Guia EN2

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Portugal de lés a lés Uma aventura única

N2
Patrocínio:

DE

A FARO NUMA AVENTURA SEM IGUAL

Éuma experiência única, que tem a particularidade de poder ser feita à medida e ao gosto de cada um. A Rota da Estrada Nacional 2, que nos últimos anos tem vindo a ser promovida e estrutu rada como um produto turístico com gran de potencial, é um mundo ímpar de sensações

Viajando de lés a lés do país (só há três es tradas no mundo com esta característica), vamos sendo confrontados com paisagens diferentes, sabores distintos, gerando uma vontade constante de andar mais e mais para conhecer novas aldeias, monumentos, praias, falar com outras pessoas.

Foi esse o desafio a que nos lançámos,

para podermos dar a conhecer aos nossos leitores a rota da Estrada Nacional 2, por dentro e por fora, esta aventura de 739 quilómetros entre Chaves e Faro E além do prazer sentido, o que trouxemos desta via gem foi a certeza de que quem a faz uma vez tem vontade de repetir. Fica sempre um local por visitar (são tantos e tão interes santes), uma reta por repetir.

Nas próximas páginas, começando a nor te onde está o KM 0 e descendo até à praia, vamos partilhar de que é feita esta rota. Pode ser percorrida de carro, autocaravana, de moto, de bicicleta e até a pé, ou de trator como aconteceu este mês de agosto. E por isso mesmo, o número de etapas em que a podemos dividir é uma opção a fazer em função do meio de transporte e do orça mento e tempo disponível de cada um. Na certeza porém que, em qualquer uma das modalidades, o sucesso está garantido. Es peramos, assim, que este guia possa ser um útil companheiro de viagem. Boas cur vas.

CHAVES
Director Adriano Callé Lucas Directores-adjuntos Miguel Callé Lucas e João Luís Campos Directora-geral Teresa Veríssimo Textos e recolha de informação João Luís Campos, Margarida Alvarinhas e Sónia Morgado Coordenação comercial Mário Rasteiro Vendas Ana Lopes, Hélder Rocha e Luís Ferrão Publicidade Carla Borges e Rui Semedo Fotos João Luís Campos Cartoon Joaquim Carvalho Impressão FIG Indústrias Gráficas, S A FICHA TÉCNICA | Setembro 2022 I03 NTRODUÇÃO ESTRADA NACIONAL 2

1. Chaves → Vila Real

Castelo de Aguiar da Pena oferece uma vista deslumbrante do Vale Roqueiro

Omarco do Km 0 da N2 está no centro de Chaves, repleto de autocolantes de quem, no início ou no fim da aven tura, quis ali assinalar a sua passagem Uma rotunda que acaba por ser logo um primeiro ponto de encontro. Não se passam muitos mi nutos sem que alguém es

teja ali a marcar a sua saída, com uma fotografia para mais tarde recordar. E logo ali se comprova o quão dife rentes podem ser os “aven tureiros” desta rota. Quando nos preparávamos para fazer a “selfie” da praxe, estava de partida um casal francês, de bicicleta, e ao mesmo tempo um mo

tard espanhol se oferecia para nos fotografar, já que esperava por colegas. E à pergunta “em quantas eta pas vai fazer?”, respondeu: “Hoje sigo até Évora, depois amanhã desço o resto e de pois viro para Barcelona”. Perante o sorriso de es panto, respondeu que a mulher lhe tinha dado

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“carta branca”, pelo que havia que fazer o máximo de quilómetros possíveis. E é esta uma das imagens de marca da N2, pode ser per corrida de variados meios e com o tempo que cada um entender.

Saindo de Chaves, para trás fica a bonita Ponte de Trajano, bem como o Cas telo de Chaves, mandado construir por D. Dinis e onde hoje encontramos um Museu Militar. Sem dificuldades no trajeto, por estar todo ele bem sinalizado, no caminho para Vila Pouca de Aguiar começamos a perce ber a envolvência da rota, com inúmeras bandeirinhas amarelas a sinalizar pontos de comércio variado. E a vontade de ter um café com nome associado à rota, faz mesmo com que um dos es paços em Vila Pouca de Aguiar, provavelmente para fintar algum nome regis tado, se chame “ENE2”.

Mas antes há ainda (pelo menos) dois locais que me

recem uma paragem, até porque o desvio da estrada é pequeno. A histórica estância termal do Vidago, com o seu hotel, bem como o cen tenário parque em seu redor são um primeiro convite a uma pausa entre os arvore dos e os espelhos de água.

Mais 14 quilómetros de pois, encontramos outro parque termal, igualmente muito cuidado, e onde brota, naturalmente gasei ficada, a conhecida Água das Pedras, que se pode beber

gratuitamente (quem qui ser, deixa umas moedas num chapéu por lá colocado) e comprovar a natural diferença com a que bebe mos nas garrafinhas verdes.

Antes da chegada a Vila Real, mas já depois de sair de Vila Pouca de Aguiar, com um desvio de cinco minutos, há ainda a hipótese de visitar o Castelo Roqueiro de Aguiar da Pena, uma pequena forta leza com um miradouro com uma bonita vista sobre o Vale Roqueiro

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O marco inicial, em Chaves, da N2 A nascente das Pedras Salgadas

A antiga Estrada Real de Portugal

AEstrada Nacional 2 (N2) é a mais extensa estrada portuguesa, so mando 739,26 quilómetros, e a única na Europa que atravessa um país em toda a sua longitude (há apenas mais duas no mundo: Route 66, nos EUA, e Ruta 40, na Argentina). Estende se de Norte a Sul, ligando a cidade de Chaves, em Trás os Montes, à cidade de Faro, no Algarve.

Instituída a 11 de maio de 1945 no Plano Rodoviário pelo decreto lei n º 34593, a Estrada Nacional 2 tem a presença das construções da arquitetura filipina, reme tendo o início da sua história para séculos passados, onde fora criada para servir centralmente o reino português, intitu lando se de Estrada Real

Ao longo do seu traçado passa por 35 concelhos (Chaves, Vila Pouca de Aguiar, Vila Real, Santa Marta de Penaguião, Peso da Régua, Lamego, Castro Daire, São Pedro do Sul, Viseu, Tondela, Santa Comba Dão, Mortágua, Penacova, Vila Nova de Poiares, Lousã, Góis, Pedrogão Grande, Sertã, Vila de Rei, Sardoal, Abrantes, Ponte de Sor, Avis, Mora, Coruche, Mon temor o Novo, Viana do Alentejo, Alcácer do Sal, Ferreira do Alentejo, Aljustrel, Castro Verde, Almodôvar, Loulé, São Brás de Alportel e Faro), denominados como concelhos de interior.

Apesar do declínio demográfico dos últi mos anos no “interior”, esta Rota abrange uma vizinhança populacional de 689.079

habitantes, tem pontes sobre 11 rios e percorre 11 serras. Repleta de misticismo, de património material e imaterial e por caraterísticas singulares, a Rota da Estrada Nacional 2 é a maneira mais pura de conhecer Portugal, a sua diversidade, cul tura, paisagem, demografia, gastronomia e património, reconhecidos mundial mente.

A história da estrada confunde-se com a história de muitos de nós, pelas mais di versas e curiosas razões. Quem não contou carros, jogou à bola ou ao pião, ou sim plesmente assentou o pé descalço neste chão? Quem não olhou o infinito das retas, ou espreitou uma curva, sonhando com o que poderia vir? A Nacional 2 é Por tugal! 

