DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
GLAUCO MATTOSO
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
São Paulo Casa de Ferreiro 2021
Desilluminismo em dissonnetto © Glauco Mattoso, 2021 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ________________________________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA ________________________________________________________________________ Mattoso, Glauco
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO/Glauco Mattoso São Paulo: Casa de Ferreiro, 2021 404p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4 1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
B869.1
NOTA INTRODUCTORIA Na edição impressa, originalmente publicada (2016) pelo sello Martello, de Goyania, esta collectanea reunia sonnettos que thematizavam a mais negativa visão da cegueira, para emphatizar o oxymoro. O volume consistia duma breve selecção dentre milhares de casos compostos no periodo de 2004 a 2012. A partir de 2017, passei a reestrophar em quattro (eventualmente cinco) quartettos a producção anterior, quando não em duas oitavas, alem de compor, tambem em dezeseis versos, todos os casos novos do genero -- formato que baptizei como "dissonnetto". No livro HISTORIA DA CEGUEIRA foram incluidos dissonnettos compostos desde 2017, mas faltava reeditar em dissonnetto o contehudo de DESILLUMINISMO, empreitada que se effectiva na presente versão, em livro digital, que inclue, alem dos poemas avulsos, varios casos cyclicos. Eis, portanto, um repertorio substancialmente representativo da incorrecção politica com que abbordo minha propria perda e, por extensão, as deficiencias alheias.
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GOZO TENEBROSO [5057] Um cego que se assuma desdictoso mas versos faça à venda que lhe vende os olhos, masochista idéa vende, em livro, a seus leitores, que teem gozo, leitores que lerão Glauco Mattoso tal como, persistente, ser pretende: vendendo a vil imagem que se entende por "desilluminismo" luminoso. Jamais me accovardei nem me accovardo naquillo que me attinge e que me affecta. A scena que excancara um torpe bardo, politica não sendo, nem correcta, dar pode um termo ao cego: infelizardo. Assim, "deshumanista", a sua meta é sobrecarregar de foda um fardo fodido, ja, de sobra: o do poeta.
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DISSONNETTO CIRCENSE [0066] Pigmenta no dos outros é refresco. É facil achar graça em mal alheio e nada mais propicio pro recreio que a dor do cego em seu negror dantesco. Meu caso é certamente mais grottesco, pois presto-me ao vexame sem receio: Humilho-me lambendo até pé feio, fedido, sujo, torto ou simiesco. Ridicularizar-me vem a grande diversão de immerso numa agonica emquanto eu, que não
a ser quem me vê deprê, vejo, dou prazer.
Um typo gozador como você, que só por enxergar tem mais poder, vae rir si seu sapato eu for lamber, tal como ri do verso que ora lê.
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DISSONNETTO PERPETUO [0076] Me sinto, emquanto cego, condemnado à pena de prisão domiciliar e cada qual que vem me visitar é mais um carcereiro a ser chupado. Invejo um fuzilado, um enforcado, pesando que terão menor azar. Até ser fellador num lupanar prefiro, mesmo não remunerado. Aqui não tenho excolha: é solidão total, meditação, diaria prece, ou rolla do primeiro que apparesce, chupada sem lavar, sem restricção. O gosto em minha bocca permanesce. Sabores outros perdem-se; esse, não. Do tempo ja perdi toda a noção. Nem sei si é noite escura ou si admanhesce.
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DISSONNETTO SIMULADO [0078] Poeta é fingidor, disse Pessoa, simula mesmo a dor que está sentindo. Desconfiemos, pois, do que é provindo dum cego, si é insensato o que appregoa. Por mais que elle exaggere a dor que doa, reajam com desdem e leiam rindo; Por mais que o purgatorio seja infindo, respondam que seu caso é coisa à toa. É assim que um cego deve ser tractado: sem credibilidade, sem piedade. Practiquem tudo quanto lhes aggrade! Extendam-no no piso, manietado! Obriguem-no ao rastejo, como Sade procedam! Não o chamem de coitado! Si a diversão não for de inteiro aggrado, vae ver que não é cego de verdade!
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DISSONNETTO PRAGMATICO [0103] O cego é prestativo p'ra caralho! Tem muita habilidade manual; Tem sensibilidade sem egual na lingua, e se concentra no trabalho. Supporta humilhação, abuso e malho; Sem nojo, limpa até resto fecal; Practica acto mais sordido e animal que a puta mais rampeira do serralho. Usal-o é mactar logo dois coelhos de uma só cajadada, poppa e proa, às custas de indefesa, vil pessoa: o gajo olha outro gajo de joelhos! Percebe o quanto é bom ter vista boa! Comsigo diz: "Usar nem quero uns relhos!" Desfructa da lambuja nos artelhos, solta uma gargalhada, e a porra voa!
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DISSONNETTO QUEBRA-GALHO [0195] As bellas são beijadas pelos bellos. Os bellos são chupados pelos feios. Os feios, pelos cegos, sem os freios impostos pela esthetica aos magrellos. O povo diz que não faltam chinellos surrados p'ra comforto dos pés cheios de callos, e os ceguinhos são recreios na falta de preguinhos pros martellos. A bocca do ceguinho attura tudo aquillo que lhe impor alguem quizer: sebinho, porra, mijo, o que vier, caralho diminuto ou tamanhudo. Emquanto isso, a boquinha da mulher, que emitte som agudo ou de velludo, recebe o beijo doce, quente e mudo, o mel offerescido de colher.
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DISSONNETTO LUDICO [0197] Sou cego, mas não fui desde menino. Sabia que o tamanho do meu pincto não ia muito alem do dedo quincto e que a partir dalli cresce o pepino. Agora me masturbo, me examino e a duvida fatal ainda sinto. E os outros cegos, quando, no recincto privado, se perguntam: "Grosso ou fino?" "Anão ou gigantão? Sou macho ou não? Exsistem proporções dictas normaes? Como checar meu pau e o dos demais sem aggarral-os todos com a mão?" E surgem outras duvidas fataes que mexem com a mente do povão: Será que a mão do cego dá tesão? Si dá, na certa a bocca dará mais.
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DISSONNETTO AO FIM E AO CABO [0222] Ao cabo de alguns annos bengalando, decoro cada pedra do caminho, o poncto onde alguns galhos com espinho exbarram-me na cara emquanto eu ando. Ao cabo de alguns mezes sonnettando, compor passa a processo comezinho, tal como encher o coppo com mais vinho sabendo, em plenas trevas, quanto e quando. A forma do sonnetto é o quarteirão ao qual, por annos, dando a volta vim trilhando o chão que sinto tão ruim, sem guia ou companhia de outro cão. Caminhos nunca mudam para mim. Só muda a caminhada, ja que não mais prendo-me aos quartettos. Assim vão mudando meus sonnettos. Chego ao fim.
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DISSONNETTO CORRIQUEIRO [0264] Andando de bengala na calçada, o cego passa em frente duma eschola na hora em que um inquieto rapazola tropeça-lhe na vara e esta é largada. O joven cavallão se desaggrada: na vara pisa, e o cego, como esmolla, que tracte de abbaixar-se onde está a sola, emquanto outros moleques dão risada. O cego appalpa Só falta pôr a Offega e sente Que peso, o do
o tennis do bocca sobre o cheiro do vexame e do
estudante. o couro. pisante. desdouro!
Lhe passa pela mente nesse instante: Ja velho, tem seu dia de calouro. Não foi no Bandeirantes nem no Dante, mas vale o mau exemplo, o mau agouro.
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DISSONNETTO PERCENTUAL [0346] Mandei um questionario por correio. Indago sobre o cego, si o boquette é sua obrigação. Responde à enquete um gruppo que desfructa o azar alheio. "O cego é um inferior", diz um, "e creio que até tem de chupar pau de pivete." Um outro diz que o cego se submette sciente que é cobaya no recreio. Resumo da pesquisa: dez por cento são contra a humilhação do ser humano, qualquer abuso pensam ser insano e poupam ao ceguinho outro tormento. Noventa, porem, curtem rindo o damno moral e corporal do pau que aguento na bocca, mais até si for sebento e grosso, em porcentagem, mais dum "mano".
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DISSONNETTO INVECTIVADO [0637] O cego tomba e a molecada berra, sarrista: "Ahi, cegão! Beija a calçada!" O cego tromba e a sadica moçada caçoa: "Ahi, ceguinho! Olé! Se ferra!" O cego ralla os braços pela terra e escuta: "Ahi, ceguinho! Varre a estrada!" O cego entra na publica privada ouvindo: "Ei, cego! Senta, sinão erra!" O cego sae de casa com bengala e volta de muleta, accidentado, passando mais ridiculo, coitado. E a turma: "E ahi? Que foi? Cahiu na valla?" O cego chega em casa e, injuriado, esboça um desabbafo, mas se cala, por causa duma rolla que se entalla na sua bocca, a ouvir: "Ahi, veado!"
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DISSONNETTO DO APPRENDIZADO [0653] O cego é commandado na primeira sessão de fellação que experimenta. O mestre, calmo e commodo, se senta. Se aggacha o cego em frente da cadeira. De inicio, identifica: lambe e cheira o sacco. Pellos prova. A lingua, lenta, a pelle do prepucio acha nojenta mas lava aquelle bicco de chaleira. Ja semiarregaçada, a glande exige total titillação, tacto total, alheia à humilhação que ao cego inflige. O labio ao pau se admolda e, no final, que bocca addentro o mestre até lhe mije o cego, accostumado, acha normal. Aos poucos, com o tempo, se corrige alguma falha à foda funccional.
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DISSONNETTO UNIVERSAL [0879] Calçada agora serve para tudo: deposito de lixo, material de exgotto e construcção, como quintal ou estacionamento ao par desnudo. É salla de visitas ou entrudo aos anjos e marmanjos, e a geral que assiste a uma pellada occasional, affora qualquer outro contehudo. Virou casa da sogra e se destina a tudo e todos, menos à cidade humana, principal finalidade dum publico caminho, exquina a exquina. O cego é quem se fode! Elle que nade no lodo da sargeta, à fedentina subjeito, e que se borre, ou tire a fina no meio duma escada e duma grade!
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DISSONNETTO FUNCCIONAL [0880] É no supermercado que o ceguinho se sente mais perdido quando quer achar seus mantimentos ou qualquer producto que extrapole o comezinho. Affora alguns carrinhos no caminho e varios transeuntes, si tiver noção de que se salva quem puder, exbarra elle na gorda e no velhinho. Bengala attinge em cheio a pratteleira mais fragil e mais farta em mehudezas, emquanto a mão, bobona, ao ar se exgueira, poupando umas mandibulas illesas. É tarde para achar que é brincadeira. Até que alguem o veja e adjude, as mesas de queijos ja tombaram, e a certeira e forte bengalada fez mais presas!
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DISSONNETTO PAVLOVIANO [1005] Testado, o cego chega ao poncto certo somente pelo olfacto: vae cheirando até sentir que augmenta, e appenas quando roçou sabe que encara o "zippe" aberto. O cheiro da cueca arde tão perto do practico nariz, que outro commando de "Chupa ahi!" nem vem e elle está dando no fetido caralho um tracto "experto". Primeiro lava a glande com saliva e lambe o thallo todo, devagar. Emquanto é penetrado, não se exquiva: se exforça, mesmo estando ja sem ar. De toda a dignidade elle se priva: até que a rolla pare de bombar, patente está a funcção mais olfactiva e oral do cego, e que esse é seu logar.
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DISSONNETTO SUGGERIDO [1052] Depois duma mijada, de repente, percebo que o sebinho se accumula debaixo do prepucio, e me estimula a idéa de que alguem me chupe e aguente. Pensei naquelle cego: elle se sente por baixo, e falla em tanta coisa chula, que dá vontade de mandar que engula tambem esta crostinha repellente. Sim, acho divertido, sim senhor! É bom ver o vexame que elle passa! Legal vae ser a hora em que elle for lambendo, emquanto a rolla se arregaça, e o cheiro achar tão mau quanto o sabor! Ahi que mais me excito e acho mais graça da cara do ceguinho chupador fazendo o que eu obrigo que elle faça!
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DISSONNETTO DO MELHOR CEGO [1055] Emquanto o pé de um delles massageio, dois gajos battem pappo alegremente. O assumpto é qual dos cegos mais dor sente e para qual o damno foi mais feio: Aquelle que ja cego ao mundo veiu ou quem perdeu a vista de repente? "Quem nasce assim é bicho, nem é gente!" "Quem perde é o mais perdido em tiroteio!" Apponctam para mim, rindo, as dentuças: "Que tal pôr o ceguinho ahi de quattro, fazer elle appalpar só com as fuças?" E tiram sarro deste meu breu atro. Sciente de que as coisas me são ruças, me calo. Sou palhaço no theatro que bollam: ao invés de foder buças, na bocca dão-me a foda que idolatro.
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DISSONNETTO DAS NECESSIDADES [1062] Na bocca sou mijado! Elle sentia vontade, mas não tinha ainda feito aquillo com ninguem. É meu defeito nos olhos que os instinctos lhe sacia. Seu vaso sou agora! A serventia tornou-se uma roptina, e me subjeito a novas posições, p'ra que o subjeito divirta a vista emquanto se allivia. Me aggacho, me adjoelho, a lingua espicho, cumprindo o que elle manda, e nada vejo: só sinto o gosto quente e engulo o exguicho. Que mais posso esperar, si dou ensejo? Me sinto um germe, verme, virus, lixo! Risada escuto! O mijo malfazejo me engasga! Estou grunhindo que nem bicho! Virou necessidade, e era desejo!
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DISSONNETTO EXCLARESCIDO [1068] O passaro, si cego, melhor canta. Mulher, melhor trabalha, até na cama. Porem, o cego macho, quando mamma, milagre faz, melhor que o duma sancta. Pergunta-se, e a resposta não expanta: Por qual motivo o cego leva fama de magico ao chupar, e nem reclama si alguem quer penetral-o até a garganta? São duas as razões: habilidade maior, ao concentrar-se trabalhando: "com-pe-ne-tra-do", é como eu proprio escando. a outra é pura e simples humildade. Mais baixo é quando um macho está fellando. Não ha, pois, relação que mais degrade nem scena mais analoga à de Sade estando alguem que enxerga no commando.
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DISSONNETTO EXPALHADO [1069] Procura-se um pé chato, largo e grande, que tenha bem mais curto o "pollegar" que o dedo "indicador"! Nesse invulgar formato, algo esculpido alguem me mande! Você, que as dicas pela rede expande, me adjude este pedido a divulgar! Que importa si o modello delle andar descalço ou si em pesadas botas ande! Ja fiz, quando enxergava, collecção de moldes no papel, porem agora que estou no escuro, vejo com a mão. De photos e desenhos estou fora! Appenas pés concretos bons me são! Talvez algum ex-voto numa tora lavrado tenha as formas que darão noção tactil do pé que um cego adora!
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DISSONNETTO SEM DOR NEM DÓ [1071] Ficou cego? O problema não é meu! A minha vista é boa! Eu approveito a vida como quero! Foi bem feito você perder a pose! Se fodeu! Tá achando tudo escuro que nem breu? Tem mais é que soffrer! Eu me deleito sabendo que não tenho esse defeito nos olhos! Cê que chore o que perdeu! Emquanto eu vejo o mundo livremente, você tem que chupar a minha rolla calado! Como a Monica ou a Lola! Engula! Si eu gozar, você que aguente! E tire da cabeça a idéa tola de que outros vão ter dó! Cê tá impotente! Não pode ver, não pode achar que é gente! Quem pode põe-lhe a picca, e eu posso pol-a!
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DISSONNETTO GAIATO [1077] Ouvi, quando passava na calçada: a joven voz, sarcastica, de estallo repicca, martellando seu badalo prophano, gargalhando, debochada. Risada de moleque, mas marcada ja pelo tymbre adulto. Ando e bengalo, sabendo que dou gozo e, ao provocal-o, me sinto reduzido a caca, a nada. De mim falla o rapaz ao seu collega: "Tá vendo aquelle la, cara? Que sarro! Ficou cego! Ou tropeça, ou excorrega! Vae ser attropelado pelo carro!" Que riso causa a gente quando é cega! Os dois ficam torcendo, e quasi exbarro no poste. Sei que a mão elle até exfrega na rolla, quando atolo o pé no barro.
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DISSONNETTO ALEATORIO [1079] Lambendo cegamente, cegamente chupando, sem excolha ou preferencia, ouvindo ordens e risos, violencia temendo, eis como o cego está e se sente. Nem todo cego é cão, nem toda a gente o tracta assim, mas poucos teem sciencia de como a visual deficiencia reduz alguem ao nivel indecente. O cego adspira odores nauseantes e sabe que proveem do pouco asseio num pé que nunca a bocca tocou antes. Emquanto passa a lingua bem no meio dos dedos, ordens ouve, degradantes. Mas lambe, sem saber si é bello ou feio o macho que o fará, dentro de instantes, provar que é mais amargo o esperma alheio.
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DISSONNETTO DESLUSTROSO [1084] Quintana diz que as tribus de outras eras vazavam do poeta os olhos sãos de modo a que enxergasse só os desvãos que estão entre as verdades e as chimeras. Mas hoje, o que é mentira e o que é, deveras, na mente confundimos: nem pagãos, nem crentes ousariam pôr as mãos na jaula, a ver si estão vivas as feras. Os cegos, ora inuteis como vates, só servem hoje em dia para officio bem menos importante: o de engraxates. Homero não deixou nenhum resquicio capaz de ensejar lubricos debattes. Rarissimos aquelles cujo vicio secreto seja, alem de engraxar gratis, dizer que usam a lingua, como eu disse-o.
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DISSONNETTO DA HARMONIA UNIVERSAL [1110] Perfeita, entre dois homens, a ballança: um delles cego e um outro vendo bem! O cego ja enxergou, mas o que tem visão normal lhe impõe dura cobrança: Terá de se humilhar, mais do que alcança o estoico, ou o christão dizendo "amen"! Ao nivel do animal irá, que nem cavallo ou cão, servir a quem o admansa! Àquelle que perdeu, tudo é castigo; ao outro, é como um premio usar um cego: não corre o mundo, assim, nenhum perigo. Martello batte. Leva ferro o prego. O cego é joio. O gajo normal, trigo. As coisas se equilibram: eu carrego o peso da cegueira e, então, me obrigo, chorando, a ouvir-lhe o riso, ao qual me appego.
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DISSONNETTO DA TRADIÇÃO ORAL [1112] Sansão, a besta de riso mostrou
tão forte e heroico, reduzido de tracção, virou motivo até às creanças e, captivo, que usar um cego é divertido.
Soffrendo açoite, ouvindo só ruido das vozes em redor, seu primitivo exemplo é como o meu, que hoje me privo da imagem, soffro, escuto e não revido. Um macho faz de mim chulo palhaço: nas pregas do seu cu meus labios grudo; nas solas de seus pés a lingua passo e escuto cada chiste estando mudo. Daquelle philisteu servo me faço. Seu penis me usa a bocca e engulo tudo, sabendo que elle, sadico e devasso, vae, para me açoitar, ver-me desnudo.
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DISSONNETTO DO REINO ANIMAL [1113] Emquanto você brinca com meu drama, percebe como é bom ter vista boa. Inerme, o cego soffre, a esmo, à toa, nas mãos do amo, a quem teme, mas não ama. De quattro pelo chão, e não na cama, exponho a pelle clara. Quando soa o estallo, ouço-lhe a voz. Por mais que doa o golpe, estou attento a quem me chama. Um homem sem visão reduz-se a bicho e quem o chicoteia se diverte. Andando ao meu redor, vem-lhe um capricho, que logo satisfaz, mordaz, sollerte: Me chuta feito um sacco para o lixo. Seu pé me empurra a cara e, antes que accerte mais uma chibatada, o quente exguicho encheu-me a bocca. Appanho e bebo, inerte.
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DISSONNETTO DA MALSAN CONSCIENCIA [1116] O gajo que me abusa da cegueira quer ver-me chupador e goza sendo mammado no caralho. Assim, dependo da sua imposição, queira ou não queira. Mas elle quer que eu chupe de maneira mental e moralmente humilde, tendo total concentração no estado horrendo de quem é cego para a vida inteira. "Perdeu a vista? Então tem de pensar só no meu pau, agora! Sim, eu piço emquanto você trampa! Pense nisso, ceguinho: em minha sorte e em seu azar!" Prestar toda a attenção nesse serviço buccal, movimentar o maxillar bastante e, ao mesmo tempo, o paladar curtir do meu destino: eis o feitiço.
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DISSONNETTO DOS MUDOS DISSABORES [1118] A sensibilidade tactil vae fazendo com que o cego se accostume ao corpo do malandro ou ao volume da rolla, cuja porra a bocca extrae. Lanhado de lambadas, sem um "ai", seus labios com doçura ao azedume respondem. O amargor que o fel resume virou salgado: é a rolla, que entra e sae. O cego saboreia. A lingua passa por baixo da cabeça, como ordena do joven folgazão a voz devassa, risonha, que faz chiste e faz chalaça. O gajo mais addentra até, sem pena. Bombando, a rolla, que não é pequena, affunda até a garganta e, da desgraça do cego, uma vantagem tira, plena.
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DISSONNETTO DO CLIENTE EXIGENTE [1261] O pau pode ser sujo, mas a precisa sempre estar muito Assim pensa o cliente, que a puta chupadora, e nem se
bocca limpinha. expezinha toca.
Não quer elle saber si ella é masoca; importa é receber a chupetinha completa, no capricho, como a minha no pau de quem enxerga e me provoca: "Então, ceguinho? A bocca tá lavada? Não quero bocca suja no meu pau! Sujeira, basta a minha!" E dá risada da minha posição no baixo grau. Eu vou me degradando, vez mais cada, e, emquanto elle desfructa e geme um "Uau!", lhe lavo com a lingua uma ensebada piroca, supportando o cheiro mau.
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DISSONNETTO DA DISCIPLINA MENTAL [1423] Perguntam-me si sou mesmo capaz de só pensar no horror de ter perdido a vista, emquanto chupo dum rapaz o penis e na bocca sou fodido. Respondo: muita differença faz si penso nisso e, lucido, regrido ao tempo em que enxerguei. Isso me traz a exacta sensação de estar punido. Tambem fallando o gajo se deleita, pois outra coisa importa: como o cara me tracta, emquanto a porra não dispara garganta addentro. A formula é perfeita: Sim, basta a quem, sorrindo, rolla e deita, dizer-me que estou cego por castigo divino e que, portanto, faz commigo aquillo que Deus manda e elle approveita.
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DISSONNETTO DA VERDADE DURA [1424] Si tudo que accontesce Deus deseja, até sua cegueira foi castigo. Encare essa verdade, nem que seja preciso ser mais duro no que digo. Então direi que, emquanto alguem festeja a vida (o que se dá sempre commigo) e tudo quer servido de bandeja, os outros só padescem, e eu nem ligo. É justo, assim, que eu faça com você aquillo que quizer, e dou a dica: que seja seu penar e que me dê prazer, como na bocca pôr-lhe a picca. Você tem que chupar! E pense appenas que pode ser menor a sua zica, pois suas dores são até pequenas: peor é quando surdo um cego fica.
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DISSONNETTO PARA O DEVIDO VALOR [2037] Ei, cego, não se enxerga? Quem exige respeito e privilegio aqui sou eu, que vejo normalmente! Não me afflige a sua escuridão! Problema seu! Não pode Você não Só serve na bocca
ler, não tecla, não redige! vale nada! Se fodeu! mesmo para que eu lhe mije suja de poeta atheu!
Não pare! Se concentre no serviço! Seu nivel é ficar do chão no rés! Que tenha utilidade ao menos nisso: massagem relaxante nos meus pés! Si cobra mais respeito, dou risada na sua cara! Achou algum viés mordaz na minha voz? Um cego aggrada só sendo massagista nota dez!
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DISSONNETTO PARA A PLETHORA SONORA [2053] Embora eu seja actor muito doado e versos meus declame, quando o show tem alto o som, eu perco o rebollado e muito attordoado logo estou. Um cego tem ouvido ja treinado, mais fragil e sensivel: mal me dou direito de elevar o tom num brado poetico, e a pauleiras não mais vou. Até no ouvido posso sentir dor! Os amplificadores, a guitarra, os echos electronicos, são farra à qual nem me convidem, por favor! À musica, sim, tenho o meu amor. Ainda um rock eu amo, mas reduzo nos phones o volume, pois confuso fiquei si sou ouvinte ou fingidor.
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DISSONNETTO PARA UM DISPOSITIVO CONTRACTUAL [2054] Eu, Glauco, me declaro perdedor por ter ficado cego. Este instrumento celebra que quem vê pode me impor tarefas, a partir deste momento. Com bocca e mãos farei seja o que for, até satisfazer seu mais nojento prazer. Qualquer que seja o gosto, o odor, calado eu obedesço e o drama enfrento. Serei seu massagista, fellador, cobaya de torturas, caso a dor que sinto lhe provoque mais tesão. Scientes duas partes deste estão. Emquanto elle usufrue da luz, da cor, contento-me, no cheiro e no sabor, em ser-lhe, ao pau, buraco e, aos pés, um cão, contracto que firmei com meu dedão.
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DISSONNETTO PARA UMA CONCLUSÃO PHILOSOPHICA [2058] Deliro com a idéa de que, emquanto me fodo na cegueira, elle, vanglorio, deleita-se sabendo disso, e tanto que a scena tem poder masturbatorio. A idéa delle é logica: levanto seu pau porque, no mundo, ao purgatorio do cego elle excappou, nem sendo sancto, e meu destino que eu o purgue e chore-o! Portanto, é natural que elle supponha que estou adjoelhado. No seu sonho, meus labios o punhetam: sua bronha accaba em minha bocca, o que me imponho. Serei, emquanto chupo, consciente dum facto que, por vezes, é medonho: no tracto entre dois homens, eu somente chorei; elle estará, logo, risonho.
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DISSONNETTO PARA O ENCAIXE DAS PEÇAS [2059] Um chora e chupa, si outro goza e ri. Assim a relação entre os humanos, na logica, equilibra-se por si, cumprindo universaes papeis e planos. Um outro é ganhador porque perdi. Agora que não vejo, soffro os damnos, emquanto elle desfructa: "Chupa aqui!" E tenho de engolir meus desengannos. Não ha como negar e não me illudo. Quem usa minha bocca tambem usa seus olhos e usufrue dessa profusa e multipla paizagem: delle é tudo. Não posso recusar nem ser marrudo. A mim cabe, no escuro, o paladar e usar a minha lingua para dar prazer sensorial ao mais sortudo.
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DISSONNETTO PARA UM ARDOR ANIMADOR [2063] O gajo nem me admarra: não precisa. Sem vel-o, dansarei sob o chicote que, contra minha pelle, branca e lisa, estalla, até que o sangue, rubro, brote. Em minha bocca a picca antes que bote, prefere divertir-se, e diz que visa peccados meus punir, pois, como motte, invoca o Alem, de penitencia à guisa. Appós levar a surra, me contento, no meu desconsolado desencanto, em ser, para seus pés, o mais attento e humilde massagista, por emquanto. Seu pau sei que enduresce, quando o açoite me lanha, quando, em dores, não levanto meu proprio, pois debatto-me na noite dos cegos, e elle vê: goza, portanto.
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DISSONNETTO PARA A VIDA TERRENA [2067] Mendigo ha que não valha seu albergue e ha quem meresça a cama em que se deite. Portanto, sorte minha que eu envergue mais cara roupa e a vida eu approveite! Melhor que um cego soffra e que eu enxergue! Mais util, para o gajo, é que elle acceite que eu gozo ao vel-o cego: meu pau ergue, nas calças, a cabeça, de deleite! E, caso elle me chupe, não alem da obrigação, que não no orgasmo oral tão só, si a chance de ser util nesta
fará se encerra alguem lhe dá Terra!
Que soffra, pois! Complete-me a delicia chupando! Bom cabrito nunca berra! Se exmere! Minha rolla engula e attice-a! Assim seja: o Destino jamais erra!
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DISSONNETTO PARA UM SABOR ARTIFICIAL [2070] Dum cego a bocca inutil se alimenta do alheio pão que é dado. Muito justo, portanto, que ella, esteja ou não sedenta de rolla, leve a dicta, alem do susto. Eu proprio, quando chupo, mesmo a custo, alguma rolla suja, de nojenta não chamo: seu sabor provo e degusto tal como si a chupar balla de mentha. A bocca que a chupar está se cala. Ser util, para um cego, significa chupar de quem enxerga a dura picca e ouvir as gozações que o gajo falla. Um gajo bem chupado se regala. Appós haver gozado, elle graceja que, como não tem gosto de cereja, que eu finja ter sabor de mentha a balla.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
DISSONNETTO PARA UM DEFICIENTE NO ORIENTE [2082] Paizes asiaticos manteem o que seu ancestral ja practicava: do pão em troca, um pobre cego é quem mais duro com a vida a lucta trava. É a mão do cego escrava, a bocca escrava: defesa ou assistencia de ninguem recebe quem não vê, que tracta e lava os pés de quem o mundo enxerga bem. Só tem habilidade nisso: então que empregue efficazmente sua mão e a sola massageie do homem são que nunca o tractará como a um irmão. Na bocca, elle accommoda o penis: faça bem feito, e não reclame si acha graça o gajo do vexame que elle passa, ainda que se passe em plena praça.
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DISSONNETTO PARA A GRATIDÃO NA INAPTIDÃO [2083] Total escuridão! O cego indaga: "E agora, o que é que eu faço? A vida é dura!" Alguem lhe diz: {Peccados você paga! Meresce, então, passar por essa agrura!} "Mas quem irá pagar-me uma bisnaga de pão? Sou incapaz!" {Deixe a frescura de lado e chupe rolla!} Como adaga lhe soa esta verdade, que o perfura. Assim a vida corre e o mundo roda. O cego se convence de que o fracco e invalido não passa dum buraco no qual, folgado, um penis se accommoda. Se exforce! Especialize-se na moda! Que mexa, pois, a lingua e na garganta aguente o que vier! Si almossa e janta migalhas, aggradesça, e leve a foda!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
DISSONNETTO PARA A CONSCIENTIZAÇÃO DO CEGO [2084] "Você nem tem prazer! Só tem consolo! Si chupa a minha rolla, eu que desfructo!" Bem sabe o cego, ouvindo isso, que o bollo é grande, mas seu naco é diminuto. "Eu gozo duplamente: ao meu pau pol-o na sua bocca e ao ver que o que perscruto você não pode ver! Si não for tolo, relaxe, cego, em vez de ficar puto!" O cego, que servir pode a quem vê appenas com a bocca, franze o cenho, as palpebras apperta, diz: {Você está com a razão... Prazer nem tenho.} {Só tenho a sensação de prestativo estar sendo (lhe embarga a voz, roufenho) aos outros, ja que a luz de que me privo lhe sobra...} E a bocca exmera o desempenho.
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DISSONNETTO PARA A VOCAÇÃO DO CEGO [2089] Chupar, a quem é cego, significa contacto com o mundo que o rodeia e humilha: o sujo gosto duma picca se torna o paladar que saboreia. Apprende a dar a technica sem a rolla, sente parado, e logo
prazer assim, e applica nojo: mal tacteia o cheiro, mas não fica está de bocca cheia.
Eis como o seu destino um meme escreve: A lingua, ja treinada, o cego move por baixo da cabeça: caso escove direito, o pau exporra em tempo breve. Não faz cu doce a bocca, nem faz greve. Os labios vão, em volta do caralho, de leve deslisando. No trabalho capricha o cego: assim faz o que deve.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
DISSONNETTO PARA A MENTALIZAÇÃO DO CEGO [2090] Emquanto chupo, penso: "Assim é o mundo! Prazer a dar me obrigo e estou no escuro, soffrendo a privação..." No mais immundo caralho é mais sensivel meu appuro. Do velho obeso ao joven vagabundo, disponho-me a fellar o pincto duro ou molle: confiança lhes infundo no tacco, e bom tesão lhes asseguro. Pois sabem elles como um cego pode ser util: melhor mamma que bebê grandinho. Quem na minha bocca fode se sente superior, porque me vê. Não vejo quem me goza na garganta, mas ouço-lhe a risada, pequepê escuto, sem fallar, e entendo quanta razão, quando me fode, tem você.
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DISSONNETTO PARA UMA MULHER DAMNADA [2117] Ficou, na Parahyba, Cabaceiras famosa pela cega que dizia: "Eu quero é me lascar!" Entre as rameiras, nenhuma mais soffreu da freguezia. Fodiam-na na bocca! Com maneiras estupidas forçavam-na, e ella abria boceta e cu, que as piccas mais grosseiras em carne viva punham, na sangria! Sahiam sem pagar e a pouca grana ainda lhe roubavam! Quem se damna assim aguentaria um lupanar? Assim quem quereria se damnar? Pois ella alli ficava! E quando alguem, lhe escuta o choro e soccorrel-a vem, terá de ouvir: "Eu quero é me lascar!" Queria estar alguem no seu logar?
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
DISSONNETTO PARA UM HOMEM DAMNADO [2118] Aqui na Paulicéa, um cego está na mesma condição daquella cega que, desde Cabaceiras, ficou ja famosa pela phrase que se emprega. "Eu quero é ser pisado!", digo ca commigo e para aquelle que não nega seu sadico tesão e a intenção má de ser chupado e, assim, "lavar a jega". Depois de ser fodido sem ver nada, appenas escutando-lhe a risada, na cara levo um tapa e um "Cala o bicco!" Nem penso em reagir e quieto fico. Em vez de lamentar-me, appenas cito a cega e reconhesço-me maldicto: com dor e humilhação me identifico. No cego o pau batteu e não no Chico.
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DISSONNETTO SOBRE A VOZ POETICA [2807] Naquelle tempo, nem havia IBAMA, por isso é que um espirito damninho furou, sem compaixão, do passarinho os olhos, e ninguem delle reclama. Uns dizem "passo preto", ou que se chama "assum", mas qual será nem adivinho. Só sei que, p'ra cantar mais bonitinho, o bicho, cego, em choro se derrama. Coitado! De gaiola nem caresce! Impossibilitado de voar, é como si soltinho elle estivesse e quasi nem se affasta do logar. A gente da canção jamais se exquesce: Gonzaga comparou-se àquelle azar, mas eu é que sou passaro! Uma prece me resta: "Dae-me, ó Zeus, voz p'ra cantar!"
