PAD Edição Março

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ESPECIAL

Sistema escolar possível melhorar melhorar ee inovar inovar Escolar:- éÉ possível

CESAR NUNES, NUNES

GESTÃO & NEGÓCIOS

em entrevista exclusiva

Escola: celeiro de ideias, cemitério de resultados? resultados?


PALAVRA DA DIREÇÃO

Ano letivo Avança o ano letivo, e precisamos atentar aos ajustes necessários em nossas instituições para que 2011 seja um período de êxito. Para isso, preparamos uma edição do PAD voltada à escola e suas peculiaridades, de forma a repensar e reconstruir algumas posições e atitudes. A entrevista com o Prof. Dr. Cesar Nunes nos proporciona uma interessante visão sobre a educação emancipadora, muito necessária no âmbito escolar nesta época de inovações e transformações. Levantamos uma discussão inquietante: o namoro na escola. Pretendemos com isso promover reflexão sobre esse tema, que pode causar embaraço e algum transtorno ao relacionamento aluno-família-escola. Sugestões de leitura, projetos e jogos matemáticos oferecem suporte ao professor em sua prática cotidiana, de modo a tornar suas aulas mais instigantes, promovendo assim o interesse do aluno pelo aprendizado. Na seção Curtas abordamos questões importantes para a captação de novos alunos e a fidelização de suas famílias, como a coerência entre cantina escolar e hábitos saudáveis; a importância do diretor como espelho para as equipes pedagógica e administrativa; o incentivo às aulas de campo, tão necessárias para a eficácia do processo ensino-aprendizagem. Esperamos que essa edição contribua significativamente para o sucesso de sua escola. Esse é nosso objetivo.

www.nossodom.com.br Diretora geral Sistema de ensino: Cristiane Pizzatto Direção editorial: Rosane Nicola Conselho editorial: Ari Herculano de Souza, Heloisa Harue Takazaki, Robson Cruz e Vânia Bittencourt Colaboração: Maria Cláudia Rebellato, Michele Cezar Shoji, Maria Cristina Lindstron e Renata Ludovico Coordenação editorial/pedagógica: Robson Cruz Gerente nacional de comunicação corporativa: Maisa Dóris Supervisor de marketing: Fábio Ostrowski Coordenadora geral e jornalista responsável: Maisa Dóris (Mtb: 29.952) Projeto editorial e produção gráfica: Bruno Baccan Análise linguística: Bernadete Monteiro Impressão: Gráfica Gigapress

Publicidade e aquisição de exemplares: publicidadepad@dombosco.com.br

Cristiane Pizzatto Diretora Geral - Sistema de Ensino Dom Bosco cristianepizzatto@dombosco.com.br

Abril / Maio - 2011

A Revista PAD - Programa de Aperfeiçoamento Docente - é uma publicação do Sistema de Ensino Dom Bosco.

Tiragem: 10 mil exemplares

Boa leitura!

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EXPEDIENTE

Escreva para a Redação: redacaopad@dombosco.com.br


ÍNDICE DESTA EDIÇÃO

19 É possível melhorar e inovar

ESPECIAL

MATÉRIAS

4 PAD Entrevista Cesar Nunes

8 Sua Aula

Letramento digital: um sonho possível

6 Sala dos Professores O jogo em sala de aula

14 Aqui tem Dom Bosco Gol de letra em São Paulo Toque de Midas em Palmas

18 Gestão & Negócios

22 Notas Rápidas

23 Questões e Soluções

24 Ponto de Vista

25 Sala de Leitura

30 Comportamento

Escola: celeiro de ideias, cemitério de resultados?

Como conduzir reunião de pais com sucesso

Sugestões de leitura para ensino fundamental

Curtas

Por que há erros mais errados do que outros?

Ficar ou não ficar

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PAD ENTREVISTA

Cesar Nunes Professor livre-docente da Faculdade de Educação da Unicamp e coordenador-geral do Grupo de Estudos e Pesquisas PAIDÉIA, César Nunes, 52 anos, paranaense, é licenciado em Filosofia, História e Pedagogia. Em sua trajetória acadêmica, orientou 41 dissertações de mestrado e 20 teses de doutorado. Escreveu 20 livros sobre ética, filosofia, educação e sexualidade, além de dezenas de artigos científicos em revistas especializadas. É um dos mais destacados palestrantes e conferencistas da área de educação no Brasil. Nesta entrevista ao PAD, ele analisa a educação sob a ótica emancipadora, uma de suas bandeiras, entre outros temas. PAD - O senhor acredita que ensinar seja um talento, um dom, ou é possível se aprimorar? Cesar Nunes - Eu penso que ensinar e aprender são potencialidades humanas estruturais. A condição humana é ser aprendente. O homem aprendeu a comer, trabalhar, caminhar, pensar, falar, construir coisas e objetos, no transcorrer da história e da formação da cultura. Há esta dimensão antropológica basilar: o homem é um ser em constante aprender de si. Mas há também um aprender e ensinar diferenciados, que são o ofício e a função de “ensinar na escola”, numa instituição, através de mediações didáticas, conhecimentos acumulados, práticas institucionalizadas formais etc. Nesse segundo sentido, de inspiração educacional, ensinar é uma atividade da prática social humana, que exige algumas pré-condições pessoais e muita dedicação, atualização e trabalho. O professor é também um ser que se forma numa experiência institucional basilar – a universidade. Não se nasce professor pronto, o professor se faz na formação. Fico, portanto, com a dimensão de aprimoramento constante. Ensinar é mais um trabalho institucional que um dom inatista. PAD – Sua palestra traz uma proposta de educação emancipadora. Pode explicá-la? CN - Tenho divulgado no Brasil a proposta de uma educação emancipatória ou emancipadora. As duas formas são fortes e corretas. Trata-se de pensar uma educação e uma escola básicas, mais propriamente voltadas para a EMANCIPAÇÃO como um conceito pleno, isto é, a aquisição de todas as qualidades humanas (linguagem, movimento, pensamento, cultura, valores, direitos, habilidades, conhecimentos etc.), de todas as conquistas histórico-culturais (materiais, simbólicas, tecnológicas) e de todos os condicionantes consensuais basilares (moral, ético, jurídico, político, trabalhista, cidadão). Educar para a emancipação significa produzir uma escola, um currículo, uma organização didático-pedagógica que vise a promover a emancipação plena

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de todas as crianças, sujeitos aprendentes, com a atuação de educadores, especialistas, gestores e sociedade. Trata-se de pensar uma educação e uma escola voltadas para a produção de um novo homem, uma nova mulher, uma nova sociedade e uma nova cultura, a partir da superação das tendências históricas que nos constituíram como povo, sociedade e escola, nas etapas anteriores de nossa formação. PAD - Quais desafios a escola brasileira enfrenta para promover essa educação emancipadora? CN - Primeiro é preciso “conhecer o que fizeram de nós”, na feliz expressão de Jean-Paul Sartre. Conhecer as matrizes políticas, administrativas, pedagógicas e institucionais que engendraram a educação e a escola no Brasil, desde a matriz disciplinar proselitista jesuíta, a educação positivista, a escola do trabalho do nacional-desenvolvimentismo, a concepção tecnicista e assistencialista compensatória das reformas dos anos 1970 e o marco da LDBEN neoliberal de 1996. É preciso superar esse entulho administrativo e jurídico, pedagógico e organizacional. Trata-se de pensar uma escola e uma educação pautadas nos novos direitos sociais emergentes de anos e décadas recentes, de uma escola como aquisição da plena condição humana e não esfera disciplinar, preparação de quadros técnicos ou mão de obra barata e disponível para o mercado. Educar é produzir o homem para a vida, a sociedade, a felicidade e a cidadania. Essa segunda parte completa a tese de Sartre: “o que vamos fazer com o que fizeram de nós!”. Novos marcos regulatórios, a centralidade da escola na formação dos professores e a superação das tradições pedagógicas anacrônicas, tecnicistas e neoliberais são o começo de tudo.

Cesar Nunes


PAD ENTREVISTA

PAD - O que seria a “humanização dos saberes”? CN - Afirmo aqui o sentido de “humanização” no sentido de “sensibilização”, de construção de sentido, de apropriação significativa de informações, conhecimentos, disciplinas ou áreas temáticas. O conhecimento não pode ser algo frio, externo, objetual. Tem que ser assimilado subjetivamente, com a condução segura e amorosa do educador, na mente e no coração de crianças, adolescentes e jovens. Humanizar aqui significa ressignificar os saberes, o conhecimento escolar, as práticas e vivências de aprendizagem na escola. PAD - Que atitudes docentes são adequadas à humanização dos saberes? CN - Primeiro é forçoso reconhecer que nossos professores, nossos docentes, também vivem a contradição estrutural da sociedade, da educação e da escola; estão marcados pela alienação, pelo desprestígio social, pela autoestima baixa e todos os dispositivos facilmente identificáveis em nossa realidade. Será preciso igualmente reumanizar a identidade do professor, reconstruir seus símbolos, suas representações, suas marcas. O professor foi dessacralizado, espoliado, expropriado pelas legislações e concepções educacionais dominantes. A reumanização do espaço escolar, da formação docente, do trabalho pedagógico, a recuperação da dignidade salarial, a autonomia para planejar, criar e dirigir o processo ensino -aprendizagem são as diretrizes iniciais. Somente um educador humanizado, realizado, feliz, sentindo sinceramente a validade e dignidade orgânica de sua função social pode humanizar, sensibilizar, encantar e formar gerações de crianças para a felicidade, a educação emancipatória, a pesquisa, os hábitos intelectuais, as liturgias afetivas, as elevações estéticas e políticas. PAD - Como educar os afetos? CN - Trata-se de retomar a mesma tese-guia anterior: por força de uma tradição cultural autoritária, excludente e impositiva, somos herdeiros de afetos, sentimentos socialmente valorados, marcados pela competição, pelo egoísmo, pelo narcisismo, pela ganância, pela exposição banal da sexualidade, pela exploração do trabalho, pela superficialidade das palavras, pela veleidade dos tratos e acordos coletivos. Educar os afetos para uma nova ética e uma nova estética: o respeito à diversidade, o cuidado de si, o respeito e cuidado com a natureza, as práticas de sustentabilidade, a preservação da biodiversidade, a tolerância, o profundo sentimento de solidariedade, são esses os elementos que devem inspirar nossos afetos emancipatórios. PAD - O que ocorre de mais grosseiro, errado, em educação no país atualmente? O que fazer para mudar isso? CN - Temos que mudar muitas coisas, com esclarecimento, perseverança e investimentos de toda sorte – financeiros, institucionais, humanos, emocionais etc. Mas destaco que padecemos de uma crônica dualidade. Há

uma abissal divisão entre as formas de pensar e organizar a educação e a escola básica e superior expressa da seguinte forma: uma é a escola para os ricos, para as camadas sociais médias altas, escola que tem racionalidade organizacional, avaliação, identidade, currículo etc.; outra é a escola voltada para os pobres, as maiorias sociais, escola concebida como atividade social compensatória centrada em políticas assistenciais de saúde, nutrição, recreacionismo estreito etc. A divisão entre as identidades institucionais de nossas escolas é o maior símbolo do apartheid social do Brasil: uma escola para os ricos, outra escola para os mais pobres. Urge vencer essa espada enfiada em nossa garganta. As soluções não são simples e mágicas. Têm que ser históricas, marcadas por decisões políticas e longo tempo de implantação social. Já numa perspectiva de horizontalidade, de propostas, eu continuo a ter esperança. Penso que o nosso tempo é marcado por rápidas e intensas mudanças. O conhecimento técnico altera radicalmente a vida cotidiana, interferindo em todas as dimensões de nossa sociedade. Torna-se necessário criar diretrizes éticas e coordenadas políticas para submeter as conquistas tecnológicas ao interesse e à promoção do bem-estar de todos. A escola se vê desafiada a assumir novas funções, a recuperar alguns de seus atributos clássicos e a assumir novas identidades. Assim, torna-se necessário planejar escola e nova proposta de educação voltadas para a formação plena da cidadania e a incorporação da cultura como processo de humanização. O conhecimento historicamente acumulado deve ser repassado a cada geração, de maneira sistematizada e criativa, a produzir condições de compreensão da vida, das sociedades e conquistas da civilização humana. Um conhecimento posto a serviço da vida, da felicidade, da justiça e da sustentabilidade de todas as formas de produção e trabalho. A escola de hoje tem que incorporar criativamente os recursos e paradigmas clássicos postos pela tradição e ser capaz de assimilar e ordenar novas relações culturais, nossos contextos e disposições.