06 ESTRADA NACIONAL 2
A Associação de Municípios da Rota da Estrada Nacional 2
N2 atravessa 35 concelhos portugueses

2. Vila Real → Castro Daire

Em Vila Real, ladeados pelas serras do Alvão e do Marão, atingi mos os primeiros 60 quiló metros desta viagem. É a primeira capital de distrito (a outra será Viseu, 100 quiló metros depois, além de Faro, no final) da N2 e o seu centro histórico está repleto de mo tivos de interesse. A Sé de Vila Real é monumento nacional (um templo gótico ainda marcado pela arquite tura românica) e a fachada dos Paços do Concelho, com a sua dupla escadaria, tam bém merece um olhar atento, numa zona central que está recuperada com bom gosto e onde se encon tra um histórico espaço que integra a “Rota dos Cafés com História de Portugal”. A Pastelaria Gomes está quase a fazer 100 anos e mantém, como não podia deixar de ser, a arquitetura e o mobiliário como outrora. E a juntar a

este ambiente, todo ele espe cial, está uma confeção pró pria com dois pastéis que são imagem de marca deste con celho: O Covilhete (um pastel folhado recheado de carne que nos chegou quentinho à mesa) e a Crista (doce con ventual recheado com “tou cinho do céu”) Esta rota, como se vai percebendo, in tegra paisagens e monu mentos e tem na sua vertente gastronómica uma

riqueza muito, mesmo muito, saborosa.

Antes da saída de Vila Real, espera nos uma estrada com as primeiras curvas e contra curvas, obrigando a um ritmo mais lento. Há que passar pela Casa de Mateus, pelo seu solar e pelos seus jardins, numa visita que pode incluir uma prova de vinhos, como que a preparar o que se segue na viagem.

A N2 passa pelo Alto Douro

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Vinhas em socalcos ladeiam a N2 durante vários quilómetros

Vinhateiro por entre as en costas íngremes e repletas de vinhedos que dão uma cor especial a esta parte da via gem, durante a qual é obri gatório parar num dos miradouros disponíveis e apenas contemplar esta obra que resulta da ação contínua do homem e que é Patrimó nio Mundial. É assim du rante vários quilómetros, com várias quintas que se podem visitar, onde há alo jamento disponível e onde se pode provar o saboroso Vinho do Porto ali produzido. Os primeiros 20 quilómetros

entre Vila Real e Santa Marta de Penaguião são efetiva mente muito bonitos e com os tons da paisagem a variar consoante a altura do ano em que os percorremos. Segue se uma passagem pela Régua, com o Museu do Douro, o cais junto ao rio e a sua “Ponte Velha”, antes de subirmos a Lamego, onde encontramos o belo Santuá rio de Nossa Senhora dos Re médios, cuja escadaria cruza mesmo a N2 junto a uma praça com várias esplanadas nas quais se pode ganhar forças para subir ao Santuá

rio. Será também um bom local para mais um mo mento gastronómico, saboreando a famosa bôla típica de Lamego, eventualmente bem acompanhada de um espumante Raposeira, com cujas caves nos cruzamos alguns quilómetros depois. É também por aqui, um pouco mais a Sul e com um ligeiro desvio, que se pode visitar Lazarim onde está o Centro Interpretativo da Máscara Ibérica. Se a passagem for em tempos de Car naval é paragem “obrigatória”. 

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Chegados a Lamego, ficamos logo a saber que Faro está ali “bem perto” A Bôla de Lamego & o Raposeira

Éum grande projeto de coesão na cional”, define Carlos Miranda, do Conselho Diretivo da Associação de Municípios da Rota da Estrada Nacional 2 (AMREN2) e presidente da Câmara Munici pal da Sertã, ao definir a Rota da N2, nas cida pela mão do seu congénere de Santa Marta de Penaguião, mas abraçada por um leque de 35 municípios.

Projeto de “coesão nacional” quer “dar o salto” e profissionalizar-se Associação tem investido na promoção da N2

Amplamente concretizado, e com “um impacto extraordinariamente visível”, Carlos Miranda reconhece que uma das grandes virtudes do projeto e que faz a diferença em relação a tantos outros é que partiu “de baixo”, dos municípios, e rapidamente obteve reconhecimento “de cima”, por parte, em particular, do minis tério da Coesão Territorial, que lhe reco nhece, precisamente, a capacidade de dinamização de territórios de baixa densi dade. “Neste momento tem todo o reco nhecimento de cima”, afirma o autarca, sem dúvidas de que “a breve prazo” a as sociação vai dispor dos “recursos” que são tão necessários para fazer crescer o projeto ainda mais.

Fazendo desde já um balanço “extrema mente positivo” do projeto da Rota da N2, Carlos Miranda reconhece, contudo, que “há ainda um caminho a fazer”, nomeada mente na “consolidação deste produto” que, frisa, tem dado um extraordinário alento às economias locais, com particular destaque para a restauração e alojamento.

A estrada que liga o país de Chaves a Faro, sublinha, carece ainda de definição de al guns zonas do percurso. “Há pequenos troços que não estão ainda bem definidos”, aponta, esclarecendo que um dos projetos próximos da associação e é para isso que conta também com apoios é a imple mentação de “sinalética uniformizada”. “Criar uniformização e uma imagem ape lativa em todos os produtos para que seja mais fácil a sua identificação”, acrescenta, apontando ainda como objetivo próximo a criação de “uma equipa dedicada, que possa fazer melhor estruturação do pro duto e melhor marketing”.

Justifica, a propósito, que o projeto tem vivido do contributo das equipas das câma ras municipais que vai sendo possível for necer, mas está na altura de “dar o salto” para um patamar “mais profissionali zado”. 

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3. Castro Daire → Aguieira

Quando chegamos a Castro Daire, onde se pode degustar o típico bolo podre, levamos cerca de 135 quilómetros de boas estradas (só apanhámos um troço menos bom à saída de Lamego com piso irregu lar) e sempre bem sinaliza das. Os grandes marcos amarelos colocados em 2020 para assinalar os 75 anos desta estrada são uma imagem de marca desta aventura, mas os pequenos marcos, que assinalam todos os quilómetros, são uma im portante ajuda para termos a certeza que nos mantemos na rota certa, apesar de, na esmagadora maioria das ci dades e vilas, estar devida mente assinalado o caminho a seguir.

À saída de Castro Daire, se o calor apertar, há uma praia fluvial Folgosa a uns 10 minutos de distância com um simpático parque de me

Santa Comba Dão tem um marco “XXL” para assinalar a rota

rendas e bastantes sombras. Rumo ao Centro, a paisagem muda completamente, face aos vales do Douro, com mais retas, menos montanha, mas na mesma com muitas so bras (importante, por exem plo, para quem vai de bicicleta ou até de moto). Se guimos muitas vezes parale los ao IP3 mas sem vontade nenhuma de mudar de rota, cruzando nos com muitos outros aventureiros em sen tido oposto e sinais de cum

primentos (ou com as mãos ou com as luzes) vão refor çando o sentimento de co munidade que se vivencia nesta rota, ajudado pelos muitos espaços comerciais com dísticos da N2 junto às suas portas.

Antes de Viseu, o Museu do Quartzo merece um pequeno desvio e nesta fase do trajeto são muitas as placas a “pedir” um desvio (na casa dos 25 km para ir e outro tanto para voltar) para São

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Pedro do Sul e para as suas termas. Na cidade de Viriato, com as suas rotundas (aqui podia haver mais indicações sobre por onde segue a N2) são muitos os pontos de in teresse, como a Sé Catedral de Santa Maria de Viseu ou o Museu Nacional Grão Vasco.

Antes de chegarmos a Ton dela (onde se assinalam os 200 km da rota), ainda nos cruzamos com a Ecopista do

Dão, que nos vai aparecendo, depois, durante vários quiló metros. Quem for de carro ou caravana e levar as bicicletas tem aqui um bom plano al ternativo para “desenjoar” do alcatrão.

Nas proximidades desta zona entre Tondela, Santa Comba Dão e Mortágua, ficam, primeiro, a Serra do Caramulo com o seu museu, e, depois, a Serra do Bussaco,

com todos os seus encantos. Quer uma, quer outra, justifi cam o desvio, tudo depende do modo como se planeia a jornada.

A Albufeira da Aguieira, com o seu bonito e enorme plano de água, pode ser um ponto para um refrescante mergulho ou apenas de con templação, eventualmente a saborear a tradicional Lam pantana. 

