeto, que está concluindo ativamente».
«Velha aspiração do bairro de Santa Clara e de Coimbra, que há muitos anos anseiam vê-la realizada, vai agora ser um facto, graças aos esforços das comissões administrativas da nossa colónia no Brasil e da Câmara Municipal», congratulou-se o jornal, adiantando que o «troço dessa estrada que vai do
Rossio de Santa Clara ao convento onde se venera a Padroeira da cidade deverá possuir as dimensões de uma rasgada e moderna avenida, o que
representa um fator de extraordinário alcance para o desenvolvimento urbano da margem esquerda do Mondego».
O outro melhoramento dizia respeito à «construção de um grande depósito de águas, obra essa realizada também por aquelas comissões e que se destina ao abastecimento do bairro, sanatório da Colónia Portuguesa do Brasil, povoações circunvizinhas e ainda da Escola Nacional de Agricultura». Também para assegurar o abastecimento de água ao
Hospital Sanatório da Colónia Portuguesa do Brasil (Hospital dos Covões), onde estavam ainda em curso obras para instalação da unidade de saúde dedicada aos tuberculosos, foi noticiado a 7 de março que o ministro das Obras Públicas e Comunicações, a pedido da comissão administrativa, autorizara a reabertura de furos para a pesquisa de águas e que essas despesas fossem incluídas nas dotações da Administração Geral dos Serviços Hidráulicos e Elétricos».
O aparecimento de “moedas falsas em abundância” na zona da Lousã desencadeou investigações policiais
Diário de Coimbra Memórias
Peditório
para acudir a combatentes na miséria
21/2/1933 A “Festa do Combatente”, anunciada para 1 de abril, foi notícia na edição de 21 de fevereiro de 1933. Promovido pela Agência de Coimbra da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, o peditório consistia na «venda de pequeninos capacetes, de feitio diferente dos do ano findo, revertendo o seu produto a favor dos combatentes, viúvas e órfãos que se encontram na miséria e minados por doenças». «A venda dos referidos capacetes é feita por gentis e caridosas senhoras da nossa melhor sociedade, corações sempre abertos ao sofrimento alheio, sendo a sua missão elevadamente altruísta orientada e presidida pela ilustre titular senhora Condessa do Ameal (D. Maria Benedita), a quem muito e muito já devem todos os infelizes que à sua caridade se acolhem», enalteceu o jornal, dando conta de que «as pensões e subsídios concedidos por esta Agência durante os meses de janeiro e fevereiro aos combatentes, viúvas e órfãos que vivem na maior miséria somam a quantia do 4.900$00».
Um gesto benemérito da firma Martas & C.ª
20/2/1933 «A importante firma Martas & C.ª, estabelecida com armazém de papelaria na Praça do Comércio, desta cidade, teve a gentileza de oferecer ao Comissariado Distrital do Desemprego, que vem funcionando no edifício da Câmara Municipal, debaixo da direção do engenheiro sr. Eurico Teixeira de Sousa, uma grande quantidade de artigos de escritório, indispensáveis para os serviços daquela repartição que, segundo determinação do seu zeloso director, resolvera não despender para esses artigos, embora absolutamente necessários, um único centavo das verbas concedidas para auxílio dos desempregados», informou o jornal a 20 de fevereiro de 1933, transmitindo a gratidão de Eurico Teixeira de Sousa «perante o gesto daquela firma».
UMA MULTIDÃO À PORTA DO JORNAL PARA OUVIR O RELATO DA SELEÇÃO
Ohistórico de embates futebolísticos de Portugal com Espanha não era glorioso, o que não impedia de estarem em alta o entusiasmo e as expectativas para o IX Encontro Inter-seleções Ibéricas que se iria disputar no dia 2 de Abril de 1933 (domingo) em Vigo, então a capital da região da Galiza.
Na véspera, o Diário de Coimbra comunicou aos leitores que «todas as fases e aspetos do grande e sensacional jogo» seriam transmitidos em direto «ao público desta cidade» através de «dois poderosos altifalantes» instalados na nossa redação, na Rua do Quebra-Costas, num serviço combinado com o jornal O Século.
«Nenhum outro, como este, é para nós, portugueses, que desfrutamos já uma elevada cotação internacional desportiva, mais emocionante e mais entusiástico. Talvez mais emocionante e mais entusiástico pela razão da nossa equipa nacional, em competição com a da vizinha Espanha e em oito jogos realizados, nunca ter
conseguido ir além de sete derrotas e um empate», escreveu o jornal no dia em que Portugal iria «enfrentar o país seu mais direto rival no campo futebolístico».
O IX Encontro Inter-seleções Ibéricas não correu de feição às aspirações portuguesas, tendo a Espanha triunfado por três
bolas a zero, num «jogo que bem merecia outro resultado».
«Mais uma vez a “chance portuguesa” não logrou constituir poder bastante para bater futebolisticamente a nossa vizinha Espanha – admitida, claro está e duma maneira geral, a nossa inferioridade no campo técnico. Desta vez, em Vigo, ha-
çaram réplica apesar da energia dos nossos representantes. Mas essas três bolas, que constituíram a oitava vitória dos espanhóis, não foram o fruto do domínio territorial e técnico que o resultado aparenta. Portugal jogou naturalmente sem a uniformidade da Espanha – mas jogou o suficiente para não merecer um resultado tão duro», comentou o Diário de Coimbra na edição de segunda-feira, criticando ainda a arbitragem que «teve altos e baixos, prejudicando-nos em extremo».
Jornal agradeceu a colaboração dos Correios e Telégrafos, que contribuíram para o sucesso da transmissão
Acrónica do jogo destacava Victor e Augusto Silva, Roquete e Carlos Alves como «os melhores dos portugueses», fazendo ainda uma alusão especial –ainda que não tendo entrado em campo –a Fernando Alves, o «excelente guarda-redes do Sport Club Conimbricense e suplente da seleção nacional».
via esperanças – os portugueses, felizmente, têm sempre esperanças... – embora, este ano, a equipa de Portugal na sua constituição, que foi o que de melhor por cá havia no momento, não inspirasse grande confiança – não obstante o seu triunfo sobre a Hungria. Sofremos três bolas, que não alcan-
Mas se o resultado do jogo defraudou expectativas, o mesmo não sucedeu com a iniciativa de o transmitir em direto para o público de Coimbra. «Constituiu um êxito completo o nosso serviço de informação do encontro Portugal-Espanha, organizado de colaboração com o nosso prezado colega O Século, tendo-se juntado em frente ao nosso jornal muitas centenas de pessoas, que elogiaram a perfeição dessas informações», congratulou-se o Diário de Coimbra. M.S.
“Famílias inteiras atacadas de gripe” em Pereira
7/3/1933 O correspondente do Diário de Coimbra na vila de Pereira alertou para as «sezões, broncopneumonias, tosses rebeldes e outras doenças» que estavam a afligir «quase toda a população destes sítios».
«Dizem os médicos e muitas outras autoridades sanitárias que toda a região compreendida entre Montemor-o-Velho e Ameal está sujeita, mais do que qualquer outra, a febres palustres e a outras doenças de caráter epidémico, devido ao grande número de arrozais que aqui existe e à inundação
constante na quadra invernosa dos campos marginais. É infelizmente verdade tudo isto. Em Pereira há famílias inteiras atacadas de gripe e as
sezões, broncopneumonias, tosses rebeldes e outras doenças têm feito estragos bastante consideráveis em quase toda a população destes sítios. Os
médicos municipais quase não podem descansar devido às inúmeras chamadas», relatou, na carta publicada a 7 de março de 1933.
Reclamava-se, por isso, a intervenção do Estado «para que este momentoso problema seja prontamente resolvido». «Noutras terras do país, como por exemplo na região do Ribatejo, têm-se feito grandes serviços tendentes a debelar o sezonismo e outras doenças de caráter epidémico, com o auxílio do Estado e dos municípios. Porque não se reúnem todas as ener-
gias existentes no concelho de Montemor-o-Velho e noutros concelhos limítrofes, no sentido de pedir ao Governo providências imediatas?», questionou, lembrando «algumas afirmações do sr. capitão Moreira aquando da sua visita a esta localidade, afirmações que aludiam a melhoraremse as condições sanitárias do concelho», preconizando, entre outras medidas, que era «preciso construirmos amplas e arejadas escolas, construir e reparar fontes, preparar a irrigação dos campos do Mondego».
Avaria no Lindoso deixa Coimbra às escuras
Diário de Coimbra Memórias
16/3/1933
MINEIROS DESEMPREGADOS CONSTRUÍRAM ESTRADA DO FAROL DO CABO MONDEGO
4/4/1933 Uma avaria na barragem do Lindoso, donde provinha a energia elétrica que abastecia Coimbra, deixou a cidade sem luz durante um longo período na madrugada de 3 de abril de 1933. «Por esse motivo, o nosso jornal teve que entrar na máquina com um grande atraso, pelo que perdeu alguns correios. Pedimos desculpa aos nossos prezados assinantes desta involuntária falta e solicitamos de quem de direito as devidas providências, para que o facto se não repita, pois ocasiona prejuízos incalculáveis», lamentou o Diário de Coimbra na edição de 4 de abril, notando que a falha de energia causou também «grande atraso nas últimas carreiras dos elétricos». Por essa altura, anunciavam-se melhoramentos na linha de distribuição de eletricidade. «Na sua última sessão, a comissão administrativa dos Serviços Municipalizados deliberou adquirir quinhentos postes de cimento armado, que se destinam à substituição dos postes de madeira que, atualmente, servem a linha elétrica de alta tensão de Coimbra. Aquela linha vai ser completamente transformada, melhoramento cuja realização há muito se impunha», comentou o jornal a 24 de fevereiro.
Feira dos Lázaros sem zaragata
3/4/1933 «Esteve imensamente concorrida a lendária Feira dos Lázaros no Largo do Castelo, onde apareceram, como de costume, os “passarinhos” de massa, os “Gregórios”, os ovos vermelhos que enchem de encanto a petizada», registou o jornal a 3 de abril de 1933, sobre o evento realizado na Alta junto ao hospital dos leprosos, e onde desta vez, «contra o costume, não se registou qualquer zaragata».
Três centenas de trabalhadores das minas de carvão da Figueira da Foz viram-se de repente sem trabalho, nove décadas atrás, devido à inundação pelo mar do «complicado labirinto de poços e galerias» donde durante dois séculos se extraiu carvão dos maciços rochosos do Cabo Mondego – assunto que já anteriormente recordámos neste espaço de memórias (a 14 de novembro do ano passado).
A situação dramática destes mineiros e suas famílias, maioritariamente de Buarcos, motivou as autoridades a fazerem avançar a construção de uma estrada para o “Farol Novo” do Cabo Mondego, desejada e estudada pela Comissão de Iniciativa e Turismo da Figueira da Foz, e aprovada entretanto pelo ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco.
No dia 2 de fevereiro de 1933, o Diário de Coimbra assinalou o início dos «trabalhos de construção da estrada que, partindo dos Vaes, lugar próximo de Buarcos, vai até ao farol do
Cabo Mondego, ligando pelo lado poente com as diversas ramificações que cortam a Serra da Boa Viagem e que liga também com a estrada do lado nascente e norte, que segue da Figueira, por Tavarede, àquele pitoresco local». «É um importante melhoramento de turismo que muito vem beneficiar os milhares de visitantes desta praia e, ao mesmo tempo, facilitar o movimento de automóveis que farão a ida pelo
lado nascente e o regresso pela nova estrada, lado sul, e cujo passeio se torna mais interessante e apreciável», noticiou. À frente da obra estava o diretor de Estradas do Distrito de Coimbra, engenheiro João Rangel de Lima, que o jornal entrevistou a propósito deste empreendimento. No dia 16 de março, o responsável admitia que o fecho das minas de carvão do Cabo Mondego gerara um «apavorante número de
mais de 300 desempregados só em Buarcos, a pedir resolução imediata». «Lamentando a sorte dessa pobre gente, propus para Lisboa que me deixassem resolver o assunto com liberdade de ação, pois que não só conseguiria dar trabalho a todos esses desempregados, como também em troca desse trabalho alguma coisa de útil faria para o distrito e muito especialmente para o Turismo da Figueira da Foz. Nestas condi-
ções propus que se construísse imediatamente, e por administração direta, o ramal da E.N. 9-1.ª, conhecida vulgarmente pela estrada do Farol Novo, utilizando nesse serviço os desempregados», declarou ao Diário de Coimbra.
Apesar de alguns problemas de adaptação ao novo tipo de trabalho – «os mineiros, por exemplo, tinham a natural tendência, devido à sua profissão, de furar minas e como tal juntavam-se nos taludes em grupos», dando «trabalho educá-los e separá-los em linhas» –, o engenheiro Rangel de Lima mostrava-se satisfeito com estes operários, «sossegados, cumpridores e amigos de trabalhar». Esgotadas as listas de desempregados desta região, e com «pessoal trabalhador bastante para os serviços», decorria a bom ritmo a empreitada, composta de terraplanagens, obras de arte e empedramento da via, dividindo-se em dois troços –um mais difícil, até ao Farol Velho, onde estava concentrada «a força de pessoal», e outro que se previa «mais fácil e rápido». «Se tudo correr como penso, calculo poder dar aos banhistas da Figueira, na próxima época balnear, o prazer de fazerem aquele lindíssimo passeio de automóvel ao Farol Novo», concluiu o responsável. M.S.
Uma cantina e um bairro para os guardas da PSP
9/4/1933 A inauguração, na 1.ª esquadra, de uma cantina onde os guardas da Polícia de Segurança Pública de Coimbra «pudessem abastecer-se de todos os géneros de consumo» foi noticiada neste jornal a 9 de abril de 1933.
«Melhorando consideravelmente as condições económicas dos guardas da PSP, essa cantina vem, ainda, contribuir, com o seu funcionamento, para o aumento de fundos da sua caixa de reformas», escreveu o Diário de Coimbra, avançando que o passo seguinte, projetado pelo comandante, tenente Sérgio Vieira, seria a «construção
de um bairro destinado ao pessoal da corporação».
Eram aspirações de classe profissional que o jornal tinha já detalhado na edição de 24 de fevereiro desse ano, sob o título “Os guardas da PSP vão ter uma cooperativa e um bairro”.
«A corporação da PSP acaba de sofrer uma completa remodelação, transformando-se, adaptando-se às exigências dos nossos dias, de maneira a bem se desempenhar da missão que lhe está confiada. Graças a essa remodelação, foram regulados vários serviços, a bem do pú-
blico. Coimbra tem já hoje um dos melhores postos de identificação. A higiene citadina e a saúde pública lucraram também imenso com as medidas ultimamente tomadas. Ultimam-se agora as obras de instalação do novo laboratório de análises, obras essas que se tornaram morosas devido à difícil adaptação da casa escolhida - os baixos da cadeia de Santa Cruz. O problema da ordem pública foi também solucionado, como convinha. A polícia está hoje devidamente adestrada e apetrechada. Os guardas não são já aquelas figuras doutrora, de grande bi-
godeira e modos carrancudos, são, antes, rapazes novos, corretos, que, no desempenho da sua missão não levantam ódios ou mal-querenças», observou o redator.
Mereceu-lhe também destaque a obra assistencial desenvolvida pela Polícia de Segurança Pública. «No ano transato, além do auxílio prestado a todas as casas de caridade, foram beneficiadas mais de 800 pessoas pelos cofres da Assistência da PSP. Agora, devido aos esforços envidados pelo comandante da corporação, tenente sr. Sérgio Vieira, vai ser solucionado o
problema da mendicidade», elogiou, aludindo igualmente à «Caixa de Socorros, outra iniciativa feliz, que vem de prestar inestimáveis serviços, auxiliando em todas as emergências os guardas da corporação». «No próximo mês, deve ser inaugurada uma cooperativa para todos os guardas, pertença da mesma Caixa de Socorros. E ainda por iniciativa do sr. comandante da PSP, será construído, dentro em breve, um bairro moderno para os componentes da mesma corporação, bairro esse que muito os vembeneficiar», vaticinou.
Nova profissão de contadores de anedotas
18/3/1933 Na edição de 18 de março de 1933 o Diário de Coimbra dava conta de «um fenómeno novo na economia das metrópoles invadidas pela crise sem peias de após guerra, cujas consequências são imprevisões». «Enquanto isso, ela se desdobra, não como a miséria de Londres, que enternecera a Ramalho Ortigão, em tempos idos, mas como uma força de pressão superior a todos os esforços e a todos os ridículos. Entre tantas atividades, que ela faz nascer, algumas existem fora do comum, que assustam pelo inopinado e comovem pelo fundo de tristeza: é a profissão nova do contador de anedotas», escreveu o jornal, esclarecendo que «nas cidades da Europa Central e principalmente em Berlim, nos cafés, nos centros de passeios, nos grandes armazéns, aparecem homens corretamente vestidos, que, por uma pequena remuneração, contam horas de anedotas escolhidas». Reflexo da «miséria das grandes cidades», as “taxas” destes «profissionais da graça» variavam «com o teor das anedotas». «As mais caras são naturalmente as mais apimentadas. E não faltam mesmo profissionais de outros bairros, que vão renovar o seu “stock” em “trieduchstrasse”, perfeitamente impecáveis na sua vestimenta e no disfarce da sua pobreza», observou.
“Arraial português” na sede do Coimbra-Club
17/3/1933 Anunciava-se para 25 de março de 1933 a realização de um “arraial português” no Coimbra-Club. Por «ser inédito», esperava-se que o baile, «abrilhantado pelo AlmeiditaJazz e por um Jazz da Ribeira de Frades», levasse à sede da coletividade «farta concorrência». «Às damas será fornecido um serviço à portuguesa, que deverá causar grande sucesso, e a sala terá um aspecto das nossas romarias do norte», antecipou o jornal na edição de 17 de março.
Diário de Coimbra Memórias
19/3/1933 Com palavras amistosas dos dirigentes mas desentendimentos em campo, jogo com o Sport Conimbricense foi desfavorável ao clube da casa
INAUGURADO NA ARREGAÇA CAMPO DE BASQUETEBOL DO UNIÃO DE COIMBRA
Um desafio entre as equipas do União de Coimbra e do Sport Club Conimbricense marcou a inauguração do campo de basquetebol da Arregaça, a 19 de março de 1933.
O «novo campo de basket do União Foot-Ball Coimbra Club, importante melhoramento para o popular club, fica-se devendo ao esforço louvável de um grupo de sócios dedicados e amigos daquele desporto», informou o Diário de Coimbra na edição de 17 de março, ao anunciar o evento inaugural para o domingo seguinte.
A partir das 9h00 e ao longo da manhã sucederam-se encontros entre «a 2.ª categoria do União e igual categoria do grupo Águias, anexo ao Sport Club Conimbricense», entre «as reservas do União e igual categoria do Ateneu Comercial
desta cidade», entre «a primeira categoria do Club Recreativo de Celas e a categoria de honra do Beira-Mar, de Aveiro», e finalmente, às 12h00, defrontaram-se «os “teams”de honra do União e do Sport».
«Com este desafio procedeu-se à solene inauguração do campo da Arregaça. Após várias fotografias dos contendores, dos dirigentes e madrinha do campo, os grupos alinharam a meio do campo e
usou da palavra o sr. António Dias, pelo Sport, saudando o União e fazendo votos pela continuação das melhores relações entre os dois clubs.
Seguiu-se-lhe o sr. João Pratas, que, em nome da comissão do campo e da direção do União, agradeceu e salientou eloquentemente o esforço e a dedicação dos seus companheiros de trabalho Geremin dos Santos e Luís Monteiro, duas boas-vontades que muito contribuíram para este grandioso melhoramento. Fez a entrega do rectângulo ao seu club, agradecendo as palavras amistosas do delegado do Sport. A galante pequerrucha Maria da Boa Morte Ferreira dos Santos
Gameiro, filha do nosso amigo sr. Albano Gameiro, e sobrinha do distinto desportista Geremin dos Santos, procede ao baptismo do novo campo. Há troca de ramos. O União ofereceu ao Sport um artístico galhardete e o Sport ao União um lindo ramo de flores naturais», registou o repórter do nosso jornal.
O resultado do jogo principal foi desfavorável ao clube anfitrião, que perdeu por 21-4. O União jogou com Geremin, Arrobas, Agostinho, Caetano e Monteiro, e o Sport com F. Costa, Gaudêncio, M. Costa, Mariano e Carvalho.
Sobre a primeira parte, o jornalista avaliou o encontro como «fastidioso, mal jogado, ressalvando-se, apenas, uma ou outra jogada isolada e sem finalidade», enquanto que o “entusiasmo”dos jogadores mereceu do árbitro António Camacho «um trabalho exaustivo de repressão». Da segunda parte, destaque para o desentendimento entre Agostinho e M. da Costa, que se «lançam um ao outro, agressivamente, desalmadamente, até ser apartados pelos colegas de equipe». «Postos fora do campo, os grupos jogam, deste momento em diante, com quatro homens. Pouco depois termina o desafio, sem relevo de maior a salientar», conclui o relato. M.S.
Ignorância e “terrível equívoco” causam tragédia
4/4/1933 Do correspondente do Diário de Coimbra em Vide, concelho de Seia, foi publicada a 4 de abril de 1933 a triste notícia da morte de duas crianças, Palmira Rodrigues, de 9 anos, e Maria Amélia dos Santos, de 2 anos, por envenenamento «em consequência de uma troca de medicamentos».
João Mendes dos Santos, respetivamente cunhado e pai das vítimas, residente no lugar do Chão Cimeiro, daquela freguesia, dera-lhes a ingerir, «por engano, arsénico dissolvido em leite, em vez de lombricoidina, que lhe foi vendido pelo negociante ambulante José Trindade, das Corgas de Sandomil, e com um estabelecimento de fazendas e algodões nesta localidade».
«Está provado que não hou-
ve má fé nem da parte de um nem de outro, mas simplesmente ignorância. Porque foi a ignorância e um terrível equívoco que originaram esta tragédia. Há aqui um uso velho que é preciso reprimir enérgica e imediatamente: o facto de toda a gente receitar as drogas mais esquisitas e essas drogas serem vendidas pelas pessoas dos mais diferentes misteres, com a facilidade de quem as aconselha, e que lhes são fornecidas diretamente por casas da especialidade e que, neste caso, têm a pesar sobre si graves responsabilidades. Foi o que aconteceu ao pobre José Trindade, um homem incapaz de praticar qualquer acto menos digno. Tendo trazido das minas de Sazes uma quantidade de arsénico, dispensou uma porção dele ao Santos, na
persuasão de que se destinava a ratazanas. Sucedeu, porém, precisamente o contrário, pois nem o João Santos soube pedir nem o Trindade o soube compreender, de onde resultou o terrível desastre que vitimou duas inocentes. O Santos, que esteve cerca de vinte anos no interior do Brasil, fala
com a pronúncia caraterística dos caboucos brasileiros, presumindo-se que tivesse feito o fatal pedido nessa mesma pronúncia e usando os termos empregados naquelas regiões, que, aqui, podem ser compreendidos de forma diferente», relatou.