“Educar é produzir o homem para vida, a sociedade, a felicidade e a cidadania.”

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SALA DOS PROFESSORES

O jogo em sala de aula RENATA LUDOVICO* Brincar é mais que uma atividade lúdica, é um modo para obter informações, respostas, e contribui para que a criança adquira certa flexibilidade, vontade de experimentar, buscar novos caminhos, conviver com o diferente, ter confiança, raciocinar, descobrir, persistir e perseverar; aprender a perder percebendo que haverá novas oportunidades para ganhar. SMOLE, 2000, p. 14. A vida em sociedade exige que os indivíduos conheçam regras e convenções, bem como seus domínios de validade. A socialização do aluno ocorre pela compreensão do funcionamento dessas regras e dos limites nas relações entre as pessoas. Nesse sentido, os jogos representam importante instrumento para eles conhecerem a si mesmos, os outros e seu ambiente social. Todo jogo proposto em sala se configura como um cenário recheado de ludicidade, o qual possibilita a criação, a comunicação, o desenvolvimento de diferentes estratégias na solução de situações-problema, enfim, novas e significativas descobertas e aprendizagens. Por meio de situações lúdicas, o aluno tem oportunidade de se apropriar de novos conhecimentos, pois pode pensar, levantar hipóteses, confrontar estratégias, discutir, interagir com os colegas, as situações e os objetos de conhecimento, confrontando diferentes pontos de vista e vivenciando autênticas situações de comunicação. O jogo reduz a consequência dos erros e fracassos do jogador, permitindo que ele desenvolva iniciativa, autoconfiança e autonomia. Os erros são revistos de forma natural na ação das jogadas, sem deixar marcas negativas, mas propiciando novas tentativas, estimulando previsões e checagem. O planejamento de melhores jogadas e a utilização de conhecimentos adquiridos anteriormente propiciam

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aquisição de novas ideias e conhecimentos. Por permitir ao jogador controlar avanços, corrigir erros e rever respostas, o jogo possibilita descobrir onde houve falha ou sucesso e por quê. Essa consciência leva a compreender o próprio processo de aprendizagem e a desenvolver autonomia para continuar aprendendo. Para o jogo se transformar realmente em situação de troca, compartilhamento e construção de significados, deve-se criar ambiente propício em sala de aula e explorá-lo em toda sua riqueza e suas possibilidades. O papel do professor nesse processo é, portanto, fundamental.

ALGUNS PRINCÍPIOS PARA USO DO JOGO EM SALA • Conhecer o jogo e suas possibilidades pedagógicas: o professor deve ter claros os conteúdos curriculares que o jogo ajuda a desenvolver e como pode potencializar esse aprendizado de maneira a ampliar o universo de investigação das ideias matemáticas nos alunos. • Propor e criar situações-problema desafiadoras para os alunos, bem como observar suas tentativas durante o jogo, apoiando-os nas dificuldades e estimulando suas potencialidades. • Organizar espaços e materiais para jogar. • Elaborar as regras com os alunos: o fato de os jogos possuírem regras próprias, às quais os participantes devem obedecer, gera ordem, pois a desobediência a qualquer delas atrapalha o jogo. Desse modo, a participação dos alunos na elaboração e, depois, na validação dessas regras é decisiva. Vale lembrar que esse trabalho de elaboração contribui para o desenvolvimento de autonomia e raciocínio lógico dos alunos. • Durante a realização dos jogos, observar tentativas


SALA DOS PROFESSORES

dos alunos e auxiliá-los na busca de soluções. O professor deve ficar atento à participação e reação de cada um deles, para propor novas reflexões e oferecer apoio afetivo e intelectual às suas tentativas. • Propiciar a realização de um mesmo jogo várias vezes. • Produzir registro a partir do jogo. Após jogarem, os alunos podem ser convidados a escrever ou desenhar, manifestando aprendizagens, dúvidas, opiniões e impressões sobre sua experiência no jogo. Decide-se o registro em função das necessidades e possibilidades dos alunos e da proposta do professor, podendo ser feito em forma de texto, sob diferentes aspectos quanto à elaboração (coletivo, individual, em dupla ou grupo maior) e ao destinatário (pais, colega, professor, próprio autor). Quanto ao gênero textual • Relatos de experiência vivida pelo aluno sobre o jogo, como o que aprenderam, características e descobertas. • Bilhete comentando um aspecto do jogo. Por exemplo, uma dúvida encaminhada a alguém que possa esclarecê-la; aprendizagem mais importante que fez. • Carta ensinando o jogo a outra pessoa ou à classe; lista de dicas para ter sucesso no jogo ou superar determinados obstáculos. É importante o professor utilizar a produção dos alunos para identificar suas aprendizagens, necessidades, incompreensões e origens delas, além de pensar formas de superação com eles. Explora-se também a problematização posterior ao jogo. Propõem-se situações-problema que os participantes possam resolver com base nos lances vivenciados; também outras que simulem possíveis jogadas e tomadas de decisão na partida. O professor deve lidar com a

vitória sem fazer comparações, para os alunos perceberem a necessidade de encarar o ganhar e o perder com naturalidade. Ao desenvolver um jogo, espera-se estímulo às diferentes formas de comunicar e representar as ideias. Cabe ao professor assegurar aos participantes o direito de pensar, expressar pensamento, negociar ideias e criar outras, mediante propostas de discussão. Em outras palavras, garantir o direito de viver o jogo de forma intensa, prazerosa e enriquecedora. Os jogos em sala de aula precisam estar inseridos em diversos contextos, os quais sejam enriquecidos, complementados com a presença do professor, que aplica o jogo não só como maneira de fixar conteúdo, mas também de desencadear aprendizagens. Através do jogo, o aluno consegue estabelecer relações entre o que já sabe e o novo que se pretenda explorar. Veja sugestão de jogo para sala de aula.

JOGO DAS TAMPAS Faixa etária: 5 a 6 anos Objetivo: trabalhar contagem e comparação de quantidades. Materiais necessários: - dois dados com números ou quantidades de 1 a 6 - quantidade considerável de tampas coloridas (de refrigerantes e/ou outros produtos) Número de participantes: dois Regras e possibilidades pedagógicas • Os dois participantes lançam os dados ao mesmo tempo. Quem tira o maior número pega a quantidade correspondente de tampas.

O outro não pega nenhuma. • O procedimento se repete a cada jogada. Quando as tampas acabam, é hora de conferir e registrar quem conseguiu a maior quantidade delas, sendo esse o objetivo do jogo. Esse jogo dá oportunidade de explorar com os alunos situações que envolvam a necessidade de contar, comparar e registrar quantidades, ou seja, o número aparece como forma de registro e comunicação de certa ideia, na tentativa de solucionar um problema. O registro pode ser feito em tabela, gráfico ou com simples indicação do número de tampas obtidas pelos participantes em cada jogada numa folha. O professor pode problematizar o resultado do jogo lançando perguntas do tipo:“Quem conseguiu a maior quantidade de tampas? E a menor? Qual a cor da tampinha que Fulano conseguiu em maior quantidade? Quantas tampinhas ao todo cada um pegou?” Variações possíveis 1ª) O jogador que obtém a maior quantidade no lance dos dados pega somente uma tampa da caixa. O vencedor do jogo é quem primeiro consiga dez tampinhas. 2ª) Atribuir cor, neste caso com exigência de dois dados – um com as quantidades e outro com no mínimo três cores, conforme as cores das tampinhas. Cada aluno na sua vez lança os dois dados e pega a quantidade de tampinhas conforme a cor indicada no dado colorido. O professor faz questionamentos sobre o resultado, associando valor e cor.

BIBLIOGRAFIA SMOLE, Kátia S.; DINIZ, Maria Ignez. A matemática na educação infantil: a teoria das inteligências múltiplas na prática escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. SMOLE, Kátia S.; DINIZ, Maria Ignez; CÂNDIDO, Patrícia. Jogos de matemática de 1º a 5º ano. Porto Alegre: Artmed, 2007. (Série Cadernos do Mathema). TOSATTO, Carla Cristina et al. Matemática. Curitiba: Nova Didática, 2001. (Coleção Ideias e Relações). *Editora de matemática e física da Editora Dom Bosco. Pesquisa a formação do professor, trabalha com a formação continuada do professor. Licenciada em Matemática (PUC -PR), especialista em Educação Matemática (PUC-PR), mestre em Engenharia de Produção com ênfase em Mídia e Conhecimento (UFSC) e doutoranda em Educação (PUC -PR). É professora do Complexo de Ensino Superior (Unibrasil) e do TECPUC-PR.

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SUA AULA

Letramento digital: um imperativo tecnológico MARIA CRISTINA LINDSTROM E ROSANE DE MELLO SANTO NICOLA

Toda escola é uma agência de novos e múltiplos letramentos, incluindo o digital. Como tal, tem a obrigação de promover, gradativamente, mudanças nas formas de acesso à comunicação e às informações de toda a sua comunidade – professores e demais funcionários, alunos e suas famílias, fornecedores etc. É como se, por definição, essa instituição fosse um centro irradiador de aprendizado no sentido de contribuir para o rompimento de práticas rotineiras limitadas a seu espaço físico, indo além na busca de educação de qualidade. Essa é uma questão que diz respeito tanto ao gestor da escola quanto ao professor, este gestor dos processos de ensino-aprendizagem. Por isso, nesta seção, cabe-nos mostrar ao docente as possibilidades de trabalho com as novas tecnologias, conforme os recursos disponíveis na escola onde atua. Quando se fala em escola como agência de letramento, é preciso lembrar a palavra “desenvolvimento” como “oportunidade”. Nesse sentido, o que importa aqui é a escola saber produzir oportunidades. As tecnologias representam claramente a superação dos limites humanos e a escola não pode ficar desconectada enquanto crianças e jovens progridem em sua aprendizagem não formal e chegam ao ambiente escolar, a cada dia, dominando melhor o

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computador e a internet. Embora o Brasil ainda enfrente o problema da exclusão digital, é sabido que a presença das lan houses nas periferias das grandes cidades brasileiras permitiu o acesso de jovens carentes a recursos antes disponíveis apenas àqueles com maior poder aquisitivo. Assim, cada vez mais crianças e jovens de diferentes classes sociais utilizam sites de relacionamento e jogos interativos, vivenciando o impacto da formação de redes sociais. Ao mesmo tempo, essas novas gerações revelam seu descontentamento com a escola sem “fluência tecnológica”, conforme classificou Pedro Demo. Portanto, se um professor desejar propiciar experiências digitais para seus alunos, ainda que a escola não tenha recursos para isso, é possível fazer acordo com uma lan house, a fim de desenvolver aula nesse ciberespaço, desde que os alunos tenham a devida autorização dos pais. Um único pendrive pode resgatar suas produções. Por outro lado, não é fácil enfrentar o desafio de implantar um laboratório de informática na escola, seja por questão financeira, seja por exigência de conhecimento técnico e infraestrutura. O Estado, por meio de organismos de fomento à educação, investiu em recursos tecnológicos para as escolas públicas. As particulares contam com recur-


SUA AULA

sos próprios ou necessitam buscar programas de incentivo tecnológico. A superação dos desafios pode ser mais fácil graças a parcerias com outras instituições ou sistemas de ensino que já possuam serviços e conteúdos disponíveis na internet, dentre os quais, espaço reservado à página da escola, que possibilita a consulta de dados acadêmicos por alunos e familiares, bem como a comunicação entre professor, aluno e família via agenda escolar online. Seguem algumas sugestões de práticas pedagógicas com uso de recursos digitais, que resultam em maior eficácia no processo de letramento digital. São propostas baseadas em atividades contextualizadas, ou seja, que simulam situações comunicativas sociais.