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Na Folgosa encontramos uma das muitas praias fluviais de que se pode usufruir ao longo do percurso

Um passaporte para encher de carimbos

Entre os vários produtos criados em torno desta rota, há um que ganhou um protagonismo considerável: o passaporte. Criado pela Associação de Mu nicípios da Rota da Estrada Nacional 2 para registar e identificar o turista ao longo da rota, o passaporte (que custa 1 euro) contém a identificação dos 35 municípios atravessa dos pela N2 e indica os locais onde pode ser carimbado. Falamos de postos de turismo, cafés, alojamentos ou outros espaços co merciais, ao longo de todo o trajeto.

E o sucesso da sua utilização foi facilmente confirmado ao longo dos quilómetros que fomos fazendo, com um primeiro episódio em que foi impossível segurar o riso. No centro de Vila Real, já com o Covilhete e a Crista no “bucho”, e quando estamos a chegar à nossa moto, um casal de emigran tes (cada um com a sua bonita Harley Da vidson com matrícula francesa) perguntava nos, com grande afã, onde é que ali perto de podia se podia carimbar o passaporte. Respondi que não tinha a cer teza, mas indiquei a direção da esquadra da PSP onde acreditava que era possível obter o ansiado carimbo. A motard virou me um olhar incrédulo quando eu lhe expliquei que sim, estava como eles a fazer a rota, mas que estava em missão profissional e não es tava a carimbar De sonho foi mesmo o ar do seu companheiro de viagem, já depois de ela virar costas, que certamente já estava bem cansado de andar de carimbo em ca rimbo e queria era aproveitar a sua Harley.

Brincadeiras à parte, o certo é que o passa

porte é também uma maneira de levar os viajantes a alguns locais que não ficam nas imediações da estrada. É o caso, por exem plo, do concelho da Lousã em que para se obter o desejado carimbo se tem de ir à vila lousanense, o mesmo sucedendo mais a sul, em Avis, onde o passaporte só é carimbado na vila.

O passaporte, além de ser um bonito ob jeto para mais tarde recordar, acaba por levar os viajantes a vários locais onde, de outro modo, eventualmente não parariam.

Além do passaporte, há ainda uma Meda lha Oficial Comemorativa dos 75 anos da Estrada Nacional 2 (2,5 euros) e uma nota de 0€ (que custa 3 euros) com todas as caracte rísticas técnicas do papel moeda em circu lação, ou seja, marca d'água, holograma, numeração, fio d’ouro, relevos e as estrelas iluminam se sob luz UV. Trata se de uma nota original cujo desenho é da autoria de Manuel Teixeira (artista plástico de Ama rante).

Passaporte pode ser carimbado nos 35 concelhos

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No que ao traçado original da N2 diz respeito, a passa gem pela zona da Barragem da Aguieira é a que exige maior atenção. A construção da barragem que levou ao desaparecimento da aldeia de Foz do Dão onde pontificava a Ponte Salazar faz com que nesta zona já não exista o troço original da N2, e tem de se estar atento às placas para não sair da rota e conseguir chegar a Penacova pela boni ta Livraria do Mondego com

as suas várias camadas de quartzitos.

E também aqui, mais uma vez, a altura do ano escolhida para este passeio pode fazer -nos optar por uma outra paragem Por exemplo, para os apreciadores, a Lampreia em Penacova é uma das melho res do país e sendo a sua épo ca (entre meados de fevereiro até meados de abril) é uma excelente opção Já se o tem po for quente, é também em Penacova que tem a praia flu vial (Reconquinho) que mais perto fica da N2, bem como um posto de turismo. Aliás, ao longo de todo o percurso são muitos os postos turísti cos, com um design próprio, onde se podem recolher in formações ou comprar recor dações associadas à EN2.

Em Penacova, desviando um pouco a rota, podem se conhecer os moinhos de Ga vinhos ou o Mosteiro de Lor vão. A paragem seguinte será

Vila Nova de Poiares, que marca o início do traçado mais serrano da N2. E esta é uma sequência de concelhos onde a gastronomia tem uma forte palavra a dizer, já que Poiares chama a si o título de “Capital Universal” da Chanfana. No centro da vila existe um belo mural de 100 metros quadrados, da autoria de João Maurício (mais co nhecido por Violant), de tri buto à N2, assinalando o km 248 desta aventura. Em seu

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4. Aguieira → Alvares Km 238 fica junto ao Reconquinho

Vila Nova de Poiares dá as boas vindas aos viajantes da N2 com um bonito e grande mural

redor, um pouco à seme lhança do que se vira muito na zona do Douro, vários ca fés ostentam símbolos da rota e fazem questão de pu blicar regulares fotos nas re des sociais com os seus clientes.

Seguimos então, estrada acima, para a Serra da Lousã e para as suas bonitas Aldeias do Xisto. Antes da chegada a Góis, passamos pelo conce lho da Lousã, sendo que quer o seu castelo, recentemente

recuperado, bem como Ta lasnal e as restantes aldeias do Xisto ali existentes justifi cam o desvio de alguns (cerca de 20) quilómetros São vá rias e diferentes as aldeias desta rede, que pontificam nesta zona da N2. São 12 as aldeias do xisto nesta zona da serra da Lousã num percurso onde muitas vezes nos depa ramos com vistas de serras e serras a perder de vista. Mais uma vez, dependendo do es pírito, mas também do tipo

de veículo, são vários os ape los a saídas de rota. Quer para chegar junto às imponentes torres eólicas, quer para co nhecer os vários baloiços pa norâmicos ou as praias flu viais. Para quem goste e pos sa, esta é a zona ideal para fazer alguns trilhos em off road. Se o passeio for em agosto, a concentração mo tard, em Góis, merece que se pense a viagem a contar com este mega convívio junto ao rio Ceira. 

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Uma estrada com identidade

Esta viagem de 739,26 quilómetros acaba por representar também um regresso ao passado, reavivando, para muitos, memórias de outros tempos.

E claro que não são apenas os tradicio nais marcos da N2 (que ao longo do trajeto vão mudando de cor e de formato) que nos podem fazer lembrar viagens de outrora quando havia poucas (ou mesmo nenhu mas) auto estradas.

A publicidade pintada em muitas paredes é um desses casos, bem como os painéis publicitários em azulejos. Era assim que se publicitavam os produtos (o Licor Beirão terá sido um dos pioneiros no país) e hoje ainda há vários locais onde se mantêm essas pinturas que contribuem para esta identidade especial da N2. Em diferentes estados de conservação, há anúncios da Fi restone, da Mabor General, da Galp, sendo que um dos mais emblemáticos é o anún cio ao denominado Nitrato do Chile, que terá sido criado em 1929 pelo arquiteto madrileno Adolfo Lopez Durari Lozano.

Mas também há ainda exemplos de mo biliário urbano com décadas como uma paragem da “Rodoviária Nacional”, em Góis, logo depois do café Alto da Serra, que se mantém firme no topo da Serra da Lousã.

Ou então, em Abrantes onde um antigo e bem “típico” posto da Guarda Nacional Republicana foi transformado em Posto de Turismo. 

Uma paragem que nos faz recuar muito no tempo

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Painel alusivo ao Nitrato do Chile Antigo posto da GNR é hoje posto de Turismo

5.

Alvares → Vila de Rei

Éem Alvares, concelho de Góis, que encon tramos o marco que assinala precisamente os 300 kms da N2 e que mereceu, da parte da Câmara de Góis, um cuidado especial, sendo exe cutado de um modo algo di ferente dos outros, apresen tando inscrições nas suas quatro faces. Pormenores que vão ao encontro do muito

que é o espírito desta rota, feita também ela de muito simbolismo.