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
DISSONNETTO SOBRE UMA DECLARAÇÃO REITERADA [3014] A quem interessar possa: declaro, para os devidos fins, que reconhesço ser cego merescendo, e pago o preço que devo, mesmo sendo um preço caro. Portanto, mentalmente me preparo e estou prompto a chupar. Si gostam, desço ao nivel do animal e, no endereço que occupo, um visitante nunca é raro. Moleques ou adultos, todos querem testar si um cego chupa mais gostoso que a puta, e chupo todos que vierem curtir o meu buccal carão de Bozo. Calado, ouvindo tudo que disserem, divirto-os duplamente, pois dou gozo carnal e psychologico. Liberem, assim, seu trauma em mim, Glauco Mattoso.
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DISSONNETTO SOBRE A EXPERIENCIA OLFACTIVA (I) [3032] O cego, prisioneiro, é submettido ao "teste do cocô": de quattro e nu, procura, farejando, o que do cu do sadico instructor haja sahido. Debaixo de chicote, não duvido que accabe, logo, achando esse tutu fedido e endurescido, que urubu nenhum acceitaria ter comido. Focinho rente ao troço, o que incentiva o cego a abboccanhal-o, alli no piso, é o toque da chibata imperativa. Que tracte de comer, si tem juizo! Emfim, tenta a dentada decisiva: Vacilla, mas mordisca! Nem preciso dizer que, no seu dente e na gengiva collada, a merda induz o algoz ao riso!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
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DISSONNETTO SOBRE A EXPERIENCIA OLFACTIVA (II) [3033] Tractar um cego assim é bem commum, ainda em nossos dias, num paiz que, outrora, era Indochina: é o que me diz um cambojano, sem pudor nenhum. Occorre que o detento, na mão dum malvado carcereiro, por feliz se dá si ainda enxerga! Quem não quiz comer por bem, agora ache o fartum! E o cego, sob açoite, anda, engattinha, afflicto, em direcção ao que lhe ennoja o olfacto: a bosta, alli, secca e durinha! Por ella, em desespero, ao chão se roja! Sorriu quem viu que, inerme, elle ia e vinha... Terá que degustal-a e, si de soja ou peixe algum sabor achar que tinha, ganhou mais um gastronomo o Camboja.
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DISSONNETTO SOBRE O SENTIDO DE POSIÇÃO [3034] Devido à posição baixa em que fico, passivo, de joelhos, bocca aberta, em face do sarcasmo que desperta, alguem me appellidou de "chupinico". O termo foi feliz, ja que do penis jorra o mijo que la dentro, na garganta e, xixi bebido, eu pago mais
do bicco me accerta humilde e allerta, um mico.
Agora quer gozar quem a bexiga, folgado, alliviou. Sem ver-lhe a cara, naquella má grammatica da tara, escuto a voz risonha, que castiga: "Mammando ahi, ceguinho! Anda! Não para! Engole tudo! Assim! Soffreu? Não diga! Achou que vomitar, até, periga? Problema seu! Não sou eu quem se azara!"
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
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DISSONNETTO SOBRE O TESTEMUNHO DO LEITOR [3051] Eu nunca tinha sido bem chupado. Mulher nenhuma sabe fazer isso, excepto algumas putas, si o serviço for especialidade, e é caro o achado. Os gays tambem não sabem, quando o lado anal lhes predomine. O mais submisso no sadomasochismo, nesse eu piço, exporro-lhe na bocca e bem me aggrado. Mas e a seu Com
seja um alleijado, seja um cego, bocca desse invalido será trumpho na desgraça. Atroz? Não nego. isso quem se importa, affinal? Bah!
Na minha consciencia me assossego. Si um cego me chupar, sei que elle está mostrando habilidade, e descarrego em ecstase. Ah, o prazer que isso me dá!
[trunfo]
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DISSONNETTO SOBRE UM FIASCO SEM ASCO [3066] Papeis os mais ridiculos eu faço na hora de comer uma fatia da torta de morango: o cego enfia na bocca, com os dedos, o pedaço. O creme me empastella e deixa um traço branquinho pela cara. Ha quem não ria, ao ver-me, da fatal physiognomia que obstento, semelhante à dum palhaço? Na poncta do nariz vê-se grudado, inteiro, um vermelhissimo morango, e o comico retracto é remactado ao som duma bandinha de fandango. Sim, ja me conformei sendo gozado! Si forem me filmar durante o rango, que scenas flagrarão! Mais me degrado filmado emquanto chupo, e nem me zango.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
LAMBADAS LEMBRADAS [3091] Assim me accontesceu: a caminhar eu vinha, accompanhado do meu guia, por entre a multidão que se expremia na porta dalgum banco ou dalgum bar. "Eu não queria estar no seu logar!", escuto, e a voz do gajo que dizia aquillo, zombeteira, me sorria cortante, mais que um relho a chibatar. O guia nem notou, attento à frente. Só soube me dizer que se tractava do pappo entre um porteiro e algum cliente. Mandou aquelle assumpto, assim, à fava. Comtudo, foi-me muito contundente, pois era para mim que elle fallava, curtindo, impunemente, a dor que sente alguem que não enxerga e, ouvindo, grava.
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CASOS KOSINSKIANOS [3167] Kosinski conta, e facto cru conhesço, egual ao de outras victimas cegadas, que compro e vendo pelo mesmo preço, contados pelas boccas das más fadas. Um caso tal é sempre divertido. No rustico rincão, quem assedia mulher casada é pego. Seu marido se vinga e torna cego o que antes via. Invalido e indefeso, o moço accaba na mão dum malfeitor, que lhe escraviza a bocca. Servirá, na marra, à guisa de puta, com o labio, a lingua, a baba. Que tenha uns mil chupado não duvido. Apprende a obedescer ao proprio guia e logo o malfeitor o "aluga". É tido na aldeia como "a bicha que não chia". Até foi o marido ao endereço, tal como dum bordel pelas quebradas. O cego, mesmo ao homem tão advesso, chupou-o e delle ouviu as gargalhadas.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
TERMINAL TERMINOLOGIA ou DISSONNETTO DO GLAUCOMA MEDICADO [3188] O "campo visual", sob um glaucoma, vae sendo reduzido a cada exame. Formato de concentrico alvo toma e ao medico não compta que eu reclame. Lhes dar um panorama aqui procuro: Supponham ser tal alvo metralhado por tiros que o perfurem: cada furo seria um "poncto cego" addicionado. Affirmam oculistas que, primeiro, os furos se accumulam pela beira do campo; a ponctaria é mais certeira, mais tarde: attinge o centro e o campo inteiro. Ou seja: é o termo technico inseguro e, como deu azar para o meu lado, mais cedo o central circulo no escuro ficou, abbreviando o resultado. Chamou cada buraco de "escotoma", na terminologia do vexame, a mesma medicina que me embroma. Progresso? O que progride é o mal infame!
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MINIMO MULTIPLO INCOMMUM [3192] Sonhar, ao menos, nada ha que nos vete. Que, mesmo os perdedores, como um cego, são dignos de vencer, isso eu não nego, mas pouco o nosso mundo nos promette. Aqui, contra a corrente é que se rema. Cegueira é impedimento para tudo: viagens, espectaculos, cinema, alem do accesso à rede, ao "contehudo". A graça da viagem é o que vemos. Um show é só barulho sem a scena. A tela, só com som, fica pequena. Sem mouse, o transatlantico anda a remos. Ninguem ha que supere esse problema. Mas, como não é surdo nem é mudo, o cego, que viaja no poema, inventa o palco, a tela, o assumpto, o estudo. De toda cor pinctando vou o septe. Si quanto mais me isolo mais me aggrego, provei que, em verso, é immenso um reles ego, ao menos quando sento na retrete.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
SENTENÇA TRANSITADA [3271] Aquelle cachorrão inspira medo. Está sem focinheira e, na calçada, a fera é por seu dono accompanhada, mas sustos vae causar, mais tarde ou cedo. Depois de despejar a sua bosta, o cão advista um cego que passeia, sozinho, bengalando pela opposta calçada, e lhe arreganha a cara feia. O cego o ouviu rosnar. Porem, calcula que o dono o mantem firme na colleira. Qual nada! A fera, à solta, ja se abbeira da rua e, em direcção do cego, pulla! A grave situação estava posta. Foi rapida: a distancia que medeia as margens é um pullinho, e o cão ja encosta no cego, quando um carro tarde freia. Paresce que o destino poz o dedo... Por pouco: jaz a fera, ensanguentada, no asphalto, e o cego segue a caminhada. Ao dono, o dia fica mais azedo...
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O CONJUGADO E O SUBJUGADO [3385] Ser cego é ter, a menos, um sentido, dos cinco o primeirão e principal. Ficar cego é chorar tel-o perdido, soffrer, como castigo, o maior mal. Ser cego é superar algum limite, querer que não o chamem de coitado. Ficar cego é sentir-se rebaixado ao cão que, outrora solto, a jaula habite. Ser cego é compensar, tudo appalpando, ouvindo e farejando, mais agudo. Ficar cego é chupar, engolir tudo, ouvir risada e as ordens de commando. Ser cego é achar que ao cego se permitte algum prazer. Ficar, por outro lado, é ter que rastejar e, no solado, lamber o pó, de alguem que, ao ver, se excite. Ser cego é revidar. Eu não revido. Ser cego é não pensar que foi fatal. Fiquei, eu: levo o chute e nunca aggrido, pois creio ser destino um logar tal.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
HERVA ESSENCIAL [3398] Fizeram sacanagem, sim, commigo! Ah, não! Não é possivel! Quem será que andou pondo veneno no meu cha? Não, gente! Não meresço tal castigo! Explico ao meu leitor a situação. No meio da cegueira, tudo preto enxergo em pleno dia e, à noite, não descanso sem compor mais um sonnetto. Mas, antes de deitar, si tomo o tal chazinho da vovó, cores começo a ver, kaleidoscopicas, e peço que aquillo nunca accabe! É tão legal! Agora sacar tudo vocês vão. Não é que alguem trocou os potes? Metto num delles a colher, preparo e, então, percebo que tomei pó de graveto! Alem de não saber disso o perigo, não vejo mais as cores! Só me dá vontade de mijar! Que sorte má! Cuidado com os chas, é o que lhes digo!
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O PEIXINHO E O PATINHO [3445] Junior sadico, sou filho do patrão, cujo sobrinho, que adoptou, é maltrappilho, de paes orpham e ceguinho. Desse invalido eu me pilho a abusar, rindo, excarninho. Me divirto emquanto o humilho, pondo pedra em seu caminho. Diz papae: "Fique à vontade, brinque mesmo, não se importe, se approveite delle!" E em Sade me transformo, por esporte. A ser bicho e a me chupar, ja que sou mais alto e forte, o ensignei, pois seu azar só reflecte a minha sorte.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
PERU ENGOLIDO [3517] A torcida, que se aggruppa, commemora o gol do time: a quem perde, intima "Chupa!", e esse grito tudo exprime. O ceguinho nem com lupa lê jornal, mas não se exime: ouve o radio e se preoccupa que a chupar alguem o intime. Sempre rolla tal façanha. Para um time rebaixado elle torce, e entende o brado de quem, rindo, delle ganha. Scena assim ninguem extranha. Intimado, se adjoelha e, aggarrado pela orelha, um caralho elle abboccanha.
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A VOLTA DO MOTTE DA PUTA [3611] Cabaceiras, ninguem nega, ja deu puta masochista. Em São Paulo, em vez da cega, é fatal que um cego exsista: O poeta, que se entrega, quando um sadico o conquista. Quer soffrer, como a collega, e escutar, em tom sarrista: Dou risada do seu choro! De você faço gracinha! Cego, engula o desafforo! Faça, mudo, a chupetinha! Você chora e eu dou risada! Foi feliz quem escrevinha: "Sua avó, puta de estrada! Sua mãe é femea minha!"
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
A VOLTA DO MOTTE DO CARALHO [3616] Meus leitores, lhes respondo à questão que alguem me fez, si, no escuro do hediondo fado, eu penso em cor, talvez... Sim, meus caros! Não escondo: da memoria sou freguez! Mas meu pau vive me impondo: "Só farejo e ouço, não vês?" Fedor, ordens, sinto e escuto, qual Sansão dum philisteu, como cabe a um cego puto. Meu tesão, pois, não morreu... Meu pau cego está, de vez! Foi feliz quem escreveu: "O caralho de vocês é differente do meu!"
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A VOLTA DO MOTTE DA CEGA [3620] Como a puta nordestina que fez fama em Cabaceiras, ha no Sul quem não refina com pudor suas maneiras. Um poeta, cuja signa é ver culpa nas cegueiras se rebaixa, bebe urina, lambe pés, canta as sujeiras. Delle goza o algoz na bocca, affundando o seu peru. Si, poupada, estiver oca, pau no cu não é tabu. Conta o sadico a um collega, repetindo o motte cru: "Pude illudir uma cega! Dei-lhe uma foda no cu!"
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
A VOLTA DO MOTTE DO OLHO [3624] Muita coisa eu vi na vida, com dois olhos que hoje estão mergulhados na soffrida e total escuridão. Vi piroca endurescida pela frente e egual tesão por detraz! E quem duvida viu tambem, mas diz que não. Não duvidem dum ceguinho, inclusive ahi você, porque tudo eu adivinho, mesmo quando ninguem crê! Deste motte eu não duvido. Duvidar, eu? Qual o que! "Eu tenho um olho escondido que é cego mas tudo vê."
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ANTES MAL ACCOMPANHADO! [3837] Às vezes, cego e só, me desespero. Cercado fui de amigos, mas, agora, nem mesmo um inimigo commemora a minha solidão, e morrer quero. Passada a depressão, reconsidero e entendo que alguem pode, a qualquer hora, batter à minha porta, pois vigora ainda o meu regime, que é severo. Quem soffre a punição, nesse regime, sou eu, bem entendido, que me humilho, deixando que algum sadico se anime. É minha solidão, como gattilho, que exposta deixa a victima a algum crime. Emquanto, com a lingua, dando um brilho em sujas botas vou, e alguem me opprime, ao menos algo a dois eu compartilho.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
BATHOPHOBIA [3850] A cegueira nos illude: mesmo em casa, me appavora, não havendo quem me adjude, caminhar, confesso agora. Sempre assumo uma attitude precavida: si estou fora, temo o piso, arisco e rude; si estou dentro, o que me escora. Sensação tenho de estar, sem appoio, em mau local ou suspenso, num logar escurissimo e abyssal! Como, em sonho, a gente pisa num boeiro ou lodaçal, num buraco e affunda, bisa, accordado: é tudo egual!
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PHOTOPHOBIA [3868] Quando ainda um pouco eu via, evitava a luz solar. Quanta inveja da alegria que enche um passaro a cantar! Mas, alem da luz do dia, eu temia a do logar onde estava: a cama fria deste quarto tumular... O abajur, por si, ja dava (penso nisso e, afflicto, offego) a impressão que, em mim, se aggrava: o pavor de ficar cego! Hoje, em trevas, nada eu temo e a mais nada aqui me appego tanto, excepto o proprio Demo, a quem, supplice, me entrego.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
TYPHLOPHOBIA [3880] Todo mundo da cegueira medo sente: eu tambem tinha. Si não ha quem cego queira ser, que signa foi a minha! Minha lyra até ja beira a loucura e, emquanto allinha chulos versos, ouve e cheira uma pleiade excarninha: Milton, Borges, Adheraldo... Um Homero, até, se evoca. Herdei delles este saldo mais ironico e masoca. Mas de mim quem sente medo pelo gozo o medo troca quando vê que a lingua eu cedo a seus pés, sem mais minhoca.
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PERFEITO JUIZO [3925] "Um cego é como um porco! Elle só come usando as mãos! Se suja, se lambuza..." Assim diz um subjeito de confusa noção sobre a cegueira. Ommitto o nome. Prosegue o gajo: "Caso um cego tome na bocca o que um normal cospe e recusa, até que o paladar delle deduza que é podre, na garganta aquillo some!" "A lingua delle limpa até xixi, até cocô, si a gente quizer ver! Eu mesmo ja pedi p'ra ver, e vi as coisas que capaz é de fazer!" Me calo quando um gajo de mim ri. Ouvi calado (ouvir é meu dever de cego) o que elle disse e penso, aqui commigo: "E o que elle viu lhe deu prazer..."
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
O CEGO E A ESCRIPTORA [3973] Sou o cego que Clarice viu: estava eu na calçada, a mascar chiclettes, disse. Pois Clarice estava errada. Ella achou, mas é tolice, que, ao mascar, eu dou risada. Ah, coitada! Si ella visse como eu choro! Não viu nada! Si é mais solido o que eu coma e eu mastigo, ora paresce que estou rindo, ora padesce meu esgar, deste glaucoma. Faz ficção que não embroma, mas Clarice devaneia, pois não sabe como é feia a cegueira, e dura a gomma.
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BONDE DO CEGUINHO [4022] Funkeiro de verdade não tem dó! Um cego me diverte e eu tiro sarro! Si está no meu caminho, eu logo exbarro! Empurro, dou rasteira, e não é só! A grana eu lhe roubei p'ra comprar pó! Da cara delle rindo, eu nella excarro! O faço excorregar, cahir no barro! Lhe piso na cabeça e no gogó! Estupro de ceguinho é divertido! Zombar delle é legal, fazer de gatto! Montar nelle, enrabar, eu que decido! Limpar na sua cara meu sapato! Mais elle que reclame, mais aggrido! Não posso ver um cego, que eu maltracto! Está no escuro, e eu vejo colorido! Que chore! Eu dou risada emquanto batto!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
INTERJECTIVO INCENTIVO [4024] Um passaro é cegado p'ra que cante melhor. Uma mulher, sem a visão, será melhor chupando... Por que não? Treinada, não ha bocca que a supplante. Um cego tambem pode ser bastante capaz dessa tarefa: a vocação da bocca se exercita, pondo, então, em practica um sentido a cada instante. A lingua saboreia o que tacteia. O odor suggere um banho a ser bem dado com ella: assim se asseia a rolla alheia. Só falta algo ao ouvido bem treinado. Alguem ordenará de bocca cheia. Concentra-se o ceguinho: o resultado final vem ao ouvir elle "Sus! Eia! Coragem!", em tom masculo e folgado.
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PENIL PENITENCIA [4025] Si o cego na cegueira enxerga a praga que a sorte lhe reserva, quando fella alguma rolla, entende o gosto della: boquette não se "faz" e sim se "paga". Tem elle que pagar, pois o que traga de volta uma visão não ha. Foi bella a vida; agora, aguenta até a goela um membro penetrando feito adaga. Cegueira não appenas é castigo: é dor, humilhação, dever imposto à bocca, esse dever ao qual me obrigo. Peor que possessão, peor que encosto, cegueira marca a ferro, sempre digo. Por isso é que, ao sentir da rolla o gosto, pagando sei que estou, penso commigo, de lagryma e suor banhando o rosto.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
O ANJO DA GUARDA E O DEMONIO DA POESIA [4026] Divirto-me bastante quando o leio, poeta! Me imagino em seu logar, dispondo-se a lamber pés, a chupar caralhos, sem excolha, sem asseio! Sem essa! Nem pensar! Num Deus eu creio, que é justo e me poupou de ter azar egual ao seu! Adoro contemplar mulher gostosa! Macho eu acho feio! Você, não: cego, está por baixo e pode se dar por satisfeito si um marmanjo, que o leu e riu, a sua bocca fode! Assim, só, poderá fazer arranjo! A mim, não ha carencia que incommode! Na vida, o que eu puder, de bom, exbanjo: visão, tesão, dinheiro, isto é, bigode, cabello e barba... Tenho um sancto... e um anjo!
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TURISTA SEM VISTA (I) [4029] À India fui, em ferias, passear, tornar realidade um sonho meu. Jamais eu poderia antecipar desastre tão atroz... e accontesceu! O povo hindu tambem ser philisteu, às vezes, sabe: eu cego, por azar, fiquei, quando alguns jovens, para seu prazer, me enuclearam em Sagar. Levado a mendigar, passava o dia chorando na calçada. À noite, a turma gastava a esmolla em farra e de mim ria. É sempre gente joven que se enturma... Ah, quanta diversão! Quanta alegria! Nem querem permittir que um cego durma, taes monstros: com a bocca, elle os sacia. Depois, vendido, o levam para Burma.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
TURISTA SEM VISTA (II) [4030] Em Burma, que é Birmania, fui treinado, segundo o "Auparishtaka", nesse officio que um homem só practica si seu fado for tragico: é o meu caso, como disse-o. Assim, alem de esmolla ser forçado, na praça, a pedir, usam-me em seu vicio mais torpe. Do dinheiro que arrecado desfructam e eu engulo o maleficio. Fumando, refestelam-se os rapazes e o cego, de um em um, curvado, os chupa até que gozem, languidos, loquazes. A turma assim o tempo vago occupa. Aos poucos, vão chegando mais sequazes. Na roda, se diverte quem se aggruppa com elles, vendo o cego a chupar. Phrases se truncam: jorra a porra em catadupa.
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88 GLAUCO MATTOSO
PLACEBO PARA MANCEBOS [4051] Pesquisa scientifica insuspeita mostrou toda a virtude da saliva humana: a propriedade curativa até na propria pelle se approveita. Aos pés, principalmente, ella é perfeita na cura das mycoses: quem cultiva frieira nos artelhos é captiva e afflicta clientela, à minha expreita. O cego é o lambedor ideal para taes casos, pois trabalha docilmente, não poupa a lingua emquanto um pé não sara de toda aquella crosta repellente. Ao docil cão, lambendo, se compara. Por horas é capaz (mesmo si sente chulé) de affundar numa sola a cara, deixando alliviado o paciente.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
DESGRAÇA BOBA [4153] Cegueira, si é nos olhos, não da gente, mas sim dos outros, nada tem de grave: appenas representa algum entrave a alguem que, antes, andava livremente. O cego era um subjeito independente? Terá que se exforçar! Elle que lave privadas! Quer serviço mais suave? Que seja massagista e se contente! Si um olho basta a alguem que é rei na terra dos cegos, outra regra o povo entende: cabrito bom é aquelle que não berra, ainda que seu olho o algoz lhe vende. Si for humilde, o cego menos erra. Dos males, o menor, depressa apprende um homem revoltado que se ferra: mais soffre ainda, caso não se emende!
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O CAUTO CAUSO DO SERIO REVERTERIO [4176] O gajo de cuspir tem a mania maldicta! Da janella, a cusparada jogando vae o gajo sobre cada passante que, debaixo, não desvia! A grossa catarrhada, que lhe chia no peito, sae voando! E não ha nada mais porco e mais nojento! Cae grudada na testa de quem, cego, vem sem guia! Seu dia, ja, de azar está completo! O cego, que lhe sente o fedor, pensa que seja dalgum passaro o dejecto e lança, para cyma, a praga, a offensa. Na proxima cuspida, entra um insecto na bocca do subjeito! Antes que vença a tosse, tem no infarcto o fim correcto. Por vezes, um aggravo se compensa.
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INGRATA DATA ou DISSONNETTO DO GLAUCOMA MEDITADO [4448] No Dia do Glaucoma, a midia illude o ouvinte e até o leitor, ao dizer: "Quem a cego ficar chega é quem não tem cuidado bem dum olho com sahude..." Alguns advisam: "Desde a juventude a sua pressão meça e, quando vem signal de que augmentou, se tracte! É bem possivel evitar que a sorte mude..." Mentira! Eu, de nascença, sei que tinha glaucoma! Meus paes, mesmo eu sendo gay, me amavam! Me tractei, collyrio usei a vida inteira! Acaso a culpa é minha? Fiz varias cirurgias! Não falhei em nada! Li das bullas cada linha mehuda! Segui tudo que a mesquinha sciencia disse! Ah! Tive azar, ja sei!
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SABEDORIA POPULAR [4462] O que os olhos não conseguem enxergar, o coração não irá sentir! Pois ceguem dum escravo os dois, então! Prompto! Agora, agua lhe neguem! Que elle implore! Vocês dão de beber urina: reguem sua bocca, sem perdão! É sancção disciplinar! Não só bebe o escravo tudo, como mamma no thalludo pau que accaba de mijar! Conclusão elementar: Obedesce cegamente e, por dentro, até se sente, conformado, em seu logar!
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CATANDO MILHO SEM RATTO [4511] A gente por qualquer coisa se illude em termos de informatica, si alguem dos novos apparelhos fallar vem: iPad, iPed, iPid, iPod, iPud... Não ha recurso technico que adjude um cego a digitar e attenda bem a tudo que eu preciso fazer, sem fraudar nem complicar, notar ja pude. Só mesmo o DOSVOX mostra-se efficaz naquillo que, hoje em dia, não tem freio, fallando o que digito ou que me veiu de alguem que digitou não muito attraz. Me basta si, por este novo meio, que um cego torna menos incapaz, eu soube que um rapaz saudavel faz de mim palhaço e goza emquanto o leio.
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COMMUNHÃO DE PENSAMENTO [4514] Levando-me um taxista à reunião, pergunta si sou cego de nascença. Respondo, como sempre, que a sentença divina castigou-me sem perdão. Explico que fiquei cego e que não me adapto nem acceito. O choffer pensa um pouco e, então, commenta (Sem offensa? Duvido!) que entendeu minha afflicção: "A gente dá valor só quando ja perdeu, é sempre assim! Ainda bem que eu tenho visão boa, né, xará? Não quero nem sonhar com isso! Eu, hem?" Simula dó. Por dentro, sorrirá. E eu logo me imagino a chupar, sem direito a queixa, a rolla delle... Dá vontade de ser elle e mais ninguem.
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PEGA DE CEGA [4520] As irmans cegas se dão, mas às vezes brigam: quando se extapeiam, os que estão ao redor ficam gozando. Uma tenta o bofetão accertar, mas erra, dando no ar os golpes. De rir não cessa, em volta, o alegre bando. "Vae, ceguinha! Dá pernada!" A platéa mais se antenna. "Desce o braço!", a turma brada, divertida com a scena. Quando as cegas, emfim, param de brigar e fica amena a sessão, os que gozaram dellas fingem sentir pena.
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APPONCTAMENTOS E DESAPPONCTAMENTOS [4522] São quattro ou trez as folhas que, num trevo, tacteio? Quantas ponctas tem um xiz, um ypsilon? Percebo os seus perfis bastando-me appalpar-lhes o relevo. O braille é, pois, inutil. Por que devo achar que aquelles ponctos imbecis são lettras? Poncto é poncto! Eu nunca quiz, por isso, usar o braille quando escrevo. Usei, por algum tempo, uma prancheta com lettras imantadas: no confronto é como comparar penna e canneta. Depois que com teclados me defronto, achei como que a pedra da Roseta. Ao micro me refiro: agora, apprompto um texto num instante! E não se metta ninguem a vir com braille! É poncto, e poncto!
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O SADISMO DO OLHO (I) [4523] Estou finalizando o meu ropteiro e quero que você, Glauco, confirme si está, mesmo, de accordo com meu firme proposito de expol-o por inteiro. Ao publico, o que é falso ou verdadeiro em duvida estará, mas divertir-me pretendo: em meu poder, você servir-me irá como cobaya, ao tacto, ao cheiro. Um cego, ao ser exposto, é masochista. Eu, como director, quero que sinta a minha auctoridade e não resista. Eu quero carregar, mesmo, na tincta. Que sua carapuça, Curioso é ver que tem... que outro, ficou e em cumprir
agora, vista! alguem menos de trinta de sessenta, sem a vista ordens taes consinta.
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O SADISMO DO OLHO (II) [4524] Confirmo: estou de accordo. Ser exposto num filme, para um cego, é como estar na jaula dum zoologico, em logar do exotico animal, a contragosto. Mas, mesmo assim, concordo em pôr meu rosto na frente duma camera, em fallar aquillo que mandarem, em meu lar deixar que invadam, como foi proposto. Terei, ja sei, que usar a lingua, a mão, o corpo, em summa, como ferramenta do sadico capricho dum mandão que scenas degradantes sempre inventa. Ao publico, obviamente, é diversão. Calculo o que você, rapaz, intenta fazer commigo... As ordens me serão mais duras: sou mais velho, aos meus sessenta.
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COLLEGAS ÀS CEGAS [4525] Um gancho, um admarrilho, uma presilha; a mascara, a colleira, a algema, a venda. É logico suppor que nada entenda do emprego disso o publico "baunilha". Dum sadico quem entre a tudo que os ethicos
jamais se desvencilha nesse circulo e se prenda machuque, aggrida, offenda conceitos da familia.
A Dona, a Mestra, a Mistress, a Rainha; A "sub", a gueixa, a escrava, a serva, a ancilla: nenhuma quer ter sorte egual à minha. Não! Sem ver nada, alguem se rejubila? Alli, quem tem visão não se apporrinha. No clube, um cego serve e nem vacilla: emquanto um macho sadico o expezinha, Sansão se sente, aos pés duma Dalilah.
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"VER COM A ALMA, SENTIR COM O CORAÇÃO" [4527] Me conta Prometheu que enxerga bem e impõe a uma mulher, como ao marido, chupar-lhe os pés por horas... Não duvido que tenha, a seu serviço, mais alguem. Um cego, nesse caso, a calhar vem, pois sabe compensar (por ter perdido a graça da visão, esse sentido vital), si os outros quattro ainda tem. No tacto, poderá massagear, usando as mãos, um masculo pezão. No olfacto, odor mais forte irá cheirar e, em summa, notar como os pés estão. Por entre sola, peito ou calcanhar, ouvir mais duras ordens a audição irá... Por fim, será seu paladar mais nitido ao lamber, dum dedo, o vão.
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O CEGO NO CLUBE [4528] Chegamos. Conduzido pelo braço, me sento e sou deixado a sós na salla. Alguem que entrou sentou-se e, firme, falla commigo -- Aqui! Me chupa! -- em tom devasso. Me abbaixo. Adjoelhado, appalpo e passo a mão na gorda perna. Ao appalpal-a, encontro, accyma, o membro nu, que exhala seu cheiro de mictorio, e que arregaço. Eu desço a cara. O cheiro forte augmenta, agora fede a sebo. Eu abboccanho a glande arregaçada, que entra, lenta, fazendo-me emittir um sopro fanho. O ranho ja me excorre pela venta. Emquanto vou e venho, o cru tamanho mais cresce e empurra a lingua, que lhe aguenta o tranco, o jorro, o banho, o gosto extranho.
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INCLUSÃO SOCIAL E SERVIDÃO SEXUAL [4530] Materia de "Sentidos" diz que gente que tem deficiencia sexo faz com grande efficiencia e que é capaz de achar essa "inclusão" pouco excludente. São modos de encarar, pois quem se sente fodido, como o cego aqui, tem gaz appenas para achar-se dum rapaz escravo chupador e obediente. Me sinto, ja fallei, tão inferior, invalido, indefeso, que só posso ter certa utilidade ao meu senhor naquillo que, na lingua, não addoço. Amargo deve estar nosso sabor. Nós, pobres alleijados, temos nosso dever de masochistas: no que for possivel, dar prazer, e o khoro engrosso.
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SANCÇÕES AOS SANSÕES [4552] São feitos prisioneiros, si a battalha perderam. Perderão, tambem, seu olho. O escravo cego excusa até ferrolho: não foge nem se insurge, só trabalha. Debaixo de chibata, qualquer falha se pune e aqui, de medo, ja me encolho. Me sinto escravo e, cego, não excolho trabalho. A fustigar-me, alguem gargalha. Risadas ouço. Sinto a chibatada no lombo. Não reajo nem me evado. Agguardo as ordens. Cumpro, mudo, cada. Me vejo a tal regime transportado. A vida não permitte esperar nada. Sem pena, a usar a bocca sou forçado. Lambida a sola, a rolla foi chupada. Gargalha o algoz, emquanto eu me degrado.
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TEMPO HABIL [4573] Não tenha pressa, cego. Você pode chupar bem devagar. Pode, primeiro, usar a lingua. Lamba o thallo inteiro, supponha que o pentelho é seu bigode. A lingua a vida é é forte? qualquer
achou ruim? Não se incommode, mesmo assim. Tambem o cheiro Aguente firme, meu treineiro, caralho fede emquanto fode.
Meu gosto é justamente não ter pressa, curtir cada momento. O seu trabalho augmenta? Paciencia, vamos nessa. Tarefa assim, oral, não tem attalho. Qualquer precoce gozo não me peça. Ser cego é para sempre, não é? Valho eu quanto enxergo. Então! Você começa e quem diz quando accaba é o meu caralho.
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TETRICO TRECHO KILOMETRICO [4665] Foi tudo muito rapido: a neblina baixou na pista... Que engavetamento immenso se formou! Não ha quem lento dirija e um accidente assim previna! Vê varios collidindo e, eis que uma fina tirando, alguem excappa: em movimento, do carro salta! A perda é cem por cento! Prensados, alguns sangram gazolina. Explode um caminhão! De fogo a bolla se allastra! Para longe dalli corre quem pode! Do barranco um carro rolla! Não ha quem, deante disso, não se borre! Se mija quem o carro não controla! Quem preso nas ferragens fica, morre! Vem, pelo accostamento, e nem se exfolla, um cego, às tontas, feito alguem de porre.
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FRATERNO INFERNO [4667] Ficou cego o mais velho. Está solteiro. Casado está o mais novo, até tem filho. Conversam, certa tarde: "Eu não me humilho! (diz este) Mas você, sim! Né, parceiro?" {Ser cego humilha a gente o tempo inteiro! (confirma aquelle) Às vezes, eu me pilho lembrando que lambi, que dei um brilho de lingua, que engraxei, senti seu cheiro...} "Mas, antes, era opção! (diz o mais novo) Agora, não: me chupa, quando eu quero, não chupa? E eu, por você, nem me commovo. Estou, meu caro irmão, sendo sincero." Alem de chupar, vale babar ovo do mano. E o cego escuta, em tom severo: "O jeito então é, como diz o povo, você ter que engolir! Chega de lero!"
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DIALOGO DESVIRTUAL (I) [4731] Releio meus "imeios", entre os quaes alguns que permutei com um subjeito casado, pae de filhos. Meu defeito nos olhos o attrahira. Foi demais! Diz elle ter tesão ao ler os ais poeticos dum cego: "Foi bem feito! (commenta) Fez você ter mais respeito, tornar-se mais humilde ante os normaes!" "Poemas do cacete! Um que me excita é aquelle em que adjoelha e chupa! Quem não quer ser bem chupado? Então repita! Confirme que funcção um cego tem!" "Confirme o que, no verso, você cita! Disposto está a chupar depois que alguem mijou? A arregaçar, como na escripta? De lingua a dar um banho em mim? Pois bem!"