MÍDIAS EM POWERPOINT Essa ferramenta digital é uma das mais familiares aos professores. Com grande potencial de uso, especialmente para o desenvolvimento de raciocínios lineares, elas substituíram as transparências usadas em retroprojetores. As aulas expositivas, usando as mídias em formato ppt, ganham dinâmica se os alunos puderem fazer intervenções no arquivo original, processo facilitado por sua disponibilização em portais educacionais ou por e-mail. Tais mídias serviriam como material de consulta na preparação para as aulas, como roteiro de leitura do material

didático ou, ainda, para registro posterior das aulas – sínteses, análises, reflexões. Se a escola trabalhar com laboratórios de informática ou netbooks individuais, as anotações são possíveis durante a aula. Assim, a aprendizagem se enriquece pelo protagonismo do aluno.

CRIAÇÃO DE DESENHOS ANIMADOS Os alunos elaboram os roteiros de desenhos animados com base nos conteúdos estudados na disciplina. O site www. goanimate.com é excelente opção de apoio. A facilidade de uso da ferramenta digital auxilia crianças e adolescentes na representação de narrativas. Cabe ao professor elaborar as etapas de produção – criação do argumento, personagens, roteiro... –, que os alunos podem desenvolver de forma colaborativa. Além disso, os professores têm a possibilidade de engajar-se num projeto interdisciplinar.

PORTFÓLIOS E SCRAPBOOKS Comuns nas produções escolares, existem sites para a criação de scrapbook virtual, como o www.scrapblog.com. Por meio de senha pessoal, o aluno constrói seu scrapblog com o conteúdo pertinente, salva em arquivo digital e compartilha-o com os colegas. O mesmo site orienta a produção de webfolios.

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SUA AULA

WEBQUEST São roteiros abertos de aprendizagem, nos quais os alunos lançam mão de vários recursos, pré-selecionados ou não pelo professor, para realizar tarefas ou resolver situações -problema. Aspecto interessante do WQ é o uso de estratégias de metacognição, mediante as quais o aluno avalia sua produção e indica suas virtudes, reforçando a autoestima.

PESQUISAGUIADAOUROTEIRODEESTUDOS O professor faz uma ou mais perguntas relacionadas às expectativas de aprendizagem da disciplina e indica textos ou sites para busca da resposta. Os alunos navegam por conteúdo confiável e produzem registros em gêneros textuais predefinidos pelo docente. Tais roteiros ou pesquisas são trabalhados colaborativamente, com troca de informações, compartilhamento de leituras e debates.

INCENTIVO À CRIAÇÃO DE SITES Diversos sites possibilitam criar e hospedar outros gratuitamente, como www.weebly.com. Produzindo conteúdo sob orientação de vários professores, cada sala pode ter o próprio site para divulgar sua aprendizagem. Dentre as inúmeras estratégias, mais eficazes são as que colocam os alunos diante de diversas tarefas e desafios. Caso todos se envolvam na mesma atividade, as possibilidades de desenvolvimento se reduzem, havendo risco de os sites ficarem muito semelhantes. Organizar a turma em grupos, designar

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e problematizar tópicos diversos, roteirizar pesquisas, analisar dados, elaborar conclusões parciais constituem estratégias diferentes de apresentação e divulgação de trabalhos dos estudantes. Na construção de sites, a maior barreira com que eles se deparam é a seleção de imagens, por isso a importância da orientação sobre o banco de dados de imagens de domínio público: http://commons.wikimedia. com. Assim, os alunos usam imagens sem incorrer na violação de direitos autorais.

CRIAÇÃO DE VIDEOCASTS E PODCASTS Videocast é um programa em que o autor apresenta o conteúdo que quiser, utilizando imagem ou vídeo e, em geral o programa Windows Movie Maker. Podcast é um arquivo em áudio, produzido em formato MP3, que se apresenta como programa de rádio.Trata-se de ferramenta para divulgar gratuitamente informações na internet, por meio da qual se pode simular a publicação de trabalhos escolares de maneira diferente. Para entender melhor como usar um podcast, acesse http://pt.wikipedia.org/wiki/ Ficheiro:Papo_BJPnet_15.ogg. Em geral, a hospedagem da produção em vídeo é feita noYouTube, a partir da criação de uma conta. Recomenda-se a hospedagem do vídeo apenas depois da revisão do conteúdo e da estrutura pelo professor. O aluno hospeda o vídeo em modo privado, informa o link para o professor, que avalia e indica as correções necessárias antes de disponibilizá-lo para o público.


SUA AULA

Alfabetizar com prazer: é possível e mais fácil passar pelo 1º. ano No sul do Pará, a professora e alfabetizadora Áurea Lima tornou-se referência para a escola Monte Castelo, para os pais e alunos como professora que consegue excelentes resultados no processo de alfabetização. Para ela a receita é dedicação, criatividade e paixão pelo que faz. Áurea utiliza músicas e poesias no trabalho de alfabetização de seus alunos do primeiro ano. No material Dom Bosco ela encontrou um aliado nesse processo, pois a proposta pedagógica traz muitas sugestões de atividades que envolvem os gêneros textuais usados por ela em sala de aula.

A sonoridade, presente em poemas e músicas envolve os alunos, tornando-os mais interessados em dominar a leitura e escrita. Tudo se transforma numa grande brincadeira em sala de aula. É exatamente isso que as crianças buscam na escola – o prazer de estar ali – e é isso que todos devem encontrar – um local totalmente voltado para momentos agradáveis de aprendizagem. Infelizmente, ainda há muitos professores que não conseguem associar aprendizado a prazer. Conheça a proposta da professora Áurea:

PROJETO:APRENDENDO COM MÚSICA E POEMA OBJETIVOS • Construir, por meio da música e de poemas, um aprendizado lúdico e prazeroso; • Despertar o prazer pela leitura e escrita; • Desenvolver a linguagem oral; • Desenvolver a criatividade; Tempo estimado: o ano todo.

DESENVOLVIMENTO 1ª etapa: produza poemas e cantigas que tratem dos alunos, de personagens infantis, e temas que retratem o universo infantil. Os poemas e as letras das músicas devem ser divertidas, para que de fato chamem a atenção das crianças. Selecione também poemas e canções de poetas e compositores consagrados. 2ª etapa: reúna os alunos em roda e promova uma discussão sobre a importância da leitura. Leveos a compreender que podem aprender a ler usando diversos suportes: rótulos, placas, jornais etc. 3ª etapa: distribua o texto para os alunos tentarem ler com a ajuda do professor. Posteriormente, faça a leitura para a turma, estimulando-a a acompanhar silenciosamente, prestando bastante atenção. Se for música, cante ou providencie CDs. 4ª etapa: realize a interpretação oral, explorando a compreensão dos alunos sobre o texto, estimulando o desenvolvimento da oralidade. 5ª etapa: retire do texto as principais palavras e trabalhe sua formação (sílabas e letras). 6ª etapa: utilize as sílabas e palavras para o desenvolvimento da escrita. 7ª etapa: estimule os alunos a ilustrar o texto.

AVALIAÇÃO Escreva um texto coletivo com base no que foi trabalhado, registrando as impressões dos alunos.

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SUA AULA

BRINCANDO DE RIMAR Áurea Moreira Lima Vamos brincar de rimar? Desta brincadeira você vai gostar! É só escolher as palavras e começar a falar. Anel rima com pastel carretel, Gabriel e Rafael. Vela rima com mela, bela, ela e Isabella. Avião rima com balão caminhão, anão e João. Banana com cana, Ana e Giovanna. Até hora dá pra rimar, hora rima com amora, demora, senhora e Isadora. Para rima com cara, Mara, Sarah e Anna Clara. Por falar em para, está na hora da rima acabar, mas rimar é tão bom que não consigo parar. Rimar, rima com...

A DISCUSSÃO DOS LEGUMES

A batata discordou ela, sim, tinha mais valor, cozida ou fritinha quem resiste a uma batatinha? A beterraba cheia de graça se orgulhava por sua cor e delicioso sabor. A beterraba cheia de graça se orgulhava por sua cor e delicioso sabor. O pepino só calado prestava atenção dizia baixinho que não se metia em confusão. De longe o rabanete gritava: – Já provaram da minha salada? Eu, sim, serei o ganhador desta parada. E foi aquela discussão que durou horas e horas sem chegar a nenhuma conclusão.

O RAP DO “X” Áurea Moreira Lima O X é um barato e um pouquinho complicado, mas é só ficar ligado e ter muita atenção, vive mudando de som na maior curtição.

Áurea Moreira Lima Ele é o X, é o X, é o X Um dia os legumes resolveram conversar e a discussão começou a rolar. A cenoura, muito elegante, por possuir várias vitaminas, se achava a mais importante.

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Uma hora é CH, outra hora é Z, em outra tem o som S; SS e ainda de CS,


SUA AULA

desse X ninguém se esquece. Mamão, melão, milho, morango e murici. Ele é o X, é o X, é o X Com o som do CH, do famoso chocolate Eu escrevo ameixa, peixe, enxada e caixa. Ele é o X, é o X, é o X Quando tem o som do S e SS Ele se acha o máximo! Adora fazer exposição da sua próxima atração. Ele é o X, é o X, é o X Ele é o X, é o X, é o X Quando tem o som de CS você não vai se atrapalhar se preciso pegar um táxi dele logo vai lembrar. Ele é o X, é o X, é o X E se tem o som de Z Ouça o que eu vou dizer ele existe, ele é exato é um exemplo de fato. Ele é o X, é o X, é o X.

A gulosa Magali não pôde resistir. Mamão, melão, milho, morango e murici. (Ritmo da música:Teresinha de Jesus)

TODO MUNDO É IGUAL Áurea Moreira Lima Todo mundo é igual cada um é especial. Seja alto ou baixinho, gordo ou magrinho, branco ou moreninho. A todos devemos tratar com carinho. Com ou sem defeitos todos têm os mesmos direitos. Em uma pessoa não importa: a cor da sua pele, se é branca ou negra; Em uma pessoa não importa: a cor da sua pele, se é branca ou negra; a cor dos cabelos, se são pretos, amarelos ou vermelhos, se são lisos ou crespos;

AS COMPRAS DA MAGALI Áurea Moreira Lima Magali foi à feira para compras poder fazer então começou sua cesta logo encher.

se tem dinheiro, ou não tem, o importante é fazer o bem.

Mamão, melão, milho, morango e murici.

Se mora no Brasil ou se mora no Japão; se tem olhos puxadinhos, ou se tem “um olhão”.

Encheu tanto a sua cesta que com ela não pôde sair. Magali resolveu comer tudo bem ali.

O que realmente importa: é ter um bondoso coração, é saber amar o seu irmão.

