RLM nº 37 GENTE DESIGN ESTILO IDEIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA
Leal Moreira
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ano 9 número 37
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O mistério de Teresa Salgueiro A maior cantora portuguesa da atualidade fala da carreira e do momento de redescoberta de si própria
Alexandre Nero Paulo Chaves Viena 23/04/2013 10:10:43
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A Revista Leal Moreira 37 traz conteúdo exclusivo nas matérias sinalizadas com QR code.
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capa
índice
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TERESA SALGUEIRO Em entrevista exclusiva, a cantora portuguesa fala de seu primeiro trabalho autoral, depois de vinte anos sendo a maior referência e inspiração do Madredeus.
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PAULO CHAVES Nesta terceira entrevista da série especial sobre os “400 anos de Belém”, o arquiteto e Secretário de Estado de Cultura, Paulo Chaves, vagueia por uma Belém de outrora, em busca de soluções para devolver o mesmo brilho à capital paraense.
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perfil O ator curitibano Alexandre Nero, atualmente no ar, na novela “Salve Jorge” fala sobre sua carreira, desafios e surpreende em notas afinadas.
comportamento Diversão indoor ou simplesmente uma “reunião de amigos lá em casa”. Com simplicidade [ou não] conheça um antigo hábito, que tem conquistado cada vez mais adeptos.
destino Venha viver as belezas de Viena, cujas ruas são tomadas de música, poesia e milhões de turistas.
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PAULO AZEVEDO Conheça o artista plástico que desafia linhas e estilos e que encanta pela liberdade arrebatadora em suas obras.
Belém| 400 anos
galeria
GABRIEL VIDOLIN Ainda adolescente, ele decidiu que queria sair pelo mundo em busca dele mesmo. Chegou onde e ao que queria: cozinhar de modo a despertar os sentidos de seus comensais.
gourmet
capa Teresa Salgueiro - divulgação
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dicas Anderson Araújo Celso Eluan especial musicalidades tech horas vagas confraria Felipe Cordeiro especial cervejas Arthur Dapieve enquanto isso Saulo Sisnando vinhos decor falando nisso institucional Nara Oliveira
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editorial
Amigos, Sejam bem-vindos à Revista Leal Moreira - 37, que traz a segunda capa internacional em nossa história. Teresa Salgueiro, o maior e mais respeitado nome da música portuguesa contemporânea, é nossa entrevistada, em uma conversa generosa, na qual fala sobre seu primeiro CD autoral e filosofa sobre o mistério da vida. Teresa, que integrou o grupo Madredeus por vinte anos, e cuja voz recebe críticas unânimes sobre sua “magia” e beleza, nos adiantou que pretende vir em breve ao Brasil. Quem sabe Belém não terá o privilégio em vê-la se apresentando por aqui? Quem fala de Belém, na série de entrevistas especiais dos 400 anos de nossa cidade, é o Secretário de Estado de Cultura, o arquiteto Paulo Chaves. Homem apaixonado por nossa capital, de olhar diferente e sensível, ele rememora tempos idos, em que deambulava pela cidade, em estado de êxtase e profunda contemplação e comemora conosco a restauração do Theatro da Paz. Já o ator Alexandre Nero, que está no ar na novela “Salve Jorge”, fala da sua paixão pela música e já faz planos para quando o folhetim acabar. O chef Gabriel Vidolin é nosso convidado especial do Gourmet desta edição e explica seu processo criativo, no mínimo inusitado e nos emociona muito. Emocionante também foi a 11ª edição do “Ver-o-Peso da Cozinha Paraense”, que teve ¬– pelo segundo ano consecutivo – a apresentação da Leal Moreira. Leia ainda uma matéria sobre a iniciação musical de crianças, além de tantas outras. Esta RLM37 está variada e muito bonita. Deixarei que vocês, nossos leitores, leiam e saboreiem. Ah, não esqueçam: as matérias sinalizadas com códigos QR possuem conteúdo extra em nosso site: www.revistalealmoreira.com.br Um grande abraço e boa leitura! André Moreira
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A Leal Moreira dispõe de atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18:30h
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Gráfica Delta Tiragem 12 mil exemplares Comercial Gerente comercial Daniela Bragança • (91) 9289.0889 Contato comercial Thiago Vieira • (91) 8148.9671 contato@revistalealmoreira.com.br Financeiro Contato savio@door.net.br Fale conosco: (91) 4005.6874 revista@door.net.br revista@lealmoreira.com.br www.revistalealmoreira.com.br facebook.com/revistalealmoreira Revista Leal Moreira é uma publicação bimestral da Publicarte Editora para a Construtora Leal Moreira. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem autorização.
Belém
Soprano História e estilo em um dos prédios antigos mais elegantes de Belém. O restaurante Soprano agrega os dois valores. Hospedado em um casarão datado de 1927, em meio ao movimento da Avenida Magalhães Barata, o lugar é uma ilha em meio à modernidade urbana – um espaço preservado à cultura arquitetônica de tempos áureos da capital. Residência da família Passarinho por muitos anos, a edificação só passou a ser utilizada comercialmente na década de 90. Recentemente, a empresária Nadime Dahás – que já manteve uma casa de recepções no local – decidiu transformá-lo em restaurante. A estrutura é aconchegante; e o ambiente interno, muito bem decorado – além de oferecer a facilidade do estacionamento próprio. A comida servida, por sua vez, é sofisticada e casa muito bem com o excelente serviço ofertado. Sugerimos iniciar a noite provando a entrada de camarão na tapioca crocante com redução de açaí, harmonizada com um bom vinho. Garantimos uma experiência especial.
Avenida Magalhães Barata, 774 • 91 3271.0266 www.revistalealmoreira.com.br
Barba Negra Inaugurado há pouquíssimo tempo, o Barba Negra adota um dos formatos mais queridos pela boemia de Belém: calçadão, área interna refrigerada, telões para a transmissão de esportes e – claro – um cardápio bem selecionado, entre bebidas e pratos. Bem localizado, o espaço, por si só, já é uma atração. A decoração leve e descontraída sugere a estética dos navios piratas. A música é boa e variada, com espaço para gêneros como jazz, blues, pop rock e música eletrônica. A cozinha investe no conceito de “gastrobar”, e oferece um menu variado – onde cabem sushi, jantar e os petiscos que combinam muito bem com o happy hour. Se a pedida for jantar, vale a pena provar o Timoneiro: prato de filé com molho de cebola ao vinho tinto, acompanhado de linguine. Travessa Almirante Wandenkolk, esquina com João Balbi • 91 8183.5351
Travessa Almirante Wandenkolk, 362 • 91 3223.0401
Hamburgueria 66 Inspirada nas lanchonetes americanas dos anos 50 e 60, a Hamburgueria 66 foi inaugurada recentemente, e rapidamente se tornou uma opção interessante para começar a noite em Belém. Recheada de referências à cultura pop, ao esporte e ao cinema, a lanchonete oferece refeições, sanduíches e acompanhamentos exclusivos – todos produzidos artesanalmente. Um charme que merece destaque é a inspiração para o nome dos pratos: eles são batizados com títulos de músicas, cantores, atores e atletas celebrados pelas novas gerações. Para experimentar, recomendamos o sanduíche de mortadela Ceratti fatiada e queijo prato. Sanduíche servido no pão francês, acompanhado de batatas fritas – feito em homenagem à cantora colombiana Shakira.
91. 3223-2714 Brás de Aguiar, 451| Boaventura, 1070 | João Balbi, 935. etimariqueti.com.br facebook/etimariqueti
Brasil
Clos de Tapas “O Clos de Tapas é um restaurante único, exclusivo e diferenciado. É único porque criou um conceito de restaurantes de tapas”. Assim, a casa costuma “apresentar-se” aos que ainda não a conhecem. Tendo à frente, a chef Ligia Karazawa, o Clos de Tapas, que passou Can Fabes, Casa Marcial, El Bulli, El Celler de Can Roca, Mugaritz e Quique Dacosta, criou um cardápio a partir de ingredientes sazonais, de produtores locais. Os pratos traduzem o respeito ao meio-ambiente e à natureza dos sabores. O Clos de Tapas apresenta uma Gastronomia com identidade contemporânea e elementos brasileiros. A brasilidade, conferida à tradicional entrada espanhola, pode ser encontrada tanto nos ingredientes quanto nas louças, criadas por artesãos locais. Já a identidade vanguardista resulta em pratos divertidos, saborosos e ricos em aromas e texturas. Surpreenda-se com tapas “contemporâneas”. A boa notícia é que o restaurante abre, de segunda a sexta, para almoço, no horário de 12h às 15h (aos sábados e feriados, das 13h às 16h) e para o jantar, de segunda a quinta, de 19h30 às 23h (às sextas, sábados e feriados, de 19h30 às 00h). Não abre aos domingos.
Rua Domingos Fernandes, 548 - Vl. Nova Conceição - São Paulo - SP. • 11 3045.2154 • contato@closdetapas.com.br
Banzeiro
R. Libertador, 102 - Ns. das Graças, Manaus - AM • 92 3234.1621 www.revistalealmoreira.com.br
“Banzeiro” é um termo muito usado na Amazônia para designar as ondas formadas nos rios, principalmente quando da passagem de uma embarcação. Dessa expressão surgiu o Banzeiro Cozinha Amazônica, que oferece o que há de melhor na culinária amazônica. No cardápio, merecem destaque a premiadíssima costela de tambaqui, o pirarucu e a matrinchã assada de forno, que são preparadas de forma única e exclusiva, com um toque da cozinha francesa. O chef Felipe Schaedler foi eleito em 2011 e 2012 o chef do ano pela edição “Comer & Beber” Manaus, da Revista Veja. Ao mesmo tempo em que o Banzeiro foi eleito, também em 2011 e 2012, como o melhor restaurante de comida regional. Foi premiado no Palácio do Planalto, em Brasília, com a insígnia da “Ordem do Mérito Cultural 2012” pelo talento de introduzir os elementos da Amazônia na criação de seus pratos em cerimônia, conduzida pela Presidente Dilma Rousseff e pela Ministra da Cultura, Marta Suplicy.
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mundo
MEATmission (Londres) Já são idos os tempos em que lanchonetes eram lugares simples, feitos para uma refeição corriqueira. Pelo menos para a grande família – e crescendo – MEAT, esse conceito foi deixado de lado desde a primeira casa aberta em Londres. Após o sucesso meteórico do MEATliquor e do MEATmarket, os apaixonados por carne Yianni Papoutsis e Scott Collins inauguraram o MEATmission. No terreno onde antes viviam missionários vitorianos, os empresários instalaram uma espécie de santuário sincrético em homenagem aos hambúrgueres. Com uma decoração inusitada e calorosa (com direito a vitrais e memoriais de guerra convivendo na mesma parede), o espaço se tornou paixão instantânea dos moderninhos de Hoxton Square. E a atração principal, como não poderia deixar de ser, é o cardápio. Há sanduíches de todos os tipos e tamanhos, mas a vedete da casa é o Sundae Roast Beef – um divertido sundae feito de carne. Não provar é um pecado. 14-15 Hoxton Market - N1 6HG • 020 7739.8212 • www.meatmission.com
Celeste Champagne Tea Room (México) Localizado no alto de uma casa de 1940 no bairro de Anzures, o Champagne Bar Celeste e Tea Room é uma verdadeira viagem no tempo. Projetado pelo premiado escritório de design Productora, o lugar remete às antigas casas de chá inglesas, típicas dos filmes hollywoodianos de gângsteres – porém com o toque de modernidade que a separa do anacronismo. Repleto de listras pretas e brancas, o espaço por vezes parece redimensionado pela ilusão de ótica, de acordo com a posição de quem o observa. Tudo é muito bem cuidado: desde o terraço ao ar livre e o telhado transparente (que permite iluminação natural) até os detalhes: chaleiras, filtros, vasos de flores e baldes de champanhe, por exemplo, eram feitos à mão por um dos mais antigos ourives na Cidade do México. No menu, taças individuais de uma extensa carta de vinhos, chás e champagnes. Para jantar, indicamos o ceviche peruano feito com maracujá, seguido pela original Eton Mess – merengue, água de rosas, chantilly e frutas.
Darwin at the corner of Kepler, Del. Miguel Hidalgo, C.P. 11590, México, D.F. • 52.55 2614.6031 • www.celeste.com.mx www.revistalealmoreira.com.br
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perfil
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Leila Loureiro
Divulgação
Nero em
chamas
Vivendo um intenso momento na profissão que abraçou, Alexandre Nero busca o arrebatamento, quando o assunto é processo criativo. Sem rótulos.
S
ão 22h00 de uma quarta-feira e milhões de brasileiros assistem a mais uma cena de novela. Segundos depois, mais de 130 mil fãs bombardeiam as redes sociais do ator que encarna um dos personagens da atração televisiva, com mil corações e declarações de amor (muitas das quais são mais... “carnais”, na realidade). O ator passa a ser vítima, quase diariamente, de um “ataque de lirismo”, o mesmo que retratou em sua música “cadê meu jardim?”, em que canta: “O homem teve um enfarte do coração/ E ao invés de ‘bom dia’ dizia ‘eu te amo’/ A vida dele se enfartou/ e ele preferiu um ataque de lirismo/ A vida não é assim tão previsível”. De fato, a vida não é. Aos 42 anos, o ator, músico, instrumentista, compositor e diretor musical Alexandre Nero concilia os trabalhos no teatro e na televisão com o lançamento de seu CD “Vendo Amor – Em suas mais variadas formas, tamanhos e posições”, gravado em 2010. Alexandre foi idealizador e criador da “Associação dos Compositores da Cidade de Curitiba”, fundada em 1994 e foi integrante do “Grupo Fato”, da banda Maquinaíma e do grupo Denorex 80, todos projetos de grande destaque no cenário musical curitibano. Atualmente encarna o vaidoso advogado Stênio, na novela global “Salve Jorge”, manuseando com maestria os holofotes para o seu personagem ao longo da trama, exatamente como fez com o violento e machista Baltazar, de “Fina Estampa”, que chegou ao final da novela aplaudido pelo público e crítica, após formar uma improvável dupla cômica com o personagem homossexual Crô, interpretado pelo amigo e ator Marcelo Serrado.
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Alexandre está longe de ser mais um produto televisivo enlatado, é sim um alquimista, com o poder de transformar seus personagens em metal nobre, talento depurado pelas dezenas de peças teatrais que encenou, com destaque para “Os Leões”, em 2006. Por ter perdido os pais na adolescência e ter sido criado dentro de um efervescente caldeirão cultural em Curitiba, onde nasceu, é compreensível que Alexandre Nero Vieira seja um cara fora dos padrões. “E aquariano”, como faz questão de frisar, como se o signo astrológico fosse parte fundamental para entender sua essência. Isso explica não só as fortes batidas das asas de Alexandre, como as letras de suas músicas, em especial a acima citada “cadê meu jardim?”, que diz “Se está tudo aqui bem dentro, em mim/ Que venham todos os fins, porque eu sei recomeçar”. Como diria seu conterrâneo, o poeta Paulo Leminski, “Não discuto com o destino/ o que pintar eu assino”. E foi assim, numa tarde de domingo, que pintou a oportunidade de entrevistar o Alexandre num típico restaurante paraense em Ipanema. E ele, sem discutir, assinou. Ao pesquisarmos o seu nome na internet o seu currículo aponta que Alexandre Nero é cantor, compositor, arranjador, sonoplasta, diretor musical etc. Começo perguntando: o que você não é? Alexandre: Humilde (risos). Na verdade essa definição vem de currículos que eu distribuía antes de ficar famoso, profissões nas quais eu sou sindicalizado e que posso exercer. Mas do ponto de vista artístico acredito que podemos ir muito além dessas definições burocráticas. »»»
Atualmente no ar, na novela “Salve Jorge” como Stênio, Nero vive uma relação conturbada com a ex-mulher, vivida na trama pela atriz Giovanna Antonelli Hoje o artista pensa na concepção do seu cartaz, no seu projeto que vai ser inscrito em editais, em como pode prender o público, entre outras coisas que compõem a sua carreira central de ator ou músico, por exemplo.
e não de medicina, advocacia e engenharia nas quais a falta de aptidão pode gerar danos maiores. A arte é subjetiva, todo mundo pode fazer arte. Agora as pessoas podem gostar ou não, a arte pode ser boa ou não.
No Brasil não temos essa cultura de multiartistas, o que muitas vezes causa resistência do público que se depara com o ator que também é cantor, ou vice-versa, correto? Acho que essa coisa “brodwayniana” também limita. Quer dizer que se o cara atua, canta e sapateia não pode fotografar, escrever poemas e roteiros para filmes? Acho isso tudo muito limitador. Cantar e interpretar são coisas técnicas, que se aprendem, todo mundo pode fazer tudo. A pergunta é “o que você quer passar com a tua arte?”.
E você vem de um cenário muito rico nesse contexto, Curitiba é berço de muitos artistas experimentais como Paulo Leminski, entre outros... Isso. Gosto muito do Leminski, que tem uma frase que diz: “Poeta é quem se considera”. E isso você pode levar para qualquer meio. Eu por exemplo não me considerava ator há tempos atrás, hoje eu me considero e pode ser que amanhã não me considere mais.
E como você se descobriu neste processo de desenvolvimento artístico? Começou a atuar, compor, cantar... Se você me perguntar o que eu sou, vou responder que sou um músico, cantor, compositor e ator. Mas acho que poderia ser muitas outras coisas, aliás todo mundo pode fazer o que quiser. Eu escreveria um roteiro? Claro que sim. Eu filmaria este roteiro? Sim. Eu apresentaria um programa? Claro. Nós estamos falando de arte
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Podemos brincar com as frases dos poemas do Leminski ao longo desse papo, como aquela que diz “não discuto com o destino/ o que pintar eu assino”. Exatamente! Isso foi o que aconteceu na minha vida. Eu sempre trabalhei com música e via atores muito ruins e isso me causou curiosidade, pensava “Opa, isso eu sei fazer!”. E pra ganhar dinheiro também, porque o artista precisa de grana e ampliar o seu campo de atuação é financeiramente positivo também. Tenho um amigo que não sabia andar de moto e se
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candidatou a um papel de um motoqueiro, ele me procurou pra aprender a pilotar moto, foi lá e fez o papel. Isso é a vida do artista. O que demanda uma certa falta de pudor... Sim, exatamente (neste momento chega à mesa o típico licor de jamburana – flor do jambu, aperitivo peculiar da culinária paraense, famoso pelo tremor que causa na boca. Alexandre experimenta). Você conhece Belém? Não, na verdade não conheço nada do Norte, adoraria. Nossa, esse licor é muito bom! E essa água toda fica saindo pela boca...É assim mesmo? Tô quase babando (risos). Como você lida com o salto para a grade de atores de uma grande emissora de tv, considerando a sólida carreira teatral que você construiu em Curitiba? Eu nunca pensei em chegar na Globo, o que está muito atrelado ao eixo Rio-São Paulo, eu como sou de Curitiba, uma cidade que não faz tv, com um cenário cultural muito bacana e não atrelado a uma aceitação da massa, nunca sonhei estar aqui. Em Curitiba nós queremos que você goste mas não fazemos pra você gostar. Foi tudo muito inusitado pra mim, um produtor me assistiu no teatro e gostou. E você já havia fundado uma associação de compositores em Curitiba, certo? Sim, quando eu era garoto. Eu comecei como músico. Antes da tv eu só era conhecido como músico, que foi a minha profissão e ainda é. Vivi só de música por 20 anos, o teatro era um hobby, algo secundário. Hoje eu sou músico, mas não vivo da música atualmente. Eu gravo disco porque é o meu trabalho. Como foi tua história com a música? Eu já trabalhei com grupos muito sérios artisticamente falando, um gênero mais erudito, música experimental, viajamos pra Europa... Tenho uma vocação acadêmica e não uma formação acadêmica. Foi o que disse lá atrás, você pode tocar qualquer instrumento desde que tenha muita vontade. Tocar violão não é nada mais que datilografar. Meus amigos músicos ficam aborrecidos quando falo isso, mas é verdade. A prática te faz tocar, já a aptidão, genialidade ou talento contribuem para você tocar ‘muito’ bem. Você toca outros instrumentos? Meu principal instrumento é violão e canto e fui brincando com outros porque eu quis possibilidades, toco instrumentos de corda como »»»
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cavaquinho, viola caipira, guitarra, baixo, só não toco os instrumentos de corda eruditos. “A música é matemática” – John Lennon dizia isso quando afirmava que podia tocar qualquer instrumento, assim, teoricamente eu toco qualquer instrumento, mas na prática eu toco os de corda, é algo como ser ator, teoricamente um ator pode fazer comédia, drama, qualquer papel, mas na prática se você não fez circo ou teatro contemporâneo, pode não convencer naquele cenário. E como ator, como as oportunidades se apresentaram na sua vida? Um produtor de elenco me viu na peça ‘Os Leões’, muito premiada no festival de Curitiba e me chamou pra participar de um especial de fim de ano na Globo, quando uma preparadora de elenco me viu no processo de leitura, acreditou que eu pudesse ir além, e me indicou para outros produtores de elenco. Eu era um ator de Curitiba que não conhecia ninguém no Rio, fiz testes e comecei a fazer “A favorita”, depois fui chamado pra outras novelas como “Paraíso”, “Escrito nas Estrelas”, “Fina Estampa” e fui ficando, hoje moro no Rio. Uma história bem aleatória... Muito! Lembro que uma vez me perguntaram como eu gostaria de estar vivendo dali a 10 anos e eu respondi ‘exatamente como estou hoje’, ralando, produzindo, trabalhando... Claro que a gente almeja a fama, reconhecimento, mas a gente vê que a realidade é outra, o prazer tem que estar no fato de se autoprovocar, em provocar o público. E o assédio que vem com a fama? Eu estou me acostumando. Antes eu era meio ‘Mogli’, eu não entendia por que as pessoas vinham me dar parabéns. Eu chegava a ser agressivo e não percebia o motivo de alguém querer tirar foto comigo, pois eu já trabalhava havia muitos anos e nunca pediram pra tirar foto. Estou aprendendo a lidar. As redes sociais são um bom meio pra humanizar o ‘artista’, mas em contrapartida você começa a ser criticado porque fala besteira ou erra como qualquer outra pessoa, e aí algumas pessoas acreditam que o artista tem que ser normal, mas tem que ser mito, é bem paradoxal isso. Este tipo de público não me interessa. Não tenho talento pra ser famoso... Alguns colegas chegam num lugar e fazem uma determinada pose que as beneficia, e eu estou começando a brincar com isso. Pareço menos feio nas fotos (risos). Voltando a citar Leminski, você concorda quando ele afirmava que ‘todo ser em movimento é perigoso”? Acho que quase todo ser em movimento é
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Alexandre Nero já faz planos para quando a novela terminar e transformar seu CD em DVD é um deles perigoso. Qualquer provocador, subversivo é um artista em potencial. O Solda, parceiro e amigo íntimo do Leminski, diz que “todo poeta sentado está em pé de guerra”. “Um erro e o poema explode na tua cara”, também dizia Leminski... (risos) Verdade, Leminski é genial! “Vazio agudo/ando meio/cheio de tudo”... outro haikai dele. Muito exato. Foi isso que me fez falar de amor no meu CD. Já que acham brega falar de amor achei um ato de rebeldia falar de amor. Explicar isso pro público do Roberto Carlos é ridículo, vão achar que isso já foi feito, mas eu quis falar de amor de um outro jeito. Tentei. Você encarnou essa coisa transgressora também quando compôs o júri do Programa Amor&Sexo, com posicionamentos sempre polêmicos... (risos) Sim, eu inclusive tenho o talento da provocação, nem sempre tudo o que eu falo eu acredito. Estou apenas propondo “vamos levantar esta discussão?”. E são essas discussões que nos tiram do lugar, nos ajudam a evoluir. Exatamente. Hoje eu estou mais leve, me divertindo muito mais nas coisas que eu faço, é muito bom poder quebrar o ‘copo da mãe’, buscar a criança boba e não a de cabelo engoma-
do. Hoje eu sou muito mais roqueiro do que fui na adolescência. E repetindo a pergunta que já te fizeram lá atrás: onde você quer estar daqui a 10 anos? Eu adoraria estar fazendo o que eu faço. O meu único medo é não conseguir envelhecer dignamente. E o que você está fazendo? Hoje eu estou na Rede Globo (e posso não estar daqui a um tempo), atuando na novela das 21h e ao mesmo tempo estou em uma revista com o André Abujamra e o Carlos Careqa (dois artistas com quem Alexandre possui um projeto paralelo). Também tenho feito shows, o que é mais raro em momento de gravação de novela. Meu único planejamento agora é transformar o meu CD “Vendo Amor” em DVD ou um documentário, mostrando todo o processo de criação e realização e vai se chamar ‘revendo amor’. E quanto custa esse amor? Depende. O amor que eu vendo custa R$25 nas lojas (risos). Já o amor que as pessoas estão vendendo pode custar um carro pro filho, por exemplo. A brincadeira do ‘vendo amor’ está no sentido de vendar, de observar o amor pra se falar de outras formas, mas a principal crítica ou ironia do CD é essa da sociedade que compra o amor. Também vendo outro tipo de amor que pode custar mais caro ou mais barato (risos).
