RLM nº 28
Você às vezes nem percebe como é importante
GENTE DESIGN ESTILO IDEIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA
viver com segurança.
ano 7 número 28
Camila Pitanga Bom momento na televisão, estreia nos cinemas e planos para um ano inteiro de dedicação ao teatro
Leal Moreira
Azulejaria Claudia Jaguaribe Edyr Augusto Istambul Música Ophir Cavalcante
Em um Leal Moreira sua visĂŁo de mundo ĂŠ sempre mais bonita.
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editorial Caro leitor, O mundo está cada vez mais competitivo. Não há novidade nisso. A cobrança por desempenho e eficiência, principalmente nas relações profissionais, joga nas costas das novas gerações a responsabilidade de se superar a cada estação. Estar antenado se transformou num imperativo e preparar os mais jovens para a “vida” virou uma preocupação ainda mais precoce para pais e educadores, muitas vezes atropelados pela enxurrada de informações a serem processadas, em tempo real, nesse admirável mundo novo. Muitos se perguntam o quê, dentro deste contexto, é o melhor a ser feito. As respostas são muitas, e algumas delas passam pelo investimento qualificado no desenvolvimento afetivo-social de nossas crianças. Criança feliz aprende mais rápido, isso qualquer especialista pode atestar. Relacionando-se melhor com seu entorno, nossos pequenos estarão mais aptos a entender o universo à sua volta e, provavelmente, transformarão-se em adultos mais habilidosos para lidar com as dificuldades que a existência apresente. Uma das reportagens desta edição da Revista Leal Moreira trata exatamente disso. No que o ensino de arte (música em particular) favorece o desenvolvimento emocional e cognitivo dos pequenos? Especialistas e pais prestaram depoimentos sobre a importância de expor a meninada à influência positiva de melodias e acordes, apresentando informações que confirmam os benefícios da arte para a formação dos pequenos cidadãos. Na entrevista que ilustra nossa capa, batemos um papo com Camila Pitanga. Desde os seis anos à frente das câmeras, a atriz vive um dos melhores momentos da carreira. Protagonista no horário nobre, com estreia marcada no cinema e planos para se dedicar com mais afinco ao teatro, Camila nos brindou com sua simpatia e inteligência numa conversa em que abordou temas que vão da família à relação com o Pará - o filme mais recente em que atuou, “Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios”, teve partes filmadas em Santarém. Também neste número, traçamos um perfil de Ophir Cavalcante, atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que abordou, entre outros assuntos, a importância da entidade para um melhor funcionamento das instituições democráticas no país. A obra inovadora da artista visual Cláudia Jaguaribe; um retrato da cosmopolita Istambul; o requinte discreto da azulejaria; o design sustentável, além dos textos de nossos tradicionais colaboradores, você acompanha a partir de agora na Revista Leal Moreira. Abraços e boa leitura André Moreira
expediente Representante comercial | Rede Holms
Revista Leal Moreira
João Balbi, 167. Belém - Pará f: [91] 4005-6800 www.lealmoreira.com.br Construtora Leal Moreira Diretor Presidente: Carlos Moreira Diretor Financeiro: João Carlos Leal Moreira Diretor de Novos Negócios: Maurício Moreira Diretor de Marketing: André Leal Moreira Diretor Executivo: Paulo Fernando Machado Diretor Técnico: José Antonio Rei Moreira Gerente Financeiro: Dayse Ana Batista Santos Gerente de Marketing: Ana Paula Guedes Gerente de Clientividade: Murilo Nascimento
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Gráfica Santa Marta Tiragem 12 mil exemplares Comercial Belém Giovanni Mileo F. 55 91 3221-6870 gio@door.net.br
Fale conosco: (91) 3321-6869 editorapublicarte@gmail.com Revista Leal Moreira é uma publicação trimestral da Publicarte Editora para a Construtora Leal Moreira. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem autorização.
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Rio de Janeiro S達o Paulo N e w Yo r k Miami Milano Roma To k y o
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índice
Bom momento na televisão, estreia nos cinemas e planos para um ano inteiro de dedicação ao teatro
Azulejaria Claudia Jaguaribe Edyr Augusto Istambul Música Ophir Cavalcante
entrevista
Camila Pitanga
Camila Pitanga chega aos 34 anos em ótima fase. Protagonista de novela das oito, prestes a chegar aos cinemas com mais um filme e com planos para o teatro, a atriz bateu um papo com a Revista Leal Moreira sobre a vida dentro e fora das telas.
comportamento
ano 7 número 28
Já foi comprovado que a música auxilia no processo de socialização e no desenvolvimento cognitivo da criançada. Então, que tal dar aquele empurrãozinho para que a meninada aprenda, desde a mais tenra idade, as benesses que melodias e acordes podem proporcionar?
Nas últimas décadas, Claudia Jaguaribe escreveu seu nome na história das artes visuais brasileiras com um trabalho que une criatividade e inquietação na medida certa. Aos 55 anos, a carioca busca no novo a inspiração para “seguir olhando para frente”.
galeria
Com mais de 12 milhões de habitantes e riqueza cultural de dar inveja às maiores metrópoles do planeta, Istambul, na Turquia, conquista turistas com sua modernidade e a sensação que dá aos visitantes de experimentar épocas distintas da história. Conheça um pouco mais sobre a “Pérola do Bósforo”.
destino
capa Camila Pitanga Fotografado por Nuncia Ciuro
perfil Trabalho, trabalho e trabalho. Assim poderia ser resumida a rotina de Ophir Cavalcante Júnior, paraense que desde o ano passado ocupa um dos cargos mais importantes do país: o de presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). De passagem por Belém, ele falou à RLM sobre família, trabalho e Belém. Confira.
dicas
pg 12
Edyr Proença
pg 24
Celso Eluan
pg 32
confraria
pg 42
decor
tech
pg 54
Dos mosaicos bizantinos às pastilhas cerâmicas, pelas mãos dos artistas visuais ou profissionais da arquitetura, os azulejos estão presentes na história da humanidade há milênios, guarnecendo não só paredes, mas também a memória afetiva das pessoas.
horas vagas
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tech
pg 78
enquanto isso
pg 84
design
gourmet
pg 86
Sustentabilidade virou palavra de ordem. E os profissionais de design têm se esforçado para, cada vez mais, aplicar este novo conceito em seus projetos. Confira o trabalho de quatro designers paraenses que, após oito meses estudando na Itália, voltaram dispostos a renovar a produção moveleira local.
vinho
pg 92
institucional
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sex & sábado
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www.revistalealmoreira.com.br
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belém
Eti Mariqueti
Bolo de brigadeiro, casadinho e outras guloseimas com o toque especial do sabor caseiro é na Eti Mariqueti. Um ambiente aconchegante, ideal para a hora do café da manhã e para um fim de tarde com os amigos. No menu, os mais variados tipos de doces, tortas e bolos. No comando da cozinha estão as proprietárias do local, Mariucha Martins e Eleite Santos que preparam, de forma peculiar, receitas próprias e exclusivas. Avenida Braz de Aguiar, 581 • entre Quintino Bocaiúva e Rui Barbosa, Nazaré • (91) 3230.4673
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Disco
Travessa Gaspar Viana, 1259, Reduto • (91) 3212.2004
Moderna e sofisticada, a D.I.S.C.O Factory é a boate, em Belém, para quem procura diversão e boa música. Decoração ousada, ambiente confortável e seguro, além do atendimento de primeira fazem do local a preferência dos paraenses baladeiros. Quem comanda as festas são os DJs Kleber Barros, Fábio Yamada e Paulinho Fidalgo, sempre to-
cando os mais variados e atuais sets na pista de dança. A D.I.S.C.O conta com modernos sistemas de som e efeitos de luz diferenciados para deixar a noite ainda mais atraente. Aberto uma vez por semana, o clube é exclusivo e reúne um público bastante selecionado. Ótima pedida para uma noite divertida e inesquecível!
Chang Sushi
O Chang Sushi e Lounge oferece experiências gastronômicas únicas com um cardápio irreverente e inovador. Um exemplo é o Shake Chang, dupla de sushis de salmão com top de chantilly de shoyu kikkoman, ovas de peixe voador e flor de sal. A carta de drinks internacionais, de alta qualidade, é assinada pelo barman Leonardo Cals. Arquitetura moderna e sofisticada do local ressalta o ambiente confortável e agradável. Em Belém, ótima opção para a degustação da cozinha japonesa!
Avenida Generalíssimo Deodoro, 1451, Nazaré • (91) 3222.3794
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brasil
Aprazível No bucólico e histórico bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, está localizado o restaurante Aprazível. Um lugar aconchegante que combina charme e requinte com a suavidade da natureza. Com vista para o centro carioca e a Baía de Guanabara, o ambiente é favorável para um bate-papo com amigos e até mesmo um romântico jantar a dois. A culinária brasileira, sempre servida com novidades e toques de criatividade, é um dos pontos fortes do restaurante, que faz sucesso entre os estrangeiros. Ano passado, quem apreciou o local foi a cantora americana Madonna. Um inesquecível reduto de gastronomia!
Rua Aprazível, 62 • Santa Teresa • (21) 2508.9174 • www.aprazivel.com.br
Buddah Bar A essência oriental aliada a um toque brasileiro faz do restaurante Buddah Bar São Paulo, localizado na Villa Daslu, referência de alta gastronomia na capital paulista. A decoração charmosa do local é inspirada na matriz parisiense e traz o ar contemporâneo e intimista das outras casas espalhadas pelo mundo, como Paris, Londres, Dubai, Beyrute, Cairo e Las Vegas. No cardápio, ousadia: a culinária do oriente tem um toque especial da cozinha do Ocidente. Os pratos traduzem o mais exótico deleite da “cuisine fusion”, a fusão das cozinhas asiática e francesa, e são assinados pelo chef Erick Jacquin. Anderson Sousha comanda a cozinha japonesa e traz sofisticação, excentricidade e inovação ao cardápio. Experiência única.
Avenida Juscelino Kubitschek, 2041 • Vl. Olímpia (Villa Daslu), São Paulo • SP • (11) 3044.6181 • www.buddhabarsp.com.br
Sofitel O restaurante Sofitel Rio de Janeiro Copacabana é a dica para saborear a culinária francesa de frente para a orla de Copacabana, na Cidade Maravilhosa. Considerado um dos melhores restaurantes franceses do país, o local é pura beleza e sofisticação. No cardápio, variedades e inovações são o que não faltam: da cozinha francesa ao menu amazônico, os clientes podem desfrutar de deliciosos pratos assinados pelo renomado chef Roland Vilard. Para acompanhar e harmonizar os pratos de Vilard, o Sofitel Rio de Janeiro Copacabana possui uma carta de vinhos com mais de uma centena de rótulos franceses, vinhos portugueses, como os típicos verdes e brancos maduros, com mais maciez e corpo. Para quem deseja ter inesquecíveis experiências gastronômicas. Avenida Atlântica, 4240 • Copacabana • Rio de Janeiro • (21) 2525-1160 • ww2.leprecatelan.com.br
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mundo
fotos Mayra Jinkings
Antica Trattoria Poste Vecie
Este restaurante pode ser considerado o mais antigo de Veneza, aberto em 1500. Cheio de charme, escondido pelas ruelas da cidade, a Antica Trattoria PosteVecie pode representar o início de uma viagem para Veneto. Longe dos restaurantes cheios de turistas beirando o rio, pode-se apreciar mariscos frescos, pastas italianas absolutamente fantásticas e um serviço de qualidade. Sinal de uma gastronomia estupenda e tipico sapori veneziani. Além das duas salas do restaurante, existe também um lindo jardim construido exatamente de acordo com a arquitetura veneziana “all’ombra di una vite selvatica”.
Pavilhão Chinês
R. Dom Pedro V 89, 1250 Lisboa, Portugal • Telefone: +351 213 424 729 Imagine-se numa antiga mercearia do início do século XX. Um dos patrimônios maravilhosos da época romântica de Lisboa, o Pavilhão Chinês tem um serviço de alto requinte e lembra os tradicionais “café-bar” dos anos 20. A cada sala que entramos, penetramos num mundo de glamour do início do século que não encontramos mais e descobrir uma coleção de arte constituída por variados tipos de peças e temas. São mais de 4 mil peças que o proprietário (Luis Pinto Coelho) queria expor e este prédio de 1900 foi o ideal. Seja para degustar algum dos 100 tipos de cocktails de confecção artesanal ou para apreciar alguns dos 40 tipos de chás puros e comidas leves que são a marca deste lugar, o Pavilhão Chinês nos convida para uma conversa intimista. Este estabelecimento tem servido também de palco para diversos filmes nacionais e estrangeiros, reuniões de congressistas, provas de vinhos, entrevistas e inúmeras reportagens sobre Lisboa. Tony Blair, ex-primeiro ministro inglês, por exemplo, é frequentador assíduo quando está em Lisboa. San Polo, Rialto Pescheria, 1608 • 30011 Venice, Italy • F: 041 721822
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perfil
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Leonardo Aquino
Luiza Cavalcante
ordem
Palavra de
Ophir Cavalcante, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, fala sobre o desafio de comandar uma das entidades mais importantes do país
S
er reconhecido nas ruas provavelmente não está entre os motivos que levam alguém a escolher a advocacia. No entanto, este pode ser um resultado tão natural quanto inesperado. É o que acontece com o paraense Ophir Cavalcante Júnior, atual presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, toda vez que volta a Belém, sua cidade natal. “Sempre que vou à feira, alguém me cumprimenta. Muitas pessoas já vieram me dizer que têm orgulho de ver um paraense chegando ao cargo em que estou agora”, conta. Mas não há vaidade nessa declaração. “Eu fico muito sem jeito quando isso acontece.” Por trás de um profissional que precisa ter sempre uma opinião formada sobre tudo (polêmica, de preferência), está um cidadão simples, fanático pela culinária paraense (peixe e farinha de mandioca não podem faltar na despensa) e acima de tudo workaholic. São quase 30 anos de advocacia, profissão à qual dedica perto de 50% das horas de cada dia. Mas o ocupante de um dos cargos mais importantes do Brasil quase optou por um caminho bem diferente: ser goleiro de futebol. Jogava no Paysandu e foi das categorias de base do clube até os juvenis, mas precisou deixar o esporte quando entrou na faculdade. Em vez de defender gols, resolveu defender a sociedade. Em Belém, Ophir Cavalcante Júnior recebeu a Revista Leal Moreira para uma conversa sobre o trabalho como presidente da OAB, a rotina do cargo e a relação com a família.
Como se constrói a carreira de um advogado que milita em uma instituição como a OAB? Eu quero crer que o caminho é um só: o caminho do trabalho com seriedade, com ética, responsabilidade e construindo sempre pontes. A advocacia de um modo geral está acostumada a derrubar muros e construir pontes no sentido de fazer um alinhamento da lei com o fato social. O advogado, no seu dia a dia, convive com os dramas humanos, com as situações que pedem a sua intervenção para resolvê-las. Quando você constrói uma carreira em cima desses pressupostos, há um reconhecimento natural por parte dos seus colegas que, de certa forma, te habilita a exercer ou se candidatar a um mandato em nível de OAB. E, a partir daí, usar a estrutura da Ordem para continuar a defesa desse alinhamento entre lei e fato social, mas fortalecendo a advocacia. E aí entra uma equação que eu costumo dizer que é muito presente na vida do advogado: advocacia forte, OAB forte, cidadania forte. Além de todos esses valores, é preciso fazer um pouco de política para chegar a este cargo? Sem dúvida. A política é a arte de transformar. Ela tem que ser bem utilizada para poder abrir caminhos, possibilitar diálogos e, sobretudo, evoluir no sentido de conhecer quais os dramas da sociedade, os seus anseios e, a partir de tudo isso, se conseguir transformar as estruturas hoje existentes em estruturas melhores. »»»
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O conceito de cidadania deve nortear as ações da Ordem, diz seu presidente, que acredita na entidade como um espelho do desejo de uma sociedade mais justa e ética
A OAB é sempre muito visada pela imprensa quando se busca uma opinião do presidente sobre leis, cidadania, direitos humanos. É uma responsabilidade muito pesada a obrigação de ter sempre uma opinião formada sobre tudo? É um desafio diário. Muitas vezes a gente é surpreendido por um projeto de lei apresentado, uma decisão judicial estapafúrdia, uma situação inusitada em termos de conduta não-ética por parte de governantes e políticos. A gente tem que ter muita tranquilidade, equilíbrio e firmeza. Sempre é preciso ter ao nosso lado o conceito da cidadania, a defesa das instituições a partir da visão cidadã. É isso o que eu tenho procurado fazer. E acima de tudo, usar o bom senso e refletir o desejo da sociedade que quer um país melhor, mais justo, com diminuição das desigualdades e onde haja ética. Também é fundamental ser bem informado. Como é sua rotina para ficar por dentro das notícias? A internet dá a possibilidade de a gente até se antecipar aos fatos. Antes de dormir, geralmente eu dou uma olhada na internet para conhecer as notícias mais importantes e as discussões mais atuais. De manhã cedo, recebo um clipping de imprensa que eu leio antes de sair de casa, com as notícias mais destacadas.
