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Sinval Farias
SINVAL FARIAS nasceu em Fortaleza, no ano de 1977. É graduado em Letras pela Universidade Federal do Ceará. Atualmente, cursa o mestrado em Estudos da Linguagem pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira – UNILAB. Atua como professor de Língua Portuguesa do Instituto Federal do Ceará – IFCE. No correr da vida, diversificou a produção literária, dando corpo a poemas, contos e crônicas, muitos dos quais premiados em concursos locais, nacionais e até internacionais. Possui textos publicados em diversas coletâneas espalhadas pelas piçarras do mundo. Consta como autor do livro Coisas de sala de aula e outras crônicas (crônica) e Depois de tudo a palavra (poesia). Facebook: https://www.facebook.com/sinval.farias/ Instagram: @profsinvalfarias E-mail: professorsinvalfarias@gmail.com
SOBRE DESPEDIDAS
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Entre todos os temas que vingam de uma cachola em ebulição, o que mais confina a sanidade é tratar de desencontros e despedidas. Há motes menos extenuantes: viagens inalcançáveis, bichos exóticos do Camboja, incursões intergalácticas. Entanto, tange no relógio o desejo sonoro de matutar sobre despedidas. Como não se remedeia, vamos aos costumes. À guisa de praticidade, dividi a liturgia em três partes: a juventude, o tempo e a saudade.
Envelhecer não é somente uma mera produção desenfreada de radicais livres. Isso traz maturidade se confundir com decomposição. Ficar velho parece ser um esquecimento, um sobressalto. Quando menos se espera, cá estamos, ranzinzas e obsoletos, reclamando da música alta na casa vizinha. Melhor aproveitar enquanto a vida ainda soa colorida, e podemos, com traços de alfabetizando, rabiscar o futuro. Juventude é
bom porque dura pouco. Não há nada mais ridículo que um velho dando de rapazola, nem nada mais perigoso que um jovem descrente da liberdade.
Segundo a teoria da relatividade, presente, passado e futuro são ilusões teimosamente persistentes. Concordo, embora não veja mal em cultivar ilusões. Trago memórias fugidias dos tempos de escola. Com esforço e imaginação, reconstruo cenas: as tias do primário ninando as primeiras letras, o recreio e suas filas intermináveis, os amigos que fiz e que me fizeram. Dia desses, reencontrei, por acaso, um amigo de escola. Foi uma conversa rápida, que velhos nunca têm tempo para nada. Havia um quê de intimidade ali. Os ponteiros são implacáveis. Talvez nunca mais volte a vê-lo.
Como apenas é possível medir a dor no irromper da ferida, ninguém entende a saudade sem a experiência da perda. Ah, o se, essa conjunção carregada de remorso. Se não houvesse virado as costas, se duvidasse sem excessos, se dedicasse mais tempo, se entrasse na rua certa, se evitasse chorar ao primeiro tremor, se acreditasse menos no espelho. O se é pura saudade. Quanto de nós se extravia ao nos despedirmos de algo ou de alguém? Das certezas impostas pela existência, a saudade é a mais poética. Está longe de ser sobre realizar tudo, mas sim sobre tentar não esquecer e, se merecido, não ser esquecido.