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PARTE II TEMPO V - Ensino

Desde o período da assessoria científica tive contato com alunos da graduação. Durante o Mestrado e Doutorado organizava os alunos de Iniciação Científica em clubes de revistas e em reuniões para a compreensão de todas as etapas do estudo. Mas foi durante minha estada no HMIPV e FFFCMPA que administrei as primeiras aulas expositivas para grande grupo, quando tive a oportunidade de exercer o papel de regente e propor métodos alternativos de ensino para a época

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Portanto, quando entrei na UFRGS, já tinha experimentado uma série de metodologias didáticas. A que com mais me identifiquei foi a utilizada na disciplina de relação médico-paciente: pequenos grupos em que se misturam as aulas teóricas em forma de seminário e muita prática. Na prática, surgem os problemas; nos seminários, as discussões para solucioná-los coletivamente; e, nesses cenários, ocorre a construção de identidade profissional.

Porém o mais desafiante de todos os programas de ensino tem sido uma atividade de extensão voltada a alunos de escolas.

Esse programa iniciou de uma forma peculiar. Guilherme (meu filho) e eu tivemos uma daquelas discussões que, provavelmente, alguns de vocês já tenham enfrentado. Eu usava todos os argumentos para que ele diminuísse o tempo dedicado ao videogame e fosse dormir mais cedo. Ele, reconhecendo a autoridade materna, foi para seu quarto. Porém não dormiu. Ao contrário, procurou no Pubmed as evidências para me convencer de que videogame poderia, inclusive, ser benéfico. No outro dia, me

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deparei com um filho armado de artigos científicos. Contra-argumentei dizendo que existia um problema em aberto: exposição à iluminação durante a noite. Foi assim que Gui começou a desvendar se isto tinha base científica.

Essa experiência familiar me trouxe alguns questionamentos, pois percebi a quantidade de instrumentos que meu filho tinha para resolver problemas do dia a dia e, como adolescentes, assim como ele, poderiam se beneficiar ao dispor de um espaço para conversar sobre questões do cotidiano. Elaboramos atividades de aproximação com as escolas e fizemos um projeto-piloto no qual, em lugar de irmos até à escola, trazíamos, para uma atividade organizada pelo Laboratório, os alunos para a universidade.

A experiência nos deu a clareza do quão distante estávamos do mundo. Pois, mesmo sendo escolas compostas por famílias de classe média, era impressionante o espanto dos nossos visitantes em relação ao que fazíamos no Laboratório. Decidimos que essa atividade deveria ter um continuum. Começamos com um pequeno grupo que se dispôs a ser nosso piloto do programa de alunos da escola no Laboratório. Esses pioneiros participaram ativamente no processo de construção do programa: propunham métodos, criticavam as atividades que achavam não acrescentar e, aos poucos fomos compreendendo o que era conhecer, fazer e construir conhecimento. Nesse ponto, o que chamava a atenção era o nosso despreparo com métodos didáticos. Foi quando pedimos ajuda para a Profa. Beatriz Ferreira que veio nos instrumentalizar com os métodos didáticos, planos de aula, e com a Profa. Maria Elisa Calcagnotto, sentimos a necessidade de agregar uma disciplina em nível de Pós-graduação para discutir teorias e métodos de ensino. Obviamente achava que estávamos inovando. Mas, não completamente.

Maturana e Varela já descreviam esse processo em 1984 e, na UFRGS, inclusive existia um programa semelhante. Porém o programa era limitado a uma escola. Além disso, esse programa não tinha relação com a estrutura da Pós-graduação. Assim, o programa inova por tentar superar o que infelizmente observamos: na estrutura universitária, ainda o ensino nos diferentes níveis, a pesquisa e a extensão estão em compartimentos que muitas vezes não se comunicam. No programa, os alunos de Pósgraduação pensam e elaboram estratégias de ensino; os alunos das escolas aprendem desenvolvendo o método científico; e os bolsistas da graduação (Iniciação Científica) divulgam e difundem o que desenvolvem para a população por meio das mídias sociais e de eventos como a “Semana do Cérebro”. E, por fim, estamos formando uma rede de professores que se dispõem a receber esses alunos para atividades práticas nos seus Laboratórios.

Atualmente, estamos na sexta edição do programa que tem por objetivo não só trazer alunos de diferentes escolas e proporcionar um cenário de aprendizagem e desenvolvimento de um pensamento

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crítico, mas também ser uma oportunidade para os alunos de Pós-graduação proporem e colocarem em prática métodos didáticos.

…Esta circularidad, este encadenamiento entre acción y experiéncia, esta inseparabilidad entre ser de una manera particular y como el mundo nos aparece, nos dice que todo acto de conocer trae un mundo a la mano. Esta característica del conocer será, inevitablemente, a la vez que nuestro problema, nuestro punto de partida y el hilo directriz de toda nuestra presentación en las próximas páginas. Todo esto puede encapsularse en el aforismo: Todo hacer es conocer y todo conocer es hacer…

(Maturana, El A árvore do conhecimento - As bases biológicas do conhecimento humano, 1984)

Quais os proximos desafios do programa?

Nuestro objetivo está entonces claro: queremos examinar el fenómeno del conocer tomando 1a universalidad del hacer en el conocer, este traer a la mano un mundo, como problema y punto de partida, de modo que podamos revelar su fundamento. ¿Y cuál será nuestro criterio para decir que hemos tenido éxito en nuestro examen?

(Maturana, El A árvore do conhecimento - As bases biológicas do conhecimento humano, 1984)

Ainda precisamos avançar nos métodos de avaliação do programa. E é nisso que nos associamos ao Departamento de Ciências Sociais da Universidad de Chile. Precisamos de um outro método que considere o caráter transdisciplinar e transestrutural do programa. Esses são os desafios para os próximos anos. Assim, teremos um ciclo completo para poder difundir o programa como um modelo com experiência avaliada a ser implementado em outras universidades.

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Parte III

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