Lia-se na notícia que José Trindade, «logo que teve conhecimento do sucedido, dirigiu-se a Seia, onde se apresentou às autoridades, tendo dado entrada na cadeia daquela comarca horas depois», e que «também por ordens superiores foi preso e conduzido para Seia o João dos Santos, ignorando-se, no entanto, o resultado dos interrogatórios a que, decerto, foram submetidos».
O correspondente do jornal elucidava ainda que João Santos casara no Brasil com Cle-
mentina Rodriguez, de origem espanhola e filha de Domingos Rodriguez e de Maria Rodriguez Alonso, naturais da Corunha, e que «pouco tempo depois do seu casamento, o pai da Clementina enviuvou, entregando a pequena Palmira aos cuidados de sua irmã, passando, então, todos a viver em comum no Brasil, até fins de fevereiro de 1932, data em que resolveram vir para Portugal».
O representante do Diário de Coimbra em Vide aproveitou o caso para lembrar a «urgente necessidade da criação dum partido médico nesta freguesia, que, dispondo de 700 fogos e 4.000 habitantes e sendo aquela que se encontra mais afastada da sede do concelho e dos partidos médicos, não dispõe de qualquer socorro clínico.
Um caso digno da atenção das instituições científicas
10/4/1933 Com o título “Um fenómeno curioso”, o Diário de Coimbra publicou a 10 de abril de 1933 que Francisco Duque, antigo guarda da Estação de Alfarelos, tinha sido, 10 anos antes, «acometido de um ataque de paralisia que pouco a pouco lhe tolheu todos os movimentos», vindo a sofrer desde então «as mais atrozes dores». «Ultimamente, porém, a paralisia tem tomado um aspeto deveras curioso que bem digno é de ser estudado, pois o infeliz paralítico, que está feito num arco – o rosto ao pé das coxas e os pés dobrados para os assentos –, tem ocasiões em que a cabeça se amolga como se fora uma bola de borracha», escreveu o correspondente do jornal em Granja do Ulmeiro, adiantando que, de acordo com informações da «filha do infeliz Duque, os médicos sr. dr. Delfim Pinheiro e dr. Pimenta, de Soure, são de opinião que o doente deve dar entrada num hospital, a fim de ser observado, dada a índole daquele caso, que consideram único». Considerava também «curioso» que, «não obstante estar assim há dez anos, e ter perdido o uso da fala, vê e ouve perfeitamente e come com voraz apetite, sendo os médicos de opinião que pode ainda viver dez anos ou talvez mais». «Por ser um caso digno de nota aqui o registamos, chamando para ele a atenção das instituições científicas de Coimbra e do resto do país», concluía.
Abatidos 140 bois e 271 porcos
9/4/1933 No Matadouro Municipal de Coimbra, que funcionava em Montes Claros, registou-se no mês de março de 1933 o abate de 140 bois, com 38.574 quilos, de 204 vitelos, com 9.967 quilos, de 3.977 carneiros, com 25.341 quilos, e de 271 porcos, com 22.962 quilos. No total, desta “matança” resultaram assim 96.844 quilos de carne, mais 7.172 quilos do que em igual mês do ano anterior, informou o jornal na edição de 9 de abril.
Diário de Coimbra Memórias
5/4/1933 A par da exploração do cimento e cal hidráulica defendia-se a produção de
elétrica “queimando carvão à boca da mina”
CENTRAL TÉRMICA NO CABO MONDEGO PARA DAR LUZ “BOA E BARATA” À FIGUEIRA
Aexploração no Cabo Mondego de cimento e cal hidráulica, a par da produção de energia elétrica em central térmica, foi preconizada nove décadas atrás num artigo que o Diário de Coimbra publicou na primeira página da edição de 5 de abril de 1933.
Assinado por António Duarte Silva, o texto começava por considerar que «as minas do Cabo Mondego, e indústrias ali instaladas ou a instalar, que no seu atual estado pouco ou nada representam para o desenvolvimento económico da Figueira e do país, podem e devem, desde que funcionem nas devidas condições, ser um dos seus principais fatores».
«De facto, o Cabo Mondego pode produzir: 1.º - cimentos artificiais, Tipo Portland; 2.º - cal hidráulica; 3.º - energia elétrica duma central térmica queimando carvão à boca da mina; 4.º - extração de carvão para consumo próprio e para venda; 5.º - exploração dos subprodutos do carvão», enumerava.
Na opinião do autor, a ener-
gia elétrica e os cimentos seriam «sem dúvida» as apostas de «maior valor».
«Num país como o nosso, deficitário de energia elétrica e, ainda, em que uma grande parte da energia produzida o é queimando carvão estrangeiro, e portanto, exportando capitais, é evidente a vantagem da produção nacional», defendia, argumentando que a instala-
ção de uma central térmica no Cabo Mondego iria não só «beneficiar diretamente a Figueira e o seu concelho, onde a energia é cara, má e insuficiente, mas a economia geral do país».
Por outro lado, continuava, «a fabricação de cimentos em larga escala é também muito importante, quer pelo seu valor intrínseco, quer pelo movimento que trará ao nosso
porto». «Mas se, na verdade, o Cabo Mondego oferece as melhores condições para a instalação da indústria de cimento, para que ela dê um bom rendimento é necessário que os cimentos possam ter uma saída fácil e cómoda pelo porto da Figueira, o que é um fator muito importante para que as obras do porto, infelizmente conduzidas até hoje sem resul-
tados apreciáveis, tomem melhor rumo. Será mais uma justificação, aliada a outras já conhecidas – pesca, cabotagem, exportação e importação de certos géneros aos quais a via marítima oferece enormes vantagens de economia e cujo comércio continua a fazer-se por serem essenciais, apesar da política aduaneira nacionalista de todos os países com quem temos relações comerciais», opinava o articulista.
Em síntese, António Duarte Silva apontava as «grandes vantagens» para a Figueira da Foz do desenvolvimento e industrialização do Cabo Mondego, através da produção de «luz elétrica boa e barata, útil a todos e especialmente numa terra de turismo», e do funcionamento de «uma grande indústria com o seu lógico corolário na efetivação das obras do porto, criando-se-lhe assim condições de vida própria anual, deixando portanto de ser o que tem sido até hoje, uma terra com três meses de movimento intenso – a época de banhos – passando os restantes meses numa adormecida e difícil vida».
A concluir, para que «esta grande e magnífica obra» se concretizasse, entendia ser necessário conceder o Cabo Mondego «a uma empresa que possua as condições financeiras e técnicas que uma indústria de tal vulto requer». M.S.
Preciosa obra veio do Brasil para a Biblioteca da UC
23/2/1933
A oferta à Biblioteca da Universidade de Coimbra de um exemplar da 1.ª edição do romance “Menina e Moça”, de Bernardim Ribeiro, foi destacada neste jornal a 23 de fevereiro de 1933. Enviada «numa caixa de excelente madeira brasileira, artisticamente trabalhada», constituía «uma raridade, orçada pelos bibliógrafos em cerca de 20.000$00», sublinhava a notícia.
No dia seguinte, o Diário de Coimbra acrescentava detalhes sobre a «oferta valiosíssima», esclarecendo que se tratava de um dos três únicos volumes da
obra que foram publicados em 1559 - dos outros, um encontrava-se em Évora, «embora truncado, e o outro, no Porto, até 1920, em poder dos herdeiros de José Gomes Monteiro, tendo desaparecido, então, para voltar a ser visto em 1924, num leilão, onde foi vendido por 10.000$00 e logo enviado para Londres, por 20.000$00».
«Felizmente que o primeiro exemplar se encontrava em poder de um português, Sr. Joaquim Freire, figura de destaque da nossa colónia do Brasil e de cujo conselho directivo faz parte. Era a esse português que D. Carolina Michaellis de Vas-
concelos dirigia, em 1924, nas “Nótulas”, à “Menina e Moça”, o seguinte apelo: “Desde então é propriedade do erudito bibliófilo Joaquim Freire, a quem a traça já devorou, no Rio de
Janeiro, parte da grande livraria que juntara. Façamos votos para que a “Menina e Moça” se conserve ilesa e em Portugal”», elucidava a notícia.
Atendendo «o pedido da malograda e veneranda escritora e professora», Joaquim Freire, por intermédio da Federação das Associações Portuguesas e da embaixada de Portugal no Brasil, doou à Biblioteca da Universidade de Coimbra «o precioso exemplar, acompanhado de um estudo notável da sua autoria, de confronto entre esse volume, página a página e linha a linha, e as velhas edições da mesma obra».
O jornal explicava ainda como esta edição de 1559 do romance “Menina e Moça”fora parar «às mãos do seu generoso e patriota doador».
«O livro pertenceu a seu avô materno, José Freire da Silva, passando por falecimento daquele para um cunhado do sr. Joaquim Freire, falecido cónego da Sé de Lisboa e Leiria. Morto este, o volume passou para o tio paterno do doador, dr. Joaquim Vicente da Silva Freire, que foi médico no Rio e expirou em Lisboa em 1915. Foi então que a viúva daquele o ofereceu, com outro de extremo valor», rematava.
se deve ensinar” às crianças
Diário de Coimbra Memórias
16/3/1931 O médico Aníbal Dias foi dinamizador da empresa de Mortágua que fez furor e se empenhou na afirmação de uma marca nacional
CARAMELOS “LANCHE” ADOÇAVAM A VIDA E AJUDAVAM DOENTES
4/2/1933 Um artigo publicado por este jornal a 4 de fevereiro de 1933 propunha ao professorado uma reflexão sobre os programas pedagógicos. “Quanto se deve ensinar?”, questionava logo no título o autor, indagando a seguir «qual a extensão que devemos dar aos nossos programas escolares» e «como dosear as lições para que as crianças aprendam». Em seu entender, «em primeiro lugar, convém não nos preocuparmos muito com a execução integral dos programas, como eles têm sido compreendidos e praticados até aqui. A escola, graças a essa preocupação absorvente do programa, tem impedido o aproveitamento integral, por parte dos alunos, de tudo quanto ela podia dar». «Em segundo lugar, o “quanto se deve ensinar” varia segundo o interesse imediato das crianças, o seu estado afetivo, a sua capacidade e o seu desenvolvimento. Limitar a matéria da página tal à página tal, seria uma medida para resolver a nossa questão. Mas essa medida não nos convém, agora que uma lição pode fornecer estímulo e motivo para variadíssimas informações, pesquisas, trabalhos, realizações e outras atividades que só o ambiente escolar determinará exatamente», defendia C.S., o autor do texto. Sublinhava depois que «a “quantidade”, que irá sendo doseada pela prudência do mestre, será de pouca importância diante da “qualidade” do ensino». «Se este não contribuir para o desenvolvimento global da criança, isto é, impelindo-a a um crescimento progressivo e harmónico, de nada valerá», considerava, desafiando os professores a «meditar nos limites do “quantum”, não esquecendo do que esse “quantum” representa na vida do aluno e qual a repercussão atual nas possibilidades e tendências infantis».
O«máximo interesse» e a «maior curiosidade» levaram o repórter do Diário de Coimbra a Mortágua, para uma visita à Quinta das Rosas e à recém criada empresa de produção dos caramelos “Lanche”. Um artigo publicado na edição de 16 de março de 1931, que esclarecia os rumores de uma laboração temporariamente suspensa e oferecia um verdadeiro receituário acerca do uso destes caramelos feitos à base de leite que, inclusivamente, são indicados para alimentar crianças cujas mães não tenham condições para proceder à amamentação.
O empresário responsável pelo projeto, o médico Aníbal Dias, estava, descreveu impressionado o jornalista, «junto das suas operárias que, com as suas alvíssimas batas, procediam, nesse momento, à embalagem dos caramelos “Lanche”». «Efetivamente eu tive de suspender, durante umas semanas, o fabrico manual do caramelos “Lanche” para o substituir pelo fabrico à máquina», explicou ao repórter, que confessa ter saboreado «sofregamente» alguns dos caramelos que o médico lhe ofereceu.
Aníbal Dias assumia que «desde Maio último a produção de caramelos ocupava «uma grande parte» do seu tempo, com «várias experiências e estudos para conseguir introduzir no mercado um produto que rivalizasse com os caramelos estrangeiros», nos quais o leite constituía «um dos principais ingredientes» «Em Agosto consegui uma fórmula que teve grande venda na Figueira, onde me encontrava a veranear», esclareceu o empresário. «Logo que o produto começou a ser conhecido, tive várias encomendas para Lisboa e outras terras do país,
às quais não podia satisfazer senão quando regressasse a Mortágua onde, com todos os cuidados de higiene e asseio, estava fazendo as instalações para o seu fabrico, que principiou em outubro».
O empresário explicou que, além da morosidade própria do fabrico manual, teve, ainda, o contratempo de os meses de outubro e novembro terem sido muito chuvosos, o que representou «maiores dificuldades e deficiências» na secagem. «O fabrico manual, embora feito com a maior das limpezas, não tem o asseio nem o aspeto que lhe garante o fabrico mecânico», fazia notar. «Longe de ter suspendido o seu fabrico, agora é que eu estou no seu início, com a maior das vontades e com a maior das certezas de triunfar, porque hei-de ter a meu lado a classe médica para os aconselhar aos seus doentes
e às mães que, não tendo leite suficiente para amamentar os seus filhos, possam recorrer, com vantagem, aos caramelos “Lanche” para esse fim», dizia, triunfante, o médico.
O leite, «só por si um alimento completo», constituía o ingrediente fundamental da produção dos caramelos, a que se juntavam «outros componentes de valor muito nutritivo», o que permitia apresentar um produto com um «grande valor nutritivo», que «deve ser aconselhado a crianças, pessoas fracas e convalescentes e nas curas de emagrecimento pela insulina», escreveu o Diário de Coimbra. A esta lista juntava «doentes que sofram ou tenham sido operados de doenças de estômago ou intestinos».
A entrevista não terminava sem a apresentação de uma minuciosa tabela, criada pelo dr. Manuel Afonso, «distinto
médico nesta vila», com as indicações precisas sobre a quantidade de água e de caramelos e o número de vezes que a bebida devia ser dada às crianças, em substituição ou como complemento ao leite materno, desde um mês de vida aos dois anos de idade, tendo em conta o respetivo peso.
Questionado relativamente à «colocação no mercado», Aníbal Dias não hesitava: «se se tratasse de um produto estrangeiro, a sua colocação era facílima; mas como se trata de um produto nacional...». Todavia, reconhecia a «melhor das boas vontades nas principais casas comerciais de Lisboa», que tinha contactado em Janeiro, onde os caramelos “Lanche” foram ombreados com os afamados “Jersey’s”, garantindo várias encomendas. Entre as mais importantes destacava a da casa Jerónimo & Filhos.
«Mortágua, uma vila pequena, teve um consumo local, nestes últimos dois meses, de 23 quilos da caramelos “Lanche”. Já vê o meu amigo que isto é consolador», dizia, agradado, o empresário. «O mesmo já não posso dizer do comércio de Coimbra, onde eu julgava encontrar as maiores facilidades na colocação dos caramelos “Lanche”. Com raríssimas exceções, em que destacarei o estabelecimento de Pessoa & Silva, no Largo Miguel Bombarda [Portagem], que, além de serem muito cativantes para comigo, imediatamente me fizeram a sua primeira encomenda. Em quase todas as outras casas só à consignação consegui colocá-los», lamentava o médico. M.V.
Recuperada a procissão do Senhor dos Passos da Graça
10/4/1933 Uma «multidão enorme», de «muitos milhares de pessoas», comprimia-se nas ruas de Coimbra à passagem da procissão do Senhor dos Passos da Igreja da Graça, ao final da tarde de 9 de abril de 1933. Era o retomar de um «tradicional cortejo sacro», que não se realizava desde finais do século XIX, e outrora «qualquer coisa de grandioso, marcando pela sua imponência e pelo numeroso séquito do andor que conduzia a velha imagem que se venera na Igreja da Graça». Tendo, «com o andar do tempo», caído «em desuso, e esquecida até», entendeu no ano de 1933 a Mesa da Confraria do Senhor dos Passos «ressuscitar esse tradicional cortejo sacro, de tamanha nomeada em toda a região». «Os mesários, não se poupando a esforços, foram bem sucedidos em todas as diligências que levaram a efeito. Da parte das autoridades eclesiásticas e civis, encontraram o melhor acolhimento para a sua feliz iniciativa. E, assim, a procissão do Senhor dos Passos voltou, ontem, a percorrer as ruas de Coimbra, Não o seu antigo trajeto – longo como nenhum outro. Mas, contudo, percorreu uma grande parte desse trajeto, através da parte baixa da cidade. A procissão saiu pelas 18h00 da Igreja da Graça. À frente, o pendão tradicional do “S. P. Q. R.”. Depois, o pendão da irmandade, entre alas de irmãos que ostentavam as opas roxas da confraria. Muitos “anjos”, com vestidos ricos, embora simples. O andor do Senhor dos Passos, o pálio e duas filarmónicas – a de Taveiro e a do Grupo Musical Recreativo. A procissão recolheu tarde – já passava das 20h00 – tendo decorrido na melhor ordem», registou o Diário de Coimbra na edição do dia seguinte.
“QuantoNotícia sobre a produção dos caramelos “Lanche” publicada na edição de 16 de março de 1931 do Diário de Coimbra O leite, “só por si um alimento completo”, constituía o ingrediente fundamental da produção dos caramelos
Diário de Coimbra Memórias
Anónimos não terão guarida nas colunas deste jornal
18/3/1933 Sob o título “Os anónimos...”, o Diário de Coimbra publicou na coluna “Ao correr da pena”, da edição de 18 de março de 1933, um aviso e tomada de posição relativamente às cartas enviadas ao jornal a coberto do anonimato. «Sorrateiramente, veio poisar sobre a nossa mesa de trabalho uma carta anónima. Como esta, têm vindo muitas outras parar a esta redação. E se não teve o destino das últimas – zás, zás! e cesto dos papéis – é porque merece estas duas linhas, em virtude de não se dirigir a qualquer pessoa deste jornal. Procura-se, nesta carta – o seu autor contava, por certo, que ela fosse publicada –envolver o nome duma pessoa que não conhecemos, emporcalhando-o com calúnias e suspeições. E o miserável que enviou a carta e não a assinou, esqueceu-se, por certo, de se referir às mazelas da sua própria vida... Arreda! Cá na casa não se adotam tais processos. Aqui –saibam-no todos! – assume-se inteira responsabilidade do que se escreve e comprova-se tudo quanto se publica! Suspeições, calúnias, nunca! Descansem os anónimos, que nunca encontrarão guarida nestas colunas...», rematava o redator.
Quem perdeu em Celas um vestido e uma saia de seda?
UM MERCADO DE FLORES PARA TRAVAR DERROCADA DO JARDIM DA MANGA
Numa das montras dos Grandes Armazéns do Chiado foi exposto o projeto de restauro e adaptação do Jardim da Manga a «um elegante Mercado de Flores e plantas exóticas», informou este jornal a 6 de novembro de 1932, adiantando que a iniciativa da Comissão de Turismo de Coimbra «conquistou as simpatias e o agrado geral de toda a cidade».
Resultante da reconstrução do lanço norte dos edifícios do Mosteiro de Santa Cruz, o claustro com jardim quinhentista, considerado «uma das primeiras obras arquitetónicas inteiramente renascentistas feitas em Portugal», foi ocupado entre 1889 e 1917 pela Escola Comercial e Industrial de Brotero e encontrava-se, nove décadas atrás, em preocupante estado de degradação.
Oespaço foi cedido pelo município à Comissão de Turismo, presidida por Manuel Braga, mas as ideias para o recuperar esbarravam num entrave que o Ministério da Instrucão, ape-
sar de insistentes reclamações, tardava em resolver. «A execução deste projeto está apenas dependente da mudança do forno de cerâmica e da casa das máquinas, que pertencem à Escola Comercial e Industrial de
Brotero, mas que presentemente ainda se encontram a atravancar os terrenos anexos àquele artístico e histórico jardim. Há cerca de três anos que a Comissão de Turismo aguarda que a referida remoção se
faça, o que apenas depende da Direção Geral do Ensino Técnico Comercial e Industrial conceder a verba necessária [cerca de 60.000$00] para que ela se faça», esclareceu o jornal.
Mas nem tudo eram más no-
tícias. Na edição de 13 de dezembro de 1932 deu-se a conhecer o compromisso da Administração Geral dos Correios e Telégrafos de «mandar reconstruir a galeria sul do antigo Claustro da Manga, que ficará assim a fazer o fundo do projetado Mercado de Flores e plantas exóticas», em compensação da «cedência de uma faixa de terreno do Jardim da Manga, que lhe foi feita para alargamento da área do terreno em que está sendo construído o novo edifício dos correios desta cidade».
No entanto, meses depois permanecia o impasse na obra projetada pela Comissão de Turismo para o restauro e dignificação do Jardim da Manga, sendo divulgado na edição de 4 de abril de 1933 um ofício da Direção Geral do Ensino Técnico do Ministério da Instrucão «com a informação de que, por falta de verba, não será possível ainda no próximo ano económico» fazer a mudança do forno de cerâmica e da casa da máquinas para os terrenos anexos à Escola Brotero – alojada entretanto na antiga hospedaria de Santa Cruz (onde hoje se encontra a Escola Secundária Jaime Cortesão).
«Quer dizer, o Jardim da Manga está condenado a desmoronar-se, a desaparecer com estragos da ação do tempo e dos maus tratos dos homens», lamentou o jornal. M.S.
18/3/1933
ODiário de Coimbra voltavaa prestar serviço público ao anunciar, a 18 de março de 1933, que na sua redação se encontrava «um embrulho que contém um vestido e uma saia preta, de seda, que foi encontrado, em Celas, pelo distribuidor deste jornal Aníbal da Costa». Entregava-se o achado a quem provasse pertencer-lhe, informou, acrescentando a notícia que também seria entregue ao legítimo proprietário um objecto de ouro «depositado na mercearia Competidora de Coimbra, à Rua da Sofia», encontrado na via pública, nesta cidade, por José da Cunha, empregado na Sociedade Poiarense.
Empréstimo para eletrificar Oliveira do Hospital
13/4/1933
A Hidroelétrica de Arganil, Lda., concessionária da iluminação pública no concelho de Arganil, foi escolhida pela Câmara Municipal de Oliveira do Hospital para assegurar a «iluminação a luz elétrica de várias localidades deste concelho», noticiou o Diário de Coimbra a 13 de abril de 1933.