Começamos então a deixar, para trás a Serra da Lousã e descemos até Pedrógão Grande (não sem antes pas sarmos nas “famosas” Ven da da Gaita e Picha) que rece be a N2 com uma avenida que rasga toda a vila. No mesmo caminho, outros no

mes, que não aqueles que por graça motivam que muitos por ali parem para fazer uma fotografia, nos fazem recor dar os grandes fogos de 2017. A N2 passa mesmo ao lado de Escalos Fundeiros, onde toda a tragédia começou Hoje, a paisagem já é maioritaria mente verde, mas ainda se vê alguma madeira acumulada e na memória de todos estão

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Marco geodésico assinala o ponto central de Portugal continental e também o meio da rota

imagens que ninguém quer voltar a ver.

Pouco depois de Pedrógão Grande, chegamos a mais uma barragem, neste caso do Cabril, ao mesmo tempo que um jovem casal de namora dos, cada um na sua bicicleta, também na mesma aventura, a ritmo naturalmente di ferente daquele que fizemos de moto, mas aproveitando cada momento e sem falhar os melhores “spots”. Como por exemplo o miradouro de Nossa Senhora da Confiança com uma vista privilegiada para a Albufeira do Cabril. É ainda neste concelho que passamos por Pedrógão Pe queno, a única Aldeia do Xis to atravessada pela N2, sendo que, ao contrário das restan tes aldeias, esta tem as casas maioritariamente pintadas de branco, mas mantém as ruas estreitas plenas de his tórias contadas pelos habi tantes que felizmente conti nuam a dar cor e voz a estas aldeias.

A paisagem volta a mudar,

a montanha, com as suas en costas e estradas mais sinuo sas, fica para trás e seguimos por entre pinhais, quintas, vinhas, numa paisagem típi

ca desta zona da Beira Baixa, com usos da terra ainda bem diversos.

Visitar Cernache de Bonjar dim (terra natal de Nuno Ál vares Pereira) implica um curto desvio de 10 quilóme tros da Sertã, vila que obriga a mais uma paragem gastronómica para degustar dois pratos típicos desta zona: o Bucho e o Maranho. Uma sa borosa prova que pode ser feita, antes ou depois da visi ta ao Castelo, numa simpática esplanada virada para a bonita Ponte da Carvalha.

Cerca de 20 quilómetros depois estamos no centro do centro. Em Vila de Rei está o centro geodésico de Portugal (o imponente marco foi o primeiro a ser construído no país) com o Museu da Geode sia. Vale pela sua imponên cia, pela paisagem e por sa bermos que estamos no pon to central de Portugal conti nental. Estamos ainda a meio desta aventura. Chaves fica a 364 quilómetros e para Faro já só faltam 375. 

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Albufeira do Cabril Pedrógão Pequeno Ponte da Carvalha, na Sertã

O verdadeiro “porta a porta”

Nos mais de 700 quilómetros que percorremos entre Chaves e Faro conseguimos fazer um bom re trato do que é o interior do nosso país. A desertificação crescente é difícil de estan car esta rota é uma iniciativa que pre tende exatamente valorizar o interior e ajudar a criar riqueza e ao longo da es trada vemos muitas localidades quase sem gente. Mas há sempre quem resista e numa das nossas paragens para tomar café, na zona de Góis, demos com um des ses exemplos.

Quim Mateus, de 40 anos, estava junto à esplanada do café do senhor Augusto, com a sua carrinha onde vende um bocadinho de tudo Ele e a irmã (os Manos Cortes) têm uma parafarmácia e uma loja de pronto a vestir em Cortes de Alvares, a que juntam a venda de frutas, legumes e ra ções.

Cristina fica na loja fixa e Quim Mateus, 40 anos, é o homem do “porta à porta” Leva sempre fruta, legumes e rações mas aceita encomendas de tudo o que vende nas lojas. “Ainda para a semana sei que tenho de trazer uma calças de ganga para um senhor de 81 anos. São n.º48. Se não servir na semana seguinte trago outro nú mero”, conta, explicando, com naturali dade, o segredo do negócio: a proximidade que se assegura ao parar em cada porta. E, explica, não é uma paragem por aldeia.

“É uma paragem por cliente”, sublinha,

Quim Mateus aposta num negócio de proximidade

referindo se a uma aldeia, na Pampilhosa da Serra onde vai parar 12 vezes. E não é deixar o saco e seguir caminho Há sempre um momento de conversa. Muitos vivem sozinhos. “Como há cá pouca gente, temos de ir à procura deles”, assume Quim Mateus, explicando que foi essa a sua opção. Ter ali a sua família (é casado e tem dois filhos) e apostar neste negócio com a sua irmã. “Tivemos que nos adaptar para ganhar o nosso”, acrescenta ainda, estimando que por semana percorra cerca de 600 quilómetros. Sobre a N2, que usa muito, reconhece que nos últimos anos têm constatado um aumento de viajantes, tanto de carro, como a pé ou de bicicleta “No outro dia apanhei um que ia de tra tor”, afirma, antes de rumar à próxima paragem, no verdadeiro “porta a porta”.

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ECOS DA SERRA, CAMINHOS DE FUTURO

Património de natureza, história, gastronomia e lazer. Serra de todos os sonhos, onde do alto dos seus mais de mil metros se vê mais longe e se ouve mais de perto. Numa sintonia de Aldeias de natureza única, as memórias repetem-se e a arquitetura icónica de xisto fala mais alto. Escute por si. Visite a Lousã.

cm-lousa.pt
C O M B O I O S T R A I N S 1 b L i n h a d o D o u r o 2 b L i n h a d a B e i r a A l t a 3 b L i n h a d a B e i r a B a i x a 4 b L i n h a d o L e s t e 5 b L i n h a d o A l e n t e j o 6 b L i n h a d e É v o r a 7 b L i n h a d o A l g a r v e C I D A D E S T O W N S V I L A S V I L L A G E S 1 b C h a v e s 2 b V i l a P o u c a d e A g u i a r 3 b V i l a R e a l 4 b S a n t a M a r t a d e P e n a g u i ã o 5 b R é g u a 6 b L a m e g o 7 b C a s t r o D a i r e 8 b S ã o P e d r o d o S u l 9 b V i s e u 1 0 b T o n d e l a 1 1 b S a n t a C o m b a D ã o 1 2 b M o r t á g u a 1 3 b P e n a c o v a 1 4 b V i l a N o v a d e P o i a r e s 1 5 b L o u s ã 1 6 b G ó i s 1 7 b P e d r ó g ã o G r a n d e 1 8 b S e r t ã 1 9 b V i l a d e R e i 2 0 b S a r d o a l 1 3 6 9 1 0 1 1 25 3 1 1 4 7 8 7 1 1 1 2 2 8 1 0 9 1 2 1 7 1 8 1 9 1 3 1 6 1 4 5 7 3 4 1 5 6 2 0 1 3 8 2 m 5 4 9 m 6 1 0 7 5 m 8 1 2 0 5 m 1 2 8 3 m 9 1 9 m 1 1 1 1 4 8 m 2 1 4 1 5 m 9 5 9 2 m 45 2 2 0
R I O S R I V E R S 1 b R i o T â m e g a 2 b R i o C o r g o 3 b R i o D o u r o 4 b R i o V a r o s a 5 b R i o B a l s e m ã o 6 b R i o P a i v a 7 b R i o V o u g a 8 b R i o D ã o 9 b R i o M o n d e g o 1 0 b R i o A l v a 1 1 b R i o C e i r a 1 2 b R i o Z ê z e r e 1 3 b R i o T e j o S E R R A S M O U N T A I N S 1 b S e r r a d o B r u n h e i r o 2 b S e r r a d a P a d r e l a 3 b S e r r a d o A l v ã o 4 b S e r r a d o M a r ã o 5 b S e r r a d e M o n t e m u r o 6 b S e r r a d o C a r a m u l o 7 b S e r r a d o B u s s a c o 8 b S e r r a d a L o u s ã 9 b S e r r a d a M e l r i ç a 1 0 b S e r r a d o M o n f u r a d o 1 1 b S e r r a d o C a l d e i r ã o 2 1 b A b r a n t e s 2 2 b P o n t e d e S o r 2 3 b A v i s 2 4 b M o r a 2 5 b C o r u c h e 2 6 b M o n t e m o roN o v o 2 7 b V i a n a d o A l e n t e j o 2 8 b A l c á c e r d o S a l 2 9 b F e r r e i r a d o A l e n t e j o 3 0 b A l j u s t r e l 3 1 b C a s t r o V e r d e 3 2 b A l m o d ô v a r 3 3 b S ã o B r á s d e A l p o r t e l 3 4 b L o u l é 3 5 b F a r o 2 2 2 6 5 6 7 1 3 4 3 2 3 2 5 2 4 2 7 2 8 2 9 3 0 3 1 3 2 3 3 3 4 2 1 1 04 2 4 m 1 1 5 8 9 m 3 5 R I O S R I V E R S 1 b R i o T â m e g a 2 b R i o C o r g o 3 b R i o D o u r o 4 b R i o V a r o s a 5 b R i o B a l s e m ã o 6 b R i o P a i v a 7 b R i o V o u g a 8 b R i o D ã o 9 b R i o M o n d e g o 1 0 b R i o A l v a 1 1 b R i o C e i r a 1 2 b R i o Z ê z e r e 1 3 b R i o T e j o S E R R A S M O U N T A I N S 1 b S e r r a d o B r u n h e i r o 2 b S e r r a d a P a d r e l a 3 b S e r r a d o A l v ã o 4 b S e r r a d o M a r ã o 5 b S e r r a d e M o n t e m u r o 6 b S e r r a d o C a r a m u l o 7 b S e r r a d o B u s s a c o 8 b S e r r a d a L o u s ã 9 b S e r r a d a M e l r i ç a 1 0 b S e r r a d o M o n f u r a d o 1 1 b S e r r a d o C a l d e i r ã o 2 1 b A b r a n t e s 2 2 b P o n t e d e S o r 2 3 b A v i s 2 4 b M o r a 2 5 b C o r u c h e 2 6 b M o n t e m o roN o v o 2 7 b V i a n a d o A l e n t e j o 2 8 b A l c á c e r d o S a l 2 9 b F e r r e i r a d o A l e n t e j o 3 0 b A l j u s t r e l 3 1 b C a s t r o V e r d e 3 2 b A l m o d ô v a r 3 3 b S ã o B r á s d e A l p o r t e l 3 4 b L o u l é 3 5 b F a r o 2 2 2 6 5 6 7 1 3 4 3 2 3 2 5 2 4 2 7 2 8 2 9 3 0 3 1 3 2 3 3 3 4 2 1 1 04 2 4 m 1 1 5 8 9 m 3 5

