Metástase - 5ª edição- Fevereiro de 2014

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metástase Jornal do Diretório Acadêmico Professor Pedro Lúcio de Souza

Ano 4, Edição 5 Fevereiro de 2014

LABORATÓRIO DE HISTOLOGIA E PATOLOGIA - UNISC

NOVIDADE:MEDBADALO |A VIDA SOCIAL DOS ACADÊMICOS Coluna

destinada a mostrar um pouco do lado

social dos acadêmicos de medicina da UNISC. Essa é a primeira edição da coluna MEDBadalo e pretendemos melhorá-la cada vez mais. A intenção da coluna é registrar momentos alegres que os acadêmicos da UNISC viveram no decorrer do semestre.


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PALAVRA DO DA DIEGO INÁCIO GOERGEN | PRESIDENTE DAPLUS

A todos, um excelente início ano. Temos o imenso orgulho de termos conseguido reestruturar o Metástase. Ele foi repensado, conta com uma equipe especialmente dedicada a ele, para que ele ganhe em qualidade e regularidade. Nos tempos atuais, capacidade de comunicação é uma característica fundamental a todas as pessoas e, em especial, aos médicos. Inclusive, é uma das sete habilidades gerais descritas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Medicina. Assim sendo, a circulação de um jornal impresso, em conjunto com um site constantemente atualizado e o bom uso das redes sociais, visa dar a todos as informações necessárias para uma formação de qualidade. O ano de 2013 pode ser considerado um dos anos que mais influenciou a Medicina e a Educação Médica. Nunca antes na história deste país, a formação de novos profissionais médicas foi tão comentada, discutida (ou não), modificada e remodificada. Neste início de ano, temos uma realidade pela frente totalmente diferente daquela que tínhamos no início do ano passado. Ano passado foram criadas 2 novas escolas médicas no estado: a UFFS, em Passo Fundo, e a UNIVATES, em Lajeado. A UFFS (Universidade Federal da Fronteira Sul) criou um novo campus em Passo Fundo especialmente para comportar o novo curso de Medicina. Já o Centro Universitário UNIVATES (Unidade Integrada Vale do Taquari de Ensino Superior), uma instituição co-irmã da UNISC, conquistou a autorização menos de um ano após iniciar com o pedido, embora já estivesse discutindo a criação do curso há mais tempo. Com isso, seremos 13 escolas médicas no estado em 2014, e nós não nos absteremos de discutir a qualidade e o futuro da formação médica.

Aqui na UNISC nós também tivemos mudanças importantes em 2013. O novo Projeto Pedagógico começou a ser discutido de forma um pouco mais aberta e, apesar das objeções, o número de vagas foi aumentado, de 30 para 35 vagas semestrais. Para 2014, temos pela frente novas discussões sobre a reformulação curricular. Tivemos uma pequena mudança na coordenação do curso, apesar da professora Susana ter sido reconduzida ao cargo de coordenadora. Temos um novo subcoordenador, prof. Dennis, já que o prof. Claus assumiu um cargo na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. Na UNISC, de forma ampla, 2013 também foi um ano de renovação. Após 8 anos, tivemos uma troca no cargo máximo da instituição. A professora Carmen Lúcia de Lima Helfer, com o apoio do prof. Vilmar Thomé, assumiu a Reitoria, após vencer uma eleição contra outros dois candidatos. A renovação acontece em partes, tendo em vista que boa parte da equipe continuará a mesma. Este ano será um ano de planejamento e atualização, onde os estudantes buscarão influenciar diretamente os rumos da instituição. Ao menos, assim esperamos. No DCE, também tivemos mudanças na coordenação, embora boa parte da equipe seja a mesma. Após um ano na coordenação-geral, assumirei a coordenação do campus Santa Cruz, dando lugar à Larissa, aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo, e coordenadora-geral do DCE no ano de 2012, que já está militando conosco há alguns anos, tanto no DCE como no DAArq. Enfim, 2014 será um ano totalmente novo, com toda uma história para ser escrita. Que possamos olhar para o ano passado e aprender com tudo o que aconteceu. E, finalmente, lembro que, mais do que nunca, o nosso Metástase está aberto a sugestões, críticas, elogios e reclamações de qualquer tipo. Boa leitura!


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MEDDivas

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Nem só da Graduação vive o curso de Medicina da UNISC. Além do destaque na area, também tem por título a presença das mais lindas acadêmicas de medicina do estado. E esse espaço é dedicado a elas, então brindemos ao sucesso, divas!


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COLUNA DO DCE DIEGO INÁCIO GOERGEN | COORDENADOR-GERAL DCE 2013

É com imenso prazer que iniciamos esta coluna no Metástase. O Diretório Central de Estudantes vem há algum tempo buscando maior aproximação com os diretórios acadêmicos, indistintamente. Na realidade, boa parte do trabalho da nossa equipe frente ao DCE nestes últimos 2 anos foi dar autonomia institucional ao DCE e aos DAs, para que as instituições fortaleçam-se e independam das pessoas que estejam à frente dos mesmos. Por razões óbvias, a proximidade com o DA da Medicina é ampla. Eu, enquanto coordenador-geral ou em outro cargo, sempre tratei de aproximar ao máximo o nosso DA das decisões tomadas nas esferas mais altas na hierarquia institucional e tratei de dar o máximo de apoio nas ações do DCE e do DA. Além disso, os alunos da Medicina nunca se esquivaram da importância da luta no movimento estudantil, e a cada ano aumenta o número de alunos do nosso curso na diretoria executiva do DCE. O ano de 2013 foi um ano de muitas mudanças e de muito trabalho no DCE. Claro que o contexto institucional favoreceu nosso trabalho, tendo em vista que em 2013 ocorreu o maior processo eleitoral pelo qual a UNISC já passou, em um mesmo ano em que foram definidas as prioridades no plano de desenvolvimento para o próximo quinquênio. Em 2014, o DCE será capitaneado pela Larissa, acadêmica de Arquitetura e Urbanismo, companheira de militância há alguns anos dentro da instituição, tanto no DCE, DAs e nos conselhos superiores, no embate entre todas as categorias da instituição. Junto com

