Revista PAD - Edição Março 2014

Page 1

703000003

<AADDAA DDAA DDAA CDBBBCCAA DDAA DDABBCCA>

aNo 8 — N o. 1 — maRço — 2014 — R$ 5,00

comuNIcação E aPRENDIzagEm colaBoRaTIVa TEcNologIas

Ambiente virtual de aprendizagem — Moodle

PAD-2014-1.indd 1

sala DE aula

Laboratório do ar — aprender ciência com a colaboração de todos

QuEsTÕEs & soluçÕEs

Contribuição de atividades lúdicas no processo ensino-aprendizagem

07/03/2014 13:45:02


PAD-2014-1.indd 2

07/03/2014 13:45:03


PAD-2014-1.indd 3

07/03/2014 13:45:04


4

PALAVRA DA DIREÇÃO

2014 se inicia com muitas expectativas e um cenário desafiador para a educação brasileira. Somos cada vez mais influenciados pela dinâmica da sociedade que busca novas formas de entretenimento, relacionamentos e aprendizagens. As habilidades de comunicação e de aprendizagem colaborativa passam a determinar-nos dia a dia. Podemos notar que as redes sociais, antes meras ferramentas de extensão do relacionamento interpessoal, se estendem também aos ambientes virtuais de aprendizagem e colocam-se a serviço da formação e capacitação humana dentro das escolas. Por meio de blogs e redes sociais, como Facebook, Twitter, Pinterest, professores e alunos consolidam processos de ensino e aprendizagem que estimulam a troca de informações e a produção de conteúdos voltados para todas as áreas de conhecimento. Por outro lado, a sociedade brasileira amadurece os processos de avaliação da qualidade da aprendizagem por meio de exames nacionais e internacionais que estimulam a análise sobre os resultados obtidos. Os resultados do Enem, da Prova Brasil e da Provinha Brasil promoveram mudanças nas políticas educacionais tanto na rede pública quanto na privada, tornando concreta a qualificação da aprendizagem. Tamanha transformação, somada às inúmeras ferramentas, nos leva a questionar o papel da aprendizagem — e o quão colaborativa esta deve ser — em cada um dos segmentos de ensino. Afinal, as equipes docentes estão preparadas para inserir, em suas práticas pedagógicas, ações que estimulam a comunicação e a aprendizagem colaborativa? Estamos preparados para planejar e avaliar tal situação? Qual o papel das tecnologias nessa dinamização da comunicação em sala de aula? As escolas, por sua vez, buscam se envolver ou aprimorar o domínio desses meios, presentes em toda a sociedade. Atentos a isso, para esta edição da revista PAD — Comunicação e Aprendizagem Colaborativa — queremos direcionar sua leitura para as demandas e necessidades de formação e capacitação presentes nas escolas parceiras, ou seja: na sua escola! Que esta leitura estimule, neste novo ano, a busca pela inovação e pelo desenvolvimento de práticas voltadas para o aprimoramento da comunicação e da aprendizagem. Cristiane Pizzatto Diretora-geral — Sistema de Ensino Dom Bosco cristiane.pizzatto@pearson.com

EXPEDIENTE Revista do PAD — Programa de Aperfeiçoamento Docente — é uma publicação do Sistema de Ensino Dom Bosco www.nossodom.com.br Direção-geral Cristiane Pizzatto Coordenação editorial Gisele Mezarobba, Maria Cristina Lindstron Colaboração Lucélia Secco, Lucimar Torres, Ivo Erthal, Monica Palandi, Clélia Menezes, Igor Debiasi Sousa, Antonio Lima, Antonio Viveiros, Heloísa Lück, Alessandra Soares Ramiro, Marcus Garcia de Almeida, Silvano Silva, Sandra Aparecida de Souza e Cristiane Braga Gerência pedagógica Vânia Bittencourt Gerente nacional de marketing Fábio Ostrowski Coordenação de marketing Deisi Cabrini Brancaleone Projeto editorial Bruno Baccan Diagramação Maria Carolina Pie Revisão Editorial Curitiba Tiragem 6,5 mil exemplares Publicidade e aquisição de exemplares editoradombosco@dombosco.com.br Escreva para a redação editoradombosco@dombosco.com.br

março 2014

PAD-2014-1.indd 4

07/03/2014 13:45:05


ÍNDICE

5

Nesta edição

6 PAD especial

Redes de conhecimento, redes de aprendizagem na educação infantil

4 Palavra da direção 9 Gestão & Negócios 13 Aqui tem Dom Bosco 18 PAD entrevista 21 Tecnologias Gestão educacional e o desafio da comunicação

Tecnologias digitais e a aprendizagem colaborativa

23 Questões & Soluções 25 Backstage da consultoria 27 Sala de aula 29 Sala de leitura Contribuição de atividades lúdicas no processo ensino-aprendizagem

Laboratório do ar — aprender ciência com a colaboração de todos

Ambiente virtual de aprendizagem — Moodle

Revista PA D

PAD-2014-1.indd 5

07/03/2014 13:45:05


6

PAD ESPECIAL

Redes de conhecimento, redes de aprendizagem na educação infantil Cada indivíduo é uma conexão Lucélia Secco

Inúmeros docentes vêm se esforçando para desenvolver projetos e práticas mediados por tecnologias em suas salas de aula. Todavia, um dos principais entraves que os professores ainda enfrentam para levar seus projetos adiante é o engessamento didático-pedagógico, uma vez que a estrutura de aulas, as disciplinas, os currículos e os horários são, em geral, inflexíveis e rigorosamente controlados pela equipe pedagógica na maior parte das escolas. Muitas vezes, a turma dispõe não mais que quarenta minutos para usar computadores, tablets ou laptops no laboratório de informática ou outro recurso qualquer disponibilizado pela escola, não raro de uso compartilhado por diferentes turmas. E como trabalhar com um processo dinâmico, contínuo e complexo, que exige interação, cooperação e compartilhamento, dispondo de apenas poucos minutos por semana? Como “programar” a criança para que pense e colabore com a pesquisa de sua turma em andamento somente naquele horário de laboratório destinado para sua classe? É necessário tempo para estar ligado à rede, ou seja, consultar materiais, analisar as contribuições feitas por algum participante e intervir de modo a contribuir com um processo que opera em aberto. Além disso, o professor necessita de tempo extra para pesquisar o planejamento para condução das propostas de trabalho e para acompanhar e mediar o trabalho em curso realizado em rede. Necessita-se, portanto, reprogramar o uso do tempo e do espaço escolar, o que só ocorrerá com completa revisão do projeto político-pedagógico das escolas. Há de se fazer mudanças significativas, como a flexibilização parcial do currículo. A mesma amplitude de conteúdos

pode ser ensinada, mas a forma de ensiná-los deve ser adaptada à nova realidade. Uma solução seria possibilitar que as turmas utilizassem os recursos em função de seus projetos, e não em função da hora-aula de cada turma, ou seja, ainda que certas turmas fiquem algumas semanas sem ir ao laboratório de informática e outras o façam mais intensamente. E, enquanto isso, o que fazem essas crianças que estão sem a aula de informática? Usam outros equipamentos (câmeras fotográficas, celulares, lousas eletrônicas, reprodutores portáteis de música, GPS etc), pois tecnologia não é apenas aquela da sala de informática. Quando se fala em rede de aprendizagem, qualquer que seja o autor ou a definição adotada, um ponto é convergente: a colaboração como motivo para constituir determinada rede, como exigência para sua manutenção e como consequência do seu funcionamento. No âmbito da educação, a colaboração ganha novas tonalidades quando mediada pelas redes de aprendizagem: interagir para aprender. As intervenções que ocorrem ao longo do processo de investigação alargam e diversificam o trabalho. Outras questões são levantadas, e aquelas iniciais ganham novas dimensões e profundidade. Isso é resultante das interações que se estabelecem entre pessoas de diferentes contextos, com níveis de formação e de conhecimentos distintos, especializadas em diversas áreas do conhecimento e com múltiplas vivências, percepções, atitudes e valores. É preciso ousar, inovar e ampliar o campo de visão para otimizar os recursos, de modo que estejam a serviço do aprendizado, e não o contrário. Mais do que isso, é necessário um ambiente aberto, em que professor e

março 2014

PAD-2014-1.indd 6

07/03/2014 13:45:06


PAD ESPECIAL

Aprender é criar redes

alunos interajam com muitas outras pessoas, de modo a dar significado ao trabalho. A colaboração é possibilitada pelos recursos tecnológicos que podem ser partilhados em tempo real, dando acesso a diferentes sistemas simbólicos, como texto, som e imagem, ou por correio eletrônico, transferência de arquivos, postagem de materiais e organização de fóruns de discussão, entre outros. No caso da educação infantil, essa dinâmica ocorre de forma distinta, uma vez que as crianças não dominam com precisão a leitura, a escrita nem muitos dos recursos tecnológicos. Esse papel cabe, portanto, aos outros participantes da rede (professores, pais, colaboradores, profissionais de outros centros educacionais, empresas, centros de pesquisas etc.), os quais darão apoio ao trabalho das crianças sendo seus escribas, responsáveis pelas postagens e dinamizadores do processo, para que depois elas possam navegar e saborear o resultado de suas aprendizagens entre si. Como se observa, colaboração é definitivamente o fator decisivo para o sucesso do trabalho em redes de aprendizagem. Outros aspectos também precisam ser levados em conta quando se quer trabalhar nessa perspectiva, tais como multiliderança (não há um líder, mas vários deles, pois cada indivíduo é uma conexão na rede que alimenta a estrutura ao convergir e, ao mesmo tempo, difundir as informações); livre intercomunicação (o fluxo de informações é livre entre os membros da rede, e não produto de uma só pessoa); corresponsabilidade (todos sabem o que tem a fazer e o fazem, o que implica em iniciativa individual); autonomia (cada um gere livremente a tarefa a que se propôs, efetuando racionalmente as próprias escolhas e como fazê-las). Trabalhar em rede requer pensamento complexo, inovação e ousadia, ao contrário do modelo administrativo de Taylor, facilmente resumido como “um homem, um posto, uma tarefa”, que influenciou