A adjudicação seguiu-se a uma deliberação camarária, anunciada neste jornal a 1 de janeiro, que aprovava o recurso a um empréstimo para custear a instalação da rede de fornecimento de eletricidade.
«A Comissão Administrativa
da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, na mais alta compreensão dos seus deveres e na melhor defesa dos interesses dos seus munícipes, acaba de resolver o problema da eletrificação do seu concelho, com uma modalidade que a honra. O empréstimo necessário para esse melhoramento – 408 contos – é subscrito no próprio concelho, esperando o seu ilustre presidente, dr. Vaz Pato, que ele seja coberto, inteiramente, ao juro de 7%, vantajoso contrato quer para o município quer para os munícipes. Para aquele porque terá dinheiro barato; para estes porque nas suas
próprias terras aplicarão os seus dinheiros, que dessa maneira não são drenados para outra parte», referia a notícia, adiantando que de início seriam «contempladas com luz algumas terras», mas «depois, a pouco e pouco, o cabo alongar-se-á e fornecerá energia aos
mais recônditos lugares».
No dia 10 de março confirmava-se neste jornal que tinha sido «coberto o empréstimo particular» para a eletrificação do concelho de Oliveira do Hospital, «uma das obras de maior vulto que uma vez realizada ficará marcando naquela região do Alto Distrito».
«Num momento de crise como o que atravessamos, [tal facto] representa bem a confiança duma região em quem, encontrando-se à frente da sua administração, bem tem procurado servi-la. Referimo-nos, quase que seria inútil dizê-lo, ao sr. dr. Vaz Pato, criatura sufi-
cientemente modesta para dispensar elogios tanto mais desnecessários quanto a sua obra regionalista se impõe, e os melhoramentos vão surgindo. E ao felicitá-lo pelo êxito obtido, não esquecemos também o dr. Agostinho Pais de Brito que ao seu dispor colocará a sua boa-vontade e a quem como membroda atual Comissão Administrativa do Município coube a orientação e coordenação dos trabalhos a realizar, natural sendo que uma vez aplanados os trabalhos burocráticos que sempre surgem nestes assuntos, a eletrificação seja uma realidade», concluía.
Diário de Coimbra Memórias
Vir do Parque da Cidade coberto de pó
29/5/1933 «É preciso regar o Parque da Cidade», apelou o Diário de Coimbra na edição de 29 de maio de 1933, referindo-se não às plantas mas às áreas destinadas à circulação dos visitantes do jardim. «Com a chegada do verão, o Parque da Cidade passa a ser o ponto preferido para uns momentos de descanso. Sobretudo à noitinha, ou quando a banda regimental dá concertos. Mas quem procura o Parque da Cidade, em tais ocasiões, sujeita-se a vir de lá coberto de pó. E é para estranhar este deplorável estado de coisas, tanto mais que se trata dum afamado recanto da cidade, que é também um dos mais lindos jardins do país», observou o articulista, esperando de «quem de direito» que atendesse à reclamação de «mandar regar com frequência» aquele espaço de lazer da cidade.
Arzila arriscava beber água dos poços
16/5/1933 O correspondente do Diário de Coimbra em Ameal alertou a 16 de maio de 1933 para o problema da falta de água potável que afligia os habitantes da vizinha povoação de Arzila. «A única fonte da localidade está quase seca, sendo mesmo, e desde há muito, a pouca água que ela fornece considerada imprópria de ser bebida», explicou, adiantando que na região havia, porém, «abundante água, de muito boa qualidade, que para Arzila facilmente poderia ser canalizada, com o dispêndio, por parte dos poderes públicos, duma relativamente pequena verba». Para o autor da notícia, era «sem dúvida de lamentar» que «os 650 habitantes de Arzila» continuassem, «de há anos, obrigados a ir buscar a água de que necessitam aos poços, expondo assim a sua saúde a graves riscos, tanto mais que se têm acentuado, ultimamente, vários casos de doenças epidémicas». «Os habitantes daquela localidade esperam justiça da parte de quem de direito», rematou.
ANUNCIAVAM-SE OBRAS PARA SALVAR DA RUÍNA O MOSTEIRO DE LORVÃO
Em estado de abandono e mostrando sinais de preocupante degradação, o Mosteiro de Lorvão ia finalmente ser restaurado, noticiou o Diário de Coimbra a 15 de maio de 1933.
«O diretor dos Edifícios e Monumentos Nacionais, acompanhado de um mestre de obras, visitou, há dias, o templo do convento de Lorvão, a fim de verificar o seu estado de conservação e, bem assim, inteirar-se das reparações de maior urgência que o mesmo convento requer. Os primeiros trabalhos de restauração do velho edifício devem iniciar-se dentro de breves dias», avançou o jornal.
O assunto mereceu destaque no mês seguinte, na primeira página da edição de 21 junho, elogiando-se a decisão de valorizar «um dos mais importantes monumentos das Beiras», que vinha decaindo desde a extinção das ordens religiosas em 1834 e a morte da última monja que ali habitou, em 8 de julho de 1887.
O texto incentivava os leito-
res a visitarem o monumento, «a sete quilómetros de Penacova, apenas», distância que «fica encurtada pela razão forte de se demandar uma relíquia do nosso património artístico», uma «joia de grande valor».
«O Convento de Lorvão data de antes da fundação da monarquia portuguesa. Ocuparam-no os frades beneditinos. Em 1200, foi entregue a D. Teresa, filha de D. Sancho I, que nele se internou, acompanhada de várias damas da Corte e adotando a regra da ordem de Cister. O coro da igreja do Convento de Lorvão é rico em obra de talha. Os seus cadeirais, em carvalho trabalhado, têm merecido a atenção de todos os cultores da arte que deles têm conhecimento. Merecem ainda uma referência, pelo seu valor, a grade que divide a igreja e os túmulos de D. Teresa e seus irmãos e o de D. Sancha, fabricados em prata com pedrarias encastoadas, lindos exemplares do século XVII», descrevia.
«O Convento de Lorvão vai ser, agora, restaurado, executando-se as obras que a sua importância há muito requeria. Eis uma medida que nos apraz registar», concluía o autor.
Os trabalhos de recuperação do Mosteiro de Santa Maria de Lorvão viriam a ser iniciados apenas na década de 40, estendendo-se a intervenção de restauro até aos anos 60. M.S.
Guia para “gozar uma saúde de ferro” sem comer
30/5/1933 “Um novo aspeto de Gandhi, o grande chefe indiano”, inspirava a “Crónica Internacional” que o Diário de Coimbra publicou na edição de 30 de maio de 1933.
O jornal já anteriormente revelara certa admiração pelo «paladino da liberdade indiana», elogiando o «idealista que se batia pela libertação dos seus irmãos de raça».
«O nome de Gandhi, o eterno rebelde indiano, figura exótica que as suas excentricidades internacionalizaram e que um dia partiu para a Inglaterra, de tanga e fuso,
acompanhado da cabra que lhe fornecia o alimento para o seu físico de ridículo equilíbrio, foi um nome assaz repetido nas colunas dos jornais do mundo inteiro, de forma que as suas proezas de jejuador emérito, postas ao serviço das reivindicações da Índia, foram seguidas a par e passo por todos os habitantes do globo, que admiraram, sobremaneira, a persistência moral e física do famoso chefe hindu. E Gandhi, que durante alguns meses foi o assunto obrigatório das primeiras páginas dos jornais, voltou há pouco a dar
que falar, como hóspede assíduo das prisões indianas, como por vezes o tornaram, dada a atividade persistente
que punha na sua propaganda rebelde, a qual chegou a preocupar as autoridades encarregadas de fazer manter dentro dos maiores limites da autoridade a supremacia britânica, e pelo seu novo jejum de vinte dias, terminado ontem», escreveu o jornal a 30 de maio.
O redator informou depois que «o campeão internacional do jejum espontâneo, convencido em extremo da resistência do seu organismo de proporções e aparência mais que irrisórias, talvez escudado nos seus feitos e mesmo nessa sua compleição física, que podem
muito bem constituir ótimos elementos de propaganda prévia, resolveu brindar o mundo com um tratado – um livro a que pôs o título atraente de “Guia para a Saúde”».
«É natural que Gandhi, que já interessou o mundo com as suas excentricidades de rebelde indiano, consiga, com este livro, pôr de novo o seu nome em foco. De resto, nesta hora de crise mundial que atravessamos, o mundo deve ter interesse em conhecer o método que permita, sem comer, gozar uma saúde de ferro», comentou.
“Autêntica ratoeira” na Ponte de Santa Clara
Diário de Coimbra Memórias
15/5/1933 Remodelar e atualizar o tradicional evento de agosto era solução para o “estendal de misérias” a que se assistia no Rossio de Santa Clara
DEFENDIA-SE EM COIMBRA UMA GRANDE E MODERNA FEIRA DE S. BARTOLOMEU
29/5/1933 O Diário de Coimbra alertou, na edição de 29 de maio de 1933, para o perigo de circular na ponte de Santa Clara. «Mercê, sem dúvida, do esquecimento a que foi votada», a travessia do Mondego encontrava-se «num estado tal» que constituía «uma autêntica ratoeira para todos quantos por ela têm que transitar, e, sobretudo, para as crianças», observou, apontando que «os passeios laterais apresentam buracos enormes» e «quase todas as tábuas estão podres e, à menor pressão, novas brechas se abrem». «Não pode nem se deve permitir um tão lamentável estadode coisas. Por isso mesmo, chamamos a atenção de quem de direito para o caso, certos de que seremos atendidos nesta justa reclamação», rematou o jornal.
Manteiga fabricada à vista do cliente
18/5/1933 Com o título “Um estabelecimento moderno na Baixa”, o jornal noticiou a abertura – na «melhor e mais movimentada artéria da cidade», a Rua Visconde da Luz, números 18 a 20 – da Manteigaria Rosa de Ouro, L.da, que estava a impor-se «pela excelente qualidade dos seus produtos, fabricados à vista do público em aparelhos que são a última palavra no género». «Coimbra, uma cidade onde o progresso palpita dia a dia através de constantes melhoramentos, acaba de ser dotada com um estabelecimento que honra sobremaneira o comércio local», escreveu na edição de 18 de maio de 1933, acrescentando que além da manteiga encontravam-se ali à venda «magnífico queijo, bolachas e chocolates».
Atransformação da antiga Feira de S. Bartolomeu numa «manifestação da atividade regional e demonstração plena das possibilidades» de Coimbra foi defendida nove décadas atrás neste jornal, ao lamentar o «estendal de misérias» em que se tornara o tradicional evento de agosto, realizado na altura no Rossio de Santa Clara.
«Chama-se aquilo uma feira! A designação vem dos tempos em que era, de facto, uma feira.
Mas, hoje, isto é, nos últimos anos, graças ao aspeto que oferece, aquilo não é uma feira e lembra, antes, certo recanto dum bairro sujo onde se acoita uma turba de vagabundos, com suas barracas de tábuas ensarilhadas, em desalinho, sem o menor respeito por essa coisa que ainda se chama estética», lia-se no texto publicado a 15 de maio de 1933.
O autor lembrava que nas colunas deste jornal se apontara «por variadas vezes a imperiosa necessidade que há de se acabar, e de vez, com essa vergonha, que bem se pode apelidar de estendal de misérias, a que Coimbra assiste, todos os anos, por alturas do S. Bartolomeu, ali no Rossio de Santa Clara».
«A Feira de S. Bartolomeu, a realizar-se – como preconiza-
mos e como é desejo de todos – deve merecer, com a precisa antecedência, a atenção de quem de direito. Caso contrário, nós e, connosco, todos aqueles que se batem pelos interesses da cidade, vemo-nos forçados a verberar o procedimento de quem tem por dever olhar por estas coisas, mas que, lamentavelmente, fecha os olhos perante tão degradante espetáculo, consentindo-o em Coimbra, que é ainda e sempre será a terceira cidade do país!
Com grande antecedência exaramos os nossos reparos. Para que se não diga, depois, que nos quedamos, indiferentes, perante essa data que se aproxima e em que se costuma rea-
lizar a tal feira», protestava.
O Diário de Coimbra assumia no entanto uma opinião construtiva e lançava algumas ideias. «Defendemos a realização da Feira de S. Bartolomeu como motivo para manifestação da atividade regional e demonstração cabal, plena, das nossas possibilidades. Mas pronunciamo-nos, entusiasticamente, pela realização duma grande Feira Franca - a que concorram todos os agricultores e todos os industriais da nossa terra e a região fecunda que cerca Coimbra. Então, sim, a Feira de S. Bartolomeu passará a ser aquilo que todos desejam. E passará a merecer, estamos certos, o aplauso unâ-
nime de todos quantos labutam por uma Coimbra melhor, mais perfeita. Caso contrário, não nos venham ver. A continuar-se como até aqui, é preferível não consentir a sua realização», comentava o redator.
Já no ano anterior, a 24 de julho, o jornal sublinhara a necessidade de remodelar e atualizar a Feira de S. Bartolomeu, onde «a pelintrice» nem chegava «a ter pitoresco». «S. Bartolomeu deve ser uma grande feira, plena de luz, de modernismo, de novidades, de atrações», preconizava, apontando-se como exemplo a seguir a Feira de S. Mateus, em Viseu.
Com origem em 1377, a Feira de S. Bartolomeu ocupou ao longo dos tempos diferentes espaços da cidade e viria a extinguir-se em meados do século passado. Em 1986, por iniciativa do Grupo Folclórico “Os Camponeses” de Vila Nova, foi recriada e passou a realizar-se anualmente, em agosto, na Praça do Comércio (antiga Praça de S. Bartolomeu), com a designação de Feira das Cebolas e servindo, como outrora, para escoamento da abundante produção dos campos agrícolas de Cernache. M.S.
Um protetor dos pobres em Pereira
21/3/1933 O correspondente do Diário de Coimbra na vila de Pereira recordou, na edição de 21 de março de 1933, a figura e as ações beneméritas de Afonso Teixeira de Figueiredo, falecido vinte anos antes naquela localidade.
«O povo pereirense ainda hoje chora a perda de Afonso Figueiredo, lembrando com
saudade a sua memória», assinalou, referindo-se ao proprietário da «importante Quinta de S. Luiz, e, como seu pai, generoso para os pobres da terra».
«Possuidor duma avultada fortuna que, naquela época, foi avaliada em mais de oitocentos contos, reservava um tanto por semana para socor-
rer quem não tinha um bocado de pão para comer ou uma acha acesa para se aquecer nos dias frigidíssimos da quadra invernosa. O Mestre Manuel (nome por que era designado o feitor da casa) todas as quintas-feiras e domingos aparecia com um saco cheio de moedas de meio, um, dois, cinco e dez tostões, que, auxi-
liado por outros empregados, distribuía equitativamente pela legião de indigentes, que desde manhã ali se aglomeravam à espera da esmola», descreveu, lembrando que no funeral de Afonso Teixeira de Figueiredo «o povo acompanhou em massa à ultima morada o que foi em vida seu abnegado protetor».
Produtores de carne faziam render “o peixe”
29/5/1933 Na coluna “Ao correr da pena...”insurgia-se o autor contra o preço que os cidadãos de Coimbra se viam obrigados a pagar na ida ao talho. «Se fôssemos a indagar das tabelas em vigor em muitas terras, vínhamos a reconhecer que em poucas elas se paga a carne tão cara como em Coimbra. Para se não ir mais longe, basta comparar os preços correntes nesta cidade e aqueles preços por que as tabelam os marchantes dos concelhos do distrito. E, por mais que se procure, não se encontra uma única razão que justifique tamanha desigualdade», lia-se na crónica publicada a 29 de maio de 1933. A questão, aventava, devia-se a «certos cavalheiros que há por aí que, em vez de pugnar pelo barateamento da carne, como era sua obrigação, são os primeiros a fazer render o “peixe”, fazendo com que lhes paguem as suas reses por bons preços».
«Não será difícil, à Câmara Municipal de Coimbra, descobrir onde se encontram esses beneméritos, que cuidam mais da sua algibeira do que dos interesses do consumidor. Não se compreende lá muito bem como isto possa acontecer. Mas a verdade é que acontece. E até sucedem outras coisas mais. Por exemplo: como o preço das carnes é exorbitante, o seu consumo vem diminuindo consideravelmente, a ponto de, no último mês, essa baixa ter atingido 15.000 quilos. Não será isto tudo uma grande verdade? É, é. O pior, é se andamos para aqui a bradar no deserto enquanto os rebanhos, para lá da Estação Velha, andam na engorda para depois serem vendidos por bom preço e nós termos que pagar a carne bem cara», verberava.
Taxa única aos domingos nas viagens de elétrico
16/5/1933 O Diário de Coimbra informou a 16 de maio de 1933 que a Comissão Administrativa dos Serviços Municipalizados tinha decido aplicar «a taxa única do preço de $50 centavos para as passagens para qualquer ponto de percurso, nos domingos em que não haja festivais», adiantando que no «primeiro dia em que este serviço foi estabelecido os elétricos tiveram desusada concorrência». «Pena é que esta medida não seja extensiva para os dias de trabalho, pois assim beneficiariam todos aqueles que têm necessidade de se utilizarem da tração elétrica para virem para as suas ocupações. Estamos convencidos de que esta medida não traria diminuição de receitas, e ainda, neste caso, a Comissão Administrativa dos S. M. poderia encontrar uma justa compensação, diminuindo ou acabando mesmo com os passes de favor concedidos tantas vezes àqueles que, sem sacrifício, melhor poderiam pagar as suas passagens», comentou o jornal.
Diário de Coimbra Memórias
6/8/1933 Jornal defendeu que fosse franqueado o acesso ao monumento nacional a turistas que passeavam em Coimbra em “trajes ligeiros”
SENHORAS DE “BRAÇOS À MOSTRA” NÃO ENTRAVAM NA IGREJA DE SANTA CRUZ
Oacesso de visitantes à Igreja de Santa Cruz, espaço de culto mas também monumento nacional, gerou uma polémica que teve eco nas páginas deste jornal em Agosto de 1933.
Na edição de dia 6 desse mês, o Diário de Coimbra começou por recordar que uma semana antes «não foi permitida a entrada no Mosteiro de Santa Cruz a umas senhoras estrangeiras que visitaram esta cidade, por envergarem trajes ligeiros, levando por isso os braços à mostra».
29/5/1933 Artur Soares de Brito, «proprietário, residente em S. Gião, concelho de Oliveira do Hospital», deslocou-se a Coimbra no dia da Queima das Fitas e perdeu nesta cidade «uma carteira que, entre vários documentos, continha a importância aproximadamente de 400$00», publicou o jornal na edição de 29 de maio de 1933. «Dando pela falta da carteira o sr. Brito dirigiu-se ao engraxador que momentos antes lhe tinha engraxado as botas, perguntando-lhe se teria visto alguém achar uma carteira. Este imediatamente respondeu que tinha sido achada por sua mulher, que a tinha entregue ao polícia que ali andava de serviço. Procurado este agente da autoridade, imediatamente a carteira voltou à posse do seu legítimo dono», acrescentava a notícia.
«Contra o facto lavramos então o nosso protesto, por julgarmos, como afinal toda a gente, que isso não prejudicaria a fé religiosa de quem lá estava, nem iria ferir a crença de quem diariamente frequenta o templo. O nosso protesto, porém, de nada valeu, porque a cena repetiu-se ontem com outras senhoras, que, ao que nos informam, foram ali maltratadas por quem se julga senhor do mosteiro, que há muito é considerado monumento nacional», lamentou o autor da notícia, observando que aquele edifício é «pertença da nação, e portanto de nós todos, crentes e não crentes, a quem não pode nem deve ser proibida a
entrada, salvo se se apresentem no estado em que Cristo se encontra lá dentro, na Cruz, porque isso é mais indecoroso do que os braços à mostra das referidas senhoras».
Pouco depois dava o jornal conta de nova situação. «Voltaram a repetir-se no Mosteiro de Santa Cruz as cenas a que há dias nos vimos referindo, isto é, a proibição da entrada aos visitantes que se apresentem
em trajes ligeiros, atendendo ao calor da época, e que lá vão para apreciar a riquíssima obra de arte ali existente. Ontem, ao que nos relataram, uma família do Porto que acidentalmente aqui se encontrava, e que foi ao precioso templo, recebeu do padre ordem de despejo, por, segundo aquele dizia, “as senhoras não se encontrarem com a decência devida”. Ora isto não é verdade, e se assim
o afirmamos é por sabermos que as referidas senhoras percorreram as ruas principais da cidade sem serem incomodadas pelos agentes da polícia, que naturalmente as teriam detido se a moral pública fosse ofendida com o traje que envergavam», escreveu o jornal a 10 de agosto.
Adiantava a notícia que a família se recusou a sair do templo, divulgando depois que «o
agente da polícia que ali foi nesse momento a requisição do pároco, não encontrou motivo para proceder, retirando-se serenamente para o local onde se encontrava de serviço».
«Fez muito bem. Era uma família portuguesa, que tinha todo o direito de ali entrar, que tinha o direito de apreciar tudo o que ali existe e de que lhe pertence uma pequena parcela», comentou o autor, que não via «motivo para que não pudessem estar no Templo de Santa Cruz, no mais sagrado templo do nosso país por encerrar dentro em si as cinzas de D. Afonso Henriques, daquele a quem devemos a fundação da nacionalidade, a quem devemos este abençoado torrão que já deu leis em todo o mundo e que por todo o mundo é respeitado».
Frisando nada ter contra o culto católico naquele local, o Diário de Coimbra defendia que o Mosteiro de Santa Cruz fosse franqueado sem exageradas imposições a «quem nos dá a honra de visitar a cidade», sugerindo a intervenção do governador civil para pôr termo a tais incidentes.
«Graças à intervenção do sr. dr. Costa Rodrigues, governador civil interino, este assunto pode considerar-se liquidado, sem quebra dos direitos da Igreja, que somos os primeiros a respeitar, mas também sem ofensa dos direitos daqueles que na simples qualidade de visitantes não devem ser impedidos de entrar em edifício que é considerado monumento nacional», comunicou depois o jornal. M.S.
Era urgente a ligação ferroviária a Arganil
13/4/1933 Aconstrução da linha férrea para ligar Coimbra a Arganil, prolongando o ramal que se ficara por Serpins (Lousã), voltou a ser reclamada pelo Diário de Coimbra na edição de 13 de abril de 1933.
«Que a linha férrea de Arganil é uma necessidade, uma necessidade urgente que pede uma conclusão rápida, pouco demorada, todos o sabem e todos o dizem. Porém, no
campo das realidades, o problema continua sem solução, não obstante as discussões levantadas que têm despertado o interesse dos técnicos, e que já se pronunciaram, embora debaixo de critérios diversos», considerou o jornal, lamentando que o assunto estivesse a ser «debatido há anos sem que, de tal discussão, resultasse algo de proveitoso para a sua realização».