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Minha memória para fisionomias talvez seja a única coisa que funcione de verdade dentro desse emaranhado de fios e ideias soltas que chamo de cachola. Não que seja um poder mutante ou esteja eu querendo contar alguma vantagem. Ocorre que se presto atenção em um rosto nunca mais consigo apagá-lo do meu HD. Obviamente, a minha habilidade mnemônica já me colocou em algumas saias justas de amargar e, tenho quase certeza, sobrecarregam meu sistema para informações úteis como pentear os cabelos, acertar aniversários de gente querida, datas corretas para quitar as faturas e onde deixei o carro ao estacionar. Dia desses estava no meu boteco preferido, saboreando a vida e falando mal dos outros, quando me aparece um colega de trabalho e sua respectiva esposa, ora veja. Cumprimentos para cá, cumprimentos para lá, ele resolve me apresentar à digníssima. Prontamente, respondo na minha ingenuidade que já a conhecia. Surpreso, meu caríssimo parceiro arregalou os olhos verdes enormes e se acomodou para saber de onde vinha essa proximidade, já com a sobrancelha direita levantada, exibindo um misto de ciúme e curiosidade sincera. Sem me afetar com as poucas cervejinhas que havia ingerido, contei que sabia até o sobrenome da moça; relatei onde ela concluiu o já extinto primeiro grau, hoje ensino fundamental; dei os anos em que ela esteve nessa escola, suas habilidades como chefe de turma e seu engajamento junto aos professores na hora de organizar as feiras de ciência, as festas juninas, a reunião de pais e tudo mais. Para fechar, mencionei o endereço em que ela morava uns seis anos atrás – porque sempre a via perto de casa. Só faltou o CEP. Claro que não precisava ter sido tão histriônico e parte da falação era para, de fato, exibir meu Alzheimer ao contrário. Havia entre-
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gado informações de mais de 20 anos atrás, quando ainda era um moleque sem recheio e coberto de acne. Ao terminar minha exposição sobre a companheira do meu interessado interlocutor, o casal estava estatelado. De queixos caídos, olhos vidrados e expressões apalermadas, eles me encaravam. Ela por não lembrar absolutamente nada sobre mim, na ocasião, um estranho que sabia demais. Provavelmente, achou que eu era um cigano que revelava o passado para, em seguida, cobrar o cachê pelas previsões dos próximos anos dos dois. Já ele estava assombrado – os olhões verde-água ganharam uma cor acinzentada, soturna. Puxou-me pelo braço, me levou para o canto, deixando a esposa e os petiscos de lado e me sussurrou com velocidade: “Estás ficando maluco? Anda investigando a minha mulher? Que que é isso, rapaz?” Depois ele sorriu, quebrando a tensão. Ri de volta, dizendo que o truque era apenas a memória de paquiderme que me perseguia. Ficou o dito pelo não dito, fizemos um brinde pelos bons tempos - os lembrados e os esquecidos. Depois saí de fininho. Não era a primeira vez que cometia uma gafe do gênero. Numa oportunidade anterior, puxei assunto com um contemporâneo da época da terceira série, quando eu tinha oito anos de idade. Inteligente como ele sempre foi, virou engenheiro, ora veja. E front man de uma inusitada - e com relativo sucesso banda de pagode local. Nem tudo é perfeito. Encontrei o rapaz numa dessas redes sociais da vida e mandei um alô saudoso, pronto para relembrar as pirraças que fazíamos com a professora Alice e quando fugimos correndo da quadra de esporte por causa de um ataque de abelhas africanas. Mas, que nada: nem lembrou, o ingrato. Soltou um “parece que estudei sim nessa escola, mas não tenho certeza”. Deve ter achado que eu era maluco ou algum fã obcecado pelos hits supimpas do seu grupo de pagode. Cada vez me convenço mais de que, quase sempre, o melhor é fingir amnésia. Sobre o passado, o presente e o futuro. Francamente.
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Redação
Dudu Maroja
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Flâneur e acidade
Na terceira entrevista da série “Belém – 400 anos”, nosso convidado é o Secretário de Cultura do Pará, o arquiteto Paulo Chaves. Responsável pela revolução visual de pontos em toda a Belém, ele revela, entre tantas coisas, que vai restaurar o Cemitério da Soledade, que está trabalhando em um parque no Utinga e que subprefeituras poderiam ajudar na administração da cidade.
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inda com o gravador desligado, ele nos avisa – em tom de advertência – e pede desculpas antecipadamente se for “ácido demais” – característica pela qual ele ficou conhecido ao longo de toda sua trajetória pública. Alarme falso. Ácido, não. Polêmico? Sim. O arquiteto Paulo Chaves, que ocupa atualmente o cargo de Secretário de Estado de Cultura, bem que avisou. Mas, ao contrário do que preconizou, tivemos um feliz encontro com um homem apaixonado pela cidade onde mora. À frente da SECULT – posto que ocupa pela 4ª vez – o arquiteto foi o grande responsável por algumas revoluções na capital paraense, reflexo de uma história de amor – que já dura mais de seis décadas – com Belém. Nesta terceira entrevista da série “Belém – 400 anos”, Paulo Chaves abre seu coração e fica com os olhos marejados inúmeras vezes. No dia em que o entrevistamos, ele transbordava de felicidade. Entregaria, minutos depois, o secular Theatro da Paz (talvez o símbolo máximo da Belle Époque no Pará) totalmente restaurado – juntamente com o lançamento de um livro, que conta em mais de 500 páginas a trajetória da casa, bem como as alterações ao longo dos anos e todo o processo do minucioso restauro do local. Emocionante, surpreendente, sem jamais perder o tom cordial da voz e suas palavras (e neologismos) compassadas, além de bem-humorado. Este é Paulo Chaves, com quem a Revista Leal Moreira teve o privilégio de conversar. Naturalmente, o cenário histórico (a casa, no coração da
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cidade e que abriga a sede da SECULT) compôs a atmosfera de nostalgia predominante em nossa conversa. Sem perder o foco no futuro. Secretário, a gente começa esta entrevista perguntando: como devolver o título de metrópole da Amazônia para Belém? Acho que este não é o caminho. Eu acho que não devemos ter uma meta a ser alcançada, desta natureza... Como devolver o título de campeão paraense ao Clube do Remo...? (a sala inteira irrompe em gargalhada) Eu acho que existem outras avaliações que nos encaminharão – ou não – para sermos “isto ou aquilo”. O fato é que eu vejo a Belém dos nossos dias, como tantas outras cidades, e não vou dizer só no Brasil, no mundo inteiro, mas mais particularmente nos países subdesenvolvidos [...]. Essas cidades estão doentes. E aí vem a minha primeira contrapergunta: como é que você faz pra resolver o problema da circulação urbana? Como é que a gente faz pra resolver este problema, por exemplo, se essas cidades não foram planejadas devidamente, corretamente, para este fim? Belém não tem um sistema e, veja bem, quando falo Belém – não é apenas Belém, nem somente Belém – não estou tomando partido. É um posicionamento crítico e Belém vai predominar porque somos daqui. Então, como é que faz? Interrompe a indústria automobilística? Para-se de vender carros? Constrói-se um metrô em Belém? Como, impossível? Como fazer com que as pessoas usem a cidade, as calçadas, os logradouros, as praças, como era antigamente, »»»
no final do século XIX, no começo do século XX (ou até mesmo em meados do século XX)? As pessoas estão hoje na cidade como “passantes” – elas vão e vêm, mas elas não estão mais vivendo, elas não estão mais tendo uma relação de amorosidade com sua cidade, com seus monumentos, com sua arquitetura, com seu arboredo. Não estão. As pessoas querem acelerar o que a vida mudou, o que o tempo mudou. O tempo é outro, as pessoas aceleraram. E, no entanto, nem podemos acelerar muito se estivermos no carro ou no coletivo, porque, por outro lado, a cidade enfartou nas suas vias de circulação. Olha como é contrastante: a vida acelerou; o “time is money” é cada vez mais importante e, no entanto, nós ainda estamos no tempo das diligências. Circulamos como se estivéssemos em carroças – com todo o conforto, com equipamentos eletrônicos e os que estão a pé estão apavorados, morrendo de medo ou com o olhar todo fixado no chão, que é para não tropeçar. Porque calçadas contínuas não temos. Sobretudo as pessoas que, como eu, são da melhor idade, ou podem ser mães com carrinhos de bebê, ou um deficiente visual. Como circular em Belém? Em quais calçadas? Como estão essas calçadas? Entulhadas, impedidas com obstáculos de toda sorte. Então a memória das pessoas é uma memória funcional. “Vou à farmácia. Andarei tantos quarteirões, dobrarei ali, seguirei em frente e chegarei à farmácia”. A vida passou a ser de um endereço para outro. O Walter Benjamin conta, em um livro muito interessante, sobre a vida dele em Berlin; a relação dele com a cidade, os documentos. Ele dizia que em cada lugar que ele ia, ele encontrava seu passado, encontrava muitos momentos da sua vida. Não existe mais isso. Hoje não se desfruta mais a paisagem, o sítio. Você sequer hoje enxerga um edifício, uma antiga casa da Belle Époque, enfim, hoje não se tem mais essa relação de amorosidade com a cidade. Quer um exemplo? Quando eu passo pela Dr. Moraes, eu vejo a família Meira na calçada, sentados, tirando um dedo de prosa... E era um hábito tão recorrente de até 10 anos atrás... Eu fui acostumado assim! E já passei dos 60 anos... Quando dava seis horas, cinco e meia da tarde, o fim da tarde e a boca da noite eram regados a papo em cadeiras de balanços, à beira da calçada. Isso era uma tradição em Belém. E mais ainda: quem anunciava o fim de tarde? As cigarras! [os papéis se invertem e ele me pergunta] Você nunca ouviu uma cigarra, já ouviu? Já. Onde? A sede da Secretaria de Estado de Cultura, um casarão secular na Av. Magalhães Barata, reserva surpresas... www.revistalealmoreira.com.br
Eu cresci sentando à beira da calçada, no Umarizal. Conversa! Você é muito jovem pra isso. [a gargalhada é geral] Era um alarido na cidade inteira! As cigarras anunciavam a noite – era um canto estridente, mas nostálgico, era lindo. Belém foi uma cidade que, até recentemente, quando se estava no meio da Quintino Bocaiúva, vinha aquele cheiro, aquele odor maravilhoso. Da fábrica Phebo! Reconheciam-se os lugares da cidade pelo cheiro, pelo canto dos passarinhos, pela algazarra dos moleques nas mangueiras... Pelo banho de chuva. Eu não quero ser nostálgico, saudosista, não. O Vicente Salles, que nos deixou recentemente, também não era. Essa é uma visão, uma relação com a cidade que não se tem mais e ao falar sobre isto, agora, é uma crítica. É possível retornar a essa Belém? Voltamos à tua pergunta. Não se trata de ter títulos, condecorações. “Belém é isso, é aquilo; é mais que Manaus e menos que São Luís...”. Não é isto. É saber: onde está a qualidade de vida de cidades como Belém? Aí nós vamos para a periferia. Parece que eu estava falando desta Belém, chique e elegante, desta área central. E na periferia? Depois de um determinado horário, as pessoas sequer saem de casa. Se você vê as vendas, digo, de toda sorte de mercadorias, é tudo atrás das grades. As pessoas estão sequestradas do seu direito, do ser cidadão, do ir e vir, para ficarem atrás das grades, como presos, em uma cidade inóspita. As pessoas estão indefesas. Daí eu pergunto para você: como restituir a cidade, a Belém como metrópole, a urbes onde queremos viver com dignidade? Pequenas ideias ou uma grande revolução? Olha, eu acho... Que se você me desse a função de ser administrador da cidade hoje, seria um grande castigo, apesar de toda a amorosidade que eu ainda reservo por Belém. Qual seria seu primeiro ato? Eu partiria para duas coisas. Do cotidiano: a limpeza da cidade, dos bueiros, do lixo nas ruas e a exigência de iluminação pública, para dar uma condição mínima de segurança, enfim, permitir que as pessoas possam ir ao pronto-socorro, a uma farmácia, uma escola. A qualidade do ensino fundamental, porque sem cultura, sem conhecimento, você não pode praticar qualquer cidadania, porque você não tem consciência. Então, essas coisas, que eu chamo de “pequenas providências”, do cotidiano da cidade, são fundamentais. E algumas ousadias. Uma delas seria reunir todas as pessoas que têm experiência, que têm conhecimento, nem que tragam uma perspectiva de fora – eu não sou contra trazer gente de fora para discutir com a gente, não. Eu sou contra quando a gente tem pessoas capacitadas em nosso quadro e manda trazer de fora por »»» ...e a sensação, aos seus visitantes, que por ali, o tempo parou
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diferenças ideológicas, políticas. Isso não. Faríamos um seminário: “Como resolver a questão das vias circulantes de Belém?”. Porque passa pelo transporte coletivo, transporte modal. É um projeto ousado, com certeza... Mas é um remédio amargo. Necessário, sem dúvida, mas amargo, não? Olhe, eu aprendi com a minha avó que remédio quando não é amargo, ele não cura. Nós temos que enveredar por um pacto em que cada um ceda um pouco. Está faltando amor pela cidade? O que eu vejo é uma coisa que não é de agora, não é só de Belém. É de sempre, de todos os tempos. Há um egoísmo muito grande – há uma tendência natural de as pessoas olharem sempre para o próprio umbigo, por isso é que eu volto agora ao tema de educação e cultura. Você tem que ter uma consciência de coletividade. Uma visão social do drama que é conviver no mesmo sítio, numa mesma urbe. Ninguém é uma ilha – no mínimo, somos um arquipélago de pessoas. Há que se ter urgência desta consciência. [ele para um pouco, reflete e retoma] Por exemplo, a questão da arborização da cidade.
O Feliz Lusitânia, projeto também de Paulo Chaves, é um exemplo de que é possível transformar a paisagem.
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Isso é uma polêmica, não? As mangueiras foram um equívoco. Um grande equívoco. Porque, àquela época, não havia essa quantidade absurda de veículos. Veja bem, estamos falando do final do século XIX. As calçadas eram imensas – hoje não são mais. As mangueiras cresceram muito. E elas não foram pensadas para hoje – talvez fosse impossível fazer esse exercício de “futurismo” então. E que os postes de energia elétrica fossem para o meio da rua, com um emaranhado de fios – e, convenhamos, há uma solução mais inteligente para isso: embutir os fios, fazer com que eles sejam subterrâneos. Eu tenho feito isso em todos os lugares que eu tenho feito intervenção, como o Feliz Lusitânia. É uma solução cara? É. Mas do jeito que estão as mangueiras sofrem. Com podas em “v”, que deformam e desequilibram as árvores. Acresça aí os serviços que são feitos nas calçadas, de água, de telefone, porque se cortam as raízes das mangueiras e isso as desestabiliza. É difícil você ver uma mangueira com seu tronco íntegro, sem os nódulos causados pela poda incompetente. E repare: não são somente as árvores que ficam desequilibradas. Os postes de energia elétrica estão tortos – não há um único poste no prumo, é uma dança de postes. Aí, me perguntarias: “E aí? E eu te responderia “não sei”, mas não tiraria uma única mangueira. Eu exigiria, como gestor público, que as podas fossem mais responsáveis, que fossem feitas pensando na árvore e não na fiação elétrica. Veja bem: não estou dizendo que as mangueiras não têm importância. Muito ao contrário! Por anos, elas embelezaram nossa cidade,
Acima, um dos túneis de mangueiras, tão característicos de Belém. Abaixo, um detalhe do cemitério da Soledade.
nos deram sombras e frutos... Nominaram a cidade e ainda foram generosas o suficiente para nos dar túneis lindos. Não estou propondo tirar nenhuma, mas precisa-se buscar soluções. E onde não há mais mangueiras, replantar uma espécie que cresça rápido. O prefeito Zenaldo comentou que gostaria de fazer uma consulta popular para não replantar as mangueiras. Que a gente busque outras espécies que se adequem melhor ao nosso clima, às nossas necessidades... O prefeito Zenaldo é um homem de sensibilidade. Convivi com ele e sei que ele está com vontade de ser um bom prefeito, mas não basta vontade. Essa decisão dele é muito sábia. Não é uma decisão de um alcaide. É uma decisão que passa pelo coletivo. Agora não pode ser também um plebiscito emocional. Porque se for emocional, a mangueira vai levar. Há que se ter uma campanha com pessoas esclarecidas, que possam elucidar dúvidas. Mas com a quantidade de carros, na época das mangas, a quantidade de para-brisas quebrados e carros amassados é enorme. Ainda tem o risco às pessoas que circulam nas calçadas... É uma questão complicada, porque passa por tradição. O senhor acha que os entes municipal e estatal dialogam ou dialogaram pouco? O senhor acha também que falta amor do paraense para com sua cidade?
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Eu usei a palavra “amorosidade”, não é? Há que se ter isso em tudo que você faz na vida. Eu não consigo um traço, um projeto, se eu não me apaixonei pela ideia, pela proposta, pelo benefício que pode trazer às pessoas. O amor é fundamental a qualquer profissão. Um médico, por exemplo, pode ser competente, mas ele tem que ser humanista – ele não pode ser mercenário. Ele tem de ter essa relação com o paciente, inclusive, porque sabe que isso vai acelerar o processo de recuperação. O mesmo em relação a administrar uma cidade. Belém está doente? Está. É grave? É. Alguém tem que tomar conta. Não dá pra ser “o último apaga a luz e fecha a porta”. O paraense sente falta de coisas simples, não? Lixeira nas ruas, por exemplo... Belém já teve muitas lixeiras. Mas elas não eram cuidadas. Porque não basta colocar lixeiras – elas têm de ser cuidadas; o lixo tem de ser retirado. Para isso acontecer há que se ter qualificação técnica nos quadros da prefeitura. Na época da administração do Lemos, por exemplo, ele mantinha nos logradouros, nas praças, normalmente, quatro operários: era um bombeiro, um marceneiro, um serralheiro e um homem de limpeza. Eles articulavam as equipes, mas a presença era permanente. Geralmente debaixo dos coretos, onde funcionavam pequenos escritórios. E esses funcionários sabiam de tudo relacionado àquele lugar, àquele logradouro. Eles sabiam, em detalhes, de toda a »»» engrenagem: quando uma luz queimava, quando
Juntamente com a entrega do Theatro da Paz totalmente restaurado, após um minucioso processo, o livro contando a trajetória e as transformações da casa também foi lançado no mesmo dia.
estava vazando água de um lago... Conheciam até quem frequentava, os moradores. Hoje, talvez, não dê para fazer isso por logradouro, mas dá para fazer por bairro. Quem sabe subprefeituras com pessoas do próprio bairro? Quando tu tens uma subprefeitura, têm-se gerentes, eleitos pelos próprios moradores do bairro. Quem sabe não é um caminho?
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E a memória do paraense? A cidade está de tal ordem, que hoje as pessoas não enxergam mais a escultura pública, os monumentos. Não se nota mais os casarões antigos. Hoje se sai mecanicamente de casa e se volta da mesma forma para casa. A cidade em si, o lugar que é comum a todos, o sítio comum não é mais desfrutado. Não existe mais o flâneur. Não se sai mais descompromissadamente para deambular pela cidade. Não se tem mais o registro do “ali ficava uma farmácia onde eu aviava as receitas da minha mãe”. Não se tem mais isso. Fora a repetição estética – o mau gosto... Quarteirões e mais quarteirões de uma repetição de vulgaridades. Uma pobreza estética, arquitetônica. A minha profissão é a arquitetura, mas podes ter a certeza de que eu não vou procurar o déjà vu, a repetição minha e de um colega arquiteto. Vou procurar marcar a cidade.
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Falando nisso, o senhor nos permite uma curiosidade? Que prédios, que logradouros significativos para o senhor ou para a história da cidade o senhor restauraria? Sabes que, no momento, estou me dedicando muito ao Parque do Utinga? Estamos projetando um parque que, dentre tantas outras coisas, terá um aquário de padrão internacional, integrado à natureza. E eu acho que isso vai ser um grande ganho para nós, porque será um local de instrução, de educação, de pedagogia, de pesquisa científica. Você vai lá aprender a importância de preservar nossos rios, nossos lagos – e com isto, nossa fauna, nossa flora, além de ser um lugar para estudar nossas espécies. Segundo, tenho um projeto, pronto para fazer junto com a prefeitura e eu já conversei com o prefeito, o “Parque da Soledade”, tirar o estigma de cemitério, transformar aquele lugar em um lugar de memória, de história, de rememoração do passado. E é um desperdício – o Soledade é quase do tamanho da Praça Batista Campos, com mangueiras intactas. Ali não podaram – ali é o exemplo mais bonito de mangueiras saudáveis. Sem mencionar que o Soledade, embora tenha funcionado por apenas 30 anos, reúne estilos variados. Ali você encontra o art nouveau, o art déco, o neoclássico. E instaurar uma cultura de que é possível “saudar as almas”
(...) eu exercia o papel do flâneur. Às vezes a ida até que era um pouco acelerada, mas na saída, eu ficava inventando trajetos.
ou os santos populares sem queimar. Temos que ter um lugar para as velas. A cultura será mantida porque é bonito e cultural. Paralelo à restauração do Soledade, temos que pensar na organização da feira da Batista Campos. Uma saudade sua... Falei em tantas. De fato: falou das cigarras, das conversas nas calçadas... Mas eu me refiro a algo no qual o senhor pensa durante o seu trajeto e se pega imaginando “seria tão bom”... Então pronto, vamos a uma grande saudade: de ir e voltar andando para a escola. Eu estudava no Suísso-Brasileiro, no final da Avenida Nazaré, quase na esquina da Catorze de Março. Ali eu tive as primeiras letras, como se diz. Os donos eram alemães. Anita e Helga Müller. Eu morava onde eu nasci, inclusive. Ali na Catorze de Março, entre a José Malcher e a João Balbi, no edifício Maria Carolina, que era o nome da minha mãe e o projeto é meu. Eu ia e voltava andando. Parava para tomar um sorvete, mas eu ia a pé. Sem nenhum receio, sem nenhuma ofensa. Neste passeio, eu exercia o papel do flâneur. Às vezes a ida até que era um pouco acelerada, mas na saída, eu ficava inventando trajetos. Prolongava, parava na Livraria Martins, parava para pegar um gibi, pegava manga. Existe essa saudade imensa de caminhar livremente por uma cidade adorável. E vamos situar isso: nos anos 50. No ginásio, já no Moderno, eu ia de bicicleta. [Paulo Chaves fica com os olhos marejados] Um lugar que o senhor ama com todas as forças. Ah, são dois. Um que eu visitei como estudante, entre 1964/1965, e que depois, ao retornar, encontrei dilacerado e isso me dilacerou [ele bate na capa do livro, que seria lançado horas mais tarde]: o Theatro da Paz. E a igreja de São Francisco Xavier, que você conhece como a Igreja de Santo Alexandre. Cinquenta anos de restauração e já se falava em torná-la um museu de arte sacra. Eu tive o privilégio de restaurar ambos. Um ícone da Belém colonial e outro, o símbolo máximo da Belle Époque. [ele se emociona novamente] O que o senhor deseja para Belém em seus 400 anos? Uma coisa possível: que essa cidade sem caráter volte a tê-lo. Inclua isso: o sítio e uma parte significativamente de pessoas. Quero uma cidade fraterna, amiga, companheira. Que a gente tenha prazer de viver nela.
