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PARTE III TEMPO VI - Formação Stricto Sensu
Imaginem se encontrássemos correlações do transtorno de humor tipo depressivo com variáveis fisiológicas.
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Pois bem, pensando sob essa ótica, pode-se compreender o entusiasmo ao perceber que uma característica comportamental tem relação com a hora do pico de secreção de melatonina pela pineal, com a hora em que o pico de cortisol ocorre e com o ritmo de temperatura.
Eu vinha com o paradigma da doença e imediatamente me fiz perguntas se essa dimensão do comportamento poderia estar relacionada com algumas “queixas” como, por exemplo, a sonolência diurna. Os resultados foram publicados no artigo:
Hidalgo MP, de Souza CM, Zanette CB, Nunes PV. Association of daytime sleepiness and the morningness/ eveningness dimension in young adult subjects in Brazil. Psychol Rep. 2003 Oct;93(2):427-34. doi: 10.2466/ pr0.2003.93.2.427. PubMed PMID: 14650667.
E, claro, os vespertinos apresentavam mais sonolência diurna. O que eu esqueci?
Esqueci de perguntar a qual hora era percebida a sonolência.
Atualmente sabemos que cada cronotipo vai relatar sonolência em determinada hora. Os vespertinos têm mais facilidade de relatar, pois, como diz o ditado, “Deus ajuda quem cedo madruga”. Assim, a sonolência percebida pelos vespertinos ocorre no momento em que socialmente definimos como tendo que ser produtivos, o dia!
Porém, se perguntássemos para os matutinos a hora em que percebem a sonolência, dirão que é a noitinha e que isso dificulta a participação em festas e em uma vida “boêmia”. Mas isto não é socialmente percebido como um prejuízo.
Ainda entusiasmada pelos achados, propus para a Márcia um estudo populacional em que pudéssemos avaliar o quanto a dimensão matutinidade/vespertinidade poderia estar associada com sintomas depressivos em pessoas saudáveis. Assim, desenvolvemos o projeto cujos resultados foram publicados no artigo:
Hidalgo MP, Caumo W, Posser M, Coccaro SB, Camozzato AL, Chaves ML. Relationship between depressive mood and chronotype in healthy subjects. Psychiatry Clin Neurosci. 2009 Jun;63(3):283-90. doi: 10.1111/j.14401819.2009.01965.x. PubMed PMID: 19566758.
64 Memorial Maria Paz Loayza Hidalgo
Os achados me levaram a avaliar, em outras populações, a relações entre cronotipo e outros comportamentos importantes para a psiquiatria. Dentre esses comportamentos, já que os vespertinos sentem mais sonolência no período em que se espera que os humanos sejam produtivos, será que eles utilizariam mais estimulantes? A resposta foi publicada nesse artigo:
Schneider ML, Vasconcellos DC, Dantas G, Levandovski R, Caumo W, Allebrandt KV, Doring M, Hidalgo MP. Morningness-eveningness, use of stimulants, and minor psychiatric disorders among undergraduate students. Int J Psychol. 2011 Feb 1;46(1):18-23. doi: 10.1080/00207594.2010.513414. PubMed PMID: 22044129.
Porém uma das críticas dos referees a esses achados foi o fato de termos uma amostra urbana em que a poluição luminosa poderia ser um dos fatores que mediasse esta relação.
Assim, testamos a hipótese de que matutinidade/vespertinidade estariam associados a sintomas depressivos em uma população no interior do Estado. Desta vez, usamos o Munich ChronoType Questionnaire (MCTQ) que permite avaliar o ponto médio de sono, variável que caracteriza o cronotipo. O importante é que, medindo o ponto médio de sono, poderíamos caracterizar essa variável nos dias de trabalho e nos dias livres. O impressionante era que, mesmo em uma população rural, havia um comportamento bastante diferente nos dias de trabalho e nos dias livres.
Começávamos a perceber que o comportamento de atividade e repouso em humanos era mais complexo do que imaginávamos. Avaliamos a diferença entre o ponto médio de sono nos dias livres em relação aos dias de trabalho (variável nomeada por Till Roenneberg como jet lag social) e essa variável se mostrou associada aos sintomas depressivos. Ou seja, o mero fato de ser vespertino não representava uma associação com sintomas de depressão. Essa característica deveria provocar uma “dessincronização”. Os resultados e a ideia foram publicados no journal mais importante da área na época: Chronobiology International:
Levandovski R, Dantas G, Fernandes LC, Caumo W, Torres I, Roenneberg T, Hidalgo MP, Allebrandt KV. Depression scores associate with chronotype and social jetlag in a rural population. Chronobiol Int. 2011 Nov;28(9):771-8. doi: 10.3109/07420528.2011.602445. Epub 2011 Sep 6. PubMed PMID: 21895489.
PARTE III TEMPO VI - Formação Stricto Sensu
Respondida esta questão, apareciam mais questionamentos que ainda não estavam respondidas pela literatura. Será que se pudéssemos avaliar a A exposição à luz, a urbanização e controlar na analise como variáveis com potencial confundidor, o que será que se manteria associado a sintomas depressivos o ponto médio de sono ou o social jet lag?
A pergunta é respondida em um estudo que avalia comunidades quilombolas com diferentes histórias a exposição à luz artificial. O que está associado aos sintomas depressivos é o jet lag social.
Logo, a pergunta que gostaríamos de responder é sobre fator de risco, o que só seria possível em uma força-tarefa mundial em um estudo de coorte. Para tanto é necessário fomento. Portanto, para responder a algumas perguntas fundamentais, é necessário um espaço em uma instituição que valorize a ciência, mas também se precisa de uma rede internacional e de fomento.
Parte de nossa contribuição ao estudo dos cronotipos está resumida em uma revisão sobre o assunto com a participação dos colegas que trabalham com cronotipo ou tipologia circadiana:
Adan A, Archer SN, Hidalgo MP, Di Milia L, Natale V, Randler C. Circadian typology: A comprehensive review. Chronobiol Int. 2012 Nov;29(9):1153-75. doi: 10.3109/07420528.2012.719971. Epub 2012 Sep 24. Review. PubMed PMID: 23004349.