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DIALOGO DESVIRTUAL (II) [4732] Num outro "imeio" achei, aqui no archivo, aquillo que me disse um advogado anonymo, morando em outro estado, louvando essa visão da qual me privo: "Si, nesta terra, um passaro captivo quizermos que bem cante, olho furado terá, Glauco! Você, por outro lado, não canta, mas, chupando, dá motivo." "Eu fico de pau duro ao ler seu verso! Ainda mais me excito quando penso que nessa atroz cegueira vive immerso e appenas a chupar está propenso!" "Os cegos não terão uso diverso! Não, Glauco, não serei quem vae dar lenço ao cego que ora chora! Sou perverso! Na sua bocca eu quero o gozo immenso!"
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SUPERSTIÇÃO SUBESTIMADA [4734] "Sou foda! Sou marrento! Sou marrudo! Si alguem me questionar, nem me molesto! Só pedra eu não attiro em cego! O resto eu faço e me lixando estou p'ra tudo!" Assim disse um malandro. Não me illudo: um gajo desses pensa até no incesto! Jogava, com certeza (eu proprio attesto) pedrada num ceguinho carrancudo. Achava-se que pedra, si attirada num cego, attrahiria a maldicção, pois bruxos de nós muitos sempre são, mas hoje não influe a praga em nada. Ao menos é o que pensa o marmanjão que adora appedrejar-me e dá risada si accerta a ponctaria: aguento cada cascalho! E o cara a rir, como dum cão!
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ESPELHANDO-SE EM QUEM NÃO SE VÊ [4763] Você se julga feio? Mal amado? Baixinho? Gordo? Magro? Anão? Careca? Doente? Velho? Chato? Tem melleca demais? Pé chato? Penis ensebado? No espelho, ao se mirar, pense: um coitado, que é cego, está peor! Você defeca gostoso, certo? Deixa na cueca as manchas do seu mijo bem mijado? Então pense no cego, que tambem padesce do intestino, dessa má, pesada digestão, mas sempre está ao seu dispor, humilde, e chupa bem! E o veja, adjoelhado, prompto ja, siquer sem ver a cara de ninguem, a usar a bocca para dar-lhe, sem nenhum nojo, o prazer que um cego dá!
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CIRURGIA ESPIRITUAL [4781] Perdeu-se na memoria em que anno aquillo commigo accontesceu: operação espirita, em que o medium tem a mão guiada por um medico, a assistil-o. Deitei-me num divan e, sem vacillo, o medium, meio medico, razão mostrou ter ao dizer-me, de antemão, meu quadro exacto: "viu-me", a seu estylo. Mexeu, sem verter sangue, bem no centro dum olho condemnado à atroz cegueira. Senti que me cortava, la por dentro. Achei que isso não fosse brincadeira. Mais fundo nessa mystica não entro. Visão, eu não ganhei, mas não me cheira fajuto aquillo: ainda me concentro no assumpto, nem da morte estando à beira.
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MARRON SOBRE AZUL (I) [4807] Quando um cego limpa a bunda, logo appós uma cagada, accredita, na segunda vez, que a limpa. Limpa nada! Quem enxerga, vê que immunda continua. Outra passada de papel. Mais uma. Affunda com o dedo... e mais dedada! Suja até seu pollegar. Sujo, ainda, o papel sae. Si está vendo, o gajo vae repetindo até cansar. Só os normaes vão se limpar. O ceguinho, não: ja lava a mão suja. Mas restava muita merda no logar.
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ILLUSORIA TRAJECTORIA [4810] Procurando a curandeira, um ceguinho della escuta: "Não, meu filho! Essa cegueira não tem cura! Não discuta!" Mas o cego acha besteira dar um credito à fajuta curandeira: {Caso eu queira me curar, irei à lucta!} Ninguem mão de bruxas lance! Noutras dellas quem procura não encontra dessa cura a menor, mais rara chance! Quem crê nellas que, então, danse! Annos passam, e o ceguinho bruxas tira do caminho. Não ha besta que não canse!
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HILARIO SCENARIO VIARIO [4854] Passa um carro muito rente à calçada. Na sargeta junctou agua. Que alguem tente excappar rende punheta. Alguem goza, de contente, que um vehiculo commetta molhação: deficiente é quem soffre essa falseta... Sim, um cego é quem passava por alli (sou eu que narro e passei), quando lhe lava de agua suja a roupa o carro! Quem assiste dá risada e com esses sempre exbarro, pois no mundo não ha nada mais gostoso do que um sarro!
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DIA ENSOLARADO [4891] Hoje é dia mundial da visão! Quanta ironia! Quem é cego ou quem vê mal não festeja neste dia. Serve ao sadico, affinal, lembrar isso, pois sacia seu instincto, dando aval a quem deste cego ria. Commemora quem vê bem. Approveita a occasião e me goza: "Pode alguem ser feliz sem a visão?" Eu respondo: {Ninguem pode! Quem enxerga é o folgazão! Quem é cego só se fode! Uns teem magoa; outros, tesão!}
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HOTELARIA INFORMAL (I) [4917] "É feio, aquelle japa!", a camareira ao cego massagista diz. "Por preço nenhum com elle eu transo! Não conhesço ninguem que chupe um desses!" Foi matreira. Na hora da massagem, caso queira a bocca offerescer, desde o começo o cego ao freguez falla: {Eu obedesço qualquer ordem, chupeta, mammadeira...} O japa se interessa: "Massageia gostoso, você, né? Cego tambem faz sexo oral?" E entorta a bocca feia. Que bafo de cachaça dalli vem! O gajo tem agora viva a veia. Sorri, se arreganhando: "Você tem algum nojo, ceguinho?" O cego meia palavra não tem para o que convem:
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HOTELARIA INFORMAL (II) [4918] {Patrão, o cego acceita tudo: cheira xixi, lambe xixi, chupa xixi! O cego é obediente! Eu, que ja vi, agora tenho bocca chupeteira...} O japa se expreguiça, à brazileira, se volta para o cego e lhe sorri, ironico: "Então bota a lingua aqui, ceguinho! Lambe a minha rolla inteira!" Durante a fellação, o cego sente fedor forte de urina no pentelho e lambe exactamente alli, contente, serviço que ninguem cumpre, parelho. O cego se confessa penitente: É mesmo masochista! De joelho, se mostra humilde! Passa a lingua quente na glande, e o japa goza qual coelho!
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PEDRAS ROLLANTES [4951] Quiz Dylan ver alguem appedrejado por tudo que fizesse. Até rockeiro levava um tijolaço. Foi certeiro. Convem que interpretemos seu recado. Pedrada, nos politicos, é o brado de todo cidadão. Si brazileiro, porem, o ratto excappa do primeiro grãozinho de cascalho arremessado. Num cego, todavia, a tal pedrada, rollante ou voadora (e eu sei qual é), seria dum tijolo, ou mesmo até dum parallelepipedo, mais nada! Que cada qual meresça o seu, dou fé, pois muita gente eu quero appedrejada, e estou com Dylan, claro, mas, em cada ceguinho, um lajotão é foda, né?
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PRAZERES DO TRAZEIRO [4991] Cagar nos allivia, mas tambem algum prazer nos causa, bem na prega, na hora em que o cocô della excorrega, dahi tal phantasia que me vem. Lamber, humildemente, o cu de alguem provoca egual prazer! A lingua cega obriga-se a provar por que se exfrega na prega e nenhum nojo disso tem. O cego, eu imagino, é como um cão. Resente-se, revolta-se, calcula aquillo que o limita: a escuridão, por menos que a cegueira deixe fula qualquer pessoa nessa condição. Mas deve obedescer: mesmo que engula algum cocô, do dono é bicho tão submisso, que isso attiça a sua gula!
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VENDA VENDA E LEVE LEVE [4997] Espero que você não se incommode si eu, franco, lhe contar: na phantasia que tenho, você, sadico, sacia seu gozo em minha bocca, a rir me fode. Não nem seu que
faço imagem sua de bigode, oculos, nem acho que seria rosto um ideal da sympathia um masculo marmanjo causar pode.
Quer seja você magro ou gordo, branco ou negro, indifferente é para mim, que cego sou e um servo, appenas, banco, do typo mais fuleiro, mais chinfrim. Talvez calvo, canhoto, fanho ou manco, aquillo que imagino em você, sim, é o chato pé na minha cara. Franco, lhe digo: o azar é seu, si achar ruim.
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JOGANDO O JOGO DO JUGO [4999] Bem antes que o glaucoma cause estrago total e que meu olho deixe cego, com outras morbidezas eu me pego ja desde cedo e dellas trauma trago. Myopia, astigmatismo... Quando cago, o exforço até me engasga! Tusso, offego, e às vezes nada faço! Não sossego à noite e, pela casa, insomne, eu vago. Disseram-me: ser cego é meu castigo. É these dos espiritas, que eu logo abbraço, masochista, ca commigo e, como menestrel, tambem advogo. Missão toda cegueira traz comsigo. Si a regra desse jogo é dura, eu jogo com ella. Pago o preço, mas me obrigo a solas lamber: gozo, emquanto rogo.
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SABEDORIA MILLENNAR [5003] Ouvi dum indiano este preceito implicito: um perdido, dez é nove. Mas, como no molhado isso me chove, a tudo que transcrevo me subjeito: "Cegueira é perfeição? Não: é defeito! Defeito inferioriza, não promove! Ninguem, em meu paiz, pois, se commove, e um cego tem dever, não tem direito!" "Dever tem de servir aos outros, como callista, massagista ou fellador! Aguente elle o sabor do amargo pomo! A todos que utilizam alguem por ser cego certamente eu ca me sommo! Usando a bocca, as mãos, esse inferior, que, como um animal, eu treino e domo, prazer me causa, emquanto aguenta a dor!"
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DISSOLUTA PERMUTA [5012] A troca dos sentidos faz sentido. Emquanto me está dando o que escutar, estou-lhe o que ver dando, esta vulgar e suja scena: um cego a ser fodido. Emquanto ordens me chegam ao ouvido, alem da gargalhada, estou a dar no penis a chupada. Contemplar a minha humilhação farta o bandido. Emquanto vou sentir no paladar sabores fedorentos, à libido do gajo terei algo a retornar de modo sensual e divertido. Até si é picca doce é de amargar. Si o gosto do caralho está fedido, gozando está o malandro o meu azar, sentindo a minha lingua: assim, revido.
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TRISTONHA BRONHA [5013] O cego, quando batte uma punheta pensando na cegueira que o condemna a ser escravizado numa scena explicita, chamado é de "cegueta": "Cegueta, chupa! Ahi, cegueta!" Teta não sendo o que elle mamma, nem pequena cabeça tendo um penis, não tem pena quem mette e mais rirá quanto mais metta: "Dureza, né, cegueta? Vida dura a sua! Sem ver nada, emquanto mamma aguenta o gosto e o cheiro ainda attura!" O cego pensa nisso si, na cama, mais tarde se masturba sem censura. Ouviu ja tudo, mudo, e não reclama, appenas vae chupando. Nessa escura funcção se exforça e a porra se derrama.
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PERVERSA CONVERSA [5018] Recorda-se um machão: -- Sim, fui chupado, faz tempo, por mulher cega. Sentei-me, mandei chupar. Pensei: "Caso ella teime, lhe chuto a bocca!" Sabe? Eu sou bem sado! Até que ella deu compta do recado. Fiquei olhando e rindo. "Deus, valei-me! (pensei) Que estes meus olhos ninguem queime nem fure! Assim eu nunca me degrado!" E mesmo sem saber si cara brava fazia-lhe eu, a cega obedescia! Chupava bem, a puta. Levantava, baixava, levantava a cara. Eu via meu pau sahindo, entrando... Ah, bella escrava! Não, Glauco, não condemno quem judia dos cegos. Deus assim quer. Até dava vontade de rir, Glauco, e della eu ria!
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CRENÇA SUSPENSA [5024] Na roça, um céu de estrellas é bonito. Novella sem estrellas não tem graça. Bilac, ouvindo estrellas, tempo passa. Rennó lê nas estrellas algo escripto. David, pelas estrellas, foi bemdicto. De esquerda, enchem estrellas uma praça. Natal exige estrellas: que Elle nasça! Maldicto, em más estrellas accredito. Estou cego, não posso mais revel-as, mas lembro-me das ultimas que vi: brilhavam, scintillantes, taes estrellas e tinham brilho proprio, de per si. As minhas, foi Satan quem, rindo, fel-as. Chamadas de "escotomas", bem aqui, no fundo do meu olho, as vi: foi, pelas fugazes, breves luzes, que em Deus cri.
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DERRADEIRA VENDA [5036] Fallando franco, sabe o que me excita num cego, Glauco? (um sadico confessa) Saber que a escuridão delle não cessa, que aquillo não é farsa nem é fita! O cego inferioriza-se, permitta dizer, Glauco, de facto! Ao vel-o nessa pathetica funcção, eu gozo à bessa, divirto-me com sua cara afflicta! Os outros masochistas, sessão finda, libertam-se, levantam, sua venda retiram, são normaes na vida, ainda! Simulam não haver o que os offenda! Quem pode enxergar goza, à Mas nunca o cego livra-se! lhe resta: está por baixo, a scena! Escravo é, mesmo,
vida brinda! Que entenda e eu acho linda não é lenda!
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RISADA SAPHADA [5042] Chupar, de frente olhando, a gottejante e gorda rolla, appós logo a mijada, rebaixa, ja, demais, demais degrada um homem. Ha mais algo degradante? Exsiste, sim, funcção mais vil: perante alguem, adjoelhar-se sem ver nada, mammar sem enxergar, sentindo, a cada lambida, gosto extranho e repugnante. Assim se obriga aquelle que perdeu a vista e a ser usado se subjeita, aos pés de quem, sem custo, rolla e deita. Fodeu-se, em meio ao feio e negro breu. Alem de tudo, acceita outra desfeita: ouvir a risadinha, a voz do seu algoz, que lhe repete: "Se fodeu!", emquanto, ver podendo, se deleita.
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OBEDIENCIA CEGA [5043] Gostou? Quer levar outra bofetada? Então? Que está esperando? De joelho! Assim está melhor! Ficou vermelho? Bem feito! Abra essa bocca! Excancarada! Você vae me chupar, ouviu? E nada de choro, entendeu? Cheire o meu pentelho! Sentiu? Agora lamba, ou leva relho! De lingua me dê banho! Isso me aggrada! De novo! Chupe fundo! Mamme! Engula a rolla, va passando essa linguona de cego! Sentiu como a rolla pulla? Melhor que pegar puta alli na zona é ver um cego usando a bocca chula! Mais rapido! Ah, gozei! Assim funcciona a coisa: sua chance, agora, é nulla! Terá que obedescer, virar bichona!
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130 GLAUCO MATTOSO
TECLADO SOBRECARREGADO [5054] Qualquer computador, horas a fio usado, cansa e estressa um usuario. Na machina fallante, é necessario mais tempo ainda e muito sangue frio. Eu gasto, no meu, tempo demais! Chio, praguejo: não ha nada que compare o trabalho na cegueira ao mais primario serviço! Mais eu faço, mais addio! Por isso, até me offendo quando alguem, querendo publicar o seu canhenho, me envia a porra toda. Acha que tenho disponibilidade? Ninguem tem! Mal leio minhas coisas, si me empenho ao maximo! Então, como alguem me vem com textos kilometricos? Eu, hem? Nem mesmo opino sobre alheio engenho!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
EXCARNINHO GOSTINHO [5056] Você pergunta, Glauco, o que eu faria, sem pena, com um cego. Bem, primeiro mandava que esmollasse e seu dinheiro tomava-lhe, todinho, ao fim do dia. Tambem meu massagista elle seria, trabalho manual bem feito. O cheiro teria de sentir do corpo inteiro suado. E eu quereria putaria... Depois duma massagem nos pés, eu queria que lambesse: alem do dedo, a lingua, no serviço, é dever seu! E, como é na maldade que eu me excedo, ah, punha esse ceguinho a chupar meu pau, algo achar salgado, amargo, azedo... Que tal? Não lhe paresço um philisteu? Não lembra algum Sansão, algum degredo?
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132 GLAUCO MATTOSO
AGONIA QUE ECSTASIA [5066] Um cego, a Milton àquelles e triste
entre inimigos, se assemelha no "Agonista" e exposto está que quizerem ver a má posição da negra ovelha.
Quem chega, ordena, e o cego se adjoelha. Poetas o expiccaçam. Chutes dá Joedson em seu rosto e mais dará nos versos que fizer, si der na telha. Dará, como será de se suppor. Quem ode fez aos deuses fazer pode sonnettos para um cego perdedor, mais causticos que sua fertil ode. Agguardo, de joelhos, sob a dor dos golpes, que Joedson accommode os pés sobre meus hombros, a compor o sadico poema que lhe accode.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
NÃO ESCREVO EM RELEVO! [5071] Com odio fico quando acham que leio usando o braille! Cego totalmente fiquei ja quarentão! Lendo com lente ainda estava! Odeio braille, odeio! Ao cego de nascença exsiste um meio de se alphabetizar: o braille a gente acceita, neste caso! Mas não tente alguem me convencer que é bello o feio! Recordo-me das lettras: teem seu traço de recta e curva feito, não de poncto, que nada significa e que eu rechaço! Passar o dedo em ponctos, que eu nem compto, de tantos que são, frustra! Cansa o braço! Só noto que um inutil jogo eu monto si fico tacteando! Meu espaço agora tem, num "cyber", contraponcto!
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VIOLENCIA INVISIVEL [5075] Rollou, na Parahyba, caso bruto de estupro: de rapazes uma roda currou duas irmans, pois virou moda pegar mulher à força, é o que eu escuto. Levadas foram ambas ao reducto do bando, onde o forró não incommoda ninguem, só quem na marra soffre a foda. Aos homens, tudo é farra, livre é o fructo. Aquella que enxergava foi vendada. A cega foi, com olho descoberto, fodida e chupou rolla, até, de cada malandro que jurou ser mais experto. Sem ver, sentiu mais gosto na chupada. O lider dessa gangue estava certo: "Vendar p'ra que, si a puta não vê nada?" Não era em Cabaceiras, mas foi perto.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
CARNAVAL CARICATURAL [5087] O Bloco da Bengala tem de tudo, dos casos orthopedicos aos mais difficeis de acceitar entre os normaes, do velho ao alleijado barrigudo. Os cegos são um caso à parte: agudo ou chronico, o problema vae dos taes "invalidos" ja natos aos fataes "marcados pelo azar", que entram no entrudo. Às tontas pela rua, sae o bloco, sem rhythmo, desmarcando-se, indeciso. Trombando, tropeçando pelo piso falhado, entre os passistas me colloco. O publico, assistindo, cae no riso rasgado. Por ser victima, me toco. Mas, sempre a bengalar, não perco o foco: "Preciso me aguentar em pé, preciso!"
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O PROVEITO DO DEFEITO [5090] Os homens muito feios ja notaram que, alem de não acharem namorada, as putas chupeteiras estão cada vez menos disponiveis, e o declaram. Sinceras, dizem ellas, quando encaram um feio feito a peste: "Não, por nada, por preço nenhum chupo um camarada assim!" Tambem as bichas ja fallaram. Mas, quando um cego chupa um typo feio, tamanho gozo a bocca proporciona, que entende este a cegueira em olho alheio: {Foi para me servir de cu, de conna, que a bocca exsiste e um cego ao mundo veiu! Melhor mamma que a puta, que a bichona!} Sentir sujo um prepucio, seu recheio... Que fado um paladar mais ambiciona?
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
BENGALA QUE SE EGUALA [5095] "Palhaço sem querer": essa expressão usada foi na musica... Por quem teria sido, mesmo? Ah, ja me vem: Antonio Marcos disse! Não foi não? Si disse, disse tudo: sem visão, assim me sinto, sendo dos que bem enxergam o palhaço. Pode alguem gozar sem dó dum cego, estando são. Querendo ou não querendo, a palhaçada é marca da cegueira: a Chaplin eu me egualo, a bengalar pela calçada, ouvindo o riso franco do plebeu. Cegueira dá motivo à gargalhada. Applaude o mundo o genio do judeu, mas cada espectador que goza, cada moleque que me zoa, algoz é meu.
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CERTEIRO BOATEIRO [5243] Chegaram a assaltar, no predio, até da cega o appartamento! Esse arrastão no radio foi noticia. A cega não teria posses, era lheguelhé. Os manos, mesmo assim, puzeram fé nalgum boato, acharam que um montão de grana a cega tinha... A frustração custou-lhe pescoção e ponctapé. Quem é que desejou, no proprio lar, soffrer duns assaltantes tanta tara? Fizeram a ceguinha rastejar, às tontas, recebendo os pés na cara! Depois, ao demo ergueram um altar. Comeram-na! Enrabaram! Quem sonhara que Sampa é Cabaceiras? "Me lascar eu quero!", diz alguem que ella declara.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
VIDA UTIL [5291] Com pena fiquei quando percebi que falha a minha machina fallante antiga, onde sonnettos fiz durante a decada passada... Sinto aqui. Apperta-me a garganta. De mim ri a machina mais nova: não garante aquillo que eu digito. Mas advante preciso andar: mais versos veem ahi!
[vêm]
Sim, cada vez mais, fazem mais volume! Computadores novos sempre dão trabalho addicional: que eu me accostume ainda falta. Às vezes erro a mão. Daqui a duzentos annos, o azedume ja passa e meus dedinhos tristes vão ficando alegres, quasi sem queixume. Que excappa da fatal digitação?
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DISSONNETTO DUMA VINGANÇA DE CREANÇA [5309] Não fiz nada, mamãe, juro! É exaggero da vizinha! Só deixei ficar no escuro o filhinho della! Eu tinha! O moleque pegou minha bicycleta! Não atturo isso! Então, com a ponctinha duma faca, fiz-lhe um furo! Foi pequeno o meu perigo! Foi num olho só! Mas, ja que ella disse que elle está totalmente cego, eu digo: Não se metta alguem commigo! Completei, mesmo, o serviço! Quem mandou fazerem disso um motivo de castigo?
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
DISSONNETTO DUMA FÉ DE MENOS [5343] Eu rezei, ja, certa vez, quando ainda visão tinha. Implorei, vejam vocês, pela graça da sanctinha! De orações fiquei freguez e a fazer promessas vinha. Mas a propria vida fez que eu mudasse depressinha. O glaucoma se aggravando, em quem tantos males barra eu ainda creio, quando a cegueira, emfim, me aggarra! Crente a gente teima em ser no que a Biblia sempre narra, mas Satan tem o poder de meu olho abrir na marra!
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DISSONNETTO DUM PHARISEU QUE NEM EU [5347] Ao rezar a Ave Maria, eu pensava num collega que, rezando, só fingia, como eu mesmo, uma fé cega: "Que saphado! Balbucia a oração como quem nega ser um sadico, mas fria tem a mente, si me pega!" Mal sahiamos da egreja, elle, que era bom de briga, me mandava: {Ahi, rasteja, seu cegueta duma figa!} A seus pés, eu mattutava: "Si um ceguinho aos maus instiga, elle em publico me aggrava, mas ninguem tem dó nem liga!"
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
DISSONNETTO DUM PHILISTEU SÓ MEU [5348] Um moleque que rasteja humilhado, doutro, aos pés, não espera que alguem seja piedoso, entre mil fés. Masochismo lhe sobeja si ficou, do chão, no rés. Que, ja cego, nada veja gostariam disso uns dez. Ser Sansão ante a turminha e soffrer como o judeu sempre fora tara minha, mas maior tesão foi meu: Quando um delles se fechava só commigo e do meu breu abusava, a bocca escrava mais servia ao philisteu.
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COCEIRA NA SOBRANCELHA [5609] Ainda sou dos olhos soffredor. Um globo vem doendo muito, mas demais mesmo. Nem posso mais, em paz, coçar a sobrancelha, que dá dor. O outro olho ja murchou e de suppor seria que me desse tregua. Faz que quieto fica agora, mas la attraz ardia. Admanhan, torna a arder... Que horror! Suppuz que, consummado o seu estrago, cegando-me, faz tempo, por completo, o sadico glaucoma agora quieto deixasse meu olhinho, mas divago. Não basta nos cegar, commigo trago a dura conclusão. Do que interpreto me resta só mais isto de concreto: Da vida não fugi porque sou mago.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
IDYLLICO COLLYRIO [5611] Que bello pesadello, gente, eu tive! Paresce paradoxo, mas explico: sonhei que eu enxergava bem e rico de cores era o bosque em que eu estive. De verdes, tons diversos, inclusive nas aguas da lagoa, verifico que tingem esse parque. Perto, um picco rochoso o delimita, no declive. Não quero despertar, pois si desperto percebo que estou cego de verdade. Sim, quero me mactar, e ninguem ha de fazer-me desistir, eu lhes allerto! De novo ja addormesço. Ja bem perto estou de libertar-me desta grade maldicta da cegueira. Ja me invade o verde do jardim, a céu aberto.
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MARRENTOS CEM POR CENTO [5613] Adeptos dum accordo que, por bem, no sadomasochismo tenha base, practicam tudo aquillo que essa phrase "Só mando quando pedem!" de mau tem. Bem sadico precisa ser alguem que queira ter prazer completo, ou quasi, embora ninguem haja que extravase de facto seus desejos num refem. Pudessemos fazer aquillo tudo com outrem, que quizessemos, talvez ninguem sobrevivesse, pois vocês noção teem dum mandão ou dum marrudo! Commigo mattutando, não me illudo. Pudessem me cegar, como o marquez de Sade diz em these, em tempos trez eu era, alem de cego, surdo-mudo!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
FEEDBACK IN BLACK [5618] Não basta ficar cego! Você tem bastante que soffrer! Vae sentir dor, ainda, para sempre! Por mais zen que seja, será sempre soffredor! Ha duas longas decadas ja sem visão, cê não fallou que ver a cor podia de memoria? Pois tambem da dor se lembrará si sonhar for! Bem feito, Glauco! Ou acha que irá alguem dizer "Coitado!"? Ommitte-se o doutor que tracta do seu caso? Legal, hem? Nem elle quer fazer algum favor! Pois é, meu caro: foda-se! Estou nem ahi para você! Lhe fallo por nós todos, que enxergamos muito bem e somos, um por todos, seu leitor!
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GESTO INDIGESTO [5623] Baratta voadora? Disso Zeus me livre! Caso desses, outro dia, na casa dum ceguinho uma agonia damnada provocou, amigos meus! Contou-me esse coitado: deu addeus a todas as visitas, pois queria curtir a solidão, mas a alegria durou pouco, foi coisa de plebeus. Entrou pela janella, a desgraçada, em tudo se chocando! Um cego não consegue, nesses casos, fazer nada! Na boba mão lhe exbarra a peste, então... Na testa, nas orelhas, quasi em cada centimetro daquelle cabeção! Por sorte, elle, com uma só palmada, mactou-a! Mas na bocca accerta a mão!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
NOJENTO CORRIMENTO [5628] Chupei, ja cego, um gajo que, de idéa, bem sadico seria, que me fez tragar um pau que tinha gonorrhéa corrente. Dessa rolla fui freguez. Houvesse me filmado, da platéa infantojuvenil hoje talvez eu fosse epico meme. Que geléa corria! Que patê! Que sordidez! Emquanto me fodia, ainda ria, mandando que engolisse esse seu puz com gosto de manteiga, de ambrosia salgada! Até doente me suppuz! Provei que, quando orgastica a agonia, um cego se degrada, se reduz a bicho com um furo onde lhe enfia a rolla alguem que ainda advista a luz.
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BONS DONS [5631] {Pertences, Glauco, a alguma dessas seitas? Que tu te julgas bruxo ou mago, ja fallaste disso muito. Mas vem ca, responde então: Por que não te approveitas? Protege-te! Te vinga das Te cura da cegueira, que tornou a tua vida! Jeito na cama que te cabe e em
desfeitas! tão má dá que te deitas!
A fama que meresces, por que não a crias? Por que editas sempre por pequenas editoras? Hem, Glaucão? Serias o maior, hoje, escriptor!} -- É facil explicar. Minha visão perdida compensar vou no que for possivel. Tu não notas, mas estão commigo os deuses. Tenho um defensor.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
ENTREGA CEGA [5633] {Faz tempo que, sarrista, não domino alguem que a mim, de quattro, dê e, vendado, se deixe castigar. Mas um menino achei que se subjeita de bom grado. Alheio olho cegar, do meu aggrado, é practica frequente: eu determino que, sem me conhescer, algum veado masoca a venda ponha. Ahi, lhe brado: "De quattro! De joelho!" Olho o fulano sem follego, offegante, ja fodido na bocca, a se engasgar. Então decido si exporro ou si lhe mijo. Que tal, mano?} -- Cegueira temporaria, pelo panno da venda, dá tesão, mas mais soffrido meu caso será: a perda do sentido eterna torna a graça do meu damno.
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AZEDA TANGERINA [5642] Urina allaranjada, muito forte seu cheiro. De proposito, o subjeito não dá a descarga, deixa alli. "Bem feito!", commenta. Alguem exsiste que o supporte? Exsiste, sim. Um cego, cuja sorte virou thema de chiste: "Eu me deleito sabendo que não tenho o seu defeito nos olhos!" O mijão não é de morte? Sarrista que só elle, quer que tenha para algo utilidade a bocca muda do cego, penetrada com ferrenha dureza pela rolla, que é grahuda. Só resta que obedesça. Assim, se empenha o cego, ouvindo: "Invalido! Caluda! Se exforce! Chupe! Lamba! Antes, saccuda meu pau mijado! Chega de resenha!"
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
ATTIRADORES DE ELITE [5646] {Mal posso crer, Glaucão! Ouvi fallar que cegos ja ficaram muitos, em chilenas ruas! Todos, por azar, nos olhos balleados! Graça tem? São ballas de borracha, no logar daquellas que, de chumbo, leva quem guerreia por ahi, mas vão cegar uns olhos si pegarem nelles bem! Não, Glauco! Ja pensou? Que legião de cegos repentinos, na agonia das dores e das trevas! Como vão fazer? Como voltar ao dia a dia?} -- Lamento, sim, mas tanta compaixão ninguem teve, na phase em que eu perdia a vista. Algum chileno mais irmão, si fosse masochista, meu seria.
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EGUALITARIA DESEGUALDADE [5672] Que somos differentes, eu entendo, mas não no plano physico. Sem nós mentaes, os homens vejo, todos sós na sua solidão. Sim, condescendo. Não vendo os olhos cegos e, não vendo, os olhos mais enxergam pela voz dos outros, que me contam como nós eguaes a todos somos, vamos sendo. Ao cego, não exsiste velho, novo, magrella nem gorducho, preto ou branco. Exsiste um tom vocal que, falso ou franco, traduz o que, em commum, entende o povo. Não posso ser racista, nem promovo viés que discrimine. Quando banco o vate intolerante, topo um tranco levar e, excarmentado, me commovo.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
AGGRACIADO SENTENCIADO [5690] Ao lado do doente terminal, quem cego na prisão ficasse iria direito ter à proxima amnistia vigente, o tal "indulto de Natal". Sciente disso, um chucro marginal, cumprindo pena até distante dia, cegou-se de proposito! Queria dalli sahir bem antes do final... Soltura conseguiu, mas não será tão facil a missão do nosso amigo. Alguem ficou sabendo que um mendigo da praça foi bandido ousado, ja. Agora abusam delle. Quem lhe dá porrada acha que vale esse castigo. Dos outros o pau chupa, pois perigo exsiste de ser morto. Ô vida má!
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CEGADO E EMMUDESCIDO [5692] (ao Fabio, que bem soube me tractar) Você não vê nadinha mesmo, cara? Então va pelo cheiro! Ahi! Tá forte? Não lavo o pau, ceguinho! Que supporte você! Cego qualquer perfume encara! Regace devagar! Ahi! Deu para sentir o queijo, cego? Um roquefort com grãos de parmezão, hem? Não entorte o seu nariz, não! Cego não se enfara! Não, cego não excolhe! Com a sua babosa lingua, quero que dê banho bem dado! Tá assustado c'o tamanho? Vae ter que engolir tudo! Cego sua! Ahi! Mais fundo! Cego não recua! De novo! Mais depressa! Ah! Quando ganho chupeta assim, exporro bem! Tá fanho? Cansou? Depois a gente continua...
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
CHORO HUMORISTICO [5700] "Não chora! Si chorar é que peora! Acceita, que dóe menos teu castigo!", disseram ao me verem cego. Agora os chupo e "Sim, Senhor!" ainda digo. Quem disse taes verdades commemora o facto de enxergar bem e commigo poder zoar. Humilde é quem só chora calado e chupa. Aos poucos, eu consigo. Depois de certo tempo, me convenço de que tudo depende do momento. Alguns mais se divertem quando tento chorar, lacrymejar, usar o lenço. Me dizem esses, rindo, que eu immenso prazer lhes proporciono si lamento meu drama, si calado não aguento ficar, pois seu humor ganha mais senso.
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158 GLAUCO MATTOSO
GUSTATIVA FRUSTRAÇÃO [5701] Diz "Abra a bocca e feche os olhos!" quem convida alguem que estima a ganhar balla ou doce que deleita. Mas se cala o cego que entendeu nisso um porem. Quem ganha de surpresa, qual nenen, aquelle pirolito que regala, idéa nem esboça do que eguala um cego ao mais ridiculo refem. Seus olhos nem precisam se fechar emquanto sua bocca aberta fica exposta, dum mandão, à dura picca que irá forçal-a a, soffrega, fellar. Ao maximo terá seu maxillar os dentes affastado. Mais se estica a lingua sob a glande que, impudica, evita addocicar o paladar.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
WHEN A BLIND MAN CRIES [5703] O cego do Deep Purple, quando chora, dá dica de ter sido abbandonado, fechado no seu quarto, mas tal fado envolve o que meu caso corrobora. Um gajo, que era amigo, foi embora, mas fez com elle coisas que me enfado, até, de repetir, tendo versado bastante sobre alguem que rememora. Tambem, no chão jogado, rastejei aos pés dalgum "amigo" gozador que fez chacota sobre minha dor, impondo, por prazer, a sua lei. Um cego não será feito de gay nem deve ser de rollas chupador appenas por ser logico suppor, mas pelo testemunho que ja dei.
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LIGAÇÃO COM LIGAÇÃO [5706] Quem quizer compartilhar com um cego o que na veia lhe cotuque, diz: "Um par quer da minha suja meia?" Eu nem tenho cellular mas alguem disso proseia no apparelho que, em logar do portatil, tenho, creia! Accredite! Quem ligar para o cego ouve esta feia voz chiada, ao perguntar si eu estou de bocca cheia. Mas respondo que chupar é missão minha: tomei-a como dadiva do azar que a cegueira presenteia.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
LIVRO DO CEGO [5707] Não! O "livro" que hoje é thema não tem braille, si meu for! É "do cego", sim, mas rema contra a norma do sector. Ja digito, com extrema rapidez, e sou auctor de dezenas, sem problema, num veloz computador! Escriptor que cego seja ja do braille não depende como dantes, mas esteja certo: um thema muito rende: Não é fé, não tem egreja meu enredo. Porem, quem de chupador me faz, enseja ao leitor o que elle entende.