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Lorena Filgueiras
Ave, Teresa A cantora Teresa Salgueiro, talvez a maior representante da música contemporânea portuguesa, vive um momento de graça: seu primeiro disco autoral é sucesso na Europa e ela faz planos de trazer o espetáculo para o Brasil.
E
la foi descoberta ainda garota. Aos 17 anos, cantando com amigos em uma típica tasca portuguesa, a lisboeta Maria Teresa de Almeida Salgueiro tornou-se vocalista do nascente “Madredeus”, em 1986. Iniciava ali a carreira da cantora portuguesa mais famosa no exterior, depois de Amália Rodrigues. Segundo Pedro Ayres de Magalhães, um dos fundadores e diretor do Madredeus, Teresa foi, por vinte anos, “a maior inspiração do grupo”. E não havia exagero algum nessa declaração. Só consegue entender a força das palavras de Pedro Magalhães quem se entregou à magia da voz de Salgueiro. Sem qualquer educação musical formal, revelação surpreendente para nós, não resta muita dúvida de que Teresa foi tocada por uma “existência superior” – como a crítica costuma fazer referência e se render ao seu talento inquestionável. Além da beleza clássica, que foi explorada em quase todas as capas dos discos do Madredeus, a cantora – que possui hábitos muito simples – é extremamente educada e adora o contato com os fãs, além de frequentemente interagir com eles por meio das redes sociais. A notícia da saída de Teresa Salgueiro do Madredeus, em 2007, assombrou o mundo da música, mas foi o marco inicial de uma carreira solo que já havia sido consolidada, muito antes de seu início propriamente dito. Vivendo um momento de graça, de mais autonomia e compondo suas próprias músicas, ela revela, em entrevista exclusiva à Revista Leal Moreira, toda sua trajetória em bastidores e à frente, no comando da sua própria his-
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tória. Com vocês, “o mistério” revelado de Teresa. Você começou muito jovem no Madredeus, aos 17 anos, quando te ouviram cantar em uma tasca em Lisboa, certo? O Pedro Magalhães, certa feita, declarou que você era a grande inspiração do grupo. E a gente tem de concordar que você tem uma voz única, inesquecível. Como começou tua história com a música? Você teve uma educação musical? Eu tive uma educação musical básica, daquela que você tem na escola, não mais que isso. Tive aulas de piano, durante alguns anos, mas também de uma forma não muito aprofundada, digamos assim. Quando eu comecei a cantar, eu não tinha qualquer tipo de formação. Apesar de uma não-educação formal musical, de uma forma geral e quase uníssona, os críticos dizem que ao longo dos anos sua voz amadureceu e que ficou ainda mais bonita. Você tem esse mesmo senso crítico? Como eu te disse, quando comecei a cantar, não tinha qualquer tipo de formação musical formal em relação ao canto. E ainda hoje, devo dizer que não tenho muita formação. A minha grande formação são as canções que eu cantei durante quase vinte anos com o próprio Madredeus e com outros projetos dos quais participei. Algumas dessas canções, gravadas também ao longo desses anos, inclusive foram reunidas em um álbum (“Obrigado”), que foi lançado em 2005. E há muitas outras parcerias em outros projetos. Tudo que eu tenho cantado, no fundo, tem sido a minha grande escola. No início – e isso é possível ob- »»»
divulgação
Teresa Salgueiro e os músicos com os quais ela gravou “O Mistério” www.revistalealmoreira.com.br
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servar – o primeiro disco que gravei, ou melhor, que o grupo gravou (“Os dias da Madredeus” – 1987), foi feito, de certa forma, de maneira “precária”, porque o disco foi gravado em três madrugadas, direto, sem qualquer direção. Não tinha escola, enquanto cantora, e não tinha direção para o grupo. E quando eu ouço esse disco – do qual gosto imensamente – reconheço uma total espontaneidade e uma falta da direção que, de fato, não havia. É um disco puro, espontâneo. Anos mais tarde, em nosso primeiro disco de estúdio, o “Existir” (1990), é possível perceber uma grande diferença na voz e aí eu já havia começado a ter aulas particulares de canto, por três anos e mais um ano em conservatório. E assim foi quando iniciamos a turnê de “O Espírito da Paz” (1994), que foi o terceiro disco gravado em estúdio. E aí... o processo de aprimoramento continua até hoje (risos). De certa forma e por muito tempo, sua imagem e a do Madredeus fundiram-se – isso te incomoda? Quase seis anos após sua saída, como você avalia sua saída do grupo e como vê sua própria trajetória em carreira solo? (risos) Essa pergunta contém muitas perguntas, mas vamos lá. Voltando, por exemplo, ao “Obrigado”, que foi um disco resultado de uma coletânea, por assim dizer, dos trabalhos “solos” que realizei quando ainda estava com o Madredeus. E é possível observar diferenças entre as faixas. Eu sinto uma disparidade na voz, inclusive, porque as músicas foram gravadas em períodos muito distintos. Em relação ao grupo, é absolutamente natural que a imagem seja associada. Por muito tempo, dediquei-me a cantar o repertório do grupo, a divulgar seu pensamento, sua obra. E isso ocorreu por vinte anos.
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Quando entrei no grupo, eu tinha 17 anos. Logo eu tenho muito mais tempo de vivência no grupo do que tinha de vivência de mim mesma. Entendo perfeitamente que as pessoas ainda me associem aos Madredeus – estranho seria se não fizessem essa associação (risos). Agora, me permita uma observação: o grupo de trabalho que existia quando entrei, foi o mesmo por dez anos. Quando eu saí, o grupo era totalmente diferente. Da formação inicial, no período da minha saída, em 2007, só estavam o diretor do grupo (Pedro Ayres de Magalhães) e o José Peixoto, um virtuose da guitarra, que contribuiu enormemente para o trabalho. Fui me adaptando a todas essas mudanças, até que surgiu um momento em que o grupo parou durante um ano [período que foi definido, por eles mesmos, de “sabático”, em 2007] com ideia de repensar sua atividade, sua própria “calendarização”, porque – imagine você – foram duas décadas intensas. Tínhamos falado até da hipótese de trabalhar em períodos intensivos, de 3 ou 4 meses, e depois os músicos poderiam dedicar-se a outras atividades – já que os músicos tinham outros projetos, outras coisas que desejavam fazer. Quando nos reunimos novamente, ao final de 2007, foi-me proposto um contrato de sete anos de exclusividade e... Passei toda minha vida adulta no grupo, tinha vivido suas diferenças... Os amigos do começo da carreira, da formação original do grupo, já não estavam – e no começo, o Madredeus era uma reunião de amigos, que depois se profissionalizou. E, portanto, pelos próximos 7 anos, eu não poderia fazer mais nada, o que era impossível. Ou era isso, ou era nada, não havia muito a possibilidade de flexibilizar. Vou insistir que havia muito mais tempo da Teresa com o grupo, do que da Teresa sem o grupo. E eu tinha necessidade de parar um tempo, »»»
Os críticos afirmam que Teresa é a herdeira musical de Amália Rodrigues (foto ao lado), que tirou o fado da condição de música marginal. Apesar da comparação, Teresa Salgueiro afirma que não canta fado. “Eu canto música portuguesa, contemporânea”.
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Eu não sinto a necessidade de rotular ou categorizar a música. (...) o que eu faço é música portuguesa contemporânea, uma fusão de muitos estilos diferentes, ligada à memória da cultura portuguesa.
enfim, para ficar em casa, por exemplo, para o que fosse ou para experimentar novas coisas, de modo que eu decidi que continuaria meu percurso na música. E eu vivi, após isso, tantas novas experiências, novos ensembles,novos estilos... sempre à procura dos músicos, com os quais compus as músicas e gravei em agosto de 2011 [“O Mistério”, CD que ela lança este ano e com o qual pretende vir ao Brasil]. Lembro-me de ter ouvido muitas vezes que havia uma discordância saudável sobre o gênero musical no qual vocês estavam inseridos: fado, world music e alguém definiu como “um espírito muito próximo do fado”. A crítica especializada diz que você é a herdeira legítima da Amália Rodrigues. E voltando um pouco à pergunta inicial, em qual dos gêneros musicais você se insere? Eu não sinto a necessidade de rotular ou categorizar a música. De maneira nenhuma. O fado é uma música tradicional de Lisboa e Coimbra e que viveu seu apogeu e desenvolvimento com a Amália Rodrigues, com toda sua indulgência, da sua extraordinária versatilidade enquanto cantora. Antes, o gênero era considerado muito “marginal”, restrito apenas às casas de fado. E graças a ela – e a outros artistas, mas muito mais graças a ela, certamente – o fado popularizou-se e saiu das casas do fado. Não era muito bem visto ser fadista e, graças à Amália, isso tudo mudou completamente. Em termos líricos também, porque ela começou a cantar poetas contemporâneos e foi buscar outros, de outras épocas. Graças ao trabalho da Amália, a Unesco reconheceu o fado como patrimônio imaterial da humanidade. Quanto ao fado, não vejo relação com o que fiz por quase 20 anos. Talvez a única relação seja o fato de eu ser de Lisboa. Com o Madredeus, cantávamos uma fusão de vários estilos e, com certeza, algo muito próximo ao estilo do fado era reali-
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zado, mas o que predominava era um estilo clássico, uma estrutura clássica de execução da canção. Também não era world music, uma etiqueta muito usada para a música étnica. Portanto, o que eu faço é música portuguesa, é música contemporânea, uma fusão de muitos estilos diferentes. Ligada à memória do que é a cultura portuguesa, com influências de outras culturas, o que é muito enriquecedor. Também não se pode confundir a música que faço agora com a música que cantei por quase duas décadas. Durante esses vinte anos, as músicas eram compostas para mim e hoje canto minhas próprias palavras. Em 2005, quando você lançou um trabalho solo (“Obrigado”) você gravou com músicos brasileiros – o que você primeiro conheceu da música brasileira? Você chegou, inclusive, a se apresentar com um espetáculo e repertório inteiramente brasileiro (“Você e Eu”, 2007) – o que mais te agrada na música brasileira? O “Obrigado” corresponde a gravações feitas em 15 anos, de forma dispersa, portanto não se pode confundir com um disco gravado de maneira organizada, como o “Você e Eu”, que foi inteiramente gravado no Brasil com um grupo de músicos brasileiros, em São Paulo. E esse foi um projeto muito interessante que surgiu. Mas eu me lembro, muito jovem, de ter ouvido tanto na rádio João Gilberto, Tom Jobim, Elis Regina, Dorival Caymmi, Chico Buarque. A indústria fonográfica brasileira é muito respeitada, organizada e os artistas têm uma enorme aceitação aqui, em Portugal. Desde aquela época, cantores como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa visitavam e visitam Portugal com muita regularidade e, portanto, desde sempre os seguia com muito interesse. Ainda tem a questão da sonoridade, não é? O português de Portugal e o português »»»
DISCOGRAFIA
COM OS MADREDEUS: • Os Dias da MadreDeus (1987) • Existir (1990) • Lisboa (1992, ao vivo, gravado no Coliseu dos Recreios em Lisboa) • O Espírito da Paz (1994) • Ainda (1995) • O Paraíso (1997) • O Porto (1998, ao vivo, gravado no Coliseu do Porto) • Antologia (2000 – coletânea com duas canções inéditas) • Movimento (2001) • Palavras Cantadas (2001 - coletânea direcionada ao público brasileiro e abrangendo o trabalho do grupo entre os anos de 1990 e 2000) • Euforia (2002, ao vivo, com a participação da Flemish Radio Orchestra) • Um Amor Infinito (2004) • Faluas do Tejo (2005)
Em uma apresentação recente de “O Mistério”. www.revistalealmoreira.com.br
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EM COLABORAÇÃO • Obrigado (2005) • Você e Eu (2007) • La Serena (2007) com Lusitânia Ensemble • Matriz (2009) com Lusitânia Ensemble
do Brasil, embora seja a mesma língua, são dois “portugueses” diferentes e é muito interessante perceber como a língua é usada no Brasil, como os temas que inspiram os cantores são diferentes. Sempre tive e tenho muito apreço pela música brasileira pela vitalidade que emana dela. E por essas razões, quando surgiu a oportunidade, foi um privilégio viver, por dentro, essa alegria que eu vivia por fora. Você está trabalhando na divulgação do seu primeiro álbum autoral – O Mistério, certo? Foi um processo criativo laborioso ou fluiu naturalmente? Quais foram suas influências, sua inspiração maior? Ah, preciso dizer que foi um processo interessante. Eu precisava encontrar as pessoas para executar esse trabalho e elas foram aparecendo ao longo dos anos, justamente nos trabalhos “solos” que fiz mesmo no Madredeus. Entre 2007 e 2010, tive a sorte de encontrá-los e começamos a compor em janeiro de 2011, sendo que antes disso já havíamos nos apresentado juntos com um espetáculo chamado “Voltarei à minha terra” – que levamos, inclusive, para o Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Fortaleza –, que consistia na interpretação de diversos temas da música clássica portuguesa do século XX. E foi um espetáculo que correu a Europa e a América Latina e em janeiro de 2011. Começamos um período de construção das músicas, das letras e em agosto de 2011, gravamos o disco (“O Mistério”)... Durou bastante tempo, porque conciliamos as gravações com a turnê do “Voltarei à minha terra”. Mas facilitou muito que a maioria do grupo vivesse em Lisboa. Foi um processo muito fluido. É meu primeiro disco como solista, desde o trabalho de composição, ao exercício da escrita. A forma como tenho me comunicado com diversas culturas foi um desafio, mas me sinto muito recompensada.
SOLO • O Mistério (2012)
Você gravou seu disco em um convento, não é? O que determinou essa escolha? Foi técnica ou a atmosfera a ajudou? Depois de conceber as letras e aproveitar cada momento de inspiração, de ideias, o objetivo era gravar em um lugar que não fosse um estúdio convencional. Nós queríamos estar isolados, concentrados na música e tanto decidimos buscar um lugar onde isso fosse possível. Encontramos o Convento Da Arrábida (construção do século XVI), na Serra da Arrábida, que é simplesmente um lugar magnífico, em uma montanha verdejante, de frente para o Oceano Atlântico. É um lugar que eu procuro muitas vezes para rezar e que me agrada particularmente. E nesta serra existe um convento que eu nunca tinha visitado... E que fui visitar e descobri que havia uma hospedaria, que servia para receber grupos de trabalho, convenções, para estudo. E a tipologia da casa, que fica precisamente de frente para o convento, era ideal, perfeita aos nossos propósitos. Deslocamo-nos para lá e gravamos o CD lá, em meio à tranquilidade, a um ambiente inspirador e dentro do que queríamos: completo isolamento. E foi muito um privilégio gravar lá, em meio a uma natureza magnífica. O resultado é que podemos dizer que este disco fica para sempre ligado a um lugar muito especial. Você veio a Belém em 2000 e parece que uma única apresentação foi insuficiente, já que a apresentação foi ao ar livre e lotou as ruas próximas ao palco. Tem planos de vir ao Brasil para divulgar “O Mistério”? E sendo bem tendenciosa, a Belém? Sem dúvida. E mesmo com os projetos anteriores (“Você e Eu” e “Voltarei à minha terra”) não deixei de ir ao Brasil, que é um país do qual gosto espe- »»»
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Ouça as músicas de Teresa Salgueiro. Reunimos uma seleção especial para você.
cialmente e me sinto muito bem recebida. Com “O Mistério”, já há datas para muito em breve, só não vou adiantá-las agora porque elas não estão absolutamente confirmadas. Mas serão muitas datas. O disco, em Portugal, foi editado por mim e saiu em maio de 2012, mas já aconteceram edições em muitos outros países: Itália, Espanha, México, Polônia, Reino Unido. Em breve, Luxemburgo, Bélgica... E a turnê brasileira acontecerá, bem como a edição do disco também. Promete que você vai se apresentar em Belém... (ela cai na gargalhada) Prometo que quero ir. Gostaria de reencontrar Belém. Você é tida como uma artista muito acessível, que gosta de interagir com os fãs em redes sociais, que possui hábitos simples... O que você mais gosta de fazer quando não está trabalhando? Olha, eu preciso te dizer que exerço uma atividade que se confunde muito com minha vida privada. A música faz parte da minha vida e é com alegria que construo esse percurso com a música. Portanto, dedico os tempos livres à música também (risos). Neste momento, inclusive, já estou me dedicando a um novo repertório, que pretendo gravar brevemente. Mas nos meus tempos livres, realmente livres, eu dedico aos meus amigos, que são poucos, já que a rotina de um músico não permite muitas relações duradouras fora deste meio. Mas eu realmente cultivo hábitos muito simples: gosto de ler, de ver um bom filme, de ficar com minha família. E aproveito minha filha (Inês, de 14 anos). Penso que nossa vida, nossa felicidade se constroem dia a dia e nas coisas mais simples. A realização da felicidade reside mesmo nas coisas mais simples, que podem parecer não terem grande significado – são esses momentos que fazem minha alegria e felicidade. E qual é o mistério de Teresa? Talvez falte dizer que o mistério, o que eu escrevi, os meus textos, sejam uma fusão de nossos diferentes percursos, das emoções, tanto minhas quanto dos músicos. No fundo, baseia-se muito na minha experiência, na minha visão do mundo, que tive o privilégio de conhecer por meio das viagens que a música me proporcionou. O mistério é uma reflexão da vida. Aos seres humanos não nos é dada a capacidade de se conhecer, ou melhor, conhecemos tão pouco do que nos rodeia e sabemos que há coisas para as quais nunca teremos respostas, mas a aceitação deste mistério nos ajuda a ter uma noção de nossa dimensão, do quão frágeis somos e da força que temos, por meio da nossa criatividade, de nossa capacidade em mudar o mundo.
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A saúde e a saúva, os males do Brasil são. Tomei um café da manhã indigesto: na TV faziam um levantamento da situação dos hospitais
esteja na casa de 194 milhões de almas, destas, 47 milhões, ainda de acordo com o governo, pos-
Para diminuir e diluir custos é que os planos de saúde surgiram como opção e hoje um quarto da
federais no Rio de Janeiro. Em um destes, mais de um terço dos médicos haviam se aposentado e não foram repostos. Em outro, serviços essenciais como transplantes estavam suspensos por falta de profissionais. Um dirigente afirmava que o concurso de 2012 estava ainda chamando candidatos que levariam uns bons anos para serem preparados para os desafios de um transplante. Note-se um comentário: o salário destes concursados seria na faixa de R$ 2 mil. Então vamos combinar, um cirurgião para transplante de fígado receberá ao final do mês a vultosa soma de R$ 2 mil e trabalhará como um frei, afinal de contas a medicina é um sacerdócio e os médicos fizeram juramento para atender a qualquer custo. Não é de estranhar que a fila não ande e os concursados não queiram ser chamados. Uma pergunta, você ou alguém da sua família se submeteria a um transplante num hospital público onde o cirurgião recebe R$ 2 mil por mês? Ascensorista do Senado ganha o triplo. Além de me tirar o apetite matinal essa notícia abriu-me o apetite para pesquisar. No Portal da Saúde descobri que o orçamento do SUS é de R$ 95 bilhões para 2013. Vamos considerar que a população brasileira
suem plano de saúde privado. Restam assim 147 milhões de desassistidos. Se dividirmos apenas o orçamento do SUS por essa população teremos R$ 646 per capita anual ou R$ 54 mensais. Não é exagero imaginar que o custo de todas as secretarias estaduais e municipais seja pelo menos metade do orçamento do SUS. Assim teríamos disponíveis pelo menos R$ 81 mensais por habitante descoberto. Certamente com esse valor seria possível adquirir um plano privado custeado pelo governo. Teríamos então a saúde pública de melhor qualidade sem custos adicionais para o restante da população, pelo mesmo valor gasto hoje pela ineficiente máquina do Estado. O impasse é convencer a classe política, sindical e organismos de pressão, todos interessados em manter influência sobre a divisão do bolo, cada um buscando a maior fatia e a população ficando com as migalhas e todos pagando a conta da festa. Uma outra linha de raciocínio para chegar ao mesmo fim é imaginar que cada empresa tivesse seu departamento médico, com profissionais, ambulatórios e instalações próprias para atender a demanda de seus colaboradores. Teríamos um custo proibitivo que inibiria ações dessa natureza.
população já usufrui desses serviços, dos quais, também de acordo com o site do governo acima, 30 milhões, ou 64% do total são assistidos por planos empresariais e os demais 17 milhões são usuários particulares. Esses números cada vez crescem mais, quem pode (e cada vez mais as classes emergentes podem) está partindo para os planos privados para não ter que suportar a péssima qualidade do atendimento público. Ora, se os planos são opções mais interessantes para empresas e particulares, por que não o são também para o governo que poderia, em vez de ser um péssimo prestador destes serviços, transferir para quem conhece e melhor administra custos a tarefa de prover de saúde sua população? Ah, não quero ser inconveniente, mas por que os servidores públicos têm planos e opções de atendimento fora do SUS? Por que deputados e senadores têm reembolso de despesas médicas particulares e não usam o serviço que o próprio governo criou para atendimento de toda a população? Não posso deixar de lembrar Mário de Andrade em Macunaíma: Pouca saúde, muita saúva, os males do Brasil são.
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Que tal escutar uns discos lá em casa? Não, isso não é uma cantada – é o tom da reunião. Dependendo da turma de amigos, é um convite para uma tarde, uma noite ou um dia inteiro de diversão que não cobra entrada ou couvert e que tem como principal atrativo a liberdade de promover um encontro com a cara de quem participa dele. A chamada “diversão indoor” tem conquistado mais adeptos que em vez de procurar entretenimento em locais públicos, preferem trazê-la para dentro de casa. Os benefícios e vantagens? Você confere na matéria a seguir.