6. Vila de Rei → Ponte de Sor

Énesta zona de Vila de Rei que a nossa amiga N2 – que nesta fase já tratamos por “tu” – apresenta um traçado mais moderno com rails laterais e, num ou outro sítio, com três faixas de rodagem. Permite imprimir um ritmo mais acelerado, mas se há palavra que, garantidamente, não rima com esta aventura é a “pressa”.

A próxima paragem, uns 20 quilómetros depois, será no Sardoal, que na época da Páscoa tem o chão das suas capelas decorado com flores. Pode ser também o momento para provar as famosas Tigeladas, sendo que o Sardoal é um dos locais que reivindica ser o palco original da sua criação. Com mais um pequeno desvio, subimos um pouco até aos Moinhos de Entrevinhas com mais uma vista que merece ficar registada no alto de uma encosta

onde os moinhos estão muito bem recuperados e ganharam a companhia de um agradável parque de merendas e um bonito baloiço.

Abrantes fica logo ali perto, pouco depois do km 400 (que já não tem o marco original), e a viagem até seria curta não tivéssemos calhado atrás de um camião que, vá se la saber porquê, fazia questão de cumprimentar todos os camionistas que com ele se iam cruzando, com umas sonoras buzinadelas. Tanto ruído motivou uma paragem no recente parque Aquapolis, mais um exemplo de espaços requalificados com qualidade. Neste caso é uma zona com grande polivalência desportiva e de lazer e onde numa esplanada sobre o Tejo, uma imperial (acompanhada de tremoços e amendoins) rapidamente faz esquecer o nosso animado camionista. Ou então, noutro

26 ESTRADA NACIONAL 2
Moinhos de Entrevinhas

Cidades e vilas, como Ponte de Sor, apostam em mobiliário urbano que “puxa” sempre para mais uma fotografia para mais tarde recordar

registo, para provar a conceituada “Palha de Abrantes”, mais uma maravilha da nossa doçaria conventual.

Antes de percorrer a bonita e antiga ponte sobre o rio Tejo (erguida em 1870 e com 330 metros de comprimento) tem de haver tempo para subir à fortaleza de Abrantes, um marco da arquitetura militar, com uma rara vista panorâmica de 360º sobre a

charneca e um belo jardim em seu redor.

É nesta fase da viagem, deixando Abrantes para trás, que voltamos a sentir uma nova mudança na paisagem e no traçado. Entramos agora no Alto Alentejo, no reino do sobreiro, que nos faz “escolta” no surgimento das primeiras grandes retas que nos levam até Ponte de Sor. Também aqui, com um pe-

queno desvio, vamos conhecer a zona ribeirinha de Ponte de Sor (outro exemplo de boa requalificação) que tem uma ponte pedonal que fica bonita nas fotografias e, não muito longe podemos ver o maior mosaico do mundo com rolhas de cortiça, uma obra do artista albanês Saimir Strati, que está exposta no Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor.

27ESTRADA NACIONAL 2

Rota histórica da Nacional 2 para (re)descobrir na Casa Memória

Entrar na Casa Memória da EN2, no coração de São Brás de Alportel, é percorrer, sem sair do lugar, a história da estrada que atravessa Portugal de Norte a Sul. A poucos quilómetros do culminar desta aventura, mais precisamente ao quilómetro 722 (a 16,5 da chegada a Faro) a Casa Memória é o bálsamo para a última etapa ou, se for caso disso, fonte de energia rumo ao quilómetro zero, caso se opte pela travessia rumo a Chaves. Iniciativa do município de São Brás de Alportel, o projeto nasceu na antiga “Casa de Cantoneiros” com o objetivo de prestar tributo à memória e valorizar o património material e imaterial, bem como potenciar a localização privilegiada do concelho, na penúltima etapa da Rota N2.

Quem por ali passa dificilmente fica indiferente, com a expressão de felicidade comum a todos os visitantes por estarem “a percorrer o país pelos caminhos da nossa história”. E ao chegar “agradecem imenso o facto de existir um museu que conta a história da N2 e destes homens bravos”. Desde 22 de agosto de 2020 (dia da abertura) mais de sete mil pessoas já passaram por este espaço, e as histórias multiplicam-se. Há quem percorra a N2 a pé “como se fosse uma peregrinação”, ou de bicicleta, como é o caso de um bloguista que fez o percurso em 35 dias de bicicleta, um por concelho. Uma das visitas que o município recorda com carinho é a da esposa de um cantoneiro, “último casal a residir na Casa de Cantoneiros do Vale da Rosa” que se mostrou

emocionada “por existir um museu a dar importância ao assunto”.

Três décadas depois de ter fechado portas, evocam-se agora neste edifício as antigas profissões de canteiro e cantoneiro, representativas da tradição local. Assim, a “Casa dos Cantoneiros” está recriada no piso térreo, com um vasto conjunto de ferramentas e utensílios usados diariamente na construção e manutenção da via mais longa da Europa. No piso superior, o convite é para apreciar a Secção da Conservação das Estradas do Distrito de Faro, onde é incontornável a “presença” do chefe Matias, personalidade cuja história de vida se confunde, em muito, com a história da N2. Na Casa Memória é ainda possível descansar um pouco e usufruir da vista sobre são-brasense, ao mesmo tempo que se degustam o “chá do viajante” e uma seleção de produtos locais. 