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AQUI TEM DOM BOSCO

Gol de letra em São Paulo COLÉGIO FEREGUETTI DESTACA-SE ENTRE OS GRANDES. O Colégio Fereguetti, situado na zona leste de São Paulo, com mais de 1.600 alunos, tem crescido a cada ano, graças a uma proposta pedagógica consistente, investimento em infraestrutura e num aspecto não tão explorado por grande parte das escolas, o esporte. O Colégio incentiva, além das aulas de educação física, a prática de várias modalidades esportivas, tornando o ambiente escolar mais saudável e descontraído. Como o esporte requer disciplina no que diz respeito a treino, determinação e concentração, essas características acabam transferidas para os estudos e, consequentemente, contribuem para melhorar o desempenho dos alunos em todas as disciplinas curriculares. Alguns resultados já são bem evidentes. Aumentam a cada ano as aprovações nos vestibulares. Neste ano, USP, Mackenzie, PUC, Belas Artes, FMU, entre outras faculdades de referência, receberam alunos do terceirão Fereguetti. Tal conquista é comemorada pela equipe pedagógica do Colégio, que encontrou no material didático Dom Bosco apoio fundamental para seu trabalho. Uma das estratégias do colégio para fomentar o empenho nos esportes é convidar craques do futebol para conversar com os alunos sobre a importância do estudo e da persistência nos planos, sempre passando pelo viés da educação. Até o Rei Pelé já esteve presente para interagir com os alunos. Recentemente passou por lá também Ganso, atual jogador do Santos. Todos se mobilizam para ouvir atentamente exemplos de superação e sucesso. Essas ilustres visitas despertam nos alunos mais dedicação às tarefas de casa, pesquisas e provas. “Nosso objetivo inicial é incentivar os esportes, mas ficamos felizes com os outros bons frutos que colhemos”, afirma a diretora Karina Fereguetti. “Aconselho todas as escolas a investir nos esportes e buscar um diferencial saudável para sua comunidade escolar. Sempre acreditei que podemos ser melhores e maiores quando conseguimos unir educação com os valores em que acreditamos”, finaliza a gestora escolar.

Jogador Ganso, do Santos, em visita ao colégio Fereguetti.

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Sede do Colégio Fereguetti


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Toque de Midas em Palmas COMO UMA ESCOLA QUE COMPLETA APENAS SETE ANOS SE TRANSFORMA EM EXEMPLO DE CRESCIMENTO VIGOROSO E COM MUITO FUTURO PELA FRENTE

Sede do Dom Bosco Tocantins

Para se realizar uma grande obra precisa haver um grande sonho, com inspiração e transpiração. Em 1998, um grupo de educadores idealizou uma escola que oferecesse educação de qualidade à sociedade palmense. Buscando a realização desse sonho, em 1999, o Colégio Dom Bosco, batizado assim em homenagem à vida e obra do educador São João Bosco, ganharia sua identidade sem sequer imaginar que os bons resultados viriam tão rápido e que sua história seria usada como exemplo de sucesso. Na concretização desse desafio, trabalhar foi o verbo mais conjugado, pois em apenas cinco anos estava concluída toda a concepção intelectual, envolvendo plano de negócios e proposta pedagógica, e a estrutural – compra da área, projeto arquitetônico, construção e inauguração em 28 de janeiro de 2005. Em apenas um ano de labor sério e comprometido ficou claro que o Dom Bosco Tocantins nasceu para ser não apenas uma instituição de educação infantil e ensino fundamental 1. Em 2006 implantou o ensino fundamental 2 e, nos

três anos seguintes, o ensino médio gradativo e o também bem-sucedido empreendimento Dom Bosco Vestibulares. A parceria com o Sistema de Ensino Dom Bosco, como afirma o diretor-geral do grupo, Célio Roberto Rodrigues, contribuiu de forma fundamental para o sucesso. Em 2008, o resultado de tanto empenho e dedicação foi motivador e inesquecível, pois o Colégio Dom Bosco recebeu o Prêmio de Competitividade do Sebrae, mantido pela Fundação Nacional da Qualidade, como a melhor empresa do Tocantins na área de educação, ficando em segundo lugar em âmbito nacional. Hoje, com quatro sedes na capital e cerca de 2.400 alunos, o grupo conta com o prestígio da população local, sendo apontado como referência estadual em educação. Outros sonhos surgem. O trabalho e os desafios aumentam. Com seriedade, competência, consciência e dedicação, o Colégio Dom Bosco de Palmas tem tudo para continuar sendo um caso de sucesso. Enfim, a escola que abriu as portas com 75 alunos bateu a meta de 2.400 matrículas em apenas sete anos. É toque de Midas, mesmo.

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Linha do tempo

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

Início das atividades de educação infantil e fundamental 1

Implantação do ensino fundamental 2

Implantação do ensino médio

Aquisição de nova unidade e implantação de sede exclusiva de educação infantil e fundamental 1

Aquisição da sede Dom Bosco Júnior, de educação infantil e fundamental 1

Projeto de ampliação e modernização de toda infraestrutura das sedes

Implantação, na região central de Palmas, da sede Dom Bosco Karavella, exclusivamente para ensino médio e pré-vestibular, que já nasce grande, com mais de 700 alunos

VEJA O QUE DIZ O DIRETOR-GERAL DO COLÉGIO PAD - O sucesso tem receita? Não há fórmula nem existe receita para o sucesso. Permanecer disposto a aprender continuamente e obter conhecimento são algumas das características que definem as organizações educacionais de sucesso. Estratégias claramente determinadas, modelo seguido de gestão, definição aberta da sua razão de existir (missão), aonde deseja chegar no futuro (visão), princípios organizacionais que orientam professores e colaboradores em seu dia a dia (valores) ajudam qualquer organização educacional a alcançar o sucesso. Proporcionar ambiente educativo adequado, atuar com responsabilidade socioambiental, cuidar do relacionamento com os clientes,

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obter bons resultados na aprendizagem e na gestão da sala de aula são alguns dos objetivos que todas as escolas que desejam sucesso devem perseguir. Tenho a consciência de que falar em aplicação de conceitos de gestão empresarial para professores, coordenadores, orientadores e diretores pedagógicos parece difícil, talvez um pouco utópico, mas começamos a trabalhar esse conceito há seis anos e conseguimos resultados fantásticos. Hoje, no Colégio Dom Bosco Tocantins, professores e colaboradores possuem a convicção de que são os atores principais de uma empresa de prestação de serviços educacionais que busca a perenidade através do alinhamento das perspectivas econômica, social e ambiental.


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PAD - Como o senhor trata a concorrência? Tratamos nossos concorrentes com muito respeito, ética e parceria. Por exemplo: o sucesso de um concorrente que pratica mensalidade maior é muito benéfico para nós, que oferecemos o melhor custo -benefício aos nossos clientes. O Colégio Dom Bosco Tocantins já transformou três concorrentes parceiros em empresas do nosso grupo. Os professores do ensino médio geralmente trabalham em mais de uma escola, ou seja, trabalham para nós e para a concorrência, e não encontramos dificuldades em lidar com suas necessidades de carga. Agora, como disse Peter Senge, “a única vantagem competitiva Os mantenedores do Colégio Dom Bosco Tocantins recebendo um dos prêmios pela excelência na administração sustentável é a capacidade de aprender mais rápido e desenvolvimento decorre, principalmente, das aquisições. melhor do que os concorrentes”. Considere-se também O maior desafio é manter o DNA existente implantando que o sindicato das escolas particulares não existiria se o jeito Dom Bosco de ser – valorizar as pessoas que não houvesse lealdade por parte da maioria das escolas fizeram a empresa desenvolver e dar atendimento ainda sindicalizadas. melhor ao cliente. Quem conseguir alcançar esses três escopos terá sucesso num processo de aquisição. PAD - Como a parceria com o sistema de ensino o ajudou nessa empreitada vitoriosa? PAD - Quais são os planos para o futuro? Pode A parceria com o Sistema de Ensino Dom Bosco revelar ou é segredo estratégico? contribuiu de forma fundamental para o nosso sucesso e Obter desenvolvimento de forma sustentável, alinhar a formação integral dos nossos alunos. É essencial para o a nossa gestão ao modelo de gestão do Prêmio Nacional Colégio Dom Bosco Tocantins contar com o avanço tecnoda Qualidade e normatizar nossos processos segundo o sislógico, a qualidade do material didático e o serviço pedatema ISO são nossos planos para o futuro. Bem, pelo menos gógico dos consultores que o Sistema de Ensino Dom Bosé o que podemos tornar público neste momento. co nos tem proporcionado de forma tão eficaz. O Colégio Dom Bosco Tocantins tem como um de seus objetivos PAD - Tem algum conselho para quem está comeestratégicos obter os melhores resultados nos processos çando neste caminho? de ensino e aprendizagem. Para isso ocorrer, conta com É sempre difícil dar conselho. No meu entendia parceria estratégica do Sistema de Ensino Dom Bosco. mento, determinadas providências, como a elaboração do planejamento estratégico, a utilização de indicadores de PAD - Como você avalia a desenvolvimento de desempenho, a redução da hierarquia com aumento da sua empresa? responsabilidade pelos resultados e a valorização de cada Creio que, antes de uma organização educacioprofessor e cada colaborador dentro da organização, fazem nal ser próspera, ela necessita ser uma atividade causa-se indispensáveis para o gestor educacional obter sucesso dora de renda. Toda empresa possui a cara do proprieem sua caminhada. Ao fim, deixo uma frase de Aristóteles tário. Se o dono é um empreendedor, todas as ações que me inspira diariamente: “Nós somos o que fazemos reserão no sentido de gerar ampliação do negócio. Nosso petidamente; a excelência não é um feito e, sim, um hábito”.

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GESTÃO & NEGÓCIOS

Escola: celeiro de ideias, cemitério de resultados? DIMAS GONÇALVES* Observem o seguinte diálogo entre um professor e um diretor, que ocorre invariavelmente nas manhãs de segunda -feira, numa escola em algum lugar deste país: Prof.: Senhor diretor, neste fim de semana tive uma ideia fantástica para desenvolver um projeto com minha turma. Dir.: Ótimo! Por favor, entregue-me o projeto. Prontamente vou analisá-lo e darei o retorno. Prof.: Colocar no papel? Escrever o projeto? Dir.: Sim. E não se esqueça de indicar objetivos, hipóteses, justificativa, cronograma, orçamento, resultados internos e externos, avaliação, indicadores, cronograma e referências. Certo, professor? Prof.: Mas, diretor, não podemos discutir aqui e agora o projeto? Tenho que escrever mesmo um projeto? Resultados? Justificativa? A ideia é boa. Quer ouvir agora? Dir.: Não, professor. Prefiro ler e depois discutimos. Pois bem, já sabemos o que aconteceu com o diálogo e, principalmente, com o projeto. Embora, pelas características da conversa, esse seja um projeto didático, e não um projeto administrativo ou científico, ele representa aproximadamente 70% dos projetos desenvolvidos ao longo do ano em uma escola. Se essa escola deseja alavancar seu processo de gestão, valorizando esses projetos didáticos como produto em potencial para a divulgação do estabelecimento, cabe sim que o diretor receba o projeto didático para planejar estratégias mais amplas de interesse da escola, como marketing ou infraestrutura, por exemplo. Enquanto não tivermos minimamente clara a necessidade da articulação entre o rigor científico dos projetos escolares e a gestão operacional de uma escola, não sairemos nunca dessa situação de coisas maravilhosas, professores realizados, alunos felizes e caixa no vermelho. Todo e qualquer projeto envolve um conjunto de recursos – tempo, pessoas, material, espaço etc. Não sendo planejados, podem significar resultados pífios ou abandono por falta de controle e liderança. Em recentes pesquisas (PMI, 2009), somente 5% dos projetos são verdadeiramente completados. Falar em gestão é observar essencialmente quatro conceitos: planejamento, controle, organização e liderança. Planejar é prever; controlar é acompanhar; organizar é alocar recursos; e liderar é a capacidade de motivar os envolvidos.