ela, montamos uma equipe de mais de 30 pessoas, incluindo vários alunos integrantes da diretoria do nosso DA, com quem todos os alunos da Medicina terão contato direto, facilitando a aproximação de cada um dos nossos alunos do processo de tomada de decisão e conscientização. Assim, aos alunos da Medicina que querem maior contato com o DCE, é só falar comigo, com o Victório, com o Lucas ou com a Priscila. Como todo início de ano e de processo de renovação, a expectativa é grande. Expectativa de que iremos manter tudo aquilo que conquistamos e buscar novos desafios, assegurando nossos direitos. Não é à toa que somos parte do movimento estudantil. Se ficarmos parados, seremos passados para trás. Como principal pauta no início deste ano, assim como o foi durante a segunda metade do ano passado, é o passe livre estudantil. Ora, em junho milhões foram às ruas (incluindo alguns milhares em Santa Cruz) pedindo melhorias no transporte (e muito mais). Em 2013, também conquistamos a redução do preço da passagem do transporte coletivo urbano aqui em Santa Cruz. Porém foi no final do ano que o projeto criado pelo Poder Executivo estadual de passe livre intermunicipal surpreendeu, e gerou inúmeras controvérsias. Em diversas consultas públicas (muitas das quais membros do DCE UNISC estiveram presentes), foram feitas discussões sobre quais estudantes teriam esse direito. Apenas após o fim das aulas que tivemos a versão final do texto da regulamentação em mãos para podermos iniciar os trabalhos, com muita desinformação no meio do caminho


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COLUNA DO DCE DIEGO INÁCIO GOERGEN | COORDENADOR-GERAL DCE 2013

Com

nossa sociedade a outros patamares. o passe livre, também tornou-

se mais clara a divisão entre o movimento estudantil gaúcho, entre as duas entidades representativas (UEE e UEE-Livre), ao mesmo tempo em que estas conseguiram discutir juntas a garantia desta conquista. Infelizmente, os prazos foram curtos, e vários alunos acabaram ficando de fora. Vamos lutar para que no próximo semestre consigamos aumentar o acesso ao passe livre, universalizando o direito. E, claro, não deixaremos de lutar por um transporte coletivo de qualidade para todos. Parte de nosso trabalho também será dedicada à fiscalização do crescimento da instituição, em especial a construção da Central de Atendimento ao Aluno, que centralizará os serviços de atendimento ao aluno e ampliará, e muito, o número de locais para descanso e alimentação. O investimento é grande, já aprovado, e a discussão do projeto aos poucos avança. Porém, diversos problemas de ordem prática vão surgindo com o amadurecimento das ideias, e nesse ponto o DCE será fundamental para a expansão da universidade com responsabilidade e qualidade. O nosso papel mais importante, porém, é a participação na formação de cada um dos alunos. É incutir nas mentes daqueles que são o futuro do país, a ideia de que é necessária a participação no controle social, de tomar as rédeas do desenvolvimento, de elevar a

Nosso papel também é lembrar que não existem espaços vazios na gestão do país. Caso nós não os ocupemos, alguém irá ocupar, e isso geralmente não é coisa boa. A omissão do povo é o principal combustível da corrupção na política. E o movimento estudantil é responsável por ensinar isto aos estudantes, pois a educação formal costuma “esquecer” destes detalhes, estando mais preocupada em formar novos trabalhadores para serem explorados pelos vilões da nossa sociedade. Reconhecemos que nosso trabalho, em muitos sentidos, foi deficitário. E nós sempre gostamos de deixar isto claro, pois queremos críticias. Nós adoramos elas, são elas que nos fazem evoluir. Infelizmente, nossos maiores críticos somos nós mesmos, pois não conseguimos gerar um poder de mobilização que façam os estudantes ver nosso trabalho e encontrar nossos erros, para que os possamos corrigir. Mas a luta continua, vamos levando em frente aquilo que traçamos desde o início da nossa jornada. A partir do ano passado, quando foi alardeado aos quatros que o gigante acordou, temos certeza que outros junhos virão. E o DCE trabalhará firme para que a sociedade trilhe um caminho de desenvolvimento sustentável.


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AS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO E SUAS REPERCUSSÕES NA PRÁTICA MÉDICA NO INÍCIO DO SÉCULO XX Victor Vilela Dourado | Estudante de Medicina UNICAMP

O modelo fabril, caracterizado pela concentração dos trabalhadores dentro de um espaço específico, as fábricas, representa um avanço sem precedentes no desenvolvimento das forças produtivas da humanidade; essas são caracterizadas pela natureza disponível para manipulação do ser humano para produção de bens essenciais a sua vida, a força de trabalho, representada pelos trabalhadores que transformam a natureza para produção desses bens e, por fim, pelos meios de trabalho, ou seja, os instrumentos de trabalho, a tecnologia da qual oser humano se utiliza para realização de tal transformação. Esse modelo dá seus primeiros passos com a 1ª revolução industrial por volta do século XVIII, torna-se mais vigoroso com a 2ª revolução industrial em meados do século XIX e, no início do século XX, com as contribuições de Ford passa a ser o modelo hegemônico. É importante salientar que essa transformação ocorreu de maneira gradual e não representou uma ruptura com o modelo de produção vigente anteriormente, mas, sim, um avanço com relação ao modelo de manufatura (profissional que dominava todo o processo de produção) que existia. Tal superação se mostrou necessária a partir do momento em que a burguesia expande sua atuação para além do comércio daquilo que era produzido pelos artesãos e passa a controlar essa produção, detendo a propriedade dos meios de produção e organizando os trabalhadores em fábricas.