7

os sistemas gerenciais voltados para a produção em massa e acabou também por impactar o sistema educacional, para o qual educar eficientemente pessoas pressupunha que cada uma tivesse seu livro, sua folha, sua tarefa predefinida pelo seu professor, a qual deveria ser realizada em determinado tempo e cujo resultado teria apenas uma resposta aceita e preestabelecida. Esses são alguns dos atributos necessários para o mundo moderno. Na educação infantil, o começo de tudo está em desenvolver habilidades para que as crianças possam, mais adiante, participar das redes na sua forma mais complexa e plena. E como fazer? Em primeiro lugar, trazendo para o espaço escolar a maior diversidade possível de equipamentos, para que as crianças possam experimentá-los sobre a ótica educacional. Celulares, tablets, notebooks e outros eletrônicos fazem parte da vida delas, ainda que muitas vezes de forma descontrolada e não supervisionada por pais e educadores. Portanto, é hora de enxergar seu potencial como ferramentas para aprimorar o ensino e a aprendizagem. Fazer as crianças experimentarem o funcionamento de máquinas fotográficas, gravadores, reprodutores portáteis de música, tablets, porta-retratos digitais, laptops e lousas eletrônicas contribui para desenvolver o pensamento, o raciocínio e as habilidades motoras. Mas essa exploração deve ser livre o suficiente para que as crianças se apropriem, inicialmente, do jeito particular de operar exigido por cada equipamento e, depois, de que modo os recursos explorados podem ser inseridos nas experiências de aprendizagem da turma, conforme possam contribuir com a natureza de cada trabalho em andamento. Na prática, a educação infantil opera no campo material tudo aquilo que se poderá fazer no mundo virtual, guardadas naturalmente suas particularidades. Observe alguns exemplos: • Álbum de fotografias: com base num tema do currículo escolar, como animais de seis patas, as crianças podem ser estimuladas a tirar fotos no ambiente escolar, em casa ou num parque. É possível imprimi-las e organizá-las num caderno. Ao mesmo tempo, o arquivo pode ser organizado e hospedado pelo professor em um porta-retratos digital. Em seguida, ele pode pedir que sejam colocados os nomes dos animais e onde foram encontrados, o que facilmente as crianças podem fazer sobre as fotos impressas. No entanto, como fazê-lo nas imagens Revista PA D

PAD-2014-1.indd 7

07/03/2014 13:45:06


8

PAD ESPECIAL do porta-retratos digital? Essa é uma tarefa que as crianças devem resolver em conjunto. O docente conduz o trabalho estimulando o pensamento: “Quem sabe fazer isso?”, “Quem pode nos ajudar?”, “O que precisamos para realizar essa tarefa?”, “Será que podemos ter fotos de outros animais que não encontramos na escola?”, “Onde podemos achar mais imagens de animais de seis patas?”, “E como vamos colocar em cada lugar (no álbum e no porta-retratos)?”. Assim, essa rede pode se ampliar, abrindo-se para outras questões: “O que gostaríamos de saber sobre esses animais de seis patas?”, “O que há em comum entre eles?”, “Será que todos se alimentam da mesma forma?”, “Será que eles oferecem algum perigo para nós?”, “Quem pode nos dar essas respostas?”. Com essa tarefa, os aspectos tratados anteriormente, como multiliderança, intercomunicação, corresponsabilidade, autonomia e colaboração, são exercitados pouco a pouco. • Portfólio escolar: o portfólio ou Livro da turma é a coleção de trabalhos realizados pelas crianças, prática conhecida e utilizada por muitos centros de educação infantil. Funciona por meio de compilação dos registros das atividades do dia a dia. Nele também pode haver espaço para registro dos pais, visitantes ou qualquer pessoa que possa contribuir. O portfólio físico reúne os trabalhos e registros originais, além de fotos, modelos, imagens, textos, gravações e outros materiais. Devem ser escolhidos recursos que combinem publicação e interação, como o blog, o qual possibilita fácil atualização e participação de várias pessoas, que podem ser realizadas diariamente por um trio de crianças voluntárias, as quais, com a mediação do professor, vão incorporando textos, fotos e arquivos, além de interagirem com os demais colegas, conforme surjam intervenções de terceiros. O mesmo processo deve ser feito com o portfólio físico. Nesse caso, pode-se enviar o livro a cada dia à casa de um aluno para que familiares façam suas intervenções. • Entrevistas e rodas de conversa: nesse contexto, a exploração fica por conta da linguagem oral. A turma convida um especialista de algum assunto sobre o qual esteja pesquisando para visitar a sala e responder às suas questões e curiosidades. Após a entrevista, as crianças, com auxílio do professor ou outro colaborador, registram as informações obtidas durante a conversa conforme se lembrarem. Em

paralelo, elas podem ser orientadas a gravar em vídeo a visita. Esse registro será revisto pela turma com a finalidade de complementar as respostas que registraram ou, também, disponibilizado aos pais e demais colaboradores, que podem enviar suas contribuições sobre o assunto. Uma alternativa é usar o software Skype, o qual possibilita a comunicação on-line por voz e imagem. Para isso, é interessante que alguém conhecido da turma, ou parte dos colegas da turma, esteja com o entrevistado em outro ambiente, para que as crianças observem como podem interagir em tempo real com todos aqueles que estão em outro lugar, graças ao uso dessas tecnologias. Essa experiência com o Skype pode ser feita com a participação da mãe de um aluno, que, de sua casa, ensina uma receita culinária ou uma dobradura passo a passo para as crianças, as quais a fazem em sala, ao mesmo tempo em que são ensinadas. “Aprender é criar redes”, afirma o colombiano Diogo Leal, especialista em redes sociais na educação. Portanto, o trabalho inicialmente deve estar concentrado em fazer cada indivíduo se tornar mais participativo, comunicativo e criativo. Para isso, basta reinventar o cotidiano com originalidade e entusiasmo, inserindo pouco a pouco novas vivências no ambiente escolar.

Sobre a autora Pedagoga, com extensa carreira como professora, coordenadora, supervisora e diretora escolar, é editora, autora de livros didáticos para segmento de educação infantil e palestrante.

março 2014

PAD-2014-1.indd 8

07/03/2014 13:45:07


GESTÃO & NEGÓCIOS

9

Gestão educacional e o desafio da comunicação Heloísa Lück

A realização dos objetivos de toda organização de trabalho está assentada sobre o processo de comunicação, tanto interna quanto externa. Essa condição é sobremodo importante na escola, uma vez que o processo educacional é essencialmente de comunicação, conforme indicado por Rogers (1997) e reiterado por Zimring (2010), isto é, a aprendizagem e a formação dos alunos são realizadas mediante interação e comunicação, inerente ao processo social. Por outro lado, identifica-se que, embora sejamos seres sociais, necessitamos aprender as competências necessárias à realização de nossa dimensão humana, pela aprendizagem da comunicação. Portanto, o processo de comunicação se constitui em condição fundamental e indispensável à promoção da formação e aprendizagem dos alunos. A esse respeito, verifica-se que, quanto melhor for esse processo de comunicação e relacionamento interpessoal com os alunos, melhor e mais efetiva será sua formação e aprendizagem. Por outro lado, é preciso considerar também que a organização da escola e a efetividade de sua gestão se assentam sobre a comunicação interpessoal. A comunicação se compõe em força constitutiva da organização, tecida pelas interações entre as pessoas que nela atuam e entre os segmentos na qual se situam. O fluxo de trabalho e o fortalecimento da escola dependem da adoção de linguagem comum e da integração entre ações colaborativas, instituídas por comunicação aberta e dialogal frequente. Isso posto, torna-se imprescindível que os profissionais que atuam na escola reconheçam a importância do processo de comunicação em sua atuação e lhe deem atenção e cuidado devidos. Eles devem compreender que a efetividade da escola não ocorre dissociada

