Revista Divina Misericórdia 33

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Revista

Divina Misericórdia Publicação Bimestral- Ano VIII - Nº 33 - Junho/Julho de 2015

ESPERANÇA maior que a MORTE

PERDOAR Vontade de Deus e Obra de Misericórdia

Ano Santo da Misericórdia UMA VIA EXTRAORDINÁRIA PARA A SALVAÇÃO

DESAFIOS, SOFRIMENTO E DOR? NÃO!

Misericórdia!


Mensagem do Diretor Em Cristo misericordioso está nossa esperança!

N

o dia 22 de outubro de 1978 o Cardeal Karol Wojtyła, eleito Papa, assumindo o nome de João Paulo II pronunciou memoráveis palavras: “Não tenhais medo de acolher Cristo e de aceitar o Seu poder! (...) Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo!”. Tempos depois, respondendo as perguntas do jornalista Vittorio Messori ‒ reunidas no livro Cruzando o limiar da esperança ‒ João Paulo II esclarece por que, naquela ocasião, pronunciou tais palavras: “(...) não podia ter totalmente consciência de quão longe teriam levado a mim e a Igreja inteira. O seu conteúdo era proveniente mais do Espírito Santo, prometido pelo Senhor Jesus aos Apóstolos como Consolador, do que do homem que as pronunciava”. Não tenhais medo! tornou-se o lema de todo o seu pontificado e trouxe ao mundo paz e esperança. Para ilustrar melhor isso, apresentamos as palavras do Sumo Pontífice tiradas do mesmo livro:

Ao término do segundo milênio, precisamos mais do que nunca das palavras de Cristo ressuscitado: ‘Não tenham medo!’. Delas precisa o ser humano que, mesmo depois da queda do comunismo, não deixou de temer e que, na verdade, tem muitos motivos para experimentar dentro de si esse tipo de sentimento. Delas precisam as nações, que renasceram após a queda do império comunista, mas também aquelas que assistiram do lado de fora a essa experiência. Necessitam delas os povos e as nações do mundo inteiro. É preciso que na sua consciência retome com vigor a certeza de que existe Alguém que tem em Suas mãos os destinos deste mundo que passa; Alguém que tem as chaves da morte e dos infernos (cf. Ap 1,18); Alguém que é o Alfa e o Ômega da história do homem (cf. Ap 22,13), tanto da história individual com também da coletiva. E este Alguém é Amor (cf. 1Jo 4,8-16): Amor feito homem, Amor crucificado e ressuscitado, Amor continuamente presente entre os homens. É Amor eucarístico. É fonte inesgotável de comunhão. Somente Ele é que dá a plena garantia das palavras “não tenhas medo!” (S. João Paulo II, Cruzando o limiar da esperança. pp.203).

Por isso, irmãos e irmãs, não tenhamos medo e voltemos com confiança para Cristo misericordioso que nos trará novamente a esperança. Jesus, eu confio em Vós!

Padre André Lach, MIC Diretor

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Expediente Revista Divina Misericórdia

Sumário Nossa Igreja

Ano Santo da Misericórdia: uma via extraordinária para a salvação........ 6 Publicação bimestral do Apostolado da Divina Misericórdia da Congregação dos Padres Marianos do Brasil Diretor Pe. André Lach, MIC Conselho Editorial

Pe. André Lach, MIC Pe. Leandro Ap. da Silva, MIC Gislaine Keizanoski Carina Novak, OCV Jornalista editora Gislaine Keizanoski Revisão Carina Novak, OCV Gislaine Keizanoski Projeto visual e diagramação Lucas S. Teixeira Nihil Obstat Pe. Jair Batista de Souza, MIC Roma, 7 de maio de 2015 Imprimatur Pe. Leandro A. da Silva, MIC

Provincial dos Padres Marianos do Brasil

Contato Rua Profeta Elias, 149 Umbará - 81.930-020 Curitiba - PR - Brasil editora@misericordia.org.br (41) 3348 5043

Obras de Misericórdia

Perdoar, vontade de Deus e Obra de Misericórdia..................................... 8

Misericórdia em Ação

Moradores de rua são convidados de honra do Papa.............................. 10

Padres da Igreja

Cristo vem para salvar e libertar................................................................ 11

Santa Faustina

Ele está sempre conosco!............................................................................ 12

Santuário da Divina Misericórdia

Desafios, sofrimento e dor? Não! Misericórdia!.. ..................................... 14

Destaque

Cristo está com os perseguidos e sofredores.. ........................................... 16 O próprio Deus desceu ao inferno do sofrimento e sofre conosco. . ...... 17 A oração do porquê..................................................................................... 21 Esperança maior que a morte. . ................................................................... 22 Fé, esperança, caridade, luz no fim do túnel............................................. 24

Maria

A Eucaristia e a Virgem Maria.................................................................. 26

Jovens em Cristo

Amizade verdadeira..................................................................................... 28

Santos da Misericórdia

São Sigismundo Gorazdowski, “Uma verdadeira pérola do clero...”. . ... 30

Marianos

As relíquias de um grande servo de Deus. . ............................................... 32

Vocacional

Nas pegadas dos Mestres.... . ....................................................................... 34

Luta pela Vida

Santuário da Divina Misericórdia em Curitiba - PR

Gesto extremo de acolhida......................................................................... 36


Envie essa ficha preenchida para o endere莽o: Revista Divina Miseric贸rdia - Rua Profeta Elias, 149 - Curitiba/PR - CEP: 81930-020

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Espaço do Leitor

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O

brigada pela emoção que a Revista Divina Misericórdia tem me causado com todos os seus artigos redigidos com vocabulário simples, mas rico nas suas expressões verdadeiras. Confesso que chorei ao ler o artigo “Jovens em Cristo". Rezo pedindo a intercessão do Guido, muitas graças para mim e para todos da minha família. Já o considero meu santo. Que Deus abençoe a família que o gerou e a todos os Padres Marianos que me fazem companhia com a revista. Abraço! Maria Rosa S. Mattia

Leme - SP

Q

uerida Revista Divina Misericórdia. Adoro te receber em minha casa, são momentos de oração e reflexão. É belíssima de conteúdo para nos levar a Deus. Todos deveriam ler esta revista. Garanto que tudo mudaria na vida das pessoas e que assim mudariam o mundo...

Conheço a Divina Misericórdia a trinta e poucos anos. Foi num momento de dificuldade que conheci Jesus misericordioso e nunca mais o larguei... Jesus é o esteio da minha vida. Incrível, mas as vezes eu não recebo o que peço, pois Jesus acha pouco e me dá algo melhor ainda. Desde que me tornei devota compro livros e folhetos da novena a Divina Misericórdia e distribuo em todos os lugares, ônibus, consultórios, praças, até numa querela de trânsito na rua. (...) Não perco a oportunidades de levar folhetos de Jesus misericordioso comigo, pois sempre aparece uma oportunidade para falar com pessoas problemáticas. Até pessoas de outras religiões aceitam a mensagem de Jesus misericordioso. Fui curada de câncer há 13 anos. Sou testemunho vivo do que Jesus faz. Tenho muito a agradecer... nas lutas nunca fui derrotada, sempre sou amparada por Jesus misericordioso pois Ele cuida de mim e dos meus. Amo o terço, amo a santa Missa. Amo este Senhor Jesus...Tenho muita fé. Eu sou apenas uma filha devota da Misericórdia. Te digo: tenha fé, Ele nunca falhará... Jesus te ama!

Silvia Lucia Ostroski

A humanidade precisa conhecer a Misericórdia de Deus. Conte o seu testemunho! Mande seu e-mail para: apostolado@misericordia.org.br ou envie sua carta para: Apostolado da Divina Misericórdia Cx.P.: 8971 Cep: 80.611-970 Curitiba-PR


Nossa Igreja

Ano Santo da Misericórdia UMA VIA EXTRAORDINÁRIA PARA A SALVAÇÃO

N Gislaine Keizanoski

Revista Divina Misericórdia

Abrindo a Porta Santa da Basílica de São Pedro, o Papa Francisco dará inicio ao Ano Santo da Misericórdia, em 8 de dezembro.

o último dia 13 de março, o Papa Francisco fez um anúncio que mexeu com os ânimos dos fiéis: a realização de um Ano Jubilar Extraordinário da Misericórdia. Na ocasião, o Papa expressou: “queridos irmãos e irmãs, pensei frequentemente em como a Igreja pode colocar em mais evidência sua missão de ser testemunha da misericórdia. É um caminho que inicia com uma conversão espiritual. Por isso decidi convocar um Jubileu extraordinário que coloque no centro a misericórdia de Deus. Será um Ano Santo da Misericórdia. Queremos vivê-lo à luz da Palavra do Senhor: ‘Sejamos misericordiosos como o Pai’”. O Ano Santo da Misericórdia terá início no dia 8 de dezembro, com a abertura da Porta Santa, no Vaticano, e terminará no dia 20 de novembro de 2016, Festa de Cristo Rei. O rito inicial do Jubileu é a abertura da Porta Santa na Basílica vaticana. Existe uma Porta Santa em cada uma das quatro basílicas maiores de

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Roma: São Pedro, São João de Latrão, São Paulo Extramuros e Santa Maria Maior. São portas que se abrem somente durante os Jubileus. O rito da abertura expressa simbolicamente o conceito de que, durante o tempo jubilar, oferece-se aos fiéis uma “via extraordinária” para a salvação. Logo depois da abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro, serão abertas sucessivamente as portas das outras basílicas maiores. Os fiéis que ali passarem, cumprindo com as exigências da Igreja, poderão obter indulgências por ocasião do Ano Santo. O transcorrer desse Ano Santo se fará notar em numerosos aspectos em toda a Igreja. As leituras para os domingos do tempo ordinário serão tomadas do Evangelho de Lucas, conhecido como o Evangelho da misericórdia. Durante a proclamação do Ano Santo da Misericórdia, o Papa ainda afirmou: “Estou convencido de que toda a Igreja poderá encontrar neste Jubileu da Misericórdia


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a alegria de redescobrir e fazer fecunda a misericórdia de Deus, com a qual todos somos chamados a dar consolo a cada homem e cada mulher de nosso tempo. Confiamo-lo a partir de agora à Mãe de Misericórdia para que dirija a nós seu olhar e vele em nosso caminho”.