T
em lugar mais gostoso que a casa da gente? Afinal, lá é onde se relaxa, se descansa depois das tensões daquele dia cheio de trabalho e “pepinos” para resolver. E é também um palco propício para reuniões, festas e farras daquelas que começam à tarde e brigam com a luz do sol do outro dia invadindo as janelas para não acabar. Para quem franziu a testa ao ler a afirmativa anterior, eis três depoimentos que podem fazer com que você, na medida do possível, repense as “possibilidades possíveis” do seu lar, doce lar. “Reuniãozinha sempre foi ‘ona’” Janete Eluan é dessas que a gente bate o olho uma vez e já sabe que agregar pessoas e grupos de pessoas, por mais diversos que eles sejam, é com ela mesma. De família libanesa, se acostumou desde cedo a ter e receber muita gente em casa. “Tenho sete irmãos, sendo que dois deles e mais eu ainda moramos no mesmo terreno onde mora nossa mãe, cada um numa casa diferente. Fora isso, são três primos muito próximos. A virada de 2012 para 2013 resolvemos passar todos juntos em Natal (RN): 38 pessoas. E conseguimos juntar todos num mesmo avião! Reuniãozinha na minha casa, na minha família, sempre foi ‘ona’”, relata ela, que trabalha como gerente e coordenadora financeira em duas empresas. Ainda em 2012, assim como nos anos anteriores, o que não faltou foi reunião na casa de Janete regada à boa música, bom papo, boas comidinhas e bebidinhas. “Eu até gosto de sair para alguns bares, mas em casa é mais íntimo. Sou uma pessoa cheia de amigos e quanto mais
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gente reunida, mais complicado fica circular entre os grupos se a gente está na rua. Além disso, se for pra ir pra barzinho ou restaurante fica complicado manter, financeiramente. Tem mês que, só de aniversário de família são oito. E mais os dos amigos!”, justifica. A paixão por receber os queridos no aconchego do lar já rendeu grandes festejos, incluindo não um, mas três casamentos de primos, e outros eventos sofisticadíssimos, como o aniversário de 48 anos de Janete, há pouco mais de três anos. “Eu gosto de festa temática e o povo entra na onda, se fantasia e tudo mais. Em 2009 eu comemorei meu aniversário com o tema “A Casa da Luz Vermelha” e foi um barato! Fez tanto sucesso que repeti a dose, em 2011, nos meus 50 anos, fazendo a ‘parte II’ da mesma temática. Já no meu último aniversário eu disse aos amigos apenas que chegassem com suas bebidas e algum prato de comida, para que nos reuníssemos para comemorar. Fiquei supresa porque não teve convite formal, foi só um ‘aparece aí’, e a casa ficou cheia!”, recorda. Das reuniões aleatórias e em datas especiais, uma nova programação se formou. Agora toda sexta-feira de lua cheia é dia de luau por lá. “Essa brincadeira começou faz bastante tempo. Conheço muitos músicos, sou parceira musical de Paulinho Cavallero, Silvinha Tavares é muito minha amiga e por aí vai. Lá em casa rolam as ‘Chicadas’ de vez em quando, geralmente comandadas por um dos meus irmãos que toca violão e que, assim como eu, ama Chico Buarque, e em julho passado teve luau toda segunda-feira lá em casa. E esses luais foram tão legais que combinamos fazer desse encon- »»»
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tro algo mensal, e sempre iluminados pela lua, sem luz artificial nenhuma. Só espero que a chuva não nos obrigue a mudar para a garagem quando tiver encontro nesses primeiros meses do ano!”, torce. “Meu negócio é reunir os amigos. Se não tiver festa, a gente faz música. Se não tiver música a gente joga dama, dominó, joga até pedra na mangueira!”, brinca. “São muitas histórias memoráveis” A advogada Thayanna Rebouças, de 30 anos, também segue a linha de raciocínio de Janete: o negócio é juntar o pessoal. “Receber os amigos em casa sempre foi um hábito. Desde a adolescência tudo era motivo pra se reunir, podia ser para estudar, conversar, lanchar, até pra fazer nada!”, admite. Além de todo o conforto que só a casa da gente proporciona, ela ainda vê outros benefícios em trocar o ‘outdoor’ pelo ‘indoor’. “Poder se reunir sem se preocupar com brigas, assaltos, acidentes, surpresas indesejadas é uma das maiores vantagens. Claro que tem aqueles dias em que você quer sair e ver pessoas diferentes, jantar num restaurante bom, mas pesando os ‘prós’ e ‘contras’ acho que prefiro fazer reuniões em casa mesmo, talvez seja a idade!”, especula a jovem. Em meio aos grandes encontros que rolaram na casa da Thayanna, muita história pra contar. “São várias memoráveis, e algumas até impublicáveis!”, revela, garantindo que a baderna nunca incomodou os pais, também participantes da brincadeira promovida pela filha. “Acho que a mais marcante foi a formatura da minha irmã, Arianna, com direito a banda de Rock e mais de 12 horas de festa, começando com churrasco e terminando no caldinho”, lembra. A quadra junina foi lembrada durante anos e anos por lá também. “Foi a festa que mais se repetiu nos nossos calendários. Ia todo mundo vestido a caráter, servíamos comidas típicas, tinha até quadrilha improvisada e Barraca do Beijo!”, conta. “Em segundo lugar vêm as lutas de UFC [Ultimate Fighting Champion], com direito a telão. Acho que me divirto até mais em casa do que fora, porque fico mais à vontade”, conclui. Detalhe: há três anos, Thayanna casou e teve seu primeiro filho, e com isso, o ritmo das reuniões diminuiu, claro. Mas por pouco tempo. “No começo a gente reunia menos mesmo, mas hoje posso dizer que menor é só a quantidade de participantes. Moro com meu marido e meu filho que, desde pequeno, está acostumado com a bagunça. Ele dorme no barulho e só depois de participar das festas até cansar! Reunir os amigos é e sempre será um prazer”, a advogada reforça.
“A festa fica com a sua cara, com a cara dos amigos” Nada mais complicado em um grupo de amigos, com o passar dos anos, do que a situação solteiros vs. casados. Como reuni-los? Há três anos, o publicitário Igor Sales, 30, encontrou uma forma de agregar a turma toda num mesmo lugar, e abriu as portas de sua própria casa para proporcionar esses encontros. “O hábito é antigo, mas de uns três anos pra cá, se intensificou. Foi uma maneira que encontrei de juntar casais, que não saem mais para a balada, com a turma dos solteiros”, explica. “É mais trabalhoso, porque exige um planejamento que acaba sendo a parte mais legal da festa, que fica com a sua cara, com a cara dos amigos”, avalia. Para ele, não tem como comparar as modalidades, digamos assim. “Não é que eu troque uma saída por uma reunião ‘indoor’, são momentos diferentes. Enquanto pra balada é só se arrumar e sair de casa, a reunião indoor acaba sendo um pouco mais planejada, pelo menos pensada um dia antes, você tem que organizar, convidar as pessoas, comprar bebidas. E cada uma acaba sendo bem diferente da outra. No momento estou preferindo mais as reuniões ‘indoor’, mas não apenas as minhas, na casa de amigos também, porque senão só eu tenho todo o trabalho!”, detalha. Hoje Igor recebe entre 20 e 25 pessoas na sala de casa para ver filmes, lutas, futebol e o que mais estiver na programação. “Uma vez veio o dobro de gente e foi uma confusão, porque um amigo sempre traz um outro amigo! Me preocupo muito, quando a festa é na minha casa, para que na hora as pessoas fiquem bem à vontade, não precisem ficar me pedindo as coisas, até para que eu mesmo possa curtir”, diz o publicitário, que mora com os pais e mais uma irmã. “O imóvel é grande e os quartos ficam bem isolados, então ninguém se incomoda com barulho nem nada. E assim como eu faço as minhas festas, eles fazem as deles também”. Antes de usar a sala de estar, ele recebia os convidados em outra parte da casa, e da forma como a reunião era organizada, até quem passava pela rua podia curtir também. “As primeiras reuniões eram bem simples mesmo, eu fazia em um espaço que é anexo ao meu quarto e que dá visão para a Avenida João Paulo II. Com um projetor, eu jogava a imagem do que estávamos assistindo para a parede de um prédio de quatro andares do lado da minha casa, e em uma noite de UFC, eu precisei pintar um quadrado branco em uma dessas paredes, que estava suja, para que a gente conseguisse uma boa imagem. Ficou tão boa que, quando olhei para trás, as pessoas estavam no meio do canteiro central assistindo à luta também!”, conta.
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Fábio Nóvoa
Os
primeiros
acordes
A iniciação musical traz benefícios que vão além do reconhecimento de notas musicais e instrumentos. Ela é responsável por aguçar a criatividade e o senso social das crianças.
S
ão 9h45 da manhã no sábado do dia 16 de março. A colorida sala de Paulo Maia ainda está vazia. Em uma estante no canto da sala, estão expostos vários e pequenos instrumentos musicais. Do outro, em outra estante, dezenas de livros e discos infantis, próximos a um aparelho de som. No centro da sala, um enorme e confortável tapete de diversas cores formado por peças, como um grande quebra-cabeça. É nesse espaço que, em quinze minutos, Paulo irá receber seus “alunos”. E onde tudo começou para o professor, de 29 anos, que também é músico arte-educador, pesquisador, palestrante e educador musical infantil. Em 2006, quando fazia especialização em Fundamentos em Musicoterapia, decidiu fazer a monografia de curso junto com a tia, professora e mestra Gilda Maia. Daí surgiu a monografia intitulada “A Música e o Bebê: experiências e vivências”, concluída no início de 2007. A priori, o projeto foi feito em forma de oficina. No mesmo ano, eles decidiram criar a “Sala-Estúdio Irmãos Nobre”, que ganhou o nome de Cantinho Musical “Irmãos Nobre”, em homenagem a Helena e Ulisses Nobre – os Irmãos Nobre, famosos cantores líricos do período da Belle Époque, em Belém, e também tios avós da Profa. Ms. Helena Maia, avó de Paulo. “A nossa família é fundamentalmente de músicos”, lembra. “Aqui nessa sala, é onde aconteciam as aulas de música da minha avó, Helena Maia”. Ali, que, até hoje, põe em prática as aulas de Musicalização para Bebês. Paulo diz que usa no espaço a metodologia criada pela pesquisadora Josette Feres, que estudou a iniciação musical, que pode ocorrer desde os primeiros meses do recém-nascido, desenvolvendo no bebê o prazer de ouvir e fazer música, além de estimular a ligação afetiva entre pais e filhos. Paulo então conheceu experiências no Sul e Sudeste do
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Brasil e decidiu trazer para Belém o projeto de musicalização para bebês. Nesse local, em um prédio localizado no coração do centro de Belém, ele conseguiu unir a teoria e a prática. Por todo o espaço, instrumentos podem se transformar em algo novo a ser descoberto. Um bocal de flauta, por exemplo, se transforma como em um passe de mágica, em um som de passarinho. Além de especialista em Fundamentos de Musicoterapia, ele também se especializou em Práticas Pedagógicas em Educação Infantil e Séries Iniciais. Atualmente, durante a semana, ele divide seu tempo ainda ministrando aulas de música em dois grandes colégios particulares de Belém. Por isso, hoje, ele ministra o projeto apenas aos sábados de manhã, para crianças entre 01 e 06 anos de idade, com o apoio da mãe, Ana Cristina Maia. “Eu comecei a sentir a necessidade da rotina. A prática leva aos conhecimentos da escola e hoje a música está voltando para o ambiente escolar”. As aulas O primeiro a chegar, pontualmente às 10h, é Vinícius, de 1 ano e 3 meses. Sem nenhuma timidez, ele já chega explorando todo o espaço. Rapidamente, pega um pequeno bumbo e começa a batucar uma melodia que só ainda existe na sua imaginação de criança. Próximo, ele é observado pela avó e pela tia. “Achei um trabalho fabuloso. Meu filho é músico e ele decidiu trazer o filho aqui. Já queria conhecer o espaço e como os pais não puderam, resolvi trazer ele hoje”, explica Rosa Helena dos Santos, Psicóloga. Para ela, o trabalho já surte efeito no pequeno percussionista. “Ele fica feliz e já desenvolveu bastante, interagindo bem com as outras crianças”. Cada sessão conta com uma média de 12 crianças. Somados aos pais (ou avós, tias, ba- »»»
Dudu Maroja
Os Irmãos Nobre Os irmãos Ulisses e Helena Nobre eram cantores líricos paraenses, nascidos em 1887 e 1888, respectivamente, que fizeram sucesso no ínicio do século XX. Na época, ficaram conhecidos como Irmãos Nobre, os Uirapurus Paraenses. A história da dupla foi contada pela tia de Paulo, Gilda Maia, com a monografia “Uirapurus Paraenses: De Onde Vem Esse Canto? História Da Vida Musical Dos Irmãos Nobre”.
bás), a sala vira uma grande festa. Em um primeiro momento, Paulo recebe as crianças. Depois reúne elas em uma roda e começa a cantar músicas infantis populares. A sala, antes vazia, agora está lotada e barulhenta. Cada criança pega um instrumento e a cantoria continua. O professor aproveita para fazer contação de histórias, sempre interagindo com pais e filhos. E não para de chegar alunos. Em dez minutos, a sala está completamente lotada. “As crianças interagem umas com as outras. A nossa ideia é que esta seja uma sala normal, onde todos possam se sentir bem aqui”, confirma o professor, entre uma canção e outra. “É um momento prazeroso estar entre as crianças e os pais. Aqui fazemos explorações dos instrumentos e a aula se transforma em um espaço para todos. Já até organizamos eventos, nas casas dos pais”. Cada criança pega um instrumento e uma miniorquestra está formada. Um pouco desconexa no ritmo, é verdade, mas o que vale é a brincadeira. O trabalho já colhe frutos. Além da participação regular de músicos, como Nazaco e Yuri Guedelha, Paulo conta que recebe indicações de médicos para as suas aulas. “Por fazermos hoje um trabalho de referência, temos inclusive a indicação de pediatras”, conta, com uma ponta de orgulho. E as matrículas estão sempre abertas. “há uma rotatividade de crianças e sempre recebemos novos alunos”, confirma. “O nosso curso é livre, mas as pessoas ficam o período que achar necessário. Não são aulas seriadas, apesar de mantermos uma rotina”. Os frutos Mas, alguns acabam ficando por mais tempo. Como Helena, de 2 anos, que já participa das aulas há um ano. “A música já faz parte da vida Os sapatos do estudante Felipe Quincó “têm histórias pra contar”, segundo ele
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dela”, lembra a advogada Fabiana Vieira, mãe de Helena. “E como ele já é professor da escola dela, achei que podia contribuir para essa formação. Ela tem um contato importante com a música, que entendo ser condição para o desenvolvimento crítico e a concentração. Ela foca em várias atividades e vai desenvolvendo melhor a atenção”, garante. Opinião compartilhada por Kátia Guerra, servidora pública, e mãe de Rafael, um ano. “É a quarta aula dele, mas desde a primeira, já mostrou como ele se entrosou logo com as outras crianças”, garante. Maria Eduarda, 2 anos e 8 meses, é uma das mais espivitadas na sala. Portadora de Síndrome de Down, a pequena se empolga com o som dos instrumentos e faz questão de repetir, com as mãos, os movimentos das músicas. Para o pai, Lino Viveiros, engenheiro agrônomo e servidor público federal, essa interação dela com outras crianças é fascinante. “Conheci o trabalho através de um amigo. Vim aqui, conversei com ele e depois de ver que era um trabalho sério, vimos os benefícios que trouxe para ela”, diz. “Hoje ela é uma criança mais sociável e que gosta de brincar e ouvir música. A música é parte da vida dela”, completa. Cantinho Musical “Irmãos Nobre” Musicalização para Bebês Todos os Sábados, das 10h às 11h da manhã. Rua O’ de Almeida, 298. Apto. 201, entre 1º de Março e Padre Prudêncio, bem de frente pro Largo da Palmeira, antigo buraco da Palmeira. Contatos: 3261.4083 / 9604.9536 / 8199.5164 (Prof. Paulo Maia). Blog: www.cantinhomusicalbelem.blogspot.com/ Facebook: www.facebook.com/musicaebebesbelem.
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Camila Barbalho
Dudu Maroja
A
mão, o
pincel... e
aescrita
Considerado um dos mais talentosos e generosos artistas de sua geração, Paulo Azevedo busca em suas memórias afetivas a inspiração para compor suas criações
N
aquele seu significado mais remoto, que embasou a maneira de se pensar o assunto no Ocidente, arte – ou ars, conforme o latim concebeu – é técnica. Habilidade. Com o passar do tempo, o conceito se transformou e se aproximou dos aspectos mais pessoais e íntimos do homem: passou a ser explicada por meio do contato com o espírito criador que há nos artistas. Por meio das emoções, que frequentemente amparam e justificam as produções artísticas. Até que, em algum momento, a emoção se torna maior que o agente, e dele toma a ação. Nesse ponto, técnica e habilidade – concretas como são – ainda convivem, mas se tornam coadjuvantes diante do sentimento, um protagonista tão abstrato quanto profundo. Confuso? Não para Paulo Azevedo. Artista plástico há mais de 25 anos, Paulo é um pintor generoso, porque credita a qualidade dos seus trabalhos muito mais ao que traz dentro de si – lembranças, coisas que viu por aí, sensações e outros arcabouços emocionais – do que à própria capacidade e experiência. Em troca, recebe um agrado que muitos apaixonados pela pintura gostariam de ter: a possibilidade de deixar a arte falar por si. Ao contrário do caminho natural, Paulo deixa-se produzir pelo que pinta – ora reconhecendo em si emoções já externadas pelos pincéis, ora blindando a própria racionalidade para que esta intervenha o mínimo possível em seu processo criativo. O resultado é um traba-
lho abstrato profundo e cheio de personalidade. Mas foi por meio dos artistas figurativos, ainda na infância, que Paulo entrou em contato com o que mais tarde seria sua profissão. Por volta dos 10 anos de idade, quando era estudante de escola pública, o artista já apreciava as fotos de quadros que via na biblioteca do colégio. “Enquanto meus colegas liam gibis, livros de história, eu via livros de arte. Gostava dos impressionistas, dos concretistas, achava bonito. Mas ainda não havia pensado em ser artista”, rememora. Tempos depois, se deparou com um livro, o “Pinturas Abstratas”, com obras da japonesa naturalizada no Brasil Tomie Ohtake. Foi um divisor de águas na vida do pintor. “Ela passou a pintar aos 50 anos de idade e hoje é uma das maiores pintoras vivas do país. Comecei a entender que era possível fazer o que ela fazia, e aquilo me mudou”. Foi quando ele começou a ensaiar traços abstratos com carvão e lápis de cor, mas relutava em mostrar para os outros. Guardou para si a paixão, ainda em processo de descoberta, para dar vazão a outro talento: a natação, à qual se dedicou por alguns anos. Não demorou muito para que a arte fizesse um novo chamado. Paulo – que também é arquiteto por formação – relembra que costumava passar por uma galeria de arte onde eram ministradas aulas de pintura. Um dia, viu dentro do ateliê uma pessoa desenhando um rosto. “Fiquei impressionado. Perguntei se aquela pessoa »»»
poderia me ensinar a fazer aquilo, a pessoa disse que sim. Eu repetia o que ela me ensinava incansavelmente”. Passou a desenhar rostos para ganhar dinheiro. Com o passar do tempo, percebeu que precisava de mais. “Vi que não era aquilo. Que aquela era a ponta do iceberg. Percebi que eu era movido por outra coisa: pelas cores”. Seguiu pintando, e lá pelos 17 anos, uma pessoa viu suas pinturas e sugeriu que Paulo expusesse no Centur. Era, mais uma vez, um aceno do futuro. O artista venceu a timidez e deu o primeiro passo rumo ao reconhecimento. Expôs oito trabalhos lá. Vendeu todos em pouquíssimo tempo, para a mesma pessoa. Ele acabara de entrar definitivamente naquele que seria seu universo a partir de então. Hoje, são 43 anos de vida, sendo 25 de exposições individuais e coletivas aqui, no Rio, em São Paulo e em galerias europeias – além de prêmios em salões como Arte Pará, Arte Jovem de Santos-SP, Salões da Aeronáutica e da Marinha, da Listel, entre muitos outros. Alcançar a carreira que gostaria de ter não estancou a necessidade que Azevedo possui de se expressar artisticamente. Ao contrário: ela foi crescendo e necessitando de cada vez mais espaço para se desenvolver. Por isso, o artista decidiu experimentar pintura em grandes forma-
tos, tratamentos em peças antigas e até mesmo a escultura. “Trabalhar tanto tempo com pincel, tinta e tela não é fácil. Por isso faço da escultura o descanso da minha pintura”, justifica. Mas nada disso ofusca o grande amor que Paulo tem pelo processo de pintar. Defensor romântico dos pincéis, tintas e telas, ele inclusive acabou optando por se afastar um pouco dos grandes salões. “Eu gosto das instalações, performance, vídeos... Tudo isso é muito interessante, muito moderno. Mas os salões de arte contemporânea quase não absorvem mais pinturas. A pintura não pode sair do mercado”, reclama. Para suprir a falta de espaço, tanto para expor quanto para criar, o pintor deu um passo grande: inaugurou seu próprio Espaço Ateliê. Nele, gasta suas horas entre criações anteriores e as ideias – seja para revisitá-las ou para dar origem a trabalhos novos. Sim, Paulo muitas vezes revisita suas próprias obras, já que, para ele, elas nunca estão prontas e encerradas. “A gente nunca termina uma pintura. É simplesmente a questão de ter maturidade pra saber o momento certo de parar”, explica. Talvez só seja possível deixar a porta entre obra e autor aberta porque os limites concretistas não existem na obra de Azevedo. “Minha pintura abandonou a forma e escolheu a cor. Não tenho mais preocupação com linhas”, revela.