O texto lembrava que o Estado reconhecera, «por intermédio da comissão para tal fim nomeada, que a linha de caminho de ferro de Arganil era absolutamente necessária às populações que a deverão utilizar, que a sua construção beneficiaria todo o país, que deve encontrar-se estreitamente ligado a zonas importantes como é a daquela região e que, finalmente, iria
completar as restantes vias de comunicação, valorizando-as». «Em vista de tal», preconizava, «se o próprio Estado reconhece a necessidade e as vantagens da conclusão de tal linha, que ela seja concluída dentro do mais curto espaço de tempo».
E era mais que tempo de passar do debate à ação. «A discussão, em si, afinal, não nos interessa, nem deve interessar
à região que viria a ser beneficiada com a conclusão da linha de Arganil, a qual constitui uma necessidade imperiosa para o seu progresso e para os seus interesses económicos. O que urge é que o problema seja estudado sem demora no campo das realidades práticas e resolvido em conformidade com as melhores possibilidades que ele oferecer», sustentava o autor do artigo.
Perdeu a carteira e encontrou gente honesta
Vistas inéditas de Coimbra em coleção de postais
29/3/1993 A Casa Havaneza, situada na Rua Ferreira Borges, lançou uma coleção de postais com as principais atrações turísticas da cidade, cuja «excelência» foi elogiada na edição de 29 de março de 1933. «Inserindo aspetos inéditos de Coimbra, da sua paisagem e dos seus monumentos, essa colecão de postais torna-se ainda mais valiosa pelo seu aspeto gráfico, que é primoroso. Sentia-se a falta duma coletânea de aspetos de Coimbra desta natureza, num centro de turismo de primeira grandeza como é a nossa terra. Por esse facto, só merece louvores quem meteu ombros a tal empresa, levando-a a cabo da maneira mais brilhante», aplaudiu o jornal.
Um leilão de penhores da Caixa
27/3/1933 No jornal de 27 de março de 1933, a Filial de Coimbra da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência anunciou que iria realizar-se nos dias seguintes, à hora de almoço, pelas 13h20, um «leilão de penhores com mais de três meses de juros em atraso, que caucionam empréstimos efetuados pelas agências 24 e 33, desta cidade, constando de ouro, prata, pedras preciosas, relógios, boas roupas de algodão, linho e lã, máquinas de costura e fotográficas, bijuterias e diversos objetos».
Afinador de pianos oferecia os seus serviços
26/5/1933 Afinador e reparador de pianos e órgãos, Manuel Ferreira dos Reis, «artista do Porto diplomado por três grandes fábricas alemãs de pianos», encontrava-se em Coimbra «por alguns dias» e, através de um anúncio que publicou neste jornal a 26 de maio de 1933, fez saber que quem quisesse «utilizar-se dos seus serviços profissionais» poderia «procurá-lo, ou enviar comunicação para a Travessa da Trindade, 13-1.º».
Diário de Coimbra Memórias
25/5/1933 Instalada no antigo convento franciscano, unidade fabril de Coimbra era vista como “um exemplo, um símbolo e um padrão da indústria portuguesa”
RELATO DE UMA VISITA DE DUAS HORAS À FÁBRICA DE LANIFÍCIOS DE SANTA CLARA
OConvento de S. Francisco da Ponte, hoje espaço cultural do município de Coimbra, acolheu durante mais de um século uma das principais unidades fabris não só desta cidade mas também do país, conhecida «dentro e fora de portas pela qualidade dos seus lanifícios».
Fundada em 1888, a fábrica de fiação manteve-se no antigo convento franciscano até encerrar a laboração em 1994, tendo-se afirmado durante décadas como «um dos expoentes máximos da industrialização de Coimbra», graças aos afamados tecidos de lã ali produzidos.
Na primeira página da edição de 25 de maio de 1933, o Diário de Coimbra publicou uma reportagem sobre a Fábrica de Lanifícios situada junto ao antigo Rossio de Santa Clara.
«Recebe-me o sr. Vitorino Planas Dória, sócio da fábrica, que gentilmente se dispõe a ir comigo através do labirinto deste edifício enorme, que foi outrora um convento. Durou duas horas certas esta visita. Não dei por elas. As fábricas, para quem não as conhece, são como os museus. Para-se em frente de uma máquina, como se para em frente de um quadro, a olhar, a ver, a compreen-
der o funcionamento da engrenagem caprichosa... E em Santa Clara, então, há que ver e há que admirar!», observou o repórter Adriano Peixoto.
O autor propunha-se dar a conhecer o que era, o que valia e como era «lá por dentro» uma fábrica onde a fazenda, da lã ao armazém, passava por «noventa e tal operações». «O resto sabe o leitor. Sabe, por exemplo, que os seus produtos são hoje, mercê dos processos comerciais e industriais adotados
desde a fundação desta fábrica, os melhores e os mais acreditados do país. Toda a gente sabe isto, e nem as outras fábricas levam a mal que se diga isto... Pois bem. Serei o operador deste documentário, destes cem metros cem por cento sonoros, onde as canções do operário e da máquina se misturam, canções orquestradas por um Wagner moderno», explanou.
Dos escritórios passou o visitante a «um corredor largo que dá para um pátio interior e
claustral», evocando aqui o «valor histórico e religioso» de um edifício que «foi convento de franciscanos e data de há mais de quatrocentos anos».
«Sentadas em frente das “bancas”, não sei quantas raparigas arrancam aos cortes, com umas pinças grandes de aço, as “imperfeições” da fazenda. Imperfeições, não é bem. Como quem diz, pequenos pedaços de lã que se partiu e agarrou à outra lã. Há rostos, há olhos, há bustos, há atitudes, que se fixam. Por
exemplo, o daquela rapariga que me esteve a explicar como é que aquilo se fazia. Logo no outro ângulo - as cerzideiras, que procuram, debruçadas sobre as fazendas, um fio que se quebrou e que elas vão ligar. Tudo, à nossa volta, tem um ar antigo, um ar remoto, mormente cá em cima, no último pavimento», anotou.
No armazém, pouca mercadoria amontoada, não por falta de dinâmica comercial mas porque «Santa Clara só fabrica consoante as encomendas da clientela certa, as encomendas das casas que fornece», explicou.
E prosseguiu a descrição: «Agora é que começam as máquinas. Vejo primeiro a “Tesoura” – o primeiro quadro deste museu. Cinematograficamente, um admirável “primeiro plano” de Fritz Lang, uma espécie de “gilette” da fazenda, que corre sobre uns rolos, como nos jornais anda o papel nas rotativas... Um nó que ficou à superfície desaparece, levado, cortado pelas lâminas. Outra secção. As prensas, o que há de mais moderno, alemão, “aprés-guerre”. Depois passo à dos “tops”, os novelos em que a lã entra na fábrica, a melhor lã do mundo, já preparada – já “penteada”, como se diz na técnica destas coisas – e vai para a tinturaria. Passa daqui para os “gill-boxes”, na secção de fiação, e de “gill-box” em “gill-box”, a lã que entrou em rolos da grossura da calabre, sofre tantas reduções que, ao cabo, um quilo dela pode atingir entre 50 e 70 quilómetros de extensão».
«Linda obra!», exclamou o jornalista do Diário de Coimbra ao finalizar a reportagem sobre a Fábrica de Santa Clara, onde, «dentro de paredes enormes e seculares», na altura «mourejavam cerca de quatrocentos operários». «Não envelheceu ali um único a quem a fábrica desamparasse. E não trabalha ali uma única mãe que não tenha ao lado o filho. A direção, com-
penetrada perfeitamente dos seus deveres sociais, mantém pensões e dentro da fábrica uma creche», elogiou.
Com quase meio século de existência, a fábrica de Santa Clara conquistara grande prestígio no panorama da indústria nacional.
«Fundada há perto de 50 anos por D. Jaime Planas, pai do sr. Vitorino Planas, que também é hoje sócio da em-
presa, D. Bautista Ponsá e Pedro Peig, entrou logo para a sociedade um novo sócio, D. Henrique Elias. Peig e Ponsá, cuja memória está ligada perpetuamente a esta fábrica, faleciam pouco depois. Ficaram só, portanto, D. Jaime, D. Henrique e um filho de Ponsá. Ponderação do primeiro e nervos do segundo, aliados a uma extraordinária tenacidade e amor próprio,
e o êxito da obra estava dentro em pouco absolutamente assegurado. E Santa Clara, cujas tradições se vêm conservando e mantendo, inalteravelmente, de geração em geração, firmando cada vez mais e melhor os créditos alcançados ao longo de meio século de trabalho, é hoje um exemplo, um símbolo e um padrão da indústria portuguesa», concluiu o autor.
Vitorino Planas explicou depois ao visitante o funcionamento dos “telescópios”, «uns aparelhos suíços, suspensos do teto, um em cada extremidade do salão, parecidos com os esqueletos das baleias que há nos museus de história natural e que das suas guelas potentes expelem água pulverizada, que não molha e que refresca».
Reteve ainda o repórter a imagem de uma outra secção, a dos teares, «que se parece também com outra dos jornais: as “linotypes”. Pelo menos, a atitude dos homens é a mesma. Aqui, só há mais ruído e mais pressa», comparou. M.S.
Pensões para trabalhadores e uma creche dentro da fábricaFOTO: ARQUIVO PARTICULAR PEDRO PLANAS MEUNIER
Diário de Coimbra Memórias
Tábua festejou chegada de luz “magnífica”
4/6/1933 O Diário de Coimbra noticiou a 4 de junho de 1933 a «experiência da iluminação elétrica» que em Tábua «originou várias manifestações de regozijo». «Fez-se, ontem à noite, a experiência da iluminação elétrica pública e particular, neste concelho. Houve entusiásticas manifestações de regozijo, soltando-se vivas a Tábua, à Câmara e a todos quantos trabalharam para tão importante melhoramento. Foi convidada a filarmónica de S. João d’Areias, que aqui chegou à noite, tendo percorrido as ruas da vila, tocando. Em todo o povo se manifestava o maior contentamento, sendo unânimes os elogios à empresa concessionária da energia elétrica, pois a luz é magnífica. A experiência fez-se também em Midões, Candosa, S. João da Boavista, onde igualmente houve manifestações de júbilo, tendo algumas pessoas proferido discursos de congratulação», informou o correspondente do jornal, acrescentando que não estava ainda «marcado o dia para a inauguração oficial».
Bengaladas para castigar falta de respeito
2/6/1933 Lia-se na edição de 2 de junho de 1933 que na Rua Ferreira Borges, em Coimbra, «deu-se uma cena de pugilato entre o sr. António Magalhães, residente nesta cidade, e o estudante José Moreira, natural de Lagos de Silgueira, concelho de Viseu, residente na Rua de Castro Matoso n.º 6, em consequência de este lhe faltar ao respeito, pelo que o sr. Magalhães lhe vibrou algumas bengaladas».
Polícias isentos de pagar nos hospitais
28/6/1933 Um despacho do Ministério do Interior autorizou os agentes da PSP de Coimbra a serem hospitalizados nos HUC «sem qualquer encargo para os mesmos», informou o jornal a 2 de junho de 1933.
TEATRO SOUSA BASTOS RENOVOU-SE E REABRIU PARA O CINEMA SONORO
Hoje transformado numa triste ruína, o Teatro Sousa Bastos reabriu portas a 9 de julho de 1933, graças ao empenho da empresa cinematográfica Coimbra-Films, que na altura adquiriu e remodelou profundamente a velha sala de espetáculos da Rua Joaquim António de Aguiar, na Alta da cidade.
Dias antes, o Diário de Coimbra visitou as obras – em curso «há uns meses» – de reconstrução de um teatro «de velhas e gloriosas tradições que há alguns anos se encontrava encerrado», a fim de o adaptar a cinema.
«Todo o edifício interno foi completamente demolido. Tudo atirado abaixo, para surgir agora uma obra inteiramente nova. Os trabalhos de engenharia são importantíssimos.
Toda a reconstrução foi feita em cimento armado, dentro das linhas elegantes da arte nova. Ficou todo o teatro sem uma coluna e arranjado numa
disposição elegante e cheia de conforto», anotou o repórter, elogiando o «aspeto alegre, elegante e todo moderno» de «uma casa de espetáculos que, sem dúvida nenhuma, honra a nossa terra».
A par da ampla remodelação, a Coimbra-Films equipou a sala com uma moderna apare-
lhagem da Radio Corporation of America, indispensável para competir com o Cine-Teatro Avenida e o Cinema Tivoli na exibição de filmes sonoros.
Das «completas e radicais transformações» destacou o jornal a «construção do balcão, de cerca de 16 metros de comprimento, uma obra úni-
ca em Portugal, visto que não tem a suportá-lo uma única coluna».
«Com a reabertura desta casa de espetáculos, ficará Coimbra possuindo uma confortável sala de diversões, com uma lotação de cerca de 900 lugares e que funcionará diariamente com sessões de cinema sonoro
a preços verdadeiramente populares», antecipou.
Na edição de 10 de julho, o Diário de Coimbra noticiou a “inauguração” do novo Cine-Teatro Sousa Bastos, que dedicou uma “matinée” às crianças, com entrada gratuita. «A petizada, a quem a empresa distribuiu bolos e rebuçados, encheu a sala, a transbordar», registou.
Também à noite tiveram casa cheia as sessões em que se exibiu o filme “Noiva da Escócia”, «magnífica produção» que «agradou completamente pelo seu entrecho, pela sua realização, pela sua fotografia e pelo seu desempenho».
«A velha casa de espetáculos da Rua Joaquim António de Aguiar passou por tão completas e variadas transformações, que do velho Sousa Bastos resta apenas a fachada. Luz bem distribuída, ambiente elegante e confortável, esplêndida projeção e sonorização», avaliou o jornalista.
«Enfim, conta Coimbra com um novo cine-teatro. O público vai, por certo, saber corresponder a esta iniciativa tanto mais que dada a acessibilidade aos preços, pode ali ver bom cinema, visto o excelente programa que a empresa tem já marcado para esta época», concluiu o texto. M.S.
Foi-se o ouro e dinheiro por... um saco de pedras
16/6/1933 Um caso de burla, com crendice, rezas e mezinhas à mistura, foi relatado na edição de 16 de junho de 1933 pelo correspondente do Diário de Coimbra em Tábua.
Aconteceu na freguesia de Midões, onde «uma “bruxa” conseguiu extorquir a uma doente, sob promessas de cura, cerca de seis contos».
«A senhora M.A., casada com J.C., há muito tempo que vem sofrendo de uma úlcera no estômago, mas, como estes “inocentes” acreditam mais em feitiços do que na medicina, eis a razão porque a pobre doente e seu marido foram cair, lamentavelmente, no conto do vigário. No dia 1 do corrente mês,
apareceu na aldeia uma mulher que dizia ler as sinas e curar toda a espécie de moléstias. M.A. contou-lhe o seu sofrimento, prontificando-se, imediatamente, a mulher de “virtude” a curá-la, afirmando que a sua doença provinha do mal que certa pessoa lhe tinha feito, Que estivesse descansada que ela a curaria, caso se prontificasse a arranjar cinco cordões de ouro, dois anéis, um brinco e ainda a quantia de 500$00. Isto para lhe fazer umas rezas e benzê-la em seguida, garantindo-lhe que ficaria boa, imediatamente. À cautela, a “santinha” foi recomendando que os cordões de ouro deveriam ser pedidos emprestados em terras
diversas para que ninguém disso tivesse conhecimento, pois caso contrário a reza não produziria efeito», contou o autor da notícia.
No dia combinado para o encontro «nada faltou, nem o ouro nem o dinheiro, e muito menos a bruxa, que se fazia acompanhar por outra mulher e dois homens».
«Tudo isto se passava sob o mais implacável segredo. Na povoação ninguém sabia de nada. Examinado o dinheiro e o ouro, foi tudo metido numa pequena bolsa que foi muito bem cosida e metida dentro duma mala, depois de convenientemente benzida, operação a que todos assistiram de joe-
lhos. Depois de muitas rezas e benzeduras a mala foi fechada, tendo a bruxa nessa ocasião o cuidado de trocar a bolsa por outra. Arrecadou a chave, recomendando que a mala só seria aberta três dias depois e que não lhe tocassem antes desse tempo, pois se tal fizessem morreriam imediatamente. Feito isto pediu ainda quatro lençóis de linho sem uso nenhum e uma toalha: “estes lençóis são para improvisar uma capela à meia-noite aonde fazemos novas rezas para a doente ficar livre de todo o mal. Daqui por três dias cá estaremos para abrir a mala, e quando esta for aberta a paciente já não sofrerá nada”. E saíram, em
busca de novos palonços», prosseguia o texto.
Passaram-se os três dias e, como é óbvio, «ninguém apareceu». «Ao quarto dia o marido, já impaciente, dispôs-se a arrombar a mala, porque tinha acabado o prazo para a entrega dos cordões aos seus donos. Arromba a mala, agarra-se à bolsa onde esperava encontrar o ouro e dinheiro e, com um pasmo facilmente calculável, apenas encontrou cinco pedras, muito redondas... e nada mais!
E o grande segredo que durante uma semana toda a família soube guardar foi divulgado naquele momento, aos gritos de “estamos roubados”», rematava o correspondente.
Novas câmaras de captação
asseguravam água mais pura
15/6/1933 No jornal de 15 de junho de 1933 foi noticiada a inauguração, no Parque da Cidade, de «novas câmaras de captação de águas, que ficam a substituir os filtros antigos». «Os novos filtros, que são capazes de fornecer por hora 480 metros cúbicos de água para a cidade baixa e 240 para a cidade alta, garantem também uma água mais pura. Desta maneira, Coimbra fica convenientemente abastecida de água, de forma a satisfazer as necessidades de todos os bairros da cidade», referia o texto, acrescentando que a importância do melhoramento justificara a presença, na Central de Águas do Parque da Cidade, do governador civil, do presidente da Câmara Municipal e seus vereadores. Na mesma edição, dava-se conhecimento de que a Comissão Administrativa dos Serviços Municipalizados deliberara «fazer uma canalização de água que ligue Santo António dos Olivais com o Penedo da Saudade e prolongar até à Quinta da Várzea a canalização da rede da cidade».
Fogueiras animavam Patelas e Rua de Montarroio
15/6/1933 O Grupo Recreativo 1.° de Janeiro (Patelas), na Ladeira do Carmo, anunciava para os dias 23, 24, 25, 28 e 29 de junho «os grandiosos festejos da quadra, de S. João e S. Pedro, que, nesta coletividade, marcam sempre pela sua alegria e animação, havendo além dos descantes e danças ao ar livre, concursos de malha, tômbolas e uma sessão solene de homenagem à Imprensa e aos clubes locais». Ali perto, também a Rua de Montarroio estava «animada dos melhores desejos no sentido de festejar o S. João», tendo a comissão de moradores convivado «o já conhecido mandador de danças António Monteiro, o “Calmeirão”, que, decerto, empregará toda a sua boa vontade para que aquela fogueira mantenha a sua tradicional alegria», informava-se na edição de 15 de junho de 1933.
Diário de Coimbra Memórias
7/7/1933 Para a fuga foi escavado “um buraco grande no lajedo”. Dos 21 reclusos da sala 8 apenas três conseguiram iludir a vigilância do sentinela
PRESOS EMBEBEDARAM-SE, FUGIRAM DA CADEIA E FORAM APANHADOS A COLHER FRUTA
Afuga ocorreu na madrugada de 7 de julho de 1933, por volta da uma hora, mas a impressão mais tardia do jornal permitiu dar a notícia nesse mesmo dia, em segunda edição.
Com o título “Da cadeia de Santa Cruz fugiram esta madrugada três presos”, o Diário de Coimbra contou em pormenor a rocambolesca evasão em que estariam para «tomar parte todos os que, em número de 21, se encontravam na sala 8» do edifício prisional da comarca de Coimbra, no centro da cidade. A fuga «vinha sendo preparada desde meados de junho» e «teria ficado assinalada na história das evasões das cadeias se um polícia não desse a tempo por ela», comentou o redator.
Na sala 8, situada num piso superior, «os fugitivos, empregando escopros e outros utensílios, fizeram um buraco grande no lajedo da prisão, removendo e escondendo sob as mantas e uma cama, ao fundo da sala, as pedras e o entulho que iam retirando». «Por esse buraco, a meio do qual dificilmente caberiam, desceram com o auxílio de uma corda de mantas para o primeiro andar da cadeia, indo dar a uma cela há muito abandonada, servindo-se depois de um arame para correr a língua da fechadura da porta da referida cela, que dava para as escadas da Torre de Santa Cruz, e pelas quais fugiram, aproveitando a ocasião da sentinela da 2.ª esquadra que fica no rés do chão, o guarda 154, voltar as costas às escadas, no seu giro de ronda ao edifício ao longo do jardim que ali existe», relatou o jornal.
À medida que «o guarda voltava as costas», os presos tentavam escapulir-se, mas só três conseguiram fugir. «No momento em que o preso António
Morais, de Bandavises, Vouzela, condenado em 28 anos em S. Pedro do Sul por ter assassinado o pai, pretendia também evadir-se, foi surpreendido na escada pelo polícia, que só então pôde relacionar o facto de ouvir anteriormente ruídos de pedras que caíam dentro da cadeia com a circunstância da fuga».
Outro preso, José da Silva, de 32 anos, de Tomar, «que viera da Colónia Penal de Sintra para responder por uns distúrbios praticados em Janeiro, entre os presos, na mesma cadeia», e que se preparava para «seguir o exemplo dos companheiros de prisão», foi localizado ainda na sala 8 e, após «demoradamente interrogado na 2.ª esquadra», confessou ao tenente Manuel Areia, comandante interino da PSP, que «os utensílios empregados na abertura da fenda por onde tinham fugido lhes haviam sido fornecidos por um filho do sineiro da Torre de Santa Cruz», um menor de 10 anos a quem os presos teriam dado 2$50.
Festejando a fuga por antecipação, os «presos tinham bebido antes uma grande quan-
tidade de vinho» (que também o garoto introduzira na cadeia), apresentando-se o José da Silva embriagado.
A fuga foi, no momento, bem sucedida apenas para os presos «Boaventura Esperança, de Celorico da Beira, condenado em 25 anos de degredo pelo crime de homicídio voluntário; Raúl de Jesus Mendes, condenado em 3 anos de prisão celular e depois de cumprida a pena, entregue ao governo, por um crime de furto num total de 11 contos, e José Francisco das Neves (o “Zecas”), que ali aguardava julgamento, também por um crime de roubo».
