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CASE
ESTE CADERNO É UMA OBRA DE ARTE
Bodoque Artes & Ofício não é só um e-commerce: conheça a instituição cultural que promove a cultura em Juiz de Fora e vende cadernos artesanais como forma de expressão artística
Por Júlia Rondinelli, da Redação do E-Commerce Brasil
Ateliê, e-commerce e instituição cultural. São muitas as palavras para descrever a Bodoque Artes & Ofícios, que nasceu em 2012 como uma forma de expressar as habilidades artísticas de seu fundador, Frederico Lopes.
Naquela época, o intuito de Lopes era alugar um espaço que servisse como ateliê, onde ele estudaria música, encadernação e restauro de livros, embriões do que a Bodoque se tornou nos dias de hoje.
Mas já em 2012, a experiência do artista, que trabalhava com o treinamento profissional de conservação e restauro de papel no Museu de Artes Murilo Mendes, em Juiz de Fora, Minas Gerais, fez com que a Bodoque se dirigisse cada vez mais para o formato de instituição cultural.
O e-commerce foi o caminho mais natural a ser seguido. De acordo com Lopes, quando o projeto começou a amadurecer com o esboço de uma marca, a primeira ideia foi a de usar o e-commerce para gerar autoridade em um ambiente sustentável. “Um grande amigo na ocasião nos indicou o caminho das pedras para que criássemos uma loja virtual”, explicou Lopes. Depois disso, a Bodoque buscou pontos de venda e participação em feiras, mas sempre de forma complementar.
Hoje, a Bodoque Artes & Ofícios vende, entre outras coisas, cadernos feitos de maneira completamente artesanal, mas são muito mais do que somente cadernos. Cada exemplar é fruto de um trabalho único e dedicado, que após vendido ajuda a fomentar a cultura em Juiz de Fora. Por trás de cada peça, há estudo e expressão artística.
A persona que consome os cadernos artesanais também reforça a missão de disseminar a arte. Segundo Lopes, muitos dos consumidores são pessoas ligadas de alguma forma às áreas do conhecimento, têm o hábito da escrita, são entusiastas que gostariam de ter um caderno durável com significado único ou pretendem dar um presente sofisticado.
“Cabe ressaltar que os cadernos têm um ar de sofisticação por serem produtos artesanais, terem muito valor agregado e por virem de um artista. Existem pessoas que compram com esse pensamento, sabendo que são objetos de arte”, explica Lopes.
Processo criativo
Para a criação dos cadernos artesanais, o processo criativo de Frederico conta com sua experiência no mundo artístico e com pesquisas constantes no ramo de artes visuais. O fundador da Bodoque é graduado em artes visuais, com especialização em gestão cultural e 11 anos de experiência com curadoria de museu, além de ter sido coordenador de educação.
“A encadernação é a maneira como eu consigo escoar a minha produção artística, e eu a vejo como uma linguagem”, explicou Lopes. Isso porque, para cada trabalho - seja ele feito para a venda no e-commerce ou como um projeto pessoal no ateliê - o artista investe em pesquisa e adequação estética da linguagem que o produto precisa expressar.
“Dentro dessas pesquisas em artes visuais e usando o livro e o caderno como objeto e símbolo cultural, acabei desenvolvendo produtos que fossem de certa forma replicáveis e escaláveis”, ele completa.
“Na história da Bodoque, fizemos mais cadernos únicos do que os que estão no e-commerce. Mas, de um modo geral, o processo para a criação deles passou pela minha pesquisa em artes visuais, tanto com relação aos materiais como com as escolhas estéticas que foram feitas para chegar dentro de uma linguagem que eu achasse bonita, interessante, atrativa e que comunicasse o que eu estava tentando expressar como artista”, ele conta.
Incentivo à arte e parcerias
Como parte principal do objetivo da Bodoque é fomentar a cultura, existe um trabalho de curadoria de parcerias, em que artistas podem expor suas obras através da confecção dos cadernos.
A primeira parceria do e-commerce foi o Caderno do Artista, em que os artistas eram convidados a criar uma arte para ser reproduzida por meio da serigrafia na capa de 15 cadernos da Bodoque. Muito mais do que um produto para escrita, o caderno se torna um suporte para uma obra de arte praticamente exclusiva.
“Esses cadernos em edição limitada circularam a partir de um evento de lançamento, como se fosse uma abertura de exposição."
Além disso, a Bodoque já desenvolveu exposições com uma galeria de arte com exemplares dos cadernos ilustrados por artistas. Atualmente, trabalham com parcerias “tete a tete”: por causa da pandemia e com a impossibilidade de exposições, os artistas interessados submetem a arte e recebem uma porcentagem das vendas quando os cadernos são vendidos.
Créditos: Reprodução
Missão da empresa
É com segurança que a Bodoque pode dizer ter uma missão artística: com a produção artesanal de algo que as pessoas usam para escrever de forma manual, os cadernos têm o objetivo de resgatar valores aparentemente perdidos no mundo atual, como a sensibilidade, a atenção e a presença.
“Em um mundo extremamente conectado, de telas e de relações líquidas, poder parar para se dedicar ao próprio pensamento e anotá-lo em uma folha de papel, trazer esse pensamento da abstração do campo das ideias para a materialidade do mundo é um ato de resistência”, expõe Lopes. De acordo com ele, existe uma dedicação em estar com um objeto artesanal que diz muito sobre quem o usa, pois carrega as marcas de sua história.
“A gente vende os cadernos através do e-commerce, mas a principal mensagem é a de que somos uma instituição cultural e que ao comprar qualquer um dos nossos cadernos você está fomentando uma rede de cultura, que envolve a Revista Trama, o Museu de Artes & Ofícios de Juiz de Fora, que foi fundado pela Bodoque, o Fundo Cultural da Bodoque, que é o primeiro e único fundo privado da cidade, o nosso ARTCAST e uma série de outras ações, como o canal no YouTube, o programa Sofá de Música, as discussões do Clube House, palestras, ações presenciais em escolas, oficinas. entre outras ações culturais que são financiadas pelas vendas dos cadernos”, expõe Lopes.
Redes sociais
As redes sociais têm um papel fundamental no caminho trilhado pela Bodoque nos últimos anos. Mesmo antes da pandemia, o ateliê percebeu a importância de fidelizar a base de seguidores. A partir de março de 2020, então, com o aumento das visitas devido ao início do isolamento social, a produção de conteúdo online gerou a possibilidade de se conectar com um público ainda mais engajado nos valores culturais da Bodoque.
“Hoje, talvez, a Bodoque não sobrevivesse sem a produção de conteúdo para as redes sociais, pois percebemos que através delas conseguimos transmitir muitos valores sobre a dinâmica da arte e da beleza do processo artesanal”, argumenta Lopes.
Ele acredita ainda que exista uma conexão maior com os seguidores por causa dos vídeos, que mostram o cuidado da produção de cada peça. “O conteúdo é fundamental para que as pessoas se conectem com esse escopo intelectual do ateliê e sejam fidelizadas”, diz Lopes.
Planos para o futuro
“Pessoalmente, tenho muito interesse em expandir os negócios, pois quanto mais prosperarmos, ganhando receita e território, mais ações culturais seremos capazes de promover”, finaliza Lopes.
Isso porque o e-commerce se tornou a principal forma de arrecadação para ações culturais atreladas à Bodoque, como o Museu de Artes & Ofícios e o Fundo Cultural da Bodoque. Com um alcance maior, ações ainda não realizadas pela falta de verba poderiam ser tiradas do papel. Ou melhor, colocadas nele.
Créditos: Reprodução