da qualidade de seu processo de comunicação, já que este se constitui em elemento-chave do desenvolvimento humano, da aprendizagem, dos processos sociais e da efetividade das organizações (Patton e Giffin, 1989). Por conseguinte, assumir a natureza da comunicação, tanto como objeto de desenvolvimento educacional quanto como instrumento essencial do trabalho educacional e da liderança na gestão escolar, faz parte do repertório de atuação de seus profissionais, devendo constituir-se em importante área de atenção dos gestores escolares, a quem compete manter sua constante observação e cuidado e adotar perspectivas de melhoria contínua do processo de comunicação na escola e do desempenho para a realização desse trabalho e o desenvolvimento de competências de intervenção proativa a respeito. Do contrário, como podem os gestores influenciar positivamente o desempenho de pessoas que participam do fazer pedagógico da escola, tal como é necessário que façam? Conclui-se que o desenvolvimento do ser humano se promove em associação com sua capacidade de comunicação. Porém, nem sempre este desenvolve as habilidades de comunicação necessárias para a atuação eficiente nos diversos contextos de que participa. Verifica-se, por exemplo, que muitas vezes os profissionais, embora detenham excelentes conhecimentos e habilidades técnicas a respeito de seu trabalho, pecam por falta de habilidades de comunicação, deixando consequentemente de produzir os resultados a que se propõem. Com esse foco em mente e como contribuição e apoio à compreensão dos desafios da comunicação na escola, este artigo analisa desdobramentos do processo de comunicação.

Revista PA D

PAD-2014-1.indd 9

07/03/2014 13:45:07


10

GESTÃO & NEGÓCIOS Significado e papel da comunicação na escola O termo comunicação vem do latim communis, que significa comum. Vale dizer que, pela comunicação, isto é, pelo processo de troca de informações, ideias, expectativas, opiniões, conhecimentos e significados, um entendimento comum pode ser construído, possibilitando o entendimento de questões vivenciadas em comum e o estabelecimento de unidade de propósitos e ações e de sinergia entre as pessoas, de modo que maximizem em conjunto seus esforços, em vez de pulverizá-los em ações desencontradas e dissociadas. Todos os sistemas sociais necessitam de comunicação, a fim de significados serem transmitidos e construídos e informações serem repassadas e trocadas, de modo que diferentes pessoas, individualmente ou em diferentes grupos, setores, escolas e segmentos da sociedade possam integrar esforços pelo bem comum e pelo desenvolvimento conjunto. A comunicação, portanto, é processo fundamental de toda organização social e do relacionamento interpessoal, afetando de maneira indelével e significativa seus resultados. Uma escola é constituída por uma rede de comunicações que se desenvolve por meio de ações, comportamentos e gestos das pessoas, como suas palavras faladas ou escritas, com conteúdos e significados explícitos e implícitos. É possível essa rede ser saudável e eficaz ou inadequada e limitada, dependendo da clareza que as pessoas tenham sobre esse processo ou das habilidades pessoais e sociais relacionadas a ele. Deixá-la fluir naturalmente, sem atenção especial e cuidados diferenciados, representa deixar que nela ocorram aspectos desfocados, aleatórios e muitas vezes negativos, desprovidos de orientação educacional e formativa. Essa desatenção e falta de ação qualificada em relação ao processo de comunicação na escola possibilita que sua cultura organizacional seja impregnada por características alheias e prejudiciais ao processo educacional e ao fortalecimento escolar. Portanto, a responsabilidade pela gestão da escola representa também o encargo e o zelo pela qualidade do processo e a rede de comunicação que ocorre na comunidade escolar, de modo a orientá-la, a fim de que represente fenômenos socioeducacionais positivos, condizentes com o ideário e os propósitos educacionais coerentes com a qualidade de formação dos alunos. Por conseguinte, a comunicação é central ao processo de gestão e liderança, sendo inerente a ele, uma

vez que gestão se constitui em processo de mobilização de pessoas para a realização de objetivos (Lück, 2011), e essa mobilização envolve diferentes processos de comunicação. Ela abrange muitas nuanças e sutilezas, as quais demandam atenção especial, competências diferenciadas e percepção objetiva e clara, a fim de se observarem os aspectos necessários para seu exercício efetivo e competente. Dentre essas nuanças e sutilezas, destacam-se a seleção e interpretação de palavras, movimentos, sons, imagens, sinais, atos e demais manifestações que ocorrem nos processos de interação, influência, informação, ativação de emoções e pensamento e construção de conhecimentos e feedback. Essas questões que fazem parte do processo educacional, caso não sejam orientadas por um processo sistemático de gestão, terão sua energia dispersa e até mesmo se expressarão de forma contrária aos objetivos educacionais, tal como infelizmente ocorre no contexto de muitas escolas. É o que se observa naquelas cuja cultura organizacional se distancia significativamente da cultura educacional (Lück, 2010). Comunicação como processo de construção de significados A comunicação é definida como o processo de geração e atribuição de significados (Patton e Giffin, 1989). Ao se comunicarem, as pessoas atribuem significado ao que se referem, procurando chamar a atenção de outro para esse significado, com objetivo de passar-lhe o mesmo entendimento ou de conferir a adequação dessa atribuição. A comunicação e seu inerente processo de feedback estabelecem as perspectivas de interação e relacionamento entre pessoas, num movimento dinâmico de ação/construção de significados/ação. Com base nesse entendimento, depreende-se que a comunicação, como processo de construção de significados, é o que existe de mais essencial e estruturante do fazer humano em qualquer área em que atua, em especial, a da educação. Nela, a gestão da comunicação, ao mesmo tempo em que focaliza os processos existentes visando a sua qualidade e coerência com o ideário e objetivos educacionais, a utiliza como instrumento do processo educacional e de gestão. Esse processo de significação, no entanto, nem sempre é claro para quem o emite ou entendido

março 2014

PAD-2014-1.indd 10

07/03/2014 13:45:07


GESTÃO & NEGÓCIOS adequadamente por quem o recebe. Algumas vezes, pretende-se passar um significado, e o interlocutor interpreta a mensagem exatamente ao contrário. Em vista disso, a comunicação constitui um processo complexo, dinâmico e circular de contínua emissão, interpretação e verificação da interpretação feita, seguida de ajustamentos da comunicação, novas comunicações, e assim por diante. Esse processo, portanto, demanda muita atenção e cuidado, não podendo ser considerado com descuido, tal como, no entanto, o fazemos no dia a dia, até mesmo em relação ao trabalho profissional. Muitas crises são geradas por meio de expressões que emitimos, porque deixamos de considerar como o nosso interlocutor as recebe. Por outro lado, muitas vezes, reagimos impulsivamente, sem pensar, ao que nos dizem, gerando desnecessariamente tensão.

Ao se comunicarem, as pessoas atribuem significado ao que se referem, procurando chamar a atenção de outro para esse significado, com objetivo de passar-lhe o mesmo entendimento ou de conferir a adequação dessa atribuição.

Ao longo de nossas vidas, continuamos a falar do modo como aprendemos: espontaneamente e, sobretudo, emocionalmente orientados. Ao observarmos a limitação de uma criança em se comunicar, julgamos que sabemos fazê-lo muito bem e, com base nesse julgamento, passamos a realizá-lo com desenvoltura, sem prestar atenção aos múltiplos aspectos envolvidos no processo. Desse modo, podemos criar mais problemas que soluções e mais reações que proações. É comum observar gestores que gastam muito tempo procurando “consertar” problemas gerados por falta de atenção e habilidade no processo de comunicação.

11

Muitas vezes, por falta de discernimento e habilidade de comunicação, é possível notar a criação de problemas desnecessários, que surgem como resultado de “um grande levantamento de poeira”, o qual provoca a necessidade de se gastar o tempo em administrar a “poeira levantada”. Pessoas que ainda agem assim afirmam que a escola dá muito trabalho, por estar cheia de problemas. Relação entre comunicação e gestão Conclui-se, portanto, que a comunicação é uma estratégia de gestão, e a gestão é uma estratégia de comunicação pela qual o gestor promove, dentre outros aspectos, • a integração dos diversos públicos internos da instituição; • a criação da identidade institucional e da identidade de todos como membros dessa instituição; • a integração da instituição com a comunidade externa e os pais/responsáveis dos alunos; • a formação de espírito de equipe; • o fortalecimento de vínculos consistentes e contínuos entre os diferentes públicos da escola; • a unidade de foco de atuação de todos os profissionais da escola; • a busca de maior efetividade institucional; • o cuidado com a constituição e manutenção de linguagem comum e unitária, orientada por lógica educacional. Atenção do gestor escolar ao processo de comunicação O gestor escolar interessado em realizar um bom trabalho e envolvido nos processos socioeducacionais da escola, por conseguinte, observa continuamente o processo de comunicação que cria em sua atuação e o que se desenvolve na escola, de modo que os transforme em um processo de fortalecimento dos princípios educacionais e da rede de relações e comunicação, a fim de que estejam focados naqueles princípios. Dentre outros aspectos, compete-lhe refletir sobre questões diversas, como: • Que significado atribui ao processo de comunicação? • Que importância dá a ele? • Quais suas observações a respeito do processo de comunicação em sua escola? • Quais as características principais desse processo? Como ocorre? Quais seus aspectos favoráveis e quais suas limitações? Revista PA D