Alguma vez o senhor já foi procurado por um jornalista que queria uma opinião diferente da que o senhor tinha? Isso com certeza acontece. Além do compromisso que tem com a imprensa de dar subsídios e esclarecer situações, a Ordem também tem um compromisso com os advogados e a sociedade. E nem sempre a Ordem vai dizer aquilo que a imprensa gostaria de ouvir. Isso ficou muito claro em relação ao sigilo profissional dos advogados que têm que ouvir seus clientes em penitenciárias de segurança máxima. Foi aquela questão do Rio de Janeiro, da divulgação de que dois advogados haviam servido de pombo-correio para traficantes. E aí o sentimento naquele momento da sociedade e da imprensa era de que a Ordem não só condenasse previamente os advogados, mas que se posicionasse no sentido de que poderia haver uma mitigação desse instituto que protege o cidadão e a sociedade. E a Ordem se manifestou contrária a isso, justificando o porquê. Naquele momento, não atendemos ao anseio da imprensa. Quantas horas por dia o senhor trabalha? Vinte e quatro horas por dia. (risos) Na verdade, a minha rotina das 9 da manhã às 10 da noite é de trabalho. Eu só tiro pouco tempo para dormir um
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O advogado é um agente de transformação social
pouco, fazer uma caminhada de manhã cedo, ir à academia... Mas é trabalho o tempo todo, seja viajando para todos os estados do Brasil, fazendo palestras, participando de atos com a advocacia, seja em Brasília, onde estou com residência mais fixa, indo ao Congresso Nacional para fazer interlocução com parlamentares. Enfim, exercendo o cargo na sua plenitude. Isso me ocupa praticamente o dia inteiro. São 12 horas de trabalho alternadas com 12 horas de descanso. Nessas horas livres, o que o senhor gosta de fazer? De manhã, gosto de caminhar, correr e fazer uma academia. À noite, a leitura de um livro. Às vezes aproveito para rever alguma peça que precisa ser protocolada pela Ordem. Reservo das 9 da noite à meia-noite para fazer isso em casa, com mais tranquilidade. O senhor vem com que frequência a Belém depois que assumiu a OAB nacional? Não há uma rigidez nessa frequência. Até porque minha mulher e um dos meus filhos estão morando em Brasília. Procuro vir a Belém pelo menos toda semana, mas nem sempre é possível. Então tento fixar uma vinda à cidade de 15 em 15 dias para vir ao meu escritório, conversar com os sócios e os colegas, trabalhar, atender clien-
tes... Afinal de contas, a Ordem é passageira. E depois de dois anos que ainda faltam para o fim do meu mandato, vou voltar pra minha raiz, que é o meu escritório aqui em Belém. Sua família que continua em Belém lhe cobra muita atenção quando o senhor vem aqui? Minha mãe e meu pai, que estão sempre aqui, me compreendem bastante. Outro filho meu que mora aqui em Belém com minha ex-mulher também. Quando venho aqui, sempre vou almoçar ou jantar com eles porque sinto muita saudade. Em que momento da vida o senhor descobriu a vocação para a advocacia? Minha família é uma família de advogados. Meu pai é advogado, meus tios paternos também. Pelo lado da minha mãe, as pessoas são mais voltadas para a medicina. A vocação efetivamente acabou nascendo quando ainda estava no segundo grau, quando tive que eleger a área que ia seguir. Acabei optando pelas ciências humanas, em razão da familiaridade pessoal com a matéria, sempre gostei muito de ler, gostava muito de história, apesar de gostar também de matemática. Fui até monitor de matemática na escola. Mas a área que mais me atraía mesmo era a do ser humano, lutar por uma situação melhor a partir da lei. Aí as coisas foram vindo aos poucos. Elegi direito e acredito »»»
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que sou feliz. Se pudesse retornar a esta vida novamente, traçaria o mesmo caminho outra vez. Um de seus filhos passou no vestibular em direito recentemente. O senhor o influenciava diretamente ou foi uma escolha natural? Foi uma escolha natural. Tanto que o Caio, o meu filho mais velho que mora comigo em Brasília, faz engenharia mecatrônica. O mais novo, que passou em direito, é o Breno. Em tese, se tivesse que influenciar alguém, seria o filho mais velho. Mas isso não acontece, tal qual meu pai não teve influência direta sobre a minha escolha. Procurei deixar meus filhos sempre muito livres. Só dizia para eles uma coisa: aquilo que vocês escolherem, façam sempre o melhor. Se você quiser ser advogado, seja um bom advogado. Se você quiser ser um engenheiro ou médico, sejam bons profissionais. Procurem se esforçar não só para o destaque pessoal, mas para que você possa responder a tudo o que esperam de você. O senhor tem outros irmãos que seguiram a carreira na advocacia? Tenho duas irmãs. Uma é magistrada, vice-presidente do TRT da 8ª Região, Suzy Cavalcante Khoury, e a outra, Carla Cavalcante, é assessora do Ministério Público Estadual. Todos advogados, inscritos na Ordem. Mas como a Suzy entrou na magistratura, não pode exercer a advocacia. Todos na área do direito. E ainda casei com uma mulher que é procuradora do trabalho. Que conselhos o senhor daria para jovens iniciantes que ainda estão buscando uma luz nesse caminho profissional? Dedicação, trabalho, muito estudo, seriedade, honestidade, ética. Quero crer que não só para aqueles que desejam ser advogados, mas para aqueles que querem ser alguém na vida é importante nunca abandonar essas premissas, que são fundamentais para qualquer profissão. E ter paciência. O advogado, para construir uma vida tranquila e segura, precisa trabalhar muitos anos. Sobretudo quando vivemos numa estrutura morosa, como é a estrutura da Justiça brasileira. Então o advogado não pode querer enriquecer honestamente da noite para o dia. Quero crer que a gente tem um papel muito importante na sociedade. O advogado é um agente de transformação social. Ele pode através da sua palavra, do seu exemplo, ajudar a melhorar a estrutura da sociedade. E isso tudo porque ele defende duas coisas fundamentais na vida das pessoas: a liberdade e o patrimônio. Então, quanto emociona a gente ver uma pessoa que você ajudou através do teu saber jurídico ser vitoriosa numa ação, ficar livre depois de ter sido acusada de um crime injusto. Não há dinheiro no mundo que pague tudo isso.
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Os
nudistas de
Belém
O Otávio e a Roberta estavam passando férias no Rio de Janeiro. Um dia, na praia, o Otávio disse que havia encontrado um amigo de tempos. Um carioca que havia passado férias em Belém, certa vez. O cara tinha convidado eles para ir até a Praia de Abricó. Uma praia de nudistas. A Roberta achou meio absurda a proposta. Não sabia o que ia fazer em uma praia de nudistas. Pegar sol, disse o Otávio. Mas isso, estamos fazendo aqui. O Otávio disse que era uma experiência diferente, pegar sol sem roupas, com liberdade, em comunhão com a natureza. A Roberta disse que sabia perfeitamente por que o Otávio queria ir... O Otávio reclamou, dizendo que se ele veria mulheres nuas, ela veria os homens, se quisesse. Que o amigo garantiu que o ambiente era absolutamente de respeito e que para eles, o naturismo era um estilo de vida para famílias inteiras. Que encontrariam famílias desde avós até crianças. E tem a coisa da curiosidade. A Roberta ficou pensando. Pensando e passando como que um scan pelo próprio corpo. Estava em condições de enfrentar aquilo? A curiosidade foi maior. Topou com alguma reserva,
para que o Otávio não pensasse mal dela. E sim, poderia ser interessante, também, ver alguns rapazes nus. Se o Otávio ia aproveitar, ela também aproveitaria. Mas você perguntou a ele se há algum paraense por lá? Tu conheces algum paraense que faça nudismo? No domingo o amigo do Otávio os apanhou. No caminho, foi fazendo propaganda do Naturismo. Chegaram. O Otávio, assanhado, foi logo tirando a roupa. O amigo, também. Hum, até que ele não era feio, sabe? O Otávio insistiu. Tirou o sutiã. Meu Deus, sou uma louca. Tirou a calcinha. Mesmo assim, queria manter a canga. Ah, não! Tá bom. Tirou. Vamos até ali naquela barraca maior, onde fazem churrasco e todos convivem. Vocês vão ver a naturalidade das famílias. No caminho, deu vontade de dar um bom beliscão no Otávio porque ele estava de olho. Mas meu Deus, é muita coragem daquela ali! Mas Otávio, olha só aqueles pneus da mulher? É uma boia! E aquela gorda ali, com aquelas celulites todas. Esse pessoal precisa se cuidar, ah, mas com certeza. Credo, homem às vezes vira um monstro! Às vezes? Ah! Vamos
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Edyr Augusto escritor
combinar, tem gente que é melhor vir à praia vestida. Completamente vestida! Porque se mostrar essas muchibas. Perna fina. Cala a boca, Roberta! Assim eles vão ouvir! Entraram na barraca. Vieram os cumprimentos. Intimidada, Roberta não chegava a encarar as pessoas ao responder aos cumprimentos. Até que ouviu um Dona Roberta, mas que prazer encontrá-la aqui! Levantou a vista e deu de cara com a detestável vizinha no prédio em Belém, Esmeralda, a famosa Memê, fofoqueira como ela só. Sorriu amarelo. Dona Roberta, mas que beleza! Estamos eu e meu marido, Waldemar, mais minha filha Dora. Bem, a filha Dora, com seus 20 anos, era um portento. De beleza e assanhamento. E Dora, ali, com toda aquela forma física exuberante, diante de um Otávio que nem conseguia articular palavras. E Roberta já pensando, no dia seguinte, estar até na coluna de fofocas do jornal em Belém. É nossa primeira vez, apenas uma experiência. Bom, querida, nós estamos sempre por aqui. Vocês estão gostando? Ah, fiquem à vontade. Eu e o Wal faremos tudo para deixar vocês à vontade! Meu Deus, a minha reputação está manchada
para sempre. Será que não deveria convidá-la a dar um mergulho e lá afogá-la e fazer pensarem que foi acidente? E aquela idiotinha linda, filha dela, que já está ao lado do Otávio, conversando e roçando os seios nele. Idiota! Não podia reagir. E ria, candidamente, para a vizinha. Que ódio. Que ideia fora aquela. Podia estar com as amigas, no Leblon, curtindo as férias e não ali, absolutamente congelada. Não levantaria dali por nada. Nem que o mundo acabasse. Não deixaria que aquela jiboia comentasse nada sobre seu corpo, suas formas, para depois espalhar, quem sabe lançar um DVD com direito a extras e tudo. Querida, você quer que eu passe o protetor solar? Não, querido, hoje não vou tomar sol. Mas Roberta, logo você que não perde um dia de sol? Mas hoje, repentinamente, me deu vontade de ficar na sombra, tá. Bem, então vou dar um mergulho. A Dora está insistindo em me levar, está bem? Quase mordia a língua de raiva e então murmurava, você não me sai daqui, viu? Aqui, já, do meu lado senão te mato, viu? Não se atreva! Sit! Sit! E ele, idiota, ou de propósito, ainda dizia, bem alto, não estou ouvindo, não estou
entendendo, o que você quer dizer, Roberta? Eu vou lá, viu? E Memê, interessada, interveio dizendo tipo deixa ele, menina, está com a Dora, nossa filha, nossa criança, ela cuida dele direitinho, você vai ver! Então permitiu, embora, com a mão, por baixo da mesa, tentasse beliscá-lo, e fizesse sinais tipo “depois nós vamos ver”. E, de longe, já irritada da conversa de Memê, que não parava de falar, via Dora passando protetor solar em Otávio. E percebia que Otávio procurava se esconder, até porque, certamente, estava ficando excitado. E sumiram. Ah, estão na praia, dando um mergulho. Não deu pra segurar. Levantou e deixou que Memê a visse. À merda se ela me vir. Cadê os dois? Não estavam mergulhando e sim atrás de uma duna, namorando. Surpreendidos, saíram correndo. Dora, jovem, safou-se. Otávio, levando carradas de terra nas costas. Foram até a saída, brigando. Lembraram que haviam deixado tudo no barracão. Precisaram voltar. Nem se despediram. Talvez tenha ouvido Memê murmurar, tipo, tão nova e tão envelhecida de corpo, não é Wal? Me passa o celular? Ah, vá pra... Isso só podia ter sido ideia do Otávio!
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comportamento
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Leandro Lage
Músicade
brinquedo Ritmos, acordes e melodias são capazes de fazer milagres no desenvolvimento emocional dos seus pequenos. Basta incentivar.
A
os seis anos, Heitor começou a tocar clarinete e violoncelo com o pai. Eram exercícios intermináveis, todo santo dia. Na casa da tia, conheceu Bach, inspiração suficiente para que, trinta e muitos anos depois, Heitor Villa Lobos compusesse as “Bachianas Brasileiras”. Mas calma, caro leitor. A matéria não é sobre a vida do maestro. Tampouco sobre música erudita. Essa introdução cheia de pompa é para falarmos de música e criança, e de como a arte pode estimular a inteligência e as emoções dos pequeninos. Não que seu filho vá se tornar um Villa Lobos se sair do berço direto para o conservatório, mas, se tiver contato com música logo cedo, é certo que terá menos problemas para aprender coisas novas e se expressar. Opções não faltam. Artistas consagrados, como Adriana Calcanhoto, Arnaldo Antunes e Pato Fu já descobriram como chegar em grande estilo ao público de baixa estatura. Os três álbuns – “Adriana Partimpim”, de Calcanhoto, “Pequeno Cidadão”, de Antunes com Edgar Scandurra, e “Música de Brinquedo”, do Pato – têm propostas diferentes e, ao mesmo tempo,
motivações semelhantes. Como disse Adriana Calcanhoto, em 2005, ainda em ritmo de lançamento do disco: “Achava que as crianças estavam ouvindo coisas iguais há muito tempo”. Nos últimos 20 anos, talvez não tenha tido uma festa para crianças que não tocasse ao menos uma música do trio Xuxa, Angélica e Eliana, do Trem da Alegria, da Turma do Balão Mágico e até da dupla Sandy e Júnior, nos primórdios. Nada contra, mas por que nunca ninguém se perguntou o motivo de artistas brasileiros “para adultos” – salvo algumas exceções – não se dedicarem a projetos desse tipo? Ou mesmo se é preciso ter um gênero musical exclusivo dos pequenos notáveis? Ano passado, o Pato Fu lançou seu mais recente trabalho, que, não por acaso, contempla o público infantil. O “Música de Brinquedo” nasceu, na verdade, há 16 anos, quando a banda ouviu um disco do Snoopy cantando as músicas dos Beatles. Até que, em 2003, com o nascimento de Nina, filha de Fernanda Takai com John Ulhoa, aumentou a sensibilidade do casal e da banda para com a meninada. O que não significou fazer algo »»»
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exclusivamente infantil, e sim pensar num projeto à la Pato Fu de sempre: sem amarras ou, como os que gostam de categorizar, algo “alternativo”. “É um espelho da nossa personalidade nessa área. Já que somos pais e músicos, essa é nossa ideia de disco que pode ser ouvido por pais, filhos, vovôs, tias, cachorro, adolescentes... sem contraindicação. Todo mundo junto ou sozinho também”, diz Fernanda, em entrevista exclusiva à Revista Leal Moreira. Flautas, xilofones, teclados... Saxofones, apitos, bateria... Tudo de brinquedo. O “Música” tem 12 faixas, todas tocadas com instrumentos que, normalmente, estariam jogados no chão do quarto dos filhos de qualquer pessoa. Só que as músicas do álbum, de infantis têm apenas isso. O repertório é cheio de clássicos de “nossa memória musical afetiva de todos os tempos”, explica Fernanda. Tem “Primavera”, de Cassiano (imortalizada por Tim Maia), “Todos Estão Surdos”, do rei Roberto e do príncipe Erasmo, e até “Live and Let Die”, do ex-beatle Paul McCartney. “O repertório tinha que ser pop adulto”, justifica a cantora. “Pra fazer com que os pais ou pessoas de nossa geração se identificassem com ele. A interface com o público mais novo seriam as vozes das crianças e a empatia da sonoridade dos brinquedos.”