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Outra observação importante: por definição,“nunca teremos todos os recursos necessários à execução de um projeto” – sempre faltará um. Essa é a essência de todos os projetos e também a matriz ideológica da economia. Segundo a teoria da escassez, as demandas são muitas e os recursos, poucos. Dessa forma, o planejamento é a chave para resolver esse problema. Precisamos pensar antes – prever, verificar a oferta de recursos, buscar alternativas quando não encontramos o ideal e, principalmente, pensar nos resultados internos, junto aos processos de ensino-aprendizagem. Mas também é essencial buscar resultados externos, que implicam a socialização do projeto para as comunidades e seu efeito para a imagem da escola, pois isso certamente é retorno para a marca. Portanto, não se pode esquecer como esse projeto vai “conversar” com a área comercial da escola. Para ser mais realista, mesmo que a maioria dos diretores não assuma isso: quantas matrículas a mais podemos esperar com esse projeto? No final das contas, são as matrículas que sustentam todo o nosso fazer pedagógico. Ou não? Então, pensar uma ideia é estruturar um projeto, que deve articular os objetivos educacionais e econômicos para o empreendimento. Lembrando ainda que estamos falando de instituições privadas de ensino, onde os resultados de qualquer ação ou projeto contam muito para seu sucesso, garantia de nossos saberes, fazeres e prazeres. * Professor universitário do Centro de Economia e Administração da PUC-Campinas, mestre em ciência da informação; especialista em gestão estratégica escolar.


PAD ESPECIAL

É possível melhorar e inovar COMO UM SISTEMA ESCOLAR DE BAIXO DESEMPENHO PODE EVOLUIR E SE TORNAR BOM? E COMO UM SISTEMA DE BOM DESEMPENHO PODE ATINGIR O NÍVEL DE EXCELÊNCIA?

PARA ENTENDER A PESQUISA As perguntas acima foram formuladas por legisladores e educadores no lançamento do relatório McKinsey de 2007 – How the World’s Best Performing School Systems Come Out on Top (Como os sistemas escolares de melhor desempenho chegaram ao topo). Segundo o relatório, foram analisadas as características comuns aos sistemas escolares de alto desempenho. Neste novo relatório, How the World’s Most Improved School Systems Keep Getting Better (Como os sistemas escolares mais aperfeiçoados do mundo continuam a melhorar), a intenção foi responder a essas questões. Foram analisados vinte sistemas ao redor do mundo, todos com níveis de desempenho em evolução positiva e com distintos pontos de partida. Investigou-se como cada um deles obteve ganhos significativos, sustentados e generalizados em termos de resultados dos alunos, medidos por exames internacionais e nacionais. Com base em mais de 200 entrevistas com responsáveis pelo sistema e especialistas e na análise de cerca de 600 intervenções efetuadas pelos sistemas – que, em conjunto, constituem a mais abrangente base de dados de reforma de sistemas escolares jamais reunida no mundo –, o presente relatório identifica os elementos de reforma passíveis de reprodução em sistemas educacionais de outras partes do mundo, em sua transição de desempenho fraco para satisfatório, daí para bom e, finalmente, excelente. Sistemas analisados: Armênia, Aspire (sistema escolar dos Estados Unidos no regime de charter), Boston (Massachusetts, EUA), Chile, Cingapura, Coreia do Sul, Eslovênia, Inglaterra, Gana, Hong Kong, Jordânia, Letônia, Lituânia, Long Beach (Califórnia, EUA), Madhya Pradesh (Índia), Minas Gerais (Brasil), Ontário (Canadá), Polônia, Saxônia (Alemanha) e Western Cape (África do Sul).

DENTRE OS RESULTADOS, O RELATÓRIO DESTACA OITO PONTOS PRINCIPAIS 1. Não importando qual seja seu ponto de partida, um sistema pode obter ganhos significativos, que podem ser alcançados em seis anos ou menos. Num grande número de sistemas, os resultados obtidos pelos alunos haviam estagnado ou regredido nos dez últimos anos. Contudo a amostra revelou ser possível alcançar melhoria substancial com relativa rapidez. Para exemplificar, apenas seis anos após o início do esforço de aperfeiçoamento, estudantes da Letônia apresentaram níveis de desempenho que seus antecessores teriam alcançado somente com um semestre a mais de aulas. Em Long Beach, seis anos

de intervenções aumentaram o desempenho de alunos de matemática do quarto e quinto graus em respectivamente 50% e 75%. Até mesmo sistemas que partiram de patamares baixos de desempenho, como os de Madhya Pradesh, na Índia, Minas Gerais, no Brasil, e Western Cape, na África do Sul, obtiveram melhorias expressivas nos níveis de alfabetização escrita e numérica em intervalo de apenas dois a quatro anos, enquanto buscavam reduzir as lacunas de aproveitamento entre alunos de diferentes origens socioeconômicas. Em Minas Gerais, o percentual de alunos com oito anos de idade no nível “recomendado” de alfabetização subiu de 49% em 2006 para 86% em 2010. Essas melhorias podem ter início em sistema escolar com qualquer nível de resultado, quaisquer que sejam a geografia, a cultura ou a renda. 2. Há uma ênfase muito reduzida em “processos” no debate educacional hoje. Em última análise, melhorar o desempenho do sistema resume-se a melhorar a experiência de aprendizado dos alunos em sala de aula. Para atingir essa meta, os sistemas escolares atuam em três vertentes: (I) mudam a estrutura, ao estabelecer novas instituições ou tipos de escola, ao modificar os anos e níveis de escolaridade ou ao descentralizar as responsabilidades pelo sistema; (II) mudam os recursos, ao alocar mais pessoal de educação nas escolas ou incrementar o financiamento do sistema; (III) mudam os processos, ao modificar o currículo e melhorar a maneira como os professores ensinam e os diretores lideram. Os três tipos de intervenção – estrutura, recursos e processos – são importantes ao longo da jornada de melhoria. Muitas vezes, entretanto, o debate público gira em torno de estrutura e recursos, em vista de suas implicações para os stakeholders. O que se constatatou, por outro lado, é que a ampla maioria das intervenções feitas pelos sistemas da amostra que apresentam melhoria é da natureza de “processos”; nessa área, em geral tais sistemas gastam mais com o aperfeiçoamento da forma como se ministra a instrução do que com a modificação do conteúdo ensinado. 3. A cada etapa da jornada de melhoria do sistema escolar corresponde conjunto único de intervenções. A pesquisa indica que todos os sistemas que apresentam melhorias implementaram conjuntos semelhantes de intervenções para avançar de determinado nível para o seguinte, independentemente da cultura, geografia, política ou história. As intervenções realizadas por Madhya Pradesh (Índia), Minas Gerais (Brasil) e Western Cape

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(África do Sul), em sua trajetória do desempenho baixo para satisfatório, mostram semelhanças surpreendentes. Há um grupo consistente de intervenções que faz o sistema evoluir do baixo desempenho para o satisfatório; um segundo grupo o leva do satisfatório para o bom; um terceiro conduz do bom desempenho para o ótimo; outro ainda leva do ótimo para o desempenho excelente. Como exemplo, os sistemas em transição do desempenho satisfatório para o bom têm como foco o estabelecimento dos alicerces de coleta de dados, organização, finanças e pedagogia; os sistemas de bom desempenho a caminho do ótimo buscam estruturar a profissão letiva, de modo a definir requisitos, práticas e planos de carreira com a mesma clareza encontrada nas carreiras de medicina e direito. Infere-se daí que os sistemas poderiam beneficiar-se em aprender com aqueles que atravessam etapa semelhante da jornada, não com aqueles que apresentam patamares de desempenho significativamente diferentes. Conclui-se também: a melhoria dos sistemas educacionais não avança quando se faz apenas mais daquilo que foi sucesso no passado.

5. Seis intervenções ocorrem igualmente em todos os estágios de desempenho dos sistemas. A pesquisa aqui indica que seis intervenções são comuns aos estágios de desempenho ao longo de toda a jornada de melhoria: capacitação dos professores, em termos de habilidades de ensino, e de gestão dos diretores; avaliação dos alunos; aperfeiçoamento dos sistemas de dados; facilitação das melhorias mediante introdução de documentos de política e leis sobre educação, revisão de normas e currículos; garantia de uma estrutura adequada de recompensa e remuneração para professores e diretores. Embora ocorram em todos os estágios de desempenho, tais intervenções se manifestam de maneira diferente em cada um. Tome-se, por exemplo, a questão de formação de professores: enquanto a Armênia (na trajetória de satisfatório para bom) recorreu a programas de formação de professores centralizados e implementados “em cascata”, Cingapura (na trajetória de bom para ótimo) proporcionou flexibilidade para que os próprios professores selecionassem os tópicos mais condizentes com suas necessidades de desenvolvimento.

4. O contexto do sistema pode não determinar o que precisa ser feito, mas determina, sim, como deve ser feito. Embora cada etapa de desempenho esteja relacionada a um conjunto comum de intervenções, observa-se substancial variação na maneira como o sistema implementa tais intervenções em termos de sequência, tempo necessário e roll out. Há pouco ou nenhum indício de abordagem universalmente válida à implementação de reformas. As entrevistas com líderes de sistemas educacionais indicam que uma das mais importantes decisões para a implementação é a ênfase dada pelo sistema em exigir, em contraposição a persuadir os stakeholders a cumprir as reformas propostas. Se, por um lado, todos os sistemas que apresentam melhoria fazem uso expressivo de dados para fundamentar os programas de reforma, apenas um subconjunto da amostra converte essa prática em metas quantitativas de escolas e salas de aula, para então divulgar tais informações ao público (EUA, Inglaterra, Canadá, Madhya Pradesh e Minas Gerais). Ao contrário, os sistemas da Ásia e da Europa Oriental abstêm-se da fixação de metas e divulgam ao público apenas os dados referentes ao sistema como um todo; sua opção é divulgar os dados de desempenho de cada escola apenas aos estabelecimentos envolvidos, por meio de diálogo sobre como podem melhorar. Os sistemas analisados adotam diferentes combinações de exigência e persuasão para colocar em prática o mesmo conjunto de intervenções. Por exemplo, um sistema tende a utilizar a persuasão quando determinada mudança resultará em nítidos vencedores e perdedores. Existindo condições para trabalhar com prazos mais dilatados, a mudança desejada não é precursora de outras. O sistema e a liderança nacional atravessam um momento delicado em termos de credibilidade e estabilidade, e/ou a herança histórica do país dificulta a imposição de decisões top down.