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Naturalmente, nem todo mundo compreende essa expressão artística. Há aqueles que negam a credibilidade da arte abstrata por não compreendê-la. Paulo não se ofende. Ao contrário: gosta. “Algumas pessoas falam algo como ‘meu filho de cinco anos consegue fazer isso’. Eu respondo ‘ótimo’. Picasso dizia que aos 50 anos ele pintava como Velazquez. Foi preciso chegar aos 80 pra pintar como uma criança. Acho que é o sonho de qualquer artista conseguir atingir a sensibilidade de uma criança”, opina, cheio de convicção. E complementa: “Se eu conseguir alcançar essa sensibilidade, eu já cheguei ao ápice da minha pintura”. Nem é preciso dizer que o artista é um defensor incansável da abstração. Na opinião dele, a dificuldade de fazer um trabalho bom com essa linguagem agrega a ele mais valor. “A pintura abstrata é o mais difícil. Pintar o figurativo é mais simples porque já existe, você só tem que retratar. A pintura abstrata é uma ‘alma a se descobrir’. Há que se traduzir um sentimento”, argumenta. E é pela defesa da arte abstrata que Azevedo trava batalhas consigo mesmo. Para permitir que este sentimento seja traduzido da maneira mais genuína possível, o artista frequentemente adota maneiras de driblar o que há de mais racional na sua estética – como a busca por simetria e equilíbrio. Como? Pintando com a mão esquerda, por
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exemplo. “Eu tento evitar que esses elementos da racionalidade invadam a pintura abstrata. Tento ‘enganar’ o cérebro pintando com a outra mão. É preciso enrolar a razão”, ensina. Nem mesmo a música tem tanto espaço nesta dança entre pintura e pintor. Por isso, ele alterna momentos de música e de silêncio total. “A música interfere no movimento da pintura. Não consigo sofrer interferência da música por muito tempo. Mas, às vezes, gosto de conversar com alguém enquanto eu tô pintando”. Do mesmo modo que outros sentidos sobressaem com a perda de um deles, a redenção também é compensadora: a desobrigação das formas permite que Paulo enxergue cores que habitualmente não enxergamos. É daí que vem a mistura profícua de tons nos seus trabalhos: ouro, ferro, bronze e o colorido do barroco são alguns dos matizes mais frequentes – além do tema das rendas, que volta ou outra é abordado pelo artista. Para ele, há um vínculo emocional forte com este ponto: “Minha mãe fazia roupas de quadrilha e gostava muito dos tecidos rendados. Foi um dos temas que eu incorporei. Por isso chamo as rendas de ‘lembranças’”. Mas Azevedo nem sempre foi assim, solar. Houve um tempo que sua obra adotava uma atmosfera mais sombria, com quadros quase sempre monocromáticos e escuros. Inclusive »»»
adotou por um tempo uma série marginal, em que retratou pessoas de rua, prostitutas e outras criaturas da noite, numa sequência chamada Noturnos. “Demorei 18 anos para pintar uma tela azul”, conta. Engana-se, porém, quem tenta fazer uma análise psicológica ou vincular esses momentos à vida pessoal do artista. Quando perguntado sobre o que motivou a mudança, ele é sucinto: “a mudança vem em temas. Às vezes em formas, às vezes em cores... Não tem relação com outra coisa”. A desconexão com influências externas à própria pintura faz com que parar em frente à tela em branco seja sempre um momento que antecede uma incógnita. “Eu sei o que eu tenho que fazer, mas nunca acontece o que eu quero fazer. Por isso, ando pela rua procurando coisas que me interessem”. E é de informações urbanas que as cores de Paulo se alimentam. “Desde uma folha caída até manchas no latão de um navio, restos de construção, os resíduos de papel que sobram do tirar e colocar de cartazes nos muros... Tudo me influencia. Busco muito o tema das ruas”. Mais uma vez, Azevedo tira de si o peso de assinar o resultado dessas influências: “é como se eu usasse a pátina do tempo pra realizar a minha pintura. É a pátina do tempo
que valoriza a pintura. O tempo capta o melhor pra gente”. Sobre o que o motiva a fazer o que faz, Paulo não precisa nem mesmo refletir para saber. É taxativo o posicionamento: “o artista tem a obrigação de mudar o outro. Se alguém disser que o meu trabalho é ruim, acho isso bom. A arte precisa desse debate, dessa contradição”. E são sua inquietude e fé nesse propósito que baseiam o que está por vir. O futuro é muito nítido. Ele pintará até onde puder. “Me vejo pintando sempre. Consigo viver da arte, mas isso não é suficiente pra quem tem arte como profissão. Quero fazer exposições, estar em uma grande galeria... Não sei. A pintura vai me levar”. E vai além: “quero fazer parte da história de vida do meu filho, do meu neto, da herança cultural da cidade. Quero que meu neto faça um trabalho de colégio sobre mim”, exemplifica. Ao fim da entrevista, depois de revelar toda a profundidade do seu trabalho, Paulo Azevedo ainda acredita que haveria mais para dizer. “Queria saber escrever para dizer tudo o que eu sinto”, ele pensa alto. Mal sabe Paulo que escreve – ou é escrito – sobre tudo. A diferença é que só lê quem conquistou cidadania em mundo tão peculiar.
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horas vagas • cinema
DVD OZ – MÁGICO E PODER OSO
DICA
Se você foi vencido pelas quilométricas filas no cinema, não desanime. Oz – Mágico e Poderoso retrata a chegada do mágico a Oz, ou seja, o filme resgata os anos que antecederam o aparecimento de Dorothy por lá. Esperadíssimo, o título chega às locadoras em DVD e Blu-Ray. Oscar Diggs (James Franco) trabalha como mágico em um circo itinerante. Bastante egoísta e mulherengo, seu envolvimento com mulheres é o que acaba levando-o para uma mágica aventura na Terra de Oz. Chegando lá, ele conhece a bruxa Theodora (Mila Kunis), que o apresenta para a irmã Evanora (Rachel Weisz). Acreditando que estaria fazendo um bem para a população local, ele decide enfrentar a bruxa Glinda (Michelle Williams), mas descobre que ela lembra um amor do passado e seu comportamento em nada se assemelha ao de alguém realmente malvado. Dividido entre saber quem é do bem e quem é do mau, Oscar se depara com um lugar rico em belezas, cheio de riquezas, estranhas criaturas e também mistérios. Vivendo este conflito, o ilusionista vai usar sua criatividade para salvar o tranquilo povo de Oz das garras de um poderoso inimigo. Para isso, contará com a inusitada ajuda de Finley, o macaco alado, e uma menina de porcelana.
O GRANDE GATSBY
DESTAQUE
JOBS
FLASHDANCE
CLÁSSICOS
INTERNET
Quase dois anos depois de sua morte, a história de Steve Jobs chega ao cinema. Ashton Kutcher vive o empresário americano e tamanha similaridade, surpreende. O filme narra a ascensão de Jobs, de rejeitado no colégio até tornar-se um dos mais reverenciados empresários do universo da tecnologia no século 20. A trama passa pela jornada de autodescobrimento da juventude, pelos demônios pessoais que obscureceram sua visão e, finalmente, pelos triunfos que transformaram sua vida adulta. No Brasil, a estreia está prevista para o segundo semestre.
Adaptação do livro homônimo lançado em 1925 por F. Scott Fitzgerald e com orçamento de US$150 milhões, O Grande Gatsby conta a história do aspirante a escritor Nick Carraway (Tobey Maguire) que sai do centro-oeste e chega a Nova York na primavera de 1922, em meio a uma era de falta de moral, do ápice do jazz, dos reis beberrões e de ações exorbitantes. Perseguindo o sonho americano, Nick acaba vizinho de um misterioso e festeiro milionário, Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), além de conhecer sua prima Daisy (Carey Mulligan) e seu marido mulherengo e de sangue azul, Tom Buchanan (Joel Edgerton). É assim que Nick é atraído para o mundo cativante dos super-ricos, cheio de ilusões, amores e decepções. Enquanto Nick é testemunha, dentro e fora do mundo que habita, ele escreve um conto de um amor impossível, sonhos puros e muita tragédia, criando um reflexo das nossas lutas e tempos modernos.
Trinta anos se passaram desde sua estreia nos cinemas, em abril de 1983, e a gente aposta que tem gente que ainda assiste à audição final com a mesma empolgação do começo da década de 80. Ainda não viu? Não perca tempo. Alex Owens (Jennifer Beals) é um “dínamo” feminino: operária de dia, dançarina exótica de noite. Seu sonho é entrar em uma verdadeira companhia de dança e com o incentivo de seu chefe/namorado (Michael Nouri), ela pode ter sua chance. A cidade de Pittsburgh é o belo cenário deste trintão. Uma curiosidade: a trilha sonora de Flashdance vendeu mais de 700 mil cópias, apenas duas semanas após seu lançamento. www.revistalealmoreira.com.br
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FILMES NA NET Assistindo filmes de graça e pela internet. Sério concorrente ao Netflix. http://www.redefilmesonline.net/
O VALOR DA IMAGINAÇÃO.
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horas vagas • música
VÍDEO
O diretor Friedrich Monroe tem problemas para editar um filme mudo e em preto e branco acerca de Lisboa. Ele chama um amigo, o engenheiro de som Phillip Winter, para ajudá-lo. Quando Winter chega a Lisboa, semanas mais tarde, Monroe está desaparecido, deixando o filme inacabado. Winter decide ficar, porque ele está fascinado pela cidade e pela cantora Teresa Salgueiro. Assim, ele começa a gravar o som do filme, ao mesmo tempo em que Monroe vaga pela cidade, com uma câmera de vídeo em busca de takes inéditos. Mais tarde Winter convence Monroe a terminar o filme. O filme, de Win Wenders, é considerado uma “sequência” do filme “O Estado das Coisas”, realizado em Sintra, na Praia das Maças. O personagem Friedrich Munro, realizador de cinema desempenhado por Patrick Bauchau, é retomado neste filme.
DICA
O CÉU DE LISBOA (LISBON STORY)
THE 20/20 EXPERIENCE Quando o assunto é Justin Timberlake, as opiniões são controversas. Natural, já que a “vida pregressa” de JT está ligada a uma boy band. Preconceitos à parte faça uma experiência (o trocadilho com o nome do novo álbum dele não foi intencional): ouça-o despretensiosamente. Depois de sete anos de ausência do mercado (período no qual ele se dedicou e virou sócio do MySpace), o cantor volta com uma “pegada” motown, disposto a firmar um relacionamento sério com a soul music. A primeira faixa de trabalho, Suit and Tie, caiu tanto no gosto popular, que na primeira semana, o disco “The 20/20 Experience” não alcançou a marca de 1 milhão de cópias vendidas, como estava previsto. Mas calma lá! Ainda assim a façanha do cantor está longe de ser considerada um fracasso: cerca de 980 mil cópias do disco foram vendidas em sete dias. Ele, inclusive, quebrou o próprio recorde, já que seu último trabalho, “Future sex/Love sounds”, vendeu 300 mil cópias a menos, em 2006. Justin é destaque no Palco Mundo, no Rock in Rio, dia 15 de setembro.
CONFIRA
BUIKA canções do segundo álbum a projetaram mundialmente, sendo incluída na lista das principais revelações do ano. Produzido por Javier Limón, seu terceiro trabalho Niña de Fuego traz canções inéditas compostas por ela e Limón. Mais sentimental, expressando suas vivências pessoais, o álbum não passou batido pelo Grammy Latino, o segundo maior prêmio da música mundial. Em 2009, Buika se juntou ao pianista Chucho Valdés para gravar o álbum El Último Trago, uma homenagem ao aniversário de 90 anos da cantora Chavela Vargas, com canções que marcaram a sua carreira.
CLÁSSICO
INTERNET
Nascida na cidade de Palma de Mallorca, na Espanha, Concha Buika, conhecida artisticamente pelo sobrenome, tornou-se uma revelação no cenário musical do país ao mesclar o clássico flamenco com elementos do jazz e do soul. Com raízes africanas e influências americanas, de suas passagens por Nova York e Las Vegas, Buika criou uma sonoridade única, evocada por uma voz impecável, ora suave ora explosiva. Seu álbum de estreia, Buika, lançado em 2005, deu provas de seu talento, mas não teve a mesma visibilidade de Mi Niña Lola, que venceu nas categorias de Melhor Álbum e Melhor Produção no maior prêmio de música da Espanha. As
BLIP.FM É uma espécie de rede social musical. Por meio de um perfil gratuito, você “blipa” as músicas que mais gostar. Se quiser, comenta alguma coisa em até 140 caracteres (já ouviu isso em algum lugar?) para a sua lista de seguidores. Além disso, é possível compartilhar os blips no Facebook e no Twitter. O único ponto negativo é a dificuldade em encontrar músicas menos conhecidas. http://blip.fm/
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CAZUZA REMASTERIZADO Imagine fazer um passeio pela discografia de Cazuza. Agora imagine ter seis álbuns, da carreira solo dele, totalmente remasterizados: “Exagerado” (1985), “Só Se For a Dois” (1987), “Ideologia” (1988), “O Tempo Não Pára: Ao Vivo” (1988), “Burguesia” (1989) e “Por Aí” (1991). Essa luxuosa edição inclui ainda o DVD “Pra sempre Cazuza” e você não pode deixar de tê-la em casa.
O VALOR DA CONFIANÇA.
horas vagas • literatura
DICA
BÊBADO GONZO Colunista da Revista Leal Moreira, o genial jornalista paraense Anderson Araújo decidiu transpor dos posts do blog homônimo, para as folhas de papel, seus melhores contos. Nasceu, assim, “Bêbado Gonzo – o livro”, resultado de uma campanha de arrecadação coletiva (o crowdfunding) extremamente exitosa. Os contos e crônicas retratam uma Belém do Pará urbana e poética. À venda na Fox Vídeo ou na fanpage do livro http://www.facebook.com/BebadoGonzo
DESTAQUE TODA POESIA PAULO LEMINSKI
CLÁSSICO
Ao conciliar a rigidez da construção formal e o mais genuíno coloquialismo, o autor praticou ao longo de sua vida um jogo de gato e rato com leitores e críticos. Se por um lado, tinha pleno conhecimento do que se produzira de melhor na poesia – do Ocidente e do Oriente -, por outro lado parecia comprazer-se em mostrar um à vontade que não raro beirava o improviso, dando um nó na cabeça dos mais conservadores. Pura artimanha de um poeta consciente e dotado das melhores ferramentas para escrever versos. Este volume percorre a trajetória poética completa do autor curitibano, mestre do verso lapidar e da astúcia. Ed. Companhia das Letras. 424 páginas. (fonte: Livraria Cultura).
LANÇAMENTO
O PEQUENO PRÍNCIPE 70 ANOS
Com temática existencialista, a obra segue uma das mais populares do mundo, mesmo 70 anos após seu lançamento - no Brasil, ela chegou somente em 1945, pela Agir, mas a estreia mundial ocorrera dois anos antes, em 6 de abril de 1943, nos Estados Unidos. Definida pelo filósofo alemão Martin Heidegger como uma das maiores obras existencialistas do século 20, O Pequeno Príncipe é um dos livros mais traduzidos do mundo, mas não há consenso sobre o número exato: no site oficial da obra, Le Petit Prince, fala-se em 257 idiomas e dialetos, e há edições no Camboja e no Japão, por exemplo. No país nipônico, o sucesso foi tanto que há um museu dedicado ao Pequeno Príncipe na cidade de Hakone. Desde a publicação, a trama já foi contada em diversas plataformas, como na série de desenho animado As Aventuras do Pequeno Príncipe, lançada no final da década de 1970. Mais recentemente, o livro inspirou uma animação computadorizada homônima, exibida no Brasil pelo canal de TV por assinatura Discovery Kids, e uma série em quadrinhos publicada pela Editora Amarilys.
“Minha vida sexual começou cedo, quando eu tinha aproximadamente cinco anos de idade, no jardim de infância das Freiras Ursulinas, em Santiago do Chile”. Com estas palavras, Isabel Allende começa este compêndio sobre amor e o eros, composto por fragmentos selecionados de suas obras, que descreve seus personagens por meio da própria história do autor. A escritora divide o livro em nove capítulos temáticos, cada um dos quais é precedido por uma introdução, que dá forma a alguns textos que muitos leitores já conhecem e apreciam. Esta compilação original, reunida pela primeira vez, neste breve volume, permite-nos lembrar a maneira amigável e divertida, com que Isabel Allende sempre tratou o tema do amor e do sexo em cada um de seus livros. O livro ainda não está disponível em Português, mas a versão traduzida não deve demorar a sair. Por enquanto, só em Espanhol.
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CONFIRA
ISABEL ALLENDE AMOR
PORTAL
O portal “Domínio Público” disponibiliza aproximadamente 20.000 livros em domínio público, para download gratuito. Além, naturalmente, de bibliotecas de outros gêneros.
Fontes: Saraiva, Livraria Cultura, Terra e Domínio Público.
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O VALOR DO EXPERIÊNCIA.
horas vagas • Rio & Sampa
O MÁGICO DE OZ - MUSICAL
MAR MUSEU DE ARTE DO RIO DE JANEIRO Dois prédios fazem parte do MAR: a Escola do Olhar, cuja proposta é formar professores e alunos a partir da conjugação de arte e educação; e o Palacete Dom João VI, que vai abrigar exposições nas oito salas distribuídas por seus quatro andares. Com 15 mil metros quadrados, sendo 2,4 mil de área expositiva, o museu, uma realização da Prefeitura do Rio e da Fundação Roberto Marinho, foi inaugurado com quatro exposições simultâneas: “Rio de Imagens: uma paisagem em construção”; “O colecionador: arte brasileira e internacional na coleção Boghici”; “Vontade construtiva na Coleção Fadel”; e “O abrigo e o terreno - Arte de sociedade no Brasil I”. Serviço: Rio de Janeiro Av. Infante Dom Henrique, 85 - Parque do Flamengo Telefone: (21) 2240-4944 Horário de funcionamento: terça a sexta-feira, das 12h às 18h. Sábados e domingos, das 12h às 19h. http://www.museudeartedorio.org.br/
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Depois de uma temporada de muito sucesso no Rio de Janeiro, O Mágico de Oz finalmente chega a São Paulo. Desde o dia 22 de fevereiro, o público paulistano pode ver quase o mesmo espetáculo que ficou em cartaz no Rio. O elenco tem pequenas alterações, sendo parte carioca (Lucio Mauro Filho, Nicola Lama, Luiz Carlos Miéle e Malu Rodrigues) e outra parte renovada: André Torquato e Heloisa Périssé substituem Pierre Baitelli e Maria Clara Gueiros, respectivamente. Na história, Dorothy Gale (Malu Rodrigues) vive um cotidiano pacato com seus tios em uma fazenda no Kansas. Após um tornado, ela e seu cachorro Totó vão parar em Oz, onde encontram o Espantalho (André Torquato), o Homem de Lata (Nicola Lama) e o Leão Covarde (Lúcio Mauro Filho). Para poder retornar para sua casa, Dorothy pede ajuda dos novos amigos e caminham pela Estrada de Tijolos Amarelos em busca do Mágico de Oz (Luiz Carlos Miéle). Segundo os engraçados pequenos moradores da cidadezinha encantada, o Mágico é o único que conseguirá ajudá-los. A jornada em si poderia ser tranquila se, no caminho, não tivessem que enfrentar as vilanias da Bruxa Má do Oeste (Heloisa Périssé). Ela quer os sapatinhos de rubi que foram dados para Dorothy para ter mais poderes. A montagem é baseada na única adaptação autorizada para o teatro, feita pela Royal Shakespeare Company, seguindo o roteiro do filme homônimo (estrelado por Judy Garland em 1939). Vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora e Canção Original (“Over the Rainbow”), o filme é reconstituído em todas as cenas no palco. Serviço: São Paulo Os ingressos custam de R$ 40,00 a R$ 180,00. E estão à venda pela internet e nas bilheterias do teatro. Informações: http://www.ingressorapido.com.br
O VALOR DA OUSADIA.
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horas vagas • New York
WOODY ALLEN & THE EDDY DAVIS NEW ORLEANS JAZZ BAND “The Carlyle” é um dos hotéis mais chiques do East Side. E ali, em um pequeno espaço reservado só para 90 privilegiados [a preços nada módicos – entre US$145 e US$195, só o ingresso. O consumo é cobrado à parte e a um custo mínimo de US$25 por pessoa], é possível assistir a um show ainda mais especial: o cineasta Woody Allen dá sua “canja” todas as segundas-feiras. No hotel “Carlyle” às segundas-feiras, sempre às 20h45 – até o dia 17/06/13 Informações: http://www.rosewoodhotels.com/en/carlyle/dining/entertainment_calendar/
IMPRESSIONISM, FASHION, AND MODERNITY Claude Monet pode ser reconhecido como o mestre do impressionismo, mas ele também poderia ser considerado um dos primeiros “blogueiros” de estilo. Sério! Suas pinturas, como “As mulheres no jardim e almoço na relva”, registraram um período revolucionário para a roupa. A exposição “Impressionismo, Moda e Modernidade” (Impressionism, Fashion, and Modernity), destaca este movimento de forma crucial, no período que vai de meados da década de 1860 a meados da década de 1880, por meio de 80 personagens nas pinturas, vistas em concertos, trajando roupas de época, acessórios, placas de moda, fotografias e impressões. Alguns outros artistas apresentados nesta exposição incluem Édouard Manet, Pierre-Auguste Renoir, Charles Baudelaire e Stéphane Mallarmé. Veja você: há uma razão por que Paris é chamada a capital da moda! — Por Araceli Cruz Impressionismo, Moda e Modernidade No Metropolitan Museum of Art, 1000 Fifth Ave. Até o dia 9 de maio. Horários: de terça a domingo, a partir das 10h. Ingressos: US$25 Mais informações: www.metmuseum.org
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Nós sabemos quão valiosos são os pequenos (e grandes) momentos que fazem a vida valer a pena. O que é importante para você, faz toda a diferença para nós e é por isso que um Leal Moreira vale mais.
Nós damos muito valor ao seu sonho e seus bens mais preciosos cabem dentro de um Leal Moreira.
Mais valor com nome e sobrenome.
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horas vagas • iPad
DOCUMENTS READDLE O iPad é um ótimo instrumento de produtividade, e pode ficar ainda melhor quando temos um “gestor”, no qual podemos reunir todos os nossos documentos em um só lugar. Este é o objetivo do Documents, aplicativo lançado pela popular Readdle e que promete centralizar todos os seus arquivos no seu iPad. O app em si é mesmo totalmente novo, atuando como um visualizador de arquivos completo para iPads — incluindo PDFs (com anotações), vídeos, música e um browser embutido para download local. Ele se integra ao iCloud, ao Dropbox, ao Google Docs/Drive e a outros serviços, oferece proteção com senha, cópia de documentos do Mac/PC, gravar anexos de emails, compartilhamento facilitado e muito mais. Custo: Free
CANDY CRUSH Candy Crush tem tido bastante sucesso enquanto app para iPhone e é com certeza um dos mais viciantes. Este jogo é similar ao jogo tradicional de combinar bolhas e é bastante apreciado por quem adora combinações. O que o difere de outros jogos de combinações é o fato de ser à volta de doces, o que faz com que ele fique muito mais divertido. No início há a possibilidade de jogar ligando-se à sua conta do Facebook, que permite interagir com os seus amigos e pedir-lhes ajuda. Ou então, o jogador apenas vai utilizar a app normalmente, sem utilizar qualquer rede social. A desvantagem de não poder comunicar com nenhum parceiro é que você terá de se desenrascar por si, utilizando créditos para desbloquear boosters e para ganhar vidas. O Candy Crush para iPhone/iPad é, definitivamente, desafiante e viciante para quem gosta de estar entretido a fazer conjugações. Ao chegar a um determinado nível, o usuário consegue perceber que este não é um simples jogo, mas sim uma história que depende do jogador para continuar, o que o torna cada vez mais emocionante. A única desvantagem é a espera. O usuário pode usufruir do aplicativo gratuitamente, no entanto se quiser jogá-lo a 100% vai necessitar de investir algum dinheiro. Primeiro, porque ao desbloquear os boosters, não vai poder utilizá-los logo e segundo porque ao longo de cada nível o usuário vai perdendo vidas, que custam dinheiro ou tempo. O utilizador, quando perde todas as vidas, ficará entre 10 e 20 minutos sem poder jogar. Isto se preferir manter o aplicativo gratuito, é óbvio. O Candy Crush é Viciante, uma excelente opção para passar o tempo e parece nunca cansar, apesar das suas desvantagens, é ideal para qualquer pessoa e para qualquer idade.
Raul Parizotto empresário parizotto@me.com
DROPBOX O Dropbox é um serviço para guardar e compartilhar documentos. Você primeiramente se cadastra no Dropbox (conta grátis) e depois que você se cadastra pode baixar o aplicativo para PC e MAC, quando você instala uma pasta, que parece ser local, mas é um lugar na “nuvem” e quando você copia qualquer arquivo, ele é guardado com segurança e ainda pode ser compartilhado com outros usuários quando quiser. O aplicativo para iPhone e iPad é grátis e permite acessar estes arquivos da nuvem e a grande vantagem é que ele visualiza planilhas, documentos do word, textos, tabelas de preços e até videos, por isso serve como um visualizador de documentos grátis. Por exemplo, você copia um documento do Word para sua pasta do Dropbox no computador e do iPad poderá ler o documento quando quiser. É uma ferramenta com inúmeras utilidades e agora com a nova atualização o Dropbox passou a dar suporte em Português (Brasil). A empresa mostrou entusiasmo com os números gerados pelos brasileiros. De um ano para cá, a quantidade de usuários “brasucas” mais do que dobrou, e durante o carnaval foram mais de 1 milhão de fotos enviadas por dia pelo recurso de Envio da câmera. Se estas fotos fossem impressas e empilhadas, atingiriam uma altura 13 vezes maior que a estátua do Cristo Redentor, segundo o próprio serviço. Custo: Free (2GB) Podendo chegar até US$ 19,99 por 100 GB ao mês.