PAD-2014-1.indd 11

07/03/2014 13:45:07


12

GESTÃO & NEGÓCIOS • Que ações e medidas têm sido adotadas na sua escola para melhorar o processo de comunicação? • Como o gestor pode contribuir para melhorar o processo de comunicação em sua escola como um todo? • Que medidas deve adotar para melhorar o próprio processo de comunicação? Para nortear a realização desse trabalho, é importante que, dentre outras ações, seja possível • reconhecer a diferença entre comunicação e informação e o papel de cada uma na gestão escolar; • compreender o processo de transferência de significados nas ações de comunicação; • conhecer estilos e formas de comunicação e sua expressão na realidade escolar; • compreender a relação entre características e processos de comunicação e seus resultados; • analisar as disposições pessoais em relação a essas características e esses processos; • exercitar habilidades de comunicação de ajuda e orientação do desenvolvimento humano; • estabelecer orientações pessoais para o exercício da comunicação de ajuda na escola, como parte do processo de gestão. Nesse processo, é fundamental que o gestor reconheça que grande parte dos problemas organizacionais da escola, como divergências, tensões, conflitos e falta de efetividade no trabalho, é resultante de dificuldades de comunicação, como insuficiência, inconsistência ou incoerência de informações, falta de credibi-

lidade na prestação de informações ou ainda morosidade em fornecê-las. Uma escola é constituída por uma rede de comunicações, que se desenvolve por diferentes formas, conforme descrito anteriormente. Deixá-la fluir naturalmente, sem atenção especial, significa possibilitar que os aspectos negativos nela ocorram e tomem conta do processo. A responsabilidade pela gestão da escola, no entanto, representa a responsabilidade pela qualidade do processo e da rede de comunicação que ocorre na comunidade escolar, de modo a orientá-la, a fim de representar fenômenos sociais educacionais e produtivos. Conclui-se, portanto, que compete aos gestores escolares focalizarem essa fundamental área de ação educacional e expressão organizacional, de modo a dar-lhe maior e melhor direcionamento, assim como maior efetividade educacional. Elevar a comunicação como dimensão profissional do educador se evidencia como fundamental, quando se reconhece que a educação, conforme indicado por vários autores, dentre os quais Carl Rogers, anteriormente citado, é um processo de relacionamento interpessoal e de comunicação, sem os quais a educação não acontece. Isso porque a educação se realiza pela comunicação (considerada em seu sentido pleno) e pelo relacionamento interpessoal e pretende contribuir para a formação de alunos como seres de comunicação e relacionamento interpessoal, voltados para o desenvolvimento, em que, aliás, constitui a possibilidade de humanização.

Referências LÜCK, Heloísa. Gestão educacional: uma questão paradigmática. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. . Gestão do clima e cultura organizacional da escola. Petrópolis: Vozes, 2010. Patton, Bobby R.; Giffin, Kim. Interpersonal communication: basic text and readings. New York: Harper & Row, 1989. ROGERS, Carl. Tornar-se pessoa. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. ZIMRING, Fred. Carl Rogers. Recife: Fundação Joaquim Nabuco Editora Massanguana, 2010. (Coleção Educadores MEC)

Heloísa Lück Diretora educacional do CEDHAP — Centro do Desenvolvimento Humano Aplicado, em Curitiba, PR. Doutora em Educação pela Columbia University em Nova Iorque, com pós-doutorado em Pesquisa e Ensino Superior pela George Washington University, em Washington, D.C, atua como conferencista, palestrante e docente em congressos, seminários e cursos de capacitação de profissionais da educação para sistemas estaduais e municipais de ensino, além de ser autora de várias obras sobre educação.

março 2014

PAD-2014-1.indd 12

07/03/2014 13:45:07


AQUI TEMSALA DOMDE BOSCO AULA

13

O modo Criar-te de construir a educação Alessandra Soares Ramiro

No ano de 2011, a Escola Criar-te iniciou a parceria com o Sistema de Ensino Dom Bosco. A partir desse momento o trabalho pedagógico ganhou mais qualidade, aliando o ensino à tecnologia que o Sistema oferece. Em dois anos de trabalho, a escola obteve um crescimento de 90% no número de alunos, pois, além de acertamos na escolha do material pedagógico, organizamos também o sistema de gestão da escola, aprendendo no dia a dia com profissionais especializados. O Sistema Dom Bosco, dentro da proposta sociointeracionista, veio ao encontro do trabalho da escola, cujo objetivo é estimular a criança a construir conhecimento por meio de experiências vivenciadas e da interação com o meio e seus semelhantes. Um projeto recente, realizado no segundo semestre, entre outros, foi o Vida Caiçara. Por estarmos localizados em uma cidade do litoral norte de São Paulo, utilizamos os recursos que temos para dar vida aos conteúdos que deveriam ser trabalhados em cada idade, ou seja, fazer saltá-los das páginas do material.

O tema história da humanidade é bastante abstrato para crianças da educação infantil, pois dependendo da idade ainda não possuem noção de presente, passado e futuro. Para que a comunicação entre o aprendizado e os alunos fosse estabelecida, eles foram levados a fazer parte da história da cidade, visitando pontos históricos e mercados de peixe, conversando com artesãos da cidade e ouvindo histórias de pescadores de nossa região, que contaram como era a pesca antigamente. Além disso, aprenderam danças e a culinária de nossa cidade.

Revista PA D

PAD-2014-1.indd 13

07/03/2014 13:45:07


14

AQUI TEM DOM BOSCO Com base nessa vivência, iniciamos o trabalho de produções coletivas, em que as crianças, mesmo não sendo leitoras convencionais, puderam por meio das imagens se familiarizar com diversos tipos de textos, como receitas, músicas e brincadeiras infantis. Já os alunos do ensino fundamental realizaram uma visita monitorada à Aldeia Boa Vista, onde puderam conhecer a cultura indígena e seus costumes, complementando o projeto.

grande festa e exposição de todo material produzido por eles, além das danças e dos pratos para degustação. O que podemos observar no desenvolvimento desse projeto e de outros com os quais estamos trabalhando ao longo dos anos é que eles aprendem para vida quando podem vivenciar e experimentar na prática o conteúdo a ser aprendido e lhes é permitido construir, com suas experiências em grupo, respeitando a leitura de cada um. Quando é dada ao aluno a oportunidade de ver o conteúdo de vários ângulos, ele cria “arquivos de memória”, que o auxiliam na construção dos próximos saberes. Implantar o Sistema Dom Bosco, fazer parcerias com a empresa de gestão e sempre estar se atualizando com certeza agregaram valores e fortaleceram o trabalho que vem sendo realizado ao longo desses 17 anos, porém sem perder a identidade pedagógica de ser Criar-te.

Após a visita à aldeia e o uso de recursos tecnológicos em sala, como as lousas digitais, puderam realizar um tour virtual em outras aldeias do Brasil, e com explicação do professor, os alunos montaram grupos para produzirem aulas sobre o conteúdo. Um grande diferencial foi colocar o aluno no lugar do professor para dar aula. Essa construção em grupo consolidou o aprendizado. Os alunos da educação infantil, após realizarem estudos do meio e construções em grupo relacionadas ao contexto estudado, finalizaram o projeto com uma

Alessandra Soares Ramiro Atua em educação há 17 anos e é pedagoga formada pela Universidade Salgado de Oliveira, em Niterói, e especialista em Psicopedagogia, Matemática e Ciências. Colunista do jornal A Cidade, na área de Educação, é também diretora da Escola Criar-te há 16 anos.

março 2014

PAD-2014-1.indd 14

07/03/2014 13:45:08


AQUI TEM DOM BOSCO

15

O que há em comum entre o musical Os Saltimbancos e a construção da cidadania? Ivo Erthal

Faça essa pergunta aos alunos do 5o. ano do Centro Educacional Vicente Pelicioni (Cevip), em Cariacica, ES. A turma encontrou nesse musical infantil, de Sergio Bardotti e Luis Enríquez Bacalov, com versão em português de Chico Buarque, a forma ideal de apresentar suas conclusões sobre a prática cidadã.

Alunos do 5o. ano apresentando Os Saltimbancos, conduzidos com maestria pelo professor Wiliam Ferreira.

Sob a batuta de Cristiane Pelicioni, coordenadora de projetos do Cevip, alunos, professores, pedagogos, funcionários e pais, a cidade de Cariacica vivencia uma das mais ricas experiências em termos de literatura escolar: a Feira Intercolegial Estudantil do Livro (Fiel), projeto cujo eixo central é a leitura como ferramenta para a construção de conhecimento, permeado por questões sociais. Revista PA D

PAD-2014-1.indd 15

07/03/2014 13:45:09


16

AQUI TEM DOM BOSCO A versão 2013 da feira teve como tema Somos heróis na conquista da cidadania, escolhido em comum acordo entre coordenadores e professores, que se basearam nos conteúdos estudados em sala de aula.

