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Cronobiologia e o zeitgeber social �������������������������������������������������������������������������������

PARTE IV TEMPO VII - Geração do Conhecimento

No hay una discontinuidad entre lo social y humano y sus raíce biológicas. El fenómeno del conocer es todo de una sola pieza, y en todos sus ámbitos está fundada, de la misma manera (Humberto Maturana y Francisco Varela, El árbol del conocimiento. Las bases biológicas del entendimiento humano. Ed Universitaria, Santiago de Chile, 1984)

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Vale a pena lembrar que os zeitgebers são pistas temporais do ambiente que têm a capacidade de sincronizar o relógio biológico, sendo o ritmo de claro/escuro o mais estudado. Além do claro/escuro, diversos estímulos externos, tais como atividade físicas, refeições e interações sociais têm mostrado importante influência no sistema temporal. A forma como ocorre essa regulação ainda precisa ser elucidada, pois há mais evidência de que esta regulação ocorra pela ação dos relógios periféricos ou indiretamente pelo núcleo supraquiasmático. Portanto, a rotina que estabelecemos na realização de atividade física e horários de refeição parece ser fundamental para manter a organização desse sistema temporizador, e dentro desta rotina está o horário de realizar o trabalho ou, no caso das crianças e adolescentes, o horário escolar. Tais horários podem, inclusive, determinar os horários aos quais a pessoa se expõe à luz natural durante o dia e à luz artificial durante a noite. Um exemplo mais dramático é o trabalho de turno que impõe uma rotina invertida ao trabalhador. Porém o ambiente de trabalho também afeta os níveis de melatonina e cortisol como vimos no estudo desenvolvido pela Dra. Betina Martau, resultante de uma colaboração com o Departamento da Arquitetura da UNICAMP.

Além disso, vimos que, mesmo em pequenas cidades do interior do Estado, já existem mudanças importantes em relação ao hábito de dormir quando comparadas as áreas rurais. Os resultados foram publicados no artigo:

Carvalho FG, Hidalgo MP, Levandovski R. Differences in circadian patterns between rural and urban populations: An epidemiological study in countryside. Chronobiol Int. 2014 Apr;31(3):442-9. doi: 10.3109/07420528.2013.846350. Epub 2014 Jan 7. PubMed PMID: 24397277.

Já que existiam tais diferenças, sendo uma delas a mudança de fases do sono (nas cidades se dorme mais tarde), resolvemos ver se essa variável estaria relacionada ao nosso desfecho de interesse na época: depressão. Camila Morelatto analisou os dados do Vale do Taquari e obteve resultado em que o atraso de fase nos dias de trabalho estava associado a maiores níveis de sintomas depressivos. Os resultados foram publicados no artigo

de Souza CM, Hidalgo MP. The midpoint of sleep on working days: A measure for chronodisruption and its association to individuals’ well-being. Chronobiol Int. 2015 Apr;32(3):341-8. doi: 10.3109/07420528.2014.979941. Epub 2014 Nov 13. PubMed PMID: 25392279.

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Felipe foi avante e analisou se a rotina de trabalho moderava a relação entre ser vespertino e índices baixos de bem-estar:

Carvalho FG, de Souza CM, Hidalgo MPL. Work routines moderate the association between eveningness and poor psychological well-being. PLoS One. 2018;13(4):e0195078. doi: 10.1371/journal.pone.0195078.

A partir desses estudos surgiu a curiosidade em saber se tais diferenças e associações poderiam ser observadas em adolescentes e, infelizmente, o resultado se manteve:

de Souza CM, Hidalgo MP. Midpoint of sleep on school days is associated with depression among adolescents. Chronobiol Int. 2014 Mar;31(2):199-205. doi: 10.3109/07420528.2013.838575. Epub 2013 Oct 24. PubMed PMID: 24156519.

PARTE IV TEMPO VII - Geração do Conhecimento

Os resultados nos levaram a desenvolver um projeto nas escolas em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul: Progresso. Alicia Carissimi fez um trabalho primoroso:

Carissimi A, Dresch F, Martins AC, Levandovski RM, Adan A, Natale V, Martoni M, Hidalgo MP. The influence of school time on sleep patterns of children and adolescents. Sleep Med. 2016 Mar;19:33-9. doi: 10.1016/j. sleep.2015.09.024. Epub 2015 Nov 12. PubMed PMID: 27198945.

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Além das diferenças nos hábitos de sono por terem as crianças o sono modificado pelo fato de estudarem no turno da manhã, Alicia observou, dessa vez em crianças, que ocorriam alterações nos níveis de melatonina e cortisol:

Carissimi A, Martins AC, Dresch F, da Silva LC, Zeni CP, Hidalgo MP. School start time influences melatonin and cortisol levels in children and adolescents - a community-based study. Chronobiol Int. 2016;33(10):14001409. doi: 10.1080/07420528.2016.1222537.

Portanto, as condições de ambiente de trabalho e os horários escolares influenciam o sistema temporizador. O resultado novamente nos impele a compreender tais relações como fenômenos complexos em que diversas questões ambientais e de rotina interagem entre elas e sobre os nossos corpos.

Por esta razão, vemos com crítica nossos trabalhos anteriores sobre os estudos dos ritmos sociais, os quais tentamos dimensionar por meio de escalas um construto de zeitgeber social. Atualmente, vemos com otimismo a aferição por meio de métodos qualitativos e nisto é que a colaboração com a área das Ciências Sociais da Universidad de Chile se torna fundamental.

Assim, posso dizer que, nesse ponto da vida do nosso Laboratório, são vários os cientistas que aparecem: Aschoff, Franz Halberg, Pittendrigh, Daan, Reiter. Eles influenciaram o pensamento de cientistas como Till Roenneberg (Till), Antoni Diez Noguera (Toni), Regina Markus (Rê), José Cipolla Neto (Cipolla) e Fernanda Amaral (Fê) e, por consequência toda uma geração, o que nos ajudou a enfrentar um dos grandes desafios deste século: a pandemia (Anexo: Para não dizer que não falei da pandemia). Foi durante a pandemia que percebemos como a perda da rotina poderia afetar os hábitos de sono, os horários e a qualidade da alimentação, os níveis de atividade física e, por seguinte, nosso sistema temporal como um todo. Foi desenvolvendo esse projeto que ficou evidente que interações sociais e rotina podem estar associadas, mas são questões diferentes. No trabalho apresentado por Luísa Klaus Pilz na Semana Científica do HCPA em 2022.

PARTE IV TEMPO VII - Geração do Conhecimento

Mostramos como a falta de manutenção de rotinas durante o período de pandemia ficou associada a sintomas depressivos e de ansiedade:

Durante a pandemia, aceleramos o processo de ocupar os espaços virtuais, o que modificou nossas interações sociais. A perda de rotina e a mudança na ocupação do espaço foram, em parte, responsáveis por muitos terem ganhado peso e ficarem insones. O quanto isso passou por alterações do sistema temporizador é o que continuamos investigando.

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Parte V

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