O carcereiro da cadeia de Santa Cruz, José Maria Branco, e vários guardas da PSP partiram de automóvel em direção a Eiras, Brasfemes, Souselas e Pampilhosa. «Era na segunda destas localidades – conforme foi declarado pelos presos que foram surpreendidos e não puderam, portanto acompanhá-los – que os foragidos tinham combinado encontrar-se». Depois de «demoradas e baldadas diligências em cada uma das referidas povoações», que se prolongaram pela madrugada
e manhã, os polícias foram avisados de que os fugitivos teriam sido vistos em Eiras e resolveram «fazer uma busca pela serra, até que, próximo de Sinceira, entre este lugar e Brasfemes, conseguiram recapturar o Boaventura Esperança e o José Francisco das Neves, o “Zecas”, que atravessavam os montes com destino a Brasfemes».
«O Boaventura Esperança foi surpreendido por um grupo de mulheres, quando se encontrava sobre uma figueira a colher frutos. Estas, que já sabiam de que da cadeia de Coimbra se tinham evadido vários presos, suspeitaram imediatamente de que se tratasse de um dos foragidos, e começaram a gritar, por aquele as ter ameaçado. O “Zecas” foi preso pelo antigo guarda aposentado n.° 43, José António Alves, regedor-substituto de Brasfemes. Quanto ao Raúl de Jesus Mendes, que seguia com aqueles, assim que avistou os guardas deixou os companheiros, tomando um rumo diferente destes. Foi visto ontem no sítiode Escravote, da freguesia de Eiras, tendo para ali seguido um piquete da PSP», informou o jornal na edição de 9 de julho.
Durante quase uma semana escapou Raúl Mendes das buscas policiais. Mas no dia 12 de julho o Diário de Coimbra noticiou que na véspera, ao final da tarde, quando «andava a colher fruta na Quinta da Várzea», o fugitivo foi finalmente «recapturado por José Cruz da Costa, guarda da Penitenciária, auxiliadopor Júlio Vilela Rodrigues e Amaral Lemos, sendo conduzido para a cidade num carro da PSP». M.S.
Altura mínima de 1,55 para ser telefonista
16/6/1933 A Central Telefónica de Coimbra estava a admitir 10 telefonistas auxiliares, devendo as candidatas «apresentar nos Serviços dos Correios e Telégrafos, na Avenida Fernão de Magalhães, n.º 6 (antiga Rua da Madalena), requerimento devidamente reconhecido por notário, pedindo a sua admissão nos termos do Decreto N.º 16.306 publicado no Diário do Governo, n.º 299, 1.ª série de 28 de dezembro de 1928». As interessadas, segundo o aviso publicado na edição de 16 de junho de 1933 deste jornal, teriam de provar «não ter menos de 18 nem mais de 25 anos», exibir «certidão de bom comportamento moral e civil, certificado do registo criminal, certidões de habilitações literárias e científicas e declaração da qual conste se é ou não filha ou irmã de empregado dos Correios Telégrafos e Telefones, indicando no caso afirmativo o respetivo nome e categoria». Especificava, a concluir, a altura mínima de 1,55 para as candidatas ao lugar.
Banda a caminho da esquadra
13/6/1933 Com o título “Coisas que nem sempre acontecem...”, lia-se na edição de 13 de junho de 1933 que na véspera, pelas 21h00, «quando a banda de Taveiro atravessava a Rua Ferreira Borges, executando um “ordinário”, um dos seus executantes agrediu o académico Sebastião Dantas Baracho, na persuasão de que este o havia ofendido». «Presos os dois e conduzidos à 2.ª esquadra, acompanhados por aquela banda, foram postos em liberdade, passado tempo, tendo prestado fiança apenas o executante da banda de Taveiro. O caso, como é de supor, despertou a hilaridade nas pessoas que estavam no local», registou o jornal.
A brilhante estreia do orfeão da Escola Brotero
Diário de Coimbra Memórias
10/6/1933 Quatro agulhetas dos bombeiros trabalharam ininterruptamente, durante sete horas, no “monumento transformado em armazém de palha”
FOGO EM PALHA AGRAVOU PERIGO DE DERROCADA DA TORRE DE SANTA CRUZ
12/6/1933 Apadrinhado pelo Orfeon Académico de Coimbra, o Orfeão da Escola Industrial e Comercial de Brotero apresentou-se pela primeira vez ao público a 12 de junho de 1933, em «brilhantíssimo sarau» realizado no Teatro Avenida.
Sob a regência do «distinto artista e professor de canto coral, sr. dr. Raposo Marques», também sub-regente do Orfeon Académico, o novo grupo «primou por uma notável justeza de vozes, arrancando à assistência francos e demorados aplausos», noticiou o Diário de Coimbra após o espetáculo.
Em palco, Viana da Rocha, diretor da Escola Brotero, fez a apresentação do novel grupo artístico, saudado depois porAssis Pacheco, em nome da direção do Orfeon Académico, que «desejou as maiores prosperidades ao novo orfeão».
Descrito como «um acontecimento invulgar», o sarau escolar no Teatro Avenida desdobrou-se em três partes, intervalando a estreia do grupo coral um «ato de variedades», com guitarradas por Joaquim Cruz, Marques Mano, Júlio Mascarenhas, José Neves dos Santos (Eiras) e Alberto Rafael de Amorim Lemos, e recitativos por António Lobo da Costa (Tony) e Vasco Cid. As «meninas Maria Guilhermina Coelho Daniel, Isabel Maria Pinto e o menino Artur Lemos Pereira recitaram e cantaram primorosamente com muita graça alguns interessantes números», e o grupo de ginástica, dirigido pelo professor António Paulo Bravo, «também agradou imenso».
Encerrado o espectáculo com a interpretação do “Hino da Escola Brotero” (de Raposo Marques, com letra de Campos de Figueiredo), a prestação dos jovens coralistas mereceu do numeroso público uma «entusiástica ovação».
Por diversas vezes, desde o seu nascimento em 24 de maio de 1930, o Diário de Coimbra apontou o perigo iminente de derrocada da torre sineira do mosteiro de Santa Cruz, reclamando a sua demolição ou que lhe fossem feitas as necessárias reparações, para evitar trágicas consequências numa das ruas mais movimentadas da cidade.
O estado de degradação do monumento nacional, contíguo à cadeia da comarca e à Escola Industrial e Comercial de Brotero (instalada então na Baixa de Coimbra), agravou-se devido a um incêndio que ali ocorreu a meio da tarde de 10 de junho de 1933.
Nesse sábado, cerca das 15h30, o fogo deflagrou num palheiro existente «nos baixos da Torre de Santa Cruz». «O incêndio, originado por um fósforo que um garoto, inadvertidamente, acendeu no local, a fim de procurar uma bola, provocou de princípio grande alarme, receando-se que as chamas derretessem o chumbo que serve de “gatos” às enormes fendas da torre, a ameaçar ruínas, e provocassem a sua derrocada», noticiou o
jornal no dia seguinte.
Os bombeiros voluntários e municipais «atacaram o fogo energicamente, evitando que as labaredas se propagassem por uma daquelas fendas» à Escola Brotero, enquanto que na Praça 8 de Maio e imediações se juntou «uma grande multidão», sendo o trânsito interrompido durante algum tempo na Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, onde a Torre de Santa Cruz se localizava.
O repórter do Diário de Coimbra anotou que «quando os bombeiros, que atacaram o sinistro com quatro agulhetas, montadas naquela artéria e na
Rua de Montarroio, nas traseiras da torre, iniciaram os seus trabalhos, a falta de água fez-se também sentir», registando igualmente que «nalgumas das celas da Cadeia de Santa Cruz estabeleceu-se o pânico entre os presos, pelo que foi necessário removê-los para outras celas».
O fogo, esclarecia o texto, fora declarado nos “baixios” da torre sineira, «alugados em tempos ao negociante desta cidade sr. António Marques, residente na Rua das Solas, pela Junta de Paróquia da freguesia de Santa Cruz», e que «passaram a ser explorados pela di-
reção dos Monumentos Nacionais quando a referida torre passou assim a ser considerada». «O facto, que era ignorado na maioria da gente, provocou justos reparos», observou o jornalista.
No dia 12, o assunto voltava às páginas do jornal, que informava terem-se prolongado pela tarde de sábado e parte de domingo os trabalhos de rescaldo, em que quatro agulhetas dos bombeiros «trabalharam ininterruptamente cerca de sete horas, dada a grande quantidade de palha que ali se encontrava».
Porém, teria consequências a grande quantidade de água usada pelos bombeiros para extinguir as chamas naquele «monumento nacional transformado em armazém de palha». «Segundo os técnicos, essa água deverá abalar consideravelmente a torre, que tem sido motivo de apaixonadas discussões por parte dos referidos técnicos sobre o facto de ameaçar ruína», escreveu o Diário de Coimbra. M.S.
Demolir ou reparar a torre dos sinos do mosteiro de Santa Cruz?
A 9 de novembro de 1931 o Diário de Coimbra alertou para as fendas da Torre de Santa Cruz, cujo agravamento alarmou «justamente as pessoas» pelo perigo «para a segurança do velho monumento e do público que transita e mora nas imediações». «A quem competir pedimos a indispensável e urgente vistoria para tranquilidade de todos», apelou o jornal, que a 16 do mesmo mês informou
que se iria ali efetuar mais uma vistoria. «Quem descer pela Rua de Montarroio e se lembrar de erguer os olhos, deparará com uma brecha enorme, aí de dez centímetros, a toda a altura da torre abrangível pelo olhar. É uma ameaça silenciosa, um perigo iminente que ali se exibe, aos olhos indiferentes daqueles a quem compete a segurança dos transeuntes», verberou a 24 de janeiro de 1932, face à
inércia das autoridades. Entre os técnicos, dividiam-se as opiniões sobre o perigo real de derrocada da estrutura, apesar das «brechas de palmo, nada tranquilizadoras, e uma inclinação bem acentuada sobre o lado sul», de cerca de 60 centímetros. As vistorias e respetivos relatórios confirmavam problemas, mas «nada mais se tem pensado para evitar um desastre que pode ocasionar
um número avultado de vítimas», lamentou o jornal a 17 de março de 1932. Concordando que a torre sineira era uma das «preciosidades históricas» da cidade, impunha-se, defendeu o Diário de Coimbra, fazer as «obras necessárias para a sua conservação», caso contrário teria de se proceder «à sua imediata demolição, para sossego de todos que prezam a vida dos seus semelhantes».
Jogo ilegal frente ao Mercado da Figueira
18/6/1933 Na “Carta da Figueira”, da edição de 8 de junho de 1933, dava-se conta de que o comércio daquela cidade reclamara «contra o estabelecimento de uma barraca que está a ser instalada em frente do Mercado, que se destina ao exercício do jogo ilegal e onde as classes menos abastadas vão deixar parte do pouco que ganham nos trabalhos a que se dedicam». «Como o jogo ilícito está proibido, parece-nos que não deve se consentida a abertura de tal... ratoeira», comentava o jornalista do Diário de Coimbra na Figueira da Foz.
Falta de água e mau cheiro no bairro de Celas
12/6/1933 Alertava-se no jornal de 12 de junho de 1933 para as queixas de «vários moradores do bairro de Celas» pelo facto de, desde há dois meses, das torneiras das suas casas pingarem «apenas algumas gotas de água, em tão pequena quantidade que se torna difícil abastecerem-se para os serviços caseiros». «Alguns desses indivíduos informam-nos ainda que, naquele bairro, há quem faça ainda despejos nas ruas, provocando, como é de calcular, um cheiro horrível», acrescentava a notícia.
Obras no sítio do Castelo em Góis
19/6/1933 O Diário de Coimbra publicou, a 19 de junho de 1933, que a Sociedade de Iniciativa e Propaganda de Góis pediu ao Estado uma comparticipação de 68 contos para construção de uma escadaria em complemento das obras de embelezamento a iniciar em breve no sítio do Castelo, naquela vila, onde seria também restaurada «uma pequena capela, relíquia arquitetónica de 1500, que está em ruínas». «Será, ainda, custeada a terraplanagem do campo, onde se vai fazer um parque», anunciou o correspondente do jornal.
Diário de Coimbra Memórias
Autocarros de excursionistas às voltas nas vielas da Baixa
22/8/1933 Os trabalhos de substituição do pavimento numa das artérias centrais da cidade mereceram aplausos mas também reparos do Diário de Coimbra no dia 22 de agosto de 1933. O revestimento da Rua Visconde da Luz com paralelepípedos, na sequência de uma deliberação da Câmara Municipal de Coimbra, era visto como «uma obra que embeleza aquela importante artéria, como já estão embelezadas as ruas Ferreira Borges e da Sofia». No entanto, criticou o jornal, «o que não está bem é levantar-se o pavimento por completo, impedindo por ali a passagem, quando a obra podia ser feita como a da Rua da Sofia, onde sempre transitaram veículos». «Coimbra está sendo visitada diariamente por numerosas excursões. Rara é a hora que não atravessam a cidade luxuosas camionetas com excursionistas de todo o país. Fazê-los girar por vielas e ruas estreitas que não são conhecidas dos motoristas, é dar uma triste ideia da nossa cidade, que bem digna é de melhor sorte. Contra o facto lavramos o nosso protesto, por não estar certo que se interrompa o trânsito na mais importante artéria da cidade, sem necessidade de o fazer», lamentou o redator.
“Praia” original na montra da alfaiataria
11/7/1933 AAlfaiataria Damião, que vinha sobressaindo «pela originalidade dos seus reclames», acabara de instalar numa das suas montras, na Rua Ferreira Borges, «um reclame elétrico» que era «novidade no comércio de Coimbra». «Trata-se de uma praia, onde o mar ondula e se agita – e em cujas “águas” os “manequins”, com magníficos fatos de banho, vão mergulhar», informou o jornal na edição de 11 de julho de 1933, considerando que aquele «reclame constitui de facto uma nota inédita entre nós e está chamando a atenção do público».
UMA
AO
INDUSTRIAL DA CERÂMICA LUSITÂNIA NO LORETO
Foi no século passado uma das maiores empresas fabris do setor cerâmico, chegando a empregar um milhar de trabalhadores. Falamos da antiga Fábrica Lusitânia, junto à Estação Velha, no Loreto, que o Diário de Coimbra destacou numa reportagem publicada na edição de 28 de junho de 1933.
Do complexo industrial nada mais resta hoje que o prédio onde se instalou o Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro. Mas algumas décadas atrás, ocupando uma vasta área, erguiam-se e interligavam-se ali os edifícios, com as suas altas chaminés, em que a Companhia das Fábricas Cerâmica Lusitânia – reconvertida entretanto em Lufapo, em meados dos anos 40 – produzia louças sanitárias, azulejos, mosaicos, faianças e porcelanas que rivalizavam com os melhores produtos do estrangeiro.
«Os edifícios são vários. Ligam-nos alguns pontões de serviço, duns para outros andares. E andam lá por cima,
descendo e subindo esses pontões, passando-nos mesmo por riba da nuca, dezenas e dezenas de vagonetas – transportando barros, transportando materiais, canalizando produtos para os armazéns. A gente mete-se por ali dentro e perde-se. Não fora o guia solícito, amável, e não conseguiríamos sair daquele labirinto», conta o repórter do Diário de Coimbra.
O próprio diretor-geral da empresa, Júlio Martins, acompanha a visita do jornalista. «O
guia atende a nossa curiosidade, satisfazendo-a, e tudo nos explica. Leva-nos duma a outra secção, diz-nos para que serve isto, para que serve aquilo, como funcionam todos os aparelhos, qual a mecânica de todas as dependências», elogia.
No escritório, regista, alinham-se «duas filas de secretárias, americanizadas», e «ao fundo, um rico mostruário dos produtos da fábrica».
«Entramos, depois, numa ampla galeria, onde dezenas de
operários, em frente de grandes tabuleiros, com maçaricos em forma de pistola, procedem à difícil operação do envidramento de peças de louça sanitária. Há sentinas, lavatórios, mictórios, banheiras, pias, escarradores, entre os quais um interessante modelo delineado pelo ilustre Professor Dr. Bissaia Barreto. Produtos bem acabados e de ótima apresentação, o melhor que se fabrica no país, rivalizando com os similares que se fabricam no estrangeiro. Depois, outras secções, onde se fabrica o azulejo e o amarelejo, onde se fabricam telhas, tijolos, tubos de grés, etc. A gente admira esses produtos, e louva o esforço dos homens que levam os operários portugueses a um fabrico tão perfeito», enaltece.
Num edifício anexo, dezenas de operários «entregam-se a um contínuo vaivém, descem e sobem escadas, empurram
vagonetas, transportam materiais». Júlio Martins esclarece que «a fábrica traz ali, em construção, um forno moderno, o que há de melhor, com uma extensão de 150 metros». Trata-se de um investimento de mil e duzentos contos, necessário para poder «satisfazer todos os compromissos». «Os produtos entram nele em vagões duma construção especial, atravessam-no e quando chegam à outra ponta já os produtos estão cozidos», explica.
E a visita prossegue: «percorremos, depois, a casa das máquinas, os depósitos de barro, as secções dos moinhos, os armazéns, todas as restantes dependências da fábrica. Em terrenos adjacentes, começou já a construção de um bairro para os seus operários. Casas jeitosas, batidas de sol, com seu jardim, sua casa de banho e suas dependências muito caiadas, muito asseadas. A este bairro, outros se seguirão. Erguer-se-á também ali uma creche e uma escola».
«Deixamos a fábrica pelo meio-dia. Connosco, saíram, para almoçar, os seus 500 operários. Vinham alegres, sorridentes, porque ali apetece trabalhar, porque ali se pode trabalhar. São operários portugueses que mestres portugueses levam a fabricar produtos sem rivais, aquém e além fronteiras. A gente, ao vê-los, sente, de facto, o forte desejo de proclamar bem alto: preferi os produtos portugueses!», conclui o jornalista. M.S.
Câmara afixava editais à porta de Santa Cruz
30/8/1933 A prática de afixar editais e publicidade em monumentos da cidade mereceu a nota crítica que o Diário de Coimbra publicou a 30 de agosto de 1933.
«O Conselho Nacional de Arte e Arqueologia, ao cuidado de quem se encontram os monumentos nacionais, determinou há tempo, e com justificada razão, que não fossem afixados editais, reclames e notícias nos pilares que seguram a grade de vedação do átrio do Mosteiro de Santa Cruz, por ser impróprio o lugar e por se tratar dum templo a que todos devemos res-
peito. Igual determinação, se não estamos em erro, foi feita para o Arco de Almedina, antiga porta da cidade, que representa uma parte da nossa história e que foi atravessada por valentes guerreiros, que se empenhavam na defesa deste encantador recanto e a quem devemos a independência da nossa nacionalidade», começou por recordar o articulista, acrescentando que os referidos monumentos «figuram nos roteiros de Portugal, onde são indicados para a visita dos turistas que afluem a Coimbra em avultado número».
As «ordens transmitidas pelo Conselho Nacional de Turismo» não foram, porém,
«respeitadas como era devido». O Arco de Almedina encontrava-se, «como antes da sua restauração, repleto de cartazes anunciadores de espetáculos diversos, apresentando-se por isso num desagradável aspeto», enquanto que «os pilares do gradeamento do Mosteiro de Santa Cruz continuam também a servir de “placards” anunciadores de coisas diversas».
«O abuso na afixação no Arco de Almedina ainda merece desculpa por ser feito por inconscientes rapazes que, a troco de alguns tostões, se encarregam dessa ta-
refa. O do Mosteiro de Santa Cruz merece porém a maior repulsa, por ser aproveitado pela Câmara Municipal para a afixação dos seus editais, como ainda ontem tivemos ocasião de ver, tendo no edifício dos Paços do Concelho lugar apropriado para o fazer e nas barracas municipais das entradas da cidade. Chamamos a atenção de quem de direito para lembrar àquela entidade o dever a cumprir, e isto para que lhe não sigam o exemplo e que comecem a emporcalhar todos os monumentos», rematava o autor do artigo.
Diário de Coimbra Memórias
Um elevador para o Convento de Santa Clara
24/7/1933 Notícias de que ia ser vendido em hasta pública o elevador do Monte de Santa Luzia, de Viana do Castelo, levaram o jornal a sugerir que as forças vivas de Coimbra procurassem «tomar conhecimento do estado desse elevador e adquiri-lo, no caso de convir», isto tendo em conta que se vinha «falando na montagem de um elevador para o Convento de Santa Clara, onde se encontra o corpo e a imagem da Rainha Santa, padroeira da cidade». «A nós, quer-nos parecer interessante a ideia. E o alvitre aí fica», escreveu na edição de 24 de julho de 1933.
Mãe valente salva bebé de um réptil
28/6/1933 O «caso inédito» foi «assunto de todas as conversas» em Granja do Ulmeiro, informou o correspondente do Diário de Coimbra, em notícia publicada a 28 de junho de 1933 com o título “Uma cobra ataca uma criança”. «Foi o caso que uma mulher que faz diariamente serviço em casa do sr. Abílio de Sousa, deixou em casa a dormir, quando foi para o seu serviço, uma filhinha de dois meses de idade. Quando regressou, viu, com extraordinário espanto, uma enormíssima cobra, procurando introduzir a cabeça na boquita da criança. Aflitíssima, a desventurada mãe atirou-se corajosamente ao réptil, conseguindo dentro em breve asfixiá-lo, com a força do desespero e do seu amor maternal», relatou.
Corrida de bicicletas só para casados
15/7/1933 De Santo Varão chegava a notícia de uma «interessante corrida de bicicletas disputada só por ciclistas casados, da qual saiu vencedor o sr. Alexandre Machado». «Os promotores da corrida, srs. João Ferreira Coelho e José Pescante, estão muito satisfeitos por não ter havido desastres», comunicou o correspondente.
JORNAL LANÇOU EXCURSÕES PARA REFORÇAR A AMIZADE ENTRE COIMBRA E
Aaproximação entre Figueira da Foz e Coimbra era ideia meritória e um tema recorrente mas, como o jornal fez questão de acentuar num artigo publicado na primeira página de 4 de agosto de 1933, na prática poucos benefícios resultavam das boas intenções que instituições de ambas as cidades não se cansavam de proclamar.
«Quer-nos parecer que a política de aproximação entre Coimbra e a Figueira da Foz não tem sido convenientemente orientada por parte dos organismos de qualquer das duas cidades, a quem compete levar a efeito esse estreitamento de relações. Coimbra e a Figueira têm-se abandonado mutuamente, quando não se olham como duas rivais, sem nada de comum existir, afinal, entre si», considerava o jornal, defendendo que «a finalidade dessa política de aproximação está precisamente em fazer-lhes reconhecer que, em vez de duas cidades que teimam em separar-se, elas se devem dar as mãos e completar-se, numa comunhão de interesses de que só resultam, tanto para Coimbra como para a Figueira, as maiores vantagens».