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CEGO PUTO NADA REZA [5710] Cada fé seu deus festeja. Eu festejo até na dor. Grato, alguem que ja não veja Oração faz ao Senhor: "Pae, cegaste-me! Assim seja! Um pedido só, si eu for Te pedir, é o que me enseja: Olho tens? No cu vae pôr!" No cu, sim, Anda ja bem Dou razão a A rosquinha
Senhor! O meu castigado! quem fodeu dum veado!
Rogo a ti, Senhor! Atheu Eu não posso ser chamado! Zeus tambem ja respondeu, Attochando-me o cajado!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
PEOR CEGO [5714] Um cara, analysando para mim o sadico proverbio, foi bastante feliz, ao fallar tudo o que me encante, embora alguns contestem. Falla assim: "Um cego, para mim, si nada ver quizer, na sua teimosia, na vontade de ir assim
será ruim pois se garante constante até seu fim."
"O cego bom será quem ser refem não queira da cegueira, quem se faça rebelde contra a sua van desgraça, sabendo que dó delle ninguem tem." "Ahi, sim, mais gostoso o tesão vem, pois, vendo um impotente, no que passa de extrema dor, ainda mais devassa é minha picca, que elle chupa bem!"
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TERRA DE CEGO [5715] Tambem outro dictado um gajo leu à sua firme e sadica maneira, na qual, tirando sarro da cegueira, papel faz do mais puro philisteu: "Em terra de ceguetas, se fodeu aquelle que beijar o pé não queira de quem for rei caolho, ja que inteira razão todos lhe deram!" Fallei eu: Qual é, pela visão de quem só tem um olho, o tractamento que deseja o rei daquella terra, sem que eleja o povo livremente, emfim, alguem? O gajo respondeu: "Quererá, sem pudor nenhum, punir quem não rasteja a seus pés, quem gostinho de cereja não acha no seu pau, nem diz amen!"
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
CANÇÃO INSONORA [5737] "Assum preto veve sorto", impedido de "avoá". Lhe "furaro o zóio" e morto elle agora quasi está. Não morreu, mas seu comforto reduziu-se ao ré-mi-fá. Eu não canto mas, absorpto, chupo alguem que gozará. Passarinho que, cegado, sirva appenas de cantor não differe do coitado dum ceguinho chupador. Só differe o resultado da cegueira: é de suppor que elle chupe bem calado, sem ruido, o seu senhor.
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ASSAZ INEFFICAZ [5738] A sciencia quer que eu faça propaganda do oculista nestes versos, mas não passa sem que eu falle, pessimista: A doença que me embaça não tem cura! Quem a vista perdeu sabe e não vê graça em calar-se, nem despista. Não farei, porra nenhuma, homenagem ao subjeito que pretextos mil arrhuma para azar que não tem jeito. Ha ceguinho que presuma ser curavel seu defeito? Oculista que se assuma impotente eu, sim, ja acceito!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
PROFISSÕES DE PONCTA [5746] Si for India ou si for China, massagista alli não falta. Ao ceguinho o que se ensigna é manter a estima em alta. Um cliente que quem fez curso Sua lingua, ou lhe dirá que a
o domina não descharta. a narina, farra é farta.
Num pezão o cego fina syntonia tem: lhe basta lamber fundo, e se elimina qualquer fungo em sola gasta. Profissão que não combina com um cego sem gravata: costureiro! Hem? Imagina! É de agulha que se tracta!
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DECORAÇÃO DE CORAÇÃO [5750] Caro custa! Decorar, affinal, quanto trabalho dá si, para ornar meu lar, bibelôs são pés, caralho! Mil botinhas, par em par, colloquei neste serralho de podolatra. A faltar fica um tennis bem bandalho. Decorei ja meu apê com retractos de pés nus ou calçados, mas você nem calcula quantos puz! Fiquei cego e, então, cadê a funcção, que me seduz, desses quadros? Só quem vê saberá si fazem jus...
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
ALTERNATIVAS MEDICINAES [5762] Ja de plantas soccorri-me quando ainda visão tinha. Mas fui victima dum crime e a cegueira foi damninha. A sciencia não se exime de responsa, pois eu vinha me tractando com um time de bons medicos, na linha. Mas nem faca, nem gottinha me salvaram: o regime do Destino é o que definha e a má sorte é o que deprime. Encerrando a ladainha, não ha mal que desanime um ceguinho que escrevinha si elle mesmo se autoestime.
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AMIGUINHOS DO CEGUINHO [5765] Amigão é sempre alguem que dum cego de babá posa e pisa-lhe, porem, na boccarra de gagá. A Chiquinha diz que tem pirolito e não me dá. Quem faz annos bollo nem offeresce e comeu, ja. Por ser cego, sei eu bem que meresço a sorte má. Os que enxergam sempre veem humilhar quem cego está. Mas serei eu sempre zen. Minha fama não será exquescida por ninguem que pisões deu. Oxalá!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
PODOLOGIA QUE SACIA [5767] Sou podolatra mas acho no podologo uma via. Nada como um pé de macho si eu quizer podolatria. Um ceguinho é bom capacho: facil nelle tripudia quem enxerga. Si me aggacho, logo alguem seu pé me enfia. Massageio e dou relaxo practicando a theoria mais holistica. No excracho, porem, vira putaria. Bem, assim, eu me despacho. Num bom thema, a poesia não trará cara de tacho ao poeta que em si fia.
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172 GLAUCO MATTOSO
BUQUÊ DE BUKKAKE [5776] Contado por um cego japonez, o facto me empolgou! Elle ficava aptado, de joelhos, numa trava de chordas, o "shibari", olhem vocês! De sadicos diversos foi freguez, que nelle ejaculavam! Mais escrava tornavam sua bocca, que chupava caralho por caralho, vez por vez! Seu halito, me disse elle, fedia tal como uma privada sem descarga! Na sua lingua a baba achava amarga, mas tudo supportou, no dia-a-dia! Pensei sobre commigo o que faria um sadico nipponico! Que carga nos hombros eu teria! A sola larga e chata que, na face, eu sentiria!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
MISERICORDIA DA MISERIA [5782] Protectores da pobreza muitos querem ser. Porem, o que sobra em sua mesa não repartem com ninguem. Quem a vista tem illesa chocolates tem, tambem. Mas dirá, por malvadeza, que ao ceguinho não dá, nem... Não mas que não
fui nunca algum mendigo, bastante eu implorei cegueira, por castigo, constasse mais da Lei.
Lei divina, que foi severa, bem Não bastasse um a zoar dum cego
commigo ja sei. inimigo gay.
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174 GLAUCO MATTOSO
BARDO INFELIZARDO [5784] Quem tem sorte enxerga. Vel-o não consigo. Mal me escudo na cegueira, mas com gelo na voz elle é bem marrudo. Azarado sou e pelo braço pega-me o sortudo. Quer que eu mude o tolo zelo que me escuda. Agora eu mudo. Me pegou pelo cabello, pela orelha, e metteu tudo bocca addentro. Eis como fel-o quem eu fello, e me poz mudo. Hoje em dia, pesadello ja não tenho com o rudo gajo cujo tornozello, num abbraço, lambo nudo.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
PROFISSÃO DE FÉ NO PÉ [5857] Dos podologos vasculho a funcção, mas asseguro que tambem quer ter orgulho desse officio o pedicuro. Pelo radio faz barulho, propaganda faz no muro, mas eu, cego, não empulho meus clientes, pois dou duro. Sou callista, sou tambem massagista dum pezão. A calhar a lingua vem si não basta com a mão. Sola grossa tem alguem? Mais que lixa, que cascão? Sim, senhor! O cego tem a maior dedicação!
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176 GLAUCO MATTOSO
OSCULOS NOS OCULOS [5861] Fiz meus oculos com lente quando ainda as coisas via. Hoje quero que somente sejam pretos, todavia. Quem um cego pela frente topa, ausente estando o guia, pelos oculos sciente fica que elle em Zeus confia. Ja não saio, ultimamente, nem de noite, nem de dia, mas admitto que é prudente usar oculos na via. Tanto os amo, que, carente dum carinho, uma mania eu ganhei e, de repente, só beijal-os me cabia.
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ORATORIO OROTURBATORIO [5863] Fazei, Senhor, que um cego utilidade consiga triplamente exercer em quem pode, felizmente, enxergar bem! Fazei, Senhor, que eu nunca desaggrade! Fazei que minha bocca se degrade trez vezes: nos dois pés, lambendo, sem nenhum nojo, o chulé; fazei tambem que eu limpe, do cu, toda a sujidade! Por ultimo, Senhor, de mim fazei um prompto fellador! Não me deixeis de esmegma sentir asco, si quereis que eu seja cumpridor da vossa lei! Fazei que, num irmão, tudo o que sei fazer eu oralmente faça! Reis serão meus, dos sessenta aos dezeseis, os bons irmãos dum util cego gay!
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MEME DO MIMIMI [5890] {Sem essa, Glauco! Um cego não tem nada que estar se lamentando! Por aqui fiquei depois que tanto pappo ouvi de gente se dizendo desgraçada! É só saber levar! Capaz é cada ceguinho de fazer tudo o que vi fazerem, de evitar fazer xixi no dedo ou para fora da privada! Não acha, cara? A gente até se enfada com esse repetido mimimi! Conhesço um conformado, que sorri de tudo, faz comsigo uma piada!} -- Bem, quando de mim riu a molecada, não pude rir tambem. Nem chorei si mandaram-me chupar. Só consegui, calado, ouvir dos gajos a risada.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
BLUES DOS MEUS BREUS [5900] Dormi. Quando accordei, esta manhan, achei extranho: triste nem fiquei. Dormi. Quando accordei, esta manhan, mais triste nem fiquei. Por que? Ja sei! Alegre estou. Nem penso nessa van carencia da visão, em ser o rei na terra dos ceguinhos, pois Satan commigo fez um pacto, uma astral lei. Si sinto muita falta da visão, tacteio o meu sapato, onde procuro a meia que está dentro. Nesse escuro, do cheiro della augmenta a proporção. Blueseiros, muito tristes todos são. Lhes falta alguma coisa? Alli, no duro, não falta, mas precisam do perjuro motivo p'ra fazer uma canção.
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ACCERTO DE TRACTAMENTO [5921] Hem? Como cê se sente, infeliz? Hem? Responde, infeliz! Cego cê se diz? Então vae se foder só porque eu quiz! Ahi, cara! Adjoelha! Muito bem! Assim que eu gosto! Sabe chupar sem ter nojo? Vae saber! Lambe, infeliz! Vae, passa a lingua porca no que eu fiz! Xixi tem gosto bom? Que gosto tem? Engole, infeliz! Abre bem a sua boccona de ceguinho! Quem mandou perder sua visão? Agora sou quem manda! Chupa, cego! Soffre! Sua! Assim, vae! Vou gozar! Ah! Continua! Ah! Tem que engolir tudo, ou eu lhe dou porrada! Ah! Gostou, cego? Não gostou? Azar! Bebe meu mijo! Não recua!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
NOITE SOB AÇOITE [5930] {Pensei commigo, Glauco: um bom tesão seria açoitar, como foi Jesus surrado, mas tambem, como suppuz, cegal-o ja durante essa sessão. No filme do Mel Gibson, elles vão battendo até que um olho perde a luz, vazado pelo relho. Sua cruz podia ser assim, não é, Glaucão? Que tal, hem? Ser cegado como Christo! Si elle sobrevivesse, poderia tornar-se escravo desses que, no dia da surra, deleitavam-se com isto!} -- De facto. Ja seus pés eu tendo visto emquanto da chibata padescia, depois de cego os paus eu chuparia. Em sonho, só, taes rollas eu enristo...
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MISCELLANEA SENSORIAL [5962] Cegueira tambem pode ser pretexto. O cego concretista appalpa o pé e lê, no amendoim, nonsense, até. A crosta dos pãesinhos lê no cesto. Terá, logicamente, mais contexto no olfacto, si cheirar o seu chulé. Porem o que do bardo dizem é que está mais synesthesico no texto. Ninguem é mais poeta nem concreto que o cego, que tacteia a dimensão da lettra na palavra, avulso objecto. Em cada grão palpavel, o olho são não vê sentido algum, mas interpreto eu, sem a luz do dia, a cor do grão. Na mesa, até café com leite quieto não deixo, tacteando um duro pão.
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DOSE EXACTA (II) [5988] Eu sempre tive medo da cegueira e, desde adolescente, esse temor deixava-me impedido de suppor que um cego pornofilmes fazer queira. Ouvindo o cantador que vae à feira contar historias sobre sua dor, allivio senti sempre, portador que sou de vista nitida, certeira. Em summa, de visão é que se tracta. A minha propria louvo, por ser boa, melhor até que um olho que só doa e pouco veja, coisa que acho chata. Por isso mesmo, gozo com a grata imagem do rival de quem caçoa a gente appós cegal-o. Coisa à toa ser elle e não nós. Chupa! Dose exacta!
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MISCELLANEA DA FELLATIVIDADE [6043] Estar em seu logar às vezes sonho. A bella fellatriz compensa a sua cegueira si efficaz é quando actua. Mas só por un instante é que me ponho. É tão appavorante, tão medonho ser cego, que escutei eu ja, na rua, alguem dizer, de forma nua e crua, que cego honrado é coisa de pamonha. A puta ficou cega, mas tem rosto bonito e bocca grande. Entende agora que um logico serviço foi-lhe imposto: na fellatividade ella melhora a cada pau que chupa, mas o gosto na bocca amargo fica e mais demora. Até que inveja tenho do seu posto, mas só quando da bronha chega a hora.
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MISCELLANEA DAS PARADAS [6044] O povo tem seus gostos, eu respeito. Ray Charles vale Stevie Wonder? Damno tambem soffreu José Feliciano. Não quero comparar nosso defeito. Cantores cegos gozam de conceito um pouco differente. Si me irmano ao Zé, compositores não me uffano de estar subestimando, com effeito. Trez cegos. Não discuto quem mais é famoso ou importante. Para mim, appenas por cantar, foi o José. Em "And the sun will shine" eu ouço o fim da vida, ou da cegueira, tendo fé nalgum admanhescer menos ruim. Emfim, as preferencias da ralé eu para contestar aqui não vim.
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MEME DO CEGUINHO PUTO [6050] Do cego uma senhora sente dó: "Tadinho de você! Tão bonitinho, mas cego..." -- diz a velha, com carinho. Quaes phrases prende o cego no gogó? O cego appella: -- Aqui! Dispenso o affago! E então? E o que a senhora mais queria? Que, alem de cego, eu fosse feio, gago, banguela e manquitola? Ora, tithia! Pé chato me faltava? -- ainda indago -Não basta esta cegueira? Que mania! -- Nem tenho excappatoria! Sempre pago o mico de ser cego! Até meu guia me goza e diz assim: {Porra! Me cago de medo de cegar! Bem que eu queria não ter este pé chato... Mas o estrago é pouco, ja que enxergo! É o que allivia...}
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MEME DO BICCO LARGO [6092] Barulho que moedas fazem. Isso me irrita. Mais ainda a canequinha do cego. Elle a chacoalha, me apporrinha e faz com que eu me torne irritadiço. Mas eu desforro, porra! Si me ouriço, eu chuto esse caneco! Ora, adivinha a cara do ceguinho, que ja tinha junctado tanto! Presto um desserviço? Magina! Acho bem feito! Quem mandou o cego me irritar? Um ponctapé e voa a canequinha! Ah, mas não é gozado? Dou meu troco ou não lhe dou? Precisa ver! Filmaram o meu show! A bota attinge em cheio! Pega até na cara do coitado! Seu bonné tambem cahiu! Riu muito quem filmou!
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SATYRESIAS [6095] Facillima se faça a prophecia na bocca do ceguinho que propheta se torna si tambem for bom poeta. Componha pessimista a poesia! Si for hoje à de hontem bem facil o a mesma dor
peor nossa agonia comparada, se interpreta porvir: mais nos affecta um dia appós um dia.
Si fosse exactamente a mesma dor, nos accostumariamos ao mal. Da proxima vez, nunca a dor egual será, porem mais forte, é de suppor. Sinão, não tinha graça! Assim, si for auctor dalgum oraculo fatal, você exaggere muito o mau signal, ou não será das trevas portador.
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MEME DO ABRIL AZUL [6096] Sabia, Glauco? Tenho, ó meu, tamanha repulsa da cegueira, que você nem pode imaginar! Até bebê ceguinho me dá raiva si faz manha! Sim, dou cacete em cego! O caso ganha contornos de comedia! Nada vê, mas age elle tal como si lhe dê vontade de dansar! Então, appanha! É como um João Bobo numa pista de dansa, feito um pendulo! Lhe batto, mas elle foge e volta ao meu contacto, querendo, na porrada, que eu insista! Só pode ser um cego masochista, Glaucão! Que nem você, que meu sapato adora lamber! Cegos, eu constato, são mixto dum tapete e dum... autista!
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GENUINA DISCIPLINA [6100] Bons tempos, Glauco, quando se podia punir com castração e com cegueira alguem que, na segunda, até primeira vez, tenha demonstrado rebeldia! Depois de cego, fica a autonomia do gajo reduzida a verdadeira prisão sem grade. Mesmo que elle queira fugir, não pode, noite sendo, ou dia. Você bem sabe, Glauco. Um prisioneiro cegado obedescer vae, sem direito a queixa, ao carcereiro. Me deleito com isso. Do que rolla bem me inteiro. É pena que não rolle em brazileiro presidio, mas, emfim, acho bem feito. Você não vae dizer que é preconceito, não é? Não fosse, Glauco, um punheteiro!
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FODIDO E BEM LIDO [6105] Alguem tem que ser cego, tem alguem que ser esse fodido nesta vida. Cegueira foi desgraça decidida de cyma, pelos deuses, vem do Alem. Alguem tem que ficar cego, mas nem por sonho serei eu. Ha quem decida cegar-se? Não, jamais! Um suicida faria bem melhor, pensando bem. Por isso me divirto com você, que sem visão ficou e me deleita no livro que estou lendo. Certa feita, sonhei que cegaria alguem que vê. Quiz muito ter a chance, mas cadê que posso me vingar de quem desfeita me fez? Então a gente se approveita dum cego que é poeta. A gente o lê.
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MICHETAGEM SEM IMAGEM [6119] "Um cego entre inimigos..." Ja lhe disse alguem tal phrase, Glauco? Claro, né? Por SEM OLHOS EM GAZA tambem fé meresce um Aldous Huxley na mesmice. Hem? Pode-se esperar que alguem não risse dos medos dum cegado? Vão até rir delle caso um carro marcha à ré dê para assustar, para que se attice! Cachorros ja attiçaram em você, Glaucão? Ja lhe jogaram pedra, meu? Alguma coisa assim, ah, tambem eu queria lhe fazer, logo que dê! Mas, como perspectiva não se vê da volta à normal scena, você deu é sorte! Nem bancar o philisteu eu posso! Só por phone sou michê!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
MEME DA CORRIDA A COMBINAR [6131] Desculpe perguntar, mas o senhor é cego de nascença? Não? Caralho! Nem posso imaginar, nesse trabalho de taxi, que sou disso um portador! Nem oculos eu tenho! Nem suppor eu quero, porra! Ainda bem que eu calho bem para dirigir! Pego um attalho e estou, livre do transito, onde for! Tesão, diz o senhor? Ah, que engraçado! Pensei foi justamente nisso! Sinto bem isso por poder enxergar! Minto si digo que não sinto! Olho o meu lado! Sim, penso no senhor, que está ferrado, mas não cheguei a achar que chupou pincto na vida, ja! Bem, como disse, instincto não falta! Adoro mesmo ser chupado!
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NEGOCIAÇÃO AMIGAVEL [6133] Onde é que ja se viu, Glauco, um cegueta querer de mim cobrar um aluguel que está attrazado? Chega aqui e papel fazer quer de mandão, causando treta! Fodeu-se! Foi bem feito! Quem se metta commigo uns trancos leva! Meu fiel e joven enteado foi cruel com elle... Mas quem manda ser ranheta? Eu mesmo comecei a dar porrada no velho, mas jogado foi ao chão por elle, esse moleque, tão machão que logo lhe deu bella botinada! O cego, que não pôde fazer nada, chutado foi, pisado foi, Glaucão! Você, que ja levou muito pisão, bem sabe como abusa a molecada!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
HASHTAG DEU RUIM [6153] Não era para azar egual ao seu nós todos termos, Glauco, porra! Ah, va tomar no cu! Você, que cego está, saudade tem daquillo que perdeu! Mas eu, que me julguei ser philisteu em vez de ser Sansão, me vejo ca em casa confinado! Porra, dá mais raiva de quem vive no seu breu! A mim, que sempre achei ser mais experto que um misero ceguinho, tão chinfrim que mais paresce um bicho de mim perto, foi muito vergonhoso, pô! Foi, sim! A todos que teem olho bem aberto, não era para estar a coisa assim! Devia, sim, ter dado tudo certo! Sahiu bastante errado! Deu ruim!
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HASHTAG VAE MELHORAR [6162] Glaucão, vae melhorar para teu lado! Fiquei sabendo -- Puxa! -- que ja alguem inventa, para os cegos, o que vem trazer-lhes visão nova! Puta achado! No cerebro collocam, implantado, um troço leve, electrico! Sim, sem usar seu olho cego, o gajo tem imagem duma lettra! Foi testado! Não achas que esperança a coisa traz? Não ficas optimista, meu amigo? Ainda festejar eu vou comtigo! Percebo que animado agora estás! No seculo vindouro, tu serás vidente novamente! Teu castigo findou! Reencarnado, sem perigo dirás que ja não temes Satanaz!
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HASHTAG PRAGA DE CEGO PEGA [6167] Vivias a fallar, Glauco, que estavas no seculo dezoito ou dezenove, não só pela graphia que te move a verve em varias quadras ou oitavas... Agora as nações todas são escravas da tua praga! Até que se comprove haver cura que a vida nos renove, mandamos o futuro para as favas! Vivamos no passado! Ninguem mais viaja de avião! Para a doença não temos mais remedio! Resta a crença nas lendas e nos mythos ancestraes! Avós seremos, como nossos paes! Seremos saudosistas! Ninguem pensa no novo, só no velho! Recompensa terás, Glauco, mas caro sae, demais!
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COVARDIA [6196] Batter num cego muito facil é! Fazer o que quizermos elle irá sem mesmo ser surrado, mas que dá vontade de batter, dá! Muita, até! Batti ja num, Glaucão, só com o pé! Mandei que rastejasse, fosse la e para ca voltasse! Kakaká! Morri de rir, meu caro! Bote fé! Até que nem chutei muito! Pisão levou, porem, bastante! Elle pedia que eu fosse mais clemente e covardia achava aquillo tudo, olhe, Glaucão! Covarde, eu? Só sorrindo! Você não achou gozado? Um desses eu fodia na bocca só depois que rebeldia mostrasse! Esse é que é mesmo o meu tesão!
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HYDROXYCHLOROQUINA [6197] Um grave effeito ouvi, collateral, da tal da chloroquina, Glauco! Ouviste fallar? Causa cegueira! Quer mais triste destino, quando alguem nem está mal? Tomar por prevenção a quem nada pegou e De quem se recupera por ter sahido cego
será fatal bem resiste! farão chiste do hospital!
Pensaste, Glauco? O gajo nada tinha! Siquer elle infectado fora, mas tomara a chloroquina! Agora, attraz dos oculos escuros, ja definha! Ficou cego! Peor que tu, que minha risada despertou ja, tão mordaz! Terá que implorar graça a Satanaz até para achar uma moedinha!
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AGONISTA [6214] Sardinhas todos puxam para o lado que querem, mas, Glaucão, exaggeraste! Sansão ja, no cinema, como um traste por Cecil B. De Mille é retractado! Ainda nos quarenta, resultado pomposo o filme teve! Que te baste não fez o director grande contraste com esse millennar texto sagrado? No filme, foi Sansão bem humilhado depois de cego, Glauco! Delle ria o povo philisteu! Que mais queria o publico? Não foi de teu aggrado? Entendo... Tu querias que, coitado, o cego rastejasse, que lambia o chão saber querias! Agonia tamanha, nem em Milton! És damnado!
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MALUCO DA CABEÇA [6229] Um cego com poder de decisão? Um cego que 'inda autonomo paresça? Estás mas é maluco da cabeça! Um cego só tem uma posição: Abbaixo de quem vê com olho são! Debaixo dos pés! Que elle não se exquesça! Qualquer abuso oral que lhe accontesça tem elle que engolir, Glaucão! Ou não? Tu sabes que estou sendo o mais sincero possivel, Glauco! Sabes o que passas si ficas à mercê dumas devassas vontades, dum castigo mais severo! Eu mesmo ja abusei dum cego! Quero em horas taes dizer, a rir, que graças a Zeus eu bem enxergo! Tu que faças teus versos, mas que chupes, sem mais lero!
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TALHE NO DETALHE [6240] Gravura vi, Glaucão, que lhe interessa. Carrascos trez accabam de cegar um homem, cujo oval globo ocular tirado foi da cara, mas sem pressa. Seu outro olho sahir tambem vae, nessa sessão de cegação. Falta passar a faca, que dum delles a brincar está na mão e quasi que a attravessa. Detalhe interessante que, evidente, nos salta à vista: algozes de pau duro estão, fora das calças. Glauco, juro! Aquillo mexe mesmo com a gente! Mais um detalhe: rosto sorridente exhibem elles. Quasi ja no escuro total, o desgraçado mostra puro terror no olhar que resta. A gente sente.
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COMMISERAÇÃO [6250] Eu, toda vez que vejo um alleijado andando de muleta, me condoo, pensando no coitado que, no voo dum salto, nunca pode ir n'agua a nado! E quando vejo um 'inda mais ferrado, um desses cadeirantes, nem caçoo do gajo, pois até jaula de zoo tem bicho mais feliz, mais bem tractado! Até, Glaucão, si vejo um surdomudo fazendo umas caretas de quem não entende porra alguma, dou razão àquelles que o problema acham agudo! Mas, quando vejo um cego, não o accudo nem delle sinto pena! Não, Glaucão! Me lembro de você, que de Sansão é fan! Meu pau se entesa! Me desnudo!
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CEGADO E CAGADO (I) [6251] Bengala ainda nova, vem o cego battendo o troço deste e doutro lado. Alguem que se irritou, ja bengalado que fora, quer vingança: "Ah, ja te pego!" Glaucão, que isso diverte, meu, não nego! Um trecho da sargeta está tomado de merda! Algum exgotto vazou! Dá, do fedor, enjoo! Penso nisso, offego! Num tranco, o gajo obriga aquelle chato cegueta a mergulhar na cocozeira! Depois de chafurdar, elle está à beira da valla, procurando pelo tacto! Perdeu sua bengala! Até desapto a rir! Ninguem adjuda a quem mal cheira! Só ficam rindo! Glauco, não me queira mal, ja que de empurral-o foi meu acto!
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CEGADO E CAGADO (II) [6252] Não posso ver um cego de bengala que fico ja com raiva! Aquella vara o cara vae battendo, sempre para la, para ca! Que sacco! Me resvalla! E mesmo que não pegue em mim! De olhal-a batter, ja me emputesço! Porra, cara! Meresce essa licção sahir bem cara! Lhe ensigno que a mim cego não se eguala! Ah, Glauco, ja tomei a vara dum, joguei longe e fiquei alli, curtindo a sua reacção! Achei que lindo foi disso o resultado! Foi pa, pum! Pisou bem no cocô, que é tão commum haver pela calçada! Foi bemvindo seu tombo! Se borrou! Glaucão, eu brindo à dor dum cego! Sem problema algum!
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CEGADO E CAGADO (III) [6253] Ja devem ter descripto para ti o video. Pediu sopa, ao restaurante, o cego, mas um passaro, durante a pausa, passa e caga por alli. Cocô cae noutra sopa, mas eu vi que, rapido, o garçon ja se garante. O pratto sujo passa, astuto, addeante e serve ao cego o caldo! Ah, como eu ri! Ah, Glauco! Precisavas ver a cara de gosto do ceguinho! O desgraçado pensou que estava super temperado o liquido cocô que degustara! Um dia, satisfaço minha tara e enganno um cego assim! Mais eu me aggrado si a merda for a minha! Estou errado? Magina! Adoro quando alguem se azara!
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DAREDEVIL [6266] Ja viu superheroe cego você? Das artes marciaes é luctador! Aqui querem chamar Demolidor! Hem, Glauco? Cego lucta karatê? Faltava só mais essa! Quem não vê vencendo os inimigos! Eu, si for batter num cego, batto onde mais dor provoque e que maior prazer me dê! Excolho onde batter, Glaucão! Assim, divirto-me e 'inda applico uma licção num gajo tão ridiculo que não meresce piedade para mim! Prefiro ler Tarzan ou ler Tintin, que menos mythologicos me são! Ainda assim, eu nelles minha mão mettia sem dó, caso esteja a fim!
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ESTIMULO [6267] Paresce que esse heroe, Demolidor, ao padre confessou-se, 'inda menino, depois de ficar cego. Ora, imagino que tenha lamentado sua dor! Teria dicto: "Como um peccador serei? Um cego, pelo seu destino, não pode fazer nada! Não attino que possa, assim, peccar! Que vou suppor?" Que bella deducção! Não é, Glaucão? Então mais innocente eu sou e fico tranquillo p'ra sentar a mão, o bicco da bota num babaca sem visão! Ah, Glauco! Desse heroe cegueta não senti misericordia! Acho tão rico de estimulo um gibi no qual o Chico appanha do Francisco, ou batte, então!
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RIVALIDADE [6270] Soubeste? Não, tu disto não soubeste, Glaucão! Um cantador, quando deseja mal para algum rival, quer que este esteja ceguinho, dentro em breve, no Nordeste! Repente elle fará: "Cabra da peste, verei você, na porta alli da egreja, pedindo esmolla! A grana me sobeja e tenho vista boa que me reste!" "Verei você, ja cego, sem seu guia, com cara de infeliz, a bengalar, emquanto, sem querer no seu logar estar, eu vejo clara a luz do dia!" Não digo que taes termos usaria, mas algo parescido, mais vulgar, tão rico desse experto linguajar usado por rivaes na cantoria!
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VENDANDO, VEM DANDO [6293] Aquelle que baunilha aqui não for ja sabe que, de escrava, a gente venda os olhos. Isso leva a que ella attenda e cumpra as ordens, sempre com temor. O medo que tem ella, sem que cor nem luz possa advistar, faz que dependa da gente. Sem defesa, chupa alguem, da cabeça ao sacco, soffrega ante o odor. Mas ella, ao retirar a venda, fica ja livre desse medo, desse estresse. Ocê não fica, Glauco! Ocê padesce o tempo todo, nessa sua zica. É foda, né? Confesso, minha picca, emquanto nocê penso, ô si enduresce! Mas foda-se! Si eu, sadico, pudesse cegar escravas, orra! Alguem critica?
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HORROR DOMINADOR [6294] Estás horrorizado, Glauco? Tanto melhor a mim, si estás! Eu, quando vendo uns olhos, tesão forte ja vou tendo! Pensando em quem ceguei, o pau levanto! Que sarro! Que delicia! Sabes quanto eu curto o que enxergando vou! Horrendo eu acho o teu castigo! Não dependo dos outros, não te egualo o desencanto! Tu vives, Glauco, para sempre nessa cegueira! Não dependes duma venda que, finda a sessão, deixam que suspenda a treva algum olhar que mal se estressa! Não, Glauco! Seguirás cego! Confessa que estás horrorizado! Falla, a bem da verdade, que a cegueira achas horrenda! Assim tu me deleitas, cara, à bessa!
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PASSEIO PUBLICO [6300] Usar mascara, Glauco? Não! Sem essa! É coisa de veado! Use você, Glaucão, que é pederasta! Talvez dê até p'ra melhorar-lhe a cara à bessa! Você, que alem de bambi é cego, peça que façam qualquer uma que se vê nas ruas, multicor, onde se lê "Sou mesmo!" Na calçada ande sem pressa! A mascara as bichonas bem retracta! Um dia, appliquei puta pegadinha: dei uma a alguem que mascara não tinha, escripta assim: "Masoca sou! Me batta!" Talvez nem gay o cego fosse! Chata ficou-lhe a situação! Levou tapinha, tapão, chute, empurrão... Até da minha mão, claro, ou do meu pé! Gaiata data!
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PSYCHOGRAPHANDO AUTA DE SOUZA [6332] Tambem religiosa Auta de Souza se mostra appós partir, soffrida, desta. Partiu para melhor? Ella faz festa, dizendo-se liberta. Grande cousa! Estamos num exsilio, Glaucão, ousa dizer Auta. Você não a contesta? Concorda, então, com ella? Que funesta sentença, vate! Em quaes razões repousa? Citar "valle de lagrymas", a mim, não colla! Você, cego, que se ralle! De lagrymas não vejo nenhum valle! Enxergo bem! Não tenho olho ruim! Não acho que pagar peccados vim aqui reencarnar! Você que falle em termos de "missão"! Quer que eu me eguale a tantos azarados? Bah! Pois sim!
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PSYCHOGRAPHANDO BAPTISTA CEPELLOS [6340] Dest'outro plano quero demonstrar, Mattoso, tudo quanto ja soffri na Terra! P'ra caralho fui, ahi, a victima fatal dum puta azar! Mas nunca vou, Mattoso, comparar meu caso com você, que ja xixi bebeu, que comeu merda! Nunca vi masoca assim! Seu caso não tem par! Por isso ficou cego! Salutar exemplo dá você nesse planeta! A luz quem ver deseje, não se metta a ser seu seguidor! Não, nem pensar! Eu mesmo, que jamais em seu logar me puz, acho bem feito que um cegueta meresça ser quem tanto uma punheta me inspira, ainda, aqui no novo lar!
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AMEN DO ALEM [6343] É o cego um ser vendado, que não passa de escravo, si for util para scenas de sadomasochismo, onde elle appenas trabalha, a remoer sua desgraça! Assim é que elle encarna, Glauco, a raça de todos que ahi pagam suas penas! Melhor considerar que te condemnas, na Terra, a só chupar quem te desfaça! Dahi ja me livrei! Estou agora num plano superior, bem mais ameno! Ainda purgarás o teu veneno em muitas outras vidas, Glaucão! Ora! Sim, ora! Vae chamar Nossa Senhora, São Pedro, São Thomé! Nem te condemno por teres feito versos de pequeno valor, o lado oral que pões p'ra fora!