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AS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO E SUAS REPERCUSSÕES NA PRÁTICA MÉDICA NO INÍCIO DO SÉCULO XX Victor Vilela Dourado | Estudante de Medicina UNICAMP É nesse contexto que pretendemos analisar a superação do profissional médico liberal (texto anterior), predominante até o fim do século XIX, para o surgimento e consolidação do modelo de produção de saúde hospitalar (fabril). Podemos começar a análise observando uma particularidade do trabalho em saúde em relação ao modo de produção hegemônico quanto ao tempo; enquanto o processo de produção fabril inicia-se no século XVII/XVIII, a produção da saúde só irá se ajustar a esse modelo e centrar a prática no hospital muito depois, por volta do final do século XIX e se consolidar no século XX. Desde a transformação da medicina baseada em superstições e religião do feudalismo para o profissional médico liberal do modelo capitalista, foi produzido muito conhecimento científico acerca da saúde. As técnicas e os instrumentos utilizados se aprimoraram, o conhecimento acerca da anatomia do corpo e de algumas de suas patologias evoluiu consideravelmente, iniciou-se uma sistematização de fármacos (elaborados pelos chamados boticários) que podiam ser utilizados na cura de patologias. Ou seja, as forças produtivas, explicitadas anteriormente, evoluíram substancialmente. Com isso, o modelo de profissional liberal estava gerando o germe de sua superação por um novo modelo. Esses profissionais até então eram detentores de todo o instrumental e conhecimento produzido até sua época acerca da saúde e, assim, conseguiam realizar seu trabalho de maneira relativamente independente, mas a evolução que eles próprios empreenderam na produção de saúde, tornaria inviável que isso continuasse a acontecer. Os conhecimentos produzidos foram tantos que seria impossível a um só profissional deter o controle de tudo que já havia sido descoberto. Tornar-se-ia impossível também que os médicos permanecessem detentores de todo o instrumental necessário, já que a evolução tecnológica encarecia bastante os instrumentos de trabalho utilizados pelo médico, por exemplo, ao invés de utilizar apenas o estetoscópio para a realização de seu trabalho, o médico passa a depender de aparelhos mais elaborados, como máquinas de raio-X, ressonância magnética, aparelhos cirúrgicos, dentre outros instrumentos de trabalho; assim, nem todos os profissionais tinham condições de detê-los; como já exemplificado, essa mesma tendência já havia ocorrido em vários outros ramos da produção desde o século XVIII com a superação dos artesãos e corporações de ofício pelo modo de produção fabril.

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AS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO E SUAS REPERCUSSÕES NA PRÁTICA MÉDICA NO INÍCIO DO SÉCULO XX Victor Vilela Dourado | Estudante de Medicina UNICAMP Na saúde, os profissionais liberais também vão perder a propriedade dos meios de produção e abandonar sua condição de profissional liberal para a de vendedor de mão-de-obra, ou seja, um assalariado. Esse não foi um processo instantâneo, pois até hoje ainda podemos encontrar esses profissionais liberais, porém é nítido no último século o processo de proletarização do médico, que para realizar seu trabalho, necessita vender sua força de trabalho para quem detém os meios de produção necessários para o mesmo. Na produção de saúde, ocorrerá um processo semelhante ao que estava ocorrendo com os demais setores produtivos, ou seja, a substituição do modelo artesanal pelo fabril, que tem como conseqüências a transformação do artesão em operário, a perda da propriedade dos meios de produção para a classe burguesa (classe dominante), a centralização da produção numa fábrica, a parcelarização da produção, em que cada trabalhador exerce uma função específica dentro da fábrica, e a especialização dos operários em etapas da produção, sem que eles tivessem consciência e controle do processo completo. Os médicos não mais têm condições de possuir a propriedade dos aparelhos diagnósticos (por exemplo, uma máquina de raio x) e passam a atuar vendendo sua força de trabalho, tornando-se assalariados; os hospitais passam a ser o local da produção da saúde e os médicos passam a se especializar em diferentes “etapas” da produção de saúde e surgem outros profissionais que atuam nesse setor, o médico passa a não ter mais o controle de todas as etapas da produção, pois não há como, sozinho, ter todo o conhecimento produzido pela medicina. Percebemos que tal processo ocorrido na área da saúde é bastante semelhante ao processo explicitado no restante do texto, onde tentamos exemplificar as mudanças que estavam ocorrendo no mundo do trabalho nessa mesma época. Para exemplificar de maneira mais clara essa semelhança do processo produtivo em uma fábrica e em um hospital, comparemos a matéria prima na indústria com um paciente que entra no HC, assim como o trabalhador que utilizará essa matéria prima como forma de realizar seu trabalho e o médico que realizará seu trabalho com o paciente. Numa fábrica, a matéria prima entra, é selecionada (triagem), processada e encaminhada para a etapa da produção, onde no final se transformará em um produto final; com relação aos trabalhadores, todos estão confinados em um espaço específico (a fábrica), e divididos em “especializações”, ou seja, há o trabalhador responsável pela seleção da matéria prima, pelo processamento da matéria prima, pelo encaminhamento da mesma para a produção, etc. No caso do HC, o paciente chega ao PS, passa por uma triagem inicial, é examinado e encaminhado para (o setor da produção responsável) a área que trata especificamente de sua patologia; com relação aos trabalhadores, podemos perceber que estão todos confinados em um mesmo espaço (o hospital), há aquele que realiza o processo de triagem, seleção do paciente, há aquele que atende o paciente inicialmente (como se estivesse processando as informações essenciais ao caso) e encaminha o mesmo para o profissional especialista na área de atuação sobre a patologia do paciente. Partindo-se de uma análise geral, percebe -se que as esteiras de produção das fábricas assemelham-se aos ambulatórios do HC, já que nas primeiras, entra a matéria – prima e através da atuação da força de trabalho com os meios de produção chega-se ao produto; já no segundo caso, o paciente chega doente no hospital e, através da atuação do médico e de seus instrumentos de trabalho, o paciente sai curado. Sabemos, entretanto, que a produção de saúde tem particularidades que a diferenciam dos outros setores produtivos;