Bula de proclamação do Jubileu Na véspera do Domingo da Festa da Misericórdia (11.04.2015), o Papa Francisco fez a publicação da Bula de proclamação do Jubileu, intitulada Misericordiae Vultus (O rosto da Misericórdia). Nessa Bula o Papa explica quais são as motivações para o Ano Santo da Misericórdia e indica algumas diretrizes para que a igreja possa vivê-lo da melhor maneira. O longo documento divide-se em três partes. Na primeira, o Papa Francisco aprofunda o conceito de misericórdia e explica as duas razões da escolha da data de início - em 8 de dezembro, Solenidade de Maria Imaculada, aquela que Deus fez “santa e imaculada no amor”: primeiramente, “para não deixar a humanidade sozinha à mercê do mal” e, em segundo lugar, por esta data coincidir com os 50 anos da conclusão do Concílio Vaticano II, que derrubou “os muros que por muito tempo mantiveram a Igreja fechada em uma cidadela privilegiada”, levando-a a “anunciar o Evangelho de um modo novo”, usando “o remédio da misericórdia em vez de assumir as armas do rigor”, como já dizia João XXIII,

parafraseou o Papa. “Na prática – disse – todos somos chamados a viver de misericórdia, porque conosco, em primeiro lugar, foi usada a misericórdia”. Na segunda parte, o Santo Padre oferece algumas sugestões práticas para viver em plenitude o Jubileu, como realizar uma peregrinação, não julgar e não condenar, mas perdoar e doar, permanecendo afastado das fofocas e das palavras movidas por ciúmes e invejas, tornando-se “instrumentos de perdão”; abrir o coração às periferias existenciais, realizar com alegria obras de misericórdia corporal e espiritual e incrementar nas dioceses iniciativas de oração e penitência “24 horas para o Senhor”, entre outros. O Papa ainda dedica um parágrafo especial para o tema da remissão dos pecados. Ele manifesta o desejo de que, antes de tudo, os confessores sejam verdadeiro sinal da misericórdia do Pai e que se tornem, eles próprios, penitentes em busca de perdão. O Papa Francisco anuncia também que durante a Quaresma do Ano Santo enviará Missionários da Misericórdia, ou seja, sacerdotes a quem será dada “a autoridade de perdoar também os pecados reservados à Sé Apostólica”. Por fim, na terceira parte da Bula o Papa lança alguns apelos contra a criminalidade e a corrupção – dirigindo-se aos membros de grupos criminosos e aos corruptos; exorta ao diálogo inter-religioso e explica a relação entre justiça e misericórdia, recordando que elas “não são dois aspectos em contraste entre si, mas

Papa Francisco apresenta a Bula O rosto da Misericórdia

duas dimensões de uma única realidade que se desenvolvem até alcançar o ápice na plenitude do amor”. O documento é concluído com uma referência à Maria, cuja vida foi moldada pela "presença da misericórdia feito carne". Maria, afirma o Papa, "atesta que a misericórdia do Filho de Deus não conhece limites e atinge a todos, sem excluir ninguém". Dirigindo uma prece aos santos e beatos que fizeram da misericórdia a sua missão vital, de maneira especial Santa Faustina, o Papa suplica a graça de vivermos e caminharmos sempre no perdão de Deus e na confiança do seu amor. Por fim, o Sumo Pontífice convida a todos a “deixar-se surpreender por Deus que nunca se cansa de abrir a porta do Seu coração” aos homens. A primeira tarefa da Igreja, portanto, “é de introduzir a todos no grande mistério da misericórdia de Deus, contemplando o rosto de Cristo, sobretudo num momento como o nosso, cheio de grandes esperanças e fortes contradições”.


Obras de Misericórdia Pe. Casimiro Krzyzanowski, MIC

Capítulo transcrito do livro Obras de Misericórdia

PERDOAR

Vontade de Deus e Obra de Misericórdia

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esde as cinco edições anteriores da Revistas Divina Misericórdia estamos apresentamos aos nossos estimados leitores um interessante livro escrito pelo Fundador dos Padres Marianos, o bem-aventurado Pe. Estanislau Papczyński, com o título Templum Dei Misticum – O Templo Místico de Deus. Nesse livro podemos encontrar a mais completa e detalhada exposição, no Ocidente Cristão do século XVII, da doutrina sobre as obras de misericórdia. Padre Papczyński, nesses escritos, segue a tradicional divisão das obras de misericórdia. Depois de apresentarmos a sua exposição sobre as obras corporais, desde a edição anterior expomos seu ensinamento sobre as obras de misericórdia espirituais com as quais vamos em socorro das necessidades, nãos aquelas vinculadas ao corpo, mas à alma. Seguindo os ensinamento da Igreja católica para o nosso crescimento na fé, assim enumeramos as

obras espirituais de misericórdia: dar bom conselho, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo e rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos. Pe. Papczyński, porém, assim como quando listou as obras corporais, listou as obras espirituais em uma ordem diferente. Na revista anterior apresentamos o seu ensinamento sobre como dar bons conselhos. Desta vez falaremos sobre o perdão. Desejamos um boa leitura e que dela possam tirar muito proveito!

Perdoar é verdadeiramente divino A segunda obra de misericórdia espiritual definida pelo Pe. Papczyński é dare veniam in nos delinquentibus, isto é, perdoar os ofensores e reatar relações amigáveis com os inimigos. Realizar isto, afirma o Pe. Papczyński, “não é só propriamente cristão, mas é verdadeiramente divino”. E prova isso com as palavras:

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“Em que é que exprimimos mais a bondade de Deus do que em perdoar as ofensas e em amar os inimigos? Já que a máxima bondade de Deus se manifestou em nós no fato de que, quando éramos seus inimigos, ele nos reconciliou consigo por Seu Filho. Deus não só nos concedeu o perdão dos pecados, mas, para satisfazer a justiça, quis que o Seu Filho fosse imolado por nós”. É isto que nos ensina o Apóstolo quando diz:

De fato, quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu pelos ímpios. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa boa talvez alguém se atreva a morrer. Mas é assim que Deus demonstra o Seu amor para conosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós. […].De fato, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte de Seu Filho (Rm 5,6-10).

Padre Papczyński em outro livro, Orator Crucifixus, cita Isidoro Clário,


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o qual afirma que Deus “permite que aconteçam ofensas entre os homens a fim de que todos tenham alguns devedores, aos quais deve ser dado o perdão; para que assim Ele possa nos perdoar os máximos débitos que Lhe tínhamos de pagar”. “E nós ‒ maravilha-se Pe. Papczyński ‒ que assim imprudentemente deliramos, preferimos antes nos precipitarmos no inferno do que suportar com paciência, perdoar, mergulhar nas feridas do Salvador qualquer pequena palavra de sarcasmo, ou um exíguo desprezo, ou uma pequena injúria. Contudo, todos os dias clamamos ao Pai celeste: perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. “Se, portanto, não perdoamos, aumentamos as nossas ofensas, e isto é um absurdo e prova de máxima insânia”. Padre Papczyński conclui: “O perdão deve ser dado sobretudo também àqueles que não no-lo pedem, para que, pedindo-o, possamos obte-lo de Deus. Devemos perdoar, a fim de que sejamos perdoado”.

Quem, porém, quer ter a firme certeza desta clemência divina, deve, segundo o Padre Estanislau Papczyński, não só perdoar aos seus ofensores, mas também amar os inimigos. De fato, das palavras de Jesus “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34), aprendemos que “devemos amar os nossos inimigos e perdoar-lhes as injúrias, a fim de que consigamos, assim, o certíssimo perdão e a remissão dos nossos delitos”. Mais do que isso, quem ama os inimigos obtém não só a remissão dos pecados, mas também a condição de filhos adotivos de Deus, como o prometeu Cristo: “Amai os vossos inimigos, […] a fim de que sejais filhos do vosso Pai, que está nos Céus”(Mt 5, 44-45). Tendo diante dos olhos tal dúplice efeito, Padre Estanislau exorta os fiéis com as palavras de Santo Agostinho: “exorto-vos ao amor para com os inimigos, porque não conheço nenhuma medicina mais útil para a sanação das feridas dos pecados. Embora exija muito esforço amar os inimigos, será grande o prêmio no futuro. Oh! Felicíssimo

homem, exclama Padre Estanislau, que por amor aos inimigos, obtém seja a remissão dos pecados seja a adoção de filho de Deus!”. Padre Papczyński perdoava facilmente as injúrias recebidas. Os seus inimigos, se caídos em qualquer grave doença, juntamente com o perdão, às vezes, recebiam das suas mãos também a cura; de uma ou de outra maneira eram ajudados por ele. A sua “vingança” para com os seus adversários consistia no dirigir-se a eles com as palavras da Santa Edwiges: “Parcat tibi Deus!”, “Deus te perdoe!” No livro Norma Vitae, Pe. Papczyński exorta os Padres Marianos a mostrarem, sempre e em todas as ocasiões, às pessoas não pertencentes ao Instituto, mesmo às inimigas, “toda a possível caridade”. O seu desejo é que os Marianos se recordem sempre das obras de misericórdia “que são feitas ao Supremo Cristo, Cabeça dos Seus membros”.

Continua na próxima edição...


Misericórdia em Ação

Moradores de rua são CONVIDADOS DE HONRA do Papa

Gislaine Keizanoski

Revista Divina Misericórdia

D

epois de reformar e ampliar os banheiros públicos de uso gratuito da Praça de São Pedro com instalação de chuveiros e barbearia, agora o Papa Francisco decidiu oferecer um pouco de cultura aos moradores de rua de Roma. No último dia 26 de março eles foram convidados de honra do Papa para uma visita ao museu do Vaticano. E não parou por ai: os mendigos participaram de uma santa Missa na capela Sistina e ainda jantaram no prestigiado restaurante, anexo ao museu.

Os 150 moradores de rua, conforme publicou o jornal da Santa Sé, L’Osservatore Romano, foram divididos em três grupo para a visita ao museu. Na Capela Cistina foram surpreendidos com a visita do Papa que cumprimentou a todos: “Bem-vindos! Esta é a casa de todos, é a casa de vocês. As portas estão abertas a todos”. Uma nota da Sala de Imprensa da Santa Sé informou que “o Papa não quis que fossem feitos fotos ou vídeos do encontro”, portanto não

foram disponibilizadas imagens oficiais do encontro. Essa iniciativa foi organizada pela Esmolaria Apostólica, departamento da Santa Sé que possui a função de exercer a caridade para com os pobres em nome do Papa. O Museu do Vaticano é um dos maiores complexos de museus do mundo. As salas do edifício do século XIV abrigam algumas das obras mais famosas do mundo, realizadas pelos maiores artistas de todos os tempos, incluindo Michelangelo, Leonardo da Vinci, Bernini, Botticelli, Rafael, Caravaggio, Giotto, e centenas de outros. Anualmente é visitado por cerca de 4 milhões de pessoas. A Capela Sistina está situada no Palácio Apostólico, residência oficial do Papa na Cidade do Vaticano. É famosa por sua arquitetura e decoração em afrescos, pintada pelos maiores artistas da Renascença, entre eles Michelangelo, Rafael, Bernini e Sandro Botticelli.

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Padres da Igreja

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Cristo vem para SALVAR E LIBERTAR Dos sermões de São Bernardo, abade

(Sermo 1 de Nativitate, 2-4: EC 4,245-247) Fonte: Lecionário Monástico

A

quele que por sua natureza divina era igual ao Pai aniquilou-se assumindo a condição de escravo; despiu-se da majestade e do poder, não porém da bondade e da misericórdia. De fato, que diz o apóstolo? A bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador, se manifestaram (Tt 3,4). Seu poder aparecera anteriormente na criação do universo, e sua sabedoria se manifestava no governo de todas as coisas, mas a doçura de sua misericórdia apareceu sobretudo agora, na sua humanidade. A potestade exige submissão, a majestade, admiração; nenhuma das duas, porém, requer imitação. Que apareça, Senhor, tua bondade, à qual

possa se conformar o homem criado à tua imagem. Pois em tua majestade, poder e sabedoria não podemos te imitar, nem convém tentar fazê-lo. Até quando tua misericórdia estará restrita apenas ao mundo dos Anjos, enquanto que ao resto do universo com todo o gênero humano reservas a justiça? Senhor, a tua misericórdia está no céu e tua verdade chega às nuvens (Sl 36,6), diz o salmo, condenando toda a terra e as potências do ar. Que a misericórdia expanda suas fronteiras, estenda seus limites, dilate seu seio para atingir com força até os confins da terra, e ordenar todas as coisas com suavidade. Tua justiça, Senhor, restringe o teu domínio. Rompe essas amarras e vem, derramando misericórdia numa efusão de caridade. Que temes, ó homem? Por que tremes diante da face do Senhor que vem? Ele vem não para julgar, mas para salvar a terra. Eis que uma voz se faz ouvir por toda a terra: o Senhor

vem. Não fujas, não temas. Ele não vem com armas; busca salvar, e não punir. Fez-se pequeno, a Virgem Mãe envolveu com panos seus membros frágeis, e ainda assim o temes? Antes disso, devias saber, por causa destes mesmos fatos, que ele não vem para te perder ou acorrentar, mas para te salvar e libertar. Como força e sabedoria de Deus já combate contra teus inimigos, calcando a nuca dos soberbos e poderosos. São dois os teus inimigos: a morte e o pecado, isto é, a morte do corpo e a da alma. O Senhor vem para vencer a ambas, e de ambas te livrará: não temas. Aliás, já venceu o pecado em sua própria pessoa, quando assumiu a natureza humana sem mancha alguma. Cristo atingiu violentamente e venceu o pecado, quando a natureza que este se gloriava de haver invadido e ocupado foi encontrada em Cristo totalmente livre do pecado.