Lembrava o articulista o pri-
vilégio de Coimbra dispor de «excelentes influências e sólidas amizades», por ter passado pelos seus bancos escolares «a maioria dos homens a quem são entregues os destinos do país», circunstância de que as
reivindicações da Figueira teriam igualmente interesse em beneficiar. Mas também, «com o desenvolvimento da Figueira da Foz, sob os aspetos económico e turístico, Coimbra lucraria imenso». «Lançada a Fi-
gueira como uma praia da moda, uma grande praia internacional, visto que na Europa poucas oferecem as suas admiráveis condições, o turismo de verão desenvolver-se-ia consideravelmente, levando Coimbra e os seus visitantes à Figueira, e vindo os turistas da Figueira a esta cidade, desde que uma e outra cidade fizessem tudo para que os meios de comunicação entre ambas se tornassem condignos da sua categoria e importância», exemplificava.
Para o desenvolvimento comum, e para o desenvolvimento desta região, era desejável, concluía o texto, que as duas cidades deixassem de «olhar-se como duas pessoas que se conhecem mas não se estimam», porque «na verdade o que até aqui se tem feito para o estreitamento de relações não tem passado de cerimónias protocolares, diplomáticas e frias, despidas de entusiasmo».
Ao encontro desta ideia, o Diário de Coimbra anunciara, dias antes, ter chegado a um acordo com as empresas do Grande Casino Peninsular, do
Grande Hotel Portugal e do Pavilhão do Mar, para organizar semanalmente, aos fins de semana, «excursões a preços módicos», proporcionando aos participantes «as mais agradáveis recordações da encantadora praia da Figueira da Foz».
A inscrição, com o custo de 52$50 e a efetuar nas instalações do jornal, incluía bilhete de ida e volta de comboio de Coimbra para a Figueira, no sábado «jantar e dormida no Grande Hotel Portugal, e entrada em todas as diversões do Grande Casino Peninsular, com ceia americana», e no domingo «pequeno almoço no Pavilhão do Mar, almoço no Grande Hotel Portugal e entrada na matinée do Grande Casino Peninsular».
A primeira excursão, nos dias 5 e 6 de agosto, «constituiu um êxito sem precedentes nas organizações deste género». «Na Figueira da Foz a alegre caravana foi alvo das maiores atenções por parte da direção e pessoal das empresas do Casino Peninsular, Hotel Portugal e Pavilhão do Mar, trazendo deste passeio as mais gratas recordações», congratulou-se o Diário de Coimbra na edição do dia 9. Igual sucesso teve a segunda excursão, no fim de semana seguinte, no entanto, a 16 do mesmo mês, o jornal comunicouver-se obrigado a suspender a iniciativa, «até nova data», pelo facto de «todos os hotéis da Figueira da Foz se encontrarem, presentemente, sem um único quarto vago».
Mais de três centenas de figueirenses, transportados em automóveis e motocicletas, participaram numa visita a Coimbra no dia 4 de junho de 1933. Organizado para fortalecer as relações de amizade entre as duas cidades, o “passeio automobilístico” teve como ponto alto, na parte da manhã, uma sessão solene de boas-vindas na Câmara Municipal, em que se
«ergueram muitos “vivas” à Figueira da Foz e a Coimbra». «O extenso cortejo, por entre aclamações duma multidão que se estendia ao longo dos passeios, atravessou as ruas da Figueira da Foz e da Sofia. Na Praça 8 de Maio, aguardava os visitantes uma multidão enorme, que os aclamou demoradamente», registou o Diário de Coimbra. Em seguida, «os excursionistas diri-
giram-se a Vale de Canas, acompanhados por muitas pessoas desta cidade», onde houve piquenique e a tarde de convívio foi animada com chá dançante, música pela banda de Taveiro e atuação de ranchos folclóricos.
Idêntico sucesso teve a «excursão de automobilistas» que Coimbra levou a efeito no mês seguinte para retribuir a visita da Figueira da
Foz. No dia 16, «cerca de 60 automóveis tomaram parte no passeio, levando as figuras mais representativas das forças vivas da cidade», que foram recebidas com entusiasmo pelo povo figueirense. À sessão solene na Câmara seguiu-se um animado piquenique na Serra da Boa Viagem e, antes do regresso a Coimbra, um chá dançante no Casino Peninsular.
Também para «intensificar a propaganda da Figueira da Foz», o jornal dedicou, em finais de julho desse ano, uma série de reportagens à “formosa praia” e à animação da cidade. E na edição de 5 de agosto anunciou que seria inaugurado no fim de semana um “placard” do Diário de Coimbra no Salão de Inverno do Grande Casino Peninsular, onde seriam «afixadas todas as informações da última hora, não só do país como do estrangeiro», bem como começaria a publicar na semana seguinte «crónicas de todas as festas mundanas que se realizem naquele casino, durante a época balnear, da autoria de uma ilustre e distinta senhora daquela cidade, relatando-as o mais desenvolvidamente possível». M.S.
Uma “ilha turbulenta” na Conchada
26/7/1933 «Há ali, para os lados do cemitério da Conchada, uma quinta denominada da “Misericórdia” aonde se aglomera um montão de barracas de madeira, que formam uma enorme “ilha” que dá guarida a centenas de famílias pobres. Até aqui está bem, o que não está certo é que, adentro daquele recinto, os vizinhos permaneçam em constantes ralhos, proferindo as maiores obscenidades e chegando por vezes a envolverem-se em desordem. A quem de direito pedimos providências», escreveu o Diário de Coimbra a 26 de julho de 1933, numa nota que intitulou “Uma ilha turbulenta”. Dias depois, a 31 de julho, na coluna “Jornal do público”, dava-se conhecimento da indignação dos moradores do Bairro da Conchada pelo «facto do aludido bairro se encontrar num extraordinário estado de porcaria, agravado com as nuvens de pó que ali se levantam continuamente». «A este estado de coisas que, só por si, tornam o bairro inabitável, há que acrescentar a série de obscenidades que ali se profere continuamente. Para estes casos chamamos a atenção das entidades respetivas», alertava o jornal.
Máquina na farmácia para fabricar gelo
6/7/1933 Foi notícia, na edição de 6 de julho de 1933 deste jornal, que em Águeda a «conhecida e acreditada Farmácia Vidal» estava «procedendo à montagemde uma máquina para fabrico de gelo, que pode produzir ate 100 quilos diários». «É um importante melhoramento para a nossa terra onde há muito se fazia sentir a falta do gelo, quer para doenças, quer para usos domésticos no verão. Tinha aquele de vir de longe mesmo para o hospital desta vila, onde o seu gasto é frequente e por vezes urgente o seu emprego. A iniciativa do sr. Álvaro Vidal merece, pois, os maiores louvores», comentou o correspondente do Diário de Coimbra naquela localidade.
Diário de Coimbra Memórias
3/7/1933 Com o percurso pelo Vale de Coselhas ainda em mente, pediam-se medidas para evitar os inconvenientes e os “inúmeros desastres” no ramal
COMBOIOS A ATRAVESSAR A CIDADE ERAM “PERIGO E PREJUÍZO PARA O PÚBLICO”
Era mais um no rol dos «inúmeros desastres» que os comboios ocasionavam na «linha do caminho de ferro da Lousã».
«Ontem, pouco depois das 16h00, quando o comboio que regressava da Lousã passava na Avenida Navarro, em frente do Coimbra-Hotel, colheu o automóvel 11531-S, guiado pelo seu proprietário, sr. Júlio Apóstolo, enfermeiro dos Hospitais da Universidade. Este, que vinha ao lado da linha férrea e pretendia passar entre o comboio e o automóvel 11961S, Buick, do sr. António Gonçalves Silva, de Lobão, que se encontrava parado naquele local, foiapanhado pelo estribo mais saliente de uma das carruagens, arrastado alguns metros e arremessado violentamente de encontro àquele veículo. O sr. Júlio Apóstolo, que deu a tempo pela gravidade do perigo, lançou-se para fora do carro. O desastre deve atribuir-
-se certamente a uma precipitação daquele enfermeiro, que na altura de se encontrar entre o comboio e o outro automóvel, se desviou para o lado do primeiro, visto que nem a máquina nem o furgon apanharam o seu carro. Os veículos ficaram muito danificados, principalmente o do sr. Júlio Apostolo», relatou o Diário de Coimbra a 3 de julho de 1933.
O caso, de que felizmente não resultaram danos pessoais, justificou da parte do jornal, na mesma edição, uma nova tomada de posição relativamente à segurança da circulação do ramal ferroviário da Lousã, em particular no atravessamento da cidade de Coimbra.
«Isto vem a propósito dos vários desastres que se têm dado naquela linha e da necessidade
que há em evitá-los. O movimento de automóveis tem aumentado extraordinariamente nos últimos anos. E o movimento, em geral, da cidade, também não é nada que se compare com o que era aqui há vinte anos atrás. A linha da Lousã, pelo traçado que leva até à Portela, é hoje um entrave ao desenvolvimento de uma parte da cidade e é ao mesmo tempo um perigo e um prejuízo para o público», considerava.
E apontava exemplos: «As passagens de nível, à Arregaça, sem qualquer espécie de resguardo, parece estarem sempre a desafiar um desastre grave. Há ali pontos em que um comboio que venha para passar só é visto quando se entra em cima das linhas. Mais adiante, nas passagens de nível da Estrada da Beira e da ladeira
de S. João, as cancelas são fechadas por vezes com uma antecedência extraordinária, o que obriga à paralisação do trânsito de viaturas, formando-se longas filas».
Tudo isto, alertava, «acarreta inconvenientes e prejuízos consideráveis, pelo que já é tempo de se lhe procurar dar remédio». E «o remédio mais radical seria o desvio da linha pelo Vale de Coselhas até à Portela» – alternativa, com traçado que contornava Coimbra a norte, que à época ainda era motivo de discussão na cidade. Duvidando no entanto da viabilidade de tal solução, havia que tratar, «para já, de defender as passagens de nível e de montar na Estrada da Beira uma passagem subterrânea por forma a fazer-se o trânsito dos carros por debaixo da linha férrea». Desta forma, argumentava, «evitar-se-ão graves desastres sempre em risco de se poder dar, e não se prejudicará a viação acelerada com as demoras junto às cancelas, durante longos minutos, por vezes, mesmo meia hora, como já tivemos ocasião de observar».
«E já que tanto se fala em turismo queremos acentuar a indignação de uns estrangeiros que iam em direção da Serra da Estrela e que ali, ao Calhabé, pretendiam voltar para trás aborrecidos com a demora pelas cancelas fechadas», rematava o artigo. M.S.
Uma associação para ajudar beirões em São Paulo
2/7/1933 Havia em São Paulo «uns cinco mil beirões» que tinham rumado ao Brasil à procura de melhores condições de vida.
Na edição de 2 de julho de 1933 o Diário de Coimbra noticiou a criação naquela cidade de uma associação regional, o Centro Beirão, para prestar assistência a compatriotas, a exemplo da comunidade emigrante transmontana.
«Mal imagina o interesse que a ideia da fundação do nosso Centro vem despertando entre os nossos conterrâneos. Há quinze dias, mais ou menos, que metemos mãos à obra, e vemos, com satisfação, que só torna cada vez mais fácil aquilo que antes supunhamos difícil,
eriçado de obstáculos», disse-nos o sr. Abel Augusto Sales, presidente da diretoria provisória e pessoa de grande prestígio entre os homens da Beira», referia o texto, adiantando que mais de 200 emigrantes já
se tinham inscrito e que eram «inúmeras as felicitações» por uma iniciativa que visava «congregar para fins de beneficência os beirões que andam por aí dispersos e que não fazem parte de nenhuma instituição».
Em conversa com o correspondente do nosso jornal, o compatriota nomeado para presidir à diretoria provisória do Centro Beirão explicou a finalidade da nova associação.
«O que ficou resolvido que constituirá a finalidade do Centro é o seguinte: congregar os beirões numa associação de socorro mútuo, que dará aos seus associados assistência médica e farmacêutica; repatriação dos necessitados; enterro dos sócios pobres e socorro às suas famílias; procurar colocação para os desempregados; criação de uma biblioteca, escolas, diversões, e tudo quanto possa fazer-se em benefício dos associados, de acordo com os estatutos. Sem
caráter político nem religioso, tendo em vista apenas socorrer os que dele possam vir a necessitar, tornando sócios todos os beirões e pedindo-lhes uma limitada contribuição mensal, a nossa entidade visa, acima de tudo, dar, como um direito, aquilo que poderia ser recusado como esmola», precisou Abel Augusto Sales.
As várias associações portuguesas que existiam em São Paulo na década de 30 do século passado, nomeadamente o Centro Beirão, a União Transmontana, a Casa do Minho, a União Portuguesa e o Centro do Douro, viriam a juntar-se numa só instituição, a Casa de Portugal, fundada em 13 de julho de 1935.
Diário de Coimbra Memórias
Estudantes no consultório do curandeiro
23/7/1933 O correspondente do Diário de Coimbra em Ladoeiro (Idanha-a-Nova) confessou algum espanto pelo «número de pessoas que, ultimamente, nesta região, vai consultar curandeiros ou “soldadores”, como aqui lhes chamam». «Ao que nos dizem, as casas daqueles cavalheiros têm farta concorrência desses papalvos que ali vão procurar mezinhas, não só desta redondeza como de Lisboa e de outros pontos do país», escreveu na edição de 23 de julho de 1933. Era o caso de uma mulher daquela localidade que, «um dia destes, depois de ter consultado o médico, foi ter com um dos tais trampolineiros, tido em muita consideração, para que lhe receitasse qualquer coisa que lhe sarasse uma dor que tinha numa perna. O homenzinho, depois de ter observado a cliente, receitou o seguinte:3 litros de água salgada, 3 litros de vinagre, 100 gramas de enxofre e 100 gramas de mostarda, juntar estes ingredientes e fervê-los, sendo exposta, a perna dorida, aos vapores daquelas substâncias». No consultório, reparou, encontravam-se também «dois estudantes que iam saber o motivo porque ficaram reprovados». «Francamente! parece inacreditável que tais factos se estejam dando, e, sobretudo, em pessoas que podiam afugentar esses ingénuos que se deixam iludir por tais charlatães que, tão descaradamente, exercem a sua profissão. Perguntamos: quando haverá quem ponha cobro a isto?», rematava.
Vedor à procura de água para o Hospital dos Covões
26/7/1933 Noticiou o jornal, a 26 de julho de 1933, que se encontrava em Coimbra o padre António Gomes Peixoto, «conhecido vedor» (nome dado à pessoa que procurava água no subsolo) do Minho contratado para «os trabalhos da marcação da exploração das águas na Quinta dos Vales para o Hospital da Colónia Portuguesa do Brasil» (Hospital dos Covões).
MILHARES PERCORRERAM A CIDADE EM HOMENAGEM AO DEMOCRATA JOSÉ FALCÃO
Uma multidão compareceu no Largo Miguel Bombarda (hoje Largo da Portagem) ao início da tarde de 22 de maio de 1933 para a «manifestação republicana de homenagem à grande figura da Democracia que foi José Falcão», convocada pelo Centro Republicano Académico de Coimbra.
«Milhares de pessoas tomaram parte na homenagem levada ontem a efeito à memória de José Falcão, que resultou numa grande manifestação de fé republicana», assinalou o Diário de Coimbra na edição do dia seguinte.
O extenso cortejo pôs-se em marcha pelas 14h00, seguindo os participantes pelas ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz, dirigindo-se, depois, à Avenida Sá da Bandeira.
«Sucediam-se os “vivas”à República. Ao passar em frente do Diário de Coimbra [na altura sediado na Avenida Sá da Bandeira] ouviram-se muitos “vivas” à Imprensa republicana e ao nosso querido diretor sr. dr. Sílvio Pélico, Filho. Junto do monumento aos Mortos da Grande Guerra, o cortejo parou,
por momentos, enquanto eram depostos alguns ramos na placa de relva que o circunda», relatou o repórter.
A manifestação seguiu pela Praça da República, Rua Alexandre Herculano, Ladeira do Liceu e Rua Cândido dos Reis [na Alta universitária], onde parou em frente da Associação Académica, e no monumento a Luís de Camões [localizado então ao lado da Porta Férrea, donde viria a ser removido em
1948] «foram depostos mais ramos de flores junto do bronze que perpetua a memória do grande Épico».
O cortejo dirigiu-se à antiga Rua da Trindade (atual Rua José Falcão), parando em frente do prédio onde viveu o «grande democrata» e professor da Faculdade de Matemática, que nasceu no concelho de Miranda do Corvo em 1841 e morreu nesta cidade em 1893, aos 51 anos, vítima de tuberculose.
De regresso ao Largo Miguel Bombarda, os «milhares de manifestantes» apertaram-se num trajeto pela Rua Guilherme Moreira, Rua do Norte, Largo da Sé Velha, Rua Joaquim António de Aguiar e Couraça da Estrela.
Junto ao imponente monumento do estadista Joaquim António de Aguiar (o “Mata-Frades”) «foram depostos mais ramos», enquanto que «uma deputação seguiu, em dois automóveis, para Santo António dos Olivais, a fim de depor flores no túmulo de José Falcão».
Na Portagem «a multidão comprimia-se e os “vivas” sucediam-se, com mais entusiasmo que nunca». «Ao cimo daquele mar de cabeças descobertas, ergueu-se, então, uma criança, com fato de marujo, envolta na bandeira nacional e coberta com uma capa de estudante. O que se passou, então, não é possível descrever-se. Foi um delírio de aclamações à República», registou o Diário de Coimbra. M.S.
Guarda-redes de Coimbra em digressão pela América do Sul
Foi, em tempos de monarquia, um dos grandes paladinos dos ideais republicanos.
Nascido em 1 de junho de 1841 na freguesia de Pereira, do concelho de Miranda do Corvo, José Joaquim Pereira Falcão estudou no Liceu de Coimbra (escola que hoje tem o seu nome) e ali foi professor de Alemão até 1873.
«Espírito liberal, amigo de Antero de Quental e de João de Deus, e admirador de Proudhon, dedicou-se às ideias republicanas». «Hábil
polemista e jornalista de grandes recursos», José Falcão foi em 1878 cofundador do semanário republicano “A Justiça” e em 1884 publicou anonimamente a “Cartilha do Povo”, «um dos escritos mais notáveis de propaganda republicana», que no mesmo ano teve quatro edições, com 30 mil exemplares. Foi encarregado de reorganizar o Partido Republicano no Porto em 1891 e proposto para deputado em 1892, sintetiza uma nota biográfica publi-
cada no site da Universidade de Coimbra, onde se doutorou em Matemática em 1869. Como professor catedrático da Faculdade de Matemática, regeu desde 1874 as cadeiras de Mecânica Celeste e de Astronomia, e foi ainda, em 1890, director interino do Observatório Astronómico.
O professor e político republicano faleceu a 14 de janeiro de 1893 na sua casa na Alta de Coimbra, tendo sido sepultado no cemitério de Santo António dos Olivais.
11/7/1933 O Diário de Coimbra destacou, a 11 de julho de 1933, o êxito da carreira desportiva de Fernando Alves, guarda-redes da equipa de futebol do Sport Club Conimbricense. A notícia, com o título “Um jogador de Coimbra que vai exibir-se no Brasil, Argentina e Uruguai”, dava conta de que o futebolista deveria seguir nesse dia para Lisboa «no rápido da manhã», juntando-se na Estação Velha à equipa do Boavista, que deveria acompanhar na digressão por terras sul-americanas. «Guarda-redes completo, de entradas profícuas, especialmente pelo seu arrojo, Fernando Alves é um elemento que hoje se afirma dentro de qualquer campo, um jogador popular em todo o país e o público da América do Sul vai, por certo, aplaudir as suas exibições, que hão de agradar plenamente a essas assistências exigentes e conhecedoras», comentou o jornal, recordando que as boas exibições do “keeper”chamaram «a atenção da crítica de todo o país e levaram os selecionadores do “team” nacional a incluí-lo, como suplente, na equipa no recente encontro com a Espanha». A digressão do clube portuense deveria prolongar-se até outubro, com jogos «no Rio, São Paulo, Buenos Aires, Montevideu e outras cidades», e o embarque, previsto para 12 de julho, foi adiado por uns dias, divulgou o jornal na edição de 14 desse mês, confirmando que Fernando Alves passaria definitivamente a defender a baliza do Boavista, «tanto mais que Soares dos Reis, “keeper” do clube, já no último domingo alinhou como suplente pelo Foot-ball Club do Porto, no jogo contra o Desportivo da Corunha».
Resolver crise vinícola à pancada
18/7/1933 Com certo humor, o correspondente do jornal em Condeixa dava conta, a 18 de julho de 1933, que aquela vila, «sempre tão pacata», tinha sido na noite anterior «alarmada por um grupo de indivíduos que desejam ver resolvida a crise vinícola e por isso consumiram tal quantidade do precioso líquido que se envolveram em desordem, havendo durante toda a noite grossa pancadaria».
Barbearia Universal com novidade para as senhoras
18/7/1933 A Barbearia Universal, no n.º 145 da Rua Ferreira Borges, mantinha aberto desde 1926 um «gabinete destinado ao corte de cabelo de senhora», serviço que publicitou na edição do Diário de Coimbra de 18 de julho de 1933. Apresentando-se como Salão Universal, o conhecido estabelecimento de Basílio Dinis informava as estimadas clientes que ali se executavam «todos os trabalhos modernos de cabeleireiro sob a direção técnica de José Monteiro e Machado», com uma tabela de preços que iam dos 4$00 do corte aos 10$00 do corte e ondulação, passando pelos 6$00 da ondulação Marcel e 7$50 da “mise-en-plis”, além de serviços de manicure a cinco escudos. Prometia também para breve a novidade da «ondulação permanente com o rei dos aparelhos, o “Dolfor”, que revolucionou Paris». As interessadas podiam marcar hora pelo telefone 245.
Multa para infratores nos exames de liceu
18/7/1933 Noticiou o jornal, a 18 de julho de 1933, que o ministro da Instrução Pública mandara aplicar multa de 250 escudos, nos exames de liceu, «a todos os alunos que tenham de prestar as provas orais, sejam quais forem as classificações obtidas nas escritas, que fossem mandados sair das salas de exame por irregularidades prestadas durante as provas».