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AS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO E SUAS REPERCUSSÕES NA PRÁTICA MÉDICA NO INÍCIO DO SÉCULO XX Victor Vilela Dourado | Estudante de Medicina UNICAMP sendo o corpo uma “matéria – prima” bastante complexa, o que inviabiliza a mecanização total do processo. Tal assunto é amplamente discutido no texto da coluna de saúde do jornal patológico da edição de abril. É interessante notar que tal tendência de realização da prática médica difere de maneira substancial com relação ao modelo de atenção que ocorria anteriormente, o modelo do profissional liberal (médico-artesão) abordado no texto anterior, e que essa mudança segue a reestruturação observada no mundo do trabalho e já desenvolvida de maneira clara nos parágrafos acima. É necessário observar, também, que o modelo do profissional médico liberal não deixou de existir; ele ainda persiste na figura dos médicos donos de seus próprios consultórios e detentores dos instrumentos de produzir seu trabalho, ainda que se observe uma subordinação de grande parte desses médicos a corporações médicas, como a UNIMED, tendo o preço das consultas e os pacientes, por exemplo, sendo determinados por ela; o que aconteceu é que houve uma predominância do modelo hospitalar com relação ao modelo liberal. Vamos agora tentar evidenciar melhor essa transformação na produção da saúde e debater suas conseqüências. Uma forma interessante de analisarmos como está se dando o trabalho em saúde é observarmos como, naquele período histórico, estão sendo formados os profissionais, já que os currículos das escolas médicas seguem a mesma tendência que vem ocorrendo nos outros ramos da produção já citados: a necessidade de reprodução do modelo de produção hegemônico. Essa necessidade de reprodução ocorre, pois para que se possa suprir a demanda da força de trabalho para o modelo hospitalar que estava se desenvolvendo a todo vapor na sociedade, foram necessárias mudanças na maneira como se ensinava a medicina; afinal, com a mudança do profissional liberal para o profissional que vende sua força de trabalho, o método de ensino da prática médica deve mudar para atender as novas necessidades, como exemplo, podemos citar a especialização em áreas especificas, a atuação em equipe, entre outros aspectos. Analisemos, portanto, como está se dando a formação da mão de obra do trabalho em saúde no início do século XX. No ano de 1910, nos EUA a produção de saúde está prestes a se deparar com uma das mais importantes reviravoltas de sua história recente. Nesse mesmo ano, surge nos EUA o Relatório Flexner, que propõe uma reorientação geral nos cursos de medicina do país. Tal reestruturação se baseou a partir de estudos e pesquisas conduzidas por Flexner em todas as escolas médicas do país e suas conclusões, colocadas no relatório, seguem a tendência observada com a reestruturação produtiva: a partir da necessidade de adaptação da produção de saúde ao modelo de produção Fordista, vigente na época, proposições de reforma nos currículos são feitas para que se adaptem a esse novo processo. Na verdade, a questão da reorientação curricular já estava em curso, porém Flexner sistematizou e propôs claramente o movimento de adaptação do trabalho médico às novas necessidades do modelo dominante. O modelo Flexner propunha a divisão do ensino de medicina entre as áreas básicas e as áreas específicas (técnicas), além de objetivar a especialização cada vez maior dos trabalhadores da área da saúde; exige a existência de laboratórios para o desenvolvimento do ciclo básico e de hospitais para campo de prática. Isso se reflete na organização da prática médica centrada em hospitais e do modelo biológico, explicado abaixo. É importante, também, para o melhor entendimento sobre essa reestruturação ocorrida no campo da medicina, a discussão sobre as diversas concepções de saúde que imperavam na época e como estas se relacionavam com o modelo de produção vigente. Sob o modelo capitalista, a saúde passa a cumprir um papel de manutenção da força de trabalho, através da garantia de acesso à saúde para a classe trabalhadora, já que é necessário manter os trabalhadores saudáveis para que estes exerçam sua função na produção.

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AS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO E SUAS REPERCUSSÕES NA PRÁTICA MÉDICA NO INÍCIO DO SÉCULO XX Victor Vilela Dourado | Estudante de Medicina UNICAMP A visão do processo saúde – doença herdada da Idade Média não cumpre esse papel, tornando-se um empecilho aos interesses da produção da saúde no novo modelo. No início do modelo capitalista, o conhecimento acumulado pela medicina em suas diversas áreas era muito pouco; dessa maneira, é feita a opção de se utilizar uma abordagem clinica (centrada no indivíduo) em detrimento de outras abordagens que contemplassem a coletividade (a epidemiologia, por exemplo), o que contribuiu para o entendimento da doença como um fator natural, ou seja, considerase o central a determinação biológica do processo saúde-doença e o adoecimento como uma conseqüência natural do contato com os atógenos. Com Pasteur (1864) e Koch (1877), o conceito de saúde e doença passa por uma transformação muito grande. Eles são os grandes responsáveis pela descoberta das bactérias como causadores de doenças, e, com isso, surge uma nova forma de encarar a saúde, sob uma ótica centrada na determinação biológica. Essa concepção de saúde unicausal e biológica é a correspondente do novo modelo de produção e justifica a organização da produção de saúde, norteando a formação da mão de obra, como explicitado nos parágrafos acima. Essa visão entrada no biológico teve como consequências uma grande produção científica e grande acúmulo de conhecimento acerca das patologias, pois a parcelarização do trabalho dentro de um hospital permitiu que os médicos se especializassem e aprofundassem seus conhecimentos em temas específicos, possibilitando um maior desenvolvimento de conhecimento nas diversas áreas; o que promoveu o desenvolvimento de máquinas e instrumentos de trabalho, de vacinas e medicamentos. Todo esse processo desenvolvido ao longo do século XX e representado, nas relações de produção, pelo modelo fabril é superado por volta dos anos 70, processo conhecido como reestruturação produtiva, passando a predominar o modelo toyotista de produção, desenvolvido no texto que se segue. Essa superação, que será mais bem desenvolvida no próximo texto, se deu por conta de diversos fatores, entre eles a crise econômico-financeira que ocorria no mundo naquela época (crise do petróleo, crise de produção) e a necessidade de se organizar um modelo que fosse capaz de suprir as demandas da produção, como a multifuncionalização da mão-de-obra.