São Bernardo de Claraval Bernardo de Claraval foi canonizado por Alexandre III em 1174. Proclamado Doutor da Igreja por Pio VIII em 1830. Viveu entre os anos 1090 e 1153. Foi o principal reformador da Ordem de Cister. Fundador da Abadia de Claraval e responsável direto pela fundação de outros 163 mosteiros em diferentes partes da Europa. Experiente defensor da verdade contra os cismas na Igreja. Grande devoto da Virgem Santíssima. No 800º aniversário de sua morte, Pio XII emitiu uma encíclica na qual chama-o de “O Último dos Padres”. Texto preparado pelos Monges do Mosteiro Trapista Nossa Senhora do Novo Mundo


Santa Faustina

Ele está

sempre

conosco! Xavier Bordas

Teólogo, tradutor no Santuário da Divina Misericórdia da Polônia

N

nem sequer o melhor amigo ‒ é capaz a edição passada dessa revista meditamos sobre de compartilhar o nosso sofrimento, como, na difícil tarefa de porque isso é simplesmente impossível. Só Jesus pode, Ele está conosco e interpretar e cumprir a vontade de o está desde o interior do nosso ser, Deus, Santa Faustina constanteou seja, Ele está em nós, nunca estamente depositava sua confiança na mos sós. Ele está aqui, permanente presenagora, porém por trás ça de Nosso Senhor da cortina da fé. junto dela e em seu “Filho, eu estou coração santificado Para melhor ilusaqui todo o tempo pela graça. trar isso, vou contar

contigo, você não

uma história real: Em nossa vida, está sozinho” Grześ era um garoticom frequência pennho de um ano e meio samos que estamos que em um acidente sozinhos, porque não sofreu queimaduras graves. Ele teve sentimos a presença de Jesus, porém uma longa estadia no hospital. Sentia Ele está sempre conosco. O tempo muito a falta dos seus pais. Todo dia, Pascal é um tempo propício para toseu pai e sua mãe vinham ao hospital, marmos consciência de que Ele está porém não entravam no quarto onde vivo e de que Ele está conosco em estava Grześ porque ele estava num cada sofrimento, em cada dor, em ambiente de isolamento antisséptico tudo o que experimentamos. nenhum visitante poderia entrar para Nosso Senhor é um conosco, se evitar qualquer possível infecção. Os solidariza conosco nos momentos de pais tinham que ficar por trás das porsolidão mais profunda, quando nintas de vidro, de tal modo que Grześ guém ‒ nem mesmo o pai ou a mãe, o não podia vê-los, somente eles poesposo ou a esposa, o irmão ou a irmã, diam ver e ouvir a criança. 12 - Revista Divina Misericórdia - Junho/Julho 2015


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Um dia, o pai de Grześ estava sozinho, atrás dessa porta. Então, ouviu quando Grześ com sua voz infantil perguntava à enfermeira: “Tia, onde estão a mamãe e o papai, quando será que eles vêm?”. Dizia isso como uma criança, não com um tom de reprovação, mas com a inocência de uma criança que não tem conhecimento da situação, uma criança que anseia por encontrar-se com aqueles que ama, especialmente quando sofre. Depois de muitos anos, o pai me disse que, para ele, esse foi um momento muito difícil. Queria abrir a porta de vidro, correr para Grześ e dizer: “Filho, eu estou aqui todo o tempo contigo, você não está sozinho”... No entanto, para o bem de Grześ, não podia fazê-lo. Saiu correndo do hospital e foi embora às pressas. Grześ, passado os anos, se recuperou. Agora já terminou a faculdade. Está trabalhando, pratica esportes. Quando seu pai contou-me esse fato, pensei: Deus está sempre conosco, em cada sofrimento, em todos os momentos de solidão, porém, por trás do vidro da fé. Nós não O vemos, não O sentimos, mas Ele está ai, não é indiferente ao nosso sofrimento. Que alegria damos a Jesus quando realmente acreditamos na Sua presença amorosa em todos os momentos da nossa vida diária! Que alegria damos a Ele quando não caímos em desespero nos momentos de sofrimento, mas com fé nos dirigimos

a Ele! Essa fé não é um sentimento, mas um ato de vontade. O que mais causa dor a Jesus é a nossa desconfiança (cf. Diário 1076). Ele se entristece quando ficamos sozinhos com os nossos problemas e sofrimentos, quando pensamos que temos que superar as dificuldades sozinhos, por nós mesmos. Jesus quer que compartilhemos com Ele os sofrimentos, as alegrias, tudo o que experimentamos.

se trata de visões, revelações, mas de viver a comunhão com Deus no interior da alma, como uma criança com seu pai, de estar com Ele, ir ao Seu encontro “com simplicidade e amor, com fé e confiança”, e compartilhar com ele todas as alegrias e sofrimentos, em uma palavra, tudo (cf. Diário, 230). O Senhor Jesus disse à Santa Faustina:

Muito Me alegro que Me confidencies teus receios, Minha filha. FalaMe de tudo desta forma assim simples e humana e Me causarás grande alegria. Eu te compreendo porque sou Deus-Homem. Essas palavras simples do teu coração Me são mais agradáveis do que os hinos compostos em Minha honra. Sabe, Minha filha, que quanto mais simples forem as tuas palavras, mais Me atrairás a ti (Diário 797).

“ Às vezes pode parecer que o diálogo com Deus está reservado apenas para os grandes santos ‒ como a Irmã Faustina. Contudo, o cristão comum não alcança estados espirituais tão elevados. Isso quer dizer, então, que o cristão comum não pode dialogar com Deus? Não se trata de ver a Jesus (como acontecia com Santa Faustina), nem de escutar a Sua voz, não

(...) Assim, também tu, Minha filha, deves saber dominar-te no meio das maiores dificuldades e nada deve afastar-te de Mim, nem sequer as tuas quedas (Diário 1823).

Que toda alma conheça como é bom o Senhor ‒ disse Santa Faustina, ‒ que nenhuma alma tenha medo de conviver com o Senhor, que não se escuse com a sua indignidade e que nunca adie os convites divinos, porque isso não agrada ao Senhor. (cf. Diário 440).


Santuário da Divina Misericórdia

Em meio às perseguições que sofrem os cristão no oriente médio, uma menina sustenta a Imagem de Jesus misericordioso.

DESAFIOS, SOFRIMENTO E DOR? NÃO!

Misericórdia!

Pe. Francisco Anchieta Cardoso de Muniz, MIC Pároco e Reitor do Santuário da Divina Misericórdia

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efletindo sobre o tempo em que a humanidade e o nosso planeta atravessa, não é difícil perceber que estamos vivendo tempos desafiadores – um contexto histórico de grandes problemas econômicos em vários países, escândalos na política, corrupção, catástrofes naturais... Meu Deus! Quanta coisa! – realidades impossíveis de

negar. Contudo, como fica em meio a tudo isso o ser humano, que depende de decisões e da vontade de outros seres humanos? Se olharmos o transcurso da humanidade, verificamos que, em todos os tempos, os desafios sempre fizeram parte da sua história. A diferença, certamente, está na maneira

14 - Revista Divina Misericórdia - Junho/Julho 2015

como, em cada momento, o ser humano procurou superar tais desafios. Considerando isso, como poderia ser definido o tempo em que vivemos? A partir de uma visão apenas racional tudo é catastrófico, desanimador, desesperador. Por outro lado, se olharmos do ponto de vista religioso, unindo a fé que


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professamos com a razão, a partir da de dúvidas, dessa forma Deus se diriIgreja que escolhemos seguir, da sua ge aos Seus filhos e filhas no seu reTradição, da Palavra que nos norteia, lacionamento com eles, e isso já seria posso afirmar, a partir da minha voo bastante para não deixarmos que a cação sacerdotal, do papel que exernossa esperança seja abalada. Mas, ço atualmente enquanto divulgador como nos comportarmos de forma a e propagador da devoção à Divina sermos verdadeiros filhos, que vivem Misericórdia atuante nesse lugar deno respeito para com Deus, cheios dicado à Misericórdessa confiança? dia infinita de Deus Considerando “A humanidade - que costumo chaainda a realidade mar de Casa da Minão encontrará dos nossos dias, sericórdia – o tempo a paz enquanto também se poderia atual da nossa hisachar que estamos não se voltar, com tória, mais do que vivendo um temconfiança, para a nunca, é um tempo po escatológico no de Misericórdia. Minha misericórdia” qual o fim já aproxiEsse tempo nos ma. Porém, não são convida, seres criaesses os sinais. A dos por Deus à Sua imagem, a nos mensagem de Misericórdia dirigida voltarmos com confiança para a Sua por Jesus à Santa Faustina, nos anos misericórdia infinita. Pois, do contrinta, também assegura para nós trário, quem sabe, tudo correrá um que os sinais de tempestades, turgrande risco de se tornar apenas bulências, querem nos revelar que a lamento, sofrimento e dor. E, cerpaz, a bonança, em meio a tudo isso, tamente, não foi para isso que Deus se encontram logo ali. nos criou. Precisamos descobrir a Onde está, afinal, a paz e a felicique viemos, por que estamos aqui, dade? Estas e outras devem ser as inqual o verdadeiro sentido da vida. terrogações de muitos. É exatamenEm meio ao que parece tão te sobre isso que Jesus fala à Santa desanimador, vejam ‒ não é difícil Faustina quando diz: “A humanidaperceber ‒, nos momentos de grande não encontrará a paz enquanto des desafios da história, Deus semnão se voltar, com confiança, para pre se fez presente, manifestando a Minha misericórdia” (cf. D. 300). Seu auxílio, Sua misericórdia, para Por que, então, esperar, resistir, insistodos aqueles que O buscaram em tir em não abrir os ouvidos e o corameio às suas aflições. ção a esse apelo de Jesus? No Diário de Santa Faustina, Jesus diz: “Minha filha, não tenhas medo dos sofrimentos, Eu estou contigo” (cf. D. 151). Sem sombra

Em outras passagens do Diário, Jesus salienta ainda mais o Seu desejo de conduzir-nos por caminhos seguros e tranquilos, longe da

desesperança dos nossos dias. Por exemplo, quando diz: “Não tenhas medo, não te deixarei sozinha”; “Não chores, Eu estou sempre contigo” (cf. D. 258; 259). Nessas palavras de Jesus à Santa Faustina, percebemos um pouquinho como se manifesta o amor misericordioso de Deus pelos seus e, certamente, por cada um de nós. Em tempos difíceis, difícil também é, às vezes, confiar. Aí precisamos lembrar de que fé e confiança também são dons concedidos por Deus. Nestes tempos, portanto, devemos exclamar com força: “Ó sangue e água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós” (cf. D. 186). E, de forma breve, simples, mas muito eficaz, jamais nos cansemos de repetir: “Jesus, eu confio, em Vós!”


