APOSTILA VISUAL PROJETO DE RESTAURO VI - PROFESSORA DINAH GUIMARAENS

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Igreja de São Miguel (1938 - 1940), uma das primeiras missões do SPAN (Serviço do Patrimônio Artístico Nacional) hoje IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Obras de estabilização dirigidas por Lucas Mayerhofer.

PROJETO DE RESTAURO 2021

PROFESSORA DINAH PAPI GUIMARAENS Escola de Arquitetura e Urbanismo/EAU Universidade Federal Fluminense/UFF dinah.papi@gmail.com +5521 98668-1365

ISABELA SILVA DIAS- Monitora EAU/UFF


ÍNDICE 1-TEMAS PRINCIPAIS

2-CONCEITOS DE PATRIMÔNIO CULTURAL 3-CATEGORIAS DE PATRIMÔNIO CULTURAL 4-ATORES NA LEGISLAÇÃO E PATRIMÔNIO EUROPEU/APEL 5-CATEGORIAS PATRIMONIAIS 6-PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO 7-PATRIMÔNIO IMATERIAL OU INTANGÍVEL

8- PATRIMÔNIO CULTURAL (1988) 9-DECRETO-LEI N° 25/1937 – SPHAN 10-MONUMENTOS E CONJUNTOS 11-LUGARES 12-CONSERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS

13-PRESERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS 14-FORMAS DE INTERVENÇÃO NO BEM IMÓVEL 15-MANUTENÇÃO DO BEM CULTURAL 16-CONSERVAÇÃO PREVENTIVA 17-REABILITAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE UM BEM 18-CONSOLIDAÇÃO ESTRUTURAL, RECUPERAÇÃO E RECOMPOSIÇÃO/REINTEGRAÇÃO

19-RECONSTRUÇÃO 20-RÉPLICA 21-ADAPTAÇÃO A UM NOVO USO (RETROFIT) 22- RENOVAÇÃO, REVERSIBILIDADE E LACUNA 23-ANOMALIAS E AÇÕES ANTRÓPICAS

24-ANOMALIAS EM ESQUADRIAS E PANOS-DE-VIDRO 25-MÁRIO DE ANDRADE: PROJETO - LEI 25/1937 26- LEI DE TOMBAMENTO (1937) 27-TIPOS DE TOMBAMENTO


ÍNDICE 28- TOMBAMENTO DE PARATY, RJ E OURO PRETO, MG 29-EFEITOS DO TOMBAMENTO 30-MULTA E DETENÇÃO 31- LEI DO DESTOMBAMENTO (1941) 32-CENTRO NACIONAL DE REFERÊNCIA CULTURAL – CNRC (1975)

33-INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL - IPHAN (1970-197934-; 1994) 34- PAC CIDADES HISTÓRICAS (2013) 35-INCLUSÃO DE BENS NA LISTA PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE - UNESCO 36-CHANCELA DA PAISAGEM CULTURAL - UNESCO 37- PARATY E ILHA GRANDE/RJ (2019)

38-CASA-GRANDE & SENZALA NO BRASIL COLONIAL 39-SOBRADOS & MOCAMBOS NO BRASIL URBANO 40- FORMAÇÕES TIPOLÓGICAS DA PAISAGEM CONSTRUÍDA 41-ESTILOS DE ARQUITETURA< TIPOLOGIA> VOLUMETRIA 42- CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DE ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS

43-CIDADE COLONIAL 44-ARQUITETURA BARROCA (2) 45-ARQUITETURA RELIGIOSA 46-OBRAS DE INFRAESTRUTURA 47-ANÁLISE TIPOLÓGICA DA ARQUITETURA PATRIMONIAL 48-ARQUITETURA NEOCLÁSSICA 49-ARQUITETURA CIVIL 50-COBERTURA E CORPO 51-PORTAS E JANELAS 52-A TALHA


ÍNDICE 53-PAREDES PORTANTES, PILARES E VIGAS 54-BARROTES 55-INTERIORES

56- ESTUDOS DE CORES DAS FACHADAS 57-ARGAMASSA, ESTUQUE E AZULEJOS 58-CORREDOR CULTURAL 59-EMBASAMENTO E ALVENARIA 60-INVENTÁRIOS

61-OBJETIVOS DE INVENTÁRIOS 62- CONCEITOS DE RESTAURO 63-CESARE BRADI E RESTAURO 64-INSTITUTO CENTRAL DE RESTAURAÇÃO-ICR 65-REINTEGRAÇÃO DE LACUNAS 66-LINHAS VERTICAIS COM AQUARELAS

67-DESENHOS DE DOCUMENTAÇÃO E RESTAURO 68-DEFINIÇÃO DE RESTAURAÇÃO 69-RESTAURAÇÃO E PESQUISA DOCUMENTAL 70-PROGRAMA DE RESTAURO: ELEMENTOS DE SONDAGEM 71-INDICADORES TEMPORAIS/SONDAGENS PROSPECTIVAS DE SUPERFÍCIE

72- INDICADOR TEMPORAL 1: EXAME DA ESTRUTURA EDIFICADA 73- INDICADOR TEMPORAL 2: IDENTIFICAÇÃO/ANÁLISE DE FACHADAS E DE ORNAMENTOS ARTÍSTICOS 74-INDICADOR TEMPORAL 3: ANÁLISES DOS REVESTIMENTOS 75-RESULTADOS GERAIS: ARQUEOLOGIA DA ARQUITETURA 76-METODOLOGIA ARQUITETÔNICA: ARQUEOLOGIA DA SUPERFÍCIE 77- ARQUEOLOGIA DE SUPERFÍCIE: SONDAGENS ESTRATIGRÁFICAS/DIAGNÓSTICOS

78- A RESTAURAÇÃO: DA LIMPEZA ÀS REINTEGRAÇÕES ESTÉTICAS FINAIS


ÍNDICE 79-RESULTADOS DA METODOLOGIA ARQUEOLÓGICA DA SUPERFÍCIE 80-PESQUISA DOCUMENTAL ARQUIVÍSTICA/ ICONOGRÁFICA: FICHA TÉCNICA 81- ESTUDOS DE CASO: RESTAUROS

82-RESTAURO COMO RELEITURA 83-RESTAURO VERDE 84-PAULO MENDES DA ROCHA E PINACOTECA/SP 85-PROJETO DE INTERVENÇÃO (1988-1999) 86-PINACOTECA DE SÃO PAULO

87- MENDES DA ROCHA E GESTO PROJETUAL 88-ROSSI E NEOHISTORICISMO 89-ROSSI E IBA 90-IBA E ROSSI 91-ROSSI E IBA 92-INTERVENÇÃO URBANA: NOVOS USOS DA URBES

93-MUSEU COMO RELICÁRIO 94-RELICÁRIO DA DÉCADA DE 1990 95-MUSEU COMO ESPAÇO PÚBLICO 96-“PAREDE CLÁSSICA” EM FRENTE À NOVA ADIÇÃO 97- DIÁLOGO ARTÍSTICO COMO RESTAURO

98- VELHO-NOVO 99-ESPAÇO COMUNICATIVO 100-TEATRO-MUSEU DE DALÍ 101- RESTAURO COMO ARTE 102- ARTE TOTAL 103- ESPAÇO CHEIO DE SUGESTÕES

104-ARQUITETURA SURREALISTA


ÍNDICE 105-CÚPULA 106- ESPAÇO EXTERNO/TORRE GALATÉIA 107- INSTALAÇÕES NO JARDIM INTERNO DO MUSEU 108-JARDIM INTERNO 109- EMPENAS COBERTAS 110-CRIPTA DO PEIXEIRO

111-SALA MAE WEST 112- INSTALAÇÕES 113-OBJETOS SURREALISTAS 114- SALVADOR DALÍ 115-ESTUDOS DE CASO DE RESTAUROS 116-CULTURA, HISTÓRIA E MATRIZES CONSTRUTIVAS NO RESTAURO 117-AMBIÊNCIA E CONTEXTO HISTÓRICO URBANO 118-GABARITOS DA RUA URUGUAIANA 119-COMISSÃO DE MELHORAMENTOS 120-LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA E EDILÍCIA 121-DESENHO DE PAISAGEM E DO ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADO

122- “CASAS DE APARTAMENTOS” NA AVENIDA RIO BRANCO 123- PLANO AGACHE 124-PRAÇA DO CASTELO 125- O ESTADO- A METRÓPOLE-A CIDADE 126- O BAIRRO | O LUGAR E A PAISAGEM 127- O USO E A TRANSFORMAÇÃO —>TEMPO –ESPAÇO 128- O ARTEFATO CONSTRUÍDO INTEGRA UM TODO MAIS AMPLO NA CIDADE 129-EDIFÍCIO EDISON PASSOS (CLUBE DE ENGENHARIA): AVENIDA RIO BRANCO, 124


ÍNDICE 130-TECNOLOGIA ESTRUTURAL DO INÍCIO DO SÉCULO XX 131- TECNOLOGIAS CONSTRUTIVAS DE EDIFÍCIOS ECLÉTICOS

132- A COMPANHIA DE FIAÇÕES E TECIDOS ALIANÇA 133-PROPOSTA DE GABARITO, CORTE LONGITUDINAL: PLANO AGACHE (1925) 134-PERSPECTIVAS HISTÓRICAS 135-“ERA VARGAS” DECRETO N. 6.000 DE 1937 136-ESCOLA URBANÍSTICA 137- ESTRATÉGIAS PROJETUAIS: PARTIDO, TRAÇADO REGULADOR E ZONEAMENTO

138-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE/MES 139-BAUMGART E LAGE “COGUMELO” 140-ESTRUTURA GERAL DO PRÉDIO 141-ESTUDO-DE-CASO: EDIFÍCIO TOMBADO 142-PI DE GÁS / ESCADAS E CORREDORES

143-PC DE LUZ 144-ELEVADORES / LIXEIRAS 150-HISTÓRIADE PARATYNAFAZENDAMURYCANA/BANANAL 151-ÍNDIOS GUAIANÁS EM PARATY 152- SÍTIO TOMBADO ICANOSESCRAVOSEM PARATY 153- FAZENDA MURYCANA RESTAURADA

154- TESOURASDE TELHADOSE PILARES 155-ESTUQUE/PAU-A-PIQUE 156-PORTAS/JANELASE EXPOGRAFIA 157-EXPOGRAFIADAFAZENDABANANAL 158-ENGENHOD’ÁGUA/AGUARDENTE

159-EXPOSIÇÃO HISTÓRICA PERMANENTE 160- BIBLIOGRAFIA (03)


TEMAS PRINCIPAIS

PROGRAMA DO CURSO

1) CONCEITO DE PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO-CULTURAL: IPHAN, INEPAC E INSTITUTO RIO PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE-RJ

2) POLÍTICAS PATRIMONIAIS: PROGRAMA MONUMENTA-IPHAN E CORREDOR CULTURAL-RJ 3) AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE PATRIMÔNIO: PAISAGEM CULTURAL E IMATERIALIDADE/ PATRIMÔNIO INTANGÍVEL 4) RESTAURO DIGITAL E REUSO DE EDIFÍCIOS HISTÓRICOS

5) ESPAÇO PÚBLICO E RETRANSFORMAÇÃO URBANA


Tudo aquilo que pode diferenciar ou identificar um indivíduo, grupo social, político ou religioso em relação ao outro (conceito de alteridade).

Diferentes maneiras de viver de um povo, transmitidas de geração em geração através da tradição. Modos de falar, crenças, saberes, fazeres e técnicas artesanais que representam formas de o homem se relacionar socialmente.

Planta da Igreja de São Miguel (1938 - 1940).

CONCEITOS DE PATRIMÔNIO CULTURAL

Entendido como um todo interdependente e ordenado de atividades humanas em sua dinâmica, em que não se separam condições do meio ambiente daquelas de fazeres humanos. Conjunto de criações que emanam de uma comunidade cultural fundadas na tradição e que são expressas por um grupo ou indivíduos, respondendo às expectativas da comunidade como expressão de sua identidade cultural e social e constituindo normas e valores que se transmitem oralmente por reprodução.


TRÊS GRANDES CATEGORIAS DE PATRIMÔNIO CULTURAL

(segundo BOHAN, Hugres de Varine, assessor da UNESCO)

1) Elementos pertencentes à natureza e ao meio ambiente; 2) ao conhecimento, às técnicas, aos saberes, aos fazeres; 3) aos bens culturais que englobam objetos, artefatos e construções.

Elementos de origem natural criados no meio ambiente humano, incluindo estágios entre natureza virgem e selvagem e natureza urbanizada: rios, cachoeiras, árvores, paisagem etc

Elementos que provêm da ciência e do conhecimento ou elementos não tangíveis: técnicas, saberes e fazeres (“saber fazer”), caçar, rezar, cortar madeira ou pedra, culinária, ervas ...