Teto exibe mapa de Portugal com EN2 iluminada

28 ESTRADA NACIONAL 2

7. Ponte de Sor → Montemor-o-Novo

Oprimeiromarcoà saídadePonteSor assinala436quilómetrosjápercorridosdesde Chaves.Passamosaoladodo aeródromodePontedeSore asbelasretasfazemcomque, num“tirinho”,secheguea Montargil,masalgumasfloresevelas,numououtro pontodaberma,ajudam-nos arefrearoacelerador.

AbarragemdeMontargil, cujaconstruçãofoiconcluída em1958,temumaáreainundadade1.646hectaresetem prometidosalgunsinvestimentosparaquepossaser aindamaisdesfrutadadoque jáé.Temumparquedecampismo,hotéis,praiasfluviaise muitosoutroscantosquemerecemumolharatentoouum mergulhoretemperador.À nossapassagemerabemvisíveloefeitodasecaque,não lhetirandobeleza,deixaqualquerumapreensivo.

Continuamosentãoladea-

30 ESTRADA NACIONAL 2
O Km 500, em Ciborro, é ponto de paragem “obrigatória” Castelo de Montemor-o-Novo é um dos maiores do país

dospelossobreirose,20quilómetrosdepois,estamosem Mora,ondealémdosfamososbolosda“DonaOtília”, quesepodemprovarnocentrodavilaalentejana,nosesperaumfluviárioquesesitua umpoucoantes(vindode Norte)eimplicaumcurto desviodaN2.Trata-sede aquáriopúblicodedicadoaos ecossistemasdeáguadocee deondesesaisemprecom maisconhecimento.Nazona envolventetemosapraiafluvialdoGameirocompassadiçoseumazonademerendas comarbemconvidativo.

EntreMontargileMora passamospeloconcelhode Avis,maisconcretamente pelafreguesiadeAldeiaVelha,eavisitaàvila(onde está,porexemplo,omuseu doCampoAlentejano)implicaumdesviodecercade30 quilómetrosparaoladoda fronteira.Tambéma30quilómetrosdedistânciade Mora,masparaOeste,fica Coruche,quetambémintegraestarotaeondesepode

Retas de cortar a respiração

conheceromuseucomexposiçõesassociadasàtauromaquiaouentãoomaisrecente ObservatóriodoSobreiroeda Cortiça.

MasderegressoàN2,ainda noconcelhodeMora,podemosaindapararparaconheceroSantuáriodeNossaSenhoradasBotascomasua igrejamatrizeascasasderomariaemseuredor.

Romariadiferenteassiste-seemCiborroondeestáo marcodokm500daN2.E neméprecisoprocurá-lojá quefoicolocadobemmais altodoqueéhabitualeuma placacomotípicoconvite paraasselfiesadizer“Euestiveaqui”fazdesteumponto paragemobrigatória,comoo confirmaadonadosnackbar

quealiestáestrategicamente instalado.AjudámosumcasaldeGuimarãesafazerasua fotodokm500eelesretribuíram.Estavamafazerde carro,umdesejoquetinham háalgunsanosequefinalmentecumpriam,exibindo, comorgulho,oseupassaporterepletodecarimbos.Sem dormidasmarcadasantecipadamente,seguiam“com todaacalma”,comonos confessaram.

Maisumasretaspercorridas(indonocarroseráde aproveitarparasubirovolumedamúsicaedesfrutardas longassearas)echegamosà cidadedeMontemor-oNovo.DesdeViseu(350quilómetrosantes)quenãopassávamosporumazonatão movimentadaemtermosde trânsito–quaseseestranha –eondeéimperativosubir aocastelo,comaTorreda Má-HoraeaPortadaVila.Os meniresdaPedraLongaea Anta-CapeladeNossaSenhoradoLivramentotambémjustificamumavisita.

31ESTRADA NACIONAL 2

Palco de promoção de um livro

Acrescente notoriedade da N2 faz com esta rota passe também a ser escolhida como palco de vários eventos originais. Um deles, neste passado mês de agosto, foi a inédita ação de promoção de um livro pela N2 que foi percorrida pela sua autora, Sandra May, de bicicleta. Sozinha na estrada, acompanhada e apoiada pelos seus seguidores nas redes sociais, a escritora, de 28 anos, saiu de Chaves a 1 de agosto. Na bagagem levava exemplares do seu mais recente livro – comédia romântica intitulada “Ainda não é desta” – que foi vendendo e autografando pelos 739 quilómetros percorridos de bici-

cleta até Faro, onde chegou a 19 de agosto. Aos fins de semana o marido era o seu carro de apoio, reforçava o número de livros, mas à semana seguia sozinha.

“Quando me lembro nem acredito que terminei. Os primeiros dias são muito difíceis porque faltam muitos quilómetros e no Norte há muitas subidas”, conta-nos Sandra May, que confessa ter quase desistido na subida para Lamego. “Tive de voltar para trás. Pedi ajuda aos bombeiros na Régua e pensei que não ia conseguir”, conta, explicando que o compromisso que tinha assumido publicamente falou mais alto e deu-lhe a força extra que precisava.

Ao longo do caminho contou com o apoio dos vários Municípios onde fez a apresentação da obra (em bibliotecas e outros espaços culturais) e confessa que foi graças aos autarcas que conseguiu uma divulgação tão grande do livro “Ainda não é desta”.

Sandra May – que já não pedalava desde os 12 anos e foi na Decathlon que lhe explicaram o que eram as mudanças de bicicleta – confessa que à chegada a Faro não sentiu “nada”, tal era o cansaço. E só no dia seguinte lhe “desceu a ficha” da alegria e do espírito de missão cumprida.

“Foi também uma viagem de auto descoberta muito positiva. Já nada me é impossível”, diz, a sorrir, assumindo-se realizada mas já com vontade de mais uma aventura. “Agora é estranho estar parada”… 

32 ESTRADA NACIONAL 2
Sandra May promoveu o seu livro ao longo da N2

8. Montemor-o-Novo → Ferreira do Alentejo

sucedeunonossocaso,nãoé boaideia.Éregistarnobloco denotasparanapróxima (nestafasedaviagemjáhaverápoucasdúvidasqueesta éumaexperiênciaarepetir) nãofalhar.Aquantidadede motivosdeinteresseemredordetodaestarotafazcom quehajamotivospararegressar.Fazerdemotoserá, certamente,diferentedoque fazeremcarrooucaravana.E tambémaalturadoanofará garantidamentecomqueas paragenssejamdiferentes.

DeixamosMontemor-o-Novopara trásenasaída,em direçãoaFerreiradoAlentejo, temoslogodepoisalocalidadedeSantiagodoEscoural, onde,recebidosporumbo-

necoalusivoàN2,fazendo umpequenodesvio,encontramosumasgrutascom vestígiosdearterupestrepaleolítica.Asuavisitaimplica marcaçãoprévia,peloque aparecersemavisar,como

Oquilómetro539,nazona daCasaBranca,mereceuma atençãoporseroiníciode umadasmaioresretasdaN2 –quenestafasedopercurso, comosucedeemboapartedo Alentejo,surgecomaindicaçãoR2–ladeadapelasárvoresequeéumgostodepercorrer.Quasequedávontade (oudámesmo)denofinal voltarparatráserefazer aquelesquilómetros,mas

34 ESTRADA NACIONAL 2
Capela do Calvário chama a atenção pela sua singularidade

nãohánecessidadepoisum poucoabaixooutras(até maiores)retashaverá.

AviladeAlcáçovas-conhecidapelasuaArteChocalheira,patrimónioimaterial dahumanidade–mereceoutraparagem,querparapercorreraquelasruasantigas, querparaconheceroPaço dosHenriques,bemcomoa CapelaeJardimdasConchas (comosãopopularmenteconhecidos)logoaliaolado, ondeimpressionamosdesenhosefeitiosconseguidos comas26espéciesdemilharesdeconchasdiferentes.É noPaçodosHenriquesque

temosumasaladeexposição (permanente)dedicadaàarte dofabricodoschocalhos, classificadapelaUNESCO.