Cristiane conduz o processo de forma colaborativa: o primeiro momento é um encontro para discussão com professores em torno do tema, juntando possibilidades de trabalho e livros paradidáticos que possam ser adotados para impulsionar o estudo do tema principal. O trabalho se inicia no primeiro semestre, com a leitura dos livros e discussão entre os alunos, e tem sua conclusão com a feira, em outubro. Com base nos livros, os principais pontos discutidos são transportados para a realidade local dos alunos e se transformam em estudos que resultam em trabalhos apresentados durante a feira. Como exemplo, pode-se citar o livro Parábola do Planeta Azul, de Fernando Carraro, que, entre outros assuntos, resultou num estudo cronológico sobre manifestações populares no Brasil. A Fiel é apenas o ponto alto de todo o processo que se inicia em sala de aula. Nesse caso, sendo cidadania um tema recorrente nos conteúdos do material didático Dom Bosco, inspira a construção de uma rede de estudo que extrapola todas as esferas físicas e conceituais de uma sala de aula. Apoiados pelos paradidáticos, os alunos mergulham no estudo da realidade. O caráter intercolegial da feiras e dá pela participação de outras escolas públicas e privadas da região, que comparecem como convidadas, visitando e vivenciando

as apresentações culturais e fazendo o trabalho dos alunos não ficar restrito ao âmbito físico da escola. Outro ponto que chama a atenção é a participação das famílias, a qual se dá em dois momentos importantes: quando recebem tarefas em que apoiam as pesquisas dos alunos nas proximidades de suas residências e no entorno comunitário e, depois, durante as apresentações. A metodologia persegue a linha de entendimento do microuniverso para compreensão do macro. As formas das fontes de estudo são as mais variadas possíveis: imagens, textos, entrevistas, observação, coleta de dados com fotografia. Todos os gêneros textuais são bem-vindos, inclusive durante as exposições dos trabalhos. O volume de participação externa se tornou tão grandioso que, atualmente, além da noite de abertura, a Fiel dura três dias, para comportar a participação das famílias (que se torna outro ponto de destaque na visitação), das escolas e dos moradores da região. O volume de trabalhos apresentados se transforma numa explosão de criatividade e difusão de conhecimento, que encanta a todos os participantes da feira. Entre todos os momentos de culminância, o mais esperado é a tarde de autógrafos dos alunos do 5o. ano, que tradicionalmente produzem e publicam um livro com histórias, poemas, crônicas e contos próprios. Como o projeto destina-se especificamente aos alunos do ensino fundamental 1, esse momento é considerado o ponto alto de tudo o que é vivenciado durante todos os anos em que os alunos participaram do projeto. Intitulado Contos e encantos, o livro está em sua sétima edição. Todos os textos e

março 2014

PAD-2014-1.indd 16

07/03/2014 13:45:09


AQUI TEM DOM BOSCO

17

imagens são de autoria dos alunos. De acordo com a diretora do Cevip, Iracy Pelicioni, “o maior benefício do projeto para os alunos é o entendimento do mundo pela leitura. A criança lê e produz a releitura para entender a realidade”. A pedagoga Vanessa Corteletti reforça: “O principal objetivo do projeto é o incentivo à leitura. O bom leitor torna-se bom escritor e comunicador de ideias.” O Cevip é conveniado Dom Bosco desde 2004, alcançando destaque por sua gestão administrativa e pedagógica por meio de seus mantenedores Aloir e Iracy Pelicioni, e reconhecido pelo alto índice de aprovação de seus alunos nos institutos federais.

Professor Max Rosan, diretor do Colégio Única Master.

Colégio Única Master, parceiro do Sistema Dom Bosco desde 2008, recebe prêmio de qualidade O Sebrae no Rio Grande do Norte entregou os troféus das empresas campeãs da etapa estadual do Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas — MPE Brasil 2013. A premiação é um incentivo às empresas de pequeno porte que apostam na utilização dos conceitos de gestão, excelência e qualidade para obter resultados positivos e mais competitividade no mercado. Neste ciclo, 1072 empresas do estado se inscreveram para receber o prêmio. As vencedoras representam o estado na etapa nacional. A diretora do Cevip Iracy, o consultor Ivo Erthal e a coordenadora de projetos Cristiane durante as apresentações da Fiel.

Veja mais: <http://www.rn.sebrae.com.br/noticia/sebraepremia-empresas-vencedoras-do-mpe-brasil/>.

Ivo Erthal Consultor pedagógico do Sistema de Ensino Dom Bosco, é graduado em História e Filosofia e especialista em formação de professores.

Revista PA D

PAD-2014-1.indd 17

07/03/2014 13:45:11


18

PAD ENTREVISTA

Tecnologias digitais e a aprendizagem colaborativa Marcus Garcia de Almeida

A aprendizagem colaborativa começa a popularizar-se mais na década de 90, embora a ideia de trabalhar e construir conhecimento em grupo data do séc. XVIII. O que cabe ressaltar nessa trajetória em relação ao momento atual no contexto da educação básica? Podemos considerar a maiêutica socrática, ainda no século V a.C., como o primeiro movimento nessa direção. Os pressupostos que norteiam o processo ensino-aprendizagem procuram acompanhar a evolução de cada sociedade e a elas são moldados na mesma medida que a relação comunidade-escola-aluno se desenvolve de forma consistente. Como todo desenvolvimento, esse pressupõe interação e coparticipação entre os agentes envolvidos. Há comunidades efetivamente preocupadas com o crescimento de seus alunos frente aos desafios que o mundo globalizado paulatinamente apresenta, mas há aquelas para as quais essa preocupação não faz parte da agenda. A aprendizagem colaborativa começa a aparecer na agenda de discussão justamente das comunidades que perceberam (e entenderam) que o aluno e o professor são agentes complementares do mesmo fim — a aprendizagem — e que a separação e o isolamento desses agentes em seus papéis não constitui uma abordagem propícia à evolução para um novo patamar do processo. Partir da premissa que “dar voz” ao aluno é fazer aprendizagem colaborativa é o começo de um grande equívoco pedagógico. Essa é apenas uma pequena parte de um objetivo muito mais amplo e complexo. O que deve nortear o comportamento e as ações dentro do contexto escolar é o PPP (projeto político pedagógico), e aí começa o erro. Copiar um PPP da escola A, a qual vinha aplicando com sucesso a aprendizagem colaborativa, numa escola B, que pretende começar a aplicar, tem tudo para não funcionar bem, justamente

por isso: trata-se de outra escola, inserida em outra realidade e vivendo sob uma lógica comunitária também diferente. Aí está o começo de tudo. Sem um trabalho sério, feito por gente competente para construir a seis mãos (comunidade-escola-aluno), o PPP não vai funcionar bem. Se a escola conduziu bem sua “lição de casa” junto à comunidade e aos alunos, os resultados aparecerão naturalmente. Na década de 70, a comunicação foi além dos espaços físico e temporal pelas vias da internet. A apropriação dos recursos da web acontece tendo em vista o processo comunicacional e a mente dos usuários. Na sua ótica, como esses recursos influenciam as mentes dos professores e alunos da educação básica? No final da década de 1960 e durante as décadas de 1970 e 1980, a rede que veio a ser conhecida mais tarde pelo apelido de internet tinha sua aplicação dedicada às comunicações militares que serviam de instrumento à Guerra Fria. No início dos anos 1990, nos EUA, e no final dos anos 1990, no Brasil, aquela rede foi aberta ao acesso chamado de comercial, o que permitiu a exploração e interligação de provedores de acesso e conteúdo em todo o mundo, e nesse momento sistemas de conectividade começaram a efetivamente fazer a diferença no processo de comunicação entre as pessoas. Finalmente a internet passou a ser considerada mídia, disputando espaço com a televisão, o cinema, o rádio, as revistas, os jornais e os folhetins. Empreendedores e visionários da tecnologia desenvolveram plataformas que permitiram o fenômeno das redes interligadas, redes sociais, blogs, vlogs, mecanismos de busca e portais, só para citar alguns.