Elementos chamados de bens culturais como artefatos e construções obtidas a partir do meio ambiente e do “saber fazer” – bens móveis e imóveis.

CATEGORIAS DE PATRIMÔNIO CULTURAL


• O conjunto desses três elementos naturais, científicos e culturais que compõem o ecossistema do homem, para atender as necessidades de sua vida e de seu desenvolvimento.

O Museu das Missões Povo de São Miguel foi tombado pelo SPAN (IPHAN), em 1938. A área da antiga praça fronteira inclui remanescentes e Ruínas da Igreja de São Miguel, originárias das missões jesuítas dos Guarani nos séculos XVII e XVIII, classificadas como patrimônio mundial pela UNESCO em 1983.

ATORES NA LEGISLAÇÃO E PATRIMÔNIO EUROPEU/APEL (2001)

• Entende-se por patrimônio cultural todo aquele objeto, construção ou ambiente a que seja atribuído um valor especial, estético, artístico, documental, ecológico, histórico, científico, social ou espiritual pela sociedade e que constitua um patrimônio cultural essencial a ser transmitido às gerações futuras. • Recomendações e Diretrizes para a adoção de princípios comuns sobre conservação e restauração do patrimônio cultural na Europa pela Apel/ Atores na Legislação e Patrimônio Europeu (Acteurs du patrimoine européen et legislation) (2001).


CATEGORIAS PATRIMONIAIS

PATRIMÔNIO NATURAL: RIOS, CAVERNAS, MONTANHAS, FLORA E FAUNA DE UMA REGIÃO OU DE UM PAÍS.

PATRIMÔNIO EDIFICADO: BENS IMÓVEIS (CASAS, IGREJAS, MUSEUS, EDIFÍCIOS REPRESENTATIVOS DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA OU DE DETERMINADO PERÍODO OU MANIFESTAÇÃO CULTURAL). SUA PRESERVAÇÃO DEPENDE DO ENTORNO OU AMBIENTE PARA GARANTIR SUA DISTINÇÃO E PERCEPÇÃO NO CONTEXTO ONDE SE INSEREM.

PATRIMÔNIO URBANÍSTICO: ESTRUTURAS URBANAS E/OU CONJUNTOS URBANOS DE ESPECIAL IMPORTÂNCIA QUE GUARDEM HOMOGENEIDADE PAISAGÍSTICA E AMBIENTAL OU SEJAM REFERENCIAIS FORMADORES DA PERSONALIDADE ÚNICA DE UM LUGAR (PRAÇAS, BAIRROS, CIDADES, INCLUINDO SUA PAISAGEM CULTURAL).

BENS INTEGRADOS: ELEMENTOS ARTÍSTICOS OU ARTES APLICADAS NA ORNAMENTAÇÃO QUE COMPÕEM A AMBIÊNCIA ARQUITETÔNICA DAS EDIFICAÇÕES; DE NATUREZA ESCULTÓRICA E/OU PICTURAL, SÃO CANTARIAS, PILASTRAS, COLUNAS, ARCOS-CRUZEIROS, PÚLPITOS, BALAUSTRADAS, RETÁBULOS, FORROS POLICROMADOS, PAINÉIS PARIETAIS ETC.

PATRIMÔNIO DOCUMENTAL: DOCUMENTOS QUE CONSTITUEM O ACERVO HISTÓRICO E FONTES DE COMPROVAÇÃO DE FATOS HISTÓRICOS E MEMORÁVEIS; CONSTITUI MUITAS VEZES O PRINCIPAL ACERVO DOS ARQUIVOS PÚBLICOS E BIBLIOTECAS.


PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO Patrimônio Arqueológico (Histórico): Estruturas e vestígios materiais do passado. É através desses vestígios materiais que o arqueólogo estuda o comportamento humano. O que varia são tipos de fontes ou evidências disponíveis.

Escavação Arqueológica no Altar da CapelaMór, com restos humanos de freis franciscanos, 2008.

Tal patrimônio auxilia no estudo de sociedades passadas com base nos restos materiais por elas deixados, ou seja, estuda o homem a partir de sua cultura material. A Arqueologia hoje deve contribuir para “salvar o futuro do passado” (FAGAN, B. apud NAJJAR, R. 2002). Ex: caverna pré-histórica, artefatos para caça, pesca etc

Sambaquis Formados por Restos de Animais Marinhos Consumidos na Alimentação, Restos de Utensílios e Esqueletos de Índios Tupi ou PuriCoroado. Convento de São Boaventura, Itaboraí/RJ, séculos XVII, XVIII e XIX.


PATRIMÔNIO IMATERIAL OU INTANGÍVEL

MANIFESTAÇÕES DE NATUREZA IMATERIAL QUE SE RELACIONAM À IDENTIDADE, À MANEIRA E À AÇÃO DOS GRUPOS SOCIAIS.

FORMAS DE EXPRESSÃO E MODOS DE CRIAR, FAZER E VIVER.

SABERES (CONHECIMENTOS E MODOS DE FAZER ENRAIZADOS NO COTIDIANO DAS COMUNIDADES) E CELEBRAÇÕES (RITUAIS E FESTAS QUE MARCAM A VIVÊNCIA COLETIVA DO TRABALHO, DA RELIGIOSIDADE, DO ENTRETENIMENTO E DE OUTRAS PRÁTICAS DA VIDA SOCIAL).

FORMAS DE EXPRESSÃO (MANIFESTAÇÕES LITERÁRIAS, MUSICAIS, PLÁSTICAS, CÊNICAS E LÚDICAS).

LUGARES (MERCADOS, FEIRAS, SANTUÁRIOS, PRAÇAS E DEMAIS ESPAÇOS ONDE SE CONCENTRAM E SE REPRODUZEM PRÁTICAS CULTURAIS COLETIVAS).


• A Constituição Federal de 1988 define:

Ritual da flauta sagrada. Tradição das etnias Yawalapiti, Kamayurá e Aweti do Alto Xingu como patrimônio intangível e tradição cultural indígena brasileira. Campus Praia Vermelha/UFF, dezembro de 2014.

PATRIMÔNIO CULTURAL (1988)

• “Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referências a identidade, a ação, e a memória dos diferentes formadores da sociedade brasileira”.


PATRIMÔNIO HISTÓRICO: “O conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”.

DECRETO-LEI N° 25/1937 – SPHAN

Foram equiparados a este princípio de proteção “os monumentos naturais, bem como sítios e paisagens que importem conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza, ou agenciados pela indústria humana”.

Patrimônio: não só um elemento do passado mas, - a partir de sua criação e desenvolvimento -, que tenha continuidade no futuro como processo cultural relevante.


MONUMENTOS E CONJUNTOS

MONUMENTOS: obras arquitetônicas, de escultura ou de pinturas monumentais, elementos ou estruturas de natureza arqueológica, inscrições, cavernas e grupos de elementos que tenham valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência. Convenção sobre a salvaguarda do patrimônio mundial, cultural e natural. Conferência da ONU/UNESCO, Paris (1972).

CONJUNTOS: grupos de construções isoladas ou reunidas que, em virtude de sua arquitetura, unidade ou integração na paisagem, tenham valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência. Convenção sobre a salvaguarda do patrimônio mundial, cultural e natural. Conferência da ONU/UNESCO, Paris (1972).


LUGARES • LUGARES: obras do homem ou obras conjugadas do homem e da natureza, bem como áreas que incluam sítios arqueológicos de valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico. Convenção sobre a salvaguarda do patrimônio mundial, cultural e natural. Conferência da ONU/UNESCO, Paris (1972). • O ‘lugar’ é um conceito fundamental para o estudo da geografia que somente ganhou importância a partir da década de 1980. Desde a implantação da geografia como disciplina acadêmica - a partir de uma ideia positivista da ciência - o ‘lugar’ foi eventualmente estudado pelos geógrafos, mas sempre em um plano secundário (HOLZER, 1998).

Isamu Noguchi. California Scenario. (1980-1982).


CONSERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS CONSERVAÇÃO preservação contra danos, perda ou desperdício. Conjunto de medidas permanentes para impedir que se deteriorem com o tempo objetos de valor como monumentos, livros, obras de arte etc.. Conjunto de práticas que visa à utilização dos recursos naturais, de modo a permitir que se preservem e renovem (Dicionário Antonio Houaiss). SUBSTÂNCIA – É o conjunto de materiais que fisicamente constitui o bem cultural.

Definições da Carta de Burra Austrália-1980. Conselho Internacional de Monumentos e Sítios/ ICOMOS.

SIGNIFICAÇÃO CULTURAL – Relacionada ao valor estético, histórico, científico ou social de um bem (monumentos, sítios históricos, arqueológicos etc) para gerações passadas, presentes e futuras. Significado patrimonial e de valor cultural.

CONSERVAÇÃO – Cuidados a serem dispensados a um bem para preservar suas características com significação cultural.

A CONSERVAÇÃO implicará ou não em preservação ou restauração, além de manutenção. Poderá, igualmente, compreender obras mínimas de reconstrução ou adaptação que atendam às necessidades e exigências práticas do bem cultural.


PRESERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS PRESERVAÇÃO - Carta de Burra/ICOMOS, Austrália (1980). A preservação se limita à proteção, à manutenção e eventual estabilização da substância existente. Não podem ser admitidas técnicas de estabilização que destruam a significação cultural do bem, ou seja, as características históricas da edificação. Quando preservar? Nos casos em que a própria substância do bem, no estado em que se encontra, oferece testemunho de uma significação cultural específica, assim como nos casos em que há insuficiência de dados que permitam realizar a conservação de outra forma. Carta de Burra/ICOMOS, Austrália (1980).

Vista do 2o andar do Convento, com Portas e Janelas dos Quartos de Noviços e Frades Franciscanos. Convento de São Boaventura, Itaboraí/RJ, 2008.


CONSOLIDAÇÃO RECUPERAÇÃO DO ASPECTO FORMAL

FORMAS DE INTERVENÇÃO NO BEM IMÓVEL

RESTAURAÇÃO MANUTENÇÃO CONSERVAÇÃO PREVENTIVA REABILITAÇÃO ESTRUTURAL OUTROS CONCEITOS


MANUTENÇÃO do Patrimônio Cultural - Proteção contínua da substância, do conteúdo e do entorno de um bem. Não deve ser confundida com o termo reparação. Carta de Burra/ICOMOS, Austrália (1980).

REPARAÇÃO implica na restauração e reconstrução de um bem. Ex: algerozes (rufos) de telhados: - manutenção = inspeção regular e limpeza dos algerozes; - reparação envolvendo restauro = reposição de algerozes desmontados; - reparação envolvendo reconstrução = substituição de algerozes degradados.

RECONSTRUÇÃO não deve significar a construção da maior parte da substância de um bem. Carta de Burra/ ICOMOS, Austrália (1980).

MANUTENÇÃO- Obras em ciclos regulares para minimizar a deterioração da vida de um edifício, desenvolvidas sobre elementos construtivos, em instalações e equipamentos. Intervenção rotineira para manter a integridade dos bens culturais . Intervenção direta no bem cultural. Carta de Reabilitação Urbana / Integrada. Carta de Lisboa (1995).

MANUTENÇÃO DE BEM CULTURAL Ruínas do Convento de São Boaventura. Itaboraí/RJ, 2008.


A conservação preventiva consiste na realização de intervenções indiretas visando o retardamento da degradação e impedindo desgastes pela criação de condições otimizadas para a conservação de bens culturais compatíveis com sua utilização social.

CONSERVAÇÃO PREVENTIVA

A conservação preventiva compreende tratamento correto, transporte, utilização, acondicionamento em reserva e exposição. Pode também implicar na produção de réplicas visando preservar os originais. (BRAGA, Marcia (Org.) Conservação e Restauro: Arquitetura. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 2003). Retirado de Recomendações e Diretrizes para a adoção de princípios comuns sobre a conservação e restauração do patrimônio cultural na Europa. Apel/Acteurs du patrimoine européen et legislation (2001).


REABILITAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE UM BEM REABILITAÇÃO - Obras que têm por fim a recuperação de uma construção, resolvendo as anomalias construtivas, funcionais, higiênicas e de segurança acumuladas ao longo dos anos, procedendo a uma modernização que melhore seu desempenho em níveis de exigências atuais. Pode ocorrer adaptação a um novo uso. Carta de Reabilitação Urbana / Integrada. Carta de Lisboa (1995).

RESTAURAÇÃO - Operação de caráter excepcional que tem por objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no respeito ao material original e aos documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese. Nas reconstituições trabalhos devem se destacar da composição arquitetônica e ostentar a marca do nosso tempo. Carta de Veneza, ICOMOS (1964). Obras Especializadas, que tem por fim a conservação e consolidação de uma construção, assim como a preservação ou reposição da totalidade ou de parte da sua concepção original ou correspondente aos momentos mais significativos de sua história. Carta de Reabilitação Urbana / Integrada. Carta de Lisboa (1995).