Diário de Coimbra Memórias
8/6/1932 Assoreamento comprometia navegabilidade na foz do Mondego. Navio com carvão encalhou e barcos bacalhoeiros temiam o regresso
RECLAMAVA-SE URGÊNCIA NAS OBRAS DO PORTO E BARRA DA FIGUEIRA
Carregado com 460 toneladas de carvão para a Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira Alta, o navio a vapor holandês “Bergendol”, procedente de Cardiff, no País de Gales, encalhou «no canal de acesso ao cais acostável, junto à muralha da doca», à entrada para o porto da Figueira da Foz.
O incidente, noticiado pelo Diário de Coimbra na edição de 8 de junho de 1932, relançou a urgência de obras no porto e barra, onde o problema do assoreamento constituía séria ameaça à segurança e um entrave ao crescimento da atividade comercial e marítima.
Era a primeira vez que o “Bergendol”entrava no porto figueirense e admitia-se que, se não conseguisse libertar-se com a maré, «para ir fundear defronte da estação do caminho de ferro», a descarga seria feita no local onde estava encalhado.
«Mais do que nunca impõe-se a vinda de engenheiros estrangeiros construtores de portos a fim de ser feita uma competente vistoria e estudos correspondentes há muito reclamados às obras do porto e barra, já executadas e por exe-
cutar», defendeu o jornal.
Reconhecidamente necessário, o investimento na melhoria das condições de navegabilidade vinha decorrendo a “conta-gotas”, com sucessivas paragens, em boa parte devido a atrasos na disponibilização de verbas pelo Estado, que aprovara 6 mil contos no orçamento de 1931 para as obras do porto e barra – um financiamento que a cidade festejara com manifestações populares
de regozijo e o «estralejar de centenas de foguetes».
A 17 de novembro desse ano, o jornal dava conta de que as obras estavam suspensas, deixando 300 homens sem trabalho. «A Junta Autónoma do Porto e Barra da Figueira da Foz, no entanto, não desanima. Confiando nas suas démarches, aguarda a cada momento remessa de verba para dar começo aos trabalhos, há 15 dias paralisados», referia a notícia.
Já a 8 de janeiro de 1932 comunicava-se que o ministro do Comércio autorizara o levantamento de 2.500 contos para dar «continuação aos trabalhos de dragagem e enrocamentos, devendo as obras recomeçar brevemente, e liquidando-se também os débitos em atraso num montante de 600 contos».
A 8 de setembro de 1932, o jornal noticiou que a Associação Comercial e Industrial da Figueira da Foz solicitara ao mi-
nistro do Comércio «providências imediatas» face ao preocupante estado do assoreamento do porto, transmitindo os «sérios receios» dos armadores dos barcos bacalhoeiros que se encontravam na Terra Nova, temendo que estes, «no regresso próximo», não pudessem «demandar a barra».
«O porto de mar, que ainda hoje efetua o comércio do bacalhau, que nos vem da Terra Nova, o qual nos coloca em comunicação com outros portos, precisa de uma mais larga expansão, que só o melhoramento das condições da navegação marítima e as possibilidades de melhor acesso à barra da Figueira podem dar», comentou o Diário de Coimbra num artigo publicado a 15 de dezembro desse ano, destacando o melhoramento do porto de mar como «uma das aspirações da Figueira, se não a primeira».
Havia pois que resolver depressa, mas bem. «É mister que os trabalhos de natureza hidráulica, que felizmente foram iniciados com bons auspícios, sejam orientados no sentido de se conseguir um porto de abrigo e comercial segundo as diretrizes que a engenharia e a ciência aconselhem em idênticas circunstâncias. O assoreamento constante e inevitável, segundo nos informam, não é evitado pela forma como se têm efetuado os trabalhos, resultando improfícuos e sem utilidade», lamentou o redator. M.S.
Uma árvore era “coisa de somenos importância”
10/8/1933 Em defesa das árvores, tal como hoje fazem grupos de cidadãos indignados com abates justificados pelas obras de implementação do novo sistema de mobilidade urbana de Coimbra (Metrobus), o jornal publicou nove décadas atrás, a 10 de agosto de 1933, um artigo que refletia sobre a necessidade de proteger a natureza.
Com o título “Destruição de árvores”, começava por denunciar o facto de na Rua
Lourenço de Almeida Azevedo, da Praça da República para Celas, ter aparecido «uma árvore partida, daquelas que ali foram postas no ano passado e que lá se encontram a morrer de sede», um ato que, considerava o articulista, merecia castigo e só era pena que não se descobrisse o autor.
«Na França, na Alemanha e noutros países a árvore é respeitada, porque ela não constitui só um elemento de valor,
é também um ornamento que alegra e dá vida ao local onde é plantada. Veem-se por lá árvores seculares, verdadeiros monumentos, que os povos respeitam com veneração. Aqui não. A árvore em Portugal é uma coisa de somenos importância. Cultiva-se por cultivar, às vezes até para não deixar em poisio alguma leira de terra imprópria para outra coisa. Mas tratá-la, ministrar-lhe o carinho que ela merece, isso é que não é hábito entre
nós, que quase nem sabemos como isso se faz. Se é bonita, se pela primavera se apresenta florida chamando para ela a nossa atenção, ainda poderá viver alguns anos para nos deliciar com a sua beleza. Se, por má educação se nos apresenta com as ramagens truncadas, tendo por isso o aspecto desgraçado que nos dá a criança que nasceu com defeitos, nem para ela olhamos, para não termos de lamentar a pouca vida que virá a ter», opinava o
autor do texto.
Na cidade de Coimbra, observava com tristeza, a destruição de árvores era «o prato do dia», «hoje uma, amanhã outra, no outro dia outra, e assim sucessivamente».
«Tenhamos em vista o que nesse sentido faz a Câmara Municipal. E quem nos diz a nós que o gesto do rapaz que partiu aquela a que nos referimos, não será a consequência do mau exemplo que a Câmara lhe deu?», questionava.
Diário de Coimbra Memórias
“Um rio de águas minerais”
4/8/1933 Ao «sítio do Lagar Velho», próximo de Miranda do Corvo, afluía muita gente para banhos no rio Dueça, informou o correspondente do jornal naquela vila, observando, em texto publicado a 4 de agosto de 1933, que «com estes banhos têm obtido bons resultados quase todos os que ali acorrem e que sofrem de moléstia de pele». Dava o exemplo de «uma mulher duma aldeia desta freguesia que sofria de doença cutânea a ponto do corpo lhe ficar todo em chaga», a quem aconselharam estes banhos «que produziram o efeito desejado». «Durante o passado inverno grassou nestes sítios, principalmente em crianças, uma doença – espécie de furunculose benigna mas teimosa – que se prolongou pela primavera fora. Com estes banhos a doença tem desaparecido. Muitos outros casos de curas se podiam apontar. Pena é que até hoje ninguém tenha mandado proceder à análise destas águas, que devem ser mais ou menos sulfurosas tendo em mistura outros sais. Para o comprovar basta dizer que é imprópria para lavagem da roupa. Aqui não se aproveita para tal fim porque não dissolve o sabão. Quando este é aplicado na roupa transforma-se numa espécie de cal e não embranquece», contava o autor, na notícia que intitulou “Um rio de águas minerais”.
Economia e desperdício de eletricidade
11/8/1933 Na rubrica “Reclamações”, da edição de 11 de agosto de 1933, lia-se que a Câmara de Coimbra, «naturalmente por medida económica, mandou há tempos reduzir a potência das lâmpadas elétricas da Rua Capitão Luís Gonzaga, que se encontra quase às escuras». «Em compensação outras há que têm luz em demasia. A de Lourenço Almeida Azevedo, por exemplo, é iluminada às 7 horas da tarde, como observámos anteontem e ontem, hora a que o astro-rei ainda se encontra no exercício das suas funções», reparava.
Omês de agosto de 1933 foi marcado por duas tragédias rodoviárias – uma na Ribeira de Prilhão, a cinco quilómetros da Lousã, a outra na passagem de nível de Ceira, em Coimbra –que, com intervalo de duas semanas, ceifaram a vida a sete pessoas e feriram duas dezenas. No domingo de 6 de agosto, pelas 17h00, chegou à vila da Lousã a notícia de que na estrada para Arganil, no sítio da Ribeira de Prilhão, da freguesia de Vilarinho, uma camioneta conduzida pelo proprietário, Daniel Mateus, de 27 anos, casado, natural de Bruscos, no concelho de Condeixa, regressava do mercado de Góis com nove vendedeiras de sardinha quando se despenhou por uma ribanceira de «130 metros de profundidade».
Na notícia que publicou a 9 de agosto o Diário de Coimbra lembrou que dias antes, próximo do mesmo local, tinham perdido a vida noutro desastre «um rapaz, na flor da idade, e um homem que deixou em orfandade cinco filhos de tenra idade», no entanto o de domingo atingira «maiores proporções, pelo número de mortes e também pelo de feridos».
O acidente deu-se quando a camioneta Citroen, ao descrever uma curva próximo de Ribeira do Prilhão, se deparou com um carro de bois a circular fora de mão, conduzido por David Antunes, de 22 anos, da Portela de Góis.
«A estrada, que, foi reparada há poucos dias, apresenta ainda as bermas com pouca consistência. No local do sinistro a berma foi construída com o cascalho arrancado ao antigo pavimento substituído, razão porque o enorme precipício se torna mais perigoso na parte exterior da curva. O caso é que o “Danilo”, como é conhecido
o Daniel Mateus, para se desviar do carro de bois, encostou, talvez demasiado, a camioneta à berma, que, pela sua deficiente construção, se desfez. A camioneta, aos trambolhões pela enorme ribanceira, despenhou-se na ribeira que corre ao fundo», descreveu o jornal.
Entre as vítimas mortais, todas residentes em Bruscos, estavam a mulher e a mãe do condutor, Rosa Mamede, de 23 anos, e Prazeres Mateus, de 50 anos, e ainda Maria da Fonte, de 50 anos, «uma pobre mulher, com bastantes filhos, que andava na faina da sardinha na mira reconfortante de angariar uns poucos vinténs».
Também de Bruscos eram os restantes sinistrados. Quatro mulheres, em estado grave, fi-
caram internadas no hospital da Lousã, quatro feridos ligeiros foram ali pensados e outros dois na Farmácia Fonseca.
Uma «trágica ocorrência» que, avaliou o jornal, fora «resultado da imprevidência de todos, do carreiro, do motorista e de quem superintende nos serviços das estradas que consente fazerem-se bermas como estas em tais curvas, onde a morte espreita a todo o momento». «Naquele ponto, não era demais fazer-se um paredão. Tal como está, é perigosíssimo», avisou.
Quinze dias depois, nova tragédia abalava a região. Na tarde de 20 de Agosto, domingo, o comboio que ligava Lousã a Coimbra colheu violentamente na passagem de nível de Ceira
uma camioneta conduzida por João Santos Resende, de Penacova, que regressava da «maior e mais famosa romaria da região, o Senhor da Serra», em Semide, ficando «completamente destruída e gravemente feridos a maior parte dos passageiros, que perfaziam por completo a lotação do veículo».
«Pedidos os socorros para esta cidade seguiram para ali os bombeiros das duas corporações e diversos carros de praça, que transportaram para o Hospital da Universidade todas as vítimas do desastre», relatou o jornal no dia seguinte.
Perderam-se quatro vidas neste acidente: o empregado do comércio Arnaldo Marques Fernandes, natural da Ponte da Mucela e residente em Coimbra (que «teve morte instantânea, sendo o cadáver removido da linha a uma distância de vinte metros»); o padeiro Silvério Inácio, de 24 anos, de Carregal de Friúmes, Penacova; João dos Santos Resende Júnior, filho do proprietário e motorista da camioneta; e uma menina de 18 meses, também de Penacova, que viajava ao colo da mãe.
A CP rejeitou responsabilidades, alegando tratar-se de uma passagem de nível sem movimento que justificasse guarda ou cancelas, pelo que competia «àqueles que a tenham de atravessar o assegurarem-se se algum comboio se aproxima».
No entanto, alvitrou o jornal, a passagem de nível de Ceira redobrara de importância e movimento ao ser concluída a estrada do Senhor da Serra, pelo que deveriam as entidades responsáveis ter acautelado a sua reclassificação, «ordenando que o local fosse resguardado por cancelas e vigiado». M.S.
Recluso fugiu dos Hospitais da Universidade
10/8/1933 Da enfermaria-prisão dos Hospitais da Universidade evadiu-se Teodoro Inácio Graça, de 22 anos, natural de Aldeia do Carvalho, concelho da Covilhã, que estava a cumprir na Penitenciária de Coimbra a pena de «quatro anos de prisão maior celular», a que se seguiriam «oito de degredo, na alternativa de 15 anos de degredo em possessão de 1.ª classe», por crime de furto. O recluso, que apresentava «indícios de alienação mental», tinha sido internado «a fim de ser operado, em virtude de ter ingerido vidro miúdo, pregos, uma tesoura e outros utensílios». Era aliás reincidente nesta prática, «pois que há perto de um ano tinha feito o mesmo e teve de fazer-se uma intervenção cirúrgica», referia a notícia publicada a 10 de agosto de 1933. O fugitivo viria a ser capturado no dia seguinte pelas autoridades na Figueira da Foz.
Água dos arrozais subiu uma dezena de metros
28/7/1933 Um caso insólito, comunicado pelo correspondente do jornal em Ançã, foi publicado a 28 de julho de 1933, com o título “Uma tromba de água que se eleva a uma dezena de metros provocando o pânico entre os trabalhadores”. «Informa-nos pessoa que nos merece todo o crédito, que na Quinta do Rol, propriedade do sr. Nuno Pinto Basto, nuns campos de arroz, nuns alqueves confinantes com os arrozais do sr. Manuel Baptista Lopes, foi observado, anteontem, pelos trabalhadores do primeiro proprietário, que procediam à monda do arroz, este estranho espetáculo: a água do arrozal elevou-se subitamente, em tromba, a mais de uma dezena de metros e, simultaneamente, uma chama de fogo fez oscilar um choupo que existe no referido local. O singular fenómeno provocou o pânico entre os trabalhadores, que fugiram, espavoridos, sendo o assunto de todas as conversas na região», relatou o autor, no texto enviado à redação do Diário de Coimbra.
Pais pediram fim do exame de admissão à Universidade
2/8/1933 O jornal noticiou a 2 de agosto de 1933 «uma importante reunião» de pais e encarregados da educação dos alunos que tinham acabado de concluir o curso complementar (7.º ano) do liceu em Coimbra, para «tratar da questão da dispensa do exame de admissão à Universidade». No encontro, realizado no edifício da Câmara Municipal de Coimbra, «vários oradores puseram em relevo as inconveniências de ordem pedagógica que resultam da realização desse exame» e foi «aprovada por aclamação a redação de um telegrama a enviar ao sr. ministro da Instrução», apelando ao seu «alto espírito pedagógico» no sentido de acabar com o exame para acesso à Universidade, «cuja preparação prejudicaria inteiramente o período de férias, impossibilitando os alunos de poder descansar depois do trabalho violento do ano letivo findo». Uma posição ao encontro da campanha em curso «em todo o país a favor da extinção desse exame», que viria a ser bem sucedida pois, lia-se no final do texto, o titular da pasta da educação decidiu que naquele ano não se realizariam tais exames de admissão.
Sorteio de “peru vivo” na matinée do Sousa Bastos
5/8/1933 A gerência do Cine-Teatro Sousa Bastos, que acabara de reabrir após grandes obras de remodelação, apostava em dinamizar as matinées aos domingos. Com bilhetes a preços reduzidos (três escudos no balcão, dois e um na primeira e segunda plateia), as sessões eram «cada vez mais concorridas». A tarde de 6 de agosto de 1933 apresentava interesse acrescido, «para satisfação neste tempo de crise e de calor»: o sorteio de um “peru vivo”, em «complemento do magnífico programa» anunciado, com o filme “Tragédia da Selva” (também promovido com o título “Caçá-los vivos”). «Quem será o feliz caçador?», questionou o jornal, na edição da véspera.
Diário de Coimbra Memórias
10/6/1933 As excursões ferroviárias iam ser retomadas após o sucesso, no ano anterior, de uma iniciativa que ajudava a valorização turística do país
NINGUÉM SABIA AO QUE IA NOS “COMBOIOS MISTÉRIO” ORGANIZADOS PELA CP
Foi um sucesso a inovação de turismo ferroviário que a CP levou a efeito no verão de 1932 para promover e dar a conhecer os «magníficos panoramas e belezas de Portugal».
Na edição de 10 de junho de 1933 o Diário de Coimbra noticiou que a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses decidira retomar os “comboios mistério”, tendo em conta o interesse despertado entre o público no ano anterior. «O primeiro destes comboios partirá de Lisboa no dia 17 do corrente de manhã, regressando na noite de 18-19. O preço dos bilhetes é 250$00 em 1.ª classe e 200$00 em 2.ª, compreendendo um longo percurso em caminho de ferro, passeios em autocarro, hospedagem num dos melhores hotéis, refeições e gorjetas, sendo apenas excetuadas as bebidas», esclareceu, não dando porém informações sobre o itinerário ou destino da excursão.
Quem se inscrevesse ia um pouco à aventura, confiando que a companhia ferroviária não deixaria de proporcionar
uma experiência interessante e agradável. À partida, a viagem era assim uma incógnita, como partilhou o enviado especial deste jornal que em Coimbra apanhou um desses “comboios mistério”, proveniente de Lisboa. «Quando, no sábado, o representante do nosso jornal entrou para o “comboio mistério” ninguém ainda sabia, nem mesmo os representantes da Imprensa, para onde íamos. E lá partimos sem destino, aventando-se umas poucas de opiniões,
e só quando nos aproximávamos da Régua, por entre aquela região produtora dos vinhos generosos do Douro é que começámos a desconfiar do rumo que levávamos», escreveu, na reportagem publicada a 7 de agosto de 1932.
Pedras Salgadas e Vidago foram as principais paragens desta excursão ferroviária –a sétima do ano, com lotação rapidamente esgotada –, que incluiu ainda o percurso em autocarros até Braga, «através da serra e por entre profundos va-
D.R.
cantados com a gentileza e atenção dos funcionários da CP – que, por exemplo, à saída da estação de Pedras Salgadas, quando «o comboio se punha já em marcha vertiginosa» para Vidago, fizeram-no parar, «pelo sinal de alarme, por verem um dos excursionistas que corria, linha acima, afirmando a esposa daquele senhor que seu marido tinha perdido o comboio por ter ido “lá fora”».
les e despenhadeiros, ora entre o Tâmega, ora entre o Cávado».
«O encanto destas esplêndidas viagens torna-se cada vez mais surpreendente porque o excursionista lançando-se para o desconhecido, para o “mistério”, sente a febre de perscrutar, com os olhos bem abertos, tudo o que lhe possa impressionar os sentidos», comentou o repórter, observando que os companheiros de viagem se sentiam «radiantes pelo passeio» e pela «enorme confraternização», mas também en-
A CP propunha-se organizar regularmente estas excursões ferroviárias aos fins de semana, com «itinerários dentro do país e todos absolutamente diversos». Transportando largas dezenas de passageiros, dois desses “comboios mistério”– um procedente de Lisboa e outro do Porto (com destino posterior à Serra da Estrela) – foram recebidos festivamente na Figueira da Foz nos dias 23 e 30 de julho, visitando os excursionistas o Casino, a Serra da Boa Viagem e outros pontos de interesse.
Também Coimbra queria ver-se incluída nesta ação de «valorização turística» do país, «a todos os títulos digna dos maiores louvores por parte do público». «As várias regiões de Portugal ficam devendo à CP inestimáveis serviços e desejaríamos que Coimbra ficasse devendo à Companhia dos Caminhos de Ferro a organização ou a paragem aqui de um “comboio mistério”», sugeriu o nosso jornal. M.S.
Um arraial em homenagem ao famoso “Padre Boi”
19/8/1933 O correspondente do Diário de Coimbra em Condeixa relatou, na edição de 19 de agosto de 1933, uma festa de homenagem ao célebre sacerdote João Antunes, conhecido popularmente pela alcunha de “Padre Boi” (devido ao «porte hercúleo» e «apetite voraz»), que tinha falecido dois anos antes.
«A poucos metros desta vila, mas já na freguesia de Condeixa-a-Velha, existe um aprazível lugar a que chamam Senhora das Dores. Era para aí que o saudoso Dr. João Antunes ia todos os dias fazer as suas
orações, tendo para isso mandado ali fazer um nicho onde colocou uma linda imagem. Um grupo de admiradores e de seus antigos discípulos desde a fundação do Orfeon de Condeixa de tão gloriosas tradições e da escola de desenho, que ele sustentava em sua própria casa, querendo render uma homenagem ao seu professor e amigo, lembraram-se de fazer uma festa à santa da sua devoção e no lugar de que ele tanto gostava», explicou na notícia.
O autor testemunhou a grande animação naquele domingo, com «barracas de tiro, rifas, fo-
gaças, petiscos e pequenas lembranças», cuja receita reverteria «a favor do monumento ao Dr.
João Antunes, que um grupo de amigos deseja levantar sobre a sua campa». Havia também «iluminações e danças populares, sendo um dos grandes atrativos o rancho infantil, cuidadosamente ensaiado pelos senhores António de Oliveira, Ramiro de Oliveira e José B. de Oliveira Pinto». Já na terça-feira, foi celebrada missa na capela da Quinta de S. Tomé, seguiu-se a procissão e à noite foi «queimado um vistoso fogo de artifício confecionado pelos pirotécnicos desta terra». «A quarta-feira foi destinada aos festeiros e festeiras que dança-
ram animadamente, tendo de tarde algumas famílias ido jantar ao local da festa. As barracas estavam lindamente ornamentadas tendo como vendedeiras as meninas da comissão que vestidas à minhota, davam às barracas um aspeto interessante. O nosso grupo de escoteiros também tinha uma vistosa barraca», descreveu ainda.
«Está pois o povo de Condeixa bastante satisfeito porque não tendo uma festa de arraial, viu que era possível, e agora espera que este exemplo não seja esquecido mas sim repetido», concluiu.
Diário de Coimbra Memórias
Prometia livrar incautos do serviço militar
13/8/1933 Na cadeia da comarca de Anadia deu entrada um homem acusado pelo presidente da Junta de Recrutamento Militar de «ter burlado diversas pessoas, entre elas José Marques Melo, natural do Vale, freguesia da Vacariça, a quem apanhou 1.000$00, com a promessa de o livrar do serviço militar». «Consta que o mesmo Comando vai participar de outros indivíduos, que por vários concelhos andam a enganar os pobres aldeões, apanhando-lhes avultadas quantias», noticiou o jornal no dia 13 de agosto de 1933.