Destaque

Pe. André Lach, MIC

Diretor do Apostolado da Divina Misericórdia

Cristo está com os

perseguidos e sofredores

O

s últimos acontecimentos mundiais, tais como o conflito armado na Ucrânia, o acidente aéreo na França, a morte dos estudantes cristãos na universidade do Quênia, pelo simples fato de serem cristãos, a perseguição e o genocídio dos cristãos no oriente médio provocam em todos nós importantes perguntas: Será que ainda vale a pena viver? Será que o mundo ainda tem a nos oferecer algum tipo de esperança? Por que Deus que é Bom e Misericordioso permite a existência do mal e do sofrimento? Onde estava Deus nestes acontecimentos? Por que se mantinha em silêncio?

Para encontrar a resposta, a nossa Igreja dirige o seu olhar para as Chagas gloriosas de Cristo e contempla também o Seu Rosto de Crucificado e Ressuscitado. No espírito do Evangelho devemos tirar as seguintes conclusões: Deus estava com aqueles que sofriam a agressão na Ucrânia. Deus estava com aqueles que sofreram o acidente aéreo na França. Deus estava com os estudantes fuzilados no Quênia. Deus está com os Cristãos sofrendo o martírio no oriente médio. Neles Cristo repetia e segue repetindo a Sua agonia e morte na Cruz. Neles, Cristo experimentava e segue experimentando o

16 - Revista Divina Misericórdia - Junho/Julho 2015

medo, o abandono, o desespero. No último momento de suas vidas, Cristo estendeu a mão a cada um deles.

O Papa Emérito Bento XVI du-

rante uma viagem apostólica à Polô-

nia em 2006 foi visitar o campo de concentração de Auschwitz, o maior

símbolo do Holocausto perpetra-

do pelo nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Lá ele falou àquela nação palavras de consolo e de espe-

rança. Palavras que servem para os nossos dias atuais, por isso, de manei-

ra resumida, apresentamos a seguir o seu pronunciamento. Acompanhe!


Destaque

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O próprio Deus desceu

ao inferno do sofrimento e sofre conosco Papa Bento XVI

Auschwitz-Birkenau © Copyright 2006 - Libreria Editrice Vaticana

T

omar a palavra neste lugar de horror, de acúmulo de crimes contra Deus e contra o homem sem igual na história, é quase impossível - e é particularmente difícil e oprimente para um cristão, para um Papa que provém da Alemanha. Num lugar como este faltam as palavras, no fundo pode permanecer apenas um silêncio aterrorizado - um silêncio que é um grito interior a Deus: Senhor, por que silenciaste? Por que toleraste tudo isto? É nesta atitude de silêncio que nos inclinamos profundamente no nosso coração face à nu-

merosa multidão de quantos sofreram e foram condenados à morte; todavia, este silêncio torna-se depois pedido em voz alta de perdão e de reconciliação, um grito ao Deus vivo para que jamais permita uma coisa semelhante. Há 27 anos, no dia 7 de junho de 1979, estava aqui o Papa João Paulo II; então ele disse: “Venho hoje aqui como peregrino. Sabe-se que muitas vezes eu me encontrei aqui... Quantas vezes! E desci muitas vezes à cela da morte de Maximiliano Kolbe e detive-me diante do muro do extermínio e passei entre as ruínas dos fornos

crematórios de Birkenau. Como Papa, não podia deixar de vir aqui”. O Papa João Paulo II veio aqui como filho daquele povo que, ao lado do povo judeu, teve que sofrer mais neste lugar e, em geral, durante a guerra: “Foram seis milhões de Polacos, que perderam a vida durante a segunda guerra mundial: um quinto da nação”, recordou então o Papa. Aqui, ele elevou a solene admoestação a respeito dos direitos do homem e das nações, que antes dele tinham elevado diante do mundo os seus Predecessores João XXIII e Paulo VI, e acrescentou:


Pronuncia estas palavras [...] o filho da nação que na sua história remota e mais recente sofreu numerosas angústias infligidas por outros. E não o diz para acusar, mas para recordar. Fala em nome de todas as nações, cujos direitos são violados e esquecidos...

O Papa João Paulo II veio aqui como filho do povo polaco. Hoje eu vim aqui como filho do povo alemão, e precisamente por isto devo e posso dizer como ele: Não podia deixar de vir aqui. Tinha que vir. Era e é um dever perante a verdade e o direito de quantos sofreram, um dever diante de Deus, de estar aqui como sucessor de João Paulo II e como filho do povo alemão - filho daquele povo sobre o qual um grupo de criminosos alcançou o poder com promessas falsas, em nome de perspectivas de grandeza, de recuperação da honra da nação e da sua relevância, com previsões de bem‑estar e também com a força do terror e da intimidação, e assim o nosso povo pôde ser usado e abusado como instrumento da sua vontade de destruição e de domínio. Sim, não podia não vir aqui. (...) É ainda esta

a finalidade pela qual me encontro hoje aqui: para implorar a graça da reconciliação - de Deus, antes de tudo, o único que pode abrir e purificar os nossos corações; depois, dos homens que sofreram; e por fim, a graça da reconciliação para todos os que, neste momento da nossa história, sofrem de maneira nova sob o poder do ódio e sob a violência fomentada pelo ódio.

à morte; tratam-nos como ovelhas para o matadouro. Desperta, Senhor, por que dormes? Desperta e não nos rejeites para sempre! Por que escondes a tua face e te esqueces da nossa miséria e tribulação? A nossa alma está prostrada no pó, e o nosso corpo colado à terra. Levanta-te! Vem em nosso auxílio; salva-nos, pela tua bondade!” (Sl 44, 20.23-27). Este grito de angústia que Israel sofredor eleva a Deus em períodos de Quantas extrema angústia, é perguntas surgem ao mesmo tempo um grito de ajuda de toneste lugar! (...) dos os que, ao longo Onde estava da história - ontem, Deus naqueles hoje e amanhã - sodias? Por que frem por amor a Deus, por amor da verdade e Ele silenciou? do bem; e há muitos, também hoje.

Quantas perguntas surgem neste lugar! Sobressai sempre de novo a pergunta: Onde estava Deus naqueles dias? Por que Ele silenciou? Como pôde tolerar esse excesso de destruição, esse triunfo do mal? Vêm à nossa mente as palavras do Salmo 44, a lamentação de Israel que sofre: “... Tu nos esmagaste na região das feras e nos envolveste em profundas trevas... por causa de ti, estamos todos os dias expostos

18 - Revista Divina Misericórdia - Junho/Julho 2015

Nós não podemos perscrutar o segredo de Deus - vemos apenas fragmentos e enganamo-nos se pretendemos eleger-nos a juízes de Deus e da


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história. Não defendemos, nesse caso, emergir de novo dos corações dos o homem, mas contribuiremos apehomens todas as forças obscuras: por nas para a sua destruição. Não - em um lado, o abuso do nome de Deus definitivo, devemos para a justificação elevar um grito hude uma violência milde mas insistencega contra pessoas Nós gritamos a te a Deus: Desperinocentes; por ouDeus (...) para que ta! Não te esqueças tro, o cinismo que reconheçam que a da tua criatura, o não conhece Deus violência não cria homem! E o nosso e que ridiculariza grito a Deus deve a fé Nele. Nós gria paz, mas suscita ao mesmo tempo tamos a Deus, para apenas outra ser um grito que que impulsione os violência (...) na qual penetra o nosso homens a arrepentodos no fim de contas próprio coração, der-se, para que para que desperte reconheçam que a só têm a perder. em nós a presença violência não cria escondida de Deus a paz, mas apenas - a fim de que aquele seu poder que suscita outra violência - uma espiral Ele depositou nos nossos corações de destruição, na qual todos no fim de não seja coberto e sufocado em nós contas só têm a perder. O Deus, no pela lama do egoísmo, do medo dos homens, da indiferença e do oportunismo. Emitamos este grito diante de Deus, dirijamo-lo ao nosso próprio coração, precisamente nesta nossa hora presente, na qual incumbem novas desventuras, na qual parecem

qual nós cremos, é um Deus da razão - de uma razão, porém, que certamente não é uma matemática neutral do universo, mas que é uma só coisa com o amor, com o bem. Nós rezamos a Deus e gritamos aos homens, para que esta razão, a razão do amor e do reconhecimento da força da reconciliação e da paz prevaleça sobre as ameaças circunstantes da irracionalidade ou de uma razão falsa, separada de Deus. O lugar no qual nos encontramos é um lugar da memória, é o lugar do Shoá. O passado nunca é apenas passado. Ele refere-se a nós e indica-nos os caminhos que não devem ser percorridos e os que o devem ser. Como João Paulo II, percorri o caminho ao longo das lápides que, nas várias línguas, recordam as vítimas deste lugar: são lápides em bielo-russo, checo, alemão, francês, grego, hebraico, polaco, croata, holandês, norueguês, italiano, yiddish, húngaro, russo, rom, romeno, eslovaco, sérvio, ucraniano, judaico-hispânico, inglês. Todas essas lápides falam da dor humana, deixam-nos intuir o cinismo daquele poder que tratava os homens como material e não os reconhecia como pessoas nas quais resplandece a imagem de Deus. (...) Também todas as outras lápides nas numerosas línguas da Europa nos falam do sofrimento de homens de todo o continente; tocariam profundamente o nosso coração, se não fizéssemos apenas memória das vítimas de modo global, mas se víssemos, ao contrário, os rostos das pessoas individualmente que acabaram naquele


gratidão inclinamo-nos diante de todos os que, como os três jovens diante da ameaça da fornalha babilônica, souberam responder:

Só o nosso Deus nos pode salvar. Mas também se não nos libertares, sabe, ó rei, que nós nunca serviremos os teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que erigistes (cf. Dn 3, 17s).

Sim, por detrás destas lápides encerra-se o destino de inumeráveis terror escuro. Senti como um íntimo seres humanos. Eles despertam a dever deter-me de modo particular nossa memória, despertam o nosso também diante da lápide em língua coração. Não querem provocar em alemã. Dela emerge diante de nós nós o ódio: ao contrário, demonso rosto de Edith Stein, Theresa Betram-nos como é terrível a obra nedicta da Cruz: judia e alemã dedo ódio. Querem conduzir a razão saparecida, juntamente com a irmã, a reconhecer o mal como mal e a no horror da rejeitá-lo; quenoite do campo rem suscitar em de concentração nós a coragem A humanidade alemão-nazisdo bem, da reatravessou em ta; como cristã sistência contra e judia, aceitou Auschwitz-Birkenau o mal. Querem morrer juntadar-nos aqueles um “vale escuro”. mente com o seu sentimentos que se expressam povo e por ele. nas palavras que Os alemães, que Sófocles coloca nos lábios de Anentão foram conduzidos a Auschwittígona face ao horror que a circunz-Birkenau e aqui morreram, eram da: “Estão aqui não para odiar mas vistos como Abschaum der Nation para, juntos, amar”. como o refugo da nação. Mas agora nós reconhecemo-los com gratidão como as testemunhas da verdade e do bem, que também no nosso povo tinha desaparecido. Agradecemos a essas pessoas, porque não se submeteram ao poder do mal e agora estão diante de nós como luz numa noite escura. Com profundo respeito e

Graças a Deus, com a purificação da memória, à qual nos estimula este lugar de horror, crescem à sua volta numerosas iniciativas que desejam pôr um limite ao mal e dar força ao bem. Há pouco pude abençoar o Centro para o Diálogo e a Oração. Nas imediatas proximidades tem

20 - Revista Divina Misericórdia - Junho/Julho 2015

lugar a vida escondida das irmãs carmelitas, que estão particularmente unidas ao mistério da cruz de Cristo e nos recordam a fé dos cristãos, que afirma que o próprio Deus desceu ao inferno do sofrimento e sofre juntamente conosco. Em Oswiecim existe o Centro de São Maximiliano e o Centro Internacional de Formação sobre Auschwitz e sobre o Holocausto. Depois, há a Casa Internacional para os Encontros da Juventude. Numa das Antigas Casas de Oração existe o Centro Hebraico. Por fim está sendo constituída a Academia para os Direitos do Homem. Assim podemos esperar que do lugar do horror nasça e cresça uma reflexão construtiva e que o recordar ajude a resistir ao mal e a fazer triunfar o amor. A humanidade atravessou em Auschwitz-Birkenau um “vale escuro”. Por isso desejo, precisamente neste lugar, concluir com uma oração de confiança - com um Salmo de Israel que é, ao mesmo tempo, uma oração da cristandade:

O Senhor é o meu pastor: nada me falta. Em verdes prados me fez descansar e conduz-me às águas refrescantes. Reconforta a minha alma e guia-me por caminhos retos, por amor do seu nome. Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo. A tua vara e o teu cajado dão-me segurança... habitarei na casa do Senhor para todo o sempre (Sl 23, 1-4.6).