Representar uma intervenção que devolve a unidade potencial da obra, preenchendo lacunas e recompondo a imagem do bem. (BRAGA, Marcia (Org.) Conservação e Restauro: Arquitetura- Rio de Janeiro: Ed. Rio, 2003).

Altar da Capela-Mór do Convento de São Boaventura. Itaboraí/RJ, 2008.


CONSOLIDAÇÃO ESTRUTURAL, RECUPERAÇÃO E RECOMPOSIÇÃO/ REINTEGRAÇÃO

CONSOLIDAÇÃO ESTRUTURAL - Ações para reparar a estrutura do edifício, visando a manutenção de sua integridade físico-estrutural ou estética. (BRAGA, Marcia (Org.) Conservação e Restauro: Arquitetura. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 2003).

RECUPERAÇÃO DO ASPECTO FORMALIntervenções para recuperar a forma e a integridade dos elementos arquitetônicos que integram as composições estéticas e espaciais das edificações.

RECOMPOSIÇÃO - Recompor pequenas partes afetadas dos elementos danificados com novos materiais que permitam uma integração harmoniosa no conjunto e que possam, simultaneamente, ser claramente reconhecíveis como atuações.

RECONSTITUIÇÃO/REINTEGRAÇÃO – Recomposição de fragmentos dispersos como forma mais usual de preencher as lacunas com especial incidência em operações de ANASTYLOSIS * (BRAGA, Marcia (Org.) Conservação e Restauro: ArquiteturaRio de Janeiro: Ed. Rio, 2003).

*“Anastylosis” – Termo de origem grega que significa a remontagem das peças de uma estrutura em estado de desagregação. (BRAGA, Marcia (Org.) Conservação e Restauro: Arquitetura. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 2003).


RECONSTRUÇÃO Recriação de um edifício desaparecido em seu local original. Critério bastante questionado, somente justificável quando se tratar de um edifício que desempenhou papel vital em uma composição monumental, ou quando se tratar de um edifício relacionado a personagens ou eventos relevantes.

Arena di Verona, Itália, do século I, com seus dois andares de arcos.

Há que ressaltar a importância de registros fidedignos que possibilitem tal reprodução. (BRAGA, Marcia (Org.) Conservação e Restauro: Arquitetura. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 2003). Ocorrem casos em que a reprodução se deu a partir de meras suposições, resultando em algo que não era necessariamente uma reprodução do original.


Cópia exata de um original ainda existente. Os custos e as dificuldades de produzir réplicas arquitetônicas tornam esse fenômeno muito raro. A prática da réplica se aplica mais comumente aos bens móveis.

Esculturas em locais públicos com ação de intempéries, poluição e vandalismo são substituídas por réplicas e passam a integrar acervos museográficos. Ex.: Estátua de David de Michelangelo, em Florença, Itália. (BRAGA, Marcia (Org.) Conservação e Restauro: ArquiteturaRio de Janeiro: Ed. Rio, 2003).

RÉPLICA Castelo de Itaipava (1920), estilo neogótico. Projeto de Lucio Costa e Fernando Valentim. Réplica de fortaleza anglo-normanda do século XIII, encomendada pelo Barão Smith de Vasconcellos, ao lado de uma réplica da escultura “Rapto das Sabinas” (1583) de Giambologna.


Casas Casadas de Laranjeiras, construção do século XIX tombada em 1979, exemplar único de residência multifamiliar que abriga desde 2004 a Riofilme, órgão da Prefeitura do Rio de Janeiro.

ADAPTAÇÃO A UM NOVO USO (RETROFIT)

• REABILITAÇÃO OU RECICLAGEM/RECONVE RSÃO (RETROFIT): • Trata-se da intervenção que busca adaptar espaços preexistentes para abrigar atividades diferentes das quais eles foram projetados ou construídos (BRAGA, Marcia (Org.) Conservação e Restauro: Arquitetura. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 2003).


RENOVAÇÃO, REVERSIBILIDADE E LACUNA

RENOVAÇÃO - Executar de novo e totalmente um edifício em um local anteriormente construído. (BRAGA, Marcia (Org.) Conservação e Restauro: Arquitetura. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 2003).

REVERSIBILIDADE Possibilidade de um material ou uma solução construtiva poder ser removidos no final de sua vida útil sem causar danos aos restantes. (LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil/Portugal) .

LACUNA- Interrupção de seu contexto representativo. (LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil/Portugal).

PÁTINA - “Patini” – Alteração natural produzida pelo tempo nos materiais, não devendo ser confundida com sujividade. A pátina faz parte integrante de uma obra de arte e, como tal, deve ser conservada. Já a sujividade deve ser removida. (LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil/ Portugal).


ANOMALIAS E AÇÕES ANTRÓPICAS ANOMALIAS

Fatores físicos (temperatura e umidade); Fatores químicos (contaminação atmosférica junto a fatores biológicos); Fatores biológicos (incremento de árvores, xilófagos); Fatores botânicos; Causas imprevistas (incluindo guerras, conflitos ou problemas ambientais fora de controle como terremotos, tufões, raios etc).

AÇÕES ANTRÓPICAS Ações realizadas pelo homem (incêndios, perturbação da ordem pública; eventos sem programação adequada e/ou sem dimensionamento prévio; roubo e vandalismo).

Blocos de Pedra Cortados por Braço Escravo da Serra dos Órgãos e Carregados para a Construção das Empenas do Convento São Boaventura. Itaboraí/RJ, 2008.


As esquadrias (de aço, ferro, PVC, alumínio e madeira) devem ter o seguinte desempenho: 1) Resistência a cargas de ventos; 2) Resistência a esforços de uso; 3) Resistência a intrusão; 4) Estanqueidade a água de chuva, ao ar, aos insetos e poeira; 5) Isolação acústica; 6) Iluminação; 7) Ventilação; 8) Facilidade de manuseio; 9) Aspecto e durabilidade; 10) Manutenabilidade (facilidade de manuteção) e economia.

ANOMALIAS EM ESQUADRIAS E PANOS-DE-VIDRO Casa sendo restaurada em Botafogo/RJ, 2016.


MÁRIO DE ANDRADE: PROJETO - LEI 25/1937

Em 1936, Mário de Andrade assim agrupou as “obras de arte”:

1) Arte Arqueológica: manifestações que interessem à arqueologia (objetos, monumentos e paisagens).

5) Arte Erudita Nacional: manifestações de arte, de artistas nacionais mortos e vivos.

2) Arte Ameríndia: manifestações que interessem às etnografias ameríndias (objetos, paisagens e folclore).

6) Arte Erudita Estrangeira: obra de artes puras de artistas estrangeiros que pertençam aos poderes públicos.

3) Arte Popular: manifestações de arte pura ou aplicada tanto nacional como estrangeira (objetos, paisagens e folclore).

7) Arte Aplicada Nacional: manifestações de artes aplicadas (móveis, tapeçarias, joalherias etc) feitas por artistas nacionais.

4) Arte Histórica: manifestações que refletem o Brasil e sua evolução nacional (monumentos, iconografia nacional e estrangeira).

8) Arte Aplicada Estrangeira: manifestações de artes aplicadas feitas por artistas nacionais.


Casa-grande em ruínas da Fazenda Machadinha. Quissamã/RJ, 2010.

LEI DE TOMBAMENTO (1937)

• O Decreto-lei nº 25, de 30/11/1937, regulamentou o ato de tombamento de bens móveis e imóveis, designando o SPHAN como órgão competente para gerir essa política. Nos noves anos primeiros de funcionamento, foram tombados 474 bens, sendo que 246, ou 52% deste total, somente em 1938. A prioridade foi dada aos remanescentes da arte colonial e à arquitetura religiosa. • O tombamento surgia como um compromisso entre o direito individual à propriedade e a defesa do interesse público pela preservação de valores culturais. Constitui uma atribuição de valor, realizada pelo poder público que visa preservar os bens históricos, artísticos, culturais, arquitetônicos, ambientais e afetivos, impedindo sua destruição e/ou descaracterização. • O tombamento não implica em preservação, apenas impede a destruição. Pode ser feito em esfera municipal, estadual ou federal, de acordo com a legislação de cada instância.


• O Decreto-Lei n.º 25/1937 prevê as espécies de Tombamento: • a) De ofício: incide sobre bens públicos, ou seja, pertencentes à União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A autoridade competente notifica a entidade a quem o bem pertence ou o tenha por guarda; • b) Voluntário: incide sobre bens privados, onde o proprietário requer a autoridade competente o Tombamento ou atende a notificação desta;

TIPOS DE TOMBAMENTO

• c) Compulsório: quando o proprietário não concorda com o Tombamento. Instaura-se um processo por via administrativa ou judiciária, feito pelo poder público, mesmo contra a vontade do proprietário. O proprietário poderá solicitar o cancelamento do Tombamento; • d) Definitivo: a sua realização segue todos os requisitos formais de classificação e identificação do bem Tombado. Faz-se a investigação histórica, científica ou artística destinada a verificar se o bem contém os elementos culturais exigidos. Depois de Tombado o bem, é obrigatória a averbação no registro imobiliário para que o tombamento possa ser observado por todos, gerando efeitos em relação a terceiros; • e) Provisório: tem os mesmos efeitos que o definitivo, salvo, transcrição no Registro de Imóveis. O processo não está concluído, visa preservar o bem até a conclusão dos estudos, onde o Tombamento provisório será transformado em definitivo;

• f) Individual: que atinge um bem determinado; • g) Geral: atinge uma universalidade de proprietários, todos os bens situados em um bairro ou cidade, por exemplo. •


Os primeiros prédios escolhidos para o tombamento foram os coloniais barrocos, os neoclássicos e os ecléticos. Igreja de São Francisco, Ouro Preto, Aleijadinho. Tombamento SPAN de 1938.

TOMBAMENTO DE PARATY, RJ E OURO PRETO, MG

• Na década de 1960, o SPHAN solicitou consultoria a UNESCO sobre as cidades de Ouro Preto, São Luís, Alcântara, Paraty e o Pelourinho em Salvador. • Em março de 1966, por meio do Decreto Lei nº 58.077, a cidade de Paraty foi considerada monumento nacional. Seguiram-se planos para as cidades históricas de Minas Gerais, do Nordeste e do Centro Oeste. • As restaurações eram precedidas de inventários exaustivos, rigor nos procedimentos, autenticidade nas informações com o uso da distinguibilidade.


O Tombamento resulta na imodificabilidade do bem tombado, que não pode ser reformado, mutilado ou demolido. Depende de autorização do órgão competente qualquer reparação, restauração ou pintura, sob pena de multa equivalente a 50% do dano causado. Os bens móveis não poderão ser retirados do país, salvo, por curto prazo, para intercâmbio cultural, a critério do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em caso de desobediência, o bem fica sujeito a sequestro, e o proprietário às penas previstas para o crime de contrabando e multa.

EFEITOS DO TOMBAMENTO

Bens públicos ficam inalienáveis para particulares mas, podem ser transferidos a outras entidades públicas. Os privados continuam alienáveis, tendo a União, Estados, Distrito Federal e Municípios o direito de preferência se a alienação for onerosa. A transferência deve ser inscrita pelo adquirente no registro imobiliário em 30 dias. O bem tombado não pode ser desapropriado, salvo para manter o próprio tombamento. Os proprietários de imóveis vizinhos não podem, sem autorização, erguer construção que reduza ou impeça a visibilidade do bem tombado, sob pena de destruição, retirada do objeto e multa equivalente a 50% do valor do objeto.

O órgão responsável pelo tombamento deve: 1) fiscalizar com direito a acesso e ingresso no bem; 2) providenciar no caso de bens particulares, a transcrição e averbação do Tombamento no Registro de Imóveis; 3) mandar executar as obras de conservação do bem. O Tombamento não gera indenização e não pode ser impedido pelo proprietário. Quem adquire o bem tombado assume direitos e obrigações do proprietário anterior.


MULTA E DETENÇÃO • As infrações cometidas contra bens tombados sujeitam-se a sanções administrativas como: • Multa - Em caso de exportação do bem móvel, estipulado sobre o valor do bem tombado; por colocação de anúncios ou cartazes que prejudicam a visibilidade do bem; por demolição, mutilação, destruição e restauração ou pintura sem autorização; se o proprietário não comunicar as necessidades de obras destinadas à conservação do bem; demolição das edificações feitas sem autorização. • Detenção - O Código Penal (Decreto Lei nº 2.848 de 07/12/1940) prevê, no art. 165, pena de detenção de seis meses a dois anos e multa para quem destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico ou fizer alteração de local protegido. • As associações constituídas há mais de um ano e o Ministério Público, poderão obter na via jurisdicional, embargos e interdição de obras em bens tombados. O tombamento pode ser revogado por inconveniência e inoportunidade ou anulado, por ilegalidade. A autoridade competente pode determinar revisão, alteração ou desfazimento em vez de homologá-lo. Mesmo depois de homologado, o Presidente da República poderá cancelá-lo de ofício ou em grau de recurso, tendo em vista o interesse público.