É mesmo de se estranhar pensar numa criança ouvindo e curtindo “Live and let die” ou mesmo a quarta faixa, “Frevo Mulher”, de Zé Ramalho. Mas, segundo Betânia Parizzi, professora da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais e coordenadora do Centro de Musicalização Infantil da UFMG, a cena não deveria ser tão estranha assim. MPB, rock, pop, clássicos, música eletrônica... Pode tudo. A diversidade é que importa. “Se trouxer música da China, da Índia, dos Índios, Beethoven, Chico Buarque, Beatles, sendo de qualidade, é válido. O trabalho do Pato Fu, por exemplo, tem arranjos muito adequados. Quando você pega a música do Zé Ramalho e reveste ela com uma sonoridade infantil, a criança vai criar logo uma relação com um brinquedo que ela teve. Às vezes, a letra pouco importa. A criança é movida pela questão rítmica, pelo timbre, pela questão afetiva”, argumenta Parizzi. Tanto a neurociência quanto a psicologia já provaram que a música nos afeta positivamente em pelo menos quatro aspectos: emocional, motor, fisiológico e cognitivo. A primeira pode ser explicada pelas trilhas sonoras. Afinal, o que seria de “Ghost - Do outro lado da vida” sem a música Unchained Melody? O aspecto motor é o mais conhecido. A música libera a endorfina,
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um neurotransmissor associado, por exemplo, ao nosso humor. “Por isso é difícil ficar parado quando escuta música com alguma batida muito marcada. Ela também produz alterações fisiológicas. Aceleração da frequência cardíaca, sono, excitação, alteração no estado de consciência. E a última função da música é que ela atua no processamento cognitivo. O escutar música jamais é passivo”, detalha Parizzi. Quanto mais cedo os pequenos forem submetidos a essa explosão de estímulos, mais rápido se desenvolverão emocional e cognitivamente. Como começar? Como estimular sem forçar a barra empurrando música ou aulas de piano para meninos e meninas? Para Fernanda Takai e John Ulhoa, que possuem um estúdio dentro de casa e vivem música 24 horas, o segredo é deixar rolar. “Acho que tem que ser uma vontade da criança. Temos todo tipo de instrumento em casa e Nina escolheu sozinha o seu preferido: a bateria. A música é uma coisa muito boa, mas a importância dela é diferente de pessoa pra pessoa”, conta Fernanda. Só que o discurso dos especialistas é outro. Não que os pais precisem obrigar os filhos a algo. A sacada é criar um ambiente propício à música. Segundo Tiago Belém, professor de mu-
sicalização infantil do Centro de Estudo e Aprendizagem Infantil, em Belém, é possível fazer isso oferecendo “o contato com brinquedos sonoros, instrumentos musicais e obras musicais diversas. Mas, atenção! Estimule que a música tenha espaço na vida de seu filho, mas não tente transformá-lo em um gênio musical!”. Se os pais não tiverem muita vocação para ensinar, as aulas de musicalização infantil são a solução para quem gostaria que seus filhos crescessem num ambiente musicalmente rico e estimulante. A partir dos seis meses os pequenos já podem incluir a música nos seus respectivos compromissos. O resultado, diz Belém, é imediato. “Crianças hiperativas têm conseguido se manter calmas, com melhor nível de atenção e concentração; crianças com dificuldade de se expressar oralmente (articular os fonemas) obtiveram melhora por meio do canto; crianças com dificuldade de interação social (como não saber dividir objetos) e crianças com comportamento agressivo se tornaram crianças mais equilibradas”, conta o professor. Aprendendo a ouvir música cedo, quem sabe se seu filho não chegará um dia a apreciar Villa Lobos por conta própria? Ou a compor suas próprias Bachianas?
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Ousadia
infantil O “Música de Brinquedo” foi uma baita ousadia. Em todos os sentidos: mercadológico, musical, instrumental. Afinal, qual gravadora toparia lançá-lo? Qual outra banda aceitaria gravá-lo? Quais outros músicos dariam conta de tocá-lo? Só que o rock feito com brinquedos, receita dificílima de se fazer, deu certo. Foi lançado de forma independente e elevou ao mais alto grau o título de “banda alternativa” dado ao Pato Fu... Como disse Fernanda Takai, nessa entrevista exclusiva concedida à Revista Leal Moreira, o álbum é “um espelho da nossa personalidade nessa área”. Personalidade essa de difícil categorização, porque dá à música sempre novas roupagens. Só que, dessa vez, o que ganhou nova roupagem foi o rock, infantilizado em grande estilo.
Pode-se dizer que vocês flertam com sons infantis
pode ir além dos clichês. O que pensam sobre essa
desde o primeiro álbum. Como amadureceram a ideia
questão dos públicos?
de criar um disco com uma sonoridade 100% infantil?
Como plateia, a gente se sente incomodado quando vai a um espetáculo infantil com uma leitura só: para crianças apenas, com enfastiamento rápido dos adultos. Sempre gostamos de coisas com várias camadas, com níveis diferentes de envolvimento e motivação. O nosso álbum - e o show - tenta deixar todo mundo bem atento e sincronizado com a diversão musical/visual. Talvez alguns produtores subestimem o público e acabem ficando no rasinho das intenções, usando uma linguagem limitada.
E como foi para vocês se convencerem de que daria certo (se é que precisaram)?
A ideia de um disco como o “Música de Brinquedo” surgiu em 1996, inspirado pela audição de um CD da turma do Snoopy cantando Beatles acompanhados por brinquedinhos. O Pato Fu era uma banda muito nova, ainda. Precisávamos construir um repertório autoral antes de fazer um álbum com essa proposta estética diferente e também revisitando canções de outros artistas... Quando nossa filha nasceu, em 2003, voltamos a pensar com mais força no disco, mas tínhamos acabado de lançar um CD ao vivo, comemorando 10 anos de estrada. Esperamos mais um pouco pra, só então, aos 18 anos de carreira, mostrar às pessoas um disco assim. Fizemos uma primeira experiência um ano antes, que foi a faixa “Primavera”. Todos os amigos que ouviam e viam aquilo não paravam de dizer que tinha que sair o álbum inteiro. Finalmente colocamos a mão na massa em janeiro de 2010.
Em entrevista recente, John declarou que, durante a produção do disco, buscou-se fazer algo diferente dos trabalhos “infantilóides”. Isso é consequência do que vocês pensam como pais?
Claro! É um espelho da nossa personalidade nessa área. Já que somos pais e músicos, essa é nossa ideia de disco que pode ser ouvido por pais, filhos, vovôs, tias, cachorro, adolescentes... sem contraindicação. Todo mundo junto ou sozinho também. Pelo menos o retorno positivo que tivemos de outros músicos que pensam a mesma coisa foi grande.
Deu trabalho definir o repertório, já que buscavam atingir dois universos de público geralmente distantes
E sobre o estímulo para cantar ou tocar algum ins-
(o adulto e o infantil)? Tem músicas muito “adultas”,
trumento? Acham que deve ser uma vontade natural
como Frevo Mulher, não é mesmo?
da criança ou que os pais devem incentivar? Como vo-
Recorremos à nossa memória musical afetiva de todos os tempos. O repertório tinha que ser pop adulto pra fazer com que os pais ou pessoas de nossa geração se identificassem com ele. A interface com o público mais novo seriam as vozes das crianças e a empatia da sonoridade dos brinquedos. Eu me lembro de gostar de ouvir música de adulto mais do que as músicas feitas apenas sob a ótica infantil. Então ficamos livres para usar toda a nossa escola pop de formação musical.
cês agem em casa?
E as crianças, sempre curiosas, deram muito trabalho nos ensaios? A espontaneidade delas parece ter sido o “a mais” do álbum... Como “controlaram” isso para que o trabalho desse certo?
Elas gravaram sem ensaios. Captamos a reação natural e espontânea delas à audição de música pop. Elas ouviam uma, duas vezes e já saíam cantando e gravando. Foram trechos curtos, fáceis. Elas brincavam de estúdio, na verdade. No total, foram umas três horas, diluídas em quatro dias. Tudo rápido e leve. Elas não viajam em turnê, temos dois monstros muppets do grupo Giramundo que cantam a parte delas. O que era pra ser um tapa-buraco na ausência das crianças virou o grande trunfo do espetáculo, pois os bonecos são maravilhosos! O Música de Brinquedo, além de outros trabalhos semelhantes, acabou lembrando que música boa não é só para adultos, e que música para os pequenos
Acho que tem que ser uma vontade da criança. Temos todo tipo de instrumento em casa e Nina escolheu sozinha o seu preferido: a bateria. A música é uma coisa muito boa, mas a importância dela é diferente de pessoa pra pessoa. Ela aparece agora nos currículos escolares, o que é bom, pois a música ajuda na disciplina de uma forma poética. Saber ouvir, interpretar, expressar-se através de um instrumento, criar um ritmo, uma melodia. Mas, como em todas as matérias, tem gente que tem facilidade e se inclina mais a ela. Outros não. Ter contato com a música, mesmo em níveis bem incipientes, só pode fazer bem, mesmo que a sua tendência seja só pra ser ouvinte. Quais CDs vocês recomendariam para essa “audição em família”, isto é, que são ótimos tanto para pais quanto para os filhos? Tem algum que fique na estante da Nina e que vocês “roubam” de vez em quando para ouvir?
Sim, vou citar vários que ficam na estante da Nina: Felizardo - Banda Mirim; Classiks On Toys Snoopy’s Beatles; Flicts - Arthur de Faria & Seu Conjunto; The Sound Of Music - Trilha Sonora; Castelo Rá-Tim-Bum - Trilha Sonora; Projeto Guri Convida – Vários; SuperMario 64 - Trilha Sonora; A Zeropeia - Trilha Musical; Pequeno Cidadão – Arnaldo Antunes e Edgar Scandurra; Canções Curiosas - Palavra Cantada.
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Lições de
Baianidade
Salvador, tarde ensolarada, trânsito caótico no Rio Vermelho, estou de carona trocando palavras com meu cunhado, aliás, mais ouvindo que falando, baiano adora falar, pois como dizem por lá, baiano não nasce, estreia. A vida na Bahia é um show! Well, nada de excepcional na paisagem, mas uma manobra atrapalhada leva nosso carro a colidir levemente com outro. Nada de mais; no entanto, fiquei surpreso com a reação do Camillo (isso mesmo, com dois eles), acelerou e seguiu em frente. Aturdido reclamei: - Você bateu no cara, não vai parar? - Tá louco? Vou estacionar ali no supermercado, se parar no trânsito ainda vou ser multado. Dito e feito, ambos pararam e civilizadamente acertaram as contas e se cumprimentaram na despedida. Depois de mais de 50 anos, a ficha caiu. Nosso procedimento padrão para qualquer acidente de trânsito é logo chamar a perícia
Celso Eluan empresário celsoeluan@ig.com.br
para definir quem tem razão e cobrar os estragos. É o direito de se fazer justiça. Numa época em que havia mais carroças que veículos automotores essa lógica nasceu e se consolidou. Aguardar alguns minutos ou horas pela perícia seria um sacrifício coerente em prol da justa causa de se determinar o culpado e este ressarcir a vítima. Tudo dentro da absoluta noção de direito. Ocorre que os tempos são outros, as carroças quase desapareceram e as ruas são invadidas por milhares de novos carros por mês, contabilizando uma frota superior a 300 mil veículos em nossa capital, uma média aproximada de um por família. As ruas não se alargaram, afinal estamos numa época em que a silhueta esbelta é padrão estético e nem as ruas querem engordar. Inevitável, o trânsito virou transtorno público. Nem tem mais hora do rush, qualquer hora é caótica. Então, nesse cenário dantesco, dois indivíduos param uma rua, um bairro ou a cidade inteira pra discutir e esperar a definição da perícia para uma questão de alguns reais. Milhões de outros reais são desperdiçados em combustível, horas perdidas, compromissos desfeitos, além de quilos de antidepressivos para acalmar uma população estressada. Tudo para que a justiça seja feita na definição do culpado pelo arranhão no carro do outro. Justiça? É tão evidente, mas parece que o torpor dos anos nos deixou anestesiados. Chamem a perícia! É uma reação instintiva, um reflexo pavloviano. Mas, e os outros? O que todos os demais têm a ver com essa mesquinha disputa por alguns reais? São centenas, milhares de pessoas que têm seu dia atordoado por uma causa tão infame. Há poucos meses estava voltando de Mosqueiro e na altura da Polícia Federal em Benevides o trânsito travou. Não era nenhuma volta de feriadão ou domingo de julho, seria um dia normal. Depois de mais de duas horas chegamos próximos ao Hospital de Urgência e havia um ônibus e um carro parados aguardando serem periciados. O acidente era mínimo, nenhum dano físico, apenas material, e ainda assim muito pouco. Coisa de menos de R$ 300. A cidade parou para assistir essa contenda, esse Big Brother de mau gosto (perdoem o pleonasmo). Depois fiquei sabendo que na maioria das grandes capitais já ocorre como em Salvador: perícia apenas em casos com vítimas. Acho que já passou da hora de acordarmos para essa realidade. Ficamos tão acostumados que outros julguem e decidam por nós que não percebemos o estrago que vamos causando. Acho melhor chamar um perito.