março 2014

PAD-2014-1.indd 18

07/03/2014 13:45:11


PAD ENTREVISTA Foi natural que, ao permear a sociedade, isso influenciou seu comportamento e sua cultura, e daí a refletir-se na escola foi um passo muito rápido, mais rápido que a escola e seus agentes puderam absorver. A influência não foi apenas comportamental, foi atitudinal, social, comunicacional e cultural. Novas “tribos” se formaram, conceitos foram revistos, e os que nasceram no século XXI passaram a ser chamados de nativos digitais, ou seja, nasceram no século em que é possível dar à criança um gadget (nome dos aparelhos portáteis com múltiplas funções, que vão de reprodutor de músicas digitais até acesso a videoconferência e pagamentos eletrônicos, também chamados smartphones, tablets ou simplesmente mobile devices). Esse gadget passa a ser o brinquedo das crianças e, em pouco tempo, consome a maior parte de sua atenção, concentração e esforço. O problema está em achar que é preciso ter todo tipo de gadget mirabolante e seus aparatos para fazer aprendizagem colaborativa. Não, não precisa, e não é assim que funciona. É o contrário: o que se precisa é um PPP que oriente os objetivos de aplicação das tecnologias que existem e estão disponíveis. É necessário saber o que fazer. O como é a pedagogia que dirá. Não dá para sair fazendo, usando e testando e querer que funcione bem. Não vai funcionar bem. Qual a relação que você vê entre o advento das tecnologias digitais e a aprendizagem colaborativa? A tecnologia digital é apenas e somente uma ferramenta a ser considerada e que pode ser aplicada para dar aderência (guardados os aspectos cultural, de acessibilidade e de possibilidade econômica dos partícipes) às práticas comunicacionais já aplicadas em dada realidade. A tecnologia digital não define tão pouco estabelece por si a aprendizagem colaborativa, é a aprendizagem colaborativa que, por meio de seus pressupostos metodológicos, sua orientação pedagógica e sua aderência a cada realidade local, lançará mão do que for mais adequado. Quais elementos indicadores qualificam a aprendizagem colaborativa com uso das mídias? As mídias que melhor se enquadram para aplicação na aprendizagem colaborativa são aquelas que possibilitam ao partícipe observar a contribuição dos demais

19

participantes, sem perder de vista a própria contribuição. Não se trata apenas de compartilhar o espaço (real ou virtual), mas de poder contribuir e receber contribuições (chamadas interferências) de forma tal que o complemento dos saberes ocorra naturalmente. Nesse sentido, ao aplicar a estratégia de projetos, pratica-se a colaboração na medida em que o responsável pelo resultado final é o grupo, mas cada integrante tem responsabilidades individuais, compartilhadas com os pares ao longo do projeto. Nesse caso, o docente assume um papel de facilitador, apoiando os grupos no encaminhamento de sua construção. A construção de texto informativo, cujo ponto de partida é um evento histórico ou social (fato ocorrido na escola, por exemplo), pode utilizar fotografia, sonora (fragmento de áudio gravado), take (fragmento de vídeo gravado) e elemento de construção textual, produzidos em colaboração. Os indicadores mais importantes, considerando a colaboração como estratégia, são, pela ordem do ponto de vista do estudante, • a possibilidade de tangibilizar o que se pretende construir, ou seja, existe no mundo real e é reconhecido pelo estudante; • a adequação social e cultural, ou seja, faz parte da realidade local dos estudantes; • o enquadramento de conteúdo, ou seja, estabelece relação direta ou indireta com os temas de formação definidos no PPP; • o conhecimento da linguagem e a disponibilidade da mídia a ser aplicada. Como introduzir práticas voltadas para aprendizagem colaborativa no contexto da sala de aula? Por meio de um PPP que considere verdadeiramente a relação comunidade-escola-aluno como ponto de partida para estabelecer sua orientação à condução pedagogicamente correta do processo ensino-aprendizagem. Na sala de aula os papéis de professor e aluno se complementam, justapõem e coadunam. Os recursos que vão fomentar como ferramenta de apoio o processo são irrelevantes nesse contexto. Pode ser uma lousa digital, um portal de construção simultânea de textos, um fórum de discussão multidisciplinar, uma caixa de e-mail compartilhada ou um simples rolo de papel pardo compartilhado com grupos de trabalho ou de estudo. Revista PA D

PAD-2014-1.indd 19

07/03/2014 13:45:11


20

PAD ENTREVISTA Como você descreveria a metodologia para o uso das tecnologias digitais, redes sociais, entre outros, para a escola? O estímulo à interação social, independente do meio pelo qual seja realizada, não pressupõe a colaboração. Para que a construção da aprendizagem se dê colaborativamente, o uso da interação social é um dos componentes. Um equívoco comum aqui é pressupor que, ao disponibilizar aos estudantes os recursos e se valer de meios de interação social, se está praticando a aprendizagem colaborativa. Ao aplicar as ferramentas de interação bilateral e multilateral, como as redes sociais possibilitam, é possível estabelecer uma plataforma para registro de saberes individuais que podem fundamentar a aprendizagem colaborativa, mas ela só será efetiva se tiver por fundamento uma direção e um sentido orientados pelo PPP. Gostaríamos que compartilhasse conosco uma experiência que tenha acompanhado com o uso das mídias para uma aprendizagem colaborativa. Anualmente acontece o evento internacional Enetec (Encontro Nacional de Educação Tecnológica), que promove os projetos de aprendizagem colaborativa mais bem-sucedidos realizados em escolas usuárias da plataforma de produção multimídia brasileira, o Visual Class. Professores e alunos dos ensinos fundamental e médio apresentam seus projetos e como eles foram construídos. Este ano o concurso chega à sua décima edição com foco nos alunos do ensino fundamental. As escolas aplicam a ferramenta de produção multimídia e com ela constroem projetos multidisciplinares que movimentam a dedicação de toda a escola. A pedagogia de projetos está na base dessa iniciativa. Nesse contexto, como você identifica as diversas práticas para uma aprendizagem colaborativa no cotidiano das escolas brasileiras?

Não identifico. Estamos longe disso. Estou buscando (e também esperando) que alguém me mostre algo realmente aderente a isso e que possa ser usado como referência: do PPP à práxis pedagógica. Que estratégias os gestores escolares podem adotar a fim de professores e alunos se educarem para esse tempo? Penso que o papel do gestor é proporcionar os meios para que a escola funcione como o grande agente de transformação. Em última instância, é ela, a comunidade escolar, que precisa fazer o grande trabalho de construção que viabilizará aplicar, de forma correta em sua realidade, os pressupostos da aprendizagem colaborativa. Qual sua sugestão para que videoconferências, conferencecalls, chats, entre outras mídias, deem oportunidade para que a aprendizagem colaborativa seja real e efetiva? Como já abordado nas respostas às terceira e quarta perguntas, o que será aplicado como instrumento não é relevante. A oportunidade para aplicação efetiva e real dos meios não vem da tecnologia, mas do encaminhamento pedagógico e metodológico derivado de um PPP coerente a cada realidade local. Que sugestões você pode elencar para que a escola mantenha o espaço de formação continuada com seu grupo de professores voltada à aprendizagem colaborativa? Uma vez que o encaminhamento pedagógico e metodológico esteja definido com base no PPP, faz parte do papel do pedagogo zelar pela manutenção e formação continuada do seu corpo docente, devidamente chancelado pela comunidade escolar. Não dá para começar um trabalho tão importante e revolucionário partindo de bases equivocadas.

Marcus Garcia de Almeida Mestre em Ciência, Gestão e Tecnologia da Informação pela Universidade Federal do Paraná, é especialista em Gestão do Conhecimento pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná e graduado em Pedagogia pela Universidade Tuiuti do Paraná. Escritor, palestrante, professor e consultor, trabalha com Tecnologia da Informação desde 1988. Experiente na área de Tecnologia da Informação e da Comunicação, é autor de 17 livros publicados nas áreas de Educação e Tecnologia da Informação.

março 2014

PAD-2014-1.indd 20

07/03/2014 13:45:11


TECNOLOGIAS

21

Ambiente virtual de aprendizagem — Moodle Silvano Silva

As tecnologias são “pontes” que podem abrir a sala de aula para o mundo, possibilitando melhor apreensão da realidade e desenvolvimento de potencialidades do educando e dos diferentes tipos de inteligência, habilidades e atitudes. A educação precisa estar ligada às Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) para acompanhar

as constantes mudanças num mundo cada vez mais conectado e tecnológico, as quais há muito vêm sendo sinalizadas numa interação entre a sala de aula e as novas tecnologias. Entre as novas tecnologias, o uso de ambientes virtuais de aprendizagem pode ser um recurso educacional que possibilita maior socialização de informação e do conhecimento. Segundo pesquisa