Túnel com 70 metros de Extensão, com Saída por Trás do Convento São Boaventura para o Rio Macacu, Podendo Abrigar Pessoas e Víveres Durante Ataques de Índios “Botocudo” (Puri-Coroado).


LEI DO DESTOMBAMENTO (1941)

Através do Decreto-lei nº. 3.866, de 29/11/1941, foi instituído o destombamento:

O Presidente da República, atendendo a motivos de interesse público, poderá determinar de ofício ou em grau de recurso, interposto pôr qualquer legítimo interessado, seja cancelado o tombamento de bens pertencentes à União, aos Estados, aos municípios ou a pessoas naturais ou jurídicas de direito privado, feito no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, de acordo com o decreto-lei nº 25, de 30/11/1937 (BRASIL, 1941).


CENTRO NACIONAL DE REFERÊNCIA CULTURAL – CNRC (1975)

O Centro Nacional de Referência CulturalCNRC foi criado em 1975 num convênio entre diferentes ministérios e órgãos federais e a Universidade de Brasília, com o intuito de criar um banco de dados sobre a cultura brasileira e um centro de documentação para a descrição e análise da dinâmica cultural brasileira.

O CNRC-IPHAN documenta aspectos da cultura do país (tecelagem, cerâmica, práticas de cultivo, artesanato etc) produzindo fotografias, vídeos e relatórios técnico-científicos.

Fortaleza defensiva “medieval”, concebida nos anos 1950 por Sérgio Ferreira da Cunha em Quitandinha, Petrópolis, para abrigar um Museu de Armas que conta com uma coleção de mais de 20.000 objetos entre canhões antiaéreos, metralhadoras, armaduras de samurais, armas de fogo, armas brancas e capacetes, tombada sob o número 406 pelo IPHAN.


INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL IPHAN (19701979; 1994)

Em 1970, ocorreu uma reforma no Ministério da Educação e Cultura e a Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN) foi transformada em instituto (IPHAN). Tais modificações apontaram para maior independência administrativa do órgão. O IPHAN adquiria certa autonomia face ao Ministério da Educação e Cultura, uma vez que passava a possuir estruturas administrativas próprias. Nesse período, houve o desenvolvimento industrial, urbano e viário no país, incentivando a especulação imobiliária e o turismo em regiões afastadas como Olinda, Ouro Preto, Paraty, Porto Seguro, etc. Diante disso, o Instituto deu início a uma política de tombamentos dirigida à preservação de conjuntos.

Porém, de 1979 a 1994, o órgão voltou novamente a ser uma secretaria (SPHAN), mas em 1994, por meio da Medida Provisória nº 610, de 08/09/1994, a instituição voltou a ter a denominação IPHAN que mantem até hoje. O IPHAN constitui-se, assim, como uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura, com duração indeterminada e com autonomia técnica, administrativa e financeira, contando, desde 2012, com representações em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal, as chamadas Superintendências Estaduais, além de 27 Escritórios Técnicos.


PAC CIDADES HISTÓRICAS (2013)

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), iniciado em 2007, promoveu a retomada do planejamento e execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do país.

Em 2013, o Ministério do Planejamento autorizou a criação de linha destinada aos sítios históricos urbanos protegidos pelo IPHAN. O PAC Cidades Históricas foi implantado em 44 cidades de 20 estados da federação.

O investimento em obras de restauração previsto era de R$ 1,6 bilhão, destinado a 425 obras de restauração de edifícios e espaços públicos.

No entanto, até o final de 2015, apenas 13 obras foram concluídas e 70 obras de restauração e requalificação de patrimônio público estavam em execução.

Uma linha especial de crédito, no valor de R$ 300 milhões, foi disponibilizada para financiar obras em imóveis particulares localizados em 105 cidades com áreas tombadas pelo IPHAN, com juros subsidiados e prazos de pagamento especiais.

Com tais recursos, os proprietários poderiam recuperar suas residências, ou mesmo investir na adaptação de edifícios para exploração econômica, como hotéis, pousadas e restaurantes.

“Óculo” ou “Seteira” para Atirar em Índios ou Observá-los para Defesa de Ataques. Convento São Boaventura, Itaboraí/RJ.


INCLUSÃO DE BENS NA LISTA PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE - UNESCO

1980 Cidade de Ouro Preto

1982 Centro histórico da cidade de Olinda

1984 Ruínas de São Miguel das Missões

1985 Centro histórico de Salvador, Bahia

1985 Santuário de Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas

1986 Parque Nacional do Iguaçu

1987 Plano Piloto de Brasília

1991 Parque Nacional da Serra da Capivara

1997 Centro histórico de São Luís

1999 Reservas da Mata Atlântica, Costa Descobrimento 2001 Cerrado: Chapada dos Veadeiros e Emas

1999 Centro histórico da cidade de Diamantina

2000 Complexo Conservação da Amazônia Central

2000 Área de conservação do Pantanal

2001 Ilhas do Atlântico brasileiras: Fernando de Noronha e Atol das Rocas

2001 Centro histórico da cidade de Goiás

2008 Expressões orais e gráficas dos Wajapi

2008 Samba de Roda do Recôncavo Baiano

2010 Praça de São Francisco, São Cristóvão, Sergipe

2011 Yaokwa, ritual do povo Enawene Nawe na Amazônia

2012 Rio de Janeiro, paisagens

2012 Frevo do Recife

2013 Círio de Nazaré

2014 Roda de Capoeira

2016 Conjunto Moderno da Pampulha


CHANCELA DA PAISAGEM CULTURAL - UNESCO A partir de 1992, a Unesco adotou o conceito de paisagem cultural como uma nova tipologia de reconhecimento dos bens culturais. Duas décadas depois, em 06/07/2012, reconheceu o Rio de Janeiro como a primeira área urbana do mundo a receber a chancela de paisagem cultural. Os locais da cidade valorizados com o título da Unesco são o Pão de Açúcar, o Corcovado, a Floresta da Tijuca, o Aterro do Flamengo, o Jardim Botânico, a praia de Copacabana, e a entrada da Baía de Guanabara. Os bens cariocas incluem ainda o Forte e o Morro do Leme, o Forte de Copacabana e o Arpoador, o Parque do Flamengo e a Enseada de Botafogo.

Em consonância com a Unesco, o IPHAN regulamentou a paisagem cultural como instrumento de preservação do patrimônio cultural brasileiro em 2009, por meio da Portaria nº 127. A chancela reconhece a importância cultural de porções peculiares do território nacional, representativas do processo de interação do homem com o meio natural, a qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores. Pressupõe o estabelecimento de um pacto entre o poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada, visando à gestão compartilhada da porção do território nacional assim reconhecida.

São exemplos da Paisagem Cultural as relações entre o sertanejo e a caatinga, o candango e o cerrado, o boiadeiro e o pantanal, o gaúcho e os pampas, o pescador e os contextos navais tradicionais, o seringueiro e a floresta amazônica, por exemplo. Como estes, outros tantos personagens e lugares formam o painel das riquezas culturais brasileiras, destacando a relação exemplar entre homem e natureza.


PARATY E ILHA GRANDE/RJ (2019) • Paraty e Ilha Grande, no litoral da Costa Verde, foram reconhecidos, em 05/07/2019, como Patrimônio Mundial pela UNESCO.

• Essa é a primeira vez que o Brasil tem um sítio misto reconhecido por sua cultura e natureza. • Com cerca de 85% da cobertura vegetal nativa bem conservada, a área do sítio misto forma o segundo maior remanescente florestal do bioma Mata Atlântica. • Além da sua extensão, diferentes fisionomias vegetais permitem a ocorrência de uma fauna e flora incomparáveis, com diversas espécies raras e endêmicas.


CASA-GRANDE & SENZALA NO BRASIL COLONIAL . Gilberto Freyre descreve como a sociedade

colonial se desenvolveu à sombra das plantações de açúcar, em casa-grandes de taipa ou pedra e cal, criando riqueza às custas do trabalho escravo de africanos. . Cabia às senzalas proteger a casa-grande do ataque de índios de arco e flecha.


SOBRADOS & MOCAMBOS NO BRASIL URBANO . Freyre traça a passagem da sociedade colonial para

a vila, onde se dá a urbanização da vida brasileira. Para ele, a praça venceu o engenho, mas aos poucos. Somente depois de inícios do século XVIII é que na área mineira foram-se radicando famílias ao solo. . O patriarcalismo brasileiro, vindo dos engenhos para os sobrados, não se entregou logo à rua; por muito tempo foram quase inimigos, o sobrado e a rua. Nas ruas só se encontravam escravas negras e mulatas, moças de casa não.

. Planta de casa de chácara na segunda metade do século XIX, andar térreo, RJ.


PAISAGEM CULTURAL . Paisagem Cultural Brasileira é uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores. . A Portaria n. 127, de 30 de abril de 2009, do IPHAN, estabelece a chancela da Paisagem Cultural Brasileira.

Pirâmides de Mestre Valentim, Passeio Público e California Scenario, de Isamu Noguchi.


FORMAÇÕES TIPOLÓGICAS DA PAISAGEM CONSTRUÍDA • O tipo é a própria ideia de arquitetura e a tipologia é seu modelo analítico. • Toda arquitetura pode ser enquadrada em uma análise tipológica assim como a cidade, quando nela se identificam fatos urbanos (Aldo Rossi, 1995).


LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA E EDILÍCIA: MODIFICAÇÃO DO DESENHO DA PAISAGEM E DO ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADO (CRITÉRIOS A SEREM APLICADOS À TIPOLOGIA ARQUITETÔNICA

ESTILOS DE ARQUITETURA< TIPOLOGIA> VOLUMETRIA ESTRATÉGIAS PROJETUAIS: 1) PARTIDO; 2) TRAÇADO REGULADOR; 3) ZONEAMENTO FÍSICO-FUNCIONAL. PROGRAMA: Análise de Viabilidade Topográfica e Impacto Ambiental. I) Compartimentos e Áreas Físicas (Divisões, Vedações, Aberturas, Proteções Passivas). II) Especificação de Sistemas Construtivos e de Materiais de Acabamento. III) Condicionamento Ambiental (Térmico, Acústico, Lumínico e de Ventilação Natural /Artificial) e de Pontos de Controle, Consumo e Reciclagem/Dejeção. IV) Sistemas de Instalações (Elétricas, Hidráulicas, Sanitárias, Rede Lógica/Telefônicas, Sonorização e Telecomunicações).


CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DE ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS • TIPOLOGIA DA EDIFICAÇÃO: 1) Análise das plantas (tipos de volumetrias dos edifícios e de suas células/unidades constituintes); 2) Acessos; Instalações e medidores gerais; 3) Fachadas; 4) Cobertura; 5) Situação das esquadrias; 6) Aspectos do projeto original; 7) Estilo de arquitetura. • Diagnóstico do projeto arquitetônico através da TIPOLOGIA E DA VOLUMETRIA. • AVALIAÇÃO DOS ASPECTOS CONSTRUTIVOS: 1) Da terraplanagem à cobertura; 2) Das instalações prediais; 3) Da segurança; 4) Dos aspectos referentes ao consumo de energia (otimização). •


CIDADE COLONIAL


ARQUITETURA BARROCA


ARQUITETURA BARROCA


ARQUITETURA RELIGIOSA


OBRAS DE INFRAESTRUTURA


ANÁLISE TIPOLÓGICA DA ARQUITETURA PATRIMONIAL


ARQUITETURA NEOCLÁSSICA


ARQUITETURA CIVIL


COBERTURA E CORPO


PORTAS E JANELAS


A TALHA


PAREDES PORTANTES, PILARES E VIGAS


BARROTES


INTERIORES


ESTUDOS DE CORES DAS FACHADAS


ARGAMASSA, ESTUQUE E AZULEJOS


CORREDOR CULTURAL


EMBASAMENTO E ALVENARIA


INVENTÁRIO O consultor da UNESCO Arango classifica o inventário em 03 tipos:

3. Inventário científico: tem por objetivo recolher, buscar e agrupar todas as informações possíveis para o reconhecimento profundo e exaustivo do bem cultural.

1. Inventário de simples conhecimento ou listagem: localização, proprietário, época, autor etc

2. Inventário de proteção: reúne os elementos suficientes e necessários que permitam identificar com precisão os bens e valores que devem ser salvaguardados.

O QUE É INVENTÁRIO DE BENS IMÓVEIS EM SÍTIOS URBANOS TOMBADOS?

É o instrumento de coleta de informações Históricas, Urbanísticas, Arquitetônicas, Sócioeconômicas, Culturais e Afetivas.