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ALEM DO AMEN [6361] Alguem olha por mim, que ja não vejo com olhos desta Terra, mas presinto, em plena pandemia, por instincto vital, que me proteja no varejo. Alem da protecção astral, protejo meu corpo, para andar no labyrintho, no braço do parceiro por quem sinto amor, seja de espirito ou desejo. Do mundo dos espiritos Akira paresce-me enviado. Que seria dum cego nesta absurda pandemia na falta da alma gemea que me inspira? Ainda antes de estar, com minha lyra, na hora da afflictissima agonia, a Alguem eu aggradesço pelo guia que em vida me emprestou e não me tira.
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JUSTO FADO [6370] Os seres portadores de defeito não podem egualdade pleitear, nem pena, nem respeito, Glauco! Olhar tal gente eu posso só si for dum jeito: Si servem aos normaes para proveito carnal e diversão! Nesse logar, sim, podem nos servir, mas sem chiar, sem nojo, sem dizer "Não me subjeito!" Eu mesmo, quando usei um alleijado ou cego, usei naquillo que normaes pessoas não se prestam, não, jamais a terem serventia ao meu aggrado! Só mesmo um cara assim é que eu degrado do jeito que prefiro olhar seus ais! No sadomasochismo são, sim, mais propicios ao abuso! Um justo fado!
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PORNÔ PORCO [6401] Fiquei sabendo, Glauco, que ja rolla até filme pornô voltado para pessoas cegas, visto terem tara ainda insatisfeita! Te consola? Tem audiodescripção, conforme eschola testada por normaes, que se compara ao clima da chochota pela vara a fundo penetrada! Achas que colla? Entendo... Faltará nesse mercado teu gosto mais commum, mas exquisito demais aos meus padrões! Teu requisito exige masochismo refinado! Terão que produzir um filme sado que tracte quem é cego no que evito fazer comtigo, mesmo si eu imito quem zomba dum Sansão recem cegado...
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MERCADO SADO [6409] Mas, Glauco, você está muito exigente! Um cego pornofilmes nunca tinha com audiodescripção! A calhar vinha que tenha, agora, aquillo pela frente! Porem, excolher algo differente da transa mais commum, ah, não convinha a quem vende productos nessa linha! Seu tempo perderá, Glauco! Nem tente! Magina! Quer você pornographia de sadomasochismo com actor que, cego, no papel dum inferior esteja? Quem tal filme curtiria? Pensando bem, talvez a maioria dos normovisuaes veja, si for visada com olhar consumidor, um filme em que o ceguinho se fodia...
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SADO CIVILIZADO [6413] A tua condição não me preoccupa, Mattoso! Meu pau sentes que ja pulla? Abbaixa a cabeçorra, cego! Oscula! Acceita teu destino, cego! Chupa! Tu lias só com oculos? Com lupa? Agora não lês nada? Siquer bulla? Que pena, não é mesmo? Mas, que engula, a tua bocca quero, cego! Chupa! Qual outra posição um cego occupa, si sua habilidade é quasi nulla? Não guardes odio! Minha mente é chula! Concentra-te em chupar, ceguinho! Chupa! Talvez tu te conformes, sim! Mas -- Upa! -agora vou gozar! Um pau de mula tu sentes que te engasga, que copula com gosto? Que te fodas, cego! Chupa!
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COMPLEXO DE VIRALATTA [6449] Ceguinho, Tommy Edison tem seu computador fallante, bem melhor que o meu. Tambem, pudera! Pormenor que compta: mais será do que sou eu! Um cego americano ou europeu melhor recebe pelo seu suor! A machina repete-lhe de cor aquillo que ja, celere, entendeu! Mensagens em voz alta lidas são: "Cegueta, va tomar no cu!" "Quer picca? Tem mais é que chupar!" Tommy replica em tom irreverente e brincalhão! {Comtigo, Glauco, nunca será tão tranquillo! Tua machina te indica que estás na posição de quem titica irá comer! És menos do que cão!}
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INGLORIA MEMORIA [6476] Te lembras de mim, Glauco? que, certa vez, te fez uma e, vendo que não vias e te tal coisa, commentou o que
Sou o cara visita irrita te azara!
Agora tu te lembras? Minha tara achaste bem cruel, pois quem te ficta enxerga bem, mas soffres da maldicta cegueira, da qual, torpe, eu caçoara! Então, estás lembrado? Pois ainda me lembro de ter dicto que recreia meus olhos ver alguem penar na feia e triste posição de quem se blinda! Embora não te blindes da malvinda tristeza dos ceguinhos, te bloqueia a treva aquella vida toda cheia de cores, tão fugaz, feliz e linda!
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BISADA BIZARRIA [6553] Que estás pensando? Cego tu ficaste! Direito tu não tens de exigir nada! Tens nojo? Que te fodas! Cheira! Aggrada a ti? Não? Quem dó sente? És mesmo um traste! Fedor sentes? Cafunga! Não te baste cheirar! Tens que lamber! Vae, lambe cada centimetro! Tens lingua bem molhada! Sentiste dos sabores o contraste? Vae, lambe, infeliz, lambe! Eu sempre quiz gabar-me da visão boa que tenho, emquanto um cego mostra desempenho lambendo cegamente! Entendes? Diz! Agora chupa! Vamos, infeliz! Vae, abre mais a bocca! Teu engenho porás à prova! Assim! Ah! Ja me venho! Engole, infeliz! Logo terás bis!
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ATRO THEATRO [6657] Hem, Glauco, ja pensou? Você seria artista performatico! Um ceguinho disposto a appresentar-se ao excarninho e sadico auditorio, que riria! Alem de lamentar-se, poderia ficar immovel, mudo! Ja adivinho aquillo que fariam, com carinho, num cego que se exponha à covardia! Covardes, propriamente, nem serão do publico taes typos, mas somente pessoas que, normaes, gozam de gente anomala, abnormal! Terão tesão! Eu mesmo gozaria, sim, Glaucão, dum cego tão passivo! De repente, dou tapas, murros, cuspo, o mijo quente lhe expirro... Que performance, essa, não?
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A EDADE DO OURO [6672] Poeta, a ver acaso tu chegaste, em L'AGE D'OR, o gesto "charidoso" que indica Buñuel, em accinctoso delirio, como comico contraste? Concordo que um nonsense 'inda não baste de todo p'ra affirmar que teve gozo ou paga alguns tributos ao Tinhoso no tracto do ceguinho como um traste... O facto é que, no filme, o cego leva no peito uma solada caprichada a fim de que se exfolle na calçada, aos pés dum aggressor que se lhe eleva! Achaste natural que quem na treva está levar meresce, sim, de cada passante sorridente essa pernada? Razão tens: Buñuel nada releva!
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PROPOSTAS DE CAMPANHA [6744] Prometto pelos cegos trabalhar, senhor Mattoso! Os cegos sabem que eu origem tenho simples, de plebeu, e posso, sim, de falla ter logar! Enxergo bem, mas uso, sim, meu par de bellos olhos vendo os que no breu estão! Sou candidato que perdeu, ja, varias eleições, mas vou voltar! Preciso, seu Mattoso, do De todos os ceguinhos eu Hem? Como? O senhor acha usal-os e sahir, lindão,
seu voto! preciso! que só viso na photo?
Mas... Como descobriu qual manha adopto? Ah, é? Tem dom masoca? Acha que eu piso e curto dominar? Ah, faz juizo assim de mim? Vidente é, sim, eu noto!
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DIFFERENÇA QUE COMPENSA (I) [6746] Estive ca pensando, Glauco... Os taes ceguinhos, cadeirantes, alleijados, emfim, "deficientes", uns coitados não são, porra nenhuma! Não, jamais! Sim, soffrem preconceito, de seus paes, até, sim, dos amigos mais chegados aguentam gozação! Todos os lados olhemos da questão! Somos normaes! Vocês nos dão trabalho! Nós pagamos imposto, os sustentamos por tabella! No minimo, vocês merescem bella desforra nossa, Glauco, convenhamos! Merescem ser pisados! Somos amos; vocês, escravos nossos! Quem me fella podia ser um cego, um magricella perneta! Mas sou hetero, ora, vamos!
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DIFFERENÇA QUE COMPENSA (II) [6747] Bah, Glauco! Convenhamos! De eugenia ouviu você fallar! Não estou certo? O mundo ser devia dum experto, dum forte, dum saudavel! Não devia? Os taes "deficientes", minoria que são (vou lhe fallar de peito aberto), deviam ser é mortos! Mas allerto que pode isso rollar, sim, qualquer dia! Você não preferia ja ter sido barrado desde cedo? Quem iria sentir falta dum cego? Mas servia, talvez, como um escravo, si eu decido! Poupado da "limpeza", não duvido que iria se exforçar na serventia, qual cego massagista, putaria inclusa! Até que fica divertido!
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CEGO EM PISOTEIO [6751] Morri de rir, Glaucão, daquelle inglez que foi pisoteado pelo gado! Que estupido, ora! Foi o resultado da falsa liberdade de vocês! Vocês, sim, caro Glauco! O que elle fez, tambem cegueta sendo, foi gozado por todos que passavam! O coitado ferrou-se! E vae chegar a sua vez! Quiz elle passear com seu cão-guia em area rural, onde cada vacca exige seu espaço! O tal babaca passou na frente duma! Ah, quem não ria? Penou nos pés da vacca! Quem diria? Illeso o cão sahiu, mas foi de maca levado o cego! Todos riram paca! Não posso rir tambem? Ah, você chia?
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SWAMP MUSIC [6753] Glaucão, eu ensignei o meu bassê a, caso um cego veja, lhe rosnar! O cego, ao assustar-se, seu radar ja perde e que é feroz meu cão ja crê! É muito divertido, meu! Você se expanta? Aqui no brejo, vacillar implica cahir n'agua! Salutar não é, pois que está suja a gente vê! Mas latte-lhe o cachorro! O cego salta! Fugir, desesperado, o gajo tenta e, logo addeante, cae na lamacenta lagoa! Não se affoga, mas só falta! Ainda de bassês formo uma malta só para appavorar quem se lamenta da perda da visão! Acha que penta sou, Glauco? Sou cruel, ou só peralta?
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CEGO EM TIROTEIO [6754] Aqui nesta favella a gente mora com tudo que é cagão na vizinhança! Um cego eu excolhi! Commigo dansa na marra! Ah, dou risada a qualquer hora! O cego percebi que se appavora com tiros, sente medo da mactança diaria das facções! Como creança brincamos com tal scena! A turma adora! Ao ar nós disparamos que vemos o ceguinho sozinho, de bengala! se juncta, a rir, um
toda vez caminhar Alli no bar monte de freguez!
Depois procuro o cego, que ja fez um curso de massagem, e folgar meus pés nas suas mãos vou! Nem pagar eu pago, Glauco! O cego foi cortez!
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REVIRAVOLTA NO QUARTEIRÃO [6770] Glaucão, conhesço um gajo que ensignara seu cão de rude estirpe, que lattia a todo pobre cego que, com guia ou sem accompanhante, expunha a cara! O cego, ouvindo o cão, brandia a vara, mas não affugentava a fera! Ria quem por alli passava! A covardia causava a diversão de quem repara! Chegava o porte Um dia, ao caso
raramente a morder, mas do cachorro dava medo! certo bardo novo enredo dá: biscoitos elle traz!
Amigo o cachorrão ficou e más não tem mais intenções! Ja desde cedo agguarda a mão do bardo! Ou é meu ledo enganno, ou é você que fama faz!
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EM SCENA SEM PENA [6775] Assim! Agora fica assim, até que eu filme, nesse piso, o teu rastejo! Rasteja mais, ceguinho, pois, sem pejo, filmar-te quero! Beija, aqui, meu pé! Teu riso para a camera, sim, é ironico o bastante! Eu, que bem vejo, irei satisfazer o meu desejo de rir dum cego, nelle dar olé! Agora vaes comer esse cocô ahi, nessa tigella à tua frente! Rasteja! Pelo cheiro um cego sente que está ja bem pertinho delle, pô! Sentiste? Então performa teu pornô papel! Ora, abbocanha! A minha lente bem capta a porca scena de teu dente mordendo o meu cocô! Come, vovô!
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CONFESSO PREGRESSO [6787] Bem antes que você me conhescesse os cegos me instigavam a piada, a gana de chutal-os na calçada, roubar-lhes a bengala! A razão vê-se! Pathetico, ridiculo, foi esse inutil ser aos olhos meus, em cada momento desta vida, Glauco! Nada fiz para algum sarrinho de interesse! Mas, quando o conhesci, pô, fui à forra! Botei o meu sadismo para fora! Sim, Glauco! Toda vez que você chora me inspira a gargalhada, a porra jorra! É simples: quando o mundo o sacco torra da gente que, enxergando, uma plethora de cores enjoou de ver, espora mettemos em quem soffre e mal exporra!
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CACHORREIRO [6788] Eu gosto de cachorro bem feroz, poeta! Sim, daquelles que no dente accabam com a pose do opponente e infundem o terror com sua voz! Sim, gente violenta como nós, que somos da milicia, simplesmente cachorros não mimamos! Coherente sou eu, que quando vejo um cego a sós... Attiço o meu pastor para que, em cyma daquelle desgraçado, cause medo, no minimo, Glaucão! Jamais eu cedo à tola piedade que reprima! Somente de você não se approxima meu cão para aggredir, pois é brinquedo na sua mão aquelle, salvo ledo enganno, magico osso com que o mima!
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FUNEBRES BREUS [6790] Proverbio ouvi dizendo que quem cria um corvo se subjeita a ter furado seu olho, Glauco! Causa desaggrado saber disso? Você não se arrepia? Quem perde a vista assim não vae, um dia, querer o suicidio? Ouço, ouriçado, aquella do John Lennon que, em estado de graça, fez um blues, rara agonia! Os Beatles não faziam blues, mas quando fizeram, bem pisaram na ferida! Glaucão, você pensou na suicida sahida, não pensou? Segue pensando? Seus olhos aguia alguma bicca, a mando de Exu, quiçá de Juppiter? Convida Satan que, no sabbath, uma lambida você lhe dê no cu? Quer breu mais brando?
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CAGADO E CEGADO [6791] Bem sadico o Senhor, no Testamento Antigo, se revela, Glauco! Não se tracta só do caso de Sansão, mas outros de cegueira achar eu tento! Deus curte pôr à prova quem attento se mostra aos mandamentos! Fez questão de pobre tornar Job, bem como são cegados outros, vate! Eu não invento! No livro de Tobias, quem cegado foi, Glauco, na parede se encostou, cansado! Ja dormindo, lhe cagou nos olhos algum passaro damnado! Depois que ficou cego, do seu lado não teve nem parentes! Só lhe dou noção de que zombavam delle! E vou mais longe: muitos tinham gargalhado!
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RELUCTANCIA À DISTANCIA [6798] Glaucão, por que você não de eventos virtuaes, aula distante educação, ou não um desses cellulares, não
participa remota, adopta se equipa?
Se vire! Coração faça da tripa! Você não é escriptor? Pois sua quota de sadicos leitores uma bota porá na tela! Ripa na chulipa! Que espera? Seus leitores mostrarão na camera, descalça, a sola chata! Farão você lamber, mas só se tracta de pose, de subtil provocação! Prefere punhetar-se? Mas então a "accessibilidade" mais ingrata tem sido com você? Glauco, me macta de riso sua falta de visão!
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INFERIOR COM LOUVOR [6824] Si um bello gajo chupa alguem que é feio exsiste masochismo? Ouço você dizer que sim... e quando quem não vê é o bello, maior victima a ser veiu. Porem mais humilhante, Glauco, creio ser quando um feio cego, caso dê chupada num bellissimo michê, escuta, a gargalhar, o gozo alheio. Na duvida não fica você, vate? Quem é mais humilhado? O cego bello chupando um sado feio, ou eu, que fello um bello, sendo o feio? Ou vale empatte? Si feio sou e chupo quem por traste, embora veja, masoca, não é? Pense! No quem fica mais, ou não, é
me tracte me revelo chinello disparate!
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RIDICULO VERSICULO [6825] Ja, Glauco, ouvi fallar que foi "peccado da carne" e que evitou-o o peccador! Até pode ser, quando causa dor um anus appertado, penetrado! Mas isso de Jesus nos ter fallado que nossos proprios olhos, por temor que causem o peccado, temos por dever os arrancar... é mau recado! Você ja viu alguem querer tirar da cara, porque enxergam, os seus tão perfeitos oculares globos? Não? Então! Quer um christão ter tal azar? Suppondo que, depois de se curar da perda da visão, você, Glaucão, peccasse, tiraria tal visão por isso só? Ja pode, então, peccar!
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PROSA MILAGROSA [6835] Glaucão, ou mesmo adulto e Quem fica
quem mais peccou? Dum cego os paes o proprio cego, caso seja bem conhesça as leis da Egreja? cego culpa até tem mais?
Está nos Evangelhos que teus ais seriam merescidos! Que não veja alguem, peccando ou não, ah, Deus deseja! Licções taes apprender, Glaucão, tu vaes? Jamais apprenderás? És bem teimoso, ceguinho miseravel! Não concordas que chupas pau e themas taes abbordas por tua propria acção, Glauco Mattoso? Nem Christo te curava, pois tens gozo fazendo o que tu fazes! É melhor das palavras de Jesus, que bem recordas, lembrar-te nos poemas ao Tinhoso!
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CRENTE DEFICIENTE [6836] Poeta, si perdesses a visão em epocha de Christo, que dirias àquelle que das trevas mais sombrias curava quem dissesse ser christão? Dirias que em Satan não crês e não practicas as mais negras bruxarias? Dirias que consagras os teus dias restantes ao Senhor e à salvação? Dirias que teu verso ja até crê na palavra de Jesus e de Moysés? Dirias que sacrilego não és e nunca maldisseste tua pena? Dirias que, tal como Magdalena, querias é lavar de Christo os pés, beijal-os e lambel-os attravés dos dedos? Mas tal coisa Deus condemna!
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DESPEITO DO DEFEITO [6842] Não gosto de ver gente empoderada, ainda mais um cego, Glauco! Porra! Nem posso supportar que elle concorra a premios litterarios! Não, qual nada! Eu, sendo um escriptor de nomeada, espero-me immortal depois que morra! Magina a Academia, a puta zorra que fica si, entre cegos, entrar cada! Não dá para acceitar! Quem advaccalha assim as lettras perde meu respeito! Um cego menestrel eu não acceito! Talvez um cantador, ou o que o valha! Você, Glauco, não passa de gentalha da lyra! Si se fode, eu me deleito! Tomara que seu tragico defeito jamais se immortalize pela malha!
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MANDANTE INTOLERANTE [6843] "Furaro o zoio" delle, eita! Bem feito! Hem, Glauco? Quem mandou o cabra achar que pode se enxergar, no seu logar de preso, como tendo algum direito? Prenderam o saphado por seu jeito folgado, brincalhão! Posou de "star", quiz versos fazer para alfinetar a minha auctoridade! Eu não acceito! Mandar nem precisei! Meus cabras são zelosos, não toleram que ninguem me faça de palhaço! Razão teem em delle exvaziar toda a visão! Você, que ja tá cego, tambem não me queira alfinetar! Ficará sem a lingua, mas depois de lamber, bem lambida, a minha bota! Acha que é "bão"?
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SADO SUGGESTIONADO [6849] Cegar Sansão, o lider de seu povo, motivo foi de excarneo para seus algozes, os alegres philisteus! Por elle eu tambem nunca me commovo! É facil cegar! Com meu dedo, movo o globo para fora! Assumo os meus deleites! Folgo quando negros breus imponho! O globo salta feito um ovo! Sim, feito ovo cozido, Glauco! Um damno que nunca se reverte! Sansão era fortissimo, serviu, nessa severa roptina, como escravo subhumano! Você, que é fracco, usado como um cano de exgotto ser podia! Quem me dera cagar na sua bocca! Ah, não é mera hypothese: p'ra manga cê dá panno!
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ESCRIPTURAS ÀS ESCURAS [6854] Mattheus, seis, estou lendo, Glauco! Diz, em vinte e dois e trez, que minha luz depende do meu olho! Se deduz que sejam sãos meus olhos e eu feliz! Si tenho olho normal (e eu nunca quiz defeito ter nenhum), só farei jus às luzes mais brilhantes que suppuz fazer por merescer! E eu sempre fiz! Mas tu, pelo contrario, tens doentes teus olhos de nascença! Assim, estás às trevas condemnado! Satanaz quer nelle ver os cegos todos crentes! Pois é! Nesses teus versos, não desmentes aquillo que Mattheus disse, veraz! Jamais com esses olhos tu verás nenhuma luz divina, nem com lentes!
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DADIVA DIVINA [6867] Não achas uma dadiva divina, poeta, seres cego? Ora, repara no gesto tão humilde que prepara Deus para quem ficou nessa ruina! Que chance teem os cegos! Imagina si podes num pezão metter a cara, a lingua! Qual escravo se compara ao cego, que a quaesquer se subordina? Sabendo-te inferior pelo destino, irás, sem excolher, servir ao feio, ao sujo, ao mais malvado, no recreio que tenham, qual brinquedo de menino! Hem? Achas humilhante? Sim, defino a tua condição como um sorteio: Tu perdes a visão, mas ganhas, creio, um meio de elevar-te! Eis o teu tino!
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FINALZINHO [6890] Um cego vem usando, na avenida, a mascara, tentando protecção manter contra a covid. Elle questão fez sempre de seguro ser na vida. Mas elle é vulneravel e convida a sua desvalida condição aquelles que, sorrindo, logo vão barrar sua passagem, ja soffrida. Lhe tomam a bengala. A malfazeja gallera, celebrando o "finalzinho" da aguda pandemia, no caminho lynchar quer quem mais fragil 'inda seja. Rasteiras, ponctapés em quem esteja no piso rastejando, o tal gruppinho diverte-se em bisar. Eu ja adivinho, Glaucão, que outro masoca até festeja!
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CEIA ALHEIA [6891] A ceia de Natal pernil ja tinha e todos se serviam. Mas alguem peru trouxe e chegou tarde. Tambem a nova carne incluem na festinha. Mas logo outrem se toca: até gallinha melhor é que peru! Pratto mais sem sabor, sem graça alguma! Ja ninguem se serve dum assado dessa linha. Retornam ao pernil, que está no fim. Sobrou boa porção daquelle duro peru, que não terá nenhum futuro excepto um embrulinho para mim. Acharam que, si cego sou, ruim não acho tal pedreira, ja que atturo comidas bem peores neste escuro jantar que, emfim, na vida a roer vim.
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INVASÃO SEM VISÃO [6895] Um cego, que morava só, me conta seu caso. No quartinho, que invadido foi pela patotinha de bandido, ficou aptado. Leva pau à tonta! Ja tudo reviraram. Alguem monta na sua cara, a bocca tendo sido a fundo penetrada. Me convido a ver-me nisso, scena que admedronta. Appoiam-n'o, de nucha, na beirada da cama. Appós um delles ter gozado, um outro quer tambem posar de sado e fode-lhe a garganta, a dar risada. Pensei muito no caso. Não ha nada que mexa mais commigo que esse lado masoca dum ceguinho que, estuprado assim, fica admarrado, aos pés de cada.
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ABUSO DUM MUSO [6896] Dois cabras abusaram dum ceguinho mais joven, que não tinha, ja, seus paes e esmolla, só, pedia, sem jamais ninguem incommodar pelo caminho. São ambos andarilhos e sozinho acharam o cegueta. "Ah, si normaes nós somos, si enxergamos, somos mais potentes, zoar vamos um pouquinho!" Fizeram-n'o chupar, mas não sem antes roubar-lhe essa que chamam de merreca. Mandaram-n'o tirar uma cueca, os labios seus usando, os meliantes. Lambeu elle tambem, claro, os pisantes dos gajos. Si chegou o que defeca um delles a comer, não sei, mas -- Eca! -aquillo bronhas rende em meus instantes.
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PALADAR PARA ASCO DAR [6898] Sou cego tambem, Glauco! Mas sozinho eu tenho que estar sempre, pois não tenho nenhum accompanhante no ferrenho suor do meu battente tão mesquinho! Assim que fui barrado no caminho, senti que me ferrava, pois me embrenho em vias de malandros que lhe venho, agora, descrever bem direitinho! Diziam que eu não ia me exquescer mais delles, e sorriam! Lambi suas surradas botas, sujas, pelas ruas, de bosta de cachorro, um desprazer! Do gosto não me exquesço! Que poder o trauma tem na gente! Chupei duas pirocas, mas peor que rollas nuas é solas sujas termos que lamber!
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DIA DA CEGUEIRA [6899] No dia da cegueira, a gente está torcendo para aquillo tudo ser bem rapido, pois sempre é um desprazer lembrar da nossa sorte, que é tão má. Nas commemorações, sabe-se la que coisas nos dirão! Tenho o dever de estar bem preparado, de saber ouvir, ou engolir, um blablablá... Dirá quem bem enxerga que qualquer de nós tem seus direitos, mas é só de scena jogo! Nunca terá dó quem sempre quer foder-nos, si puder! Estou accostumado, pois affair ja tive com quem ama aptar um nó nas nossas mãos, usar no fiofó a nossa lingua, como uma colher!
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PARENTES INCLEMENTES [6903] Eu tinha posses, Glauco, mas perdi a vista, dependente estou! Agora meus primos e sobrinhos para fora ja botam seu despeito por aqui! Abusam de mim! Todo mundo ri da minha condição! Quem commemora mais é mesmo o mais joven, que peora si fica a sós commigo, o tal gury! De quattro fico, faço o que elle manda! A cara, com o pé, me exbofeteia, depois que ja tirei a sua meia e sua bota! A scena não é branda! Lhe lambo um sebo grosso, que lavanda não cheira! Minha bocca fica cheia daquillo numa rolla, Glauco, creia, que chupo, caso um relho elle em mim branda!
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CEGUEIRA PRAZENTEIRA (I) [6904] Que tal, Glauco, uma scena do ominoso A SERBIAN FILM, hem? Nessa, a gente vê alguem que enxerga, afflicto! Está à mercê dum gajo de pau duro! Ouviu, Mattoso? Tão duro, o pau do gajo, que damnoso se torna si pressiona... Sabe o que? Os olhos do outro cara, até que dê nos nervos de quem nisso não tem gozo! Occorre que quem mette seu pau visa cegar mesmo o subjeito! O pau se enfia até que ja não veja a luz do dia um olho que se vaza! Alguem reprisa? Tesão egual não ha, pois fura, à guisa de espeto, um pau aquillo que antes via e logo não verá nada! Sacia tal scena, Glauco, ou falta alguem que pisa?
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CEGUEIRA PRAZENTEIRA (II) [6906] Alguns foram cegados por vingança, ainda que por meio dum pau duro, tal como nesse A SERBIAN FILM, um puro horror, que não exhibem à creança. Mas ha, tambem, uns casos em que dansa alguem, cujo olho torna-se um escuro inferno por prazer dum sado! Juro que casos taes teem peso na ballança! Glaucão, caso um caralho se levante e exporre emquanto um olho alheio vaze, tractamos do perfeito orgasmo, à base do maximo sadismo num instante! Depois, basta algum outro usar, durante um tempo, o tal cegueta, nessa phase de escravo, feito bocca que se case justinho com caralho semelhante!
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INSTITUTO SÃO THOMÉ DE SANCTA FÉ (I) [6936] Os cegos, perfilados de joelho no pateo do orphanato, em oração, dão graças ao Sanctinho. Outros dirão: "Por sermos cegos, gratos? Mau conselho!" Mas oram, obrigados. Um gruppelho assiste e dá risada: teem visão normal, os monitores. Gratos são, pois pode, quem quizer, usar o relho. Um delles usa. Batte num ceguinho teimoso, que o xingou. O cego jura ser bom, pede perdão. A picca dura lhe chega, agora, à força no focinho. Que chupe, então! Um joven excarninho sorri. Gozou gostoso. Farra pura, mandar nesses ceguinhos em escura roptina, adjoelhados ao Sanctinho!
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INSTITUTO SÃO THOMÉ DE SANCTA FÉ (II) [6937] O joven monitor goza, folgado, na bocca dos ceguinhos. Faz questão de sempre ter o relho bem à mão: "Os cegos são uns chucros! (diz) São gado!" Emprego não surgiu outro. Frustrado, ganhando uma merreca, a diversão ao menos arranjou, nesse sertão, sem nada que fazer, naquelle enfado... Os outros monitores engraçado acharam o jeitão descontrahido do joven colleguinha. Divertido foi verem um ceguinho castigado. "Dá toda disciplina resultado egual! Mandar chupar, eu não duvido, funcciona!" Falla assim um assumido algoz dos que, nas trevas, teem seu fado.
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INSTITUTO SÃO THOMÉ DE SANCTA FÉ (III) [6938] Os cegos trabalhavam: manuaes serviços, um qualquer artezanato. Assim rollava a vida no orphanato, até que esse rapaz fez algo mais. O novo monitor, com seus normaes instinctos juvenis, bollou o tracto que cegos dão nos pés de quem é grato por ter boa visão: funcções oraes! Agora, cada cego faz na sola de todo monitor o seu serviço buccal: limpar cascão, empregar nisso a lingua, bollação que fez eschola. Vaidoso, o monitor que tudo bolla diz: "Cego tem que estar sempre submisso, sinão fica teimoso! Um compromisso do typo o faz melhor, mais o controla!"
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REMINISCENTE ADOLESCENTE (I) [6946] Sim, posso fazer minhas umas linhas que escreve, em MUSSOLINI, esse menino ceguinho, como eu mesmo me imagino em tempos de collegio: o mariquinhas. Fidalgo, seu auctor, certas gracinhas homophobas repelle. Mas, franzino, eu nunca as repellia. Meu destino de cego foi cumprido de gattinhas. Mandei no cu tomar o rapazelho que estava a me zoar, mas elle, irado, na cara me exmurrou! "Cego veado! Agora vae pagar! Ja, de joelho!" Não pude reagir. Do seu pentelho o cheiro no nariz senti, ennojado. Nos labios, seu caralho. "Desgraçado! Então, quer appanhar? Quer levar relho?"
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
REMINISCENTE ADOLESCENTE (II) [6947] Sim, Glauco! Puz a rolla do collega na bocca, suas ordens cumpri sem poder de reacção! Fodeu-me bem no fundo da garganta, sem refrega! Brincou elle com minha afflicção cega, battendo-me no rosto, com desdem. Fodeu-me varias vezes, sem ninguem saber. Si perguntarem, elle nega. Tornei-me seu secreto fellador durante todo o curso. Rastejei, lambi seus tennis, fui da sua lei fiel escravo, servo, ou o que for. Agora só relembro, Glauco, por desejo seu. Tractado como gay, um cego não tem chance... Mas chupei com gosto, si você quizer suppor...
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AUDIOBUCCOVISUAL [6949] Um gajo, de pau duro, se estimula olhando, sorridente, para aquillo que o cego faz emquanto está a servil-o com sua bocca suja, bocca chula. O cego, carequinha, affecta gula treinada, abboccanhando com estylo de puta a grossa rolla, sem vacillo, sabendo o que degusta caso engula. Exige-se dum cego chupador, quer seja masochista, quer na marra, que mostre claramente como aggarra a rolla com os labios, ao se expor. O cego o thallo lambe e, quando for chupar profundamente, enche a boccarra fazendo barulhinhos, para a farra ser audiovisual ao fodedor.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
CHUPETA ANACHORETA [6950] Um cego obriguei -- Eia! -- a me chupar, mas antes perguntei, Glaucão, si fé ainda tinha nesse Deus até capaz de sem visão alguem deixar. O cego confessou que, embora azar tivesse e fosse como São Thomé, fé tinha, penitente. Eu ri, pois é ridiculo um cegueta assim fallar. Então mandei: "Você, que tanto crê, agora vae chupar! Na bocca sente o gosto da cegueira? Vamos, tente pensar em Deus, agora que não vê!" O cego, que perdeu, como você, os olhos aos pouquinhos, mudamente chorou. Seguiu chupando. Sorridente, gozei gostoso, olhando uma TV.
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LOCAL DE HABILITAÇÃO FUNCCIONAL [6951] Não podem usar oculos escuros nem podem ter cabello. São carecas os cegos chupadores. Tu, que peccas fodendo boccas, queres tesões puros? Então excolhe um desses que, com juros, pagou appós perder suas somnecas ficando lentamente cego! Necas enxerga, attraz ja desses altos muros... Ahi verás um cego carequinha na bocca recebendo o teu caralho com grande efficiencia! Seu trabalho buccal mais é que simples punhetinha... A lingua que elle espicha se encaminha à volta do prepucio... Mas eu falho si tento descrever! Só quebro o galho tambem chupando, como missão minha!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
DELEITE QUE SE APPROVEITE [6956] Deleite é subjugar alguem vendado, immovel, admarrado, que, indefeso, fará tudo que eu quero, neste vezo que tenho de abusar do fracco lado! Deleite é ver um homem assustado, temendo o que farei com elle preso: irá sentir de immundos pés o peso na cara, vae lamber, porco, um solado! Porem maior deleite é dispensar a venda, si for cego quem irá chupar o meu caralho, que tem ja aroma accumulado no logar! Maior ainda, Glauco, o seu azar seria meu deleite, pois não ha quem seja feliz quando cego está aos poucos, tendo visto! O fiz chorar?
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PERDEDOR DA VISÃO [6960] Quem foi que disse, Glauco, que feliz ja pode ser qualquer deficiente? Feliz sou eu, que enxergo bem! Não tente ninguem me convencer, pô! Que imbecis! Precisam é daquillo que se diz "licção de moral"! Ora, simplesmente um cego de mim fica dependente em tudo que eu quizer, como ja fiz! Mostrei-lhe que feliz elle não é nem nunca mais será! Dei, à vontade, porrada nelle! Fui peor que Sade! Mandei que elle perdesse sua fé! Tambem fiz que lambesse, sim, meu pé, no chão a rastejar! Quando me invade aquella sensação de liberdade, obrigo que me lamba a sola, até!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
THESE DE MESTRADO [6969] Jamais com a cegueira se preoccupa aquelle que não lia com a lupa até perder a vista. Aqui se aggruppa, das suas ordens, uma catadupa: A perda foi total, Mattoso? Chupa! Os olhos sem defeito os tenho! Chupa! Sentiste? Tem fedor meu lenho? Chupa! Os cegos me despertam gozo! Chupa! Teus olhos eu quiz ser quem vaza! Chupa! Qual rolla mais fedeu que a minha? Chupa! Achaste essa missão damninha? Chupa! Farás o que, Glaucão, me appraza! Chupa! Ceguinho que melhor se preze... chupa! Os cegos eu, com gosto, os lanho! Chupa! Darás de lingua, Glauco, um banho! Chupa! Ficou bem demonstrada a these? Chupa!