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entrevista
Diante das câmeras desde os seis anos, Camila Pitanga lida com naturalidade com as cobranças e o assédio inerentes à carreira
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Adriano Barroso
Nuncia Ciuro
Fruta
madura
Aos 34 anos, atriz Camila Pitanga vive bom momento na TV, prepara lançamento no cinema e planeja um ano inteiro de dedicação ao teatro
C
amila Pitanga é uma mulher bela. Não porque esteticamente tenha linhas em harmonia, beirando a perfeição. Camila é mais profunda do que isso. Inteligente, politizada. Em poucos minutos de conversa, essa carioca de 34 anos se revela leve, educada e extremamente à vontade para falar de si com um desconhecido armado de um punhado de perguntas. Depois de meia hora de papo, o seu jeitão carioca deixa a conversa com ares de encontro entre amigos que não se viam há anos. E logo o entrevistador vira entrevistado também, trocando figurinhas em depoimentos de vida e trabalho. E tudo se transforma num papo animado, entrecortado por sorrisos, risos, gargalhadas até. Camila Pitanga olha nos olhos. Gesticula largo e tem sinceridade no tom de voz. Muito longe de se sentir “A Estrela”, é uma mulher dócil, jeitão de moleca, como ela mesma se define, que encara “numa boa o assédio dos fãs e da imprensa, desde que não ultrapassem os limites da minha individualidade”. Atriz que desfila diante da tela desde os seis anos, quando estreou como figurante no filme “Quilombo”, de Cacá Diegues, foi assistente de palco no programa da Angélica (Clube da Criança, na extinta TV Manchete) para, em seguida, aos 16 anos, encarar o seu primeiro papel, na no-
vela Fera Ferida, em 1993. Apaixonada pela filha Antônia, de dois anos (nome dado em homenagem ao pai, Antônio Pitanga), quando o assunto é família, ela reafirma a admiração pelo pai e os muitos aprendizados com a mãe, a atriz Vera Manhães, que também encantava o publico masculino da década de 1970, seja em folhetins na televisão ou em filmes na telona, ou mesmo em ensaios em revistas masculinas. Ensaios, aliás, que a filha Camila se nega a fazer, apesar dos inúmeros convites. “Não é esse o meu foco. É clara a minha decisão de não querer. Isso não está mais em pauta. É definitiva a minha negativa. Não tenho nenhum interesse em posar nua”, afirmou quando ainda fazia a voluptuosa personagem Bebel, na novela Paraíso Tropical, da TV Globo. E quando o assunto é a polêmica que o seu par romântico com Lázaro Ramos vem causando na imprensa nacional - no novo folhetim da Globo (Insensato Coração) -, Camila é taxativa. “Vivemos em um país muito hipócrita ainda. O fato de dois negros bem-sucedidos na novela estarem incomodando alguns críticos é porque a situação bate exatamente no preconceito deles. Nunca sofri preconceitos, mas ele está aí, nos assombrando. Em um país onde o racismo, ainda que de maneira velada, existe, me considero uma pessoa »»»
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Escolho os papéis que interpreto pelo desafio que me apresentam
privilegiada. Será uma conquista plena e histórica quando um negro ocupar o posto de protagonista e o fato não gerar mais discussão”, encerrou o espinhoso assunto. No ano passado, a atriz “morou” por três meses em Santarém, onde era filmado o longa-metragem “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, filme de Beto Brant e Renato Ciasca, baseado no romance homônimo de Marçal Aquino, com estreia prevista para este ano. No filme, Camila vive Lavínia, uma mulher misteriosa, de dupla personalidade e dividida entre duas paixões tão fortes que a levam a um surto psicótico. “Escolho papéis pelo desafio. Essa personagem está entre os maiores desafios da minha vida”, comentou a atriz, que afirma ainda que da experiência de sua passagem pelo Pará só tem lembranças boas. Em sua já longa estrada na arte de representar, Camila diz que escolhe papéis pelo desafio e, longe de se acomodar com a fama e a boa fase na TV, adianta que os próximos anos serão dedicados ao teatro. Acabaste de protagonizar um filme com os diretores mais respeitados do país, Beto Brant e Renato Ciasca (que foi rodado, quase que exclusivamente em Santarém), como foi essa experiência? Foi uma das experiências mais lindas que já vivi. Beto e Renato me ampararam num processo de trabalho vertiginoso e especialmente afetivo, que me deu a oportunidade de me virar pelo avesso, em um grau como poucas vezes eu tive. Há muito
tempo já admirava o trabalho dos dois e foi uma explosão de alegria receber o convite para filmar “Eu receberia...”. Um aspecto belo dessa experiência foi a comunhão que se estabeleceu entre toda a equipe. Praticamente morei em Santarém, onde conheci e me encantei com o carimbo e por pouco não participei de uma festa muito especial de lá, o Sairé. Voltar para casa, para nossas vidas foi difícil. Conheci pessoas fantásticas: Seu Éfren - escritor santareno que me deu a honra de me citar em seu novo livro, “Magnólio” – uma mistura de sábio e palhaço, ele é de São Paulo, mas está sempre por lá atuando como líder e palhaço num projeto social lindo chamado “Saúde e Alegria”. Dinael e Dadá, líderes, heróis que estão arriscando suas vidas em prol do reconhecimento da demarcação de terras indígenas. Eles foram nossos anfitriões numa comunidade chamada São Pedro. Viajamos oito horas de barco de Santarém até lá. Nos misturamos com o povo daquela comunidade e dormíamos num barco. Saudade de comer o “Mega Tapajós”, prato delícia da família “Nossa Casa”, nome do restaurante que traduz o que sentia ao comer lá! Enfim, tudo muito intenso e novo. Esqueci de citar meus mergulhos no Rio Tapajós! . Fazer a Lavínia foi um desafio de qual porte? Quando li o livro do Marçal (Aquino), senti uma mistura de pânico e alegria. Lavínia é o desafio que imagino que toda atriz gostaria de se aventurar. É uma personagem que muda intensamente ao longo do filme. Precisei me conhecer em sentimentos, afetos que não eram nada confortáveis. Foi »»»
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Ainda este ano, Camila volta às telonas do país protagonizando o longa “Eu ouviria as piores notícias dos seus lindos lábios”
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Camila tem uma carreira vitoriosa na TV e no cinema, e quer dedicar-se mais ao teatro em 2012
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um processo forte de autoconhecimento. A personagem tem uma trajetória de vida muito radical, ela tem muitas fases e algumas delas têm a ver com a minha história de vida. São estados emocionais muito radicais. E tudo isso, por mais que a gente tenha um distanciamento de compreender que é um personagem, foi o meu corpo que viveu aquilo, o corpo sente aquele torpor todo, então você fica carregada. Na fase do Rio de Janeiro (o filme começa no Rio de Janeiro para em seguida vir ao Pará), onde ela é drogada, prostituída, vive uma fase bem barra-pesada dela, eu precisei emagrecer radicalmente, não um emagrecer com saúde, como eu geralmente prezo, mas ela exigia mais. Logo depois eu entrei na novela, e o diretor Denis Carvalho falou: “Camila vai te tratar (risos), vai engordar”. A Carol (personagem em Insensato Coração) é minha salvação (gargalhadas). Qual tua expectativa para o lançamento do filme? Assisti recentemente a uma versão da montagem final do filme e fiquei muito emocionada com o que vi. Espero que as pessoas que assistam ao filme se deixem levar ao mundo de Andara (nome da cidade fictícia do filme). A história, as personagens são envolventes e acho fundamental o Brasil entrar em contato com uma região do nosso país que possui uma história e identidade pouco conhecida, mas muito valorosa e rica. Tens no currículo, tanto no cinema como na televisão e teatro, uma vastidão de personagens. Como é
o teu processo de construção de uma personagem? Costumo trabalhar me fechando numa sala e improvisando situações que tenham a ver com o universo da personagem. Gosto de pesquisar e as fontes variam. Pode vir do cinema, da fotografia (tenho muitos livros de fotografias), mas a real é que eu quando tenho um novo desafio fico com a escuta aberta, quase como uma antena parabólica, captando tudo o que possa servir como referência. Esses últimos anos, o que não tem faltado são convites de trabalho. Além do longa-metragem que acabaste de protagonizar, estás na nova novela da Globo das 21h, e estás preparando um espetáculo com Gero Camilo para este ano ainda. Como defines esse momento da tua carreira? Por um lado de abertura, pois o que vivi abriu novas conexões, novos amigos, novos projetos, mas também de consolidar escolhas que eu já havia feito lá atrás, mas que agora a vida está concretizando. Sobre o que trata o espetáculo? A peça é de uma família que está presa em sua casa, pois houve o degelo das calotas polares e, por sorte, a casa deles foi construída em cima de um cemitério de automóveis. A peça tem um tom bem crítico, eu acho, as relações são colocadas à prova o tempo todo pelo desejo que todos na família têm de sobreviver e traçar sua visão de mundo... Ainda existem muitas camadas para eu entender a peça, tenho certeza que no ensaio vou descobrir »»»
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O trabalho e o tempo foram o remédio para eu desconsiderar a beleza como um problema
bem mais... Já tem data para estrear? Queremos estrear ainda este ano, começamos a elaborar o projeto não tem nem um mês. Há chances da peça vir para Belém? Sim, vou adorar reencontrar o Pará! Com tantos degraus galgados em tua carreira de atriz, o que mais falta fazer? Alimentas algum sonho/plano na carreira? Abrir novos caminhos, trilhar novos desafios. Se tudo der certo ano que vem será um ano dedicado ao teatro! Você é considerada um símbolo sexual dessa geração. Até que ponto isso te ajuda ou atrapalha? É difícil para uma mulher bonita mostrar que tem talento, ou não te preocupas com isso? O trabalho e o tempo foram o grande remédio para eu desconsiderar a beleza e tudo o mais um problema. Me aceito como sou, sabendo que tenho um chão pela frente. Ter bons amigos, sentir o respeito do público também ajuda muito.
Tu és filha de atores, devias respirar teatro e cinema desde muito cedo. Seguir a carreira de atriz foi um caminho inevitável? Tu sempre quiseste isso, ou foi aparecendo? Sempre fico na maior dúvida de afirmar categoricamente que o caminho era inevitável, pois é bem verdade que quando era pequena nunca pensei em ser atriz, mas acho que ter convivido no meio deve ter ajudado sim. A tua participação na minissérie Invenção do Brasil, de Guel Arraes, (que no cinema se tornou Caramuru), certamente deu um impulso na tua carreira como atriz. Ele foi mesmo um divisor de águas para ti? Ou houve outros trabalhos mais significativos? Acho que foi uma virada sim, pois me fez rever conceitos que tinha sobre a própria televisão. O contato com o Guel e toda a sua equipe criativa (incluo aí: Marlene Moura – maquiagem, Lia Renha – cenografia, Cao Albuquerque – figurino) me fizeram vibrar com seu engajamento e desejo de se reinventar. A televisão muitas vezes leva esses profissionais a burocratizarem e congelarem o ímpeto criativo. “Invenção” era o oposto disso.
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Cozinha bem humorada Espátula, fouet, pincel culinário e até medidor foram humanizados e ganharam cores vibrantes nesta linha de utensílios desenvolvida pela Fiesta Products. Todos feitos em silicone, os utensílios têm braços e pernas e, não à toa, levam o nome de “Head Chefs. Feitos para encantar adultos e crianças, eles podem ser encontrados no site www.headchefs.com a U$ 9,99 cada.
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decor
Seja como objetos de decoração ou como ponto de partida para a criação de obras de arte, os azulejos ajudam a contar a história e interpretar a época em que foram produzidos
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Arthur Nogueira
Luiza Cavalcante
Arte e
história
Muito mais do que meros adereços, os azulejos resistem ao tempo para se transformar em verdadeiros instantâneos da memória
À
mercê da criatividade, o azulejo resiste ao tempo. Dos mosaicos bizantinos às pastilhas cerâmicas, pelas mãos dos artistas visuais ou profissionais da arquitetura, a peça se faz presente desde a Antiguidade, guarnecendo as paredes e também a memória afetiva das pessoas. À guisa de apresentação, sabe-se que, embora considerada uma tradição portuguesa, a azulejaria tem origem árabe – al-zuléig, que significa “pedra lisa e polida”. Na forma que conhecemos hoje, uma placa de barro com uma face vidrada lisa ou decorada, o azulejo remonta ao século XVI, quando foram importados em grande quantidade para Portugal e aplicados em prédios históricos, como o Palácio Nacional de Sintra. No Brasil, há um legado significativo da azulejaria, fruto da colonização portuguesa. “Os azulejos
foram bastante utilizados aqui, principalmente no norte do país, devido à resistência às ações do tempo”, explica a Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Thaís Sanjad. Segundo a pesquisadora, Doutora em arquitetura, “os azulejos são impermeáveis e refletem o calor”, ou seja, protegem das chuvas intensas e possibilitam o arrefecimento do ambiente. Por conta disso, seu uso àquela altura era sinal de status. A recorrência da peça nas edificações de outrora, ainda nas palavras de Sanjad, fez do azulejo “um documento da nossa história e cultura”. Desde os primórdios até hoje, sua produção jamais foi interrompida. “Surgiram materiais considerados mais ‘nobres’ ao longo do tempo, como o porcelanato, mas o azulejo resistiu”, afirma. No entanto, »»»
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Um trabalho artesanal voltado à arquitetura. É assim que Berna Reale (ao lado) define sua obra
ela reconhece que a supervalorização desses materiais trouxe consequências. “Houve prédios históricos que foram restaurados e, no lugar do azulejo, puseram outros tipos de revestimento. Muitos exemplares raros da azulejaria foram perdidos”, lamenta. No entanto, Sanjad se mantém otimista e sinaliza que há um movimento crescente em prol da revalorização da azulejaria, baseado em novas formas de aplicação e “customização”. Nesse quesito, segundo a pesquisadora, a arte cumpre papel fundamental. “Os artistas revelam qualidades que vão além do apelo estético”, afirma, citando os paraenses Jorge Eiró e Berna Reale. Em se tratando de Berna Reale, ela não trabalha com azulejos industriais, mas com o que Thaís Sanjad define como “ladrilho cerâmico”. São peças artesanais, em argila, que apesar de não receberem pigmentação após a queima, adquirem cores diversas durante o processo de cozedura. A artista explica que o fator determinante para as cores que se quer alcançar são os minerais com os quais a argila é articulada e o tratamento térmico.
As peças, além do caráter de exclusividade, têm outro diferencial – a alta durabilidade. “É um trabalho artesanal voltado à arquitetura”, define Berna Reale, premiada em inúmeros salões de arte, sendo o mais recente o Grande Prêmio do Arte Pará (2009). “Eu mesma produzo a massa, moldo em tamanhos de 5x5 ou 10x10 e aplico tratamento térmico”, explica. O forno utilizado é uma máquina especial, projetada pelo engenheiro José Carlos Porpino de Oliveira. Em suas atividades, a artista se volta tanto para trabalhos artísticos quanto decorativos. No primeiro caso, Berna Reale faz do ladrilho cerâmico a sua “tela”, onde desenvolve a pintura. Nascem, então, painéis exclusivos que apresentam desde figuras abstratas até, por exemplo, gravuras rupestres do sítio arqueológico da Serra da Lua, na cidade de Monte Alegre, no interior do Pará. Nos trabalhos voltados majoritariamente à decoração, ela explica que estabelece um diálogo com o arquiteto responsável pela obra, a fim de compor um painel que atenda tanto sua persona-
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Cervantes, Beatles e São Jorge. No caldeirão artístico de Jorge Eiró, referências literárias, da cultura pop e da religião caminham juntas para dar vida a um trabalho rico e inovador
lidade artística quanto as necessidades do projeto. “O arquiteto é livre para criar, assim como eu”, afirma. Ao conhecer o trabalho de Berna Reale, salta aos olhos que seu prazer reside, primeiro, no domínio da técnica. Graduada em Artes Visuais, ela conta que ficou fascinada pela natureza mutante da argila, devido à possibilidade de adaptá-la conforme “os próprios sonhos”. Nesse ponto, a artista reconhece o pintor e ceramista paraense Ruy Meira (1921-1995) como o seu grande mestre. “Foi ele quem me ensinou a respeitar o material”, revela. “Produzo os ‘azulejos’ obedecendo a um padrão de tamanho justamente porque dessa forma posso garantir que não vão curvar com o tempo – é preciso respeitar seus limites”, adverte. A primeira peça em cerâmica produzida por Berna Reale data de 1995, mas o trabalho com os ladrilhos é mais recente. Em 2005, ela foi convidada pelo arquiteto e então Secretário de Cultura do Estado do Pará, Paulo Chaves Fernandes, para instalar oito painéis no Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, em Belém. “Foram
cerca de 60 dias realizando testes de cor e textura antes mesmo de dar início à obra”, conta. Ao todo, 18 mil peças em cerâmica foram utilizadas, todas feitas à mão e encaixadas uma a uma nos painéis. “Aprendi muito em oito meses de um trabalho minucioso”, orgulha-se. Além dos que estão no Hangar, painéis com os ladrilhos cerâmicos da artista podem ser encontrados na Universidade Federal do Pará (UFPA) – um deles, no plenário da Secretaria Geral dos Conselhos Superiores Deliberativos (SEGE). Religiosidade e arte pop Em “Padroeiro do Brasil”, composição de Ary Monteiro e Irany de Oliveira, gravada no álbum “Brasileirinho” (Biscoito Fino/2004), Maria Bethânia canta que em “em toda casa tem um quadro de São Jorge / em toda casa onde o santo é protetor”. Se a assertiva é verdadeira, não cabe discutir, o fato é que na casa da família do arquiteto e artista plástico paraense Jorge Eiró, havia. No ano passado, em uma viagem a Portugal, Eiró visitou o Castelo de São Jorge e o Museu do »»»
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Os azulejos remontam ao século XVI e, no Brasil, são herança da colonização portuguesa
Azulejo, em Lisboa, que o fizeram reviver momentos marcantes de sua memória afetiva. Os azulejos gravados com imagens de santos, conta o artista, remeteram às paredes da casa de sua madrinha, onde passou bons bocados da infância. “Ela era da umbanda, mas devota de São Jorge, e os azulejos nas paredes simbolizavam proteção”, relembra. O sincretismo, que àquela altura chamou a atenção do menino, contribuiu para que ele desenvolvesse, hoje, os trabalhos da fase “Azulejaria da Companhia de Jorge”. Aliando, portanto, religiosidade e pop art, o trabalho de Jorge Eiró traz o Santo Guerreiro em azulejos de 20x20, mas sob uma abordagem diferenciada. São “derivações, aglutinações e especulações” da figura de São Jorge a partir de imagens da indústria cultural que o artista coletou na internet. “Trabalho graficamente as relações do santo com esses símbolos pop e imprimo nos azulejos, aplicando verniz fixador”, explica Eiró, que tem o auxílio de Wisfredo Gama. “Não há como negar, ele é um santo-star”, brinca Jorge, referindo-se à representatividade do outro Jorge, que considera um dos maiores ícones populares. Ao falar da azulejaria, o artista diz que se trata
de uma questão de “pele”, proteção, apuro. “Para conceber esse trabalho, fui o mais próximo disso, fiz uma pesquisa de campo em Belém”, conta. Para Jorge Eiró, o azulejo ainda é peça propícia à criatividade dos que se propuserem a trabalhar com ele. “É um elemento que ressurge na arquitetura contemporânea a partir de uma adaptação da tradição, e meu trabalho foca justamente nisso”. Interessantes e bem-humoradas, as peças da “Azulejaria da Companhia de Jorge” trazem São Jorge em paródias, como “St. George’s Lonely Hearts Club Band”, numa referência aos Beatles; adaptações, como “Scuderia Di Giorgio”, que reproduz a marca da Ferrari; e sátiras, como “San Giorgio Armani”, em alusão ao estilista italiano. Trata-se de um mosaico de referências, intimamente ligado ao cotidiano do artista, que já contabiliza mais de 30 anos dedicados às Artes Visuais. Por tudo e tanto, fica a máxima de Thaís Sanjad, a exemplo dos trabalhos de Jorge Eiró e Berna Reale – “por meio da arte, com apelo estético ou artístico, é que a tradição da azulejaria se mantém viva”. De fato, sendo passado, mas também futuro, o tempo do azulejo é mesmo “quando”.