OBJETIVOS DE INVENTÁRIOS

Escavação arqueológica no altar da Capela-Mór do Convento São Boaventura. Itaboraí/RJ.

Coletar, reunir e organizar informações sobre o sítio urbano tombado.

Possibilitar o conhecimento sobre a área inventariada, permitindo estabelecer diretrizes para uma política de gestão voltada à preservação desses sítios.

Proporcionar uma visão global do sítio envolvendo seus aspectos urbanos, arquitetônicos, históricos, tecnológicos, morfológicos, sócio econômico, culturais e afetivos.

Contribuir para as ações de proteção e promoção desse patrimônio que venham a ser desenvolvidas futuramente.


Somente se verá uma outra definição acabada do conceito de restauração, em meados do século XX, com Cesare Brandi (1906-1988), o qual afirma que a restauração consiste no “momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dúplice polaridade estética e histórica, com vistas à sua transmissão para o futuro”. (BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Cotia-SP: Ateliê Editorial, 2004, p. 30).

CONCEITO DE RESTAURO

Em meados do século XX, passa-se a encarar o restauro como ato histórico-crítico que deve respeitar as várias fases por que passou a obra e preservar as marcas da própria translação da obra no tempo. Assume-se que qualquer ação sobre a obra intervém inexoravelmente em sua realidade figurativa.

A restauração assume, assim, para si a tarefa de prefigurar e controlar, justificar e fundamentar essas alterações, respeitando seus aspectos documentais, materiais e formais.


CESARE BRANDI E RESTAURO

• Cesare Brandi propõe que a relação entre as “instâncias” estética e histórica no restauro se resolva em uma dialética, contrapondo-se às correntes filiadas ao positivismo que percebiam as obras como documentos históricos, mas também renegando correntes estéticas neoidealistas que enfatizavam questões de figuratividade. • Não se poderia entender a obra de arte como desvinculada do tempo histórico, nem o documento histórico como algo destituído de configuração. Movendo-se nas interfaces entre história e crítica de arte, estética e teoria e sua prática, o objetivo de Brandi era afastar o restauro do empirismo, vinculando-o às ciências. • Tal tônica foi impressa em sua direção do Instituto Central de Restauração-ICR entre 1939 e 1960, definindo a restauração como “crítica filológica” voltada à restituição do texto da obra de arte sobrevivente:

• “A organização do Instituto se baseia no conceito de restauração como crítica filológica, segundo o qual se recomenda restaurar inicialmente aquilo que resta de uma obra de arte. A direção do Instituto foi confiada não a um restaurador, mas a um historiador da arte, secundado por um comitê técnico composto por arqueólogos, historiadores e críticos de arte.” (BRANDI, Cesare. L’Institut central pour la restauration d’œuvres d’art a Rome. Paris: Gazette des beauxarts, 1954, v. 43, p. 42-52, 1954).


• No mesmo artigo de 1954, Brandi descreve os serviços deste instituto que envolvia profissionais de diversas formações, evidenciando o caráter multidisciplinar da restauração.

• O Instituto Central de Restauração-ICR compreendia: • 1) Laboratórios de restauração com ateliês de madeira, estuque, douração etc; • 2) Laboratório fotográfico com arquivos de negativos; • 3) Laboratório de radiografia; • 4) Laboratórios de química e física; • 5) Sala de exposições para experiências museográficas;

INSTITUTO CENTRAL DE RESTAURAÇÃO-ICR

• 6) Arquivos para reunir elementos técnicos e gráficos de obras restauradas; • 7) Biblioteca especializada em história da arte e Biblioteca de física e química; • 8) Escola de restauração com curso de quatro anos.


• Os êxitos do instituto provinham de uma interrelação entre investigação científica, atividade operacional e didática. Graças a essas ações articuladas e à capacidade intelectual de Brandi, foi possível estabelecer um novo método, ainda hoje empregado, para a solução de um problema recorrente e complexo do restauro, a reintegração das lacunas. • Ao descrever a restauração, iniciada em 1944, dos afrescos da Capela Mazzatosta, na Igreja S. Maria della Verità ,em Viterbo, muito danificados por bombardeios da Segunda Guerra Mundial - que resultaram em diminutos pedaços que se desprenderam e caíram sobre o solo com cerca de 20.000 fragmentos, muitos dos quais não passavam de 0,5 cm2 -, Brandi afirmou que a recomposição dos afrescos se apresentava “antes de mais nada como problema metodológico e não técnico, por causa dos elementos de hipótese crítica que entravam em jogo toda vez que se devia tratar as lacunas no fundo das pinturas” (BRANDI, 1954, p. 47).

REINTEGRAÇÃO DE LACUNAS

• Após a separação, classificação e remontagem dos fragmentos em seu lugar de origem, as lacunas eram de tal ordem que a imagem não se recompunha. Era necessário estabelecer uma continuidade entre fragmentos, mas, ao mesmo tempo, a intervenção não poderia se confundir com o original, induzindo o observador ao engano.


LINHAS VERTICAIS COM AQUARELAS • Tentativas realizadas antes com tons neutros ou meiostons ou um tom abaixo da tonalidade geral, alteravam completamente o equilíbrio cromático e os tons neutros tendiam a se comportar como figuras, com a própria obra passando a fazer papel de fundo (Gestalt). • Brandi desenvolveu seu método de integração de lacunas com linhas verticais feitas com aquarelas, descritas inicialmente como “filamentos” (1945) e, em texto de 1946, assumiria a denominação atual, tratteggio. • Examinadas de perto, as partes integradas se distinguem dos fragmentos originais mas, vistas de longe, promovem a integração da imagem. Ademais, pinturas em aquarelas são totalmente reversíveis, permitindo intervenções e tratamentos posteriores, se necessários.


Quais, afinal, são as potencialidades e os limites atribuídos ao desenho de documentação na metodologia de um projeto de restauração?

DESENHO DE DOCUMENTAÇÃO E RESTAURO

Como a avaliação crítica do espaço arquitetônico a ser “documentado” no projeto do “novo” edifício contribui para a qualidade do projeto de restauro?

O desenho e seu uso constituem as chaves para estas questões. Se todo projeto arquitetônico, enquanto ato de transformação do espaço, se define como intenção, desde uma manutenção conservativa a uma demolição, ou uma restauração global a um novo edifício construído, devemos enfatizar a documentação arquitetônica e urbana como fonte de pesquisa projetual.


DEFINIÇÃO DE RESTAURAÇÃO A restauração das antigas senzalas da Fazenda Machadinha beneficiou 200 pessoas em 47 habitações onde moravam seus antepassados escravos. A Casa de Artes restaurou a cavalariça ao lado do antigo casarão em ruínas.

É uma infraestrutura receptiva de turismo afro-brasileiro com apresentações de jongo e fado, degustação de culinária típica, memorial, exposição e venda de artesanato regional realizada pela Prefeitura Municipal de Quissamã/RJ, 2010.

• A primeira definição do moderno conceito de restauro é dada por Viollet-le-Duc no verbete “Restauration” do Dictionnaire Raisonné de l´Architecture Française du XIe au XVIe Siécle, no qual afirma que:

• “Restaurar um edifício não é mantêlo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado completo que pode não ter existido nunca em um dado momento” (VIOLLET-LE-DUC, Eugène Emmanuel. Dictionnaire Raisonné de l’ Architecture Française du XI au XVI Siècle. Paris: A. Morel, 1866-1868, 10 vol.). •

Foi aqui adotada a tradução do verbete “Restauração” por KUHL, Beatriz Mugayar: VIOLLET-LE-DUC, Eugène Emmanuel. Restauração. Cotia-SP: Ateliê Editorial, 2000, p. 29.


RESTAURAÇÃO E PESQUISA DOCUMENTAL • Por se relacionar a objetos ativos, sujeitos a transformações no tempo, a restauração é uma disciplina subordinada ao campo da preservação dos bens culturais, enfatizando os estudos dos artefatos através de seu reconhecimento físico- temporal. • Englobando pesquisa histórica, registros gráficos e fotográficos, individualização das categorias e diagnóstico da extensão de alterações físicas e químicas (“patologias”), estabilidade e resultantes estéticas, tais atividades perfazem um conjunto de informações definidoras de projetos de intervenção, seja da arquitetura ou dos objetos de arte. • Durante os séculos XIX e XX, a restauração afirmou seus preceitos por meio de experiências práticas e formulações teóricas interligadas à transmissão da herança cultural dos povos às gerações futuras. Enquanto ato físico, o restauro procura estabelecer procedimentos metodológicos coerentes para serem aplicados em projetos arquitetônicos contemporâneos.

Senzala restaurada da Fazenda Machadinha. Quissamã/RJ, 2010.

• A restauração compreende também pesquisas que possibilitem maior aproximação dos meios técnicos para a preservação material de artefatos como fonte primordial de informação histórica. Engloba o conhecimento de técnicas e materiais construtivos como dado histórico informativo e a ampliação do suporte técnico para intervenções de conservação e recuperação de bens culturais.


Paisagem Cultural Brasileira é uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores.

PROGRAMA DE RESTAURO: ELEMENTOS DE SONDAGEM

• Análise de Viabilidade Topográfica e Impacto Ambiental. • Compartimentos e Áreas Físicas (Divisões, Vedações, Aberturas, Proteções Passivas). • Especificação de Sistemas Construtivos e de Materiais de Acabamento. • Condicionamento Ambiental (Térmico, Acústico, Lumínico e de Ventilação Natural/Artificial) e de Pontos de Controle, Consumo e Reciclagem/ Dejeção. • Sistemas de Instalações (Elétricas, Hidráulicas, Sanitárias, Rede Lógica/ Telefônicas, Sonorização e Telecomunicações).


• 1. Estudo da Estrutura Edificada: Investiga-se o sistema estrutural, tipo/natureza do material construtivo, técnicas de trabalho, características dimensionais, textura, coloração e acabamento .

. A Portaria n. 127, de 30 de abril de 2009, do IPHAN, estabelece a chancela da Paisagem Cultural Brasileira.

INDICADORES TEMPORAIS/SONDAGENS PROSPECTIVAS DE SUPERFÍCIE

• 2. Estudo dos Revestimentos: Analisa-se a natureza do material (cargas e agregados) traço, granulometria, compactação, coloração e acabamento superficial . • 3. Estudos dos Ornamentos Artísticos: Estuda-se a tipologia técnica e material, forma de aplicação, textura, refletância, cor, desenho (quando possível) e acabamento.


INDICADOR TEMPORAL 1: EXAME DA ESTRUTURA EDIFICADA • Para estabelecer este indicador se tomam como referência os seguintes estudos: • I- Estudos Históricos-Documentais: 1) Documentos Escritos; 2) Plantas Cadastrais; 3) Análises das Mudanças de Programas de Uso; 4) Morfologia Construtiva; 5) Linguagem Formal (Tipologia). • II- Análises dos Indícios Construtivos: 1) Medições; 2) Avaliações dos Sistemas e Técnicas Construtivas presentes; 3) Sondagens Cromáticas e Arquitetônicas; 4) Análises Laboratoriais de Caracterização. Relações sociais brasileiras em fachada de uma casa colonial.


• Este indicador se dá por meio de: • I- Sondagem Cromática de Superfície que quantifica as Construções e Ambientações;

• II- Prospecções que qualificam Modelos Arquitetônicos e Ornamentais adotados; Casa de Marquesa de Santos, com projeto do arquiteto Joseph-Pierre Pézerat (1827), tombada pelo SPAN (IPHAN) em 1938.

INDICADOR TEMPORAL 2: IDENTIFICAÇÃO/ANÁLISE DE FACHADAS E DE ORNAMENTOS ARTÍSTICOS

• Pode-se reconhecer diferentes tipos técnico-compositivos de fachadas e de pinturas artísticas relativos aos ciclos decorativos que podem confirmar dados resultantes do indicador temporal 1 (Alterações da Estrutura Edificada).


Academia Imperial de Belas Artes, com projeto de Grandjean de Montigny (1816).

INDICADOR TEMPORAL 3: ANÁLISES DOS REVESTIMENTOS

Estabelece-se esse indicador por meio de Exame Direto das Superfícies, destacando:

I- Avaliação da Integridade Físico-Estrutural de Muros/ Empenas/Paredes em exame, avaliando-se:

1) Alterações Morfológicas (Fissuras, Relevos e Alterações de Prumo);

2) Coloração das Superfícies,

3) Características de Compactação das Massas;

4) Características de Imprimação;

5) Identificação de Alterações Naturais e/ou Antrópicas.

Nesta instância do trabalho, com exames macroscópicos das superfícies argamassadas, busca-se o reconhecimento das características físicas dos materiais sobrepostos e/ou justapostos, anotando-se os resultados em fichas elaboradas para este fim.