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O CEGO E A PROFESSORA [6973] Em vez de, para cegos, uma eschola, aquella abriga alguns, os juncta ao dicto alumno "normalzinho". {Não admitto que battam no ceguinho!" Quem controla? Severa, a professora canta a bolla, pois basta que eu advirta a alguem: {Bonito não é batter num cego!} e logo incito um joven a fazer isso que rolla: Pegaram o ceguinho na sahida: -- Então a professora fallou para a gente não zoar? Agora, cara, é mesmo que zoamos! Cê duvida? E battem, chutam, pisam... Repetida, a phrase {Lamba ahi!} soou amara, pois tennis de moleque, se repara, é cheio das sujeiras da avenida!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
O CEGO E A MÃE [6975] "Coitado do menino!", diz a sua mamãe, compadescida do ceguinho. Com isso, mais espeta seu espinho e mais o seu complexo se accentua. Choroso vae ficando, pois na rua a turma sempre barra seu caminho. Coragem nem siquer tem um pouquinho. Mal ouve esses moleques, ja recua. Mas elles o perseguem e, por fim, applicam-lhe severa punição por ter sido dos golpes o fujão: Mais golpes! Fica a barra, assim, ruim. Só resta se queixar à mãe que, emfim, não pode fazer nada. A reacção virá mais tarde, quando o rapagão masoca vem a ser, tal qual eu vim.
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O CEGO E O PAE [6976] "Não, filho meu não leva desafforo p'ra casa!", diz qualquer pae, orgulhoso. No caso dos ceguinhos, é forçoso dizer que não foi falta de decoro. Foi medo, mesmo, pois por cada poro o cego sua, caso tenha gozo alguem em ser-lhe rude e perigoso algoz, tal qual eu proprio corroboro. Alem de ser barrado na calçada, perder, num chute simples, a bengala, o cego, si quizer 'inda alcançal-a, levar vae ponctapés a passo cada. E, para completar, seu pae, que nada entende, mal entrou elle na salla, chorando, o descompoz! Ninguem se eguala ao cego que, ja cedo, se degrada.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
O CEGO E SEU IRMÃO [6978] Ficou cego o mais velho. Seu irmão do meio bem enxerga. Tem myopia, sem damnos, o caçula, que sacia no cego o seu despeito, o tendo à mão. Sentindo de todo, oral, no o pau na
o seu rancor por não ser são desforrar quer, pela via mano cego. Sempre enfia sua bocca, com tesão.
Fiquei sabendo disto, Glauco, por um primo do caçula, que tambem abusa do ceguinho. Tu refem ja foste de parentes, trovador? Verdade? Si verdade mesmo for, precisas me contar, pois gozo sem usar a mão, embora de ninguem abuse... E então? Me julgas gozador?
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O CEGO E SEU COLLEGA [6979] Nas aulas, o collega do cegueta annota tudo. Nunca grava nada. O cego tem memoria bem treinada e tudo grava, à falta da canneta. Licção de casa fazem junctos. "Eta chulé damnado, o desse camarada!" Se excita o cego, caso o cheiro invada as suas ventas. Goza na punheta. Sim, Glauco, fui eu, esse colleguinha! Chulé tive, terrivel, você não iria accreditar! Tinha tesão o cego si eu soltasse essa morrinha! Emfim me confessou que punhetinha battia appós fazermos a licção! Feliz, eu lhe propuz: Me chupe, então! Primeiro, no dedão! Depois, na minha...
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
O CEGO E SUA NAMORADA [6980] Embora cego, o gajo conseguira com uma namorada ter a sua amavel companhia pela rua. Mas logo descobriu que era mentira. Aquella maluquette era da lyra, sorria, como quem se prostitua, a todos que encontrasse e que, de lua, quizessem conferir como se vira. Do cego só queria alguma grana. Dos outros, chuparia até caralho fedido, que lhe desse mais trabalho de lingua! Ah, que putana mais sacana! Não, nunca abriu o jogo. Sua chana chupei, pois nisso julga que não falho. Sim, Glauco, sou tal cego. Não expalho, porem, que descobri que ella me enganna.
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O CEGO E A CEGA [6982] O cego, que namora com a cega, quer ir e vir, aonde for, com ella. Difficil é saber quem se extatella mais, quem menos tropeça ou excorrega. Provoca gargalhada, quando pega alguma conducção, aquella bella duplinha, a bengalar. Toda a favella com ambos se diverte, ninguem nega. Num omnibus lotado, o casal ia subir, quando cahiu della a bengala. Ninguem adjuda. Até poder achal-a, os dois foram pisados, pela via. Si forem de metrô, causa alegria no povo um braço preso, um pé na valla, a perna que na porta ja se entalla... Melhor será arranjarem logo um guia!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
O CEGO NO CIRCO [6984] Na falta do palhaço, se contracta um cego para andar no piccadeiro, às tontas, tropeçar o tempo inteiro, cabeça nem sabendo onde mais batta. Pensaram que fingia, mas a grata platéa notou logo o verdadeiro ceguinho que levou coice certeiro na cara, ja de quattro, duma patta. A patta era dum homem disfarsado de burro. Mesmo assim, o calcanhar pegou em cheio, bem no maxillar do cego, das creanças para aggrado. Morreram de rir delle, que, coitado, levou foi um calote, pois pagar ninguem queria aquelle que pegar nem sabe numa espada, accidentado.
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O CEGO E SEU CACHORRO [6986] Pensaram se tractar só dum cão guia, mas logo perceberam: o bassê andava em ziguezague. Sim, cadê a chorda na colleira? Não havia! De nada addeantou sahir à via o cego com cão dessa raça. Vê qualquer um que elle irá pôr à mercê seu dono dos perigos, todo dia. Foi tiro e queda. Agora o em casa, accidentado. Foi daquelle cão teimoso, que questão de ser, da gente,
cego está attraz não faz egual babá.
Em vez de ser guiado, o gajo dá dois passos e cahir vae nessas más calçadas. Se quebrou todo. Sim, mas ao menos uns lambeijos ganhou, ja.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
O CEGO E SUA BENGALA [6988] A vara muito leve facilita a vida do ceguinho pela rua, mas sua desvantagem se situa no risco de excappar da mão afflicta. Sim, basta que elle encontre quem se excita com scenas de sadismo, para a sua tranquilla caminhada virar nua e crua diversão do troglodyta. O sadico lhe chuta a bengalinha bem longe e finge ser quem não chutou, a fim de appreciar melhor o show do cego engattinhando. Pegadinha? Sim, claro! Pegadinha que ser tinha! O cego, crendo nesse que fallou "Ahi! Mais à direita! Quasi achou!", rasteja aos pés, talvez, dalgum pestinha.
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O CEGO E SEU CHAPÉU [6989] Aos cegos não suggiro usar bonné, não, Glauco! O vento o leva facilmente! Você não sabe disso? Ora, não tente teimar commigo! Foi bem feito, ué! Bem feito! Foi cahir justo no pé daquelle molecão mais delinquente aqui da vizinhança! Dessa gente espera-se que seja má, não é? Sahiu você no lucro! O cappetinha appenas lhe pisou no chapéu, certo? Podia ter chutado longe! Experto, prefere ver você como engattinha! E então? Ficou de quattro? Claro, tinha que estar bem do seu jeito! Sei que perto ficou a sua bocca dum coberto de pó, surrado tennis, um Rainha!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
O CEGO E SEUS OCULOS [6990] Os oculos escuros fazem parte daquillo que um ceguinho usar precisa! Quem usa para todos bem advisa que nada vê! Previne qualquer arte! A menos que elles queiram, sim, barrar-te o passo de proposito! Quem pisa num cego faz papel cruel, à guisa de experto gozador ou Malazarte! Pois é! Quem faz taes coisas não se peja! Quebraram os teus oculos? Que mais? Mandaram rastejar? São animaes! Abusam caso o gajo nada veja! Ah, não! Foste servido de bandeja? Lambeste tennis sujos? Que teus paes diriam de moleques tão brutaes? Tu nunca lhes contaste? Então... rasteja!
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O CEGO E SEU GUIA [6992] Sentindo que somente a chapelleta teria como, toda, abboccanhar, tamanho o caralhão que, cavallar, lambia, disse: "Peço que não metta!" O cara a ser chupado fallou: {Eta ceguinho preguiçoso! Vaes chupar por bem ou vaes na marra? Teu logar não sabes qual é? Chupa ahi, cegueta!} O cego se tocou. Não poderia, por nada, recuar do seu dever de estar de bocca prompta ao bel prazer de quem pode enxergar a luz do dia. Ahi chupou. Chupou, do proprio guia, a rolla que este, inteira, quiz metter garganta addentro. Ousou mostrar poder, o guia: {Aguenta! Cego bom não chia!}
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
O CEGO E SEU TACTO [6994] Você nem sabe, Glauco, si eu sou feio ou si sou muito feio! Que se foda! Você vae appalpar, appenas, toda a minha rolla, até sentir o freio! Achado o freio, vae sentir, em cheio, um cheiro na narina! A pelle, à roda todinha do prepucio, lhe incommoda o olfacto? Que se foda, ja advisei-o! Irá, sim, tactear! Não com a mão! Appenas usará sua beiçola de cego porcalhão! Acha que exfolla demais os beiços? Foda-se, Glaucão! Sim, antes de chupar, lamber qual cão irá, mas vae lamber a minha sola, tambem, pois lhe darei, sim, qual esmolla, a chance de medir o meu pezão!
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O CEGO E SEU OLFACTO [6995] Você diz ter olfacto bem treinado? Ainda não sentiu nada, Glaucão! Na hora de chupar-me, você não vae crer no seu nariz! Tome cuidado! O cheiro não será do seu aggrado, pois fedo mais, Glaucão, nessa porção do corpo, que perus alheios, tão intenso o meu esmegma accumulado! Não vale sentir nojo! Ouviu bem, cara? Terá que lamber tudo que grudado esteja na cabeça, resultado do banho que não tomo! Você encara? Então que se prepare! Indico, para noção lhe dar, que tenha ja cheirado um ovo podre, ou peixe que, estragado, alguem jogou no lixo! Se compara!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
O CEGO E SEU PALADAR [6996] Não, nunca provei, Glauco! Você diz que tem sabor salgado o meu chulé? E o gosto do meu sebo? Ora, qual é? De queijo não é? Nem idéa fiz! Um cego o paladar tem (Infeliz do gajo!) mais treinado, para até saber quando degusta algum filé de peixe que estragou, sem pedir bis! Bem, uma suggestão eu vou lhe dar: comer a minha merda, pois assim irá saborear cada tintim daquillo que comi! Não quer tentar? Assim o seu treinado paladar mais util ficaria para mim! Não vale, cara, achar nada ruim! Quem manda cego ser? É seu logar!
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O CEGO E SUA AUDIÇÃO [6998] Dei ordens, mas você não as ouviu, seu cego miseravel! Quer que eu seja ainda mais cruel com quem esteja privado da visão, seu imbecil? Sim, rhymo o que cê viu com este vil poder que tenho, Glauco! Não me peja furar até seu tympano! Sobeja maldade em mim, meu, puta que pariu! Hem, Glauco? Ja pensou? Ensurdescel-o seria requinctada crueldade! Até me imaginei o proprio Sade! Você vae ter, sim, esse pesadello! Pois sonhe! Sonhe, Glauco! Quero tel-o cegado! Que, nas trevas, você brade! Depois, lhe furo o ouvido! Meu, me invade um tremulo tesão em cada pello!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
O CEGADO E O CEGADOR [6999] Alguem furou-lhe os olhos por maldade. Foi coisa de moleque. Nem viu quem. Não ha quem accusar, pois elle, sem visão, nenhum "delega" persuade. Ficou impune, então, esse que Sade lhe fora. Agora arrhuma funcção bem propicia a cegos: faz massagem em quem goza, da visão, a faculdade. Occorre que lhe fica frente a frente aquelle que o cegara. Quer massagem nos pés, sabe que cegos assim agem na sola de quem nisso prazer sente. O cego o serve. Caso o gajo tente zoal-o, de enxergar conte vantagem, humilde lhe dirá: "Mais nos ultrajem, mais doceis nós seremos!" E não mente.
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MERO LERO, MAS SINCERO [7022] O gajo, que surtasse, era frequente no predio onde morei e, sendo meio lelé, ja todos tinham-lhe receio. Trombei com elle e disse francamente: {Não leve a mal... Sabia que tem gente que fica calma às custas dum alheio problema? Alli no Egypto, um louco, um feio, um velho, um gordo... gozam plenamente! {Sim! Sabe como? Um cego os chupa, bem gostoso! Os cegos, la, teem que chupar! Lhe juro! Dum egypcio fui vulgar cobaya! Sim, tornei-me seu refem!} {Sim, posso, si quizer, como um nenen, mammar na sua rolla até gozar e engulo toda a porra! Meu logar é esse! Vou deixal-o muito zen!}
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
CORPO DE DELICTO [7023] Disseram que esse gajo torturado foi, Glauco, mas tortura... Ah, não acceito! Então não se tortura mais direito! Do typo não acceito um falso dado! Filmaram? Pois deviam ter filmado! E photos? Não ha photos? O subjeito até tem maxillar no mais perfeito estado! Deveriam ter quebrado! Serviço foi de porco, porra! Caso eu fosse torturar alguem, primeiro furava, Glauco, os olhos! Prisioneiro na minha mão é cego! Os olhos vazo! Você, Glauco, se queixa do descaso com cegos nesta terra? Não, parceiro! Ainda não viu nada! Com isqueiro e machina de choques... eu arraso!
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DEVIDO DESCOMPTO [7026] Não posso ver um cego que me dá vontade de foder sua garganta, fazel-o comer merda... Ah, Glauco, tanta maldade commetter no camará! Por que será, Glaucão? Por que será? Será porque sou mesmo um sacripanta? Ou elle minha rolla ja levanta por ter, na vida, sorte mesmo má? Lembrou bem, menestrel! Um azarado suggere que está sendo, do destino, aquelle que meresce o que imagino que seja punição por ser culpado! Si culpa tem de la, pouco mau, Glauco, batti só num
aqui, si desd'o lado me importa! Fui menino sou assim porque, franzino, ceguinho, o mais ferrado!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
LINGUA DO POVO [7031] Ficou ceguinha a filha da vizinha. Morreu a mãe. Cuidei dessa cegueira na marra. Virou minha chupeteira. Incrivel era a lingua da ceguinha! Lambia, molhadinha, toda a minha piroca! Nem pensar que ella não queira! Na cega a gente manda! Prazenteira me foi aquella bocca beiçudinha! Sim, claro que pensei naquella zica damnada da menina! Que infeliz destino! Mas é como o povo diz: Meresce padescer quem cego fica! Você tambem, Glaucão, ja chupou picca por causa da cegueira, não foi? Quiz chupar? Si não quizesse, elles gentis seriam? Nunca! Até levavabicca!
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ZICA DUPLA (I) [7035] O cego com a cega caminhava. A gangue de moleques os attacca. Não pode defendel-a, mas bem saca que tinha sido feita, ja, de escrava. Si a cega se recusa, a coisa aggrava. Então, o cego ouve: {Eia! Chupa, vacca! Ahê! Gostoso! Chupa!} Fodem paca. Emfim, elle tambem ja se deprava. Mas elle nem sabia bem chupar e teve que apprender, alli, na hora, debaixo de porrada. Chupa, agora, chorando, mas entende seu logar. Emquanto chupa, pensa: "Puta azar!" E escuta a molecada: {Cego, chora! Vae, eia, sente o gosto!} Commemora a sadica turminha, a gargalhar.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
ZICA DUPLA (II) [7036] A cega me contou. Accostumada estava, mas o cego não sabia. Achou que excappariam, pela via, andando os dois junctinhos, mas qual nada! {É claro que eu estava appavorada! Temi mais, foi por elle, que engolia caralho sem ter nunca da follia tomado parte! Eu era callejada!} {Coitado delle, Glauco! Chupei picca ja muito, bem sabia abboccanhar! Mas elle nunca tinha desse azar provado! Meu temor se justifica!} {Batteram nelle, Glauco! O ouvi chorar! Até que elle entendeu: o cego mica na vida! Qualquer dia, sua zica chegar pode num simples caminhar!}
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SERMÃO DA PUNIÇÃO [7037] Levei surra de relho, Glauco! O cara me disse que battia porque cego precisa appanhar para apprender! Pego, exactas, as palavras, ó, repara! {Appanha, cego! O relho serve para mostrar quem é que manda aqui, não nego, mas serve tambem para que teu ego se ponha no logar de quem se azara!} {Vae, presta attenção! Ouve meu conselho! Estás pagando tudo que meresces! De nada mais te valem tuas preces! Apprende o que te ensigno com meu relho!} {Irás chupar bastante, pois coelho não goza como eu! Pensa: si pudesses ver, outrem pagaria! Ou tu te exquesces de como ja chupaste meu artelho?}
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
IMAGENS POLEMICAS [7038] A artista performatica não tem nenhum pudor, nem nojo, não, Glaucão! Ceguinha tambem, come com a mão qualquer nojeira crua que lhe deem! Num video (Removeram, Glauco, bem fizeram!), ella come esse colhão enorme que tiraram, no sertão, dum buffalo! Supporta aquillo quem? A scena choca mesmo! Muita gente polemicas viu nella! A theoria suggere que ceguinhos alegria dão, nisso, para todo bom vidente! Allegam que ella fora rudemente forçada a fazer isso, que seria normal usarem cegos... Mas iria você comer colhões? Como se sente?
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SCENAS DA CRACKOLANDIA [7039] A vida não é facil p'ra vocês! A cega, que ja soffre da cegueira, na testa traz lettreiro: "Chupeteira"! Com ella a molecada farra fez! Hem, vate? E com você? Ja foi freguez da sadica gallera? Não, não queira dizer que foi appenas mais besteira das redes sociaes! Não tem talvez! Disseram que você ja foi filmado chupando, de joelho, o pau dum noia! É falso, Glauco? Falso uma pinoia! Está pelas imagens registrado! Então não foi você? Com qual coitado fizeram isso? Pô, ninguem appoia tal coisa, Glauco! Só não nos condoe a má sorte si for sua, seu damnado!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
IRONIA NA VIA [7040] Chupei um morador de rua, vate! Eu ia bengalando quando o cara barrou minha passagem! Disse para mim: {Cego, para ahi! Quer que eu te macte?} Parei, pois reagir não posso! Tracte você de imaginar qual era a tara do cara, quando um cego se compara a mero chupador de quem lhe batte! Mandou adjoelhar. Obedesci... Mijou na minha bocca! Que engolir eu tive aquelle horrivel elixir! Mammei, claro, depois que fez xixi! Levou alguma grana, que perdi sem drama. Bem peor foi ser fakir em nova penitencia... Que curtir nós temos puta azar, né? Você ri?
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GATTO PRETO [7044] Sou cego, como tu, mas minha zica é bem maior que a tua, pois não vejo o gatto preto quando o malfazejo bichano bem na minha frente fica! É gatto do vizinho, mas titica fazer vem aqui em casa! Meu desejo é que elle de mim fuja, mas almejo em vão, pois a assustar-me se dedica! Ah, Glauco, que diria a dona Chica si visse quando attiro o pau no gatto e nunca accerto o bicho? Não, de facto, azar tenho o maior! Como se explica? Sim, sei que é preto o gatto porque dica me deram! Si soubesses como é chato ter esse cocozinho no sapato, meu medo não serias quem critica!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
ESCADA NA CALÇADA [7045] Você de mim rirá, Glauco, mas juro que tenho o meu azar, pois sou tambem ceguinho! Va, me diga si não tem razão de ser, de facto, o meu appuro! Não é superstição, mas asseguro que escadas me dão medo! Sempre, sem falhar, passo debaixo duma, bem na hora de cahir algo mais duro! Não só lattas de tincta, mas até tijolos, ferramentas, o caralho! Trajectos ja alterei! Pego um attalho, mas sempre escadas surgem! Bote fé! Si fico machucado? Pô, não é de ferro uma cabeça! Acho que calho é para ser, na vida, assim paspalho, causar, na rua, chistes da ralé!
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AZAR D'OCÊ [7049] Ei, olha la, gallera! Aquelle cara otario, o tal ceguinho, passeando! Que trouxa! Nem calcula que nefando destino boa peça lhe prepara! Ahi! Segurem elle! Deixem para mim certas attitudes de commando! Tomaram a bengala? Boa! Quando tentar fugir, à frente elle se azara! Tá vendo? Tropeçou! Cahiu foi bem nos nossos pés! Assim que eu pisoteio! Legal, hem? Uau! Chutei-o bem em cheio na cara! Agora forças ja nem tem! Vem, fica de joelho! "Ocê" refem é nosso! Vae chupar, cego! "Ocê" veiu à rua? Pois fará nosso recreio ficar mais divertido! Chupa, vem!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
CARREIRA ALVISSAREIRA [7050] Ninguem, Glaucão, soffreu cegueira à toa! Em que mais crê você? No seu destino? Num exsistencialismo? O que imagino é foda, meu! Sem chance! Que se doa! Aqui, tem que pagar cada pessoa por tudo que fizera antes! Foi fino larappio? Um bandoleiro? Um assassino? Um dia, alvo será de quem caçoa! Seu caso, por exemplo: uma cegueira do typo só se explica por ter sido algum perverso cara, algum bandido cruel e sanguinario na carreira! Por isso você chupa, da maneira mais porca, a rolla, lambe, si eu decido, a bosta que grudou no mais battido pisante que tirei da sapateira!
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EXTRAMUROS [7051] Mantive, Glauco, um cego prisioneiro em carcere privado! Fiz xixi num coppo, o fiz beber! Me diverti! Usar um cego foi-me prazenteiro! Sim, elle percebeu, só pelo cheiro, tambem as fezes liquidas! Curti bastante que essa sopa piriry foi puro! Sim, tomou o pote inteiro! Bem, tive que forçal-o... Um argumento usei, vate, infallivel: seu azar! Um cego jamais pode reclamar! Jamais achar irá nada nojento! Mas curto quando enjoam! Não aguento sem rir dum ennojado paladar! Ainda bem, Glaucão, que seu logar está fora daquillo que eu invento!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
CEGUEIRINHA [7053] Não, uma cegueirinha à toa, cara, não pode desgraçar a vida assim! Você está muito triste! Para mim, ninguem por um motivo tal se azara! Conhesço muito cego que, de vara em punho, vae à lucta! Acha ruim o nivel das calçadas, mas, emfim, se exforça, pô, se vira, se prepara! Cahiu? Pô, se levante! Não permitta que venham lhe pisar na mão que ralla a pelle na calçada, da bengala em busca, bengalinha tão bonita! Não, Glauco! Você chora demais, cita só cegos pessimistas! Ja se eguala a um normovisual o cego "mala" que vive maldizendo uma desdicta!
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CEGUEIRAZINHA [7054] Você reclama appenas por ficar p'ra sempre sem visão? E se apporrinha por causa da banal cegueirazinha causada por glaucoma? Ah, deixe estar! Problemas se resolvem! Uso um par de enormes, feios oculos na minha carinha linda! Ainda assim, não vinha queixar-me de problema tão vulgar! Deseja andar na rua? Va com sua bengala branca, Glauco! Caso caia, evite que gurys da peor laia lhe pisem na cabeça, que está nua! Sem vara? Sem chapéu? Que restitua exija dessa turma cada "traia"! Reaja quando ouvir delles a vaia, ou quando um chute a bocca lhe destrua!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
PIA ANALOGIA [7055] Não fiques jururu, poeta! Pensa que duas faces tenha a moedinha da vida, trovador! Sim, nessa linha, ainda tens a face que compensa! Não ligues quando a treva mais se addensa! Verás um novo dia, bardo! Minha humilde intuição diz que é trevinha à toa! Não tens essa alegre crença? As faces da moeda, aliaz, dão fiel allegoria da cegueira, meu vate! Quando alguem, por brincadeira, na cara te cuspir, não chores, não! Sim, deixa que te cuspam! Sim, Glaucão, de novo que te cuspa quem bem queira! Calcula, menestrel, a prazenteira imagem que de ti todos farão!
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AZARADA JORNADA [7057] Ainda que poemas faça à bessa, você nunca passou por isso, vate! Mas cego sou tambem e, que me macte, só falta alguem, na rua! Não, sem essa! Azar sou eu que tenho! Ja começa bem cedo, quando saio! Si me batte alguem na bengalinha... Ai! Eu que tracte de achar onde cahiu, e bem depressa! Emquanto eu engattinho, o chão tacteio, em busca da vareta! Não demora, alguem na mão me pisa, commemora ter boa visão! Viro seu recreio! Si imploro eu levo um poeta, mas aquelle em
piedade, bem em cheio, pé na cara! Você chora, azar mesmo... vigora que, excaldado, sempre creio!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
EXACTO RETRACTO [7068] Me lembro do sonnetto que um rapaz fez para mim, dizendo que a cegueira retracta a chupetinha da maneira mais nitida, fatidica, veraz. Bem joven, nos seus vinte, elle poz gaz no jogo do sadismo com certeira visão. O cego faz tudo o que queira um normovisual, o mais capaz. Preciso nem será ser açoitado, chutado ou mutilado. O cego fella appenas por ouvir quem interpella, tal como, ouvindo um gajo, me degrado. O gajo diz: "Você quer ser surrado? Então me lamba a rolla! Passe nella a lingua, devagar, e na goela me faça gozar, cego desgraçado!"
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AZAR SELECCIONADO (I) [7071] De quattro: sim, foi nessa posição que tive de ficar, logo de cara, na frente de dois homens. Um compara dois typos de cegueira. A rir estão. "O cego de nascença (faz questão um delles de dizer) menos se azara que aquelle que perdeu a vista. Para mim, este satisfaz mais o tesão." "Mais curto humilhar este, que perdeu, (empurra a minha cara com o pé) pois mais no seu azar é que tem fé." (nas minhas costas o outro põe o seu) "Nem quero que elle seja tão atheu, (seu tennis minha fuça força até que eu sinta, attravés delle, seu chulé) pois pode me entender: sou philisteu."
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
AZAR SELECCIONADO (II) [7072] "Treinado foi o cego p'ra chupar com technica appurada? (appoia a sola na minha nucha) {Ah, claro! Teve eschola, chupou muito caralho cavallar!} "Perfeito! Um cego deve seu azar saber que incluirá, no gorgonzola da rolla, degustar, como uma esmolla, aquillo que a cabeça accumular!" Emquanto falla, appoia nas costas, na careca, a bocca com o bicco da de leve dando um chute
seu pezão me pressiona lanchona, ou um pisão.
E eu penso que elle possa ter razão si excolhe cegos como quem, na zona, excolhe sua puta, a mais gluttona por rolla, a que perdeu sua visão.
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ROSTO EXTRANHO [7083] Você vae perceber, pelo tamanho do tennis, que quarenta e trez eu calço, até quarenta e quattro! Quando eu alço o pé, facil alcanço um nariz fanho! Tambem vae perceber que eu, facil, ganho tamanho no meu penis! Não é falso que chupa bem a bocca que no encalço está dum pau que nunca toma banho! Você vae, pelo faro, o meu buquê sentir, notar que cheiro de ralé eu tenho, de sebinho, de chulé, de povo! Que outra dica quer que eu dê? Mas o melhor de tudo é que você não pode ver, saber não vae qual é meu rosto! Vae chupar meu pau, meu pé, no escuro! Que delicia! Nem me vê!
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BANHA DE PORCO [7104] Ah, vou me divertir à bessa, cara, sabendo que você ja não vê nada, nadinha mesmo! Pô, vou curtir cada momento, vendo como 'ocê se azara! Primeiro, se humilhar você vae para mim, vae se adjoelhar, levar porrada nas fuças, vae levar uma excarrada na bocca! Acha que um cego se prepara? Depois, vae chupar rolla! Si chupar direito, usando a lingua, não appanha de novo! Vacillando, tapões ganha! Você vae conhescer o seu logar! Por ultimo, comer o que eu cagar vae tudo, mas tudinho mesmo! Banha de porco só me solta, mas, sem manha, você vae educar seu paladar!
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DOR ALHEIA NOS RECREIA [7115] Chupar? Appenas isso bem appraz ao normovisual que um cego faça? Não, claro! Quer achar alguma graça, alem do sexo oral, qualquer rapaz! Fazer rir é tarefa cega, assaz bemvinda, a nós, normaes! Uma chalaça contada pelo cego bem nos passa a ludica noção que satisfaz! Divirto-me ao ouvir uma piada de cego quando o proprio vae contal-a, mas outra diversão boa se eguala na hora de soltar a gargalhada: É vel-o comer merda, Glauco! Nada melhor, ja que ninguem aqui se abballa com essa dor alheia! Ao degustal-a, careta faz, de nauseas, engraçada!
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JOGO POR JOGO [7116] Sim, como Pollyanna deveria você jogar, Glaucão! Pense commigo: Será que essa cegueira foi castigo assim tão duro, mesmo, uma agonia? Podia ser peor: a luz do dia perdida de repente, com dor, digo, um furo nos seus olhos, um perigo que, em scena accidental, você corria! Você podia, aos pés dum malfeitor, ser muito maltractado ou explorado, forçado a mendigar e, para aggrado do cara, a jogos sadicos se expor! Hem, Glauco? Ja pensou? Sim, um horror seria comer merda desse sado, cagada no chão sujo, um ja pisado cocô, cujo sabor nem quiz suppor!
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GLAD GAME [7131] No "jogo do contente" Pollyanna convida ao optimismo toda a gente, os cegos, inclusive! Não se sente temptado, cara, a ter tal "mente sana"? E então, Glaucão? Observe que bacchana: O cego fica triste e, de repente, alegra alguem que pensa: "Sou vidente! Não passo o que elle passa! Esse se damna!" Não é compensador? Peor seria causar indifferença nos demais! Mas elles todos dizem que jamais se egualam a você nessa agonia! Ainda que ja tenha, de seu guia, comido merda à guisa desses taes croquettes de suppostos vegetaes, você gostou! A troça foi sadia!
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EDUCAÇÃO DE CEGOS [7132] O cego que em poder meu se colloca eu faço repetir: "Cego não manda! Um cego só obedesce!" Elle que expanda limites ao chupar minha piroca! Treinei ja varios cegos, Glauco! Choca saber que sou assim e propaganda fiz sempre? Eis como toca a minha banda! Você extranhou? Você não é masoca? Saber quer como os treino? Ponho um cara de quattro, chuto o rosto até que peça p'ra me lamber os pés! Ahi começa a phase em que adjoelha e se prepara! Depois duns tapas, elle me excancara a bocca p'ra chupar! Si, bem depressa, não pede, vae comer fezes à bessa, levando chicotada! Ah, depois sara!
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SADIA EMPATHIA (I) [7137] Vendei meus olhos, Glauco, pois queria sentir-me cego, estar no seu logar! Às tontas, comecei a tactear as coisas, a viver essa agonia! Difficil foi, sem essa luz do dia, ou lampada, de noite, enveredar, em casa, pelos commodos, meu par achar duns simples tennis... Mas eu ria! Sim, ria, pois sabia que podia tirar a venda a qualquer hora! Azar de quem não pode, né? Fui farejar, então, para achar algo que fedia! Dos tennis ao invés, foi da bacia o cheiro de cocô que deu seu ar da graça! Mas pensei: tal paladar sentir não vou! Ao menos, ja allivia!
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SADIA EMPATHIA (II) [7138] Tirei a venda, Glauco, pois ja tinha noção de como um cego passa appuro p'ra achar as coisas todas nesse escuro mundinho de vocês, nessa vidinha! Ahi, pensei: Mas posso, para minha sadia diversão, impor um duro castigo a alguem que é cego! Gozei, juro, pensando numas penas nessa linha! Primeiro, suas mãos eu aptaria, fazendo que precise adjoelhar ou mesmo rastejar, para meu par de tennis encontrar onde se enfia! Depois, você no vaso cheiraria a minha merda, Glauco! Degustar aquillo punição mais exemplar seria, si eu quizesse essa alegria!
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SITUAÇÃO ANALOGA [7151] Virou "trabalho analogo" o forçado serviço dum escravo clandestino, Glaucão, mas relatorios examino que indicam muito abuso camuflado! Até deficientes, em estado de extrema submissão, como um menino ceguinho, resgatou desse destino cruel a acção audaz dum delegado! Comia até cocô na refeição, no meio do pheijão, sob a risada dum bruto capataz, alguem que nada fazer podia para dizer não! Fodiam o ceguinho, sem perdão, os outros membros dessa molecada que explora cegos para que, de cada, esmollas arrecade, eis a questão!
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SÓ QUE NÃO [7154] Qualquer deficiente é meu irmão e, embora differente, egual a mim naquillo que, em minh'alma, ao mundo vim. Por isso bem o tracto. Só que não. Alguem que ja perdeu sua visão não pode ver na vida algo ruim o tempo todo, visto que, no fim das comptas, Deus adjuda. Só que não. Um cego tambem pode ter tesão, sentir-se desejado, mesmo sem saber si delle esteja rindo quem com elle tem convivio. Só que não. Um sadico terá mais compaixão dum cego si fizer delle refem e merda não mandar que engula, nem urina, ao castigal-o. Que illusão!
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POUCA DESGRAÇA (II) [7166] Te sentes tu, ja, como um condemnado? Azar teu! Chupa, cego! Ver-te quero assim, adjoelhado! Sou sincero! Não tenho dó, não! Chupa, desgraçado! Assim que eu gosto! Para meu aggrado, não tem nenhuma cura teu severo glaucoma! Ja pensaste? Chance zero! Melhor para mim! Chupa, desgraçado! Enxergo bem e quero ver meu lado, appenas! Animal te considero! Embora bem treinado, um bicho mero! Ah, vou gozar! Engole, desgraçado! Mijar vou, Glauco! Queres ser mijado? Preferes que eu te cague? Então de lero que vás deixando, emquanto me libero! Vae, abre a bocca! Bebe, desgraçado!
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ENSEJO PARA RASTEJO [7168] Fazel-o rastejar é diversão das boas, cara! Adoro ver um cego de braços para traz! Ah, não sossego emquanto não o chuto! Que tesão! Sim, quero que elle exfregue pelo chão a cara, a bocca, a lingua! Descarrego em cyma delle tudo que meu ego desfructe em quem perdeu sua visão! Sem uso das mãos, elle rir me faz alli, para arrastar-se devagar, levando uns ponctapés, achando um par de tennis pela frente e... exhausto, jaz! Ahi, ficou temptado? Ocê tem gaz bastante para a barra supportar? Será que, no banheiro, si eu cagar no chão, você lamber consegue em paz?