O Waze é na verdade uma mistura de aplicativo de navegação, com comunidade. Para ser mais preciso, é um GPS social (como os próprios criadores o denominam) e possui versões para iOS (universal: iPad e iPhone). O Waze é gratuito, mas requer um cadastro no sistema. Após instalado, basta abrir o aplicativo e dirigir pela cidade. O software é muito inteligente e envia notificações sobre o trânsito para outros usuários automaticamente, dependendo da velocidade com que você está se locomovendo. Conforme a velocidade do seu automóvel diminui (o que caracteriza um congestionamento), o Waze marca a via com uma linha vermelha — desta forma, todos os outros usuários podem evitar tal rota. Da mesma maneira, você pode ter acesso em tempo real a todas as notificações enviadas por outros usuários e fazer um melhor caminho para o seu destino. Além dessas notificações automáticas, o usuário também pode enviar manualmente as suas próprias notas mais detalhadamente, incluindo notificações de acidentes, podendo inclusive compartilhar uma foto do acontecimento. Só de andar com o Waze aberto, já é uma grande vantagem tanto para quem usa quanto para os outros usuários da comunidade. Quanto mais usuários utilizam o sistema, melhor ele fica, e todos podem fazer sua parte, adicionando novas vias no mapa ou apenas andando pela cidade com o aplicativo aberto para que as notificações sejam enviadas. Para incentivar isso, o aplicativo conta com um sistema de pontuação, de acordo com a quantidade de quilômetros que o usuário anda e as contribuições que efetua. Você deve, enquanto dirige, coletar alguns doces no mapa, que aumentam sua pontuação e seu status. Custo: Free
TÁBUA DE MARÉS
Com o Aplicativo Tábua das Marés você sabe exatamente como está o nível do mar em qualquer lugar do Brasil. O aplicativo oferece seleção de portos por Estado e permite que você facilmente navegue por datas próximas, obtendo um gráfico intuitivo e interativo da maré e as horas exatas das máres alta e baixa, de acordo com a Lua. Um ótimo diferencial do app é que ele funciona 100% offline, sem a necessidade de conexão com a internet. Ele será atualizado anualmente e, quem o comprar, terá sempre direito a esses updates sem pagar nada por eles — garantem os desenvolvedores. Custo: US$ 1,99
Custo: Free
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WAZE
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SABOTEUR CARD GAME
BONECOS MINI WACKY BIG BANG THEORY O boom da cultura geek ganhou ainda mais força com o sucesso de uma das séries mais populares da TV americana: The Big Bang Theory (que no Brasil é exibido pelo canal pago Warner) conta a história de quatro amigos cientistas que vivem para trabalho, games, quadrinhos e filmes festejados pelos adeptos desse universo – porém sem muita habilidade social. A mocinha loira é Penny, a vizinha extrovertida que trabalha como garçonete e não entende nada dessas referências. Estes cinco personagens se tornaram tão queridos do público que viraram bonecos para coleção. Feitos de resina, as miniaturas medem 7,5 cm, têm cabeça articulada e base de apoio. A confecção é cuidadosa e os rostos são muito parecidos com os dos atores que interpretam os personagens. Um charmoso item de decoração para aqueles que estão antenados com o que está em voga na cultura pop. Onde: www.mytoys.com.br Preço sugerido: R$ 99,90
Quem gosta de jogos de blefe, estratégia e construção vai se identificar com o Saboteur Card Game. Aliando o que há de melhor em jogos de tabuleiro, cooperação e jogos de carta, o card game ainda tem um charme a mais: o mistério típico dos personagens secretos, descobertos apenas no fim da partida. A ideia é a seguinte: os jogadores fazem o papel de anões – que podem ser mineradores cavando túneis em busca de um lendário tesouro ou sabotadores que tentam colocar obstáculos no caminho destes. Se os mineradores conseguem chegar ao tesouro, são recompensados com pepitas. Porém, caso eles não consigam, os sabotadores recebem o prêmio. O resultado só aparece na hora de dividir o ouro. Saboteur comporta de três a dez jogadores, e vem com 110 cartas e um manual de regras. Todos os cards são coloridos, e vêm com arte e impressão de excelente qualidade. A mecânica do jogo é simples e elegante. Ideal para jogar tanto com a família quanto em uma roda de amigos. Onde: www.boardgames.com.br Preço sugerido: R$79,90
TRAMONTINA ROCK’N’COOK Pensando nos consumidores mais jovens – de idade ou não – e descolados, a Tramontina lançou a linha perfeita para quem gosta de cozinhar e de ouvir o gênero mais popular da história da música. Os amantes do rock ganharam essa inspiração a mais para comandar as panelas: a empresa confeccionou verdadeiros objetos de design nos utensílios, todos voltados para a temática. A linha completa inclui frigideira, espagueteira, forma de pizza, assadeira, ralador, tábua para carnes, entre outros. Os itens são bonitos e descontraídos, ora com cores fortes e chamativas, ora com estampas bem-humoradas. Ideal para preparar um jantar quando for receber os amigos para assistir a um show na TV. Onde: www.tramontina.com.br Preço sugerido: R$ 399,90 (linha completa)
L5 REMOTE É cada vez mais frequente que se utilizem aparelhos como celular e tablet para auxiliar nas funções mais corriqueiras. A exemplo do adaptador que permite que iPads captem o sinal da televisão digital, o L5 Remote também adota a mesma ideia: permitir que a rotina doméstica não precise de tantos equipamentos – já que você pode fazer tudo que eles fazem de um jeito mais simples. O aparelhinho é um acessório e aplicativo que transforma seu iPhone, iPad ou iPod touch em um controle remoto universal. Você pode usá-lo para controlar a TV, o aparelho de TV a cabo, o som, o DVD, o DVR e outros dispositivos de automação residencial que venham com um controle remoto IR. Ele é pequeno e fácil de usar – é possível baixar o manual de instruções direto do site da empresa. Uma boa saída para quem tem muitos aparelhos eletrônicos em casa e não quer administrá-los em vários controles diferentes. Onde: www.l5remote.com Preço sugerido: US$ 59,90
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confraria
Felipe Cordeiro Músico
SOM& CINEMA www.revistalealmoreira.com.br
Alguns casamentos entre cineastas e autores de trilhas sonoras se tornaram grandes clássicos na história do cinema e da música, como é o caso dos líricos Felinni e Nino Rota e também do encontro de Sergio Leone com Enio Morricone, responsável pelas principais sonoridades do western spaghetti, de Leone. Estes últimos, grande inspiração de filmes - e dos sons que compõe seus filmes - de Quentin Tarantino, que no seu último trabalho, um revival do clássico Jango (já filmado por vários diretores), incluiu algumas belas trilhas de Morricone. O brasileiro Dori Caymmi, produziu um álbum inteiro só com trilhas que fizeram história no cine-
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ma mundial. Carioca, com um pé na Bahia e outro nos EUA, Dori reiventou os clássicos à sua maneira, dando um toque refinado e com nuances de brasilidade, como é o caso de “The Pink Panther: Pink Panther” de Henry Mancini. A canção tema da “Pantera Cor de Rosa”, que abre o disco A Romantic Vision do filho mais velho de Dorival Caymmi, lançado em 1998, virou uma bossa nova implacável, e nos dá a impressão de que a música nasceu para esta versão. Já o cineasta americano Stanley Kubrik se apropriou, com uma audácia e criatividade espantosa da obra do compositor erudito húngaro György Sándor Ligeti, para sonorizar alguns dos seus filmes, produzindo uma das mais magnânimas conversas entre imagem e som da história do cinema. Kubrick explorou com maestria e genialidade as possiblidades estéticas e sensoriais da fusão entre imagem e som, como é o caso de “2001: A Space Odyssey”, o big ben dos filmes de ficção científica. A música de Ligeti, que segundo contam, só entrou no filme nas vésperas do lançamento, após Kubrick ter ficado insatisfeito com a trilha anterior, é de um impacto estrondoso e fez um contraponto memorável com Danúbio Azul de Johann Strauss II e o poema sinfônico de Richard Strauss “Also Sprach Zarathustra”. O filme de 1968 economiza muito nos diálogos, e colocando a música como fio condutor da narrativa. A sutileza pianística criada por Ligeti em outro clássico de Kubrick, marca o som de “Eyes Wide Shut” (“De Olhos Bem Fechados” no Brasil), a cena em que Tom Cruise está sendo seguido, e também perseguido por si mesmo, num estado psicológico de devaneio agudo, é usada pelo cineasta numa atmosfera sonora simples e absurda. Mais do que um artifício de redundância ou ornamento, a música para esses diretores é uma matéria prima potente no processo e no resultado dos seus filmes. Os melhores filmes, são os que são como músicas. As melhores músicas são as que dão um bom filme.
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especial
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Alan Bordallo
A
versatilidade da
cerveja
Ela já foi inspiração de música, tema de debates acalorados e apaixonados. Apesar da máxima popular de que sobre religião, futebol e cerveja não se discute, fomos investigar o crescente mercado das cervejarias.
P
roibido para menores de 18 anos – O grupo de comédia britânico Monty Python, em um show no Hollywood Bowl, em Los Angeles, comparou a cerveja feita nos Estados Unidos a uma relação sexual em uma canoa. “É muito perto da água”, explicou em seguida First Bruce, personagem interpretado por Eric Idle, que distribuiu latas de cerveja para a plateia. A piada, politicamente incorreta, além de uma provocação bem-humorada à rivalidade entre americanos e ingleses, se deu pelo fato de a cerveja dos Estados Unidos ser fraca – tanto na cor, quanto no malte e no teor alcoólico – se comparada à produzida na Inglaterra. Na época do show – 1982 – os Estados Unidos ainda não haviam incluído a cultura cervejeira ao “American Way of Life”, apesar de a história desta bebida alcoólica estar ligada à própria história democrática dos norte-americanos – o hino nacional dos Estados Unidos, por exemplo, é inspirado em uma canção cervejeira, que funcionava como um teste de sobriedade (se a pessoa conseguisse cantar toda a música, era sinal de que ainda aguentaria mais uma cervejinha). Hoje existem várias confrarias e é possível encontrar inúmeros bares e restaurantes com cartas de cervejas nos Estados Unidos, onde o movimento cervejeiro se espalhou rapidamente. E foi a partir da entrada dessas cervejas no mercado americano que o Brasil aos poucos se abriu para a chegada de novos rótulos, dando início ao declínio do império da American Lager, estilo de cerveja que motivou a piada do Monty Python e que responde por 99% da cerveja consumida no Brasil. Para tentar introduzir o leitor no universo das cervejas especiais e seus gostos, aromas, rótulos e prazeres, a Revis-
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ta Leal Moreira visitou as “boutiques de cerveja” de Belém, e conversou com especialistas no assunto sobre o qual quase todo mundo opina (ou acha que sabe um pouco). Autodidatas do mundo, uni-vos! A cultura da cerveja no Brasil há muito tempo é regida por um dogma: o de que a bebida deve ser servida estupidamente gelada. Esse princípio se aplica bem ao estilo de cerveja consumido majoritariamente, o supracitado American Lager (equivocadamente chamado de Pilsen nos rótulos nacionais), que tem como características marcantes a leveza e refrescância e o objetivo franco de matar a sede. “Tem a ver com a ‘drinkability’, que é como a facilidade de beber a cerveja, de ela entrar bem. Como em Belém é calor, a gente tende para as cervejas leves”, explica Iuri Fernandes, analista de sistemas, fotógrafo profissional e futuro mestre cervejeiro. Iuri sempre foi chegado a uma breja. Sua primeira incursão aos sabores diferentes se deu pela Bohemia, que de tanto tomar, enjoou. Considerava-se um conhecedor de cervejas. Até que em 2005, quando morava em Belo Horizonte, viu que estava no topo de um iceberg, e que as profundezas do mar guardavam uma imensidão. “Tomei um chope da Falke e me apaixonei. Depois fui procurar outros, e na época estava acontecendo o BH Home Beer, evento que foi embrião da Associação dos Cervejeiros Artesanais de Minas Gerais (ACervA Mineira). Conheci pessoas, novas cervejas e vi o quanto era ignorante”, diz ele. O conhecimento que já diferenciava Iuri dos amigos fãs do lúpulo era básico: ele sabia que na Alema- »»»
Dudu Maroja
nha tinha uma cerveja mais forte, que na Bélgica os monges preparavam sua própria cerveja, mas não passava disso. O economista Wajdy Zaidan também se julgava um especialista. “Eu achava que sabia tudo porque conhecia todas as piadas de cerveja”, brinca ele, que passou a conhecer este mundo após fazer um curso de sommelier de cervejas. Wajdy associa o desconhecimento do brasileiro sobre a cultura da cerveja a fatores simples. “O Brasil não tem contexto histórico na produção de cerveja porque aqui não se produz lúpulo, que é típico de climas frios. Tentaram iniciar o cultivo no Sul, mas não deu certo. O lúpulo para a produção da cerveja é quase todo importado”, explica. A necessidade de importar o lúpulo, um dos quatro ingredientes básicos da cerveja (os outros são a cevada, o malte e a água) além de retardar o surgimento da indústria cervejeira no Brasil (que começou em meados de 1960) encareceu o produto e fez, no longo prazo, as marcas nacionais recorrerem a um expediente desonesto. “Passaram a acrescentar cereais não-maltados, o que é permitido, mas excederam a porcentagem. Em testes ficou comprovado que a quantidade de milho excedia 50%. Estávamos bebendo pipoca em vez de cerveja”, completa Wajdy. As misturas e consequente descaracterização da cerveja condicionaram o hábito de beber ao clima, e se a cerveja não for bem gelada, é difícil sorver um
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trago. “Não adianta tomar as cervejas industrializadas esperando sentir o malte e conservar o amargor na língua. O objetivo é matar a sede. Se tomar ela quente, vai ser difícil. Fica terrível”, define. Apurando o paladar Como café, vinhos, queijos e charutos, a apreciação da cerveja se baseia em todos os sentidos do corpo que o líquido pode aguçar: olfato, paladar e também a visão. Para um cervejeiro se iniciar neste “novo mundo”, não pode se empolgar: algumas cervejas são de difícil compreensão, então é aconselhável que se siga uma escala progressiva, que compreenda os sabores e teores alcoólicos, os níveis de lúpulo e malte e o amargor. Para isso, os candidatos a apreciadores contam com a ajuda de guias nas casas especializadas em Belém. E eles podem ser Fernando Martins, da Kanguru Beer, e Delano Figueiredo, da Levedo Beer Import. Delano é contador e há dois anos abriu a Levedo, apostando no crescimento do consumo de cervejas especiais, baseado no interesse que ele próprio demosntrou. “Tomei uma Erdinger que vi no supermercado. Queria sair da mesmice”, lembra ele, que embarcou definitivamente neste mundo após conhecer as cervejas belgas. “A escola belga de cervejas é muito diversificada, tem um grande número de estilos. Vai de uma Premium Lager até cervejas mais re-
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quintadas, como a Deus, produzida com levedura de champanhe”, diz ele. Delano concilia o trabalho em seu escritório com aparições na Levedo, que se tornam mais frequentes às sextas-feiras. É na porta do fim de semana que ele se propõe a receber novos clientes e encaminhá-los na experiência, que, dificilmente, terá uma cerveja belga típica no primeiro passo. “Se eu oferecer uma cerveja muito lupulada para um iniciante ele nunca mais vai à loja. Tem que ser aos poucos, treinando o olfato e o paladar”, diz ele. Pode parecer “pavulagem”, mas cada cerveja especial tem um copo correspondente. Fernando aprendeu isso quando morou na Bélgica, um dos países com cultura cervejeira mais fortes (lá, por exemplo, a cerveja não figurou entre as bebidas proibidas pela Lei Seca). E o negócio é levado a sério: com estimados dois mil rótulos, nem mesmo cervejarias artesanais domésticas admitem servir as cervejas produzidas com todo esmero em um recipiente inadequado. Além de um aspecto cultural, a medida tem um viés experimental. “Entra a questão da percepção do sabor, do aroma, da experiência de tomar a cerveja. Uma cerveja trapista, por exemplo, deve ser servida num copo de boca mais larga, para que os toques caramelizados ou de chocolate se desprendam e permitam ser percebidos”, explica Fernando.
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Apurar o paladar e os outros sentidos é a proposta das “boutiques de cerveja”, como a Kanguru Beer e a Levedo podem ser definidas. “Sempre digo que isso aqui não é um bar. É um lugar para degustar a cerveja”, diz ele, que constantemente responde aos visitantes da página oficial do Facebook que no local não é permitido falar alto. “Beba menos, beba melhor!”, completa Delano. Do lúpulo aos sabores regionais O número de microcervejarias brasileiras teve um crescimento exponencial nos últimos anos. A afirmação é de Caio Guimarães, da Amazon Beer, primeira, e maior microcervejaria do Norte e maior bar de cerveja do Brasil, que registra a venda de 30 mil litros da bebida por mês. O sucesso das cervejas artesanais, que resgatam o verdadeiro sentido desta bebida, neste caso acrescidas de um toque amazônico, fez o negócio da família Guimarães se expandir do balcão e mesas para ganhar prateleiras de supermercados e boutiques de cerveja em todo o país. A tradição da cerveja vem de três gerações na família de Caio: seu avô, Arlindo Nogueira Guimarães, sempre foi entusiasta da cerveja. Seu pai, Arlindo Nogueira Guimarães Filho, herdou o gosto. “Desde que me entendo por gente, lembro deles apreciando cervejas em festas de família e outras ocasiões”, diz ele. Então, seu pai conseguiu unir a »»»
Harmonizações
Fernando Martins Hoegaarden (Witbier) com salmão ou frutos do mar. Iuri Fernandes Colorado Indica (India Pale Ale) com picanha na chapa. Wajdy Zaidan Newcastle (Red Ale) com carnes de aves. Artur Bestene Guiness (Stout) com bolo de chocolate. Caio Guimarães Taperebá Beer (Witbier) com tucunaré. Delano Figueiredo St. Bernardus 12 (Dark Strong Ale) com pato assado.
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paixão pela cerveja ao empreendedorismo e fundou a Amazon Beer. A importância da Amazon Beer no contexto das cervejas artesanais é grande: seus princípios são o de nunca imitar produtos estrangeiros, primando pela criação de novos sabores, sempre ligados à Amazônia, fazendo misturas semelhantes entre si. A primeira incursão neste campo se deu em 2002, apenas dois anos após a fundação da cervejaria: a criação da cerveja de Bacuri. “Ganhamos como produto inovador do ano no prêmio Techno Bebida Award”, lembra Caio. Com grande aceitação do público (especialmente o feminino, pelo sabor delicado e adocicado da bebida), a Bacuri Beer abriu portas para a inventividade de seus proprietários, que anos depois, lançaram outros rótulos originais: Cumaru (do tipo India Pale Ale), Priprioca (do tipo Red Ale), Açaí (do tipo Stout), Taperebá (do tipo Witbier) – além das tradicionais River (do tipo Lager) e Forest (do tipo Pilsen). Oferecer cervejas produzidas pela casa é uma tendência que os restaurantes de outros estados já vinham adotado, e que já tinha sido lançada pela Amazon Beer. E agora a iniciativa está perto de ganhar adeptos: o empresário Artur Bestene, da Circus, pretende até maio deste ano inaugurar uma microcervejaria junto com um amigo [também cervejeiro]. “Ele também vinha pensando a respeito. Fundimos a ideia e estamos na iminência de abrir uma microcervejaria. Quero fabricar a cerveja que
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servirei aos meus clientes”, diz. Artur é um dos que foram fisgados pela paixão que os novos sabores e aromas despertam nos apreciadores de cerveja, e revela que a única coisa próxima de uma contraindicação é a “saúde” monetária. “Eu me senti até obrigado a trabalhar mais, porque me refinei. Não dá mais para voltar pro ‘litrão’. É como se um sommelier de vinho tomasse vinho de qualidade duvidosa”, compara. Harmonizando O consumo de cerveja no Brasil ainda é marginalizado em algumas ocasiões, e a chegada de cervejas especiais pode ajudar a quebrar este estigma. “Antes eu era um bebedor comum. Agora passei para entendedor. Os amigos falam: ‘não, agora o cara está estudando’. A cerveja fez minha classe social ascender”, brinca Iuri. Ele cita curiosidades como o fato de a cerveja na Alemanha ser considerada uma bebida comum, servida inclusive em fábricas no horário de expediente e o dos monges belgas sobreviverem 40 dias à base das cervejas feitas nas abadias. “Isso é um alimento, rapaz”, completa, entre risos, contemplando com carinho uma garrafa de La Trappe, a única – de oito – trapista feita fora da Bélgica. Para provar que a cerveja cai bem em várias ocasiões, pedimos para que cada um dos personagens desta matéria sugerisse harmonizações entre cervejas de variados estilos e pratos.
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Arthur Dapieve Escritor
BOAS
NOVAS
Lamento informar às multidões de turistas que acorrem ao Rio de Janeiro no verão: o período do ano que oficialmente vai do final de dezembro ao final de março é o pior para se estar na cidade. Ela está inchada de gente, encarecida e, claro, muito, muito quente. Porque apenas quente, ela sempre está: o Rio é a capital mais tórrida e figura entre as dez cidades mais escaldantes do Brasil. Perdão se volto brevemente ao tema da coluna passada, o calor, mas agora o faço – trago boas novas! – para saudar-lhe a queda. O Rio de abril a novembro faz jus, sim, ao título da marchinha Cidade Maravilhosa. Fico matutando se a exaltação ao verão no Rio não teria algo de propaganda deliberadamente enganosa: uma maneira de atrair os turistas para a temporada menos bela enquanto o carioca da gema – expressão que designa o carioca filho de cariocas, meu caso – escapole para outras praias e para as montanhas. Celebrar o verão seria, então, um modo ardiloso de preservar para si o melhor momento da cidade. Tá certo, não para si só, pois há um fluxo constante de visitantes; para si e para os turistas que têm a perspicácia e a disponibilidade para aqui aportarem no miolo do ano. A primeira mudança que o carioca percebe é na luz do Sol. Ela não fica somente mais fraca: ela fica mais límpida. Os vapores do verão a turvam, emprestando ao céu um aspecto leitoso, sujinho. De quebra, essa nebulosidade cria um efeito estufa local, que retém o calor mesmo durante o adiantado das noites. De abril a novembro, não. O azul fica ao mesmo tempo mais nítido e mais suave. Mesmo quando a temperatura se eleva durante o dia, o que é comum, a noite proporciona o frescor que torna mais fácil conciliar o
sono – sobretudo para quem, como eu, evita o ar-condicionado. (A luz de abril é tão radiosa que, enquanto escrevo, ela penetra no escritório pelo meu flanco e, refletida na tela do computador, ofusca o meu olho direito.) Se sair à rua no verão, afastando-se ao menos temporariamente de qualquer forma de refrigeração, exige disposição para suar, sair à rua neste periodão sem nome próprio que abarca outono-inverno-primavera é um prazer para o corpo e, em particular, para os olhos. Passado o desconforto físico de simplesmente existir sob as temperaturas extremas que caracterizam o verão carioca, a cabeça pode se fixar nas coisas e nas gentes da cidade. Passada a histeria de viver “a sua estação”, ou o que os forasteiros esperam que seja a sua estação, o Rio pode ser ele mesmo, mais relaxadamente. Mais relaxadamente, taí uma expressão importante. É difícil dizer se é o calor em si ou se são a superlotação e a inflação na cidade, mas o fato é que o carioca se torna mais tenso no verão. Há uma impaciência grupal em resolver logo as coisas e ou ir para a praia ou voltar ao ar-condicionado. O trânsito, esse sensível termômetro da civilidade (ou da falta de civilidade) brasileira, se torna mais difícil, mais lento, mais irritado. Não adianta nem argumentar com o carioca que se ele está parado, está parado diante de algumas das paisagens mais belas do mundo – diferentemente do engarrafado vizinho paulistano. Nessa hora, nem apelar para o bairrismo de gosto duvidoso funciona. No miolo do ano, o número de automóveis diminui sensivelmente, conforme os veículos de outros estados retornam para casa, o que ajuda o trânsito a fluir melhor.