Aindaantesdechegarmosa FerreiradoAlentejo,percorrendoumaestradaqueem algunslocaismaispareceum túnelgraçasàcopadasárvores(pinheirosmansos),passamospeloTorrão,queassinalaoquilómetro565naN2 comletrasgigantes(mesmo aapelaràfotografia)eOdivelas(onde,comalgumdesvio, podemosconhecermaisuma barragemeasuaalbufeira).

Éaqui,emTorrão,noconcelhodeAlcácerdoSal,que

somosdesafiadosafazer maisumdesvio,tambémna ordemdos30quilómetros, paraconhecerasededeconcelho,nomeadamenteoCaís PalafíticodoPortodaCarrasqueira,acriptaarqueológica docasteloouastípicascasas deSantaSusana.

AcapeladeSantaMaria Madalena(oudoCalvário),no centrodeFerreiradoAlentejo,deregressoàN2,chamaa atençãopelasuasingularidade,tratando-sedeumpequenotemplodeplantacircularcompedrassalientes cravadasnasuaparedeexterior.

35ESTRADA NACIONAL 2
Escoural na rota da N2 Acáçovas tem um jardim de conchas de 26 espécies diferentes

Redes sociais com várias abordagens

Nosite“oficial”darota(disponível emwww.rotan2.pt)existebastante informaçãodisponívelquepode ajudar,quernafasedeplaneamentodaviagem,querdepois,jánoterreno,parasaber ondesepodecarimbaropassaporte,mas tambémondeficaralojado,comerevisitar, entremuitasoutrasinformações.

Masadimensãoquearotafoiganhandofaz comque,hojeemdia,ainformaçãoonline sejaimensa.Porexemplo,emwww.comunidaden2.ptencontramosaquelaquedizsera “primeiralojaonlinededicadaà EstradaNacional2”equetemtambémuma“app”que juntainformaçãorelacionadacomosparceiros,amigoseatésugestõesdaComunidade EN2,alémdoficheiro*.gpxcomomapado traçadoequepodeserdescarregadoparaotelemóvel.

Masalémdestapartemaisutilitáriaecomercial,nasredessociais(nestecasofalamos deFacebookeInstagram)hátambémvárias páginasdedicadasàN2jácomváriosmilhares

demembroseondetantoosviajantespartilhamasfotosdasuaviagemcomotambém colocamdúvidasquemerecempronta(evasta)resposta.Étambémaíquemuitosespaços comerciais(especialmentecaféserestaurantes)fazemquestãodesedaraconhecer,publicandofotografiascomclientesquepercorremarota.Noutroscasosquenosfomos apercebendo,háaindadesafioscolocadosonline,comalgunsviajantesedeixaramprendas paraoutros“aventureiros”comdicassobrea localizaçãodasreferidaslembranças.

Num outro registo, mas que mostra o quanto esta rota vai sendo efetivamente conhecida, há um projeto artístico do fotógrafo americano Eddi Stafford (com página no Facebook e grupo no whastapp) com fotos artísticas de homens e mulheres nus, durante a viagem pela N2. Um projeto (N2 NU) que durante o mês de agosto esteve exposto (com vídeo e fotos a preto e branco) no Centro de Interpretação Turística de Pedrógão Grande.

A lente de Eddi Stafford capta diferentes perspetivas da N2

36 ESTRADA NACIONAL 2

9. Ferreira do Alentejo → Almodôvar

TantonoBaixoAlentejo,ondeseguimos agora,comonos quilómetrosanteriores,as retas(asmaioresencontram-senestazona,com umade8quilómetrosentre FerreiradoAlentejoeErvidel eoutrade12quilómetros(!) entre MontedosPoçoseCastroVerde)enchem-nosa alma,mastambémnos abremoapetite.Eemtoda estaregiãoodifíciléescolher oquecomer.Dasmigasàs bochechas(ousecretos)de porcopreto,passandopela sopadecação,pelasaçordas ouensopadoscomofamoso pãoalentejano.

Seguimos então de barriga (bem confortada) até Aljustrel, onde se pode visitar o antigo complexo mineiro (que nos proporciona mais um regresso ao passado), bem como a ermida de Nossa Senhora do Castelo, que fica bem no topo da encosta que

guarda a vila.

Oprazerdaconduçãopelas estradasalentejanasleva-nos atéCastroVerdequetem

umabasílica,nointeriorda qualsomossurpreendidos peloscercade60milazulejos queembelezamassuaspare-

38 ESTRADA NACIONAL 2
Complexo mineiro de Aljustrel proporciona mais um regresso ao passado

deseondetambémsepode conhecerumobeliscoem memóriadaBatalhadeOuriqueeaErmidadeSãoPedro dasCabeças.Foimandada construirnasegundametade doséculoXVIemtributoàvitóriadeD.AfonsoHenriques naBatalhadeOurique,nolocalonde,segundoatradição, teráocorrido.UmcaféacompanhadodeumaPopiaAlentejanadaráoconfortonecessárioparamaisumaetapa destaviagemquesevaiaproximandodoseufim.

Por volta do km 660, entramos em Almodôvar onde encontramos um conjunto de peças de arte urbana deveras interessante. Incrível, como mais de 600 quilómetros e dezenas de lugares depois da partida, ainda nos deparamos com algo que até ali não tínhamos visto. A “Escultura do Mineiro”, da autoria de Aureliano Marques de Aguiar, junta-se à "Escultura do Sapateiro" ou à “Escultura do Bombeiro”, ambas instaladas na sede do concelho em

homenagem a estes profissionais. Esta é aliás, uma vila conhecida pela “terra dos sapateiros”. Terão chegado a ser mais de 200 ali instalados e não havia feira em Portugal que não tivesse uma zona reservada a este calçado e que em muitos casos se chamava mesmo a rua de Almodôvar. Uma tradição que pode ser

Uma das retas tem 12 quilómetros

vivida no Museu Severo Portela onde uma exposição permanente, intitulada "Sapateiro - Memórias de um Ofício", dá a conhecer o calçado e os artesãos que o produziam, nas muitas oficinas e lojas que existiam na vila, seu modo de trabalhar e respetivos utensílios. E já que falamos de museus, referência ainda para o Museu da Escrita do Sudoeste, também em Almodôvar, onde se pretende dar a conhecer precisamente a escrita do sudoeste, utilizada pelos Tartessos, um povo que viveu, por aquelas bandas, durante a Idade do Ferro. 

39ESTRADA NACIONAL 2
Escultura do Bombeiro em Almodôvar

Entre unidades de alojamento, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais, a oferta para obter o desejado carimbo é extensa e variada, de Norte a Sul do país, ao longo dos 739 quilómetros de estrada que separam Chaves de Faro. Nas câmaras municipais também é possível obter o dito símbolo no passaporte que atesta passagem pelos vários pontos, assim como em museus e outros espaços culturais. Mas é, efetivamente, nos postos de turismo que se cumpre – ou tenta cumprir – um objetivo que vai muito além do simples carimbo da EN2: a promoção do território que “rasga” o país de alto a baixo, ao longo da mítica “Estrada Nacional 2”.

Em todo o percurso há postos de turismo “a postos” para carimbar e informar. Há até novas estruturas erguidas propositadamente no seguimento da criação da Rota da EN2 e que, pela aparência, não deixam enganar quanto à sua finalidade.

“Incentivamos as pessoas a visitarem vários pontos de interesse, explicamos onde comer e dormir”, diz o responsável de um dos posto de turismo da N2, que diariamente recebe e aconselha os muitos turistas que ali se deslocam em busca do carimbo e de algo mais.

Segundo o responsável, há turistas de todas as idades, mas especialmente entre os 30 e os 50 anos, bem como muitos estrangeiros, sobretudo espanhóis, mas também franceses, italianos e até holandeses. Moto é

Posto de turismo remete para a N2

o meio privilegiado de circulação para quem faz a rota.