Gratificação a bombeiros foi para luta contra a tuberculose
18/7/1933 Maria José Fernandes do Espírito Santo, moradora num prédio da Rua Oriental de Montarroio (atual Rua António de Vasconcelos), agradeceu aos Bombeiros Sapadores de Coimbra gratificando com 100$00 os elementos da corporação que «mais ativamente trabalharam» na extinção de um incêndio que deflagrou na sua habitação. «Estes resolveram entregar a referida importância ao Dispensário Anti-tuberculoso do Pátio da Inquisição, e ao mesmo tempo manifestar àquela senhora o seu reconhecimento pela generosa oferta», registou o Diário de Coimbra na edição de 18 de julho de 1933.
Comprava selos e autógrafos de famosos
11/8/1933 Um anúncio publicado a 11 de agosto de 1993 neste jornal dava conta do interesse em adquirir «uma boa coleção de selos da Europa e Américas, e aéreos de todo o mundo, assim como autógrafos de pessoas universalmente conhecidas (escritores, poetas, políticos, sábios, etc.) e trechos escritos e assinados pelos seus autores», devendo os interessados dirigir-se a Gil de Almeida, hospedado no Palace Hotel da Curia.
SIMULACRO DE INCÊNDIO NO COLISEU DE COIMBRA PARA AJUDAR BOMBEIROS
ano se podem recrear», escreveu o Diário de Coimbra.
Com programação eclética, o Coliseu abria também as suas portas a eventos solidários.
Folclore russo para promover novo Cine-Club em Coimbra
Erguido no Rossio do bairro de Santa Clara, em terreno hoje ocupado pelo Portugal dos Pequenitos, o Coliseu de Coimbra animava a quadra estival com uma programação diversificada e a preços acessíveis às classes populares.
Durante uma década, o público de Coimbra assistiu no redondel de Santa Clara a touradas mas também a espetáculos de circo, de variedades, revista, fado, garraiadas da Queima das Fitas, festas de beneficência, sessões de cinema ao ar livre e até combates de boxe, além de outros eventos culturais, recreativos e desportivos.
«O Grande Coliseu de Santa Clara é às quartas, sábados e domingos o “rendez-vous” das pessoas de bom gosto. O único local aprazível para passar estas noites sufocantes», apresentava-se, em anúncio publicado neste jornal a 12 de agosto de 1932.
Inaugurada em agosto de 1925, a maior praça de touros do país, com lotação para 10 mil pessoas, custara 750 contos e era propriedade de uma sociedade constituída por Filipe Pais Fidalgo, dono dos hotéis Avenida e Coimbra, o industrial Manuel Inácio e o construtor civil António Pedro.
A construção circular, toda em madeira (à exceção da cabina da máquina das projeções cinematográficas, em betão armado), viria dez anos depois a ficar «reduzida a um montão de destroços», devorada no incêndio incontrolável que ali deflagrou ao final da tarde de 4 de abril de 1935.
Premonitoriamente, a arena do Coliseu foi palco, dois anos antes, de um simulacro de incêndio que abriu «um grandioso espetáculo a favor dos cofres da benemérita corporação» dos Bombeiros Voluntários de Coimbra.
Para o sarau de 27 de agosto de 1933, domingo, anunciava-se «um emocionante simulacro de incêndio» com «arrojados exercícios de salvamento
a grande altura e escaladas» e «apresentação do belo material de incêndios».
A nova época de espetáculos no recinto de Santa Clara iniciara-se um mês antes, a 23 de julho, com «uma enorme enchente» e aplausos à super-produção “Raparigas de uniforme” – que «agradou extraordinariamente» – e à renovada aparelhagem sonora, acabada de instalar, que trouxe qualidade acrescida aos serões de cinema ao ar livre (os filmes sonoros tinham ali estreado em 10 de julho de 1931).
A gerência da «casa de espetáculos preferida pelo povo de Coimbra e arredores» prometia «soberbas exibições de cinema sonoro às classes populares que só nesta época do
Para ajudar os Bombeiros Voluntários a «custear as obras de construção da nova sede, que ficará sendo a melhor do nosso país», a sua direção organizou um sarau com a atração especial de «primeira vez o público assistir numa casa de espetáculos a um exercício de bombeiros».
«A casa, como era do esperar, estava à cunha», congratulou-se o jornal no dia seguinte ao «espetáculo grandioso e a preços populares», que começou pelas 21h00 e «terminou à 1 hora da madrugada». O sarau «abriu com o simulacro de incêndio, levado a efeito pelos bombeiros da corporação, constando de um ataque ao ecrã, com três agulhetas e salvados, montagem de mangueiras alemãs e várias manobras de escadas, trabalhos vivamente aplaudidos pelo público», registou o repórter, anotando que do programa agradaram também os fados e guitarradas e o «super fonofilme» da Paramount “O médico e o monstro”.
No dia do evento, o Diário de Coimbra preveniu que às 21h00 sairia a corporação dos Bombeiros Voluntários, «em sinal de alarme, até ao Coliseu de Santa Clara». «Trata-se de um simulacro de incêndio. Fica, pois, todo o público avisado para evitar sobressaltos e aproveita-se o ensejo para solicitar a comparência de toda a cidade neste espectáculo sensacional organizado em benefício de tão meritória corporação», apelou na edição de 27 de agosto. M.S.
6/8/1933 «Defender e propagar ao máximo o cinema, como elemento de cultura», era o propósito de uma nova associação que estava a ser constituída em Coimbra no verão de 1933. Na edição de 6 de agosto, o jornal informou que à sede provisória do Cine-Club Português, na Praça 8 de Maio, 45-1.º, «tem acorrido grande número de pessoas que ali vão fazer a sua inscrição como sócios fundadores, terminando essa inscrição no próximo dia 15, data em que deverá realizar-se a primeira assembleia geral que tratará da aprovação dos estatutos». A fim de promover a nova agremiação, agendou-se para 30 desse mês, no Coliseu de Coimbra, um «sarau de propaganda» em que a atração principal seria folclore russo executado por «uma família de camponeses» daquele país que «o Cine-Club Português fez contratar depois duma tournée realizada em Espanha com todo êxito». No recinto de Santa Clara atuariam ainda elementos do Grupo Karminoff Académico, «preenchendo uma parte do espetáculo com alegres larachas e pantominas», e exibia-se a finalizar «um filme francês que é outro sucesso, “Feras” [“Une belle garce”, 1930, de Marco de Gastyne], gentilmente cedido pela Agência Cinematográfica H. da Costa, L.da, de Lisboa, a quem se devem os últimos grandes êxitos cinematográficos». «Por tudo isto e atendendo a que os preços do Coliseu de Coimbra se conservam populares e ao alcance de todas as bolsas, é de prever que amanhã o vasto redondel de Santa Clara registe uma grande enchente», lia-se no jornal do dia 29 de agosto.
Tinha posses mas vivia como “um perfeito miserável”
9/9/1933 Com o título “As aparências iludem”, noticiou o Diário de Coimbra que em Viseu, na Rua Soar de Cima, morrera Joaquim Luís dos Reis, de 62 anos, «que se dedicava à venda de banha». «O seu aspeto, assim como o seu viver, era de um perfeito miserável. Como vivia só a polícia tomou conta do que se encontrava na sua residência, encontrando ali, além de mobiliário, três relógios, um fio de ouro com medalha, 1.492$70 em dinheiro, 3 letras comerciais no valor de 5.500$00 e grande quantidade de banha. O morto tem dois filhos que vivem em Lisboa, a quem vai ser entregue tudo», informou o jornal na edição de 9 de setembro de 1933.
Diário de Coimbra Memórias
28/9/1933 O jornal registou em três reportagens as remodelações que dignificaram as condições de funcionamento das duas esquadras da cidade
DA SALA DE AULAS À FISCALIZAÇÃO ECONÓMICA NA POLÍCIA DE COIMBRA
Foz do Dão protestava contra açude no Mondego
Instrução”
25/9/1933 Manuel Mendes dos Santos era professor na Escola de S. Bartolomeu mas também lecionava à noite na União Operária, instituição fundada anos antes em Coimbra «com o fim de prestar ao operariado vários benefícios de ordem material e moral, um dos quais é ministrar instrução e educação aos filhos do povo». Tinha a União Operária «duas escolas, uma diurna e outra noturna, ministrando nelas o ensino, inteiro e absolutamente gratuito». «Da noturna é professor desde 1927 o sr. Manuel Mendes dos Santos, que este ano apresentou uma lista de 18 operários a exame de Instrução primária do 2.° grau, cujas classificações honram sobremaneira quem os habilitou», escreveu o Diário de Coimbra a 25 de setembro de 1933, acrescentando que o mesmo docente levara também a exame outros 18 alunos seus da Escola de S. Bartolomeu. «Quem assim trabalha deve-se considerar um apóstolo da Instrução e um benemérito da Pátria, concorrendo tão nobremente para a extinção do analfabetismo, um dos maiores males da nossa terra», enalteceu o jornal.
Num conjunto de três reportagens, que começou a publicar a 28 de setembro de 1933, o jornal deu a conhecer as «completas remodelações» que transformaram a Polícia de Segurança Pública de Coimbra numa das «modelares organizações do seu género» no país.
Com o título “Uma obra que impôs uma corporação de Polícia”, o primeiro texto destacava o mérito do tenente Sérgio Vieira, dois anos antes investido nas funções de comandante da PSP de Coimbra e que de imediato iniciou uma reorganização dos serviços, com dois objetivos: primeiro, «elevar a polícia no conceito da população, torná-la respeitada, captar a confiança e dar à população a certeza de que a polícia está ali para a servir e defender»; segundo, «dar à corporação a sensação desse prestígio, instalando-a convenientemente».
«Um e outro, mercê da orientação superiormente traçada, eram em breve duas realidades positivas», observou o redator.
Da 1.ª esquadra da Polícia,
instalada no já desaparecido Colégio dos Lóios (ou de S. João Evangelista), na Alta de Coimbra, onde funcionavam também o Governo Civil, a Junta da Província da Beira Litoral e a Direcção de Finanças, sobressaía desde logo o investimento no posto antropométrico. «Existia um posto de identificação, porém, estava longe de corresponder às exigências. E um dos primeiros trabalhos foi, exatamente, instalar e dotar de excelente material os serviços de identificação. Tudo agora é simples e fácil, naquela teia emaranhada. Boletins, fichas arrumadas, catalogadas, como nas bibliotecas. Um “atelier”fotográfico, uma câmara escura montadas com inexcedível rigor. E um polícia fotógrafo», registou, anotando o «interessante» facto de a corporação dispor nas oficinas de pessoal para todo o serviço, «do fotógrafo ao sapateiro, passando pelo alfaiate, pelo barbeiro, etc.».
Do “hall” aos calabouços, as remodelações retiraram o «ar pesado e lúgubre» às instalações policiais, que se apresen-
tavam agora «asseadas, limpas e arejadas». Não havendo «onde fazer permanecer o piquete noturno de prevenção», o comandante ordenou o aproveitamento de «um compartimento inútil», outrora arrecadação, transformando-o num «excelente dormitório, à maneira de beliche, como nos quartéis dos bombeiros americanos», lia-se na reportagem publicada a 29 de setembro.
Impunha-se também que «a corporação elevasse o seu grau de cultura». «O que fez o sr. tenente Sérgio Vieira? Abriu uma escola, frequentada pelos guardas que procuram e querem desenvolver os seus conhecimentos. E a verdade é que essa escola, ou melhor, essa aula, faz inveja a muitas que há por esse país fora, tanto no que respeita a instalação, como a material didático», enalteceu.
Já a 2.ª esquadra mereceu a reportagem publicada a 30 de setembro. «Instalada nos baixos da Cadeia de Santa Cruz, possuía apenas condições de localização e as suas funções limitavam-se, meramente, à
necessidade de manter na Baixa um posto policial. E todavia, impunha-se criar, no bairro-coração de Coimbra, mais do que um posto, uma esquadra». Das novas obras resultaram «dependências desafogadas, espaçosas, com quartos e gabinetes que não recordam, em coisa alguma, o que aquilo havia sido antes». Mas o que mais «surpreendeu o jornalista» foi o «modelar laboratório de análises, anexo a esta esquadra». «O sr. tenente Sérgio Vieira quis chamar a si a fiscalização dos géneros que se vendem por aí, os géneros que a cidade consome, e para garantir, rigorosamente, a Coimbra, a sua qualidade, imediatamente deu início à montagem desse laboratório, com aparelhagem aperfeiçoadíssima que é, em suma, a última palavra na especialidade», relatou.
Inaugurado em Janeiro de 1933, o laboratório realizou nos primeiros nove meses 650 análises, sendo 24 «o número de “provas de estábulo”, isto é, o leite mungido em presença da respetiva brigada». A fiscalização económica a cargo da PSP levou nesse mesmo período à inutilização de 113 litros de leite por falta de higiene das vasilhas, de 1.688 litros de leite por princípio de adulteração e a 36 autos por transgressão e falta de higiene, exemplificou.
«A fiscalização, além de meticulosa, como já dissemos, é também exercida com rigor. A cidade pode, pois, estar tranquila. Deste modo, a PSP passou a ser, não só a corporação que defende e protege, nas ruas, a população, como uma sentinela vigilante da saúde pública», concluía o autor das reportagens. M.S.
12/9/1933 De Foz do Dão, aldeia do concelho de Santa Comba Dão que nos anos oitenta do século passado foi submersa pela albufeira da Barragem da Aguieira, chegavam ecos, nove décadas atrás, do desagrado por notícias de um projetado açude para o Mondego, na vizinha zona da Conchada. «Continua a falar-se na construção de um açude, na Conchada, sendo considerado, por grande número de interessados do concelho de Santa Comba Dão, um enorme absurdo o levantamento de qualquer parede no rio Mondego, entre Foz do Dão e Coimbra e, mesmo, Figueira da Foz. Gravíssimos prejuízos causaria nas propriedades marginais daquele rio, numa extensão de mais de seis quilómetros, até à Foz do Dão», alertava um texto publicado no Diário de Coimbra a 2 de setembro de 1933. O correspondente do jornal em Santa Comba Dão escreveu que a população de Foz do Dão seria «cruelmente prejudicada, não só nas suas propriedades como também na sua atividade piscatória, visto que é ao rio Mondego que vai buscar a melhor parte da sua alimentação». «A vida económica da Foz quase paralisará se for por diante o açude, pois este, além de provocar a inundação das propriedades, impossibilitará a passagem do peixe e da lampreia e a navegação no rio. Em todas as terras se ouvem protestos, incluindo Santa Comba Dão, que não admite que o Mondego deixe de ser navegável desde a Foz do Dão até ao mar. Os interessados vão dirigir um abaixo assinado à Direção dos Serviços Hidráulicos», rematava a notícia (na foto, a aldeia de Foz do Dão, antes de desaparecer nas águas da albufeira).
Em louvor de “um apóstolo daO antigo Colégio dos Lóios, na Alta de Coimbra, acolheu até 1943 a 1.ª esquadra da PSP Colégio dos Lóios foi destruído por um incêndio a 18 de Novembro de 1943, no início das demolições na Alta D.R.
Os primeiros serviços imobiliários em Coimbra
Diário de Coimbra Memórias
25/9/1933
O FILME DE COIMBRA QUE LEITÃO DE BARROS QUERIA MAS NÃO CHEGOU A FAZER
15/9/1933 Sob o título “Coimbra moderniza-se”, o jornal noticiou a abertura, na Rua Ferreira Borges, 114 - 1.º D, de uma “agência de casa de renda” destinada a «informar de graça todas as pessoas que precisem de arrendar casas, andares, quartos ou lojas na cidade e arredores». «Indica preços, disposição das divisões e mais predicados, pelo que os inquilinos não mais precisarão de percorrer ruas, subir e descer escadas para encontrar a habitação que desejam. Esta agência também informa as pessoas que desejam comprar propriedades», lia-se no texto publicado a 15 de setembro de 1933. A nova empresa anunciou dias depois os seus serviços no Diário de Coimbra, destacando que quem pretendesse mudar de casa ou viesse morar para Coimbra não mais precisaria de se preocupar «em arranjar habitação». Na “agência de casa de renda” receberia o interessado «informação de quantas casas, andares, quartos ou lojas estão na cidade e arredores para arrendar; saberá quem é a pessoa encarregada de mostrar a casa, quanto custa a renda mensal, de quantas divisões é constituída, se tem jardim, quintal, água, luz, casa de banho, se o senhorio concorda que subalugue, tenha hóspedes, pouca ou muita família, etc.», referia a publicação de 21 de setembro, sublinhando que seria bom, desta forma, acabar com «o hábito de encher as casas de escritos, dando a impressão de que a cidade está desabitada». A nova agência propunha-se também tratar de compras e vendas de propriedades e solicitava «aos srs. proprietários que ainda não tenham inscritos os seus prédios nesta agência o favor de o fazerem a fim de se informarem os pretendentes e mais depressa serem arrendados».
Acaminho das termas das Pedras Salgadas, ondeiria descansar e “estudar” durante duas semanas, o realizador de cinema Leitão de Barros passou por Coimbra e convidou os jornalistas desta cidade para um encontro, no dia 25 de setembro de 1933, para lhes dar «uma notícia em primeira mão».
O cineasta, que em 1931 estreara com enorme sucesso “A Severa”, primeiro filme sonoro produzido em Portugal – esteve mais de seis meses em cartaz e foi visto por 200 mil espectadores –, tinha para anunciar «nem mais nem menos do que a realização de um grande, do maior filme sobre Coimbra».
«Não um documentário da cidade, com aquelas perspetivas, aqueles ângulos e aqueles aspetos que caíram na banalidade, pelo uso. Pelo contrário. Uma grandiosa película sonora, uma comédia musicada, enfim, acerca de Coimbra, passada em Coimbra, com personagens e coisas de Coimbra. A cidade de ontem e de hoje, no “ensemble” alegre, irrequieto dos seus estudantes, sem perder o espírito romântico que carateriza a sua academia e que carateriza sobretudo Coimbra»,
esclareceu a notícia que este jornal publicou no dia seguinte. Grande dinamizador dos estúdios da Tobis Portuguesa, em Lisboa, José Leitão de Barros aproveitou a sua passagem por
Coimbra para revelar aos jornalistas a «novidade fresquinha» de uma nova obra que se propunha dirigir. ATobis, na sequência do sucesso do seu primeiro fonofilme, “A Canção de
Lisboa” (1933), realizado por Cotinelli Telmo e com Vasco Santana, Beatriz Costa e António Silva nos principais papéis, perspetivava Coimbra como palco potencial da sua segunda produção e tinha até previsto para esse filme um orçamento de 1.500 contos.
O realizador, que também se notabilizou como dramaturgo, pintor e jornalista, falou com «carinho e entusiasmo extraordinários» desse novo projeto cinematográfico: «Será uma película cheia de movimento, de graça e de caraterísticas. Os estudantes de Coimbra são tão conhecidos lá fora como os de Nuremberga ou de Praga. Têm os seus costumes, os seus hábitos e, principalmente, um espírito jovial inconfundível, temperado naquele romantismo de que não se pode libertar e de que, a libertar-se, perderia as suas caraterísticas. Porém, o fonofilme que estou já a estudar, que se relaciona com Coimbra, não será uma novela terna, gasta, piegas. Será, sim, uma comédia pletórica de dinamismo, ali-
ciante de movimento. A ação gira em torno deste tema que é eterno em Coimbra: o estudante que se enamora da airosa tricaninha. Mas dentro do entrecho todo a sorte de peripécias alegres e moças».
A Tobis, afirmou Leitão de Barros, esperava que Coimbra se interessasse «verdadeiramente» pelo filme, que seria «um grande cartaz internacional da cidade, visto que será exibido no Brasil, Espanha, França, etc.». «Por mim, espero também – e o acolhimento que me dispensaram é já um magnífico sintoma – que encontrarei todas as facilidades. Aproveitarei tudo quanto for local. Canções e compositores de Coimbra, artistas, etc. O Orfeão, as “repúblicas”, a vida anedótica dos estudantes, a Queima das Fitas, tudo, tudo», declarou o realizador, prometendo para breve «o plano definitivo do filme».
«O título do filme? Não se sabe ainda. Mas falará de Coimbra. Depois, é um trabalho de Leitão de Barros. Êxito absoluto. Êxito perfeitamente assegurado», considerou o autor da notícia.
A obra anunciada, cujas filmagens se previam «lá para princípios da segunda quinzena de Novembro», com «reconstituições e cenas surpreendentes em plena rua», acabou por não se concretizar, mas Leitão de Barros inseriu no início da obra “As Pupilas do Senhor Reitor”, que dirigiu em 1935, um excerto com imagens de Coimbra, da Universidade (Porta Férrea, Via Latina e Escadas de Minerva) e da vida estudantil. Terá sido uma das primeiras presenças desta cidade num filme sonoro. M.S.
“Mau Ladrão” espalhava o terror nas Beiras
25/9/1933 O jornal relatou as patifarias de um indivíduo, natural do concelho de Tábua, chefe de uma quadrilha de malfeitores que andava a espalhar o terror na região das Beiras.
Conhecido como “Mau Ladrão”, em oposição à figura do lendário Zé do Telhado, Franquelim Borges assaltou, com o seu bando criminoso, um homem do lugar de Babau, da freguesia de Póvoa de Midões,
«sobre quem ele e os seus homens, depois de tentaram roubá-lo, vibraram algumas facadas». A vítima, José Augusto, casado, «gritou desesperadamente por socorro, o que atraiu várias pessoas e obrigou os meliantes a fugirem», referia a notícia publicada na primeira página da edição de 25 de setembro de 1933.
«A população vive alarmada com as façanhas do “Mau Ladrão” e da sua gente, pois os
roubos têm sido frequentes. O chefe da quadrilha foi condenado, há anos, no tribunal e deu entrada no Limoeiro, onde cumpriu a pena. Há cerca da três meses regressou da prisão e recomeçou as suas proezas, duma das quais foi vítima o sr. dr. Alberto de Pinho, notário em Lisboa, que tem casa em Midões e que a viu assaltada, ficando sem uma bicicleta e vários objectos», informou o correspon-
dente do Diário de Coimbra em Tábua.
Acrescentava que «o facínora chegou a ser preso pelo regedor daquela freguesia, sr. Eurico Rodrigues Fernandes, que o remeteu à Administração do Concelho, donde transitou para Oliveira do Hospital. Uma vez na cadeia daquela vila, trabalhou para se evadir e, em certo dia, auxiliado pelos companheiros de prisão, conseguiu arrombar a porta do
calabouço e fugir. Vagueou por diversos lugares até que assentou arraiais, com os criminosos que o seguem, nos sítios de Vale d’Orca, Bordada e Vale Taipa, dos quais fez seu campo de operações».
«O famigerado Borges tem praticado agressões e ameaçado de morte várias pessoas. O povo teme-o, pois ele afirma que a sua casa é a cadeia, onde há de passar grande parte da vida», rematava o texto.