Somente após essas avaliações basilares é que se procede à seleção e extração de amostras de material de pontos/ trechos considerados relevantes para a pesquisa, visando a realização de Exames Laboratoriais de Caracterização.

II- Exames com Instrumentos de Precisão: Para a Distinção Material Constitutiva dos substratos realizam-se:

1) Análise Quantitativa do Agregado e Identificação dos Componentes Associados/Grau de Cimentação etc;

2) Análise Granulométrica,

3) Análise Mineralógica-Petrográfica.


• A partir da interpretação dos materiais arquitetônicos e artísticos originais pode-se alcançar 04 diferentes perímetros, volumetrias e ambiências constituídas ao longo da vida do edifício para criar um “Arquivo Tridimensional” que, ao sintetizar e organizar os dados dos 03 indicadores temporais adotados, possibilitam a compreensão e explicitação da histórica construtiva da edificação: • 1) Constituição de Arquivo Tridimensional que sintetiza e organiza os dados dos 03 indicadores temporais, possibilitando a Reconstrução Histórica Virtual do edifício estudado a partir do Perímetro, Volumetria e Ambiências constituídas ao longo de sua vida por meio dos Materiais Construtivos e Artísticos Originais e Agregados;

Fachada Frontal da Academia Imperial de Belas Artes, Grandjean de Montigny, 1816.

RESULTADOS GERAIS: ARQUEOLOGIA DA ARQUITETURA

• 2) Geração de um Banco de Dados contendo informações sobre Modelos e Sistemas Construtivos, Arquitetônicos e Ornamentais adotados em diferentes períodos históricos ampliando assim, efetivamente, os conhecimentos sobre construções antigas a serem restauradas digitalmente; • 3) Geração de Informações Auxiliares às Iniciativas de Conservação e Restauro a serem tomadas pelos Profissionais de Preservação. •

A Síntese Estratigráfica resultante do Modelo Tridimensional formulado, além de registrar as Ocorrências Históricas do Edifício em Perspectiva Científica, presta-se à Educação Patrimonial.


METODOLOGIA ARQUITETÔNICA: ARQUEOLOGIA DA SUPERFÍCIE

Entrada do vestíbulo revestida com majólicas verdes, em estilo marajoara, no Edifício Itaóca, em Copacabana/RJ.

• 1ª ETAPA: • Tendo o edifício como Objeto Primordial de Análise e associando Pesquisa Documental convencional à Pesquisa Material, o Canteiro de Restauração deve aperfeiçoar um Método de Sondagem Arquitetônica pouco invasivo que propicie Pesquisas de Caráter Arqueológico nas superfícies do edifício: • I- Pesquisa Documental Arquivística e Iconográfica; • II- Estudo Crítico Comparativo de Plantas Existentes com Configuração Material do Edifício Atual; • III- Estudo e Registro de Elementos Componentes (Metais, Madeiras, Cerâmicas etc); • IV- Análise Crítica de Materiais Constitutivos Relacionados às Características Tipológicas e Ambientais da Edificação; • V-Sondagens Preliminares para Identificação de Rebocos e Reconhecimento da Estratificação Ornamental (Pinturas Murais e Cores); • VI- Realização de Faixas Estratigráficas (Avaliação Quantitativa de Materiais Construtivos e Artísticos Sobrepostos).


ARQUEOLOGIA DE SUPERFÍCIE: SONDAGENS ESTRATIGRÁFICAS/DIAGNÓSTICOS • 2ª ETAPA: • Deve-se adotar uma Metodologia Pertinente à Análise de Arquiteturas Históricas e à Identificação de Rebocos e Pinturas Murais Artísticas que possibilite um Pleno Conhecimento de todas as Transformações Construtivas e Ornamentais por que passou o edifício:

• I- Decapagem: Remoção Gradativa de Camadas de Tintas Espúrias, expondo trechos de 20 x 30 cm das Pinturas Artísticas e/ou Monocromáticas consideradas de interesse; • II- Estudos Tecnoartísticos dos Murais Artísticos identificados; • III- Registro Gráfico e Fotográfico do Estado de Conservação das Obras; Projeto de 1938, por Robert R. Prentice e Anton Floderer, em estilo eclético art déco.

• IV- Análises Laboratoriais de Amostras Estratigráficas de Pinturas e Rebocos; • V- Consolidação do Substrato e da Película Pictórica original.


A RESTAURAÇÃO: DA LIMPEZA ÀS REINTEGRAÇÕES ESTÉTICAS FINAIS

Detalhe de grades com desenho geométrico de módulo triangular.

• 3ª ETAPA: • I- Restauração Completa de Ambientes dos Edifícios, classificados como pertencentes ao primeiro ciclo ornamental do edifício. • II- A conduta de Restauração se baseia em Conceitos Teóricos e Sistemas Operacionais reconhecidos internacionalmente como sendo de Linha Conservativa que se opõe à Recuperação Antiquária. • III- Com este procedimento adotado na Restauração, tem-se como objetivo propiciar o Conhecimento de Critérios e Métodos de Intervenção prática para Recuperação de Pinturas Murais feitas com Técnicas de Pintura a óleo e a tempera em Edifícios Históricos.


RESULTADOS DA METODOLOGIA ARQUEOLÓGICA DA SUPERFÍCIE

Edifício Itaóca, na Rua Duvivier, 43, na esquina da Avenida N. S. de Copacabana. Rio de Janeiro/RJ.

• Resultados globais da 1ª, 2ª e 3ª etapas: • I- Identificação de Indícios Físicos reveladores de Alterações Volumétricas e Ambientais documentadas (RECONHECIMENTO DE CRONOLOGIA CONSTRUTIVA); • II- Estabelecimento de Sistema de Registros das Informações obtidas com Prospecções Cromáticas e Arquitetônicas subsidiárias a Futuras Intervenções de Restauro e Conservação dos Ambientes e do Edifício; • III- Identificação de Pinturas Murais Artísticas e Ornamentos; • IV- Realização de Diagnósticos do Estado de Conservação dos Ornatos/Bens Integrados para Orientação de Intervenção de Restauro/Conservação.


PESQUISA DOCUMENTAL ARQUIVÍSTICA/ ICONOGRÁFICA: FICHA TÉCNICA • LOCALIZAÇÃO • PROJETO: ARQUITETO (S) • DATA DE CONSTRUÇÃO • USO ORIGINAL: RESIDENCIAL, COMERCIAL, INDUSTRIAL ETC. • USO ATUAL • ESTILO: BARROCO, ROCOCÓ, NEOCLÁSSICO, ART NOUVEAU, ART DECO, ECLÉTICO ETC Volumes cúbicos art déco, com desenhos em bandas horizontais no primeiro e último andares.


ESTUDOS DE CASO: RESTAUROS


RESTAURO COMO RELEITURA • Fundação Caixa, de Herzog & de Meuron. Madri, Espanha (2008). • Dentro de uma antiga central elétrica de 1899, os arquitetos suíços jogam com a empena de tijolo original, o metal envelhecido e vegetação de um Muro Verde.


RESTAURO VERDE • DETALHE DO FRONTÃO DA ANTIGA CENTRAL ELÉTRICA DE 1899. CAIXA FORUM MADRI. PIERRE DE MEURON, HERZOG & DE MEURON, JACQUES HERZOG (2008).


PAULO MENDES DA ROCHA E PINACOTECA/SP • Paulo Archias Mendes da Rocha (1928), pertencente à geração liderada por João Batista Vilanova Artigas, assumiu nas últimas décadas uma posição de destaque na arquitetura contemporânea, tendo recebido o Prêmio Pritzker, considerado o mais importante da arquitetura mundial (2006). • Autor de projetos polêmicos e que dividem a crítica especializada como SESC 24 de Maio (2017), Museu da Língua Portuguesa (2000), Museu Brasileiro da Escultura-MUBE (1995) e do pórtico localizado na Praça do Patriarca (1994), em São Paulo. • Recebeu o Prêmio Mies van der Rohe para a América Latina pelo projeto de restauro da Pinacoteca do Estado de São Paulo (2001).


PROJETO DE INTERVENÇÃO (1988-1999) • O acervo inicial do museu conta com 59 obras de artistas pertencentes ao acervo do Museu Paulista, e transferidas à Pinacoteca. Um incêndio e as revoltas políticas de 1930 - a Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932 - obrigam o prédio a fazer as vezes de “quartel” improvisado, levando a Pinacoteca e o Liceu a funcionar precariamente.

• A Pinacoteca e seu acervo ficam abrigados na antiga sede da Imprensa Oficial, na rua Onze de Agosto, entre 1932 e 1947. Nas décadas de 1930 e 1950, o Liceu de Artes e Ofícios funciona no prédio da avenida Tiradentes (cursos e exposição permanente) e suas oficinas na rua João Teodoro, 11. É o local onde se encontra atualmente, com entrada pela rua Cantareira, 1351.


PINACOTECA DE SÃO PAULO • A criação da Pinacoteca do Estado no interior do Liceu de Artes e Ofícios, em 1905, altera completamente as feições iniciais da escola, articulando a história das duas instituições. • Concebida para ser uma galeria, a Pinacoteca é fundada pelo poeta e mecenas Freitas Valle, pelo político Sampaio Vianna, pelo engenheiro Adolpho Pinto e por Ramos de Azevedo, que dirige simultaneamente o Liceu e a Pinacoteca, de 1905 a 1921.


MENDES DA ROCHA E GESTO PROJETUAL • O gesto arquitetônico de Mendes da Rocha, ou seja, as intenções projetuais que exprimem uma dada visão de mundo ou um certo desígnio propõem um “projeto de humanidade”. Tal ato evolui na medida em que sua carreira progride.

• Essa postura é expressa em toda a obra da Escola Paulista. As obras de Paulo Mendes se caracterizam por uma atitude certeira sobre o território, com o domínio do sítio através da mudança da topografia, de sua redefinição ou mesmo de uma mera ação sobre os fluxos de circulação do entorno, pois “a primeira e primordial arquitetura é a geografia”.

• Sua obra é, então, caracterizada por um “raciocínio de pórticos e planos“.

Partido Arquitetônico do Restauro da Pinacoteca de São Paulo (2001): Pórticos/Planos como jogo estrutural com Pilares, Vigas, Paredes simples e Lages.

• A configuração espacial se dá através de um jogo estrutural pelo domínio compositivo de elementos construtivos tradicionais de pilares e vigas, assim como paredes simples e lajes.


ROSSI E NEOHISTORICISMO • Rossi prefere o equilíbrio entre apuro formal e sua colocação no contexto, enfatizando o “monumento” e os acontecimentos arquitetônicos que guardamos na memória, sobre os quais se fala na história da arquitetura. • Para ele, são “signos concretos do espaço”, onde repousam os conteúdos que a sociedade lhes deu, sem que por isso tenham perdido o domínio sobre sua vida e seu destino. Reelabora este arquiteto, em sua obra, a arquitetura milanesa.


ROSSI E IBA • . Aldo Rossi (1931-1997) é o autor de A Arquitetura da Cidade (1966). • Sensibilizando-se com as primeiras críticas ao movimento moderno, defendeu que a arquitetura era uma ciência positiva a ser pensada como as ciências naturais e as humanidades. • Para Rossi, o território da arquitetura é a cidade. O TIPO é a própria ideia da arquitetura, como substância que a constitui.

Aldo Rossi (1994-1998). Quarteirão Schützenquartier,definido por Schützenstrasse, Markgrafenstrasse, Zimmerstrasse e Charlottenstrasse. Berlim-Mitte, Berlim, Alemanha.


IBA E ROSSI • O vínculo com a tradição é visível neste projeto de 1994-1997 de Aldo Rossi para o IBA, através do uso das cores e das proporções e variações dos telhados, fachadas e bases dos edifícios.


ROSSI E IBA • Os edifícios criam a ilusão de terem sido construídos em um longo período de tempo, embora isto seja somente aplicável a alguns deles. • Uma das fachadas é uma cópia do Palácio Farnese (1514-1546) em Roma, de Michelangelo e Sangallo, o Jovem, com detalhes de elementos históricos como pilastras, cornijas, cortinas de vidro etc • É aqui destacada a visão de Rossi, que insiste em que a cidade tradicional não deveria ser destruída para dar lugar a torres de escritórios dispostas em parques, nem que os moradores deveriam ser transferidos das áreas urbanas para torres suburbanas.


INTERVENÇÃO URBANA: NOVOS USOS DA URBES

• A IBA representa uma tradição arquitetônica alemã de exposições de edifícios com múltiplas utilizações que datam de 1899, com a colônia de artistas de Darmstadt, passando à Interbau de Berlim, em 1957, e das quais a mais conhecida é a Weissenhofsiedlung de Stuttgart, em 1927, organizada por Mies van der Rohe como um mostruário de projetos habitacionais de arquitetos modernos internacionais. • O programa inicial da IBA tinha a intenção de permanecer na mesma linha. Porém, em 1977, uma bem sucedida intervenção de Josef Kleihues e Wolf Jobst Siedler redirecionou a exposição, com a proposta de integração das construções à cidade ao invés de isolá-la em um parque independente suburbano, como foram as propostas de exposições anteriores.