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INTERMED SUL: 2 ANOS EM 1! Paulo Carnacini | Presidente AAAMUNISC Em 2014, a cidade de Tubarão, em Santa Catarina, será sede do XIX Intermed-sul, que ocorrerá entre os dias 01 e 04 de maio. O tão esperado evento, organizado por e para acadêmicos de medicina, contará com cerca de 3500 estudantes de 35 escolas médicas do sul do país. Como no ano passado o evento acabou cancelado por questões burocráticas e incompetência dos organizadores, esta edição promete. A organização do Intermed deste ano conta com a experiência de dois médicos que estão realizando seu quinto Intermedsul. Entre os já realizados estão Criciúma e Cascavel, nos anos de 2010 e 2011, respectivamente, considerados os maiores e melhores Intermed já feitos. Na casa do “Shark Attack”, lugar onde homens usam saia de escocês (kilt), o trio elétrico dos anfitriões será só mais uma das atrações. A AAAMUNISC (Associação Acadêmica Atlética Medicina UNISC) conta com a participação dos acadêmicos da medicina da UNISC neste grande evento. O prazo de inscrições é até o dia 27 de março. Para maiores informações é só entrar em contato com a galera da Atlética.


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O MUNDO UNIVERSITÁRIO Victório Zanella Netto | Coordenador Regional Sul-1 DENEM

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“ eus problemas acabaram”: é o que nos contam sobre entrar na faculdade. Idéias como essa nos são vendidas desde pequenos, “agora está encaminhado”, “é só estudar que tá garantido”, “a melhor época da vida”. Com isso em mente, ralamos para passar no vestibular e quando entramos na universidade não esperamos nada menos do que pessoas inteligentes, divertidas e sem preconceitos, novas experiências, matérias interessantes e uma estrutura que nos permita além de estudar, desfrutar dos outros prazeres da vida. Contudo, em poucos dias de convívio, vemos o conto de fadas cair por terra. O que fazer diante da desilusão? Podemos fechar os olhos e continuarmos vivendo no mundo da fantasia; podemos ficar tristes e revoltados por uns instantes e depois nos acostumar (afinal “sempre foi assim e sempre será”); ou podemos canalizar nossa raiva e angústia para entender o porquê das coisas estarem tão ruins assim e nos esforçamos para mudar a realidade da qual fazemos parte. Nós do DAPLUS escolhemos a última opção. Infelizmente, o que vemos hoje são universidades superlotadas, com moradias precárias (ou sem nenhuma, como é o nosso caso), sem Restaurante Universitário, falta de professores, de salas de aula e um longo etc. Diante dessa realidade, nós escolhemos lutar através do Movimento Estudantil e seus instrumentos – C.A’s/ D.A’s, DCE’s, Executivas de curso e coletivos estudantis. No entanto, ainda haverá quem diga que nós, por nos formarmos médicos, não temos que nos preocupar: nosso futuro está garantido. Será?


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O MUNDO UNIVERSITÁRIO Victório Zanella Netto | Coordenador Regional Sul-1 DENEM O MUNDO DO TRABALHO MÉDICO Muitos vão nos dar a fórmula pronta: “Eu sei que é difícil, mas vai passar. Aguentem agora, porque quando vocês se formarem, tudo se resolve”. Será que essas pessoas estão ignorando o fato de que a educação pública a cada dia se deteriora mais e mais? Será que não vêem as diversas denúncias de más condições de trabalho, em hospitais e UBS afora? Será que não conhecem a Pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM), que revela que 44% dos médicos sofrem de depressão ou ansiedade e 57% têm estafa e desânimo com o emprego? A resposta não é tão simples assim. Para respondermos com precisão temos que olhar o processo que a nossa profissão passou nos últimos tempos. Até o começo do século XX, principalmente, o médico exerce sua profissão como um médico-artesão. Ou seja, um profissional liberal que possuía todos instrumentos necessários para o seu trabalho - estetoscópio, martelinho etc, muitos médicos faziam os remédios que utilizavam, alguns tinham consultório, outros realizavam visitas nas casas dos pacientes - e, portanto, tinha grande autonomia. Contudo, a partir da década de 30 e no Brasil principalmente a partir da década de 60 com grande intensificação nos anos 80, o médico sofre um processo de proletarização. O que isso significa? O advento de tecnologias e o aumento do conhecimento cientifico sem precedentes na História, obrigou o médico a se especializar cada vez mais. Esse processo de fragmentação da produção em saúde obriga a constituição dos hospitais, no qual o médico não mais é autossuficiente: depende das tecnologias, das máquinas (que não são dele) e do conhecimento de outros profissionais (enfermeiros, dentistas, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas etc). Dessa forma, a produção de saúde torna-se coletiva e o médico, ao se tornar um assalariado, sofre com as mesmas mazelas da classe trabalhadora: péssimas condições de trabalho, altas jornadas de trabalho, má remuneração, adoecimento, entre outros. Com uma peculiaridade: a maioria da categoria ainda aceita e naturaliza essas relações. É importante salientarmos que o que ocorre com o trabalho médico é um processo. E como todo processo, possui movimento. Desse modo, ainda há uma minoria que terá seu consultório (ainda assim, se submeterão aos convênios), mas a tendência é cada vez mais nos tornarmos (muitos já são) trabalhadores como outros quaisquer. Mas o que fazer diante desse quadro desesperador? Podemos lutar ao lado de todos trabalhadores da saúde (e não só) por melhores condições de trabalho, melhores salários e uma sociedade que nos melhore a vida. Para isso, a universidade e o movimento estudantil é uma grande escola: aqui, aprenderemos nossa técnica e também como lutar quando chegarmos ao duro mercado de trabalho.