6. No decorrer da jornada, os sistemas mantêm a melhoria contínua ao instaurar um equilíbrio entre autonomia das escolas e uniformidade da prática de ensino. Nosso estudo mostra que os sistemas de desempenho considerados “fraco” e “satisfatório” avançam por meio de um centro que intensifica e determina a prática de ensino de escolas e professores, porém essa abordagem não funciona para sistemas que já se encontrem no patamar de desempenho “bom” ou um nível acima. Nestes, ao contrário, observa-se que o avanço decorre do aumento das responsabilidades e flexibilidades proporcionadas por esse centro para escolas e professores modelarem a prática de ensino – um terço dos sistemas educacionais, na jornada de “bom para ótimo”, e pouco menos de dois terços dos sistemas na jornada de “ótimo para excelente” descentralizam as funções pedagógicas, delegando-as para o escalão médio (por exemplo, distritos) ou as escolas. Paralelamente, para atenuar o risco de tal liberdade resultar em amplas e descontroladas variações entre as escolas, o centro institui mecanismos que tornam os professores mutuamente responsáveis pelo próprio desempenho profissional e dos colegas. Um exemplo é o estabelecimento de planos de carreira, de acordo com os quais os professores mais habilitados assumem crescente responsabilidade no sentido de auxiliar os colegas iniciantes a atingir excelência de ensino, primeiramente na própria escola, em seguida no sistema como um todo. Esses sistemas também estabelecem práticas de colaboração entre os professores da mesma escola e de diferentes escolas, que enfatizam a divulgação das práticas, tais como planejamento semanal de aulas para todos os professores da mesma matéria, exigência de observação de aulas, ensino conjunto, com vistas a consolidar e aprimorar a pedagogia estabelecida. Embora os professores recebam 56% de todas as intervenções de apoio nos

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sistemas de nosso estudo, eles recebem apenas 3% das intervenções de responsabilização. Em outras palavras, a prática de colaboração se transforma no principal mecanismo para duplo objetivo: melhorar a prática de ensino e tornar os professores responsáveis uns pelos outros. 7. Os líderes beneficiam-se da mudança de circunstâncias para iniciar as reformas. Em todos os sistemas estudados, uma ou mais de três circunstâncias foram responsáveis por gerar as condições que desencadearam a reforma: crise socioeconômica; relatório crítico, de grande repercussão, sobre o desempenho do sistema; troca de liderança. Em quinze dos vinte sistemas analisados, dois ou mais desses acontecimentos desencadeadores estavam presentes antes do início das atividades de reforma. O fato mais comum identificado como gatilho da reforma é, sem dúvida, a troca de liderança – todos os sistemas estudados contavam com a presença e a energia de um novo líder, político ou estratégico, a impulsionar a reforma. Novos líderes estratégicos estavam presentes em todos os sistemas da nossa amostra, e novos líderes políticos, na metade deles. A rigor, a novidade em si mesma não acarreta necessariamente o sucesso. Os novos líderes tendem a adotar um repertório consistente de práticas ao assumir o cargo, estabelecendo os alicerces da jornada de melhoria. 8. A continuidade da liderança é essencial, não apenas para desencadear a reforma, mas também para sustentá-la. Dois aspectos se destacam nos líderes de sistemas educacionais com melhorias. O primeiro é a longevidade – em geral, os novos líderes estratégicos ocupam o cargo por seis anos, e os políticos, por sete. É nítido o contraste com o padrão. Para exemplificar, o prazo médio no cargo de superintendente das escolas distritais urbanas dos Estados Unidos é de apenas três anos; na Inglaterra e na França, os secretários e os ministros de educação,

respectivamente, cumprem mandato médio de somente dois anos. O segundo aspecto a destacar é que os sistemas em melhoria cuidam ativamente de formar a geração seguinte de líderes, assegurando transição tranquila de sua liderança, além da continuidade dos objetivos de reforma em longo prazo. No sentido de dar prosseguimento à reforma, a despeito das mudanças periódicas da liderança política, trata-se de um ponto que está na raiz do sucesso alcançado por alguns dos sistemas desse estudo, como Armênia, Western Cape, Lituânia. A estabilidade da direção da reforma é fundamental para obter os rápidos ganhos delineados sobre o aproveitamento de alunos. Desafio fundamental para os líderes dos sistemas de ensino: como conduzir o sistema rumo a melhores resultados dos alunos. Tal jornada é ainda mais complexa porque os pontos de partida são diferentes, os contextos variam e os líderes se defrontam com múltiplas escolhas e combinações de ações a tomar ao longo do caminho. Um passo inadequado pode inadvertidamente levá-los a ingressar em curso não desejado. É certo que não existe percurso único para melhorar o desempenho dos sistemas escolares. A experiência dos vinte sistemas em melhoria analisados mostra, contudo, que a natureza do caminho trilhado por eles tem fortes características comuns. O presente relatório descreve os aspectos universais dessa trajetória, aqueles específicos ao contexto, e a interação entre ambos. O intuito da pesquisa em questão é essas experiências trazerem benefícios para sistemas escolares do mundo todo, cada qual em seu percurso próprio rumo à melhoria. Fonte: McKinsey & Company, empresa de consultoria empresarial americana, reconhecida como a líder mundial no mercado de consultoria empresarial.

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NOTAS RÁPIDAS

Curtas ROBSON CRUZ

COERÊNCIA NO RECREIO Por força de lei, as cantinas escolares de algumas regiões não podem mais vender frituras. Na verdade, não haveria necessidade de lei para determinar uma política de alimentação saudável nas escolas. Como trabalhar hábitos saudáveis de vida, se na hora do intervalo a escola oferece aos alunos toda sorte de produtos nocivos à saúde, como salgadinhos industrializados, frituras, refrigerantes, biscoitos recheados e chocolates? A cantina pode obter lucro disponibilizando opções saudáveis e saborosas: salgados assados, frutas, barras de cereais, bolos caseiros, sucos naturais... Com um pouco de criatividade e auxílio de nutricionista, isso é possível.

FILHO DE PEIXE PEIXINHO É Traduzindo o ditado para o universo escolar, fica mais ou menos assim: tal gestor, tal escola. Dizer que escola é a cara do gestor sem pôr nem tirar é pura verdade. Diretor organizado, atuante, simpático, escola organizada, atuante, simpática. Exemplo disso acontece na zona sul de São Paulo. A Escola Clara Suiter exala acolhida e simpatia. Porteiros, zeladores, auxiliares, professores, enfim toda a equipe pedagógica e administrativa. Essa atmosfera espontânea parece aliviar a correria do dia a dia. A instituição vive mesmo o princípio a que se propõe: educação. Parabéns à direção da escola!

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OS ALUNOS PRECISAM SAIR DA ESCOLA Uma escola dinâmica precisa proporcionar ensino fora da sala de aula e, algumas vezes, fora até do ambiente escolar. Essas experiências são marcantes para os alunos e produzem excelentes resultados quando bem planejadas e desenvolvidas. Não há espaço para desculpas do tipo “dá trabalho, tem custo, é muita responsabilidade”. A escola precisa prever ações nessa modalidade no mínimo uma ou duas vezes por ano para cada turma. Isso deve constar no planejamento. Museus, praças, repartições públicas, comércio local... São muitas possibilidades que podem render excelentes resultados. Quer algo mais prático que alunos do fundamental 1 ir a uma feira para trabalhar noções de matemática, ciências, língua portuguesa e geografia, por exemplo? Seu colégio tem levado os alunos para além dos muros?


QUESTÕES & SOLUÇÕES

Como conduzir reunião de pais com sucesso ROSANE DE MELLO SANTO NICOLA Todo profissional da educação sabe dos dois maiores desafios para estabelecer um bom relacionamento com as famílias dos alunos da escola: conseguir que compareçam às reuniões de pais e obter sucesso nessas reuniões, atendendo às efetivas necessidades da comunidade. Para superar a visão de que reunião de pais seja mero evento protocolar que a escola organiza no intuito de fornecer algumas informações gerais, a equipe pedagógica da escola precisa elaborar um projeto cuidadoso, cuja implantação requer criatividade e flexibilidade para enfrentar os desafios que surgem no percurso de cada encontro. Primeiramente, cabe refletir sobre estratégias para obter a presença dos pais. Vejamos duas delas. - Envolver os alunos de cada ano escolar para lembrar os pais da importância de sua presença na reunião que ocorrerá na semana. A esse respeito, cabe relatar a forma criativa de uma escola que enviava convites e lembretes diferentes para os alunos entregarem aos pais, como a dobradura em forma de flor que se abre quando colocada na água. O aluno faz questão de mostrar o recado por querer constatar se a flor abre mesmo as pétalas quando na água. - Colocar a pauta da reunião de pais num cartaz na porta da sala dos alunos, indicando que os pais têm liberdade de contribuir com sugestões da pauta. A ideia é deixar um bloquinho com lápis preso ao cartaz. Dessa forma, os pais escrevem sua sugestão, destacam a folha e a colocam no envelope colado ao lado do bloco. Obviamente, isso envolve a proposta pedagógica, pois retrata a forma como a escola pretende estabelecer as relações com sua comunidade. Para obter sucesso nos encontros, é preciso haver um autêntico vínculo de comunicação, em que tanto a equipe pedagógica quanto as famílias não percam de vis-

ta o objetivo maior – o aluno, a razão maior de todas as ações da escola. Embora isso pareça evidente, muitas vezes, no calor de um questionamento mais enfático dos profissionais da escola ou na posição de desconfiança dos pais, podese perder o foco e comprometer o espaço de respeito que precisa ser garantido para o bem do aluno. Assim, estabelecer algumas diretrizes para os encontros e apresentá-las em cartazes no local onde eles acontecem contribuem para educar os afetos. Seguem três sugestões: 1ª) As famílias e a escola são parceiras na educação dos estudantes. Devem, portanto, estabelecer uma relação de confiança, sem a qual não há como educar. 2ª) No espaço escolar, os alunos agem de modo diferente do familiar. Por isso, as reuniões promovem excelentes oportunidades para os pais conhecerem os filhos sob outros pontos de vista. 3ª) O diálogo é a principal estratégia educacional para todos – professores, pais e alunos. Quanto à organização da reunião propriamente dita, cabe torná-la dinâmica, pois ninguém merece ouvir passivamente extensa lista de informações durante duas horas. Como qualquer ação, o encontro precisa ser planejado de maneiras variadas: informações gerais, exposição dialogada sobre tema de interesse da família, momento de abertura para os pais participarem e exporem suas dúvidas... Nessa direção, muitas escolas passaram a dinamizar atividades para os pais. Eis um exemplo: escrever cartas de aconselhamento, elogio e motivação para os filhos, deixando a entrega por conta da escola. Essa estratégia surte também efeito retardatário, pois os filhos cujos pais não compareceram não receberão cartas e tenderão a cobrar a presença deles na próxima reunião. A cada encontro é preciso surpreender, evitando as práticas burocráticas que perdem o sentido. O essencial é promover encontros ricos de proximidade respeitosa, que façam os alunos se sentirem seguros, terem a autoestima preservada e se relacionarem melhor. Esse é o melhor espaço de convivência que escola e família podem construir para crianças e jovens.