• A nova proposta de um projeto urbano complexo pretendeu envolver todo o tecido histórico de Berlim, através de uma combinação de Neubau (Nova Construção) e Altbau (Restauração).


MUSEU COMO RELICÁRIO

• Este longo projeto de museu ocupa o lado norte da Trafalgar Square, abrigando a coleção de pinturas renascentistas da National Gallery, em Londres.


RELICÁRIO DA DÉCADA DE 1990 • Este projeto de Venturi, Scott Brown e Associados para a Ala Sainsbury da National Gallery, em Londres (1991) exemplifica o tipo relicário em roupagem da década de 1990. • Sua fachada em estilo clássico se inspira na da galeria ao lado, executada na mesma pedra clara e quente. • Um corredor estreito separa a nova ala da antiga. Estas se unem no nível principal por uma passarela de pedestres, cuja forma lembra uma rotunda. • Nos espaços entre as colunas surgem janelas cegas, emolduradas com elementos moldados que se interrompem e desaparecem inesperadamente.


MUSEU COMO ESPAÇO PÚBLICO • Esta adição da National Gallery, feita na mesma pedra Portland do edifício original de William Wilkin (1832-8), é mais contida no exterior do que muitas obras pósmodernas de Venturi & Scott-Brown. • À distância, quase não se nota suas colunas coloridas. O interior, contudo, usa truques pós-modernos, com arcos alinhados que se tornam menores à distância, a mesma ilusão de perspectiva usada por Bernini na Scala Regia no Palácio do Vaticano, em que partes das colunas são somente visíveis de uma direção. • A conexão entre o museu original e as novas galerias é dada por nova ala ligada ao edifício principal por ponte circular. • À esquerda, surge a parede de cortina de vidro da escada principal da adição.


“PAREDE CLÁSSICA” EM FRENTE À NOVA ADIÇÃO Embora predominem elementos clássicos, estes infringem regras de composição clássica com o trato maneirista das pilastras ou na aberturas de portas tipo garagem não clássicas nas paredes para as entradas, contrariando a lógica tectônica.

Vistas do design das colunas pretas na National Gallery (1991), em Londres.

Colunas despropocionais com capitéis “iônicos” no novo projeto de adição de Venturi, Scott Brown e Associados.


DIÁLOGO ARTÍSTICO COMO RESTAURO • O diálogo artístico entre a nova estrutura biomórfica e a antiga torre do relógio do famoso Castelo de Graz (Schloßberg) é uma marca da cidade de Graz, que tem como propósito criar uma produtiva tensão entre o tradicional e o vanguardista. • Do ponto de vista urbanístico, o novo Kunsthaus Graz funciona como verdadeira interface entre passado e futuro.

Peter Cook & Colin Fournier.Kunsthaus. Graz, Áustria (20012003).


VELHO-NOVO • A cobertura exterior em tom azulado do Kunsthaus flutua acima do chão como uma bolha de ar espelhada. • Suas formas suaves se fundem organicamente com os vizinhos prédios históricos. • Os narizes, verdadeiras aberturas para entrada de luz do sol, se posicionam para o norte procurando receber uma iluminação ideal, emergindo da cobertura de acrílico transparente. • A área útil de exposições é de 11.100 m2.


NOVOSMUSEUS Os andares superiores, cuja estrutura atinge 23 metros são conectados através de pontes ao chamado Eisernes Haus, cuja construção de ferro fundido, uma das mais antigas da Europa Central, foi cuidadosamente restaurada durante a construção do Kunsthaus.


ESPAÇO COMUNICATIVO • O andar térreo todo espelhado é um local de encontro para artistas e especialistas de arte. É um espaço versátil e utilizado para informações, comunicações, lounge para leitura, livraria de obras de arte, loja do museu e café aberto 24 horas.


TEATRO-MUSEU DE DALÍ


RESTAURO COMO ARTE


O Teatro-Museu de Dalí simboliza seu trabalho de ARTE TOTAL como projeto surrealista de ready-made.


• ESPAÇO CHEIO DE SUGESTÕES, confirmações e provocações que desperta o interesse dos visitantes-espectadores.


ARQUITETURA SURREALISTA . Dali foi o único artista moderno a construir em vida seu próprio museu, em estilo renascença de Palladio e em referência a Herrera, construtor do Escorial, em San Lorenzo de El Escorial, município situado 45 km a noroeste de Madri, Espanha. . A construção começou com a cúpula que ele chegou a pensar a encomendar a Buckminster Fuller, dizendo que “começo a casa com o telhado, como os grandes arquitetos renascentistas fizeram, os quais imaginaram o que a cúpula seria, antes de tudo o mais”.


CÚPULA • Inspirada em Buckminster Fuller, a cúpula do Teatro-Museu de Salvador Dali foi projetada em Figueras, Espanha, pelo arquiteto Emilio Pérez Piñero (19691970). • A instalação existente no teto da Sala da Cúpula é parte da homenagem à Capela Sistina, de Michelângelo.


ESPAÇO EXTERNO/TORRE GALATÉIA


INSTALAÇÕES NO JARDIM INTERNO DO MUSEU


JARDIM INTERNO • No jardim interno central do museu, aparecem esculturas e instalações surrealistas.


EMPENAS COBERTAS de monstros grotescos e manequins saúdam os visitantes.


CRIPTA DO PEIXEIRO


SALA MAE WEST .A

Sala Mae West conta com instalações em homenagem à estrela norte-americana.


INSTALAÇÕES . Banheira colocada no teto e instalação “Paraíso” na Sala Mae West.


OBJETOS SURREALISTAS


Objetos surrealistas de SALVADOR DALÍ, expostos no Teatro-Museu.


ESTUDOS DE CASO DE RESTAUROS OLHAR DO ARQUITETO: A História do Edifício e seu Entorno


CULTURA, HISTÓRIA E MATRIZES CONSTRUTIVAS NO RESTAURO • Todo edifício nasce em um contexto de múltiplas dimensões, jamais está isolado, mas sempre se situa em relação a todos os outros aspectos da vida humana e urbana do país. • Cabe ao técnico/especialista em restauro buscar as “matrizes de informação” sobre os critérios do projeto de arquitetura e seus padrões estéticos, sócio-culturais, históricos e econômicos.


AMBIÊNCIA E CONTEXTO HISTÓRICO URBANO

A história do Centro se confunde com a história do próprio país. Em 1565, o Rio começou a subir nas alturas e, em 1527, 600 almas se transferiram para o Morro do Castelo. Entre 1927 e 1930, o Plano Agache abordou a legislação urbana, as questões viárias e de transporte, os elementos funcionais e seus problemas higiênico-sanitários no 1º Plano Diretor da cidade.

Em termos de volumetria, o construtor poderia se mover no interior do espaço traçado, sem o direito de exceder a linha ininterrupta do alinhamento das ruas previsto pelo Decreto n. 2.087 de 19/07/1925, em vigor até a publicação do Decreto n. 6.000 de 01/07/1937 que vigiu até o Plano da Cidade Nova de Doxíadis para 1965-2000 e o Código de Obras Municipal modernista de 1967.


• A Rua Uruguaiana tem gabaritos determinados pelo Decreto n. 762 de 01/06/1900, na gestão do 6º prefeito do Rio de Janeiro, Antonio Coelho Rodrigues que previu: • 1) Proibição da edificação de novos sobrados em ruas com terrenos de menos de 05 metros de largura; • 2) Em ruas com menos de 05 metros de largura, somente se podia construir um pavimento; • 3) Nenhum prédio teria altura superior a vez e meia a largura da rua, exceto nas ruas estreitas do Centro que poderiam ter 02 andares e a Rua do Lavradio, com 03 andares; • 4) Não era permitido o balanço com mais de 0,60 metros nas fachadas das ruas;

GABARITOS DA RUA URUGUAIANA

• 5) O pé direito mínimo era de 4,40 metros no 1º pavto., 4,20 metros no 2º pavto. e 4,00 metros nos demais, exceto no Centro, onde teria 5,00 metros, 4,5 metros e 4,00 metros respectivamente; • 6) Nas fachadas das casas comerciais não era permitida a colocação de tabuletas, mas se podia usar um toldo na frente das lojas.


COMISSÃO DE MELHORAMENTOS • A Comissão de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro, em 1875 e 1876, com os engenheiros Pereira Passos e Vieira Souto, sugeriu o alargamento das ruas, abertura de novas praças e parques, criticando a arquitetura colonial e os mestres-de-obra tradicionais, com uma clara intenção sanitária de combate às epidemias de insalubridade urbana. • A Reforma Pereira Passos ( “Bota Abaixo”), de 1903, a esta se seguiu nesse projeto reformista.


LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA E EDILÍCIA . A morfologia urbana privilegia bairros burgueses e a separação de usos e de classes sociais no espaço. . A paisagem centrada no conceito de higiene da cidade requer uma intervenção no espaço privado da habitação, sendo os cortiços proibidos por força da lei na Reforma Pereira Passos de 1903.


DESENHO DE PAISAGEM E DO ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADO

• O Bota-abaixo representa a transformação da cidade colonial em moderna através da tríade viária, sanitária e estética da Cidade Maravilhosa inspirada na belle époque parisiense do Barão Haussmann.


“CASAS DE APARTAMENTOS” NA AVENIDA RIO BRANCO • O centro da cidade constituía, nas últimas décadas do século XIX, um local de moradia e trabalho de grande parte da população em padarias, tipografias e armazéns. • Com a virada do século XX e a reforma urbana, a indústria emergente da construção civil estabeleceu uma solução de multiplicar a ocupação do lote com pavimentos superpostos.

Vista do Palácio Monroe e Edifício Lafont (1910) dos arquitetos franceses Viret & Marmorat, primeira “casa de apartamentos” na Avenida Rio Branco, projetada em estilo eclético Beaux Arts.


“CASA DE APARTAMENTOS” NO CENTRO DA CIDADE • A “casa de apartamentos” aliou, ao atrativo de um gabarito elevado, a ascensão social de seu proprietário, desvinculando o edifício da habitação coletiva com tanque, banheiro e corredor que representava a moradia barata e de má qualidade da classe operária, denominada de “casas de cómodos”, estalagens, avenidas e “cortiços”. • Até a década de 1930, o termo “edifício” denominava prédios de escritórios, enquanto a moradia era chamada, no Rio de Janeiro, de “casas de apartamentos”, “prédios de apartamentos” e “arranha-céus”.

A “casa de apartamentos” se tornou o modelo de habitação preferido da elite social carioca. Fachada do Edifício Lafont ao lado do Palácio Monroe, primeira “casa de apartamentos” na esquina da Avenida Rio Branco com Rua Santa Luzia, no centro do Rio de Janeiro.


PLANO AGACHE


PRAÇA DO CASTELO • Decreto de 1925 e o Plano Agache: Perspectiva sugerida para o principal centro comercial da cidade, na Praça do Castelo (1928).


O ESTADO A METRÓPOLE

• •

A CIDADE


O BAIRRO | O LUGAR E A PAISAGEM


O USO E A TRANSFORMAÇÃO — >TEMPO -ESPAÇO


O ARTEFATO CONSTRUÍDO INTEGRA UM TODO MAIS AMPLO NA CIDADE •

a rua: Avenida Rio Branco, antiga Avenida Central

o edifício: Abriga a SOBES (Sociedade de Engenharia de Segurança do Estado do Rio de Janeiro), a ABEA (Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas) e a ABENC-RJ (Associação Brasileira de Engenheiros Civis).

a vizinhança: Edifício Edison Passos, Rio Branco, 124 (Clube de Engenharia), projeto de Jacques Pilon (1946).


EDIFÍCIO EDISON PASSOS (CLUBE DE ENGENHARIA): AVENIDA RIO BRANCO, 124 • Sua volumetria conta com sobreposição de planos e jogo de deslocamentos nas fachadas. O embasamento de altura dupla, alinhado aos limites do lote, suporta um corpo avançado com 17 pavimentos de salas comerciais e um coroamento reentrante que abriga, em 07 andares (mais auditório e terraço), o Clube de Engenharia. • A marquise sobre o acesso funciona como marco de identificação da hoje Avenida Rio Branco e a outrora eclética Avenida Central. Em 14/02/1904, o prédio em construção da sede do Club de Engenharia, situado na Avenida Central 124/126, desmoronou em meio ao trânsito. • Com projeto do arquiteto Raphael Rebecchi e construção pelo arquiteto Heitor de Mello, sua estrutura era composta de paredes internas alcantiladas, cruzadas por um esqueleto de ferro, cujas hastes determinavam a separação dos pavimentos. • Ao se erguer por guindastes o frontispício de pedra no terceiro pavimento, a estrutura não resistiu devido ao fato dos blocos de pedra da linha de fachada, com ancoragem insuficiente, de apenas pouco centímetros para a sustentação do seu próprio peso, terem criado uma fenda de 02 metros como resultado do esforço da pedra nas alvenarias de tijolos a que estavam ancoradas, causando o descolamento da empena frontal e arrastando junto parte da construção, em fotografia original de Augusto Malta (Arquivo Geral da Cidade do R.J.).