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MARRON SOBRE AZUL (II) [7179] Confirmo: Quando um cego limpa a bunda, appós a conclusão duma cagada, às pressas accredita, na segunda vez, que ella ficou limpa. Limpa, nada! É facil! Quem enxerga, vê que immunda a bunda continua. Outra passada nós damos de papel. Mais uma. Affunda a gente com o dedo... e mais dedada! O gajo suja até seu pollegar. Tambem o papel sujo ainda sae. Si está tudinho vendo, o gajo vae seu gesto repetindo até cansar. De facto, só os normaes vão se limpar. No caso do ceguinho, não: ja lava a sua mão borrada. Mas restava ainda muita merda no logar.
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SURPRESA À MESA [7198] No pratto do ceguinho um folgazão, daquelles bem gaiatos, foi jogar um coppo de cocô que, por azar, tornou-se seu refri no calçadão! Um passaro cagara, de montão, bem dentro desse coppo que, em logar de logo o deschartar, foi despejar o gajo no dogão do cidadão! Pensando se tractar de molho grosso à base de mostarda com tomate, o cego nem sentiu -- Calcule, vate! -o typico fedor do seu almosso! Por isso, menestrel, não dou endosso a mesas na calçada! Chocolate não cae do céu, nem creio que se tracte de gente fina aquelle lindo moço!
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BEXIGA QUE CASTIGA [7202] Não mijo bem, poeta! Sempre fica um pouco de xixi la dentro, um sacco! Alem disso, o factor que mais destacco é minha edade e a compta pouco rica! Bem sei que um pappo assim não edifica, mas tenho que dizer, porra! Por Baccho! Adoro ser chupado e não emplaco mulher que bem engula a minha picca! Vocês, cegos, eu acho, sim, que são perfeitos na chupeta de quem tem problemas urinarios! Mais ninguem supporta a mijadella assim, Glaucão! O cego bebe mijo (Que tesão foder-lhe a bocca!) ainda quando, sem gozar, estou no "quasi"! Mas tambem irá beber depois, e de montão!
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BLOGUEIRO MINEIRO [7217] Eu, como cadeirante, vate, implico com todo "portador" dalgum defeito que tenha seu reverso preconceito perante esses "normaes"! Sim, abro o bicco! São todos uns folgados, Glauco! Um mico! Ceguetas, surdos, mudos... Não acceito que tenham mil direitos! É bem feito que sejam maltractados! Puto fico! São superprotegidos! Essa gente exige é privilegio, quer mammata! Um cego, por exemplo: quem o tracta mal passa por cruel ou inclemente! Mas elle inferior mesmo ja se sente! Então, meu, que se foda! Gente chata! Deviam é chupar, funcção exacta dum cego! O fardo o offende? Engula! Aguente!
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MANSAS LEMBRANÇAS [7231] Vez toda que perguntam si estou bem, vez toda que se lembram de mim, é só para confirmarem que eu, até agora, não morri: "Jesus amen!" Por fora, saber querem si 'inda nem peguei um resfriado: "Tenha fé! Deus queira que você, Pedro José, não pegue essa covid!" E vão alem... Desejam-me tranquilla quarentena, com muita producção de poesia. Por dentro, todos frustram-se: "Eu queria ver esse cego morto, orra, sem pena!" Os mesmos que, com uma voz serena, me dizem que bem fique, essa alegria queriam ter, me vendo na asphyxia covidica, não numa vida amena.
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CYCLO "CEGADINHA PEGADINHA" CEGADINHA PEGADINHA (I) [4089] Os de do ao
videos na internet estão: a malha assumptos não se exgotta e acceita tudo, estupro mais sangrento e cabelludo beijo mais do aggrado da gentalha.
Emquanto um locutor brega gargalha, as scenas se succedem: vão do mudo cinema à pegadinha... Eu não desgrudo de alguem que accesse aquillo que me calha. -- Procure gozações ao cego! Quero saber si elles collocam scenas barra pesada ou ficam só no lero-lero... -Suggiro, e quem navega logo exbarra... Em typicos flagrantes dum severo sadismo: é que a cegueira instiga a farra e leva ao gozo o velho mais austero, alem do joven pubere que sarra.
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CEGADINHA PEGADINHA (II) [4090] -- Achei! -- me advisam. Berros eu escuto, em meio às gargalhadas da supposta platéa. Alguem commenta: "Quem não gosta de ver humilhações vae ficar puto..." É tudo, alli, incorrecto: o jeito bruto do povo em relação ao cego, a bosta que nelle jogam, rindo, o pé que encosta na cara delle, o chute, o chão fajuto... Gravados no Brazil não foram taes flagrantes, mas, vivido, eu não duvido que aqui logo alguem faça uns mais brutaes. Não falta personagem divertido... Por estas bandas, digo eu, que nas mais sarristas armações tenho cahido, servindo de motivo aos joviaes gracejos dos que curtem a libido.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
CEGADINHA PEGADINHA (III) [4091] Nem sempre interessantes, para mim, são esses videos curtos e caseiros, alguns tão innocentes que eu inteiros nem posso ouvir, embora estando a fim. Mas outros são pesados, como vim a achar tão logo em topicos certeiros foi feita a busca: alguns dos mais arteiros se passam juncto a um banco de jardim. O parque, que é passagem roptineira de cegos, cadeirantes e quejandos, dá bella "locação" à brincadeira. Que seja de mau gosto! E dahi? Bandos... Se formam, sempre à expreita de quem queira sahir, se expondo a abusos e desmandos, embora muitos achem, de maneira geral, que inspire um cego gestos brandos.
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CEGADINHA PEGADINHA (IV) [4092] Num quadro, o cego, andando de bengala, alcança o banco e senta-se. Um rapaz se chega, à frente delle gestos faz e quasi a mão na cara lhe resvalla! Ao ver que é mesmo um cego, o outro lhe estalla o tapa e sae correndo! O cego attraz não corre, é claro: appenas xinga e jaz inerte. O rapaz volta e ao cego falla: "Eu vi que aquelle cara lhe batteu! Que filho duma puta, hem? Não respeita ninguem, nem quem na vida se fodeu!" O cego se constrange, mas acceita... O pappo: {Até Sansão do philisteu levou porrada! É victima perfeita! Ainda mais um cara que nem eu, subjeito a todo typo de desfeita...}
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CEGADINHA PEGADINHA (V) [4093] Passando-se por justo, o rapaz quer saber como um invalido se sente e, credulo, o chorão deficiente lhe conta o que padesce: era choffer... Depois dum accidente, até a mulher deixou-o, blablabla... O rapaz, contente da vida, diz ter pena, finge, mente, propõe que adjudará no que puder: "Pois fique sossegado aqui, que eu fico attento, alli de longe e, si esse filho da puta voltar, juro, um pau lhe applico!" O cego, aggradescido, diz: {Me humilho... Demais, moço, na rua pago um mico damnado! Deus lhe pague pelo auxilio!} Será que o mundo ainda tem um tico de amor, sem concessões ao peccadilho?
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CEGADINHA PEGADINHA (VI) [4094] E affasta-se o rapaz, quando se escuta a rir quem, com a camera, até grava as lagrymas do cego. Este ja estava tranquillo, e volta o tal filho da puta! Agora, o outro lhe cospe e, appós, lhe chuta, com botas, a cannella! O cego trava um grito na garganta e manda à fava seu sadico aggressor de alma fajuta. De novo se approxima o mesmo algoz, fingindo perseguir alguem que corre, depois dirige ao cego a mansa voz: "Diabo! Me excappou! Por que não morre... Um chato desses, né? Mas, ca p'ra nós, fodido é quem só tome e não desforre!" O cego, que queria estar a sós, ainda a contragosto ao tal recorre.
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CEGADINHA PEGADINHA (VII) [4095] O otario, cujo rosto pelo excarro está todo mellado, puxa o lenço e limpa a bocca, os oculos. O senso de humor o outro não perde, e tira sarro: "O chato expectorou todo o catarrho em cyma de você, né? Sabe? Eu penso que seja um psychopatha!" O cego, tenso, confessa: {É sempre nesses que eu exbarro!} "Agora eu vou ficar mais vigilante, prometto!" E outra vez, sapha-se o rapaz, piscando para a camera possante. Sentado permanesce o cego, mas... Receia que, de novo, alguem lhe plante um tapa, um chute, ou trame acções mais más. Será que não ha gente que, perante um cego, de bom nada mais lhe faz?
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CEGADINHA PEGADINHA (VIII) [4096] Sarcastico, o aggressor posa bem deante da camera, mijando num coppinho de plastico. Em seguida, de mansinho, do cego se approxima, triumphante. De novo o seu pesado e atroz pisante accerta na cannella do ceguinho, que, abrindo a bocca, leva, em vez de vinho, urina dumas "cervas", espumante. De dor e nojo o cego engasga, tosse e cospe o mijo sobre a propria calça, até que o rapaz grite e a voz engrosse: "Saphado! Volte aqui!" Segue-se a falsa... Corrida attraz de alguem... Quem quizer, troce e zombe de quem dansa sem ser valsa! O cego, sem ninguem que adjuda esboce, à sancta appella, ao alto os olhos alça.
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CEGADINHA PEGADINHA (IX) [4097] Retorna o gozador, se desculpando, ainda uma vez, pelo seu fracasso: "Caralho! Aquelle chato tem o passo mais rapido e fugiu-me justo quando..." O cego, impaciente, mas com brando discurso, se levanta e diz: {Não faço questão de passear aqui! O cansaço passou da compta! Addeus! Ja vou andando...} "Não! Pode ficar! Sente-se aqui! Juro que, agora, tambem fico aqui sentado! Você, juncto commigo, está seguro!" O trouxa se convence e, lado a lado... Se senta novamente. O pappo é puro deleite para um sadico folgado que, vendo outrem passar por tanto appuro, se sente, em seu tesão, gratificado.
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CEGADINHA PEGADINHA (X) [4098] "Eu tenho aqui um refri, vae lhe tirar o gosto desse liquido que o chato jogou na sua cara..." Eis que o gaiato retira e mostra o pau, que vae ao ar! Mergulha o pau no coppo e dá a tomar aquelle guaraná ao ceguinho grato, que engole, estalla os beiços: {Eu me macto, um dia! Não supporto! É muito azar!} Quem filma, dá risada emquanto opera a camera, a distancia. O cego, agora, acceita do rapaz o que lhe dera. Tirando a bota, o cara para fora... Expõe sujos artelhos, o que gera mais risos de quem rir dum cego adora. Depois, quem assistir é quem libera instinctos, mas jamais por isso cora.
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CEGADINHA PEGADINHA (XI) [4099] Dos dedos nos vãos passa elle o chiclette, depois no pau o exfrega, antes de dal-o ao cego, ja embrulhado, e esse regalo mascando vae o trouxa e mais promette! "Me contam que tem gente que commette qualquer barbaridade (e até ja fallo em grossa putaria), faz de rallo humano um pobre cego, pincta o septe..." E insiste o folgazão: "Será verdade?" Responde o cego: {Ouvi fallar, mas não passei por tanta coisa que degrade...} "E nunca chupou rolla?", o folgazão... Insiste. {Não! Magina! Ninguem ha de fazer isso commigo!}, acha o chorão. {Taes coisas ninguem passa por vontade! Só mesmo si na marra virou cão...}
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CEGADINHA PEGADINHA (XII) [4100] "Eu quero accompanhal-o!", falla o joven ao cego, que no braço lhe segura, sahindo os dois de scena. Da postura do joven, que olha e pisca, os risos chovem. Dum cego as afflicções jamais commovem ninguem: rende audiencia a sua dura roptina, mesmo quando não se appura si é farsa e taes lesões não se comprovem. Eu, quando à rua saio, escuto o riso dos jovens si, lattindo, um cão me assusta ou, deante dum degrau, paro, indeciso. Si a camera flagrar, à minha custa... Rirá mais gente ainda: no juizo commum, cegueira é signa, é pena justa. Sciente estou do filme e, si preciso, a scena, paciente, em sonho biso.
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CYCLO "CEGADO E CORNEADO" VEADO CORNEADO [5734] Pode um cego da visão ter saudade sem chorar? Pode um cego ao olho são de outro macho dar logar? Tanto pode, que o tesão do tal "outro", por azar, não tem só satisfacção com a dona alli "do lar". Conclusão: o cego é tão azarado, que chupar vae o pau do Ricardão! Mais lhe amarga o paladar... E segunda conclusão dou a quem me consultar: será corno quem visão não tem, quando tem seu par.
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EXTRACONJUGAES FUNCÇÕES ORAES [5786] Lembrando do solteiro, o cego pensa: "Si ainda não casei, rolla eu chupei-a por cego ser; si estou casado, offensa maior será chupar quem me corneia." Um caso de contar me dá licença meu critico leitor? Pois uma aldeia nas selvas amazonicas dispensa preambulos: um cego massageia. Casado, ficou cego. Seu vizinho na hora approveitou-se. Ja comida a sua mulherzinha, teve vida de escravo massagista, coitadinho. Por certo o Ricardão foi excarninho e quiz mais que massagem. Quem duvida consulte-me e direi que, bem lambida, qualquer rolla perfaz novo caminho.
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CEGO CORNO [6285] Vantagem sei que levo, ao menos uma, casada por ser eu com um ceguinho. Não uma. Talvez duas. Lhe apporrinho, Glaucão? Então permitta que eu resuma. Primeiro, acho perfeito que elle assuma: Jamais para a mulher dalgum vizinho olhar eu o verei. Mais excarninho será quando um amante a gente arrhuma. Ahi vejo vantagem mais bacchana. Com outro poderei trahil-o, bem na frente delle. Basta que ninguem mais alto va gemer. Acha sacana? Né, Glauco? Quem é cego não se enganna assim tão facilmente! Tesão tem, mas cala-se, provando ser, alem de corno, um masochista. Cê se irmana?
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OTHER GUY [7027] Mais tragica, ao ceguinho, qual inhaca? Casar-se com esposa que, sapeca, com outro gajo, macho paca, pecca na sua frente e tudo o cego saca! Alem de ser chamado de babaca por elle, sente cheiro da cueca do cara, até da meia! Si defeca, tambem sente fedor da sua caca! Peor ainda! Aggrava aquella zica o cego ser chamado de boboca e, embora aquillo choque quem se choca, chupar do Ricardão a suja picca! Qual cego assim se ferra? Dou a dica: eu mesmo! Nem você, que se colloca na pelle dum fatidico masoca, supporta, Glauco, um desses! Mas se explica!
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ZIQUIZIRA [7028] Conhesce, cara, alguma ziquizira peor que ser um corno, sendo cego? Pois esta cruz fatidica carrego! Sim, minha esposa affirma que é da lyra! O gajo, sem reservas, chega, tira o tennis, tira a meia! Ja me pego sentindo o seu chulé! Mas não sossego! Abusa de mim, elle, sim! Confira: Alem de fornicar, na minha cara, com ella, põe bem alto o som mais brega, me força a amar aquillo, me pespega tabefes si reclamo que me enfara! Ainda mais, Glaucão! Elle compara um cego com um bicho! Sempre exfrega o pé na minha cara! Quem se nega a delle levar ferro mais se azara!
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AMANTE CAPTIVANTE [7029] Mais este ingrediente quero pôr no scenario que, infeliz, um cego vive. Casado ja, Glaucão, -- Verdade! -- estive e fez minha mulher de mim um corno. Peor! Si virei do seus pés Um clima
não bastasse esse transtorno, gajo um servo que, inclusive, massageava! Que declive! decadente e sem retorno!
Sim, antes de trepar com a putana com quem, desadvisado, me casei, o gajo me chamava até de gay, mandava descalçal-o! Que sacana! Não acha, Glauco, um drama aquella insana e extranha relação? Mas me livrei! Agora da massagem sou o rei, mas só si elle me paga alguma grana!
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NA MÃO DO RICARDÃO [7030] Ser corno, sendo cego, vate, é barra! A gente se rebaixa até demais! Alheia ao nosso azar, aos nossos ais, a puta com qualquer gajo se exbarra! Atturo um Ricardão que ja, na marra, me manda descalçar descommunaes sapatos, botas, tennis e demais calçados! Nem siquer os desadmarra! Alem de descalçal-o, Glauco, tenho que meias retirar de pés suados, grudadas e fedidas! Seus cansados pés 'inda massageio com empenho! Você diz que me inveja? Ah, não! Ferrenho seria ao castigal-o um desses sados! Melhor imaginar que são meus dados veridicos, gozar com seu engenho!
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CYCLO "THEMAS DE TELEPHONEMAS" THEMAS DE TELEPHONEMAS (I) [6694] Alô? Sou eu de novo, cara! Achei gozados os seus versos! Achei lindo seu caso de cegueira! Gozei! (rindo) Suppuz na sua bocca que gozei! Ouvi fallar dum cego ou outro, gay ou não, que ja chupou! Me divertindo estou, de imaginar! Até ja brindo ao olho são que tenho! O que é, ja sei! É muita sorte minha, cara! Agora toquei-me! Que prazer, enxergar bem! É quasi que tesão! Só falta alguem mammar para a delicia ser da hora! Ahi, pensei: um cego, que ja chora a perda da visão, por que não vem chupar-me? (rindo) Olé! Lhe digo, sem reserva alguma: a rolla puz p'ra fora!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
THEMAS DE TELEPHONEMAS (II) [6698] Alô? Glauco Mattoso? Seu fan sou e tenho um chulé forte! Sim, frieira tambem, poeta! Caso você queira saber, tenho pé chato, sim! Gostou? Galan não sou, nem muito fortão, ou padrão de quem practica capoeira, ou artes marciaes! Mas na colleira eu levo o labrador e voltas dou! Sim, uso tennis, Glauco! O calcanhar cascudo duma lingua, até, precisa! A pelle do caralho, sim, deslisa, mas juncta bom sebinho! Quer chupar? Pergunto porque quero confirmar si é sua fama a mesma da pesquisa! Mas, como sei ser sadico, ja fiz a opção de me negar a ser seu par!
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THEMAS DE TELEPHONEMAS (III) [6703] Me lembro claramente quando, um dia, me liga aquelle skin que, numa banda, é lider do vocal e que commanda a scena na zonal peripheria. Sabendo quem sou, elle tripudia: "Ahi, como se sente? Ja bem anda na rua de bengala? Propaganda do braille vae fazer? Ja tem um guia?" Fui franco: {Não me sinto conformado, mas posso confessar que só me vejo chupando quem vê bem e tem ensejo de bem curtir a vida! Me degrado!} {Foi isso que escutar quiz?} O folgado responde: "Foi. Dum cego é o que desejo ouvir, sim!" Sempre rindo, o skin, sem pejo, offega. Até paresce ter gozado.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
THEMAS DE TELEPHONEMAS (IV) [6714] Alô? Glauco Mattoso? Sou o Freitas! Me explica si é verdade, si é fofoca: Alem de seres cego, és tu masoca? Que quer isso dizer? Soffrer acceitas? És membro, por acaso, dessas seitas satanicas? Quem Lucifer invoca ser cego necessita? Numa toca precisa se enfurnar? Tu te subjeitas? Faz parte, então, da tua condição ouvir, por telephone, essas offensas que nós, normaes, fazemos? Que tu pensas? Sabias que me deste bom tesão? Me deste, sim! Pensei: minha visão é boa, Glauco! Quantas differenças separam-me de ti! Nas trevas densas tu vives! Vejo cores, mas tu, não!
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THEMAS DE TELEPHONEMAS (V) [6716] Alô! Quem tá fallando? Cê que é cego? Não tem vergonha, porra? Cê devia pedir esmolla alli no largo! Um dia ainda alli "te" vejo, alli "te" pego! Perdeu a visão? Sabe que esse prego faz parte duma cruz que merescia? Bem feito! Quem mandou pornographia fazer? Acho bem feito, sim, não nego! E sabe duma coisa? Acho que todo pornographo devia ser cegado! Devia, porra! Para meu aggrado, cê deve escutar sarro, porra, a rodo! E sabe doutra coisa? Não me fodo assim porque só fodo como sado! Não faço poesia! Cê ferrado está por causa disso, desse engodo!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
THEMAS DE TELEPHONEMAS (VI) [6718] Alô, Mattoso! Ocê que é cego otario? Seu trouxa! Si cê visse minha cara de filho do Diabo, sua tara por pés punha de lado um tão precario! Sou feio mais que a peste! Não é pareo p'ra mim uma caveira! Se compara meu rosto ao dum cadaver que excancara as orbitas, o riso, o vão dentario! No pé tenho um cascão que se diria com cara mais de lixa que de sola! Ainda assim você disse que exfolla a lingua nella, lambe e 'inda admacia? Ah, tem que se foder, mesmo! Quem ia ter pena dum cegueta que se isola e fica a punhetar-se? Nem dou bolla à sua fracassada phantasia!
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THEMAS DE TELEPHONEMAS (VII) [6720] Alô? Reconhesceu a minha voz? Eu mesmo! Se lembrou? Sou o Gonçalo! Você ja foi (Se lembra?) meu vassallo! Ja fui (Está lembrado?) o seu algoz! Lembrou-se ja de tudo que entre nós rollou? Ah, vou querer expiccaçal-o, agora que está cego! Não me rallo, não, nesse puta azar seu, tão atroz! Fiquei um tanto myope, ja preciso usar oculos! Nunca, porem, vou ficar como você! Contente estou sabendo que perdeu o seu sorriso! Meu pé tem calcanhar ainda liso, sabia? A sua lingua ja ficou babando? Se fodeu! Sim! Se frustrou! De novo, Glauco, o rosto não lhe piso!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
THEMAS DE TELEPHONEMAS (VIII) [6723] Alô? Quem falla? Glauco? Ora, você está vivo? Pensei que ja tivesse morrido, porra! A gente até se exquesce dum cego nesse enorme fuzuê! Em plena pandemia ha quem lhe dê a minima attenção? Nem sua prece meresce ser ouvida, si eu pudesse dar minha suggestão a Deus com "G"! Um cego deschartavel seja, amigo! Ainda mais agora, que essa peste até p'ra americanos, que teem teste, remedios e vaccinas, é castigo! Me expanta que 'inda agora cê commigo esteja conversando, que 'inda eu preste alguma attenção nisso que reveste de gozo o que traz tragico perigo!
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THEMAS DE TELEPHONEMAS (IX) [6725] Alô? Você que é cego? Não, não vou fallar quem sou! Ahi, que tal, velhinho? Quem sabe? Ser eu posso seu vizinho de rua, de edificio... Se tocou? Zoei você na rua! Sempre zoo um cego quando passa! Ja adivinho o que elle sente: raiva! Sou damninho, não sou? Caçoo mesmo! Não perdoo! Ahi, cê ja levou tapa na cara? Eu tenho uma vontade, você nem calcula, de lascar um tapão bem na fuça dum cegueta que me encara! Velhinho, ver um cego olhando para mim como si me visse... Ja me vem vontade de batter! Mas eu, porem, nem batto si consente em chupar vara!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
THEMAS DE TELEPHONEMAS (X) [6727] Alô? Mattoso? Quanto tempo, cara! Você vae se lembrar! Sou o Siqueira! Lembrou? Talvez fallar você não queira daquillo que fizera! Cê chupara! Você satisfizera a minha tara chupando direitinho, da maneira que curto! Chupará, ja na cegueira, talvez 'inda melhor, nem se compara! Fiquei sabendo, Glauco (e prova viva você se torna disso), que quem fica nas trevas melhor chupa alguma picca! E então? A sua bocca ja saliva? Que pena! A quarentena até de toda visitinha? Mas que Daquella scena sadica, tão de engasgos, de engulhões,
lhe priva zica! rica você se exquiva?
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CYCLO "FURIA CEGA" FURIA CEGA (I) [6702] Eu vou abrir o jogo, tomar no cu! Fizeram mostrar que um heroe a um outro qualquer!
Glauco! Vão filme para cego se compara Não, commigo não!
O cego usa a bengala qual bastão, accerta a bordoada bem na cara daquelles que curtiam uma tara propicia dum cegueta à zoação! Si eu fosse director daquella droga, fazia a turma toda revidar a audacia do cegueta! Ahi, azar do gajo, que perdão ja pede e roga! A turma, ahi, mantem bem a lei de quem mais pode! lamber uns tennis, antes cannellas, esse cego que
firme em voga Irá beijar, de esticar se arroga!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
FURIA CEGA (II) [6704] Um superheroe cego, cuja dura bengala virou arma, compra briga com toda gallerinha que, inimiga da lei, nenhuma bronca mais segura. Cercado pela gang, o cego jura a todos enquadrar! Antes que diga bravatas outras, seu bastão castiga cabeças, braços, varios olhos fura! Até que, num certeiro golpe, eu tiro a vara do cegueta, a qual jogada foi longe! Seus "poderes" ja de nada lhe servem! Sua cara, agora, miro! Exmurro o cego! Um outro mano um tiro dispara nelle! Emfim, a molecada lhe chuta, pisoteia a cara! Cada um mija nelle! E então, Glaucão? Me inspiro?
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FURIA CEGA (III) [6711] Um primo meu commigo sempre via o filme FURIA CEGA, mas a gente torcia para aquelles que, na frente do cego, o bullyingavam todo dia! Achavamos que um cego jamais ia ter forças para agir, ser tão valente assim, poder vingar-se! Mais contente a gente ficaria si elle enfia! Devia, sim, Glaucão, sua bengala mettida no cuzão ser! Mas, primeiro, o cego chuparia, chupeteiro seria dos moleques, esse mala! Quem é que tal heroe, que não se eguala aos normovisuaes, como parceiro encara? Não! Jamais um justiceiro engulo si for cego! Serio falla!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
FURIA CEGA (IV) [6713] Tambem conhesci, Glauco, um cego tão briguento, que exigia seu direito! Mas elle se fodeu, e foi bem feito! Levou, sim, de nós quattro, uma licção! Tomamos-lhe a bengala, que ja não foi arma na mão delle! Então, proveito tiramos de seu tragico defeito nos olhos, que o privara da visão! Na cara appanhou muito! Muito murro e tapa, na bochecha, no nariz, até que obedesceu, esse infeliz, e emfim se adjoelhou! Penou p'ra burro! Com gosto, Glauco, um trouxa assim eu curro! Sim, teve que chupar! Claro que fiz! Bem feito! O desgraçado ja não diz que enfrenta a gente! Emfim, ficou casmurro!
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FURIA CEGA (V) [6717] Paresce que esse cego, Glauco, tinha coragem de empregar sua bengala, alem de caminhar, para accertal-a naquelle que gozando delle vinha! Ainda que estivesse na turminha, na certa appanharia aquelle mala: zombava de que um cego não se eguala ao normovisual! Fervia a rinha! A turma não deixou, porem, barato! Cercaram o ceguinho, que perdeu a magica bengala! Philisteu se torna cada mano, lhe relato! Então, Glaucão, curti muito, de facto! Fizemos o ceguinho, no seu breu, sentir-se inferior! Claro que elle deu chupada, que engoliu dum pau o jacto!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
FURIA CEGA (VI) [6722] Às voltas com a vara, a caminhar, o cego topa alguns amigos meus commigo, que não somos bons plebeus. Ficou sem a bengala. Deu azar. Sabendo que ia, às cegas, appanhar, com medo, qual Sansão, dos philisteus, o cego pediu "pelo amor de Deus". Dissemos então: "Pede p'ra chupar!" Ouvindo gargalhadas, adjoelha, sem outra alternativa. A gente enfia a rolla numa bocca fugidia que irá degustar carne bem pentelha: Sabor que, entende o cego, se assemelha àquelle da linguiça ainda fria. A porra que engoliu paresceria, talvez, algo contrario ao mel de abelha.
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FURIA CEGA (VII) [6724] Nem sempre fora assim. O cego ja da gente conseguiu se defender. Aquella vara tinha algum poder de quem mil golpes certos sempre dá. Mas, desta vez, não dera. Sua má bengala foi, ao longe, se perder depois de ser chutada. Deu prazer a forra que tivemos. Ouça ca: Tentou as mãos usar. Um ponctapé prostrou-o, sem defesa, na calçada. Ouvindo nossa alegre gargalhada, o gajo supplicou por sua fé. Mas nossa fé satanica não é capaz de dó sentir. Uma chupada deu elle em cada rolla. De pancada por pouco não morreu esse mané.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
FURIA CEGA (VIII) [6726] Bem, tudo começou quando o ceguinho, ainda adolescente, esteve exposto ao sarro dum collega que, com gosto, zombava dum glaucoma tão damninho. O cego reagia, coitadinho, appenas com palavras, mas no rosto, então, era cuspido. Predisposto estava para a forra, ja adivinho. Um dia, percebeu elle que tinha na mão uma arma forte e resistente: a propria bengalinha! Ja valente ficou e confrontou toda a turminha! Nos ares, bastão ia, bastão vinha, brandido pelo heroe! Quem passa rente a alguem que, confiante, enfrenta a gente sem medo de qualquer gangue excarninha?
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FURIA CEGA (IX) [6728] Aos poucos, um cegueta assume e entende o jogo que, cruel, na mente rolla de todo felizardo rapazola que enxerga normalmente e não depende. Um joven, caso os proprios olhos vende suppõe-se no logar de quem, na eschola, requer uns privilegios. Ah, não colla alguem que às evidencias não se rende! Os cegos inferiores são! Ahi, o normovisual impõe a sua vantagem, como sadico ja actua, querendo dar licção nesse cricri! O cego, si reage, delle ri a turma. Si, cercado, não recua e quer se defender, em plena rua appanha, chupa paus, bebe xixi!
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
FURIA CEGA (X) [6730] Você nunca sonhou, Glauco, com isso? Que sua bengalinha fosse tão incrivelmente magica, que não deixasse um cego fragil nem submisso? Hem, Glauco? Ja pensou que bom serviço tal vara prestaria? Ah, que bastão possante e vingativo! Um valentão fugia de encarar tal compromisso! Jamais sonhou, Glaucão? Ora, por que? Concorda com o sarro que a gallera tirava de você? Tambem, pudera! Só sendo um masochista! Só você! Então eu nem me expanto caso dê a turma aquella curra, ja que fera um cego ser evita! Só chimera, assim, foi o tal filme da TV!
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CYCLO "GUIA QUE JUDIA" MEMORIAS DA PRISÃO [7002] Meu guia me fallou: {O senhor ja pensou na quantidade de cocô que ja cagou na vida, seu "dotô"?} De facto, não suppuz. Alguem dirá? Emquanto me conduz, o guia dá idéas que irei, dentro dum pornô sonnetto, destrinchar. Siquer Rimbaud no thema nem pensou, patente está. Idéas associo, bem se vê. Depois de tanta merda ja cagada, pensei: gentalha somos, azarada à bessa! Que, leitor, acha você? Cagar tanto cocô sem que nos dê a tripa liberdade... Não ha nada peor! Prisão de ventre, camarada, ninguem meresce, excepto os do "pudê"!
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ESTADO DE ATTENÇÃO [7003] Na pedra tropecei. Disse meu guia: {Tão cedo, seu "dotô", ja tropeçando?} De facto, o dia achei que bem nefando começa si ruim esteja a via. E, na em na
para completar o feio dia, volta cahiu chuva. Justo quando casa, finalmente, vou chegando, poça passo. Um pé n'agua se enfia.
O guia deu risada. Sempre ria da minha desdictosa situação. Eu antes me importava. Agora, não. Punhetas ja batti, na theoria. Suppuz que elle deleites curtiria podendo me zoar. Occasião não falta. Testarei o seu tesão, assim que tiver chance, sem phobia.
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WALKING THE DOG [7004] A um guia meu propuz esta questão: si cegos conduzir é trabalheira. {Levar o meu cachorro na colleira dá bem menos trabalho! Né, patrão?} Deu deixa, comparando o cego ao cão, que muito me rendeu. Esta cegueira pretexto deu a chistes, pois quem queira curtir entenderá tal gozação: -- Cachorro obediente, você tem? {Ja tive. Mas nem sempre era mansinho.} -- Um cego talvez seja... No caminho reclamo muito, ou deixo você zen? {Patrão, si depender for só de quem enxerga, nenhum cego faz biquinho!} -- O cego obedescia direitinho? {Na marra! Ah, dó não tenho de ninguem!}
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
SENHA TROCADA [7005] Andei dum molecão na companhia, à guisa de meu guia. Algum ganhava, mas menos do que espera quem ja trava battalhas, se mantendo todo dia. O gajo me conduz e, pela via, eu vou phantasiando ser escrava a minha bocca delle, que não lava artelhos nem pentelhos. Phantasia? Talvez nem phantasia aquillo seja, pois elle ja deu dica de que tem tesão quando faz chistes com alguem que, embora seu patrão, ja nada veja. Sondando, perguntei: Si, de bandeja, um cego obedescer ao que lhe vem à mente, que fará com o refem? Resposta: {Ah, nos meus pés elle rasteja!}
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MOTTE DO MOLECOTE [7006] Commum é, nessas feiras do Nordeste, um cego caçoado pelo guia. Amigos de la dizem que daria bom motte, esse mordaz cabra da peste. Concordo plenamente! Que não reste qualquer duvida accerca da magia que induz a minha lyra à phantasia de cego masochista que me veste! Ja tive, sim, um guia nordestino. Fazia gozação, claro, commigo. Um dia perguntei si de castigo me punha, si pudesse, esse menino. Resposta: {Ah, "dotô", ponho, sim! Ensigno a ser menos queixoso! Si consigo mandar, mando fazer tudo o que digo, até beber aquillo que eu urino!}
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
TROCA DE FARPAS [7007] O guia, de proposito, me empurra num muro, numa cerca, numa grade, de modo que eu me ralle e desaggrade. Só falta gritar {Oba! Legal! Hurra!} Um gajo mais fortão, valente, exmurra alguem, si fizer isso. Na verdade, nós, cegos, somos fraccos. Qualquer Sade, brincando, nos opprime e nos dá curra. Desleixa quem me leva, si me queixo demais, ao caminharmos na calçada. Até que engulo quieto, pois culpada é minha rabugice, do desleixo. Em troca, que elle falle grosso deixo: {Os cegos meresciam é porrada! Só servem de capachos e mais nada! Deviam é chupar!} Me cae o queixo!