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PONTO DE VISTA

Por que há erros mais errados do que outros? MARCOS BAGNO* Quando um “erro de português” já se instalou definitivamente na língua falada pelos cidadãos mais letrados, privilegiados, ele passa despercebido e já não provoca reações negativas – ainda que ele seja condenado pela gramática normativa, a mesma que, supostamente, deveria ser seguida pelas pessoas “cultas”. Por isso, há “erros” mais “errados” (ou mais “crassos”) do que outros – a escala de “crassidade” é inversamente proporcional à escala do prestígio social: quanto menos prestigiado é um indivíduo, quanto mais baixo ele estiver na pirâmide social, mais erros (e erros mais “crassos”) os membros das classes privilegiadas encontram na língua dele. Por outro lado, os falantes urbanos letrados detectam menos “erros crassos” na fala de pessoas de sua mesma origem social, notoriamente privilegiada – quando muito, são tidos como “lapsos”, “descuidos” ou “licenças poéticas”. Essa mesma condescendência, no entanto, jamais aparece para classificar a fala dos cidadãos das classes desfavorecidas: o mesmo fenômeno, agora, é tachado de “erro crasso” e ponto final. É como afirmava (dizem) Getúlio Vargas: “Para os amigos tudo, para os inimigos, a lei”. Afinal, o que está sendo avaliado não é apenas a língua da pessoa, mas sim a própria pessoa, na sua integralidade física, individual e social. Por isso, não existe propriamente preconceito linguístico; o que existe é um forte, profundo e arraigado preconceito social contra as classes desfavorecidas. E a língua funciona aí exatamente como as redes eletrificadas, as câmeras e as guaritas blindadas usadas nos condomínios privados – separa, isola, vigia e protege. Voltei a pensar nessas coisas (sobre as quais já escrevi tanto nos últimos anos) num recente almoço de família (minha mãe completou 70 anos: parabéns para ela!). Uma querida prima, sabedora das minhas posições antinormativas no quesito língua, disse que não podia concordar comigo porque alguns “erros” lhe doíam no ouvido e citou o surradíssimo “pra mim fazer”: “Fico arrepiada quando escuto isso”. Eu apenas sorri, porque não era o lugar nem a hora de expor todos os postulados da sociologia da linguagem. Na continuação da conversa, porém, ela me contou que um vigia não permitiu que ela entrasse num local de exposições onde ela mesma estava montando um estande. “Eu disse então para ele: ‘Moço, deixa eu entrar, vai! Deixa eu entrar! Eu trabalho aqui!” Sorri para mim mesmo (repito: não era hora nem lugar) e pensei: “Por que ela se arrepia com o ‘pra mim fazer’ e usa tranquilamente o ‘deixa eu entrar’, se as duas construções

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são igualmente condenadas pela tradição gramatical, se são dois ‘erros’?” A resposta já dei mais acima: porque quando um “erro” se instala definitivamente na fala (e na escrita, mais tarde) das pessoas privilegiadas, ele deixa de ser sentido como “erro” – é o caso do “deixa eu fazer”, usado por 111 por cento dos brasileiros. Mas quando ainda não foi incorporado pelas classes dominantes, não tem conversa: é “erro crasso”, “dói no ouvido”, “causa arrepio”. Mesmo quando é empregado por 98 por cento da população (inclusive já muita gente letrada), como o “pra mim fazer”. A vida não é uma graça? * “Marcos Bagno é escritor, poeta, linguista e tradutor. Professor do Instituto de Letras da Universidade de Brasília, tem mais de trinta livros publicados, entre obras destinadas ao público infantojuvenil e obras que discutem o ensino de português no Brasil.”

Marcos Bagno - nov. 2009.


SALA DE LEITURA

O que há para ler? MICHELLE CEZAK SHOJI SÓ MEU Sinopse - Escrito por um dos poetas mais importantes da literatura brasileira, esse livro permite às crianças entrar em contato com o universo lírico do poeta, por meio de imagens que representam a imaginação infantil – monstros da noite, guindaste que parece dinossauro. A proposta gráfica baseia-se no que o autor acredita ser um livro de poemas:“(...) devem ter margens largas e muitas páginas em branco e suficientes claros nas páginas impressas, para que as crianças possam enchê-las de desenhos (...) que passarão também a fazer parte dos poemas...”; tem como objetivo instigar o pequeno leitor a interagir com a obra por meio de desenhos e outros registros. 1º ano – 5/6 anos

Sugestão de trabalho - Poema é um gênero textual familiar para os alunos, que o encontram no material didático desde o primeiro bimestre. A leitura dessa obra permite o exercício lúdico da sensibilidade e da imaginação. É interessante ler um poema por dia em sala de aula, abordando-o de diversas formas: sentindo a musicalidade proporcionada pelas rimas; conhecendo palavras novas, por meio da busca de seu significado no dicionário; discutindo o tema do poema em roda de conversa; incentivando os alunos a escrever sua versão do poema; em trabalho interdisciplinar com Arte, fazer ilustrações referentes à obra.

Autor: Mario Quintana Editora: Global

DE ONDE AS COISAS VÊM? Sinopse - Crianças adoram cor e movimento. Interagindo com o livro por meio de exercícios de abrir e fechar, puxar, girar, o pequeno leitor encontra, contextualizadas em situações do dia a dia, respostas para diversas questões como: “De onde vem o açúcar? O que uma árvore tem a ver com uma folha de papel?”. O livro faz parte da coleção Criança Curiosa, que aborda de forma igualmente lúdica temas como corpo humano, cores, cinco sentidos. Vale a pena conhecer todos. Sugestão de trabalho - Proponha aos alunos que formulem hipóteses para as questões propostas, antes de ler as respostas. Em seguida, compare-as. O livro apresenta algumas situações em que sua intervenção é bastante necessária, no que se refere a questões ambientais. Ao apresentar o modo como o papel e a mesa são fabricados, fale aos alunos que a madeira utilizada na fabricação desses produtos precisa ser legalizada, ou seja, extraída de florestas plantadas exclusivamente para a produção de papéis e móveis. Importante ressaltar que se considera crime o corte ilegal de árvore. Nesse sentido, cabe-lhe incentivar pesquisa sobre reflorestamento e propor atividades ambientais, como o plantio de mudas. Leve os alunos a pensar nas várias maneiras como determinado produto pode ser fabricado e consumido. O peixe, por exemplo, é consumido da forma apresentada no livro? Proponha-lhes que façam sua versão sobre de onde vêm e para onde vão os peixes pescados na região onde vivem. Trabalhe também a questão do desperdício: nos barcos pesqueiros, durante a seleção de peixes, descartam-se outros animais, como lulas e águas-vivas, que muitas vezes morrem antes de serem devolvidos ao mar. Instigue-os a propor soluções para esse problema. Realize em sala de aula algumas das experiências propostas ao final do livro: receita de panqueca, obtenção de sal extraído da água do mar, cultivo de grãos de trigo ou feijão, milho, ervilha...

2º ano – 6/7 anos Autor: Anne-Sophie Baumann Editora: Salamandra

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SALA DE LEITURA

PONTO DE VISTA Sinopse - Em linguagem poética, o livro trata da amizade entre dois meninos de classes sociais diferentes que descobrem uma paixão em comum: o surfe. As imagens mais do que ilustram; servem de apoio para contar essa emocionante história.

3º ano – 7/8 anos Autor: Ana Maria Machado e Ziraldo Editora: Melhoramentos

Sugestão de trabalho - Questione os alunos sobre se vivem história semelhante ou conhecem alguém que a tenha vivido. Trabalhe com elementos do texto: a questão social, o fato de duas pessoas estarem próximas e ao mesmo tempo distantes, os pontos comuns entre os meninos e os animais, o significado de algumas frases. A diferença social é o tema principal do livro. “Cidade partida” faz referência a isso. Pergunte: “Por que a cidade está partida? Que aspectos no texto apontam para a diferença social? Em meio a tantas diferenças, há algum ponto em comum na vida dos meninos?” Aborde a noção de espaço proposta pelo livro: “Como viver tão longe e tão perto?” Pergunte se já conheceram alguém que, descobriram depois, estava muito perto o tempo todo. Revele o paralelo entre os meninos e os animais, No início da narrativa, os meninos não se veem; golfinhos e gaivotas, também não. Depois que os meninos se conhecem, golfinho e gaivota aparecem interagindo. Os meninos vivem em lugares diferentes da mesma cidade. Passam o dia fazendo coisas diferentes, mas ao final do dia descansam em casa, assim como golfinhos e gaivotas descansam “na onda e na espuma”. Cada par possui diferenças, mas um ponto em comum. Explique: apesar das diferenças, sempre existem pontos em comum entre pessoas e coisas. Isso é o que nos aproxima deles. Para finalizar, leve-os a pensar sobre a frase “Quando a gente tem vontade, muda a cidade e a vida”. Como ela pode ser justificada pela história? Por que a cidade mudou? Mostre que a amizade entre os meninos motivou a aproximação de seus familiares, que um aprendeu coisas novas com o outro e assim encontrou oportunidades para a vida. Leve-os a imaginar isso num contexto maior: “Como seria uma cidade se as pessoas superassem as diferenças e se ajudassem? Como seria o mundo?”

LOLO BARNABÉ Sinopse - Lolo é um homem muito criativo e inteligente que, depois de se casar e ter um filho, começa a criar coisas para tornar a vida da família mais confortável. A vida deles melhora à medida que ele produz, mas nem tanto. Quanto mais ele inventa, mais necessidade todos sentem de novas coisas que facilitem sua vida e lhes deem mais tempo para estarem juntos. Em vez de aproximarem Lolo da família, as invenções deixam-no cada vez mais ocupado e distante. Sem ter mais o que inventar, Lolo e a família descobrem finalmente algo que lhes dá prazer e felicidade.

4º ano – 8/9 anos Autor: Eva Furnari Editora: Moderna

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Sugestão de trabalho - O livro tematiza a vida moderna e todas as facilidades proporcionadas pela tecnologia. A busca por uma vida mais confortável gera consequências que afetam a vida familiar – consumismo, desperdício, alteração das relações de convivência, valorização do supérfluo, o valor aparente do ter. Questione os alunos: “Seus pais trabalham? A que horas vocês chegam a casa? A que horas jantam? O que fazem em casa nos dias de semana? A vida de sua família se parece com a de Lolo, Brisa e Fifo? Em quê?” Provavelmente, muitos alunos dirão que a vida deles é muito semelhante à dos personagens. Leve-os a pensar sobre a facilidade proporcionada pelos eletrodomésticos e outras invenções modernas: “Ao nos livrarem de antigas tarefas, eles realmente


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nos dão mais tempo livre?” Fazê-los reconhecer que sim, mas nem sempre ocupamos o tempo livre com a família. Comprove essa afirmação com perguntas do tipo: “O que você faz com seu tempo livre? E seus pais?” Muitos responderão que preenchem esse tempo assistindo à televisão, navegando na internet, divertindo-se com jogos eletrônicos etc., ou seja, não o dedicam a seus familiares. Trabalhe também a questão do consumismo: “Vocês têm tudo de que precisam para viver? De que ainda precisam para a vida ser melhor?” Levá-los a pensar sobre os bens materiais que desejam: “Eles de fato melhorarão sua vida?” Nesse sentido, é interessante abordar as propagandas de TV, que procuram convencer o espectador a adquirir bens de que muitas vezes não necessitam. Proponha aos alunos uma pesquisa com pais e parentes sobre como era a vida de seus avós e bisavós sem tanta tecnologia: “Como era o dia a dia? Como lavavam as roupas, preparavam as refeições, se divertiam? Praticavam atividades físicas? Na sua opinião, a vida era melhor ou mais difícil na época deles?” Promova roda de conversa sobre as informações que obtiverem, abordando o fato de que o comodismo e a falta de atividade física têm ocasionado problemas de saúde, como sobrepeso, diabetes. Ressalte a importância de praticar algum tipo de exercício físico. É fundamental trabalhar com a lição transmitida pela história de que a felicidade e a satisfação residem em coisas simples e no contato com as pessoas que nos são importantes. Para finalizar o trabalho com o livro, sugerimos algumas atividades: 1. Propor aos alunos e seus pais que passem um final de semana sem alguns recursos tecnológicos, como televisão, celular, computador e videogame. Eles devem aproveitar o tempo para desfrutar a companhia um do outro. 2. Combine com a turma um acampamento, de forma a vivenciar a natureza. Escolha local seguro. Após a experiência, peça relato do que aprenderam com ela.

NAVEGANDO PELA LÍNGUA PORTUGUESA Sinopse - Viaje no tempo e conheça a história da língua portuguesa: origem, mudanças pelas quais passou, curiosidades sobre ela. De bagagem, leve apenas o interesse pelo conhecimento. Conheça as influências de romanos, árabes, indígenas, africanos e imigrantes europeus e asiáticos na formação de nossa língua. Aprenda neologismos, palavras em desuso, gírias e outros povos que falam português. Sugestão de trabalho - O livro dá margem a diversos trabalhos de pesquisa. Selecione palavras emprestadas ou derivadas de línguas estrangeiras e proponha aos alunos que pesquisem a origem e o significado e também a de seus próprios nomes. É interessante levar para a sala de aula livros publicados até 1931, até 1971 e a partir de 2009, anos em que houve reforma ortográfica do português, para os alunos observarem as mudanças gráficas no tempo. Essa atividade é um excelente pretexto para o trabalho com o último acordo ortográfico da língua portuguesa.