Revista PA D

PAD-2014-1.indd 21

07/03/2014 13:45:14


22

TECNOLOGIAS do Ibope Nielsen Online, em 2011 o acesso à internet no Brasil atingiu 77,8 milhões de pessoas no segundo trimestre de 2011. A crescente evolução da tecnologia computacional e das telecomunicações pode oferecer um acesso à internet mais rápido e abrangente. Tal crescimento pode possibilitar um uso mais adequado da rede na educação com a utilização de ambientes virtuais de aprendizagens (AVA) e seus recursos, como chats e fóruns de discussão, de modo a oferecer melhor interação entre educadores e educandos. Constatamos que os alunos, apesar dos acessos facilitados à internet, utilizam muito pouco esses ambientes para estudar e aprender. A utilização de um ambiente virtual de ensino-aprendizagem (Avea), como o Moodle, segundo Flores et al (2008 apud LISBÔA et al, 2009), marca um novo modelo de aprendizagem que ultrapassa o ensino tradicional, reorientando-se para o construtivismo social ao promover um espaço de colaboração on-line e permitindo a construção coletiva do conhecimento, pelas oportunidades de partilha, comunicação, interação e promoção da autonomia. A aplicação do Avea Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment (Moodle), caracterizado como tecnologia educacional livre em rede, na disciplina de Física do ensino médio, tem proporcionado conhecimento e apropriação de formas de ensinar/ aprender de maneira colaborativa e em rede. Uma das grandes vantagens do uso do Moodle é a possibilidade

de o(a) professor(a) pensar seu planejamento a médio e longo prazo, sobretudo com o auxílio das suas ferramentas de aprendizagem, num acompanhamento contínuo e qualitativo das atividades dos alunos, fornecendo uma autoavaliação de seu processo educacional. O Moodle está disponível em 75 idiomas e conta com 25 000 websites registrados, em 175 países. A plataforma permite transmitir e organizar os conteúdos de materiais de apoio às aulas, facilitando a comunicação (síncrona ou assíncrona), o que possibilita contribuir para um padrão superior, quer no ensino presencial quer no ensino a distância. Além disso, torna possível a criação de materiais estáticos: páginas de texto, páginas de texto web, links para sites, vídeos etc., e materiais dinâmicos: chats, fóruns, questionários com perguntas de diversos tipos (múltipla escolha, verdadeiro ou falso, resposta curta, comparação). Entre outros recursos, o Moodle ainda possibilita programar o recebimento de trabalhos individuais e/ou em grupo, além de oferecer um canal permanente de comunicação síncrona ou assíncrona entre professores e alunos. Por fim, constatamos que no contexto da experiência vivenciada há vários anos, sobretudo com alunos da disciplina de Física no ensino médio do Colégio Batista Betânia, em Gravatá, PE, o Moodle apresenta-se como um ambiente muito rico em possibilidades pedagógicas, oferecendo aos alunos aprendizagem colaborativa com uso de recursos multimídia e em sintonia com as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC).

Silvano Silva Mestre em Educação Matemática e Tecnológica pela UFPE e especialista em Informática Educativa pela UFLA, MG, é graduado em Licenciatura em Ciências, Habilitação Matemática. Professor (Física, Tecnologia e Matemática), coordenador e técnico em informática e manutenção de computadores, desenvolve pesquisas em softwares educacionais livres (Linux) e proprietários. Site: <www.silvanosilva.pro.br>.

março 2014

PAD-2014-1.indd 22

07/03/2014 13:45:14


QUESTÕES & SOLUÇÕES

23

Contribuição de atividades lúdicas no processo ensino-aprendizagem Sandra Aparecida de Souza

A escola de educação infantil Clube do Mickey iniciou suas atividades há 22 anos, baseada nos princípios de seriedade, competência e dedicação e visando à formação do sujeito crítico e atuante no meio em que está inserido. Sempre desenvolvendo atividades voltadas para o crescimento do aluno como um todo, considerando suas vivências e compartilhando-as com seus familiares. O resultado desse trabalho são seis unidades — cinco de educação infantil e uma de ensino fundamental 1 e 2. Faz-se necessário pontuar que esse trabalho — visando estimular o aluno à reflexão, construir um sujeito autônomo e envolver a família e a sociedade, além de ressaltar a importância do vínculo entre educador, aluno e família e a eficácia do papel da escola nesse sentido — é um aspecto essencial no ambiente escolar. O modo Clube do Mickey de trabalhar Ao iniciar a vida escolar de seus filhos, surgem, com o prazer das descobertas, a alegria das realizações e outras infinitas emoções que motivam a relação entre escola e família, preocupações, ansiedades e expectativas por parte dos pais. A maior fonte de tais emoções tem sua origem nas dúvidas que surgem em relação à aprendizagem ou ao desenvolvimento da aprendizagem dos filhos. Esse processo envolve muitos fatores e, em muitos casos, trata-se de um universo desconhecido. Nas séries iniciais, é comum o sentimento de angústia, especialmente no que se refere à

alfabetização. Atualmente, tal questão se faz mais presente em virtude da “lei dos 9 anos”, uma vez que alunos de 6 anos estão cursando o 1o. ano do ensino fundamental. É comum nos depararmos, nos atendimentos realizados, com pais perguntando: “Meu filho será alfabetizado? Quando conseguirá ler? Vai escrever? Apresentará dificuldades ao longo do ensino fundamental 1?”. A resposta para tantas indagações rapidamente é dada pelo Sistema de Ensino Dom Bosco, cujo material didático e metodologia propiciam mecanismos de desenvolvimento de leitura e escrita sem dificuldades ao educando, ou seja, o processo de aprendizagem acontece naturalmente, de modo sereno, pois o aluno aprende enquanto interage com amigos, objetos e ambiente em que está inserido. Diante dessa condição, faz-se necessário a intervenção da escola, ambiente rico e acolhedor. Não basta conhecer o alfabeto para ser alfabetizado. O processo de leitura e escrita é muito mais complexo. É nas séries iniciais que o indivíduo manifesta diferentes sensações, conhece variedades de valores, atitudes, conceitos e ideias. O contato com mundo letrado acontece mesmo antes do ingresso na escola, porém é no ambiente escolar que a criança passa de fato a ter contato com a leitura e escrita, permitindo ler o mundo de forma diferente, bem como as palavras, pois é a partir daí que o mundo ganha forma e se constrói uma aprendizagem significativa. Revista PA D

PAD-2014-1.indd 23

07/03/2014 13:45:14


24

QUESTÕES & SOLUÇÕES Ressaltamos a importância do lúdico, buscando aproximar as famílias dos processos de alfabetização das crianças para minimizar as angústias que se apresentam, enquanto ensinamos e salientamos que ter Dom é aprender ao mesmo tempo em que se brinca. Com base nesse princípio, elaboramos o Soletrando, competição de soletrar, o qual considera regras e outras peculiaridades da língua portuguesa. Além de fazer os alunos ampliarem o vocabulário, compreender o sentido das palavras e escrever de acordo com o sistema ortográfico vigente, o concurso incentiva a escrita, afinal, ela faz parte da vida de todos nós, desde a leitura por meio de símbolos. A aprendizagem e o desenvolvimento não entram em contato pela primeira vez na idade escolar, mas estão ligados entre si desde os primeiros dias de vida da criança. Vygotsky (1998, p. 110) O passo a passo do projeto Soletrando Seu ponto de partida deu-se por meio da construção de banco de palavras. Essa atividade, por sua vez, ocorreu tranquilamente durante as aulas de diversas disciplinas, ou seja, conforme os conteúdos e atividades de cada disciplina — ciências, matemática, história, geografia, música, língua portuguesa etc —, era possível extrair algumas palavras que compunham o banco de palavras, e assim sucessivamente, sempre respeitando a faixa etária do aluno, ou seja, levando em conta o grau de dificuldade para cada turma, um conjunto de termos foi selecionado. A participação dos pais foi intensa durante a realização do projeto, por meio das lições de casa, que envolviam pesquisa dos sinônimos das palavras, sua aplicação numa frase, bingo das palavras, entre outras atividades. Nosso trabalho não se restringiu ao conteúdo formal — domínio de vocabulário —, mas envolveu também a formação de atitudes e valores. Realizamos atividades lúdicas nas aulas de informática, dança, música, educação física, entre outras. Diante dessas vivências, os alunos exercitaram o ganhar, o perder, o competir, o respeitar às regras e a sensação de estarem preparados para o desafio do projeto Soletrando. As competições aconteceram de tal modo que, após três etapas, se formou um conjunto de finalistas. Todos os alunos conheceram os finalistas e a torcida foi intensa por um ou outro candidato. A grande final

os colocou para competir, sendo avaliados por jurados conceituados, tais como consultores do Sistema de Ensino Dom Bosco, reitores de universidades e especialistas na área de linguagens e códigos sem qualquer relação com os membros do colégio. A premiação aconteceu no dia da grande final, diante dos alunos e da equipe escolar, o que fortaleceu o papel do professor como mediador da aprendizagem. Essa edição do projeto Soletrando possibilitou, mais uma vez, o vínculo entre família, sociedade, alunos e professores, todos com o mesmo objetivo, ou seja, visando contribuir de modo efetivo para questão que assombra e desperta insegurança em muitos pais. A escola precisa, além de apresentar aos alunos todas as regras e os conteúdos pedagógicos de forma abrangente e inovadora, prepará-los para viver nesta sociedade tão diversificada, na qual cada vez mais está acentuada a presença das redes sociais, nos influenciando com vícios ortográficos e nos distanciando da grafia correta. Contudo, cabe ao educador proporcionar e disponibilizar aos educandos ferramentas que possam contribuir nesse processo de modo eficaz e prazeroso. Sandra Aparecida de Souza Formada em Pedagogia e especializada em Psicopedagogia, é coordenadora pedagógica na Escola Clube do Mickey/Colégio Dom Bosco desde 1996.

março 2014

PAD-2014-1.indd 24

07/03/2014 13:45:14


BACKSTAGE DA CONSULTORIA

25

Backstage da consultoria

Guarantã do Norte, MT, recebe o consultor Antonio Lima O Colégio Inovação recebeu os pais dos alunos para uma palestra sobre as novas soluções adotadas para potencializar a aprendizagem dos discentes: o programa Leitura e Companhia (jornal e literário) e a plataforma de jogos matemáticos Mangahigh, evidenciando a importância do uso das tecnologias como aliada ao processo educacional, tanto para alunos quanto para professores, e orientando as famílias para o melhor uso de tais tecnologias.