Destaque

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A oração do

E

POR QUÊ

m novembro de 2013 o Papa Francisco reuniu-se no Vaticano com membros da comunidade filipina com quem rezou pelas vitimas do furacão Haiyan que naqueles dias havia devastado cidades da Filipina causando milhares de mortes. Naquela ocasião o Papa disse se sentir próximo do povo filipino. “Nestes dias, também eu tenho estado muito próximo do vosso povo. E senti que a provação era forte, demasiado forte. Mas também senti que o povo era forte”. E sentindo o sofrimento que assolava aquela nação e seus questionamentos, falou: “Por que sucedem estas coisas? Não se pode explicar. Há tantas coisas que não podemos compreender. Quando as crianças começam a crescer, não entendem as coisas e começam a fazer perguntas ao pai ou à mãe: ‘Papai, por quê? Por quê? Por que?’. (...) Mas se estivermos atentos, veremos que a criança não espera uma resposta do seu pai ou da sua mãe: um outro porquê, e um outro porquê... A criança precisa, naquela insegurança, que o seu pai e a sua mãe olhem por ela. Precisa dos olhos dos seus pais, precisa do coração dos seus pais”.

O Papa ainda convidou os filipinos a fazer de seus questionamentos uma oração a Deus misericordioso. “Nestes momentos de tanto sofrimento, não cesseis de dizer: “Por que?”. Como as crianças... E assim atraís os olhos do nosso Pai sobre o vosso povo; atraís a ternura do papai do céu sobre vós. Como faz a criança quando pergunta: ‘Por quê? Por quê?’. Nestes momentos de dor, esta força seja a oração mais útil: a oração do por quê. Mas sem pedir explicações, apenas pedir que o nosso Pai nos guarde. Também eu vos acompanho, com esta oração do por quê”. Esta oração do Papa Francisco pode ser feita também por nós diante dos atuais acontecimentos que causam tanto sofrimento. Façamos da oração do por quê a nossa oração diária, sem cobrar de Deus, como frisou o Papa, mas, por meio de Cristo na cruz - conscientes de que fazemos parte do Corpo Místico de Cristo - seguros de que assim o Pai contempla a humanidade com misericórdia.


Destaque

ESPERANÇA

maior que a

MORTE

Pe. André Lach, MIC

Diretor do Apostolado da Divina Misericórdia

R

ecentemente fomos surpreendidos por mais um acontecimento trágico: o terremoto no Nepal - país asiático que conta com uma população de quase 28 milhões pessoas. Desses, somente 8 mil são católicos. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), 8 milhões de pessoas foram vítimas do terremoto.

O crucifixo da igreja Sacre Co-eur du Tugean, no Haiti, em janeiro de 2010.

22 - Revista Divina Misericórdia - Junho/Julho 2015

Em meio a essa tragédia, um fato curioso desperta a atenção. Os habitantes de Okhaldhunga, uma aldeia em um lugar afastado no leste do Nepal, foram salvos da morte naquele dia. Eles estavam participando de uma santa Missa de ordenação sacerdotal. Quem testemunha esse acontecimento é o jovem professor Santosh Kumar Magar, 29 anos. “Quando


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senti o terremoto saí da sala onde estava e vi duas ou três casas ao meu redor que estavam desmoronando. Alguns animais morriam. As pessoas se salvaram porque todos os habitantes desta região estavam reunidos para a ordenação sacerdotal”, declarou à Cáritas - uma entidade de promoção e atuação social da Igreja Católica que trabalha na defesa dos direitos humanos, da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável solidário, atuando em mais de duzentos países. Outro fato que desperta a nossa atenção entre as tragédias que assolam a humanidade aconteceu, em 2010. No dia 12 de janeiro daquele ano houve um terremoto no Haiti. Como relataram os noticiários, 70% dos prédios da capital Port-au-Prince e de outros lugares desabaram e nesta tragédia morreram mais de 316 mil pessoas.

Porém, um fato chamou a atenção: no meio de uma igreja em ruínas na capital daquele país restou intacta uma cruz. Em sua volta tudo estava destruído. Ao lado da cruz ficaram os corpos daqueles que viveram até o fim a própria fé, como Cristo, Bom Pastor, que deu a vida por suas ovelhas. Trata-se da doutora Zilda Arns, médica sanitarista fundadora da Pastoral da Criança, e 15 sacerdotes, presentes nesta igreja no momento da tragédia. Eles estavam lá por amor às crianças, cujas vidas queriam salvar através do trabalho da Pastoral da Criança. O crucifixo da igreja Sacre Coeur du Tugean permaneceu firme. Ao contemplá-lo no meio dos escombros podia-se escutar a voz de Deus:

Pois eu estava com fome, e me destes de comer; eu estava com sede, e me destes

de beber; eu era forasteiro e me recebestes em casa; estava nu e me vestistes; doente e cuidastes de mim. (...) Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequeninos que são meus irmãos, foi a mim que fizestes! (Mt 25, 35-36.40).

Em meio a destruição, a imagem do Crucificado nos diz que o amor é mais forte do que a morte e a destruição. Ouve, portanto, há esperança. Cada vida resgatada, cada criança salva, cada mão estendida na direção do necessitado reafirmam que vale a pena viver, que o amor sempre vence. A vida destruída no Crucificado se renova no Cristo Ressuscitado. O amor vence tudo. Por isso olhemos com fé para o Crucificado, Ele renova todas as coisas.


Destaque

ESPERANÇA

CARIDADE

LUZ NO FIM

DO TÚNEL

Q

uando recebemos o sacramento do Batismo é infundida em nós a graça santificante que nos torna capazes de nos relacionar com a Santíssima Trindade e nos orienta na maneira cristã de viver e de agir. O Espírito Santo se torna presente em nós, fundamentando as virtudes teologais, que são três: fé, esperança e caridade. As virtudes teologais “têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus. São infundidas no homem com a graça santificante, (...) e fundamentam e animam o agir moral do cristão, vivificando as virtudes humanas. Elas são o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 384).

Testemunho de fé, esperança e caridade Sou Luis Otávio Coabianco, tenho 35 anos, de São José do Rio Preto - SP. Já fui casado, tenho uma filha de 9 anos. Na infância tive tudo o que uma criança pode ter. Falo isso para provar que a droga não escolhe nível social. Eu era funcionário público, formado, casado, pai de família e decidi usar cocaína. Fiquei por quase 7 anos fazendo uso intenso, até que chegou uma época em que estava comprometendo o meu casamento. Eu roubava indiretamente da minha família porque deixava de comprar o que era preciso, não assumia mais nada. Foi então que a minha irmã conheceu a Fazenda da Esperança e Fazenda da Esperança: comunidades terapêuticas que abrigam dependentes químicos que desejam se livrar das drogas e do álcool. Foi fundado 24 - Revista Divina Misericórdia - Junho/Julho 2015 no Brasil e está presente em 15 países. Seu trabalho se baseia no tripé: convivência em família, trabalho como processo pedagógico e espiritualidade para encontrar um sentido de vida. Contato: (12) 3133-7200 | (12) 3228-2707


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me falou a respeito. Eu, já no desespero parar manter minha dignidade, aceitei me tratar. Disse: “vou deixar meu trabalho, vou deixar tudo e fico 3 meses nessa Fazenda da Esperança”. Cheguei aqui, aceitei a proposta, fui bem acolhido, como todos são, com um único objetivo: parar de usar droga. Quando cheguei não entendia nada de espiritualidade. Deus era algo muito além da minha realidade... Eu achava que Deus não podia fazer parte da minha vida. Passados os 3 meses, de muita dificuldade, decidi ficar na Fazenda. Com o tempo fui me abrindo e provando os frutos da graça de Deus. Passou-se um ano e eu voltei para casa - faz parte da proposta da Fazenda, terminando o primeiro ano, o retorno para casa, nem que seja por uma semana ou um mês. Porém, a minha esposa não queria deixar o estilo de vida que levávamos antes. Ela me disse: “Você tem que fazer uma escolha: ou você fica na Fazenda da Esperança ou você preserva o seu casamento”. E eu escolhi voltar para a Fazenda, e hoje, aqueles 3 meses iniciais se transformaram em 4 anos de vida dentro dessa obra.

Depois de toda aquela vida desregrada, morna, Deus fez uma graça muito grande em mim, tudo na vivência do Evangelho, colocando a Palavra de Deus em prática; e a Palavra gera frutos. Todo dia eu peço: “Senhor, que eu tenha o mesmo desejo de mudança de quando estava no primeiro mês de caminhada”. E me esforço para viver a Palavra, porque não é fácil. Tenho liberdade de ir para casa de 3 em 3 meses, e a minha filha pode vir aqui. Eu fiquei já por 1 ano e 2 meses sem vê-la, quando fui como missionário para a África em 2013 - tive uma experiência muito marcante nesse lugar. Mas essa distância é uma distância que nos aproxima. Quando eu a vi, parecia que estávamos mais próximos do que nunca. É difícil entender, mas é fato. Eu não tenho medo de me entregar, de me abandonar. A gente se esquece de si porque sabe que alguma coisa maior vai acontecer.

Capela de São Frei Galvão e Santa Crescencia na Fazenda da Esperança em Guaratinguetá - SP.

Esperança Na Fazenda da Esperança queremos sempre mais colocar em prática o estilo de vida que encontramos aqui. Temos o desejo de vivenciar aquilo que os outros que já estão aqui mais tempo vivenciam. Claro que temos consciência de que os resultados podem ser diferentes, pois a proposta de Deus na vida de cada um é diferente, Deus tem um projeto para cada um. Eu olho para uma pessoa que já está há 10 anos na Fazenda, está firme e forte, e falo: “eu quero ter a alegria e quero deixar o agir de Deus na minha vida de acordo com o que Ele fez na vida daquela pessoa”. Porque se aconteceu com ele, pode acontecer comigo também. Tudo isso no critério da esperança, de realmente se deixar na mão de Deus, de acreditar e de fazer uma escolha. Tudo, tudo, até a esperança, depende de uma escolha.


Maria

A Eucaristia e a Virgem Maria Xavier Bordas

Teólogo, tradutor no Santuário da Divina Misericórdia da Polônia

D

esde a anunciação até a cruz, Maria está presente na vida do seu Filho como Mãe, mas também como corredentora. Ela, a todo momento, age junto com Ele. Durante a Quaresma e a Páscoa pudemos viver, como em todos os anos, os maiores mistérios da nossa Redenção, mistérios que superam completamente a nossa capacidade de compreender. Por isso,

precisamos permanecer bem perto da nossa Mãe, com humildade, para contemplar e aprender com Ela a colaborar na nossa Redenção, e na Redenção dos nossos irmãos. Deus espera de nós que a nossa vida seja uma imitação de Cristo, espera que com Cristo e por mediação de Cristo, ofereçamos a cada novo dia, instante a instante, as alegrias

26 - Revista Divina Misericórdia - Junho/Julho 2015

e sofrimentos, orações e trabalhos, tudo para Deus Pai. A intenção de oferecer a Deus o que somos e temos nasce no nosso coração quando este se deixa mover pela graça de Deus. Portanto, quanto mais perto estivermos da nossa Mãe, tanto mais facilmente Ela, com a graça divina, poderá nos conduzir até onde poderá oferecer com Cristo ao


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Pai as nossas oferendas, especialmente no momento da santa Missa. Deus quer que com Cristo participemos na obra da Redenção. Contudo, como podemos participar? Lemos no Catecismo da Igreja:

À oblação de Cristo unem-se não só os membros que estão ainda neste mundo, mas também os que já estão na glória do céu: é em comunhão com a santíssima Virgem Maria e fazendo memória Dela, assim como de todos os santos e de todas as santas, que a Igreja oferece o sacrifício eucarístico. Na Eucaristia, a Igreja, com Maria, está como que ao pé da cruz, unida à oblação e à intercessão de Cristo (CIC 1370).