5º ano – 9/10 anos Autor: Douglas Tufano Editora: Moderna

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ANGÉLICA Sinopse - O livro conta a história de Angélica, uma cegonha que, inconformada com a farsa de que as cegonhas traziam bebês para o mundo, decide deixar a família para trás e mudar-se para o Brasil, onde supostamente não existiam cegonhas. Ao longo da narrativa, a personagem faz várias amizades: Porto, porco que finge não ser porco porque não o aceitam na sociedade; Canarinho, elefante que sofre por causa da velhice; Jota e Jandira, casal de crocodilos que vive brigando; Napoleão Gonçalves, sapo viúvo que cuida de sete filhos.

6º ano – 10/11 anos Autor: Lygia Bojunga Editora: Casa Lygia Bojunga

Sugestão de trabalho - A exemplo das demais obras de Bojunga, esse livro aborda temas complexos em linguagem acessível às crianças. Cada personagem vive um drama pessoal, mas o problema do desemprego lhes é comum, então eles se unem com o objetivo de superar as dificuldades por meio de trabalho coletivo, amizade e teatro. Levante questões em roda de conversa: “Você acha que seus pais são felizes com o trabalho que fazem? Já foi discriminado por algum motivo? Como se sentiu? Você se considera uma pessoa consumista? Por quê? O que é o consumismo para você?” Trabalhe a questão do preconceito em vários âmbitos. Esclareça: qualquer forma de preconceito é injustificável e considerada crime. Fale sobre a questão das diferenças. Estimule-os a falar sobre suas virtudes e defeitos. Questione também: “O que realmente é importante na pessoa: a aparência ou o caráter? Você conhece alguém que esteja desempregado? As pessoas deixam de trabalhar porque são preguiçosas? Em sua opinião, o que é importante para se manter num emprego?” O livro possibilita ainda o trabalho com a encenação, pois um dos capítulos é estruturado como peça de teatro. Aborde os aspectos desses gêneros textuais, comparando-os entre si e com os de outros, como poema, narrativa, receita, bula...

QUEM VAI PRA COZINHA? Sinopse - Enquanto suas irmãs viajam para Nova York, Fernando vai para a praia com seis sobrinhos e dois agregados. Lá descobrem muitas coisas desagradáveis e vivem experiências próprias da adolescência, como a primeira menstruação e o “ficar” com alguém. Descobrem também que Luana e Pudim, os agregados, sabem cozinhar muito bem. As diversas receitas culinárias que eles preparam ao longo da história aparecem descritas no final do livro.

7º ano – 11/12 anos Autor: Telma Guimarães Editora: FTD

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Sugestão de trabalho - O livro aborda questões pertinentes ao universo pré-adolescente, dando margem ao trabalho com diversos assuntos: a vida longe de casa e dos pais, a responsabilidade e a divisão de tarefas, a convivência com outras pessoas, a primeira menstruação, a atração entre meninos e meninas. Promova uma roda de conversa sobre tais assuntos com os alunos. Para falar de sexualidade, como menstruação e atração, é interessante convidar um professor de Ciências ou Biologia. É fundamental abordar o gênero textual receita, pedindo aos alunos que observem o que as receitas contidas no livro têm em comum: nome do prato/bebida, lista de ingredientes, modo de preparo... Para finalizar o trabalho com o livro, sugerimos o preparo de uma receita com a turma, escolhida por meio de votação. Também é possível a criação de uma nova receita. Os alunos escolhem alguns ingredientes para levar à sala de aula. Todos trocam ideias sobre o que preparar com eles e, em seguida, escrevem e preparam essa receita.


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O MUNDO DE SOFIA Sinopse - Sofia Amudsen é uma jovem estudante que vê sua vida mudar completamente depois que passa a receber cartas anônimas propondo questões existenciais. De forma natural e acessível, o livro introduz a história da filosofia, dando rápidas pinceladas sobre seu desenvolvimento no Ocidente. O autor aborda os principais temas estudados pelos pensadores de todos os tempos: Deus, o universo, o homem, a sociedade e a história. Sugestão de trabalho - Além de deleitar o leitor, esse livro o instiga a responder às questões nele apresentadas. Levando em consideração a natureza do adolescente, que nessa fase da vida se vê cercado de questionamentos sobre sua existência. A obra parece ideal para capacitá-lo a não ser indiferente ao mundo à sua volta e a buscar as próprias respostas para as questões que sempre intrigaram a humanidade. Realize trabalho interdisciplinar com filosofia. Peça aos alunos que procurem responder a algumas questões do livro como: “Quem és tu? De onde vem o mundo? Haverá uma vontade e um sentido por detrás daquilo que acontece?”. Se possível, leve-os a um parque ou local aberto para realizar essa atividade. Motive-os a elaborar novas questões para reflexão da turma e do professor. É interessante também propor pesquisa sobre alguns dos filósofos mencionados. O resultado pode ser apresentado em forma de teatro, permitindo interdisciplinaridade com Arte. Peça-lhes que encenem o que descobriram a respeito do filósofo escolhido. Incentive-os a criar cenário, figurino, adereços, objetos de cena, iluminação, sonoplastia...

8º ano – 12/13 anos Autor: Jostein Gaarden Editora: Companhia das Letras

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA Sinopse - Esse livro surgiu em 1911 como romance de folhetim em edições semanais. A história se passa no Brasil do final do século XIX, primeiros anos de república. O personagem principal, Policarpo Quaresma, é um patriota tão extremado que seus exageros o tornam cômico. Ao longo da narrativa, suas ideias e seu patriotismo são motivos de chacota, enquanto políticos corruptos e personalidades inúteis formam a elite do país. Sugestão de trabalho - Explique aos alunos a etimologia do nome Policarpo Quaresma: “poli” significa muito, e “carpo”, choro, sofrimento. Seu sobrenome, Quaresma, remete ao período católico de penitência e resguardo que começa logo após o carnaval e se estende por 40 dias. Simboliza, portanto, um personagem de má sorte e sofredor. Verifique com os alunos o que eles sabem sobre o período histórico em que transcorre a narrativa, sobre o marechal Floriano Peixoto e a Revolta da Armada. É possível convidar um professor de História para lhes falar sobre isso. Comente a dimensão nacionalista do projeto agrícola de Quaresma e a questão da reforma agrária atual, incentivando-os à pesquisa. Levante com eles outros aspectos que julguem atuais, inclusive as críticas sociais, o enfoque irônico dado pelo autor na caracterização de militares, políticos e funcionários públicos. Se possível, convide algum político local para uma entrevista em sala de aula, debatendo com ele a visão que Policarpo Quaresma tem dos homens públicos no final do romance.Trabalhe também as personagens femininas, que analisam o papel da mulher na sociedade:“Em que aspectos Olga se diferencia da maioria das mulheres da época?”. Por meio dessa personagem, o autor apresenta um novo perfil feminino: ativo, inteligente, determinado, que luta por seus objetivos. Proponha aos alunos que pesquisem a história da mulher na sociedade patriarcal brasileira do século XIX e outras questões da política brasileira da época relacionadas ao Brasil de hoje, envolvendo denúncias de corrupção em revistas, jornais,TV e internet:“O que mudou de lá para cá? Ainda há corrupção?”. Organize roda de conversa para debater o assunto. Para finalizar o trabalho, sugira aos alunos que assistam ao filme Policarpo Quaresma, herói do Brasil, de Paulo Thiago.

9º ano – 13/14 anos Autor: Lima Barreto Editora: Ática

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COMPORTAMENTO

Ficar ou não ficar GIL VICENTE MORAES Pensar sobre relacionamentos amorosos entre jovens da pós-modernidade no Brasil é uma tarefa que pressupõe reflexão acerca dessa sociedade. Não se pode negar que a forma como se manifestam tais relacionamentos é um reflexo das modificações que caracterizam o atual momento histórico. Fatores culturais, sociais, políticos e econômicos ajudaram a estabelecer o que vemos nas relações interpessoais dos jovens. Assim, neste breve texto, expresso algumas ideias que resultam de minha observação e escuta informal em ambiente escolar. Pretendo ater-me a um tipo bastante particular de relacionamento adotado entre os jovens em geral – “o ficar”. Essa forma de relacionamento, que surgiu de forma discreta entre os anos 80 e 90, talvez seja a forma mais adotada de aproximação entre os jovens de hoje. Carrega no mínimo aceitação significativa entre eles. De acordo com José Sterza Justo, em sua tese de mestrado, tal modalidade de relação interpessoal tem caráter efêmero e provisório, traço presente em vários cenários da contemporaneidade. O que mais chama a atenção no “ficar”: a velocidade com que acontece e suas características principais de ser breve e descompromissado. Por mais que o termo encerre ideia de permanência, nesse tipo de relação não existe implicação futura; é ocasional na maioria das vezes. Para Matos, Carneiro e Jablonski, o ficar pode ser tanto resultado do desejo explícito de um ou de ambos, como resultado da impulsividade, da vontade superficial ou até do incentivo de amigos. Cada gênero apresenta em seu repertório outras ferramentas no processo de sedução. As jovens não esperam mais até o último momento para expressar suas intenções. Em determinadas situações, elas tomam a iniciativa quer na aproximação, quer no afastamento. Escolhem cuidadosamente os trajes, buscando expor o que, em sua autopercepção, ajuda a seduzir. Isso não significa que elas estejam mais disponíveis do que antes e, sim, que houve mudança cultural nas

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regras da sedução, ou seja, as iniciativas estão mais equilibradas entre os gêneros. Os rapazes também aparecem com novas preocupações, que vão desde o uso de adereços, como brincos e tatuagens, até o culto ao corpo como forma de seduzir. Não é difícil ouvir no discurso dos adolescentes que, num mesmo evento, “ficaram” com mais de uma pessoa. Ao que me parece, os jovens têm menos receio de externar seus desejos, por mais íntimos que sejam, e o fazem pela própria abertura nos novos contextos sociais, que já não apresentam as normativas formais do galanteio romântico, outrora marca da sedução. Pergunto-me se, de certa maneira, o ficar poderia ser interpretado como forma de preparação para um tipo de relacionamento menos superficial no futuro. Ou se até mesmo podemos olhar para esse tipo de relacionamento como estratégia para evitar um nível maior de proximidade, gerando, assim, exposição mais evidenciada dos envolvidos. Resta saber se o jovem contemporâneo não perderá oportunidade de se deixar tomar pela verdadeira paixão, aquela que sempre encantou as sociedades de todas as épocas.

Penso que não seja papel da escola julgar o ficar como certo ou errado. Todavia, no papel de instituição que atua na área de formação cidadã, cabe-lhe alertar sobre as consequências do envolvimento tão sem responsabilidades. Nem sempre o ficar acontece sem expectativa e, quando esta não é satisfeita, a frustração pode assumir contornos que desestabilizam quem já enfrente o mar de turbulências da adolescência. Os pais devem ficar atentos, pois mudanças repentinas na rotina podem indicar que algo não vai bem. Um trabalho preventivo e conjunto entre escola e pais, por meio de diálogo franco e próximo dos jovens, pode proporcionar mais oportunidade de escuta dos adolescentes e maior aproximação das famílias, de modo a perceber sua opinião sobre os fatos. Em geral, tais ações geram possibilidades de alerta e, quem sabe, maior cuidado dos jovens em optar por esse tipo de relacionamento.

* Psicólogo Escolar que atuou como professor de Educação Física durante 15 anos.

Abril / Maio - 2011

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