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design
Pen drive de madeira com temas amazônicos. Apenas uma das mil alternativas que o design com viés sustentável pode abraçar
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Catarina Barbosa
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Design
sustentável
Profissionais paraenses passam oito meses na Itália aprimorando seus conhecimentos e voltam com gás renovado para investir na produção local
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ocê já pensou em comprar produtos de papelão ou incluir nos critérios de compra a sustentabilidade e a realidade da produção local? Esse é um trabalho desenvolvido pelos designers Raphael Lucas Silva, Clara Amorim, Lina Harada e Elisa Arruda. Aprovados no projeto Rede de Serviços Tecnológicos (RST), um programa da pós-graduação que mantém convênio com o Centro Tecnológico para o Setor de Madeira-Móveis da Região Marche, em Pesaro, na Itália, os profissionais passaram quase oito meses em solo italiano aprimorando seus conhecimentos na área. Agora, retornam à capital paraense com ideias para renovar a produção no Estado. Fruto de uma parceria entre o Sebrae, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Centro Tecnológico para o Setor de Madeira-Móveis da Região Marche (Cosmob), na Itália, o RST investe em ações de design por acreditar que essa é a principal ferramenta para se promover mudanças eficazes no setor, uma vez que a vertente do projeto é a inovação e uma das formas de se obtê-la é por meio do design. Criado em 2006, em Washington, nos Estados Unidos, o nome “Rede de Serviços Tecnológicos” é o título fantasia para o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cadeia Produtiva de Ma-
deira e Móveis da Região Amazônica Brasileira. Antes de ser implantado, o projeto passou por várias etapas, como, por exemplo, a realização de parcerias dos promotores do programa, diagnóstico da cadeia produtiva de madeira e móveis da Região Amazônica e identificação das instituições parceiras, entre outros. O foco é gerar diversidade para a produção local, com itens sustentáveis, e, em escala mais audaciosa, convencer a indústria a substituir o antigo modelo de produção por um que siga as tendências de mercado e inclua em seus critérios a forma como as empresas amazônicas trabalham. Além disso, o “Rede de Serviços Tecnológicos” trabalha com outros tipos de madeira, inclusive o MDF (Medium Density Fiberboard - Fibra de Média Densidade) e tem grande atuação na educação ambiental e uso sustentável das florestas. Hoje, o RST é monitorado constantemente, além de passar por avaliações periódicas para verificar o seu andamento, acompanhar os resultados concretos dos serviços para o micro e o pequeno empresário e detectar a análise de possibilidades de inserção de novos serviços e parcerias. Dentro dessa perspectiva, o Cosmob tem a finalidade de promover e sustentar o desenvolvimento »»»
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De volta da Itália após quase um ano de estudos, os designers tentam aplicar na capital paraense o aprendizado adquirido
tecnológico, produtivo, comercial e gerencial das empresas desse setor. Ele foi escolhido para integrar o ideal da ação devido à experiência italiana na área de madeira e móveis, principalmente na região de Marche, no centro da Itália, que permitiu que a região concentrasse um número significativo de empresas que apresentam níveis de competitividade, design e padrão de qualidade europeu adequados ao mercado internacional. O desempenho é resultado do investimento das empresas, principalmente, nas áreas de qualidade, inovação tecnológica, internacionalização, formação e design. Nesse cenário, o Cosmob suporta essas demandas com enfoque em design de produto, com consultorias, transferência de tecnologia e cursos de formação técnica e de pós-graduação (Master em design). Assim, o Cosmob fornece serviços utilizando sua competência e qualificação profissional, possibilitando uma profissionalização específica para o mercado externo, de modo a ter capacidade de responder com eficácia, flexibilidade e eficiência às exigências da diversificação do mercado. Hoje, o RST conta com a parceria de dezesseis empresas do Pará e do Amazonas, para as quais presta serviço, entre elas, a Embrapa Amazônia Ocidental e Oriental, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa), entre outras. Apesar de existir desde 2006, enviar os paraenses para estudar na cidade de Pesaro, às mar-
gens do Mar Mediterrâneo, na Itália, foi uma ação pioneira. Dos três designers, o único que não é formado pela Universidade Estadual do Pará (UEPA) é Elisa Arruda, mas isso não causou nenhum tipo de empecilho durante sua estada na Europa. “Eu não conhecia nenhum dos três. Na verdade, só a Clara, de alguns eventos. Mas o nosso contato foi ótimo e a nossa relação tanto pessoal quanto profissional é excelente. Moramos juntos por quase oito meses e confesso que sinto saudade desse tempo”, declara a também professora universitária. A pós-graduação oscilou entre o desafio de viver uma nova cultura, o aprendizado de técnicas inovadoras e a obrigação de implantar esses processos na Região Amazônica, com a qual puderam fazer uma análise e detectar em que nível ela se encontra se comparada a outras produções de móveis do mundo. Outro fator que somou à experiência dos participantes foi o contato com a cultura italiana e a referência deles no setor de design. “Não faltaram professores qualificados e acesso direto a livros da área atualizados. Sem contar a oportunidade de visitar a Feira de Milão e ver de perto as últimas tendências”, afirma Lina Harada, destacando a forte preocupação ecológica europeia. “Tivemos até uma disciplina voltada para a produção de móveis em papelão, uma alternativa ecologicamente correta que até então eu não conhecia.”
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horas vagas • música Vídeo MTV ao Vivo, Caetano Zii & Zie Nos últimos anos, Caetano Veloso tem feito um esforço para renovar sua produção e chegar mais perto das novas gerações. Contratou músicos mais jovens, flertou com o rock e adotou uma linguagem menos pomposa em suas letras. Um dos resultados foi o álbum “Zii & Zie”, que ganha um registro ao vivo do show que marcou a turnê do disco. Acompanhado pela banda Cê, o baiano de Santo Amaro apresenta composições recentes, mas também abre espaço para performances de clássicos como “Irene”, “Maria Bethânia”, “Não Identificado”, “Eu sou Neguinha” e “Força Estranha”. No segundo DVD, “Obra em Progresso”, extras com mais oito músicas e um documentário sobre a turnê do álbum.
DICA
The King of Limbs - Radiohead
CONFIRA
Quatro anos após ”In Rainbows” (2007), o Radiohead está de volta. E do jeito que Thom Yorke e Cia. mais apreciam: dividindo opiniões. “The King of Limbs”, lançado no final de fevereiro, traz a banda mergulhando de vez no universo das intervenções eletrônicas e das programações, características de álbuns como “Kid A”, “Amnesiac” e “Hail to the thief”. Uns amaram, outros odiaram. Aos que quiserem conferir, “The King of Limbs” foi disponibilizado em MP3, WAV (para download) e também no formato que a banda classificou como “newspaper”, que inclui um CD, dois vinis de 10 polegadas, 625 desenhos em tamanhos diferentes e uma capa especial para armazenar o conteúdo do álbum.
BMW Jazz Festival Junho promete ser um mês especial para os fãs brasileiros de jazz. Anos depois de o país ficar órfão do lendário Free Jazz Festival, São Paulo se prepara para receber, nos dias 10, 11 e 12 de junho, no Auditório Ibirapuera, o BMW Jazz Festival. Nesta primeira edição, a organização do evento conseguiu acertar a vinda de ninguém menos do que Wayne Shorter (foto), saxofonista que fez parte da banda de Miles Davis, além do consagrado baixista Marcus Miller e da cantora Sharon Jones – além de atrações nacionais e internacionais. Além de três noites temáticas, o BMW Jazz Festival promete oferecer formas alternativas de interação entre a plateia e os músicos convidados – como a realização de master classes, por exemplo. Até o fechamento desta edição, os valores dos ingressos ainda não haviam sido definidos pelos organizadores, mas é bom colocar na agenda e reservar uns trocados para a empreitada. Vale muito.
INTERNET
CLÁSSICO
Acccuradio Essa nem é novidade, mas pela renovação permanente de conteúdo, é uma dica que vale muito a pena para os que ainda não tiveram a oportunidade de conhecer. A accuradio (www.accuradio.com) é um verdadeiro oásis para quem curte música desprovida de preconceito. É fã de jazz? Pode procurar que você acha. Curte rock dos anos 50, 60 e 70? Canais específicos mostram quem é quem no gênero. Se música celta é a sua praia, fique à vontade para navegar também. São mais de 500 canais que apresentam um panorama variado do que é produzido no planeta e garantem horas e horas diversão aos ouvintes. Se já conhecia, parabéns. Caso você seja um neófito, visite.
Elis & Tom (1974) Em 1974, um encontro entraria para a história da música brasileira. Elis Regina e Tom Jobim, já consagrados dentro e fora do país, resolveram aparar as arestas (Elis foi durante anos crítica da obra de Jobim) para entrar no estúdio e registrar “Elis e Tom”. Difícil conceber maneira melhor de selar a paz. Da primeira (“Águas de Março”) à última faixa (“Inútil paisagem”), a dupla mostra, em acordes, melodias e arranjos inesquecíveis, o que os fez se tornarem a realeza absoluta da Música Popular Brasileira. Em 2004, quando completou 30 anos, o álbum ganhou uma nova versão, com faixas extras, DVD áudio e CD com as músicas remixadas por César Camargo Mariano, produtor do disco nos anos 1970.
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horas vagas • literatura DICA O Evangelho segundo Barrabás Revisitar a história sempre foi uma das marcas registradas da dupla José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta. Resultado disso foi a conquista do prêmio Jabuti, em 1995, por conta de “O Chalaça”, que relatava, com bom humor, a saga do Conselheiro Gomes, personagem histórico famoso pelas peripécias ao lado de D. Pedro I. Agora, a dupla volta à carga com “O Evangelho segundo Barrabás” (Editora Objetiva), que apresenta aos leitores uma visão, digamos, nada ortodoxa da trajetória do rebelde que gravou seu nome na história após ser salvo pela multidão em detrimento de Cristo (naquele famoso julgamento comandado por Pôncio Pilatos). Uma ótima lembrança de que, em qualquer tempo, humor e inteligência sempre serão sagrados.
DESTAQUE
Benedito Nunes
CLÁSSICO Em fevereiro de 2011 a Amazônia perdeu Benedito Nunes. Filósofo, crítico literário e ensaísta respeitado mundo afora, o paraense deixa como legado uma obra referencial para todos os interessados no que houve de fundamental no pensamento do século XX. A despedida literária de Bené, como era carinhosamente chamado por amigos e familiares, foi “A clave do poético” (Companhia das Letras). Lançada ano passado e organizada por Victor Sales Pinheiro, a coletânea apresenta a enorme erudição característica da trajetória de Benedito Nunes, em ensaios que dissecam obras de autores como Rilke, Drummond, T.S Eliot e os contemporâneos Dalcídio Jurandir e Max Nunes. Introdução mais do que apropriada à obra do mais cosmopolita dos caboclos da Amazônia.
LANÇAMENTO
Umberto Eco Em “O Nome da Rosa”, Umberto Eco cria um mistério excitante e complexo ao retratar a vida monástica no século XIV. Os conflitos europeus do período vêm à tona e o leitor consegue sentir o efeito esmagador sobre a vida cotidiana dos homens dedicados à Igreja. As ordens monásticas competiam por influência temporal e espiritual. Algumas ordens foram declaradas como heréticas e
os julgamentos eclesiásticos por heresia refletiam a luta pelo poder e os conflitos filosóficos. O noviço e narrador da história, William de Baskerville, é enviado a uma abadia para investigar acusações de heresia e uma série de assassinatos. William acredita que as mortes estão relacionadas com as filosofias “heréticas” e práticas religiosas escondidas
às quais alguns monges estão apaixonadamente dedicados. Instigante e provocante., o livro é uma viagem literária, um convite para reflexões filosóficas, aos conceitos de certo e errado, bem e mal, a moral e pensamentos cristãos. O nome da Rosa é uma obra clássica, contextualizada na idade Média, mas que aborda assuntos ainda bastante presentes e discutidos na sociedade contemporânea.
Bravura Indômita Não é de hoje que literatura e cinema andam de mãos dadas. Em tempos de Oscar, então, a quantidade de relançamentos de obras que ganham vida nova na telona se multiplica. É o caso de “Bravura Indômita”, romance do escritor Charles Portis. Lançado em 1968, o livro deu origem à adaptação cinematográfica que garantiu o único Oscar da carreira de John Wayne. De volta ao cinema pelas mãos de Joel e Ethan Coen, “Bravura” ganha uma nova edição, patrocinada pela Editora Objetiva. Nas 192 páginas do livro, Portis narra a curiosa história de Mattie Ross, uma garotinha de Darnelle, no Arkansas, que aos 14 anos abandona a cidade natal com um objetivo: capturar o homem que assassinou seu pai. Ao lado do agente federal “Rooster Cogburn” (interpretado por Jeff Bridges no cinema), ela parte em busca da vingança. O resultado: páginas e páginas repletas de ação e humor.
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CONFIRA Flip Quem é apaixonado por literatura, já pode se programar para um dos maiores eventos literários do país: A nona edição da Festa Literária Internacional de Paraty , a Flip, que será realizada no período de 6 a 10 de julho de 2011. Entre os que já confirmaram presença para esta edição, estão o escritor brasileiro e membro da Academia de Brasileira de Letras, João Ubaldo Ribeiro, o jornalista e quadrinista maltês Joe Sacco, o escritor angolano vencedor do Prêmio Literário José Saramago, em 2007, Valter Hugo Mãe, entre outros. A Flip será recebida na Associação Casa Azul, em Paraty, no Rio de Janeiro. Programação imperdível para os amantes das letras! www.flip.org.br
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horas vagas • cinema
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Azul Escuro quase Negro E se tudo aquilo que você menos quer ser acaba se tornando a única saída? Esse é o destino de Jorge, rapaz que deseja se formar na faculdade, mas que acaba assumindo o trabalho de porteiro (que era de seu pai) após o mesmo sofrer um derrame. Sentindo-se culpado e ao mesmo tempo preso à situação, Jorge resolve mudar de vida... ou não. Cinema espanhol em sua melhor forma: humano, real, cortante.
Estômago
Filhos da Esperança
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Nesta deliciosa história, contada de “trás para frente”, conhecemos a trajetória de Nonato, imigrante nordestino que chega à cidade grande cheio de sonhos e nenhum dinheiro. Aos poucos, a necessidade e um talento natural ajudam Renato a descobrir algo que vai mudar sua vida, para o bem e para o mal. Estômago alterna momentos de drama e comédia numa trama bem temperada e surpreendente, como um bom prato deve ser.