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COLHENDO MADURO [7008] Um dia, commentei com o meu guia que cegos indianos chupam picca nas castas inferiores, o que indica haver, para até cegos, serventia. O gajo deu risada, pois sabia das minhas intenções. Mas quem não fica curioso por detalhes dessa rica cultura, de exemplar sabedoria? Detalhes dei. O guia pediu mais. Ficou, provavelmente, de pau duro. Previ que commentasse: {Bem escuro, o mundo delles... Sorte dos normaes!} {Bem chupam esses cegos? Eu jamais irei saber. Aqui, porem, atturo alguns que, si chupassem, mais futuro teriam!} Engoli meus proprios ais.
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OLHO CLINICO (II) [7009] Dos cegos massagistas indiquei a clinica ao meu guia, que foi la curtir uma nas solas. Eis que está a fim de me contar o que ja sei: {Gostei de ver! O cego, sem ser gay, o tennis me descalça, a meia, ja vae dando uma de gueixa, de babá, fazendo coceguinha... Ah, cara, amei!} {Si todos os ceguinhos, doutor, gente assim fosse, eu diria que até tem alguma serventia quem tá sem visão... Não o doutor, naturalmente!} Se explica mal, me exempta, mas não mente. Suggere que prazer terá, por bem poder enxergar, caso seu refem eu seja. Algo percebo que me tempte.
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ALEM DE QUEDA, COICE (II) [7010] Não acha (perguntei ao guia) azar demais, para alguem cego, ver só breu e ainda divertir quem não perdeu seus olhos? E você? Curte zoar? O guia, que bem sabe trabalhar commigo, respondeu: {Doutor, sou eu suspeito p'ra fallar, mas philisteu é quem não estiver no seu logar!} Sim, elle está sciente da cegueira soffrida por Sansão, da qual lhe fallo. Alem eu fui: contei que chupou phallo, depois de cego, duma gangue inteira. {Sei disso. (confirmou) E quem não queira chupar, leva porrada! Não, forçal-o não posso... Né, doutor? Mas de vassallo um cego ja fiz, nessa brincadeira!}
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SUBTIL PERFIL [7011] Quem fica cego fica dependente dum guia, pois lhe falta a autonomia que um cego de nascença tem na via, usando uma bengala condizente. Bengala tambem uso. Ninguem tente, porem, me convencer de que seria bastante essa vareta que se enfia em cada buraquinho pela frente! Dependo, sim, do guia. Algum ja foi gentil e respeitoso, mas tambem um outro me fazia de refem do sarro. Não darei o nome ao boi. Até que curto, caso um delles zoe, mas finjo que me offendo quando alguem piada faz de cegos. Foi alem aquelle que não pede que eu perdoe.
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TARA NA CARA [7012] É symbolo o cegueta da chupeta, segundo um dos meus guias, a quem fiz perguntas que não eram tão subtis. Aqui vae a conversa. Não é peta! -- Então é natural que um cego metta na bocca paus de gente mais feliz? {Mas claro! Não será pelo nariz que irá chupar gostoso uma caceta!} -- Sarrista, você! Então bocca de cego ja jeito leva para tal funcção? {Ah, leva! Se percebe como são os beiços pensos! Jeito tem, não nego!} -- Será que em minha cara ja carrego a marca dessa triste condição? {Carrega, sim, doutor! Arre, eu só não lhe metto pois, depois, cadeia pego!}
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PALAVRA DESEJADA [7013] O mesmo guia (aquelle que estivera na clinica dos cegos) me conduz na rua. Ando tão tropego, que induz meu passo o riso franco da gallera. Meu guia ri tambem, como se espera. Confuso, o pé lhe piso. O gajo jus fará, sim, ao sadismo dos mais crus e toscos practicantes. Mas coopera: {Pisou no meu pé -- Né, Glauco? -- outra vez!} -- Foi sem querer... Pisei, então, em cheio? {Dóe paca, sim! Massagem cê ja fez, num pé, não é? No seu ou num alheio?} -- No seu posso fazer... Quer ser freguez? {Mas tenho chulé paca! Tem receio?} -- Magina! Como os cegos, massageio sem choro! Somos servos de vocês!
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LUVA DE PELLICA [7014] Emquanto o massageio, o guia (agora ja tenho um novo) mexe o pé cansado, depois da caminhada. Foi pisado por mim e vê que chega a sua hora. No pappo, elle se vinga, commemora ter boa visão. Falla com enfado: {Vocês, cegos, ao menos esse lado teem, Glauco. Por que tanto você chora?} {Mal sabe andar na rua, só me pisa no pé, mas me compensa com seu tacto... Assim... Isso... Pô, tenho o pé bem chato! Não tenho? Uma massagem suaviza!} {Você reclama muito! Não precisa fallar mal da cegueira! Não lhe batto na cara, ao dizer isso, mas é facto que enxergo bem... Ah, Glauco, que mão lisa!}
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TRABALHADOR INFORMAL [7015] O gajo que me guia sarro tira da minha cara. Goza si eu exbarro no poste, na parede, si no barro affundo o pé. Diverte-se, delira! Sim, posso demittil-o, mas a lyra me pede que tolere. Si do sarro reclamo, me responde como narro nos proximos quartettos. Sim, confira: {Sem essa, Glauco! Ouvi fallar que todo ceguinho chupa rolla! Para mim, teem mais é que chupar! Achou ruim? Eu tenho visão boa, não me fodo!} {Um cego se doer é grande engodo! Quem chupa rolla achar irá que vim só para trabalhar, Glauco? Pois sim! Tambem quero curtir, à bessa, a rodo!}
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PERCALÇOS DA CALÇADA [7016] Na rua ninguem anda sempre em paz. No vomito do bebado ou na bosta dos cães: de pisar nisso, quem que gosta? Meu guia com que eu pise, rindo, faz! Faz isso de proposito, o rapaz! Que eu fique sem chiar o cara apposta? Magina! Mas, si eu chio, uma resposta tem prompta. Si for boa, tu dirás! {Queria que eu pisasse tambem, ora? Si entrasse em sua casa de sapato tão sujo, quem pagava, appós, o pato? Melhor pisar você! Cego não chora!} {Pisasse eu, lhe diria: Não adora baixeza? Agora abbaixe! Vae, a jacto, lamber na sola a bosta, seu ingrato!} Lembrar disso me inspira a lyra, agora.
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MALFAZEJO GRACEJO [7017] Na rua, com meu guia, às vezes cruzo com outro cego. Occorre que sozinho vae elle, bengalando. Seu caminho é muito mais difficil, eu deduzo. Meu guia até commenta: {Algum abuso se presta a supportar!} Um excarninho ja grita "Chupa, cego!". Ouço o damninho gracejo, mas o golpe não accuso. Si peço um commentario de lambuja ao guia, que por menos nada deixa, diz este: {Quando um cego mais se queixa da sorte, nem tem chance de que fuja!} {Sem chance! Esse coitado rolla suja na certa ja chupou! Quem não desleixa assim é você, Glauco!} Boa deixa peguei. Qual carapuça a sobrepuja?
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RECURSOS HUMANOS [7018] Um velho tem, em casa, Um cego, pela rua, tem Nem sempre são pessoas bastante preparadas no
cuidador. seu guia. que eu diria sector.
Si guia bem treinado o cego for querer, vae pagar caro. Quem confia nos typos informaes dá serventia a muito molecote. Eu quiz me expor. Sim, varios contractei que, sem pudor, curtiam meu constante desnorteio e riam quando choques eu, em cheio, soffria no trajecto. Que suppor? Supponho que ninguem é malfeitor à toa. São mais sadicos, eu creio por causa do que grita, no passeio, um povo -- "Chupa, cego!" -- gozador.
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DISCURSOS DESHUMANOS [7019] Um desses jovens guias me dizia: {Apposto que o senhor vae se ferrar! Não faltam é barreiras no logar por onde nós passamos todo dia!} {Eu digo porque vejo! O senhor ia batter sua cabeça, devagar, no galho, mas bastou eu lhe advisar e, rapido, batteu! Quem não riria?} {Não posso fazer nada quando o cego decide se foder, mesmo, por si! Reclama quando a gente disso ri? Então por que pisou, hontem, no prego?} {Risada dou, gostosa, sim, não nego! Mas coisa bem peor ja fiz! Xixi na bocca, por exemplo! Sim, curti por elle de masoca ter um ego!}
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EXCEPÇÕES DE PRAXE [7020] Ja tive, tambem, guias que cuidado commigo demonstravam na calçada, livrando minha cara abbobalhada dum choque desastroso ou desastrado. Ainda assim, colloco como dado curioso o que um fallou, mais camarada: {Coitado do senhor! Pô, não ha nada que possa reverter olho cegado?} {Nem posso me ver cego! Não consigo siquer imaginar uma desgraça tamanha! Não aguento que se faça piada, não, com isso, meu amigo!} {Andando, o senhor corre esse perigo na rua, ja que, emquanto o senhor passa, a turma dá risada! Até, devassa, lhe grita "Chupa!" a turma! Ah, quasi eu brigo!}
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CYCLO "O CEGO E OS CAPITÃES" O CEGO E OS CAPITÃES (I) [7221] Está LOS OLVIDADOS numa minha banal filmographia da cegueira, pois acho natural que a gangue queira visar um pobre cego, que expezinha. Tocar seu instrumento o cego vinha na praça. A molecada brincadeira fazia, perturbando a violeira performance, de resto bem fraquinha. O cego reagia: de bengala em punho, golpeava às tontas, mas a gangue era peor que Satanaz. Difficil com taes golpes affastal-a. Aquillo promettia. Si filmal-a eu fosse, esses pivetes de tão más tendencias pisariam, como faz commigo, bem no rosto, um Pedro Balla.
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O CEGO E OS CAPITÃES (II) [7223] Emquanto o cego pega na viola e canta, alli na praça, ja seu pote de esmollas vae se enchendo. Um molecote se chega por traz delle e rouba a esmolla. O cego percebeu. O rapazola, porem, faz que foi outro quem o bote deu. Falla: "Ahi, ceguinho! Ocê que enxote melhor a molecada, quando colla!" {Não posso fazer nada!}, diz, tentando render-se na moral. {Elles que estão por cyma, aqui por toda a região! Que faço, si estão elles no commando?} "Tem mesmo que engolir! Aquelle bando é barra pesadissima!" Ja vão os outros rodeando o cego. Não se accanham, gargalhadas ja vão dando.
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O CEGO E OS CAPITÃES (III) [7224] Cercado de moleques, elle implora: {Dó tenham do ceguinho! Dependente sou desse dinheirinho!} O delinquente mais velho delles diz: "Cego não chora!" "Quem manda somos nós! A grana agora é nossa! Fica tudo para a gente! Você que esmolle, toque, cante, tente junctar! No fim do dia, a gente explora!" {Mas como vou viver? Ja fome passo!} "Lhe damos nosso resto! Ocê se vira! Apprenda a curtir sua ziquizira!" A turma se diverte em riso lasso. E, para confirmar o seu devasso intento, o lider para fora tira a rolla, mija nelle, que sentira, ja, cheiro dessa urina a cada passo.
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O CEGO E OS CAPITÃES (IV) [7226] Depois disso, o ceguinho se submette àquillo que será sua roptina: cantar, pedir esmollas, da matina à tarde, e dar a grana a algum pivete. Aos poucos, ja não ha pudor que vete as taras dos moleques: imagina um delles do refem fazer latrina; um outro o quer pagando bom boquette. O quarto do coitado, no porão da casa de repouso, poncto vira da rude molecada. Minha lyra não basta para achar a descripção. Do cego todos zoam, todos são algozes juvenis: um delles tira o tennis e, na sola que transspira, a lingua dum escravo tem funcção.
DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO
O CEGO E OS CAPITÃES (V) [7227] O lider dos pivetes tem estylo bem proprio de foder uma garganta: do cego a nucha appoia (Virgem Sancta!) na beira do colchão, para punil-o. Vae fundo penetrando, sem vacillo, até que o pobre engasgue e, ja de tanta delicia, goza a jacto. Se levanta, feliz, da posição de crocodillo. O cego, que irrumado foi sem dó, sem follego se deixa alli ficar, até que outro moleque queira dar tambem sua bimbada no bocó. Aos jovens, os orgasmos são o "mó barato", mas ao cego tal azar confirma algum boato mais vulgar accerca do que rolla num mocó.
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388 GLAUCO MATTOSO
O CEGO E OS CAPITÃES (VI) [7229] Alguem, por fim, tem pena ao ver que elle, doente, emquanto pede esmolla. A que canta desaffina como
do ceguinho ja definha ladainha o pinho.
Formar de voluntarios um gruppinho foi facil: quando querem, depressinha se forma. Aquella gente que se appinha expulsa a molecada de seu ninho. Resgatam o ceguinho, ao hospital o levam. Sobrevive, emfim, o gajo. Depois de renovado o seu andrajo, um numero fará, mais musical. Si fosse menestrel, a mim egual, em versos contaria, como eu ajo, aquillo que soffreu. Mas eu me engajo, por elle, num papel tão principal.
SUMMARIO GOZO TENEBROSO [5057]..........................................9 DISSONNETTO PERPETUO [0076]...................................11 DISSONNETTO SIMULADO [0078]...................................12 DISSONNETTO PRAGMATICO [0103].................................13 DISSONNETTO QUEBRA-GALHO [0195]...............................14 DISSONNETTO LUDICO [0197].....................................15 DISSONNETTO AO FIM E AO CABO [0222]...........................16 DISSONNETTO CORRIQUEIRO [0264]................................17 DISSONNETTO PERCENTUAL [0346].................................18 DISSONNETTO INVECTIVADO [0637]................................19 DISSONNETTO DO APPRENDIZADO [0653]............................20 DISSONNETTO UNIVERSAL [0879]..................................21 DISSONNETTO FUNCCIONAL [0880].................................22 DISSONNETTO PAVLOVIANO [1005].................................23 DISSONNETTO SUGGERIDO [1052]..................................24 DISSONNETTO DO MELHOR CEGO [1055].............................25 DISSONNETTO DAS NECESSIDADES [1062]...........................26 DISSONNETTO EXCLARESCIDO [1068]...............................27 DISSONNETTO EXPALHADO [1069]..................................28 DISSONNETTO SEM DOR NEM DÓ [1071].............................29 DISSONNETTO GAIATO [1077].....................................30 DISSONNETTO ALEATORIO [1079]..................................31 DISSONNETTO DESLUSTROSO [1084]................................32 DISSONNETTO DA HARMONIA UNIVERSAL [1110]......................33 DISSONNETTO DA TRADIÇÃO ORAL [1112]...........................34 DISSONNETTO DO REINO ANIMAL [1113]............................35 DISSONNETTO DA MALSAN CONSCIENCIA [1116]......................36 DISSONNETTO DOS MUDOS DISSABORES [1118].......................37 DISSONNETTO DO CLIENTE EXIGENTE [1261]........................38 DISSONNETTO DA DISCIPLINA MENTAL [1423].......................39 DISSONNETTO DA VERDADE DURA [1424]............................40
DISSONNETTO PARA O DEVIDO VALOR [2037].........................41 DISSONNETTO PARA A PLETHORA SONORA [2053]......................42 DISSONNETTO PARA UM DISPOSITIVO CONTRACTUAL [2054].............43 DISSONNETTO PARA UMA CONCLUSÃO PHILOSOPHICA [2058].............44 DISSONNETTO PARA O ENCAIXE DAS PEÇAS [2059]....................45 DISSONNETTO PARA UM ARDOR ANIMADOR [2063]......................46 DISSONNETTO PARA A VIDA TERRENA [2067].........................47 DISSONNETTO PARA UM SABOR ARTIFICIAL [2070]....................48 DISSONNETTO PARA UM DEFICIENTE NO ORIENTE [2082]...............49 DISSONNETTO PARA A GRATIDÃO NA INAPTIDÃO [2083]................50 DISSONNETTO PARA A CONSCIENTIZAÇÃO DO CEGO [2084]..............51 DISSONNETTO PARA A VOCAÇÃO DO CEGO [2089]......................52 DISSONNETTO PARA A MENTALIZAÇÃO DO CEGO [2090].................53 DISSONNETTO PARA UMA MULHER DAMNADA [2117].....................54 DISSONNETTO PARA UM HOMEM DAMNADO [2118].......................55 DISSONNETTO SOBRE A VOZ POETICA [2807].........................56 DISSONNETTO SOBRE UMA DECLARAÇÃO REITERADA [3014]..............57 DISSONNETTO SOBRE A EXPERIENCIA OLFACTIVA (I) [3032]...........58 DISSONNETTO SOBRE A EXPERIENCIA OLFACTIVA (II) [3033]..........59 DISSONNETTO SOBRE O SENTIDO DE POSIÇÃO [3034]..................60 DISSONNETTO SOBRE O TESTEMUNHO DO LEITOR [3051]................61 DISSONNETTO SOBRE UM FIASCO SEM ASCO [3066]....................62 LAMBADAS LEMBRADAS [3091].......................................63 CASOS KOSINSKIANOS [3167].......................................64 TERMINAL TERMINOLOGIA ou DISSONNETTO DO GLAUCOMA MEDICADO [3188]..65 MINIMO MULTIPLO INCOMMUM [3192..................................66 SENTENÇA TRANSITADA [3271]......................................67 O CONJUGADO E O SUBJUGADO [3385]................................68 HERVA ESSENCIAL [3398]..........................................69 O PEIXINHO E O PATINHO [3445]...................................70 PERU ENGOLIDO [3517]............................................71 A VOLTA DO MOTTE DA PUTA [3611].................................72 A VOLTA DO MOTTE DO CARALHO [3616]..............................73
A VOLTA DO MOTTE DA CEGA [3620].................................74 A VOLTA DO MOTTE DO OLHO [3624].................................75 ANTES MAL ACCOMPANHADO! [3837]..................................76 BATHOPHOBIA [3850]..............................................77 PHOTOPHOBIA [3868]..............................................78 TYPHLOPHOBIA [3880].............................................79 PERFEITO JUIZO [3925]...........................................80 O CEGO E A ESCRIPTORA [3973]....................................81 BONDE DO CEGUINHO [4022]........................................82 INTERJECTIVO INCENTIVO [4024]...................................83 PENIL PENITENCIA [4025].........................................84 O ANJO DA GUARDA E O DEMONIO DA POESIA [4026]...................85 TURISTA SEM VISTA (I) [4029]....................................86 TURISTA SEM VISTA (II) [4030]...................................87 PLACEBO PARA MANCEBOS [4051]....................................88 DESGRAÇA BOBA [4153]............................................89 O CAUTO CAUSO DO SERIO REVERTERIO [4176]........................90 INGRATA DATA ou DISSONNETTO DO GLAUCOMA MEDITADO [4448].........91 SABEDORIA POPULAR [4462]........................................92 CATANDO MILHO SEM RATTO [4511]..................................93 COMMUNHÃO DE PENSAMENTO [4514]..................................94 PEGA DE CEGA [4520].............................................95 APPONCTAMENTOS E DESAPPONCTAMENTOS [4522].......................96 O SADISMO DO OLHO (I) [4523]....................................97 O SADISMO DO OLHO (II) [4524]...................................98 COLLEGAS ÀS CEGAS [4525]........................................99 "VER COM A ALMA, SENTIR COM O CORAÇÃO" [4527]..................100 O CEGO NO CLUBE [4528].........................................101 INCLUSÃO SOCIAL E SERVIDÃO SEXUAL [4530].......................102 SANCÇÕES AOS SANSÕES [4552]....................................103 TEMPO HABIL [4573].............................................104 TETRICO TRECHO KILOMETRICO [4665]..............................105 FRATERNO INFERNO [4667]........................................106
DIALOGO DESVIRTUAL (I) [4731]..................................107 DIALOGO DESVIRTUAL (II) [4732].................................108 SUPERSTIÇÃO SUBESTIMADA [4734].................................109 ESPELHANDO-SE EM QUEM NÃO SE VÊ [4763].........................110 CIRURGIA ESPIRITUAL [4781].....................................111 MARRON SOBRE AZUL (I) [4807]...................................112 ILLUSORIA TRAJECTORIA [4810]...................................113 HILARIO SCENARIO VIARIO [4854].................................114 DIA ENSOLARADO [4891]..........................................115 HOTELARIA INFORMAL (I) [4917]..................................116 HOTELARIA INFORMAL (II) [4918].................................117 PEDRAS ROLLANTES [4951]........................................118 PRAZERES DO TRAZEIRO [4991]....................................119 VENDA VENDA E LEVE LEVE [4997].................................120 JOGANDO O JOGO DO JUGO [4999]..................................121 SABEDORIA MILLENNAR [5003].....................................122 DISSOLUTA PERMUTA [5012].......................................123 TRISTONHA BRONHA [5013]........................................124 PERVERSA CONVERSA [5018].......................................125 CRENÇA SUSPENSA [5024].........................................126 DERRADEIRA VENDA [5036]........................................127 RISADA SAPHADA [5042]..........................................128 OBEDIENCIA CEGA [5043].........................................129 TECLADO SOBRECARREGADO [5054]..................................130 EXCARNINHO GOSTINHO [5056].....................................131 AGONIA QUE ECSTASIA [5066].....................................132 NÃO ESCREVO EM RELEVO! [5071]..................................133 VIOLENCIA INVISIVEL [5075].....................................134 CARNAVAL CARICATURAL [5087]....................................135 O PROVEITO DO DEFEITO [5090]...................................136 BENGALA QUE SE EGUALA [5095]...................................137 CERTEIRO BOATEIRO [5243].......................................138 VIDA UTIL [5291]...............................................139
DISSONNETTO DUMA VINGANÇA DE CREANÇA [5309]....................140 DISSONNETTO DUMA FÉ DE MENOS [5343]............................141 DISSONNETTO DUM PHARISEU QUE NEM EU [5347].....................142 DISSONNETTO DUM PHILISTEU SÓ MEU [5348]........................143 COCEIRA NA SOBRANCELHA [5609]..................................144 IDYLLICO COLLYRIO [5611].......................................145 MARRENTOS CEM POR CENTO [5613].................................146 FEEDBACK IN BLACK [5618].......................................147 GESTO INDIGESTO [5623].........................................148 NOJENTO CORRIMENTO [5628]......................................149 BONS DONS [5631]...............................................150 ENTREGA CEGA [5633]............................................151 AZEDA TANGERINA [5642].........................................152 ATTIRADORES DE ELITE [5646]....................................153 EGUALITARIA DESEGUALDADE [5672]................................154 AGGRACIADO SENTENCIADO [5690]..................................155 CEGADO E EMMUDESCIDO [5692]....................................156 CHORO HUMORISTICO [5700].......................................157 GUSTATIVA FRUSTRAÇÃO [5701]....................................158 WHEN A BLIND MAN CRIES [5703]..................................159 LIGAÇÃO COM LIGAÇÃO [5706].....................................160 LIVRO DO CEGO [5707]...........................................161 CEGO PUTO NADA REZA [5710].....................................162 PEOR CEGO [5714]...............................................163 TERRA DE CEGO [5715]...........................................164 CANÇÃO INSONORA [5737].........................................165 ASSAZ INEFFICAZ [5738].........................................166 PROFISSÕES DE PONCTA [5746]....................................167 DECORAÇÃO DE CORAÇÃO [5750]....................................168 ALTERNATIVAS MEDICINAES [5762].................................169 AMIGUINHOS DO CEGUINHO [5765]..................................170 PODOLOGIA QUE SACIA [5767].....................................171 BUQUÊ DE BUKKAKE [5776]........................................172
MISERICORDIA DA MISERIA [5782].................................173 BARDO INFELIZARDO [5784].......................................174 PROFISSÃO DE FÉ NO PÉ [5857]...................................175 OSCULOS NOS OCULOS [5861]......................................176 ORATORIO OROTURBATORIO [5863]..................................177 MEME DO MIMIMI [5890]..........................................178 BLUES DOS MEUS BREUS [5900]....................................179 ACCERTO DE TRACTAMENTO [5921]..................................180 NOITE SOB AÇOITE [5930]........................................181 MISCELLANEA SENSORIAL [5962]...................................182 DOSE EXACTA (II) [5988]........................................183 MISCELLANEA DA FELLATIVIDADE [6043]............................184 MISCELLANEA DAS PARADAS [6044].................................185 MEME DO CEGUINHO PUTO [6050]...................................186 MEME DO BICCO LARGO [6092].....................................187 SATYRESIAS [6095]..............................................188 MEME DO ABRIL AZUL [6096]......................................189 GENUINA DISCIPLINA [6100]......................................190 FODIDO E BEM LIDO [6105].......................................191 MICHETAGEM SEM IMAGEM [6119]...................................192 MEME DA CORRIDA A COMBINAR [6131]..............................193 NEGOCIAÇÃO AMIGAVEL [6133].....................................194 HASHTAG DEU RUIM [6153]........................................195 HASHTAG VAE MELHORAR [6162]....................................196 HASHTAG PRAGA DE CEGO PEGA [6167]..............................197 COVARDIA [6196]................................................198 HYDROXYCHLOROQUINA [6197]......................................199 AGONISTA [6214]................................................200 MALUCO DA CABEÇA [6229]........................................201 TALHE NO DETALHE [6240]........................................202 COMMISERAÇÃO [6250]............................................203 CEGADO E CAGADO (I) [6251].....................................204 CEGADO E CAGADO (II) [6252]....................................205
CEGADO E CAGADO (III) [6253]...................................206 DAREDEVIL [6266]...............................................207 ESTIMULO [6267]................................................208 RIVALIDADE [6270]..............................................209 VENDANDO, VEM DANDO [6293].....................................210 HORROR DOMINADOR [6294]........................................211 PASSEIO PUBLICO [6300].........................................212 PSYCHOGRAPHANDO AUTA DE SOUZA [6332]...........................213 PSYCHOGRAPHANDO BAPTISTA CEPELLOS [6340].......................214 AMEN DO ALEM [6343]............................................215 ALEM DO AMEN [6361]............................................216 JUSTO FADO [6370]..............................................217 PORNÔ PORCO [6401].............................................218 MERCADO SADO [6409]............................................219 SADO CIVILIZADO [6413].........................................220 COMPLEXO DE VIRALATTA [6449]...................................221 INGLORIA MEMORIA [6476]........................................222 BISADA BIZARRIA [6553].........................................223 ATRO THEATRO [6657]............................................224 A EDADE DO OURO [6672].........................................225 PROPOSTAS DE CAMPANHA [6744]...................................226 DIFFERENÇA QUE COMPENSA (I) [6746].............................227 DIFFERENÇA QUE COMPENSA (II) [6747]............................228 CEGO EM PISOTEIO [6751]........................................229 SWAMP MUSIC [6753].............................................230 CEGO EM TIROTEIO [6754]........................................231 REVIRAVOLTA NO QUARTEIRÃO [6770]...............................232 EM SCENA SEM PENA [6775].......................................233 CONFESSO PREGRESSO [6787]......................................234 CACHORREIRO [6788].............................................235 FUNEBRES BREUS [6790]..........................................236 CAGADO E CEGADO [6791].........................................237 RELUCTANCIA À DISTANCIA [6798].................................238
INFERIOR COM LOUVOR [6824].....................................239 RIDICULO VERSICULO [6825]......................................240 PROSA MILAGROSA [6835].........................................241 CRENTE DEFICIENTE [6836].......................................242 DESPEITO DO DEFEITO [6842].....................................243 MANDANTE INTOLERANTE [6843]....................................244 SADO SUGGESTIONADO [6849]......................................245 ESCRIPTURAS ÀS ESCURAS [6854]..................................246 DADIVA DIVINA [6867]...........................................247 FINALZINHO [6890]..............................................248 CEIA ALHEIA [6891].............................................249 ABUSO DUM MUSO [6896]..........................................251 PALADAR PARA ASCO DAR [6898]...................................252 DIA DA CEGUEIRA [6899].........................................253 PARENTES INCLEMENTES [6903]....................................254 CEGUEIRA PRAZENTEIRA (I) [6904]................................255 CEGUEIRA PRAZENTEIRA (II) [6906]...............................256 INSTITUTO SÃO THOMÉ DE SANCTA FÉ (I) [6936]....................257 INSTITUTO SÃO THOMÉ DE SANCTA FÉ (II) [6937]...................258 INSTITUTO SÃO THOMÉ DE SANCTA FÉ (III) [6938]..................259 REMINISCENTE ADOLESCENTE (I) [6946]............................260 REMINISCENTE ADOLESCENTE (II) [6947]...........................261 AUDIOBUCCOVISUAL [6949]........................................262 CHUPETA ANACHORETA [6950]......................................263 LOCAL DE HABILITAÇÃO FUNCCIONAL [6951].........................264 DELEITE QUE SE APPROVEITE [6956]...............................265 PERDEDOR DA VISÃO [6960].......................................266 THESE DE MESTRADO [6969].......................................267 O CEGO E A PROFESSORA [6973]...................................268 O CEGO E A MÃE [6975]..........................................269 O CEGO E O PAE [6976]..........................................270 O CEGO E SEU IRMÃO [6978]......................................271 O CEGO E SEU COLLEGA [6979]....................................272
O CEGO E SUA NAMORADA [6980]...................................273 O CEGO E A CEGA [6982].........................................274 O CEGO NO CIRCO [6984].........................................275 O CEGO E SEU CACHORRO [6986]...................................276 O CEGO E SUA BENGALA [6988]....................................277 O CEGO E SEU CHAPÉU [6989].....................................278 O CEGO E SEUS OCULOS [6990]....................................279 O CEGO E SEU GUIA [6992].......................................280 O CEGO E SEU TACTO [6994]......................................281 O CEGO E SEU OLFACTO [6995]....................................282 O CEGO E SEU PALADAR [6996]....................................283 O CEGO E SUA AUDIÇÃO [6998]....................................284 O CEGADO E O CEGADOR [6999]....................................285 MERO LERO, MAS SINCERO [7022]..................................286 CORPO DE DELICTO [7023]........................................287 DEVIDO DESCOMPTO [7026]........................................288 LINGUA DO POVO [7031]..........................................289 ZICA DUPLA (I) [7035]..........................................290 ZICA DUPLA (II) [7036].........................................291 SERMÃO DA PUNIÇÃO [7037].......................................292 IMAGENS POLEMICAS [7038].......................................293 SCENAS DA CRACKOLANDIA [7039]..................................294 IRONIA NA VIA [7040]...........................................295 GATTO PRETO [7044].............................................296 ESCADA NA CALÇADA [7045].......................................297 AZAR D'OCÊ [7049]..............................................298 CARREIRA ALVISSAREIRA [7050]...................................299 EXTRAMUROS [7051]..............................................300 CEGUEIRINHA [7053].............................................301 CEGUEIRAZINHA [7054]...........................................302 PIA ANALOGIA [7055]............................................303 AZARADA JORNADA [7057].........................................304 EXACTO RETRACTO [7068].........................................305
AZAR SELECCIONADO (I) [7071]...................................306 AZAR SELECCIONADO (II) [7072]..................................307 ROSTO EXTRANHO [7083]..........................................308 BANHA DE PORCO [7104]..........................................309 DOR ALHEIA NOS RECREIA [7115]..................................310 JOGO POR JOGO [7116]...........................................311 GLAD GAME [7131]...............................................312 EDUCAÇÃO DE CEGOS [7132].......................................313 SADIA EMPATHIA (I) [7137]......................................314 SADIA EMPATHIA (II) [7138].....................................315 SITUAÇÃO ANALOGA [7151]........................................316 SÓ QUE NÃO [7154]..............................................317 POUCA DESGRAÇA (II) [7166].....................................318 ENSEJO PARA RASTEJO [7168].....................................319 MARRON SOBRE AZUL (II) [7179]..................................320 SURPRESA À MESA [7198].........................................321 BEXIGA QUE CASTIGA [7202]......................................322 BLOGUEIRO MINEIRO [7217].......................................323 MANSAS LEMBRANÇAS [7231].......................................324 CYCLO "CEGADINHA PEGADINHA"....................................325 CYCLO "CEGADO E CORNEADO" VEADO CORNEADO [5734]..........................................337 EXTRACONJUGAES FUNCÇÕES ORAES [5786]...........................338 CEGO CORNO [6285]..............................................339 OTHER GUY [7027]...............................................340 ZIQUIZIRA [7028]...............................................341 AMANTE CAPTIVANTE [7029].......................................342 NA MÃO DO RICARDÃO [7030]......................................343 CYCLO "THEMAS DE TELEPHONEMAS".................................344
CYCLO "FURIA CEGA".............................................354 CYCLO "GUIA QUE JUDIA" MEMORIAS DA PRISÃO [7002]......................................364 ESTADO DE ATTENÇÃO [7003]......................................365 WALKING THE DOG [7004].........................................366 SENHA TROCADA [7005]...........................................367 MOTTE DO MOLECOTE [7006].......................................368 TROCA DE FARPAS [7007].........................................369 COLHENDO MADURO [7008].........................................370 OLHO CLINICO (II) [7009].......................................371 ALEM DE QUEDA, COICE (II) [7010]...............................372 SUBTIL PERFIL [7011]...........................................373 TARA NA CARA [7012]............................................374 PALAVRA DESEJADA [7013]........................................375 LUVA DE PELLICA [7014].........................................376 TRABALHADOR INFORMAL [7015]....................................377 PERCALÇOS DA CALÇADA [7016]....................................378 MALFAZEJO GRACEJO [7017].......................................379 RECURSOS HUMANOS [7018]........................................380 DISCURSOS DESHUMANOS [7019]....................................381 EXCEPÇÕES DE PRAXE [7020]......................................382 CYCLO "O CEGO E OS CAPITÃES"...................................383
Titulos publicados: A PLANTA DA DONZELLA ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS INFINITILHOS EXCOLHIDOS MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA RHAPSODIAS HUMANAS INDISSONNETTIZAVEIS LIVRO DE RECLAMAÇÕES VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES GRAPHIA ENGARRAFADA HISTORIA DA CEGUEIRA INSPIRITISMO MUSAS ABUSADAS SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO SEMANTICA QUANTICA INCONFESSIONARIO DISSONNETTOS DESABRIDOS SONNETTARIO SANITARIO DISSONNETTOS DESBOCCADOS RHYMAS DE HORROR DISSONNETTOS DESCABELLADOS NATUREBAS, ECOCHATOS E OUTROS CAUSÕES A LEI DE MURPHY SEGUNDO GLAUCO MATTOSO MANIFESTOS E PROTESTOS LYRA LATRINARIA DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES O CINEPHILO ECLECTICO A HISTORIA DO ROCK REESCRIPTA POR GM SCENA PUNK CANCIONEIRO CARIOCA E BRAZILEIRO CANCIONEIRO CIRANDEIRO SONNETTRIP THANATOPHOBIA
São Paulo Casa de Ferreiro 2021