Portanto, após a ressurreição de Jesus, caminhamos com Maria até o cenáculo onde descerá o Espírito Santo, que será quem nos fará viver com plenitude o chamado que Deus nos faz para nos tornarmos oferendas eternas agradáveis a Deus. Nessa peregrinação, não devemos nunca esquecer de que estamos sempre nos braços de Maria, nunca estamos sozinhos. Ela nos precedeu no caminho, foi assunta ao Céu para nos mostrar que também nós vamos ressuscitar. Ela, a nossa esperança, estará conosco até nos levar ao Céu. João Paulo II na Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis (parágrafo 33) diz-nos que Maria nos precede no caminho da fé, do princípio até ao fim último: “tudo aquilo que Deus nos deu, se realizou

perfeitamente na Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa: a sua assunção ao céu em corpo e alma é, para nós, sinal de segura esperança, enquanto aponta para nós, peregrinos no tempo, aquela meta escatológica que o sacramento da Eucaristia desde já nos faz saborear”. A assunção de Maria é para nós algo muito concreto, é uma promessa da nossa própria ressurreição porque Maria foi assunta em corpo e alma, foi a primeira entre nós, e nós também vamos ressuscitar com corpo e alma no fim dos tempos.

Na Eucaristia, a Igreja, com Maria, está como que ao pé da cruz, unida à oblação e à intercessão de Cristo Desde a Anunciação até o Pentecostes, Maria de Nazaré aparece como uma pessoa cuja liberdade está completamente disponível à vontade de Deus; a sua Imaculada Conceição revela-se propriamente na docilidade incondicional à Palavra divina. A fé obediente é a forma que a sua vida assume em cada instante perante a ação de Deus: Virgem à escuta, Ela vive em plena sintonia com a vontade divina; conserva no seu coração as palavras que lhe chegam da parte de Deus e, dispondo-as à maneira de um mosaico, aprende a compreendê-las mais a fundo (Lc 2, 19.51); Maria é a grande Crente que, cheia de confiança, se coloca nas mãos de Deus, abandonando-se à Sua

vontade (Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, 33). Como a vocação comum de todos os cristãos é se tornar uma oferenda eterna agradável a Deus, precisamos aprender de Maria, aos pés da Cruz, como aproveitar plenamente o momento da Eucaristia, quando Cristo se oferece por todos nós. Desde a anunciação até à cruz, Maria é Aquela que acolhe a Palavra que Nela Se fez carne e foi até emudecer no silêncio da morte. É Ela, enfim, que recebe nos seus braços o corpo imolado, já exânime, Daquele que verdadeiramente amou os Seus “até ao fim” ( Jo 13,1). Maria, sob a cruz, recebendo nos seus braços o Corpo de Jesus, recebe a Palavra divina. Assim Ela também nos lembra que o melhor jeito de receber Jesus Eucaristia é fazê-lo estando nos braços Dela, para que seja Ela quem receba a Palavra divina que tornou-se Corpo no seu seio. Assim, cada vez que recebermos a comunhão, peçamos a Maria que seja Ela a receber esse Corpo divino nos seus braços. Sempre que meditando nisso, obtemos frutos, pois Maria recebe o Corpo do Seu Filho como a Palavra que se tornou Carne no seu seio. Por isso, quando na liturgia eucarística nos aproximarmos do Corpo e do Sangue de Cristo, dirigimo-nos também a Maria que, por toda a Igreja, acolheu o Sacrifício de Cristo, aderindo plenamente a ele. Assim, onde se celebra a Eucaristia, está presente Maria. Quando participamos na Eucaristia, participamos no sacrifício do Gólgota.


Jovens em Cristo

Amizade VERDADEIRA

João Pedro da Luz Neto

Estudante de Filosofia

C

aro leitor: se algum repórter de televisão parasse você na rua perguntando “O que é a amizade?”, o que você responderia? Talvez o nervosismo da situação o impedisse de fazer uma grande exposição, mas certamente você tem experiência para responder a esta pergunta, pois possui algum amigo. É possível que você responda “amigo é alguém que amamos e com quem podemos contar a qualquer hora”, ou algo semelhante. De fato, esta é uma boa definição de amizade. Mas será que esta é a única característica? Não é difícil percebermos que uma pessoa que se aproxima de nós por algum interesse (quer apenas usar a nossa alegria, o nosso dinheiro, a nossa influência, etc...), por mais que seja agradável, não é nossa amiga. Queremos sempre um amigo

companheiro, fiel, leal... Alguém que nos entenda, que nos respeite como somos. Mas, se somos cristãos, isso ainda não nos basta: é preciso que o nosso amigo, um amigo de verdade, seja alguém que nos ame como ama a si mesmo. Não basta, então, que o nosso amigo seja alguém que nos respeite: é preciso um profundo e verdadeiro amor. Um amor que quer o nosso bem, a nossa salvação, o nosso crescimento, em todos os sentidos. Não é à toa que a Sagrada Escritura nos diz: “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro” (Cf. Eclo 6, 14). Antes de investigar um pouco mais sobre essa forma muito elevada de amar, sobre as características de um bom amigo, penso que seja útil fazer outra pergunta: “se um amigo de verdade é tudo isso, como encontrá-lo?”. Não é, de fato, uma tarefa fácil; requer muito tempo. Estou convencido de que, por causa da reciprocidade própria da amizade, isto é,

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do fato de ela não vir de uma só pessoa, mas de duas, a melhor forma de conseguirmos um verdadeiro amigo é sermos este amigo tão especial para os outros. Através desta atitude, naturalmente conquistaremos o próximo. Então, quais são as características de um verdadeiro amigo? O que devemos fazer para sermos esse verdadeiro amigo? Poderia listar muitas coisas, mas penso que três características são fundamentais: paciência, atenção e doação. Paciência porque nem sempre é fácil conviver com os outros. Às vezes nos deparamos com os limites do nosso amigo: seja porque ele não entende algo direito, porque ele tem uma personalidade forte, etc. Outras tantas vezes nos deparamos com nós mesmos: descobrimos que também não somos perfeitos, que temos raiva, inveja, ciúmes... Nestas horas de dificuldade é muito importante sermos pacientes. A palavra “esperar”


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significa, normalmente, algo monótono, tolo. Mas, fundamentalmente, “esperar” significa crer e aguardar com amor o encontro com o Deus Redentor que, em Sua obra, transforma toda criatura. Esse é o esperar que o amigo deve ter: devemos ser pacientes com os outros, esperando que o Senhor Deus lhes dê a graça e os façam pessoas novas. Evidentemente, essa paciência não se confunde com a tolerância: nesta não há qualquer tentativa de mudança; apenas se tolera a pessoa do jeito que é e pronto. Quando há paciência, há um profundo desejo de mudança, uma esperança de que o amigo se aproxime mais do amor de Deus. O verdadeiro amigo não é aquele que simplesmente tolera o outro, mas aquele que, com muito respeito, chama a atenção, corrige com amor, da mesma maneira que recebe essas correções, não como um ataque, mas como uma tentativa de ajuda, que acolhe. Como é bom quando temos alguém que nos fala:

“você age desta maneira, mas acredito que poderia agir de uma maneira melhor”; alguém que acredita em nós... Devemos ser pacientes com os nossos amigos porque acreditamos neles, acreditamos que eles podem crescer ainda mais, porque podem – devem – alcançar a vida eterna! É isso que desejamos aos nossos amigos.

Uma amizade é como uma flor que exige de nós cuidado e atenção. A segunda característica fundamental é a atenção. Se quisermos ser amigos de alguém, não podemos ser pessoas distantes na vida dele. Isso não significa estar junto o tempo todo, como se não existisse mais nada além daquela amizade (minha avó chamava isso de “grude”), mas dedicar um tempo para estar com o amigo: fazer coisas juntos, ouvi-lo, contar segredos. Não se faz um amigo de uma hora

para outra, e nem com pouco tempo de dedicação. Uma amizade é como uma flor que exige de nós cuidado e atenção. Vale a pena ser amigo não só dentro de um grande grupo, mas conversar com cada um em particular, conhecer cada um individualmente. O terceiro ponto característico da amizade é a doação. Nisto, o Papa Francisco insiste muito: é preciso compreender que não podemos ser fechados em nós mesmos, que precisamos do outro e precisamos nos dedicar ao outro. Uma vez que fomos pacientes e atentos com nossos amigos, podemos perceber como agir para auxiliá-los. Talvez precisem de ajuda no trabalho, nos estudos... Talvez precisem de consolo, companhia para sair e se divertir. Um verdadeiro amigo é aquele que consegue perceber isso e ajudar o outro no que mais precisa. Um amigo de verdade não pensa em si: quer pensar no outro, como um verdadeiro irmão. Sem essa doação não há amizade.


Santos da Misericórdia

SÃO SIGISMUNDO GORAZDOWSKI

“Uma verdadeira pérola do clero...” Ir. M. Doris, CSSJ

Contato das Irmãs de São José: (41) 3329-4198 Curitiba - PR

A

ssim João Paulo II chamou Padre Sigismundo Gorazdowski no dia da sua beatificação: “Uma verdadeira pérola do clero da Arquidiocese de Lvov”. Mas, acredito que poderíamos também assim chamá-lo em terras brasileiras: uma pérola para o clero do Brasil.

um voto a Deus, expresso na oração: "Todo-Poderoso tenha misericórdia de mim, teu servo, dá-me força para que eu possa cumprir a Tua missão e dedicar a minha vida para o bem dos outros".

As pérolas sempre foram apreciadas ao longo da história da humanidade. Pérolas nascem pela dor e sofrimento. E foi exatamente isso que o moldou e deixou forte o padre Sigismundo Gorazdowski e o fez dedicar sua vida a Deus e ao próximo. Ainda no tempo do seminário, com saúde frágil, passou por provações, entre elas, devido à gravidade da doença nos pulmões, com constantes hemorragias, foi impedido de ser ordenado sacerdote. Seus colegas, olhando de perto o drama de sua vida, disseram que negar a ordenação para Sigismundo foi um golpe muito doloroso para ele. Sofreu moral e fisicamente, mas não perdeu a confiança no Senhor. Foi neste tempo que Sigismundo fez

Dois anos depois, foi ordenado sacerdote, em 25 de julho de 1871. O seu lema era: "Ser tudo para todos, para salvar pelo menos um". Buscou em tudo uma profunda união com Deus, através das pessoas, falando Dele com grande alegria e entusiasmo. Cheio de amor e fervoroso zelo pelo Evangelho, pregava a Palavra de Deus nas escolas, dava catequeses, promovia diversas iniciativas e projetos, especialmente para os jovens. Com amor celebrava os sacramentos. Nele todos encontravam acolhimento fraterno. Era um sacerdote de ação e oração. Sua oração

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elevada a Deus através de atos de fé, amor e confiança, o inundavam cada vez mais de Deus. Estava sempre pronto a levar ajuda a cada um que necessitasse, de maneira especial aos mais pobres, doentes, às crianças abandonadas. Por esse motivo foi chamado por todos de “padre dos mendigos”, “pai dos pobres”. Padre Sigismundo fundou muitas frentes de caridade, as quais entregou nas mãos de algumas mulheres que se abriram às necessidades da misericórdia. Estas, tomadas pelo espírito do Fundador, deram início à Congregação das Irmãs de São José - CSSJ, que até hoje continua a obra de São Sigismundo, na Polônia, na Ucrânia, em outros países da Europa, no Brasil e no continente Africano.