CURIOSIDADE: Será que tá ruim pra todo mundo? Edson Godoy de Bueno, dono do grupo AMIL, tem uma fortuna avaliada em 2,6 bilhões de dólares. E o tal “empreendedor” explica como conseguiu: “Para mim, foi uma experiência que me trouxe grande satisfação. Eu percebi que dispunha de mão de obra extremamente qualificada, mas extremamente barata: o médico. Eu soube explorar isso, e o resultado foi a Amil”. Ou seja, enquanto estamos adoecendo e trabalhando sem descanso, os Edsons da vida enchem o bolso de dinheiro e a pança de caviar.

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MEDBADALO A VIDA SOCIAL DOS ACADÊMICOS DE MEDICINA. Eles iniciaram a todo vapor A ATM 2019/1 iniciou o curso em meio a um clima de mudança em termos da carreira médica no Brasil, porém nada disso foi suficiente para diminuir a adrenalina e a curiosidade ao extremo dos “bixos”. Aprovados em um vestibular recorde em participação de alunos, a turma conta com 31 acadêmicos e eles veem de todo o sul do do Brasil – Paraná, Santa Catarina, mas a maioria é gaúcho mesmo, com um destaque especial pra Santa Maria. Uma turma conhecida por dedicação e companheirismo entre os acadêmicos. Para tal mérito, a ajuda interna teve extrema relevância - resumos e comentários das aulas eram postados constantemente na internet e passados de mão em mão. Esse companheirismo dinâmico não ficou restrito apenas a turma mas foi além pois juntos e com o auxílio da Atlética organizaram a campanha do Natal Solidário – na qual arrecadaram mais de 300 brinquedos que foram distribuímos na COPAME e ESF Faxinal (Foto 1). ATM 2019/1 sejam bem vindos a esse novo estilo de vida que é a Medicina.

Recepção aos calouros No dia 24/02/2014 a ATM 2019/1 realizou com sucesso, muita alegria e muita música a recepção dos novos bixos. Sabemos que Tradição é a tradição, e então nesse ano não poderia ser diferente. Além da apresentação dos seus bixos, a ATM 2019/1 elegeu o BIXO MAIS GATO e a BIXO MAIS DIVA iniciando uma brincadeira que se passará pelos próximos anos. O certame de 2014 teve como eleitos os acadêmicos cidade de Erechim. O título de BIXO GATO ficou com Volmir Junior (18) e a faixa de BIXETE DIVA foi para Luise Seco (20). O MEDBadalo deseja a ATM 2019/2 boas vindas e sucesso nessa nova caminhada.


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MEDBADALO: A VIDA SOCIAL DOS ACADÊMICOS DE MEDICINA

EM CLIMA DE FESTIVIDADES...

Foi em clima de alegria, descontração e otimismo que a ATM 2015.2 fecha mais um ciclo. Junto com os professores: Drª Adriana Funk , Drª Clauceane Zell ,Drº Dennis Baroni, Drª Tatiana Kurtz, Drº Leandro Assmann, Drª Fabiane, Drª Isabel, Drº Romeu,Drª Candice e Drº Paulo Schutz eles comemoraram a entrada para internato. Boa sorte nessa nova etapa ATM 2015.2.

Como já dizia o velho ditado: “ Depois da tempestade, sempre vem a bonança”. E foi nesse clima de festividade que a ATM 2017.2 finalizou o quarto semestre da graduação em um churrasco ao lado do professor Drº Alex Schwengber. Que venha o quinto semestre, galera.

A ATM 2017.1 encerrou o semestre com chave de ouro em uma tarde agradável e animada ao lado da Professora Drª Susana Mueller. Colunista: Vítor Hugo Gouveia, Acadêmico do 5º Semestre A coluna MEDBadalo é destinada a mostrar um pouco do lado social dos acadêmicos de medicina da UNISC. Essa é a primeira edição da coluna MEDBadalo e pretendemos melhorá-la cada vez mais. A intenção da coluna é registrar momentos alegres que os acadêmicos da UNISC viveram no decorrer do semestre. Para isso a opinião de vocês é fundamental, logo sugestões de postagens são sempre aceitas, mande a sua para gouveia.docarmo@gmail.com. Sejam todos bem vindos e tenham um excelente semestre.


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TRABALHO MÉDICO HOJE: MAIS UMA ETAPA DE UM PROCESSO Marilia Francesconi Felicio | Médica formada na UNICAMP

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trabalho em saúde vai assumir, no processo de consolidação das relações sociais que temos, um

caráter tecnológico mais complexo – especialmente se comparado com o trabalho no período feudal ou de transição para essa sociedade. A própria compreensão dos aspectos do corpo e possibilidade de investigação desses aspectos muda imensamente. Há uma diversidade de conhecimentos, práticas e instrumentos de trabalho progressivamente maiores e que não podem ser de amplo conhecimento de cada trabalhador em saúde. Uma das expressões disso é que uma das características do trabalho em saúde que vai se configurando é a divisão das etapas do atendimento em saúde por vários profissionais, dentre os quais podemos citar o fisioterapeuta, o nutricionista, etc. Embora o médico ainda seja a figura que centraliza o atendimento em saúde, ele mesmo não mais domina todos os saberes e práticas constitutivos desse atendimento. Outra tendência inerente a organização do trabalho na nossa sociedade e que obviamente surge no trabalho em saúde é a progressiva separação entre trabalho intelectual e manual (tema discutido na Coluna de Saúde do Pato de março). Isso acaba por dividir os trabalhadores realizadores do mesmo processo de trabalho em: trabalhadores centrais, que dominam o trabalho manual, mas fundamentalmente dominam o conhecimento e a gestão do processo; e trabalhadores periféricos, que realizam práticas manuais mais simplificadas – nesse caso podemos citar o técnico em enfermagem e o instrumentador, por exemplo. No século XX, o progressivo resultado dessas transformações no trabalho em saúde, discutidas mais profundamente no segundo texto, é a o médico adquirindo características de um trabalhador como de outros setores da economia, quer dizer, assalariado e apenas capaz de trabalhar, mas não suficiente em si e com condições reais de ser dono dos instrumentos e meios necessários para realizar o processo de trabalho. Há outros aspectos importantes que explicitam como o trabalho médico passa pelas mesmas transformações que os outros trabalhos sociais, por exemplo, quando analisamos as tentativas de racionalizar esse setor.