Uma parte dos turistas quer “carimbar e seguir viagem”, uma ideia que se tenta contrariar, apelando a visitas ao território, quer pelas explicações dadas de viva voz, quer pelos panfletos promocionais que são entregues a cada turista, quer mesmo pela venda de bilhetes de entrada nos diversos espaços culturais. E reconhecendo que uma parte, ainda assim, segue caminho, o responsável do posto de turismo garante também que outros acabam por fazer visitas, através de um pequeno desvio que, para enriquecimento cultural, acaba sempre por valer a pena. De facto, explica ainda, há uma certa facilidade de deslocação para quem faz a rota de moto o que, na verdade, são “70 a 80% dos turistas”. 

40 ESTRADA NACIONAL 2
Mais do que um carimbo, o apelo à visita ao território

10. Almodôvar → Faro

Voltamos à estrada, faltam pouco mais de 75 quilómetros para Faro, e é nesta fase do percurso que a N2 mais respeita a época que a viu nascer e este troço foi mesmo classificado como “Estrada Património”. Além dos marcos tradicionais, vemos várias casas dos cantoneiros recuperadas. A mudança (radical) da paisagem encarrega-se de nos avisar da entrada em terreno algarvio. A localidade de Dogueno (km 674) será a última povoação do Alentejo (ou a primeira para quem faça a rota de sul para norte) e logo depois se começa a subida da Serra do Caldeirão com as suas curvas e contra curvas (serão mais de 600!) que nos levarão até São Brás de Alportel. Até lá, no habitat do famoso e raro lince ibérico, podemos parar na ribeira do Vascão (designada como Sítio Ramsar tendo em

conta vestígios arqueológicos dos períodos romano e islâmico, bem como altas concentrações de espécies ameaçadas de peixes de água doce) ou no espelho de água da Seiceira, ali em pleno coração da serra.

Segue-se a aldeia do Ameixial, uma localidade que sempre viveu com e da N2 e, por isso, foi ali que há uns anos se ergueu um pequeno monumento de tributo da “Câmara Municipal de Loulé e população do Ameixial aos camionistas da Estrada Nacional 2”. Poucos quilómetros depois de passarmos a localidade, a freguesia do Ameixial brinda-nos, em plena N2, com um fantástico miradouro (a 590 metros de altitude) e um baloiço panorâmico (mais um local de foto obrigatória). “Aqui há bons queijos, bom mel e boa aguardente de medronho” lê-se, pintado em jeito meio

tosco mas eficaz, na fachada de uma casa um pouco antes do miradouro.

Aindaantesdesechegara S.BrásdeAlportel,masjá naquelafreguesia,temoso bonitoParquedaPonteFérreaondesepodemergulhar ouapenasmerendar(comou semumgolinhodabela

42 ESTRADA NACIONAL 2
Baloiço do Ameixial apresenta a Serra do Ca

aguardentedemedronho).

SesairmosdaN2epercorrermoscercade15quilómetrospodemosiraLoulévisitar,entreoutrospontosde interesse,oseucastelo,eno regressoaSãoBrásdeAlportelháquepararnaCasaMemóriadaN2(paramaisuma fotografiaeaquisiçãodeuma

recordação),mastambémna TorredoRelógioenoMuseu doTraje.Àmesa,asugestão recainosfigoscheiosenas amêndoastenras.

Até Faro passamos ainda por Machados e Estói, numa altura em que ver a rotunda com o mítico marco do Km 738 já é o principal objetivo e

onde novamente, tal como acontecera em Chaves, percebemos os muitos que “somos” a fazer aquela rota em diferentes veículos, com velocidades distintas e interesses diversificados. Erguida em tempos de ditadura, a N2 não podia hoje ser mais democrática. 

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ldeirão e as suas muitas curvasA chegada a Faro, 738 quilómetros depois Queijo, mel e aguardente promovidos com “garantia” de qualidade

Três rotas únicas no mundo

AEstrada Nacional 2 é a única na Europa que atravessa um país (neste caso Portugal) em toda a sua longitude e, por isso, é que, apesar das óbvias diferenças em termos de quilometragem, se pode equiparar às também míticas “Route 66”, nos EUA, e “Ruta 40”, na Argentina. São apenas três as rotas no mundo com estas caraterísticas.

A Route 66 será, eventualmente, a mais conhecida mundialmente. Criada em 1926, viu nascer o primeiro Motel e o primeiro McDonald's do mundo e foi cenário de muitos filmes produzidos em Hollywood. De Los Angeles a Chicago, são cerca de 4 mil quilómetros. Apesar de já não ser possível conduzir ininterruptamente desde Chicago até Los Angeles, grande parte da rota original e os caminhos alternativos ainda podem ser conduzidos com um planeamento cuidadoso. Há milhentas combinações possíveis, sendo que será

sempre obrigatório visitar Chicago e Las Vegas, pernoitar no Grand Canyon e conhecer Los Angeles.

No mesmo continente, no extremo Sul, começa a igualmente mítica Ruta 40 que atravessa a Argentina de sul a norte (até à fronteira com a Bolívia), percorrendo as encostas dos Andes. Tem mais de 5 mil quilómetros de extensão e atravessa três importantes regiões turísticas do país: Cuyo, Patagónia e Região Norte, e onze províncias. Atravessa mais de 20 parques nacionais, 18 importantes rios e sobe aos 4.895 metros de altitude. Claro que quer uma, quer outra viagem podem ser planeadas de diferentes modos. Há sempre uma grande variação em função do número de dias em que se queira completar a rota, bem como o tipo de hóteis e de restaurantes a escolher. Com esta amplitude, uma viagem destas poderá custar entre os dois e os três mil dólares.

Rota nos EUA tem 4 mil quilómetrosNa Argentina, a “ruta” faz-se em 5 mil quilómetros

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Uma companhia fiável e segura

FoiaoscomandosdeumaHondaADV 350quepercorremosaN2,umamoto cedidapelaOndacoimbraequeserevelou,nestaviagem,umacompanhiabem fiávelesegura.

Éairmãmaisnovadatambém“bigscooter”X-ADV(quetem750cm3)masquema vêaolongenãoseapercebelogoquesetrata destaversão,tendoemcontaassuasgenerosasdimensões.Comumaboadistânciado solo,permiteumaconduçãolinear,muito agradávelepráticaemambienteurbano(que seráoseupalcodeeleição)masquandochamadaatroçosmaislongoseatéforadeestrada,continuamosmuitoseguros.Aassinatura fullLEDdailuminação dáumpouconasvistas efazcomque,aliadaaoseutamanho,asua passagemraramentesefaçademododespercebido.

Ogenerosoespaçoexistentesobobanco (quedaráparadoiscapacetes)serviuparaas duasmochilasquelevámos(nãofoiassim necessáriolevarnenhumaàscostasdurantea rota)paraumaviagemque,napráticadurou cincodias,tendoemcontaasaídaeoregresso aCoimbra. Ofuncionalcomputadordebordo assinalouumtotalde1.592quilómetrosper-

corridos(àrotadaN2háquejuntaraviagem Coimbra/ChaveseFaro/Coimbra)em23horas deviagemeumamédiadeconsumoarondar os4,5litros,umvalorqueé“prejudicado”pelasduasviagensemautoestradaduranteas quaisosconsumossão,naturalmente,mais altos.

Osistemadechavenobolso (igniçãopor sistemasmart-key),foideumautilidadetremendatendoemcontaasinúmerasvezesque íamosparando,ouparafazerumafotografia ouparafalarcomalguém.

Resumindo,éumamotoquenãoseficapor umamuitopráticautilizaçãocitadina.Esta HondaADV350desafia-nosparaaaventura (fizemostantoautoestrada,comoasfalto–retasecurvasemabundância- eatéumpoucodeoff-roadnaSerradaLousã)dando-nos sempreumagrandesensaçãodeconfiançae segurança.

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