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Então, cara leitora, caro leitor, se você pretende vir ao Rio, considere trocar janeiro ou fevereiro por julho ou agosto. O estado de espírito da cidade se torna mais hospitaleiro, suas belezas se tornam (mais) visíveis sob o suor na testa, a vida é bela. Acho que acontece algo parecido com a propaganda das grandes cervejarias. Elas concentram seus esforços em apregoar seus produtos em associação com verão, calor, gente semidespida na praia (gente, aliás, que parece nunca ter tomado uma cervejinha, tal a perfeição geométrica de seus ventres). Entendo que o hábito local de se beber cerveja estupidamente gelada refresque de fato a goela, apesar do notável prejuízo à capacidade de se sentir à vera o sabor da bebida, o que é péssimo no caso de uma boa marca, como a paraense Cerpa ou a paulista Colorado. O álcool, porém, desidrata se consumido em grandes quantidades. E haja cerveja para tentar afastar o calor do verão carioca... Como o próprio calor desidrata, é óbvio, fica o pessoal ressecando por dentro na praia do Leblon. Outro caso de propaganda enganosa. Biritar é bom no friozinho, como bem sabem os mineiros, que celebram suas grandes pingas nas noites de inverno. No calor da praia, vá por mim, água de coco é melhor e mais saudável, sobretudo se não tiverem jogado o preço nas alturas, como acontece a cada novo verão. Não faz muito, deve-se dizer, um coco gelado custava R$ 1 na orla do Rio. Seu preço parecia congelado por um acordo tácito – ou seria um cartel do bem? – entre os vendedores. Hoje, no verão de uma cidade que recuperou sua autoconfiança, se você encontrar um coco por menos de R$ 5, ganha um beijo da garota de Ipanema.
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destino
Estรกtua do Mozart (localizada no Burggarten)
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Alice Pinheiro Walla
Um
Sonho de
Valsa
“As ruas de Viena são pavimentadas com cultura. As ruas das outras cidades, com asfalto”. A frase que ostentamos no subtítulo desta matéria (de autoria de um austríaco, o escritor e jornalista Karls Kraus, 1874-1936) poderia soar como um exagero. Não quando se trata de Viena.
V
ocê sonha conhecer uma cidade fascinante, que além de bela, tem cultura e tradição? Então seu destino é Viena, a capital europeia da música, que por coincidência também é chamada de “a capital dos sonhos” (em Viena também atuou Sigmund Freud, o pai da psicanálise e autor da teoria dos sonhos). A cada começo de ano, Viena é dominada pela febre de valsa: mais de 450 bailes são festejados na capital, nos meses de janeiro e fevereiro. E para os que desejam vivenciar um “sonho de valsa vienense”, não é necessário pagar entrada, nem chamar a fada madrinha. A cidade da música e dos sonhos é, em si, uma promessa de encanto. Um passeio por Viena tem de começar na cidade antiga que compõe o chamado “primeiro distrito de Viena” (1.Bezirk). No coração da cidade antiga encontra-se a imponente catedral de Santo Estevão (Stefansdom), o símbolo de Viena, também carinhosamente conhecida pelos vienenses como “Steffl”. Construída em 1137, originalmente como uma igreja em estilo românico e constantemente expandida e reconstruída ate o século XVII, a atual catedral de Santo Estevão reúne vários estilos arquitetônicos, que vão do gótico ao barroco. A catedral foi severamente atingida durante o bombardeamento de Viena, em abril de 1945,
durante a Segunda Guerra Mundial, e reconstruída graças aos esforços coletivos dos cidadãos de Viena e dos outros estados federais da Áustria. A catedral impressiona pela riqueza de detalhes e pelas várias obras de arte em seu interior. Dica para os “fortes”: uma visita às mórbidas catacumbas, localizadas na parte subterrânea da catedral. As catacumbas abrigam os restos mortais de membros da família Habsburgo (a mesma família da Imperatriz Leopoldina, esposa do imperador Dom Pedro I) e inúmeros corpos de vítimas da peste negra, que dizimou a cidade no século XVIII. Com os cemitérios lotados, a única solução era levar os corpos para as catacumbas da catedral de Santo Estevão. Uma pequena curiosidade: ao lado oeste do salão da torre norte, você encontrará uma escultura de Jesus, da cintura para cima, de mãos atadas e coroa de espinhos, o rosto contraído de dor. Esta figura é carinhosamente chamada de “Senhor Deus com dor de dente” (Zahnwehherrgott). A lenda conta que jovens bêbados, vendo a triste imagem, ataram um pano ao redor do rosto para ajudar com a “dor de dente”. Logo depois foram vítimas de uma forte dor de dente, que só foi curada quando voltaram à catedral e pediram perdão. Há uma cópia da mesma estátua no exterior da »»»
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Kalianne Tosold
Palácio Schönbrunn (residência de verão da família imperial Habsburgo)
catedral (veja se você a encontra!). Logo atrás da catedral, na rua chamada Domgasse, encontra-se um museu estadual dedicado à memória de Wolfgang Amadeus Mozart (Mozarthaus), que viveu e atuou em Viena até sua morte, em 1791. O apartamento do segundo andar é a única residência preservada de Mozart e sua família, que viveram neste endereço entre 1784 e 1787. No apartamento da Domgasse, Mozart compôs a famosa ópera “As Bodas de Fígaro”. Da janela da sala, de preferência ouvindo a ária “non son piu cosa son, cosa faccio” em seu iPod, olhe para a estreita rua diante de você (a chamada Blutgasse). A ruela é uma “verdadeira máquina do tempo” com suas fachadas barrocas e seus paralelepípedos. Imagine estar vendo isso com os olhos de Mozart, envolvido na criação das Bodas de Fígaro, dando uma olhadinha da janela da sala. Para aproveitar melhor chegue cedo, pois o museu é a atração favorita dos turistas. Ao lado da catedral de Santo Estevão encontram-se os fiacres, charretes em estilo antigo puxadas a dois cavalos, com as quais é possível
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explorar confortavelmente – e em grande estilo – o centro histórico da cidade e a Ringstrasse (a rodovia em forma de “anel” ao redor do primeiro distrito). Alternativamente, Viena oferece uma excelente rede de transportes públicos, que inclui ainda metrô (U-Bahn), bondes elétricos (Strassenbahn) e ônibus. A próxima parada é a sede da corte imperial vienense, a imponente corte imperial (Hofburg), onde a família imperial costumava residir no inverno e hoje residência do presidente da república austríaca. Aproveite o passeio entre as elegantes ruas comerciais do primeiro distrito e aprecie as fachadas dos edifícios históricos do Graben e do Kohlmarkt (o antigo mercado de carvão) até se deparar com o deslumbrante pórtico da corte imperial. No caminho, entre catedral e corte imperial, na esquina da praça de São Miguel, descubra uma pequena pérola: a igreja de são Miguel (Michaelerkirche), uma das igrejas mais antigas de Viena, onde foi tocado pela primeira vez o famoso réquiem de Mozart (vale a pena uma visita!).
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Tel: 91 8887.6486 Fax: 913224.1203 Na praça Maria Theresia (a ilustre senhora sentada ao trono, no centro da praça) encontram-se os edifícios gêmeos do museu histórico de artes (Kunsthistorisches Museum) e o museu de história natural (Naturhistorisches Museum). O museu de artes abriga pinturas de mestres antigos como Dürer, Rafael, Caravaggio, Ticiano e Rubens, além de uma exposição de objetos de arte do Egito antigo (incluindo múmias) e coleções de arte grega e romana. O museu de história natural é uma boa pedida para quem viaja com crianças (os esqueletos de dinossauros e o dinossauro rex que se move e urra para os espectadores são alguns dos grandes favoritos da criançada). Para os adultos: confira a pequena [mas de fama enorme] “Venus de Willendorf”, uma das mais antigas figuras femininas do mundo (datada do período Paleolítico). Uma das várias curiosidades: o cachorrinho de colo da imperatriz Maria Theresia. “Empalhadinho” para a posteridade (e para adultos e crianças). Mais adiante, um complexo de museus de arte moderna, onde se pode ver a coleção privada de obras de pintores condenados (e redescobertos)
durante o terceiro Reich: no MUMOK você encontrará artistas como Egon Schiele, Gustav Klimt e vários representantes do movimento artístico conhecido como a secessão. O famoso “O Beijo” de Gustav Klimt está entretanto na Pinacoteca do Palácio Belvedere, para amantes de pintura também visita obrigatória. Não perca uma visita ao palácio Schönbrunn, a residência de verão da família imperial Habsburgo, onde é possível ver o quartos do imperador Franz Joseph e sua esposa imperatriz Elisabeth (conhecida como “Sisi” e ícone da capital). Os jardins barrocos do palácio também convidam para um relaxado passeio. Para viajantes com crianças e amantes de animais, o jardim zoológico mais antigo do mundo é logo ao lado: o zoológico Schönbrunn oferece muitas atrações, por isso reserve pelo menos a metade de um dia para a visita. Imortalizada pelo filme de Carol Reed “O Terceiro Homem” que retrata Viena pós-Segunda Guerra, ocupada e dividida em zonas pelos quatro poderes aliados (Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética), a roda gigante do Prater é »»»
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bbordalogesso@uol.com.br
À esquerda: Estátua de Johann Strauss (localizada no Stadtpark). Acima: Mumok (Museu de Arte Moderna)
Interior da Catedral de Santo Estev達o www.revistalealmoreira.com.br
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Restaurante Figlmüller (onde se pode saborear o melhor e mais famoso Wiener Schnitzel da cidade. Fica localizado na Wollzeile nr. 5 no 1° distrito).
Foto do Wiener Melange e strudel de maçã (Apfelstrudel) (tradicionalmente os cafés são servidos em pequenas bandejas e sempre acompanhados de um copo pequeno de água).
Fiacres (ao fundo vista para a Praça dos Heróis)
Doces de Viena
também um símbolo de Viena e convida para um passeio descontraído no parque com direito a algumas travessuras e algodão doce. Para quem quer explorar a história de Viena e da Áustria, em geral, são interessantes o museu da cidade de Viena (Historisches Museum der Stadt Wien) e o museu do povo judeu (Jüdisches Museum). Este último retrata a cultura e história dos judeus vienenses das origens da cidade até o holocausto. Como consequência da indexação da Áustria pela Alemanha, em 1938, estima-se que 65.000 judeus vienenses foram mandados para campos de concentração, dos quais um pouco mais de 2.000 sobreviveram. O museu tem duas localidades: na Dorotheergasse e no Judenplatz. Famosa por seu legado musical, Viena continua uma das mais influentes capitais da música na Europa. Viena é o berço da valsa vienense (uma valsa com um compasso levemente irregular, de charme inconfundivelmente vienense) e o lar de inúmeros compositores ilustres como Wolfgang Amadeus Mozart, Joseph Haydn, Ludwig von Beethoven, Franz Schubert, Johann e Josef Strauss (pai e filho e “reis da valsa”), Johannes Brahms, Gustav Mahler, Arnold Schönberg... (a lista é longa!!!). É possível achar vários museus e casas de músicos em Viena. A ópera nacional de Viena (Wiener Staatsoper),
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cuja orquestra é formada pelos integrantes da orquestra filarmônica de Viena (Wiener Philarmoniker) é mundialmente aclamada por cultivar a tradição e estilo clássico genuinamente vienense. Porém, assistir a uma ópera na Staatsoper é um prazer que custa caro. Uma alternativa é assistir de Stehplatz (de pé, mas com uma boa vista do palco). Entretanto, viajantes com um budget limitado e sem paciência para esperar na fila da Staatsoper por um ticket mais em conta têm muitas opções em Viena. Para quem quiser vivenciar uma ópera ou opereta em bom estilo vienense sem extrapolar as finanças, a parada obrigatória é a ópera popular de Viena (Volksoper Wien). Para concertos sinfônicos, a orquestra sinfônica de Viena (Wiener Symphoniker) é o endereço certo. No centro da cidade você também encontrará vendedores de concertos para turistas, nem sempre baratos. Mas se ouvir músicos fantasiados de “Mozart” não for o seu estilo e você preferir vivenciar a verdadeira cultura musical de Viena, recomendo um concerto, ópera ou opereta em uma das “casas de música” tradicionais de Viena. Viena também é uma referência quando o assunto é a culinária. A cozinha vienense foi influenciada pelos povos que constituíam o antigo Império Austríaco, também chamado império Austro-Húngaro. Entre os pratos principais mais famosos de Viena »»»
estão a Wiener Schnitzel (bife de porco ou gado, empanado e frito, usualmente servido com batatas cozidas com cheiro-verde ou salada de batatas) e o Tafelspitz (cozido de carne com verduras). Famoso é também o Gulyás ou Gulasch, um ensopado picante de origem húngara que pode também ser acompanhado de Semmelknödel (bolinhos de massa de pão e condimentos, de origem tcheca). Para quem prefere pratos mais leves, a maioria dos restaurantes também oferece opções vegetarianas e vegans (pratos livres de produtos de origem animal), já que na Europa o número de pessoas que abrem mão do consumo de carne e derivados de animais (regularmente ou permanentemente) é relativamente alto. Mais o melhor ainda está por vir: as sobremesas! Não deixe de experimentar Germknödel, Palatschinken, Apfelstrudel, Marillenknödel e Kaiserschmarrn. Como outros pratos da cozinha tradicional vienense, essas são sobremesas “pesadas,” feitas à base de massa de trigo, servidas quentes e com muito açúcar! Para muitos, uma refeição completa. Entre os passeios em Viena, nada como dar uma pausa num café vienense para recarregar as energias (e as calorias!). A tradição das casas de café vienenses data da invasão turca em 1683. É contado que após a derrota e retirada da armada turca, foram deixadas para trás centenas de sacos de café. Estes foram presenteados pelo rei polonês ao heróico comandante Kolschitzky que abriu com eles o primeiro café vienense. Não deixe de saborear o famoso Wiener Mélange e experimentar as inúmeras criações de bolos e tortas doces da cozinha vienense. Um ícone das casas de café vienenses é a Sachertorte, um fino bolo de chocolate escuro, coberto com chocolate e com uma leve camada de geleia como recheio. Viena tem inúmeros cafés, mas se você quiser experimentar uma casa de café especial, visite o Café Central, localizado no elegante Palais Ferstel na Herrengasse, 1º distrito. Este era um ponto de encontro favorito dos intelectuais vienenses para ler jornais, discutir ideias e ouvir a notícias (além de tomar bastante café, diga-se de passagem). Despedir-se de Viena não e fácil. Mas antes de partir, não deixe de assistir ao pôr-do-sol na capital da música e dos sonhos. O melhor lugar para uma vista panorâmica de Viena (e um pôr-do-sol de tirar o fôlego) é o prédio mais alto da cidade: a Donauturm, uma torre de rádio que também é observatório e restaurante giratório. Segundo Freud, o pai da psicanálise, o sonho significa a presença de um desejo. Como não sonhar com Viena? Espero que seu sonho se torne em breve realidade. Igreja de São Miguel www.revistalealmoreira.com.br
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enquanto isso
Igor Almeida
OSAKA-NARA Doutorando em Ciência da Computação
Todo ano o Governo Japonês, por meio do Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia (MEXT), oferece bolsas de estudo para brasileiros em universidades públicas japonesas. Foi por meio de tal oportunidade que vim ao Japão há 5 anos para iniciar minha pós-graduação na área de Ciência da Computação. Meus primeiros seis meses em terras nipônicas foram dedicados ao estudo da língua japonesa, fase que aconteceu na Universidade de Osaka, localizada no centro da região de Kansai. A cidade de Osaka é uma das áreas metropolitanas mais efervescentes do Japão. Uma cidade que se mostra bastante internacionalizada em seus distritos mais famosos: Umeda, Namba e Shinsaibashi. Neles se encontra comércio e entretenimento para todos os gostos. Eletrônicos de ponta, em lojas do gênero, e roupas de renomadas marcas europeias colorem as vitrines, até o pôr-do-sol, quando as luzes dos grandes painéis de LED abrem alas para a agitada vida noturna da cidade. Os deliciosos Okonomiyakis, espécie de pizza japonesa frita em chapa quente com toppings, que vão desde
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bacon até lula, camarão e polvo, são uma boa pedida. Apesar da modernização constante, o castelo de Osaka continua sendo seu símbolo mais forte, um testemunho do quanto a sociedade japonesa aprecia e preserva sua história e tradição. Não é à toa que a cada primavera todas as tribos se confraternizam sob as árvores de cerejeira para apreciar as flores que brotam e adornam os arredores do castelo. Aos gamers e Otaku, o distrito de Nipponbashi os aguarda com uma variedade interminável de jogos, figuras de ação e mangás, além de cosplayers desfilando a qualquer hora do dia. Após desfrutar da agitação de Osaka, mudei-me para Nara, ainda na região de Kansai, onde iniciei e concluí meu Mestrado pela Nara Institute of Science and Technology (NAIST) e onde atualmente faço o último ano do meu Doutorado. Se Osaka é a epítome da modernidade acelerada, Nara, em contrapartida, é um centro histórico cercado de templos por todos os lados. É uma cidade calma onde o principal atrativo é o Nara Koen, um parque tão famoso pelo templo Todaiji, que é pa-
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trimônio mundial da humanidade e abriga a maior estátua de bronze de Buda do mundo com quase 15m de altura, quanto pelos incontáveis cervos que caminham livremente por entre seus visitantes. Alimentar os cervos com Senbei, um biscoito próprio vendido em pequenos quiosques espalhados pelo parque, é uma experiência indispensável aos exploradores da pacata região de Nara. Ainda nas proximidades do parque se encontra o Monte Wakakusa, onde se pode caminhar até o topo e apreciar uma das vistas panorâmicas mais belas do Japão e também uma das mais românticas ao anoitecer. Um mestrado e quase um doutorado depois, ressalto que apesar das barreiras linguísticas e culturais o Japão me acolheu e me proporcionou conhecer a grandiosidade que uma sociedade e um país podem vir a ter quando se tem o compromisso de atender a todos, residentes ou não, com educação e organização. Seja pela natureza, pela cultura ou pelas lições que o Ocidente precisa conhecer, viajar pelo Japão é caminhar em meio ao passado enquanto se vislumbra o futuro.
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Benjamin Constant, 1415 (entre Brás e Nazaré)
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Para os
Saulo sisnando escritor
infinitos Para o Pedro, na certeza de que sempre terá o abraço de seu pai.
Então tudo passa, e o Pedro – o filho da sua melhor amiga – nasce. E você descobre que coisas grandiosas acontecem diariamente no mundo. E coisas lindas e minúsculas também. E em quase dois anos, alguns amigos vão fazer doutorado no Rio de Janeiro, e outros voltam de Macapá, e outros engravidam e muitos parem. E um vem passar a Páscoa com a mãe, e duas querem que você escreva peças de teatro para elas, e aquele emagrece para ficar com barriga-tanquinho, e qualquer um se muda para a Austrália para esquecer um amor (sem conseguir). E no meio de tanta vida você se vê vivendo muita coisa. Nesse tempo em que estão separados, você recorreus aos terreiros de umbanda, e descobriu que era filha de Oxalá com Oxum, e se viu devota de Santa Teresinha, e aprendeu a dançar – para que você não precisasse mais dos passos alheios, mas tivesse a sua própria coreografia. E começou a psicoterapia: fez constelação familiar, tratamento bioenergético, regressão a vidas passadas e acupuntura. Ufa! E nessa empolgação, descobriu que não quer passar o resto da vida carimbando papéis no seu emprego público, não!, sua sina é ser psicanalista... Porque Freud é o cara! E agora quer ir pro Rio de Janeiro estudá-lo profundamente e montar um consultório ajeitadinho, com uma estátua do pensador em cima da mesa, vários livros escuros na estante e usar uns óculos miúdos
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daquele tipo bem intelectual. Se não for possível, quer ficar por aqui e organizar rascunhos antigos e voltar a escrever histórias de terror ou romances açucarados sobre moças pobres que se apaixonam por rapazes ricos. E deseja publicar seus poemas, e crônicas, e as receitas que sua avó deixou naquele livrão antigo, que você encontrou no cofre do seu pai. E por falar em pai, você descobriu que muito da sua solidão está ligada a ele – contrariando todos os que dizem que a culpa é sempre da mãe – pois ele nunca te deu um abraço apertado. E você, com a ajuda da terapia, se prometeu dar um abraço nele. Mas ainda não sabe quando... Nem como explicá-lo tal repente. Porém desde quando o amor precisa de explicação? E sendo sozinha, você leu todos os livros do Harry Potter, virou orquidófila, aprendeu a andar de patins e a baixar filmes em Torrent. E saiu algumas vezes ao sábado e beijou alguns gatinhos (ou vários) e se deu ao direito de tomar uns pileques mesmo sabendo que, segundo seu médico ortomolecular, bebida alcoólica retarda o emagrecimento. Mas, ah!, para quê a pressa? E então você percebe que, tentando esquecê-lo, você se faz feliz. E descobre que, embora você queira muito ter alguém, você consegue sobreviver muito bem sozinha. Porque às vezes a melhor parte do amor... é esquecê-lo! Sim! Ele era lindo... E pode até ter sido perfeito. Mas foi perfeito por um tempo determinado. Mas pessoas como você não aceitam amores com prazo de validade. Pois você quer o infinito, já que o infinito você é. Mesmo sozinha.
gourmet
A vida é um palco
Gabriel Vidolin veio a Belém especialmente para o Ver-o-Peso da Cozinha Paraense 2013 e encantou os paraenses com criações, no mínimo, inusitadas www.revistalealmoreira.com.br
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Camila Barbalho
Dudu Maroja
Você não leu errado. A matéria que você lerá a seguir narra uma história de um jovem cozinheiro que rejeita rótulos (dentre deles, o título de chef de cuisine) e que reescreveu sua própria trajetória. Ainda em atos inacabados... e bem longe de chegar ao final.