Os medos, o mundo da imaginação, os amigos inseparáveis e muitos outros ícones da infância estão retratados neste filme, que narra as aventuras do menino Nicolau. Ao se deparar com a possível chegada de um irmãozinho, Nicolau decide que irá tomar uma atitude para manter sua vida exatamente como está. E conta com a ajuda de seus amigos para isso. Adaptado das histórias infantis de René Goscinny e Jean-Jacques Sempé, o Pequeno Nicolau é um filme para ser visto por toda a família, mas que possivelmente encantará mais aos adultos que aos pequenos ao relembrar a mágica da época mais doce da vida.
2027. A humanidade corre sério risco de extinção, o mundo está em caos, epidemias, vírus, genocídios e o problema mais grave de todos: há 18 anos nenhuma criança nasce no planeta e as mulheres ficaram inférteis. É quando surge uma jovem que misteriosamente está grávida. Theodore Faron, um ex-ativista e agora burocrata, se vê responsável por proteger a menina, acreditando que nela pode estar a salvação da humanidade. O filme faz uma mescla de temas atuais com ficção científica e impressiona ao trazer uma nova abordagem do que seria o fim da nossa espécie.
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galeria
A paixão pela renovação é a força motriz do trabalho de Claudia Jaguaribe. “As novidades me instigam, obrigam a olhar para frente.”
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Guto Lobato
Fernanda Brito
Todos os
olhares
Combinando imagem fotográfica, vídeo e áudio, carioca Claudia Jaguaribe leva ao extremo a multiplicidade da arte contemporânea
P
rimeiro o desenho, depois a escultura. No início da idade adulta, uma súbita paixão pela fotografia. Passados alguns anos, uma aproximação com a linguagem do audiovisual. E, já na maturidade, a descoberta das possibilidades da literatura e das instalações multimídia. Escolher o suporte ideal para exercitar a criatividade não foi trabalho dos mais fáceis para a artista visual Claudia Jaguaribe – tanta inquietação, ao que tudo indica, deriva da paixão que a carioca de 55 anos tem pela renovação. “Cada novidade tecnológica logo me instiga, força a olhar para a frente”, diz. Conhecida no Brasil e no exterior por seu trabalho com fotografia e vídeo – áreas às quais mais se dedica atualmente –, Claudia tem uma história de vida pontuada por viagens, deslocamentos e mudanças; por conta disso, seu trabalho percorre temas diversos – da relação entre o homem e a natureza à vida nas grandes cidades e até os bastidores do carnaval brasileiro. Criada nos bairros do Botafogo e do Jardim Botânico, zona sul do Rio de Janeiro, a fotógrafa estudou nos Estados Unidos e, há 20 anos, trocou o calor e as praias cariocas pela efervescência cultural de São Paulo.
Chegar às artes visuais foi um caminho natural. Aluna prodígio das escolas em que estudou, Claudia fazia desenhos e gravuras com inspiração direta em seu cotidiano. Na adolescência, desenvolveu uma paixão pela escultura – chamavam sua atenção a geometria, o detalhismo, a narrativa dos corpos e formas. O passo adiante foi ingressar no curso de História da Arte da Boston University, nos EUA, e por lá aprender a enxergar com novos olhos a produção artística moderna. “Nos anos 1970, os cursos de fotografia ainda eram um sonho distante no Brasil. Por lá, no entanto, a arte contemporânea estava no auge. O curso trazia um enfoque bastante visual e acabou abrindo minha mente”, lembra. A volta ao Brasil ofereceu, em princípio, oportunidades mais “práticas” – a fotografia de moda e publicidade, que, àquela época, tinha no Rio um de seus maiores polos. Só que o destino tratou de empurrar Claudia para São Paulo – e, de lá, para o exterior. Com 35 anos, ela chegou à cidade, montou seu estúdio e começou a emplacar obras em vários acervos, entre eles o do famoso Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). “Foi uma guinada não só na carreira, como também na vida »»»
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A mescla entre fotografia e vídeo é uma das características que fazem o trabalho de Claudia ser reconhecido como um dos mais interessantes nas artes visuais brasileiras
pessoal, na forma de enxergar o mundo. A loucura e a correria de SP me instigaram profundamente”, afirma. Foi nessa identificação com a velocidade e o cotidiano múltiplo da capital que Claudia encontrou boa parte da inspiração para seus cliques de séries – projetos temáticos a que se dedica de tempos em tempos. O reconhecimento obtido por algumas sequências, como “Quem você pensa que ela é?” (1995) – nas palavras da autora, uma típica “fotonovela pós-moderna” –, “Retratos anônimos” (1996) e “Cidades” (1993), levou sua obra a espaços como o MAM de São Paulo e do Rio, a Fundação Tomie Ohtake (SP), o Kennedy Center, em Washington, e o Museé de la Photographie, na França. Mas ainda havia uma inquietação em sua mente. “Não é que ‘faltasse algo’ na fotografia; digamos que poderia haver algo por trás dela. E esse ‘algo’ encontrei no vídeo.” Estava inaugurada a fase multimídia – e nada fácil de catalogar – da artista. Imagens em movimento A fascinação de Claudia pelo audiovisual é o que torna sua
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obra tão instigante; em exposições mais recentes, como a instalação “A fonte” – que faz parte da coletiva “Água na Oca”, em cartaz no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, até maio – o visitante não é convidado “apenas” a observar ângulos fotográficos. É, também, imerso em uma atmosfera composta por vídeos e sons que tentam aproximar o ambiente registrado do espectador. “O áudio e o vídeo ‘casam’ com a imagem, seja como pano de fundo dela, seja tendo-a como coadjuvante. É algo que dá novos horizontes à fotografia”, diz. “Aliás, para mim as exposições de parede branca, com fotos emolduradas em uma sequência organizada, já eram. É preciso mesclar plataformas”, emenda. Amante declarada de novas tecnologias, a fotógrafa não hesitou em abraçar os meios digitais para expandir horizontes. Foi assim que, aos poucos, o currículo de Claudia começou a ganhar vídeos em curta-metragem – quase todos feitos a partir de imagens em still (estáticas) e exibidos em mostras no Brasil e no exterior. Hoje, há oito em seu currículo; um deles, de ampla repercussão, é “Carandiru”. Homônima ao filme de Hector
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Babenco lançado em 2003, a obra é uma narrativa feita a partir da documentação que Claudia fez do set de filmagem ao lado de fotógrafos como Bob Wolfenson e Marlene Bergamo. A diferença em relação ao original? A trilha sonora perturbadora, de autoria de André Mehmari, e a história de um assassinato dentro da famigerada casa de detenção, contada a partir de uma sucessão de fotos. “Vi que o material que tinha feito para colaborar com o livro do filme poderia render algo à parte. Percebi que o vídeo não só servia para enriquecer a experiência de ver imagens; podia se transformar em uma obra autônoma.” O resultado: nos últimos dez anos, curtas autorais – e muitas vezes abstratos – como “O voo” (2007), “Para onde eu vou?” (2007) e “Fantasia” (2003) já circularam em mostras de cinema no Brasil, no Canadá e até em Cuba. Outro eixo de interesse de Claudia é a literatura – não aquela textual, de ficção, mas a de documentação visual. Pouco a pouco, seu trabalho ganhou espaço nas bibliotecas do segmento de arte. Em 1993, a editora Companhia das Letras publicou “Cidades”, série de relatos fotográficos sobre os cen-
tros urbanos no Brasil. De lá para cá, outros sete livros foram lançados. Os temas são diversos: de 2002, “Aeroporto” tenta resgatar a “alma” dos – usando um termo do teórico Marc Augé muito apreciado pela fotógrafa – “não lugares” que hoje compõem as grandes cidades. “O aeroporto é lugar de nada e de tudo ao mesmo tempo. Acontece todo tipo de coisa nesse espaço de transição”, diz Claudia. Mais recente, “Passagio per Roma” (2008) foi editado na Itália, como resultado de uma participação da carioca em uma mostra internacional. A ideia: registrar ângulos diferenciados de pontos famosos de Roma. “Fiz uma série em que se observa o Coliseu a partir do final de uma rua que leva até ele. São olhares de um estrangeiro que passeia de ônibus pela cidade.” Natureza versus homem As inquietações atuais de Claudia, no entanto, vão um pouco além do concreto e da velocidade dos centros urbanos. Reflexo dos anos de moradia no Rio de Janeiro, uma certa atração pela contemplação da natureza e dos contrastes entre »»»
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O Rio de Janeiro, terra natal da artista, é tema recorrente na obra de Claudia
o verde e o crescimento urbano acabou dando o tom de seus trabalhos mais recentes. Entre eles, está “Quando eu vi”, de 2007 – série que está entre as “meninas dos olhos” da artista e já circulou por galerias de todo o país. Outras que seguem rumo parecido são “Seu caminho” (2010) – que mostra a força, o fluxo e a correnteza das águas a partir de registros feitos em locais como Foz do Iguaçu (PR) – e “Rio de Janeiro”, ainda em elaboração, que traz ângulos panorâmicos das favelas e comunidades pobres da capital carioca que avançam sobre a mata. Na exposição “Quando eu vi”, o espectador era levado a um percurso que simulava o interior dos principais biomas brasileiros. A Amazônia, o Pantanal e a Mata Atlântica remanescente da região Sudeste foram retratados por Claudia em imagens fotográficas, vídeos e sons captados na selva; tudo no intuito de criar uma atmosfera de imersão total na natureza. As paisagens “fechadas” dão a impressão de solidão e melancolia – de fato, era esta a intenção da autora. “A ideia é olhar como a natureza convive conosco, muito embora nem sempre sejamos capazes de percebê-la em nosso cotidiano. Não à toa, quis usar o audiovisual para proporcionar uma ex-
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periência de imersão nessas séries”, teoriza. Conhecer a Amazônia foi, por sinal, uma experiência única para Claudia – que, do Norte, só conhecia Belém, fruto da vinda da exposição “Cidades” à Fundação Romulo Maiorana, ainda em 1993. “Achei a cidade uma das mais belas do país, e não só pelo verde e pelas belas frutas como também pelas pessoas, pelo gigantismo das construções”, lembra. Sua passagem pela região em 2007, no entanto, foi a partir de Manaus (AM). “Passei pouco tempo na cidade, fui logo para a floresta. Vi o espelhamento nas águas dos igarapés, a beleza do Rio Negro. É um ambiente fechado, de muito mistério... você ouve sons que parecem saídos de uma trilha sonora de filme.” Lentes para o futuro Com 30 participações em mostras coletivas e 20 exposições individuais organizadas no Brasil e em países como Itália, Espanha, Estados Unidos, Escócia, Alemanha, Argentina e França, Claudia parece ser um bom exemplo do estereótipo de artista hiperativo – aquele que nunca está satisfeito com os rumos que deu à carreira. Não é difícil perceber isso ao entrar em seu estúdio, instalado nos fundos de uma confortável casa
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O trabalho da artista já rodou o mundo inteiro em exposições na América, Europa e Estados Unidos
no Jardim Europa, zona oeste de São Paulo. Por lá, há de tudo um pouco – imagens de favelas cariocas, de árvores amazônicas, da correnteza de rios e, até, de viagens de férias para o exterior. É naquele “caos organizado” que Claudia passa suas tardes, tira um descanso pós-almoço e pensa nos projetos futuros. “Antes, cheguei a morar no Real Parque, no Morumbi [zona sudoeste/SP], mas não sei... era longe de tudo. Agora moro no trabalho e vice-versa. Tenho uma ideia e corro para o estúdio. Fico cansada e volto para o conforto de casa”, diz, sentada em frente a apetrechos tecnológicos como um iPad e um computador semiprofissional da Apple. “Acabo trabalhando em dobro, mas, em compensação, minha cabeça fervilha de ideias.” Ideias que, certamente, não vão ficar guardadas nos fundos da gaveta. Para 2011, a agenda de Claudia prevê ao menos cinco grandes eventos: em maio, a instalação “A fonte” será exposta na galeria Baró, em São Paulo; no mesmo período e cidade, ainda, a série “Rio de Janeiro” ficará em cartaz em uma mostra de vídeos e imagens no Museu da Imagem e do Som. Essa obra ainda seguirá, em julho, para o Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro. No mesmo mês, Claudia viajará a Madrid, na Espanha, para expor na galeria »»»
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Blanca Soto – o trabalho que será levado ainda não foi escolhido. Em setembro, o Instituto Cervantes de São Paulo também receberá parte da série “Você tem medo do quê?” (2006) em sua galeria. Como toda boa alma inquieta, Claudia vê esse turbilhão de afazeres como rotina – tanto que, ao mesmo tempo em que define quais obras expor, ela já pensa nos temas que inspirarão seu trabalho futuro. Uma viagem de férias para o Marrocos, feita pela artista em janeiro, é forte candidata. “Levei a câmera para aproveitar o país como turista, mas, feliz ou infelizmente, fotógrafo em viagem sempre está a trabalho”, brinca, sem dar mais detalhes sobre o conteúdo produzido por lá. Outro projeto das antigas que está prestes a sair do papel, curiosamente, está bem pertinho de seu cotidiano: até hoje, Claudia nunca fez um único trabalho sobre São Paulo. “Acho que agora é a hora certa. Hoje, passo muito tempo fora da cidade; isso faz com que meu olhar sobre ela fique mais aguçado”, diz. E quem sabe uma exposição multimídia sobre a Belém que conheceu há 18 anos e que, hoje, é um dos cenários mais impressionantes da urbanização em pleno coração da Amazônia? “Não descarto a ideia. Certamente, paisagens belas, misteriosas e surpreendentes não são raridade nas cidades da região.” Ideias não faltam para os novos trabalhos. Marrocos e São Paulo correm na frente como possíveis temas.
Para conhecer mais Para assistir
www.claudiajaguaribe.com.br http://barogaleria.com/artista/claudia-jaguaribe/
Para ler Quando eu Vi (Ed. Punctum, 2009) Passagio per Roma (Ed. Bandecchi, 2008) As Cidades do Brasil - Rio de Janeiro (Ed. Publifolha, 2006) Aeroporto (Ed. Codex, 2002) O Corpo da Cidade (Ed. BEI, 2000) Atletas do Brasil (Ed. Sextante, 1999) Quem Você Pensa que Ela é? (Ed. 34, 1995) Cidades (Ed. Companhia das Letras, 1993)
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Para ver ao vivo Exposição ˘gua na Oca Até 8/5 Pavilhão Lucas Nogueira Garcez – Oca do Parque Ibirapuera Av. Pedro ˘lvares Cabral, s/nÀ – portão 03 São Paulo – SP Ingressos: R$ 20 Informações: 0300 789 0002
Vídeo-instalação Aeroporto (2002) Você Tem Medo do Quê? (2006) O Seu Caminho (2010) Curta-metragem Fantasia (2003) Carandiru (2003) Caraminholas (2003) Tudo é Sofia (2004) O voo (2007) Para Onde eu Vou? (2007) Quando eu Vi (2007/2008) Passagio per Roma (2009)
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destino
A “Mesquita Azul”, um dos cartões-postais de Istambul, reconhecida internacionalmente por sua riqueza cultural e seu ar cosmopolita
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Dayse Freitas
Dayse Freitas
Entre o
Ocidente eo Oriente
A riqueza histórica, a mistura cultural e o ar cosmopolita encantam os turistas em Istambul, a pérola do Bósforo
S
e os viajantes do mundo possuíssem uma lista de dez mandamentos para seguir, certamente este não
está dividida pelo estreito de Bósforo, que separa fisicamente os dois continentes.