Metástase - Ano 4, Edição 5

TRABALHO MÉDICO HOJE: MAIS UMA ETAPA DE UM PROCESSO Marilia Francesconi Felicio | Médica formada na UNICAMP Ocorre ampliação dos serviços para outros setores da população e elevação dos custos de sua realização, já que ao cuidado médico são agora incorporados os custos dos produtos industriais necessários para sua realização – como instrumentos de alta tecnologia, fármacos, etc. Uma mudança substancial relativa ao cuidado médico que precisamos considerar é a mudança na extensão do acesso a esse cuidado. O setor de serviços, no qual está o setor saúde, adquire uma nova forma de produção – em parte aqui explicitada na discussão sobre as mudanças no trabalho em saúde - e adquire uma nova forma de acesso. Dentre outros fatores, devido à conjuntura política no penúltimo quarto do século XX, o Estado passa a adquirir e ser forçado a assumir a responsabilidade de garantir o acesso da população a saúde e sustentá-la na sociedade de forma que continue produzindo e reproduzindo. O Estado de Bem-Estar Social europeu é um exemplo de política dada pelo Estado que reflete os problemas sociais enfrentados no período: morte de muitos trabalhadores devido à Segunda Guerra Mundial e a ameaça do socialismo, já que um terço do mundo se organizava dessa forma. Por um lado o Estado precisava garantir a sobrevivência dos sobreviventes da guerra sob o risco de perder quem poderia sustentar a retomada do desenvolvimento econômico e por outro lado dar o mínimo para que um projeto de sociedade cujas políticas sociais são de fato distribuídas igualitariamente não virasse mote de lutas e contestações. Em meados do século XX, surgem e se multiplicam grandes grupos privados que investem no setor saúde (bem como educação e outros) que até então de forma geral eram entendidos como setores próprios do setor publico. A saúde era um mercado até então pouco explorado, mas que poderia vir a dar boa lucratividade e tinha potencial para isso. Porém, surgem algumas questões conjunturais que levam a uma falência dessa possibilidade de o Estado garantir o pleno acesso aos serviços tidos como sociais. Houve uma grande crise econômica na década de 70 que além de potencializar o desenvolvimento de um novo mercado, era um mercado cujos investimentos prévios na organização da assistência a saúde feitos pelo Estado permitiam que não fosse necessários grandes investimentos iniciais, era, portanto um mercado pronto para ser explorado. Essa crise levou a uma série de mudanças tanto nas disputas políticas, quanto na organização do trabalho como um todo, quanto nas disputas por novos setores lucrativos.

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TRABALHO MÉDICO HOJE: MAIS UMA ETAPA DE UM PROCESSO Marilia Francesconi Felicio | Médica formada na UNICAMP Setores antes não centrais ou que ainda não se consolidaram como setores lucrativos passam a ser explorados de forma mais intensa e se constituem novos mercados. O setor saúde é um deles e essa tendência é ainda potencializada pela necessidade da nova forma de cuidado médico de se apropriar continua e intensamente das tecnologias desenvolvidas e produzidas na indústria. O trabalhador em saúde sofre um processo no qual passa a ser um trabalhador também lucrativo e o trabalho em saúde que não gerava riqueza em determinados períodos históricos, muda seu caráter e passa progressivamente a ser bastante lucrativo. Hoje boa parte dele está dentro do setor de produção de mercadorias da saúde gerando lucros imensos a quem é dono destas empresas (farmacêutica, equipamentos, etc). As mudanças mais atuais relativas à organização do trabalho em saúde precisam ser compreendidas nessa totalidade e, quando pensamos no Brasil, atreladas à constituição do Sistema Único de Saúde (tema da Coluna de Saúde deste Pato). Embora o SUS seja fruto da luta por uma saúde pública, o processo de construção teve inúmeros fatores determinantes que explicam porque hoje o sistema de saúde público no Brasil é dependente do setor privado e, além disso, está cada vez mais atrelado a lógica de produção privada e não de atendimento universal e de qualidade – e essa lógica que muda as formas de organização do trabalho também ocorrem mesmo que o trabalho seja na esfera pública. Dentre as mudanças no serviço de saúde, que demonstram como esse setor é incorporado como setor lucrativo e como se acelera o processo de precarização do trabalho em saúde, devemos levar em conta as mudanças nos modelos de gestão dos serviços – Organizações Sociais, Fundações Estatais ou não, e outros – e a antiga e continua queda do financiamento publico da saúde. As privatizações na saúde, bem como a analise do financiamento desta são temas para serem mais bem trabalhados nas próximas Colunas de Saúde. Contudo, devemos adiantar que as mudanças nos modelos de gestão em saúde aprofundam a precarização do trabalho médico e do trabalho em saúde, na medida em que colocam o fator produtividade e os baixos custos em primeiro plano. Para garantir isso, o atendimento em si é cada vez mais desqualificado e a valorização do trabalhador muda. Na prática isso se expressa pelo tempo médio pífio da realização dos atendimentos, pela estrutura deficiente e insuficiente dos serviços, pelo acesso nem sempre garantido à tecnologia, pela crescente baixa na remuneração dos trabalhadores em saúde, pelo aumento da quantidade de horas trabalhadas e às vezes sem descanso, entre outros fatores objetivos. Importante colocar que essas transformações não são revogáveis. Ao tirarmos uma fotografia do trabalho medico hoje – na sua totalidade e não nas particularidades e resquícios – devemos compreender que esta organização e esta precarização são fruto de todas as transformações que foram ocorrendo ao longo da história de desenvolvimento e consolidação na nossa sociedade. Esse é o objetivo dessa edição do Pato, resgatar a história e analisá-la como ferramenta para expor os problemas de hoje e visualizar as tendências. As mudanças na organização do trabalho medico e a precarização deste são parte de todo um processo difícil de ser explicado, mas essencial de ser criticado. Mais importante, as transformações continuam a ocorrer – afinal a história só anda para frente – e da forma como tem ocorrido e ocorrem são intrínsecas à forma pela qual nos organizamos em sociedade.