R
eza a fábula que o sofrido menestrel, ao encontrar o mago, pediu para que este retirasse de sua vida toda a dor. Prontamente atendido, o bardo seguiu feliz seu caminho – até que, passado o tempo, percebeu que não tinha mais o que cantar. Saudoso da própria poesia, ele procurou novamente o feiticeiro e pediu de volta o sofrimento, já que era dele que sua arte se alimentava. A história, sobre a profundidade do coração dos artistas, também deixa a lição de que livrar-se do que dói é por muitas vezes bem menos proveitoso que descobrir o lado bom de tudo que é ruim. Gabriel Vidolin não precisou protagonizar o conto para perceber que poderia ver além do que se via. O cozinheiro – e não chef, como depois ele explicará mais à frente – precisou percorrer muito cedo um caminho extenso para encontrar-se. E, mais que isso, encontrou uma razão para criar. Quando o observamos mais de perto, Gabriel parece demais com um trovador, tal qual o da história: solitário, imaginativo, de mente inquieta e olhar agitado, com grande carga emocional e disposto a não criar raízes, que não aquelas que o prendem à sua arte. E somente a ela. Também como os poetas de outros tempos, seu trabalho é perene para si e efêmero para os demais, por esgotar-se depois de consumido. Muitos, inclusive, confundem sua obra com mero entretenimento. Porém, para aqueles de coração atento e sensível, a experiência da poesia sempre prevalece. É para esses que Gabriel cozinha. O começo Filho de uma dona de sorveteria e neto de uma confeiteira e de um açougueiro, ele descobriu ainda menino a paixão pela gastronomia, sobretudo por sua relação com a arte, que sempre foi sua maior motivação. Aos 16 anos, já trabalhava em cozinhas do mundo – e não em “algumas quaisquer”. Sozinho e fora do país, o então adolescente aprendia sobre aquilo que ele mais amava em lugares como o lendário El Bulli, o Mugaritz, dentre outros restaurantes famosos da Europa. E tudo poderia apontar para a consolidação de uma carreira internacional já em construção, não fosse um pequeno obstáculo: o TDAH – um transtorno de atenção. Na coreografia ensaiada de um grande palco, não havia muito tempo ou paciência para que o cozinheiro de-
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senvolvesse com tranquilidade seu aprendizado. “Às vezes, eu não conseguia assimilar as coisas na velocidade que eu deveria. Existe uma pressão muito grande em um restaurante de alta gastronomia e as pessoas tendem a não ser pacientes com isso”, relembra Gabriel. Em plena crise, ele tomou uma decisão: “eu não queria me submeter aos tratamentos convencionais, que acabam inibindo a criatividade. Então busquei na terapia holística uma razão pra tudo isso”. A partir daí, foi um longo e sincrético processo de aprendizado – envolvendo terapia com um psicólogo de linha xamânica, estudo das energias, dos óleos essenciais, florais de Bach, aromaterapia, incensos naturais, a cultura dos monges e os animais totêmicos. “Eu recorri a esses conhecimentos como ferramenta de lucidez em um momento em que tudo era muito confuso pra mim”, conta. De arcabouço essencial para entrar em contato consigo mesmo, essa jornada transformou-se na construção de um conceito que já existia dentro dele, e que precisava ser exteriorizado. Nascia O Leão Vermelho. Em Londres por conta de um trabalho, ele ligou para o coordenador da equipe do El Bulli – para onde deveria voltar naquele dia – e fez um breve comunicado: “não vou voltar, estou retornando ao Brasil”. Talvez muitos achariam loucura abandonar uma oportunidade como a de estar em uma das cozinhas mais famosas e premiadas do mundo. Gabriel, não. “Quando você está lá, no olho do furacão, é como se você estivesse no Bolshoi. É coreografia, é técnica. Os chefs não cozinham lá. Eu ficava buscando a imagem de pessoalidade que eu tinha da arte, então vi que não era pra mim”. De volta a São João da Boa Vista (cidade a 360 km de São Paulo, onde nasceu), o cozinheiro passou um ano erguendo não um restaurante, mas o tablado onde apresentaria sua obra-prima. Construiu, cultivou jardim e horta, fabricou os próprios móveis, decidiu o que (e como) faria em relação ao que lhe era mais caro – a superação da gastronomia, vinculada à saciedade por sua natureza, pela arte, atrelada à sensibilidade tão natural a ele. O conceito O Leão Vermelho tem uma dinâmica muito particular – o que reflete a peculiaridade de Gabriel. “Eu queria »»»
“O leão vermelho não é um alter ego. Ele é uma representação dentro de mim de um criador. Eu sirvo ao leão vermelho”
Veja mais conteúdo exclusivo do chef Gabriel Vidolin
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muito não ser mais um cozinheiro. A minha proposta com o Leão Vermelho é que ele fosse minha obra plena”, explica. Como artista, aliás, ele optou por desenvolver um palco para poucos espectadores – literalmente. “Eu recebo só quatro pessoas por vez no Leão, duas vezes por semana. Elas não sabem o que vai acontecer até chegarem lá”, adianta Vidolin. “Lá, eu vou contando a minha história por meio dos pratos, e é como se eles passassem pela minha experiência. É muito normal que os comensais chorem durante a experiência do Leão. E é muito normal que eu chore. A conexão que existe ali é muito íntima”. Porém, o caminho antes do jantar é muito mais longo e trabalhoso para Gabriel. Para um momento de 5 horas com os comensais, são três dias de um ritual cuidadoso – que compreende desde o preparo holístico com os xamãs até o treinamento físico com um personal trainer. Nesse período, ele não come nada (além de provar o que cozinha), não tem contato nem fala com ninguém – além de seguir horários bem específicos. “Das 10h da manhã à meia-noite eu faço um trabalho comigo mesmo para limpar o paladar e cozinhar. Eu preciso me manter sóbrio e lúcido nesse momento, e uma ferramenta pra isso são os mantras. Eu vou trabalhando e recitando mentalmente os mantras, me alimentando dos florais e das flores, num trabalho de purificação”, conta. Para ele, é essencial estar presente em cada momento do processo. “Eu tenho contato com o produtor, planto, colho, lavo, cozinho, preparo...
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E, quando as pessoas vão embora, eu limpo. Eu mesmo sirvo. É uma experiência muito crua. Eu dedico a minha vida a essa obra”. A experiência para os comensais também segue um ritual preciso, desde a reserva: o interessado agenda o jantar para si e outras três pessoas pelo site ou telefone, e a confirmação chega por carta um mês antes da data. O local é mantido sob sigilo. Na data marcada, o grupo escolhe entre ser apanhado por um serviço de chofer ou receber um torpedo no celular poucas horas antes do jantar, com a localização no mapa. Lá, devidamente alojadas na única mesa d’O Leão Vermelho, as pessoas viverão a experiência de um jantar de 24 tempos – apresentados por nomes próprios, em vez de expressões descritivas. O processo todo envolve o deslocamento entre duas salas principais e outra sala secreta. A divisão em diferentes momentos permite que Gabriel instigue a curiosidade e o sentimento dos participantes. “Existe um jogo durante o serviço, que é o que permite à pessoa dizer se ela quer prosseguir ou não”. Assim como o idealizador se isola, as pessoas também o fazem: precisam desligar os celulares e se comprometer a não fotografar ou compartilhar os pratos. Naturalmente, não é possível prever o comportamento ou a reação dos comensais em relação ao apresentado – nem mesmo o que os motiva a vivenciar o jantar. “Vai muito do que o comensal viveu e sentiu para ele se conectar ou não com a experiência”,
admite Gabriel. “Tem pessoas que vão pela comida. Tem pessoas que querem ver técnicas do El Bulli ou de outros lugares por onde passei. Mas O Leão não se trata disso. Acho que todo artista está sujeito a não se conectar com a sua ideia. Às vezes, a pessoa simplesmente não quer saber. Acha aquilo tudo excêntrico e é a excentricidade que ela está comprando”. Aberto apenas seis meses por ano, o restaurante funciona por temporadas – cada uma com uma temática. Ao fim da temporada, tudo termina: os pratos criados não serão servidos novamente. Os demais meses servem para catalogação do que ocorreu no período e para a preparação da temporada seguinte. Segundo Vidolin, o esforço tem sua recompensa: “é bacana quando, ao fim do processo, o comensal diz ‘a experiência foi inesquecível’ em vez de ‘a comida estava fantástica’”. Em (des)construção A despeito da atmosfera fetichista que o mistério impõe ao jantar n’O Leão Vermelho, Gabriel deixa claro que nada ali é pensado para ser uma atração – e sim, para vivenciar algo inédito. “O Leão é sobre a experiência. É sobre mim, sobre as pessoas que sentam naquela mesa, sobre os maus momentos que elas passaram, sobre como encontrar o bom no ruim. E por isso é uma cozinha de fé”, define. Inclusive é muito interessante perceber a maneira como Vidolin se despiu do papel de chef para adotar uma estética indefinida
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– ora artista-criador, ora servo-criatura – que, pelo seu caráter mutante, nunca está encerrada. Num primeiro momento, a imagem que se tem de Gabriel é a do desprendimento – inclusive em relação ao status de chef. “Um chef de cozinha é uma pessoa que coordena uma equipe, o cozinheiro simplesmente cozinha. Inclusive sempre me pedem fotos usando dólmã. Eu não tenho fotos assim”, esclarece. Em seguida, ele soa orgulhoso e satisfeito por ter tido a coragem de fazer o que faz – como, por exemplo, quando conta de seus planos futuros: “farei uma performance numa galeria de arte em São Paulo, chamada ‘De dentro pra fora’. Será uma cozinha de vidro com uma mesa e uma cadeira. A pessoa se senta, e o que eu sentir dessa pessoa vai me motivar a cozinhar algo de dentro pra fora dela”. Por fim, Gabriel abandona o polo ativo da ação e se caracteriza como instrumento. “O Leão Vermelho não é um alter ego. Ele é uma representação dentro de mim de um criador. Eu sirvo ao Leão Vermelho”, ele tenta explicar. Os diferentes papéis não o tornam incoerente: Gabriel é realmente tudo isso ao mesmo tempo. E de um jeito muito honesto, ele precisa que seja dessa forma. “A minha salvação se encontra no meu trabalho. É nele que eu encontro conforto pra minha dor. E gastronomia é uma necessidade básica, como respirar”. Da catarse e outras dores Gabriel não tem muitos pudores em expor como »»»
receita
O Primeiro Bolo Para a Revista Leal Moreira, Gabriel Vidolin – que recentemente participou do festival gastronômico Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, em Belém – preparou uma receita que, para ele, tem um significado especial. Inspirado no bolo produzido no mosteiro São Bento, Gabriel criou a receita quando tinha apenas oito anos. “A minha mãe sempre trabalhou muito, eu ficava muito sozinho em casa e precisava comer. Eu gostava muito desse bolo; e como ele vinha de São Paulo, não chegava tão facilmente a São João da Boa Vista”, rememora. “Como queria comê-lo, pedi para uma tia me dizer o que tinha no bolo e criei minha versão”. Simples, minimalista e cheio de referências – o que é a essência de Gabriel, no fim das contas – o bolo é um presente para os clientes d’O Leão Vermelho levarem para casa e tomarem café no dia seguinte. Confira:
Vidolin se deixou fotografar - para a Revista Leal Moreira - usando as habituais vestimentas de um chef de cozinha. se sente – talvez à custa de grande esforço pessoal e um longo processo terapêutico, que inclui o próprio ato de cozinhar e o conceito que construiu. A presente temporada d’O Leão Vermelho, intitulada “Jamais me Abandone”, é prova de uma maturidade emocional que demanda alta dose de coragem. “Tive que trabalhar comigo todos os meus traumas e frustrações, e colocar isso nos pratos, nessas criaturas novas. Foi um processo muito complicado. Os sabores são muito densos, melancólicos, com certo tom de revelação”, relata. E é em comentários como esse que Vidolin deixa entrever quão sinestésico é o trabalho que faz. Para vivê-lo plenamente, é preciso estar emocionalmente disponível – e disposto. “As pessoas vivem a experiência d’O Leão Vermelho como uma terapia em grupo. Eu me coloco diante delas, elas ouvem a minha história e se encontram nela. No fundo, durante o jantar, nada mais é sobre mim – e sim sobre elas”, argumenta. “As pessoas reflexionam muito sobre que rumos elas vão tomar, o porquê de tudo”. Como o bardo da fábula, Gabriel carrega em si um poço tão profundo quanto profícuo. Dar vazão a isso da maneira como ele optou por fazer lhe oferece um caminho de percalços. Um deles é percorrer essa jornada sozinho. “Quando eu entendi que meu caminho era solitário, fui procurar a ciência dos monges. Aprender com eles a questão da solidão e da fé, do amor pleno. Você só atinge isso depois de entender uma série de coisas mais sutis”, ele diz. Depois para, coça a cabeça – um de seus trejeitos habituais – e prossegue. “Eu sei que é difícil entender. Demora tempo pras pessoas te levarem a sério”. Curiosamente, quando perguntado sobre como ele se sente cozinhando, Vidolin descreve algo muito parecido com o que o palco oferece, desde as tragédias gregas: a catarse. “Todas aquelas sensações de desconforto vêm à tona, mas o trabalho manual me faz refletir sobre aquilo. É doloroso, fisicamente cansativo. Mas no final, é extremamente prazeroso. É a sensação do alívio”. Talvez Gabriel seja mais artista do que já sabe ser.
INGREDIENTES • • • • • • • • • • •
4 ovos caipiras 1/2 xícara de azeite 3 xícaras de açúcar 3 xícaras de farinha de trigo 2 xícaras de leite 1 xícara de cacau em pó 10g de canela 5g de noz moscada 4 colheres de café de bicarbonato de sódio 1 colher de vinagre 1 pitada de sal
MODO DE FAZER Adicione os ovos, o azeite, o açúcar, o trigo, o leite e o cacau em pó em uma tigela – nesta ordem. Misture calmamente. Adicione em seguida a canela e a noz moscada. Misture. Com as 4 colheres de bicarbonato, forme as pontas de uma cruz. Misture bem. Adicione o vinagre e o sal. Asse em forno a 180 graus por 40 minutos.
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A gente vê beleza em todas as manifestações culturais que emanam dos paraenses e a gastronomia é uma riqueza que fala muito de nosso povo, de nossa vida. Por isso a Leal Moreira se identifica tanto com o Ver-o-Peso da Cozinha Paraense. Mais valor à cultura. Mais valor ao sabor.
É com alegria que pelo segundo ano consecutivo, a Leal Moreira apresenta o Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, o maior evento de gastronomia da Amazônia.
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vinho
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Produtor: De Martino Região: Vale de Limarí – Vinhedo específico “Quebrada Seca” de 3 hectares, a apenas 19km do mar, recebendo diretamente os efeitos da fria corrente de Humboldt. Classificação legal: Limarí D.O. Composição de Castas: 100% Chardonnay Graduação Alcoólica: 13,5° GL Elaboração: Fermentação do mosto em barricas de carvalho francês com baixos níveis de tostado para respeitar ao máximo a integridade do terroir. Permanência por um ano nas barricas. Amadurecimento: 12 meses em barricas de carvalho francês de diversas passagens (35% novas). Estimativa de guarda: 10 anos Características organolépticas: Coloração palha cristalina com nuanças verdeais. A mineralidade é o que se sente no primeiro ataque, que depois revela frutas cítricas e maçãs perfumadas por especiarias tostadas. Untuoso, sápido, inunda a boca com seu frescor monumental. Longo final. Carta de vinho sintética: No olfato, mineral, com frutas cítricas e maçãs perfumadas por especiarias tostadas. Untuoso, sápido, de longo final. Premiações: . Descorchados 2011: 92 Pontos . Parker: 91 Pontos Onde: Decanter
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KIDNAPPERS CHARDONNAY 2008
Produtor: Pio Cesare Região: Piemonte – Barolo Classificação legal: Barolo D.O.C.G Composição de castas: 100% Nebbiolo Graduação alcoólica: 14% Uvas provenientes dos vinhedos próprios em Serralunga d’Alba (70%) com pequenas partidas oriundas de fornecedores de longo prazo, em privilegiadas posições de Catiglione Falletto e Monforte D’Alba. Colheita com duração de três semanas (fim de outubro e começo de novembro). Seleção acurada das uvas, com descarte das imperfeitas. Amadurecimento: 36 meses em carvalho, sendo 30% em barricas bordalesas e 70% em botti barris de 2.000 a 5.000 litros de carvalho francês de Allier de vários anos. Estimativa de guarda: 20 anos + Características organolépticas: Rubi tendendo ao granadas. Clássico, com frutas vermelhas silvestres, húmus, flores secas e especiarias. Incrível musculatura tânica, nobre, sápido, longuíssimo final. Carta de vinho sintética: Clássico com frutas vermelhas silvestres, alcatrão, húmus, flores secas e especiarias. Incrível musculatura tânica, nobre, sápido, longuíssimo final. Premiações: . Wine Enthusiast: 95 pontos “Cellar Selection” . Parker: 93 pontos . Duemilavini A.I.S 2012: 4 grappoli em 5 Onde: Decanter
CHARDONNAY S.V. QUEBRADA SECA 2009
BAROLO 2007
ERRATA
Produtor: Craggy Range Região: Hawke’s Bay – Te Awanga – Vinhedo específico Kidnappers. Composição de castas: 100% Chardonnay Graduação alcoólica: 13,5° GL Elaboração: A colheita das uvas é realizada estritamente de forma manual. Não há desengace. Fermentação espontânea em barricas novas de carvalho francês (10%) e em tanques de inox e madeira, com inoculação de leveduras selecionadas. Clarificação, filtração e engarrafamento. Amadurecimento: 4 meses em tanques de inox sobre as lias finas. Estimativa de guarda: 5 anos. Características organolépticas: Palha cristalino com reflexos verdeais. Muito elegante no nariz, com zest de limão envolvida por amêndoas torradas e notas minerais. Ingressa em boca, com densidade, proporção e cativante acidez. Carta de vinho sintética: Muito elegante no nariz, com zest limão, maçã madura e tons minerais. Proporcionado, elegante e muito persistente. Premiação: Wine Spectator: 92 Pontos Onde: Decanter
FALCOARIA RESERVA RIBATEJO DOC 2007
LAXAS ALBARINO D.O. RIAS BAÍXAS 2011
L’ALTRO CHARDONNAY 2009 Produtor: Pio Cesare L’Altro quer dizer “o outro”, uma referência ao prestigioso Piodilei, o principal Chardonnay elaborado pelo Pio Cesare. Região: Piemonte - Barbaresco (Treiso) Classificação legal: Piemonte D.O.C. Composição de Castas: 100% Chardonnay Graduação alcoólica: 13,5° GL Elaboração: Uvas provenientes de um antigo vinhedo de Barbaresco, replantado com Chardonnay. Seleção acurada das uvas, com descarte das imperfeitas. Prensagem delicada e fermentação nos tanques de inox com controle de temperatura (75% do vinho), a 18-21°C, por 14 dias. O restante do vinho fermentou em barricas novas de carvalho francês. Amadurecimento: 5 meses em barricas novas de carvalho francês sobre as lias (25% do vinho). Estimativa de guarda: 5 anos Características organolépticas: Palha com reflexos esverdeados. Intensos aromas de pêssegos entrelaçam-se a notas amanteigadas e de nozes sobre fundo mineral. Estruturado, com distinto equilíbrio e longo final. Carta de vinho sintética: Intensos aromas de fruta branca, notas amanteigadas e minerais. Untuoso, estruturado, sápido e muito longo. Premiação: Duemilavini A.I.S 2011: 3 grappoli em 5 Onde: Decanter
Produtor: Bodegas Laxas, S.A. Composição de Castas: Uva Albarino (100%) Graduação alcoólica: 12,5% Origem: Rias Baíxas Espanha A Albarino, mítica uva da Galícia, com a qual são produzidos vinhos aromáticos e de bom corpo, com uma vasta riqueza em ácidos unida a uma infinidade de componentes aromáticos que rendem esses vinhos muito reconhecíveis e isso tudo justifica o grande prestígio e sucesso internacional que obtiveram nos últimos anos. A Galícia nobre terra de vinhos e vastos vinhedos, com competência soube vender e exportar tal casta para o mundo com a D.O. Rias Baíxas. Os vinhos Albarino, são elegantes, macios e equilibrados e ao mesmo tempo potentes, esses brancos têm um toque perceptível e são perfeitos com peixes como o bacalhau e acentuam com elegância o sabor iodado dos frutos do mar. A Bodega Laxas tem seus vinhedos da casta Albarino na sub-região de Condado de Tea. Depois de uma apurada vindima feita à mão, obtém-se um mosto de excelente qualidade que será fermentado em tanques de aço inox com temperaturas controladas a 18 graus, o Laxas Albarino tem acidez elegante, é um vinho para todas as horas, desde o aperitivo com amigos até o mais refinado prato de peixe, sem perder nenhuma das suas características evidenciando ainda mais o seu terroir e sua vocação de vinho atlântico. Onde comprar: Grand Cru Indicação da Sommeliére Ana Luna Lopes.
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Produtor: Quinta do Casal Branco Sociedade de Vinos Composição de castas: Uvas Castelão, Trincadeira, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Petit Verdot e Alicante Bouschet Graduação alcoólica: 14% Origem: Almeirim Portugal A pequena e graciosa cidade de Almeirim sub-região da DOC Ribatejo a 100 km de Lisboa é famosa por suas lendas e sua boa comida. Com passado privilegiado, tendo sido palco de grandes momentos da história como pomposos casamentos entre Príncipes e donzelas e grandes festas inesquecíveis a Sintra de Inverno tal como era conhecida pela Corte, hoje parece ter esquecido seu passado movimentado e glorioso. Com suas vinhas seculares, houve a alteração em 2009 de DOC Ribatejo para DOC Tejo, nesses anos depois de muitos investimentos em marketing sem esquecer da qualidade a DOC Tejo renasceu e valorizou ainda mais a qualidade de seus vinhos e a tradição dessa terra antiga. A Casal Branco vinícola fundada em 1775 com grande tradição na região, elabora o corte Falcoaria Reserva 2007 com uvas tradicionais da região e com as francesas Cabernet Sauvignon e Petit Verdot. Esse potente corte estagia 12 meses em carvalho francês e descansa 4 meses em garrafa. Onde comprar: Grand Cru Indicação da Sommeliére Ana Luna Lopes.
decor
Minimalista por
excelência
Diz-se que “os detalhes fazem toda a diferença”. Quem cunhou essa máxima, certamente, contemplava a beleza e quando fala-se de arquitetura e design de interiores, essa afirmação é verdadeira. A partir desta edição 37, a RLM vai visitar casas de clientes Leal Moreira, para mostrar os projetos, feitos especialmente para eles. Nesta (re)estreia, o projeto assinado pela arquiteta Conceição Barbosa, é uma apartamento do Torre de Belvedere.
A combinação de elementos com a iluminação âmbar deu um ar de luxo e aconchego para o quarto do casal. A cortina com tecido de trama mais fechado e papel de parede em tom escuro complementam a atmosfera elegante e moderna. www.revistalealmoreira.com.br
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PRODUTOS DESTINADOS A ADULTOS APRECIE COM MODERAÇÃO
Prazeres de toda Europa: Os portugueses: O francês: O italiano:
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Quinta do Vallado Douro (2006), Paulo Laureano Reserve (2009), Herdade do Esporão private selection (2008), Quinta Castro Douro (2009), Cartuxa Reserva. Domaine Beranger Pouilly-Fuissé (2011) La Poderina Brunello Di Montolcino (2007) Disponíveis nas Lojas: Yamada Plaza, Vila dos Cabanos, Pátio Belém, Plaza Castanhal e Yamada Salin
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RLM nº 37 GENTE DESIGN ESTILO IDEIAS CULTURA COMPORTAMENTO TECNOLOGIA ARQUITETURA
Leal Moreira
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ano 9 número 37
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O mistério de Teresa Salgueiro A maior cantora portuguesa da atualidade fala da carreira e do momento de redescoberta de si própria
Alexandre Nero Paulo Chaves Viena 23/04/2013 10:10:43