Cristiane Braga e as crianças do Colégio Companhia da Criança, São Mateus do Sul, SC Alunos dos 4o. e 5o. anos exercitaram a matemática com o uso do Mangahigh e adoraram! O uso de jogos em atividades escolares apresenta-se como ferramenta para potencializar o aprendizado e a avaliação dos alunos. A gamificação é a grande tendência tecnológica para a área educacional.

Colégio Rosalvo Ribeiro — Maceió, AL O consultor Antonio Viveiros realizou a formação do programa matemático Mangahigh com as professoras do ensino fundamental 1 desta instituição. Foi um momento ímpar para a equipe do Colégio Rosalvo Ribeiro. As educadoras ficaram supermotivadas e ansiosas para iniciar o uso de jogos matemáticos com seus alunos para o desenvolvimento de habilidades matemáticas.

Revista PA D

PAD-2014-1.indd 25

07/03/2014 13:45:16


26

BACKSTAGE DA CONSULTORIA

Escola Terra do Saber — Palotina, PR A Escola Terra do Saber, nova parceira do Sistema de Ensino Dom Bosco, recebeu a consultora Lucimar Torres para a implantação do material didático. Presentes: Candice Zanin, Rafaela Favoreto, Karine Rizzardi e equipe de professoras.

Antonio Lima e professores em Anápolis, GO Colégio Átrium com professores da educação infantil. Foi realizada uma oficina resgatando brincadeiras infantis e analisando uma a uma suas finalidades pedagógicas, auxiliando a motricidade, a coordenação motora, o equilíbrio, a cognição, a noção de grupo, a lateralidade, a interação com colegas, entre outras habilidades.

Homenagem ao prof. Proença O consultor prof. Antonio Carlos Proença recebeu uma homenagem da equipe docente do Colégio Luanda, localizado na cidade de mesmo nome no Paraná. As emoções foram intensas, especialmente por conta da presença de ex-alunos do homenageado.

março 2014

PAD-2014-1.indd 26

07/03/2014 13:45:17


SALA DE AULA

27

Laboratório do ar — aprender ciência com a colaboração de todos Dulcelene Good dos Santos

Após estudo de um capítulo sobre o ar e como sugestão do material didático, os alunos do 3o. ano do ensino fundamental 1 do Colégio Mafrense, situado em Mafra, SC, foram em busca de novos experimentos para construir o Laboratório do ar. A iniciativa foi tomada porque surgiu um grande interesse dos alunos em pesquisar outros experimentos que comprovassem a existência do ar. Para essa pesquisa, o auxílio e a parceria dos pais foram de grande importância para as crianças. Com a turma, foi planejado o dia em que os experimentos seriam socializados. Cada aluno realizou sua demonstração e compartilhou seu conhecimento e sua pesquisa. Após cada demonstração, eram questionados sobre o experimento pelo professor e pelos colegas. Nesses momentos, foi possível observar que realmente estudaram o conteúdo pesquisado e testaram previamente em casa sua experiência. Com base no Laboratório do ar, os alunos constataram, de forma científica, que todos os seres vivos

dependem do ar para sobreviver e que em contato com o ar aperfeiçoam modos de sobrevivência e de relações com o ambiente. As definições são o ponto de chegada do processo de ensino, aquilo que se pretende que o aluno compreenda ao longo de suas investigações. Os experimentos têm como principais objetivos despertar a curiosidade dos alunos para a compreensão dos fenômenos científicos, desenvolver a habilidade da observação e da realização de procedimentos práticos necessários ao trabalho investigativo, promover o levantamento de hipóteses e enfatizar a importância do registro do relatório. As demonstrações foram fotografadas, e a turma elaborou um livro contendo relatórios descritivos sobre o conhecimento adquirido sobre o ar. O laboratório cumpriu sua função de ampliar o aprendizado obtido pelos alunos durante a realização do experimento e despertou a motivação para os registros, ou seja, a função da leitura e da escrita num processo real de letramento.

Revista PA D

PAD-2014-1.indd 27

07/03/2014 13:45:17


28

SALA DE AULA

Dulcelene Good dos Santos Pedagoga, especialista em educação infantil e séries inicias do ensino fundamental, professora há 14 anos no Colégio Mafrense, atualmente é responsável pelo 3o. ano do ensino fundamental 1.

março 2014

PAD-2014-1.indd 28

07/03/2014 13:45:18


SALA DE LEITURA

29

Sala de leitura

KENsKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias. O novo ritmo da informação. Papirus Editora. A autora aborda as relações que sempre existiram entre a educação e as tecnologias. De forma abrangente, simples e esclarecedora, ela reflete sobre os grandes avanços que as tecnologias podem oferecer à educação. No capítulo 5, o enfoque está na sala de aula como ambientes virtuais de aprendizagem, tendência cada vez mais marcante no contexto de transformação das escolas. A obra conta ainda a longa história de relacionamentos entre os vários tempos da sociedade, os avanços tecnológicos sucessivos e seus reflexos na educação.

CONSANI, Marciel. Como usar o rádio na sala de aula. Editora Contexto. Como introduzir o rádio de forma adequada nos projetos pedagógicos das instituições de ensino? Esta obra, dinâmica e concisa, pensada e desenvolvida para professores, apresenta ao educador, de forma simples e objetiva, a linguagem radiofônica como recurso pedagógico. Ricamente ilustrado, com dicas de exercícios organizadas por modalidade e com indicação de grau de complexidade, Como usar o rádio na sala de aula amplia o repertório de referências teóricas e atividades práticas de professores e agentes culturais. Fundamental para todos os profissionais comprometidos com a transformação da sociedade por meio da educação.

Revista PA D

PAD-2014-1.indd 29

07/03/2014 13:45:19


30

SALA DE LEITURA

SETTON, Maria da Graça. Mídia e educação. Editora Contexto. Para o bem ou para o mal, as mídias estão presentes em nossas vidas de forma cada vez mais precoce e cada vez mais forte. Com os avanços da tecnologia e das técnicas de comunicação, com a sofisticação da publicidade e de um estilo de vida em que o consumo tem um papel preponderante, os meios de comunicação de massa assumem expressiva importância. É preciso, pois, estar preparado para a compreensão e análise desse fenômeno, que diz respeito a todos. É momento de refletir sobre o papel pedagógico e muitas vezes ideológico das mídias. Este livro convida o leitor a essa reflexão, a ver as mídias como espaços educativos, responsáveis pela produção de uma série de informações e valores que ajudam os indivíduos a organizarem suas vidas e suas ideias. Para aqueles que têm familiaridade com as mídias, a obra estimula o debate; para os novatos, é um convite a fazer uma imersão nesse amplo, diverso e instigante campo de investigação. Assim, a obra é fortemente recomendada para estudantes e professores nas áreas de educação e comunicação.

Liga, roda, clica. Estudos em mídia, cultura e infância. Papirus Editora. Esta coletânea de artigos organizados por Gilka Girardello e Monica Fantin traz em sua apresentação uma analogia muito interessante. Nela a vida das crianças de hoje foi comparada a um “matagal cheio de novos desafios, que não se pode atravessar seguindo apenas as antigas estradas. Não há mapas nem placas que garantam as direções, já que os mapas existentes se referem a um tempo muito diferente, quando não havia internet nem celulares, nem a pulverização das formas culturais que povoam o cotidiano das crianças de hoje”. Os artigos apresentam as trajetórias de pesquisas que, apesar de abordarem temas distintos, têm o compromisso comum de promover uma educação que dialogue de forma mais clara e aberta com a cultura e o intenso entorno comunicativo de crianças, jovens e adultos.

Tecnologias no ensino de matemática. Editora IBPEX. Emerson Rolkouski apresenta um conjunto de reflexões sobre a relação do ensino da matemática e as tecnológicas digitais. Na primeira parte, um panorama da informática educativa no Brasil permite identificar as etapas do processo de inclusão das tecnologias de informação e comunicação nos sistemas de ensino, tanto público quanto privado. Na segunda parte, o aspecto mais interessante está ligado à relação entre o construtivismo e a educação matemática. Abrindo uma série de reflexões sobre a atual condição do ensino da matemática, a terceira parte do livro apresenta o vínculo entre coletivo pensante e reorganização do pensamento. Por fim, a abordagem dos ambientes virtuais de aprendizagem (webquests, blogs e chats) apoia o docente no desenvolvimento de estratégias de interação com o uso de tais recursos. março 2014

PAD-2014-1.indd 30

07/03/2014 13:45:19


PAD-2014-1.indd 31

07/03/2014 13:45:20


PAD-2014-1.indd 32

07/03/2014 13:45:21


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.