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LABORATÓRIO DE HISTOLOGIA E PATOLOGIA - UNISC Lucas Cappelletti | Estudante de Medicina e Bolsista do laboratório O Laboratório de Histologia e Patologia da UNISC é responsável pela produção de lâminas de microscopia de citologia e histologia normal e patológica usadas pelos diversos cursos de graduação e pós-graduação da universidade. Também é no local que são processadas as biópsias provenientes da Clínica de Odontologia da UNISC. Ainda, o laboratório recebe alunos de diversos cursos de graduação que realizam atividades de pesquisa, monitorias e estágios. A cada ano, diversas revistas científicas de âmbitos nacional e internacional publicam trabalhos realizados no local.

Equipe do laboratório com Bruce Alberts,

O laboratório é coordenado pelo professor Juarez A. Schmidt e possui

principal autor do livro Biologia Molecular da

como técnico responsável Joel Henrique Ellwanger. A patologista bucal

Célula e editor-chefe da revista Science, du-

é a professora Michele Gassen Kellermann. Neste boletim estão apresen-

rante o Congresso Internacional de Biologia

tados os professores e alunos parceiros do laboratório e as atividades

Celular (Rio de Janeiro, 2012)

desenvolvidas no local entre o segundo semestre de 2010 e o primeiro semestre de 2013. Alunos que desenvolveram estágios, trabalhos de conclusão de curso e atividades da disciplina de Pesquisas em Ciências Biológicas: Thamires Klein, Hiuri Bredow, Eduardo Soares, Denise Souza, Helen da

Artigos publicados em revistas indexadas em bases de dados internacionais: 16 ARTIGOS

Rosa, Fernando Abling, Leonardo Bastos, Juliano Assmann, Daniela Costa, Valéria Leal, Carolina Seffrin, Tales Harthmann, Patrícia Carvalho, Raquel Figueiredo, Joel Henrique Ellwanger, Tatiane de Aquino, Juliane

Resumos publicados em anais de eventos: 38 RESUMOS

Gruner, Jeferson Henn, Mireila Lersch, Cristian Zatt e Fernanda Zenkner. Alunos que são ou foram bolsistas no laboratório: Patrícia Molz, João Paulo da Costa Rosa, Iuri Pereira dos Santos, Raquel Corbellini, Lucas Cappelletti, Talise Ellwanger Müller, Ariana Pereira dos Santos,

Capacitações e minicursos oferecidos: 2 MINICURSOS E 5 CAPACITAÇÕES Prêmios recebidos:

Guilherme Vicentini, Manoela Gonçalves, Daniele Dallemole, Vívian

4 PRÊMIOS (TODOS 1º LUGAR, INCLUINDO NO

Freitas, Rafael Henrique Roelscher, Manassés Souza, Diogo Tasca, Luiz

PRÊMIO GARCIA DO PRADO DE ANATOMIA HUMANA)

Gustavo Fuhr e Gustavo Herbstrith.

Professores da UNISC parceiros do laboratório em atividades de pesquisa e ensino: Alexandre Rieger, Silvia I. R. Franke, Daniel Prá, Andréia Köche, Marisa Putzke, Deivis de Campos, Dennis Baroni Cruz, Andreas Köhler, Chana de Medeiros, Leo Kraether Neto, Lia Possuelo, Andreia Valim, Michele Kellermann, Juarez A. Schmidt, Andrea Gonçalves, Maria Viviane Muller, Tânia Bernhard, Lúcia Furtado e Jane Renner. Instituições que possuem professores/alunos parceiros do laboratório na realização de atividades de ensino e pesquisa: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).


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VERTICAIS:

HORIZONTAIS:

1. Parte do diencéfalo

14. Distúrbio grave que leva a hemorragias

2. Índice amplamente usado para estimar obesidade

15. Ciência que estuda a morte e o morrer

3. Uma das tesouras cirúrgicas

16. Divisão de células eucarióticas

4. Termo usado para designar alterações cromossômicas ou genéticas 5. Animais hospedeiros do Toxoplasma

17. Secreção de restos proteicos de leucócitos e agentes bacterianos

6. Doença inflamatória intimamente relacionada ao risco cardiovascular

18. Manobra semiológica que testa a força dos músculos flexores do joelho

7. Presença de movimentos involuntários anormais

19. Hormônio com ação nas gônadas

8. Doença envolvendo aumento da pressão intraocular e neuropatia óptica

20. Nevo de cor avermelhada

9. Antiga denominação da enzima AST

22. Relaxante muscular e anestésico

10. Aumento da concavidade natural da coluna vertebral

23. O remédio para todos os males

11. Leishmaniose visceral

24. Bordas de uma das mucosas humanas

12. Característica da lesão do molusco contagioso

25. Uma das células da glia

13. Doutrina que diz que as decisões humanas não são livres, mas determinadas por variáveis biológicas e ambientais

26. Medicação amplamente utilizada, derivada da utilização de casca de salgueiro há séculos

21. Mês de fundação do DAPLUS

27. Procedimento diagnóstico que envolve a visualização interna do útero 28. Síndrome (?): Costocondrite ou Síndrome de Tietze


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