TECNOLOGIA ESTRUTURAL DO INÍCIO DO SÉCULO XX • Os edifícios da Avenida Central incluíam um sistema misto de alvenarias periféricas estruturais e elementos metálicos em ferro fundido (colunas) ou perfis usinados no interior das edificações, além de um sistema estrutural metálico de vigas e pilares em perfis metálicos usinados ou compostos, com lajes de piso em cimento armado. • O Decreto municipal n. 391/1903 dispunha que os alicerces nas construções não deveriam exceder 60 cm de profundidade, logo o sistema estrutural desses prédios contava com blocos de sapatas corridas que apoiavam o nascimento de paredes estruturais periféricas. • Com projeto e construção do arquiteto Ludovico Berna, a Biblioteca Nacional conta com paredes mestras laterais de alvenaria, mais baixas, e as do centro, que suportavam os 10 pavimentos da torre e a cobertura metálica, de ferro. Pela linha de composição revela 04 pilastras aparelhadas com bossagens de alto a baixo e larguras uniformes. • Seu sistema estrutural misto tem como elementos verticais colunas de ferro fundido aparentes e como elementos horizontais perfis metálicos não aparentes, com função na sustentação dos pisos e das vergas nos vãos das fachadas, em vigas na área interna da edificação e em pisos compostos por perfis metálicos e abobadilhas de tijolos.


TECNOLOGIAS CONSTRUTIVAS DE EDIFÍCIOS ECLÉTICOS • Nas áreas internas dos edifícios foram empregadas colunas de ferro fundido apoiadas em blocos de sapatas travadas por vigas de baldrames nas fundações sob as paredes periféricas. As paredes mestras estruturais eram responsáveis por receber as cargas provenientes dos pisos e das coberturas e transferi-las, verticalmente, até os alicerces das construções com a aplicação de perfis metálicos sobre portas e janelas para a criação de aberturas de grandes dimensões, dispensando ombreiras e vergas tradicionais em pedra na função de estruturar janelas ou portas ou a elaboração de armação de arcos de descarga em tijolos sobre os vãos. • Vigas metálicas apoiadas em trechos intermediários por colunas de ferro fundido e engastadas em suas extremidades de alvenarias estruturais transferiam para estes elementos a sobrecarga dos trechos do piso por elas suportado. Coberturas armadas com elementos metálicos, em prédios de maiores dimensões, tinham como característica vencer vãos maiores sem apoios intermediários, inclusive na sustentação das cúpulas. A carga e os esforços advindos das coberturas eram transferidos para os apoios existentes no seu interior e para as alvenarias periféricas que também contraventavam esforços dos telhados.


A COMPANHIA DE FIAÇÕES E TECIDOS ALIANÇA se instalou em 1880 e ali funcionou até 1938, na atual Rua General Glicério, em Laranjeiras.

• Enquanto a construção de vilas operárias com casas “higiênicas” (com latrinas, encanamentos de água potável e ventilação em todos os cômodos) foi estimulada na Reforma Pereira Passos, o Plano Agache não previa a expansão de fábricas em zonas residenciais e a legislação de 1937 definiu, pela primeira vez, uma zona industrial na cidade, originando bairros como Jardim Laranjeiras (Rua General Glicério), Jardim Corcovado (Humaitá) e Condomínio Parque Jardim Botânico (Rua Pacheco Leão).


PROPOSTA DE GABARITO, CORTE LONGITUDINAL: PLANO AGACHE (1925) •Vigente durante o Plano Agache, o Decreto n. 2.087 de 1925, sob a gestão do Prefeito Alaor Prata (1922-26) ditava: • 1) Submissão o compulsória dos projetos a Seção de Arquitetura para exame das fachadas e criação de condições para o emprego do concreto armado; •2) Divisão da cidade em 04 áreas (central, urbana, suburbana e rural); •3) Consideração de elementos geométricos essenciais (altura do edifício, pés direitos, superfície e forma da cobertura, dimensões das saliências) e legalização do balanço sobre o alinhamento, com medida máxima de 1,20 metros; •4) Proibição de construção sem emissão de alvará de alinhamento e verficação de alinhamento para qualquer construção que atingisse a altura de um metro; •5) Limitação da altura máxima das fachadas em 50 metros em função da largura do logradouro (altura de 02 vezes na Zona Central e 1 e ½ nas demais zonas); •6) Estabelecimento de alturas mínimas em função do número de pavimentos: a) 06 pavtos-21 metros; b) 05 pavtos-18 metros; c) 04 pavtos-15 metros; d) 03 pavtos11.50 metros; d) 02 pavtos-7,50 metros; •7) Na parte comercial da Zona Central, subordinação obrigatória das linhas arquitetônicas de novas fachadas aos prédios contíguos, em lotes com menos de 20 metros de largura e o emprego de somente uma cor nas fachadas com um único motivo arquitetônico.


Plano Agache (1925): Detalhe de planta de ocupação de quadra de uso comercial entre Avenida Rio Branco e Rua da Quitanda

PERSPECTIVAS HISTÓRICAS


“ERA VARGAS” DECRETO N. 6.000 DE 1937 Cabia à Divisão de Estética Urbana analisar os projetos do ponto de vista da plástica, isoladamente e em conjunto no logradouro e com os impactos no panorama da cidade.


ESCOLA URBANÍSTICA Na administração do Cônego Olímpio de Melo (193637) se promulgou este decreto que foi mantido até a Lei de Desenvolvimento Urbano do Estado da Guanabara de 1967 e regulamentos complementares de 1970. Foram previstas 05 zonas para a cidade e permitida a construção de edifícios com um número maior que o máximo exigido para a zona respectiva, observadas as condições de preservação de luminosidade por insolação das ruas: 1) O afastamento entre a construção e o alinhamento seria acrescido de tantas vezes 02 metros quantos forem os pavimentos excedentes; 2) A distância entre a edificação e qualquer das divisas nao poderia ser inferior a metade do mínimo fixado no ítem anterior.


ESTRATÉGIAS PROJETUAIS: PARTIDO, TRAÇADO REGULADOR E ZONEAMENTO • Ministério da Educação e Saúde/MES (1936-43) • O. Niemeyer, L. Costa, A. Reidy, J. Moreira, C. Leão e E. Vasconcelos.


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE/MES • Ícone da arquitetura moderrna, o MES teve seu cálculo estrutural realizado pelo engenheiro Emílio Henrique Baumgart, primeiro brasileiro a transferir a tecnologia do concreto armado da Alemanha para o Brasil.

• Introduziu ele a laje “cogumelo” (estrutura em que a laje se apoia diretamente sobre os pilares, sem o uso de vigas) com engrossamento na face superior no lugar dos capitéis convencionais nas colunas, resolvendo assim a questão da pequena espessura.


BAUMGART E LAGE “COGUMELO” • O contraventamento do edifício foi resolvido fazendo as lajes trabalharem como vigas horizontais (flat-slabs), aproveitando as estruturas das escadas e dos poços de elevadores. • Fugindo às normas, em seu dimensionamento das lajes foi levada em conta a resistência do concreto à tração, como admite hoje o regulamento brasileiro.


ESTRUTURA GERAL DO PRÉDIO


ESTUDO-DE-CASO: EDIFÍCIO TOMBADO . Jardim Sul América (1920), construído pela Empreiteira Monteiro Aranha como vila dos funcionários da Cia. de Seguros Sul América. . Em terreno de 15.000 m2, foram dispostos 23 edifícios ecléticos art déco com 158 unidades de 01 a 04 quartos.

Lei municipal n. 1.784/1986 (07 subáreas de preservação da cidade do Rio de Janeiro).

. As unidades de frente para a Rua Cosme Velho foram destinadas aos diretores, as medianas – em torno de uma praça central - aos funcionários e as de fundos aos serventes e operários da empresa.


PI DE GÁS

ESCADAS E CORREDORES


PC DE LUZ


ELEVADORES

LIXEIRAS


HISTÓRIA DE PARATY NA FAZENDA MURYCANA/BANANAL


ÍNDIOS GUAIANÁS EM PARATY


AFRICANOS ESCRAVOS EM PARATY


NO SÍTIO TOMBADO, fica vedada a construção de novas edificações, bem como qualquer intervenção, movimento de terra, abertura de vala de drenagem e fundações, na faixa de 120 (cento e vinte) metros de largura tendo como eixo central o alinhamento dos remanescentes da antiga trilha que ligava Paraty ao interior do país, conhecida como “caminho do ouro”, bem como vedada qualquer intervenção ou retirada de material nas construções ou remanescentes de construções a ele associadas.


FAZENDA MURYCANA RESTAURADA


TESOURAS DE TELHADOS E PILARES DE PEDRA SECA E ÓLEO DE BALEIA


ESTUQUE/PAU-A-PIQUE


PORTAS/JANELAS E EXPOGRAFIA


EXPOGRAFIA DA FAZENDA BANANAL


ENGENHO D’ÁGUA/AGUARDENTE


EXPOSIÇÃO HISTÓRICA PERMANENTE


BIBLIOGRAFIA • ARGAN, G.C. El concepto del Espacio Arquitetônico desde el Barroco a Nuestros Dias. Buenos Aires: Nueva Vision, 1973. • ARANTES, Antonio Augusto (org.). Produzindo o Passado. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1984. • AZEVEDO, Roberto Marinho de. Será o Novo Pelourinho um Engano? In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nº 23, 1994, p. 131-137. • BARDI, Lina Bo. Ladeira da Misericórdia. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nº 23, 1994, p. 127-129. • BOITO, Camillo. Os Restauradores. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2008. • BONDUKI, Nabil. Intervenções Urbanas na Recuperação de Centros Históricos. Brasília, DF: IPHAN/Programa Monumenta, 2010. • BRAGA, Márcia (Org.). Conservação e Restauro. Rio de Janeiro: Editora Rio, 2003. • BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2004. • CAMPOFIORITO, Ítalo. Enquete Tendenciosa. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nº 23, 1994, p. 215-237. • CANCLINI, Néstor Garcia. O Patrimônio Cultural e a Construção Imaginária do Nacional. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nº 23, 1994, p. 95-115.


BIBLIOGRAFIA • CAPITEL, Antón. Metamorfosis de Monumentos y Teorias de la Restauración. Madrid: Alianza Editorial, 1992. • CERTEAU, Michel de. Andando na Cidade. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nº 23, 1994, p. 21-31. • CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. Tradução: Luciano Viana Machado. São Paulo: UNESP, 2001. • FITCH, M., James. Preservação do Patrimônio Arquitetônico. São Paulo: FAUUSP, 1981. • GUIMARAENS, Dinah (Org.) Estética Transcultural na Universidade Latino-Americana: Novas Práticas Contemporâneas. Niterói: Eduff, 2016. • Museu de Arte e Origens: Mapa das Culturas Vivas Guaranis. Rio de Janeiro: FAPERJ/Contracapa, 2003. • HUYSSEN, Andreas. Escapando da Amnésia: O Museu como Cultura de Massa. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nº 23, 1994, p. 35-57. • KUHL, Beatriz Mugaya. Preservação do Patrimônio Arquitetônico da Industrialização: Problemas Teóricos de Restauro. São Paulo: Ateliê Editorial, 2008 • LE GOFF, Jacques. História e Memória. 4ªed. Campina: Editora UNICAMP, 1996. • SISSON, Raquel. Espaço e Poder: Os Três Centros do Rio de Janeiro e a Chegada da Corte Portuguesa. Rio de Janeiro: Arco, 2008.


LEGISLAÇÕES DE PRESERVAÇÃO • BRASIL. Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: Legislação Brasileira de Proteção de Bens Culturais. Rio de Janeiro, IPHAN-MEC, 1976. • INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (BRASIL). Cartas Patrimoniais. Org. Isabelle Cury. 2a. ed. rev. aum. Rio de Janeiro: IPHAN, 2000. • INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, ARTÍSTICO NACIONAL. O Registro do Patrimônio Imaterial: Dossiê final das atividades da comissão e do grupo de trabalho patrimônio imaterial, Fundação Nacional de Artes, Brasília, 2000. • INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, ARTÍSTICO NACIONAL. Revista do Patrimônio Histórico Artístico Nacional. Patrimônio imaterial biodiversidade. Brasília: IPHAN/MINC, nº. 32. 2005.


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