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1967: o início de uma saga��������������������������������������������������������������������������������������������
PARTE I TEMPO I - Família, Infância e Escolarização
Nasci em 1967.
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Para ser mais precisa, nasci em 6 de julho de 1967, em Santiago, capital do Chile, situado entre duas cordilheiras: la de la Costa e la de los Andes. Ao Norte está o deserto e, ao Sul, o gelo da Antártida.
Tudo isto encontra-se no continente denominado América Latina, do qual faz parte também o Brasil. Explico este detalhe, pois muitas vezes, em conversas com amigos brasileiros, eles dizem: pois é, vocês, da América Latina, referindo-se ao pessoas como eu (americanos hispano-hablantes).
20 Memorial Maria Paz Loayza Hidalgo
Bem... sim... depois da cordilheira mora gente. Seres um pouco estranhos! Na minha infância, as pessoas daquelas terras eram visitadas por pessoas mais estranhas ainda. Todos os anos chegavam
uns seres com os olhos mais puxados que os nossos e que trabalhavam em um circo, o circo Chinês.
Também chegavam por lá umas moças russas que ficavam na ponta dos pés. Elas eram do Balé Bolshoi. Mas, o mais impressionante de todos, era um homem que não falava com a boca, mas com o corpo. Ele
tinha um cachorro que ninguém enxergava. Eu enxergava! Anos mais tarde, vim a saber que o nome do
maluco era Marcel Marceau e morava em uma terra na qual minha avó teria gostado de morar: Paris.
Agora vocês já sabem onde e quando nasci, mas o que não sabem é como.
Tudo era para ser muito tranquilo. Minha mãe não quis tomar nenhum remédio, pois existia o medo
do efeito talidomida. Segundo ela, isso garantiu que eu nascesse com braços e mãos. Na geração da
minha mãe, muitos homens perderam braços e pernas na guerra do Vietnã e bebês nasciam assim por
causa da talidomida.
Tudo estava programado. Quem faria o parto? Obviamente, a Dra. Maria Fuentes, conceituadíssima em Santiago e, por coincidência, minha avó. Ela faria o parto.
Me imagino, eu, ingênua, nadando naquela piscina de aguas calientes, quando a água começa a dimi-
nuir e as paredes passam a apertar e me empurrar para um lugar desconhecido. Naquele momento,
eu não temeria mal algum, pois a minha avó estaria comigo.
PARTE I TEMPO I - Família, Infância e Escolarização
— Abu, onde estais ?! (gritei na língua de bebê pré-recém nascido)
Escuto um grito: — ¡No Maria! La tijera, No!
Oh oh...
— ¡No Maria! El bisturí también No!!!! Queréis cortarle la cabeza a tu nieta?
Mas as paredes já estavam se fechando! Não havia retorno!
— Gracias a la vida, Dr. Montoya.
Montoya, a essas alturas, meu íntimo, com voz grossa e mostrando liderança, falou:
— Maria sale de ahí! No te das cuenta que estas burra?! — Ufa, finalmente, alguém sem tesoura, sem bisturi, apenas com as mãos!
Foi assim que eu nasci.