poderia faltar: não morrerás sem visitar Istambul. Com mais de 12 milhões de habitantes em toda a região metropolitana, a maior cidade da República da Turquia e
Istambul foi fundada há cerca de três mil anos com o nome de Bizâncio por colonos gregos, mas foi como Constantinopla, sede do Império Romano no Oriente (Império
uma das mais populosas do mundo é um destino inesquecível para quem sai em busca de profundas experiências
Bizantino) e do Império Otomano até os anos 1920, que a cidade ficou conhecida nos livros de História, inclusive no
culturais. Apesar de não ser a capital oficial do país, título que pertence à cidade de Ancara, Istambul se tornou o principal
Brasil. A relevância histórica e o fascínio cultural despertado em seus visitantes renderam a Istambul o título de “Capital Cultural Europeia” em 2010, ao lado das cidades de Pécs,
destino na Turquia por ser a única cidade no mundo que está localizada tanto na Europa quanto na Ásia. A cidade
na Hungria, e Essen, na Alemanha. Apesar da Turquia não fazer parte da União Europeia, »»»
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Templos religiosos como os de Santa Sofia atraem a atenção de religiosos e ateus, encantados pela beleza contida nas construções históricas
pelo menos por enquanto, a cidade é frequentemente comparada a outras grandes metrópoles do continente, como Londres ou Paris, por sua rápida modernização e uma cena
Símbolo do Império Bizantino, a basílica foi construída entre 532 e 537 sob a supervisão do próprio imperador Justiniano I como uma das maiores representantes da arquitetura
cultural cosmopolita e efervescente. Em Istambul a modernidade e a sensação de estar em
bizantina, principalmente com a cúpula e os mosaicos no interior do templo. Com a tomada de Constantinopla pelos
diferentes épocas históricas é a marca registrada que tem atraído milhões de turistas todos os anos. A conexão entre o Ocidente e o Oriente não é apenas geográfica. Ela se revela
turcos, a igreja foi transformada em mesquita em 1453 e em museu a partir de 1934. Visitar as mesquitas de Istambul certamente pode se re-
em cada esquina da metrópole. Com a maioria da população mulçumana e uma minoria cristã, a cidade passa uma imagem de grande tolerância
velar o ponto mais alto da viagem, pois o contato sem clichês com a cultura mulçumana tem conquistado o respeito de turistas de várias religiões - e até de ateus. Além da Mes-
cultural e religiosa. O chamado para a oração que vem da mesquita pode ser ouvido em pleno centro comercial cheio de jovens turcas com a cabeça coberta ou de minissaia, que mostram como é possível conviver com as diferenças.
quita Azul e de Ayasofya, várias outras estão espalhadas pela cidade, como uma característica típica da cultura local. A visita ao Palácio Topkapı também é parte do roteiro que mostra o mundo luxuoso em que viveram os sultões após a tomada de Constantinopla. Aberto à visitação pública desde
Terra de sultões e palácios Visitar as várias mesquitas é dos principais programas turísticos em Istambul. A imponente Mesquita do Sultão Ah-
1924, o complexo, além de residência, também era o centro das decisões políticas durante o Império Otomano. Com apenas um bilhete de entrada é possível visitar os
med, mais conhecida como “Mesquita Azul”, é um dos cartões-postais da cidade. Construída entre os anos de 1609 e 1616, é a única mesquita em Istambul que possui seis
jardins, os museus com indumentárias e joias usadas pelos sultões, os centros das decisões do império e os mausoléus. Para visitar o Harém, área onde viviam as famílias dos
minaretes, as torres características deste tipo de templo. Bem em frente está localizado outro grande monumento: a Basílica de Santa Sofia ou Ayasofya Müzesi, em turco.
sultões e que era proibida para homens de fora, é preciso comprar uma entrada extra. Dentro do circuito de tesouros monumentais em Istam-
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Mais de 300 colunas de mármore formam a Cisterna da Basílica, monumento que já foi usado até como locação para um dos filmes da série James Bond
bul, o viajante poderá visitar a famosa Cisterna da Basílica ou Yerebatan Sarnıcı. O palácio subterrâneo representa uma das várias cisternas construídas durante o período
considerado o mais antigo mercado do mundo, é parada obrigatória para quem não abre mão dos suvenires. A variedade de joias, tapetes e cerâmicas encanta turistas, princi-
bizantino. Mais de 300 colunas de mármore formam o monumento, sendo duas delas, as medusas esculpidas
palmente do sexo feminino. As lâmpadas coloridas para decoração servem como uma simpática lembrança da cidade.
em pedra, as maiores atrações. O clima cinematográfico do lugar também já foi usado no filme James Bond: From Rússia with Love.
Diferente do assédio exagerado dos vendedores em mercados do Egito ou Marrocos, por exemplo, o Grande Bazar cativa pela simpatia. É possível apreciar tudo com muito
Além das mesquitas e palácios mais conhecidos, uma opção também é explorar as relíquias de outros tantos museus da cidade como o Museu Arqueológico, Museu de Chora,
mais tranquilidade, mas caso haja interesse em algo, a ordem é seguir a tradição cultural e negociar bastante. Outro famoso bazar da cidade é o “Bazar Egípcio”, conhe-
Museu de Arte Turca e Islâmica, além do Museu de Arte Moderna, o Istanbul Modern. Visitar a parte asiática da cidade deve estar na lista de prioridades do viajante. Muitas agências oferecem passeios em barcos de turismo com opções de paradas em várias
cido popularmente pelo nome devido à grande quantidade de especiarias importadas daquele país. A variedade de temperos e chás forma um mosaico de cores que virou item obrigatório no álbum de viagens. Os doces turcos também são uma ótima sugestão para trazer na mala.
estações ao longo do Bósforo. Para quem optar por algo mais individual, vale a pena usar as balsas comuns que saem da Estação Eminönü diretamente para Üsküdar, um
Cultura que encanta A parte histórica de Istambul, tombada como Patrimônio
dos distritos mais conhecidos na parte asiática. A travessia custa o mesmo preço do transporte na cidade.
da Humanidade pela UNESCO, está localizada nas zonas de Eminönü e Sultanahmet. Em Sultanahmet estão concentrados muitos hotéis e albergues da juventude, o que
Templos do consumismo Engana-se quem pensa que Istambul se resume apenas a museus e templos religiosos. Uma ida ao “Grande Bazar”,
facilita a locomoção para muitos dos principais pontos turísticos da cidade. Caminhar por Istambul também é uma das melhores ma- »»»
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A área urbana de Istambul também reserva ótimas surpresas: vida agitada
neiras para se conhecer a cultura turca. Diversos pontos e restaurantes espalhados pela cidade oferecem o tradicional
Além de todos os programas culturais que podem ser explorados durante o dia, a vida noturna também oferece
Kebab, pedaços de carne, geralmente de cordeiro, servidos com acompanhamento. Outra programação gastronômica muito recomendada é comer em uma Fish House, um res-
muitas opções para quem não quer ir para a cama cedo. Em Beyoğlu, distrito da parte europeia da cidade, funciona um centro de compras muito movimentado que, durante a
taurante onde o cliente escolhe e compra o peixe para ser preparado no estabelecimento.
noite, abriga bares de narguilés, restaurantes e festas para todos os gostos.
Entre todas as opções que envolvem o paladar em Istambul, talvez nenhuma seja mais marcante que o tradicional chá turco. O ritual de tomar o chá em pequenos copos tra-
No mesmo distrito está localizado o bairro de Gálata, um dos mais lembrados pelos turistas, principalmente por ter inspirado a fundação de um dos times de futebol mais co-
balhados é uma das marcas culturais do país e pode apaixonar até mesmo quem não aprecia a bebida.
nhecidos da Europa, o Galatasaray. O nome do bairro também identifica a famosa torre da cidade: a Torre de Gálata. Aproveitar o dia ou a noite em Beyoğlu é garantia de con-
Metrópole pulsante A vida cultural intensa de Istambul tem atraído muitos estrangeiros que, muito além de viagens turísticas, decidem
tato direto com o ritmo intenso da cidade. Turistas a passeio se misturam à multidão que vem e vai ao trabalho todos os dias. Os bares cheios de senhores de meia idade que jogam
ficar por mais tempo na cidade e já representam um dado importante dentro das estatísticas da metrópole.
enquanto fumam o narguilé oferecem lugares também para quem está só de passagem.
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A ponte localizada sobre o Estreito de Bósforo liga a Ásia à Europa
Istambul Onde fica? A cidade está localizada na região de Mármara, no noroeste da Turquia. Istambul também é a capital da província que leva o mesmo nome.
Visto Turistas brasileiros não necessitam de visto para entrar no país.
Transporte Aéreo Conta com o Aeroporto Internacional de Atatürk, cujo nome homenageia o primeiro presidente da República da Turquia e está localizado no lado europeu da cidade. O segundo maior terminal aéreo é o Aeroporto Internacional Sabiha Gökçen, que fica na parte asiática de Istambul, cerca de 35 quilômetros do centro.
Moeda 1 Lira Turca (TRY) = Aproximadamente R$ 1,04627 (Fev/2011)
Transporte na capital O transporte na cidade poderá ser feito por meio de metrô, ônibus, bonde elétrico ou balsa (vai para a parte oriental da cidade). Porém, apenas com o uso do moderno sistema de bondes elétricos é possível visitar as principais zonas turísticas da cidade. Cada trecho custa 1,75 (TRY). Para voar do Brasil Os voos com destino a Istambul podem ser feitos a partir de São Paulo (Guarulhos) com ou sem escalas em outras cidades da Europa. A maior companhia aérea do país é Turkish Airlines.
Melhor época para visita Entre abril e junho (na primavera) e entre setembro e novembro (no outono) os visitantes irão encontrar dias ensolarados com temperaturas bastante agradáveis para os passeios. Sites interessantes • http://www.tourismturkey.org (Site oficial da Agência de Cultura e Turismo da Turquia) • http://english.istanbul.com (Dicas de turismo em geral na cidade) • http://www.istanbulhotels.com (Informações sobre a disponibilidade do sistema hoteleiro na cidade e dicas de turismo)
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foto Walda Marques
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fotos Mayra Jinkings
enquanto isso
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Visca
Barcelona
Mayra Jinkings turismóloga
E ela chegou assim, de repente, sem avisar. Ou se tentou avisar em algum inverno bem rígido en-
comparada à outra, mas Barcelona encabeça a regra. Capital da Catalunha – uma comunidade autô-
quanto eu vivia em Paris, não dei ouvidos. Talvez de longe eu ouvisse a voz dela, no fundo: Se vieres para cá, teu inverno pode se tornar primavera. Não fui, não fui. Não fui por pura tolice
noma – Barna é a que menos se sente e, logo, se expressa espanhola. Não só pelo idioma, mas por serem altamente “nacionalistas”, separatistas. E também pela economia e turismo que Barcelo-
porque sempre tive o péssimo costume de contrariar as pessoas. Mas também sei ceder e depois de tamanha in-
na possui. É notória a rivalidade entre Barcelona e Madrid – a capital do país – e assim compreendemos que em tudo e POR TUDO, as diferenças vão
sistência, fui. E não é que fui chegando, sentindo, vendo e ela tinha razão! Vivi o inverno mais primaveril de minha vida. Barcelona é assim: chega, te seduz como se não quisesse seduzir, te encanta. Te mostra arte, cultura. Moderno, novo. Contemporânea, medieval. Plural! Nesse querendo-não-querendo, te mostra no caminho tendências dentre as galerias de arte a meio-fio. Mostra moda. Ela chega e te surpreende com sua arquitetura. Ela, tão cosmopolita, te surpreende com o que te faz sentir. E, no meio de tudo isso, ainda tem a praia
muito além de simples rixa. Para mim, em termos de riqueza cultural, a Espanha é um dos países mais interessantes e, Barcelona, na minha opinião, está entre as 5 cidades mais absurdas (no sentido maravilhoso da palavra) de todo o mundo. Em Barcelona não se encontram aquelas “espanholices” mais típicas, como mulheres vestidas com trajes tradicionais andaluzes e todos os adereços correspondentes (castanholas e leques etc.), nem os chapéus de toureiro e os belíssimos “cavalos andaluzes”, assim como também não en-
e o Mar Mediterrâneo. Essa abstração total que chamamos de Barcelona, para mim, é uma figura quase humana e eu
contrarás os touros de Miúra, mas encontram-se os saborosos azeites extra virgens e a estupenda culinária espanhola, encontram-se as cores espa-
estabeleci com ela uma ligação de cumplicidade enorme; Barcelona conheceu meus segredos mais
nholas como num filme de Almodóvar. Além disso tudo, ainda tem o Barça, com seu
profundos, Barcelona me viu chorar de pura tristeza, me acolheu dentro das noites de solidão única, escutou minhas mais altas gargalhadas em cada
slogan em catalán dizendo que é Més que un club, me conquistou pela mobilização popular. Eu, fanática por futebol, em ir ao estádio ver meu clube jogar
uma de suas esquinas, Barcelona me despertou uma felicidade clandestina que eu nunca havia experimentado na vida. Barcelona simplesmente me
em Belém, aqui me deixei ser contagiada por toda a magia do melhor clube do mundo. Visca Barça! Na minha opinião, aqui existem dois pontos mais
apresentou a mim mesma. No embasbacador universo modernista, onde Gaudí está por toda parte com alguns outros ar-
altos. Um seria a riquíssima arquitetura que vai do gótico ao modernismo – tão proximamente quanto duas calçadas da mesma rua – e especialmente
tistas catalães como Lluís Domènech i Montaner, quem conhece outras cidades da Europa se como-
este que tem toda a sua personalidade admirada em BCN e ainda mais forte nas mãos de Gaudí e
ve com Barcelona pela modernidade da “coisa”. Ou modernidade da “cor”. Barcelona te transforma. Barcelona te pulsa. E o pulso…
sua arquitetura completamente orgânica que, sinceramente, acho difícil ser encontrada em qualquer outro lugar do planeta. E o segundo é a beleza na-
Encontramos também outros ícones igualmente atraentes e culturalmente fantásticos: Dalí, Miró e Picasso.
tural da cidade e o Mediterrâneo para completar, fazendo casal com o céu mais azul que já vi em vida e que eu mesma denominei (nada orginal)
Dois mil anos de história. Aberta a inovações. Acolhedora, caliente, plural. Diversa! Em Barcelona os idiomas oficiais são o catalão e o castellano. As duas línguas coexistem num bilinguismo parecido
azul-barcelonès. Barcelona te encanta de uma ponta a outra. Barcelona cheia de tapas, sangrias, festas. Pode também ser uma Barcelona pacata, calma e azul.
a outras regiões do mundo. Eu compreendo que nenhuma cidade pode ser
Barcelona é camaleão. Barcelona é adaptável. Barcelona não pode permitir definição.
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Catarina Barbosa
Luiza Cavalcante
Fusão
delícias
de
De origem asiática, mas difundida pelos amantes da culinária francesa, a “Basqueta de frutos do mar” ganha um toque paraense nas mãos do chef Cacá
U
m chef amante da culinária francesa e paraense. A admiração do homem que hoje comanda a cozinha
natal. Mas nem sempre a carreira de Cacá foi dedicada à culi-
do Crowne Plaza, em Belém, é um misto de devoção ao sabor dos pratos típicos da infância e à inventividade dos franceses, criadores de algumas das mais conhecidas
nária. Preocupado com a segurança financeira, ele investiu na formação acadêmica de economista e em abril de 1993 foi para Londres estudar inglês e aperfeiçoar-se na área. Ao
receitas da culinária internacional. A fusão deu origem à receita que o chef apresenta nesta
chegar ao país, trabalhou como stward – uma espécie de lava-pratos – em um restaurante pequeno da capital de Lon-
edição. Com gênesis asiático, mas difundido na França, o prato ganhou o tempero das iguarias paraenses. “Tenho um apreço especial pela culinária francesa, principalmente pela
dres, e aos poucos investiu em cursos, como corte de aves e peixes; massas; sushi e shimak; entre outros. Dedicado, foi conquistando espaço, até que conseguiu o
capacidade com que ela pode ser adaptada. O prato que vou apresentar é uma novidade em Belém. Acrescentei o peixe de água doce e a basqueta – que é feita com massa
emprego no Frèrre Jacques. Apesar do aprendizado, confessa que sonhava com o retorno ao Brasil. “Amo morar em Londres, mas as minhas raízes estão aqui. E em se tratando
de pastel para sushi. O resultado, sem modéstia, é surpreendente”, declara o chef, que nos últimos 10 anos trabalhou no Frèrre Jacques, um restaurante francês, localizado às
de um chef, é muito dolorosa a saudade dos nossos pratos, do tacacá, do peixe fresco”, afirma. A fusão da culinária francesa com a paraense deu origem
margens do Rio Thammes, em Londres. Treinado pelo austríaco Gehard Pellesca, o chef Cacá que prefere não revelar seu verdadeiro nome - desenvolveu habilidades até então adormecidas. O amor pela cozinha começou ainda na infância. Inspirado pela mãe, que pre-
ao novo menu do Crowne Plaza, que recebe a assinatura de Cacá Nascimento, que implantou pratos como a “batata boulongère”, a “batata douthinoire”, o “filé ao molho bearnaise”, sem contar o destaque que deu aos frutos do mar e mariscos. Em julho, o chef volta a Londres somente para re-
parava deliciosas receitas típicas, o menino descobriu, em meio ao tucupi e à maniçoba, que o cômodo da casa onde se sentia mais à vontade era a cozinha. “É o local onde eu
solver burocracias, mas no retorno ao Brasil promete investir em um negócio, mostrando ao público a essência dos paraenses pratos à la francesa, com o jeitinho brasileiro e o toque
reúno meus amigos, minha família. Enfim, é onde eu realmente me encontro”, revela, alegre por estar em sua terra
paraense. Se você tem dúvidas quanto à combinação, é só experimentar essa receita e tirar suas próprias conclusões.