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Após sua morte, em 1º de janeiro de 1920, dele se escrevia:

asceta que vivia a vida de forma austera, religioso sem votos especiais, grande pelo que fez, um bom exemplo[...]. Foi o olho do cego, o pé do coxo, era o pai dos pobres.

Em 2001, Padre Sigismundo foi beatificado pelo Papa João Paulo II. Desde então, a Igreja celebra a sua memória litúrgica no dia 26 de junho. E em outubro de 2005 foi declarado santo pelo Papa Bento XVI. Padre Sigismundo, como um bom pastor, procurava as ovelhas perdidas e as reconduzia ao redil.

Irmãs da Congregação das Irmãs de São José, fundada pelo bem-aventurado Sigismundo Gorazdowski. A casa das Irmãs fica em Curitiba - PR.

Obras de misericórdia Percebendo a pobreza espiritual dos fiéis e as várias dificuldades no anúncio da mensagem evangélica, Padre Sigismundo elaborou e editou um "Catecismo", com uma tiragem de mais de cinquenta mil exemplares. Para os jovens, ele preparou e editou "Conselhos e admoestações". Valorizava muito os sacramentos, especialmente o da Eucaristia, iniciou na arquidiocese de Lwów a prática da primeira comunhão comunitária para crianças. Foi também um grande propagador de lembranças da primeira comunhão e do sacramento do crisma. Padre Sigismundo nunca excluiu ninguém de sua ação de caridade, dedicando-se especialmente aos marginalizados pela sociedade e aos doentes vítimas de cólera. Em 1877, Padre Sigismundo assumiu o trabalho de catequista em várias escolas, continuando, sempre, o seu trabalho de editor e redator. Preparou e editou "Princípios e normas de boa educação", para pais e educadores. Publicou também muitos artigos, principalmente pastorais, sociais e pedagógicos. Criou a "Sociedade Bom Pastor" para auxiliar sacerdotes, e fundou a "Casa de Trabalho Benévolo", para mendigos - com o objetivo de recuperar a dignidade dessas pessoas. O "Abrigo para incuráveis e convalescentes" foi uma obra de misericórdia em resposta às necessidades de pessoas sofredoras e doentes, vítimas de um governo que obrigava os enfermos a saírem do hospital após seis semanas de internação, independentemente do estado de sua saúde. Escreveram na época: "Quando ninguém soube acolher os infelizes e doentes desenganados, ele pensou em construir um abrigo aos infelizes". Padre Sigismundo fundo ainda o "Instituto Menino Jesus" para mães solteiras e crianças abandonadas. Atuou na "Sociedade de Santa Salomé", auxiliando viúvas pobres com seus filhos, e também na "Sociedade das Costureiras Pobres". Foi cofundador da "Associação das Sociedades Beneficentes", na Galícia, que coordenava e dirigia todas essas frentes de misericórdia.


Marianos

As relíquias de um grande servo de Deus Pe. Adam Stankiewicz, MIC

Revista Imaculada - Polônia Tradução: Pe. André Lach, MIC

N

o sábado, dia 11 de abril de 2015, no Panteão* dos Grandes Polacos, na Igreja da Divina Providência (Santuário Nacional), em Varsóvia, na Polônia, foram depositadas as relíquias do bem-aventurado Padre Estanislau Papczyński. Esse fato foi de grande

Ao centro, a reliquia do bem-aventurado Padre Estanislau Papczyński

importância para a Igreja Católica na Polônia, especialmente durante as celebrações do Ano da Vida Consagrada, porque o bem-aventurado Padre Estanislau Papczyński fundou, na Polônia, a primeira Ordem Religiosa de origem polaca, no século XVII. A celebração da introdução das relíquias foi precedida por uma palestra pronunciada pelo Padre Wojciech Skóra, MIC, reitor da Igreja da Santa Ceia, em Góra Kalwaria (Polônia) e guardião do túmulo do bem-aventurado Estanislau. O Padre Skóra sublinhou que o fundador dos Marianos teve profunda confiança na Providência Divina, amor extraordinário pela Pátria e grande zelo apostólico pelo povo da Mazóvia, terra onde residia. Depois da palestra, mas ainda antes da Santa Missa solene, apresentou-se o coral “Adoramos” procedente da paróquia dirigida pelos Padres Marianos, em Rdzawka. Ao meio dia iniciou-se a solene celebração Eucarística que foi presidida pelo cardeal Kazimierz Nycz. No começo da celebração, a palavra de boas vindas foi pronunciada pelo Padre Pawel Gwiazda, pároco da igreja da Divina

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Providência, que disse: “Hoje recebemos no Panteão dos Grandes Polacos, as relíquias do bem-aventurado Padre Estanislau Papczyński, fundador dos Marianos; recebemos com muita alegria e a ele nos entregamos”. Em seguinda, o Padre Pawel Naumowicz, Superior Provincial dos Marianos na Polônia, também dirigiu algumas palavras aos fiéis. Vale a pena destacar que, para prestigiar este momento, se faziam presentes 60 padres e irmãos Marianos, seminaristas, noviços e postulantes da Congregação dos Marianos. Também estiveram presentes muitos leigos, representando as paróquias onde trabalham os Padres Marianos. Participaram também membros de várias obras dirigidas pelo Marianos na Polônia, como também membros de várias comunidades e devotos do bem-aventurado Estanislau. De maneira especial, participaram ainda da celebração paroquianos de Podegrodzie, local onde nasceu Estanislau Papczyński (por lá hoje trabalham Padres diocesanos), como também, devotos da cidade de Elk, onde aconteceu o suposto milagre que está sendo examinado pelas instituições


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do Vaticano no processo de Canonização de Estanislau Papczyński. A homilia foi pronunciada pelo Cardeal metropolita de Varsóvia, Dom Kazimierz Nycz, que recordando as palavras do evangelho lido naquele dia sublinhou a missão dos discípulos depois da morte e da ressurreição do Mestre: “Ide por todo mundo e pregai o Evangelho”. Estas palavras formam o testamento de Jesus confiado aos seus discípulos e seguidores, até o final dos tempos. Eles devem anunciar o Amor de Deus e pregar o querigma. Na segunda parte da homilia, o Cardeal destacou que para anunciar a fé no Ressuscitado não são chamados somente os padres, religiosos, mas também os leigos. E unindo a mensagem do Evangelho com o fato da introdução das relíquias, o Cardeal, finalizando, pontuou três coisas que,

segundo ele, formam o testamento espiritual do bem-aventurado: O Padre Papczyński teve um amor extraordinário pela Mãe de Deus, por isso, os Marianos, seus Filhos Espirituais, devem, pelo testemunho das suas vidas, revelar ao mundo, a santidade da Mãe de Cristo e também revelar a gratuidade da misericórdia de Deus, que se manifestou no mistério da Imaculada Conceição. O segundo elemento da espiritualidade do Padre Papczyński foi a necessidade de rezar pelas almas dos falecidos, com atenção especial dada às almas que sofrem no purgatório. “Esta tarefa, nada perdeu de atualidade nos tempos de hoje”, sublinhou o pregador. E a última tarefa apontada pelo

Cardeal, foi o chamado para que os Marianos se dediquem ao anúncio da Boa Nova, dirigindo-se especialmente aos jovens, às futuras gerações. “Sabemos sobre esta urgência, e não é nenhum exagero que a Igreja Católica tem um grande papel a realizar na educação dos jovens, especialmente pela catequese paroquial, pela direção das escolas católicas. Esta tarefa é sempre atual. E, neste sentido, devemos sempre imitar o bem-aventurado Estanislau Papczyński”. Depois da Missa, o relicário em forma de uma vela foi depositado do lado esquerdo do altar principal, ao lado de outro grande polaco, o bem-aventurado Edmund Bojanowski.

Bem-aventurado padre Estanislau Papczyński, rogai, por nós.

Bem-aventurado Estanislau Papczyński , um modelo a ser seguido Grzegorz Polak - Revista Niedziela - Polônia

Padre Estanislau deixou-se conhecer como eminente educador, pregador, teólogo e confessor. Deve ter sido uma autoridade moral e religioso exemplar, porque o Núncio Apostólico na Polônia, na época, Antonio Pignatelli - futuro Papa Inocencio XII - procurou o Padre Estanislau para ser seu confessor. Padre Estanislau não negligenciava as obras de misericórdia. Frequentemente visitava hospitais, orfanatos, casas de idosos, casas de deficientes, pobres, sempre lhes trazia ajuda espiritual e material. Ninguém ficava sem amparo. Ele foi também amigo e confessor do Rei da Polônia, Jan III Sobieski , e lhe conferiu a bênção especial antes da grande batalha perto de Viena (Áustria), onde a Cristandade venceu a ofensiva dos turcos, no ano 1673. Padre Estanislau Papczyński foi beatificado no dia 16 de setembro de 2007, em Licheń - na Polônia. *. Panteão: monumento erigido para receber os restos mortais dos heróis e/ou cidadãos mais ilustres de uma nação.


Vocacional

Nas pegadas dos Mestres... Ir. Victor de Souza Pacheco, MIC

Seminarista da Congregação dos Padres Marianos

P

rimeiramente, gostaria de afirmar que somente sou o que sou graças ao amor e a misericórdia de duas pessoas, por mim chamadas de “Mestres”, que desde a minha tenra idade estão ao meu lado trilhando este caminhar: Nosso Senhor Jesus Cristo e a Santíssima Virgem Maria. Meu nome é Victor de Souza Pacheco. Tenho 19 anos. Sou Irmão professo da Congregação dos Padres Marianos da Imaculada Conceição da Virgem Maria. Atualmente estou no primeiro ano do curso de Filosofia, me preparando, com a graça de Deus, para o sacerdócio dentro da vida religiosa. A história da minha vocação começa nos meus primeiros anos de idade – mais ou menos aos sete anos – quando descobri a beleza da Igreja Católica. A paixão começou a partir do momento em que entrei no belíssimo templo dedicado à Sagrada Família de Nazaré na minha cidade natal, Lucélia, que fica no interior do estado de São Paulo. Nessa ocasião não sabia ao certo o que, de fato, estava sentindo, mas era uma

pluralidade de sentimentos, dentre eles alegria, felicidade e amor. A partir daquele instante, Jesus e Maria roubaram meu coração, tocando-me profundamente.

e meu pai seguia uma filosofia de vida oriental. Lembro-me que somente minha bisavó era bastante piedosa, e participava ativamente de movimentos e pastorais. Recebi meu batismo aos 11 anos de idade.

achava incrível aquele homem que se colocava atrás do altar e conduzia o povo de Deus Poucos anos depois desse “primeiro encontro” eu comecei a catequese para a Primeira Eucaristia e, logo após, também comecei a participar do Grupo de Coroinhas, pois achava incrível aquele homem que se colocava atrás do altar e conduzia o povo de Deus, através da Palavra e do Pão Vivo que se encontrava em suas mãos; e eu dizia: “um dia vou ser igual a ele”.