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receita
Basqueta de frutos do mar Ingredientes • • • • • • • • • • • •
1 basqueta (feita com massa de pastel para sushi ou massa filó) 3 batatas bolinha (cozidas com açafrão) 300 ml de caldo de mariscos 250 g de frutos do mar (mexilhão, lula, polvo e camarão) 250 g de peixe salmão, filhote, pescada, todos frescos 5g manteiga d’alho 50 ml de creme de leite 20 g tomate em cubinhos 100 g espinafre 5 g de cheiro-verde picado Salsinha para decoração Sal e pimenta-do-reino a gosto
preparo Faça o caldo de mariscos com a carcaça do peixe e a casca do camarão. Tempere com cebola, alecrim, alho, alho poró, pimenta-do-reino, sal e aipo a gosto. Reserve. Em uma panela acrescente a manteiga d’alho, o espinafre, sal e pimenta-do-reino a gosto. Refogue por aproximadamente 3 min até que amoleça. Separe. Puxe os mariscos no azeite. Depois, separe os mexilhões. Em outra panela coloque a manteiga d’alho, acrescente o caldo de mariscos, os peixes frescos e os mariscos puxados no azeite. Deixe cozinhar a 100°C por 5 minutos. Acrescente o mexilhão, o creme de leite, as batatas pré-cozidas com açafrão, o tomate, o cheiro-verde e sal a gosto. Cozinhe por mais 13 minutos.
montagem No centro do prato monte uma cama de espinafre. Sobre a cama coloque a basqueta e dentro dela o caldo de mariscos. Decore com salsinha e as batatas. O prato é para uma pessoa e pode ser degustado com arroz. Para acompanhar vinho branco.
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Entre o dia corrido e um abraço demorado, existe o equilĂbrio.
Planejado paaraa seus dias. Pensado paara sua vida.
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vinho
Rodrigo Aguilera empresário
Reflexões sobre o vinho no Brasil
O prazer de degustar um bom vinho pode ser descrito por adjetivos extremamente criativos, corretos
substituído por vinhos de qualidade superior. Hoje bebe-se menos, porém com mais qualidade. O au-
ra do pseudo-enófilo ou, em português mais claro: o “enochato”. Neologismo? O enochato já visitou uma
e objetivos, como deve ser; mas a verdade é que muitos críticos, revistas, sites e blogs exageram no léxico, criando até neologismos de dar inveja a Guimarães Rosa. Falar sobre vinho não é novidade, e
mento da renda média do brasileiro junto com a noção dos benefícios do consumo moderado de vinho — fortemente alardeados pela mídia — é responsável pelas ótimas taxas de crescimento que o consumo
ou outra vinícola, decorou o nome de algumas variedades de uvas, geralmente gosta de impressionar seus confrades com vinhos caros e complica muito em vez de explicar. O problema é que, diferente de
sabemos que hoje a informação sobre o tema é rica e abundante: internet, livros, cursos livres, associações, confrarias, faculdades de enologia e cursos para formação de sommelier. O brasileiro está viajando mais,
do vinho no Brasil tem hoje. Poderia ser bem maior caso a indústria nacional tivesse incentivo do governo, como acontece na Argentina e no Chile. No Brasil, em alguns casos, a tributação chega a representar
um profissional, que quando se depara com um iniciante tenta auxiliá-lo sem arrogância a desfrutar de uma simples bebida, o enochato acaba assustando e criando um preconceito de que vinho é bebida pra
indo com mais frequência a restaurantes, e nota-se o interesse pelo que come e bebe. Foi-se o tempo que restaurantes não tinham uma carta de vinhos, mínima
até aproximadamente 80% do preço de venda de um vinho importado e aproximadamente 60% no caso do vinho nacional.
rico ou coisa pra intelectual. Então caros leitores, iniciados ou não, procurem sim informação, cursos, livros etc. Porém, não esqueçam
que fosse, ou que não tivessem uma taça adequada para servi-lo — se bem que ainda hoje encontramos alguns resistentes a mudanças.
Visitando Mendoza — a capital do vinho na Argentina — ano passado, vi de perto a importância deste mercado. Vinícolas preparadas para receber turistas,
que no fim o objetivo desta incomparável bebida é proporcionar prazer e, de preferência em uma mesa farta, na companhia de pessoas queridas. O vinho
O consumo médio per capita por ano é de aproximadamente 2l comparado aos 33l dos hermanos argentinos — que já foi ainda maior no passado. No “mundo moderno” a bebida passa a ser um ícone de status — quem a consome está bem de vida — onde antes era um complemento das refeições, um alimento; o simples vinho de mesa do dia a dia foi
hotéis de charme e restaurantes de primeira. Enfim, uma experiência completa para os diletantes da boa mesa e que acaba favorecendo toda uma cadeia, gerando empregos e levando hordas de turistas, ávidos por uma taça de vinho em uma região desértica, porém muito bonita. Com as coisas melhorando, eis que aparece a figu-
deixou de ser exclusividade — há tempos — de europeus e, sem sombra de dúvidas é uma bebida universal. Não beba rótulo, notas e desmitifique a ideia de que vinho bom deve ser vinho caro e (re) descubra os vinhos nacionais, desta forma você amplia seu leque de possibilidades e se surpreenderá muitas vezes. Neste mês indico ótimos rótulos nacionais. Saúde!
Cor ruby com reflexos violáceos. Aromas de intensidade média, frutas negras e vermelhas maduras, notas herbáceas. Taninos macios, corpo médio, álcool moderado e boa acidez Muito bom.
Produtor: Villa Francioni Teor Alcoólico: 13,6% Preço aprox.: R$ 78,00 Villa Francioni Sauvignon Blanc 2008
Produtor: Miolo Teor alcoólico: 12,5% Preço aprox.: R$ 70,00
Bueno Cuvée Prestige
Prelúdio 2007
Produtor: Marco Danielle Teor alcoólico: 12,70%. Preço: R$ 58,00
Reflexos palha/esverdeado, fruta de média intensidade, maça verde, abacaxi. Łtima acidez, cítrico, oleoso na boca com corpo médio, refrescante. Persistência longa no final.
Produtor: Pizzato Teor alcoólico: 13,8% Preço aprox.: R$ 37,00 fotos Rodrigo Aguilera
Perlage uniforme. No nariz bom ataque com notas de abacaxi, cítrico, tostado característico mas equilibrado. Na boca acidez correta com final agradável e de persistência média-baixa. Um bom espumante feito pelo método tradicional.
Pizzato Merlot Reserva 2006
Cor de intensidade média com reflexos ruby. Aromas destacando a fruta. Toques vegetais e herbáceos tornam-se evidentes depois de algum tempo, e um certo adocicado no final.
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Belvedere O Torre de Belvedere, localizado na Av. Senador Lemos e com apartamento de 4 suítes e 271m², será entregue ainda neste semestre. O empreendimento, que tem vista privilegiada para a Baía de Guajará, tem as últimas unidades à venda. Mais informações: 3223-0021
Vert No dia 26 de fevereiro, os futuros moradores do Torre Vert fizeram a primeira visita técnica ao empreendimento. No evento, todos foram recebidos com um café da manhã e tiveram a oportunidade de visitar uma unidade do apartamento totalmente pronto.
Selo Durante o ano de 2011 a Leal Moreira utilizará um selo comemorativo em todas as suas peças e campanhas. Uma maneira de homenagear a empresa e agradecer a confiança do mercado, que há 25 anos reconhece o nosso trabalho.
Capacitação A Leal Moreira Engenharia investe cada vez mais em cursos de capacitação para os seus colaboradores, melhorando a qualidade das suas obras e o desempenho dos seus profissionais. Os últimos cursos ofertados: • Curso de Aperfeiçoamento de Mestres e Encarregados de Obras, promovido pelo SINDUSCON e SEST/SENAT; • Curso de Cremalheira, promovido pelo Leal Moreira Engenharia Ltda.; • Curso Técnicas em Construção Enxuta, promovido pelo SINDUSCON.
Aniversário No dia 21 de fevereiro a Leal Moreira completou 25 anos. E, com muito apreço, parabenizamos todos os nossos colaboradores, parceiros e clientes, que nos ajudam todos os dias a construir uma história de sucesso e confiança. Nesse dia tão especial, brindamos ao sucesso do grupo como forma simbólica de agradecimento pelo empenho e profissionalismo de nossos funcionários.
Torre Parnaso A Leal Moreira tem o prazer de anunciar o seu mais novo empreendimento: Torre Parnaso. Situado na Generalíssimo, quase esquina com a Pariquis e fruto da parceria da Leal Moreira com a PDG, a nova torre – que será lançada em março – contará com apartamentos de 57 e 78m². Ótima localização e a já conhecida qualidade padrão Leal Moreira.
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Afinal o Leblon é bar ou restaurante?
Se tem vinte opções de cervejas nacionais e importadas, petiscos deliciosos e um barman premiado servindo uísque importado, drinques variados e coquetéis exclusivos, só pode ser bar. Mas se tem um cardápio com sanduíches finos, saladas, pratos deliciosos e sobremesas de dar água na boca. Além de um tradicional Sushi Bar e as modernas tendências da culinária oriental, só pode ser um restaurante. Venha descobrir o Leblon. E resolva se é um bar sofisticado que tem a melhor cozinha de Belém. Ou um restaurante que tem o mais completo bar de Belém.
Ivo Amaral
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Torre Parnaso
projeto
lançamento
fundação
estrutura
alvenaria
revestimento acabamento
Torre Parnaso Torre Dumont Torre Domani Torres Liberto Torre Vitta Office Torre Vitta Home Torre Triunfo Torres Floratta
Check List das obras Leal Moreira
Torres Trivento Torre Résidence Torres Ekoara Torre Umari Torre Vert Torre de Farnese
em andamento
Sonata Residence
concluído
Torre de Belvedere veja o andamento das obras no site: www.lealmoreiraimobiliaria.com.br
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Divórcio:
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da família
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com muitos lenços e um agrupamento de novos documentos.
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números são alarmantes. Só em São Paulo o au-
Esta geração de crianças se transformará nos
mento foi de 150%. Só no mês de agosto foram
profissionais de amanhã. Em 30 anos, consulto-
2.193.Um tsunâmi. No Pará foram solicitados no
res e empresários vão ter uma bela dor de cabeça
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mesmo período 2.498 divórcios, sendo 1.609 con-
para entender o resultado de tudo isso na hora de
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sensuais e 888 não consensuais.
selecionar um executivo. Se é no seio da família
A família está definitivamente sofrendo muta-
que nascem valores e crenças, certamente esta
ções, isto é uma realidade. Em uma classe escolar
nova geração de profissionais terá outra percepção
de 3ª. série em Curitiba, de 25 alunos, 17 são filhos
acerca de grupo, fidelidade, sobrevivência emocio-
de pais divorciados. No Pará, em uma escola de 1º
nal, enfim: será um novo homem.
grau para classe AB, em uma sala 20% dos alunos
Fica aqui um alerta às famílias sobre os cidadãos
possuem pais divorciados. Este número aumenta a
que estamos formando como resultado do remo-
medida que as crianças vão galgando séries mais
delamento social. Fica aqui um alerta a empresá-
elevadas até chegar a 31%. Na arquitetura da nova
rios, gestores e profissionais de Gestão de Pessoas
família, convivem juntos os filhos do primeiro ca-
sobre a necessidade de repensar perfil e atuação
samento de ambos, os oriundos do novo casal, os
de executivos e profissionais em geral nas próxi-
novos nov n no ov ovos os filhos ffilillh ho hos os s dos dos ex-cônjuges. do ex-c x--c c
Profissionais divorciados compõem processos
balharem bal ba b alhar a ha are em m muito, m mui já não
seletivos para todos os níveis de posições. A ambi-
tinham t h ti tin ham am m tanto tta a tem-
guidade da situação encontra-se em um momento
po po para pa par a ar os pri-
em que todos os indicadores econômicos são po-
meiros, mei m me eiros ro o e neste
sitivos no Brasil e o número de divórcios dispara.
novo nov nov ovo desenho
Uma hipótese é que a nossa sociedade tem pro-
todos tod tto od o dos do os s
blemas crônicos de relacionamento e convivência.
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Osnós
Saulo Sisnando Escritor
Muita gente gosta de conjugar os ver verbos na primeira pessoa do singular: eu sou, eu quero e eu preciso. Outras, para com complementá-las, só conjugam os verbos na segunda pessoa de singular: singular tu és, tu queres, tu precisas. Por sorte, encontrei alguém algué que, como eu, prefere conjugar tudo com nós. Sem dúvida, nós é o meu pronome preferido. Ele é imbatível. Visto que para sermos nós, eu preciso ser eu e tu... precisas ser tu. Nós é romântico. romântico É tântrico. Táctil. Tangível. Vivo. E indivisível. Nós é certeza. É calma, paz e confiança. Nós é ligar e saber sab que, se não atendes, é porque estás ocupada e, decerto decerto, logo-logo me ligarás de volta. Nós é nunca achar que es estás me traindo ou que não queres me atender. Nós é aquele filme de terror canalha que assistes só para aquela peça de teatro-cabeça que finges me agradar. É aqu adorar, só para me fazer um pouco mais feliz... Nós são as vezes que cruzo os o dedos e rezo baixinho, quando entro diriges como louca, numa velocidade à la no teu carro e diri Fittipaldi. Nós são as vezes veze que relevo teus surtos, TPMs, estresneuras que, muitas vezes nem entendo... ses e algumas ne entendo. Nós... São as ocasiões que tu me Mas finjo que ente dizes não entender só para me irritar. Pois entendes, mas diz sempre falaste que sou tão beijável quando estou irritado. Nós é a tua dança, dança que nem sei dançar, mas tenho olhos para te admirar... e (um pouquinho) te invejar. Nós é a tua música. É tua mão correndo pelo papel, comandada pelo Nós é teu corpo elástico, plástico, teu belo dom de desenhar. dese místico que me deixa extasiado. E excitado. Nós é tua paixão pela pel dança. E minha paixão pelo cinema. que faz um se interessar pela paixão do E nossa paixão mútua q outro. Nós são nossos corpos enlaçados como fios, num beijo cheio de saliva com gosto de forever. fore Nós são os nós dos meus meu dedos que se abrem... Afastam-se... Só para que os nós das tuas falanges possam me penetrar e nossas mãos se tornem uma só. de uma mesma árvore chamada E nós... São os brotos que nascem nas nossa vida. Nós é o nosso abraço, depois de um dia longe, quando temos, juntos, a impressão de que iremos nos dissolver em moléculas para que possamos nos Tão unido. Tão maciço a ponto de sermos agrupar noutro corpo único. Tão junto. Tã apenas um defunto na hora da morte. pulsante. Nós é o que sinto quando Nós é o que sinto agora no meu coração coraç que enxergo quando te imagino, ao meu vejo nossas fotos de ontem. E nós é o q lado, no meu amanhã. quando meu olho se fechar na treva Nós é o que quero derradeiramente sentir se hollywoodiana. E nós será eu te e um the end chegar, ao som de uma música m Para te ver chegando, a fim de que possaesperando do outro lado... Ansioso... Par mos dançar juntos. Para sempre. Sendo Nós.
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RLM nº 28
Você às vezes nem percebe como é importante
GENTE DESIGN ESTILO IDEIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA
viver com segurança.
ano 7 número 28
Camila Pitanga Bom momento na televisão, estreia nos cinemas e planos para um ano inteiro de dedicação ao teatro
Leal Moreira
Azulejaria Claudia Jaguaribe Edyr Augusto Istambul Música Ophir Cavalcante