Os anos se passaram e veio a época da adolescência, onde apareceram os questionamentos acerca do meu trilhar. Me encontrava muito confuso no quesito “o que fazer agora?”. Tinha dentro do meu coração a chama acesa daquele “primeiro amor” de minha infância. Optei pelo processo de discernimento vocacional, onde recebi grande ajuda dos párocos de minha pequenina cidade, que me levaram a entender o que Deus queria de mim. Essa foi sempre a incógnita que habitava minha alma: qual seria a vontade de Deus no trilhar da minha história aqui nesta Terra?

É interessante dizer que provenho de uma família praticamente não católica. Minha mãe foi evangélica por certo tempo (mas hoje convertida ao Catolicismo e, com a graça de Deus muito fervorosa em suas orações e na vivência na Igreja)

A partir daí, o emaranhado de questionamentos começou a se desenrolar. Fiz retiros na Diocese de Marília-SP e com os Monges do Mosteiro da Divina Misericórdia (situado também em Lucélia), onde tive a experiência de reencontrar profundamente

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Aqueles Mestres que há tanto tempo estavam do meu lado: Jesus Misericordioso e Maria Imaculada. Dentro desse encontro tive a certeza de que o meu caminho estaria interligado eternamente com Seus ensinamentos e com o profundo Amor incompreensível de ambos. Meu coração foi tomado de uma alegria tão intensa e de algo tão vibrante que não consigo explicar, nem com os mais belos textos já escritos e declamados, quão precioso foi aquele momento para mim. Comecei, então, a contemplar a vontade de Deus se realizando na minha história. E foi também nesse encontro, por meio das palavras do prior do Mosteiro, Dom Estevão da Divina Misericórdia, que eu conheci minha família religiosa: os Marianos da Imaculada Conceição. Caminhei dando os primeiros passos no trilhar religioso no dia 28 de fevereiro de 2013, onde ingressei no Postulado (primeira etapa de formação), e depois me tornei noviço (segunda etapa de formação) aos 07 de dezembro de 2013. Nesse ano tive um encontro muito especial com os meus Ilustres Educadores. Tempo este que é muito precioso para mim, visto que alicerçou todos os meus laços afetivos-espirituais na comunhão dos santos. Foi então que comecei a edificar o meu “Castelo Interior”, para recepcionar com grande benevolência em meu pobre coração a Virgem Rainha e o Rei dos Reis. Maria, especialmente nesse tempo, me ensinou com o seu exemplo de entrega: “Faça-se em

mim segundo a Vossa Palavra” (Lc 1,38). Posso dizer que nessas palavras encontrei o verdadeiro sentido, em todo o tempo de discernimento e preparação, para assumir o trilhar de religioso consagrado. Minha vida deveria ser um contínuo despojar-se e entregar-se a Deus, independentemente daquilo que viesse a ocorrer, pois o próprio Deus cuida de tudo. Bastaria somente eu dar o primeiro passo e Ele faria o resto. Tenho a plena certeza de que o Altíssimo, todos os dias, sempre e continuamente faz tudo por mim, aliás, por todos nós. Agora, também eu, todos os dias dou passos para achegar-me cada vez mais perto Dele, para que assim a graça

e a vontade do Meu Senhor se façam em mim. E foi por isso que, no dia 08 de dezembro de 2014, juntamente com mais dois coirmãos, diante do reverendíssimo Superior Provincial, professei, pela primeira vez, os três conselhos evangélicos: castidade, pobreza e obediência. Com o coração repleto de Deus e sob o amor de Maria, concluo dizendo que o Senhor me chamou, e eu respondi SIM. Na vida, há muitas dificuldades e caminhos tortuosos, mas, mesmo assim, sei que trilhando pelas pegadas dos meus Santos Mestres, Jesus e Maria, eu seguirei eternamente feliz e realizado, pois com Eles não me perderei nem serei decepcionado! Amém.


Luta pela Vida Carina Novak, OCV

Redação Revista Divina Misericórdia

GESTO EXTREMO de acolhida A

bandonar um filho não é algo que se faz com a consciência leve ou sem reflexão. Infelizmente há muitas mulheres que, ainda hoje, são forçadas a tomar tal atitude, movidas por diferentes problemas. No Brasil, as crianças são abandonas pelas mães por medo da opressão familiar ou da condição de “mãe solteira”. Aos poucos, essa concepção foi sendo desconstruída. Contudo, são quase diários os casos de crianças deixadas em lixeiras, rios, terrenos baldios ‒ frutos do escoamento dos valores cristãos e do alas-

tramento de uma cultura hedonista, da promiscuidade e do descarte. O abandono de bebês ao longo dos séculos passou a ser punido como infanticídio somente com o advento do Cristianismo, que no final do século XII criou a roda dos expostos - reinventada atualmente com modernos bercinhos chamados entre outros nomes de Janela da vida.

A Roda no Brasil No Brasil colônia, as mulheres abandonavam seus filhos em

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decorrência não tanto da pobreza como do preconceito e da opressão social. Muitas dessas crianças abandonadas morriam por ataque de animais, doenças e fome. No século XVIII, reivindicou-se da coroa portuguesa a permissão de se estabelecer uma primeira roda dos expostos - também conhecida como roda dos enjeitados, janela de Moisés e roda da misericórdia - na cidade de Salvador, junto à sua Santa Casa de Misericórdia. O que se concretizou em 1726, com recursos doados pelo comerciante baiano João de Mattos.


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para a família, ou a falta de condições financeiras. Nos arquivos constam 4.696 registros de crianças acolhidas nessa roda, que funcionou até 1948.

A questão do menor abandonado também era problema no Rio de Janeiro. Em 1738, foi instalado ali a segunda roda dos expostos, por iniciativa pessoal do comerciante português Romão Duarte, que em seu testamento deixou registrado o motivo da criação da Roda: “Tendo em vista a lástima com que perecem algumas crianças enjeitadas nesta cidade, porque umas andam de porta em porta, aos boléus, até que morrem, e outras se acham mortas pelas calçadas e praias, por não haver quem as recolha [concorro] com uma esmola e doação para alimento, remédio e criação desses inocentes, por acreditar que será do divino agrado esse sufrágio e benefício por sua alma” (VENÂNCIO, 2004, p. 46.). A Casa da roda do Rio de Janeiro funcionou até 1938. Mais de 100 mil crianças passaram por ela, o que assinala a dimensão do problema. A fundação da roda dos expostos na Santa Casa de Misericórdia do Recife foi em 1789, a de São Paulo em 1825. No Rio Grande do Sul

foi aberto uma roda dos expostos em 1837, que em 1843 foi passada aos cuidados da Santa Casa de Misericórdia do Rio Grande. Conta-se que algumas outras cidades brasileiras também adotaram o sistema até meados do século passado.

[algumas crianças] se acham mortas pelas calçadas e praias, por não haver quem as recolha com uma esmola e doação para, alimento, e remédio No museu da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo estão guardados vários bilhetes que junto com as crianças eram deixados pelas mães na roda dos expostos. Elas explicam o motivo que as levaram a abandonar ali os seus bebês. Geralmente eram casos de crianças nascidas fora do casamento, considerados como desonra

As crianças deixadas nas rodas, com frequência desnutridas ou portando doenças degenerativas, eram acolhidas pelas Irmãs da Caridade. Aquelas que ainda não eram batizadas recebiam o batismo. Criou-se um corpo de escravas que vendiam às Santas Casas o excesso de leite materno, com o que eram alimentados essas crianças. Os bebês doentes permaneciam na Santa Casa recebendo cuidados médicos, as demais eram encaminhadas para adoção ou entregues aos cuidados das amas de criação que recebiam um enxoval e uma quantia para ajudar no sustento da criança, até os sete anos de idade para meninos e oito anos de idade para meninas. Alcançada essa idade, a criança deveria ser devolvida à Casa da Roda. Administradores faziam visitas periódicas às casas das amas, certificando-se do tratamento dado aos menores. Segundo as Leis da Coroa, a criança exposta não tinha direitos assegurados por lei de usufruir de qualquer bem ou herança da família que a adotava. As crianças que permaneciam com as amas, a partir dos 7 anos, em média, eram encaminhadas para oficinas de aprendiz. Os meninos aprendiam ofícios de mecânico, sapateiro, ferreiro ou lavrador. Eram também enviados para as Companhias de Marinheiros ou para os Arsenais da Marinha. As meninas aprendiam trabalhos domésticos.


Antiga Roda dos Expostos que se encontra no museu da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

sendo “contra os direitos humanos das crianças” e “um retrocesso às práticas medievais”. Para eles, a fim de não se retroceder no tempo é melhor matar inocentes. No entanto, eles buscam demonstrar que “respeitam” as crianças, obviamente quando estas já nasceram. A sua proposta diz: “somos a favor do aborto livre porque no seio materno não está uma criança; se houver uma criança (o que se confirma depois do parto) então sim, não devemos jogá-la fora”. Com o passar dos anos, não bastasse o aumento da falta de recursos para manter as Santas Casas de Misericórdia, surgiram também dificuldades criadas pelos novos movimentos ideológicos, tais como a medicina higienista. Os quais, depois de terem extinguido a assistência aos expostos, também desapareceram. Em 1927, no Brasil é criado o Código de Menores. As Rodas dos Expostos das Santas Casas da Misericórdia são fechadas.

Para evitar um extremo gesto de rejeição Nos dias atuais, o Comitê das Nações Unidas para os Direitos das Crianças critica os modernos sistema de acolhimento de recém-nascidos (Janela ou berço pela Vida) como

É justamente a coerência do movimento pela vida o que evidencia a aversão manifestada pela militância radical às Janelas e Berços pela Vida. Qual a diferença entre uma criança recém-nascida e o que ela era três ou seis meses antes, desde o momento da fecundação? Nenhuma. É a mesma criança. Necessita apenas do alimento e tempo para se desenvolver. Já se promove em vários países uma lei que consinta à mãe dar à luz anonimamente nos hospitais. No Brasil, é o Projeto-Lei 3220/08 intitulado Parto Anônimo. No entanto, esse projeto de lei está arquivado. Consideram que o parto anônimo violaria alguns direitos da criança. Mas e o direito à vida e à dignidade, maiores do que todos os outro direitos, como ficam?

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O parto anônimo permitiria que a mulher, não admitindo a hipótese de matar seu bebê por meio do aborto, gerasse a criança e, ao nascer, a entregasse para adoção. Contudo, essa lei não resolve o problema da mulher que não considera suficiente o segredo anagráfico (sem identificação oficial), e deseja também aquele físico. Mulheres que não querem ser vistas por razões de imigração ilegal ou por outra razão. Por isso, a janela ou berço pela vida é um instrumento adicional. Mas, se somente este fosse o objetivo – o seu significado e eficácia seria limitado. A verdade é que esses berços são gestos de coerência, recordam que criança não se joga, criança se acolhe, são sempre bem vindas; garantem que a mãe – se isso for preciso – tem a possibilidade de separar-se do filho para que ele viva e cresça; que, se ela realmente não se encontra à altura da tarefa materna: a sociedade está pronta para acolher o filho. Por isso, enquanto ligada ao movimento pela vida, esses berços são símbolo e recordação de um berço muito maior e mais eficaz que é constituído pela inteira rede de centros de ajuda à vida. Os quais permanecem próximos à mãe, para ajudá-la a assumir a maternidade. Portanto, nunca estarão contra a mãe.


www.misericordia.org.br Ilustraçþes: Felipe Koller


NOVO

EDIÇÃO ESPECIAL - CAPA DURA COSTURADO Esse Diário foi escrito por Santa Faustina por ordem expressa de Jesus para que toda a humanidade conheça o verdadeiro rosto de Deus.

Esse livro é capaz de despertar no leitor a sensação de passear pelos lugares por onde Faustina passou e viveu.

Leia e indique a seus familiares e amigos. Dê de presente a quem você ama. apostolado.da.divina.misericordia

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